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I.2.1. Geologia
As unidades litoestratigráficas aflorantes no Pontal do Paranapanema sãoconstituídas por rochas sedimentares e ígneas da bacia do Paraná, de idademesozóica, e depósitos sedimentares recentes, de idade cenozóica:
• Grupo São Bento (Mesozóico): Formação Serra Geral (JKsg);
• Grupo Bauru (Mesozóico): formações Caiuá (Kc), Santo Anastácio (Ksa) eAdamantina (Ka);
• Depósitos Cenozóicos (Qa).
Estas formações geológicas estão representadas no Desenho 2, Volume III,em escala 1:250.000, uma compilação dos mapa geológicos apresentados por IPT(1981a) e IPT (1987).
A Figura I.2.1.a traz a coluna estratigráfica aqui adotada, de IPT (1981a) e oQuadro I.2.1.a mostra a distribuição destas unidades em porcentagem de área deafloramento no Pontal do Paranapanema. Estes números demonstram que do totalde 11.838 km2, 7.680,8 km2, ou 64,9%, correspondem ao Grupo Bauru (28,7%, 2,6%e 62,3%, respectivamente, às formações Caiuá, Santo Anastácio e Adamantina),504 km2, ou 4,3%, às rochas do Grupo São Bento (Formação Serra Geral) e 254,2km2 (2,1%) a terrenos cenozóicos.
Quadro I.2.1.a. Percentual de área de afloramento das unidades litoestratigráficaspresentes no Pontal do Paranapanema.
Unidadelitoestratigráfica
principal
% de área deafloramento no PP Formações geológicas
% de área deafloramento no
PP
Terrenos Cenozóicos 2,1% Sedimentos aluvionares 2,1%
Formação Adamantina 62,2 %
Formação Santo Anastácio 2,7 %
Grupo
Bauru
(IPT, 1981a, 1987)
93,6%
Formação Caiuá 28,7 %
Grupo São Bento 4,3% Formação Serra Geral 4,3 %
I.2.1.1. Bacia do Paraná
A bacia do Paraná é uma unidade geotectônica estabelecida sobre aPlataforma Sul-Americana a partir do Devoniano Inferior, senão mesmo do Siluriano(IPT, 1981a), e possui, dentro do território brasileiro, uma área aproximada de1.100.000km² (Figura I.2.1.b). Está presente ao longo de toda extensão do Pontaldo Paranapanema.
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I.2.1.2. Origem e compartimentação tectônica
A bacia do Paraná é considerada uma bacia de comportamento relativamenteestável, dissociada de efeitos tectono-térmicos mais agudos, quando comparada aoutras bacias de margem continental. Trata-se de uma bacia intracratônica sul-americana, desenvolvida totalmente sobre crosta continental, na qual o registrolítico-sedimentar a magmático abrange do Mesopaleozóico ao Cenozóico (Cabral Jr.,1991).
Loczy (1966) realizou um dos primeiros trabalhos enfocando a formação dasbacias paleozóicas brasileiras e propôs como evento gerador, movimentações decaráter epirogenético associadas a falhamentos de gravidade.
Soares (1978) sugeriu que o desenvolvimento da bacia obedeceu a umprocesso de flexura da placa litosférica, condicionada a esforços compressivos noembasamento crustal.
Outros trabalhos tratam da evolução da bacia de uma maneira maiscomplexa, supondo ter ocorrido um rifteamento num estágio inicial (tafrogênese)(Fúlfaro et al., 1982; Cordani et al., 1984), porém ainda não há evidências suficientessegundo os dados geológicos disponíveis (Zalán et al., 1987).
I.2.1.3. Unidades litoestratigráficas
Grupo São Bento
Sob a designação “Série de São Bento”, White (1908) reuniu um conjunto dearenitos predominantemente vermelhos encimados pelas “Eruptivas da Serra Geral”.A parte do pacote arenítico, o mesmo autor denominou São Bento, e as camadasvermelhas, de Rio do Rasto.
Posteriormente todo pacote foi denominado de Grupo São Bento, constituídopelas formações Pirambóia, Botucatu e Serra Geral (IPT, 1981a).
No Pontal do Paranapanema, as formações Pirambóia e Botucatu ocorremapenas sub-superficialmente, entretanto apresentam grande importância, porconstituir, notadamente a Formação Botucatu, aqüífero confinado de excelentepotencial de explotação.
1.2.1.3.1. Formação Pirambóia (TrJp)
Os sedimentos da Formação Pirambóia constituem a porção basal daseqüência mesozóica de Soares (1975) e, em SP e estendem-se desde a divisa deMG até o Estado do PR, em uma faixa com largura variável, de 5 a 50 km eespessura máxima em torno de 300m (Landim et al.,1980 in Brighetti, 1994).
Diversos estudos realizados nas décadas de 20 e 40 apresentam-seconflitantes entre si, ora separando o pacote de arenitos Pirambóia-Botucatu emduas unidades, ora definindo todo o conjunto com o nome de uma delas (Campos,1889; Oliveira, 1889; Pacheco, 1927; Oliveira, 1930; Florence & Pacheco, 1929 eOliveira & Leonardos, 1943 in IPT, op. cit.).
Almeida & Barbosa (1953) admitiram que as duas formações representavamum ciclo único de sedimentação, refletindo condições climáticas que de quentes e
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úmidas evoluíram para desérticas. Distinguiram um membro inferior, o ArenitoPirambóia, de caráter predominantemente aquoso, e outro eólico, compreendendo oArenito Botucatu.
Mapeamentos efetuados pela Petrobrás na década de 1970 na região centro-sul do Estado de São Paulo mostraram viabilidade de separar as duas unidades.Neste sentido, Soares (1972) propôs, com base em critérios sedimentológicos eestratigráficos, a denominação de formações Botucatu e Pirambóia, individualizando-as. Entretanto, a unidade ainda é alvo de controvérsias, tanto em nível estratigráfico,quanto sedimentológico.
Soares (op. cit.) divide a Formação Pirambóia em dois membros, um inferior,correspondente a fácies mais argilosas, com predomínio de estratificações plano-paralelas e cruzadas acanaladas de pequeno porte. No membro superior, foramdescritos bancos de arenitos pouco argilosos, sucedidos por outros muito argilosos,lamitos e argilitos arenosos, cíclicos.
Baseada na análise faciológica em escala regional, a maioria dos estudos dasdécadas de 1970 e 80 sugerem que a sedimentação do Pirambóia teria ocorrido emambiente flúvio-lacustre, com discreta influência eólica. Segundo Lavina (1989),houvera crescente desertificação na transição destes para os depósitos daFormação Botucatu, considerados tipicamente eólicos.
Segundo Brighetti (1994), atualmente se busca, através da análise faciológicaem escala de detalhe, a identificação das fácies com vistas à caracterizaçãogenética dos sedimentos. Neste sentido, Caetano-Chang et al. (1991) e Caetano-Chang & Wu (1993) identificaram, com base nos processos sedimentaresdominantes, fácies de sub-ambientes eólicos desde a base até o topo da unidade.
Brighetti (op. cit.) descreve a Formação Pirambóia como constituída porsedimentos tipicamente eólicos e subordinadamente flúvio-eólicos, depositados emambiente desértico. Segundo a mesma autora, a sucessão sedimentar estudadarevelou que, num estágio inicial, predominam os depósitos de dunas associados ainterdunas e amplos lençóis de areia, seguidos por uma sedimentação em campo dedunas, onde depósitos de dunas e de inúmeras interdunas interagem com umsistema fluvial temporário. No topo da unidade, os depósitos de interdunas são rarose a sedimentação dá-se em campo de dunas de grande porte.
1.2.1.3.2. Formação Botucatu (JKb)
Segundo IPT (1981a), a Formação Botucatu constitui-se quase inteiramentede arenitos de granulação fina a média, uniforme, com boa seleção de grãos foscoscom alta esfericidade. São avermelhados e exibem estratificação cruzada tangencialde médio a grande porte, característica de dunas caminhantes. Representa osdiversos sub-ambientes de um grande deserto climático de aridez crescente.
1.2.1.3.3. Formação Serra Geral (JKsg)
As “Eruptivas da Serra Geral” (White, 1908) compreendem um conjunto dederrames de basaltos toleíticos entre os quais se intercalam arenitos com asmesmas características dos pertencentes à Formação Botucatu. Associam-se-lhescorpos intrusivos de mesma composição, constituindo sobretudo diques e sills.
De acordo com IPT (op cit.), os derrames afloram em São Paulo na partesuperior das escarpas das cuestas basálticas e de morros testemunhos destas,
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isolados devido ao processo de erosão. Nos planaltos de rebordo destas cuestas,podem cobrir grandes extensões. Penetram pelos vales que drenam o PlanaltoOcidental, expondo-se principalmente nos dos rios Paranapanema, Tietê, Moji-Guaçu e Grande.
No Pontal do Paranapanema, a Formação Serra Geral ocorre na regiãosudeste da bacia. A Foto I.2.1.a traz um afloramento desta Formação; as FotosI.2.1.b e c apresentam, em caráter de exemplificação, aspectos petrográficos deuma amostra coletada neste local.
A Formação Serra Geral é recoberta em discordância angular, geralmentemuito disfarçada, pelas várias formações que constituem o Grupo Bauru, oudepósitos cenozóicos. Localmente a discordância é observada em afloramento,podendo ser bem acentuada, tendo mesmo levado à total erosão dos basaltos,quando aquele grupo repousa sobre rochas paleozóicas, como é o caso da regiãopróxima a Bauru. A superfície basal do Grupo Bauru, desenvolveu-se à custa daerosão de espessura não conhecida, possivelmente considerável, da FormaçãoSerra Geral, após ter sido esta deformada por falhas.
A máxima espessura, descrita através de uma sondagem feita em PresidenteEpitácio (Pontal do Paranapanema) próxima à margem do rio Paraná, é de 1.529 m.As espessuras expostas no restante de São Paulo, nas cuestas basálticas e bordasdo Planalto Ocidental do Médio Paranapanema, possivelmente não alcançam umterço desse valor, mas não há elementos seguros para estimá-la.
Os derrames são formados por rochas de cor cinza escura a negra comtextura afanítica até fanerítica fina. Têm espessura individual variável, desde poucosa 50 metros, até mesmo 100m (Leinz, 1949). Sua extensão horizontal, a julgar-sepelo exame de exposição nas escarpas das serras, no vale do rio Grande e poranálise de fotografias aéreas, pode ultrapassar 10 km.
Nos derrames mais espessos, a zona central é maciça, microcristalina,fraturada por juntas subverticais de contração, dividindo a rocha em colunas. A partesuperior do derrame, numa espessura que pode alcançar 20m (Leinz et al., 1966)nos mais espessos, adquire aspecto melafírico, aparecendo vesículas amígdalas,com freqüência alongadas horizontalmente, e sendo aí maior a porcentagem dematéria vítrea na rocha.
As amígdalas são parcial ou inteiramente preenchidas por calcedônia,quartzo, calcita e zeólita nontronita, mineral que lhes imprime cor verde. Grandesgeodos de quartzo e calcedônia podem existir parte mais profunda dessa zonamelafírica. Também na zona basal dos derrames apresentam-se aspectossemelhantes, porém em espessura e abundância sensivelmente mais reduzidas.Tanto nas porções basais, quanto no topo dos grandes derrames, há juntashorizontais, o que seria pelo menos em parte, devido ao escoamento laminar da lavano interior dos derrames (Bagolini, 1971). Estruturas fluidais raramente se observam.
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Foto I.2.1.a. Afloramento de basalto da Formação Serra Geral (JKsg), localizado nomunicípio de Taciba. Foto: Carlos F. C. Alves.
Foto I.2.1.b. Textura intergranular, com ripas de plagioclásio e cristais intersticiaisde clinopiroxênio. Lâmina delgada com lamínula, de amostra de basalto daFormação Serra Geral (JKsg), coletada no afloramento da foto anterior. NC,aumento de 10x. Fotomicrografia e breve descrição petrográfica: André LuizBonacin Silva.
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Foto I.2.1.c. Textura intergranular, com ripas de plagioclásio e cristais intersticiaisde clinopiroxênio. Lâmina delgada com lamínula, de amostra de basalto daFormação Serra Geral (JKsg), coletada no afloramento da foto anterior. ND,aumento de 10x. Fotomicrografia e breve descrição petrográfica: André LuizBonacin Silva.
Arenitos intertrapianos apresentam-se intercalados entre derrames ou gruposde derrames. Têm as mesmas características que os da Formação Botucatu,geralmente mostrando estruturas tipicamente dunares, outrora manifestandonatureza hidroclástica. Podem mostrar-se silicificados em espessuras de algunsmetros. A espessura dessas intercalações varia de centímetros ou decímetros, até50 m.
Numerosos diques acompanharam, em sua formação, as efusões das lavas,para as quais certamente muitos serviram de conduto. Apresentam espessurasvariadas, de centímetros a mais de 200 m. São mais numerosos em zonas quesofreram arqueamentos, a cujo eixo são subparalelos. Os diques são geralmentesimples, mas exemplos de diques múltiplos existem. Preenchem fendas de tração,sendo paralelas suas paredes. Podem associar-se a sills e cortarem derrames. Sãoaproximadamente verticais.
Mineralogicamente, os basaltos da Formação Serra Geral apresentamcomposição muito simples, essencialmente constituída de plagioclásio (labradoritazonada) associada a clinopiroxênios (augita e, às vezes, também pigeonita).Acessoriamente, mostram-se titano-magnetita, apatita, quartzo e raramente olivinaou seus produtos de transformação. Matéria vítrea, ou produtos de desvitrificação,podem ser abundantes, sobretudo às bordas dos derrames. A textura destes éintergranular ou intersertal, fina a muito fina, às vezes microlítica, com estruturafluidal podendo manifestar-se. Os diques e sills têm granulação mais grossa, sãoholocristalinos e freqüentemente apresentam textura ofítica. Nas bordas, contudo,texturas e estruturas semelhantes às dos derrames são às vezes observadas em
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diques e sills, em pequena espessura. A pouca freqüência com que se manifestamestruturas fluidais faz pensar que as lavas cessaram de correr quando ainda muitolíquidas, o que implica em rápida intrusão, escoamento e represamento (IPT,1981a).
A uniformidade dos derrames, a vasta extensão que cobrem, a associação adiques contemporâneos, a preservação local de morfologia das dunas e a raridadede produtos piroclásticos indicam que os basaltos da Formação Serra Geraloriginaram-se do extravasamento rápido de lava muito fluida através de geoclases emenores falhas. Produtos de erosão dos basaltos não são conhecidos no interior daformação, parecendo indicar não ter havido hiatos significativos durante o processovulcânico. A persistência das condições desérticas durante o vulcanismo écomprovada pela existência das intercalações eólicas (IPT, op. cit.).
Grupo Bauru
As várias unidades litoestratigráficas cretáceas supra-basálticas da bacia doParaná tiveram sua distribuição geográfica fortemente controlada pelo arcabouçoestrutural regional, isto é, depositaram-se na área delimitada pelo arco da Canastra,a nordeste do Estado de São Paulo, arco da Serra do Mar, a sudeste, e arco dePonta Grossa, a sudoeste. Além disso, conforme indicam os estudos depaleocorrentes deposicionais do Grupo Bauru, os depocentros da bacia Baurumigraram com o tempo. Não menos importantes foram os fatores paleoambientais epaleoclimáticos, que se superimpuseram aos controles tectônicos na definição dascaracterísticas litológicas dos sedimentos (IPT, op. cit.).
Cessados os derrames de lavas da Formação Serra Geral, que marcaram ofinal dos eventos deposicionais e vulcânicos generalizados na área da bacia doParaná, observou-se uma tendência geral para o soerguimento epirogênico em todaa Plataforma Sul-Americana em território brasileiro. A porção norte da bacia doParaná, entretanto, comportou-se como área negativa relativamente aossoerguimentos marginais e à zona central da bacia, marcando o início de uma fasede embaciamentos localizados em relação à área da bacia como um todo. Nessaárea deprimida acumulou-se o Grupo Bauru, no Cretáceo Superior, que aparece emgrande parte do oeste do Estado de São Paulo (Figura I.2.1.c).
Com a reativação wealdeniana e conseqüente estabelecimento das baciasmarginais, o interior continental brasileiro foi alvo de tensas manifestaçõestectônicas, que modelaram o embasamento basáltico pré-Bauru. Horsts e grabens,definindo um padrão de falhamentos normais, formaram-se no interior do "campo delavas" da Formação Serra Geral. Esta sofreu uma subsidência mais acentuada naárea do Pontal do Paranapanema em virtude da maior espessura de derramesbasálticos naquela área.
Segundo Suguio (1980), o ciclo inicial de sedimentação Bauru parece ter-seprocessado, portanto, sobre um relevo profundamente irregular favorecendo aformação de ambientes eminentemente lacustres. Esta fase, que naturalmente nãoapresentava ainda uma drenagem muito organizada e correspondera à etapa deassoreamento das irregularidades da superfície basáltica, propiciou a sedimentaçãodas Formações Caiuá e Santo Anastácio na área do Pontal do Paranapanema e daFormação Araçatuba na região, que tem aproximadamente como centro a cidadehomônima, localizada na bacia do Baixo Tietê. Tendo sido depositada em ambienteessencialmente lacustre raso, a principal causa da diferenciação textural entre essasunidades litoestratigráficas deve ser atribuída às fontes, predominantemente
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arenosa (arenito Botucatu) para as duas primeiras e predominantemente síltico-argilosa (basalto Serra Geral) para a última.
Segundo Cabral Jr. et al. (1990), o Grupo Bauru apresenta-se como um dosmais promissores, em termos prospectivos, das áreas da bacia do Paraná no Estadode São Paulo, constituindo o principal conjunto litofáciológico suprabasáltico,envolvendo um pacote sedimentar da ordem de 200 m de espessura. Destacam-seas seguintes possibilidades de mineralizações: argilas para diversos fins - bentonita(esmectita e atapulgita), argilas refratárias (caulinita e gibsita), agregado leve (illita),fertilizantes termo-fosfato potássico (illita) e cerâmica vermelha; rochascarbonatadas - corretivo do solo; sais evaporíticos - trona; diamantes; metais (Cu, U)etc.
Desde a introdução do seu nome na literatura geológica nacional, o "Grés deBauru” de Campos (1905) e os "delta-like sandstones" ou "Cayuá sandstone" de Baker(1923) e Washburne (1930), o Grupo Bauru passou por várias transformações,subindo e descendo na hierarquia estratigráfica e abrangendo diferentes unidadeslitoestratigráficas com o intuito de interpretar a interrelação das diversas unidadessedimentares suprabasálticas cretáceas. Setzer (1943) apresenta subdivisão da"Formação Bauru" em "Bauru Superior" e "Bauru Inferior", a partir de estudospedológicos da região noroeste do Estado. Almeida & Barbosa (1953), estudando a"série Bauru" na região das serras de Rio Claro, Itaqueri, Santana, São Carlos eCuscuzeiro, propõem sua divisão em Formação ltaqueri (inferior) e Formação Marília(superior). Freitas (1955) distingue o membro inferior ou Itaqueri e o membrosuperior ou Bauru. Posteriormente Freitas (1964) sugere o abandono da designaçãoltaqueri.
Figura I.2.1.c. Distribuição do Grupo Bauru e unidades correlatas no Estado deSão Paulo (IPT, 1981a).
Mezzalira & Arruda (1965), com base em observações geológicas na regiãodo Pontal do Paranapanema, foram os primeiros a admitir a possibilidade do arenitoCaiuá vir a ser considerado como fácies do Grupo Bauru. Os mapeamentos
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geológicos regionais do oeste do Estado, realizados a partir de 1975, permitiramuma melhor definição da estratigrafia dos depósitos suprabasálticos. Suguio et al.(1977) subdividiram a "Formação Bauru" em três litofácies distintas. Landim &Soares (1976) pela primeira vez utilizaram a denominação Santo Anastácio,referindo-se a sedimentos encontrados no vale do rio homônimo, no extremo oestedo Estado, considerados como pertencentes a uma fácies de transição entre asformações Caiuá e Bauru. Soares et al. (1979) e Stein et al. (1979) redescrevem osarenitos Santo Anastácio, e os mapeiam por grande extensão da porção oeste doEstado de São Paulo. Soares et al. (1980) e Almeida et al. (1980b) propõem que adesignação Grupo Bauru abranja as formações Caiuá, Santo Anastácio,Adamantina.
O Grupo Bauru, conforme a acepção de Suguio (1980), abrange as seguintesunidades litoestratigráficas: Formação Caiuá (Washburne, 1930), Formação SantoAnastácio (Landim & Soares, 1976 a e b), Formação Araçatuba (Suguio et al., 1977),Formação São José do Rio Preto (Suguio et al., 1977), Formação Uberaba (Hasui,1968) e Formação Marília (Almeida & Barbosa, 1953). Segundo este autor, todasessas unidades litoestratigráficas satisfazem aos critérios exigidos pelo Código deNomenclatura Estratigráfica de 1961 (Krumbein & Sloss, 1963), principalmente porapresentarem propriedades litológicas distintas entre si, reconhecíveis no campo, eserem mapeáveis na escala 1:25.000.
Dois dos trabalhos mais recentes e importantes são os de Fernandes (1998) eFernandes & Coimbra (1998), sobre a estratigrafia e evolução geológica do Bauruem sua porção oriental. Estes autores dão a denominação de Bacia Bauru, formadaentre o Coniaciano e o Maastrichtiano (Ks), abrangendo dois grupos: Caiuá e Bauru.
Nesta configuração, o Grupo Bauru reúne as formações Vale do Rio do Peixe,Presidente Prudente (propostas neste trabalho), São José do Rio Preto, Araçatuba(redefinidas), Marília e Uberaba. Abriga, ainda, os analcimitos Taiúva, rochasvulcânicas localmente intercaladas na seqüência. As passagens entre as unidadesdos grupos Caiuá e Bauru são graduais e interdigitadas.
O Quadro I.2.1.b apresenta uma síntese das características litológicas econtexto deposicional das unidades litoestratigráficas propostas por Fernandes(1998) e Fernandes & Coimbra (1998). A Figura I.2.1.d traz as relaçõesestratigráficas na parte oriental da Bacia Bauru propostas por estes trabalhos.
Grupo Bauru e unidades correlatas na UGRHI - 22
Neste Relatório Técnico, foi utilizada a subdivisão do Grupo Bauru de IPT(1981a, 1987), com quatro formações (Caiuá, Santo Anastácio, Adamantina eMarília), além da subdivisão da Formação Adamantina em unidades de mapeamentoproposta por Almeida et al. (1981) e IPT (1987). Compilando estas referências, oGrupo Bauru apresenta ampla extensão aflorante no Pontal do Paranapanema,correspondente a 93,6% do total (vide Desenho 2, Volume III).
Certamente outros levantamentos mais específicos, a exemplo dos trabalhosde Fernandes (1998), Fernandes & Coimbra (1998), dentre outros efetuados naregião, poderão ser utilizados como obras de referência para projetos na UGRHI-22que demandem maior detalhamento.
A seguir, é apresentado síntese bibliográfica das principais unidadeslitoestratigráficas do Grupo Bauru.
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1.2.1.3.4. Formação Caiuá (Kc)
A Formação Caiuá, constituída essencialmente de arenitos, representa a basedo Grupo Bauru, em um embaciamento ainda restrito, sobrepondo-se às eruptivasda Formação Serra Geral. Sua área de afloramento no Estado de São Paulocompreende principalmente a região do Pontal do Paranapanema, estendendo-separa norte por uma estreita faixa na margem esquerda do rio Paraná, mapeável atéa confluência com o rio do Peixe. Tem continuidade nos estados do Paraná e MatoGrosso do Sul.
Em termos de área de afloramento no Pontal do Paranapanema, correspondea cerca de 3.399,1 km2, ou 28,7% do total, constituindo a segunda unidadelitoestratigráfica de maior representatividade territorial. As Fotos I.2.1.d e e,apresentam um afloramento da Fm. Caiuá no município de Presidente Epitácio, nabarranca do rio Paraná.
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Foto I.2.1.e. Detalhe de intercepto de estratificação cruzada da Foto I.2.1.e -afloramento de arenito da Formação Caiuá (Kc), localizado em barranca do rioParaná, na área de influência do reservatório de Porto Primavera, município dePresidente Epitácio. Foto: André Luiz Bonacin Silva.
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Figura I.2.1.d. Relações estratigráficas na parte oriental da Bacia Bauru. Siglas: Krpa = Fm. Rio ParanáFm. Santo Anastácio (Gr. Caiuá); Krpx = Fm. Vale do Rio Peixe, Karç = Fm. Araçatuba, Kube = Fm. Ugalga, Kpta = Mb. Ponte Alta, Kech = Mb. Echaporã, Ksrp = Fm. São José do Rio Preto, Kppr = Fmanalcimitos Taiúva (Gr. Bauru); Ksg = Fm. Serra Geral (Gr. São Bento) (Fernandes, 1998).
36
A primeira referência aos arenitos mais tarde denominados Caiuá foi feita porBaker (1923), que mencionou a existência de arenitos com estratificação fortementeinclinada, muito semelhantes a deltaicos em natureza, observáveis ao longo do rioParaná desde o norte de Porto Tibiriçá até Sete Quedas. Na Carta Geológica doEstado de São Paulo (Florence & Pacheco, 1929), a unidade denominada "Cayuá"aparece ocupando uma grande extensão do oeste do Estado, mas a sua primeiradescrição formal só foi apresentada por Washburne (1930), que atesta a existênciado "Cayuá sandstone" através de extenso perfil realizado ao longo do rio Paraná,entre Jupiá e Guaíra. Considera-o como uma formação distinta, posterior às lavasmais jovens e mais antiga que o Bauru, sendo constituído inteiramente por arenitoseólicos.
Nos afloramentos existentes no Estado de São Paulo, a Formação Caiuácaracteriza-se por apresentar notável uniformidade litológica. É constituídapredominantemente por arenitos de coloração arroxeada com marcanteestratificação cruzada de grande porte, tangencial na base, de granulação fina amédia, bem selecionados ao longo da mesma lâmina ou estrato, com grãosarredondados a subarredondados. A composição dos arenitos apresenta quartzo,feldspatos, calcedônia e opacos, definindo-se tipos quartzosos, ocasionalmente comcaráter subarcosiano. É muito comum ocorrer pequena quantidade de matriz fina,enquanto só ocasionalmente se apresenta cimento carbonático ou silicoso. Aespessura máxima conhecida do Arenito Caiuá no Estado de São Paulo é de cercade 200 m.
De acordo com Suguio (1980), a Formação Caiuá parece ter resultado dopreenchimento de um paleolago, na região de Pontal do Paranapanema, talvezoriginado por alteração de nível de base do proto-rio Paraná, a jusante deste local,por sedimentos essencialmente arenosos de origem deltaica (Baker, 1923; Freitas,1973; Landim & Soares, 1976b). As medidas de camadas frontais de estratificaçõescruzadas forneceram os sentidos das paleocorrentes deposicionais, que fluírampredominantemente de leste para oeste, conforme Freitas (op. cit.) e Landim &Soares (op. cit.). Os valores relativamente altos (70 a 90%) do fator de consistênciadessas medidas são muito sugestivos de transporte subaquoso pois, normalmente otransporte e deposição eólicos, hipótese defendida por outros (Washburne, 1930),originariam estratificações cruzadas com maior dispersão nas atitudes das camadasfrontais. A natureza predominantemente psamítica e os altos graus de seleçãogranulométrica e de arredondamento das partículas arenosas oro sugestivas de umafonte tipo Botucatu localiza da a leste, fato comprovado por Freitas (op. cit.), atravésdo estudo de minerais pesados.
Segundo Barcelos (1990) a Formação Caiuá resultou, provavelmente, dopreenchimento de uma depressão na região do Pontal do Paranapanema, porsedimentos arenosos de frente progradacional tipo deltáica. O assoreamento dosubstrato basáltico continuou na fase Santo Anastácio, quando os processos dedistribuição destes sedimentos foram responsáveis pela agradação desta superfície.O ambiente fluvio-deltáico submetido a clima quente e seco deu lugar a um sistemade drenagem melhor organizado, com direção preferencial de escoamento paraoeste-sudeste, com canais anastomosados e carga sedimentar psamítica. Nestascondições paleoambientais e paleoclimáticas encerrou-se o ciclo sedimentar basaldo Grupo Bauru e iniciou-se a sedimentação das seqüências superiores(Adamantina/Marília).
37
Durante a sedimentação da Formação Caiuá, o efeito do paleoclimadesértico, que prevaleceu em épocas prévias (Grupo São Bento), ainda se faziasentir. Desta maneira, com alguma atividade eólica e em ambiente bastanteoxidante, de águas rasas e alcalinas, parecem ter sido originados os sedimentos queconstituem essas formações. A prova disso é que, embora a sedimentação tenhasido predominantemente lacustre, ambiente em geral favorável à preservação dematéria orgânica, não foi constatada a presença de qualquer tipo de sedimentocarbonoso em virtude das características físico-químicas (Eh e pH) das águasdesses lagos.
Em conseqüência do desconhecimento de fósseis que permitam uma dataçãomais precisa, a idade da Formação Caiuá tem sido interpretada a partir das relaçõesde contato com as unidades datadas, situada cronologicamente próximas. O hiatoerosivo em relação à Formação Serra Geral indica idade pós-neocomiana (120m.a.), que é a idade conhecida dos últimos derrames basálticos (Amaral et al., 1966).Por outro lado, a Formação Adamantina, situada em posição estratigráfica maiselevada, apresenta fósseis atribuídos ao final do Senoniano (Huene, 1927, 1939apud Mezzalira, 1974), o que indica para a Formação Caiuá uma idadecompreendida entre o final do Neocomiano e o Senoniano. Dada a inexistência dehiatos deposicionais durante a sedimentação das formações Caiuá, Santo Anastácioe Adamantina, parece mais verossímil admitir-se idade senoniana também para aFormação Caiuá.
1.2.1.3.5. Formação Santo Anastácio (Ksa)
Os arenitos desta formação afloram na área objeto dos estudos, em áreasque acompanham as cotas mais baixas dos vales dos rios Aguapeí e Peixe,próximos ao rio Paraná. Em subsuperflcie, litologias atribuíveis à Formação SantoAnastácio estendem-se para leste, até a região de Mariápolis na bacia do rio doPeixe e Salmorão no rio Aguapeí. Esta distribuição indica que o embaciamento emque se acumulou esta formação transgrediu sobre o embaciamento Caiuá, emboraem continuidade tectônica e sedimentar. Encontra-se o Arenito Santo Anastáciojazendo ora sobre o Caiuá, ora recobrindo diretamente o embasamento basáltico.
A denominação Santo Anastácio foi utilizada pela primeira vez por Landim &Soares (1976b), para referir-se a sedimentos encontrados no vale do rio homônimo,no extremo oeste do Estado. Esses sedimentos, então denominados "Fácies SantoAnastácio", foram considerados como um pacote fluvial que representaria atransição entre a Formação Caiuá e a formação sobreposta, então denominadaBauru. Soares et al. (1979) estendem a área de ocorrência dos termos litológicosenglobados sob a denominação de Santo Anastácio por uma grande porção doextremo oeste do Estado, tal como representado no mapa do DAEE (1979).
Conforme a redefinição proposta, o termo Santo Anastácio englobarialitologias anteriormente já destacadas por alguns autores ("litofácies arenitosvermelhos" de Brandt Neto, 1977 e os arenitos cor vinho da "Litofácies Araçatuba"de Suguio et al., 1977). A partir de mapeamentos regionais em grande área,abrangendo o oeste de São Paulo e Paraná e o sudeste do Mato Grosso do Sul,Stein et al. (1979) propõem a passagem do anteriormente denominado membro oufácies Santo Anastácio para a categoria de formação. Estes autores justificam aproposição com base na vasta distribuição em área dos termos litológicoscaracterísticos desta unidade, e na sua posição estratigráfica bem definida, entre os
38
arenitos Caiuá e "Bauru". Mais recentemente a unidade Santo Anastácio foidefinitivamente consagrada como uma formação individualizada, pertencente aoGrupo Bauru, situada estratigraficamerite entre as formações Caiuá e Adamantina(Soares et al., 1980; Almeida et al., 1980b, 1981).
A litologia mais característica da Formação Santo Anastácio é representadapor arenitos marrom-avermelhados a arroxeados, de granulação fina a média,seleção geralmente regular a ruim, com grãos arredondados a subarredondados,cobertos por película limonítica. Mineralogicamente constituem-se essencialmentede quartzo, ocorrendo subordinadamente feldspatos, calcedônia e opacos. Carátersubarcosiano é freqüente. Localmente ocorrem cimento e nódulos carbonáticospreservados, sendo comum orifícios atribuídos à dissolução destes nódulos. Asestruturas sedimentares observadas são muito pouco pronunciadas. Predominambancos maciços com espessuras métricas e decimétricas, ocorrendo tambémincipiente estratificação plano-paralela ou cruzada. Localmente, principalmentequando depositado diretamente sobre os basaltos da Formação Serra Geral, oArenito Santo Anastácio apresenta algumas diferenciações litológicas. A granulaçãoé mais fina, ocorrendo arenitos siltosos e arenitos argilosos. A seleção é pior, e àsvezes encontram-se delgadas intercalações de lentes argilosas, de espessuradecimétrica.
Almeida et al. (1980) fixam o alto vale do rio Tietê como um limite natural entreás áreas de ocorrência do Santo Anastácio mais típico, a sul, e da variedade maisfina, a norte. Esta diferenciação textural, no entanto, pode refletir também ainfluência da atividade tectônica ao longo do "alinhamento estrutural do Tietê",definido por Coimbra et al. (1977), na deposição da Formação Santo Anastácio, aexemplo da influência desse alinhamento na deposição da Formação Adamantina,subdividida em duas sub-bacias com diferentes índices de maturidade mineralógica(Coimbra, 1976).
A Formação Santo Anastácio apresenta espessura máxima compreendidaentre 80 e 100 metros na região dos vales dos rios Santo Anastácio e Pirapozínho,no oeste do Estado, já próximo ao Pontal do Paranapanema. Dessa região paraleste esta formação adelgaça-se rapidamente, deixando de existir à altura deParaguaçu Paulista. Para norte o adelgaçamento é mais lento, estendendo-se aárea de afloramento do Santo Anastácio até pouco antes das margens do rioGrande. Em direção ao Estado do Paraná, a sul, e Mato Grosso do Sul, a oeste,observa-se também adelgaçamento da unidade. A posição do depocentro daFormação Santo Anastácio, indicada pela área de ocorrência das maioresespessuras, revela um deslocamento para nordeste em relação ao depocentro daFormação Caiuá, além do aumento da extensão do embaciamento.
O contato inferior da Formação Santo Anastácio dá-se ora com o ArenitoCaiuá, transicionalmente, ora diretamente com os basaltos da Formação SerraGeral. Nestes casos de ausência do Caiuá, no contato Santo Anastácío / Serra Geralobserva-se delgado horizonte de brecha basal, Mezzalira (1974) e Barcha (1980).Este horizonte de brecha basal do Santo Anastácio em muito se assemelha àqueleda base do Caiuá. Já o contato superior da Formação Santo Anastácio com a baseda Formação Adamantina sobrejacente é transicional e interdigitado, localmentecontatos bruscos entre as duas unidades (Almeida et al., 1980b).
A exemplo da Formação Caiuá, a Formação Santo Anastácio, da qual não seconhecem fósseis, tem sido datada com base nas relações estratigráficas com as
39
unidades vizinhas. A passagem transicional para a Formação Caiuá sugere idadeimediatamente posterior, enquanto a interdigitação com a Formação Adamantinaindica anterioridade e mesmo um sincronismo parcial com esta unidade. Estasrelações indicam para a Formação Santo Anastácio uma idade mais provávelcompreendida num intervalo de tempo contido no Senoniano, que se estenderia nomáximo até o final do Campaniano.
O ambiente de deposição da Formação Santo Anastácio ainda não foisuficientemente esclarecido. Soares et al. (1980) admitem um modelo deposicionalfluvial rneandrante a transicional para anastomosado, com fonte de materialessencialmente psamítico. Entretanto, a participação dos produtos de alteração dobasalto como uma das fontes da Formação Santo Anastácio é indiscutível,principalmente nas áreas em que o embasamento desta última é a própria FormaçãoSerra Geral. Este fato, associado às características da textura e das estruturassedimentares da Formação Santo Anastácio, sugerem ambiente fluvialpredominantemente anastomosado para a deposição desta unidade, resultando nopronunciado conteúdo arenoso e na raridade das fácies de transbordamento e dediques marginais. As áreas-fonte do material constituinte da Formação SantoAnastácio foram basicamente as mesmas do Arenito Caiuá, juntamente com osprodutos de alteração e retrabalhamento dos basaltos. Principalmente na região dacalha do rio Tietê e para norte, observa-se contribuição de áreas do embasamentopré-cambriano. Segundo estudos do IPT (1981a), observa-se que "houve da basepara o topo uma diminuição gradual da energia do ambiente de deposição. Essadiminuição de energia do ambiente deposicional é atestada tanto pelas estruturasobservadas como pela diminuição granulométrica que ocorre rumo ao topo".
1.2.1.3.6. Formação Adamantina (Ka)
Esta formação aflora em vasta extensão do oeste do Estado de São Paulo,recobrindo as unidades pretéritas do Grupo Bauru (formações Caiuá e SantoAnastácio) e da Formação Serra Geral. É recoberta em parte pela Formação Maríliae em parte por depósitos cenozóicos.
No Pontal do Paranapanema, é a unidade litoestratigráfica com maiorextensão de afloramento (62,2%, ou seja, quase 2/3 do total). A Foto I.2.1.fapresenta um afloramento da Formação Adamantina no Pontal do Paranapanema.As Fotos I.2.1.g e h mostram, em caráter de exemplificação, aspectos petrográficosde uma amostra desta Formação coletada na UGRHI - 22.
O contato entre a Formação Adamantina e os basaltos da Formação SerraGeral é marcado por discordância erosiva, apresentando às vezes, delgados níveisde brecha basal.
De maneira geral, seus sedimentos são granulometricamente mais finos emelhor selecionados do que os da Formação Santo Anastácio. Freqüentementecontêm micas, e mais raramente, feldspatos, sílica amorfa e minerais opacos, bemcomo exibem uma grande variedade de estruturas sedimentares (IPT, 1981a).
As maiores espessuras da Formação Adamantina ocorrem geralmente nasporções ocidentais dos espigões entre os grandes rios. Atinge 160 m entre os riosSão José dos Dourados e Peixe, 190 m entre os rios Santo Anastácio eParanapanema, e 100 a 150 m entre os rios Peixe e Turvo (UGRHI 15 - Turvo-
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Grande), adelgaçando-se dessas regiões em sentido a leste e nordeste (Soares etal., 1980).
Foto I.2.1.f. Afloramento de arenito da Formação Adamantina (Ka), localizado nomunicípio de Marabá Paulista. Foto: Carlos F. C. Alves.
Foto I.2.1.g. Arenito com microclínio e plagioclásio. Lâmina delgada com lamínula,de amostra de rocha psamítica, sustentada por grãos, coletada em afloramento daFormação Adamantina (Ka) no Pontal do Paranapanema (UGRHI - 22). Aspectostexturais: granulação (escala de Wentworth, 1922) fina-média; moderadamenteselecionada (seg. classes de Pettijohn et al., 1987), com certa bimodalidade;predominância de grãos sub-angulosos e esfericidade intermediária (seg. osesquemas de Powers, 1953 apud Scholle, 1979). Maturidade textural (seg. critériosde Folk, 1951): submatura. Cimentação carbonática e pequenos nóduloscarbonáticos presentes. NC, aumento de 2,5x. Fotomicrografia e breve descriçãopetrográfica: André L. Bonacin Silva.
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Foto I.2.1.h. Arenito com microclínio e plagioclásio, idem anterior. ND, aumento de2,5x. Fotomicrografia: André Luiz Bonacin Silva.
No Estado de São Paulo, os depósitos atribuíveis à Formação Adamantinatransgridem do embasamento basáltico por sobre unidades infrabasálticas(Formação Botucatu) somente em áreas muito localizadas. Várias destas áreasestão situadas nas cercanias dos vales dos rios Jacaré-Guaçu e Jacaré-Pepira(bacia do Tietê-Jacaré). Estas áreas estão sobre o "alinhamento estrutural do Tietê",descrito como "uma feição proeminente na região durante todo o Mesozóico", e que"comportou-se como uma sela de rnenor negatividade em relação às áreas situadasao norte e ao sul" (Coimbra et al., 1977).
Este alinhamento estrutural separou duas sub-bacias na época da deposiçãoda Formação Adamantina, como indicam as áreas distintas com diferentes índicesde maturidade mineralógica determinadas por Coimbra (1976). Intensa atividadetectônica anterior, contemporânea e possivelmente também posterior à deposição doGrupo Bauru, manifestada na zona do alinhamento do Tietê, seria a responsávelpelas falhas normais, escarpas e basculamentos de blocos, identificáveis sobretudonas unidades pré-Bauru, na área dos rios Jacaré-Guaçu e Jacaré-Pepira (Fúlfaro etal., 1967; Bjornberg et al., 1970, 1971; Soares, 1974; Coimbra et al., op. cit. e BrandtNeto et al., 1980 in IPT, op. cit.). O tectonismo na área do alinhamento teria sido oresponsável pela omissão dos basaltos na base do Adamantina.
Suguio et al. (1977) referem-se a um grande horst na região de Bauru-Agudosformado por uma tectônica pré-Adamantina, ali depositando-se esta formaçãodiretamente sobre o Botucatu. Trabalhos de detalhamento realizados posteriormente(Couto et al., 1980) confirmaram a existência no local de um alto estrutural nasproximidades de Piratininga, área em que afloram rochas da "Formação EstradaNova" (Formação Teresina) e da Formação Pirambóia, havendo dados desubsuperfície que mostram a Formação Adamantina repousando diretamente sobreestas duas unidades mais antigas.
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De acordo com Mezzalira (1974) os primeiros achados de fósseis cretáceosno oeste do Estado de São Paulo datam do começo do século. São dentes dedinossauro e carapaças de tartaruga encontrados em camadas hoje atribuídas àFormação Adamantina, primeiramente descritos por Ihering (1911). Desde então têmsido relatados achados de grande variedade de fósseis nas camadas Bauru noEstado de São Paulo, hoje atribuídas à Formação Adamantina. Mezzalira (1980)apresenta um estudo de síntese sobre a paleocologia da "Formação Bauru", e listaos fósseis conhecidos até então. Entre a flora, cita algas (charales) e coníferas(gymnospermae). Entre a fauna cita crustáceos, ostracódios, conchostráceos,moluscos (bivalves e gastrópodes), peixes e répteis (quelônios, crocodilianos edinossáurios).
As fácies deposicionais encontradas na Formação Adamantina refletem,segundo Soares et al. (1980), deposição "em um extenso sistema fluvial meandrantedominantemente pelítico a sul, gradando para psamítico a leste e norte eparcialmente nessas regiões com transição para anastomosado". Suguio et al. (opcit.) admitem que inicialmente, para a parte inferior da Formação Adamantina, adrenagem era pouco organizada, e o ambiente deposicional de menor energia,formado por uma predominância de lagos rasos. Já para a parte superior daformação predominaria um sistema fluvial com rios de maior porte e maior energia,responsáveis pelas freqüentes estruturas hidrodinâmicas.
Com base na correlação do conteúdo paleontológico da FormaçãoAdamantina com os fósseis similares de sedimentos da Patagônia, Huene (1927 e1939) apud Mezzalira (1974) atribuiu-lhe idade senoniana. Essa idade é confirmadapelo fato de que no Triângulo Mineiro (MG), depósitos correlacionáveis à FormaçãoAdamantina repousem em discordância sobre a Formação Uberaba (Hasui, 1968 eSuguio, 1973), esta apresentando tufos indicativos de contemporaneidade com omagmatismo alcalino da região, datado entre 85 e 55 m.a. (Soares & Landim, 1976).
A denominação Formação Adamantina nomeia os depósitos originalmentedesignados "Gréz de Bauru” (Campos, 1905), posteriormente denominados arenitoBauru (Pacheco, 1913), Formação Bauru (Washburne, 1930; Moraes Rego, 1930),Série Bauru (Almeida & Barbosa, 1953) ou Grupo Bauru (Freitas, 1964).
Os depósitos da Formação Adamantina apresentam algumas variaçõesregionais que têm determinado a adoção de denominações informais comomembros, facies, litofácies ou unidades de mapeamento, para designar conjuntoslitológicos com características distintas. Estas propostas de subdivisões já vêmsendo apresentadas há muito tempo para os depósitos denominados "Bauru",correspondentes a Adamantina. Na maioria dos casos, entretanto, as subdivisõespropostas adaptam-se melhor a variações litológicas mais ou menos localizadas,não havendo ainda um consenso a respeito de uma subdivisão que possa ser aceitaregionalmente, para a Formação Adamantina como um todo.
Almeida et al. (1980), mapeando o oeste paulista, adotam a mesma divisão doGrupo Bauru em quatro formações em concordância com Soares et al. (1980), massubdividem a Formação Adamantina em cinco “unidades de mapeamento” (KaI, KaII,KaIII, KaIV, KaV), de caráter informal, com base em variações litológicas.Posteriormente, Almeida et al. (1981), mapeando com maior detalhe áreas do Pontaldo Paranapanema, confirmam a caracterização, extensão e interrelação das"unidades de mapeamento" propostas anteriormente, e definiram melhor as
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unidades KaI e KaIV que aí afloram. A seguir, uma breve descrição, compiliada deIPT (1987), das unidades KaI, KaIV e KaV, aflorantes no Pontal do Paranapanema.
Unidade de mapeamento KaI
Almeida et al. (1980) descrevem a unidade KaI da Formação Adamantinacomo basal, ocorrendo entre os rios Paranapanema e do Peixe. No Pontal doParanapanema, corresponde a cerca de 37% do total em área aflorante, ou seja, aunidade geológica de maior expressão territorial da UGRHI.
A unidade KaI é formada por arenitos finos a muito finos, siltitos arenosos,arenitos finos argilosos e subordinadamente de arenitos médios. Os arenitos sãoconstituídos principalmente de quartzo, apresentando porcentagens variadas defeldspatos, ocorrendo até arcóseos. É comum a presença de matriz siltosa eargilosa, bem como a presença de bancos com cimentação carbonática. Na regiãodo Pontal do Paranapanema, Almeida et al. (1981) observam que a cimentaçãoaparece na forma de bancos com estrutura maciça, ou com estratificação plano-paralela, e subordinadamente com estratificação cruzada de pequeno e médio porte.Estes bancos têm coloração rósea, marrom e cinza.
Mineralogicamente, a unidade KaI apresenta depósitos semelhantes àFormação Santo Anastácio, porém normalmente a unidade KaI possui termos maisfinos, grau de seleção melhor e uma sucessão de tipos com diferentesgranulometrias.
Localmente pode ocorrer interdigitação entre as unidades KaI e KaV. Contatosmarcados por discordância erosiva com os basaltos da Formação Serra Geraltambém são observados.
Unidade de mapeamento KaIV
A área de ocorrência da unidade KaIV é amplamente distribuída na área deestudo, embora seja relativamente descontínua. Corresponde a 20,4% (cerca de 1/5)da área total aflorante do Pontal do Paranapanema.
A unidade KaIV interdigita-se com a Formação Santo Anastácio, recobrindo-a,bem como a unidade KaI, com a qual apresenta também contatos graduais. Almeidaet al. (1981) observaram contatos bruscos entre a unidade KaI e KaIV na região doPontal do Paranapanema.
Esta unidade de mapeamento é constituída de arenitos finos a muito finosdispostos em espessos bancos alternados, apresentando intercalações e lentes deargilitos, siltitos e, mais restritamente, arenitos com pelotas de argila. Os arenitossão constituídos de quartzo, pequena quantidade de feldspato e sílica amorfa,minerais opacos e micas. Apresentam boa seleção. A matriz é argilosa, emporcentagens variadas. Ocorre cimentação carbonática e raros nóduloscarbonáticos. A coloração é avermelhada.
Apresenta algumas variações litológicas: no interflúvio Peixe-Aguapeí(UGRHIs 20 e 21), predominam bancos maciços de arenitos finos, bemselecionados, sem intercalações de outras litologias, com cores rosadas. Na regiãodo Pontal do Paranapanema, Almeida et al. (1981) descrevem a unidade KaIV comosiltitos arenosos a argilosos e arenitos muito finos com matriz argilosa. Neste local,
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os siltitos arenosos a argilosos, de cor vermelho escuro a rosada, apresentamgrande quantidade de pelotas de argila de cor de chocolate.
Unidade de Mapeamento KaV
A unidade KaV apresenta contatos basais interdigitados e transicionais com aunidade KaIV. São arenitos finos e muito finos, de coloração bege ou cinza, dispostosem bancos pouco espessos, ao contrário da unidade KaIV. Apresentam, comfreqüência, cimentação carbonática, com ocorrência local de nódulos carbonáticos.
No Pontal do Paranapanema, correspondem a cerca de 4,8% da áreaaflorante da UGRHI.
I.2.1.3.7. Terrenos Cenozóicos (Qa)
São englobados sob esta designação genérica, os depósitos em terraçossuspensos, cascalheiras e aluviões pré-atuais, e os depósitos recentes de encostase associados às calhas atuais, que são coberturas coluvionares e aluvionares,respectivamente.
As cascalheiras ocorrem associadas principalmente às calhas dos riosParanapanema e afluentes de sua margem direita, suspensas em relação ao nívelde base atual. São depósitos de pequena expressão em área, que variam dedecímetros a metros de espessura. Podem apresentar predominância de clastos denatureza quartzítica, ou então de sílica amorfa. Em ambas, seixos de quartzo e dearenitos completam a constituição básica das cascalheiras, sempre com a presença,em porcentagens variadas, de matriz arenosa.
Em posições de meia encosta aparecem depósitos aluviais pré-atuais. Sãoocorrências restritas, constituídas por intercalações de leitos arenosos e argilosos.Apresentam-se por toda a área da bacia estudada. Em algumas calhas de rede dedrenagem, principalmente na Depressão Periférica, raríssimos depósitos são maisdesenvolvidos, constituindo pacotes com algumas dezenas de metros de espessura.Níveis mais possantes de cascalho também são encontrados nos domínios dessaprovíncia geomorfológica. As principais ocorrências associam-se a afluentes doParanapanema.
Os colúvios são constituídos por areias, siltes e argilas, freqüentemente comgrânulos e seixos associados. A predominância de um dos tipos granulométricos,bem como de minerais constituintes, respondem diretamente à natureza dosubstrato rochoso. No Planalto Ocidental a predominância é de colúvio arenoso comporcentagens subordinadas de silte e argila. No cristalino do Planalto Atlântico, enas seqüências sedimentares da Depressão Periférica, a constituição básica ébastante variada. Na área de exposição das rochas basálticas as coberturas comtermos mais argilosos, ou argilo-arenosos quando próximo a arenitos, têmdistribuição mais facilmente controlável.
Aos principais cursos d’água estão associados os depósitos aluviais maisdesenvolvidos, tanto maiores quanto mais interiores à área do domínio da Bacia doParaná. São bastante restritos na região cristalina, geralmente condicionados asoleiras. A constituição mais arenosa é sempre encontrada, bem como níveis decimentação limonítica. Cascalheiras e intercalações de outros termos são