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  • 8/18/2019 Yonne Leite

    1/13

    YONNE E FREITAS LEITE,

    Museu Nacional - Universidade Federal do Rio de Janeiro,

    Rio de Janeiro, RJ .

    LINGOISTIC E

    NTROPOLOGI

    Separata da Revista

    CIENCI E

    CULTUR

    Vol. 27 12)

  • 8/18/2019 Yonne Leite

    2/13

    Na área das ciências humanas onde mais ecoou

    em

    nosso País

    a potencialidade de íntima

    colaboração

    de dois campos de

    c o-

    nhecimento, foi, sem dúvida, entre a Lingüística e a

    Antropologia.

    The area of human sciences in which the potentiality of intimate

    colaboration of two fields of knowledge more echoed in our

    country was undoubtedly that between Linguistics and Anthro

    pology.

    Lingüística e

    ntropologia

    Recebido para publicação em

    23/7/1975

    YONNE DE FREITAS LEITE Museu Nacional

    Universidade

    Federal do Rio de Janeiro,

    Rio de Janeiro, GB. ·

    NA ÁREA DAS CIÊNCIAS

    HUMANAS ONDE MAIS

    ecoou em nosso País a potencialidade de ínti

    ma colaboração de dois campos de conheci

    mento foi, sem dúvida, entre a Lingüística e a

    Antropologia.

    Não

    seria exagero dizer que a

    Lingüística ganhou entre nós fama e prestígio

    e despertou maior interesse nos meios intelec

    tuais não pelos conhecimentos das estruturas

    lingüísticas em si e

    por

    si, mas sim pela sua

    possibilidade de oferecer um método de tra

    balho dos mais rigorosos, passível de ser utili

    zado por outras áreas. Nesse sentido podemos

    dizer que a Lingüística no Brasil se populari

    zou nos últimos vinte anos através

    da

    Antro

    pologia.

    Refiro-me especificamente à grande divulga

    ção e aceitação dos trabalhos de Claude Lévi

    Strauss

    na

    década dos sessenta e à grande

    voga do estruturalismo.

    É

    célebre entre os

    cientistas sociais a colocação feita, em seu

    artigo A análise estrutural em lingüística e

    antropologia

    I

    de que

    no

    conjunto das ciên

    cias sociais ao qual indubitavelmente pertence,

    a lingüística ocupa, entretanto, um lugar excep

    cional; ela não só é

    uma

    ciência social como

    s outras, mas a que, de

    muito, realizou

    os maiores progressos: a única, sem dúvida,

    que pode reinvidicar o nome de ciência e que

    chegou, ao mesmo tempo, a formular um mé

    todo positivo e a conhecer a natureza dos fa

    tos submetidos

    à

    sua análise .

    Também

    se tor

    nou lugar comum a comparação que fez entre

    * Conferência realizada na XXVII Reunião Anual

    da

    SBPC,

    em

    Belo Horizonte,

    MG

    .

    1 . ln Antropologia estrutural. Tradução de Chaim

    Katz e Eginardo Pires, Edição Tempo Brasileiro,

    Rio de Janeiro, 1967.

    Ciência e Cullura 27 12  : 1.281·1.292

    o papel desempenhado pela Física Nuclear en

    tre as ciências exatas e a Lingüística, especifi

    camente a fonologia, entre as ciências huma

    nas. É de Lévi-Strauss a frase A fonologia

    não pode deixar

    de

    desempenhar perante s

    ciências sociais o mesmo papel renovador que

    a física nuclear, por exemplo, desempenhou no

    conjunto das ciências exatas

    2

    Por que tal papel renovador foi atribuído à

    lingüística? Qual a descoberta que a aproximou

    das ciências exatas?

    Por

    que especificamente

    a fonologia? Todas essas perguntas são impor

    tantes para o entendimento das afirmações de

    Lévi-Strauss.

    Indubitavelmente foi

    na

    fonologia que a me

    todologia da lingüística estrutural mais se de

    senvolveu. Foi através do estudo da parte

    sónica que se chegou

    à

    depreensão no contínuo

    sonoro de

    uma

    unidade mínima de funciona

    mento, que se denominou de fonema. E mais

    ainda, tal como o átomo, essa unidade mínima

    foi decomposta em componentes

    (ou

    traços)

    básicos, cuja presença ou ausência caracteriza

    vam e diferenciavam

    uma

    unidade da outra.

    Por

    exemplo, em português, o par de palavras

    pote

    e

    bote

    se diferencia apenas pelo primeiro

    segmento. Essa diferença

    é

    devida

    à

    ausência

    de um traço no caso de pote e à presença desse

    traço no caso de bote

    .

    Tanto em

    pote

    quanto

    em

    bote

    o primeiro segmento é produzido pela

    interrupção total da corrente de

    ar na

    boca,

    isto é, p e são produzidos com o mesmo

    modo de articulação. E mais na articulação de

    ambos os dois lábios estão fechados, isto é,

    ambos têm o mesmo ponto

    de

    articulação. Isto

    2. Idem.

    - ' I

  • 8/18/2019 Yonne Leite

    3/13

    1.282

    quer dízer que quanto ao modo e quanto ao

    ponto de articulação os dois segmentos têm os

    me

    sm

    os traços: ambos são oclusivos e ambos

    são bilabiais.

    Os

    dois segmentos

    se

    diferenciam,

    erltretanto, porque em p não há vibração das

    cordas vocais enquanto em

    b

    há a

    vi

    br ação das

    cordas vocais.

    Em

    portugu

    ês

    esta presença ou

    ausência de vibração das cordas vogais nas con

    soantes oclusivas e fricativas acarreta a dis-

    tinção entre o significado dos vocábulos. Diz-se

    nesses casos

    que

    os dois segmentos estão em

    oposição

    ou

    em contraste oposicão essa mar

    cada pela presenç?. ou ausência do traço de

    sonoridade. p e b são assim conside

    rados fonemas

    em

    português. Já em outros

    casos, como

    por

    exemplo, em pares como

    tua

    e

    tia ou doa e dia pronunciados no dialeto ca

    rioca, a diferença entre oJde tua e o é] ~ tiq 

    ou entre o d

    de

    doa e o [ de

    ciia

    9ue se deve

    à

    desoclusãõ reta

    rdada

    de [C:] e [ ~ ] versus a

    desoclusão

    imediata

    de

    t

    e d não é fonêmica.

    Essa diferença não distingue significados: a

    ocorrência

    da

    desoclusão retardada em portu

    guês é previsível e determinada pela vogal alta

    que se lhe segue. Nesse caso tem-se o que se

    chama de variantes posicionais ou alofones.

    Foi

    esta nocão de

    oposição

    e a de traços dis

    tintivos, n o ç õ ~ s essas trabalhadas

    em

    profun

    didade

    na

    fonologia, que Lévi-Strau

    ss

    levou

    para

    a Antropologia e aplicou com sucesso ,

    preliminarmente

    na

    análise de

    var

    iant

    es

    de mi

    tos e no estudo de sistemas de parentesco. Em

    seu artigo A estrutura dos' mitos

    3

    , seguindo

    uma técnica semelhante à usada

    para

    a de

    preensão de fonemas, estabelece uma unidade

    mínima de interpretação - o mitema. E, no

    sistema de parent

    es

    co, aprofundando a noção

    de oposição pelo seu uso em Lingüística, refor

    mula a teoria existente sobre unidades nuclea

    res, partindo de

    um

    sistema opositivo nas ati

    tudes de relacionamento dos pares pai/filho ,

    irmão/ irmã, marido/ mulher, tio materno/ filho

    da

    irmã.

    Atemo-nos aqui às primeiras incursões de

    Lévi-Strauss no uso

    da

    metodologia lingüística.

    Sua

    obra

    é bastante conhecida do público bra

    sileiro. Livros como O cru e o cozido O tote-

    mismo hoje O pensamento selvagem ultrapas

    saram o domínio dos antropólogos e

    perten

    cem ao mundo

    da

    literatura e

    da

    filosofia.

    Vale mais a pena lembrar que entre os an

    tropólogos brasileiros as idéias de Lévi-Strauss

    CIÊNCIA E

    CULTURA, 27(12), DEZEMBRO 1975

    não se restringiram à discussão acad.êmica ou

    a exposições em salas de aulas ou conferências.

    Elas foram utilizadas

    para

    a interpretação de

    dados empíricos, oriundos de -trabalhos de

    campo entre populações indígenas brasileiras.

    Parte desses trabalhos foram reunidos num

    livro intitulado

    Mito c linguagem social

    4

    As

    sim é que Roberto Cardoso de Oliveira, em

    seu artigo Totemismo

    Tukúna?

    invoca entre

    os Tukúna do alto Solimões uma ordem totê

    mica consubstanciada nos epônimos clânicos

    transformados em signos que codificariam a

    ordem social e que viriam a constituir um

    plano de referência eficaz para o comporta

    mento. E Roberto da Matta, depreendendo os

    mitemas do mito do fogo e do mito da origem

    do

    hcmem

    branco entre os Timbira, mostra

    como eles estão relaêionados do ponto de vista

    estrutural, mantendo entre

    si

    relações inversas

    e simétricas. Dentro dessa mesma perspectiva

    Laraya

    em O sol e a lua

    na

    mitologia xin

    guana  analisa três versões de mitos de origem,

    uma Bakairi, outra Kalapalo e outra Kamayrá,

    mostrando que as diferenças são apenas apa

    rentes. Os elementos básicos encontrados nes

    sas versões são em essência os mesmos e eles

    servem como um modelo, em termos ideais,

    para a ação social. Já Júlio César

    M_elatti

    em

    O

    mito e o

    Xamã ,

    estabelecendo os mitemas

    de biografias de xamãs e os mitemas do mito

    Kraho que explica

    as

    origens dos poderes àe

    curar, mostra que essas biografias revivem o

    mito.

    Porém devemos lembrar que a potenciali

    dade da lingüística como fornecedora de um

    método para

    as _ciências so_ciais não foi desco

    berta de Lévi-Strauss. Como o próprio Lévi

    -Strauss assinala

    5

    ,

    Marcel Mauss já dissera

    antes que

    A

    sociologia estaria certamente,

    muito mais avançada se tivesse procedido, em

    todas as situações , à maneira dos lingüistas .

    Ver essa possibilidade de procedimento é por

    certo, iluminador.

    Tentar

    apLicar esse proce

    dimento

    é

    sem dúvida, um desafio estimulante,

    desafio que Lévi-Strauss aceitou e onde exer

    citou seu

    poder

    criativo com inteligência, leve

    za e charme, qualidades essas que tanto encan

    taram aos intelectuais brasileiros. O importante

    para nós é que esse encantamento não ficou

    no nível da aceitação passiva e deslumbramen-

    5 .

    A

    análise estrutural

    em

    Lingüística e Antro

    pologia  .

    In

    ntropologia

    estrutural

    (Trad. de Chaim

  • 8/18/2019 Yonne Leite

    4/13

    CIÊNCIA E

    CULTURA,

    27(12),

    DEZEMBRO 1975

    to. Produziu seus efeitos no exercício antropo

    lógico, sendo suas proposições testadas em

    vistas de dados e situações outras.

    Porém, até aqui

    temos falado da relação

    entre a LingüísÜca e a Antropologia de um

    modo abstrato e unidirecional: a lingüística

    serviria de modelo

    para

    o estabelecimento de

    um método de análise. Outros modos de rela

    cionamento

    .são

    igualmente possíveis e outras

    perguntas são igualmente válidas, quais sejam

    1) até onde os resultados concretos da análise

    lingüística podem contribuir

    para

    o conheci

    mento antropológico ou

    numa

    direção inversa;

    2) em que o conhecimento dos métodos e/ ou

    resultados antropológicos podem contribuir

    para

    o conhecimento lingüístico?

    A primeira possibilidade de utilização dos

    resultados concretos da lingüística pela antro

    pologia adveio da lingüística histórica e do

    método comparativo de reconstrução e classi

    ficação. A Lingüística Histórica Comparativa

    parte do pressuposto de que certas semelhan-'

    ças entre línguas diferentes não são devidas ao

    mero acaso ou a fatores universais. Certas se

    melhanças só podem ser explicadas por cone-

    xão histórica. -

    Eviderrtemente

    entre as línguas, seme

    lhanças que têm sua explicação em fatores

    universais, isto é são inerentes à caracterização

    e à própria definição de linguagem humaná.

    Assim é que as línguas têm nomes e verbos,

    possessivos e pronomes, negação e interroga

    ção etc. Outras semelhanças são meramente

    aci9_ntais. Vale a pena relembrar aqui o clás

    sico exemplo dado

    por

    Bloomfield

    6

    da simila

    ridade superficial e aparente entre o grego

    moderno mati e o malaio mata ambas as pala

    vras significando olho . Seria fantasioso atri

    buir qualquer explicação a não ser a mera

    casualidade a essa semelhança de forma e

    sentido. Do mesmo modo devem ser interpre

    tadas, por exemplo,

    as

    semelhanças entre a

    palavra do Tapirapé

    ma

    e o vocábulo português

    mão ou ainda entre o radical preso Tapirapé

    -pi e o português

    pé,

    embora haja uma corres

    pondência de sons e sentido.

    P.ara que as correspondências de som

    tido tenham um valor

    para

    a Lingüístic-ª Com

    parativa Histórica é preciso que haja recorrên

    cia e sistematicidade. E o que acontece,

    por

    exemplo,

    na

    repetição sistemática da corres

    pondência entre

    e

    em sânscrito, grego e latim,

    6. Language, cap. XVII, Henry Holt, 193 3.

    1.283

    zero em celta e nas línguas germânicas. Essa

    correspondência se encontra em palavras como

    sânscrito

    pi

    ta:, grego pa te:r, latim pater,

    irlandês antigo

    adir,

    gótico

    fadar,

    norueguês

    antigo fader, inglês antigo fceder. Essa corres

    pondência se repete sistematicamente em ou

    tros vocábulos como latim porkus, irlandês

    antigo

    ork,

    inglês antigo

    fearh .

    Essas correspondências sistemáticas permi

    tem a reconstrução de prato-formas e a hipó

    te_se aqui é que essas prato-formas representa

    riam um estágio mais antigo comum a todas

    as línguas que contribuíram

    para

    sua recons

    trução. Essa língua comum teria se diferencia

    do em virtude de divisões súbitas de grupos

    que

    se

    distanciaram geograficamente, quer por

    migração, quer por intrusão de outros grupos,

    e passaram, assim, a ter um desenvolvimento

    lingüístico diverso. O rp.étodo comparativo per

    mite assim a classificação genética das línguas

    e a reconstrução do vocabulário e gramática

    da língua hipotética da qual as outras se ori

    ginaram.

    Foi

    desse modo que

    se

    conseguiu agrupar,

    reconstruindo-se o Proto-Indo-Europeu , lín

    guas tão diferenciadas como o sânscrito, o

    hitita, o celta, o latim, o russo, o sueco, o

    albanês, o alemão, o inglês etc., como mem

    bros de

    uma

    grande família lingüística diferen

    ciada do finlandês , do estoniano, do húngaro,

    do lapão que formariam, com outras, a família

    das línguas ugro-fínicas.

    O método comparativo foi posteriormente

    e n r ~ q u e i d o

    com a glotocronologia. A gloto

    cronologia é

    uma

    técnica que procura datar

    estágios anteriores das línguas, num símile da

    técnica de datação por meio do carbono 14

    para

    o material arqueológico . A glotocronolo

    gia

    7

    parte do pressuposto que

    uma

    parte do

    vocabulário de qualquer língua é menos susce

    tívél de mudança que outras partes. Essa pN-

    . ção mais constante tem sido denominada de

    vocabulário básico

    e inclui nomes de partes

    do corpo, certos termos de parentesco, certos

    verbos e nomes comuns

    8

    ,

    etc.

    Daí

    decorrem

    7. Para

    uma visão didática do método glotocro

    nológico consulte-se

    Sarah

    Gudschinsky The ABC

    of Jexicostatistics . Word ,

    12(2):

    175-210, 1956.

    8. Para

    a determinação de itens lexicais básicos

    consulte-se Morris Swadesh Cuestionario para el

    cálculo léxico-estatístico

    de

    la cronologia pré-históri

    ca . Boletín indigenista Venezolano I, 1953 e

    To

    wards greater accuracy in lexicostatistics dating .

    Int ernational journal of American /inguistics, 2 2):

    121-137.

  • 8/18/2019 Yonne Leite

    5/13

  • 8/18/2019 Yonne Leite

    6/13

    CIÊNCIA E CULTURA, 27(12),

    DEZEMBRO 1975

    tanto muito tentativas e restritos. As classifi

    c ç õ ~ s

    mais amplas existentes como a de

    Mason 11 e a de Greenberg

    12

    não seguem o

    método comparativo rigoroso de estabeleci

    mento de cognatos e de reconstrução paulatina

    e gradual dos níveis mais profundos de rela

    cionamento.

    Com isso não se quer dizer que não se haja

    feito em nosso País trabalhos históricos com

    parativos seguindo o método comparativo.

    Temos, por exemplo, o trabalho

    de

    Miriam

    Lemle 13 em que pela comparação do vocabu

    lário básico de 1

    O

    línguas, reconstrói cerca de

    200 cognatos e estabelece uma classificação

    interna da Família Tupi-Guarani. Anteriormen

    te Dall'Igna 14 Rodrigues apresentara

    uma

    classificação do Tronco Tupi, num cuidadoso

    trabalho, seguindo a técnica léxico-estatística,

    isto é, usando glotocronologia sem a intenção

    de datar a época de separação entre

    as

    famílias

    e línguas de cada família. Essa sua cautela em

    evitar a datação expressa bem a situação da

    extensão do conhecimento das línguas indíge

    nas brasileiras. Conforme o próprio Rodrigues

    explica não nos propomos a empreender qual

    quer datação especialmente porque o material

    examinado ainda apresenta muitas lacunas

    p. 101 )".

    Para as línguas

    dispomos apenas do tra

    balho de Irvine Davis

    1

    5 em que usando o

    Apinayé, o Canela, o Suya, o Xavante e o

    Karajá, reconstrói os prato-fonemas e cerca

    de

    100 itens vocabulares.

    Para

    a família Karíbe

    temos o trabalho de Desmond Derbishire

    16

    comparando o Kaxuyana, Hixkariana e o Wai

    wai e o de Ernesto Migliazza

    7

    em que faz o

    11. "T

    he

    languages of South

    American

    Indians .

    Handbook

    of

    South

    Ameri

    can Indians vol. 6. Smith·

    so

    nian Institute, Washington, D .C.

    12.

    "T

    he general classif

    ic

    at

    ion of

    Central

    and

    South American Indian languages . Selected Papers

    of the Fifth Congress of Anthropological and

    Ethno

    -

    logical Sciences (A. F.

    C. Wallace, ed) University

    of Pensylvannia Press, 1960.

    13.

    Intern

    al classification of the Tupi-guarani lin

    guistic family  . Tupi studies I

    (David

    Bendor-S

    am

    uel,

    ed) Summer Institute of Linguistics.

    Uni

    versity

    of

    Oklahom

    a,

    Norman,

    197 L

    14. "A classificação do tronco tupi  . Revista de

    antropologia

    12(1-2):

    99-104, São

    Paulo

    , 1964.

    15. Comparative jê-phonology .

    Estudos lingüís-

    ticos vol. I, (2): 10-24, 1966.

    16.

    Notas

    comparativas sobre três dialetos Kari

    be .

    Boletim do

    Museu

    Paraense Emilio Goeldi

    n.

    0

    14 

    1961.

    17.

    "Grupos

    lingüísticos do território federal

    do

    Roraima

     . Atas

    do Simpósio sobre Biota

    Amazônica

    vol. 2 (Antropologia), 153-173 , 1967.

    1.285

    cômputo léxico-estatístico entre palavras do

    Makuxi, Taulipang e Maiogong.

    Há também trabalhos em que se estabelece

    a filiação de

    uma

    língua, como é o caso do

    artigo

    de

    Aryon Rodrigues

    18

    sobre

    os

    Cinta

    -Larga e o de Sarah Gudschinsky

    19

    sobre o

    Ofayé.

    Como se vê, os trabalhos comparativos entre

    nós, seguindo técnicas e métodos mais rigoro

    sos não atingiram níveis de profundidade tem

    poral e grau de abstração como ocorreu nos

    estudos do indo-europeu. As poucas classifica

    ções existentes limitam-se ao nível da família

    e do tronco, não chegando ao nível,

    para

    se

    usar ·a terminologia de Swadesh, do micrófilo,

    mesófilo ou macrófilo.

    Nada

    possuímos que se

    compare ao trabalho

    de

    Sarah Gudschinsky

    20

    sobre línguas mexicanas, em especial o Maza

    teco, em que, comparando dialetos muito se

    melhantes, não se limitou

    à

    reconstrução do

    Proto-Mazateco, mas tentou comparar os fatos

    lingüísticos com os fatos históricos, referen

    dando-os. Qualquer classificação de línguas

    indígenas brasileiras, que implique numa in

    cursão num nível mais alto, parece sempre aos

    especialistas meras especulações.

    Os antropólogos estão cientes desta limita

    ção

    aos

    resultados

    da

    lingüística comparativa,

    mas assim mesmo são essas

    as

    classificações

    que usam ao se referirem aos grupos por eles

    pesquisados.

    Esse estado de coisas, porém,

    se

    explica.

    Conforme dissemos o êxito dos estudos com

    parativos do Indo-Europeu decorreu em gran

    de parte

    da

    existência de descrições ricas e

    abrangentes das línguas estudadas. Além disso

    os comparativistas eram profundos conhecedo

    res de várias das línguas que comparavam.

    Dedicaram toda sua atividade intelectual a esse

    mister.

    Entre

    nós, e isto é importante frisar,

    o número dos que se dedicam a esse tipo de

    atividade é exíguo. Isto porque, em primeiro

    lugar o estudo descritivo

    de

    línguas indígenas

    exige períodos prolongados de trabalho de

    campo em aldeias indígenas distantes. Para se

    dominar relativamente bem uma dessas lín

    guas, precisa-se de tempo, dedicação e dispo

    sição para afastar-se dos centros urbanos por

    18. "A classificação dos cinta larga . R evista de

    antropologia 14 : 27-30, São Paulo, 1966.

    19. Ofaié-Xavante, a

    language .

    Estudos sobre

    línguas e culturas indígenas

    1-16. Summer Institute

    of Linguistics, Brasília, 1971.

    20 .

    "Mazatec

    dialect history  Language

    34

    (4),

    1958.

  • 8/18/2019 Yonne Leite

    7/13

    1.286

    vanos períodos em vários anos. O trabalho

    comparativo também é lento, detalhado e mi

    nucioso, exigindo horas que somadas perfazem

    anos. Ora, poucos entre nós, com as obriga

    ções da atual vida acadêmica teriam material

    mente condições

    para

    desempenhar essa tare

    fa.

    Não seria inoportuno lembrar aqui que os

    grandes trabalhos comparativos do indo-euro

    peu foram feitos no século XIX e primórdios

    do século XX, tempos em

    que

    a estrutura

    acadêmica, as expectativas do trabalho intelec

    tual e a concepção de produtividade na vida

    universitária eram outras.

    Se nos parece pouco promissora es_a

    p r ü n ~ i -

    ra õ Ssil5iliâ-aâê- :da- utilização dos resultados

    da lingüística comparativa

    para

    os antropólo

    gos referendarem suas teorias sobre migrações,

    povoamento sucessivos e conexões históricas o

    que não se dirá do campo aberto pelo trabalho

    de Benveniste a que nos referimos atr ás.

    Tal

    empreendimento, em que se procura desvendar

    um princípio de unidade que se esfacelou pelas

    modificações da sociedade, se baseia na cuida

    dosa depreensão dos semantemas em suas re

    lações com as instituições e valores sociais.

    Em suma,

    p t e ~ i s a

    de

    uma

    boa etimologia.

    Ora, é exatamente .essa área o estudo das lín

    guas indígenas brasileiras que tem dado mar

    gem às maiores fantasias e deduções despro

    vidas de qualquer validade.

    Na

    Tupinologia

    houve durante um certo período a crença de

    que as línguas indígenas eram aglutinantes.

    Qualquer palavra

    Tu

    pi ·deveria ser decompos

    ta

    em

    uma

    série de elementos .cada um com

    um significado.

    em 1930, José de Oiticica,

    em sua comunicação ao Congresso de Ameri

    canistas em Hamburgo

    2

    1 alertava para a pre

    cariedade e interpretações duvidosas das eti

    mologias em Tupi. O próprio Benveniste ao

    definir a escolha das línguas indo-européias

    para o trabalho a que se propõe deixa clara

    a posição privilegiada dos estudos do indo

    -europeu. Segundo ele (p. 9):

    Entre

    as lín

    guas do mundo, as da família indo-européia

    se prestam às investigações mais extensas no

    es

    paço e no tempo, às mais variadas e as mais

    profundas por se estenderem da Ásia Central

    ao Atlântico,

    por

    serem atestadas

    por

    um pe

    ríodo de quase quatro milénios, por estarem

    ligadas a culturas de níveis diferentes, porém,

    muito antigas, estando algumas delas entre as

    mais ricas que já existiram,

    por

    fim,

    por

    terem

    21.

    D::J

    método

    no

    estudo das línguas sul-ameri

    canas . Boletim do Museu NaciOnal

    ZX l),

    Rio de

    Janeiro, 1933.

    CIÊNCIA E CULTURA, 27(12), DEZEMBRO

    1975

    várias dessas línguas produzido

    uma

    literatura

    abundante e do mais alto valor.

    Por

    tudo isso

    as línguas indo-européias foram por muito

    tempo um objeto exclusivo de análise lingüís

    tica .

    Há, p o r ~ m

    uma maneira outra por que a

    LingüTs.ticâ pode auxiliar praticamente aos

    antropólogos . Muitos antropólogos estudam

    populações ágrafas e muitas dessas populações

    são monolíngues. Em outras o português falado

    pelo indígena é pobre, precário e deficiente.

    A maioria dessas línguas não foi estudada, isto

    é inexistem gramáticas para que o antropó

    logo possa aprender a língua e com ela se co

    municar com o grupo estudado. Mesmo quan

    do existem estudos mais

    prdundos

    (e parte

    desse trabalho vem

    sendD

    feito pelo Summer

    Institute of Linguistics, no Brasil), esses estu

    dos estão apresentados numa forma extrema

    mente técnica que

    um conhecedor da ter

    minologia lingüÍstica pode tirar dele um pro

    veito efetivo. Isto é mesmo

    para

    os grupos

    mais estudados inexistem gramáticas pedagó

    gicas. Os antropólogos, então, procuram a

    Lingüística para aprenderem as técnicas que

    lhes permitam depreender a gramática dessas

    línguas para poderem

    se

    comunicar com os

    grupos estudados. Mesmo quando há uma

    bibliografia lingüística, no trabalho de campo

    e pela natureza de seu trabalho, o antropólogo

    sempre se defrontará com situações lingüísticas

    que ele terá de analisar e resolver, pois nem

    tudo está contido nos trabalhos específicos de

    lingüística.

    Porém para os antropólogos o conhecimento

    da linguagem não

    se

    limita a usá-la para a

    comunicação com os membros da sociedade

    em estudo. Do ponto de vista meramente fun

    ciÓnal a linguagem é vista como um veículo

    de comunicação. Porém do ponto de vista

    epistemológico, o problema é mais complexo.

    As correntes filosóficas que tratam da corre

    lação linguagem, pensamento e realidade se

    dividem e

    se

    entrelaçam. O papel

    da

    linguagem

    no processo de cognição é talvez um dos pro

    blemas mais antigos da

    e p i s ~ e m o l o g i a

    Algu

    mas correntes consideram a linguagem apenas

    como

    um

    meio do homem estabelecer contato

    com a realidade, um meio de

    ex

    pressão fiel

    do

    mundo objetivo. A linguagem seria uma cópia

    desse mundo. Outros pensam que a linguagem

    não é uma cópia da realidade, mas é ela quem

    faz a realidade. A linguagem, pois, não ex

    pressa a coisa em

    si

    mas ela cria o mundo

    objetivo. Outros sustentam a hipótese de que

  • 8/18/2019 Yonne Leite

    8/13

    CIÊNCIA E

    CULTURA,

    27(12), DEZEMBRO 1975

    todos os homens passaram pela .mesma evo

    lução biológica, sendo a imagem do mundo

    formada

    neste processo

    de

    evolucão a mesma.

    Segue-se daí que elementos lingüísticos co

    muns são encontrados

    em

    todas as línguas.

    Nessa controvérsia

    Humboldt

    adota

    uma

    posição moderada.

    Para

    ele seria minimizar o

    estudo

    da

    linguagem considerá-la apenas como

    um

    meio

    de

    estabelecer contato

    com

    o

    mundo

    objetivo. A verdadeira essência das pesquisas

    em lingüística seria a de se

    estudar

    a partici-

    pação

    da linguagem na confecção das idéias.

    Dentro dessa perspectiva a questão

    da

    lingua

    gem refletir ou não a realidade é

    um

    problema

    complexo que envolve a dialética de

    fatores

    objetivos e -subjetivos na cognição. Para Trier,

    Weisberger e outros o problema se simplifica:

    a língua não

    reflete a realidade, não há fatores

    objetivos e subjetivos, ela simplesmente cria

    subjetivamente a realidade.

    Para

    o antropólogo tais perguntas e respos

    tas a elas são da

    maior relevância. O mister

    do antropólogo é ao estudar uma sociedade

    chegar à visão do

    mundo

    que esta sociedade

    tem, é depreender os sistemas de valores que

    a movimentªm, enfim, o offcio do antropólogo

    é

    poder traduzir como

    pensa

    e sente a comu

    nidade que ele investiga.

    Ora, algumas dessas perguntas epistemoló

    gicas que

    perduram

    há milênios são passíveis

    de verificação empírica. E esta verificação

    empírica seria

    dada

    pela lingüística. Evidente

    mente

    nem

    todas as questões filosóficas levan

    tadas pelo problema

    -da correlação linguagem

    e pensamento, ·linguagem e realidade encontra

    rão uma comprovação inequívoca.

    certas

    áreas, porém, que

    oferecem perspectivas ani

    madoras.

    Por

    exemplo, a concepção filosófica

    de que a linguagem

    cria

    a realidade e

    que uma

    mudança

    no sistema lingüístico acarreta uma

    mudança

    na

    imagem

    da

    realidade

    pode

    encon

    trar

    uma

    comprovação nas pesquisas de etno

    lingüística.

    Os povos usam sistemas lingüísti

    cos diferentes, com morfologia, sintaxe voca

    bulário, contextos sociais e culturais diversos.

    J?ntão, se analisarmos vários sistemas lingüi:s

    tlcos para

    ver

    se eles acarretam imagens dife

    rentesdo mundo, poder-se-ia ter

    uma

    evidên

    cia a favor dessa teoria. E se essa imagem do

    mun?o está consubstanciada na língua, os an

    tropologos, para poderem traduzir como a

    população que estudam vê e

    pensa

    esse mun

    do, precisariam conhecer muito bem a sua

    língua.

    ____

    1.287

    É bem conhecida pelos lingüistas a hipótese

    do relativ:isii _o lingüístico formulada por Sapir,

    a qual pode ser sumariada

    do

    seguinte modo:

    a língua que

    uma

    determinada comunidade

    fala e com que pensa, organiza a experiência

    e assim molda o

    mundo

    e a realidade social

    dessa comunidade. Em

    outras palavras, a cada

    língua é inerente uma visão específica do mun

    do. Que fique claro que

    uma

    exegese da obra

    de Sapir

    não

    nos autoriza a dizer que ele pense

    que

    a língua cria a realidade. Sua tese é a de

    que a linguagem é socialmente condicionada

    e influencia o modo por que uma comunidade

    apreende a realidade. A questão é assim tão

    complexa quanto a posiçãÕ de Humboldt, pois

    ao mesmo tempo que a linguagem é um

    pro-

    duto

    social, isto é, o sistema lingüístico em

    que

    somos socializados

    molda

    a maneira por

    que

    vemos o mundo, esta realidade social em

    que vivemos, diferente

    para

    cada sociedade,

    acarreta

    estruturas lingüísticas diferentes. Se

    gundo Sapir:

    22

    A linguagem é

    um

    guia

    para

    a realidade social .

    Embora

    em regra

    não

    se

    considere

    de

    essencial interesse

    para

    os estu

    diosos da ciência social, é ela que poderosa

    mente condiciona todas as nossas elocubrações

    sobre

    os problemas e os processos sociais. Os

    seres humanos não vivem apenas no

    mundo

    objetivo

    nem

    apenas no mundo

    da

    atividade

    social como ela é geralmente entendida,

    mas

    também se

    acham

    em muito

    grande

    parte à

    mercê da

    língua particular que se

    tornou

    o

    meio de expressão da sua sociedade.

    É

    uma

    completa ilusão imaginar que alguém se ajuste

    à realidade sem o auxílio essencial

    da

    língua

    e que a língua seja, meramente, um meio oca

    sional de resolver problemas específicos de

    comunicação ou raciocínio. O fato incocusso

    é que o mundo real se constrói

    i n o n s i n

    temente, em grande parte  na base de hábitos

    lingüísticos do grupo.

    Não há

    duas línguas

    que

    sejam bastante semelhantes

    para

    que se

    possa dizer que representam a mesma reali

    dade social. Os

    mundos

    em que vivem as di

    versas sociedades

    humanas sãÕ mundos

    distin

    tos, não apenas

    um mundo com

    muitos rótulos

    diversos.

    Entender

    um

    poema,

    por

    exemplo, não se

    cifra somente em entender as várias palavras

    em sua significação usual, mas na compreensão

    plena de

    toda

    a vida na comunidade, tal como

    ela se espelha nas palavras ou as palavras a

    22. A posição da lingUística como ciência . ln

    in

    giiística

    como

    ência

    (J.

    Matto

    so

    Câmara

    Jr. ,

    ed.) Livraria Acadêmica, Rio de Janeiro, 1961.

  • 8/18/2019 Yonne Leite

    9/13

    1.288

    sugerem em surdina. Até atos de percepção

    aparentemente simples estão, muito mais do

    que se poderia supor, à mercê desses padrões

    sociais que se chamam palavras. Quem, por

    exemplo, desenha umas doze linhas de forma

    diferente, percebe-as como divisíveis em dadas

    categorias, como sejam "reta", "quebrada",

    "curva", "ziguezague",

    por

    causa do que su

    gerem para a classificação os próprios termos

    lingüísticos. Se vemos, ouvimos e sentimos, de

    uma maneira geral, tal como o fazemos, é em

    grande parte porque os hábitos lingüísticos de

    nossa comunidade predispõem certas es·colhas

    de interpretação".

    A hipótese de Sapir encontrou ampla resso

    nância em seu discípulo Benjamin

    Lee

    Whorf.

    Whorf radicaliza as idéias de Sapir, eliminando

    suas ambiguidades, precisando as partes vagas

    e, portanto, mais sugestivas da

    obra

    de seu

    mestre. Sapir via, como Humboldt, uma rela

    ção dialética entre o mundo objetivo (social)

    e o reflexo deste mundo na linguagem. Whorf

    se

    aproxima mais de Trier e Weisberger ao

    dizer que

    o

    mundo se apresenta

    num

    fluxo

    caleidoscópico de impressões que devem ser

    organizadas pela nossa mente - isto

    é

    em

    grande parte pelo sistema lingüístico de nossas

    mentes. Segundo Whorf dividimos a natureza,

    organizamo-la em conceitos, e Consignamos

    significações de um

    dado

    modo, em grande

    parte

    porque somos membros de um acordo

    firmado para organizá-la deste modo· - acor

    do que vale para toda a nossa comunidade

    lingüística e está codificado nos padrões de

    nossa língua. Este acordo

    é

    evidentemente

    implícito, mas seus termos são obrigatórios

    Não se pode falar de modo algum a não ser

    que

    subscrevamos a organização e a classifi

    cação dos dados decretados no acordo"

    23.

    O mais Célebre trabalho

    de

    Whorf, em que

    ele oferece provas

    para

    sua teoria de que per

    cebemos o mundo de

    um

    dado modo depen

    dendo de como a nossa língua divide a cor

    rente de acontecimentos em partes, é aquele

    em que ele compara a estrutura do verbo em

    Hopi

    com a das línguas do europeu médio

    padrão

    24

    • Whorf conclui que a categoria tempo

    não é concebida pelos Hopi do mesmo modo

    como

    é

    concebida pelos falantes das línguas

    23. "Science and linguistics". ln Languag

    thou

    g

    ht

    and reality   p. 207-219 (John B Carrcil, ed.) The

    M.I.T.

    Pre

    ss, 1957.

    24 . "

    An

    American

    lndian

    model of the universe

    in language". ln Lan

    guage 

    thou

    g

    ht

    and reality

    p. 57-64.

    CIÊNCIA E CULTURA, 27(12)

    ,

    DEZEMBRO

    1975

    européias padrão. Em suas próprias palavras :

    Considero gratuito que um indivíduo

    Hopi

    que conhece apenas a língua Hopi e as idéias

    culturais em sua própria sociedade tenha as

    mesmas noções de tempo e espaço - muitas

    vezes consideradas como intuitivas - que nós

    temos e que geralmente são tidas como noções

    universais. De

    um

    modo geral o Hopi não tem

    uma

    noção geral ou intuição do tempo como

    um fluxo contínuo e suave pelo qual tudo no

    universo se passa num ritmo igual - de um

    futuro através de

    um

    presente para um passado

    ou no qual, revertendo-se a imagem, o obser

    vador está sendo levado continuamente numa

    corrente de duração de um passado

    para

    um

    futuro" . . .

    O

    verbo em Hopi não se apre

    senta linearmente com três aspectos e uma

    dimensão de tempo, mas numa base de uma

    gradação operacional de "mais cedo - mais

    tarde".

    O livro de

    Adam

    Schaff

    Linguagem e cogni-

    ção

    em que baseamos a maior parte das

    observações aqui feitas sobre o problema da

    interrelação linguagem e realidade, linguagem

    e pensamento, oferece a todos os interessados

    neste problema

    uma

    visão ampla, numa apre

    sentação didáüca, do histórico da questão, suas

    possibilidades de verificação empírica e con

    tra

    -argumentações.

    De

    um modo geral acre

    dita na potencialidade dos trabalhos de etno

    lingüística como evidência a favor ou contra

    algumas hipóteses epistemológicas.

    A concepção de que a linguagem oferece a

    divisão do mundo, ou o recorte da realidade,

    especialmente seu vocabulário estruturado em

    campos semânticos, deu origem em antropo

    logia a toda uma linha de pesquisa conhecida

    como "ethnoscience". O trabalho de Conklin

    25

    sobre a classificação das cores em Hanunoo, o

    de

    Frake

    2

    6

    sobre a concepção

    de

    doenças

    entre os Subanum de Mindanao e os vários

    trabalhos de Lounsbury e Goodenough pro

    curam mostrar como a taxonomia lingüística

    aliada à detecção dos componentes semânticos

    dos itens vocabulares traduzem uma visão e

    apreensão do mundo própria a cada cultura.

    E o único meio de verdadeiramente chegar-se

    a conhecer a essência de uma cultura seria es

    tabelecer os seus sistemas semânticos classifi-

    25.

    Hanunóo

    colour categories". Southwestern

    journal

    of

    anthropology

    (

    4):

    339-344, 1955.

    26. "

    The

    diagnosis of disease amnog the Subanum

    of Mindanao". American

    anthropologist

    63 1)

    :

    113-130, 1961.

  • 8/18/2019 Yonne Leite

    10/13

    CIÊNCIA E CULTURA, 27(12), DEZEMBRO 1975

    catórios consubstanciados no vocabulário e

    na

    gramática.

    :b importante observar que a hipótese do

    relativismo lingüísti:co, conhecida como a hi

    pótese Sapir-Whorf - encontrou guarida nu

    ma fase do estruturalismo extremado da lin

    güística norte-americana. Os estudos das lín

    guas indígenas se intensificaram e um dos

    objetivos era descobrir novas estruturas lin

    güísticas e mostrar em .quanto elas se diferen

    ciavam das chamadas línguas das grandes civi

    lizações ou línguas não-exóticas. Essa concep

    ção chegou a um

    tal grau de radicalismo que

    para a descrição das línguas aconselhava-se a

    evitar o uso da terminologia até então :corrente

    em estudos da linguagem, a nomenclatura co

    mo nome, verbo, possessivo, gerúndio, de

    monstrativo, incoativo, particípio etc. As par

    tes ou morfemas em vez

    de

    nominados deve

    riam ser numerados. Era como se cada língua

    fosse um mundo em

    si

    diferente em tudo de

    qualquer outra. Cada língua encerraria assim

    uma concepção da realidade e como essa rea

    lidade era vista diferentemente por cada cul

    tura as línguas seriam intraduzíveis uma

    na

    outra.

    Tal tipo de conceção - em que se anulam

    os

    aspectos universais do fenômeno lingüísti:co

    - foi duramente criticado pelos seguidores da

    chamada teoria transformacional. O debate

    assumiu

    um

    tom apaixonado e

    as

    críticas a esta

    concepção foi tão contundente que os trans

    formativistas passaram a chamar aos estrutu

    ralistas de taxonômicos e diziam que o que eles

    faziam não atingia o nível

    da

    explicação do

    fenômeno lingüístico. Apenas classificavam

    fatos e os rotulavam.

    O tipo de fundamentação dos transformati

    vistas é em parte biológi:co - a linguagem

    seria uma capacidade inata do homem. Como

    disse Eric Lenneberg

    27

    , em palestra proferida

    no Museu Nacional a nossa espécie é dotada

    de uma maneira específica

    de

    processar os

    dados da realidade. A principal manifestação

    dessa capacidade geral é a capacidade de sín

    tese dos processos lingüísticos. Essa capacidade

    se

    desenvolve paulatinamente em cada criança

    acompanhando a maturação orgânica desde

    que . a matéria-prima lhe seja fornecida pelo

    ambiente num processo que se poderia com

    parar

    ao da nutrição e crescimento O desa

    brochar da linguagem tem seu curso estrita-

    27. Fundamentos

    biológicos da linguagem . Pu

    blicaçõ

    es

    Avulsas do

    Mu

    seu N ácional, n.

    0

    53, 1970.

    1.289

    mente prescrito pelo caminho maturacional

    seguido pela cognição. Há uma etapa da ma

    turação que se poderia denominar de disponi

    bilidade lingüística. A disponibilidade lingüís

    tica é um estado de estrutura lingüística latente.

    O desabrochar da linguagem é o processo pelo

    qual a estrutura latente se realiza em estrutura

    manifesta dando ao tipo lingüístico abstrato

    subjacente uma forma concreta.

    Tal

    formula

    ção pode ser vista como a contra parte biológica

    daquilo a que os gramáücos têm dado o nome

    de gramática universal e gramática particular.

    A estrutura latente é responsável pelas peculia

    ridades de qualquer enunciado e também pelos

    aspectos exclusivamente pertinentes à gramá

    tica de uma língua natural . E mais - e isto

    é importante frisar - porque aqui a funda

    mentação da teoria transformacional se dife

    rencia da hipótese do relativismo lingüístico,

    Lenneberg continua: Cada indivíduo sadio

    normal é uma réplica do outro em termos

    seu potencial lingüístico ou estrutura latente

    justamente

    por ser essa estrutura uma o n s e ~

    qüência de processos cognitivos e :curso matu

    racional especificamente humanos .

    A linha de trabalho da lingüística transfor

    macional tem sido exatamente a

    de

    tentar de

    terminar em como se caracteriza formalmente

    essa capacidade inata, própria e comum a toda

    a espécie humana. Dentro dessa perspectiva

    as

    diferenças entre

    as

    línguas seriam meramente

    superficiais. Os mecanismos lingüísticos,

    as

    restrições de operações seriam os mesmos em

    todas as línguas. As pesquisas lingüísticas de

    hoje procuram mostrar o que

    de geral e

    comum no particular, como cada língua em

    sua diversidade esconde aspectos universais.

    Procura-se, assim, chegar-se a uma caracteri

    zação das línguas humanas e naturais em con

    traposição

    às

    linguagens artificiais ou animais.

    Vale a pena tentar reproduzir aqui o que

    nos diz Noam Chomsky em sua Introdução à

    edição norte-americana do livro de Schaff. Diz

    ele sobre a questão dos universais lingüísticos

    -   A amplitude real dos verdadeiros univer

    sais lingüísticos, isto é, aqueles que se mantêm

    não por acidente histórico, mas os que são

    essenciais à linguagem humana dado o caráter

    fixo dos processos humanos mentais - é des

    conhecida . E mais ainda, voltando-se à con

    cepção biológica de Lenneberg de maturação

    e desenvolvimento lingüístico, sabe-se que a

    fase de disponibilidade termina

    por

    volta

    da

    puberdade e após essa fase se torna quase im

    possível aprender como um nativo, t-er as in-

  • 8/18/2019 Yonne Leite

    11/13

    1.290

    tuições de um nativo,

    numa

    outra língua que

    não seja a que se foi exposto e que foi apren

    dida primeiramente.

    Esse tipo de formulação nos leva a recon

    siderar as evidências e conclusões apresentadas

    por

    Whorf

    entre linguagem e cognição. A in

    vestigação da hipótese do relativismo lingüís

    tico exige

    uma

    análise exata da estrutura lin

    güística considerada.

    Ora

    , longe estamos de

    possuir uma análise cabal e incocussa de lín

    guas tão estudadas como, por exemplo, o inglês,

    O que

    não

    se dirá das análises de línguas

    indígenas?

    A principal argumentação de Whorff, aceita

    por Schaff, refere-se à diferença entre a análise

    do verbo em línguas européias, e o inglês aí

    se inclui, e em Hopi. Para Chomsky o princi

    pal defeito

    da

    argumentação de Whorf é que

    sua análise do verbo em inglês

    é

    incorreta.

    Como

    ele

    di

    z

    Em

    inglês, por exemplo,

    não

    base estrutural

    para

    a visão ·cósmica pre

    sente -

    pa

    ssado - futuro

    que

    Whorf atribui

    de certo modo corretamente aos falantes das

    línguas européias comuns.

    Ao

    contrário,

    uma

    análise formal da estrutura do inglês

    mostrará

    uma distinção presente - passado, um con

    junto de aspectos (perfeito e progressivo) e

    uma classe de modais, um dos quais é o futuro

    (entre

    outros mecanismos que servem para

    essa mesma finalidade) . Abordando-se o inglês

    do

    ponto

    de vista proposto por

    Whorf

    , con

    cluiríamos que

    um

    falante do inglês

    não

    tem o

    conceito de tempo como

    uma

    linha duplamente

    infinita, ele próprio ocupando a posição de um

    ponto

    movendo-se constantemente do p assado

    para o presente , mas, ao contrário, ele ·conce

    be

    o tempo em termos de uma dicotomia básica

    entre o que é passado e o que não é ainda

    passado e

    em

    termos de um sistema superim

    posto e independente de modalidades

    que

    en

    volve possibilidade, perm1ssao, habilidade,

    necessidade, obrigação, futuro (esta última

    não

    sendo distinta das outras

    de nenhum modo

    especial). Esta conclusão é absurda, o que

    simplesmente serve

    para mostrar

    que o nosso

    conceito de tempo não

    é

    determinado pelas

    categorias lingüísticas de

    nenhum modo

    detec

    tável, mas

    é

    ao contrário independente delas.

    Se isto

    é

    verdadeiro

    pa r

    a os falantes

    do

    inglês,

    por

    que não o será

    para

    os falantes

    do Hopi?

    São por esses motivos que os seguidores da

    teoria transformacional vêem com certo ceti

    cismo as evidências empíricas apresentadas

    pela ethnoscience e

    baseada

    s

    na

    linguagem.

    Os problemas com que se defronta o lingüista

    CI

    ÊNCIA

    E CULTURA,

    2 7 (

    12)

    ,

    DEZEMBRO

    197

    antropólogo

    par

    a conhecer

    uma

    língua que

    o

    é a sua nativa são tão vastos e complexos -

    e o controle nativo da língua é necessário

    pa

    ra

    esse tipo de abordagem - que as evidências

    que ele

    poderá

    fornecer estãrão pelo menos

    por

    enquanto fadadas a não terem

    um

    conteú

    do substancial e profundo.

    Em seu artigo Cognition in ethnolinguis

    tics

    28

    ,

    Eric Lenneberg faz uma avaliação da

    metodologia seguida nos trabalhos realizados

    e

    mostr

    a que, se

    um

    observador está interes

    sa

    do

    em êognição, ele te

    de inv

    es

    tigar as

    relações que se obtêm entre a codificação e o

    comport

    amento que é traduzível pela memória

    reconhecimento, aprendizagem, solução de pro

    blemas e percepção,

    na

    esperança de mostrar

    que certas peculiar idades desses processos só

    podem

    ser explicadas pelo conhecimento das

    peculiaridades

    de

    codificação do falante .

    Pe

    s

    quisas

    rea

    lizadas

    com

    falantes do inglês de

    monstraram apenas que há maior unanimidade

    na

    resposta ao reconhecimento de cores p

    ara

    aquelas em que há uma codificação mais ele

    vada, isto é, para as quais há um nome bem

    definido. Para as outras cores em que

    não

    um

    nome bem

    definido foram dados tantos

    nomes quanto o número de falantes investiga

    dos. Por isso se vê que o fato de não se

    po

    s

    suir

    um

    nome especÍfico para

    uma cor

    tenha

    como conseqüência que as pessoas não reco

    nheçam

    aquela cor como diferente das

    outra

    s

    - não

    houve

    apenas

    uma

    unanimidade nos

    nomes dados nesses ·casos, mas as cores foram

    percebidas como diferentes .

    Resta

    -nos falar agora da contribuição que

    a antropologia

    pode

    trazer

    para

    a lingüística .

    A lingüística atual tem evoluído por

    uma

    linha

    extremamente formal, a de tentar caracterizar

    os mecanismos que definem as línguas natu

    rais das linguagens não-naturais. Seria curioso

    notar

    aqui que

    no

    meu trabalho diário

    lid-o

    com antropólogos e estudantes de pós-gradua

    ção em antropologia, todos acham que a lin

    güística é necessária

    para

    seu trabalho embora

    não

    saibam precis

    ar

    em quê, nem

    por

    quê.

    Quanto aos lingüi stas, jamais encontrei um

    interessado em saber o

    que

    é antropologia.

    Na

    s

    estantes dos alunos de pós-graduação em an

    tropologia

    livros de

    li

    ngüística.

    Haverá

    livros de antropologia nas estantes dos alunos

    de pós-graduação

    em

    lingüística?

    AJ ingüística, ao conceber a linguagem como

    uma

    capacidade inata ·do homem, passou a

    28. nguag

    e

    29:

    46>471

    , 1953.

  • 8/18/2019 Yonne Leite

    12/13

    CIÊNCIA

    E

    CULTURA, 27 12),

    DEZEMBRO

    1975

    procurar um diálogo maior com a psicologia

    e a biologia:

    É importante, porém, não nos esquecermos

    que - a ·língua se atualiza num determinado

    c o ? ~ e x t o

    o c i < : i l

    As formas podem estar gra

    m-aticalmente corretas, mas socialmente erra

    das. Ter um controle nativo de

    uma

    língua

    nãõ é apenas falá-la de um modo gramatical

    correto, mas socialmente correto também. Ter

    um controle nativo de uma língua inclui saber

    graduá-la nos diversos contextos sociais.

    Cabe

    lembrar aqui o exemplo muitas vezes citado

    pelo Prof. Castro

    Faria

    da pesquisadora que

    chegou a conhecer bem a língua do grupo

    estudado, mas não viu suas implicações so

    ciais. Trata-se do trabalho de Nancy Dorian

    29

    que fala relativamente bem a língua do grupo

    e que conta seu infortúnio por não saber com

    portar-se geralmente

    bem

    em termos dos pa

    drões nativos do grupo.

    Com o incremento e a direção que estão

    tomando os trabalhos de sócio-lingüística em

    que conceitos de classe social, estratificação,

    status etc. são imprescindíveis, é bem provável

    que o interesse recomece a despontar . Não é

    que o lingüista venha a

    se tornar

    um sociólogo

    ou antropólogo. Apenas é necessário que ele

    compreenda a complexidade de uma divisão

    em classes e esteja ciente das limitações de

    suas conclusões em termos sociológicos.

    e a impressão que fica para nós desta breve

    avaliação das possibilidades de uso dos resul

    tados da lingüística pelos antropólogos é um

    tanto desanimadora e pessimista creio que ela

    pode ser explicada pela colocação que geral

    mente se faz do problema, a qual meramente

    traduzi até aqui. Acredito que a questão deve

    vista de um outro ângulo. A aproximação

    nao se

    no nível prático da lingüística ofere

    cer resultados concretos à antropologiá -

    Ôu

    vice-versa. C r ~ i o que o que aproxima ãntro

    pólogo e o lingüista é o modo como eles abor

    dam o objeto pesquisado e o que intentam

    conhecer. O antropólogo almeja entender a

    comunidade por ele estudada como um mem

    bro daquela sociedade a concebe. Ele tem uma

    teoria ou várias, mas não tem um sistema

    classificatório apriorístico. Em seu ofício a

    l i d a d e

    em si pouco importa, o que importa

    e como os membros da sociedade a vêem. São

    várias as teorias de que dispõe. O l ~ n g ü i s t a

    29. A substi tute name system in the Scottish

    Highlands . merican anthropo/ogist 72 2) : 303-

    -319, 1970.

    1.291

    por seu lado, procura em sua gramática apre

    ender a intuição do falante nativo

    da

    língua.

    Também são várias as teorias, também são

    possíveis várias interpretações.

    Tanto

    o antro

    pólogo quanto o lingüista lidam com realidades

    de grande riqueza de expressão

    para

    cuja apre

    ensão é necessário intuição, sensibilidade e

    imaginação. Ambos lutam com o drama da

    validação empírica de suas hipóteses, valida

    ção essa tão diferente

    da

    encontrada nas ciên

    cias chamadas exatas. E ambos têm como o

    biólogo, o químico, o físico, um mundo con

    creto à sua frente , a língua em sua manifes

    tação oral e escrita, o antropólogo com a socie

    dade com toda sua gama de manifestação

    concreta em mitos, organização de família,

    sistemas de trabalho, rituais, sistemas jurídi

    cos etc.

    colaboração seria a meu ver muito mais

    profícUa se antropólogos e l i n g ü i s t p à s s a ~ s ~ m

    a dialogar em termos de se conhecerem quais

    as perguntas que cada campo est'á sê fázendo

    _ipos de evidências empíricas

    s

    está

    u s a n ~

    _p meu convívio diário corri os antropó

    logos do Museu Nacional posso dar um teste

    r ~ 1 u ~ ? o dos mais animadores. Creio que tanto

    lmgmstas quando antropólogos estão na mes

    me fase de impasse, têm as mesmas incertezas

    e a natureza de suas certezas é muito seme

    lhante. Ambos procuram novos caminhos para

    um melhor entendimento dos fatos estudados

    e uma explicação mais profunda de sua essên

    cia. Nossa posição, no momento, me parece

    muito semelhante à do poeta Pedro Salinas, ao

    nos descrever a sua tentativa de compreender

    a essência da mulher amada. Diz-nos o poeta:

    El alma tenías

    tan clara y abierta,

    y yo nunca pude

    entrarme en tu alma.

    Busqué los atajos

    angostos, los pasos

    altos y difíciles

    A tua alma se iba

    por .caminos anchos.

    Preparé alta escala

    - soiíaba altos muros

    guardándote el alma -

    pero el alma tuya

    estaba sin guarda

    de tapial ni cerca.

    Te

    busqué la puerta

    estrecha del alma,

  • 8/18/2019 Yonne Leite

    13/13

    1.292

    pero no tenía,

    de franca que era,

    entradas tu

    alma.

    ? En dónde empezaba?

    ? Acababa en dónde?

    Me

    quedé

    por

    siempre

    sentado en las vagas

    lindes de tu alma.

    Se os caminhos para se atingir ao .conheci-

    mento são árduos e difíceis, se como nos diz

    o poeta, mal sabemos onde começa e onde

    acaba, se ainda estamos apenas nos limiares

    CIÊNCIA E CULTURA, 27 12), DEZEMBRO 1975

    da porta,

    se as

    dissenções se multiplicam para

    permitir que se atravesse essa porta que nos

    parece tão estreita, mas que no fundo é tão

    ampla

    por

    que seus limites

    não

    estão bem

    definidos,

    se

    as

    teorias

    se

    multiplicam num

    ritmo muitas vezes quase impossível de ser se-

    guido com assiduidade é um sinal da vitalidade

    de nossos campos. Pois, conforme nos diz

    Emmon Bach em seu artigo modelar Lingüís-

    tica e filosofia da ciência no dia em que todos

    nós estivermos de acordo e em que todas

    as

    portas de percepção tiverem sido transpostas

    é porque nossa ciência estará morta.

    M

    N

    DEP ANTROPOLOGIA

    Autor:

    Trtulo:

    N o

    Cham: