ximenia americana l.: botânica, química e farmacologia no

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164 Rev. Bras. Farm., 89(2), 2008 Ximenia americana L.: botnica, qumica e farmacologia no interesse da tecnologia farmacŒutica Ximenia americana L.: botany, chemistry and pharmacology in the pharmaceutical technology interest Mariana Trycia Brasileiro 1 , Amanda Alencar do Egito 2 , JanuÆria Rodrigues de Lima 2 , Karina Perrelli Randau 3 , Gustavo Campos Pereira 2 & Pedro JosØ Rolim Neto 4 Recebido em 18/12/2007 1 Aluna do Mestrado em CiŒncias FarmacŒuticas, Laboratrio de Tecnologia dos Medicamentos, Departamento de CiŒncias FarmacŒuticas/UFPE; 2 Laboratrio de Tecnologia dos Medicamentos, Departamento de CiŒncias FarmacŒuticas/UFPE; 3 Pesquisadora do Laboratrio de Tecnologia dos Medicamentos e do Laboratrio de Farmacognosia, Departamento de CiŒncias FarmacŒuticas/UFPE; 4 Docente do Departamento de CiŒncias FarmacŒuticas, Laboratrio de Tecnologia dos Medicamentos/UFPE SUMMARY Ximenia americana is a cosmopolitan tropical plant with wild occurrence in northeast Brazil, used in popular medicine to the stomach pain treatment, syphilis, rheumatism, cancer and mouth infec- tions. Were compiled studies with the species aiming to the knowledge plant available level register, including its characterization botany, chemical constituents and their pharmacological properties, essen- tial items in it·s use on pharmaceutical technology. The antimicrobial activity in different microorgan- isms and its antiinflammatory activity, antialergic, and its vasoprotector effects make the plant a promis- ing material source use in phytotherapic medicines production. KEYWORDS Ximenia americana, pharmacobotany, pharmaceutical technology. RESUMO Ximenia americana Ø uma planta cosmopolita tropical com ocorrŒncia silvestre, no nordeste do Brasil, utilizada na medicina popular, principalmente, para o tratamento da dor de estmago, sfilis, reumatismo, cncer e infecıes da boca. Estudos realizados com a espØcie foram compilados objetivando registrar o nvel de conhecimento disponvel sobre a planta, incluindo sua caracterizaªo botnica, seus constituintes qumicos e suas propriedades farmacolgicas, itens indispensÆveis sua utilizaªo na tecnologia farmacŒutica. Sua atividade antimicrobiana em diferentes microorganismos e sua atividade antiinflamatria, antialØrgica e seus efeitos vasoprotetores tornam a planta uma promissora fonte de matØria- prima para a utilizaªo na produªo de medicamentos fitoterÆpicos. PALAVRAS-CHAVE Ximenia americana, farmacobotnica, tecnologia farmacŒutica. INTRODU˙ˆO X imenia americana Ø comumente encontrada na `frica, ˝ndia, Nova Zelndia, AmØrica Central e AmØrica do Sul (Sacande & Vautier, 2006). uma planta cosmopolita tropical com ocorrŒncia silvestre, inclusive nos tabuleiros litorneos do nordeste do Brasil (Matos, 2007), alØm de ser bastante utilizada na NigØria para fins medicinais (Ogunleye & Ibitoye, 2003), tambØm Ø utilizada na medicina popular para o tratamento da dor de estmago, sfilis, reumatismo, cncer e infecıes da boca (Mwangi et al., 1994). As suas sementes sªo consideradas purgativas e muito saborosas; possuem um leo viscoso, o qual Ø usado como tempero. Em alguns paises africanos Ø utilizado como cosmØtico para untar o corpo e os cabelos (Pio-Correa, 1984). A sua casca, avermelhada e lisa, apresenta diversas atividades e vem sendo usada para diversos fins tais como: tratamento da lepra, malÆria, dor-de-cabea, mo- luscicida, infecıes da pele, cicatrizaªo, hemorridas e inflamaıes das mucosas. A aªo cicatrizante relatada na literatura pode ser justificada pela presena de algu- mas substncias, como os taninos (Veras & Morais, 2004). Sua madeira, de cor rsea, Ø compacta e leve, muito elÆstica, bastante durÆvel, fÆcil de trabalhar e bastante utilizada como cabo de ferramentas e de instrumentos agrcolas. As flores desempenham um importante papel na indœstria de perfumaria. Das sementes assadas faz- se um p que serve para misturar ao sagu e fazer pªo (Braga, 1976; Pio-Correa, 1984). Os frutos de X. americana sªo ricos em vitamina C, constituindo se em um importante componente da dieta; sªo ingeridos puros, na forma de gelØia ou de xarope. O leo da semente Ø comestvel e usado na culinÆria, no entanto, seu principal uso Ø como emoliente, leo capilar, condicionador e hidratante para a pele, na fa- bricaªo de sabonetes e como componente de batons e lubrificantes (Rezanka & Sigler, 2007). 131/435 Fitoterapia Pesquisa Rev. Bras. Farm., 89(2): 164-167, 2008

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Page 1: Ximenia americana L.: botânica, química e farmacologia no

164 Rev. Bras. Farm., 89(2), 2008

Ximenia americana L.: botânica, químicae farmacologia no interesseda tecnologia farmacêutica

Ximenia americana L.: botany, chemistry and pharmacologyin the pharmaceutical technology interest

Mariana Trycia Brasileiro1, Amanda Alencar do Egito2, Januária Rodrigues de Lima2, Karina Perrelli Randau3,Gustavo Campos Pereira2 & Pedro José Rolim Neto4

Recebido em 18/12/20071Aluna do Mestrado em Ciências Farmacêuticas, Laboratório de Tecnologia dos Medicamentos, Departamento de Ciências Farmacêuticas/UFPE; 2Laboratório de

Tecnologia dos Medicamentos, Departamento de Ciências Farmacêuticas/UFPE;3Pesquisadora do Laboratório de Tecnologia dos Medicamentos e do Laboratório de Farmacognosia, Departamento de Ciências Farmacêuticas/UFPE; 4Docente do

Departamento de Ciências Farmacêuticas, Laboratório de Tecnologia dos Medicamentos/UFPE

SUMMARY � Ximenia americana is a cosmopolitan tropical plant with wild occurrence in northeast Brazil,used in popular medicine to the stomach pain treatment, syphilis, rheumatism, cancer and mouth infec-tions. Were compiled studies with the species aiming to the knowledge plant available level register,including its characterization botany, chemical constituents and their pharmacological properties, essen-tial items in it´s use on pharmaceutical technology. The antimicrobial activity in different microorgan-isms and its antiinflammatory activity, antialergic, and its vasoprotector effects make the plant a promis-ing material source use in phytotherapic medicines production.

KEYWORDS � Ximenia americana, pharmacobotany, pharmaceutical technology.

RESUMO � Ximenia americana é uma planta cosmopolita tropical com ocorrência silvestre, no nordestedo Brasil, utilizada na medicina popular, principalmente, para o tratamento da dor de estômago, sífilis,reumatismo, câncer e infecções da boca. Estudos realizados com a espécie foram compilados objetivandoregistrar o nível de conhecimento disponível sobre a planta, incluindo sua caracterização botânica, seusconstituintes químicos e suas propriedades farmacológicas, itens indispensáveis à sua utilização natecnologia farmacêutica. Sua atividade antimicrobiana em diferentes microorganismos e sua atividadeantiinflamatória, antialérgica e seus efeitos vasoprotetores tornam a planta uma promissora fonte de matéria-prima para a utilização na produção de medicamentos fitoterápicos.

PALAVRAS-CHAVE � Ximenia americana, farmacobotânica, tecnologia farmacêutica.

INTRODUÇÃO

X imenia americana é comumente encontrada naÁfrica, Índia, Nova Zelândia, América Central e

América do Sul (Sacande & Vautier, 2006). É uma plantacosmopolita tropical com ocorrência silvestre, inclusivenos tabuleiros litorâneos do nordeste do Brasil (Matos,2007), além de ser bastante utilizada na Nigéria parafins medicinais (Ogunleye & Ibitoye, 2003), também éutilizada na medicina popular para o tratamento da dorde estômago, sífilis, reumatismo, câncer e infecções daboca (Mwangi et al., 1994).

As suas sementes são consideradas purgativas emuito saborosas; possuem um óleo viscoso, o qual éusado como tempero. Em alguns paises africanos éutilizado como cosmético para untar o corpo e os cabelos(Pio-Correa, 1984).

A sua casca, avermelhada e lisa, apresenta diversasatividades e vem sendo usada para diversos fins taiscomo: tratamento da lepra, malária, dor-de-cabeça, mo-

luscicida, infecções da pele, cicatrização, hemorróidase inflamações das mucosas. A ação cicatrizante relatadana literatura pode ser justificada pela presença de algu-mas substâncias, como os taninos (Veras & Morais,2004).

Sua madeira, de cor rósea, é compacta e leve, muitoelástica, bastante durável, fácil de trabalhar e bastanteutilizada como cabo de ferramentas e de instrumentosagrícolas. As flores desempenham um importante papelna indústria de perfumaria. Das sementes assadas faz-se um pó que serve para misturar ao sagu e fazer pão(Braga, 1976; Pio-Correa, 1984).

Os frutos de X. americana são ricos em vitamina C,constituindo se em um importante componente da dieta;são ingeridos puros, na forma de geléia ou de xarope.O óleo da semente é comestível e usado na culinária,no entanto, seu principal uso é como emoliente, óleocapilar, condicionador e hidratante para a pele, na fa-bricação de sabonetes e como componente de batons elubrificantes (Rezanka & Sigler, 2007).

131/435 Fitoterapia � Pesquisa

Rev. Bras. Farm., 89(2): 164-167, 2008

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DESENVOLVIMENTO

� BotânicaA família Olacaceae possui dis-

tribuição pantropical, compreen-dendo 27 gêneros com aproxima-damente, 200 espécies; seus repre-sentantes são plantas lenhosas, ár-vores ou arbustos. No Brasil encon-tram-se, aproximadamente, 13 gê-neros e cerca de 60 espécies, sendoas de maior número de espécies, osgêneros Heisteria, Ximenia, Lirios-ma e Schoepfia.

No Brasil, os gêneros e espéciesde Olacaceae são mais comuns naAmazônia; fora desta região des-tacam-se os gêneros Ximenia eHeisteria. A espécie mais comumdeste primeiro gênero é X. ame-ricana, que apresenta ampla dis-tribuição em diversos ecossistemasflorestais (Joly, 2002; Souza & Lo-renzi, 2005).

Embora muitas das Olacaceaepossuam porte arbóreo, sem qual-quer evidência externa de que se-jam hemiparasitas, existem re-ferências de que diversos exem-plares dessa família apresentam estetipo de hábito, como exemplo: Olax,Ptychopetalum, Schoepfia e Xi-

DC., X. arborescens Tussac ex Walp., X. fluminensis M.Roem., X. inermis L., X. montana Macfad., X. multifloraJacq., X. oblonga Lam. ex Hemsl., X. spinosa Salisb. EX. verrucosa M. Roem (Plantamed, 2007).

� QuímicaJames et al. (2007) realizaram uma pesquisa acerca

dos constituintes químicos de X. americana utilizandoextratos aquosos e metanólicos das folhas, da casca docaule e da raiz. Os resultados indicaram que os cons-tituintes presentes na planta foram carboidratos, na for-ma de açúcares, e amido solúvel, exceto para o extratoaquoso das folhas. Saponinas, glicosídios cardiotônicose antraquinonas estiveram presentes em todos os ex-tratos, exceto nos extratos das folhas, onde não foramencontradas antraquinonas. Observações semelhantesnos extratos das folhas foram relatadas por Ogunleye eIbitoye (2003), que também detectaram a presença deflavonóides e taninos em todos os extratos, enquantoque os alcalóides estiveram sempre ausentes.

Mevy et al. (2006) estudaram o óleo volátil dasfolhas de X. americana utilizando GC-MS e identifi-caram 33 componentes, representando 98% do total doóleo. O óleo estudado continha em sua composição,69% de compostos aromáticos, 12,5% de compostos li-pídicos e 13% de terpenos. O constituinte encontradoem maior quantidade foi o benzaldeído (63,5%), seguidopelo cianeto de benzila (13%) e isoforona (3,5%). Esteúltimo composto já teve atividade carcinogênica relatadapor outros autores, o que contraria o uso tradicional daplanta para o tratamento do câncer.

A análise fitoquímica do fruto registra para as amên-doas das sementes um teor de 70% de óleo fixo viscoso,amarelo, derivado de ácidos graxos. Das raízes foi ex-

menia (Joly, 2002; Souza & Lorenzi, 2005).O gênero Ximenia apresenta diversas espécies como

X. pubescens, X. parviflora, X. caffra, X. americana,X. perrieri, X. intermedia e X. coriacea. Entre essasespécies, a X. caffra se destaca por ser utilizada naTanzânia para o tratamento da menstruação irregular,reumatismo e câncer (Chhabra & Uiso, 1990) e, na pro-víncia de Limpopo, no Sul da África, para o tratamentoda diarréia (Mathabe et al., 2006).

Segundo Matos (2007), a X. americana é carac-terizada como arbusto de 3-4 metros de altura ou árvorepequena espinhosa, de casca fina, avermelhada ou cin-za, lisa ou pouco rugosa, com folhas pequenas, sim-ples, inteiras, alternas, pecioladas, oblongas, glabrase flores branco-amareladas, aromáticas, com as pétalasrecurvadas, dispostas em racemos curtos, axilares outerminais. Tem frutos aromáticos, do tipo drupa subglo-bosa de cor amarelo alaranjado, medindo de 1,5 a 2cmde diâmetro, envolvendo uma única semente com amên-doa branca. Apresenta polpa de consistência firme esabor doce (Eromosele & Eromosele, 2002). As sinoní-mias de nomes vulgares mais usadas são: ameixa-do-mato, ababuí, ameixeira-do-brasil, ameixa-do-brasil,ambuí, ameixa-da-bahia, ameixa-da-terra, ameixa-de-espinho, ameixa-do-pará, limão-bravo-do-brejo, sândalodo Brasil, umbu-bravo ou ximenia. Em Angola é conhe-cida, ainda, pelos nomes de ganzi, lumeque, mepeque,muinje, munjaque, omupeque e umpeque (Wikipedia,2007).

Principais sinonímias botânicas: Amyris arborescensP. Browne, Heymassoli inermis Aubl., Heymassoli spino-sa Aubl., Pimecaria odorata Raf., Ximenia aculeataCrantz, X. americana fo. inermis (Aubl.) Engl., X.americana fo. inermis S. Moore, X. americana var. ovata

FIG. 1 - A: Hábito; B: Folhas; C: Caule lenhoso; D: Flor e espinho; E: Fruto de Ximenia americana L.

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traído, também, um óleo contendo os ácidos graxos ace-tilênicos com 18 átomos de carbono: tarírico (octadeca-5-inóico) e outro composto acetilênico recém descritona literatura: (10Z, 14E, 16E-octadeca-10,14,16-triene-12-inóico). As suas cascas apresentam elevado teor detaninos ainda não identificados quimicamente (Matos,2007).

Eromosele & Eromosele (2002) estudaram a compo-sição dos ácidos graxos das sementes de X. americanabaseados em análises preliminares, indicando que oóleo poderia conter níveis significativos de ácidos gra-xos insaturados. Eles identificaram 10 ácidos graxos,dos quais 7 eram insaturados. Os estudos detectaramque o óleo contém ácidos graxos essenciais como olinoléico (1,34%), o linolênico (10,31%) e o araquidônico(0,6%), conferindo ao óleo um considerável valor nu-tricional, além de variados níveis de ácidos graxos insa-turados de alto peso molecular. Segundo Eromosele &Paschal (2003), o óleo das sementes de X. americanaapresenta características físico químicas que sugerempotenciais aplicações para ele, pois apresenta reduçãode apenas 5% na densidade quando submetido a va-riações de temperatura entre 30 e 70ºC e uma elevadaviscosidade a 30ºC. Esses óleos vegetais têm sua im-portância aumentada não apenas pelo valor nutricional,mas também, pelo uso na indústria de produtos cosmé-ticos, além do uso como lubrificantes e como resina paratintas.

Freiberger et al. (1998), avaliaram o conteúdo nu-tricional de folhas comestíveis de 7 plantas silvestresda Nigéria, entre elas a X. americana. Eles desco-briram que as folhas contém grande quantidade de cál-cio (32mg.g-1) e de magnésio (14mg.g-1) e pequenaquantidade de ferro (107µg.g-1), manganês (39,4-49,8µg.g-1) e proteínas (7,87%). As folhas também con-tinham altos níveis de palmitatos, dos quais muitas dasestruturas lípídicas são derivadas.

� Atividade biológicaSegundo Quintans et al. (2002), já foram isolados

metabólitos secundários de X. americana que podemser responsáveis pelo possível efeito anticonvulsivante.Esses mesmos autores realizaram estudos acerca daatividade anticonvulsivante do extrato etanólico brutoda planta em camundongos albinos Swiss, demonstran-do que ele provoca um aumento na latência para o apa-recimento das convulsões, sendo, portanto, um forteindicativo de uma ação anticonvulsivante.

Voss, Eyol & Berger (2006) investigaram a atividadeantineoplásica de vários extratos da planta in vitro. Elesrealizaram um estudo químico-farmacológico da plantaque permitiu o isolamento de material protéico com açãoantineoplásica no ensaio com o modelo de câncer decolo-retal em ratos, cuja estrutura química foi carac-terizada por análise espectrométrica de massas, com adetecção da presença de um peptídeo com cadeia de11 aminoácidos.

Uchoa et al., (2006) avaliou a atividade moluscicidada casca de X. americana frente ao caramujo adultoBiomphalaria glabrata e observou que a madeira docaule apresenta atividade moluscicida significativa.

Fatope, Adoum & Takeda (2000) estudaram a ati-vidade pesticida do extrato das raízes e de ramos da X.americana. Durante o teste com os extratos da planta,eles observaram que os extratos preparados com sol-ventes menos polares foram mais ativos no teste de le-talidade em camarões e que as frações ativas de X. ame-

ricana não são letais para crisálidas e percevejos adul-tos. Elas apenas podem ser usadas para a supressãoda população através da destruição dos ovos viáveis.

James et al. (2007) compararam a atividade anti-microbiana de extratos aquosos e metanólicos de X.americana (casca do caule, folhas e raiz) frente a mi-croorganismos patogênicos isolados de pacientes no De-partamento de Microbiologia da Universidade deAhmadu Bello, na Nigéria. Os microorganismos testadosforam Staphylococcus aureus, Salmonella typhi, Es-cherischia coli, Shigella flexneri e Klebsiella pneumo-niae. A atividade do extrato metanólico da raiz foi maispronunciada em Klebsiella pneumoniae e Staphylo-coccus aureus, principalmente, quando comparada como extrato metanólico das folhas e do caule. Não existiudiferença significativa entre a atividade do extrato me-tanólico e aquoso das folhas e caule frente à Shigellaflexneri. A atividade antimicrobiana observada podeser atribuída à presença de taninos e flavonóides; estaatividade foi anteriormente relatada por Wild & Fasel(1969) e Erah et al. (1996).

Omer & Elnima (2003) testaram a atividade antimi-crobiana e antifúngica dos extratos clorofórmicos,metanólicos e aquosos da casca do caule, das folhas edas raízes de X. americana e concluíram que o extratometanólico foi o mais ativo e o aquoso também mostrouelevada atividade. Os microorganismos Staphylococ-cus aureus foram as bactérias mais susceptíveis, en-quanto que Candida albicans foi o fungo de maiorresistência aos extratos testados. Segundo Matos(2007), ensaios para avaliação da atividade antimi-crobiana mostraram que o extrato das folhas é ativocontra Escherischia coli, Pseudomonas aeruginosa eCandida albicans.

Koné et al. (2004) realizaram um estudo com extratosetanólicos de 50 plantas medicinais pertencentes a 31famílias diferentes utilizadas como remédios tradi-cionais para doenças bacterianas. O extrato das raízesde X. americana foi testado e comprovou ser um dos10 extratos que apresentou maior atividade contra Ente-rococcus faecalis e Streptococcus pyogenes.

CONCLUSÕES

A Ximenia americana ainda é uma espécie poucoinvestigada cientificamente, porém é bastante utilizadana medicina popular, principalmente em países comoa Nigéria e África do Sul. Sua atividade antimicrobianaem diferentes microorganismos pode ser parcialmenteatribuída aos seus constituintes químicos, como os tani-nos, que vêm sendo tradicionalmente usados, princi-palmente, para a proteção de superfícies inflamadas. Apresença de polifenóis pode ser um forte indicativo dasua atividade antiinflamatória, antialérgica, antibacte-riana, antifúngica, além de seus efeitos vasoproteto-res. Neste contexto, a planta passa a ser uma promis-sora fonte de matéria-prima para a utilização na pro-dução de medicamentos fitoterápicos. Situação esta de-sejada pela Política Nacional de Medicamentos comocontribuição ao Sistema Único de Saúde (SUS).

AGRADECIMENTOS

A CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pes-soal de Nível Superior) pelo apoio financeiro na reali-zação desta pesquisa.

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Endereço para correspondênciaPedro José Rolim NetoAv. Prof. Arthur de Sá s/n, 50740-521Cidade Universitária - Recife - PE, BrasilE-mail: [email protected]