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Problemas de Tradução PROBLEMAS DE TRADUÇÃO Os latinos, aqueles que primeiro compreenderam, os inúmeros problemas implicados numa tradução, declararam o seguinte: "Omnis traductor, traditor", que em português significa: "Todo tradutor é um traidor". Os italianos através da expressão "traduttore, traditore" expressam a mesma idéia. Esta velha locução proverbial, pode aplicar- se também ao tradutor da Bíblia, que, muitas vezes, se sente impossibilitado de transmitir a exata mensagem que se encontra no original. Os tradutores, por vezes, se encontram diante de intrincados problemas de vocabulário e de sintaxe, para os quais é difícil apresentar uma solução honesta e exata. Breno da Silveira, a maior autoridade na arte de traduzir que este país já conheceu, declarou: a arte de traduzir é sumamente difícil, por isso todos os que se emprenham nesse mister cometem graves erros. A palavra da sagrada escritura é como o precioso vinho que ao ser mudado de um vaso para outro perde algo de sua força e sabor. O mesmo se dá na tradução de uma língua para outra. 1

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HISTRlA DO TEXTO BBLICO

PAGE 26Problemas de Traduo

PROBLEMAS DE TRADUO

Os latinos, aqueles que primeiro compreenderam, os inmeros problemas implicados numa traduo, declararam o seguinte: "Omnis traductor, traditor", que em portugus significa: "Todo tradutor um traidor". Os italianos atravs da expresso "traduttore, traditore" expressam a mesma idia.

Esta velha locuo proverbial, pode aplicar-se tambm ao tradutor da Bblia, que, muitas vezes, se sente impossibilitado de transmitir a exata mensagem que se encontra no original. Os tradutores, por vezes, se encontram diante de intrincados problemas de vocabulrio e de sintaxe, para os quais difcil apresentar uma soluo honesta e exata.

Breno da Silveira, a maior autoridade na arte de traduzir que este pas j conheceu, declarou: a arte de traduzir sumamente difcil, por isso todos os que se emprenham nesse mister cometem graves erros.

A palavra da sagrada escritura como o precioso vinho que ao ser mudado de um vaso para outro perde algo de sua fora e sabor. O mesmo se d na traduo de uma lngua para outra.

Ellen G. White, assim se expressou no Manuscrito 16 de 1888.

"Muitos nos olham seriamente e dizem: 'A senhora no acha que tem havido erros de copistas ou de tradutores?' Tudo isto provvel, e a mente que seja to estreita que hesite ou se escandalize com esta possibilidade ou probabilidade, estar bem pronta a escandalizar-se com os mistrios da Palavra Inspirada, porque suas dbeis mentes no podem ver atravs dos propsitos de Deus."

Neste captulo, o prezado estudante, encontrar alguns dos intrigantes problemas que enfrenta quem tem a responsabilidade de transmitir a mensagem divina, em lnguas diferentes daquelas em que primitivamente a Bblia foi escrita.

Se difcil hoje, numa traduo, exprimir a idia de outra lngua, muito mais difcil faz-lo, com uma lngua morta h muitos sculos e de civilizao completamente diferente.

Diante dos problemas de traduo, o ideal seria que todos pudessem ler a Bblia nos idiomas originais, mas este ideal utpico ou simplesmente privilgio de um pequeno grupo de eruditos.

Uma boa traduo no depender apenas da fidelidade ao original, do bom conhecimento gramatical nas duas lnguas, e da facilidade de redigir com clareza e elegncia, mas tambm depender muito da qualidade do texto em que se baseia.

Por exemplo, a Verso Autorizada ou a King James Version, apesar de ser um trabalho honesto e consciencioso deficiente, porque os textos originais em que se baseou, no eram os melhores. Posteriormente novos manuscritos foram descobertos como o Sinatico e o Vaticano e melhores edies crticas, nas lnguas originais, foram preparadas.

A traduo de Moffatt foi muito bem aceita pelo povo, mas a Crtica Textual nos mostra que deficiente por se ter baseado no texto de Von Soden. A superioridade da New English Bible sobre tradues anteriores, encontra-se na circunstncia de ter por base melhores manuscritos.

difcil traduzir o hebraico para uma lngua moderna, porque ele apresenta caractersticas muito prprias e uma estrutura bastante diferente das lnguas ocidentais. O tradutor do hebraico, onde quase no h oraes subordinadas e as frases so muito pequenas, fica muitas vezes perplexo se deve manter a ndole da lngua original ou construir as frases com os meios mais complexos das 1nguas modernas.

Embora o hebraico seja uma lngua pobre em nmero de vocbulos, pois a Academia do Idioma Hebraico registra cerca de 30.000 palavras e no Velho Testamento haja apenas 7.704 vocbulos diferentes, Gesenius nos informa que h oito diferentes termos hebraicos para conselho, doze para trevas, vinte e dois para destruio, dez para lei e vinte e trs para riqueza. Esta multiplicidade de palavras para transmitir a mesma idia apresenta, por vezes, srios dilemas para o tradutor. Como exemplo comprobatrio pode ser citado o Salmo 119, que uma exaltao da lei de Deus. Em cada versculo se lhe faz uma aluso com uma palavra diferente. Pode observar-se que os tradutores em portugus procuraram transmitir a idia de lei sinonimizando-a com as seguintes palavras: caminho, prescrio, mandamento, preceito, testemunho, decreto, palavra, ordem e sentena.

O grego para ns, de cultura latina, seria mais fcil porque seu alfabeto se assemelha mais ao nosso e tambm por causa da decisiva influncia grega na cultura de todos os povos, pois suas mltiplas palavras se tornaram mais familiares a todos ns. Deve-se, porm, ter em mente que o grego uma lngua bastante complexa em sua estrutura gramatical, enquanto o hebraico neste aspecto uma lngua mpar, singela, portanto fcil de ser aprendido.

As lnguas usadas para a transmisso das mensagens divinas hebraico, aramaico e grego possuam cada uma, gnio prprio e expresses que, muitas vezes, no lhes permitiam a transposio para as lnguas atuais.

Como bem salientou Edith A. Allen:

"A mensagem da Bblia expressa-se em linguagem oriental. No seu modo de viver e pensar, o oriental diametralmente oposto ao homem do ocidente, fato este que constitui grande barreira compreenso e interpretao de muitos trechos das Escrituras."

No hebraico, aramaico e grego, uma palavra pode ter diversas significaes em contextos diferentes e, infelizmente, nem sempre os tradutores levaram em considerao esta circunstncia. Outras vezes, diversas palavras nestas lnguas necessitam ser traduzidas por uma nica palavra em portugus, como acontece com o nosso verbo amar, que em grego expresso por quatro palavras diferentes.

Letras hebraicas muito semelhantes como beth e kaph, daleth e resh, vau e iodh, e gregas como ni N e ipsilon Y trouxeram problemas para a traduo quando os copistas as confundiram, fazendo com que o significado da palavra fosse mudado.

Os seguintes exemplos ilustram bem as assoberbantes dificuldades enfrentadas por aqueles que se dedicam a verter a Palavra de Deus para outra lngua:

I MUDANA DE SINAIS

A simples transposio de um sinal ou a leitura do texto consonantal com diferentes sinais voclicos podem alterar totalmente o sentido da frase. Crem alguns que isto foi o que aconteceu em Gnesis 49:21, que aparece de duas maneiras diferentes: "Naftali uma gazela solta, ele profere palavras formosas", ou "Naftali uma rvore frondosa, da qual brotam formosos ramos". Na traduo dos Setenta, foi a primeira frase que prevaleceu.

Ado Clarke, em nota ao p da pgina, depois de apresentar a traduo de Bochart, "Naftali um carvalho frondoso, que produz formosos ramos", declara: talvez ningum que compreenda o gnio da lngua hebraica tentar contestar sua propriedade, ela to literal quanto correta.

II VERSOS SEM SENTIDO

H versculos na Bblia, diante dos quais, os tradutores ficam perplexos, porque se sentem incapazes de traduzi-los com clareza e objetividade. Um deles I Crnicas 26:18 que afirma: "Em Parbar ao Ocidente: quatro junto ao caminho, dois junto a Parbar". A Authorized Standard Version traz uma nota, ao p da pgina, explicando que difcil saber o significado do verso. H vrias conjeturas para o significado de Parbar, porm, nenhuma plenamente satisfatria.

III A TRADUO DE GNESIS 4:7

As dificuldades apresentadas por este versculo so de tal vulto, que notveis comentaristas modernos crem que algum copista tenha modificado o texto hebraico original. A traduo do hebraico na Septuaginta obscura e inaceitvel, chegando o Comentrio Bblico Adventista a afirmar sobre este verso: "Que os tradutores da Septuaginta acharam sua significao obscura no seu tempo evidente da traduo deturpada que dele fizeram."

A traduo de Lzaro Ludovico Zamenhof para o Esperanto diz: "Sem dvida se agires bem, sers forte, mas se agires mal, o pecado jazer porta, e ele a ti pretender, mas governa acima dele."

Aps estud-lo em vrias tradues, de consultar comentrios e explicaes exegticas do texto hebraico conclu que no fcil apresentar em portugus uma traduo clara e que transmita a idia exata do original. Deixando de lado os comentrios exegticos, que transcendem o escopo deste trabalho, eis uma plida tentativa que fiz para o traduzir: Se voc for bom, poder reergu-lo (o semblante), mas se no for, o pecado como um animal bravio est sua porta, ansioso para domin-lo, mal voc o poder vencer.

IV O SIGNIFICADO REAL DE ISAIAS 7:14

Os comentaristas de um modo geral tm defendido que nesta passagem h uma infelicidade de traduo, proveniente da Septuaginta, onde os Setenta traduziram o hebraico "almah" por virgem, quando a traduo exata deveria ser "moa" ou "mulher jovem". A citao que se encontra em Mateus 1: 23 tirada da Septuaginta "parthenos" e no do texto hebraico. Se Isaas na aludida passagem fizesse referncia a virgem ele teria usado o termo "bethulah" e no "almah".

A Revised Standard Version e a New English Bible traduzem Isaas 7:14 por "a young woman", transmitindo assim um melhor sentido do original.

Sobre este problema declarou Renato Oberg em Manuscritos do Mar Morto, pginas 36 e 37:

"Um exemplo disto foi a dvida que levantaram sobre a traduo de Isaas 7:14, profecia muito usada pelos cristos. Neste versculo, a Septuaginta traduziu a palavra hebraica almah pela grega parthenos que significa virgem. Passados, porm, cerca de dois sculos durante os quais a pureza desta traduo fora at louvada, os judeus tradicionais resolveram dizer que ela estava errada e que a palavra grega correta deveria ser neanis, porque esta d o sentido da mulher ser apenas jovem e no necessariamente virgem."

Sobre esta polmica, Samuel P. Tregelles, tradutor para o Ingls do famoso dicionrio hebraico de Gesenius, diz o seguinte:

"O propsito do esforo para minar a opinio que atribui o significado de 'virgem' a esta palavra, visa claramente provocar uma discrepncia entre Isaas 7:14 e So Mateus 1:23; nada, porm, do que se afirmou, apresenta fundamento real para qualquer outro significado. As verses antigas que do um significado diferente, fazem-no facciosamente, enquanto que a LXX, que no tinha motivos para isto, traduziu-a por 'virgem' na prpria passagem que j deveria lhes ter dado alguma dificuldade. A absoluta autoridade do Novo Testamento , contudo, mais do que suficiente para resolver o caso entre os cristos."

Quem almejar explicaes mais pormenorizadas sobre esta passagem pode consultar o S.D.A.B.C., The Interpreter's Bible e o livro Old Testament Translation Problems. O Livro Leia e Compreenda Melhor a Bblia de autoria de Pedro Apolinrio, traz um captulo sobre Isaas 7:14.

V O SBADO SEGUNDO-PRIMEIRO DE LUCAS 6:1

Este verso j foi estudado no captulo Mtodos da Crtica Textual.

Manuscritos gregos como o A, C. D, e trazem num sbado.

O Comentrio Bblico Adventista sobre Lucas 6:1 afirma: "Evidncias textuais favorecem a simples expresso "num sbado" . . . Talvez o melhor admitir, simplesmente, que no sabemos que idia a palavra "Deuteroprotos" segundo-primeiro, quer transmitir.

VI FALTA DE EQUIVALNCIA ENTRE AS PALAVRAS

H palavras tanto no hebraico quanto no grego para as quais no se encontra uma equivalncia exata nas lnguas modernas. Por exemplo a palavra glria como traduo do grego doxa, nem de longe transmite a amplitude do significado original, pois doxa descreve a revelao do carter e da presena de Deus na pessoa e na obra de Jesus Cristo.

VII IDIOTISMOS

Este um dos principais problemas para os tradutores. Idiotismos so expresses, cujas estruturas semnticas e gramaticais so totalmente diferentes, por isso, cada palavra no pode ser traduzida isoladamente, pois as partes no transmitem a idia da expresso. Numerosos termos hebraicos e gregos, puramente idiomticos, transcritos palavra por palavra, no podem, seno tornar-se obscuros a um ocidental do sculo XX, enquanto eram perfeitamente claros s pessoas familiarizadas com a cultura semtica e grega.

Eis alguns exemplos de idiotismos mantidos na traduo em portugus:

a) Gnesis 3:8

Virao do dia idiotismo hebraico para tardinha ou parte fresca do dia;

b) Mateus 6:3

No saiba a tua mo esquerda o que faz a tua direita. Este idiotismo deveria ser traduzido assim: Tu, porm, ao dares esmola, faze-o de tal maneira que mesmo o teu mais intimo amigo nada saiba sobre isso;

c) Mateus 23:32

Enchei vs pois, a medida de vossos pais. Terminais o que vossos pais comearam;

d) Marcos 2:19

Filhos das bodas. Convidados para o casamento, amigos do noivo;

e) Atos 2:30

O fruto de seus lombos. Significa seus descendentes;

f) Romanos 12:20

Amontoars brasas vivas sobre sua cabea, isto , fars com que ele se envergonhe da sua atitude. A BLH no devia ter mantido o idiotismo;

g) I Pedro 1:13

Cingindo os lombos do vosso entendimento. Este idiotismo quer dizer: Deveis estar prontos para pensar.

VIII CONSTRUES NOMINAIS

Os gregos expressavam acontecimentos por meio de construes nominais, enquanto em Portugus ns as expressamos muito melhor por verbos. Em Marcos 1:4 est: "Apareceu Joo Batista, no deserto, pregando batismo de arrependimento para remisso dos pecados." Uma melhor traduo em portugus seria: Joo Batista apareceu no deserto pregando: arrependei-vos e sede batizados e Deus vos perdoar. Note bem estas outras construes nominais:

Efsios 1:1 A vontade de Deus Deus deseja

Efsios 1:4 A Fundao do mundo Deus criou o mundo;

Efsios 1:13 O Esprito Santo da Promessa Deus promete o Esprito Santo;

Marcos 2:20 O Senhor do Sbado Aquele que comanda o sbado.

Outra faceta para a qual os tradutores deviam atentar seria esta: Frases muito comuns na Bblia como "filhos da desobedincia" (Ef. 2:2), "filhos da ira" (Ef. 2:3) significam simplesmente: pessoas que desobedecem (a Deus); pessoas que experimentaro a ira de Deus, ou melhor ainda aqueles que sero julgados por Deus, porque "filhos de" um semitismo que identifica pessoas que so caracterizadas pelo termo que se segue.

Um trecho que merece nossa considerao, diante das observaes anteriores Fil. 2:1-2, que aparece na Edio Revista e Atualizada no Brasil:

"Se h, pois, alguma exortao em Cristo, alguma consolao de amor, alguma comunho do Esprito, se h entranhados afetos e misericrdias, completai a minha alegria de modo que penseis a mesma coisa, tenhais o mesmo amor, sejais unidos de alma, tendo o mesmo sentimento."

De acordo com a ndole do portugus, uma melhor traduo seria:

No verdade que a vida de Cristo os faz fortes? Que o Seu amor os conforta? Que devemos participar do Esprito de Deus? Que bom cultivar a bondade e misericrdia uns com os outros? Se assim faam-me feliz, tendo a mesmo pensamento, participando do mesmo amor e sendo unidos de alma e de mente.

IX DIFICULDADES NO TRADUZIR POR SEREM MUITO DIFERENTES AS LNGUAS OS LUGARES, A CULTURA, OS COSTUMES, ETC.

S possvel compreender e sentir bem a Bblia se a pessoa pensasse e sentisse como os israelitas. Seria til os tradutores estarem familiarizados com as circunstncias, o tempo e o lugar em que algo foi escrito.

Por exemplo, na Bblia, o corao considerado como a sede do pensamento e no da sensibilidade, e os rins dos sentidos. S assim se pode compreender a expresso: "Deus penetra os rins e os coraes", com o significado de: "Deus penetra nos pensamentos e sentimentos dos homens:"

A falta de vogais no texto do Velho Testamento, antes do trabalho dos massoretas tem trazido alguns problemas de traduo como o seguinte: Hebreus 11:21 diz que Jac "adorou encostado ponta de seu bordo", mas em Gnesis 47:31 est escrito "inclinou-se sobre a cabeceira da cama". A palavra hebraica para designar cama e bordo consta de trs consoantes M T H, as quais no texto hebraico so lidas com as vogais assim Mitah cama; o autor de Hebreus tirou sua citao da Septuaginta, cujos tradutores leram as trs consoantes hebraicas como Mateh bordo.

A expresso bblica "reino dos cus" significa "reino de Deus", em virtude do seguinte: os judeus por causa da relutncia ou quase tabu usar o nome de Deus, substituram-no por cus. Cus indica lugar, enquanto Deus designa um Ser.

Pelo fato da lngua hebraica ser pobre em vocbulos, seus escritores tinham dificuldade em diferenar os verbos amar, querer, estimar, apreciar, gostar e seus antnimos odiar, depreciar, desgostar, desestimar. Esta afirmao nos ajudar a compreender a frase de Jesus em S. Lucas 14:26, se considerarmos que na lngua que Jesus estava falando "odiar" tem o mesmo valor de "estimar menos" "amar menos". A traduo de Joo Ferreira de Almeida, Revista Atualizada no Brasil, traz para o versculo de Lucas 14:26 a seguinte nota ao p da pgina: aborrecer, isto , amar menos, Mateus 10:37.

Muitas outras passagens poderiam ser citadas para exemplificar esta verdade; h tradues que redigidas de modo diferente transmitiriam melhor o significado do original. Vejam-se estes exemplos:

Romanos 8:3 "Porquanto o que era impossvel Lei, visto que estava enferma pela carne". A idia esta: O que a lei no podia fazer, porque a natureza humana era fraca, Deus fez.

Romanos 1:17 "A Justia de Deus revelada de f em f". A traduo literal grega parece referir-se justia de Deus, mas os entendidos na arte de traduzir dizem que h referncia ao processo pelo qual Deus torna o homem justo.

A BLH traduzindo "Porque o Evangelho mostra como Deus nos aceita: por meio da f, e somente pela f", apresenta-nos melhor a idia que Paulo quis transmitir.

X PROBLEMAS SEMNTICOS

Semntica a parte da gramtica que estuda a mudana do significado das palavras com o decorrer do tempo. As palavras transmitem idias, tm significao, mas o seu significado pode mudar em virtude de causas histricas e psicolgicas. Dentre as causas histricas o cristianismo foi uma das mais importantes, por ser a maior transformao social da humanidade. O cristianismo exerceu uma fora extraordinria na linguagem, tanto na criao de novas palavras quanto modificando o sentido de vocbulos j existentes. Ilustrando transformaes semnticas, por influncia do cristianismo, basta citar: Virtude que era para os gregos a valentia do guerreiro, a coragem do batalhador, passou a significar segundo o Cdigo Cristo o conjunto de todas s boas qualidades morais, disposio para fazer o bem e o que justo. Batizar era para os gregos enfiar na gua, mergulhar, imergir. Josefo falando da destruio de Jerusalm afirma: Eles afundaram, isto batizaram a cidade. O cristianismo deu-lhe o significado de imergir com uma finalidade religiosa.

Antnio de Campos Gonalves, secretrio da Sociedade Bblica, em brilhante palestra pronunciada no dia 8 de dezembro de 1973, no Primeiro Congresso Nacional da Bblia, realizado no Rio de Janeiro, tratou com eficincia da Evoluo Semntica na Linguagem da Bblia.

Dentre suas oportunas observaes convm destacar o seguinte pargrafo:

"A linguagem bblica, em qualquer tempo, o que tem para dizer o que dizem os originais. Tais originais no mudam de sentido, portanto sua traduo tem de dizer sempre o mesmo, com fidelidade, compreensivamente. evidente pois, que: se a lngua portuguesa, no passar do tempo muda de sentido, quanto a seus vocbulos, tem de mudar vocbulos para no mudar o sentido da Bblia, no desfigurar suas lies, no amesquinhar virtudes, no desmerecer bnos. A semntica, portanto, bem considerada na linguagem da Bblia, tm seus apelos; sua evoluo no se define por apenas preferncias de mais ou menos sabor literrio, e sim pela imposio inelutvel de se dizer hoje, compreensivamente, com exatido e virtude, o que dizem os originais, em toda a realidade de sua revelao divina."

Passa depois a ilustrar suas afirmaes com mltiplos exemplos, tais como: horta, que nas edies de 1878 e 1886 de Joo Ferreira de Almeida, aparece como significando jardim. "E Jeov Deus plantou uma horta em den banda do Oriente; e ps ali ao homem que formara" (Gn. 2:8) . . . "E a rvore da vida no meio da horta" (Gn. 2:9). "E mandou Deus Jeov ao homem, dizendo: de toda a rvore da horta comendo comers" (Gn. 2:16; 3:3, 8).

A palavra horta est significando o jardim do den. Ningum, hoje, ouvindo falar de horta vai saber que se trata de jardim ou paraso, porque a palavra sofreu transformao semntica, embora tenhamos ainda vestgios desse sentido no vocbulo horto.

Outra palavra que perdeu totalmente o seu sentido foi solteira. Nas duas edies j citadas de Almeida, aparece em muitas passagens, solteira com o sentido de meretriz, prostituta, pecadora. Vejamos: "Faria pois ele a nossa irm como uma solteira?" (Gn. 34:31) "... Onde est a solteira (prostituta) que estava no caminho?" (Gn. 38:21) "... em casa de uma mulher solteira (prostituta), cujo nome era Raabe" (Jos. 2:1). Muitos outros exemplos poderiam ser citados, onde a palavra solteira aparece com o sentido de meretriz, prostituta, mas precisaram ser mudados, porque a palavra sofrendo mudana de sentido, no mais traduz a idia original.

S se compreende bem certas expresses bblicas se a pessoa tiver em mente que as palavras sofrem mudana de sentido com o correr dos anos. Um exemplo frisante se encontra em S. Joo 2:4, quando Jesus se dirige a Maria, sua me, com a palavra "mulher", expresso que hoje no nos parece muito digna, mas que na linguagem de ento eqivaleria a nossa palavra "senhora".

XI DIGNIDADE DA LINGUAGEM

Dentre os vcios que atentam contra a dignidade da Bblia talvez o mais comum seja o cacfato.

A revista "A Bblia no Brasil" de nossa Sociedade Bblica, no vol. VIII janeiro-fevereiro-maro de 1955, n. 27, trouxe um artigo do ilustre vernaculista Antnio de Campos Gonalves "A Cacofonia na Linguagem da Bblia", onde ele nos cientifica de que, na Edio Revista e Atualizada no Brasil, mais de dois mil cacfatos foram retirados das pginas da Bblia.

Os estudiosos dos vcios de linguagem tm divergido bastante na conceituao de cacfatos. H frases condenadas por alguns, onde outros no vm nenhuma razo para que seja rejeitada, como as seguintes:

"E todo o Israel que ali se achou" (Esdras 8:25). A expresso ali se, no nenhum cacfato, mas deve ser evitada por causa do nome prprio Alice. A simples transposio dos termos favorece a redao e todo o Israel que se achou ali. "E alegra-te tu terra" (Isaas 49:13), foi alterada para "alegra-te, terra".

Rui Barbosa diz que o cacfato pode ser feio, risvel ou indecente. Antnio Feliciano de Castilho afirma que o cacfato pode ser de trs espcies: de torpeza, de imundcie e de simples desagrado. Observe a diferena entre estes: a vez passada, quem vai debalde entrar no cu, homem de pouca f, minhas idias como as concebo, meu poema como o compus, estas so (estao), como morre, como mudo, para ti, as bnos desde ento, vendo ento (dento), o estrondo do rudo das rodas, cujo topo tocava nos cus (Gn. 28:121, (cujo topo atingia o cu), embora a cidade esteja j dada (Jer. 32:25), (embora j esteja a cidade entregue).

Em Gnesis 32:28 estava: "No se chamar mais o teu nome Jac" e em II Reis 4:22: "Manda-me j", agora se encontra: "J no te chamars Jac" "Manda-me um dos moos.

"E v cada um" de Jer. 51:9 foi trocado para: "e cada um v para a sua terra".

A expresso "como caco coberto de escrias" de Prov. 26:23, ficou mais eufnica "como vaso de barro coberto de escrias".

"O sirva cada" de Ezequiel 20:39 tornou-se mais harmonioso com a redao "cada um sirva".

Todas estas mudanas devem ter uma respeitosa submisso e fidelidade aos originais.

O seguinte exemplo de Atos 8:20, redao da Bblia na Linguagem de Hoje bem ilustra a falta de dignidade na linguagem:

"Ento Pedro respondeu: V para o inferno com o seu dinheiro". O texto grego nos mostra que ir para o inferno traduz bem o sentido do verbo apollimi = perder-se, perecer. Embora haja perfeita equivalncia no sentido do original para o portugus, a expresso no me parece muito feliz, porque lhe faltou dignidade de linguagem.

A New English Bible traduz esta passagem da seguinte maneira: "You and your money . . . may you come to a bad end".

-nos difcil aceitar a idia, de que Pedro, nesta fase de sua vida estivesse mandando algum para o inferno. Sua declarao pode, quando muito, ser aceita como uma advertncia mais ou menos assim: se no houver uma mudana, voc e o seu dinheiro iro perder-se, ou em outras palavras: tero um triste fim.

O trecho que se segue copiado da Almeida Antiga ilustra bem o problema da dignidade da linguagem:

Em Lucas 2:5-7 lemos: "para se matricular com Maria sua mulher ... a qual estava prenhe ... em que havia de parir ... E pariu a seu filho ... e o envolveu em cueiros".

Esta linguagem no serve para nossos dias, embora seja clssica e foi nobre, porm, por perder a sua dignidade deixou de ser polida.

Que pastor teria a coragem de publicar no boletim de sua igreja um anncio redigido da seguinte maneira: "Nossa prezada irm, Fulana, informa a igreja de que no tem comparecido porque faz meses que est prenhe e em vsperas de parir."

Vocbulos que perderam sua dignidade pela mudana de sentido, ou que se tornaram desconhecidos, arcaicos e esquisitos precisam ser substitudos. Os seguintes exemplos so elucidativos: Crescena do Jordo, comprido do caminho, aformoseia, beios, guarda a porta de meus beios.

Concluindo esta parte da dignidade da linguagem, cito ainda dois exemplos lembrados por Antnio de Campos Gonalves:

1) "A alma generosa engordar." Prov. 28:25.

Engordar nesta passagem e em muitas outras significa prosperar, ento a semntica exige que seja mudada para prosperar.

2) "Cheia parti, porm, vazia Jeov me fez tornar." Rute 1:21.

Isto significava que sara feliz e que voltara pobre. "Ditosa parti, mas o Senhor me fez tornar sem nada".

XII EQUIVALNCIA DINMICA E FORMAL

Os tradutores necessitam estar bem cientes de que uma equivalncia formal no transmite, muitas vezes, o exato sentido do original; deve haver o que na linguagem tcnica dos tradutores se chama equivalncia dinmica. Por exemplo, a palavra grega sarks = carne, numa traduo formal sempre ser traduzida por carne, mas numa traduo dinmica ser traduzida em:

II Corntios 7:5, por povo; Rom. 11: 14, por judeus; Atos 2:17, por homens em geral e em Rom. 8:3, por natureza humana.

Se houvesse verdadeira equivalncia dinmica numa traduo, a poesia da Bblia sempre deveria ser traduzida por poesia (mais ou menos um tero da Bblia foi escrita em poesia); cartas deveriam ser traduzidas como cartas, e no como um tratado tcnico de teologia.

XIII PROBLEMAS COM A EDIO REVISTA E ATUALIZADA NO BRASIL

Carlos Trezza, Ex-Redator-Chefe da Casa Publicadora Brasileira, atravs de extenso artigo publicado na Revista Adventista, abril de 1969, analisou equilibradamente algumas pequenas mudanas que a Sociedade Bblica do Brasil fez na Edio Revista e Atualizada. Este artigo bem ilustra os percalos a que esto sujeitos os que tm a pesada responsabilidade de traduzir o texto bblico.

Eis alguns dos textos discutidos por ele:

"a) II Reis 3:27 Na Edio Revista e Corrigida est: houve grande indignao em Israel; enquanto a Edio Revista e Atualizada no Brasil traduz: pelo que houve grande ira contra Israel.

A New English Bible traduz: "The Israelites were filled which such consternation at this sight. . ." mas em nota ao p da pgina aparece "or there was such great anger against the Israelites . . ."

O que aqui se encontra suficiente para provar que o texto original obscuro ou apresenta variantes de leitura. O contexto nos indica que o sentido do texto deve ser este: houve indignao em Israel contra o ato monstruoso do rei Moabe.

H trs interpretaes para este texto:

A primeira, a de que a ira foi de Moabe contra Israel, por ter compelido o seu rei ao ato desesperado.

A segunda, a de que a ira foi contra Israel, sim, mas de parte de Deus, por terem exrcitos confederados, cuja liderana estava com Israel, levado as coisas a tal extremo.

A terceira, cujo pensamento est dentro do texto no revisado de Almeida, entendo que houve ira ou indignao de Israel contra Moabe pelo ato hediondo praticado em desespero de causa pelo rei Mesa.

O comentarista Lang coloca entre parnteses a preposio "em" assim: "And there was great indignation against (in) Israel . . ."

b) J 6:14

Na E. R. C. est: "Ao que est aflito devia o amigo mostrar compaixo, ainda ao que deixasse o temor do Todo-Poderoso." A Edio Revista e Atualizada no Brasil apresenta: Ao aflito deve o amigo mostrar compaixo, a menos que tenha abandonado o temor do Todo-Poderoso. Com esta mudana o sentido est ambguo, pois no sabemos se o aflito ou o amigo que abandonou o temor do Todo-Poderoso.

Uma traduo que parece bastante aceitvel : O que deixa de mostrar compaixo ao amigo aflito, abandona o temor do Senhor.

c) Lucas 14:23 Obriga a todos a entrar.

O verbo obrigar ou forar como se encontra na E. R. C. parece ir contra o livre arbtrio que Deus nos concedeu, podendo ainda ser mal interpretado por alguma organizao religiosa perseguidora.

O verbo grego anagcadzo, que significa constranger, forar, persuadir, fazer a pessoa sentir a necessidade. A idia original forar por persuaso, constranger pelo amor e no pela fora.

De acordo com a Analogia da F uma melhor traduo seria: "constrange-os a entrar" ou "persuade-os a entrar".

d) Marcos 12:41 A simples expresso - Arca do tesouro, foi mudada para o rebuscado, difcil e pedante Gazofilcio. Este vocbulo jamais deveria ser usado porque nem um significado tem para o povo em geral.

Muito mais feliz foi a Bblia na Linguagem de Hoje com a prosaica expresso "caixa de ofertas".

e) Romanos 5:1

A comisso revisora mudou "temos" para "tenhamos" neste verso. Segundo indica esta mudana foi infeliz.

O problema com este verso se encontra na pequena diferena que existe em grego entre o presente do indicativo e o presente do subjuntivo. Esta consiste apenas da quantidade da letra "o" que breve no indicativo, mas longa no subjuntivo.

A King James, Revised Version, Trinitria, Moffat, New English Bible e muitas outras boas tradues consignam "Temos paz".

Para uma melhor compreenso do sentido deste verso ver neste livro Causas dos Erros na Transmisso do Texto Bblico, subttulo Erros Provenientes de Audio Deficiente.

f) I Tessalonicenses 5:23

Esta passagem aparece na E. R. A. B.: "O vosso esprito, alma e corpo, sejam conservados ntegros e irrepreensveis na vinda de nosso Senhor Jesus Cristo."

Houve a troca da preposio "para" pela contrao "na".

A teologia paulina e os ensinos de Cristo nos mostram que a alterao foi prejudicial, desde que o preparo para o encontro com Cristo deve ser feito ao longo de toda a experincia crist e no na vinda, ou nas proximidades da vinda do Senhor.

Embora nos parea muito melhor a traduo para a vinda do Senhor, temos que convir que o original grego traz a preposio em e no a preposio para."

XIV LNGUAS PRIMITIVAS QUE APRESENTAM DIFICULDADES MUITO ESPECIAIS

Lnguas muito primitivas, como algumas africanas, por serem pobres em palavras, no podem exprimir ensinos cristos acerca do amor, da graa, da f, da salvao. Descobrir palavras exatas que expressem as verdades encontradas nos manuscritos hebraicos e gregos tarefa difcil para os tradutores de qualquer lngua, mas estas se multiplicam quando as lnguas so de cunho completamente diferente ou ainda, quando a lngua falada por pessoas de cultura muito rudimentar.

Eugene A. Nida, no livro God's Word in Man's Language, apresenta-nos pitorescos exemplos de tradues para algumas destas lnguas. Alguns destes exemplos j apareceram na Revista Adventista - agosto de 1962, pg. 10:

"Os Uduks, que vivem na fronteira da Etipia, no compreendiam o significado de turbar-se, preocupar-se, at que o missionrio descobriu a curiosa frase: 'Ter calafrios no fgado'. Assim na lngua uduk, S. Joo 14:1 aparece assim: "No tenhais calafrios no fgado; credes em Deus, crede tambm em mim."

Os ndios Cuicatecs, do Mxico, atrapalhavam-se com a palavra adorar; estava alm de sua compreenso. Mas apanharam a idia quando foi traduzida por "menear a cauda perante Deus" como um co faz na presena de seu amado dono.

Para a tribo Gbeapo, da Libria, a palavra paz teve de ser traduzida "meu corao se assenta", ao passo que para os ndios Zapotecs, do Mxico, foi traduzida "o corao posto em sossego".

Para os Miskitos, da Nicargua e Honduras, amor "dor no corao". Assim so Joo 3:16 traduzido: "Deus de tal maneira teve dor no corao, que deu Seu filho Unignito".

Estes exemplos, e muitos outros que poderiam ser citados, nos comprovam que o importante numa traduo no so as palavras mas o contedo, o sentido que elas expressam. O mais importante como j foi dito a equivalncia dinmica e no a formal.

XV OUTROS EXEMPLOS DE VERSOS DIFCEIS DE SEREM TRADUZIDOS

a) Daniel 8:14.

Em carta recebida de um ex-estudante de teologia havia a seguinte afirmao sobre Daniel 8:14.

"A traduo literal no 'purificao' e sim: trazido sua situao anterior, vindicado, posto na sua correta funo conforme Gesenius. Ver Revised Standard Version. Isto s pode ser aplicar a Antoco IV. O verbo que se encontra em Dan. 8:14 tsadaq justificar. O verbo purificar 'chata' que aparece em outros textos, no encontrado em Dan. 8:14."

W. E. Read, insigne pesquisador adventista estudou o problema de traduo de Dan. 8:14, e de suas explicaes, encontradas no Ministrio Adventista, setembro-outubro de 1967, pgs. 21 a 23, podem ser destacadas estas partes mais significativas:

"Daniel 8:14 o nico lugar em toda a Bblia em que se encontra a expresso 'o santurio ser purificado'. Uma forma um tanto semelhante aparece em Ezequiel 45:18, onde se l: 'purificar o santurio'. Estas so as nicas referncias a esta expresso da maneira como aplicada ao santurio nas Escrituras do Antigo Testamento."

Durante vrios anos, porm, tm surgido dvidas, tanto entre ns como fora de nossas fileiras, no tocante palavra 'purificado' nesta passagem. Afirma-se que a palavra hebraica usada na Bblia hebraica em Dan. 8:14 no significa 'purificar', mas sim 'justificar, tornar justo', etc. Lembram-nos tambm de que este vocbulo empregado mais de 500 vezes na Bblia Hebraica, e que Daniel 8:14 o nico lugar em que traduzida por 'purificado'. Eruditos de outras denominaes crists tm sugerido que seria melhor verter o texto do seguinte modo: 'Ento o santurio ser justificado', adotando assim o padro estabelecido pelos tradutores da palavra hebraica, em outras partes das Escrituras Sagradas. Alm disso, declaram eles, seria plenamente razovel admitir que nessa passagem isolada existe um erro de copista, visto que os manuscritos antigos foram todos penosamente escritos mo.

"Nosso propsito neste artigo ser mostrar que embora a palavra hebraica Tsadaq possa as vezes ser traduzida de maneira diferente em Daniel 8:14, tomando-se em considerao o contexto e todo o sentido em que usado o vocbulo hebraico, a verso mais apropriada 'purificado'. Isto no quer dizer que ela no tenha um significado mais amplo, mas quando foi dada ao profeta e dentro do limite da interpretao do contexto, a purificao a mencionada refere-se quilo que ocorria no ritual do grande Dia de Expiao em Israel (ver Levtico 16). Salientamos, portanto, que o termo mais apropriado a ser usado em Daniel 8: 14 purificado, conforme j mencionamos."

Depois de citar que algum afirmou que nessa questo fomos influenciados pelos escritos do Esprito de Profecia, ele verificou que embora seja essa a traduo da King James Version, a Bblia usada por Ellen G. White, e declarar que ela tambm fez uso de outras tradues, ele prossegue:

"Examinaremos agora as razes para crermos que em Daniel 8:14 deve ser usada a palavra purificado:

1. Esta a traduo que aparece em muitas Bblias, embora haja alguns tradutores que tenham empregado termos diferentes, no devemos olvidar o fato de que muitos traduziram o vocbulo hebraico por 'purificado'.

2. Ele traduzido por 'purificado' na verso dos Setenta.

Quando esses eruditos, (os 70 sbios judeus) tiveram de traduzir Daniel 8:14, resolveram verter o verbo hebraico Tsadaq para o vocbulo grego katharizo, cuja significao primordial limpar, purificar. Sem dvida foram induzidos a isso pelo contexto e outros fatores. Foi o nico lugar em que verteram dessa maneira aquela forma verbal. Todas as outras vezes usaram a palavra grega dikaioo ('tornar justo').

3. A palavra purificado est intimamente relacionada com o dia da expiao (ver Levtico 16).

o que temos ensinado atravs dos anos, pois no grande Dia da Expiao eram purificados o povo, o altar e o prprio santurio.

Isaque Leeser (erudito judeu), embora tenha vertido a palavra por 'justificado' em sua traduo da Bblia, faz uma importante observao na margem. Rashi explica: 'Quando as iniqidades de Israel foram expiadas'. Isto demonstra que pelo menos um eminente comentarista judeu admitia a conexo entre a 'purificao' em Daniel 8 e o ritual do Dia da Expiao.

Outro ponto com relao a isto que em Levtico 16:19 e 30, a palavra para 'purificar' tahar, que significa estar 'limpo', 'limpar', 'purificar'. Mas em Daniel 8:14 a palavra em hebraico Tsadaq, e em Ezequiel 45:18 'purificars' provm do vocbulo hebraico chata - pecar, purgar, etc. Eis a trs palavras hebraicas diferentes, cada uma com seu prprio significado especial, as quais no entanto foram todas traduzidas na Verso dos Setenta em Levtico 16:19 e 30; Daniel 8:14 e Ezequiel 45:18 por katharizo, que a palavra grega para 'purificado'.

4. No estamos sozinhos em nossa interpretao de que em Daniel 8:14 o vocbulo certo 'purificado'.

a) Pelos menos duas Bblias hebraicas trazem a expresso 'purificado'.

b) Afirma C. F. Keil: Tsadaq significa originalmente ser justo, o que no adequado aqui, pois deve ser deduzida 'da profanao do templo' (pg. 302).

c) Escreve Frank Zimmermann: 'a purificao do templo seria exatamente a preocupao do autor . . . A traduo devia ser portanto 'E o templo ser purificado'. pg. 262.

d) Um comentrio bem moderno traz o seguinte: ser restaurado: literalmente, 'ser justificado'. Se nos apegarmos ao texto massortico, o sentido que enquanto o templo continuasse a ser profanado ele estaria sob condenao, mas quando fosse purificado e restaurado, poderia ser usado novamente como lugar para oferecer sacrifcios. O hebraico desta passagem, entretanto, no muito satisfatrio, e o grego katharisthesetai indica que os tradutores inferiram que significasse purificado. Ginsberg (op. cit., pg. 42) mostra como o hebraico pode ter surgido do aramaico . . . : 'ser purificado'. (The Interpreter's Bible, sobre Daniel 8:14).

5. No movimento milerita e em tempos anteriores, a interpretao geral era 'purificado'.

6. Embora insistam na palavra 'justificar' ou 'tornado justo' em Daniel 8:14, muitos comentaristas modernos no tm dificuldade em usar o vocbulo 'purificado', devido aplicao que faziam ao perodo dos Macabeus.

Ao fazer isto, eles esto seguindo amplamente o exemplo de Josefo, nas partes em que ele empregou o termo grego katharizo, traduzido por 'purificado'. . .

Portanto, sob o aspecto dos pontos mencionados at aqui, temos excelentes razes para nossa interpretao de que luz do contexto, Daniel 8:14 deve dizer: 'Ento o santurio ser purificado'."

O articulista em um segundo artigo, se aprofunda no estudo da palavra hebraica "Tsadaq" para mostrar que uma palavra de mltiplos significados, por isso o tradutor deve examinar cuidadosamente o seu significado em determinada passagem, atentando bem para o contexto em que est sendo usada.

b) Isaas 45:7. A traduo em portugus afirma:

"Eu formo a luz, e crio as trevas, fao a paz e crio o mal; eu o Senhor fao todas estas coisas."

H aqui um problema de traduo, pois diz que Deus cria o mal. Deus o autor do bem, da luz, da paz, mas Ele permite "o mal" para que anjos e seres humanos possam ver o resultado de se apartarem dos princpios da justia. Este verso poderia ser traduzido assim: "Eu formo a luz e corto as trevas, fao a paz e seleciono ou permito o mal que vem sobre os homens.

Bar que est no original, no seria aqui criar, mas permitir, porque no hebraico no h idia de que Deus crie o mal.

b) Isaas 65:20, Edio Revista e Atualizada no Brasil:

"No haver mais nela criana para viver poucos dias, nem velho que no cumpra os seus; porque morrer aos cem anos morrer ainda jovem, e quem pecar s aos cem anos ser amaldioado."

Os comentaristas tm ficado perplexos diante destes versos, porque ele fala em morte e pecado na vida por vir, quando estas coisas j esto no passado.

H muitas explicaes procurando tornar o seu sentido um pouco mais compreensivo para ns, mas nenhuma delas nos satisfaz plenamente. Existem tradues desta passagem, que no podem ser aceitas, por serem mais interpretaes pessoais. um texto difcil de ser traduzido, pois mesmo nos mais antigos manuscritos hebraicos no tem sentido lgico.

Skinner descreve o pensamento como "inexplicavelmente antinatural e obscuro". Talvez o melhor que se possa fazer sobre ele seja o seguinte: No sabemos o seu exato significado e muitas das explicaes que dele existem nos deixam ainda mais perplexos.

O Ministrio Adventista - julho-agosto de 1954, pg. 18, trouxe do professor de Lnguas Bblicas do Emmanuel Missionary College, Otto H. Christensen uma destas explicaes, mas aps a atenta leitura do seu artigo, encontrava-me muito mais perplexo do que antes, porm, no fcil concluir se a culpa do verso, do expositor ou minha, por isso melhor pontofinalizar esta parte. intil querer explicar coisas para as quais no h explicao completa.

c) Outros Problemas de Traduo

A seo "O Atalaia Responde" recebeu de E. R. L., a solicitao para que explicasse se as passagens de Mateus 18:11; 23:24; Marcos 7:16; 9:44 e 46; 11:26; Lucas 17:36; Joo 5:4; Atos 8:37; 15:34; 24:7; e Romanos 16:24 se encontram ou no no original. A verso Novo Mundo no as traz por no fazerem parte do texto grego.

"O Novo Testamento foi escrito em grego e o que temos hoje so meras cpias daquilo que os autores inspirados escreveram. Isso significa que h variaes entre as vrias verses do Novo Testamento. Nossas tradues tradicionais s vezes diferem em pequenos pormenores de outras tradues baseadas em diferentes textos antigos. Observe que estas variaes, felizmente, so de pequena monta e em nada interferem quanto s doutrinas fundamentais na f crist.

O estudo dos manuscritos bblicos constitui uma verdadeira cincia e matria geralmente oferecida nos cursos superiores de Teologia. No convm, pois, discuti-la com pessoas que no tenham conhecimento a respeito, por tratar-se de questo essencialmente tcnica.

A chamada "Verso Novo Mundo" tem alguns pontos positivos, como todas as verses atuais em geral, mas tem tambm aspectos tremendamente negativos, passagens traduzidas de encomenda para enquadrar-se na teologia particular de seus editores. Pode-se dizer seguramente que uma verso indigna de confiana, que jamais despertou a ateno e o interesse dos eruditos. . . .

Quanto s passagens que enumerou, eis o que diz, em sntese, o SDA Bible Commentary, abalizado comentrio bblico:

S. Mateus 18:11 e 23:14 Evidncia textual dividida quanto antigidade dessas passagens. Em S. Marcos 12:40 tem-se os mesmos dizeres, onde incontestvel. Ver que na Edio Revista e Atualizada no Brasil ambos os textos esto entre colchetes e na pgina de rosto do Novo Testamento h a explicao: "Todo contedo entre colchetes matria da traduo de Almeida que no se encontra no texto grego adotado";

S. Marcos 7:16 A evidncia textual est dividida entre incluir ou excluir tal passagem. Contudo, Cristo freqentemente usou aquela expresso (ver S. Mateus 11:15, etc.) e certamente apropriada nesse contexto. Entre colchetes na Edio Almeida Revista e Atualizada.

S. Marcos 9: 44 Importante evidncia textual pode aqui ser citada para omisso dos versos 44 e 46, como tendo sido repetidos com base no verso 48, idntico. Tambm entre colchetes na Almeida Revista e Atualizada.

S. Marcos 11:26 A evidncia textual pode ser citada para a omisso do verso 26, embora a maior parte dos manuscritos tenham o mesmo pensamento em S. Mateus 18:35. Entre colchetes como nos casos anteriores.

S. Lucas 17:36 As mesmas palavras desse texto aparecem, incontestadas, em S. Mateus 24:40. Entre colchetes na Almeida Revista e Atualizada.

S. Joo 5:4 Verso omitido em muitos originais e entre colchetes como nos casos acima.

Atos 8:37 e 15:34, idem, idem.

Atos 24:7 No consta nenhum comentrio falando da possibilidade de dvida quanto ao texto original dessa passagem.

Atos 28:29 e Romanos 16:24 No consta da maior parte dos originais e tambm vem entre colchetes na Almeida Revista e Atualizada.

Deve-se ter em mente que a Verso Almeida anterior a certas descobertas recentes no campo dos manuscritos bblicos. Verses mais modernas so mais exatas, com base nesses novos achados. Esta verso Almeida Revista e Atualizada merece plena confiana pois apresenta os textos duvidosos entre colchetes. Sendo publicado pela Sociedade Bblica, serve a todas as denominaes, sem preferncias." (Revista Atalaia, novembro, 1976, p. 25).

Para uma melhor compreenso de outros problemas que tradutores precisam enfrentar, ver o livro Problems in Bible Translation editado pela Conferncia Geral dos Adventistas do Stimo Dia, especialmente o captulo: "Um Estudo dos Problemas de Traduo".

Na apresentao deste captulo foi de grande valia as oportunas sugestes de Eugene A. Nida, encontradas no livro The Theory and Practice of Translation.