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PRIMEIRA PARTE

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12 12PRIMEIRA PARTE121312Porque podemos crer 14Ns, seres humanos, somos abertos a Deus 14 Deus aproxima-Se de ns, seres humanos 16 O ser humano responde a Deus 25O Credo cristo 28Creio em Deus Pai 31Creio em Jesus Cristo, Filho Unignito de Deus 51Creio no Esprito Santo 73pergu ntasEm que cremos14 14PRIMEIRA SECOPorque podemos crer1 Para que estamos no mundo?Estamos no mundo para conhecer e amar Deus, para fazer o bem segundo a Sua vontade e um dia ir para o Cu. [1-3, 358]Ser pessoa humana significa vir de Deus e ir para Deus. Ns vimos de mais longe que dos nossos pais. Ns vimos de Deus, do qual provm toda a felicidade do Cu e da Terra, e somos esperados na Sua eterna e ilimitada bem- -aventurana. Entretanto, vivemos neste mundo. De vez em quando, sentimos a proximidade do nosso Criador; frequentemente, no sentimos mesmo nada. Paraencontrarmos o caminho para casa, Deus enviou-nos o Seu filho, que nos libertou do pecado, nos salvou de todo o mal e nos conduz infalivelmente verdadeira Vida. Ele o Caminho, a Verdade e a Vida (Jo 14,6). 2852 Porque nos criou Deus?Deus criou-nos por livre e desinteressado amor. [1-3]Quando uma pessoa ama, o seu corao transborda. Ela deseja partilhar a alegria com os outros. Nisso ela parece-se com o seu Criador. Embora Deus seja um mistrio, podemos pens-lO de um modo humano e dizer: Ele criou-nos a partir do excesso do Seu amor.Ele queria partilhar a Sua infinda alegria connosco, criaturas do Seu amor.PRIMEIRO CAP TULONs, seres humanos, somos abertos a Deus 3 Porque procuramos Deus?Deus colocou no nosso corao um desejo: procur-lO e encontr-lO. Santo Agostinho diz: Tu criaste-nos para Ti e o nosso corao est irrequieto at encontrar o descanso em Ti. A este desejo de Deus chamamos Religio. [27-30]O amor a alegria pelo bem; o bem o nico fundamento do amor. Amar significa querer fazer bem a algum.So Toms de Aquino (1225-1274, guia espiritual da Idade Mdia, doutorda Igreja e eminente telogo da Igreja)A medida do amor amar sem medida.So Franci sco de Sales (1567-1622, bispo notvel, proco genial, fundador de uma congregao e doutor da Igreja) Temos de conhecer as pessoase as coisas humanas para as amar. Temosde amar Deuse as coisas divinas para as conhecer. Blai se Pascal (1623-1662, matemt ico e f ilsof o f rancs)Deus quer que todos se salvem e cheguemao conhecimentoda verdade.Tm 2,4Deus amor.1Jo 4,16b14 1415PRIMEIRA PARTE EM QUE CREMOS[I] 1. CAPTULO: NS, SERES HUMANOS, SOMOS ABERTOS A DEUSA busca de Deus natural na pessoa humana. Toda a sua aspirao pela verdade e pela felicidade , no fundo, uma busca daquilo que a sustenta absolutamente, que a satisfaz absolutamente, que a torna absolutamente til. Uma pessoa s est totalmente consigo prpria quando encontrou Deus. Quem procura a verdade procura Deus, seja isso evidente ou no para ela. (Santa Edith Stein) 5, 281-2854 Podemos descobrir a existncia de Deus com a nossa razo?Sim, a razo humana pode, seguramente, descobrir Deus. [31-36, 44-47]O mundo no pode ter origem nem fim em si mesmo. Em tudo o que existe est mais do que aquilo que se v.A ordem, a beleza e o desenvolvimento do mundo apontam para fora de si mesmos e remetem para Deus. Cada pessoa RELIGIOPor religio pode entender-se genericamente uma relao para com o Divino. Uma pessoa religiosa reconhece algo Divino como o poder que a criou a ela e ao mundo, do qual ela dependente e para o qual ela est orientada. Ela quer, mediante o estilo de vida, agradar ao Divino e vener-lO.A fonte da alegria crist esta conscincia de ser amado por Deus, de ser pessoalmente amado pelo nosso Criador, [...] com amor apaixonado e fiel, um amor que maior quea nossa infidelidadee os nossos pecados,um amor que perdoa.Bento XVI, 01.06.2006Deve procurar- -se a Deus e esforar-se realmente para O atingire encontrar. Na verdade, Ele no est longe de cada um de ns. nEle que vivemos, nos movemos e existimos.Act 17,27-28a16 16humana est aberta ao Verdadeiro, ao Bom e ao Belo. Ela escuta, dentro de si, a voz da conscincia, que a impele para o bem e a adverte do mal. Quem segue esta pista encontra Deus. 5 Porque h pessoas que negam a Deus, se elas O podem descobrir pela razo? Descobrir Deus invisvel um grande desafio para o esprito humano. Muitos, perante isso, recuam de medo. Alguns tambm no querem descobrir Deus precisamente porque, ento, teriam de mudar a sua vida. Quem diz que a questo de Deus absurda, porque insolvel, torna o assunto demasiado simples. [37-38] 3576Pode Deus de alguma forma abarcar-Se em conceitos? Pode falar-se razoavelmente dEle?Embora ns, seres humanos, sejamos limitados e a infinita grandeza de Deus nunca se ajuste aos conceitos humanos, podemos, no entanto, falar acertadamente sobre Deus. [39-43, 48]Para fazermos afirmaes sobre Deus, utilizamos imagens imperfeitas e noes limitadas. Cada dito sobre Deus situa-se, portanto, sob a condio de que a nossa linguagem no est altura da grandeza de Deus. Assim, temos continuamente de purificar e melhorar o nosso discurso sobre Deus.SEGUNDO CAP TULODeus aproxima-Se de ns, seres humanos7Porque teve Deus de Se revelar, para sabermos como Ele ?O ser humano pode descobrir pela razo que Deus existe, mas no como Deus realmente. Portanto, como Deus gosta de ser conhecido, revelou-Se. [50-53, 68-69]Deus teve de Se revelar a ns. Ele f-lo por amor. Tal como, no amor humano, s se pode conhecer algo de uma pessoa amada quando ela nos abre o seu corao, tambm s conhecemos os mais ntimos pensamentos A mais nobre fora do ser humano a razo. A mais alta meta da razo o conhecimento de Deus.Santo Alberto Magno (ca. 1200-1280, dominicano, sbio universal, doutor da Igreja e um dos maiores telogos da Igreja)Por isso, h pessoas que, nestes assuntos, se convencem de que falso ou duvidoso aquilo com que no querem concordar.Pio XI I, Humani GenerisO que incompreensvel no , por isso, menos importante.Entre o Criador e a criatura no se pode determinar uma semelhana enorme se entre eles se no puder determinar uma dissemelhana ainda maior.I V Conclio de Latro16 1617PRIMEIRA PARTE EM QUE CREMOSde Deus porque Ele, eterno e misterioso, Se abriu a ns por amor. Desde a Criao, passando pelos patriarcas e pelos profetas, at definitivaRevelao no Seu Filho Jesus Cristo, Deus comunicou continuamente com a humanidade. Em Jesus, Ele verteu-nos o corao e tornou-nos claro o Seu Ser mais ntimo.8Como Se revela Deus no Antigo Testamento?Deus mostra-Se, noAntigo Testamento, como Aquele que criou o mundo por amor e permanece fiel ao ser humano, mesmo que este, pelo pecado, O renegue. [54-64, 70-72]Deus deixa-Se experimentar na histria. Com No faz uma Aliana para salvar todos os seres vivos. Chama Abrao para fazer dele o pai de um grande nmero de naes (Gn 17,5) e nele abenoar todas as naes da Terra (Gn 12,3). O povo de Israel, descendente de Abrao, torna-se Sua especial propriedade. A Moiss apresenta-Se nominalmente: O Seu nome misterioso,, muitas vezes pronunciado como Iahweh, signif ica Eu sou Aquele que sou (Ex 3,14). Ele liberta Israel da escravido no Egipto, faz uma Aliana no Sinai e, atravs de Moiss, entrega-lhe a Lei. Repetidas vezes, Deus envia profetas ao Seu povo, para o chamar converso e renovao da Aliana. Os profetas anunciam que Deus far uma nova e eterna Aliana, que realizar uma radical renovao e uma def initiva redeno. Esta Aliana estar aberta a toda a humanidade.9O que nos mostra Deus quando nos envia o Seu Filho? Em Jesus Cristo, Deus mostra-nos toda a profundidade do Seu misericordioso amor. [65-66, 73]Atravs de Jesus Cristo, torna-Se visvel o Deus invisvel. Ele torna-Se como ns. Isto mostra-nos at que ponto vai o amor de Deus: Ele carrega todo o nosso peso. Ele percorre connosco todos os caminhos. Ele vive a nossa solido, o nosso sofrimento, o nosso medo da morte. Ele apresenta-Se onde no podemos avanar, para nos abrir a porta para a Vida. 314[I] 2. CAPTULO: DEUS APROXIMA-SE DE NS, SERES HUMANOSAprouve a Deus, na Sua bondade e sabedoria, revelar-Se a Si mesmo e dar a conhecer o mistrio da Sua vontade, segundo o qual a humanidade, por meio de Cristo, Verbo encarnado, tem acesso ao Pai no Esprito Santo e se torna participante da natureza divina.Conclio Vat icano I I, Dei Verbum, n. 2REVELAOA revelao significa que Deus Se abre, Se mostra e fala ao mundo por livre vontade.A felicidade que procurais, a felicidadea que tendes direito [...] tem um nome, um rosto: Jesus de Nazar.Bento XVI, 18.08.2005ENCARNAO(do lat. caro, carnis = carne)Trata-se da encarnao de Deus em Jesus Cristo. o fundamento da f crist e da esperana na redeno do ser humano.18 1810Ficou tudo dito com Jesus Cristo ou prosseguir a revelao depois d'Ele?Em Jesus Cristo foi o prprio Deus que veio ao mundo. Ele a ltima palavra de Deus. Ouvindo-O, toda a pessoa humana, em todos os tempos, pode saber quem Deus e o que necessrio para a sua salvao. [66-67]No Evangelho de Jesus Cristo est perfeita e completamente disponvel aRevelao de Deus. Para que ela nos seja clara, o Esprito Santo introduz-nos na Verdade cada vez mais profundamente. A Luz de Deus penetra na vida de algumas pessoas de um modo to forte, que elas vem o cu aberto (Act 7,56). Foi assim que surgiram os grandes lugares de peregrinao, como Guadalupe, no Mxico, Lourdes, em Frana, ou Ftima, em Portugal. As revelaes privadas dos videntes no podem aperfeioar o Evangelho de Jesus Cristo; embora no sejam universalmente vinculativas, podem ajudar-nos a entend-lo melhor, desde que a sua verdade seja examinada pela Igreja. 11 Porque transmitimos a f? Transmitimos a f porque Jesus ordenou-nos: Ide, fazei discpulos de todas as naes! (Mt 28,19) [91]Nenhum cristo autntico deixa a transmisso da f apenas ao cuidado dos especialistas (catequistas, procos, missionrios). Somos cristos para os outros. Isto significa que cada cristo autntico deseja que Deus chegue tambm aos outros. Ele diz para si: O Senhor precisa de mim! Sou baptizado, confirmado e responsvel para que as pessoas minha volta faam a experincia de Deus e cheguem ao conhecimento da Verdade. (1Tm 2,4) Madre Teresa utilizou uma boa metfora: frequente observares fios elctricos ao longo da estrada. Se a corrente no passa por eles, no h luz. O fio o que somos tu e eu. A corrente elctrica Deus. Temos o poder de a deixar passar atravs de ns e, assim, fornecer ao mundo a Luz, que Jesus, ou de recusarmos que Ele Se sirva de ns, permitindo, com isso, que a escurido se alastre. 123MISSO(lat. missio = envio)A misso a essnciada Igreja e omandamento de Jesus a todos os cristosde anunciar o Evangelho com palavras e actos, de forma a que todasas pessoas optem livremente por Cristo.No tenho iluses. No consigo imaginar Deus Pai. Tudo o que posso ver Jesus.Beata Madre Teresa (1910- -1997, o anjo de Calcut, fundadora das Missionrias da Caridade, Nobel da Paz)Muitas vezese de muitos modos falou Deus antigamente aos nossos pais, pelos profetas. Nestes dias, que so os ltimos, falou-nos por meio do Seu Filho.Hb 1,1 ss.Fora de Jesus Cristo nada sabemos do que Deus, a vida, a morte e do que ns prprios somos.Blai se Pascal 18 1819PRIMEIRA PARTE EM QUE CREMOS12 Como sabemos o que pertence verdadeira f?Encontramos a verdadeira f na Sagrada Escritura e na Tradio viva da Igreja. [76, 80-82, 85-87, 97, 100]ONovo Testamento surgiu da f da Igreja. Escritura e Tradio pertencem-se mutuamente. A transmisso da f no ocorre primordialmente atravs de textos. Santo Hilrio de Poitiers, bispo da Igreja antiga, dizia: A Sagrada Escritura est escrita no corao da Igreja, mais que em pergaminho. J os discpulos e os Apstolos tiveram a experincia da Vida Nova antes de mais atravs da comunho viva com Jesus. A jovem Igreja convidou outras pessoas a esta comunho, que continuou de outra maneira aps a ressurreio. Os primeiros cristos eram assduos ao ensino dos Apstolos, comunho fraterna, fraco do po e s oraes (Act 2,42). Eles eram unidos entre si, mas tinham espao para os outros. isto que constitui a f at hoje: os cristos convidam outras pessoas para descobrirem a comunho com Deus, a qual, desde os tempos dos Apstolos, se manteve genuna na Igreja Catlica. urgentemente necessrio que surja uma nova gerao de apstolos que estejam enraizados na Palavra de Cristo, em condies de dar uma resposta aos desafios do nosso tempo e preparados para anunciar o Evangelho em toda a parte.Bento XVI, 22.02.2006Portanto, a sagrada Tradio e a Sagrada Escritura esto intimamente unidas e compenetradas entre si. Com efeito, derivando ambas da mesma fonte divina, fazem como queuma coisa s e tendem ao mesmo fim.Conclio Vat icano I I,Dei verbum, n. 9 [I] 2. CAPTULO: DEUS APROXIMA-SE DE NS, SERES HUMANOS20 2013Pode a Igreja enganar-se em questes de f?A totalidade dos crentes no pode errar na f, porque Jesus prometeu aos Seus discpulos mandar-lhes o Esprito da Verdade e conserv-los na Verdade (Jo 14,17). [65-66, 73]Tal como os discpulos acreditavam em Jesus de todo o corao, tambm um cristo pode confiar totalmente na Igreja se procurar o caminho da Vida. Efectivamente, se o prprio Jesus fez dos Seus Apstolos participantes na misso de ensinar, a Igreja tem uma funo educativa ( Magistrio) e no se pode calar. certo que alguns membros da Igreja se podem enganar e at cometer erros graves, mas a Igreja, como um todo, nunca se poder desviar da Verdade de Deus. A Igreja transporta, atravs do tempo, uma Verdade viva, que maior que ela mesma. Fala-se de depositum fidei, o tesouro da f, que deve ser preservado. Caso alguma verdade seja publicamente questionada ou deturpada, a Igreja desafiada a trazer novamente luz aquilo em que se creu por toda a parte, em todos os tempos e por todos os crentes (So Vicente de Lrins, 450). 14 verdadeira a Sagrada Escritura?Os livros da Escritura ensinam com certeza, fielmente e sem erro a verdade de Deus, porque so inspirados, ou seja, foram escritos por inspirao do Esprito Santo e tm Deus por autor. (Conclio Vaticano II, Dei verbum, n. 11) [103-107]ABblia no caiu do cu feita, nem Deus a ditou a autmatas, isto , escritores inconscientes. Antes, para escrever os livros sagrados, Deus escolheu e serviu-Se de pessoas na posse das suas faculdades e capacidades, para que, agindo Ele neles e por eles, pusessem por escrito, como verdadeiros autores, tudo aquilo e s aquilo que Ele queria (Conclio Vaticano II, Dei verbum, n. 11). Para que determinados textos fossem reconhecidos como Escritura Sagrada, tiveram de ser aceites pela Igreja universal. Teve de existir, portanto, um consenso nas comunidades: Sim, o prprio Deus que nos fala por este texto, isto mesmo inspirado pelo Esprito Santo! Desde o sculo iv, MAGISTRIO a designao da tarefa da Igreja Catlica de explicar a f, interpret-la com a assistncia do Esprito Santo e proteg-la de adulteraes.Meditai a Palavra de Deus com frequncia e permiti ao Esprito Santo ser o vosso mestre. Descobrireis, ento, que os pensamentos de Deus no so os nossos; sereis logo conduzidos a contemplar o verdadeiro Deus e ler os acontecimentos da histria com os Seus olhos; ireis saborear plenamente a alegria que transbordada Verdade.Bento XVI, 22.02.2006APSTOLO (gr. apostolos= mensageiro, enviado) No Novo Testamento, aparece primeiramente como designao dos doze homens que foram chamados por Jesus a ser os Seus mais estreitos colaboradores e testemunhas. Tambm So Paulo pde entender- -se como um Apstolo chamado por Cristo.20 2021PRIMEIRA PARTE EM QUE CREMOSestes escritos protocristos esto fixados noCnone das Sagradas Escrituras, tal como foram realmente inspirados pelo Esprito Santo. 15 Como pode a Sagrada Escritura ser Verdade, se nem tudo o que nela se encontra est correcto?ABblia no transmite preciso histrica nem conhecimentos cientfico-naturais. Tambm os autores eram filhos do seu tempo. Eles partilhavam as concepes culturais do seu ambiente, em cujos erros, por vezes, estavam presos. No obstante, tudo o que o ser humano precisa de saber sobre Deus e sobre o caminho da sua redeno encontra-se com infalvel segurana na Sagrada Escritura. [106-107, 109]16Como se l a Bblia correctamente?A Sagrada Escritura l-se correctamente se for lida em atitude orante, ou seja, com a ajuda do Esprito Santo, sob cujo influxo ela surgiu. Ela contm a Palavra Deus, isto , a decisiva mensagem de Deus para ns. [109-119, 137]ABblia como uma longa carta de Deus dirigida a cada um de ns. Por isso, temos de acolher as Sagradas Escrituras com grande amor e respeito. Primeiro, devemos realmente ler a carta de Deus, isto , no isolar pormenores sem atender ao todo. Depois, devemos orientar esse todo para o seu corao e mistrio, ou seja, para Jesus Cristo, de quem fala toda a Bblia, mesmo o Antigo Testamento. Portanto, devemos ler as Sagradas Escrituras na mesma f viva da Igreja em que elas surgiram. 491INSPIRAO (lat. inspiratio= inalao)Tal a inuncia de Deus sobre o escritor bblico, que Ele mesmo considerado o autorda Sagrada Escritura.CNONE(lat. canon = cana de medio, directriz)Trata-se da compilao vinculativa das Sagradas Escrituras que se encontram na Bblia, tanto no Antigo como no Novo Testamento.BBLIA Por Bblia(gr. biblos = livro)designam os judeus e os cristos uma coleco de escritos sagrados que surgiram num perodo de mais de 1000 anos e constituem o documento da sua f. A Bblia crist substancialmente mais abrangente que a judaica, pois, alm dos escritos desta, contm ainda outros livros do Antigo Testamento, quatro Evangelhos,as Cartas de So Pauloe outros escritos da Igreja primitiva.[I] 2. CAPTULO DEUS APROXIMA-SE NS, SERES HUMANOS A Bblia a carta do amor de Deus dirigida a ns.Sren Kierkegaard (1813-1855, f ilsof o)22 22Os Livros da Bblia ( Cnone)ANT IGOTESTAMENTO (46 Livros)Pentateuco Gnesis (Gn), xodo (Ex), Levtico (Lv), Nmeros (Nm), Deuteronmio (Dt)Livros HistricosJosu (Js), Juzes (Jz), Rute (Rt), 1 Samuel (1Sm), 2 Samuel (2Sm), 1 Reis (1Rs), 2 Reis (2Rs), 1 Crnicas (1Cr), 2 Crnicas (2Cr), Esdras (Esd), Neemias (Ne), Tobias (Tb), Judite (Jt), Ester (Est), 1 Macabeus (1Mc), 2 Macabeus (2Mc)Livros sapienciais Job (Job), Salmos (Sl), Provrbios (Pr), Colet (Ecl), Cntico dos Cnticos (Ct), Sabedoria (Sb), Ben Sir (Eclo)Livros profticosIsaas (Is), Jeremias (Jr), Lamentaes (Lm), Baruc (Br), Ezequiel (Ez), Daniel (Dn), Oseias (Os), Joel (Jl), Ams (Am), Abdias (Ab), Jonas (Jn), Miqueias (Mq), Naum (Na), Habacuc (Hab), Sofonias (Sf), Ageu (Ag), Zacarias (Zc), Malaquias (Ml)NOVOTESTAMENTO (27 Livros)EvangelhosMateus (Mt), Marcos (Mc), Lucas (Lc), Joo (Jo)Actos dos Apstolos (Act)Cartas paulinasCarta aos Romanos (Rm) 1 Carta aos Corntios (1Cor), 2 Carta aos Corntios (2Cor), Carta aos Glatas (Gl), Carta aos Efsios (Ef), Carta aos Filipenses (Fl), Carta aos Colossenses (Cl), 1 Carta aos Tessalonicenses (1Ts), 2 Carta aos Tessalonicenses (2Ts), 1 Carta a Timteo (1Tm), 2 Carta a Timteo (2Tm), Carta a Tito (Tt), Carta a Filmon (Fm)Carta aos Hebreus (Hb)ANTIGO TESTAMENTO(lat. testamentum = legado) a primeira parte de toda a Bblia e a Sagrada Escritura dos judeus.O Antigo Testamento da Igreja Catlica abarca46 livros: Pentateuco, escritos histricos, profticos e sapienciais (em que se incluemos salmos).NOVOTESTAMENTO a segunda parte de toda a Bblia. Contm os textos especificamente cristos, nomeadamente os quatro Evangelhos, os Actos dos Apstolos, treze cartas paulinas, a Carta aos Hebreus, sete cartas catlicase o Apocalipsede So Joo.22 2223PRIMEIRA PARTE EM QUE CREMOSCartas catlicasCarta de So Tiago (Tg), 1 Carta de So Pedro (1Pd), 2 Carta de So Pedro (2Pd), 1 Carta de So Joo (1Jo), 2 Carta de So Joo (2Jo), 3 Carta de So Joo (3Jo), Carta de So Judas (Jd)Apocalipse de So Joo (Ap)17Que significado tem o Antigo Testamento para os cristos?NoAntigo Testamento, Deus mostra-Se como o Criador e o sustento do mundo, como guia e educador da humanidade. Tambm os livros do Antigo Testamento so Palavra de Deus e Sagrada Escritura. Sem o Antigo Testamento no possvel compreender Jesus. [121-123, 128-130, 140]NoAntigo Testamento comea uma grande histria didctica sobre a f, que no Novo Testamento sofre uma decisiva viragem e atinge a meta com o fim do mundo e o retorno de Cristo. Aqui o Antigo Testamento revela-se mais do que um simples preldio ao Novo. Os Mandamentos e as profecias do Povo da Antiga Aliana, com as suas promessas para toda a humanidade, nunca foram revogados. Nos livros da Antiga Aliana encontra-se um insubstituvel tesouro de oraes e de sabedoria;em particular, os Salmos pertencem orao quotidiana da Igreja. 18Que significado tem o Novo Testamento para os cristos?NoNovo Testamento consuma-se aRevelao de Deus. Os quatro evangelhos segundo So Mateus, So Marcos, So Lucas e So Joo so o corao da Sagrada Escritura e o mais precioso tesouro da Igreja. Neles mostra-Se o Filho de Deus como Ele e como vem ao nosso encontro.Nos Actos dos Apstolos conhecemos os primrdios da Igreja e a aco do Esprito Santo. Nas cartas apostlicas a vida do ser humano iluminada, em todas as suas dimenses, pela Luz de Cristo. No Apocalipse de So Joo antevemos o fim dos tempos. [124-130, 140]Deus de Abrao, Deus de Isaac, Deus de Jacob no dos filsofos ou dos eruditos! Deus de Jesus Cristo. S se pode encontrar e guardar nos caminhos instrudos no Evangelho. Blai se Pascal, depois de fazer uma experincia de DeusS quando nos encontramos com o Deus vivo aprendemos o que a Vida. No h nada mais belo que ser encontrado pelo Evangelho, por Cristo.Bento XVI, 24.04.2005[I] 2. CAPTULO DEUS APROXIMA-SE DE NS, SERES HUMANOSDesconhecera Escritura desconhecer Cristo.So Jernimo (347- -419, padre e doutor da Igreja, exeget a e tradutor da B blia)24 24Jesus tudo o que Deus nos queria dizer. Todo o Antigo Testamento prepara a encarnao do Filho de Deus. Todas as promessas de Deus encontram em Jesus o seu cumprimento. Ser cristo significa unir-se cada vez mais profundamente vida de Cristo. Para isso preciso ler e viver os evangelhos. Madeleine Delbrl diz: Atravs da Sua Palavra, Deus diz-nos quem Ele e o que quer; Ele di-lo definitivamente e para cada dia. Quando temos o nosso Evangelho nas mos, devemos considerar que a habita a Palavra que Se tornou carne para ns e nos quer atingir para recomearmos a Sua vida num novo lugar, num novo tempo, num novo ambiente humano.19 Que papel desempenha a Sagrada Escritura na Igreja? A Igreja busca a sua vida e a sua fora na Sagrada Escritura, como quem busca a gua num poo. [103-104, 131-133, 141]Alm da presena de Cristo na SagradaEucaristia, a Igreja nada honra com mais venerao que a presena de Deus na Sagrada Escritura. Na Santa Missa, acolhemos o Evangelho de p, porque o prprio Deus que nos fala com palavras humanas. 128Ler a Sagrada Escritura significa pedir o conselho de Cristo.So Franci sco de Assi s (1182-1226, o maior cristo depois de Cristo, fundador de uma ordem, mstico)A Sagrada Escritura no algo que pertence ao passado. O Senhor no fala no passado,masno presente; Ele falaconnosco hoje, d-nosa Luz, mostra-nos o caminho da Vida, concede-nosa comunho, e, assim, prepara-nos e abre-nos para a Paz.Bento XVI, 29.03.200624 2425PRIMEIRA PARTE EM QUE CREMOSTERCEIRO CAP TULOO ser humano responde a Deus20 Como podemos responder a Deus quando Ele nos aborda?Responder a Deus significa crer nEle. [142-149]Quem deseja crer precisa de um corao que escuta (1Rs 3,9). Deus procura o contacto connosco de mltiplas formas. Em cada encontro humano, em cada experincia da Natureza que nos toca, em cada aparente acaso, em cada desafio, em cada sofrimento... Deus deixa-nos uma mensagem escondida. Ele fala-nos ainda mais claramente quando Se dirige a ns pela Sua Palavra ou pela voz da conscincia. Ele trata-nos como amigos. Por isso, tambm ns, como amigos, devemos corresponder-Lhe, crendo e confiando totalmente nEle, aprendendo a conhec-lO cada vez melhor e a aceitar sem reservas a Sua vontade.21F o que isso? Fconhecimentoeconfiana.Temsetecaracters- ticas:A f uma pura ddiva de Deus, que ns obtemos se intensamente a pedirmos.A f a fora sobrenatural de que necessariamente precisamos para alcanar a salvao.A f requer a vontade livre e a lucidez do ser humano quando ele se abandona ao convite divino.A f absolutamente segura porque Jesus o garante.A f incompleta enquanto no se tornar operante no amor.A f cresce na medida em que escutamos cada vez melhor a Palavra de Deus e permanecemos com Ele, na orao, em vivo intercmbio.A f permite-nos j a experincia do alegre antegozo do Cu. [153-165, 179-180, 183-184]Crer significa sustentar, durante toda a vida, a incompreensibilidade de Deus.Karl Rahner (1904-1984, telogo alemo)Se tiverdes uma f comparvel a um gro de mostarda, direis a este monte: Muda-te daqui para acol, e ele h-de mudar-se. E nada vos ser impossvel.Mt 17,20[I] 3. CAPTULO O SER HUMANO RESPONDE A DEUSCrer essencialmente o acolhimento de uma Verdade que a nossa razo no consegue atingir, um acolhimento simples e incondicional, como se se tratasse de uma prova.Beato John Henry Newman (1801-1890, f ilsof o e telogo ingls conver t ido, mais t arde cardeal da Igreja Catlica)No gostaria de crer se no pudesse perceber que sensato crer. So Toms de Aquino 26 26Muitos afirmam que crer demasiado pouco; eles querem saber. A palavra crer tem, no entanto, dois sentidos completamente distintos. Se um pra-quedista, no aeroporto, pergunta ao empregado: O pra-quedas est correctamente acondicionado?, e este casualmente responder: Hum, creio que sim..., isso ento no lhe bastar; ele quer mesmo saber. Se, todavia, ele tiver pedido a um amigo para acondicionar o pra-quedas, e este lhe responder mesma pergunta: Sim, eu pessoalmente encarreguei-me de o fazer. Podes confiar em mim!, o pra-quedista responder-lhe- ento: Est bem, acredito em ti! Esta f muito mais que conhecimento, ela significa certeza. E esta a f que fez Abrao mudar-se para a Terra Prometida, esta a f que fez osMrtires perseverarem at morte, esta a f que ainda hoje mantm de p os cristos perseguidos. Uma f que compreende todo o ser humano...22Como se cr?Quem cr procura uma ligao pessoal com Deus e est pronto a crer em tudo o que Ele revelou acerca de Si mesmo. [150-152]Quando a f nasce, ocorre com frequncia uma perturbao ou um desassossego. O ser humano apercebe-se de que o mundo visvel e o decurso normal das coisas no correspondem a tudo o que existe. Sente-se tocado por um mistrio. Persegue as pistas que o remetem para a existncia de Deus e encontra-se cada vez mais confiante em abordar Deus e, por fim, ligar-se a Ele livremente. Diz-se no Evangelho segundo So Joo: A Deus, nunca ningum O viu. O Filho Unignito, que est no seio do Pai, que O deu a conhecer. (Jo 1,18) Portanto, temos de crer em Jesus, o Filho de Deus, se queremos saber o que Deus nos quer comunicar. Assim, crer significa aderir a Jesuse entregar a nossa vida inteira nas Suas mos. Credo, ut intelligam Creio, para compreender.Santo Anselmo de Canturi a (1033/34-1109, doutor da Igreja, not vel telogo da Idade Mdia) importante aquilo em que cremos, mas mais importante ainda Aquele em quem cremos.Bento XVI, 28.5.2006Crer num Deus significa compreender que no bastam os factos do mundo. Crer num Deus significa que a vida tem um sentido.Ludwig Wi t tgenstein (1889-1951, filsofo austraco) 26 2627PRIMEIRA PARTE EM QUE CREMOS23Existe contradio entre f e cincia natural?No existem contradies insolveis entre f e cincia natural, porque no podem existir verdades duplas. [159]Nenhuma verdade da f faz concorrncia com as verdades da cincia. S existe uma Verdade, qual dizem respeito tanto a f como a razo cientfica. Deus quis tanto a razo, com que podemos descobrir as estruturas racionais do mundo, como a f. Por isso, a f crist exige e apoia a cincia natural. A f existe para conhecermos as coisas que, embora no possam ser abarcadas pela razo, existem todavia para alm da razo e so reais. A f lembra cincia natural que esta no se deve colocar no lugar de Deus, mas servir a Criao. A cincia natural tem de respeitar a dignidade humana, em vez de atentar contra ela.24O que tem a minha f a ver com a Igreja?Ningum pode crer s para si mesmo, como tambm ningum consegue viver s para si mesmo.Recebemos a f da Igreja e vivemo-la em comunho com todas as pessoas com quem partilhamos a nossa f. [166-169, 181]A f aquilo que uma pessoa tem de mais pessoal,mas no um assunto privado. Quem deseja crer tem de poder dizer tanto eu como ns, pois uma f que no possa ser partilhada e comunicada seria irracional. Cada crente d o seu consentimento ao Credo da Igreja. Dela recebeu a f. Foi ela que, ao longo dos sculos, lhe transmitiu a f, a guardou de adulteraes e a clarificou constantemente. Crer , portanto, tomar parte numa convico comum. A f dos outros transporta-me, como tambm o fogo da minha f incendeia os outros e os fortalece. O eu e o ns da f remetem-nos para os dois smbolos da f da Igreja, pronunciados na Liturgia: o Smbolo dos Apstolos, que comea com (eu creio) ( Credo), e o grande Smbolo Niceno-Constantinopolitano, que, na sua forma original, comeava com credimus (ns cremos). Ningum consegue chegar ao conhecimento das coisas divinas e humanas se antes no aprendeu matemtica solidamente.Santo Agost inho (354- -430, f ilsof o, bispo e doutor da Igreja)Entre Deus e cincia natural no encontramos qualquer contradio. Eles no se excluem, como hoje alguns crem e temem; eles completam-see implicam-se mutuamente.Max Planck (1858-1947, fsico alemo, Nobel da Fsica, fundador da teoria quntica)Onde esto dois ou trs reunidos em Meu nome, Eu estou no meio deles.Mt 18,20CREDO(lat. credo = creio)Primeira palavra do Smbolo dos Apstolos, tornou-se a designao para vrios textos da Igreja em que os contedos essenciais da f so vinculativamente sintetizados.[I] 3. CAPTULO O SER HUMANO RESPONDE A DEUS