zé limeira

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Limeira, o poeta do absurdo. Escrito por Administrator Zé Limeira, conhecido pelo o Poeta do Absurdo, nasceu no sitio Taua no ano de 1886 e faleceu no ano de 1954. A cidade onde nasceu , Teixeira, foi o principal reduto de repentistas no século XIX e onde ,segundo Tejo, a viola teria sido usada pela primeira como instrumento de cantoria lá pelos idos de 1840. Vivente até o ano de 1954, não há registro de sua voz. Fitas de pesquisadores que gravaram algumas de suas pelejas sumiram ou se deterioraram. Depois de peregrinações pelas Alagoas, Pernambuco, Ceará e Paraíba, o velho poeta sentiu vontade de voltar para casa, o coração apertou de saudade do sítio Tauá, na serra do Teixeira. Saudades de Dona Bela, sua esposa e de suas filhas. Uma bela noitinha chegou no Tauá, seu rincão, santuário onde descansava.. Mal chegou em casa, chega o seu compadre Chico Pedro já o chamando para o aniversário de um fazendeiro. O cantador alagoano Bentevi já estava por lá faltando apenas outro para se completar a parelha. Limeira diz que não vai, a noite seria de Dona Bela, mas se a festa for transferida pro terreiro dele, não rejeitaria peleja . “Pra dar nesse nego véio tem que ter foigo de 7 gatos”, costumava dizer. Mais tarde chegam as pessoas que estavam no outro sítio , com bancos e demais apetrechos. A festa ia ser mesmo no pátio dos Limeira. Inicia-se a peleja entre Bentevi e o dono da casa. Após as saudações iniciais onde são feitas as dedicatórias e homenagens iniciais, o primeiro intervalo para lubrificar a goela. Na retomada da cantoria uma comadre lhe pede que entoe “O Romance da Pavoa Devoradora”. Limeira explica que só pode cantar depois da meia-noite sob pena de cantar antes e morrer. A audiência insiste e Limeira, quebrando o preceito diz que vai cantar. As filhas e a esposa tentam demovê-lo. É inútil. Palavra de sertanejo dada, mesmo que morresse, partiria feliz, alimentada sua honra caprichosa. Após solicitar um silêncio total, fere as doze cordas de sua viola e declama as sinistras e pestilentas estrofes do poema. Com as superstições provocadas pela corda de tragédias que assolaram a humanidade, descritas no poema, alguns ouvintes saem do terreiro e Limeira vai desfiando o rosário lúgubre do romance. Assim que termina a cantoria, põe sua viola sobre uma cadeira. O instrumento cai. Sua mulher estranha. Segundo ele, a razão teria sido o fato de não rezar para o padre Cícero antes de recitar “A Pavoa”. Dona Bela nota a mudança no semblante do vate. Logo em seguida, ânimos revigorados, os dois poetas se

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Zé Limeira

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Page 1: Zé Limeira

Limeira, o poeta do absurdo.

Escrito por Administrator

Zé Limeira, conhecido pelo o Poeta do Absurdo, nasceu no sitio Taua no ano de 1886 e faleceu no ano de 1954.

A cidade onde nasceu , Teixeira, foi o principal reduto de repentistas no século

XIX e onde ,segundo Tejo, a viola teria sido usada pela primeira como instrumento de cantoria lá pelos idos de 1840. Vivente até o ano de 1954, não

há registro de sua voz. Fitas de pesquisadores que gravaram algumas de suas pelejas sumiram ou se deterioraram.

Depois de peregrinações pelas Alagoas, Pernambuco, Ceará e Paraíba, o velho

poeta sentiu vontade de voltar para casa, o coração apertou de saudade do sítio Tauá, na serra do Teixeira. Saudades de Dona Bela, sua esposa e de suas

filhas. Uma bela noitinha chegou no Tauá, seu rincão, santuário onde descansava..

Mal chegou em casa, chega o seu compadre Chico Pedro já o chamando para o aniversário de um fazendeiro. O cantador alagoano Bentevi já estava por lá

faltando apenas outro para se completar a parelha. Limeira diz que não vai, a noite seria de Dona Bela, mas se a festa for transferida pro terreiro dele, não

rejeitaria peleja . “Pra dar nesse nego véio tem que ter foigo de 7 gatos”, costumava dizer.

Mais tarde chegam as pessoas que estavam no outro sítio , com bancos e

demais apetrechos. A festa ia ser mesmo no pátio dos Limeira. Inicia-se a peleja entre Bentevi e o dono da casa. Após as saudações iniciais onde são

feitas as dedicatórias e homenagens iniciais, o primeiro intervalo para lubrificar a goela.

Na retomada da cantoria uma comadre lhe pede que entoe “O Romance da Pavoa Devoradora”. Limeira explica que só pode cantar depois da meia-noite

sob pena de cantar antes e morrer. A audiência insiste e Limeira, quebrando o preceito diz que vai cantar. As filhas e a esposa tentam demovê-lo. É inútil.

Palavra de sertanejo dada, mesmo que morresse, partiria feliz, alimentada sua honra caprichosa.

Após solicitar um silêncio total, fere as doze cordas de sua viola e declama as sinistras e pestilentas estrofes do poema. Com as superstições provocadas pela

corda de tragédias que assolaram a humanidade, descritas no poema, alguns ouvintes saem do terreiro e Limeira vai desfiando o rosário lúgubre do

romance.

Assim que termina a cantoria, põe sua viola sobre uma cadeira. O instrumento cai. Sua mulher estranha. Segundo ele, a razão teria sido o fato de não rezar

para o padre Cícero antes de recitar “A Pavoa”. Dona Bela nota a mudança no semblante do vate. Logo em seguida, ânimos revigorados, os dois poetas se

Page 2: Zé Limeira

engalfinharam em inspirada peleja. Lá pelas três horas da manhã, era festa de Natal, os dois cavalgando no lombo da poesia em galope a beira-mar, Limeira

é fulminado. Vai ao chão com viola e tudo e assim sai da vida para entrar na história o proto-tropicalista e surreal poeta.*

A Seguir Alguns Trechos dos Versos de Zé Limeira

"Eu me chamo Zé Limeira Da Paraíba falada,

Cantando nas Escritura,

Saudando o pai da coalhada, A lua branca alumia,

Jesus, José e Maria, Três anjos na farinhada."

"Uma véia gurizada Pra mim já é fim de rama,

Um véio Reis da Bahia Casou-se em riba da cama,

Eu só digo pru dizê, Traga o Padre pra benzê O suvaco da madama."

"Jesus foi home de fama Dentro de Cafarnaum, Feliz da mesa que tem

Costela de gaiamum, No sertão do cariri

Vi um casal de siri Sem comprimisso nenhum."

"Napoleão era um Bom capitão de navio,

Sofria de tosse braba No tempo que era sadio,

Foi poeta e demagogo, Numa coivara de fogo

Morreu tremendo de frio."

"Meu verso merece um rio Todo enfeitado de coco, Boa semente de gado,

Bom criatoro de porco, Dizia Pedro Segundo

Que a coisa melhor do mundo

Page 3: Zé Limeira

É cheiro de arroto choco."

"É difícil um home moco Aprendê pirnografia,

Um professor de francês Honestamente dizia:

Tempo bom era o moderno,

Judas só foi pro inferno Promode a virgem Maria."

"São Pedro, na sacristia,

Batizou Agamenon, Jesus entrou em Belém

Proibindo o califom, Montado na sua idéia, Nas ruas da Galiléia

Tocou viola e pistom".

"Quando Jesus veio ao mundo Foi só pra fazê justiça:

Com treze ano de idade Discutiu com a doutoriça, Com trinta ano depois,

Sentou praça na puliça."

"Saíram lá de Belém Cristo e Maria José,

Passaram por Nazaré, Foram Betelelém,

Chupô cana num engem, Pediu arrancho num brejo, De noite armuçou um tejo

Lá perto de Piancó, Na sexta-feira malhô

Foi que Judas vendeu Jésus!"

"Jesus saiu de Belém, Viajando pra o Egito,

No seu jumento bonito,

Com uma carga de xerém, Mais tarde pegou um trem,

Nossa Senhora castiça, De noite Ele rezou Missa Na casa dum fogueteiro,

Gritava um pai-de-chiqueiro: Viva o Chefe de Puliça!"

Page 4: Zé Limeira

"Eu me chamo Limeirinha, Nascido lá no Tauá,

Entre casca de angico, Miolo de Jatobá,

Bico de pato vadio,

Ipicilone, z-a e zá."

"Aonde Limeira canta O povo não aborrece,

Marrã de onça donzela Suspira que bucho cresce,

Velha de setenta ano

Cochila que a baba desce!"

"Onde eu canto de viola O povo chama São Braz,

A otomosfera agita, Fica catingando a gás,

Polda de jumenta nova Rincha de cair pra traz."

"Carmelita e Carmeluta É tudo uma coisa só;

Carmeluta é pro chambrego, Carmelita é pro xodó,

È prato de pirão verde Com xerém de mocotó,"

"Um General de Brigada,

Com quarenta grau de febre, matou um casal de lebre Prá comê uma buchada...

Quando fez a panelada Morreu e não logrou dela,

Porco que come em gamela Prova que ano tem fastio,

Peixe só presta de rio,

Piau de tromba amarela."

"Cantador pra cantar com Limeirinha É preciso ser muito envernizado,

Ter um taco de chifre de veado E saber decorado a ladainha,

Ter guardado uma pena de andorinha,

Condenar pra sempre o carnaval, Guardar terra de fundo de quintal

E é preciso engrossar o pau da venta,

Page 5: Zé Limeira

Beber leite de peito de jumenta, Ediceta, pei-bufo, coisa e tal!" **

*Pesquisa feita no site www.facom.ufba.br onde por minha opinião tem a melhor biografia

**Trechos dos livros de Orlando Tejo (Grande pesquisador da obra de Zé

limeira), nos seus livros vocês irão saber porque o Zé Limeira e conhecido como o poeta do absurdo.

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