1. introduÇÃo - reasulcomo redes de vizinhança, de parentesco, de amizade, referindo-se a redes...

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1 1. INTRODUÇÃO “Não deixe que a saudade sufoque, que a rotina acomode, que o medo impeça de tentar. Desconfie do destino e acredite em você. Gaste mais horas realizando que sonhando, fazendo que planejando, vivendo que esperando porque, embora quem quase morre esteja vivo, quem quase vive já morreu” (Luiz Fernando Veríssimo). Antes de iniciar a escrita a respeito desta pesquisa, peço licença para escrever em primeira pessoa, pois achei interessante falar um pouco mais sobre a pesquisadora, de forma a relacioná-la com o objeto de pesquisa. Eu sou filha de pais que viveram suas infâncias entre plantações de café, contribuindo para o “crescimento do Brasil” e lutando pela própria sobrevivência. Essa ligação com as “coisas da terra”, foram a mim repassadas e fizeram parte de minha infância. Sei bem o que é tirar fruta do pé, ajudar a fazer roça de milho, de mandioca, tratar de galinhas e recolher seus ovos, semear, colher e comer da própria horta. Sempre que me perguntavam “o que eu queria ser quando crescesse”, respondia que gostaria de ser veterinária, pois também gosto muitos de animais. O tempo foi passando e quando era chegada a hora da escolha, minha opção foi tentada pela vontade de poder ajudar as pessoas com meu trabalho, dessa forma, fiquei dividida entre o Serviço Social e a Enfermagem, optando pela segunda. Mas o destino não queria que eu seguisse esse caminho e mais uma vez, fiz outra tentativa, dessa vez, para Biologia. Descobri-me dentro desse curso, realmente estava realizada! Fiz diversos estágios e mesmo sem querer, me deparava com a Educação Ambiental (EA). E foi por ter atuado em diversas ações de EA durante minha graduação, que meu primeiro emprego estava relacionado a esta área, então percebi que não havia mais volta, pois além das experiências profissionais que eu havia tido, já estava me constituindo como uma educadora ambiental. Em função de toda essa bagagem constituída junto a projetos de Educação Ambiental

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Page 1: 1. INTRODUÇÃO - REASulcomo redes de vizinhança, de parentesco, de amizade, referindo-se a redes locais ou geograficamente delimitadas. “Se pensarmos no nosso cotidiano, com o

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1. INTRODUÇÃO

“Não deixe que a saudade sufoque, que a rotina acomode, que o medo impeça de tentar. Desconfie do destino e acredite em você. Gaste mais horas realizando que sonhando, fazendo que planejando, vivendo que esperando porque, embora quem quase morre esteja vivo, quem quase vive já morreu” (Luiz Fernando Veríssimo).

Antes de iniciar a escrita a respeito desta pesquisa, peço licença para escrever em

primeira pessoa, pois achei interessante falar um pouco mais sobre a pesquisadora, de forma a

relacioná-la com o objeto de pesquisa.

Eu sou filha de pais que viveram suas infâncias entre plantações de café,

contribuindo para o “crescimento do Brasil” e lutando pela própria sobrevivência. Essa

ligação com as “coisas da terra”, foram a mim repassadas e fizeram parte de minha infância.

Sei bem o que é tirar fruta do pé, ajudar a fazer roça de milho, de mandioca, tratar de galinhas

e recolher seus ovos, semear, colher e comer da própria horta.

Sempre que me perguntavam “o que eu queria ser quando crescesse”, respondia que

gostaria de ser veterinária, pois também gosto muitos de animais. O tempo foi passando e

quando era chegada a hora da escolha, minha opção foi tentada pela vontade de poder ajudar

as pessoas com meu trabalho, dessa forma, fiquei dividida entre o Serviço Social e a

Enfermagem, optando pela segunda. Mas o destino não queria que eu seguisse esse caminho e

mais uma vez, fiz outra tentativa, dessa vez, para Biologia.

Descobri-me dentro desse curso, realmente estava realizada! Fiz diversos estágios e

mesmo sem querer, me deparava com a Educação Ambiental (EA). E foi por ter atuado em

diversas ações de EA durante minha graduação, que meu primeiro emprego estava

relacionado a esta área, então percebi que não havia mais volta, pois além das experiências

profissionais que eu havia tido, já estava me constituindo como uma educadora ambiental.

Em função de toda essa bagagem constituída junto a projetos de Educação Ambiental

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não formal em Organizações Não Governamentais (ONGs), fui convidada em agosto de 2002,

para integrar a equipe do projeto “Tecendo Redes de Educação Ambiental na Região Sul”,

auxiliando no processo de implantação e divulgação da Rede Sul Brasileira de Educação

Ambiental – REASul, no estado do Paraná.

Durante a execução do projeto, a rede me proporcionou realizar inúmeras conexões,

conhecer pessoas, professores, educadores e profissionais em geral, além de constituir

inúmeros laços de amizade. E ao seu final, fui estimulada a ampliar meus horizontes e realizar

o mestrado em EA.

Desse dia em diante, minha cabeça fervilhava entre a possibilidade de ser uma

pesquisadora ou continuar educadora junto ao seio familiar. Mesmo com relutância, fui

teimosa e fiz uma maratona de viagens semanais ao quase extremo Sul do Brasil, me

dividindo entre trabalho e processo seletivo. Tanto esforço valeu a pena, mas a alegria não era

completa, pois iria deixar toda a família e me mudar sozinha para um lugar onde eu conhecia

apenas uma pessoa.

Março de 2004 chegou e eu parti em meio a muito choro e demonstrações de afeto.

Felizmente, recebi todo o apoio que necessitava, fui muito bem acolhida pelos gaúchos que

passaram a fazer parte do meu dia-a-dia, fazendo da convivência momentos de construção e

de alegria, não deixando que a saudade tomasse conta do meu ser. E com o início das aulas,

comecei a ter contato com a área acadêmica e iniciar a construção da pesquisadora, alicerçada

pelas inúmeras discussões e debates com os professores e os colegas de turma.

Toda minha vivência com a REASul e com outras redes, incentivou o interesse por

esta pesquisa, pois como afirma Minayo (1994):

[...] é preciso ressaltar que nas Ciências Sociais existe uma identidade entre o sujeito e o objeto. A pesquisa nessa área lida com seres humanos que, por razões culturais, de classe, de faixa etárias, ou por qualquer outro motivo, têm substrato comum de identidade com o investigador, tornando-os solidariamente imbricados e comprometidos (MINAYO, 1994, p. 14, grifo da autora).

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Tendo como objetivo principal analisar o processo de formação e atuação da

REASul, analisando seu funcionamento, avaliando seus impactos e identificando seus pontos

fortes e fracos. E como objetivos específicos:

? Constatar como ocorreu o processo de criação da REASul;

? Investigar as estratégias e atividades realizadas para consolidação da rede;

? Averiguar as formas de organização e atuação da REASul corresponderam às

expectativas de seus integrantes;

? Verificar o conceito de rede formulado pelos entrevistados.

Visto que o conceito de redes vem se constituindo num paradigma de análise teórico-

metodológico para diversas ciências e dentro dos mais variados contextos (econômico, social

e cultural), fazendo-nos refletir sobre sua importância e sua influência em relações e/ou

práticas sociais, especialmente no campo da Educação Ambiental.

Enfim, o tema da presente pesquisa configura a experiência de formação da REASul,

seu estabelecimento e sua atuação no período de 2002 a 2005, problematizando-a, visto que

propõe formas de organização e interação diferenciadas, baseadas na democracia, no

cooperativismo e na emancipação de seus participantes.

No 1º capítulo, procuro abordar a diversidade do conceito “rede”, através de

diferentes abordagens disciplinares. Após são contempladas questões relacionadas ao

surgimento de redes de relações, as quais são iniciadas dentro do próprio contexto familiar se

espraiando aos mais diversos níveis. Em seguida as redes começam a ter uma função mais

definida, como uma possibilidade de organização coletiva, assim como uma outra proposta, a

do “ecomunitarismo”. Ambas são encaradas como uma utopia, a primeira no sentido de algo

realizável, mas não no momento presente e a segunda, algo irrealizável, mas uma proposta

adaptável, que demonstra caminhos que poderiam ser transitados em determinados casos.

Especialmente pelos princípios e fundamentos que tomam pra si e tentam exercer, o que nem

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sempre é possível no que diz respeito à prática, pois estamos inseridos numa estrutura de

sociedade baseada em processos políticos e econômicos excludentes e de exploração das

massas.

Já no 2º capítulo abarco questões relativas à Educação Ambiental, realizando um

histórico dos fatos que mais contribuíram para sua concretização e para o surgimento das

redes de EA. Através desse percurso, vou apresentando as conceituações de uma EA

emancipatória e condizente com as propostas das redes.

No 3º capítulo trago informações sobre meu objeto de estudo, a REASul – Rede Sul

Brasileira de Educação Ambiental, a qual busca difundir e fortalecer a Educação Ambiental e

a cultura de redes na região Sul, fomentando a formação de elos e redes locais, além de

difundir informações, conhecimentos e experiências em EA.

E no 4º capítulo é apresentado como foram coletados e analisados os dados desta

pesquisa. Primeiramente foi realizada a análise documental da REASul, seguida da realização

de entrevistas, que foram trabalhadas através da Análise de Conteúdo, baseado nas propostas

de Bardin (1977), Minayo (1994) e Moraes (1999).

Os resultados são apresentados no 5º capítulo, o qual envolve o conceito de rede

formulado pelos participantes; o primeiro contato com a REASul e os motivos que levaram a

participar da rede; a identificação dos objetivos e princípios norteadores da REASul, além de

suas potencialidades e adversidades; e sugestões para melhoria da atuação da REASul,

pautadas na satisfação ou não de seus integrantes.

Portanto, o presente estudo se propôs verificar como a REASul atua e se mantêm

como forma de organização social, mediante barreiras de ordem cultural e política, isto é,

perante estruturas e indivíduos permeados por formas históricas de dominação e exploração,

enfim, quais são as possibilidades e obstáculos para sua estruturação e para realização de suas

ações.

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2. CONSTRUINDO O CONTEXTO DA PESQUISA

“Decida-se a participar de redes de conexões. Use cada palavra que escrever. Cada conversa que mantiver... Cada encontro de que participar... Para expressar suas crenças básicas e seus sonhos. Para afirmar aos outros a visão do mundo que você almeja. Conecte-se através do pensamento. Conecte-se através da ação. Conecte -se através do amor. Conecte-se através do espírito. Você é o centro de uma rede de conexões. Você é uma fonte livre de vida e de bondade. Tente afirmá-la. Tente expandí-la. Tente irradiá-la. Pense nela noite e dia... E um milagre acontecerá: A grandeza de sua própria vida. Num mundo de grandes poderes, grandes mídias e monopólios com cinco bilhões de pessoas. Participar de redes de conexões é uma forma de liberdade. Uma forma de democracia. Uma nova forma de felicidade” (Robert Muller1).

Este primeiro capítulo inicia-se com a exploração do conceito “rede”, palavra esta,

que é utilizada nas mais diversas áreas de conhecimento, como foi constado pela pesquisadora

na fase exploratória da pesquisa.

Em seguida, se explora a respeito das redes de relacionamento, as quais se iniciam

através de nossos laços familiares, estendendo-se à vizinhança, à escola, ao trabalho etc.,

demonstrando que as redes de relações estão intrinsecamente ligadas à nossa vida e fazem

parte do nosso dia-a-dia. Posteriormente, a rede então desponta como uma forma de

organização coletiva, a qual surge como uma nova proposta de relação e prática social.

Juntamente com esta proposta, surge outra denominada ecomunitarismo, baseada

principalmente na revisão das formas de trabalho. Ambas as propostas são tratadas como uma

utopia, especialmente porque a grande maioria da sociedade ainda não está preparada para

vivenciar os fundamentos e princípios propostos.

Os princípios das redes sociais são elencados no subitem final, o qual os descreve

1 MULLER, Robert. Tratado de educação ambiental para sociedades sustentáveis e responsabilidade global. In:

VIEZZER, Moema L.; OVALLES, Omar (Orgs.) Manual Latino-Americano de Educ-Ação Ambiental.

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colocando possíveis contrapontos para sua real execução, especialmente porque envolve

mudanças de comportamento individuais para que todo o coletivo possa caminhar numa nova

direção.

2.1 A diversidade do conceito “rede”

Redes estão em todo lugar. Falamos de redes celulares, de redes neurais artificiais, de redes sociais, de redes organizacionais, de sociedade-rede, de empresa-rede, de marketing-de-rede, de trabalho em rede, de rede de redes. As cadeias de lojas, bancos, lanchonetes e supermercados são consideradas redes. As facilidades urbanas e os serviços que suportam a sociedade contemporânea são todos apresentados como redes: as malhas ferroviária e rodoviária, o sistema de distribuição de energia elétrica, o sistema de fornecimento de água, os serviços de telecomunicações, o sistema de segurança pública, os serviços de saúde, os postos de atendimento das várias organizações governamentais. Isso sem falar das redes de computadores: das pequenas redes de escritório aos sistemas peer-to-peer e à World Wide Web e à Internet (COSTA et al., 2003, p. 9).

De acordo com Castells (1999) e Scherer-Warren (1999), o conceito de rede tem sido

utilizado para os mais diversos fins e dentro dos mais variados contextos e áreas do

conhecimento, “tornando as abordagens cada vez mais multidisciplinares” (SCHERER-

WARREN, id., p. 22), sendo que para cada uma delas há uma compreensão diferente para o

termo.

Da Sociologia vem a idéia de redes como um instrumento para a articulação política,

ideológica ou simbólica. A interação de novas utopias convergindo com a tradição e com o

resgate cultural, geradas e fortalecidas especialmente junto aos movimentos sociais.

As redes nas ciências sociais designam normalmente – mas não exclusivamente – os movimentos fracamente institucionalizados, reunindo indivíduos e grupos em uma associação cujos termos são

São Paulo: Gaia, 1995.

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variáveis e sujeitos a uma reinterpretação em função dos limites que pesam sobre suas ações. É composta de indivíduos, grupos ou organizações, e sua dinâmica está voltada para a perpetuação, a consolidação e o desenvolvimento das atividades dos seus membros (MARTELETO, 2001, p. 73).

A Antropologia faz uso dos conceitos de redes construídas nas relações do cotidiano,

como redes de vizinhança, de parentesco, de amizade, referindo-se a redes locais ou

geograficamente delimitadas. “Se pensarmos no nosso cotidiano, com o foco nas relações que

sustentam nossas rotinas, veremos emergir conjuntos de redes” (AMARAL, 2004).

Na Geografia fala-se de redes técnicas, de redes de produção, de redes territoriais e

redes sociais urbanas amplas, em suma, as redes organizando e dinamizando territórios que

vão do local ao global. “Mediante as redes, há uma criação paralela e eficaz da ordem e da

desordem no território, já que as redes integram e desintegram, destroem velhos recortes

espaciais e criam outros” (SANTOS, 1997, p. 222).

Em Biologia as redes estão associadas às cadeias e teias alimentares, à rede de

neurônios que compõem o sistema nervoso, à rede de células e moléculas, enfim, são

comparadas às redes naturais, às redes vivas, as quais apresentam um intenso e efetivo

processo de interação entre seus componentes e capacidade de reorganização.

A concepção de sistemas vivos como redes fornece uma nova perspectiva sobre as chamadas hierarquias da natureza. Desde que os sistemas vivos, em todos os níveis, são redes, devemos visualizar a teia da vida como sistemas vivos (redes) interagindo à maneira de rede com outros sistemas (redes) (CAPRA, 1996, p. 44).

A Administração analisa as redes na esfera do mercado, do consumo, da produção.

Dentre tantas transformações na economia e no meio empresarial, pode-se dizer que o surgimento de novas formas de gerenciamento e atuação empresarial culmina com o desenvolvimento de organizações articuladas em redes que agregam valor a sua cadeia produtiva (AYRES, 2001).

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Já na Informática estabelecem-se as redes virtuais utilizando-se de técnicas de

telecomunicações que propiciam a instantaneidade e simultaneidade das relações, anulando e

aniquilando os fa tores tempo e espaço.

Com o aprimoramento crescente da tecnologia, para distribuição da informática, assim como de novas possibilidades de integração destes recursos em redes de comunicações, um processo anárquico (no sentido lato do termo) se instaurou no seio das organizações, abalando dramaticamente suas estruturas (...) (CASTRO, 2003, p. 137).

Segundo Scherer-Warren (1999, p. 36), essas diversas dimensões podem ser

utilizadas de forma complementar, permitindo uma maior compreensão do fenômeno da

formação de redes.

Já para Santos (1997, p. 208-209) “as definições e conceituações se multiplicam, mas

pode-se admitir que se enquadram em duas grandes matrizes: a que apenas considera o seu

aspecto, a sua realidade material, e uma outra, onde é também levado em conta o dado

social”. E será a partir dessa segunda matriz que a pesquisa será enfocada, reforçada pela

concepção de Inojosa (1999, p. 7):

A rede de compromisso social é aquela que se tece com a mobilização de pessoas física e/ou jurídicas, a partir da percepção de um problema que rompe ou coloca em risco o equilíbrio da sociedade ou as perspectivas de desenvolvimento social. Essa percepção ampliada da sociedade atrai essas pessoas para articular-se em função de um propósito comum e leva a definir, em conjunto, um objetivo comum, capaz de ser realizado através dessa sua articulação, com a preservação da identidade original da cada participante.

A rede não se expressa apenas pela relação entre atores, mas constitui um projeto

específico (que se inscreva num determinado campo de ação) e coletivo (que tem sua força

expressa nos laços entre os atores). Sendo necessário que os interessados, estabeleçam

vínculos e interconectem ações, condição para que haja compromisso com o grupo e pela

causa escolhida por todos. “As redes necessitam transcender valores meramente racionais,

clamando por dimensões polissêmicas da Educação Ambiental” (SATO, 2004, p. 125).

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2.2 O cotidiano e o estabelecimento de redes

Nossa própria estrutura de sociedade se define pelo conjunto de relacionamentos

viventes, os quais pode se dizer que estão organizados sob a forma de redes e compondo um

sistema social e funcional, pois as redes podem decorrer de conexões preexistentes.

No cotidiano, o além exige a mediação de um alguém e é isto que forma os pontos nodais de interação dos homens em sociedade e da sociedade nos homens. [...]. Do ponto de vista das relações humanas, das trocas e feedback existentes, podemos perceber a interconexão social que somos enquanto pessoas habitando o mesmo planeta ou o mesmo sistema social, a interconexão dos acontecimentos que se reorganizam, reorganizando a vida social (CASTRO, 2002, p. 160, grifo do autor).

Cada habitante do planeta é o centro de uma variada estrutura de relacionamentos

que envolvem outros indivíduos (familiares, amigos, vizinhos, colegas de trabalho) e também

organizações (empresas, escolas, clubes, associações, governos etc.). “Cada ser humano não

se constitui como ser humano senão na medida em que faz parte de uma comunidade humana,

ou seja, em que é um nó de uma rede de relações na qual cada nó é um ser humano”

(VELASCO, 2003, p. 34, grifo do autor).

Em relação à sociabilidade, encontramos as redes sociais do cotidiano, que se constroem a partir das tradicionais redes sociais primárias (famílias, círculos de amizades, comunidades, grupos identitários locais, etc.), que são penetradas por redes virtuais (intersubjetividades decorrentes de exposição à mídia ou a intercâmbios por meios eletrônicos, como a Internet), e que, em conjunto, vão formando as novas identidades na era da informação (SCHERER-WARREN, 2002, p. 53).

De acordo com Amaral (2004), redes de relações são inerentes às atividades

humanas, pois se pensarmos em nossas atividades diárias veremos emergir um conjunto de

redes espontâneas, que derivam da sociabilidade humana e que dão sustentação às novas

vidas.

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As redes assumem uma potencialidade particular, a de tornarem-se um novo modo de

organização das atividades humanas com seus domínios da vida social. Não indicam apenas a

ligação entre pessoas, mas a interconexão entre estas e suas respectivas relações. Bem como

estratégia de ação para gerar instrumentos de mobilização.

Nos espaços informais, as redes são iniciadas a partir da tomada de consciência de uma comunidade de interesses e/ou valores entre seus participantes. Entre as motivações mais significativas para o desenvolvimento das redes estão os assuntos que relacionam os níveis de organização social-global, nacional, regional, estadual, local, comunitário. Independentemente das questões que se busca resolver, muitas vezes a participação em redes sociais envolve direitos, responsabilidades e vários níveis de tomada de decisões (MARTELETO, 2001, p. 73).

A identidade comunitária que a rede passa a apresentar é “fundamental para o sentido

de pertencimento dos envolvidos e para o desenvolvimento coletivo” (ZANONI, 2004, p. 42),

visto que a rede, “constitui-se historicamente uma forte estratégia informal, para o

enfrentamento dos problemas sociais que a ação individualizada não teve força para resolver”

(ZANONI, 2004, id.).

2.3 Construindo utopias através de novas propostas de relação social

Diante das atuais crises, enaltecidas principalmente pela globalização econômica,

fomentam processos de oposição ao capitalismo e de busca por soluções alternativas, fazendo

emergir práticas sociais que visem à emancipação e a transformação da realidade.

Isso faz com que o indivíduo seja permanentemente obrigado a tomar decisões e a

contestar ou definir sua própria identidade seja ela religiosa, étnica ou territorial. E este o faz

pela afirmação de si próprio, ou pela afirmação de identidades coletivas, ou ainda pela

procura de segurança pessoal e de sentidos para (re)organizar sua vida.

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O enorme poder que tem a identidade, se expressa tanto no nascimento de alternativas ao sistema por via de movimentos sociais articulados a partir de identidades específicas, quanto na formação de grupos que ficam encerrados em si mesmos e na auto-afirmação de valores e sentidos definidos como forma de proteção diante de um sistema que os exclui (RUIZ, 2004).

Assim, novos processos sociais e formas de organização emergem em torno do

desejo em inovar na forma de organização política e econômica, promovendo uma maior

aproximação entre indivíduos e instituições, com relações mais abertas ao pluralismo e à

diversidade cultura, de forma a solucionar problemas comuns e explorar oportunidades

conjuntas, incentivando novas formas de poder, mobilizando lutas e produzindo valores

culturais.

A criação de projetos alternativos e propostas de mudanças colaboram para a

construção de uma utopia2 de transformação. As redes sociais surgem como uma proposta e

assumem uma potencialidade particular, a de tornarem-se um novo modo de organização das

atividades humanas com seus domínios da vida social. E como muitos de seus princípios são

questionáveis na prática, no que diz respeito à atuação dos participantes nas redes, esta forma

de organização será tratada também como uma utopia.

Participar de uma rede [...] primeiro, pressupõe a construção de uma nova utopia de

democracia, em que as relações políticas seriam mais horizontalizadas e em que haveria maior

reconhecimento e respeito à diversidade cultural e pluralismo ideológico (SCHERER-

WARREN, 1999, p. 28).

Subjacente à idéia de rede, ocorre uma nova alternativa planetária de mudança social,

que também considera fundamental a participação cidadã, denominada de “ecomunitarismo”,

2 “refere-se à exploração de novas possibilidades humanas à formulação de projetos alternativos de organização

social que indicam potencialidades realizáveis em uma dada ordem construída, contribuindo dessa maneira para sua transformação” (LIMA, Gustavo F. da C. Educação, emancipação e sustentabilidade: em defesa de uma pedagogia libertadora para a Educação Ambiental In: In: LAYRARGUES, Philippe P. (Org.) Identidades na Educação Ambiental Brasileira. Brasília: MMA, 2004, p. 108).

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um “regime comunitário pós-capitalista capaz de organizar as relações produtivas inter-

humanas, entre os seres humanos em geral e entre estes e a natureza” (VELASCO, 2003, p.

80).

Bem como as redes sociais, o ecomunitarismo se propõe a atuar de forma sistêmica,

apresentando interações conjuntas (individuais e universais, locais e globais), equilibrando a

independência de cada participante e a interdependência cooperativa do grupo:

O ecomunitarismo propõe que as comunidades de vida se integrem numa grande rede, partindo do local para cobrir o planeta inteiro; mas essa articulação passa pelos ‘serviços’ mútuos [...], prestados entre elas numa relação de co-administração das coisas, que impede que qualquer uma delas se erija como opressora de outra (VELASCO, id., p. 95, grifo do autor).

Nesta proposta as decisões são formuladas através de discussões e construções

conjuntas, nas quais:

1. Os cargos administrativos são executados em forma de rodízio;

2. Há divisão de trabalho e serviços (o que não impede que alguém desempenhe

na maior parte do tempo, tarefas que lhe despertem interesse ou em que

apresente maior habilidade);

3. A carga horária de trabalho é menor, propiciando com que sobre tempo para o

lazer;

4. Os bens são comunitariamente criados, distribuídos e/ou utilizados visando

atender as necessidades de cada um;

5. Tanto a saúde ambiental como a humana é preservada;

6. Há apropriação do se fazer ciência, pois as pessoas passam saber o que esta

sendo feito, participando na tomada de decisões.

Esta é uma proposta que também pode ser questionada, pois envolve mudanças não

só na forma de organização, mas também novas formas de relação trabalhista, o que se traduz

como algo extremamente distante da realidade atual, especialmente quando esta está baseada

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no capitalismo, como afirma o próprio autor da proposta: “o ecomunitarismo é hoje uma

utopia, haja vista que, no capitalismo, não está em nenhum lugar... Saber se algum dia poderá

ocupar um lugar com as característica genéricas antes descritas é uma questão que somente a

ação humana poderá resolver” (VELASCO, 2003, p. 194, grifo do autor).

A base tanto das redes sociais como do ecomunitarismo, nos apresenta caminhos que

podem ser traçados e práticas que podem ser incorporadas, pois são ideais que promovem a

democracia, através de processos de transformação social com base na ação coletiva,

respeitando a diversidade.

“Tudo isso faz parte de uma aposta: é possível construir formas de organização social

inovadoras, baseadas em princípios democráticos, inclusivos, emancipadores e que busquem a

sustentabilidade” (COSTA et al., 2003, p. 3). Mas deve-se levar em conta que “por se tratar de

um ideário, de uma utopia de construção de uma sociedade mais democrática, as práticas

efetivas não se apresentam isentas de tensões e de reminiscências de conflitos ideológicos,

dificultando a inovação” (SCHERER-WARREN, 1999, p. 62).

2.4 Princípios e fundamentos que modelam as redes

“Cada rede apresenta uma configuração particular, a qual depende do ambiente onde

se forma e atua, da cultura política dos membros e dos objetivos compartilhados”

(MARTELETO, 2001, p. 71). Portanto não há um modelo para definir o padrão

organizacional de uma rede social, pois suas configurações e dinâmicas são um tanto variadas,

o que há em comum são princípios gerais que servem como iniciativa para esta forma de

organização e que irão modelar sua estrutura e formas de atuação.

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Autores como Lipnack & Stamps (1992), Whitaker (1993), Scherer-Warren (1999) e

Ayres (2001), Fachinelli (2002), Costa et al. (2003), Martinho (2004), fazem referência a

diversos princípios, como os relacionados a seguir:

a) PROPÓSITO COMUM:

As redes são orientadas em torno de um propósito compartilhado por um coletivo,

que também comunga determinados valores3 comuns para o estabelecimento de vínculos entre

os participantes.

“[...] o espírito que move uma rede, é a existência desse propósito unificador, que

propõe um conjunto de valores e atitudes compartilhados pelos participantes, de forma

explícita, igualitária, democrática e participativa” (SCHERER-WARREN, 1999, p. 28).

Cabe ressaltar que “quando estas expectativas não são satisfeitas, geram os vínculos

e os resultados negativos, tanto para o indivíduo, como para a organização coletiva”

(ZANONI, 2004, p. 20).

b) AUTONOMIA:

O trabalho em rede apesar de coletivo, depende a todo momento da ação individual

de cada integrante, pois cada um mantém sua independência em relação à rede e aos demais

membros, preservando sua identidade. “Ser autônomo quer dizer ser diferente, ter modos

diferenciados de agir, pensar e existir” (COSTA et al. ,2003, p. 78).

Mas talvez este “seja o principal elemento dificultador dos processos de articulação

que se auto-denominam redes” (MARTINHO, 2004).

c) CO-RESPONSABILIDADE:

Todos têm o mesmo nível de responsabilidade na tomada de decisões para

consolidação dos objetivos da rede e pelo seu funcionamento, o que requer iniciativa

individual. Se esta contribuição voluntária não ocorre, as responsabilidades que as redes

3 “Valores são os princípios pelos quais vivemos, a perspectiva da vida que nossos pais e todas as outras

instituições na nossa vida nos transmitem, e que nós transmitimos para os nossos filhos” (LIPNACK;

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geram, acabam por ficar na mão de poucos que se dispõem ou são induzidos (por

determinadas posições assumidas na rede) a arcar com esta tarefa.

d) SOLIDARIEDADE:

Numa rede, cada indivíduo está atrelado a outro, estabelecendo vínculos recíprocos,

dessa forma as ações devem visar a solidariedade, em prol do coletivo.

O princípio da solidariedade é fundamento ético na formação de muitas redes. Solidariedade, no caso, significa responsabilidade social com o bem comum, conciliando interesses individuais e comunitários, e promovendo o bem comum mediante a participação complementar e ampliada de atores e organizações sociais (SCHERER-WARREN, 1999, p. 51).

e) ISONOMIA:

“Há isonomia quando todos são iguais perante um mesmo conjunto de normas e

seguem a mesma lei de maneira indistinta. [...] todos são iguais politicamente, isto é, todos

têm direito ao mesmo tratamento e compartilham os mesmos direitos e deveres” (COSTA et

al., 2003, p.79).

Vale ressaltar que a grande maioria das redes, por serem organizações não

institucionalizadas, acabam por não optar por um documento que estabelece direitos e deveres

e o que ocorre em algumas, é a formulação coletiva de uma “carta de princípios”, como na

Rede Brasileira de Educação Ambiental - REBEA.

f) MULTILIDERANÇA:

Não deve haver chefes numa rede (para evitar dominação), mas sim muitos líderes4,

interagindo e assumindo diferentes tarefas dentro desta estrutura.

Mas este fator ainda é um dificultante dentro das redes, pois pessoas que são líderes

natos acabam ficando em evidência, contribuindo para a inibição dos mais tímidos. O que

STAMPS, 1992, p. 110).

4 “líderes podem ser caracterizados como pessoas que assumem e mantém compromissos, mas que também sabem atuar como seguidores” (AYRES, 2001, p. 7-8).

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pode ocorrer ainda é a não multiplicação de lideranças, pela falta de comprometimento ou

incentivos aos participantes em exaltar e utilizar seus potenciais em prol da rede.

g) HORIZONTALIDADE:

“As redes caracterizam-se pela busca de articulações mais horizontalizadas, evitando

o centralismo e a burocratização organizacional” (SCHERER-WARREN, 1999, p. 62), as

ações e tomada de decisões, devem ser realizadas em conjunto, valorizando a autonomia de

cada integrante. Mas essa estrutura “não exclui a existência de relações de poder e de

dependência nas associações internas e nas relações com unidades externas”

(COLONOMOS5, 1995 apud MARTELETO, 2001, p. 71).

h) CONECTIVIDADE:

“Na rede, as conexões se fazem de forma não-linear e imprevisível, conforme a

vontade, o interesse ou a decisão de cada um” (MARTINHO, 2003). Dessa forma, uma rede

está em permanente configuração, pois cada indivíduo é o centro de uma variada estrutura de

relacionamentos que envolvem outros indivíduos e também organizações. Ao estabelecer uma

conexão, uma multiplicidade de relações são estabelecidas, que por sua vez, produzem novas

relações, as quais podem abrir um vasto campo de possibilidades e oportunidades. “Podem ser

parcerias, trocas, amizades, afetos, novos valores e formas de convivência, criação de

conhecimentos, aprendizados, apoios, diálogos, participação, mobilização, força política,

conquistas e muito mais” (COSTA et al., 2003, p.3).

i) DESCENTRALIZAÇÃO6:

“Uma rede não tem centro, pois cada elo da rede é um centro em potencial”

(MARTINHO, 2004), proporcionando a existência de múltiplos caminhos. A descentralização

também envolve questões relacionadas ao poder e à realização de tarefas e informações, pois

5 COLONOMOS, Ariel (Org.) Sociologie dês réseaux transnationaux; communautés, entreprises et

individus: lien social et système international. Paris: I´Harmattan, 1995. 6 “Descentralização é o termo que se usa para designar a distribuição de uma certa medida de atividades,

informações ou poder no âmbito de um sistema qualquer” (COSTA et al., 2003, p. 26).

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“cada participante é apenas um colaborador do todo, parte integrante do sistema, porém

essencialmente parte, um pedaço incompleto, que só se torna inteiro quando integrado ao

conjunto” (COSTA et al., 2003, p . 83-84, grifos do autores).

j) MÚLTIPLOS NÍVEIS:

No interior de uma rede podem se formar sub-redes com objetivos específicos, como

grupos de ações, grupos de estudos e debates temáticos, grupos regionais, ou listas de

discussão capazes de operar independentemente do restante da rede, de forma temporária ou

permanente, conforme a demanda ou a circunstância.

k) COMUNICAÇÃO:

A comunicação e o fluxo de informações deve ser livre e circular entre todos os

membros da rede, os quais são receptores e interlocutores, contribuindo também com o

compartilhamento de idéias, experiências e ainda a tomada de decisões.

A comunicação em rede garante, devido à sua estrutura não-hierárquica e cibernética, uma certa democracia e interatividade. As novas tecnologias melhoram não apenas o acesso à informação, mas o cidadão também dispõe de um novo canal de comunicação que lhe possibilita de se manifestar, se intrometer, contestar e dialogar (FREY, 2003).

Além da comunicação virtual, os encontros presenciais também devem ser

estimulados, para que se possam estabelecer contatos diretos, visando à criação de vínculos

afetivos. Até mesmo pelo fato de que o acesso aos meio eletrônicos ainda é restrito e se for a

única forma de comunicação ofertada pela rede pode comprometer a adesão de muitos.

l) FACILITAÇÃO OU ANIMAÇÃO:

A rede pode ter de um a muitos facilitadores, que proporcionam que a rede funcione

de forma mais dinâmica, pois os membros de uma rede ainda necessitam ser constantemente

motivados para participarem.

A idéia de animação surge no movimento das redes como o conjunto de ações necessárias para alimentar o desejo e o exercício da participação, para dar ânimo renovado e vigor às dinâmicas de

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conexão e relacionamento entre os integrantes. [...] Na prática das redes operativas, a gestão da comunicação pode certamente ser entendida como instrumento de animação, pois a troca de informação mobiliza igualmente afetos, fornece a base para decisão, produz compromisso e senso de pertencimento e orienta a ação. Aliás, a comunicação é o dispositivo de animação por excelência (COSTA et al., 2003, p. 130-131).

Necessariamente uma rede não precisa apresentar todos esses princípios, pois as

redes são campos de articulação e tensão e sua organização exige mudanças através da criação

de projetos alternativos, despertando o trabalho colaborativo e coletivo, com a

descentralização de ações e evidenciando novos patamares para a tomada de decisões através

do compartilhamento do poder, além do aprimoramento de relações interpessoais.

Mas é importante também desmistificar a beleza do modelo, para minimizar as

surpresas e frustrações que a realidade da prática da articulação em rede possa revelar, pois as

pessoas continuam influenciadas pelas velhas estruturas hierárquicas de organização do poder

e certamente as tentarão reproduzir, mesmo em uma rede.

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3. A EDUCAÇÃO AMBIENTAL E A TECITURA DE REDES

“Somos a luz desse mundo Somos o sol dessa terra Somos a nuvem do céu Somos a onda do mar Somos a luz desse mundo Somos o sal dessa terra Somos todos filhos da terra E todos somos um” (Chimarruts - Todos somos um).

Este capítulo é constituído por uma viagem através dos principais marcos da história

da Educação Ambiental (EA). Logo em seguida são apresentadas as definições de EA,

utilizadas para compor aquela na qual o trabalho se guiará, também definindo o papel do

educador ambiental nesse trajeto. E por fim, o enfoque são as redes de EA, as quais iniciaram

com a criação da Rede Brasileira de Educação Ambiental – REBEA e hoje se espalham por

todo Brasil, lutando por uma EA emancipatória e transformadora.

3.1 Marco teórico e fundamentos da Educação Ambiental (EA)

Baseado em contribuições de documentos oficiais, relatando o histórico da

implantação da EA no Brasil, cursos e o PRONEA (BRASIL, 1998, 2001, 2003, 2004) e em

autores como Dias (2003) e Loureiro (2004b), será percorrido um trajeto pela Educação

Ambiental no mundo e no Brasil, o qual se inicia na década de 1960, período em que surge o

termo Educação Ambiental.

Na década de 1960, a relação ser humano-natureza era de dissociação, com isso

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houve a predominância de movimentos conservacionistas que defendiam a busca de uma

relação mais equilibrada com a natureza.

O homem reconhecia a existência de uma natureza, mas esta encontrava-se dissociada de sua vida, de seu cotidiano. O homem do final da década de 60 reconhecia-se como agente transformador/ destruidor das coisas sociais e naturais, pois este homem procurava ser consciente dos limites naturais e sociais (CASCINO, 1999, p. 40, grifo do autor).

No ano de 1965, o termo Educação Ambiental é utilizado pela primeira vez na

Conferência de Educação da Universidade de Keele na Grã-Bretanha.

Já no início dos anos 70, ocorre a emergência de um ambientalismo que se une às lutas pelas liberdades democráticas que se manifesta através da ação isolada de professores, estudantes e escolas, por meio de pequenas ações de organizações da sociedade civil ou mesmo de prefeituras municipais e governos estaduais com atividades educacionais relacionadas às ações voltadas à recuperação, conservação e melhoria do meio ambiente (BRASIL, 2004, p. 15).

Em 1972, ocorre em Estocolmo, na Suécia, a Primeira Conferência Mundial sobre

Meio Ambiente Humano e Desenvolvimento, a qual teve como finalidade inspirar e orientar a

humanidade para a melhoria do ambiente humano, além de reconhecer a EA como um

elemento crítico para o combate da crise ambiental no mundo. Os 113 países participantes

assinaram a Declaração de Estocolmo, cuja Recomendação 96, propunha o desenvolvimento

da EA como uma das principais estratégias contra a crise ambiental no mundo. Neste mesmo

ano, a UNESCO recomendou aos Governos, um Plano de Ação Mundial, para o

estabelecimento do Programa Internacional de EA - PIEA.

Seguindo a recomendação da Conferência de Estocolmo, realizou-se em 1975, em

Belgrado, o I Seminário Internacional de EA, quando foram formulados os princípios e

orientações gerais para o PIEA. Ao final deste evento foi elaborada a Carta de Belgrado que

estabelece as metas e princípios da EA, a fim de desenvolver um cidadão consciente do

ambiente total, preocupado com os problemas associados a esse ambiente e que tivesse

conhecimento, atitudes, motivações, envolvimento e habilidades para trabalhar individual e

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coletivamente em busca de soluções para resolver os problemas atuais e prevenir os futuros.

Dois anos depois, em 1977, realizou-se outro importante marco histórico para a EA,

a Conferência Intergovernamental sobre Educação Ambiental, popularmente conhecida como

Conferência de Tibilisi, “momento que se consolidou o PIEA e se estabeleceram as

finalidades, os objetivos, os princípios orientadores e as estratégias para a promoção da

educação ambiental” (BRASIL, 2004, p. 15). A Conferência de Tibilisi traz a necessidade de

valores e conceitos que venham desenvolver habilidades e atitudes para entender o enfoque

interdisciplinar que deve existir para a tomada de decisões e reestruturação do comportamento

com o meio ambiente, além da responsabilidade individual e coletiva.

No Brasil, em 1973, através do Decreto nº 73.030, é criada a Secretaria Especial do

Meio Ambiente – SEMA, vinculada ao Ministério do Interior, orientada para instituir uma

política nacional para o uso adequado dos recursos naturais, objetivando a preservação do

meio ambiente.

A SEMA estabeleceu como parte de suas atribuições,

o esclarecimento e a educação do povo brasileiro para o uso adequado dos recursos naturais, tendo em vista a conservação do meio ambiente, e foi responsável pela capacitação de recursos humanos e sensibilização inicial da sociedade para as questões ambientais (BRASIL, id., p. 16).

E em 1977, a SEMA constituiu um grupo de trabalho para a elaboração de um

documento sobre EA, a fim de definir seu contexto na realidade brasileira.

Em 1981, é promulgada a Lei nº 6.902, que estabelece novos tipos de áreas de

preservação ambiental, entre as quais as Estações Ecológicas, destinadas à realização de

pesquisas e à EA. E a Lei nº. 6.938, que institui a Política Nacional do Meio Ambiente, seus

fins e mecanismos de formulação e aplicação. Levanta ainda, a necessidade da implantação da

EA em todos os níveis de ensino, inclusive a educação da comunidade e coloca a EA como

um instrumento na defesa do meio ambiente.

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No ano de 1984, o Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), apresentou

uma resolução estabelecendo diretrizes para as ações de EA. E em 1985, foi a vez da SEMA,

que apresentou aos órgãos ambientais estaduais uma proposta para a EA e avaliou seu

desenvolvimento em todo o país. Esse mesmo órgão em 1986 promoveu em conjunto com a

Universidade Nacional de Brasília – UNB, o 1º Curso de Especialização em EA do Brasil.

Dez anos depois de Tibilisi, em 1987, ocorre o Congresso Internacional sobre

Educação e Formação Ambiental em Moscou, onde se avaliou os avanços ocorridos. A EA foi

posta como conscientizadora e responsável pela transmissão de informações, como o

desenvolvimento de hábitos e habilidades, promoção de valores, estabelecimentos de critérios

e orientações para a resolução de problemas e tomada de decisões.

Nesse mesmo ano é divulgado o Relatório da Comissão Brundtland, intitulado

“Nosso Futuro Comum”, o qual relaciona uma série de problemas ambientais e o

desenvolvimento sustentável, de forma a assegurar a conservação dos recursos naturais para

as presentes e futuras gerações.

E no Brasil, é formulado o Parecer nº 226, diante da necessidade de incluir a EA nos

currículos escolares de 1º e 2º Graus, além de sugerir a criação de Centros de EA nos estados

para atuarem como pólos irradiadores.

Em 1988, a promulgação da Constituição Brasileira, no artigo 225, parágrafo 1,

inciso VI, destaca a necessidade de “promover a Educação Ambiental em todos os níveis de

ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente’’.

Também em 1988, a Fundação Getúlio Vargas traduz e publica o Relatório

Brundtland - Nosso Futuro Comum e no Rio Grande do Sul, em Ibirubá, ocorre o I Congresso

Brasileiro de EA.

Em 1989, realizou-se o I Fórum de EA em na Faculdade de Direito no Largo São

Francisco em São Paulo/SP, “organizado conjuntamente por várias instituições e órgãos

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oficiais, ao lado de inúmeras ONGs, esse encontro teve a característica de aglutinar as mais

diversas concepções ambientalistas e os mais variados princípios ou ideais sobre educação

ambiental” (CASCINO, 1999, p. 44).

Durante todo este período que vai da década de 1960 até 1990, a questão da

proteção da natureza ainda é muito forte dentro da EA, tanto que suas ações estão mais

voltadas para os contextos naturais, ecológicos, do que aos aspectos sociais que permeiam

todo este ambiente. Mas a partir da segunda metade da década de 80, algumas minorias já

começam a perceber e rever as relações homem-natureza.

A EA é concebida inicialmente como preocupação dos movimentos ecológicos com uma prática de conscientização capaz de chamar a atenção para a finitude e a má distribuição no acesso aos recursos naturais e envolver os cidadãos em ações sociais ambientalmente apropriadas (CARVALHO, 2004a, p. 51-52).

Em 1990, é elaborado um plano de ação para a década, denominado “Estratégia

Internacional de Ação em Matéria de Educação e Formação Ambiental para o decênio de 90”.

Em 1991, foram criadas a Coordenação de Educação Ambiental do MEC –

Ministério da Educação e a Divisão de Educação Ambiental do IBAMA.

Duas portarias também são instituídas pelo MEC em 1991: a Portaria nº 678, que

determinou que a educação deveria contemplar a EA, permeando o currículo escolar em todos

os diferentes níveis e modalidades de ensino e a Portaria nº 2.421, que institui em caráter

permanente, um Grupo de Trabalho para a EA junto às secretarias de educação, a fim de

definir as estratégias para a implantação de programas de EA no Brasil. O Governo Federal

promoveu o Encontro Nacional de Políticas e Metodologias para a EA, a partir do qual passou

a propor normas e organismos para a EA.

Nesse mesmo ano é realizado no Anhembi – São Paulo/SP o II Fórum de EA. E o

Centro de Desenvolvimento para EA publicou um documento que resumia as ações em EA

em desenvolvimento no país, especialmente em virtude da proximidade da II Conferência das

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Nações Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento, a Rio-92.

O IBAMA instituiu seus Núcleos Estaduais de Educação Ambiental – NEAs em

1992, visando operacionalizar as ações educativas no processo de gestão ambiental na esfera

estadual. Em Foz do Iguaçu/PR, ocorre o I Encontro Nacional dos Centros de EA e o “MEC

passou a incentivar a implantação de CEAs como espaços de referência, visando à formação

integral do cidadão para interagir em diversos níveis e modalidades de ensinos e introduzir

práticas de EA junto às comunidades” (BRASIL, 2004, p. 17).

Mas o grande marco deste ano é a realização da II Conferência das Nações Unidas

para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, a Rio-92.

A Rio-92, marcaria uma profunda mudança nos paradigmas que orientam a leitura das realidades sociais e dos problemas que envolvem a produção e o consumo de bens e serviços, a exploração dos recursos naturais, a reforma e/ou substituição de instituições de representação e participação política, a transformação dos espaços de formação e educação das futuras gerações. Concretizando um movimento de construção de novas referências sociais e políticas, houve um salto qualitativo nas relações entre sociedade e seu meio (CASCINO, 1999, p. 41).

Nessa Conferência reconheceu-se que o modelo de desenvolvimento vigente é

insustentável, propondo-se então a Agenda 21, um programa de ação para o meio ambiente e

o desenvolvimento.

Paralelamente a esta Conferência, ocorreu o Workshop sobre EA, onde foi produzida

a Carta Brasileira para a EA, a qual destaca a necessidade do comprometimento do Poder

Público com a legislação e políticas para a EA, de modo que houvesse articulação dos vários

programas e iniciativas governamentais em EA pelo MEC.

E o Fórum das ONGs, quando se estabeleceu compromissos da sociedade civil com a

EA e o meio ambiente e foi elaborado o Tratado de Educação Ambiental para Sociedades

Sustentáveis e Responsabilidade Global, que sustenta em sua introdução a seguinte premissa:

Este tratado, assim como a educação, é um processo dinâmico em permanente construção. Deve, portanto propiciar a reflexão, o debate e

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a sua própria modificação. Nós signatários, pessoas de toda parte do mundo, comprometidos com a proteção da vida na Terra, reconhece o papel central da educação na formação de valores e na ação social. Nos comprometemos com o processo educativo transformador através envolvimento pessoal, de nossas comunidades e nações para criar sociedades sustentáveis e eqüitativas. Assim, tentamos trazer nossas esperanças e vida para nosso pequeno, tumultuado, mas ainda assim, belo planeta (BRASIL, 2003, p. 47).

O tratado representou um avanço para a EA, na medida em que relacionou processos

de aprendizagem permanentes à busca de uma sustentabilidade global e eqüitativa. Foi

também no Fórum das ONGs que surgiu a REBEA, sendo que o Tratado de Educação

Ambiental para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global serve de base para

diversas redes de EA.

Em 1993, a Portaria nº 773, institui o Grupo de Trabalho para EA de caráter

permanente, que tinha como objetivo coordenar, apoiar, acompanhar, avaliar e orientar ações,

metas e estratégias para implementação da EA nos sistemas de ensino em todos os níveis e

modalidades.

O PRONEA - Programa Nacional de Educação Ambiental, é criado em 1994 com a

incumbência de acompanhar e estimular atividades educativas, capacitação de gestores e

educadores e o desenvolvimento de instrumentos e metodologias contemplando 7 linhas de

ação: 1) EA através do ensino formal; 2) EA no processo de gestão ambiental; 3) campanhas

de EA para usuários de recursos naturais; 4) cooperação com meios de comunicação e

comunicadores sociais; 5) articulação e integração comunitária; 6) articulação intra e

interinstitucional; 7) rede de centros especializados em EA em todo os estados.

Este ano também é marcado pela realização do III Fórum de EA que ocorreu na

PUC-SP e pela inauguração em 05/09/1994, do primeiro Mestrado em Educação Ambiental

do Brasil, na Fundação Universidade Federal do Rio Grande – FURG, o qual até hoje, é o

único do Brasil. A inauguração se deu através de uma palestra, proferida pelo então

coordenador- idealizador, Sirio Lopez Velasco.

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E também a publicação da Agenda 21 pela Câmara dos Deputados e Comissão de

Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e Minorias. E a Resolução 11 do CONAMA, criou

uma Câmara Técnica Temporária de EA, a qual teve sua 1º reunião em 1996, quando se

discutiu o documento intitulado “Subsídios para formulação de uma Política Nacional de

Educação Ambiental”. Os “princípios orientadores para esse documento eram a participação,

a descentralização, o reconhecimento da pluralidade e diversidade cultural e a

interdisciplinaridade” (BRASIL, 2004, p. 18).

Criou-se em 1996, a Comissão Interinstitucional de EA no MEC e MMA que

assinou um Protocolo de Intenções, objetivando a cooperação técnica e institucional na área

de EA. A Lei nº 9.276 institui o Plano Plurianual para o quadriênio 1996-1999 e definiu

como um dos principais objetivos para a área de meio ambiente a “promoção da educação

ambiental, através da divulgação e uso de conhecimentos sobre tecnologias de gestão

sustentável dos recursos naturais” (BRASIL, 2004, p. 18). Através da Portaria nº 353, o

MMA cria o Grupo de Trabalho de EA, que teve como atividades: a) Elaboração e

coordenação da I Conferência Nacional de EA; b) Estabelecimento de parceira com o

Projeto de EA para o Ensino Básico “Muda o Mundo, Raimundo!”; c) Promoção de

seminários sobre a prática da EA no ecoturismo, biodiversidade e Agenda 21; d) Promoção

de palestras técnicas, inseridas na ação “Temporada de Palestras”; e) Definição das ações de

EA no âmbito dos Programas Nacionais de Pesca Amadora e Agroecologia; f) Promoção e

levantamento Nacional de Projetos de EA.

Durante a 1ª Conferência Nacional de Educação Ambiental - CNEA, realizada em

Brasília em 1997, foi produzido a “Carta de Brasília para a EA”, contendo cinco áreas

temáticas: EA e as vertentes do desenvolvimento sustentável; EA formal: papel, desafios,

metodologias e capacitação; Educação no processo de gestão ambiental: metodologia e

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capacitação; EA e as políticas públicas: PRONEA7, políticas de recursos hídricos, urbanas,

agricultura, ciência e tecnologia; EA, ética, formação da cidadania, educação, comunicação e

informação da sociedade. Este documento teve como objetivo criar um espaço para a reflexão

sobre as práticas de EA no Brasil, avaliando suas tendências e identificando as perspectivas e

estratégias futuras e posteriormente foi remetido à Conferência de Thessaloniki.

A Conferência Internacional sobre Meio Ambiente e Sociedade; educação e

conscientização pública para a sustentabilidade, ocorrida em Thessaloniki, Grécia, teve como

objetivos: 1) reconhecer o papel crítico da educação e da consciência pública para o alcance

da sustentabilidade; 2) considerar a importante contribuição da EA; 3) fornecer elementos

para o futuro desenvolvimento do programa de trabalho da Comissão de Desenvolvimento

Sustentável da ONU; 4) mobilizar ações em todos os níveis de ação, recomendando que a EA

deveria basear-se na ciência e tecnologia para a consciência e adequada apreensão dos

problemas ambientais, fomentando uma mudança de conduta quanto à utilização dos recursos

ambientais.

No Brasil, foram aprovados pelo Conselho Nacional de Educação os Parâmetros

Curriculares Nacionais – PCNs, que constituíram-se como um subsídio para apoiar a escola

na elaboração do seu programa curricular, através de temas transversais: meio ambiente,

saúde, ética, pluralidade cultural, orientação sexual, trabalho e consumo, além de outros que a

escola eleja como relevante.

Também em 1997 realizou-se o IV Fórum de EA e I Encontro da Rede Brasileira de

EA realizado em Guarapari/ES. Com o tema “Gestões democráticas para a sustentabilidade

do ambiente”, que teve como objetivos: articular e integrar educadores ambientais; divulgar

as experiências regionais; atualizar os diversos segmentos da sociedade que atuam no setor;

avaliar aspectos filosóficos-metodológicos que fundamentam a ação nesta área; debater

7 A sigla PRONEA refere-se ao programa criado em 1994 e a sigla ProNEA, refere-se ao programa instituído em

1999.

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políticas públicas; e, por fim, fazer o balanço dos 5 anos pós Rio-92 e 20 anos da

Conferência de Tbilisi. Neste evento ocorreu a reativação da Rede Brasileira de Educação

Ambiental - REBEA.

No Brasil em 1999, foi criada a diretoria de Educação Ambiental do MMA e desde

então o ProNEA desenvo lve as seguintes atividades:

? Implantação do Sistema Brasileiro de Informações sobre Educação Ambiental e

Práticas Sustentáveis - SIBEA, objetivando atuar como um sistema integrador

das informações de Educação Ambiental no país;

? Implantação de pólos de EA e difusão de práticas sustentáveis nos estados,

objetivando irradiar as ações de EA;

? Fomento à formação de Comissões Interinstitucionais de EA nos estados e

auxílio na elaboração de programas estaduais de EA;

? Implantação de curso de EA à distância, objetivando capacitar gestores,

professores e técnicos de meio ambiente de todos os municípios do país;

? E a implantação do projeto “Protetores da Vida”, objetivando sensibilizar e

mobilizar jovens para as questões ambientais.

Nesse ano também foi promulgada a Lei nº 9.795, que dispõe sobre a Política

Nacional de EA - PNEA e dá outras providências, a qual define EA em seu Capítulo I, Art. 1º:

Entende-se por educação ambiental os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem como de uso comum do povo, essencial a sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade.

Em 2000, promoveu-se o Curso Básico de Educação Ambiental a Distância pelo

Departamento de EA do MMA e reproduzido em 2001 com duração até 2002.

O Ministério do Meio Ambiente (MMA) em 2001 concedeu uma linha de fomento

para projetos de estruturação e fortalecimento de redes de EA. Foram contempladas cinco

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redes: Rede Brasileira de Educação Ambiental – REBEA, Rede Paulista de Educação

Ambiental – REPEA, Rede Sul Brasileira de Educação Ambiental - REASul, Rede Aguapé e

da Rede Acreana de Educação Ambiental - RAEA.

A REASul foi constituída por pessoas e instituições que atuam nos três estados, difundindo a cultura de redes e as diretrizes e princípios da EA, que orientam suas ações, as quais estão sintonizadas com documentos como o Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global (Fórum Global das ONGs na Rio-92), Agenda 21 e Carta da Terra, além de políticas públicas como a Política Nacional de EA (Lei nº 9.795/99), e do Programa Nacional de EA (GUERRA, 2004, p. 102).

Em 2001, o SIBEA é reestruturado e passa a ter como objetivos: a) implantar um

sistema de informações referenciais sobre EA; b) captar, processar, armazenar e disseminar

informações atualizadas sobre EA e práticas sustentáveis, programas e práticas relacionadas à

EA, profissionais e instituições atuantes em EA; c) fornecer informação para os programas ou

atividades de capacitação.

Foi uma importante ferramenta às redes de EA que receberam financiamento do

FNMA e realizaram um diagnóstico de educadores e de projetos e de atividades realizadas em

todo o Brasil.

Essas redes propõem-se a executar uma prática que envolve a coleta, a inserção e a manutenção dos dados oriundos dos seus âmbitos de atuação, ou seja, de forma descentralizada, para, depois de tratados (entenda-se tratado como coletado, inserido e validado), serem disponibilizados no âmbito nacional do sistema (ARRUDA, 2004 p. 91-92).

Esse diagnóstico mostrou o que estava sendo feito em EA em todo o país, além de ter

auxiliado a articulação de ações conjuntas entre as redes de EA.

Em junho de 2002, a Lei n? 9.795/99 foi regulamentada pelo Decreto n? 4.281, que

instituiu a Política Nacional de EA - PNEA. E em 2003 o MMA e o MEC promoveram a

reunião de instalação do Órgão Gestor da PNEA, um passo decisivo para a execução das

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ações em EA, que teve como primeira tarefa, a assinatura de um Termo de Cooperação

Técnica para a realização conjunta da Conferência Infanto-juvenil pelo Meio Ambiente.

Em Itajaí/SC foi ocorreru o II Simpósio Sul Brasileiro de Educação Ambiental, o I

Colóquio de Pesquisadores da Região Sul e o I Encontro da REASul, rede promotora de todos

estes eventos. Pela primeira vez são apresentados os resultados preliminares do diagnóstico da

EA na Região Sul.

Em 2004, após um grande período de dormência, redes de EA e educadores de todo

país se mobilizam para a realização do V Fórum Brasileiro de EA. “Foram quase 4000

pessoas celebrando, aprendendo e ensinando, integradas em uma rede de redes pela educação,

reafirmando a necessidade de questionar o modelo de consumo insustentável, do TER e não

do SER e do fazer, pela diminuição das desigualdades e pela defesa da vida em nosso país e

no planeta”8. Enfim, este evento abriu espaço para a troca de múltiplas experiências em EA e

promoveu as redes de EA de todo o país.

Os resultados dos diagnósticos de EA realizado pelas redes contempladas pelo

financiamento do Fundo Nacional do Meio Ambiente – FNMA – REBEA, REASul, Rede

Aguapé, REPEA e RAEA -, foram analisados e compilados por Isabel Carvalho 9 e

apresentados no V Fórum de Educação Ambiental.

Em 2005, um outro marco da EA no âmbito Brasileiro ocorre, é a aprovação do

Doutorado em Educação Ambiental na Fundação Universidade Federal do Rio Grande -

FURG.

É interessante observar a evolução das concepções de Educação Ambiental ao longo

do tempo. Em um primeiro momento, prevalecia a idéia da preservação da natureza,

abrangendo apenas aspectos naturais e biológicos, voltando-se para preocupações com a

8 Boletim REASul. Itajaí: REASul, n. 5, 12 nov. 2004. 9 CARVALHO, I. C. M. Discutindo a Educação Ambiental a partir do diagnóstico em quatro ecossistemas no Brasil. São Paulo: Educação e Pesquisa, v. 31, n.2 p. 301-313, mai./ago. 2005.

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degradação ambiental. Não se considerava a necessidade de uma visão sistêmica, de inter-

relação entre as questões ambientais e os componentes éticos, políticos, sociais, econômicos,

científicos, culturais, entre outros.

As questões ambientais desafiam os valores da sociedade contemporânea e os rumos que esta deva escolher para o seu futuro. Superando o conceito de educação voltada para o ambiente, a EA tem incorporado as dimensões social, política, econômica e cultural, adquirindo aprofundamento conceitual, em uma visão crítica das relações ser humano/sociedade/natureza (JUSTEN, 2005, p. 126, grifo da autora).

Só recentemente, é que a EA ganha forças para praticar uma visão socioambiental, a

qual lança desafios para um melhor relacionamento entre “ser humano-ser humano” e “ser

humano-restante da natureza”, através de propostas de interlocução com a sociedade, visando

uma melhor qualidade de vida, o aproveitamento dos recursos da natureza de uma forma

sustentável e de relacionar as ações humanas com paradigmas éticos. “É em um segundo

momento que a EA vai-se transformando em uma proposta educativa no sentido forte, isto é,

que dialoga com o campo educacional, com as suas tradições, teorias e saberes”

(CARVALHO, 2004a, p. 51-52).

3.2 Refletindo sobre Educação Ambiental

Faz-se necessário após essa trajetória, explicitar os pressupostos da EA, na formação

de conceitos em consonância com os fundamentos das redes de EA.

Primeiramente, toma-se como base a definição apresentada por Guerra:

um processo que deve atuar na preparação de um ser humano-cidadão detentor de condições para escolher um projeto político que contemple seus anseios e que atue na busca de soluções permanentes voltadas para o bem-estar coletivo e para uma vida digna, preservando o

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ambiente em que vive, não só numa concepção utilitarista, mas pensando nos direitos das gerações futuras a um ambiente saudável, promovendo com isso a defesa da vida como um todo, em suas diferentes formas” (GUERRA, 2001, p. 141, grifo do autor).

Essa concepção delineia muito bem que a EA deve ser um processo de cunho

político, para a formação de cidadãos que recebem subsídios para optarem por alternativas

que visem o bem estar individual e coletivo e para a melhoria do ambiente para as presentes e

futuras gerações.

Outra concepção que merece atenção é a proposta por Loureiro (2004a, p. 66-67) em

que a educação é um

elemento de transformação social (movimento integrado de mudança de valores e de padrões cognitivos com ação política democrática e reestruturação das relações econômicas), inspirada no fortalecimento dos sujeitos, no exercício da cidadania, para a superação de formas de dominação capitalistas, compreendendo o mundo em sua complexidade como totalidade.

Baseado no exposto, a compreensão de EA que delineou este trabalho, foi pautada na

visão de um ambiente por inteiro, isto é, considerando a interdependência sistêmica entre o

meio natural e construído, sempre respeitando os fatores históricos, culturais e sociais dos

envolvidos. Num processo educativo contínuo e transversal, de abordagem articulada entre as

questões locais e globais, sempre vinculando a ética, praticada especialmente através da

transparência, do diálogo e de estratégias democráticas. Deve considerar e valorizar as

diferentes formas de conhecimento, orientando o indivíduo a expressar suas potencialidades,

desenvolver sua capacidade crítica e o senso de iniciativa e responsabilidade.

Já em relação ao papel do educador, afirma Carvalho (2004, p. 130):

[...] o educador ambiental compartilha o desafio gerado pela complexidade das questões ambientais. Isso implica atitude de investigação atenta, curiosa aberta à observação das múltipla s inter-relações e dimensões da realidade e muita disponibilidade e capacidade para o trabalho em equipe. Significa construir um conhecimento dialógico, ouvir os diferentes saberes, tanto os científicos quanto os outros saberes sociais (locais, tradicionais, das gerações, artísticos, poéticos etc.); diagnosticar as situações presentes,

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mas não perder a dimensão da historicidade, ou seja, dar valor à história e à memória que se inscreve no ambiente e o constitui, simultaneamente, como paisagem natural e cultural.

Carvalho (2004) ainda acrescenta que dentro desta perspectiva, pode surgir o “sujeito

ecológico”, o qual é portador de um ideário ecológico, enfrenta desafios e que prima por suas

novas formas de agir, de ser e de compreender o mundo. O “sujeito ecológico” assemelha-se

muito com um membro atuante de uma rede de EA, o qual apresenta novas formas de

relacionamento consigo, com o outro e com o ambiente e luta por suas idéias, por sua

autonomia e emancipação, inclusive do coletivo, a fim de um mundo mais humanitário, mais

justo social e ambientalmente e com melhores condições para as gerações atuais e futuras.

3.3 A Educação Ambiental como um propósito para constituição de redes

A idéia de redes de EA surge na década de 1990 e a partir de então, esta nova forma

de articulação vem ganhando força, pois permite a fácil interligação e a interação entre

educadores das mais diversas localidades, articulando princípios que vão do diálogo de

saberes à convivência entre as diversidades.

“As redes de EA não são proposições tradicionais, nasceram de um ideal libertário

na construção de utopias individuais e coletivas, visando a inclusão social e a justiça

ambiental” (SATO, 2004, p. 125).

Em 1990 é instituída a Rede Brasileira de Educação Ambiental - REBEA, a primeira

rede de EA do país, através da articulação entre pessoas e instituições atuantes na área de EA,

sendo concretizada durante a Jornada de Educação Ambiental promovida pelo Fórum Global,

paralela à RIO-92.

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Essa rede foi uma importante propulsora para o surgimento de redes estaduais e

regionais de EA em todo o território nacional e redes temáticas e segundo cadastramento

interno disponibilizado pela REBEA, atualmente o Brasil conta com as seguintes redes:

- Região Norte: Rede de Educação Ambiental do Pará – REA PARÁ, Rede Acreana

de Educação Ambiental – RAEA, e Rede CARAJÁS de Educação Ambiental, do sul do Pará;

- Região Nordeste: Rede Baiana de Educação Ambiental – REABA, Rede de

Educação Ambiental da Paraíba - REA/PB, Rede Nordestina de Educação Ambiental –

RENEA (rede regional), Rede Alagoana de Educação Ambiental – REAL, Rede de Educação

Ambiental do Ceará – REACE, Rede de Educação Ambiental do Litoral Cearense –

REALCE, Rede de Educação Ambiental de Pernambuco – REAPE, Rede de Educação

Ambiental de Sergipe – REASE e Rede de Educação Ambiental do Rio Grande do Norte –

REARN;

- Região Centro-Oeste: Rede Mato-grossense de Educação Ambiental - REMTEA,

AGUAPÉ Rede Pantanal de Educação Ambiental, Rede de Educação Ambiental e Informação

de Goiás - REIA-GO e Rede de Educação Ambiental do Distrito Federal – Rede EA DF;

- Região Sudeste: Rede de Educação Ambiental do Rio de Janeiro – REARJ, Rede

Capixaba de Educação Ambiental - RECEA, Rede de Educação Ambiental de São Carlos –

REA-SC, Rede Paulista de Educação Ambiental - REPEA, Rede Mineira de Educação

Ambiental - REMEA, Rede de Educação Ambiental da Bacia do Rio São João – REAJO

(rede supramunicipal do RJ), Rede de Educação Ambiental da Região dos Lagos – REA-

LAGOS (rede supramunicipal do RJ), Rede de Educação Ambiental Escolar – IIDEA (rede

temática do RJ), TEIA UNIVERSITÁRIA - Rede de Educação Ambiental do Ensino Superior

(rede temática), Rede de Educação Ambiental de Nova Friburgo (rede municipal do RJ), Rede

de Educadores Ambientais da Baixada Fluminense (rede supramunicipal do RJ), Rede de

Educadores Ambientais da Baixada de Jacarepaguá (rede intramunicipal do RJ), Rede de

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Educadores Ambientais de Niterói (rede municipal do RJ), Rede de Educadores Ambientais

de São Gonçalo (rede municipal do RJ) e Rede de Educadores Ambientais de Volta Redonda

(rede municipal do RJ);

- Região Sul: Rede Paranaense de Educação Ambiental – REA/PR, Rede de

Educação Ambiental Linha Ecológica – Bacia Hidrográfica do Rio Paraná III – REDE EA-PR

III (rede estadual temática), Rede Regional de Educação Ambiental da Bacia Hidrográfica do

Rio dos Sinos – Rede EA Vale dos Sinos, Rede de Educação Ambiental da Bacia do Rio Itajaí

- REABRI (rede supramunicipal de SC) e Rede Sul Brasileira de Educação Ambiental –

REASul (rede regional).

- Outras: Rede Universitária de Programas em Educação Ambiental para Sociedades

Sustentáveis – RUPEA (rede nacional temática), Rede Brasileira de Centros de Educação

Ambiental – REDE CEA (rede nacional temática), Rede Brasileira de Educomunicação

Ambiental – REBECA (rede nacional temática) e Rede Amazônica de Educação Ambiental

(rede que envolve os estados amazônicos e os países amazônicos).

As redes nascem “como uma decorrência natural do processo de debate, mobilização

e articulação em curso, em razão da necessidade de troca de experiências e sinergia entre os

membros do grupo” (COSTA et al., 2003 p. 96).

De acordo com Justen (2005, p. 55) e Zanoni (2004, p. 43), as redes se propõem a

articular pessoas e instituições no enfrentamento das questões socioambientais e auxiliar na

integração de projetos, programas e ações, além da disseminação de informações entre os

participantes. Enfim, articulam e fortalecem a atuação de educadores e educadoras ambientais

em todo o Brasil.

E o que não se pode esquecer, é que a EA e as redes de EA lutam diariamente para se

estabelecerem como um processo de mudança social e cultural, o qual se inicia como prática

educacional e política.

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4. A REASul – REDE SUL BRASILEIRA DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL

“Vem vamos embora que esperar não é saber Quem sabe faz a hora não espera acontecer” (Geraldo Vandré - Pra não dizer que não falei das flores)

Este capítulo retrata a constituição da REASul e ações realizadas por essa rede,

especialmente durante a execução do projeto “Tecendo Redes de Educação Ambiental na

Região Sul”, financiado pelo Fundo Nacional do Meio Ambiente – FNMA, através do

Convênio FNMA 035/2002. Sua elaboração baseou-se no projeto encaminhado ao FNMA e

nos relatórios mensais de trabalho de cada participante do projeto, bem como nos relatórios

parciais e final elaborados para prestação de contas ao órgão financiador, em artigos

publicados sobre a REASul e na dissertação de Zanoni10 (2004).

Para relatar as ações atuais da rede, o material utilizado como base foram as

mensagens e informações veiculadas através da lista de discussão da Comissão de Gestão

Participativa – CGP ([email protected]) e através dos Boletins Virtuais da REASul.

4.1 A estruturação da rede

De acordo com Costa et al. (2003), o processo de criação de uma rede apresenta dois

momentos distintos: a identificação de parceiros e a definição de um projeto comum. Isto

pode ocorrer de forma espontânea, “porém, em muitas ocasiões, é preciso realizar

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deliberadamente estes dois movimentos: construir um conjunto de objetivos e valores que

possam ser compartilhados pelos virtuais participantes da rede e identificar, convocar e reunir

tais participantes” (COSTA et al., id., p. 54-55).

Segundo Guerra (2004, p. 101), a idéia inicial da formação da Rede Sul Brasileira de

Educação Ambiental surgiu em 2001 no I Encontro de Pesquisa em Educação Ambiental (I

EPEA), em São Carlos/SP. Neste, participantes de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul

conversavam sobre os antigos Simpósios Sul Brasileiros de Ensino de Ciências, que

congregavam pesquisadores das universidades e professores da região Sul. O grupo articulou-

se então para a organização do I Simpósio Sul Brasileiro de Educação Ambiental (I SSBEA),

realizado em setembro de 2002 na Universidade Regional de Erechim/RS e a formação de

uma rede.

E, a partir do surgimento do edital do Fundo Nacional do Meio Ambiente – FNMA,

em 2001, para criação e reestruturação das redes de EA, a Fundação Universidade do Vale do

Itajaí – UNIVALI começou a identificação de possíveis parceiros para atender as exigências

de no mínimo cinco instituições participantes para envio do projeto.

As instituições que idealizaram o projeto e que deram início à rede foram a

UNIVALI (instituição proponente do projeto), o Centro de Pesquisa e Gestão de Recursos

Pesqueiros do Litoral Sudeste e Sul – CEPSUL/IBAMA e o Núcleo de Educação Ambiental

de Florianópolis NEA/IBAMA, todas de Santa Catarina, o Mater Natura – Instituto de

Estudos Ambientais do Paraná e a Fundação Universidade Federal do Rio Grande – FURG do

Rio Grande do Sul.

Quando o projeto foi concluído e enviado ao FNMA as instituições e pessoas que participaram do processo de elaboração, já formavam fatualmente uma rede de compromisso social. Os parceiros, embora nem todos se conhecessem, tinham se organizado virtual e presencialmente, elaborado o projeto coletivamente, estabelecido laços diretos e indiretos e criado as condições propícias ao

10 Em 2004, foi realizada por Rosemeri Zanoni, a primeira pesquisa envolvendo a REASul, estudando o “capital

social” promovido por esta junto a pessoas das instituições que fizeram parte do projeto de criação da rede.

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fortalecimento e alimentação do capital social que estas relações representavam (ZANONI, 2004, p. 90).

Depois de aprovado o projeto “Tecendo Redes de Educação Ambiental na Região

Sul”, iniciou-se o processo de implantação da REASul em abril de 2002.

Os objetivos do projeto encaminhado ao edital 07/2001 do Fundo Nacional do Meio

Ambiente - FNMA, consistiam em:

1. Integrar as ações em EA no âmbito dos estados do Paraná, Santa Catarina e Rio

Grande do Sul, através da criação e consolidação de uma Rede Sul Brasileira de

Educação Ambiental (REASul);

2. Estruturar um serviço interinstitucional de informação através de websites para

difusão de informações, conhecimentos, práticas educacionais e desenvolvimento de

metodologias em EA;

3. Promover um diagnóstico do estado da arte em EA na região Sul para fortalecer e

ampliar formas de integração e articulação entre instituições, órgãos públicos,

agentes/educadores ambientais, listas eletrônicas de comunicação e discussão;

4. Desenvolver a cooperação técnica de serviços de informação e comunicação

eletrônica entre as instituições participantes, com o Sistema Brasileiro de

Informações sobre Educação Ambiental – SIBEA, a Rede Brasileira de Educação

Ambiental – REBEA, e outras redes estaduais, para a difusão de informações,

conhecimentos, aspectos teórico-metodológicos e práticas educativas relacionados à

EA;

5. Fomentar a estruturação e o fortalecimento de elos regionais e núcleos de pesquisa

em EA, para capacitação de agentes/educadores ambientais, e de pessoal para

manutenção dos processos de sustentabilidade de redes informacionais.

Para gestão compartilhada da rede e do projeto foi organizada a Comissão de Gestão Participativa – CGP formada pelas instituições parceiras e constituída por um coordenador geral, um secretário

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executivo, uma coordenação para cada estado e representantes de cada instituição (GUERRA, 2004, p. 102).

Na fase inicial de implantação da rede, a CGP realizou reuniões mensais para discutir

sobre questões técnicas e administrativo-financeiras do projeto. Depois desse período inicial,

as reuniões tornaram-se mais espaçadas e serviam para avaliar e elaborar estratégias para as

ações da REASul e produzir material de divulgação, informativos e prestação de contas

relacionadas ao projeto.

Nessas reuniões adotou-se como procedimentos: relatar as ações e encaminhamentos de cada parceiro individualmente; discutir os pontos de pauta previamente acordados, onde cada membro apresentava seus argumentos e fazia a avaliação que, no final, refletia-se na decisão tomada pela CGP. Tais iniciativas permitiram avançar numa avaliação em torno do cumprimento dos objetivos planejados para cada etapa em andamento e projetar os passos seguintes a serem tomados, tanto em nível individual quanto coletivo (GUERRA et al. 2003b).

De acordo com o estudo realizado por Zanoni (2004), a distância física e

disponibilidade de tempo entre os elos, bem como a dificuldade em relação às questões

financeiras, restringiram a participação de mais pessoas nas reuniões da CGP, o que a tornou

um tanto fechada e restritiva, o que foi agravado por esta se dedicar praticamente ao

cumprimento das metas do projeto.

As manifestações também ocorriam através de uma lista de discussão11 virtual

([email protected]), moderada então pelo Coordenador do Projeto – Antonio

Fernando S. Guerra.

Hoje a lista de discussão da CGP ([email protected]) está aberta a

representantes das instituições participantes e educadores isolados e funciona não só como

ferramenta para tomada de decisões e realização de atividades referentes à REASul, mas

11 Por meio das listas de discussão, um grupo de pessoas cadastrado no serviço emite e recebe mensagens que

são lidas por todos os membros do grupo indiscriminadamente. A lista simula, num ambiente de troca de mensagens, de forma assincrônica (quando a ação não ocorre no mesmo momento), a situação de um encontro presencial, no qual todos ouvem o que cada um fala e cada um pode ser ouvido por todos (COSTA et al., 2003, p. 68).

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também como lista de troca de informações e discussão de temáticas relacionadas à EA na

região Sul e no Brasil. Essa abertura a um maior número de pessoas, se deu especialmente

pela falta de recursos para congregá-los presencialmente, principalmente quando se fala de

uma rede regional, com um maior número de localidades e conseqüentemente distâncias

consideráveis entre os participantes.

Durante a execução do projeto, foi se definindo a finalidade da REASul como um

instrumento de difusão e fortalecimento da EA, em nível regional, abrangendo os três estados

do Sul do país, e também nacionalmente, “contribuindo para diagnosticar, socializar e dar

visibilidade a projetos e ações na área, fornecendo subsídios para os processos de formação de

educadores, gestores ambientais e de políticas públicas” (GUERRA et al., 2003a).

Novos objetivos foram surgindo e se agregando aos objetivos que faziam parte do

projeto “Tecendo Redes de Educação Ambiental da Região Sul” e de acordo com o site da

rede (www.reasul.org.br), atualmente são:

1. Integrar as ações em Educação Ambiental (EA) no âmbito dos estados do Paraná,

Santa Catarina e Rio Grande do Sul, através da criação e consolidação de uma Rede

Sul Brasileira de Educação Ambiental (REASul);

2. Estruturar um serviço interinstitucional de informação através de web sites para

difusão de informações, conhecimentos, práticas educacionais e desenvolvimento de

metodologias em EA;

3. Promover um diagnóstico do estado da arte em EA na região Sul para fortalecer e

ampliar formas de integração e articulação entre instituições, órgãos públicos,

agentes/educadores ambientais, listas eletrônicas de comunicação e discussão;

4. Desenvolver a cooperação técnica de serviços de informação e comunicação eletrônica

entre as instituições participantes, com o Sistema Brasileiro de Informação sobre

Educação Ambiental e Práticas Sustentáveis - SIBEA, a Rede Brasileira de Educação

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Ambiental - REBEA, e outras redes estaduais e, fomentar a estruturação e o

fortalecimento de elos regionais e núcleos de pesquisa em EA.

5. Fomentar a estruturação e o fortalecimento de elos regionais e núcleos de pesquisa em

EA, para capacitação de agentes/educadores ambientais, e de pessoal para manutenção

dos processos de sustentabilidade de redes informacionais.

A finalidade da REASul é debater e traçar rumos para difundir e fortalecer a EA no

Brasil, e, particularmente, na região Sul, contribuindo para diagnosticar, socializar e dar

visibilidade a projetos e ações na área, fornecendo subsídios para os processos de formação de

educadores e gestores ambientais e para as políticas publicas (GUERRA et al., 2004, p. 178).

4.2 Realização do diagnóstico da Educação Ambiental na região Sul

A REASul tinha como uma das metas do projeto “Tecendo Redes de Educação

Ambiental na Região Sul”, realizar um diagnóstico da EA nos três estados do Sul (Paraná,

Santa Catarina e Rio Grande do Sul), com o objetivo de intercambiar informações com o

SIBEA, para integrar e fomentar as ações de EA no Brasil e também fornecer subsídios para

formulação de políticas públicas. Com esse diagnóstico pretendia-se também integrar novas

pessoas e instituições à rede, para a ampliação e estruturação de Elos Regionais12.

Para dar início à divulgação da REASul e ao diagnóstico, foram levantadas possíveis

instituições, lideranças, agentes, educadores e ONGs que desenvolvessem atividades em EA,

12 Os Elos Regionais são as instituições que formam as redes locais, temáticas, e estaduais de educação e gestão

ambiental, que constroem juntas a estrutura ou tecitura da malha da REASul.

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para que se pudesse não apenas coletar dados, mas também conhecê- los. Inicialmente foram

usados bancos de dados de órgãos ambientais estaduais (conselhos, secretarias de educação,

de meio ambiente e afins), o cadastro de educadores ambientais do Ministério do Meio

Ambiente (construído durante cursos de EA à distância oferecidos), o cadastro existente no

Programa de Pós-Graduação Mestrado em Educação Ambiental da FURG (PPGMEA), listas

eletrônicas de EA, lista de grupos de discussão em EA, o Cadastro Nacional de Entidades

Ambientalistas (CNEA) e a ECOLISTA13 – Cadastro Nacional de Instituições Ambientalistas

(PIZZI, 1996). Posteriormente, outras fontes foram pesquisadas (secretaria municipais e

estaduais), inclusive na Internet e anais e listas de participantes de eventos educacionais e

ambientais em EA.

As gerências estaduais do IBAMA no Paraná e Santa Catarina, por meio de malote

interno, realizaram a mobilização de seus escritórios regionais e das demais instituições

localizadas nos municípios de sua abrangência. Além disso, promoveram a divulgação da

REASul e de seu diagnóstico.

As equipes de trabalho em cada estado iniciaram a organização de um banco de

dados com as entidades e pessoas relacionadas à Educação Ambiental. A partir disto foram

enviados através de carta-ofício e e-mail, materiais informativos sobre a REASul, convidando

a participar da rede e formulários14 para preenchimento (Conhecendo atividades de EA;

Conhecendo cursos de EA; Conhecendo instituições; Conhecendo educadores, especialistas e

pesquisadores; Produção científica), visando a alimentação do banco de dados do SIBEA, o

qual também estava disponibilizado dentro do próprio site da rede para preenchimento on-

line. Em alguns casos, estabeleceram-se contatos telefônicos como uma forma a mais de

sensibilização.

13 PIZZI, Paulo A. (Coord.). ECOLISTA. Cadastro Nacional de Instituições Ambientalistas. 2. ed. ver.,

ampl. Curitiba: WWF, 1996. 14 Estes formulários foram elaborados e discutidos conjuntamente pelas redes de EA que tiveram seus projetos

financiados pelo FNMA, de forma que se tivesse uma metodologia comum para elaboração do diagnóstico.

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Os parceiros regionais da REASul também tentaram sensibilizar pessoas através de

listas de discussão (REBEA, REA-PR, Grupo de Educação Ambiental na Internet - GEAI,

grupo EA pesquisa da ANPED e Rede CEAS) para que os integrantes se mobilizarem na

discussão e formação de redes estaduais ou locais.

Esse diagnóstico exigiu da CGP e equipes técnicas do projeto uma intensa mobilização e trabalho de contato presencial, via e-mail e correio, com pessoas e instituições, envio e distribuição dos formulários de cadastramento do SIBEA [...] e a disponibilização destes no próprio site da rede para preenchimento on-line (GUERRA, 2004, p. 103).

Essas estratégias não produziram os resultados esperados, pois não favoreceram a

comunicação e a aproximação de forma efetiva com as demais entidades que trabalham com

EA, além de que houve muita resistência por parte das pessoas e instituições na

disponibilização dos seus dados, preocupadas com o destino destes. Estas muitas vezes não

aceitavam a argumentação da importância de um sistema de informações nacional para

fortalecer o Sistema Nacional de Meio Ambiente (SISNAMA) e o possível estabelecimento

de contatos e parcerias para a realização de projetos interinstitucionais. Esses dados poderiam

também fornecer subsídios às esferas municipais e estaduais para o estabelecimento de

políticas públicas na área ambiental e da educação mais efetivas e duradouras.

Optou-se então por realizar reuniões presenciais agendadas previamente, entre

integrantes da equipe técnica do projeto com representantes e educadores destas instituições

para coleta de informações através de um formulário de cadastramento, o qual tanto poderia

ser preenchido na hora, ou deixado para que fosse preenchido e encaminhado posteriormente.

As visitas tinham como objetivo não só partilhar experiências, mas também tentar firmar

parceria na construção de um elo local.

Também para difundir e integrar novos atores e elos à REASul, os coordenadores e

representantes da rede participaram ativamente de eventos relacionados à EA tanto local,

como regional e nacionalmente. Nesses eventos foi possível realizar uma apresentação mais

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formal da rede (palestra, mesa redonda) ou mesmo a divulgação através de materiais

informativos como folder (Anexo B), faixas, painéis e oficinas interativas.

As reuniões presenciais, que ocorreram em diversos âmbitos, com a participação de diferentes grupos de atores sociais, revelaram-se instrumentos eficientes para a divulgação e agregação de elos pessoais e institucionais ao projeto REASul. Permitiram prestar as informações necessárias ao cadastramento das pessoas, fundamentar os objetivos do projeto presencialmente, mostrando às pessoas os benefícios pessoais e coletivos, proporcionados pela rede, em função da visibilidade do trabalho individual e institucional, além das possibilidades de formação de novos grupos e parcerias que este reconhecimento poderia potencializar (ZANONI, 2004, p. 72).

Outra estratégia foi a participação dos parceiros da rede nas Conferências Nacional e

Infanto-juvenil de Meio Ambiente em 2003, principalmente no Paraná e Santa Catarina.“A

REASul promoveu a divulgação de ações das comissões nos dois estados vinculando notícias

em seu site. Os parceiros também realizaram a divulgação do diagnóstico da EA durante as

conferências preparatórias nos dois estados” (GUERRA, 2003).

Além da realização de cursos e oficinas de capacitação para agentes multiplicadores,

educadores e comunidades pesqueiras sobre os fundamentos teórico-metodológicos da EA,

para uso de redes e facilitadores de redes (enfatizando o que é uma rede, seus objetivos e

forma de funcionamento), com o intuito de difundir a REASul e a cultura de redes.

Figura 1: Oficina “Teia de pensamentos”, realizado por integrantes do Mater Natura (Foto: Arquivos REASul).

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Várias foram as dificuldades enfrentadas na realização do diagnóstico, incluindo: o

pequeno retorno dos formulários de cadastramento de dados do SIBEA enviados; a exclusão

digital de um grande número de instituições e educadores; mudanças nas administrações dos

órgãos públicos em função da troca de governos; problemas técnicos no banco de dados do

SIBEA/REASul para a inserção de dados nos formulários, além da dificuldade em

recuperação desses dados do sistema e a falta de integração entre ao várias plataformas do

SIBEA (instaladas no sistema central em Brasília, na UNIVALI e na FURG).

4.3 Meios de comunicação e divulgação utilizados

O adequado gerenciamento da informação é condição fundamental para que a rede possa realizar suas funções. O sistema de informação e comunicação pode recorrer desde as mediações mais simples - como reuniões presenciais, registros manuscritos e utilização de correios tradicionais - até as medições mais ágeis como sistemas informatizados, valendo-se da Internet ou de outras redes de comunicação de dados (MANCE, 2004).

Para divulgação da REASul foram elaborados textos informativos, realease (Anexo

C) para sites institucionais (Mater Natura, Conselho Regional de Biologia da 3º Região –

CRBio 3, SINEPE/PR), folder, painel, textos para jornais impressos e eletrônicos, o site da

rede e Boletins Eletrônicos (Anexo D) com o resumo as ações da rede e notícias e eventos

relacionados à EA.

O site da REASul (www.reasul.org.br), foi e ainda é uma ferramenta tecnológica de

comunicação e informação importante tanto para a divulgação da rede, quanto de notícias

educacionais e ambientais, agenda de eventos em EA (periodicamente atualizadas) e para

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acesso à uma Biblioteca Virtual de meio ambiente. Atualmente as instituições ligadas à CGP

podem incluir informações e notícias no site, para tanto necessitam de um login e senha

previamente fornecidos para realizarem tais ações.

Figura 2: Site da REASul (www.reasul.org.br).

A utilização do modo virtual vem se configurando segundo Axt (2003, p. 69-70), em

dois modos principais de articulação:

1) como uma agenda, um canal de comunicação objetiva, própria à distribuição e orientação de tarefas, à combinação e organização de eventos e reuniões, a avisos e convites, à formulação de perguntas ou dúvidas pontuais com respostas também pontuais, à troca de idéias relativas a determinado problema. 2) mas a rede pode se constituir, também, na horizontalidade das relações, como uma comunidade virtual de convivência, implicando organização conjunta das atividades, de compartilhamento de conhecimento, de pesquisa cooperativa (grifos da autora).

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Mas essa forma de articulação também implica em certas dificuldades, como: a falta

de acesso, conhecimento ou familiarização a computadores e outras ferramentas tecnológicas,

como a Internet e a desmotivação ao participar de listas de discussão, pois segundo Costa et

al. (2003, p. 68):

essas listas ostentam uma dinâmica muito particular de troca de informação e, dependendo do contexto e da forma como são usadas, podem saturar os integrantes de informação desnecessária, levando à interrupção do seu uso. Essa disfunção acontece com muita freqüência, devido à má utilização do recurso.

4.4 A realização de eventos e encontros presenciais

“As redes e eventos presenciais de EA deveriam ter alguma articulação, uma vez que

as redes e suas listas de discussão são responsáveis pelo relacionamento inter-pessoal,

imediato e abrangente entre centenas de pessoas interessadas em determinados assuntos”

(AXT, 2003, p. 72). A falta de recursos para articular encontros presenciais, muitas vezes

torna-se um empecilho para que isto aconteça, dessa forma, uma estratégia, seria aproveitar

eventos em EA para articular encontros da rede.

E como forma de expansão da REASul e também para complementação do

diagnóstico realizado, de 07 a 10/12/2003, foi realizado em Itajaí/SC o II Simpósio Sul

Brasileiro de Educação Ambiental (II SSBEA), I Colóquio de Pesquisadores em EA da

Região Sul (I CPEASul) e o I Encontro da Rede Sul Brasileira de EA (I EREASul), eventos

que também faziam parte de uma das metas do projeto “Tecendo redes de Educação

Ambiental na Região Sul”.

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Para estruturação do II SSBEA, ocorreram reuniões entre as instituições parceiras,

bem como realização de contatos com profissionais para ministrarem cursos e palestras.

Para divulgação destes eventos um cartaz e um novo folder (Anexo E) da rede foram

elaborados e encaminhados pelo correio e por mala direta para diversas instituições.

Esses mecanismos e ações de articulação favoreceram o aprofundamento de contatos e conexões junto às lideranças nos estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul para a ampliação do diagnóstico da EA da região Sul, resultando também em convites a instituições para a formação de elos regionais, visando a ampliação da estrutura e a sustentabilidade da REASul (ZANONI, 2004, p. 72).

Figura 3: Cartaz de divulgação do II Simpósio Sul Brasileiro de Educação Ambiental – II SSBEA.

O II SSBEA foi pensado para ser um evento regional, porém alcançou

reconhecimento nacional e internacional, com a participação de mais de 1.300 participantes

de dezoito estados e três países (Cuba, Uruguai e México).

Segundo Zanoni (2004, p. 72), a articulação com pesquisadores e técnicos

catarinenses e gaúchos, permitiu a organização do I Colóquio de Pesquisadores em Educação

Ambiental da Região Sul – I CPEASul, o qual contou com a realização de um Fórum Virtual

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para discussão antecipada dos textos dos autores e autoras convidadas para os seus cinco

eixos temáticos:

? Fundamentos epistemológicos e filosóficos em EA;

? As metodologias de pesquisa em EA;

? Programas e ações de formação docente em EA;

? A EA em espaços não escolarizados – gestão e conservação;

? A EA e as Políticas Educacionais.

O I CPEASul, foi iniciativa da REASul e destinou-se aos pesquisadores aos

programas do Pós-Graduação Stricto Sensu, onde são formados os docentes do Ensino

Superior e contou com mais de 170 participantes.

No I EREASul além da divulgação da avaliação preliminar do diagnóstico da EA na

região Sul, também foram discutidas possíveis formas de sustentabilidade para a REASul,

como:

? Fortalecer e ampliar formas de integração e articulação entre instituições,

órgãos públicos, educadores, técnicos, agentes ambientais e gestores das políticas

públicas.

? Ampliar e utilizar seu site e ferramentas como a Biblioteca Virtual, como um

ambiente de aprendizagem cooperativa para difusão de informações ambientais,

conhecimentos, práticas educacionais e desenvolvimento de metodologias em EA. O

que foi sendo aperfeiçoado ao longo do tempo e em 2005, culminou com uma

reestruturação total do site e de atualização da Biblioteca Virtual.

? Difundir a cultura de redes através de oficinas e encontros, e da participação

em lista eletrônicas, fóruns de discussões e também de forma presencial.

? Apoiar a ampliação de novos elos e de redes estaduais e redes temáticas, no

Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Nesse sentido, a REASul vem

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auxiliando no processo de revitalização da REABRI – Rede de Educação Ambiental

da Bacia do Rio Itajaí e na articulação de ações junto à REA-PR, a Rede Paranaense

de Educação Ambiental. Cabe destacar, que no Rio Grande do Sul, embora haja o

registro de uma rede de EA, está não atuando e não se conseguiu contato com seu

idealizador. Durante este encontro foram poucas as instituições que manifestaram

interesse em atuarem como parceiros na consolidação e sustentabilidade da REASul.

Apesar das dificuldades, a rede tem boas possibilidades de expansão e continuidade a partir da realização de seu I Encontro durante o II SSBEA, que propiciou o estabelecimento de novos laços interpessoais e interinstitucionais, viabilizando a agregação de capital humano e social à estrutura já implantada (ZANONI, 2004, p. 72).

O II EREASul ocorreu em 2004, durante o II Simpósio Gaúcho de EA, realizado em

Erechim/RS. Nesse período, o financiamento do projeto já havia terminado e durante este

encontro foram apresentados os resultados do diagnóstico da EA nos três estados e

posteriormente novas entidades foram convidadas para se entregarem à rede. Neste evento,

também foi realizado um mini-curso intitulado “Formação de Facilitadores em Redes de

Educação Ambiental”, realizado por integrantes da REASul, com o objetivo de difundir a

cultura de redes e incentivar a criação de pequenas redes, mesmo que dentro do próprio local

de trabalho, com o intuito de integração e disseminação da EA.

4.5 O estabelecimento de parcerias

O banco de dados construído em função do diagnóstico realizado pela REASul,

permitiu que contatos fossem retomados (através de e-mails e ligações telefônicas), visando

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reforçar o estreitamento das relações, para o estabelecimento de parcerias para a constituição

de Elos Regionais.

A implementação de elos regionais foi baixa, devido principalmente à falta de

recursos humanos para este tipo de mobilização, visto que praticamente não surgiu (ou

mesmo não foi incentivado) a formação de facilitadores da REASul, com exceção das pessoas

que já participavam da rede através do projeto. Este fato ocorreu principalmente pela grande

ênfase que se deu à realização dos diagnósticos, uma das metas do projeto “Tecendo Redes de

Educação Ambiental na Região Sul”, o que dificultou o estabelecimento de parcerias efetivas.

Ao fim do projeto, a UNIVALI, instituição proponente, em nome da REASul,

realizou contatos e encaminhou o Termo de Cooperação Técnica da REASul (Anexo F),

discutido durante o I EREASul e finalizado através da CGP para estabelecimento de elos

regionais, para realização de projetos conjuntos pelos grupos de pesquisa destas instituições.

As seguintes universidades no estado de Santa Catarina foram contatadas: a Fundação

Universidade Regional de Blumenau - FURB, a Universidade de Caçador - UnC, a

Universidade do Oeste de Santa Catarina – UNOESC, a Universidade Comunitária Regional

de Chapecó - Unochapecó e a Universidade do Planalto Catarinense – Uniplac. No entanto,

apenas a UNOESC e a UnC, manifestaram interesse em aceitar o Termo de Cooperação

Técnica, que após discussão pelos membros da CGP, foi substituído por um Termo de Adesão

(Anexo G), com uma apresentação da rede, dos seus objetivos e da proposta de estrutura de

gestão. Este foi reformulado (Anexo H), de forma que se tornou menos burocrático, já que

uma rede não é uma instituição, propiciando assim, que os parceiros especificassem quais

seriam suas contribuições em relação aos outros membros da rede, visando efetivar a

distribuição de ações e potencializar cada elo.

No Paraná este tipo de articulação não surtiu o efeito esperado, um dos prováveis

fatores foi o fato da instituição responsável, o Mater Natura, ser uma ONG, o que dificultava

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as articulações com universidades e faculdades. Outro fator foi a complexidade do Termo de

Cooperação Técnica (tanto que este foi substituído, como relatado anteriormente), além de

que, devido ao fato da REASul não ter existência jurídica, a instituição parceira era quem

deveria realizar este termo, dificultando ainda mais a formação de elos formalmente.

Em relação ao Rio Grande do Sul, não há registros sobre essa articulação,

provavelmente em função da reduzida equipe de trabalho na FURG (parceira do projeto), a

qual também estava envolvida com as atividades do mestrado em EA, bem como por seu

afastamento da REASul ao final do financiamento do projeto. No entanto, os contatos

realizados no Rio Grande do Sul durante o diagnóstico com o Núcleo de EA do IBAMA,

promoveram o interesse deste órgão em fazer parte da REASul, especalmente pela articulação

que já existia com esses núcleos no Paraná e Santa Catarina.

De acordo com o site da REASul (www.reasul.org.br), atualmente a rede conta com

os seguintes elos:

? Centro de Estudos Ambientais – CEA (RS);

? Centro de Educação a Distância para o Meio Ambiente e a Paz - CEADMAZ -

Porto Alegre (RS);

? Centro de Pesquisa e Gestão de Recursos Pesqueiros do Litoral Sul e Sudeste –

CEPSul (SC);

? Comissão de Turismo e Meio Ambiente da ALESC – Florianópolis (SC);

? Comissão Interinstitucional de EA de Santa Catarina - CIEASC (SC);

? Companhia Riograndense de Saneamento - CORSAN - Passo Fundo (RS);

? Escola Parque – Parque Nacional do Iguaçu (PR);

? Escritório Regional do IBAMA – ESREG de Bagé, Passo Fundo, Santa Maria e

Uruguaiana (RS);

? Esfera - Projetos Ambientais- Joinville (SC);

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? Fundação Praia Vermelha de Proteção à Natureza (SC);

? Fundação Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI – Programa de Pós-

Graduação Mestrado em Educação (SC);

? Fundação Universidade Federal do Rio Grande – FURG – Programa de Pós

Graduação em Educação Ambiental (RS);

? Fundação Universidade Regional do Alto Uruguai e das Missões – FURI

Campus Erechim (RS);

? Fundação Universitária Iberoamericana – FUNIBER (SC);

? Grupo Transdisciplinar de Estudos Ambientais Marica (RS);

? Instituto Brasileiro de Recursos Naturais Renováveis – IBAMA – Núcleo de

Educação Ambiental (NEA) das gerências do Paraná, Santa Catarina e Rio

Grande do Sul;

? Instituto Popular de Cidadnia – IPOC (SC);

? Instituto Rã-bugio para Conservação da Biodiversidade (SC);

? Mater Natura – Instituto de Estudos Ambientais (PR);

? ONG Mira Serra (RS);

? Projeto APOEMA (RS);

? Rede de Educação Ambiental da Bacia do Rio Itajaí – REABRI (SC);

? Rede Paranaense de Educação Ambiental – REA-PR;

? Secretaria Municipal de Educação – Itajaí (SC);

? Secretaria Municipal de Educação – Navegantes (SC);

? Secretaria Municipal de Meio Ambiente – Balneário Camboriú (SC);

? Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental – SPVS (PR);

? Tramontrip ONG (PR)

? Universidade de Passo Fundo;

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? Universidade do Contestado – UnC (SC);

? Universidade do Oeste de Santa Catarina – UNOESC Campus de Joaçaba (SC);

? Universidade Estadual de Maringá – UEM (PR);

? Universidade Luterana do Brasil – ULBRA Campus Canoas (RS);

? Universidade Regional de Blumenau – FURB (SC).

4.6 Dificuldades enfrentadas e sustentabilidade

Ayres (2003), destaca possíveis barreiras internas (entre os próprios propulsores,

participantes) para a instituição de redes, que envolvem “a confusão conceitual e os

problemas internos de cada organização, como a falta de direcionamento estratégico, a falta

de tempo e o foco direcionado a outras atividades mais urgentes” (AYRES, id., p. 11).

Com a REASul esta situação não foi diferente e muitas foram as dificuldades

enfrentadas, como “a falta de vivência inicial e experiência do próprio grupo sobre os

fundamentos da cultura de redes” (GUERRA, 2004, p. 105) e a falta de clareza entre os

participantes do seu papel dentro dessa estrutura, acarretando muitas vezes no não

envolvimento e comprometimento destes para com a rede. Conseqüentemente, este fator e a

distribuição desigual das atividades e funções dentro da rede gerou uma grande

institucionalização e baixa horizontalidade entre os integrantes.

Tentando superar alguns desses problemas, em julho de 2004, a REASul realizou

uma “Oficina do Futuro”, coordenada por participantes do elo regional da FURB, na qual são

empregadas técnicas baseadas em metodologia participativa, para se chegar ao planejamento

da REASul para o ano de 2005. Participaram quatorze pessoas de oito elos da rede, as quais

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definiram como temas prioritários para discussão e desenvolvimento a comunicação, a

educação, a sustentabilidade e o comprometimento.

E diversas estratégias foram sugeridas para otimizar a REASul e promover sua

sustentabilidade, como: oferecimento de cursos e oficinas para formação de novos

facilitadores e difusão da cultura de redes; ampliação de parcerias e membros e estímulo à

cooperação entre estes; criação e implementação de ferramentas e rotinas que ampliem a

horizontalização nas relações; organização e consolidação de seus Grupos de Trabalho (GTs);

utilizar o diagnóstico para convocar redes de atores locais e regionais; descentralização para

fortalecer os núcleos locais de acordo com a área de sua atuação; potencializar ações

conjuntas entre os parceiros; realizar mais eventos presenciais com o intuito de reforçar o

diálogo e o estabelecimento de parcerias.

Figura 4: Sugestões para o Planejamento Estratégico da REASul, elaboradas durante a “Oficina do Futuro” (Foto: Arquivo REASul).

Mas o término do projeto deixou claro a todos os integrantes que para que a REASul

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realmente consiga se estabelecer, será necessário a continuidade de ações que visem sua

divulgação e a realização de cursos para a capacitação de técnicos na gestão de redes, bem

como a difusão da cultura de redes, uma vez que esta ainda é muito incipiente na região.

Também se concluiu que há necessidade de que os órgãos governamentais (como IBAMA,

Secretarias Estaduais e Municipais) incluam em sua política interna, metas e programações de

trabalho, assuntos relacionados às redes.

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5. METODOLOGIA UTILIZADA PARA ANÁLISE DOS DADOS

“Pensar certo demanda profundidade, e não superficialidade, na compreensão e na interpretação dos fatos. Supõe a disponibilidade à revisão dos achados, de apreciação, reconhece não apenas a possibilidade de mudar de opção, de apreciação, mas o direito de fazê-lo” (Paulo Freire).

Esta pesquisa se propôs a analisar e refletir sobre o processo de formação de uma

rede de compromisso social, a REASul, concebida e formalizada para facilitar ações

compartilhadas na área de Educação Ambiental, nos três estados do Sul do Brasil. Devido à

contextualidade de seu objeto de estudo, caracterizou-se como um Estudo de Caso, analisado

através de metodologia quali-quantitiativa, denominada “Análise de Conteúdo”.

5.1 A obtenção de material sobre o objeto de estudo

Como já foi relatado, o conceito “rede” é um tanto amplo, podendo ser interpretado e

estar relacionado a uma série de outras temáticas. Dessa forma, o passo inicial foi a realização

de uma pesquisa bibliográfica sobre o tema no acervo da biblioteca da FURG. Foram

pesquisados principalmente artigos publicados em revistas, visto que se amplificaria a

possibilidade de encontrar material dentro de diversas áreas (sociologia, comunicação,

informática, geografia, gestão da informação, entre outras), e a partir de então, delinear o

enfoque que se pretenderia trabalhar.

Após muitas leituras, complementadas por materiais explorados em outras fontes

(livros, artigos em meio digital etc.), começaram a ser definidas as áreas do conhecimento e

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os materiais que serviriam para o embasamento teórico. O passo seguinte foi a revisão de

literatura, buscando aperfeiçoar o pré-projeto e transformá-lo no primeiro esboço desta

pesquisa.

O segundo passo foi iniciar a leitura dos documentos e materiais relacionados ao

projeto “Tecendo Redes de Educação Ambiental na Região Sul”, tais como os relatórios de

trabalho elaborados por membros das equipes técnicas institucionais e relatórios parciais e

finais encaminhados ao financiador, FNMA. Após a leitura destes materiais, percebeu-se que

estes não seriam suficientes para responder aos questionamentos da presente pesquisa, pois

estavam bastante voltados às atividades do projeto e não da rede em si. Para tanto, foi

necessário também investigar outros documentos, como ofícios, Boletins Eletrônicos, notícias

digitais, artigos, realeases da REASul e outros tipos de resumos informativos.

Logo após esta fase, deu-se início à elaboração de um roteiro para a realização de

uma entrevista (Apêndice A) que foi aplicada posteriormente com pessoas ligadas à REASul.

A entrevista serviu para complementar informações, especialmente do ponto de vista de seus

participantes, já que através do material analisado, isto quase não foi relatado ou quando

relatado, apenas apregoava a perspectiva dos membros ligados à execução do projeto

“Tecendo Redes de Educação Ambiental na Região Sul”, os quais expressavam uma visão na

maioria das vezes acrítica, sendo portanto, limitada.

A entrevista segundo ARRUDA (2004, p. 24) proporciona ao pesquisador,

conseguir informações mais detalhadas, que podem servir para enriquecer a pesquisa, além de existir a possibilidade de, no decorrer da entrevista, surgirem aspectos não pensados anteriormente que podem ser esclarecidos naquele instante, ou seja, o pesquisador pode estar diante de uma oportunidade única.

“A amostragem boa é aquela que possibilita abranger a totalidade do problema

investigado em suas múltiplas dimensões” (MINAYO15, 1992 apud MINAYO, 1994 p. 43),

15 MINAYO, Maria Cecília de S. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. São Paulo/Rio

de Janeiro; HUCITEC-ABRASCO, 1992.

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dessa forma, optou-se por realizar quinze entrevistas de maneira presencial, sendo cinco em

cada um dos três estados da região Sul, as quais foram gravadas e posteriormente transcritas.

Através da entrevista, “o pesquisador busca obter informes contidos na fala dos atores

sociais” (MINAYO, 1994, p. 57).

As perguntas da entrevista incluíram as seguintes temáticas:

1. O conceito de rede formulado pelos entrevistados;

2. Como se deu o primeiro contato com a REASul e de que forma as pessoas foram

motivadas a participarem desta rede;

3. Se os participantes conhecem os objetivos e os princípios da REASul e sustentam junto

com ela um propósito comum;

4. As virtudes e os pontos positivos da REASul, bem como as adversidades e os pontos

negativos;

5. A utilização pelos participantes de serviços e produtos oferecidos pela rede;

6. Percepções sobre alguns princípios que as redes sociais, em especial a REASul se

propõem a realizar, como a horizontalidade, a autonomia, a co-reponsabilidade, a

multiliderança, a boa comunicação e a conectividade.

7. Como a rede corresponde ou satisfaz seus integrantes no contexto geral.

A entrevista antes de ser aplicada, foi revisada pelos Coordenadores Regionais dos

três estados durante a execução do projeto, sendo depois testada com a Coordenadoria

Regional da REASul no Paraná e com mais um participante da rede, baseada nessa primeira

coleta de dados, foram feitas as alterações necessárias para que este instrumento atingisse seu

objetivo.

A escolha dos entrevistados se deu de duas formas: através de convite no Boletim

Eletrônico da REASul de setembro de 2005 (Anexo D) e através de convite pessoal através de

e-mail a participantes da rede, que se complementaram e se consolidaram através de contato

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telefônico. A única exigência imposta era que os entrevistados não tivessem participado da

execução do projeto “Tecendo Redes de Educação Ambiental na Região Sul”, já que

integraram a equipe técnica da rede e se envolveram na constituição e efetivação da REASul.

Portanto, os membros da equipe gestora, os técnicos e estagiários contratados, foram

descartados da possibilidade de participarem da entrevista, para que o resultado da pesquisa

fosse o mais neutro possível.

A identidade dos participantes das entrevistas foi preservada, pois isso poderia

garantir a real expressão de suas opiniões, fossem elas positivas ou negativas. Eles foram

identificados através de uma letra, a qual se refere ao estado em que o entrevistado reside (P,

para Paraná; R, para Rio Grande do Sul; e S, para Santa Catarina) e um número, para que se

pudesse também refletir sobre a ação da REASul em cada estado da região Sul.

Foram realizadas 16 entrevistas, sendo 5 no Paraná, 5 em Santa Catarina e 6 no Rio

Grande do Sul, mas neste estado, uma foi descartada pela inconsistência de dados, pois o

entrevistado apesar de ter se disponibilizado em conceder a entrevista, pouco sabia sobre a

REASul.

Em relação aos entrevistados, 8 eram do sexo feminino e os 7 restantes do sexo

masculino, todos os com graduação e destes 8 com pós-graduação concluída e 2 em

andamento, variando de especialização, mestrado e doutorado. As áreas de formação

abrangiam educação, pedagogia, psicologia, serviços social, artes, biologia, jornalismo,

engenharia e gestão ambiental. Entre os entrevistados haviam professores universitários e da

rede pública estadual e municipal, funcionários de órgãos governamentais, representantes de

ONGs e ainda profissionais liberais e autônomos. Dessa amostragem de 15 pessoas, 9

afirmaram que participam de alguma outra rede, que não a REASul, em períodos que variam

de 1 a 5 anos. Destacando-se a REA-PR, a REABRI, a REBEA, e ainda redes locais

relacionadas às atividades desenvolvidas, como rede de professores e redes com temáticas

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bem específicas, como a Rede de Juventude pelo Meio Ambiente – REJUMA, além de listas

de discussão em Educação Ambiental (EA-Latina e Grupo de Educação Ambiental da Internet

- GEAI). Esse fator foi importante para avaliar qual era o conhecimento dos entrevistas sobre

o tema da pesquisa – redes, pois grande parte dos que interpretaram a REASul apenas como

uma lista de discussão, foram os que afirmaram não participar de outra rede.

5.2 A análise do material coletado

Para análise, tanto do material documental como das entrevistas, foi utilizada a

técnica de Análise de Conteúdo, uma técnica que “procura conhecer aquilo que está por trás

das palavras sobre as quais se debruça. (...) a análise de conteúdo é a busca de outras

realidades através das mensagens” (BARDIN, 1977, p. 44, grifo da autora), fundamentada

nos autores (as) Bardin (1977), Minayo (1994) e Moraes (1999).

Esta técnica tradicionalmente constitui-se num processo em que os textos recolhidos

passam por diversas leituras e pela análise propriamente dita, envolvendo três etapas:

primeiro, o recorte das unidades ou unitarização, que consiste no exame detalhado e na

fragmentação do texto em unidades de base; em seguida, a classificação, categorização ou

codificação, que estabelece uma nova relação entre as unidades de base, permitindo o

agrupamento de elementos semelhantes; e, por último, a representação do conteúdo articulada

com os referencias teóricos da pesquisa.

Sobre esse tipo de análise, Moraes (1999, p. 9) diz que:

A análise de conteúdo constitui uma metodologia de pesquisa usada para descrever e interpretar o conteúdo de toda classe de documentos e textos. Essa análise, conduzindo a descrições sistemáticas, qualitativas ou quantitativas, ajuda a reinterpretar as mensagens e a atingir uma

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compreensão de seus significados num nível que vai além de uma leitura comum. Essa metodologia de pesquisa faz parte de uma busca teórica e prática, com significado especial no campo das investigações sociais. Constitui-se em bem mais do que uma simples técnica de análise de dados, representando uma abordagem metodológica com características e possibilidades próprias.

A técnica escolhida foi compilada entre os três autores e adaptada, optando-se por

selecionar e agrupar os fragmentos por cores, o que permitiu a junção de temas semelhantes

que estivessem presentes nos mais diversos materiais analisados e entrevistas concedidas.

[...] o labor científico caminha sempre em duas direções: numa, elabora suas teorias, seus métodos, seus princípios e estabelece seus resultados; noutra inventa, retifica seus caminhos, abandona certas vias e encaminha-se para certas direções privilegiadas. E ao fazer tal percurso, os investigadores aceitam os critérios da historicidade, da colaboração e, sobretudo, imbuem-se da humildade de quem sabe que qualquer conhecimento é aproximado, é construído (MINAYO, 1994, p. 12-13).

A Análise de Conteúdo permite “optar por vários tipos de unidades de registro para

analisarmos o conteúdo de uma mensagem. Essas unidades se referem aos elementos obtidos

através da decomposição do conjunto de mensagem” (MINAYO, 1994, p. 75, grifo da

autora).

Dessa forma, durante a análise documental, foram criadas as seguintes categorias de

análise:

1) Realização de diagnóstico da EA na região Sul;

2) Eventos ambientais e educacionais em que a rede foi divulgada;

3) Comissão de Gestão Participativa da REASul - CGP;

4) Criação e disponibilização do site da REASul;

5) Montagem de um banco de dados;

6) Reuniões realizadas para divulgação da REASul;

7) Materiais de divulgação produzidos;

8) Divulgação eletrônica da REASul;

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9) Realização de parcerias;

10) Realização do II Simpósio Sul Brasileiro de Educação Ambiental, I Colóquio de

Pesquisadores em Educação Ambiental e I Encontro da REASul;

11) Conferência Infanto-juvenil de Meio Ambiente (2003);

12) Cursos ofertados pela REASul;

13) Ações de sustentabilidade para a REASul.

Mas “essas unidades podem ser combinadas dependendo da natureza do estudo”

(MINAYO, 1994, p. 75) e, conforme se percebiam temas recorrentes nessa primeira análise,

estes foram re-agrupados dentro de novas categorias, mais abrangentes, da seguinte forma:

? As categorias “eventos ambientais e educacionais em que a rede foi divulgada” e

“reuniões realizadas para divulgação da REASul”, tiveram seus dados aglutinados, em função

de que muitas reuniões eram preparatórias para eventos. Juntamente, também foi conjugada a

categoria “materiais de divulgação produzidos”, pelo fato de que foram produzidos com o

intuito de divulgar a rede em eventos e reuniões. Bem como a categoria “Conferência Infanto-

juvenil de Meio Ambiente”, por ser um evento.

? A categoria “criação e disponibilização do site da REASul” foi compilada com a

categoria “divulgação eletrônica da REASul”, por também se tratar de um meio digital de

divulgação.

? A categoria “montagem de um banco de dados” foi transposta para a categoria

“realização de diagnóstico da EA na região Sul”, pois o banco de dados foi produzido a partir

deste diagnóstico.

Estas categorias foram sendo reestruturadas, até que deram origem ao capítulo 3

desta pesquisa, sobre a REASul.

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Já em relação às entrevistas, as categorias foram estabelecidas usando-se como base

às próprias perguntas realizadas, visto que estas foram embasadas pelo resultado da análise do

material documental.

Dessa forma, estabeleceram-se as seguintes categorias:

1) Definição do conceito de rede de Educação Ambiental;

2) Estabelecimento do primeiro contato com a REASul;

3) Motivos para participar da REASul;

3) Pessoa de referência na REASul;

4) Objetivos e princípios norteadores da REASul;

5) Pontos positivos;

6) Pontos negativos;

7) Utilização de produtos e serviços;

8) Fundamentos de rede praticados ou não pela REASul;

9) Correspondência com as expectativas dos participantes;

10) Sugestões para melhoria.

Durante a análise das entrevistas e transcrição dos resultados, optou-se por trocar o

nome dos indivíduos da REASul citados por letras, a fim de preservar a identidade de cada

um deles.

A análise deste material foi rica, pois possibilitou educar o olhar da pesquisadora

sobre o objeto de estudo, especialmente pelo grande envolvimento com o mesmo. Essa

reformulação da visão inicial, não teria ocorrido sem a realização desta pesquisa.

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6. INTERPRETAÇÃO DOS DADOS

“Todo conhecimento começa com o sonho. O conhecimento nada mais é que a aventura pelo mar desconhecido, em busca da terra sonhada. Mas sonhar é coisa que não se ensina. Brota das profundezas do corpo, como a água brota das profundezas da terra” (Rubem Alves).

Neste capítulo são apresentados os resultados da análise das respostas dos

entrevistados às questões investigadas. Os dados foram agrupados nos seguintes itens:

6.1 Concepção sobre rede de Educação Ambiental

Entre as diversas significações que ‘rede’ vem adquirindo, apesar de não se limitar somente a elas: sistema de nodos e elos; uma estrutura sem fronteiras; uma comunidade não geográfica; um sistema de apoio ou um sistema físico que se pareça com uma árvore ou uma rede. A rede social, derivando deste conceito, passa a representar um conjunto de participantes autônomos, unindo idéias e recursos em torno de valores e interesses compartilhados (MARTELETO, 2001, p. 72, grifo da autora).

Como aponta Marteleto (2001), diversas foram as concepções dos entrevistados

sobre o que é uma rede de EA. Estas definições vão desde um espaço que proporciona trocas

entre os participantes, com o intercâmbio de experiências e informações no campo da EA,

passando pela identificação de um espaço de interlocução e articulação entre educadores:

(P1) É um espaço para troca de experiências, onde as pessoas participam espontaneamente, por ter algum interesse em comum, algo que compartilhe em princípio, assim como no meu caso, Educação Ambiental. É um espaço muito dinâmico onde as pessoas têm o espírito mesmo de estar partilhando suas informações, troca de experiências. Idéia reforçada por Fachinelli; Marcon & Mainet (2004):

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As novas formas organizacionais que convergem às competências informacionais e comunicacionais apontam para o trabalho em rede: indivíduos, empresas, organizações tecem laços que os tornam coletivamente mais inteligentes, mais ágeis e rápidos nas adaptações e respostas.

Essa comunicação é um tanto facilitada pelo meio virtual, que permite que as pessoas

que tenham acesso a essa ferramenta, possam interagir a qualquer momento, independente de

delimitações geográficas:

(S1) A rede pra mim é uma forma das pessoas estarem se comunicando, trocando informações, de locais diferentes, de distâncias diferentes. A Internet, o campo virtual, possibilitou com que várias cidades, estados, países, possam estar se comunicando. A questão da articulação em rede independente da distância entre as pessoas também

é trazida pelo sujeito R5 que afirma que uma rede de EA:

significa a interlocução, a aproximação da comunicação, independente de um meio geográfico. As redes servem para aproximar, divulgar e são construídas. Elas estão em constante construção e transformação e elas servem para articulações. Articulações que conforme Mance (2000, p. 24), permitem que haja troca entre as

diversas unidades, “fortalecendo-se reciprocamente, e que podem se multiplicar em novas

unidades, as quais, por sua vez, fortalecem todo o conjunto na medida em que são fortalecidas

por ele, permitindo-lhe expandir-se em novas unidades”. E esse processo de retro-alimentação

é o que potencializa as articulações das mais diversas instâncias.

(R4) É uma articulação entre pessoas que tem objetivos e executam atividades que podem ser potencializadas e podem ser fortalecidas numa rede, um trabalho do ponto de vista de abrangência territorial, de abrangência filosófica e ideológica. A idéia de rede também é apresentada como um ideal, um propósito unificador, que

“mantém a coesão entre os participantes, unifica elementos díspares, atuando como se fosse

uma força centrífuga” (LIPNACK; STAMPS, 1992, p. 11), permitindo que diferentes

convivam entre si, compartilhando princípios, valores, ideais e objetivos, que podem envolver

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entre outras demandas, uma Educação Ambiental emancipatória e formas de relacionamento

interpessoal e convivência diferenciadas.

(P2) A minha concepção sobre redes de EA é que elas são uma forma de organização de pessoas que se assemelha muito ao que nós pretendemos, que a EA resgate e até traga à tona valores que foram deixados de lado, como a convivência entre pessoas que pensam de maneira diferente, a negociação, a democracia, a participação, a aceitação dos contrários, a convivência com o divergente. Enfim, a rede trabalha num esquema solidário e é uma organização horizontalizada que eu acredito que ela tem muito haver com os princípios da EA. Esse ideal como a própria palavra suscita, pode estar relacionado com o interesse

pessoal de cada um ou ainda, conforme o entendimento de determinados conceitos de acordo

com a formação acadêmica e vivência pessoal e profissional do participante.

(S2) Uma rede é formada por pessoas, que lutam, que trabalham, que fazem suas atividades com um objetivo em comum, que é a melhoria de vida das pessoas e a qualidade ambiental. E apesar daquela representação característica que vem à mente, quando se pensa

numa rede ou teia, em que todos os elementos se interligam e se interfaceiam, suas

possibilidades de compartilhamento e interlocução, não podem deixar de serem exploradas e

incentivadas ao máximo:

(R3) Partindo do significado de uma rede, eu tenho em mente, a rede como uma teia, onde vai haver um centro, que é de onde se irradiam as ações previstas para serem executadas. Eu aprovo a questão de rede, vejo com muita simpatia desde que ela se estabeleça de uma forma repartindo tudo aquilo que lhe pertence em termos de opção, recursos, estudos, de compromissos, de direitos e deveres. A rede para ser efetivada realmente, deve ser apropriada por seus membros, porque

depende especialmente da ação e mobilização dos seus participantes, por .si só uma rede não

pode ser efetivada.

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6.2 O primeiro contato com a REASul

Essa questão objetivou levantar qual foi a estratégia utilizada pela REASul para a

integração e congregação de pessoas, averiguando se isso aconteceu apenas durante a

implantação da rede e realização do projeto ou se ocorre constantemente e até os dias atuais.

A análise das entrevistas verificou que o contato inicial se deu com alguns, logo no

início de formação da rede, quando ainda se escrevia o projeto para envio ao FNMA e se

procuravam parceiros para dar propulsão à idéia inicial, como foi o caso do sujeito P2 que

conheceu a REASul porque a instituição em que trabalhava foi convidada a integrar o projeto

“Tecendo Rede se Educação Ambiental na Região Sul”, como um dos representantes do

Estado do Paraná.

O sujeito R4 também conheceu a REASul quando a entidade que faz parte foi

contatada na tentativa de realização de parcerias e ações conjuntas ou colaborativas:

Eu conheci a REASul na “cozinha”, por eu estar trabalhando num órgão ambiental estadual e estar fazendo mestrado, e na mesma época estar trabalhando em um projeto de rede de Educação Portuária e nos articulamos com a REASul, em algum momento para avançar. Isso ocorreu na preparação do projeto, quando estava sendo preparado para ser apresentado no Fundo Nacional do Meio Ambiente. A realização de contatos para criação da REASul também foi realizado através de

listas de discussão em EA, como o GEAI - Grupo de Educação Ambiental da Internet e foi

através desta ferramenta que R5 soube da existência das redes de EA e do projeto para criação

e efetivação da REASul, que até o momento era apenas um sonho. E, posteriormente, quando

a REASul já havia sido criada, novamente o convite foi feito no GEAI para que outras

pessoas viessem a se integrar à rede:

(R1) Eu conheci a REASul logo no seu início, no final de 2002, início de 2003, a partir da solicitação de cadastro através da lista do GEAI por Y, o qual sempre foi o grande divulgador.

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Outra forma de articulação foi através da participação em reuniões com possíveis

parceiros, neste caso, com participantes de uma rede de EA que já havia sido formada, a

REABRI – Rede de Educação Ambiental da Bacia do Rio Itajaí, como descreve o sujeito S2:

Quando a gente começou com a REABRI, Y fazia parte da REABRI e teve uma reunião que ele participou e nessa reunião, ele, não sei se outras pessoas, tiveram a idéia de criar a REASul. E A partir daí ele começou a mobilizar a gente pra participar. E o sujeito S3:

Conheço a REASul desde o seu nascimento... Na época eu tava entrando na REABRI, a gente tava iniciando um momento de revitalização da REABRI, foi quando surgiu a proposta de construir a REASul. As estratégias de disseminação da REASul também envolveram a participação em

eventos (inclusive após o término do financiamento do FNMA), sendo que o II Simpósio

Gaúcho de Educação Ambiental, realizado em Erechim em 2004, o qual teve abrangência

regional, permitiu a divulgação da REASul e a sensibilização de novos membros, através de

exposição da rede em um stand exclusivo, da realização da oficina "Formação de

Facilitadores em Redes de Educação Ambiental" e a realização do II Encontro da REASul,

onde foram apresentados os resultados finais do diagnóstico da EA na região Sul.

(R2) Conheci a REASul acredito que tenha sido nesse II Simpósio de Educação Ambiental que teve em Erechim da região Sul e logo em seguida já recebi um e-mail de alguém que eu não lembro. E então no início desse ano de 2005, eu mandei um e-mail para Y, dizendo que eu tinha interesse em receber informações. (R3) Meu primeiro contato com a REASul foi no Encontro Ambiental realizado em Erechim/RS da URI que passei a ter contato. (P4) Eu conheci a REASul no ano passado [2004] em Erechim, no Encontro Gaúcho de Educação Ambiental. Conheci por intermédio de Y, que por um acaso, ficou ele e eu em uma livraria trocando idéias sobre Educação Ambiental e então ele me explicou sobre a REASul, qual era o propósito, qual finalidade, estimulando para eu participar desta rede.

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Apenas um entrevistado citou que obteve seu primeiro contato com a REASul

através do II Simpósio Sul Brasileiro de Educação Ambiental – II SSBEA, evento promovido

pela REASul em 2003:

(S1) Eu conheci num Simpósio de Educação Ambiental, onde Y que trabalha na UNIVALI, explanou sobre essa rede de informação e houve interesse e eu me cadastrei. Isso aponta para alguns fatores a serem repensados como: a abrangência regional do

evento; sua magnitude já que eram realizados três eventos paralelos; a falta de estruturação da

rede para congregar pessoas num evento que tinha isso como meta; a falta de cultura de redes

na época, pois a maioria das redes de EA encontravam-se em fase de implantação ou

efetivação; ou outro fator que não se pode mensurar pela documentação analisada.

Por outro lado, a articulação realizada anteriormente, quando ainda se realizavam

parcerias para consumação do II SSBEA, permitiu o estabelecimento de um importante elo

para a REASul:

(S5) Conheci aproximadamente há uns três anos, Y nos procurou como Secretaria de Meio Ambiente, solicitando o nosso apoio em um evento grande que foi feito em Itajaí. Então foi nesse momento que a gente passou a ter conhecimento da rede, o que ela tava fazendo e a participar dela . Um dado importante que foi contatado, é que embora algumas pessoas façam parte

da REASul, não sentem-se integrantes da mesma:

(R3) Na realidade eu não faço parte da REASul, eu recebo boletins e informações através de Y, permanentemente tenho mantido contato com ele. Talvez essa seja uma das principais deficiências da rede, a falta de interlocução com

seus membros através de outros meios que não apenas a participação em listas virtuais ou

ainda a deficiência em esclarecer, articular e incentivar seus membros a agirem como uma

rede.

Outro fator relevante é a citação do Coordenador do projeto em grande parte das

respostas, o que demonstra que além dele ter sido o grande idealizador da REASul, também

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não poupou esforços para que a proposta inicial torna-se um rede. Mas isto também

apresentou um lado negativo, pois a rede ficou muito atrelada a sua pessoa, fazendo com que

os participantes da REASul encarassem-no como o responsável por todas as demandas e

articulações, esquecendo que também são responsáveis pela gestão dessa rede e que dessa

forma, também deveriam ser mais participantes e atuantes, inclusive na divisão de tarefas.

6.3 O impulso para participar da REASul

Nesta questão, procurou-se investigar qual foi o motivo que levou pessoas a

participarem da REASul, visto que “a interligação em rede, de pessoas e/ou entidades, se

estabelece a partir da identificação de objetivos comuns e/ou complementares cuja realização

melhor se assegurará com a formação da rede” (WHITAKER, 1993).

Muitas foram as argumentações para expressar o interesse em participar da rede,

dentre as quais se destacando-se a falta de espaços para a realização de discussões sobre EA e

assuntos correlatos e o contato com outros educadores. O que pode ser proporcionado pela

rede; a qual congrega pessoas com os mesmos objetivos, possibilitando intercâmbios

intelectuais, culturais, sentimentais, o que na maioria das vezes é facilitado pelo uso das

tecnologias virtuais, como explicitado pelos sujeitos a seguir:

(P4) Basicamente foi por trocar informações sobre Educação Ambiental. [...]. Eu gostei muito da proposta, justamente por estar possibilitando o contato, a formação dessa rede entre educadores ambientais para que a gente possa estar trocando conhecimentos, informações e isso, efetivamente, motivou para que estivéssemos participando. (P2) Pela importância das redes como elos, como instrumento de difusão, disseminação do saber ambiental e do processo formativo de educadores ambientais.

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(P1) Bom, o maior de todos foi acreditar na filosofia de rede, de você estar compartilhando, e uma das quais que eu noto, assim enquanto Instituição Pública, é que tem uma dificuldade enorme em se buscar informações e de se encontrar espaços de discussão aqui no Paraná. Então, a gente acredita que a REASul é um instrumento que tá fazendo isso, de articulação para quem trabalha com Educação Ambiental possa estar se informando e até se formando. (S4) Pela possibilidade da troca de informação e conhecer as ações que deram certo e também o que deu errado, pra não repetir, para servir de experiência. (R1) Informação, basicamente a troca de informação entre pessoas com o mesmo objetivo. Porque eu vejo uma característica nessas redes, que é a atualização das informações, tudo que interessa às áreas, alguém já coloca algo sobre aquilo e os interesses em comum facilitam. É on-line, então estabelecer um diálogo, contatar com as pessoas é muito mais fácil através das redes. (S2) Acho que a integração das pessoas da região Sul que fazem, que trabalham com Educação Ambiental foi bem legal, porque através da REASul a gente acabou conhecendo um monte de gente, até de cidades próximas que a gente nem imaginava que fazia alguma coisa de EA. E através da REASul a gente conseguiu conhecer as pessoas, integrar nossos projetos, então quando a gente tem de fazer alguma coisa, sabe onde encontrar as pessoas certas e isso é bem interessante.

Essa troca de informações específicas e com pessoas dos mais variados níveis

formativos e áreas de conhecimento, também foi crucial para pessoas que estavam realizando

pós graduação no momento em que estabeleceram seu primeiro contato com a rede:

(R4) A possibilidade de articulação e principalmente intercâmbio, no momento eu tava na área acadêmica e me possibilitou saber o que as pessoas estavam fazendo por ai. Isso foi um caminho ótimo. Além de se poder buscar, trocar de informação e interagir com pessoas com os

mesmo interesses, não abarcando apenas pessoas que estão se graduando, se especializando,

mas também para quem ministra aulas, como é o caso de S1:

O fato de eu estar fazendo doutorado e a minha linha de pesquisa estar enfocando a questão ambiental e o meu trabalho como professor em sala de aula também estar enfocando a questão ambiental. Sou professor de biologia e de matemática também, então procuro estar sempre envolvendo as questões ambientais nos problemas, então isso me direcionou para eu estar buscando informações, o que outras pessoas estão fazendo.

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A disseminação de saberes e a divulgação de produção científica aos mais diversos

âmbitos, foi citado por R3 como um elemento motivador para que participasse da rede e

acrescentou ainda que a rede deveria fomentar esta possibilidade:

(R3) Eu vejo de extrema importância a partilha, temos a apreender com os demais colegas de outras instituições, como também temos a oferecer em contrapartida, ... enquanto existe partilha, eu acho que as instituições envolvidas começam a cumprir as suas funções básicas que é disseminar sua produção científica (além de produzir cientificamente e manter arquivada essa produção). Então vejo na REASul e em outras redes que venham a ser criadas, uma perspectiva muito interessante para nós estarmos participando da discussão e inovação na área de EA, o que deram certo, as ações que estão sendo beneficiadas e também levar as nossas a nível de estado para estarmos no conhecendo.

Alguns ainda se sentiram motivados pela abertura propiciada pela rede, permitindo

que cada participante faça parte de sua construção, pois segundo Whitaker (1993), “em uma

rede todos são iguais, todos têm iniciativa, todos são sujeitos de sua ação e co-responsáveis

pela ação da rede, todos guardam sua liberdade”. Além de que o contato inicial e a

receptividade da REASul, foi importantíssimo para que P3 fizesse parte desta rede:

(P3) Justamente essa questão da abertura, do contato, da troca de idéias, das oportunidades, foi o único lugar em Curitiba que eu encontrei. Embora eu tenha visitado várias instituições, vários grupos que trabalhavam com Educação Ambiental, apresentando o meu trabalho, nunca ninguém me deu um retorno, o qual deu a REASul. A divulgação de um modelo de organização diferenciada, o qual tenta exercer

diversos princípios, também é instigante, pois foi o que fez com que R5 participasse da rede

para “conhecer o processo de articulação dessa rede”.

Mas a própria articulação em rede nos indica que ainda não foi possível alcançar esse

ideal, apesar de se estar tentando trilhar esse caminho, fazendo com que a articulação em rede

ainda seja uma utopia, ou melhor, algo que se está buscando num futuro próximo.

Esse fator depende única e exclusivamente de seus participantes, dessa forma, se eles

não se sentirem motivados a participar ou a buscarem algo na rede, não serão ativos e

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dificilmente se disponibilizarão para atuar em prol da rede, como é o caso de P5, que não foi

impulsionado a integrar a rede por interesse pessoal, mas por circunstâncias ocasionais:

(P5) Eu na verdade nunca me senti motivado a participar da REASul porque eu nunca tive trabalho em SC e no RS, nunca tive integração com esses outros profissionais, talvez até deveria, mas eu acredito que não há um elo forte entre PR, SC e RS, pela própria estrutura... Eu entrei na REASul porque começou esse projeto, esse programa de governo para esse edital do Fundo Nacional do Meio Ambiente e a gente criou um vínculo com o pessoal da REASul. Então foi por causa desse vínculo de conhecimento com as pessoas. Eu entrei mais formalmente, pra dizer que eu entrei, não é pelo fato de que eu não quisesse participar, mas eu não estava motivado a participar, é que eu não via uma ligação direta da REASul com o meu trabalho. Diferente do Paraná, onde eu tive uma ação com os técnicos dentro do estado, uma ligação muito forte com as pessoas [...]. Então eu acabei entrando por motivos formais, de amizade, de conhecer as pessoas, em atendimento de solicitação informal de pessoas, não foi por haver uma interlocução natural. Essa afirmação induz a refletir o quanto a entrada de novos membros à rede tem de

ser espontânea e não induzida, como pode acontecer quando o indivíduo é obrigado a

participar pelo fato de exercer um determinado cargo dentro de uma instituição, especialmente

quando se trata de uma instituição pública. Portanto deve-se levar em conta que o que vai

constituir a rede não é um número elevado de membros, mas seus interesses e a motivação

despertada para atuarem em rede, como afirmado por Zanoni (2004, p. 47), baseado em

Inojosa (1999, p. 26 – 27):

Também é vital para a sustentabilidade da rede, o processo de mobilização para a participação e para a ação. Para Inojosa, a visibilidade da sociedade sobre si mesma, embora motive um estado de prontidão para ação, não é suficiente para desencadeá- la. “Para que a mobilização ocorra é preciso construir imaginários capazes de mobilizar, identificar e instrumentalizar reeditores e gerar processos de coletivização”, ou seja, através da utilização da idéia-força, “mobilizar a paixão e gerar condições de adesão voluntária à rede”.

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6.4 A identificação dos objetivos e princípios norteadores da REASul

As redes se estabelecem porque seus participantes comungam objetivos e

paralelamente, estas pessoas também têm princípios e valores em comum. A REASul tem

como objetivos:

1) Integrar as ações em EA no três estados do Sul, através da criação e consolidação

da REASul;

2) Estruturar um serviço interinstitucional de informação através de websites para

difusão de informações em EA;

3) Promover um diagnóstico do estado da arte em EA na região Sul;

4) Desenvolver a cooperação técnica de serviços de informação e comunicação

eletrônica entre as instituições participantes, com o SIBEA, a REBEA e outras redes

estaduais, para a difusão de informações, conhecimentos, aspectos teórico-metodológicos e

práticas educativas relacionados à EA;

5) Fomentar a estruturação e o fortalecimento de elos regionais e núcleos de pesquisa

em EA, para capacitação de agentes/educadores ambientais, e de pessoal para manutenção dos

processos de sustentabilidade de redes informacionais.

Todos os entrevistados, sem exceção, afirmaram não conhecerem os objetivos e

princípios norteadores da rede. Fato que demonstra que os membros da REASul não têm claro

ou não deixam isto claro quando novas pessoas ou entidades manifestam interesse em aderir à

rede, o que pode trazer frustrações e descontentamentos futuros.

Os participantes então foram instigados a responder quais seriam em suas opiniões

estes princípios e objetivos e uma série de afirmações surgiram, permeadas por aquilo que

eles procuram ou objetivavam na rede, visto que [...] “a morfologia das redes de compromisso

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social constituem um processo de flexibilização contínua e podem adaptar-se dinamicamente

aos contextos particulares e situacionais, das ações que objetivam, através das ações dos

membros que as integram” (ZANONI, 2004, p. 41).

A disseminação e troca de informações e experiências na região Sul, aparecem como

sendo o principal objetivo da REASul:

(R1) Não tenho uma idéia do que a rede propõe num sentido mais amplo, eu entendo que basicamente é informação, de concentrar informações pertinentes ao interesse daquele grupo, estabelecer discussões e informar. (P1) Bom, acho que o objetivo principal, é estar disseminando informações e estimulando a discussão sobre EA. (P4) [...] possibilitar a integração e a troca de informações e conhecimentos entre o Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Além dessa possibilidade, também surgiu a possibilidade de integração e realização

de ações conjuntas:

(P5) [...] imagino que seja interlocutar, interligar, criar caminhos de comunicação ou canais, fazer os nós se comunicarem com os educadores ambientais, ai vem a troca de experiências, de informações e eventualmente um trabalho conjunto. Você tendo conhecimento do que determinada pessoa faz, como eu que trabalho numa linha diferente, de repente criar uma parceira. Além de divulgá-las:

(S5) Essa questão da integração de pessoas e ações de Educação Ambiental acho que é o objetivo maior. Acredito eu que seja estar proporcionando a divulgação dessas ações, programas e uma série de coisas na EA. Seguindo essa mesma linha, outro objetivo seria a integração de educadores,

pesquisadores, promovendo e fortalecendo a EA no Sul do Brasil, além de diagnosticar a EA

na região:

(S2) Não lembro, mas deve ser integrar as ações efetivas da Região Sul, formar o banco de dados das atividades de EA aqui na região, promover mais atividades relacionadas à Educação Ambiental, estimular que essas atividades aconteçam. (S4) Acredito talvez que seja integrar as várias correntes de Educação Ambiental, vários grupos de pesquisa de atuação no Sul do país,

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envolvendo e articulando cada vez mais pessoas, articular mais grupos, tentar trocar informações. (S3) Até as informações que eu tenho, os princípios são integrar os estados do Sul na promoção de ações da Educação Ambiental. (R5) Eu acredito que seja articular os educadores ambientais da região, para promover a troca de experiências e também para fortalecer ações desses educadores, até junto a órgãos públicos, buscando recursos para efetivar ações desses educadores que participam da rede. Divulgar, fazer diagnósticos, dizer como está a Educação Ambiental aqui no Sul. Informar também, eles tem boletins informativos que eles mandam para as pessoas. Apesar de sua abrangência regional, a REASul procura fazer a ponte dessa realidade

sulista com aspectos nacionais e globais, visto que está integrada a outras redes, inclusive de

âmbito nacional, como a REBEA:

(R4) Na realidade a articulação entre as diversas atividades de Educação Ambiental no Sul do Brasil é um canal de articulação e também de comunicação entre todas as pessoas que trabalham com Educação Ambiental. Também tem o objetivo de mapear as ações, as atividades e os projetos, principalmente PR, RS e SC e mundo, articular com o Sistema Brasileiro e a própria REBEA, no sentido de fortalecer uma política pública de trabalhar em redes. (R2) [...] acredito que seja um espaço para o diálogo entre pessoas que tenham interesse para discutir a questão da Educação Ambiental, não só na região Sul, mas também no Brasil e porque não falar no mundo. Outro objetivo seria a participação da rede em eventos, algumas vezes auxiliando na

articulação e realização dos mesmos, foi identificado como um objetivo e ação realizada pela

REASul, bem como cursos e palestras:

(P4) [...] acho que a REASul tem como objetivo também promover eventos não só educativos, mas também cursos, palestras, dando subsídios para que aconteçam. Outro dado instigante que surgiu durante a realização da pesquisa, foi a diferenciação

feita entre a REASul durante a realização o projeto “Tecendo Redes de Educação Ambiental

na Região Sul” e após o término do projeto, dando a entender que a rede teve duas fases

bastante distintas, com objetivos diferenciados:

(P2) A REASul está de parabéns por ter continuada até agora, pelo fato de que ela começou de uma maneira institucional. Não que esse fato seja

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negativo, destrutivo, mas é que ela foi um trabalho que o Governo queria que fosse feito, que era o diagnóstico e optou por fazer através das redes e fomentou a atenção das redes. Então se supõem o seguinte: acabou o diagnóstico, acaba a rede e não é bem assim. As redes são compromissos e muitas vezes elas garantem determinadas realizações que nenhuma outra organização pode garantir, então a rede não se acaba assim. Eu acho que a REASul começou de cima para baixo como uma decisão institucional do Governo Federal, ela teve uma tarefa ingrata, extremamente ingrata que foi a questão dos diagnósticos dos projetos, mas isso absolutamente não a impede de encontrar sua verdadeira identidade e de trabalhar junto com as redes estaduais, que devem haver, trabalhar em parceria, em cooperação para fortalecer os projetos que estejam sendo feitos, atender processos formativos de educadores ambientais e, realmente, contribuir para o crescimento e para a divulgação da EA nos estados do Sul. Apesar da REASul ter sido criada um pouco antes do edital do FNMA, foi através

desse financiamento que realmente a rede iniciou suas articulações de forma mais efetiva, mas

essa estreita relação entre o surgimento da rede e a promoção inicial da mesma pelo fomento

recebido a fez parecer, ou melhor, se estabelece como uma rede “induzida” e não como uma

rede “espontânea”.

No âmbito da sociedade civil, o nascimento de redes ocorre por geração espontânea. Surge naturalmente como opção de organização de ações coletivas, nitidamente num processo de auto-organização. Redes que surgem assim possuem visivelmente uma qualidade diferente daquelas nascidas a partir de processos de indução. Elas “pegam” mais facilmente e têm mais organicidade do que as redes induzidas. O motivo talvez seja a existência, no caso das redes de geração espontânea, de uma base prévia de ação em rede não explícita e uma "dinâmica de comunidade" latente no âmbito do grupo, que necessitou ser apenas atualizada e trazida à superfície. O senso de pertencimento ao projeto coletivo é algo já dado em processos desse tipo. Ao contrário, no caso de redes induzidas, a construção da rede exige que se faça ainda a elaboração de laços de pertencimento ao grupo; em outras palavras, exige que se execute um movimento de “grupalização”. Como isso é resultado da maturação das relações sociais no âmbito da rede, redes nascidas a partir de processos de indução necessitam normalmente de mais tempo para se tornarem orgânicas e coesas (COSTA et al., 2003, p. 55, grifo dos autores).

Essa ligação com o Governo Federal propiciada pela financiamento, a deixou com

uma aparência muito mais institucionalizada e a realização do diagnóstico, o qual era um dos

objetivos do projeto e da REASul, contribuiu para que se tivesse uma idéia errônea desta

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ação, a de que serviria apenas como contrapartida ao financiamento, já que se visava também

a alimentação do SIBEA (um sistema de inserção e disponbilização de informações de ordem

governamental), como uma troca de favores. Um erro que os próprios integrantes do projeto

identificaram e que foi percebido e sentido dentro da rede, foi o grande direcionamento de

esforços para a realização deste diagnóstico (já que havia prazos para o cumprimento desta

meta), deixando um pouco de lado o estabelecimento da REASul como uma organização em

rede e sua consolidação, com a articulação de suas ações através de novos membros que se

direcionassem principalmente para a divulgação da rede e para a realização de novas

parcerias.

Mas este diagnóstico apesar de ter comprometido as ações da REASul para

sua real efetivação foi de grande valia para a EA, como será relatado no item

seguinte, quando será abarcado os pontos positivos da REASul

(P2) Eu acredito que os princípios norteadores da REASul, num primeiro momento, uma vez que ela foi criada a partir de um edital do FNMA, foi para fazer um levantamento, um diagnóstico dos programas e projetos ambientais em desenvolvimento nos estados brasileiros. E naquela situação, a primeira intenção que motivou o FNMA, a financiar a organização de redes estaduais e regionais e assim a primeira finalidade da REASul, foi através dos mecanismos de rede, levantar os diagnósticos, levantar os principais programas, projetos de EA. Acredito que esse é um interesse governamental, certamente com seus motivos, com suas finalidades, porém ele não deveria ser o único e nem não ficar apenas no aspecto de levantamento quantitativo. Mas, enfim, não houve tempo de se fazer o levantamento qualitativo, porque a preocupação era alimentar um banco de dados. Isso é que entendo foi o primeiro objetivo da REASul. A partir daí, o próprio Y e os demais componentes entenderam que a REASul deveria cumprir outras finalidades, disseminando os princípios da EA, promover atividades de formação de professores, divulgar ações de Educação Ambiental, enfim, extrapolar a questão do diagnóstico solicitado. Dois dos entrevistados preferiram não opinar, ressaltando a questão de que não

tiveram acesso a algum material que se referisse a isso. O folder e o site da rede trazem essas

informações, mas vê-se que ou as pessoas não têm acesso a este tipo de material, ou não estão

tão explícitos como deveriam.

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(R3) Não tenho tido acesso a essa questão da REASul, não sei mesmo, até em parte porque não consegui acompanhar o encontro da REASul em Erechim [...]. Aqui fica uma reflexão, a de que os membros da rede devem periodicamente rever

suas metas, bem como seus objetivos, pois constantemente a rede faz novas conexões e essas

pessoas podem trazer novas contribuições e sugestões.

Pois como alerta Costa et al. (2003, p. 55):

O projeto da rede deve ser resultado de uma pactuação coletiva. Por isso, novos membros convidados ou participantes que se integrem ao processo depois do projeto ter sido formulado precisam tornar-se co-autores dele. E isso é feito por meio do debate permanente sobre os princípios de funcionamento e os propósitos da rede.

6.5 Identificando as potencialidades e limitações para implantação, estabelecimento e

gerenciamento da REASul

A rede é potencializada também pela sua diversidade, por envolver tanto instituições

públicas, privadas, pessoas, pesquisadores, o pessoal que trabalha em sala de aula, que tá

fora, que trabalha com gestão, com fomento (P1).

Mas esta diversidade de pessoas, com pensamentos e vontades diferentes, pode gerar

dissabores se não for bem administrado, pois como afirma o sujeito R3:

Eu não posso citar problemas, eventualmente devem ter porque é uma instituição, uma rede que reúne pessoas e instituições e enquanto reunir pessoas e instituições diferentes vai ter problemas sempre, se até em casa tem, quem dirá quando há reunião de gente de outras instituições e às vezes de longe, que não estão juntas no cotidiano. A abrangência da rede englobando os três estados da região Sul foi citada como uma

dessas potencialidades, visto que tem a pretensão de aproximar, integrar e articular um maior

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número de educadores, com diferentes experiências nesta região que mesmo pequena é

extremamente diversificada:

(P4) Acho que é uma coisa bacana, justamente por ser um tanto quanto ampla, abrangendo os três estados do Sul, porque, querendo ou não, favorece algumas coisas, como possibilitar atividades integradas, fazendo com que o educador do Paraná tenha contato com o educador do Rio Grande do Sul, que, jamais fora desse contexto, eles se encontrariam e descubram afinidades, troquem informações. (P1) Essa diversidade como já comentei, o contexto de três estados. Essa articulação é muito rica, pois o estado do Paraná tem um contexto, e o Rio Grande do Sul e de Santa Catarina tem outros contextos. (P2) Eu considero a principal virtude, é a aproximação das pessoas que trabalham com Educação Ambiental nos três estados, Santa Catarina, Paraná e o Rio Grande do Sul e acredito que essa aproximação se faz entre pessoas, que pensam, que sonham que acreditam, que trabalham pelos mesmos propósitos. Mas esta abrangência também aumenta o desafio da rede em se estabelecer, pois

quanto maior o território, mais numerosas deverão ser as articulações para construção de elos,

de modo que a rede consiga realmente se disseminar. São três estados com contextos

diferenciados, por mais que estejam localizados na mesma região.

A realização do diagnóstico da EA na região Sul demandou muitos esforços por

conta dos integrantes do projeto “Tecendo Redes de Educação Ambiental na Região Sul”,

mas foi visto como sendo positivo, pois:

(S3) O levantamento que a REASul fez das atividades de EA nos 3 estados, aquele diagnóstico, é um ponto positivo, pela primeira vez se tem um raio-X, um panorama do que é feito em EA, tudo bem que o sistema é incompleto, mas valeu, foi um esforço, temos que levá-lo em consideração. É lógico que ele não representa também a realidade, não é um levantamento completo, é um levantamento espontâneo. Precisa ser aperfeiçoado com um próximo diagnóstico. E o sujeito P2 ainda complementa:

Essa questão do diagnóstico é uma questão complexa, porque a partir do momento em que ele estava sendo feito, já era ultrapassado por novos que foram gerados, projetos que iam surgindo. Nem o número de projetos ou o tipo de projeto que já existia, não foi possível levantar todos, nem mesmo na época em que estavam sendo feitos. Agora teria que ser feito uma revisão, pois já tem projetos que já encerraram, outros que foram interrompidos por

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falta de recursos, outros que se ampliaram e novos programas. Então, ele é um diagnóstico sujeito a mudanças e modificações históricas e de qualquer forma, não deixa de ser a representação de uma realidade, poderia ser como um ponto de partida, como uma referência. Outra potencialidade identificada foi a divulgação e troca de informações que são de

suma importância para se saber mais sobre Educação Ambiental.

(P3) Eu acredito que é extremamente importante, porque ela traz informações que muitas vezes não temos tempo de adquirir através de leitura e televisão, isso no meu caso pessoal, particular, em que eu não tenho tempo de TV. Ela traz essa oportunidade de ler coisas importantes que outras pessoas estão inserindo na rede, estão trazendo para nós, e também em contrapartida, quando eu vejo algo muito interessante também passo para as outras pessoas. As ferramentas utilizadas para esse fim envolvem o Boletim Eletrônico, a lista de

discussão da CGP e ainda (P5) a página da REASul na Internet que é um local que sempre

traz informação. (R3) São virtudes alcançadas pela REASul, não reservando só para si, mas

sim partilhando com o todo.

Além de que há (R4) a possibilidade de se usar o meio eletrônico, a Internet para

potencializar a comunicação entre os diversos atores que trabalham com Educação

Ambiental.

“O sucesso da Internet advém, portanto, das facilidades de conexão e do seu uso,

predominantemente gráfico, de fácil aprendizado e uso. [...]. Desta forma, a Internet torna-se

um dos principais meios de criação, transporte, difusão e armazenamento de informações”

(JAMIL et al., 2000, p. 45). Mas, ao mesmo tempo em que facilita o contato entre as pessoas

e a divulgação de informações, as ferramentas virtuais também acarretam problemas:

(R1) Acho que o maior problema ao meu entender, é o próprio meio, a questão da informática, pessoal disponível para manter aquela fonte alimentada, porque não pode ficar nada estagnado, não basta colocar algumas notícias, algumas atualizações de calendário e esquecer. É um trabalho difícil, porque as pessoas que trabalham são sempre voluntários, então acho que isso é uma dificuldade.

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Cabe ressaltar que para manter esse espaço funcionando, há necessidade de

dedicação, de um mediador ou facilitador da rede, o qual não poderia e nem deveria agir

sozinho, fator esse que é visto como uma das dificuldades da REASul. O não

comprometimento das pessoas em auxiliarem ou se disponibilizarem para realizar esta tarefa

ou mesmo se revezar com quem assumiu este papel. Isso também se agrava pelo fato de não

haver recursos materiais para custear uma pessoa que assumisse exclusivamente esta função e

por serem muito poucos os membros que se disponibilizam em oferecer recursos humanos

para animação da rede.

(P1) Eu acho que a dificuldade de gestão, tanto da informação quanto do aspecto físico, mesmo para se poder atualizar o site, informações às listas, [...] é algo que tem que tá pensando muito, pois sempre tem um certo custo, da pessoa que está trabalhando como moderador, ou do grupo. Os próprios equipamentos, você precisa hospedar o site, então, acho que as principais dificuldades é tanto a questão da gestão da informação quando é muito grande a rede, quanto da estrutura física mínima. Tentando burlar essas adversidades, atualmente os integrantes da CGP podem inserir

notícias no site através de um login e senha pessoal, o que foi aprovado por P1:

[...] a questão do site ser auto-sustentável, da pessoa poder entrar lá com uma senha e ela mesma estar atualizando as informações, colocando assuntos, descentralizar um pouco da pessoa que facilita a rede, acho que isso foi bem positivo. Outro empecilho apresentado é em relação à articulação entre educadores através de

lista de discussão, visto que todo o grupo recebe as mensagens enviadas por qualquer membro

da rede e grande parte dos participantes de listas, não utilizam este recurso como deveriam e

acabam por lotar a caixa postal dos participantes, causando irritação e desmotivação. Além de

um espaço comum onde todas as mensagens da lista ficassem disponíveis para consulta:

(R2) Às vezes os e-mails que vêm são muito ruins de ler, porque vem com alguns recortes que não fazem parte da mensagem. Quando a gente vai reenviar pro grupo, ainda tem gente que não sabe limpar a mensagem e mandar só o que interessa, vem cheio de fragmentos, de coisas que não interessam. Se usasse o sistema tipo fóruns onde se coloca um espaço nosso, um site, por exemplo, não só através de e-mails, um local que se pudesse entrar lá[ ..], um espaço onde as discussões possam ser geradas e

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o andamento das discussões fica lá ao longo do tempo [...]. Então eu acho que a dificuldade ainda seria isso, esse espaço onde se pudessem guardar todas as experiências que surgem de muito tempo que através dos e-mails não se mantém. Outra deficiência apontada foi a não realização de encontros presenciais pela

REASul, o que ocorre especialmente pela falta de recursos para possibilitar que as pessoas se

desloquem para o local do encontro, ou subsidiem seus próprios custos, até mesmo quando

estes encontros ocorrem paralelamente a algum evento maior.

(S4) Acho que de repente o estímulo a encontros no Sul pudesse ser facilitado por um grupo que tivesse dinheiro mesmo para fazer isso. Eu penso que esses encontros corpo-a-corpo precisam acontecer. (S2) [...] a distância também ajuda a esses encontros presenciais não acontecerem, a falta de apoio por um órgão de fomento maior, do governo, por exemplo, do estadual, porque tudo tem um custo e as coisas não andam sem dinheiro. A questão da sustentabilidade das redes também foi apontada como uma de suas

maiores dificuldades:

(P2) As redes de um modo geral enfrentam um grande problema, que é a questão da sustentabilidade. As redes, na verdade, elas deveriam ser sustentadas pelas instituições que as compõem, o princípio da rede é este. Só que até agora nós não conseguimos sensibilizar (não sei se é este o termo), porque as instituições que fazem parte, muitas são sensibilizadas para isso. Mas também não têm recursos para investir nas redes e na sua manutenção, então tendo os equipamentos para a questão do virtual, para a informatização dos serviços, já fica mais fácil. Falta de contrapartida dos elos e os recursos que por vezes são escassos, acabam por

impedir o investimento em equipamentos que auxiliariam a articulação da rede e mesmo na

sua divulgação.

Vários foram os pontos positivos apontados dentro da REASul, que propiciaram e

continuam propiciando sua consolidação e que podem ser realmente vistos como

potencializadores da rede.

(S2) Essa questão da horizontalidade, dessa forma de gestão que não tem uma hierarquia definida, todo mundo pode participar, a qualquer hora, em qualquer momento, em qualquer atividade. É bastante interessante, aquela

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coisa que a gente chama de empoderamento, todos somos autônomos para poder fazer alguma coisa ali dentro e isso acaba acho refletindo na própria vida da pessoa, porque a partir daí ela vai se percebendo como importante, como quem tem o poder de decisão e começa a fazer outras coisas dentro do seu âmbito local. A falta de cultura de redes, até por ser algo novo, faz com que as pessoas não

pratiquem seus princípios norteadores, que por vezes parecem obscuros ou são praticados

conforme o entendimento de cada participante em relação aos mesmos:

(S3) A principal dificuldade é a inexistência de uma cultura de rede de educadores. De certa forma é uma coisa bastante nova, tem essas experiências no Brasil a pouco mais de dez anos, então isso dificulta uma ação assim qualificada das pessoas num trabalho em rede. Ai teria também uma outra dificuldade que é reflexo dessa cultura de rede que é as pessoas trabalharem cada uma no seu trabalho, no seu programa, sem buscar uma articulação em rede, essa é a principal dificuldade. Um dos entrevistados acha que a rede é horizontal porque todos os participantes

podem esboçar opiniões e repassar informações através da lista de discussão: (S1) ela te dá

liberdade de você estar expondo suas experiência e idéias.

Outro, entrevistado julga a REASul como uma rede hierarquizada, especialmente no

que diz respeito às formas de gestão e divisão de tarefas: (P2) sinto na REASul, uma certa

hierarquização, nunca observei discussões reais da gestão da REASul.

A questão da horizontalidade também é questionada por S3, que também aponta

quanto é difícil exercer este princípio:

[...] ficou muito centralizado numa instituição e numa pessoa, ou seja, ficou centralizada na UNIVALI, na pessoa do Y. Talvez essa seja a maior dificuldade, centraliza muito a rede, ela não pode ter a personalidade de uma pessoa e de uma instituição, porque a rede não é uma instituição, ela é um arranjo de pessoas, que tem que ter essa convicção e isso não ficou claro nesse trabalho em rede. Uma instituição puxou, uma pessoa puxou, outras se agregaram, mas a divisão de papéis acho que não foi equilibrada, de certa forma ficou tudo personificado numa só instituição, numa pessoa e essa foi a pior dificuldade, porque esse trabalho de promover essa articulação com as pessoas e com as instituições é muito delicada, tem de ter muito cuidado e se não tiver cuidado ao se fazer isso, a cultura e hábito de pessoas e instituições atrapalham o processo.

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Neste item foi interessante constatar que em alguns casos, as pessoas se identificam

como fatores para o sucesso ou insucesso da rede, visto que são elas que devem articulá- la e

são responsáveis pela mesma. Apontam como principal empecilho para isso a falta de tempo

ou de disponibilidade para atuarem na rede de forma mais efetiva:

(S2) Ai não tenha nada haver com a rede, mas é que hoje as pessoas trabalham demais e a gente praticamente não tempo pra se dedicar à constituição dessa rede propriamente, dos encontros locais, então isso tudo acaba ficando prejudicado. Eu não vejo como comodismo, eu vejo mais como falta de tempo mesmo, com a rotina que a gente leva fica bem complicado. Ainda aparecem outros fatores, como o fato do integrante ter ínfima participação nas

ações da rede:

(P3) [...] eu tenho poucos contatos para poder apontar problemas, porque, até o momento, eu só tive mesmo o contato com as coisas boas que a rede nos traz, as informações, como esse tipo de coisa. No momento não vejo nenhum, mesmo porque no momento, eu só estou mesmo inserida com as informações, eu não estou participando de nada do grupo. Há também os otimistas que afirmam não verem problema, fator desencadeado pela

rede atender suas necessidades. Mas será que os otimistas realmente têm em mente de que a

rede é um sistema dinâmico que necessita da participação efetiva deles para funcionar?

(S1) À princípio não vejo problemas, porque o que me interessa é o que as pessoas escrevem. (S5) Não percebo pontos negativos, deve existir, ter alguns, mas eu não poderia citar realmente, seria injusto se eu citar alguns. Os empecilhos citados necessitam ser superados para promover contatos mais

efetivos entre os membros da rede. Para tanto, seria interessante levar essa questão para

discussão entre os integrantes da rede, para que juntos, sugerissem possíveis resoluções ou

mesmo estratégias de burlar as adversidades.

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6.6 A utilização dos serviços e atividades promovidas pela REASul no período de 2002 a 2005

Tabela 1: SERVIÇOS E ATIVIDADES PROPORCIONADOS PELA REASul.

SERVIÇOS E ATIVIDADES Nº de Votos %

Informações sobre eventos (seminários, congressos, cursos etc.) 14 13,5

Boletim Eletrônico 11 10,6

Informações sobre a região Sul 10 9,6

Informações sobre Educação Ambiental (EA) 10 9,6

II Simpósio Sul Brasileiro de EA; I Colóquio de Pesquisadores da Região Sul; I Encontro da REASul, realizados em Itajaí/SC em 2003

10 9,6

Pesquisa na Biblioteca Virtual 9 8,6

Troca de experiências e informações com outros educadores 8 7,7

Diagnósticos da EA na região Sul 8 7,7

Consulta ao SIBEA 6 5,8

Artigos científicos da REASul 5 4,8

Desenvolvimento de ações conjuntas 4 3,8

Comissão de Gestão Participativa da REASul e sua lista de discussão 3 2,9

II Encontro da REASul, realizado em 2004 em Erechim/RS 3 2,9

Outros 3 2,9

TOTAL 104 100

Em relação aos serviços prestados ou atividades e outras realizações proporcionadas

pela REASul, as mais votadas foram a obtenção de informação sobre eventos, com 14 votos

(13,5%), em que o site da rede foi citado como um ponto de referência. Vindo depois o

Boletim Eletrônico que é enviado constantemente por e-mail aos participantes com 11 votos

(10,6%), seguido de informações sobre a região Sul, sobre Educação Ambiental e a

participação no II Simpósio Sul Brasileiro de Educação Ambiental realizado em Itajaí/SC em

2003, com 10 votos (9,6%) cada um. Em seguida os mais votados foram a pesquisa na

Biblioteca Virtual com 9 votos (8,6%); a consulta ao diagnóstico da região Sul realizado pela

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rede para apoiar diversas ações; a troca de experiências e informações com outros educadores

especialmente através da lista de discussão, cada um com 8 votos (7,7%); a consulta ao

SIBEA com 6 votos (5,8%); a leitura e/ou uso dos artigos científicos em relação à REASul, os

quais foram apresentados em diversos eventos de EA e também publicado em algumas

revistas da área, recebeu 5 votos (4,8%).

O desenvolvimento de ações conjuntas receberam 4 votos (3,8%), estas envolveram

as parcerias institucionais, como a que ocorreu com os Núcleos de Educação Ambiental

(NEAs) do IBAMA, com a FURB que envolveu a participação da REASul em algumas

atividades e no projeto PIAVA, bem como o encaminhamento de um novo projeto ao FNMA

e a participação na elaboração e revisão de materiais na Comissão Interinstitucional de EA de

Santa Catarina.

E os menos votados com apenas 3 votos (2,9%) cada um, foram a participação na

Comissão de Gestão Participativa da REASul, o que demonstra o quanto esta lista é fechada;

a participação no II Encontro da REASul realizado em Erechim; e outras ações, como a

participação no curso sobre redes promovido pela REASul em Itajaí e a disponibilização de

informações específicas como revistas de publicação em EA.

Uma parte das informações divulgadas pela REASul é feita através de seu site, dessa

forma foi perguntado aos entrevistados se realmente utilizam essa ferramenta e as respostas

dos entrevistados foram as seguintes:

? Acessa com freqüência para obter informações e se manter atualizado.

(P2) Sim, freqüentemente eu acesso a página da REASul, porque sei que tem novidades, informações gerais, da própria REBEA, das demais redes, do que está acontecendo, é uma forma de me manter atualizada. ? Acessa para saber sobre eventos nas áreas ambiental e educacional.

(P3) Às vezes sim, principalmente quando existe algum congresso e pedem para que a gente acesse e busque informações.

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? Apenas acessa o site quando necessita de alguma informação. Isso ocorre

principalmente quando a pessoa ao ler o Boletim eletrônico (o qual recebe através de e-mail

pessoal), tem interesse em obter mais informações sobre algo que lhe despertou interesse:

(S4) Quando eu recebo o boletim é que eu acabo entrando para buscar mais informações. (S1) A gente sempre recebe o boletim, que dá os tópicos, tendo algo, um assunto que me interessa, eu vou até buscar, mas senão, fico com aquele resumo. (S3) Principalmente quando recebo o boletim e tem algo de meu interesse, eu entro lá para me aprofundar. De acordo com os boletins que eu recebo. ? Ou ainda, não acessa, especialmente pela falta de tempo para realizar esta

tarefa e até porque, recebe muitas informações através de outros meios digitais, como o

próprio e-mail ou pela lista da CGP:

(R2) Não freqüentemente, mas os e-mails que chegam todos são abertos, a página não muito. (S5) Não tenho esse hábito, só entro lá quando preciso, mesmo porque o Y tá sempre mandando e-mails, então não tenho preocupação em acessar, porque como eu lhe digo, ele tá sempre nos informando. Porque na Comissão nós temos uma lista e ele está sempre comunicando, passando informação. Em relação ao uso de ferramentas virtuais, Souza (2002) afirma que as redes sociais

estão estritamente ligadas a esta forma de comunicação virtual, a qual demonstra facilitar a

articulação com seus membros:

É interessante notar que as redes das quais falamos até aqui são redes sociais, formas de organização humana e de articulação entre grupos e instituições. Porém, é importante salientar que estas estão intimamente vinculadas ao desenvolvimento de redes físicas e de recursos comunicativos. O desenvolvimento das novas tecnologias e a possibilidade de criação de redes de comunicação, de interesses específicos, técnicas, utilizando os mais variados recursos, meio e canais, são fundamentais para o desenvolvimento destas redes de movimentos sociais (SOUZA, 2002, p. 64).

Mas não se pode esquecer que esta ainda é uma ferramenta excludente,

especialmente no país em que vivemos e outras estratégias de comunicação podem e devem

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ser experimentadas de acordo com o perfil de cada localidade. E o contato presencial deve

acontecer para fortalecer os laços entre os participantes e conseqüentemente com a rede.

6.7 Princípios e fundamentos praticados na REASul

Uma rede pode ser encarada como “[...] um processo de organização social

tremendamente apto a responder às exigências de flexibilidade, descentralização e democracia

do mundo contemporâneo, permitindo, por princípio e na sua base, o exercício da auto-

determinação e da autonomia” (MARTINHO, 2003, grifo do autor), mas será que no dia-a-

dia, os princípios e fundamentos norteadores de redes sociais, são realmente praticados?

Assim, os entrevistados foram questionados a respeito da prática ou não pela REASul dos

principais fundamentos. Com isso, pediu-se aos entrevistados que respondessem de acordo

com as opções disponibilizadas no quadro abaixo16, sempre justificando a sua escolha:

Concordo totalmente

Concordo com restrições (ou concordo em certos aspectos)

Discordo com restrições (ou desaprovo em certos aspectos)

Discordo totalmente

Não tenho opinião formada

Quadro 1: Opções de resposta para a questão 9.

16 Escala denominada “Escala de Lickert” (MARCONI; LAKATOS, 1996, p. 108).

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A REASul incentiva a participação de seus integrantes? Nº de votos %

Concordo totalmente 08 53

Concordo com restrições (ou concordo em certos aspectos) 05 33

Discordo com restrições (ou desaprovo em certos aspectos) 01 7

Discordo totalmente 01 7

Não tenho opinião formada 00 0 Quadro 2: Respostas relacionadas ao incentivo da REASul à participação de seus integrantes.

O primeiro item procurou pesquisar se a REASul incentiva a participação de seus

membros, seja na inserção e divulgação de informações, seja na discussão de diversas

temáticas, na articulação com outros integrantes, ou mesmo na tomada de decisões dentro da

rede.

E 53% dos entrevistados afirmaram que a REASul incentiva essa participação:

(S2) Sempre é feito muito trabalho, principalmente por Y que modera, principalmente para as pessoas participarem, se engajarem [...] . Mas também há limitações, e uma delas seria a falta de mais articuladores ou

facilitadores dentro da REASul, pois o que é observado por muitos, é que todo este trabalho é

feito principalmente pelo seu coordenador geral, quando deveria ser uma tarefa coletiva, pois

sem participação, a rede não sobrevive.

Outros 33%, afirmaram que concordam com restrições, quanto ao incentivo à

participação dos membros da REASul, afirmando que isso ocorre mais no discurso, do que

efetivamente na prática:

(R4) No discurso ela incentiva, agora na prática é difícil participar, não é fácil, tu tem que querer muito. Ou ainda que o incentivo à participação é restrito:

(P3) É uma instituição que abre portas, eu recebo muitas informações, mas não vejo muito incentivo, não sinto muito incentivo em participar de alguma coisa. O que eu sinto é que ainda existe muitos grupos formados e esse incentivo é restrito.

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Essa dificuldade de se participar da rede, fez com que 7% dos entrevistados

discordassem desse incentivo, com algumas restrições, como é o caso de P4 que afirma:

Em certa medida, eu também nunca busquei participar muito, então, tem o caráter pessoal do elo que tá falando aqui. Mas também nunca achei muitas possibilidades claras de participação, visualizar onde eu pudesse estar participando. O mesmo ocorreu com R3:

Acho que poderia existir mais vontade de buscar novas parcerias... Eu até já fiz consulta para saber como participar e até agora não tive resposta. E para outros 7%, a REASul não incentiva à participação, devido à centralização de

ações e não abertura à tomada de decisões por parte dos participantes.

É importante ressaltar que os membros da coordenação ou da facilitação, não são os

únicos que devem incentivar que os participantes sejam ativos na rede, mas que cada um deve

se sentir responsável pelo seu funcionamento, pois de acordo com Loureiro (2004, p. 94), a

partir da tomada de consciência individual da possibilidade de ação pautada no diálogo, na

solidariedade e na participação social, visando a transformação individual e coletiva, se

amplia a autonomia individual e se fortalece a sociedade como um todo.

Outro princípio investigado foi se os membros da REASul agem de forma co-

responsável, se responsabilizando pelas ações e manutenção da rede (divisão de tarefas), o

que deveria ser uma iniciativa individual.

Os integrantes da REASul agem de forma co-responsável? Nº de votos %

Concordo totalmente 04 26,5

Concordo com restrições (ou concordo em certos aspectos) 04 26,5

Discordo com restrições (ou desaprovo em certos aspectos) 01 7

Discordo totalmente 03 20

Não tenho opinião formada 03 20 Quadro 3: Respostas relacionadas à ação co-responsável dos participantes da REASul.

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Um pouco mais de ¼ (26,5%) dos entrevistados afirmaram concordar com isso e

outros 26,5%, concordam com restrições, visto que:

(S2) Alguns sim, alguns não, talvez pela distância, pela falta de tempo, mas acho que todo mundo trabalha pelos mesmos princípios e objetivos, nesse sentido a gente pode dizer que todos são co-responsáveis, mas com relação à REASul especificamente, acho que todos poderiam fazer mais alguma coisa. E ainda porque a responsabilidade esteja muito atrelada a poucos membros da rede,

em virtude de que a grande maioria dos participantes ainda não está preparada para agir e se

articular em rede, não se sentindo responsável por ela, não tendo comprometimento, deixando

essa tarefa a encargo da coordenação, à secretaria da rede etc., ou ainda por haver

centralização.

(R5) Eu acredito que há uma co-responsabilidade, mas ainda percebo uma responsabilidade maior do gestor, da pessoa que articula a rede. (P2) Sinto a responsabilidade de todos, a vontade de trabalhar em comum, mas acho que [...] estamos muito incipientes nas nossas ações coletivas, solidárias, nossa divisão de tarefas. Talvez essa falta de divisão de responsabilidades dentro da rede, ocorra em função

do fator tempo (como afirmado por S3 e S4), o qual muitas vezes escraviza as pessoas,

limitando-as à realização de tarefas prioritárias, o que na maioria das vezes não inclui a rede,

já que vivemos em um mundo capitalista, o qual faz do trabalho, das atividades remuneradas,

o carro-chefe de nossas ações.

E foi por isso que 20% discordam que os participantes ajam de forma co-

responsável, como um dos próprios entrevistados afirmou:

(R2) O que ocorre é que a discussão se dá geralmente com aquelas pessoas de Itajaí que tem alguns projetos e que dialogam mais entre eles, e a região do RS pouco participa das discussões, então eu acho que as pessoas não são co-responsáveis. Acho que existem poucas pessoas que participam efetivamente, assim com eu mesmo.

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Ainda 7% afirmaram que discordam com alguma restrição e 20%, não expressaram

opinião, o que ocorre por desconhecerem tal princípio, ou ainda por não saberem sobre os

objetivos e propostas da REASul:

(P5) Eu não vejo a REASul como um portal, não como uma rede. As pessoas não se sentem participantes da rede... Eu por exemplo, não me sinto participante da rede, então como é que eu posso ter co-responsabilidade com uma coisa que eu uso, um serviço que outros oferecem? Esta afirmação é um tanto preocupante, pois mostra que a REASul não está

conseguindo cumprir o seu papel de rede, o que evidentemente contribui para seu insucesso,

dificultando seu estabelecimento, já que seus participantes não se sentem como membros.

O trabalho em rede depende da ação autônoma de cada um. “O funcionamento da

rede depende de um pacto que realize uma ‘coordenação das autonomias’, garantindo, num só

movimento, a ação coletiva e a individualidade de cada membro da rede” (MARTINHO,

2003, grifo do autor).

A REASul propicia que seus membros ajam de forma autônoma?

Nº de votos %

Concordo totalmente 05 33

Concordo com restrições (ou concordo em certos aspectos) 05 33

Discordo com restrições (ou desaprovo em certos aspectos) 01 7

Discordo totalmente 01 7

Não tenho opinião formada 03 20 Quadro 4: Respostas relacionadas ao exercício da autonomia pelos participantes da REASul.

Quando questionados se a REASul propicia que seu membros ajam de forma

autônoma, 33% dos entrevistados afirmaram que a rede estimula esse princípio: (R5) eu acho

que é uma das metas da REASul, ela busca que as pessoas sejam autônomas. Essa

percentagem também se repetiu para aqueles que concordam com restrições, (R1) porque a

questão da autonomia é muito relativa, porque quando se trabalha em grupo a questão da

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autonomia é muito restrita, acho que sempre que se trabalha em grupo, a gente não pode se

falar em uma autonomia ampla, total e irrestrita.

Além de que como afirma R2:

o espaço está aberto e de repente o Guerra (que é ele que estimula mais a rede), talvez colocasse isso mais no espaço aberto, onde as discussões não fossem geradas apenas por um pólo, que seria de repente lá a UNIVALI e que pudesse ser gerado nas suas diferentes pontas. As pessoas que participam da rede, de repente não deixam isso de forma mais clara porque as pessoas sempre ficam esperando o boletim da REASul, as colocações do Guerra. Deveria deixar isso mais transparente, dizer várias vezes que todos estão autorizados para lançarem textos e sugestões de sites e apresentassem as suas experiências, não que as pessoas fiquem esperando pela UNIVALI e que assumam esse papel. Os participantes mais uma vez são abatidos em parte pela falta da cultura de redes

(não se praticam os princípios suscitados) e parte pela deficiência da REASul em divulgar,

discutir, determinar junto aos seus membros quais são seus reais objetivos, o que os

participantes querem e esperam através da rede, além de que como deve ser ou pode ocorrer a

participação de cada um. Pois como assegura R4, a REASul te dá autonomia o que não te dá

é direção, não te dá diretriz, orientação. Mas te dá autonomia, porque tu pode fazer o que tu

quiser, mas se não quiser fazer nada não tem nada que te dê direção, que te provoque, que

instigue a fazer.

Partindo desse pressuposto, 7% discordam com restrições, pelos mesmos motivos

citados acima: (S3) Até onde eu tenho participado essa autonomia existe, mas ela não se

reflete no conjunto.

Os que discordam totalmente, também somam 7%, por sentir que não há espaço na

REASul para que isso aconteça. E não souberam responder ou não opinaram, somam 20%.

“Este talvez seja o principal elemento dificultador dos processos de articulação que

se auto-denominam redes. Para muitos projetos (e muitas lideranças), a autonomia é

insuportável (às vezes, a autonomia de outrem; outras vezes, a própria autonomia)”

(MARTINHO, 2004).

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O princípio da multiliderança, diz que numa rede não há chefes, mas muitos líderes,

portanto, a próxima indagação, procurou verificar se esse fundamento é realmente colocado

em prática.

A REASul promove a multiliderança? Nº de votos %

Concordo totalmente 04 27

Concordo com restrições (ou concordo em certos aspectos) 02 13

Discordo com restrições (ou desaprovo em certos aspectos) 02 13

Discordo totalmente 03 20

Não tenho opinião formada 04 27 Quadro 5: Respostas relacionadas à promoção da multiliderança pela REASul.

Nessa averiguação, 27% se absteram da resposta, o que pode ter ocorrido pelos

mesmos fatores já citados, como o desconhecimento do princípio e da atuação e objetivos da

REASul. A mesma percentagem foi verificada para os que concordam totalmente que a

REASul promove a multiliderança:

(S2) Ela impulsiona a gente nos locais onde a gente tá pra estar sempre fazendo a diferença, a gente sabe que sempre que precisa, pode contar com qualquer um dos elos. Já 20% afirmaram discordar totalmente do exercício deste princípio:

(R2) Não vejo essa promoção de multilideranças, tanto que quando temos de sugerir um nome para um encontro, as pessoa sempre sugerem Y, então é ele que participa mais. Ou ainda porque a rede não cria condições necessárias para o exercício do princípio

da multiliderança:

(P4) Quando se fala promover é também criar condições para que isso ocorra e eu não vejo essas outras lideranças, pelo menos eu também não vejo condições para que essas lideranças ocorram, tipo participe ou venha.

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Mesmo que isso seja um de seus objetivos, não conseguiu estabelecê-lo, como é visto

por S4: Acredito que essa seja um dos objetivos, trazer essa autonomia, mais ainda no

momento isso não está acontecendo.

Como afirma P2, que compõe os 13% que concordam com restrições:

Há espaços para que ocorra a multiliderança, há oportunidades de ação, há oportunidades de trabalho, mas talvez as pessoas não tenham ainda um compromisso com a REASul suficiente para exercer essa multiliderança. Algumas pessoas se omitem e no fim, acabam sempre decidindo as mesmas pessoas, por isso parece que há a liderança de uma, duas pessoas só, discussões são unilaterais. Essa afirmação é complementada por S3 que diz que a rede incentiva a

multiliderança, mas muitos participantes acabam por não tomar iniciativas e exercer esse

princípio:

(S3) Ela estimula a liderança, até a pessoa do próprio Y faz isso, pra participar mais, pra tá mais ativo no processo, só não sei se isso é feito da forma como deveria ser feito, estimulando a multiliderança. Concordo com restrições, porque ele tem me estimulado a participar, eu vejo ele estimular outras pessoas, mas talvez as pessoas não estejam preparadas para participar, pois dizer que isso não está sendo feito, seria uma injustiça.

E embasado na questão da gestão, o sujeito R4, que faz parte dos 13% que discorda

com restrições, afirma que na realidade essa multiliderança não é praticada, apesar de haver

abertura para tal na rede:

(R4) Realmente ela proporciona o espaço para o desenvolvimento de lideranças, para o movimento de engajamento das pessoas, mas ao mesmo tempo a conquista do espaço político de intervenção está ligada à conquista de poder, e, quem é que pode intervir? Ocorre no discurso, como utopia, mas na vida real não. Essa questão foi também colocada por R1:

Em todas as redes que eu participo, as listas de discussões, existem pessoas-chave, cabeças que lideram, tem umas cinco que colaboram de forma efetiva e algumas poucas que comparecem, a grande maioria não se envolve, acho que é um trabalho.

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Como foi constatado, esse princípio é um tanto difícil de se alcançar, em virtude das

diferenças, da diversidade e dos objetivos individuais, que nem sempre são correlatos ao da

rede, além de que, esse fundamento mexe com questões bastante pessoais e as pessoas têm

muito medo de se expor.

(S4) Acho que precisa ter um grupo de pessoas sempre liderando, porque a gente ainda não tem a concepção de “eu assumo”, “eu faço”, tem sempre que ter aquela injeção de ânimo, precisa de algumas cabeças, algumas pessoas que se encontrassem para articular isso, articular estratégias de uma forma melhor. A multiliderança é um princípio que está sendo instigado na REASul, mas apesar

disso, não tem ocorrido a prática de tal princípio pelos participantes, tanto pela visão de que a

rede tem um líder e de que não podem ocorrer outros, como porque outras lideranças não têm

se manifestado na rede. Pois como nos lembra P2: A liderança, além de não ser centralizada,

ela ocorre em diferentes lugares, há momentos de conflitos, há momentos de parada, há

momentos de retomada.

A informação é o alimento da rede. Ocupa um lugar central na dinâmica organizacional da rede tal qual a linguagem nas sociedades humanas. Sua função, mais do que transportar significados de um lugar para outro, é organizar a ação da rede. A comunicação na rede, assim como na dinâmica social é estruturante (COSTA et al., 2003, p. 118).

Dessa forma, procurou-se também averiguar se a REASul possibilita uma boa

comunicação, com a troca de informações e experiências entre seus participantes, a qual pode

ser tanto através do meio virtual, como presencial. Já que os “espaços de conversação são o

terreno mais propício ao surgimento dos vínculos de afeto entre as pessoas e que são vitais

para o pleno desenvolvimento das redes” (MARTINHO, 2003).

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A REASul proporciona uma boa comunicação com a troca de experiências e informações?

Nº de votos %

Concordo totalmente 07 47

Concordo com restrições (ou concordo em certos aspectos) 06 40

Discordo com restrições (ou desaprovo em certos aspectos) 02 13

Discordo totalmente 00 0

Não tenho opinião formada 00 0 Quadro 6: Respostas relacionadas à comunicação e troca de informações na REASul.

Todos os entrevistados responderam a esta questão, pois é a maior forma de

articulação e atuação da REASul (o contato e a interlocução especialmente pelo uso de

tecnologias da informática), visto que é um fator desencadeante de diversos processos e

princípios. Dessa forma, quase a metade dos entrevistados, 47%, concordam plenamente com

essa questão:

(S2) Acho que isso é maravilhoso, porque a gente sempre está por dentro de tudo o que está acontecendo aqui na região, principalmente pela Internet, que é rápido. Já 40% têm algumas restrições em relação à boa comunicação, especialmente pela

falta de participação da maioria dos membros nas discussões: (R2) A rede tem espaço para

isso, mas não acontece.

E por muitos é reconhecida apenas como um espaço de divulgação de informação,

mas não de interlocução:

(P5) Ela propicia informação através do portal (que eu uso pouco) e é um instrumento que tem bastante coisa. (R5) Das últimas mensagens que tenho acompanhado elas são mais referentes à construção de eventos. Troca de experiências eu não vejo tanto. (R4) Ela é um bom banco de dados para se buscar informações, saber quem é quem, para buscar coisas, nesse sentido ela é ótima.

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Reforçando essa declaração, P4 afirma: não sei se estou participando de maneira

errada dessa rede, mas eu nunca troquei informações com ninguém, compondo os 7% que

discordam totalmente.

(P4) Eu gostaria realmente de saber mais sobre o que as outras pessoas estão fazendo por ai. Nesse sentido pra mim, a REASul não está trazendo essas informações, acho que poderia trazer, tem potencial para trazer. Como lá no RS, não sei o que estão fazendo, se tem alguma proposta parecida com a nossa aqui, em SC ou mesmo PR, efetivamente eu não sei, porque pra mim, essa troca de informação, do que está acontecendo em cada contexto, não está sendo muito comunicado, articulado, o que não é muito fácil numa região como essa, ter acesso ao que está acontecendo em vários contextos. O Boletim Eletrônico que é um material encaminhado periodicamente aos

participantes da rede foi apontado como um bom veículo de informações, mas sugere-se que

ele não traga apenas a reprodução de notícias de outros veículos de informação, mas que traga

mais informações sobre a REASul e sobre as ações dos participantes:

(S3) Os Boletins Eletrônicos, [...] deveriam ser mais exclusivos, vejo que eles são clipagens, ai isso de certa forma não é um trabalho inteiro, é um trabalho de juntar coisas. (R2) Acho que aprimorar o boletim para que possa ser gerado a partir de todos os seus membros, provocar isso nos seus elos, que aqui na FURG possa estar divulgando o que está ocorrendo aqui na região e a ULBRA possa lançar o que está acontecendo, outros projetos que meus professores participam. Entre os entrevistados, 13% discordam com restrições, pois também vêem na

REASul a falta de intercâmbio entre os educadores, em virtude de meios de comunicação que

não contemplam todos os enredados:

(P2) Não sei se pela falta de uma lista, porque foi evitado que se fizesse lista dos membros da REASul, tem só uma lista da CGP e não de membros (a decisão foi tomada para evitar mais uma lista, mais um local), no entanto, a lista ainda é uma das formas de comunicação e troca de experiências. Então não havendo essa lista, ficando só restrita a Comissão de Gestão, as pessoas perdem o sentindo de pertencimento. Quando você está na lista, você abre, vê as mensagens, bem ou mal, você começa a se sentir participante de um grupo, então, se não existe isso e não existem outros mecanismos.

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Mas mesmo havendo esse espaço, ele só irá ser efetivo a partir da participa-ação dos

integrantes da rede, porque a rede, não funciona, não age sozinha. Além de que este espaço se

ampliado, tornando-se aberto a todos os membros da REASul, além de servir para a

informação e a divulgação, será de extrema importância para a ampliação dos intercâmbios

afetivos entre os educadores.

Outra premissa investigada, que é essencial para uma rede, foi a horizontalidade,

princípio em que todos os elos têm o mesmo poder de decisão.

A REASul atua de forma horizontalizada? Nº de votos %

Concordo totalmente 05 33,5

Concordo com restrições (ou concordo em certos aspectos) 05 33,5

Discordo com restrições (ou desaprovo em certos aspectos) 02 13

Discordo totalmente 02 13

Não tenho opinião formada 01 7 Quadro 7: Respostas relacionadas à prática da horizontalidade na REASul.

E em relação à atuação da REASul, 33,5%, asseguram que ela atua de maneira

horizontalizada, sem disputa de poder:

(S2) Apesar de parecer que Y domine, é ele que está sempre promovendo essa parte mais democrática, deixando as pessoas a vontade e querendo sempre que elas façam alguma coisa. O mesmo número de entrevistados, 33%, acredita que essa afirmação não é

inteiramente verdadeira:

(P3) Devem existir suas disputas de poder com certeza, acredito que devam existir disputas particulares. Eu não participei, então não posso responder com certeza, mas eu vi uma determinada situação.

Os que não opinaram representam 7% enquanto que os que discordam com restrições

e que discordam totalmente representam 13% cada um.

(P4) Minha participação não é aquela participação para uma rede, mas de novo, parece que tá Itajaí concentrando, eu efetivamente não vejo a

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participação de outras áreas, acho que todo mundo recebe aquilo que Itajaí manda. Então eu nunca vi a participação de outros locais assim. (R1) Eu acredito que ela funcione de forma mais horizontal possível, mas sempre tem alguém no comando. (P5) É isso que eu falo de horizontalidade, eu não vejo outras pessoas, a não ser o Y, eventualmente eu vejo o Z e não vejo outras pessoas participando. Essas afirmações questionam o exercício da horizontalidade, visto que se não houver

alguém mediando e incentivando a participação, são poucos os membros que irão se

manifestar de forma espontânea. Aqui também entra a questão de que a REASul ainda está

muito concentrada na instituição proponente do projeto, mesmo após seu término, mostrando

que essa horizontalidade não foi assimilada pelos seus integrantes.

Ou ainda porque a questão da horizontalidade é um desejo, uma utopia que ainda não

se exerce plenamente, de forma que P2 assegurou que esse princípio não existe na prática:

(P2) Na minha opinião, nenhuma rede atua de forma horizontalizada porque nós ainda não sabemos como atuar de forma horizontalizada e ao mesmo tempo organizada, então esse é o processo de muito esforço, muita boa vontade. Tenho certeza que essa boa vontade existe, mas talvez haja oportunidades suficientes para essa horizontalização. O princípio da horizontalidade é posta a dúvida por S4, visto que:

Por concepção toda rede tem de trabalhar de forma horizontalizada, no discurso é assim, na prática não funciona porque não existe isso na vida real. Não existe isso porque isso só existe numa sociedade livre, onde as pessoas são conscientes, a horizontalidade pressupõe um anarquismo, então não tem numa sociedade como a nossa, tem uma coisa horizontal efetiva. Nesse discurso, como utopia, acho que a gente tem que buscar, agora de verdade não, porque ela tem um crivo ideológico, pessoas que hoje tão na coordenação e estabelecem o poder sobre a rede e que se alimentam politicamente para intervir no cenário da EA, na área das políticas públicas e que isso não tem nada haver com horizontalidade. E procurando apurar de forma mais efetiva sobre as questões de horizontalização, se

perguntou aos pesquisados, se lembrariam de algum nome ou pessoa em particular na

REASul e por qual motivo? E a esmagadora maioria fez referência à pessoa do coordenador

da REASul, lembrado especialmente por ser considerado o grande articulador e divulgador da

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rede. Os entrevistados não relacionam sua pessoa com disputa de poder ou com uma atuação

imponente, concentrando para si a tomada de decisões, pelo contrário, é visto como uma

pessoa-chave para a consolidação da REASul.

(S2) Porque ele é assim, ele luta, ele vive, ele respira REASul, então uma pessoa que a gente tem que respeitar. Às vezes parece que ele quer controlar, dominar, mas na verdade é ele que á ali segurando, tentando manter a REASul viva. Às vezes é difícil, difícil porque você tem que ter disponibilidade para fazer tudo isso e é uma coisa nova, [...] é um tipo de gestão, um tipo de interação que a gente não conhece direito, a gente tá aprendendo a fazer isso e ele, acho que faz muito bem esse papel de moderador, o papel para fazerem as coisas acontecerem. (P4) Eu lembro do Y, até porque comecei a ouvir falar em REASul por intermédio dele, então até porque quando recebo informação, notícia, é ele que envia. (P1) Y, por ser uma pessoa de referência na REASul. Ele que manda as notícias e faz as articulações. (S3) A REASul está bastante associada a pessoa do Y, não tem como negar, porque ele é uma liderança nesse processo. Participou de sua história desde a articulação do projeto até as ações que foram promovidas, e não tem como desvincular Y da REASul, pelo menos a imagem, ele é o estereótipo que fica. Se a gente for olhar de certa forma as redes no Brasil, sempre tem uma liderança, isso não quer dizer que haja outras lideranças, outras pessoas participando. Mas o que fica de certa forma, pois foi ele que deu mais energia pra essa rede. (S4) Y, por ele ter encarado a coisa de frente, por ele estar sempre participando e mesmo com as dificuldades da rede, estar sempre estimulando para que as pessoas participem [ ...]. Além de que, o fato de participar de listas de discussão em EA e participar

constantemente de eventos, sempre divulgado e representado a REASul, o torna uma pessoa

de referência para esta rede:

(R2) Lembro do Y, porque é a pessoa que tá mais presente, provoca algumas discussões, chama os participantes a participarem, ele é um provocador dentro da rede e pelos eventos também. A figura dele sempre está presente e também eu já conversei com ele algumas vezes e percebo nele uma vontade de ampliar essas discussões e de que as pessoas se aproximem, mesmo estando distantes, por isso a rede. (S5) Quando se fala em REASul, sempre lembro do professor Y, porque acho que ele foi a primeira pessoa que fez contato conosco, que nos trouxe

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e que tá sempre preocupado, todos os eventos que acontecem, ele é uma pessoa que está sempre presente. (S5) Ou mesmo pelo contato mais direto: “aqui na Comissão, a REASul sempre está presente pelo professor Y e pelo professor Z, que são duas pessoas que quando se fala em REASul, eu associo porque tenho mais contato com elas. Dois dos ent revistados do Paraná, afirmaram lembrar da própria pesquisadora, visto

que participou do processo de implantação da REASul neste estado:

(P5) Eu lembro do Y e de X. Do Y porque sempre que se fala em REASul ele está encabeçando, eu vejo praticamente o Y como uma pessoa que coordena a REASul... Ai eu lembro de X, porque é nosso contato estadual. (P3) Bem, eu lembro de X, porque foi a pessoa que iniciei o contato no grupo. E um dos entrevistados do Rio Grande do Sul afirmou lembrar de W, o qual foi o

coordenador do RS durante a execução do projeto da REASul:

(R4) Lembro de W e de Y. O W porque foi o sujeito que nós entramos em contato lá atrás, na elaboração do projeto, foi a primeira pessoa que a gente contatou e eu ouvi falar da REASul. E o Y porque ele que tava coordenando os eventos que eu participei, faz as articulações e hoje dos e-mails e as comunicações que ele tem subscrito. É interessante também verificar que pessoas que não fizeram parte do projeto

“Tecendo Redes de Educação Ambiental na Região Sul”, também foram lembradas, o que

significa que alguns elos atuam realmente como rede, divulgando, realizando articulações e

cumprido possíveis demandas.

(R3) Tem duas pessoas que me marcam muito, Y lá da UNIVALI e K da URI, as pessoas que eu obtive maior contato nessa questão de Educação Ambiental. Outros ainda foram lembrados por serem figuras fortes em outras redes:

(R5) Lembro sempre de Y e de V, primeiro pela questão da REBEA, [...]. E por ter sido muito incentivado pela Viviane pra desenvolver esse trabalho, então a idéia de um suporte bastante forte para criação da REASul. Por isso eu lembro desses dois mais do que qualquer outro.

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A questão oposta à horizontalização, a hierarquização, aparece por diversas vezes nas

respostas para as demais questões, o que faz entender que a centralização das ações da

REASul fica evidenciada na pessoa de Y e da UNIVALI, praticamente não se vê outras

pessoas ou instituições sendo responsáveis ou auxiliando nas atividades da rede.

Este é um fator um tanto complicado dentro das redes, pois na maioria das vezes, se

não houver alguém estimulando a participação, a rede “morre” e ao mesmo tempo, a

horizontalidade deixa de existir.

(S3) As pessoas ainda não estão habituadas em trabalhar em rede e se não tem ninguém pra puxar, a partir do momento que tem alguém liderando o processo e essa pessoa assume a personalidade do líder, isso já deixa de ser um trabalho horizontal e isso acontece na REASul e em outras redes. Mas a gente sabe que sempre existe o papel do líder. A horizontalização em uma rede é uma farsa do ponto de vista conceitual, não adianta a gente querer dizer: a rede tem que ser horizontal; teoricamente a gente pode fazer isso, mas na prática não vai existir. E por fim, se quis saber se a REASul além de ser efetivamente uma rede, atua dentro

da sua temática, fomentando e auxiliando no desenvolvimento de ações relacionadas à

Educação Ambiental.

A REASul fomenta e desenvolve ações de EA? Nº de votos %

Concordo totalmente 06 40

Concordo com restrições (ou concordo em certos aspectos) 07 46

Discordo com restrições (ou desaprovo em certos aspectos) 01 7

Discordo totalmente 01 7

Não tenho opinião formada 00 0 Quadro 8: Respostas relacionadas ao desenvolvimento e ao fomento de ações em Educação Ambiental pela REASul.

Entre os entrevistados, 7% afirmaram discordar totalmente e outros 7% discordam

com restrições em relação ao desenvolvimento de ações de EA:

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(R4) A rede em si não desenvolve, a rede em si facilita processos, a não ser seus encontros que promovem discussões e trocas. A rede disponibiliza informações, contatos, pessoas que possam trocar experiências e carências. E seguindo esta mesma linha de resposta, 46% disseram concordar com restrições, já

que (R2) ela sugere, coloca os editais e diz onde encontrá-los, encontrar informações para

que as pessoas se instrumentalizem para poder concorrer financiamentos para projetos, mas

a rede em si não fomenta, ela sugere.

A falta de disponibilização de recursos pode ser um entrave para que ações práticas

aconteçam efetivamente, como acredita P2, que ao final de sua declaração até sugere de que

forma isso poderia ser solucionado:

(P2) Acho que ela fomentou e desenvolveu já várias ações de EA, projetos, encontros, simpósios, estudos, mas não sei se no momento está havendo assim alguma atividade de Educação Ambiental nos três estados. O que dependeria ao meu ver também, que os estados tivessem redes de Educação Ambiental já funcionando, já articulada, ai a REASul poderia estar sempre apoiando essas ações. Mas 40% dos sujeitos entrevistados acreditam que isso ocorre a partir da atuação de

membros dentro de listas de discussões e na participação em eventos, visto que a partir disso,

podem surgir inter-relações para ações conjuntas:

(P3) Bem, eu percebo pelo que eu recebo, pois eu não estou totalmente integrada na REASul, mas pelas coisas que recebo, eu percebo que ela participa de muitos eventos, discussões, estão em busca de pôr alguém da REASul em debates e outras coisas. (R5) No momento em que ela promove eventos e divulga o que tem sido feito de Educação Ambiental, acredito que isso já seja uma ação da REASul. Finalizando, S3 acredita que uma das finalidades da rede, deveria ser a realização de

ações articuladas, também com outras redes:

(S3) Na REASul acredito que as coisas só vão começar a se resolver a partir do momento que a REABRI estiver com as coisas mais bem resolvidas aqui, por causa do vínculo muito forte. As redes locais estão ligadas umbilicalmente a uma ação local do que a uma ação global, na rede local as coisas são mais palpáveis, visíveis e se pode ver os resultados dessas ações. A REASul tem que ser uma rede de redes, isso é, ela tem que

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trabalhar que as redes locais no PR, SC e RS. Ela até já fomenta isso. Porque ser uma rede regional é complicado e é interessante se estar articulando com uma rede do Sul, mas ao mesmo tempo, as redes locais (redes menores) têm de ser fortalecidas e estimuladas também.

6.8 As expectativas dos participantes foram correspondidas?

Em relação a este item, há os que afirmaram que nunca tiveram expectativas em

relação à rede, até mesmo pelo fato dela não corresponder aos seus objetivos pessoais ou por

não apresentar princípios norteadores correlatos com os do entrevistado:

(P5) Eu nunca tive expectativas para a REASul, essa é a primeira questão. Eu nunca tive, digamos assim, porque expectativa é imaginar alguma coisa e eu nunca imaginei nada, pelas propostas iniciais, eu sempre achei a REASul muita hierarquizada, então isso não criou uma expectativa. Essa não correspondência implica na não participação por parte dos membros nas

ações e decisões da rede, fazendo com que ele apenas interaja quando necessita de algo em

específico, como, por exemplo, acessar o site para saber sobre um determinado evento ou para

se interar com outras pessoas.

(S4) Na verdade nunca criei uma expectativa em relação a REASul. Faço uso da rede realmente só quando preciso, neste caso ela me corresponde. A REASul promoveu muitas ações, que vieram de encontro com as expectativas de

S3, contribuindo em sua opinião até mesmo para a região Sul:

(S3) Sim, do ponto de vista de ela ter feito um diagnóstico, ter formado um banco de dados, ter criado um sítio eletrônico na Internet, ter alimentado o sistema, ter servido de referência para outras redes, para outras pessoas, perfeitamente ela atende a essas expectativas. Não dá só para criticar, tem de ver os aspectos positivos. A REASul foi e é muito importante para o Sul do Brasil e para que não dizer do Brasil.

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A maioria dos entrevistados afirmou que a rede apesar de poder fazer mais,

correspondeu às expectativas do entrevistado, especialmente no que diz respeito à divulgação

de eventos, repasse de informação e promoção de contato entre educadores ambientais e

profissionais de variadas áreas, servindo como uma ponte de acesso ao conhecimento, até

mesmo para quem realiza pós graduação, pelo alto nível das discussões e materiais

repassados:

(R1) A rede pra mim foi muito bom, eu comecei a participar das redes depois que eu já estava terminando meu mestrado, eu tava na fase de fechamento do meu mestrado... As informações em muito contribuíram com meu trabalho, as discussões, cada proposta de discussão é um outro enfoque sobre um determinado problema. Então a partir de alguém que lança alguma discussão, tu tens que tirar suas próprias conclusões, elaborar um discurso sobre questões que eu nunca tinha parado para pensar. Que eu acho que são instigantes e a tendência é essa. (S1) Nesse tempo que estou em contato, que eu participo, principalmente na minha pesquisa, ela me trouxe alguns aspectos na construção, para saber onde há outras pessoas, o que estão fazendo. (P1) Ela corresponde sim, no aspecto de interação entre as pessoas, pelo menos as que a gente conhece, quando teve o Encontro, o Colóquio, que teve a reunião da REASul, a atividade que a gente fez da Oficina do Futuro que foi muito legal. O aspecto de repasse de informações, eu fico sabendo de muita coisa através da REASul, como por exemplo aquele curso do e-pro-INFO do MEC, oficina de formulação de projeto pro FNMA, fiquei sabendo pela rede, muita informação chega através dela. Então o aspecto de relacionamento, de informação e aspecto de conceitos também, eu aprendi muito através da REASul. Mas essa forma de interlocução também deveria ser reformulada para atender seus

usuários de forma mais eficaz, realmente promovendo espaços para debates mais

aprofundados, para divulgação e discussão de ações em EA e pessoas que se

disponibilizassem em prestar esse tipo de suporte permanente:

(S2) Olha, se a gente pensar na realidade hoje de uma rede, ela corresponde, mas a gente poderia esperar bem mais, poderia realmente ter um lugar onde a gente pudesse se amparar cada vez que a gente precisasse de alguma coisa e isso hoje não é possível.

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(P3) Em parte sim, como eu já disse, que é uma questão que eu tive a oportunidades de estar participando de um grupo (GEEA17), embora eu gostaria de estar mais inserida como um todo no processo, em alguma ação, um grupo no meu horário disponível, porque eu tenho uma experiência e gostaria de estar dividindo com outras pessoas e não ficar apenas numa pasta, jogar para fora muitas coisas, sem muita política. Outro motivo que desagradou, fazendo com que a REASul não correspondesse aos

seus participantes, foi em relação aos princípios que deveriam ser comungados e praticados

(como a horizontalização, a boa comunicação etc.), conforme expressa o sujeito R3:

Parcialmente, porque existe uma necessidade de existir um avanço maior nessa

horizontalização, quando se verticaliza demais fica só aquele grupo.

Princípios esses que ainda não estão bem definidos ou não são tão fáceis de serem

praticados dentro do sistema político, econômico e social que nos envolve. Até mesmo porque

a convivência em rede é algo que está sendo aprendido e aprimorado na prática das redes de

EA que se espalham por todo o Brasil, ficando à REASul o desafio de tentar se reestruturar,

visando sua real efetivação e consolidação.

Mas mesmo apresentando pontos positivos e negativos, a REASul é de grande valia

pelo fato de ser mais um elemento para EA:

(P2) Eu acho que a REASul corresponde a minha expectativa em termos de ser mais um órgão, mais um elemento em prol da Educação Ambiental. Então temos de manter, por mais difícil que seja, temos de manter as redes.

17 O GEEA – Grupo de Estudos em EA existiu no Paraná (mais especificamente em Curitiba), reunindo educadores durante a década de 1990. E em 2002, através da articulação que a REASul estava realizando no Estado, foi sugerido que a rede retomasse o grupo, congregando antigos e novos membros. Dessa forma, foram realizados alguns encontros, mas o grupo acabou por motivos que envolveram desde a questão de um espaço físico permanente e que fosse de fácil acesso para realização das reuniões, passando pela falta de tempo das pessoas para se reunir, especialmente durante o horário comercial e até mesmo pela disputa de poder dentro do grupo.

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6.9 Sugestões dos entrevistados para melhoria da REASul

Neste item, procurou-se trazer sugestões dos próprios entrevistados, os quais são

membros da REASul, de forma a criar um espaço de interlocução, levando em conta as

opiniões dos participantes, procurando praticar e exercer seus princípios de rede, visando sua

consolidação.

(R1) Acho que o interessante é a reflexão crítica, realmente se tá atingindo, a possibilidade de melhora, na realidade o núcleo deve estar permanentemente se reciclando, pensando como fazer. Sugere-se ainda uma maior abertura da rede à novas pessoas:

(R3) Eu sugiro uma questão que eu acho fundamental, se houvesse um seminário, um encontro da REASul expandido, não só para membros da rede, mas também para quem tenha interesse em participar. Acho que daria um momento importante, de abertura, de agregar novos parceiros e acima de tudo seria mais oxigênio e renovar (não falo em renovar gestores não), renovar idéias e pessoas que possam colaborar com a gestão da REASul. Uma maior divulgação do que é a REASul, o que faz e para que serve uma rede,

assim como seus objetivos e princípios também necessitam ficar mais claros aos seus

participantes.

A partir de então, iniciar-se- ia um trabalho bem minucioso de articulação na área de

abrangência da rede para a criação e a consolidação de elos, concentrando esforços para a

realização de ações em EA, como sugere P2:

A sugestão que eu daria, aliás, dificílima de ser cumprida: nós teríamos que nos aliar as lideranças locais, sejam estas lideranças quais forem, de preferência honestas, que sejam corretas, verdadeiras, e trabalhar com aqueles que queiram trabalhar Educação Ambiental. Ir até onde eles estão, ouvi-los, atender ao que eles precisam, que eles têm de necessidade, ajudá-los a se organizar, enfim, construir uma consciência ambiental que já existe, mas uma consciência de cooperação, de solidariedade, de ação coletiva, que não é tradição no Brasil, e que hoje cada vez se faz mais necessário.

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Idéia complementada por P1, que também faz referência à descentralização da

REASul:

(P1) Uma coisa que poderia tentar orgnanizar, é referendar os elos, por exemplo, se a gente conseguir sensibilizar o povo lá de Guaraqueçaba para fazer um elo, de ter um ponto mesmo de gestão, dele estar articulando o povo de Guaraqueçaba a participar, articular, tomar decisões. A idéia é tirar do centro, porque não se consegue e porque perde qualidade porque são poucas mãos pra fazer. Isso também faria com que a rede remodelasse sua estrutura, pois se acredita que ela

ainda está muito acadêmica (pela grande quantidade de universidades envolvidas), faltando

movimentos de base e de outras instâncias na articulação da rede, como afirma R4:

Ela tá acadêmica demais, é uma discussão fundamental, não tenho dúvida disso, essa discussão acadêmica é fundamental. Mas a base, o empirismo, tem de haver, tem de proporcionar a essas pessoas que estão com a mão na massa, com a prática, para que eles possam discutir isso na formulação. Em relação às escolas e seus respectivos docentes, também não tem havido muita

interlocução destes com a REASul, especialmente pela exclusção digital (falta de

computadores, dificuldade de acesso à Internet, inclusive de discagem rápida):

(S1) Se vê que ela não tá atingindo todas as pessoas que deveriam, como a questão dos professores, acho que é até falha da gente que participa da rede, estar contribuindo para que essa rede possa estar aumentando. A realização de ações deve estar permeada pelas diversas formas de obtenção e

difusão de conhecimentos e pela troca de experiências com outros educadores, visando ações

bem sucedidas, fortalecendo a EA como um todo.

(R2) Acho que poderiam ser colocados mais textos para discussão, pequenos artigos, porque ninguém tem muito tempo para ler grandes artigos[ ..]. e a REASul poderia estar trazendo mais textos e lançando para o grupo e o grupo se manifesta, se é a favor ou não. (P2) Uma das coisas importantíssimas na questão da Educação Ambiental é o preparo e até o esclarecimento de questões técnicas, porque as pessoas que trabalham com Educação Ambiental nem sempre têm informações científicas consistentes e nem conhecimento de técnicas de implantação de projetos. E são várias as possibilidades de intercâmbio, como faz referência P1:

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Do meu ponto de vista, o que é mais prático, o que é mais rápido e barato seria as listas de discussão, para as pessoas estarem articulando, mesmo de longe. Um chat, fórum de discussão, eu acho interessante para se ter. Já participei de alguns outros, não da REASul, particularmente foram muito produtivos, mas não podemos descartar aquela parte do presencial, é bem importante esse contato pessoal. Mas há sempre necessidade que os meios disponibilizados sejam constantemente

revistos para atender às reais necessidades dos integrantes da rede:

(P4) [...] o site da REASul eu acho super carregado e é complicado a busca de informações, é tanta coisa que a gente acaba se perdendo naquela informação. (S1) Talvez a entrada, o formato do site poderia ser mais chamativo. Talvez fosse a forma de estar atraindo mais membros para REASul. (R3) Acho que a REASul teria tudo, não só a revista eletrônica, como também uma revista impressa que pudesse abrigar toda produção científica. (R2) Acho que aprimorar o boletim para que possa ser gerado a partir de todos os seus membros, provocar isso nos seus elos ... A sugestão de repente seria isso, que seus elos fossem mais chamados para essa gestão da rede e que não ficasse somente na mão da UNIVALI. (R5) Talvez o que eu poderia propor é que houvesse uma maior troca de experiências, porque as pessoas buscam muito por experiências concretas (como é que fulano fez aquela oficina), e isso falta na maioria das redes. [..]. Então criar algum ambiente, um espaço onde um educador que fez uma coisa muito legal pudesse contar e pudesse dividir, é o que mais as pessoas precisam. E também proporcionar encontros presenciais, até mesmo abertos à comunidade e

profissionais em geral, possibilitando a agregação de novos elos:

(S4) Promover de alguma forma, encontros, pelo menos das pessoas que estão mais envolvidas, acredito que atinja os objetivos da rede. (P1) Uma sugestão assim de tentar[ ...] aproximar mais os seus elos, talvez nem fazer o encontro de todos os estados, mas fazer pelo menos um encontro da REASul no próprio estado, ou identificar onde estão os seus elos, pólos, [...] organizar pequenos encontros, fazer uma reunião num sábado, de poucas horas, sem muito custo, para estimular que as pessoas se aproximem da rede. [...] Talvez podia aproveitar esses encontros que estejam acontecendo e só contatar os elos.

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Sugere-se ainda que se aproveite eventos maiores para realização de encontros da

REASul: (P2) eu acredito que deva haver ... sempre um encontro presencial de rede e creio

que nos seminários, congressos, cursos, a gente sempre acaba encontrando o pessoal da

REASul, o que possibilita o aprofundamento de laços entre os integrantes.

E por fim, foi sugerido que a REASul desenvolva ações mais consistentes em EA e

temas relacionados à sua área de abrangência:

(R4) Eu acho que tinha que se buscar um aprofundamento nas ações dos municípios, interagir com outros processos da sociedade, a EA por distinção não pode ficar isolada disso. Acho que tinha que ter um direcionamento para isso como realizar eventos, encontros para esse pessoal que se integra ao processo de gestão, discussões de plano diretor, discussões de agroecologia ou agricultura orgânica, discussão das Unidades de Conservação (UCs), de Conselhos Gestores, dos Conselhos Construtivos, das comunidades tradicionais do entorno das UCs, Educação Ambiental para os pescadores das comunidades ribeirinhas, essa é uma integração efetiva. Neste sub- item, procurou-se de acordo com Costa et al. (2003, p. 58) e baseado na

fala dos entrevistados, esboçar um novo desenho organizacional para a REASul, onde foi

sugerido que se definam coletivamente os objetivos da rede, suas atividades, seus produtos,

seus processos articulação, tomada de decisão e formas de execução, além do

acompanhamento e avaliação das ações.

O principal objetivo do desenho organizacional, contudo, é estabelecer os modos de fazer. [...]. De um lado, a rede precisa estabelecer como se dará a divisão do trabalho (se, de fato, isso se mostrar relevante!); como as tarefas necessárias para a consecução dos objetivos deverão se encaixar e integrar umas às outras; e quais serão as atribuições e responsabilidades de cada um dos envolvidos na execução das tarefas. Por outro lado, a rede precisa estabelecer as regras que irão reger os relacionamentos no interior da rede e, mais especificamente, como se dará o exercício de poder (COSTA et al., id., p. 59).

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6.10 Concluindo por hora...

O conceito de redes de Educação Ambiental é visto em grande parte como um

espaço de troca e intercâmbio de informações e interlocução e articulação entre diversos

educadores (o que independente da localização geográfica) que apresentam objetivos em

comum. Dessa forma, a rede passa a ser também uma forma de organização que potencializa

pessoas e ações que essas executam.

Mas praticar e difundir a cultura de rede é um desafio até mesmo para seus

participantes, visto que mediar as vontades e necessidades de todos não é uma tarefa fácil,

especialmente pela grande diversidade que esses integrantes apresentam.

A falta de espaços de formação e informação sobre EA e a possibilidade de

integração com outras pessoas da região Sul para realização de intercâmbios intelectuais,

culturais e afetivos, foi o que mais motivou à adesão de pessoas à REASul . A abrangência

regional fomenta uma grande diversidade, o que foi apontada tanto como um elemento que

possibilita uma rica troca de experiências e até mesmo a realização de ações conjuntas, como

um grande desafio, o de articular três estados com legislações, contextos e demandas bastante

diferenciadas.

Os resultados demonstraram uma atuação positiva da REASul e que não há grandes

diferenças entre as opiniões e perspectivas dos participantes nos três estados, o que demonstra

que a REASul atua de forma similar em toda região Sul.

Mas algumas questões merecem destaque, especialmente pela necessidade de

reformulação de suas ações, para que corresponda aos seus participantes de forma integral.

O site da rede é bastante utilizado, principalmente como um calendário de eventos

em EA, pois permite que os educadores estejam sempre se informando. A Biblioteca Virtual

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também é acessada com freqüência por quem procura informações mais aprofundadas, assim

como a lista de discussão que é utilizada para obtenção e troca de informações em EA com

outros educadores, docentes e discentes.

Mas este fator também demonstra que a REASul está muito mais voltada para a

divulgação de informação do que a promoção da articulação entre seus membros virtual ou

presencialmente, o que pode estar ocorrendo pelo baixo número facilitadores e/ou animadores

na lista de discussão e pela falta de verba para promover encontros e reuniões entre

educadores que fazem parte da rede (este é um fator que limita a ação de grande parte das

redes de EA no Brasil). Isso ainda é agravado pela REASul não ter outras formas de interação

virtual, visto que sua lista de discussão é restrita, apenas destinada aos membros da CGP.

A realização do diagnóstico do estado da arte da EA na região Sul tornou-se a

principal ação da REASul durante a realização do projeto “Tecendo Redes de Educação

Ambiental na Região Sul”, até mesmo dificultando outras ações da rede, especialmente para

sua consolidação. Mas este diagnóstico foi visto como um grande trunfo dessa rede, mesmo

que não tenha contemplado todos os municípios de cada estado do Sul, mesmo que a análise

dos resultados não tenha sido tão aprofundada, esse diagnóstico tornou-se uma referência para

educadores e instituições (até mesmo governamentais), pois foi o primeiro do gênero que se

tem relato na região.

A ação em rede não tem sido praticada efetivamente, especialmente porque a

REASul tem falhado no momento de difundir seus princípios e fundamentos, padrões de

funcionamento e cultura de rede, pois grande parte dos entrevistados sabe que isso existe

dentro de uma rede, mas não os conhecem, não exercendo-os ou procurando exercê- los como

interpretam determinado princípio.

Isso converge na não divisão de tarefas ou em não se assumir determinadas funções

na rede, fazendo com que fiquem concentradas nas mãos de poucos, o que pode ocorrer tanto

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por centralização de poder dentro da REASul, como, pela acomodação, falta de

disponibilidade (pela grande demanda de trabalho diária) e não envolvimento dos membros.

Quanto há alguns princípios norteadores de rede, na REASul foi constatado que

ocorre incentivo à participação, especialmente pelo seu Secretário, mas para muitos

integrantes, não está claro como participar das ações e da lista da REASul. Em relação à co-

responsabilidade, averiguou-se que este princípio ocorre na rede, mas poderia ser de forma

mais comprometida por parte de seus integrantes. O princípio da autonomia é proporcionado

pela REASul, mas grande parte de seus membros não sabem como exercê- la, esperando que

apenas o Secretário da rede tome as atitudes, especialmente por ser a liderança que mais se

destaca, a liderança mais forte. O que implica algumas vezes no não aparecimento de outras

lideranças, concentrando o poder na mão de poucos. E consequentemente o princípio da

horizontalidade fica comprometido, seja pela disputa de poder, pela necessidade de ter sempre

alguém no comando (pois poucas pessoas participam de forma espontânea e efetiva), ou

ainda, porque a horizontalidade seja um princípio que ainda não se conseguiu por em prática.

Cabe ressaltar ainda, que os princípios, objetivos e padrões de funcionamento de uma

rede devem ser discutidos periodicamente entre os participantes, já que há um grande fluxo de

pessoas aderindo e se desligando da rede. Até mesmo para exercer o rodízio de funções para

não sobrecarregar ou desestimular os membros e dinamizar a rede.

Uma rede pode ser vista como um espaço de difusão de informações, de

manifestação, de interlocução, de integração e/ou de representação e deve ser uma pactuação

coletiva. Seus integrantes podem, ou mesmo, deveriam disponibilizar algum tempo para se

dedicar mais à REASul, já que de acordo com Whitaker (1993), a participação é assumida,

livre e consciente, o objetivo deve ser aceito como legítimo pelos participantes, além de que

deve ser vital para quem participa e esse só será alcançado se houver efetiva participação.

Pois são as pessoas que movem a rede!

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E para finalizar, um dos sujeitos entrevistados traz uma grande contribuição, a de

que:

(P2) Nós ainda temos que fazer um trabalho de conquista, de mobilização, um trabalho muito grande de envolvimento das pessoas em idéias comuns, em propósitos comuns, para que as pessoas se sintam pertencentes à rede e que a rede responda à necessidade gregária das pessoas de agir cooperativamente.

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7. CONSIDERAÇÕES FINAIS

“Embora ninguém possa voltar atrás e fazer um novo começo, qualquer um pode começar agora e fazer um novo fim” (Chico Xavier).

A formação e disseminação de redes de compromisso social têm motivado pesquisas e também a elaboração de teorias e princípios caracterizadores desta tipologia organizativa, de forma a permitir um aproveitamento máximo das suas possibilidades, como instrumento de minimização de problemas sociais, nas mais diversas áreas de atuação das redes (ZANONI, 2004, p. 43).

Dessa forma, escolheu-se pesquisar a atuação da REASul, identificando

potencialidades e dificuldades para sua consolidação, primeiramente por ser uma temática

atual e pouco explorada dentro do enfoque em que foi realizado. Além de que este estudo será

de grande relevância para o “repensar” sobre a atuação de redes sociais em especial as com

enfoque na Educação Ambiental e para a própria EA, em diversos aspectos, especialmente no

que diz respeito às formas de interação e relações interpessoais.

Uma pesquisa é um desafio, ela mexe com o olhar e a identidade do pesquisador em

busca da captação de novos horizontes. O fato da pesquisadora ter se relacionado com seu

objeto de pesquisa, fez com que o cuidado de se abster de qualquer opinião pessoal,

especialmente durante a leitura de materiais e realização e análise das entrevistas se tornasse

muito maior. Até mesmo porque, à medida que as entrevistas eram realizadas, informações

desconhecidas eram relatadas e outras surgiam, desconstruindo totalmente o olhar inicial que

a pesquisadora formulava sobre a REASul, fazendo emergir uma nova visão. Mas isso não

quer dizer que se tenha concluído, pois como afirma Minayo (1994):

Nenhuma teoria, por mais bem elaborada que seja, dá conta de explicar todos os fenômenos e processos. O investigador separa, recorta determinados aspectos significativos da realidade para trabalhá-los, buscando interconexão sistemática entre eles (MINAYO, 1994, p. 18).

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Através dessa amostragem da realidade, do recorte realizado, a intenção foi explicitar

o que se pesquisou, demonstrando o quanto ainda tem de se avançar dentro das redes de EA.

Além de apresentar subsídios que possam vir a auxiliar o caminhar da REASul, em busca da

melhoria de sua atuação; buscando uma maior aproximação com seus membros; levando em

conta as necessidades e vontades dos educadores da região Sul; pensando e realizando uma

EA mais consistente e transformadora; e rumando para sua real efetivação .

Porque “não são os atores que devem adaptar-se à estrutura, mas sim a estrutura

que deve adaptar-se às necessidades contextuais dos atores” (ZANONI, 2004, p. 146, grifo

da autora).

E o estudo das redes passa obrigatoriamente por um trabalho que se desenvolve na

fronteira com outras áreas:

Trata-se de buscar o significado das redes; não numa perspectiva de linearidade entre o desenvolvimento técnico e as transformações espaciais, sociais ou econômicas, mas sim numa realidade pluridimensional, na qual emerjam as estratégias antagônicas de uma multiplicidade de atores (DIAS, 1995, p. 159).

Uma rede pode contribuir para a expansão de relações entre seus membros, através

das informações veiculadas, trocas interpessoais em diversos níveis e de processos de

mobilização. E ao longo dessa pesquisa, foram trazidos diversos princípios impulsionadores

das redes, como a descentralização na tomada de decisões, o alto grau de autonomia de seus

membros, a horizontalidade das relações, além do trabalho participativo e colaborativo. Mas

os resultados mostraram que a prática desses fundamentos é um tanto difícil, pois a grande

maioria das pessoas ainda não está suficientemente preparada para atuar como um elo,

necessitando rever suas intenções em participar de uma rede e também reavaliar sua atuação,

de forma a ser um elo efetivo, já que cada ser humano é único, apresentando talentos que

podem ser de extrema importância à rede. E como afirma Loureiro (2004):

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[...] a sociedade humana não é homogênea e harmoniosa, mas formada por uma multiplicidade de grupos sociais dotados de valores e ideologias e interesses bastante heterogêneos, que disputam entre si o privilégio de dirigir o processo social segundo suas posições e interesses (LOUREIRO, 2004a, p. 90).

Para tanto, fica o alerta de Whitaker (1993), que diz que apesar das redes guiarem-se

por processos coletivos de mudança, esta mudança só poderá ocorrer, se iniciarmos por nós

mesmos. Já que:

a idéia de rede implica admitir a complexidade do social, composta de setores e agrupamentos sociais heterogêneos, campos de múltiplas contradições, diversidades e discursos plurais, em que opera não apenas a lógica do conflito, mas também da cooperação e da solidariedade (SCHERER-WARREN, 1999, p. 50-51).

Porém as redes têm encontrado diversas dificuldades em sua trajetória, como a falta

de cultura e de experiência no trabalho em rede, baixa disponibilidade e envolvimento dos

participantes e facilitadores, atitudes e ações baseadas em padrões do sistema capitalista, e

ainda, a exclusão digital. Mas tudo isso tem sido importante para que as redes reavaliem suas

estratégias, revejam seus parâmetros, redefinam objetivos e metas e construam novas

parcerias, se fortalecendo.

As redes apresentam a possibilidade de serem uma forma de articulação

emancipatória e este trabalho que pesquisou a REASul, verificando seu funcionamento,

avaliando seus impactos e identificando pontos fracos e fortes, procurou mostrar o quanto

ainda tem-se de avançar no trabalho com redes.

A REASul se destaca por difundir a cultura de redes, mas há a necessidade de um

trabalho permanente de conquista, de mobilização, de envolvimento das pessoas para que

realmente sintam-se integrantes da rede, a fim de contribuir para prática de seus princípios e

fundamentos e para sua real consolidação.

Vale ressaltar que esta pesquisa pode ser encarada como um ponto de retomada para

a articulação e gerenciamento da REASul e poderá servir de subsídio para outras redes de

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Educação Ambiental e incentivar novas pesquisas, buscando aperfeiçoar cada vez mais essas

formas de organização social, que são únicas e que podem se mesclar com outras formas de

organização, visando atingir seus objetivos e de seus integrantes.

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APÊNDICE

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APÊNDICE A - Roteiro da entrevista realizada.

Fundação Universidade Federal do Rio Grande - FURG

Programa de Pós Graduação em Educação Ambiental - PPGEA

Eu, ___________________________________________________, portador(a) do RG nº

___________________ e CPF nº ____________________________, autorizo a Fundação

Universidade Federal do Rio Grande – FURG, na pessoa de Anabel de Lima, portadora do

RG nº x.xxx.xxx-x e CPF nº xxx.xxx.xxx-xx, a utilizar as informações prestadas em sua

pesquisa de mestrado intitulada “Do universo das redes às redes de Educação Ambiental,

potencialidades e limitações da Rede Sul Brasileira de Educação Ambiental: REASul”. Sendo

que tais informações serão mantidas em absoluto sigilo, quanto à autoria, dados pessoais e

outras informações de identificação dos entrevistados. E as respostas serão utilizadas de modo

fidedigno, subsidiando a pesquisa inclusa na dissertação de mestrado anexa.

1. Levantamento do perfil do entrevistado:

Nome: ___________________________________________________________________

Sexo: ______ Idade: ______ Local onde reside: __________________________________

Telefone e e-mail para contato: ________________________________________________

Formação profissional: ______________________________________________________

Instituição em que trabalha: __________________________________________________

Participa de alguma outra rede? ________ Qual: _______________________________

_______________________________ Há quanto tempo? __________________________

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2. Entrevista:

1) Qual a sua concepção sobre redes de Educação Ambiental?

2) Como conheceu a REASul e há quanto tempo faz parte dela?

3) Quais os principais motivos que o levaram a participar da REASul?

4) Quando se fala em REASul, você lembra de algum nome ou pessoa

em particular? Por qual motivo?

5) Quais são os objetivos e princípios norteadores da REASul?

6) Em sua opinião quais são as principais virtudes da REASul?

7) E quais os principais problemas e dificuldades enfrentados pela REASul?

8) Que serviços prestados ou atividades realizadas pela REASul você já usufruiu?

( ) Informação sobre a região Sul

( ) Informação sobre Educação Ambiental (EA)

( ) Informação sobre eventos (seminários, congressos, cursos etc.)

( ) Diagnóstico da EA na região Sul

( ) Consulta ao SIBEA

( ) Pesquisa na Biblioteca Virtual

( ) Boletim Eletrônico

( ) Troca de experiências e informações com outros educadores

( ) Comissão de Gestão Participativa da REASul (CGP) e sua lista de discussão

( ) Artigos científicos da REASul

( ) II Simpósio Sul Brasileiro de EA; I Colóquio de Pesquisadores da Região Sul; I

Encontro da REASul realizados em Itajaí/SC em 2003

( ) II Encontro da REASul, realizado em 2004 em Erechim/RS

( ) Desenvolvimento de ações conjuntas. Quais? ______________________________

( ) Outros. Quais? ______________________________________________________

8.1) Você acessa a página da REASul para obter informações? _______________________

9) Em relação à REASul, opine de acordo com os valores descritos na tabela abaixo,

justificando sua escolha:

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(1) Concordo totalmente

(2) Concordo com restrições (ou concordo em certos aspectos)

(3) Discordo com restrições (ou desaprovo em certos aspectos)

(4) Discordo totalmente

(5) Não tenho opinião formada

( ) A REASul incentiva a participação de seus integrantes?

( ) Seus integrantes agem de forma co-responsável?

( ) Propicia que seus membros ajam de forma autônoma?

( ) Esta rede atua de forma horizontalizada?

( ) A REASul promove a multiliderança?

( ) Proporciona uma boa comunicação com a troca de experiências e informações?

( ) Fomenta e desenvolve ações de EA?

10) A REASul corresponde(u) às suas expectativas? Se sim, em que aspectos?

11) Quais as suas sugestões para a melhoria da atuação da REASul?

12) Gostaria de acrescer outra(s) informação(ões)? Qual(is)?

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ANEXOS

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ANEXO A - Diagnóstico da Educação Ambiental realizado pelas redes.

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ANEXO B - Primeiro folder da REASul (lado 1).

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ANEXO B - Primeiro folder da REASul (lado 2).

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ANEXO C - Realease da REASul apresentado como meio de divulgação do projeto “Tecendo Redes de Educação Ambiental na Região Sul”.

1. Equipe Executora:

Coordenação Técnica: Antonio Fernando Silveira Guerra (UNIVALI).

Técnicos Responsáveis: Karina Luiza de Oliveira (MATER NATURA), Anabel de Lima

(MATER NATURA), Regina Sbardelini Peres (MATER NATURA) José Vicente de Freitas

(FURG), Ana Maria Torres (CEPSUL/IBAMA - SC).

Consultores: Gilberto da Silva Luy, José Erno Taglieber, Michéle Sato.

Colaboradores: André Luiz Raabe, Arion de Castro Kurtz dos Santos, Cesário Pereira,

Claudio Nova Cruz Bandeira, Dailey Fischer, Débora Laurino Maçada, Estela Maris

Giordani, Genoina Battistini de Pinho, José Mauro Junglhaus, Marco Antonio Pinheiro, Maria

do Carmo Galiazzi, Martha Tresarini Bernardes Wallauer, Luiz Alberto Fernandes, Paulo

Aparecido Pizzi, Rosemeri Carvalho Marenzi, Silvana de Andrade, Solange Puntel Mustafa,

Susana Inês Molon, Yara Christina.

2. Instituições Parceiras da UNIVALI na execução do Projeto: MATER NATURA - Instituto

de Estudos Ambientais; Fundação Universidade Federal do Rio Grande (FURG); Centro de

Pesquisa e Gestão de Recursos Pesqueiros (CEPSUL/IBAMA); Núcleo de Educação

Ambiental (NEA/IBAMA-SC).

3. Descrição:

O projeto Tecendo Redes de Educação Ambiental na Região Sul - REASul é coordenado pela

Fundação Universidade do Vale do Itajaí - UNIVALI, no âmbito do edital 007/2002

(Estruturação de Redes Multiinstitucionais de Educação Ambiental) financiado pelo – Fundo

Nacional do Meio Ambiente - FNMA, convênio 035/2002.

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O Projeto visa integrar as ações em Educação Ambiental (EA) desenvolvidas nos estados do

Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Tem como objetivo principal a criação e

consolidação da Rede Sul Brasileira de Educação Ambiental (REASul), utilizando-se da

formação de redes e de websites, para difusão de informações, conhecimentos, práticas

educacionais e desenvolvimento de metodologias em EA. Para tanto, promoverá um

diagnóstico do estado da arte em EA na região Sul; desenvolver a cooperação técnica de

serviços de informação e comunicação eletrônica entre as instituições participantes com o

Sistema Brasileiro de Informações sobre Educação Ambiental e Práticas Sustentáveis –

SIBEA do Ministério do Meio Ambiente, com a Rede Brasileira de Educação Ambiental -

REBEA, e outras redes estaduais; e fomentar a estruturação e o fortalecimento de elos

regionais e núcleos de pesquisa em EA.

4. Metas:

A dinâmica para implantação do projeto e a estrutura de funcionamento da REASul pode ser

melhor explicada a partir do detalhamento das metas do projeto, abaixo descritas.

META 1:

Criação, gestão e consolidação da Rede Sul Brasileira de Educação Ambiental (REASul), e

estruturação, manutenção e ampliação de seu website.

A estratégia a ser empregada para implantação da REASul, e com ela o lançamento de

sementes de idéias para a criação de redes estaduais e temáticas, terá como base inicial a

implantação da Comissão de Gestão Participativa (CGP) e estruturação de uma secretaria

executiva. Cada uma das 5 instituições envolvidas no projeto indicará um representante para a

CGP (mais o coordenador técnico) que se reunirá fisicamente a cada trimestre, e efetuará,

também, debates através de lista eletrônica de discussão.

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Todas as atividades do projeto e da REASul serão disponibilizadas em um site hospedado na

UNIVALI (que já mantém o site da REBEA), planejado e mantido por um webdesigner, que

também será responsável pela instalação do Fórum virtual da REASul, principalmente, nas

metas 2 e 3.

META 2:

Realização de diagnósticos do estado da arte em EA (programas, projetos, práticas educativas

e materiais produzidos) de instituições de ensino, órgãos governamentais e não-

governamentais, associações e entidades e dos especialistas/pesquisadores/docentes/

ambientalistas atuantes na região Sul e sua disponibilização para o piloto do SIBEA e

integrada ao site da REASul. Na realização deste diagnóstico, inicialmente, serão utilizados os

dados contidos na Ecolista e demais cadastros/mailling disponíveis em órgãos públicos. Serão

remetidos pelo correio 3.000 formulários (1.000 em cada estado) para coletar dados para a

REASUL e o SIBEA.

META 3:

Estruturação e fomento de elos estaduais e núcleos de EA locais para realização de

cursos/oficinas de capacitação, encontros regionais e seminários de avaliação, - tanto

presencial quanto a distância -, visando a estruturação, ampliação e consolidação da REASul e

de outras redes, e preparação de agentes/educadores em EA para o uso pedagógico de redes

informais.

Serão efetuados contatos e visitas às instituições de ensino superio r (IES) ligadas as 12

entidades pertencentes à Associação Catarinense das Fundações Educacionais - ACAFE

(www.acafe.rct-sc.br) em Santa Catarina, a Associação das Instituições do Ensino Superior do

Rio Grande do Sul (AIES/RS) e na rede de fundações no Paraná, visando a distribuição dos

formulários de diagnóstico, o estabelecimento de contatos e a celebração de Termos de

Cooperação Técnica entre os proponentes da REASul e prováveis integrantes da rede.

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Também serão oferecidos 5 cursos e oficinas de capacitação em EA, de forma presencial e

por meio da utilização de redes eletrônicas de teleconferência.

Com o fortalecimento dos elos regionais pretende-se propor a implantação de Grupos de

Trabalho em EA, que seriam ampliados em pelo menos um Seminário por estado. Nestes

seminários serão apresentados os resultados parciais das informações coligadas na meta 2 do

projeto. também nos seminários será proposta a organização de grupos de trabalho (GT) sobre

temas específicos, como a sustentabilidade, formação de professores/agentes/educadores

ambientais, produção de materiais educativos para EA, dentre outros. Além destes Seminários

estaduais, serão organizados dois encontros interinstitucionais de avaliação do projeto da

REASul.

META 4:

Criação de mecanismos de divulgação/difusão das informações sobre atividades e projetos de

EA na região Sul, visando o fortalecimento de elos regionais e núcleos de EA, o

aprimoramento e a capacitação dos mantenedores e usuários.

Nesta meta será fomentada a organização de grupos interinstitucional de pesquisa, produção e

divulgação de materiais educativos e audiovisuais e de tecnologias para EA, bem como a

difusão das atividades da REASul e do diagnóstico realizado na meta 2 por meio eletrônico

(Revista da FURG) e publicações. Também haverá a produção e difusão de programas

educativos de EA para rádio, TV, meio eletrônico (website das redes) e materiais impressos e

audiovisuais já existentes;

Ao final do projeto, será editado um número especial em revistas mantidas pela UNIVALI e

FURG, contendo artigos que descrevam a experiência com o projeto. Da mesma forma, serão

produzidos e distribuídos CD Rooms com os resultados da análise do diagnóstico realizado

pela REASul. E, finalizando esta meta, a REASul também prestará sua colaboração à REBEA

no sentido de produção de conteúdo e na distribuição do Jornal "O Educador Ambiental".

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5. Resultados esperados:

Ao término do projeto espera-se atingir os seguintes resultados:

• Criação e expansão da Rede de Educação Ambiental da Região Sul (REASul);

• Fomentar a criação e manutenção das Redes paranaense, catarinense e gaúcha de EA e de

sites das redes estaduais e de listas de discussão;

• Realização de um amplo diagnóstico sobre o estado da arte da Educação Ambiental nos

estados da região Sul e sua disponibilização no SIBEA e site da REASul;

• Estruturação, alimentação e manutenção de dados no âmbito do SIBEA;

• Organização de Elos estaduais e implantação de Núcleos locais de EA nos três estados;

• Fortalecimento da articulação presencial e virtual com o FNMA, REBEA e integração com

demais redes estaduais e redes temáticas;

• Fortalecimento da cooperação entre instituições de ensino, órgãos governamentais, ONGs,

as Comissões Interinstitucionais de Educação Ambiental e Comissões estaduais e locais da

Agenda 21 e de Bacias Hidrográficas;

• Criação e difusão de programas educativos de EA para Rádio e TV, e distribuição de CD

Rooms com os resultados do diagnóstico realizado pela REASul;

• Criação de pelo menos 5 Elos em cada estado e pelo menos 15 Núcleos de EA locais nos

três estados, para fortalecer a criação e desenvolvimento da REASul e das futuras redes

estaduais, para apoio e realização de atividades e cursos, como também divulgação e

distribuição de materiais educativos;

• Participação de representantes da REASul em pelo menos um Encontro de EA em cada

estado e na organização do II Simpósio Sul Brasileiro de Educação Ambiental;

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ANEXO D - Um dos exemplares do Boletim Eletrônico da REASul.

BOLETIM REASUL - setembro de 2005

www.reasul.org.br

Neste número do Boletim Virtual da REASul estamos dando continuidade a uma pesquisa de opinião sobre o site da rede, que está se tornando um Portal. Envie um e-mail para [email protected] indicando o que você gostaria de ver e/ou que seja reformulado no site.

Secretaria Executiva da REASul.

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MATER NATURA LANÇA ECOLISTA ONLINE

A ECOLISTA é uma iniciativa da Mater Natura – Instituto de Estudos Ambientais, ONG sediada em Curitiba, Paraná, e nesta edição tem patrocínio da Petrobras - Petróleo Brasileiro S.A. A primeira edição da ECOLISTA foi lançada em 1992, e a segunda edição, de 1996, contou com a participação de 1.035 ONGs e instituições governamentais.

REDES DE EA BUSCAM ESTRATÉGIAS COMUNS EM ENCONTRO COM O ÓRGÃO GESTOR DA PNEA O órgão gestor da Política Nacional de Educação Ambiental (Ministérios do Meio Ambiente e da Educação) e as Redes de Educação Ambiental realizaram, nesta terça-feira (13), um encontro virtual visando articulações com as redes para implantação da Política Nacional de Educação Ambiental, do Programa Nacional de Educação Ambiental, participação na 2ª Conferência Nacional de Meio Ambiente, que acontecerá em dezembro, em Brasília, a questão de critérios e recursos do Fundo Nacional do Meio Ambiente para a Educação Ambiental, formação em EA a distância, dentre outros.. A página principal do encontro virtual está ainda disponível para acesso as questões formuladas no debate em http://adi.proinfo.mec.gov.br.

EDUCADORES DO PROJETO PIAVA CONHECEM PROJETOS DE RECUPERAÇÃO DA MATA CILIAR EM VIDAL RAMOS - SC As piavinhas educadoras participaram no último sábado, 10, do curso de educação ambiental para conservação e uso sustentável da água em Vidal Ramos. A parte teórica do curso ficou por conta do professor Dr. Antônio Fernando Guerra, da Univali, e REASul.

UNIVALI OFERECE VAGAS PARA EA NO MESTRADO EM EDUCAÇÃO

A UNIVALI, em Itajaí, está com inscrições abertas para o Mestrado em Educação. O Grupo de Pesquisa em Educação, Estudos Ambientais e Sociedade está oferecendo 4 vagas para a seleção que estão abertas até o final de setembro. Informações nos links: http://www.univali.br ou http://www.univali.br/asp/system/empty.asp?P=128&VID=default&SID=962166870237343&S=1&A=closeall&C=25882

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PROJETO APOEMA LANÇA AMBIENTE VIRTUAL PARA EDUCAÇÃO INFANTIL

O Projeto Apoema de Educação Ambiental lançou, um ambiente virtual para crianças de 6 a 12 anos. O portal está dividido em níveis e apresenta a “Coleção Virtual Crescendo e Aprendendo a Preservar”. O Projeto Apoema – Educação Ambiental, criado em 1993, é uma produção independente desenvolvida de forma voluntária.

CONVITE PARA PARTICIPAÇÃO DE PESQUISA DE MESTRADO Anabel de Lima convida a todos os participantes da REASul interessados em contribuir com sua pesquisa de Mestrado em Educação Ambiental na FURG, em Rio Grande "Do universo das redes às redes de Educação Ambiental, potencialidade e limitações da REASul", a agendarem uma entrevista. Por gentileza entrem em contato com Anabel de Lima através do e-mail [email protected].

PARTICIPE DA REASUL ENTRANDO EM CONTATO COM O ELO MAIS PRÓXIMO DE VOCÊ

A REASul, é formada pelas instituições gestoras que constituem a Comissão de Gestão Participativa (CGP), a Secretaria Executiva, e ainda seus Elos regionais, Elos locais e Grupos de Trabalho (4GTs).

Secretaria Executiva da REASul Fundação Universidade do Vale do Itajaí - UNIVALI Rua Uruguai 458 Bloco 6 - sala 104- Centro Itajaí - SC - CEP. 88302-202 Fone/ (0xx47)3417780 fax: (0xx47)3417822 E-mail: [email protected]

Paraná

MATER NATURA - Instituto de Estudos Ambientais Fone: Telefax: (0xx41)30137186 E-mail: [email protected]

IBAMA/PR - Núcleo de Educação Ambiental - NEA Fone/Fax: (0xx41) 33632525 E-mail: [email protected]

Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental - SPVS - Curitiba - PR Fone/fax: (0xx41)2420280 E-mail: [email protected] Rede Paranaense de Educação Ambiental - REA-PR E-mail: [email protected] Santa Catarina

Centro de Pesquisa e Gestão de Recursos Pesqueiros CEPSUL Fonel/fax: (0xx47) 348-6058 E-mail: [email protected]

IBAMA/SC - Núcleo de Educação Ambiental /NEA Fone: (0xx48) 3212-3349 Fax: (0xx48)2123351 E-mail: [email protected]

Fundação Praia Vermelha de Conservação da Natureza - Penha - SC Fone (0xx47) 348-6675 E-mail: [email protected] Fundação Universitária Iberoamericana - FUNIBER - Florianópolis - SC Fone/fax: (0xx48)237-2909

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E-mail:[email protected]

Universidade Regional de Blumenau - FURB Instituto de Pesquisas Ambientais - IPA Fone: (0xx47) 3210540 E-mail: [email protected]

Universidade do Oeste de Santa Catarina - Campus de Joaçaba - Joaçaba - SC Programa de Mestrado em Educação Fone: (xx49) 551- 2012 E-mail: [email protected]

Universidade do Contestado UnC- Caçador - SC Fone (0XX49) 561 - 2600 E-mail: [email protected]

Rio Grande do Sul

Fundação Universidade Federal do Rio Grande -(FURG) – Rio Grande - RS Programa de Mestrado em Educação Ambiental Fone: (0xx53) 2336615 fax: (0xx53) 2336646 E-mail: [email protected]

Fundação Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões (FURI) - Campus de Erechim -RS Laboratório de Educação Ambiental Fone: (0xx54)5209000 ramal 9147 E-mail: [email protected]

IBAMA -RS - Núcleo de Educação Ambiental – Porto Alegre Fone: (0xx51)32252144 - ramal 506 E-mail: [email protected] PROJETO APOEMA – Novo Hamburgo Fone: (0xx51): 30357469 E-mail: [email protected] Universidade Luterana do Brasil - ULBRA - Canoas - RS Programa de Mestrado em Educação Fone: (0xx51) 4774000 r. 2308 E-mail: [email protected]

DIVULGUE SUAS ATIVIDADES EM EA E EVENTOS ENVIANDO UM E-MAIL PARA [email protected] .

Se sua instituição em interesse em ser um elo da rede em sua cidade ou estado, faça contato.

SE NÃO DESEJAR MAIS RECEBER ESSE BOLETIM DA REASul, ENCAMINHE E-MAIL PARA [email protected] COM "REMOVER" NO CAMPO ASSUNTO. É PERMITIDA E INCENTIVADA A REPRODUÇÃO DESSE BOLETIM POR QUALQUER MEIO ELETRÔNICO OU MANUAL.

Este Boletim é de responsabilidade do GT de Informação e Comunicação da REASul Seleção e Diagramação: Antonio Fernando Guerra – [email protected]

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ANEXO E - Folder da REASul criado para divulgação da rede e do II Simpósio Sul Brasileiro de Educação Ambiental (lado 1).

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ANEXO E - Folder da REASul criado para divulgação da rede e do II Simpósio Sul Brasileiro de Educação Ambiental (lado 2).

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ANEXO F - Termo de Cooperação da REASul

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ANEXO G - Termo de Adesão à REASul.

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ANEXO H - Novo Termo de Adesão à REASul.

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