17 - folkcomunicação - a mídia dos excluídos

64
Cadernos da Comunicação Série Estudos Folkcomunicação A mídia dos excluídos miolo.p65 16/3/2007, 19:28 1

Upload: vunguyet

Post on 08-Jan-2017

225 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: 17 - Folkcomunicação - A mídia dos excluídos

Série Estudos 1

Cadernos da ComunicaçãoSérie Estudos

FolkcomunicaçãoA mídia dos excluídos

miolo.p65 16/3/2007, 19:281

Page 2: 17 - Folkcomunicação - A mídia dos excluídos

2 Cadernos da Comunicação

Agradecemos a colaboração dos professores José Marques de Melo e MariaCristina Gobbi pela contribuição decisiva para a elaboração deste Caderno.

A coleção dos Cadernos da Comunicação pode ser acessada nosite da Prefeitura/Secretaria Especial de Comunicação Social:www.rio.rj.gov.br/secsMarço de 2007

Prefeitura da Cidade do Rio de JaneiroRua Afonso Cavalcanti 455 – bloco 1 – sala 1.372Cidade NovaRio de Janeiro – RJCEP 20211-110e-mail: [email protected]

Todos os direitos desta edição reservados à Prefeitura da Cidade doRio de Janeiro. Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzidaou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônico oumecânico) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sempermissão escrita da Prefeitura.

Prêmio Luiz Beltrão deCiências da Comunicação’2006na categoria Grupo Inovador

Rio de Janeiro (Cidade). Secretaria Especial de Comunicação Social. Folkcomunicação – a mídia dos excluídos / Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro : — Rio de Janeiro : A Secretaria, 2007. 114p. : il.— (Cadernos da Comunicação. Estudos; v. 17)

Inclui bibliografia. ISSN: 1676-5508

1. Literatura popular – Brasil 2. Comunicação de massa – Brasil. 3. Cultura popular – Brasil. 4. Comunicação e cultura – Brasil. I. Título.

CDD: 398.20981

miolo.p65 16/3/2007, 19:282

Page 3: 17 - Folkcomunicação - A mídia dos excluídos

Série Estudos 3

Prefeito

Cesar Maia

Secretária Especial de Comunicação Social

Ágata Messina

CADERNOS DA COMUNICAÇÃOSérie Estudos

Comissão EditorialÁgata MessinaHelena Duque

Leonel KazRegina Stela Braga

EdiçãoRegina Stela Braga

Redação e pesquisaÁlvaro Mendes

RevisãoAlexandre José de Paula Santos

Projeto gráfico e diagramaçãoMarco Augusto Macedo

CapaJosé Carlos Amaral/SEPROP

Marco Augusto Macedo

miolo.p65 16/3/2007, 19:283

Page 4: 17 - Folkcomunicação - A mídia dos excluídos

4 Cadernos da Comunicação

CADERNOS DA COMUNICAÇÃOEdições anteriores

Série Memória1 - Correio da Manhã – Compromisso com a verdade2 - Rio de Janeiro: As Primeiras Reportagens – Relatos do século XVI3 - O Cruzeiro – A maior e melhor revista da América Latina4 - Mulheres em Revista – O jornalismo feminino no Brasil5 - Brasília, Capital da Controvérsia – A construção,

a mudança e a imprensa6 - O Rádio Educativo no Brasil7 - Ultima Hora – Uma revolução na imprensa brasileira8 - Verão de 1930-31 – Tempo quente nos jornais do Rio9 - Diário Carioca – O máximo de jornal no mínimo de espaço10 - Getulio Vargas e a Imprensa11 - TV Tupi, a Pioneira na América do Sul12 - Novos Rumos, uma Velha Fórmula – A mudança do perfil do rádio no Brasil13 - Imprensa Alternativa – Apogeu, queda e novos caminhos14 - Um jornalismo sob o signo da política15 - Diario de Noticias – A luta por um país soberano16 - 1904: Revolta da Vacina – A maior batalha do Rio17 - Jogos Pan-Americanos – Uma olimpíada continental

Série Estudos1 - Para um Manual de Redação do Jornalismo On-Line2 - Reportagem Policial – Realidade e ficção3 - Fotojornalismo Digital no Brasil – A imagem na imprensa da

era pós-fotográfica4 - Jornalismo, Justiça e Verdade5 - Um Olhar Bem-Humorado sobre o Rio nos Anos 206 - Manual de Radiojornalismo7 - New Journalism – A reportagem como criação literária8 - A Cultura como Notícia no Jornalismo Brasileiro9 - A Imagem da Notícia – O jornalismo no cinema10 - A Indústria dos Quadrinhos11 - Jornalismo Esportivo – Os craques da emoção12 - Manual de Jornalismo Empresarial13 - Ciência para Todos – A academia vai até o público14 - Breve História da Imprensa Sindical no Brasil15 - Jornalismo Ontem e Hoje16 - Uma Questão de Estilo – A cobertura de moda na mídia impressa carioca

miolo.p65 16/3/2007, 19:284

Page 5: 17 - Folkcomunicação - A mídia dos excluídos

Série Estudos 5

Objeto de estudos científicos, os processos de comunica-ção das manifestações das culturas populares revelam-se umuniverso rico, multifacetado e ainda pouco explorado por pesqui-sadores, professores e estudantes de Comunicação.

Quase todas as comunidades, mesmo aquelas que ficam àmargem do desenvolvimento econômico, urbano e tecnológico,encontram meios alternativos para divulgar informações e ex-pressar sua arte, preenchendo as funções dos meios de Comuni-cação tradicionais. Essas manifestações incluem, entre outras,cantorias, literatura de cordel, ex-votos e folguedos como obumba-meu-boi e o mamulengo.

A literatura de cordel é o exemplo mais marcante do alcan-ce que este tipo de comunicação pode ter. Os livretos artesanaissaem dos seus lugares de origem e chegam onde os imigrantesnordestinos buscam melhores condições de vida. O nome cordelderiva de corda, em que originalmente ficavam pendurados oslivretos. São publicações em prosa e verso, através das quais opovo, principalmente o nordestino, registra e transmite (comuni-ca) seus hábitos, suas dores, alegrias e anseios.

Foi em meados dos anos 60 que o professor Luiz Beltrão,em sua tese de doutoramento na Universidade de Brasília, criou eapresentou o conteúdo de uma nova disciplina, a Folkcomunicação.Hoje, as teorias da Folkcomunicação já começaram a merecer aatenção de estudiosos de todo o país e contam com alguns se-guidores ardorosos. Entre eles, os professores José Marques deMelo e Maria Cristina Gobbi, cuja colaboração foi decisiva para aconfecção deste Caderno.

CESAR MAIAPrefeito da Cidade do Rio de Janeiro

miolo.p65 16/3/2007, 19:285

Page 6: 17 - Folkcomunicação - A mídia dos excluídos

6 Cadernos da Comunicação

“Sob a pressão da vida social, o

povo atualiza, reinterpreta e

readapta constantemente os seus

modos de sentir, pensar e agir em

relação aos fatos da sociedade e aos

dados culturais do tempo.”

Edison Carneiro, pesquisador e folclorista (1912 -1972)

miolo.p65 16/3/2007, 19:286

Page 7: 17 - Folkcomunicação - A mídia dos excluídos

Série Estudos 7

Introdução

Uma vida dedicada à ComunicaçãoContribuições para o jornalismo e para asteorias da Comunicação

Icinform: Uma experiência pioneira no Brasil

O legado de Comunicações & Problemas

Folkcomunicação: Primeira teoria brasileirana área da comunicação

Folkcomunicação:A mídia das comunidades periféricasUm Brasil de múltiplas culturasOs cenários e os atores sociais

Folkcomunicação: Conceitos e definições

A comunicação dos marginalizadosA audiência da Folkcomunicação

Uma estratégia das classes subalternasFolkmídiaMcLuhan e Beltrão

O papel articulador da CátedraUnesco/Metodista

Bibliografia

Notas

Sumário

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

8

11

13

15

16

21

21

29

41

44

48

50

52

55

58

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

60

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

25

14

miolo.p65 16/3/2007, 19:287

Page 8: 17 - Folkcomunicação - A mídia dos excluídos

8 Cadernos da Comunicação

Introdução

Folkcomunicação, a que os Cadernos da Comunicação dedi-cam este número, é uma disciplina científica bem moderna, situadana fronteira do Folclore (resgate e interpretação da cultura popular)e da Comunicação de Massa (difusão de símbolos através de meiosmecânicos e eletrônicos destinados a audiências amplas, anônimase heterogêneas). O conteúdo da disciplina e sua denominação fo-ram ambos criados, ao mesmo tempo, pelo professor Luiz Beltrão,em sua tese de doutoramento defendida na Universidade de Brasília,em 1967, intitulada Folkcomunicação, um estudo dos agentes e dos meiospopulares de informação de fatos e expressão de idéias.

A oficialização universitária dessa idéia inovadora e ousada doprofessor Luiz Beltrão só se tornou possível, por sua vez, pela vi-são prospectiva de Darcy Ribeiro, quando, sendo reitor da Univer-sidade de Brasília, ele institucionalizou a defesa de teses de douto-rado em todas as áreas do conhecimento, por mais novas e renova-doras que fossem, e não só nas disciplinas que já tivessem sidoacolhidas por sua legitimação acadêmica.

Mesmo assim, como acontece quase sempre com todo pensa-mento novo e inovador, a recém-legitimada disciplina daFolkcomunicação encontrou resistência dupla: a dos folcloristasconservadores, que pretendiam “proteger” a cultura popular dasinvestidas midiáticas modernizantes, e a dos comunicólogos liber-tadores, que desejavam fazer da cultura popular um dos pontos deapoio de suas batalhas políticas.

Esse é o principal motivo que explica o relativo desconheci-mento das idéias do professor Luiz Beltrão por parte das novasgerações de comunicadores. Trata-se de um arsenal acadêmico quepermaneceu até hoje meio encoberto ou até marginalizado. Estasituação, contudo, começa a mudar, devido principalmente ao

miolo.p65 16/3/2007, 19:288

Page 9: 17 - Folkcomunicação - A mídia dos excluídos

Série Estudos 9

processo da globalização, que nos permite vislumbrar ummundo multicultural, aberto, por isso mesmo, às manifestações dacultura popular e, ao mesmo tempo, traduzidas na linguagem dacultura de massa.

O pensamento inovador da Folkcomunicação, como todo pen-samento vivo e fecundo, tem uma tradição e uma história, comprecursores e inovadores. A história desta disciplina, por um lado,fundamenta-se nas teorias norte-americanas da mass communication;por outro, Luiz Beltrão amparou-se nas teses da “dinâmica do fol-clore”, defendidas pelo grande folclorista e estudioso brasileiroEdison Carneiro, que era um pensador de esquerda. Também poressa filiação intelectual, as teses criativas de Luiz Beltrão circula-ram incompletas durante o período militar iniciado em 1964, sócomeçando a ser divulgadas livremente depois de 1980, quando, jáno governo do general Geisel, sopraram os ventos da abertura “len-ta e gradual”.

Foi de então até hoje, já com um segundo livro publicado sobreo tema, Folkcomunicação, a comunicação dos marginalizados, publicadoem 1980, que Luiz Beltrão pôde apresentar seu pensamento madu-ro, livre de lacunas próprias de quem inicia um novo campo desaber, e ao mesmo tempo atualizando suas teorias, enriquecidascom o fruto das pesquisas empíricas que fez em diversas regiõesbrasileiras (Brasília, por exemplo), e com os confrontos feitoscom pesquisas de natureza semelhante, realizadas em outrospaíses. Pode dizer-se que, neste sentido, ele tomou ao pé da le-tra a proposta de Câmara Cascudo, na carta que o grandefolclorista enviou ao então jovem autor: “Ande primeiro com ospróprios pés e veja com os próprios olhos, para depois compararcom as pegadas e olhares dos outros”.

Hoje, a Folkcomunicação de Luiz Beltrão encontra-se dissemi-nada por todo o país, e conquistou seguidores que desenvolveramalgumas de suas idéias, e também discípulos que seguiram por tri-

miolo.p65 16/3/2007, 19:289

Page 10: 17 - Folkcomunicação - A mídia dos excluídos

10 Cadernos da Comunicação

Altar – Ex-votos – Teresina – PI – 2006 – Foto de Luciano Klaus

lhas que ele abriu: entre eles, José Marques de Melo, RobertoBenjamim, Oswaldo Trigueiro e Joseph Luyten. Dos escritos dessegrupo resultou um corpo de conceitos que explicita, ou reinterpreta,a teoria da Folkcomunicação.

Os textos aqui publicados constituem um dossiê que representauma espécie de itinerário da jovem disciplina da Folkcomunicação.

Ace

rvo

do P

CLA

/Cát

edra

Une

sco/

SP

miolo.p65 16/3/2007, 19:2810

Page 11: 17 - Folkcomunicação - A mídia dos excluídos

Série Estudos 11

Uma vida dedicadaà Comunicação

Maria Cristina Gobbi 1

Luiz Beltrão de Andrade Lima, nascido em 8 de agosto de 1918, religio-so fervoroso, quando jovem sonhava ser pa-dre. Filho de Francisco Beltrão de AndradeLima, cirurgião-dentista, e de Maria Amáliade Andrade, de família de classe média. Des-de criança, teve na religiosidade uma fontede inspiração. Em 1930, entrou para o Semi-nário de Olinda. Desta forma, observamosque, por algum tempo, seus escritos estavamcentrados no campo religioso.

Influenciado pelo Padre Costa, di-retor do Seminário, Beltrão descobreque sua grande vocação se encontrafora dos seus portões. Um desejo gran-de de liberdade, de contato com pes-

soas, a curiosidade de descobrir e conhecer melhor os mistériosdo comportamento humano eram quase infinitos. As diferençasentre o mundo em que vivera e o que se descortinava, fizeramcom que Luiz Beltrão encontrasse no jornalismo um novo hori-zonte.

O Diário de Pernambuco, em 1936, ocupando ele o cargo de revisor,foi seu primeiro contato com a nova profissão. “Dois dias após,foi – promovido, como gostava de ironizar o próprio Beltrão –designado para as funções de arquivista de clichês. Em seguida,passou a tradutor de telegramas e depois disso tornou-se repórter.” 2

Luiz Beltrão

Ace

rvo

do P

CLA

/Cát

edra

Une

sco/

SP

miolo.p65 16/3/2007, 19:2811

Page 12: 17 - Folkcomunicação - A mídia dos excluídos

12 Cadernos da Comunicação

“Sua formação humanística contribuiu pararessaltar a habilidade de escrever, a sensibili-dade do escritor, a personalidade criativa, ainquietação do observador.” 3 Qualidades queo levaram à profissão de jornalista, receben-do o registro em 1940.

Atuou em rádio, revistas, agências e as-sessoria de imprensa, acumulando experiên-cia que incluiu passagens pelo DIP (Depar-tamento de Imprensa e Propaganda), e pelapresidência da Associação de Imprensa de

Pernambuco e sua participação na criação do Sindicato dos JornalistasProfissionais. Também trabalhou em diversos jornais, como Diário dePernambuco, Correio do Povo e Jornal Pequeno, nas agências de notícias AsaPress e France Press e nas revistas Tudo, Guanabara Press, São Paulo Presse Capibaribe. Exerceu a profissão durante quase 30 anos.

Mas seu espírito inquieto não parou por aí. Beltrão se desta-cou tanto por sua capacidade profissional como por sua grande-za intelectual. Suas qualidades não passaram despercebidas. Todasua carreira foi marcada pela inovação, espírito de luta, respon-sabilidade e determinação.

Em 24 de outubro de 1986, o país perdeuum dos mais brilhantes cientistas sociais des-se século. Morreu Luiz Beltrão. Ele deixouuma importante produção acadêmica e lite-rária. Além de seus 20 livros, diversas aposti-las e artigos, organizou o currículos de diversasfaculdades por todo o Brasil, ministrou cursosnas áreas do jornalismo, relações públicas, opi-nião pública e ensino de comunicação. Dedi-cou sua vida a ensinar, aprender e discutirjornalismo, sua grande paixão intelectual.

1969

1971

miolo.p65 16/3/2007, 19:2812

Page 13: 17 - Folkcomunicação - A mídia dos excluídos

Série Estudos 13

Contribuições para o jornalismoe para as teorias da Comunicação

As contribuições de Luiz Beltrão caminharam por diversossegmentos da comunicação e do jornalismo. Escrevendo, estimu-lando as novas gerações de pesquisadores, desenvolvendo cursos,formulando teorias e, principalmente, sua preocupação com o ho-mem excluído do cenário comunicacional.

Em uma de suas diversas pesquisas, a professora Samantha Cas-telo Branco4 faz um relato sobre o pensamento de Luiz Beltrão.Para ela, a produção de Beltrão na área da comunicação social podeser dividida em dois blocos. O primeiro ligado à área da teoria dojornalismo, na qual “busca sistematizar a produção do discursojornalístico exercido na imprensa”. O seguinte, mais relacionado àteoria da comunicação, ligado à comunicação popular, “resultadoda marginalização a que a sociedade política submete a maioria dostrabalhadores” (Castelo Branco, 2000, p. 202).

A trilogia A imprensa informativa (São Paulo, Folco Masucci,1969); Jornalismo interpretativo (Porto Alegre, Sulina, 1976) e Jor-nalismo opinativo (Porto Alegre, Sulina, 1980); mais Técnicas dejornal, publicado pelo Ciespal em 1964, demonstram a preocu-pação de Luiz Beltrão na sistematização do conhecimento ofereci-

do em suas aulas, como docente em diver-sas faculdades de Comunicação.

Além desses trabalhos, podemos citar Ini-ciação à filosofia do jornalismo, de 1960,Metodologia de la enseñanza del periodismo, de1963, e Técnica de jornal, de 1964.

Em Teoria da Comunicação “podem serapresentados exatamente os dois livros quesimbolizam a síntese de seu pensamento eque concentram suas teorias em torno de seuprincipal objeto: a Folkcomunicação”. O pri-1976

miolo.p65 16/3/2007, 19:2813

Page 14: 17 - Folkcomunicação - A mídia dos excluídos

14 Cadernos da Comunicação

meiro, Comunicação e folclore: um estudo dos agen-tes e dos meios populares de informação e expres-são de idéias, resultado de sua tese dedoutoramento; e, o outro, Folkcomunicação: acomunicação dos marginalizados (São Paulo,Cortez, 1980). Podemos ainda citar outrapublicação, O índio, o mito brasileiro, de 1977.

No Jornalismo, no campo da teoria da Co-municação, da Literatura, da reportagem fo-ram várias as suas contribuições, dentre asquais podemos citar: Os senhores do mundo,

1950, Quilômetro zero, 1959; Itinerário da China, 1959; As sombras dociclone, 1968; Sociedade de massa, comunicação e literatura, 1972; Fun-damentos científicos da comunicação, 1973; A serpente no atalho, 1974;Teoria geral da comunicação, 1977; A greve dos desempregados, 1984;Contos de Olanda, 1989; Teoria da comunicação de massa, 1986; Me-mória de Olinda, 1996, entre outros.5

Icinform: uma experiência pioneira no BrasilPodemos afirmar que o surgimento do Instituto de Ciências da

Informação (Icinform), está diretamente liga-do à fundação do Curso de Jornalismo, da Uni-versidade Católica de Pernambuco (Unicap) eao pioneirismo do professor Luiz Beltrão. OCentro foi instalado em 13 de dezembro de1963, durante a formatura da primeira turmade bacharéis em Jornalismo da Unicap.

Suas finalidades específicas eram a investiga-ção científica da informação coletiva em jorna-lismo, publicidade e relações públicas; aperfei-çoamento profissional; difusão de estudos nocampo das ciências da informação; estudos vol-

1980

1968

miolo.p65 16/3/2007, 19:2814

Page 15: 17 - Folkcomunicação - A mídia dos excluídos

Série Estudos 15

tados para a formulação de uma teoria gerala respeito delas; intercâmbio com instituiçõescongêneres (Targino, 2000, p. 168).

O dinamismo do professor Luiz Beltrão àfrente do instituto permitiu uma ampliaçãodo curso de Jornalismo e também umestreitamento no contato com universidadese centros de estudos estrangeiros, tais como:Universidade de Concepción (Chile), Cató-lica do Peru (Lima), Vera Cruz (México) eGuayaquil (Equador).

No Brasil, diversos intercâmbios foram realizados. Podemoscitar : Escola de Jornalismo Cásper Líbero, Fundação JoséAugusto (Natal, RN), Universidade de Juiz de Fora (MG), Cursode Jornalismo da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Ja-neiro (PUC/RJ), Universidade de Minas Gerais, Curso de Jorna-lismo do Instituto Nossa Senhora de Lourdes (João Pessoa, PB),entre outras. Desses contatos permanentes, surgiram articula-ções acadêmicas que repercutiram no curso de Jornalismo daUnicap e fortaleceram politicamente o Icinform (Comunicações& Problemas, v. 1, n0 1, p. 8).

O legado de Comunicações& Problemas

Comunicações e Problemas é considerada aprimeira revista acadêmica de comunicaçãoeditada no Brasil. A edição inicial foipublicada em março de 1965, trazendo in-formações sobre o curso de Jornalismo daUnicap, contendo registro das pesquisas re-alizadas pelo Icinform, eventos, artigos, de-poimentos, entre outros.

1972

1969

miolo.p65 16/3/2007, 19:2815

Page 16: 17 - Folkcomunicação - A mídia dos excluídos

16 Cadernos da Comunicação

Com periodicidade quadrimestral, deixou de circular após 12fascículos, em 1969, registrando contribuições de José Marquesde Melo, Tereza Halliday, Humberto Sodré Pinto, entre outros.Nos seus quatro anos de circulação, discutiu uma série de ques-tões no âmbito da comunicação. Como propunha o próprioIcinform, o periódico passou do enfoque das questões regionaisdo Nordeste, discutidas em sua primeira fase, aos problemas la-tino-americanos (Nava, 2000, p.187).

Folkcomunicação: Primeira teoriabrasileira na área da comunicação

Os estudos de Folkcomunicação estão ligados diretamente à tra-jetória desenvolvida pelo professor Luiz Beltrão. Primeiro doutorem Comunicação no Brasil, sua tese sobre Folkcomunicação, foi de-fendida em 1967, na Universidade de Brasília, embora seu título sótenha sido reconhecido 14 anos mais tarde.

Seu pioneirismo no tratamento das teorias da comunicação le-vando em conta as tradições populares, definiram as linhas mestrasde interpretação de uma ciência já conhecida e difundida. Beltrãoanalisava a comunicação popular como manifestação própria den-tro de um determinado grupo cultural.

Sua perspicácia leva-o a mostrar a Folkcomunicação como umpotencial estratégico para o diálogo com as classes marginalizadase não apenas como “objeto de curiosidade, de análise mais ou me-nos romântica e literária”.

Mesmo sendo reconhecido não só no Brasil, mas também comgrande notoriedade internacional, Luiz Beltrão, em toda sua simpli-cidade, num incentivo à pesquisa e à constante atualização, apre-senta sua tese de doutorado, cujo título era Folkcomunicação: um estu-do dos agentes e meios populares de informação de fatos e expressões de idéias,e é aprovado com distinção e louvor. Estávamos em plena ditaduramilitar e Beltrão teve seu título de doutor cassado, logo em seguida.

miolo.p65 16/3/2007, 19:2816

Page 17: 17 - Folkcomunicação - A mídia dos excluídos

Série Estudos 17

Somente em dezembro de 1984 é reconhecido e homenagea-do como Pioneiro do Ensino de Jornalismo no país. O Brasilreconhece publicamente as grandes contribuições desse mestre,estudioso e pesquisador.

A atualidade dos estudos desse pioneiro tem suscitado diver-sos grupos de pesquisa não só no Brasil, mas em países da Euro-pa. Em Portugal, os estudos folkcomunicacionais foram incor-porados como patrimônio cultural brasileiro, nos campos daspesquisas da Lusofonia. Isso ocorreu no segundo semestre, du-rante as comemorações da cidade do Porto, como Sede Culturalda Europa, no ano de 2002.

Além disso, a Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinaresda Comunicação (Intercom) e a Asociación Latinoamericana de In-vestigadores de la Comunicación (Alaic) dispõe de grupos de estu-dos que se reúnem em seus congressos anuais e bianuais. Também

Ex-votos – Teresina – PI – 2006 – Foto de Orlando Berti

Ace

rvo

do P

CLA

/Cát

edra

Une

sco/

SP

miolo.p65 16/3/2007, 19:2817

Page 18: 17 - Folkcomunicação - A mídia dos excluídos

18 Cadernos da ComunicaçãoA

cerv

o do

PC

LA/C

áted

ra U

nesc

o/S

P

miolo.p65 16/3/2007, 19:2818

Page 19: 17 - Folkcomunicação - A mídia dos excluídos

Série Estudos 19

Romeiros – Teresina – PI – 2006– Foto de Orlando Berti

miolo.p65 16/3/2007, 19:2819

Page 20: 17 - Folkcomunicação - A mídia dos excluídos

20 Cadernos da Comunicação

a Cátedra Unesco/Metodista anualmente realiza a Conferência Bra-sileira de Folkcomunicação – Folkcom, que, caminhando entre osconceitos de cultura popular e erudita, tem permitido entender eestender as opiniões dos processos de cultura brasileira, através dolegado de Beltrão.

Embora lembrado por suas teorias folkcomunicacionais, consi-deradas por muitos estu-diosos como as primeirasteorias genuinamente bra-sileiras, seu legado trans-cende esse universo. Foi ojornalismo sua grande pai-xão. Através de seus estu-dos foi possível conhecerum “fazer jornalismo” deforma coerente com arealidade nacional, ten-do a coragem comometa no descobrimentode novos caminhos.

Não há como negar aimportância do mestreLuiz Beltrão para os es-tudos do Jornalismo e daComunicação. Em toda sua grande produção, é visível a força e oespírito empreendedor, e nisso encontramos o reforço e o estímulopara o desenvolvimento do Portal Luiz Beltrão de Ciências da Co-municação (www.metodista.br/unesco).

Rapaz segurando Estandarte Pomba – Festa doDivino – Piracicaba

Ace

rvo

do P

CLA

/Cát

edra

Une

sco/

SP

miolo.p65 16/3/2007, 19:2820

Page 21: 17 - Folkcomunicação - A mídia dos excluídos

Série Estudos 21

A mídia das

comunidades periféricas

Maria Cristina Gobbi

Um Brasil de múltiplas culturasNossa cultura é resultado de um Brasil de fusões e de intercâm-

bios, de culturas antigas, como as indígenas, as africanas, asmigrantes (japonesa, italiana, alemã etc.) e da própria imigração denorte a sul, de leste a oeste desse país de dimensões continentais.

Esse enriquecimento de signos e significações permeado pelosmeios de comunicação de massa é tradução de uma história especí-fica, um ritmo próprio, com peculiaridades mostradas nos temposhistóricos e subjetivos. A complexidade de ritmos, de formas, decores, de valores e de manifestações configura o patrimônio de umasociedade que, recheado de importância peculiar, garante a preser-vação do passado e permite a construção do futuro.

As manifestações culturais de um povo possibilitam demonstraras composições global, participativa e interativa nos múltiplos ce-nários globalizados.

A regionalização não é um obstáculo à globalização.Não são forças excludentes. Ao contrário, aquela pôdeser vista como um processo por meio do qual aglobalização recria a nação, de modo a conformá-la àdinâmica da economia e da cultura6 transnacional. Éno âmbito do capitalismo global que se desenvolvemsubsistemas econômicos e culturais regionais queredesenham e integram economias e culturas nacio-nais, recolocando-as nas linhas de força da globalização(Marques de Melo & Lopes, 1997).

miolo.p65 16/3/2007, 19:2821

Page 22: 17 - Folkcomunicação - A mídia dos excluídos

22 Cadernos da Comunicação

Os processos de globalização que o mundo atravessa consoli-dam a priorização do regional em uma constante busca de mecanis-mos que transcendem as questões nacionais e/ou globais.

Com afirma José Marques de Melo (2005),

(...) o século XXI desponta sob o signo da globalizaçãoacelerada. Na esfera político-econômica, os encon-tros anuais de Davos e de Porto Alegre oferecem nítidasevidências desse processo mundializador. Agentes daeconomia internacionalizada e militantes políticos anti-globais reúnem-se para explicitar suas teses e antíteses.Trata-se, contudo, de eventos e de performances quese esgotam no imaginário das elites. Frente a eles, ascamadas populares agem como meros espectadoresmidiáticos. Sem apreender-lhes o sentido, os cidadãoscomuns terminam por alijar da sua vida cotidiana aretórica dessas manifestações periódicas.

Mas o que percebemos na atualidade é uma busca, nem sem-pre perceptível pelo menos atentos, de ações que evidenciamcostumes, credos e outras formas de participação social, pre-sentes em manifestações diversas e que repercutem intensamentenas camadas mais populares. São as formas culturais de um orbeespecífico e singular, mas não individual, incorporadas ao uni-verso simbólico das comunidades periféricas, formando ummosaico de revelações singulares, mas não únicas, que rompe oisolamento social a que comunidades inteiras são submetidaspor conta da chamada globalização.

Costumes, tradições, gestos e comportamentos deoutros povos, próximos ou distantes, circulam am-plamente na aldeia global. Da mesma forma, padrõesculturais que pareciam sepultados na memória nacio-nal, regional ou local e ressuscitam profusamente, fa-cilitando a interação entre gerações diferentes, permi-

miolo.p65 16/3/2007, 19:2822

Page 23: 17 - Folkcomunicação - A mídia dos excluídos

Série Estudos 23

tindo o resgate de celebrações, ritos, ritmos ou festasaparentemente condenados ao esquecimento (Marquesde Melo, 2005).

É neste cenário que as manifestações locais – que permeiam asdiferenças regionais – eclodem com implicações sociais, econômi-cas, políticas e culturais, surgindo assim as manifestações de cultu-ra nacional como um produto derivado das diferenças histórico-geográficas-culturais.

A busca de respostas para questões que abrigam as diferençasentre as localidades e os constantes desafios de se constituir umespaço mais ou menos homogêneo tem elevado a possibilidade deações conjuntas e complementares não só nas áreas econômica epolítica, mas cultural, tanto locais quanto regionais. O desafio des-ta transformação tem permitido ultrapassar as próprias fronteiras evisualizar um conjunto global de atividades, predominando o senti-mento de cooperação e de integração regional.

É neste sentido que as ações realizadas pela Cátedra Unesco/Metodista de Comunicação, pela Rede Folkcom, pelo Grupo deTrabalho da Folkcomunicação da Asociación Latinoamericana deInvestigadores de la Comunicación (Alaic), pelo Núcleo de Pesqui-sa em Folkcomunicação da Sociedade Brasileira de EstudosInterdisciplinares da Comunicação (Intercom), por diversos pesqui-sadores como José Marques de Melo, Roberto Benjamin, OswaldoTrigueiro, Cristina Schmidt, Severino Lucena, Samantha CasteloBranco, Betania Maciel, Jacqueline Dourado, Rosa Nava, MariaCristina Gobbi, entre outros tanto, têm buscado consolidar o cam-po de pesquisa e estudos da chamada Folkcomunicação.7

Essas ênfases mostram que na realidade brasileira os“comunicadores folclóricos” traduzem os conteúdos complexos dosmeios de comunicação de massa e os interpretam segundo valorestradicionais das pequenas comunidades. Também realizam as ações

miolo.p65 16/3/2007, 19:2823

Page 24: 17 - Folkcomunicação - A mídia dos excluídos

24 Cadernos da Comunicação

contrárias, ou seja, resgatam, estudam e interpretam a apropriaçãode bens da cultura popular pela indústria cultural (Marques de Melo,1998, p. 1).

As pesquisas na área da comunicação têm passado por diver-sos períodos que revelaram particularidades históricas, inseridasmuitas vezes em movimentos políticos, econômicos e sociais,mas que não perdem de foco o respeito pelas singularidades cul-turais de nossa região. (...)

Para o professor Marques de Melo (2005), o grande dilema des-sa comunidade acadêmica na atualidade, formada por pesquisado-res, analistas de discurso e estudiosos das mediações culturais, ébuscar os elementos capazes de fortalecer nossa identidade acadê-mica e nossa singularidade cultural.

(...)

Padres da cidade de Piracicaba – Festa do Divino – Cidade do interior de São Paulo

Ace

rvo

do P

CLA

/Cát

edra

Une

sco/

SP

miolo.p65 16/3/2007, 19:2824

Page 25: 17 - Folkcomunicação - A mídia dos excluídos

Série Estudos 25

Os cenários e os atores sociaisOs estudos sobre a Folkcomunicação foram um dos principais

legados de Luiz Beltrão em sua batalha para conscientizar os estu-dantes de Jornalismo quanto à comunicação coletiva e a seus múl-tiplos desdobramentos. A atualidade da pesquisa desse pioneiro temdespertado o interesse de diversos grupos, não só no Brasil, mastambém na América Latina e em países europeus.

Se, por um lado, a rapidez da sociedade da informação possibili-ta a criação cotidiana de “um mundo novo” de informações, com aoferta cada vez mais veloz de conhecimento exige, por outro, quetoda essa gama de dados faça parte do cotidiano das pessoas quaseque em tempo real. A relação entre local e global está cada vezmais “evidente”. Os conceitos de nação, nacionalismo, espaço, lu-gar, fronteira, identidade, entre outros, influenciaram a construçãode novos modos de pensar a experiência comunicacional.

(...)

Comunicação é o problema fundamental da socieda-de contemporânea – sociedade composta de umaimensa variedade de grupos, que vivem separados unsdos outros pela heterogeneidade de cultura, diferençade origens étnicas e pela própria distância social e es-pacial. Os grupos constitutivos da sociedade ora es-tão organizados com uma missão específica a cum-prir e interesses definidos a salvaguardar, como é ocaso do Estado, da Igreja, do Sindicato ou da Em-presa; ora são informais, ligados apenas espiritualmentepor certas idéias filosóficas, interesses gerais e experi-ências comuns à espécie humana – como a Nação, oscrentes, os trabalhadores, os consumidores. Há, en-tretanto, na sociedade contemporânea, não obstanteas características próprias e os conflitos de interessesimediatos de cada grupo, uma unidade mental, de-corrente da própria natureza humana dos seus com

miolo.p65 16/3/2007, 19:2825

Page 26: 17 - Folkcomunicação - A mídia dos excluídos

26 Cadernos da Comunicação

ponentes e de um universal consenso. Os gruposacham-se, assim, vinculados a uma ordem semelhantede idéias e a um propósito comum: – adquirir sabe-doria e experiência para sobreviver e aperfeiçoar aespécie e a sociedade. Sabedoria e experiência, so-brevivência e aperfeiçoamento que só se conseguemmediante a comunicação, – o processo mínimo, ver-bal e gráfico pelo qual os seres humanos intercambiamsentimentos, informação e idéias. (Beltrão, 2004).

Mas as diversidades de figuras que formam a sociedade atualsão, entretanto, grandes, heterogêneas e dispersas, fazendo com quese busquem alternativas de ampliar o processo comunicativo. Afi-nal, todos queremos trocar informações, “ver o outro” e aprender.Porém, como afirma Luiz Beltrão (2004),

(...) isso faz com que aquele diálogo cara-a-cara, dire-to, pessoal seja limitado. Para a sociedade de massa,exige-se a comunicação maciça, coletiva, que, utilizan-do diferentes instrumentos e técnicas, fornece mensa-gens de acordo com a identidade de valores dos gru-pos e, dando curso a diferentes pontos de vista, fo-menta os interesses comuns, ora desintegrando oracriando solidariedades sociais.

A comunicação coletiva não se faz entre um indiví-duo e outro como tal, mas em forma colegiada: ocomunicador é uma instituição ou uma pessoainstitucionalizada, que transmite a sua mensagem, nãopara alguém em particular mas para quantos lhe dese-jam prestar atenção.

Embora estabelecida através de uma distância de tem-po, espaço ou espaço-tempo, entre as partes e, apa-rentemente, unilateral, desde que, em regra, é feita atra-vés de um meio técnico construído de tal forma que

miolo.p65 16/3/2007, 19:2826

Page 27: 17 - Folkcomunicação - A mídia dos excluídos

Série Estudos 27

somente o comunicador “fala”, constitui um diálogo,tanto como a comunicação pessoal.

Na comunicação coletiva, porém, o órgãocomunicador só exerce uma espécie de atividade – acomunicativa. Não há, portanto, interrupções do cir-cuito ou perda de contato entre os dois elementos –o agente e o paciente do processo. Assim, embora acomunicação coletiva seja, tecnicamente, unilateral, osreceptores na verdade alimentam o diálogo, utilizan-do outros meios mecânicos para manifestar a sua re-ação, que não se reclama seja necessariamente em pa-lavras. Porque a resposta à mensagem, na comunica-ção coletiva, não é discussão, mas ação.

Simultaneamente com a caracterização da socieda-de de massa e o estabelecimento do império dossímbolos, que marcam o auge da competição indi-vidual e coletiva, mas reclamam como nunca umcerto tipo de consenso na ação social, verificou-sea revolução tecnológica na comunicação. Iniciadacom a publicação de impressos e a instituição doscorreios, foi acelerada neste século8 com o cinema,o rádio e a televisão.

No século XX, há uma ampliação dos canais de comunicação e,como conseqüência, passou-se a exigir melhor compreensão dosefeitos causados nos processos comunicativos, fruto das escolhasdos “meios, canais, métodos e técnicas para tornar eficientes e pro-dutivas as comunicações” (Beltrão, 2004).

Na esteira do desenvolvimento dos canais comunicativos ocorre aexplosão do ciberespaço, onde foram criados negócios, profissões eatividades, estimulando novas áreas do conhecimento e acelerando abusca de informações. Os “fios” – da grande rede mundial – não têmfronteiras. Ultrapassam todos os limites, sem restrição de cultura, delíngua, de posições políticas e de padrões de vida. Não separa por

miolo.p65 16/3/2007, 19:2827

Page 28: 17 - Folkcomunicação - A mídia dos excluídos

28 Cadernos da Comunicação

sexo, cor, raça ou religião. Não existe barreira capaz de parar estatrama. Faz parte da vida de muitos hoje.

(...)As várias mudanças ocorridas nos cenários globalizados e aque-

las significativas na estrutura social dos trabalhadores da cidade edo campo permitiram entender que a relação entre cultura, socie-dade, política, economia é um conjunto de trocas, onde todos osatores participam. Quer como produtores ou como consumidores,esses protagonistas utilizam os mais variados meios de comunica-ção, conjuntamente com múltiplas formas de manifestações desseintercâmbio e de suas significações. Também há a necessidade deconhecer sobre as formas como o povo reage às sugestões que lhesão feitas cotidianamente pelos meios de comunicação.

Não é possível, como afirma Beltrão (2004), continuar acredi-tando que a “população menos culta aceite princípios e normas demudança social, adote novas maneiras de trabalhar, de agir, de di-vertir-se, um outro modo de crer e decidir”. É necessário analisaros cenários, as formas, os meios, as conseqüências e os atores soci-ais envolvidos em todo o processo.

miolo.p65 16/3/2007, 19:2828

Page 29: 17 - Folkcomunicação - A mídia dos excluídos

Série Estudos 29

Folkcomunicação:

Conceitos e definições9

Luiz Beltrão

A literatura, a arte, as crenças, os ritos, a medicina, os costumesdessas camadas sociais [populações menos cultas], os seus meiosde informação e de expressão continuam ignorados em toda a suaforça e verdade, o que impossibilita a comunicação e a comunhãoentre governo e povo, elite e massa.

(...)Valendo-se de formas tradicionais e rudimentares de expressão,

ao seu alcance – já que privadas dos meios e veículos de maiorextensão, mas de manejo reservado às camadas privilegiadas –, ofe-recem uma resistência épica à arrancada cultural alienígena.

Esse espírito popular mantém a arte tradicional típica, própria einconfundível com os padrões baixos de vida ou mesmo com oambiente econômico elevado. São heranças indeléveis do artesana-to.10 O tremendo perigo que esse desconhecimento dos meios decomunicação do povo representa para uma civilização, seja desen-volvida ou em vias de desenvolvimento, foi bem fixado por LancelotHogben, em seu estudo sobre a evolução da pintura11 ao indagar“se algumas das civilizações do passado não sucumbiram à pressãoexterior até que perderam a sua capacidade de ulterior crescimentoporque seus meios de comunicação eram inadequados para obter oesforço da comunidade para o desenvolvimento cultural”.

(...)

Hogben ajunta que tal situação não basta para lograr resultadosespetaculares

miolo.p65 16/3/2007, 19:2829

Page 30: 17 - Folkcomunicação - A mídia dos excluídos

30 Cadernos da Comunicação

(...) se os meios de comunicação científica são de-feituosos e impedem a livre circulação das infor-mações, relacionadas com estas atividades e a co-ordenação dos novos conhecimentos, mediante sín-teses teóricas globais.

E, melancolicamente, conclui que isto ocorre no mundo ociden-tal, o que é uma grave ameaça, pois

(...) quando os meios de comunicação de que a ciênciadispõe limitam a participação recíproca do teórico edos que fazem o trabalho cotidiano, nesta contínuainterfertilização de teoria e prática, uma cultura se apro-xima de seu ocaso.

Se tais constatações apocalípticas são feitas quanto aos paíseslíderes do desenvolvimento, afigura-se-nos de muito maior impor-tância que no Brasil e, geralmente, nos países latino-americanos,como nas novas nações africanas e orientais, se intente a investiga-ção das formas de expressão e dos meios de comunicação de que sevale o povo para impor, às vezes de um modo inesperado, palpável,o seu pensamento e a sua vontade. (...)

O povo norte-americano, pois, guardadas as devidas proporçõese dentro de certas paralelas, encontra-se, provavelmente, mal-in-formado e não tem, nos seus veículos ortodoxos de comunicação,autênticos porta-vozes de sua opinião e dos seus ideais.

As pesquisas de Lazarsfeld, Berelson, Gaudet, Katz,Merton e Kurt Lewin, entre outras, nos Estados Unidos epaíses subdesenvolvidos, concluíram por contrariar a crençadominante de que os meios de comunicação coletiva eramtodo-poderosos e exerciam decisiva influência direta na acei-tação de novas idéias.12 Todas as investigações levaram à evi-dência de que o efeito dos meios – jornais, rádio, televisão ecinema – postos a serviço de grandes campanhas políticas ou

miolo.p65 16/3/2007, 19:2830

Page 31: 17 - Folkcomunicação - A mídia dos excluídos

Série Estudos 31

sociais, visando a mudar opiniões e atitudes em curto prazo, nãoera tão eficaz como se imaginava.

Para que a mudança se verificasse, uma outra influência se colo-cava entre os meios e o grupo afetado – a influência do líder deopinião –, personagem quase sempre do mesmo nível social e defranco convívio com os que se deixavam influenciar, tendo sobreeles uma vantagem: estavam mais sujeitos nos meios de comunica-ção do que os seus liderados. Conheciam o mundo – isto é, haviamrecebido e decodificado as mensagens dos meios, transmitindo-asem segunda mão ao grupo com o qual se identificavam.

O processo denominado fluxo da comunicação em dois estágios– dos meios aos líderes e destes aos seus amigos mais próximos –foi pacientemente pesquisado em diferentes ocasiões e diversosambientes e teve os seus dados avaliados pelo Departamento dePesquisa Social Aplicada da Universidade de Colômbia. De umamaneira geral, foi verificado:

Balsa de Devotos e margem do Rio Piracicaba – Festa do Divino – Piracicaba – Interiorde São Paulo

Ace

rvo

do P

CLA

/Cát

edra

Une

sco/

SP

miolo.p65 16/3/2007, 19:2831

Page 32: 17 - Folkcomunicação - A mídia dos excluídos

32 Cadernos da Comunicação

1. que a influência de outras pessoas em decisões específicastende a ser mais freqüente – e certamente mais efetiva – que a dosmeios de comunicação coletiva;

2. que influenciadores e influenciados mantêm relações estrei-tas e, conseqüentemente, tendem a compartilhar das mesmas ca-racterísticas de situações social;

3. que indivíduos intimamente relacionados tendem a ter opi-niões e atitudes comuns e relutam em abandonar o consenso dogrupo, mesmo que os argumentos dos meios de comunicação cole-tiva lhes pareçam atraentes;

4. que, embora a influência passe dos mais para os menos in-teressados, estes últimos devem ter suficiente interesses para se-rem suscetíveis à mudança.

(...)Pesquisas mais recentes substituíram a hipótese de que o fluxo

tem dois estágios: os líderes de opinião, por sua vez, buscavam con-selho e informação com outras pessoas – num processo queLazarsfeld denomina fluxo em múltiplos estágios – dos meios de comu-nicação coletiva, através de vários líderes que se comunicam entresi, para os grupos liderados.

Essa consulta a fontes mais autorizadas – ou assim considera-das pelos líderes de opinião – resulta da sua mobilidade. Como re-gistrou investigação realizada em um contexto subdesenvolvido,no Oriente Médio, os líderes de opinião nunca estão completamen-te incorporados à sua comunidade. Viajam freqüentemente para oscontatos com os seus informantes e conselheiros. Nos regressos,chegam a recolher para si o prestígio até então conferido aos maisvelhos – os tradicionais anciãos (entre nós, “coronéis”) –- poisse tornaram elementos de ligação da comunidade com o mundode fora.

miolo.p65 16/3/2007, 19:2832

Page 33: 17 - Folkcomunicação - A mídia dos excluídos

Série Estudos 33

Barqueiros em Procissão – Festa do Divino – Piracicaba – Interior de São Paulo

Ace

rvo

do P

CLA

/Cát

edra

Une

sco/

SP

miolo.p65 16/3/2007, 19:2833

Page 34: 17 - Folkcomunicação - A mídia dos excluídos

34 Cadernos da Comunicação

(...)Já que os grandes meios convencionais de comunicação coletiva

não funcionam para a obtenção de efeitos positivos para as preten-sões das elites culturais e políticas – as metas desenvolvimentistas– porque as suas mensagens não são assimiladas, por interação so-cial, nos grupos estudados, é tarefa de investigador pesquisar quaisos veículos que, tradicionalmente, servem à condução de mensa-gens entendidas e aceitas em tais segmentos da sociedade.

Em seguida, impõe-se o trabalho de análise de conteúdo damensagem pelo pesquisador, a fim de classificá-la e compará-la comaquelas omitidas pelos meios convencionais de comunicação cole-tiva. (...)

Em 1959, logo que relatei os meus estudos sobre a comunica-ção jornalística, efetuados à base das suas manifestações convenci-onais dos seus veículos consagrados – os periódicos, o rádio, a tele-visão, o cinema –, buscando isolar os seus atributos essenciais, ca-racterizar os seus agentes e apreciar as suas condições filosóficas,senti-me atraído por outros aspectos da difusão de informações eexpressão da opinião pública, que pareciam ter escapado ao meulabor de indagação científica.

Os dados estatísticos sobre a circulação de jornais e revistas,número de receptores de rádio e TV, de salas de espetáculos e osíndices de freqüência de espectadores do cinema, em relação à po-pulação brasileira; ao seu nível cultural, à sua capacidade aquisitivae à sua distribuição demográfica pelo território nacional, levavam-me a procurar esclarecer problemas que pareciam desafiar as con-clusões a que chegaram naquele primeiro ensaio.

(...)A realidade brasileira era constatada por sociólogos, psicólogos

sociais, antropologistas, políticos e economistas: dois brasis se de-frontavam. Um em franco desenvolvimento cultural e econômico;outro, marginalizado, entravando os planos de progresso. Um res-

miolo.p65 16/3/2007, 19:2834

Page 35: 17 - Folkcomunicação - A mídia dos excluídos

Série Estudos 35

pondendo com maior ou menor desenvoltura aos apelos dos meiosde comunicação coletiva; outro não suscetível dessa influência e,por conseguinte, alienado dos objetivos pretendidos pela elite. Umacreditando nas metas desenvolvimentistas e mudando os seus pa-drões de comportamento ao influxo das idéias e das técnicas novas,difundidas, sobretudo pelos veículos jornalísticos; outro crendoapenas nos seus catimbós e rejeitando até mesmo uma argumenta-ção lógica, fundamentada em causas e efeitos para aferrar-se aosseus preconceitos, hábitos e costumes tradicionais, e permanecen-do surdo às mensagens jornalísticas convencionais.

(...)Havia, naturalmente, um propósito nesta cobertura que dispu-

nha a empreender: queria confirmar os frutos da pesquisa anteriornos domínios do jornalismo convencional. Se a comunicaçãojornalística era essencial à formação das crenças e das decisões queimpulsionam o indivíduo e as sociedades à ação, evidentemente

Grupo de Dança – Apresentação em São Bernardo do Campo – SP – II Folkcom – 1999

Ace

rvo

do P

CLA

/Cát

edra

Une

sco/

SP

miolo.p65 16/3/2007, 19:2835

Page 36: 17 - Folkcomunicação - A mídia dos excluídos

36 Cadernos da Comunicação

aqueles catimbós13 tinham de ser veículos jornalísticos. E o proces-so de atualização, reinterpretação e readaptação dos modos depensar e agir dessa massa surda às mensagens da imprensa, dorádio, da TV e do cinema haveria, igualmente, de identificar-secom o processo jornalístico, produzindo efeito mediante méto-dos técnicos semelhantes.

Ou estaria eu inteiramente errado em tudo quanto verificara econcluíra antes ou iria encontrar conteúdo jornalístico em ativida-des alheias, e até fundamentalmente dessemelhantes, à atividadejornalística. Iria flagrar agentes-comunicadores de fatos em indiví-duos que se surpreenderiam se lhes fosse dito que eram jornalistas.Encontraria a explosão da opinião pública em palavras e atos apa-rentemente vazios ou inócuos de sentido reivindicatório.Editorialistas vibrantes em iletrados e analfabetos. Editores saga-zes em pobres-diabos sem tostão e sem empresa.

Devota – Teresina –PI – 2006 – Foto deOtávio Almeida

Ace

rvo

do P

CLA

/Cát

edra

Une

sco/

SP

miolo.p65 16/3/2007, 19:2836

Page 37: 17 - Folkcomunicação - A mídia dos excluídos

Série Estudos 37

De saída, foi-me preciso recorrer às páginas da história. Reler oscronistas coloniais. Retornar à época em que, no Brasil, não haviaestradas, nem meios de transporte e, muito menos, folhas impres-sas. Saber como se comunicavam os indígenas, senhores da terra,mesmo antes que aqui chegassem as velas lusitanas. E acompa-nhar, através dos séculos de povoamento, a evolução dos meiosprimitivos de contato social. Para ver, afinal, os que tinham subsis-tido, resistindo às mudanças, inovações e circunstâncias, envolven-do-se embora noutras roupagens, disfarçando-se, travestindo-se detal modo que nós, os cronistas modernos, não os identificamos eclassificamos como tais, perdendo em argúcia para os Thevet, Lery,Anchieta e Gabriel de Sousa nos idos do I e II séculos.

Valeram-se, nessa atividade sherloquiana, historiadores, soció-logos, geógrafos, ilustradores, memorialistas. Coleções de jornais erevistas, de avulsos e volantes, de livros empoeirados esquecidosnas estantes de bibliotecas e de sebos, ou guardados em arquivospúblicos e privados. As atenções de estudiosos que trabalham epesquisam campos afins, muitas vezes sem esperança de ver divul-gados os resultados da sua beneditina tenacidade. As conversas quemantive com os mais velhos e experientes senhores-de-engenho efazendeiros dos “bons tempos” da cultura canavieira nordestina edaquela civilização do couro e do gibão, a que se refere o poeta.Com chefes políticos do interior, os “coronéis” de tanto prestígio,senhores de baraço e cutelo dos sertões setentrionais brasileiros.Com venerandas senhoras de quase um século de existência, teste-munhas eloqüentes das grandes transformações sociais operadasno nosso país nesta centúria.

Com filhos e netos de escravos, com pais-de-santo, com gentesdas nações africanas e das tribos indígenas, que se mantêm vivas eatuantes nos maracatus e nos caboclinhos do riquíssimo carnavalrecifense. Com os antigos caixeiros-viajantes e os novos representan-tes comerciais, com motoristas dos transportes rodoviários,

miolo.p65 16/3/2007, 19:2837

Page 38: 17 - Folkcomunicação - A mídia dos excluídos

38 Cadernos da Comunicação

cantadores repentistas, humildes passadores-de-bicho, que enchempoules da manhã à tardinha de sítio em sítio, com frades missionári-os, com andarilhos e retirantes, cabos de destacamentos perdidosnos longes das caatingas, reformados tenentes e capitães das vo-lantes policiais que deram fim, matando ou prendendo, a bandolei-ros famigerados.

(...) A questão residia em, depois da pesquisa, selecionar en-tre eles os agentes da comunicação popular os catimbozeiros; es-tudar-lhes a linguagem, situar em sua mensagem, aparentemen-te distante do propósito informativo-opinativo porque na maiorparte das vezes destinada especificamente a preencher ócios,proporcionar mero entretenimento ou fazer negócio – situar-lheo conteúdo rico em significados, que produziria no ouvinte, noleitor ou no assistente o mesmo efeito da retórica jornalísticaentre os receptores do outro Brasil.

Uma característica predominante surgia nos agentes-comunicadores selecionados e nas modalidades que adotavam paraa transmissão das suas mensagens – a característica folclórica. Commuita precisão Pedro Calmon havia apontado, na fase agitada daRegência, o início do divórcio entre as classes sociais da pátria nas-cente: “fragmentava-se a Nação”. E fragmentava-se exatamentequando entravam na liça os primeiros periódicos, tornando-se, logo,porta-vozes das elites dirigentes e cultas. (...)

Naturalmente, essas formas de expressão se firmavam em cos-tumes e práticas vindas dos antepassados longínquos no tempo eno espaço. Conservadas pela tradição oral e pelo admirável instin-to de preservação das raças oprimidas ou desprezadas. Encobertaspelos disfarces necessários à sua sobrevivência, pelo sincretismo aque os seus portadores se submetiam inapelavelmente ao contatocom outra cultura. (...)

Achava-se, de acordo com a tese de Edison Carneiro, segundoa qual “sob a pressão da vida social, o povo atualiza, reinterpreta e

miolo.p65 16/3/2007, 19:2838

Page 39: 17 - Folkcomunicação - A mídia dos excluídos

Série Estudos 39

readapta constantemente os seus modos de sentir, pensar e agir emrelação aos fatos da sociedade e aos dados culturais do tempo”,fazendo-se através do folclore que é dinâmico porque “não obstantepartilhar, em boa percentagem, da tradição e caracterizar-se pelaresistência à moda (...) é sempre, ao mesmo tempo que uma aco-modação, um comentário e uma reivindicação”. 14

Registrava, na pesquisa, que meios de comunicação, que tinhamservido em épocas imemoriais e que haviam sido abandonados outinham evoluído para uma forma e utilização sofisticada pelos quedetinham a posse oficial dos instrumentos de informação pública –continuavam, como então, a prestar-se à veiculação das mensagenspopulares: a poesia dos jograis medievais, a poranduba dos silvícolas,a parlenda interesseira dos mascates vendendo quinquilharias e for-necendo intrigas de quebra, acham-se presentes nos improvisos doscantadores e nas novidades trazidas e levadas pelos caixeiros-via-jantes e choferes de caminhão, o encantamento das histórias e len-das, que transmitiam no seu simbolismo as normas de conduta aosclãs primitivos, aplicáveis ou de mistura com fatos correntes, e asabedoria acumulada na experiência dos pajés, dos feiticeiros, dosmagos tupis e africanos, mesclada com os ensinamentos dosevangelizadores de Loyola (...) – também é proporcionada nos nos-sos dias pelo folheto impresso em prelos manuais e difundido atra-vés da literatura do cordel, pelos almanaques editados por labora-tórios farmacêuticos, pelas revistas de época largamente adquiri-das no São João, no Natal, no Carnaval, nos novenários e celebra-ções de santos padroeiros.

Veículos de informação e opinião da massa popular permanece-ram folguedos e autos trazidos no bojo das caravelas e dos naviosnegreiros, como a queima do Judas, a serra dos velhos, as canções, dan-ças e fantasias do entrudo, o teatro de bancos mais pobres e maissimples do mundo – o mamulengo – e a representação nos amplospalcos das ruas e dos terreiros do bumba-meu-boi, o mais nacional

miolo.p65 16/3/2007, 19:2839

Page 40: 17 - Folkcomunicação - A mídia dos excluídos

40 Cadernos da Comunicação

dos autos populares do país. Muito do jornalístico se poderia regis-trar nos produtos da habilidade artesanal de pintores, escultores,ceramistas, rendeiras, gravadores e até de cozinheiras do forno efogão que desenvolveram e praticam, conforme Gilberto Freyre, “amais doméstica e tradicional das artes brasileiras – a confeitaria” .

(...)A vinculação estreita entre folclore e comunicação popular, re-

gistrada na colheita dos dados para este estudo, inspirou o autor nanomenclatura desse tipo “cismático” de transmissão de notícias eexpressão do pensamento e das reivindicações coletivas.

Folkcomunicação é, assim, o processo de intercâmbio de infor-mações e manifestação de opiniões, idéias e atitudes da massa, atra-vés de agentes e meios ligados direta ou indiretamente ao folclore.

(...)

Devota – Teresina – PI – 2006 – Foto de Orlando Berti

Ace

rvo

do P

CLA

/Cát

edra

Une

sco/

SP

miolo.p65 16/3/2007, 19:2840

Page 41: 17 - Folkcomunicação - A mídia dos excluídos

Série Estudos 41

A comunicação dos

marginalizados16

Luiz Beltrão

A investigação da natureza, dos elementos e da estrutura, dosagentes e usuários, do processo, das modalidades e dos efeitos daFolkcomunicação é absolutamente necessária, notadamente empaíses como o nosso, de elevado índice de analfabetos, de dissemi-nação populacional irregular, de reconhecida má distribuição derendas e acentuado nível de pauperismo e caracterizado, em conse-qüência destes e de outros fatores, por freqüentes crisesinstitucionais que conduzem à inevitável instabilidade política.

A redução desses males exige a colaboração de todo o povo, e sur-preende que se confie a emissão de mensagens, que se aspira constru-tivas de unidade de propósitos, quase exclusivamente à comunicaçãoconvencional através dos meios de massa, fora do alcance de imensasporções de audiência como um todo, quando nem mesmo conhecemosrealmente bem os que usamos no dia-a-dia em nossos diálogos.

(...)No sistema de Folkcomunicação, embora a existência e utiliza-

ção, em certos casos, de modalidades e canais indiretos e industria-lizados (como emissões desportivas pela TV, canções gravadas emdisco ou mensagens impressas em folhetos e volantes), as manifes-tações são, sobretudo, resultado de uma atividade artesanal do agen-te-comunicador, enquanto seu processo de difusão se desenvolvehorizontalmente, tendo-se em conta que os usuários característicosrecebem as mensagens através de um intermediário próprio em umdos múltiplos estágios de sua difusão. A recepção sem este inter-mediário só ocorre quando o destinatário domina seu código e sua

miolo.p65 16/3/2007, 19:2841

Page 42: 17 - Folkcomunicação - A mídia dos excluídos

42 Cadernos da Comunicação

técnica, tendo capacidade e possibilidade de usá-lo, por sua vez,em resposta ou na emissão de mensagens originais.

Em outras palavras, a Folkcomunicação é, por natureza e estru-tura, um processo artesanal e horizontal, semelhante em essênciaaos tipos de comunicação interpessoal já que suas mensagens sãoelaboradas, codificadas e transmitidas em linguagens e canais fami-liares à audiência, por sua vez conhecida psicológica evivencialmente pelo comunicador, ainda que dispersa.

(...)A influência dos meios de comunicação de massa se exerce não

diretamente, mas através de grupos compreendidos dentre n recep-tores que constituem a audiência, por sua natureza dispersa e de-sorganizada. (A raiz da confusão está exatamente em identificar-seum número x de receptores de uma mensagem massiva – por exem-plo, o público presente a uma sessão cinematográfica – com a tota-lidade daqueles aos quais a mensagem é dirigida e tem possibilida-de de atingir, desde que é veiculada por um meio multiplicador e/ou de alcance universal.) Ademais, o público receptor da mensa-gem massiva é heterogêneo, notadamente no que diz respeito à cul-tura; desse modo, o conteúdo latente da comunicação não é capta-do por uma parcela significativa da audiência, à qual falta aquelaexperiência comum que condiciona a sintonização entrecomunicador e receptor.

A diferença do processo do diálogo interpessoal/intergrupal di-reto, a industrialização da mensagem massiva não permite a imedi-ata correção, reformulação ou adequação à capacidade receptivado indivíduo que a consome. O que o leva, sobretudo se desconhe-ce a “linguagem” e se situa em “universo de discurso” diverso docomunicador, a procurar uma conexão com o grupo ou grupos comque se acha relacionado, seja familiar, ideológico ou profissional,para obter esclarecimento.

(...)

miolo.p65 16/3/2007, 19:2842

Page 43: 17 - Folkcomunicação - A mídia dos excluídos

Série Estudos 43

Enquanto no sistema de comunicação social é muito freqüentea coincidência entre os líderes de opinião e as autoridades políticas,científicas, artísticas ou econômicas, na Folkcomunicação hámaior elasticidade em sua identificação: os líderes agentes-comunicadores de folk, aparentemente, nem sempre são autorida-des reconhecidas, mas possuem uma espécie de carisma, atraindoouvintes, leitores, admiradores e seguidores, e, em geral, alcançan-do a posição de conselheiros ou orientadores da audiência sem umaconsciência integral do papel que desempenham.

Convém esclarecer, no entanto, que muitos desses líderes nãosó têm consciência de sua posição como atuam, às vezes mesmoabusivamente, para mantê-la ou ampliá-la. Conscientemente, e numsentido construtivo, desenvolveram e desenvolvem sua capacida-de de liderança pregadores como padre Cícero e frei Damião,cantadores e violeiros, poetas-folhetistas e glosadores, composito-res populares como Luiz Gonzaga e os sambistas dos morros cario-cas, jornalistas e radialistas das pequenas emissoras interioranas.

Ao contrário, explorando a credulidade pública e seu espírito deluta, ainda existem falsos religiosos, médiuns, videntes e beatos e aenorme legião de espertos executivos e demagogos políticos que,com desvantagem para as comunidades, substituíram em postos demando municipais os “coronéis”, cuja atuação político-social foiadmiravelmente fixada na ficção e não menos estudada pela socio-logia brasileira.17

A ascensão à liderança está intimamente ligada à credibilidadeque o agente-comunicador adquire no seu ambiente e à sua habili-dade de codificar a mensagem no nível do entendimento de suaaudiência. Em função da estrutura social discriminatória mantidaem nações como a nossa, a massa camponesa, as populações mar-ginalizadas urbanas e até mesmo extensas áreas proletárias ou desubempregados se comunicam através de um vocabulário escasso eorganizado em significados funcionais próprios dentro dos grupos.

miolo.p65 16/3/2007, 19:2843

Page 44: 17 - Folkcomunicação - A mídia dos excluídos

44 Cadernos da Comunicação

A audiência da FolkcomunicaçãoTemos identificado os públicos usuários do sistema de

Folkcomunicação como marginalizados, e tanto as expressões deri-vadas como o fenômeno da marginalidade são suscetíveis de signi-ficações as mais diversas e de conotações específicas no uso co-mum e nas ciências sociais. Perlmann nos oferece, em seu estudosobre favelas e política no Rio de Janeiro,18 uma exposição sucinta,mas clara e ordenada, da teoria da marginalidade, discriminando osatributos do estatuto marginal do migrante favelado urbano em suasdimensões social, cultural, econômica e política e construindo umtipo ideal ou paradigma que serviu de base à sua pesquisa e conclu-sões. Por outro lado, Paoli, em trabalho de investigação sociológi-ca,19 ocupa-se do papel desempenhado pela religião e pelo mundodo imaginário, largamente difundido pelos meios de massa e muitasvezes transposto aos meios de folk, na manutenção das relações dedominação impostas pelas elites às camadas subalternas da socie-dade, pela integração simbólica que essas experiências mágicas pro-vocam. Foi principalmente nas obras citadas que encontramos oselementos básicos de que nos valemos neste passo para a caracteri-zação da audiência da Folkcomunicação.

A expressão marginal surge, na literatura científica, pela primei-ra vez em 1928, em artigo de Robert Park sobre as migrações hu-manas, publicado no American Journal of Sociology. O migrante é alidefinido como um “híbrido cultural”, um “marginal”, que, emboracompartilhe da vida e das tradições culturais de dois povos distin-tos, “jamais se decide a romper, mesmo que lhe fosse permitido,com seu passado e suas tradições, e nunca (é) aceito completamen-te, por causa do preconceito racial, na nova sociedade em que pro-cura encontrar um lugar”.

Como é fácil constatar, o autor se refere à situação do migranteestrangeiro; contudo, tanto a essência das características (oposiçãoà mudança/preconceito) como a tipificação a seguir coincidem com

miolo.p65 16/3/2007, 19:2844

Page 45: 17 - Folkcomunicação - A mídia dos excluídos

Série Estudos 45

nosso objeto: “É um indivíduo à margem de duas culturas e deduas sociedades que nunca se interpenetraram e fundiram total-mente”. Posteriormente, o termo ganhou significado pejorativo,sendo o marginal considerado elemento perigosos, ligado ao mun-do do crime, o fora-da-lei, vagabundo, violento, homem ou mu-lher que viva da bebida, dos tóxicos, da prostituição e dos aten-tados à propriedade.

Extensivamente, foi aplicado “aos pobres em geral, desempre-gados, migrantes, membros de outras subculturas, minorias raciaise étnicas e transviados de qualquer espécie” (Perlmann). O mesmoautor assinala, entre os pontos importantes do surgimento e carac-terização da marginalidade e que nos interessam particularmente, ainfluência da invasão do exterior, como ocorreu na América Latina,onde “o processo da colonização implicou não apenas conquista einvasão, mas contato cultural e manipulação diária da populaçãoindígena”, o que colocou as culturas existentes numa situação mar-ginal; e ainda a inexistência do fenômeno em sistemas tribais oufeudais, já que o primeiro “não implicava conceito de superiorida-de” e, no último, “havia a aceitação tácita da sua posição e da natu-reza hierárquica da sociedade”.

O fenômeno da marginalidade se caracterizou após a revoluçãoburguesa e sua ideologia, e se agravou com a Revolução Industrial,geratriz conceptual e formal da sociedade de massa. Às camadassuperiores – a elite do poder econômico e político – que estabele-cem os níveis de civilização e as metas de desenvolvimento, inclu-sive sociocultural, se contrapõem indivíduos e grupos sem condi-ções (ou a quem sempre são negadas condições) de alcançá-los, porsua pobreza, por suas culturas tradicionais, pelo isolacionismo geo-gráfico, rural ou urbano, pelo baixo nível intelectual ou peloinconformismo ativo e consciente com a filosofia e/ou a estruturasocial dominante.

Do levantamento e análise dessas condições, a que vimos dedi-

miolo.p65 16/3/2007, 19:2845

Page 46: 17 - Folkcomunicação - A mídia dos excluídos

46 Cadernos da Comunicação

cando nossos estudos, resultou a identificação e classificação degrupos de usuários da Folkcomunicação, através da qual se enten-dem, já que excluídos, marginalizados (e não marginais, expressãoque evitamos para afastar sua conotação negativa) não só do siste-ma político como do de comunicação social, ambos voltados à pre-servação do status quo definido pela ideologia e pela ação planifica-da dos grupos dirigentes.

Sob os critérios adotados, distinguimos, na audiência (usuá-rios) da Folkcomunicação, três grandes grupos, a cuja apresen-tação dedicaremos, como modelos de pesquisa, as partes seguin-tes deste ensaio:

1. os grupos rurais marginalizados, sobretudo devido ao seuisolacionismo geográfico, sua penúria econômica e baixo nível inte-lectual.

2. os grupos urbanos marginalizados, compostos de indivídu-os situados nos escalões inferiores da sociedade, constituindo asclasses subalternas, desassistidas, subinformadas e com mínimascondições de acesso.

3. os grupos culturalmente marginalizados, urbanos ou rurais,que representam contingentes de contestação aos princípios, à moralou a estrutura social vigente.

Como na Folkcomunicação cada ambiente gera seu próprio vo-cabulário e sua própria sintaxe, e cada agente-comunicador empre-ga o canal que tem à mão e melhor sabe operar de modo a que seupúblico veja refletidos na mensagem seu modo de vida, suas neces-sidades e aspirações, o enquadramento de qualquer parcela da co-munidade em um desses grupos depende, antes do mais, de umapesquisa das linguagens específicas utilizadas pelos indivíduos quea compõem e dos meios de expressão por eles utilizados.

miolo.p65 16/3/2007, 19:2846

Page 47: 17 - Folkcomunicação - A mídia dos excluídos

Série Estudos 47

Não se deve esquecer que enquanto os discursos da comu-nicação social são dirigidos ao mundo, os da Folkcomunicação sedestinam a um mundo em que palavras, signos gráficos, gestos, ati-tudes, linhas e formas mantêm relações muito tênues com o idio-ma, a escrita, a dança, os rituais, as artes plásticas, o trabalho e olazer, com a conduta, enfim, das classes integradas da sociedade.Relações semelhantes, em sua consistência, às quais ligam ao latima língua falada no Brasil ou a doutrina e a moral católicas aosincretismo e à ética umbandista. Não obstante o rico sistema queestudamos contém, possivelmente com mais vigor que o outro, umtraço de universalidade que advém de sua fundamentação no fol-clore, desde que a autêntica cultura popular tem raízes, tronco eramos tão profundamente arraigados na natureza humana que suasmanifestações parecem provir de uma única semente, independen-temente de raças e latitudes.

miolo.p65 16/3/2007, 19:2847

Page 48: 17 - Folkcomunicação - A mídia dos excluídos

48 Cadernos da Comunicação

Uma estratégia

das classes subalternas

José Marques de Melo 20

A Folkcomunicação configura-se, hoje, como um segmento ino-vador de pesquisa latino-americana no âmbito das ciências da co-municação. O objeto de pesquisa dessa nova disciplina está situa-do na fronteira entre o Folclore e a Comunicação de Massa.

Se o Folclore compreende formas interpessoais ou grupais de manifes-tação cultural protagonizadas pelas classes subalternas, a Folkcomunicaçãocaracteriza-se pela utilização de mecanismos capazes de difusão simbóli-ca de expressar, em linguagem popular, mensagens previamente veiculadaspela indústria cultural.

Esta era a compreensão original de Luiz Beltrão, que a entendiacomo processo de intermediação entre a cultura das elites (erudita oumassiva) e a cultura das classes trabalhadoras (rurais ou urbanas).

Tratava-se daquela “segunda etapa” do processo de difusãomassiva concebido pelo sociólogo Paul Lazarsfeld e seus discí-pulos da Universidade de Columbia. Porém com uma diferençafundamental. Enquanto os cientistas norte-americanos vislum-bravam o protagonismo individual de “líderes de opinião” em“grupos primários”, o fundador da Folkcomunicaçãodimensionava a influência coletiva de “agentes folk” no seio de“comunidades periféricas”.

Dentro dessa perspectiva realizaram-se as primeiras pesquisasdo gênero, privilegiando aquelas decodificações da cultura de massa (ousuas leituras simplificadoras da cultura erudita) feitas pelos veículosrudimentares nos quais se abastecem simbolicamente os segmentos popularesda sociedade.

miolo.p65 16/3/2007, 19:2948

Page 49: 17 - Folkcomunicação - A mídia dos excluídos

Série Estudos 49

Contudo, para legitimar-se socialmente e para conquistar osmercados constituídos por cidadãos que não assimilaram inteira-mente a cultura alfabética, a indústria cultural brasileira necessitouretroalimentar-se continuamente na cultura popular. Muitos dos seusprodutos típicos, principalmente no setor do entretenimento, res-gataram símbolos populares, submetendo-os à padronização pecu-liar à fabricação massiva e seriada.

Em face disso, os discípulos de Luiz Beltrão ampliaram o raio deobservação dos fenômenos folkcomunicacionais, não se limitandoa analisar as estratégias da recodificação popular de mensagens dacultura massiva, mas também rastreando os processos inversos(Benjamim, 2004). Ou seja, pesquisando a apropriação de bens dacultura popular pela indústria cultural (tanto os meios de comuni-cação coletiva quanto os aparatos do lazer massivo, principalmenteo turismo).

Grupo de Dança – apresentação em São Bernardo do Campo – SP – II Folkcom, 1999

Ace

rvo

do P

CLA

/Cát

edra

Une

sco/

SP

miolo.p65 16/3/2007, 19:2949

Page 50: 17 - Folkcomunicação - A mídia dos excluídos

50 Cadernos da Comunicação

A Folkcomunicação adquire cada vez mais importância pela suanatureza de instância mediadora entre a cultura de massa e a cultu-ra popular, protagonizando fluxos bidirecionais e sedimentandoprocessos de hibridação simbólica. Ela representa inegavelmenteuma estratégia contra-hegemônica das classes subalternas (Mar-ques de Melo, 1980). Trata-se de uma negociação a um só temposutil e astuciosa, naquela acepção cunhada pelo italiano AntonioGramsci (1979) e reinterpretada pelo brasileiro Edison Carneiro(1965), que influenciou decisivamente o arcabouço teóricoconstruído por Luiz Beltrão.

FolkmídiaHá meio século, o folclore da sociedade industrial refletia a apro-

priação da cultura popular pela poderosa cultura de massas, pro-cessando símbolos e imagens enraizados nas tradições nacionaisdos países hegemônicos e convertendo-os em mercadorias para oconsumo das multidões planetárias (Bausinger, 1961). Por sua vez,o folclore midiático, típico da sociedade pós-industrial, configura-secomo mosaico de signos procedentes de diferentes geografiasnacionais ou regionais, buscando projetar culturas seculares ouemergentes no novo mapa mundial.

Por isso mesmo, os espaços ocupados pelas tradições popularesna agenda midiática contemporânea correspondem a iniciativasdestinadas a preservar identidades culturais ameaçadas de extermí-nio ou estagnação, quando confinadas em territórios pretensamenteinexpugnáveis. Mas funcionam também como alavancas para a re-novação dos modos de agir, pensar e sentir de grupos ou naçõesque, empurrados conjunturalmente para o isolamento mundial,refluem à incorporação de novidades.

Esse folclore midiatizado possui dupla face. Da mesma formaque assimila idéias e valores procedentes de outros países, preocu-pa-se também com a projeção das identidades nacionais, exportan-

miolo.p65 16/3/2007, 19:2950

Page 51: 17 - Folkcomunicação - A mídia dos excluídos

Série Estudos 51

do conteúdos que explicitam as singularidades dos povos aspiran-tes a ocupar espaços abertos no panorama global.

O caso brasileiro torna-se paradigmático neste início de milênio.Nossa cultura nacional foi amalgamada pela conjunção de símbo-los oriundos de povos multifacetados. O contingente lusitano trou-xe-nos um legado híbrido de tradições eurolatinas, incorporandotraços civilizatórios assimilados nos territórios africanos e asiáticosonde suas naves aportaram pioneiramente. Essa matriz hegemônicaincorporou traços inconfundíveis das civilizações ameríndias quehabitavam o nosso litoral, nos tempos da colonização, e que foramexpulsas da faixa atlântica, sobrevivendo isoladamente na selvaamazônica e outros focos bravios. A elas se juntaram os costumes eexpressões das comunidades africanas, trazidas compulsoriamentenos navios negreiros para desempenhar funções produtivas nas plan-tações açucareiras, pecuária extensiva ou nos complexos auríferos.

Dessa imbricação simbólica resultou uma pujante cultura popularresponsável, em grande parte, pela natureza da identidade nacionalbrasileira, que se reproduziu heterogeneamente durante cinco sé-culos em todos os quadrantes da nossa geografia. Contudo, os tra-ços explicitamente homogêneos da chamada cultura brasileira sãoaqueles herdados da cultura erudita eurolatina, disseminados siste-maticamente pela rede escolar, Igreja católica e outras instituiçõesrespaldadas pelo aparato estatal.

Trata-se de dualismo cultural que se foi alterando, no decorrer doséculo 20, pela penetração de padrões consentâneos com a fisionomiapolifacética da emergente cultura de massas, importada de matrizes inici-almente européias e ultimamente das indústrias simbólicas norte-ame-ricanas. Essa corrente teve efeitos significativos na configuração donosso perfil cultural contemporâneo, que deixa de refletir o arquipélagocultural outrora identificado por Manuel Diegues Júnior (1960), pro-jetando aquela faceta que Renato Ortiz (1988) rotulou apropriada-mente como a “moderna tradição brasileira”.

miolo.p65 16/3/2007, 19:2951

Page 52: 17 - Folkcomunicação - A mídia dos excluídos

52 Cadernos da Comunicação

Estamos, portanto, em pleno processo de transmutação da nos-sa identidade cultural, compelidos a continuar importando padrõesoriundos das matrizes da indústria mundial de bens simbólicos, mastambém participando desse mercado internacional potencializadopela cultura massiva.

McLuhan e BeltrãoO midiólogo canadense Marshall McLuhan (1951) debutou no

cenário intelectual norte-americano, em meados do século XX, coma publicação do livro The Mechanical Bride.

Ele partia do pressuposto de que, na sociedade pré-industrial, opopular nem sempre teve papel decisivo na configuração do folclore.Trata-se de tese semelhante àquela defendida pelos historiadoresingleses Hobsbawn & Ranger (1997), no sentido de que a invençãoconstituiu fator crucial no alicerce das tradições européias. Da mes-ma maneira que parcelas da herança simbólica da aristocracia britâ-nica foram fabricadas pelos historiadores oficiais, a mais genuína

Grupo de Dança – apresentação em São Bernardo do Campo – SP – II Folkcom – 1999

Ace

rvo

do P

CLA

/Cát

edra

Une

sco/

SP

miolo.p65 16/3/2007, 19:2952

Page 53: 17 - Folkcomunicação - A mídia dos excluídos

Série Estudos 53

cultura popular ianque foi produzida por agentes da sociedade civil.McLuhan cumpriu a tarefa de surpreendê-la no apogeu da sua

apropriação pela mídia, ou seja, quando a indústria cultural catalisouos sentidos da sociedade norte-americana. Sua pesquisa tomou comoreferencial os anúncios publicitários e as peças de entretenimento(quadrinhos, cinema, televisão) difundidos pelos jornais diários erevistas periódicas.

Estava implícita nessa metodologia a idéia de que o homem indus-trial, vivendo nas periferias das megalópoles, inseria-se numa cultu-ra de massa enraizada nas tradições populares. Este é inegavelmente osegredo de todo o êxito alcançado pela indústria midiática dos EUA,alicerçando-se no arsenal simbólico das comunidades ruraisedificadas pelos antigos colonizadores ingleses ou no legado cultu-ral introduzido pelos contingentes de imigrantes. Estes formariamcomunidades urbanas amalgamadas à forte cultura popular norte-americana, preservada pelo aparato estatal e ao mesmo tempofortalecida pelas agências socializadoras, atuantes em todo o terri-tório nacional.

Essa cultura popular massificava-se, criando elos interativosentre ianques primitivos e adventícios. Preparava-se o terreno parasua exportação a todo o planeta, consubstanciado em aldeia global.

Naquela conjuntura em que Marshall McLuhan formulava hipó-teses posteriormente transformadas em realidades inequívocas nonorte das Américas, Luiz Beltrão diagnosticava situaçãodiametralmente inversa ao sul do Equador. O Brasil perfilava-secomo uma sociedade marcada pela vigência de uma mídia elitista,ancorada nos valores da cultura erudita. Donde a necessidade dedecodificação das suas mensagens para serem assimiladas pelascamadas populares da nossa sociedade.

A este processo de tradução dos conteúdos midiáticos, feitapelos “meios populares de informação de fatos e expressão deidéias”, Luiz Beltrão (1967) denominou Folkcomunicação. Sua tese

miolo.p65 16/3/2007, 19:2953

Page 54: 17 - Folkcomunicação - A mídia dos excluídos

54 Cadernos da Comunicação

de doutorado foi dedicada a elucidar as estratégias e os mecanis-mos adotados pelos agentes folkcomunicacionais no sentido de tor-nar inteligíveis fatos (informações), idéias (opiniões) e diversões(entretenimento). Em pesquisas posteriores, Beltrão (1980) com-provou que a imprensa, o rádio, a televisão e o cinema difundemmensagens que não logram a compreensão de vastos continentespopulacionais. Esses bolsões “culturalmente marginalizados” rea-gem de forma nem sempre ostensiva, robustecendo um sistemamidiático alternativo. Constroem e acionam veículos artesanais oucanais rústicos, muitas vezes estabelecendo uma espécie de feedbackem relação ao sistema hegemônico.

As pesquisas desenvolvidas pelos discípulos de Luiz Beltrão ates-tam a pujança dos processos folkcomunicacionais na base da nossasociedade, tendo em vista a persistência daqueles contingentes“marginalizados” da sociedade de consumo que ainda demandam adecodificação “popular” dos conteúdos elitistas veiculados pelamídia convencional (Benjamin, 2000). Evidencia-se, contudo, aemergência de uma corrente em sentido oposto, qual seja a incidên-cia de temas populares na mídia massiva, refletindo a sensibilidadedos seus editores para corresponder às expectativas dos segmentosque se incorporam ao seu mercado consumidor, principalmente naimprensa diária. Tais processos folkmidiáticos (Marques de Melo,2004) começam a ser desvendados pela nova geração que integra aRede Brasileira de Pesquisadores de Folkcomunicação.

A confirmar-se essa tendência, estaríamos reproduzindo, meioséculo depois, aquele fenômeno que McLuhan identificara naAmérica do Norte (Estados Unidos e Canadá), dando-lhe o rótulode “folclore do homem industrial”.

miolo.p65 16/3/2007, 19:2954

Page 55: 17 - Folkcomunicação - A mídia dos excluídos

Série Estudos 55

O papel articulador da

Cátedra Unesco/Metodista17

Maria Cristina Gobbi

No ano de 2004, constituiu-se a Organização Não-Governamen-tal Rede Folkcom – Rede de Estudos e Pesquisas emFolkcomunicação. Ela tem como missão ser um núcleo aglutinadorde pesquisadores e estudiosos da Folkcomunicação, geradora dereflexões, estudando o folclore como um processo permanente decomunicação e a mídia como um meio.18

Símbolo da Rede Folkcom criado por Marco Aurélio BrisenoTeixeira para a I Conferência Brasileira de

Folkcomunicação, ocorrida no ano de 1998, naUniversidade Metodista de São Paulo.

miolo.p65 16/3/2007, 19:2955

Page 56: 17 - Folkcomunicação - A mídia dos excluídos

56 Cadernos da Comunicação

A Rede surgiu a partir de um desafio lançado pelo professorJosé Marques de Melo, durante o VI Encontro Brasileiro deFolkcomunicação, no ano de 2003, para um grupo de estudiososda comunicação.

A Rede, de acordo com seu estatuto, objetiva:

1. delinear o campo da Folkcomunicação definindo umarcabouço teórico metodológico;

2. compreender o contexto da Folkcomunicação a partir da lo-calização: do homem, da festa, da culinária, do artesanato, da músi-ca, da religião, da arquitetura, do trabalho etc;

3. realizar estudos documentais e empíricos descrevendo-os eanalisando-os enquanto processos e fenômenos folkmidiáticos, lo-calizando seus agentes codificadores, seus canais de expressão, otipo de mensagem, o público que se destina;

4. intercambiar subsídios com os pesquisadores ligados à RedeFolkcom e com novos pesquisadores e outras entidades de pesqui-sa, inclusive internacionais;

5. promover seminário e/ou reunião científica nas institui-ções de origem de cada pesquisador a fim de ampliar a discussãoda Folkcomunicação;

6. divulgar os resultados das pesquisas em eventos científicosregionais, nacionais e internacionais.

A Rede Folkcom está aberta para a participação de pesquisado-res, professores e estudantes que se interessam pelos estudos daFolkcomunicação. Os contatos podem ser feitos pelo e-mail:[email protected].

O que observamos na série de relatos disponibilizados nessevolume é que, desde a década de 1960, a Folkcomunicação vemensejando um conjunto de produtos que tem estimulado os debates

miolo.p65 16/3/2007, 19:2956

Page 57: 17 - Folkcomunicação - A mídia dos excluídos

Série Estudos 57

e a compreensão das manifestações da cultura popular no campoda comunicação. Essas pesquisas vêm contribuindo para a atuali-zação do trabalho do professor Luiz Beltrão. São várias as ações eproduções que demonstram a diversidade dos estudosfolkcomunicacionais e sua aplicação na área.

A importância desse tipo de publicação reside no fato de que osdiversos textos publicados por Luiz Beltrão ao longo de sua trajetó-ria profissional e acadêmica já não estão disponíveis no mercadoeditorial por terem suas edições esgotadas. Muitos são trabalhosseminais, outros já apresentam resultados de anos de pesquisa einteração com a comunicação. São reflexões que contemplam maisde 30 anos de dedicação ao entendimento da comunicação e dojornalismo como campos do conhecimento humano, da participa-ção popular, da socialização de informação e da igualdade de direi-tos.

A publicação deste Ca-derno vem preencher umalacuna para aqueles estu-dantes que buscam na obrade Luiz Beltrão a referêncianecessária para aprofun-dar seus estudos e suas re-flexões, tendo como iden-tificador um alvitre pionei-ro, vasto e fundamentado napráxis comunicativa.

Mulher-Flores– Festa do Divino – Piracicaba

– Interior de São Paulo

Ace

rvo

do P

CLA

/Cát

edra

Une

sco/

SP

miolo.p65 16/3/2007, 19:2957

Page 58: 17 - Folkcomunicação - A mídia dos excluídos

58 Cadernos da Comunicação

Bibliografia

BELTRÃO, Luiz. Folkcomunicação – Um estudo dos agentes e dos meiospopulares de informação de fatos e expressão de idéias (tese de doutorado).Brasília, Universidade de Brasília, 1967. (Esta obra foi recentementepublicada pela coleção Comunicação da EDIPUCRS, Pontifícia Uni-versidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2001).

BELTRÃO, Luiz. Folkcomunicação, a comunicação dos marginaliza-dos. São Paulo: Cortez, 1980, p. 259-279.

BELTRÃO, Luiz. Comunicação e Folclore. São Paulo: Melhoramen-tos, 1971.

BENJAMIN, Roberto. Folkcomunicação na sociedade contemporânea.Porto Alegre: Comissão Gaúcha de Folclore, 2004.

BENJAMIN, Roberto. Folkcomunicação no contexto de massa. JoãoPessoa: Universidade Federal da Paraíba, 2000.

BRANDÃO, Theo. Folguedos natalinos. 3 Ed. Maceió: UFAL, 2003.

CARNEIRO, Edison. A dinâmica do Folclore. Rio de Janeiro: Ci-vilização Brasileira, 1965.

CARNEIRO, Edison. A sabedoria popular. Rio de Janeiro: Minis-tério da Educação e Cultura, Instituto Nacional do Livro, 1957.

CASTELO BRANCO, Samantha. Metodologia folkcomunicacional:teoria e prática. In: DUARTE & BARROS, org. Métodos e técnicas depesquisa em Comunicação. São Paulo: Atlas, 2005, p. 110-124.

COCHRANE, Allan. Global Worlds and Worlds of difference. In:ANDERSON, BROOK and COCHRANE (eds). A Global World.New York: Oxford University Press, 1995, p. 249-280

DIÉGUES JÚNIOR., Manuel. Regiões culturais do Brasil. Rio de

miolo.p65 16/3/2007, 19:2958

Page 59: 17 - Folkcomunicação - A mídia dos excluídos

Série Estudos 59

Janeiro: MEC-INEP, 1960.

GRAMSCI, Antonio. History of the Subaltern Classes: MethodologicalCriteria, In: MATTELART, Armand and SIEGELAUB, Seth (orgs.).Communication and Class Struggle, 1º vol., Paris, IMMRC, 1979, p. 90-91.

HOBSBAWN, Eric & RNGER, Terence. A invenção das tradições.Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1997.

LIMA, Rossini Tavares de. A ciência do Folclore. São Paulo: MartinsFontes, 2003.

LIMA, Rossini Tavares de. Abecê do folclore. 5 Ed., S. Paulo: Ricordi, 1972.

MAYNARD ARAÚJO, Alceu. Cultura popular brasileira. São Pau-lo: Melhoramentos, 1973.

MARQUES DE MELO, José. O folclore midiático. In: A esfingemidiática. São Paulo: Paulus, 2004, p. 269-272.

MARQUES DE MELO, José. Comunicação, região, desenvolvimen-to. In: MARQUES DE MELO, BRUM, LINHARES, BRITO &GOBBI (orgs). Comunicação, região & desenvolvimento. Campo Gran-de: UNIDERP, 2004b, p. 19-26 .

MARQUES DE MELO, José. Comunicação e classes subalternas.São Paulo: Cortez, 1980, p.111-14.

MARQUES DE MELO, José. Sistemas de comunicação no Brasil. In:MARQUES DE MELO, FADUL & LINS DA SILVA. Ideologias e poderno ensino de comunicação. São Paulo: Cortez & Moraes, 1979, p. 211-239.

McLUHAN, Marshall. The Mechanical Bride – Folklore of the Indus-trial Man. Boston: Beacon Press, 1951.

ORTIZ, Renato. A moderna tradição brasileira. São Paulo: Brasiliense, 1988.

PELLEGRINI FILHO, Américo. Calendário e documentário do fol-clore paulista. São Paulo: Instituto Musical de São Paulo, 1975.

miolo.p65 16/3/2007, 19:2959

Page 60: 17 - Folkcomunicação - A mídia dos excluídos

60 Cadernos da Comunicação

1 Doutora e mestre em Comunicação Social pela Universidade Metodistade São Paulo. Diretora Suplente da Cátedra Unesco de Comunicaçãopara o Desenvolvimento Regional. Coordenadora do Acervo do Pensa-mento Comunicacional Latino-Americano José Marques de Melo, daCátedra Unesco. Professora Lato Sensu em Comunicação e dos cursosde Graduação na mesma instituição. Editora do JBCC – Jornal Brasilei-ro de Ciências da Comunicação e do Anuário Unesco/Metodista de Co-municação Regional. Professora do Programa de Pós-Graduação StrictoSensu da Unipac/MG e da graduação da Faculdade Editora Nacional –Faenac. Coordenadora do Prêmio Luiz Beltrão de Ciências da Comuni-cação da Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comuni-cação (Intercom). E-mail: [email protected].

2 Tarsitano, Paulo Rogério. Luiz Beltrão, vida e obra, trabalho de curso,p. 3. Pesquisa realizada na disciplina Pensamento Comunicacional Lati-no Americano, em 1998. Não publicado.

3 Nava, Rosa. Pensamento comunicacional latino-americano – LuizBeltrão, trabalho de curso, p. 8. Pesquisa realizada na disciplina Pensa-mento Comunicacional Latino-Americano, em 1998. Não publicado.

4 Castelo Branco, Samantha. Luiz Beltrão: da criação do Icinform àteoria da Folkcomunicação. IN: Marques de Melo, José e Gobbi, MariaCristina. Gênese do pensamento comunicacional latino-americano. Oprotagonismo das instituições pioneiras: Ciespal, Icinform, Ininco. SãoBernardo do Campo: Unesco/Umesp, 2000, p. 193-212.

5 Essa lista teve como fonte material de pesquisa do professor dr. JoséMarques de Melo, em apresentação em Power Point, no ano de 2006, edisponível no Acervo da Escola Latino-Americana de Comunicação JoséMarques de Melo, na Cátedra Unesco/Metodista de Comunicação.

6 O termo cultura foi inserido (pela autora do texto) por julgar que a defini-ção de globalização tratada sob o âmbito econômico, também engloba oconceito de cultura, que forma o perfil de uma nação.

7 Situado entre o folclore (resgate e interpretação da cultura popular) e acomunicação de massa (difusão de símbolos através dos veículos me-

Notas

miolo.p65 16/3/2007, 19:2960

Page 61: 17 - Folkcomunicação - A mídia dos excluídos

Série Estudos 61

cânicos ou eletrônicos destinados a audiências anônimas, heterogêne-as e dispersas). Se o folclore compreende formas interpessoais ou grupaisde manifestação cultural protagonizadas pelas classes subalternas, afolkcomunicação caracteriza-se pela utilização de meios artesanais dedifusão simbólica para expressar em linguagem popular mensagens pre-viamente veiculadas pela indústria cultural. Esta era pelo menos a com-preensão original de Luiz Beltrão, que a situava como processo deintermediação entre a cultura das elites (erudita ou massiva) e a culturadas classes trabalhadoras (rurais e suburbanas) ou dos marginalizados(grupos mantidos econômica, social e culturalmente à margem das ins-tituições hegemônicas) (Marques de Melo, 1998, p. 1).

8 O professor Luiz Beltrão refere-se aí ao século 20.

9 In: Beltrão, Luiz. Folkcomunicação, um estudo dos agentes e dos mei-os populares de informação de fatos e expressão de idéias (Tese deDoutoramento), Brasília, UnB, 1967. Material publicado no livro:Folkcomunicação: teoria e metodologia. São Bernardo do Campo:Metodista, 2004.

10 Conf. Luiz da Câmara Cascudo, no prefácio para os Contos populares doBrasil, de Silvio Romero. Rio de Janeiro: José Olimpio, 1954, p. 26-27.

11 Lancelot Hogben. De la pintura rupestre a la historieta grafica. Barce-lona: Ediciones Omega, 1953, p. 262-263.

12 Paul Lazarsfeld e outros. The people’s choice. Columbia UniversityPress, New York, 1948; Elihu Katz e Paulo Lazarsfeld. Personal influence.The Free Press, Glencoe, Illinois, 1956; Robert k. Merton. Patterns ofinfluence: a study of interpersonal influence and communications behaviorin a local community. Communications Research, 1948-49, Harper andBros, New York, 1949.

13 Ritual sincrético, com elementos de magia européia associados aelementos negros, ameríndios, espíritas e cristãos (In: Dicionário do Au-rélio).

14 Edson Carneiro. Dinâmica do folclore. Rio de Janeiro: CivilizaçãoBrasileira, 1965, p. 2.

15 Este trabalho foi apresentado à VIII Conferência Brasileira deFolkcomunicação, ocorrida em Teresina, Ceut, 9-11 de junho de 2005,

miolo.p65 16/3/2007, 19:2961

Page 62: 17 - Folkcomunicação - A mídia dos excluídos

62 Cadernos da Comunicação

por José Marques de Melo com o título: Gêneros e formatosfolkcomunicacionais: aproximação taxionômica.

16 In: Beltrão, Luiz. Folkcomunicação: a comunicação dos marginaliza-dos, São Paulo: Cortez, 1980, p. 27-40.

17 Na literatura, basta-nos lembrar os romances do ciclo da cana-de-açúcar de José Lins do Rego; do cacau – de Jorge Amado – e O coronele o lobisomem, de José Cândido de Carvalho, algumas histórias já trans-postas para o cinema e a televisão. Neste último canal, não se podeignorar a figura do “coronel” Odorico, de O Bem-Amado, adaptação dapeça de Dias Gomes. Quanto aos ensaios sobre o tema, destaca-se oestudo de Marcos Vinícius Vilaça e Roberto C. de Albuquerque: Coronel,coronéis, numa edição da Tempo Brasileiro, do Rio, datada de 1965, emque os autores analisam o fenômeno, em todo o processo de dominaçãoeconômica, social e política, seu desenvolvimento e declínio, através daatuação de quatro famosos “coronéis” de Pernambuco. O livro é enri-quecido com farto documentário fotográfico, mapas, quadros estatísti-cos e transcrição de depoimentos, volantes e cartas.

18 Perlmann, Janice E. O mito da marginalidade. Paz e Terra:Rio, 1977.

19 Paoli, Maria Célia Pinheiro Machado. Desenvolvimento e marginalidade.Pioneira: São Paulo, 1977.

20 Professor Emérito da Universidade de São Paulo e diretor-titular daCátedra Unesco/Metodista de Comunicação. Professor do Programa dePós-Graduação Stricto Sensu em Comunicação da UniversidadeMetodista de São Paulo. Presidente da Sociedade Brasileira de EstudosInterdisciplinares da Comunicação e Presidente de honra da RedeFolkcom.

21 Gobbi, Maria Cristina. Parte desse texto encontra-se publicado noAnuário Unesco/Metodista nº 10. São Bernardo do Campo: Unesco/Metodista, 2006.

22 Schmidt, Cristina. Folkcomunicação na arena digital. Avanços teóricose metodológicos. São Paulo: Ductor, 2006.

miolo.p65 16/3/2007, 19:2962

Page 63: 17 - Folkcomunicação - A mídia dos excluídos

Série Estudos 63

miolo.p65 16/3/2007, 19:2963

Page 64: 17 - Folkcomunicação - A mídia dos excluídos

64 Cadernos da Comunicação

Este livro foi composto em Garamond,

corpo 12/16, abertura de capítulos em

Times New Roman Bold, corpo 20 e 18,

legendas e notas em Arial, corpo 8/9. Miolo

impresso em papel offset 90gr/m2 e capa

em cartão supremo 250gr/m2, na Imprensa

da Cidade, em março de 2007.

miolo.p65 16/3/2007, 19:2964