1. dimensionamento caldeiras · tabela 1.1 – requisitos para o projeto de uma caldeira...
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Sistemas Térmicos de Potência – Flamotubular Engenharia de Energia - 2013 Prof. Ramón Silva
Universidade Federal da Grande Dourados - UFGD Faculdade de Engenharia
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1. Dimensionamento Caldeiras
1.1. Requisitos de Projeto
Para o desenvolvimento do projeto de uma caldeira flamotubular os requisitos de
projeto deverão estar definidos conforme a Tabela 1.1
Tabela 1.1 – Requisitos para o projeto de uma caldeira flamotubular
Parâmetro Símbolo Unidade
Vazão mássica de vapor �̇�𝑣 kg/h
Qualidade do vapor - saturado seco/saturado
Pressão manométrica de vapor 𝑃𝑣 kPa
Eficiência térmica desejada 𝜂𝑡 %
Combustível
Temperatura da água de entrada 𝑇𝑒 °C/K
1.2. Energia Calorífica Necessária
1.2.1. Calor necessário por quilo de vapor gerado nas condições de operação
Para o cálculo da quantidade de calor necessária (�̇�𝑛) para gerar um quilo de vapor
devem ser definidos parâmetros na Tabela 1.2.
Tabela 1.2 – Parâmetros para a determinação da quantidade de calor necessária
Parâmetro Símbolo Unidade
Temperatura de saturação na
pressão de trabalho
𝑇𝑠 °C/K
Entalpia do vapor na saída ℎ𝑠,𝑣 kJ/kg
Entalpia da água na entrada ℎ𝑒,𝑎 kJ/kg
O cálculo de (�̇�𝑛) é realizado utilizando-se a Equação 1.1.
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�̇�𝑛 =�̇�𝑣. ( ℎ𝑠,𝑣 − ℎ𝑒,𝑎)
3600. 𝜂𝑡
kW 1.1
1.2.2. Vazão Mássica de Combustível
A vazão mássica de combustível (�̇�𝑐) é razão direta do Poder Calorífico (PC) desse
combustível. O PC pode ser definido como Poder Calorífico Superior (PCS) quando a água
de combustão se apresenta na fase líquida. Quando a água resultante da reação de
combustão se apresenta na fase de vapor, o PC é definido como Poder Calorífico Inferior.
De uma forma geral a relação entre PCI e PCS pode ser definida pela Equação 1.2, onde
H é a quantidade de hidrogênio e W é a umidade do combustível, ambos em massa.
𝑃𝐶𝐼 = 𝑃𝐶𝑆 − 2440. (9𝐻 + 𝑊) [kJ/kg] 1.2
Para o bagaço de cana podem ser definidas as seguintes relações pelo método de
HUGOT (GARCIA,2013), onde S é o teor de açúcar no bagaço que pode ser considerado
constante (4%):
𝑃𝐶𝑆 = 4600 − 12. 𝑆 − 46𝑊) [kcal/kg] 1.3
𝑃𝐶𝐼 = 4250 − 12. 𝑆 − 48𝑊 [kcal/kg] 1.4
A Tabela 1.3 mostra o valor do PCI de alguns combustíveis (ELETROBRÁS, 2005).
Características dos combustíveis poder ser encontradas com maior detalhamento em
Garcia (2013).
�̇�𝑐 =�̇�𝑛
𝑃𝐶𝑆
kg/s 1.5
�̇�𝑓 =�̇�𝑐. 𝑃𝐶𝐼
3600
kW 1.6
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Tabela 1.3 - PCI de alguns combustíveis (ELETROBRÁS,2005)
1.2.3. Quantidade de Ar Necessário
A quantidade de ar necessária para a combustão depende do tipo de combustível
utilizado. Do excesso de ar e da relação ar combustível estequiométrica ( fest).
A relação ar/combustível estequiométrica volumétrica em base seca é definida na
Equação 1.7.
𝑓𝑒𝑠𝑡,𝑏𝑠,𝑣𝑜𝑙 = 4,76. (𝑥 +𝑦
4−
𝑧
2+ 𝑘) 1.7
Sendo: x - teor molar de carbono; y - teor molar de hidrogênio; z - teor molar de
oxigênio; e k - teor molar de enxofre.
Para combustíveis sólidos e líquidos, a quantidade teórica de ar necessária à
combustão de um combustível é usualmente apresentada em base mássica (kg de ar/
kg de combustível),podendo ser calculada pela Equação 1.8, valendo a mesma
simbologia da Equação 1.7.
𝑓𝑒𝑠𝑡,𝑏𝑠,𝑚𝑎𝑠 =137,28. (𝑥 +
𝑦4 −
𝑧2 + 𝑘)
12𝑥 + 𝑦 + 16𝑧 + 32𝑘
1.8
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Sendo conhecida a composição em massa do combustível, os teores molares (x, y, z
e k) podem ser determinados dividindo-se, respectivamente, os teores mássicos ou em
peso por 12, 1, 16 e 32, ou seja, pelos pesos molares destes elementos.
Quando existirem inertes, como cinzas ou nitrogênio, a quantidade de ar requerida,
determinada pelas expressões anteriores, deverá ser ajustada proporcionalmente.
A Tabela 1.4 mostra alguns valores de coeficientes de combustíveis.
Tabela 1.4 – Coeficientes molares para alguns combustíveis (ELTROBRAS, 2005).
O excesso mínimo de ar a ser adotado depende tanto do tipo de combustível como
do sistema de combustão, já que se trata de buscar uma mistura adequada entre o
combustível e o comburente.
Em geral, gases combustíveis permitem uma mistura adequada sem dificuldade, e
os excessos de ar situam-se usualmente entre 5 a 10%.
Para um combustível líquido, em função da viscosidade e do sistema de atomização,
pode ser requerido menos de 10 e mais de 30% de excesso de ar.
No caso dos combustíveis sólidos o excesso de ar depende muito da granulometria
e da forma de alimentação do combustível.
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Um combustível bem moído e alimentado em suspensão pode comportar-se como
um óleo pesado, enquanto lenha em pedaços grandes sobre uma grelha fixa pode
requerer de 60 a 120% de excesso de ar.
Uma vez definido o excesso de ar (e) para as condições de projeto, a razão
ar/combustível real é definida pela Equação 1.9.
𝑓𝑟𝑒𝑎𝑙,𝑏𝑠,𝑚𝑎𝑠 = (1 + 𝑒). 𝑓𝑒𝑠𝑡,𝑏𝑠,𝑚𝑎𝑠 kg/kg 1.9
E então a vazão mássica de ar (�̇�𝑎) é calculada pela Equação 1.10
�̇�𝑎 = 𝑓𝑟𝑒𝑎𝑙,𝑏𝑠,𝑚𝑎𝑠 . �̇�𝑐 kg/s 1.10
1.2.4. Quantidade de Gases que Atravessa a Caldeira
Então a vazão mássica dos gases que atravessa a caldeira é definida pela Equação
1.11.
�̇�𝑔 = (1 + 𝑓𝑟𝑒𝑎𝑙,𝑏𝑠,𝑚𝑎𝑠) . �̇�𝑐 kg/s 1.11
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2. Flamotubulares
2.1. Dimensionamento da Fornalha Cilíndrica
2.1.1. Volume da fornalha
O diâmetro mínimo da fornalha é fornecido, em função da taxa de calor fornecida,
pela Figura 2.1. Para caldeiras que queimam óleo ou gás recomenda-se que a entrega
de calor por volume máxima seja de 1,8 MW/m³, não entram nessa relação o volume da
câmara de reversão e o volume ocupado pelo cone refratário do queimador.
A Figura 2.1 mostra ainda que a quantidade máxima de calor permitida para
introduzir em uma fornalha é 12MW para caldeiras a óleo ou gás e de 8 MW para
caldeiras que queimam combustível sólido sobre grelhas.
Nas caldeiras mais modernas a fornalha representa apenas 6,5% da superfície de
aquecimento total. Nas caldeiras mais antigas essa área chega a 13%. Nas caldeiras que
queimam óleo, troca -se através da fornalha cerca de 40 a 50% do calor introduzido. Já
nas caldeiras a gás essa troca é de 30 a 40%. (SANTOS, 2012).
A principal finalidade da fornalha é abrigar o processo de combustão e reduzir a
temperatura dos gases de combustão para um valor aceitável de 950 °C, antes que
alcancem o espelho de tubos na câmara de reversão.
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Figura 2.1 – Diâmetro mínimo da fornalha tubular em função da taxa de calor fornecido (BS2790:1986).
2.1.2. Área de transferência de calor
A área de transferência de calor a partir da quantidade de calor entregue e da
temperatura de saída da fornalha (Tsf) pela Equação 2.1.
𝑇𝑠𝑓 = 𝑘 (�̇�𝑓
𝐴𝑟𝑓)
0,25
°C 2.1
A temperatura dos gases de saída da fornalha variam entre 900 °C para o carvão até
1200 °C para o gás.
O coeficiente “k” é uma constante que depende do combustível e pode ser
encontrada na Tabela 2.1 – Constante k
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Tabela 2.1 – Constante k
Combustível k
Gás natural 52,4
Óleos 46,0
Carvão e óleos pesados 38,0
A área de transferência de calor da fornalha corresponde a aproximadamente 75%
da área de referência. Portanto rearranjando a Equação 2.1.
𝐴𝑓 = 0,75. 𝑘4.�̇�𝑓
𝐴𝑟𝑓4 m² 2.2
E a comprimento da fornalha calculado por :
𝐿𝑓 =𝐴𝑓
𝜋. 𝐷𝑓 m 2.3
A relação entre o comprimento e o diâmetro da caldeira deve estar entre 3:1 e 4:1.
Caso essa relação não esteja satisfeita, um valor intermediário deve ser adotado e
recalcular.
𝐴𝑓 = 𝜋. 𝐷𝑓 + 𝑅𝐿𝐷 . 𝐷𝑓 m² 2.4
Para garantir a estabilidade da chama deve-se calcular a velocidade mássica dos
gases da caldeira. Os valores da velocidade mássica deve estar entre 2 kg/m².s e 3
kg/m².s. Valores mais altos causam o descolamento da chama, pois nessa condição a
velocidade do fluxo é maior que a velocidade de chama. A velocidade mássica de chama
é calculada pela Equação 2.5.
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𝐺𝑓 =�̇�𝑔
𝐴𝑒𝑓 kg/m².s 2.5
Sendo a área de escoamento dos gases da fornalha Aef calculada pela Equação 2.6
𝐴𝑒𝑓 =𝜋. 𝐷𝑓
2
4 m 2.6
2.2. Passes Tubulares
O comprimento dos passes tubulares deve ser igual ao da fornalha.
𝐿𝑝 = 𝐿𝑓 m 2.7
A temperatura dos gases na saída dos passes é dada por
𝑇𝑠𝑝 = 𝑇𝑚 + 𝑇𝑒𝑝 − 𝑇𝑚
100,012.𝑅𝐿𝐷(𝐷𝑡.𝐺𝑡)0,2
m 2.8
Onde:
Tsp é a temperatura dos gases na saída do passe, °C;
Tm é a temperatura do metal, Tsat+20 °C;
Tep é a temperatura dos gases na entrada do passe;
RLD é a relação comprimento/diâmetro;
Dt é o diâmetro do tubo, m
Gt é a taxa de fluxo mássico no tubo, 5 a 17 kg.m-2s-1.
Deve ser calculada a temperatura dos gases na saída do segundo passe. A
temperatura dos gases na chaminé é a temperatura de saída dos gases no terceiro
passe. A temperatura de entrada no terceiro passe é a temperatura de saída do segundo
passe. A temperatura dos gases na chaminé deve ser 50 °C superior à temperatura de
saturação.
2.3. Perdas de Carga
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A perda de carga de uma caldeira pode ser obtida depois de definido o comprimento
dos tubos, o diâmetro interno dos tubos e a temperatura dos gases na entrada e na
saída. utilizando as Figura 2.2, Figura 2.3 e Figura 2.4 desenvolvidos por Roderick,
Murray e Wall
Figura 2.2 – Perda de carga na entrada dos tubos.
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Figura 2.3 - Elevação de pressão nos tubos devido ao resfriamento dos gases.
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Figura 2.4 – Nomograma de perda de carga por atrito nos tubos.
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A Figura 2.2 apresenta a perda de carga na entrada dos tubos. A Figura 2.3 apresenta
a elevação de pressão devido ao resfriamento dos gases no tubo e a Figura 2.4 apresenta
a resistência de atrito ao escoamento através do tubo. Além das perdas apresentadas
nestas figuras, existirá aquela devida à mudança de direção do escoamento na câmara
de reversão. Na câmara de reversão do fundo a velocidade do gás será igual à da saída
da fornalha. A taxa de fluxo mássico é baixo, por volta de 2 kg.m-2.s-1; e
conseqüentemente a perda de pressão será baixa, (menor que 0,1 mbar).
A perda de carga na entrada do primeiro passe de tubos (segundo da caldeira) é
encontrada entrando-se na Figura 2.2 com a temperatura de saída da fornalha e indo-
se até à linha da taxa de fluxo mássico dos tubos; deste ponto, traça-se uma reta
horizontal para a esquerda, sobre a escala da perda de carga.
A perda de carga na entrada do segundo passe de tubos (terceiro da caldeira) é
encontrada entrando-se na Figura 2.2 com a temperatura de saída do passe anterior e
indo-se até à linha da taxa de fluxo mássico dos tubos, deste ponto, traça-se uma reta
horizontal para a esquerda, sobre a escala da perda de carga.
O limite superior da taxa de fluxo mássico proporciona maior perda de carga, isto é
indesejável pois exigirá maior potência de ventilação e proporcionará maior erosão da
tubulação.
O escoamento dos gases no interior da tubulação sofre uma desaceleração devido à
redução do seu volume específico por resfriamento. Essa desaceleração promove uma
elevação de pressão que é determinada entrando-se na Figura 2.3, com a diferença de
temperatura entre a entrada e a saída dos gases no tubo. Esta elevação de pressão deve
ser abatida das perdas de carga.
A perda de carga por atrito do escoamento dos gases nos tubos de cada passe é
determinada com o uso do nomograma da Figura 2.4. Partindo-se do valor de
temperatura média dos gases na escala correspondente ao diâmetro do tubo, traça-se
uma perpendicular à linha de referência.
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Em seguida, partindo-se da Taxa de fluxo mássico, passando pelo ponto
determinado na linha de referência, atinge-se a escala de perda de carga (mbar/m). O
valor da perda de carga tirado deste nomograma deve ser multiplicado pelo
comprimento do tubo para obter-se a perda ao longo do tubo.
A perda de carga total é a soma das perdas de carga parciais abatida da elevação de
pressão por desaceleração.
𝑃𝑑,𝑡 = 𝑃𝑑,𝑒𝑓 + 𝑃𝑑,𝑒1 + 𝑃𝑑,𝑒2 − (𝑃𝑑,𝑟1 + 𝑃𝑑,𝑟2) + 𝐿1𝑃𝑑,𝑎1 + 𝐿2𝑃𝑑,𝑎2 mbar 2.9
Onde os subscritos “e”, “r” e “a” significam entrada, resfriamento e atrito
respectivamente. Fornalha, primeiro passe e segundo passe são designados por “f”, “1”
e “2”.
3. Referências
SANTOS, A.M. Máquinas térmicas. EESC-USP 2012
Eletrobrás, Procel, FUPAI – Eficiência Energética no Vapor, 2005
GARCIA, R, Combustíveis e Combustão Industrial. Editora Interciência, 2ª ed, 2013