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Exame androlgico do co
Breeding soundness evaluation of male dog
Isabel Candia Nunes da Cunha1
Resumo
O aumento do interesse na reproduo canina parece oferecer um futuro
brilhante medicina veterinria, sendo assim, se faz necessrio o
conhecimento das tcnicas e dos parmetros mnimos de avaliao da
fertilidade do co. Desta forma, os proprietrios de ces e os grandes
criatrios podero desfrutar brevemente, e em larga escala, das novas
biotecnologias propostas pelos pesquisadores da rea de reproduo em
pequenos animais. O objetivo desta reviso atualizar os conceitos,
principais tpicos e a metodologia a ser empregada para a realizao do
exame androlgico de ces.
Palavras chave: exame androlgico, avaliao do smen, co.
Abstract
The increasing interest in canine reproduction offers a great future in
veterinary medicine. To achieve this goal, the understanding of new
technologies available for the male dog reproduction evaluation is
mandatory. With these advances, new technologies will be offered in the
small animal reproduction field and they will be available to dog owners andkennels, in the coming future. The aim of this paper is review the concepts,
main topics and methodology to perform male reproductive examination.
Key words: Breeding soundness evaluation, semen evaluation, dog.
1Mdica veterinria. Professora da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro. Ncleo
de Apoio a Reproduo de Carnvoros Laboratrio de Reproduo e Melhoramento Gentico
Animal/CCTA. Email: [email protected]
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Introduo
A determinao das
caractersticas seminais umrecurso importante para se predizer
o potencial fertilizante de um
macho. Deve ser comumente posta
em prtica para avaliao da
capacidade reprodutiva dos animais
domsticos1.
A realizao do exameandrolgico em ces, prvio sua
seleo e/ou utilizao em um
esquema de reproduo artificial,
de grande importncia, sendo ainda
indicada em outras circunstncias
como: compra ou venda de
reprodutores, seleo de doadores
para uso em programas deinseminao artificial ou diagnstico
de patologias do sistema genital
masculino2,3,4,5.
Primeiramente, necessrio
realizar uma boa anamnese e um
exame fsico completo do animal,
observando-se a possibilidade da
existncia de doenas sistmicas
que podem interferir na esfera
reprodutiva. Aps isso, o trato
reprodutivo do macho deve ser
completamente avaliado.
I - Exame androlgico
1 - Anamnese
Deve ser realizada uma
anamnese cuidadosa do animal
para que o clnico obtenha uma
histria completa, partindo de todos
os rgos antes de investigar o trato
reprodutivo. Doenas de outros
rgos ou sistemas podem,secundariamente, afetar o trato
reprodutivo por extenso direta,
devido a infeces ou neoplasias,
ou indireta, por alterao dos
padres normais de secreo
hormonal (testosterona, FSH, LH ou
GnRH). Devemos ainda considerar
a adio exgena de drogas (ex:corticides), condies de estresse,
traumas ou doenas sistmicas
prvias5 .
2 - Exame Fsico
Um exame fsico completo
to importante quanto uma histria
completa. O reconhecimento de
problemas crnicos de outros
sistemas, assim como o
reconhecimento de defeitos
genticos, so importantes para um
bom direcionamento e avaliao de
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qualquer desordem reprodutiva6.
Dever ser solicitado o exame de
brucelose (figura 1) alm da
verificao de outros processos
patolgicos que podem sertransmitidos sexualmente ou por
contato direto (no caso de animais
que realizaro a monta natural).
3 - Exame especfico do trato
reprodutivo do co
O trato reprodutivo do co
deve ser completamente avaliado,partindo-se da bolsa escrotal,
testculos, epiddimo, prosseguindo
para o pnis e, finalmente,
examinando-se a glndula
prosttica. Durante o exame deve-
se observar principalmente os
seguintes aspectos2,3,4,5,7:
3.1 - Bolsa escrotal
Deve ser esparsamente
recoberta de plos, apresentar
espessura uniforme, ser
relativamente fina e macia ao toque
e apresentar-se mvel em relao
ao testculo. O animal no deve
apresentar dor palpao. A
inspeo visual do escroto tem
como objetivo verificar sinais de
inflamao, trauma, alteraes de
volume ou cicatrizes (figura 2).
3.2 - Testculos
Nos ces, a descida dos
testculos geralmente se completa
aos 10 dias de vida, e ambos os
testculos podem ser palpados apsseis semanas de vida. Somente
aps seis meses de vida do animal
que a ausncia dos testculos no
saco escrotal pode sugerir
criptorquidismo. Em ces jovens,
contudo, a retrao temporria do
testculo no canal inguinal ou lateral
ao pnis pode ocorrer devido aagitao ou excitao do animal8.
Os testculos devem ser
palpados e avaliados quanto ao
tamanho, forma e consistncia. O
testculo esquerdo geralmente
caudal ao direito. Apesar do
testculo dos ces ter um tamanho
mdio de 2 a 4cm de comprimento
e de 1,2 a 2,5cm de dimetro, as
diferenas de tamanho entre as
diversas raas excluem um padro
rgido com referncia a todos os
tamanhos de ces. Entretanto, o
profissional deve atentar para uma
grande diferena de tamanho entre
os dois testculos.
O par de testculos deve ser
oval, com contorno fino e regular, e
estar posicionado dorsoventralmente. A
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palpao de irregularidades, como
ndulos ou aderncias, pode sugerir
inflamao crnica, infeco ou
neoplasias.
A palpao do testculo no
deve ser dolorosa quando realizada
gentilmente. A dor palpao
sugere orquite aguda ou toro,
especialmente se o testculo estiver
aumentado de volume. Alm disso,
deve ter consistncia firme
(semelhante de bceps semi-flexionado) e no ser duro
palpao. Uma consistncia macia
ou pastosa sugere degenerao
testicular, enquanto uma
consistncia endurecida sugere
neoplasia ou orquite.
3.3 - Epiddimo e cordo
espermtico
O epiddimo fixado
dorsolateralmente superfcie do
testculo, com a cabea e a cauda
localizadas nos plos cranial e
caudal respectivamente. O
epiddimo continua como ducto
deferente, localizado dentro do
cordo espermtico, que contm:
ducto deferente, artria
espermtica, veias do plexo
pampiniforme, linfticos, nervos e
msculo cremaster. O epiddimo e o
cordo espermtico devem ser
palpados para observar provveis
reas de espessamento ou
aumento de volume.
3.4 - Pnis e prepcio
Sem a ereo, o prepcio
cobre completamente o pnis
canino normal. Devemos nos
preocupar com descargas
purulentas, sangue ou urina. O
pnis deve ser facilmente removido
do prepcio e completamenteexposto. O prepcio deve ser
tracionado caudalmente e o bulbo
da glande exposto. Quando h falha
na exposio do pnis, devemos
suspeitar de estreitamento do stio
prepcial (fimose) ou aderncia
entre o pnis e prepcio.
Depois de exposto, o pnis
deve ser totalmente avaliado para a
presena de inflamaes,
hematomas, trauma, fraturas,
corpos estranhos ou massas
tumorais (figuras 3 e 4).
A mucosa peniana deve ser
rsea clara, fina e indolor ao toque.
Uma balanopostite normal vista
como uma descarga mucopurulenta
mdia cobrindo a mucosa peniana.
O pnis deve ser palpado para
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tamanho e conformao. Uma
deformao congnita ou fratura
pode resultar em desvio e
inabilidade em retrair o pnis
completamente para a bainhaprepucial. Igualmente, uma
diminuio congnita do osso
peniano pode causar uma
excessiva flacidez da ponta do
pnis e uma habilidade de cpula
prejudicada.
3.5 - Glndula prosttica
A glndula prosttica a
nica glndula acessria em ces.
Normalmente localiza-se
cranialmente plvis, porm, a
disposio cranial pode estar
alterada no abdmen devido
disteno da bexiga por urina. A
glndula prosttica rodeia o colo da
bexiga, a poro cranial da uretra e
a poro terminal do ducto
deferente. Um septo mdio divide a
glndula em dois lobos iguais, finos
e firmes, que podem casualmente
ser palpados pelo reto. Em ces
grandes, a poro caudal da
prstata palpvel. O tamanho e o
peso da glndula prosttica so
dependentes da idade, raa e peso
corpreo do co.
A presena de tamanho e
consistncia anormais, assimetria
entre lobos ou dor palpao
suporta a presena de disfuno
prosttica e indica a necessidade deum diagnstico complementar para
a avaliao da glndula.
4 - Avaliao do smen
A anlise do smen deve ser
includa na avaliao androlgica
para detectar possveis problemas
de infertilidade ou sub-fertilidade,alm de fazer parte da rotina pr-
cobertura ou inseminao em ces.
4.1 - Tcnicas para a obteno do
smen
A coleta do smen pode ser
realizada excitando-se o macho na
presena ou ausncia de uma
fmea no cio, por estimulao
manual do pnis (figura 5) ou,
ainda, em casos excepcionais, por
meio de eletroejaculao3.
Todo o material que ser
utilizado para a coleta e exame do
smen dever ser de vidro ou
plstico aquecido a 37C, sendo
que o material plstico minimiza os
riscos de acidentes envolvendo o
animal e o coletador durante a
coleta7.
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O ejaculado canino
apresenta trs fraes distintas e,
segundo Heidrich (1977)9, foi
Freiberg, em 1935, o primeiro a
identificar o fracionamento noejaculado do co, chamando a
primeira frao de uretral ou pr-
espermtica, a segunda, de frao
rica em espermatozides, e a
terceira, de frao prosttica ou
ps-espermtica.
A primeira frao (ou pr-espermtica) apresenta um aspecto
aquoso, cujo pH varia de 6,2 a 6,5
com um volume mdio de 2,4
1,8ml. A segunda frao (ou
espermtica) apresenta um aspecto
de cremoso a aquoso, sua
colorao fisiolgica varia de branco
opalescente ao marfim, o pH situa-
se entre 6,3 a 6,6 e o volume mdio
varia de 0,5 a 3,5ml. A ltima frao
do ejaculado de origem prosttica,
apresenta um aspecto aquoso e seu
pH oscila entre 6,5 e 7,07,10,11,12. O
volume desta frao diretamente
proporcional atividade secretria
da glndula prosttica, sendo seu
volume mdio 6,48 4,32 ml13,4.
O fluido prosttico
produzido continuamente nos
machos caninos no castrados e
reflui retrogradamente para a bexiga
ou eliminado pelo orifcio externo
da uretra em quantidades variando
de pequenas gotas at muitos
mililitros, dependendo do tamanhoprosttico7.
De acordo com Feldman e
Nelson (1996)5, as freqncias de
coletas de smen para o co podem
ser: 1) uma coleta a cada 48 horas;
2) uma coleta ao dia durante 3 dias
consecutivos e um repouso de 2dias ou 3) duas coletas ao dia e
repouso de 2 dias, podendo ocorrer
um aumento na concentrao total
de espermatozides aps alguns
dias de repouso sexual.
4.2 - Avaliao macroscpica do
smen
a) Volume:
O volume mensurado atravs
da graduao do tubo coletor e a
quantidade de ejaculado obtida
podem variar de acordo com a
idade, tamanho, freqncia de
coletas, mtodo e durao das
coletas. O volume normal vai de 1 a
40ml por ejaculado2,3,5. Aguiar et al.
(1994)4, citaram valor de 5,98
2,3ml para ejaculado total de ces
de at 20 kg.
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O volume de um ejaculado
canino est diretamente ligado
quantidade de lquido prosttico
eliminado durante a ejaculao e,como descrito anteriormente, a
prstata canina tende a aumentar
com o avano da idade como
resultado de uma hiperplasia
prosttica benigna. A maioria dos
animais no castrados e com mais
de cinco anos apresenta a prstata
aumentada de volume eposicionada na regio
abdominal7,14.
b) Cor e aspecto:
A cor e o aspecto devem ser
mensurados por meio de anlise
subjetiva. A cor do ejaculado canino
pode variar de branco opalescente
ao turvo. Esta variao decorrente
de alteraes na concentrao
espermtica e o aspecto vai do
leitoso ao aquoso, dependendo da
quantidade de frao prosttica
coletada.
A cor amarelada de um
ejaculado canino sugere a presena
de urina; a cor verde com ou sem
grumos, sugestiva de pus e de
infeco do trato reprodutivo; a cor
vermelha sugere hemorragia, que
geralmente originria de
ferimentos ocorridos no pnis ereto
ou de processos patolgicos da
glndula prosttica2,3,5.
4.3 - Avaliaes microscpicas
do smen
a) Motilidade e Vigor:
A motilidade e o vigor so
avaliados subjetivamente colocando-se
uma gota de smen sobre lmina
aquecida (35-37 C), sendo estarecoberta por lamnula. O exame
realizado sob microscopia de
contraste de fase. O resultado
obtido deve ser expresso em
porcentagem (0-100) para a
motilidade e um escore de zero a
cinco (0-5) para o vigor6.
A avaliao da motilidade
espermtica definida como o
percentual de espermatozides
mveis de um ejaculado e o vigor
representa a intensidade com a qual
as clulas espermticas se
locomovem. O conjunto destas duas
avaliaes um importante
parmetro da qualidade e
viabilidade do smen6.
O movimento retilneo
progressivo considerado normal
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em ces e reflete habilidade e
viabilidade para fertilizar o
vulo2,3,5,15. Aguiar et al. (1994)4
observaram valores mdios de
68,91 12,38% para motilidadeespermtica e de 3,19 0,76 para o
vigor espermtico em ces com
peso corpreo de, no mximo,
20kg.
A avaliao subjetiva do
movimento espermtico muito
importante e deve ser realizadarotineiramente. No entanto, por ser
realizada por um tcnico, pode estar
sujeita a um grande nmero de
variaes, principalmente no que
diz respeito ao grau de habilidade e
experincia do avaliador.
Para que estas variaes
sejam minimizadas, uma avaliao
computadorizada do movimento
espermtico pode ser realizada.
Iguer-Ouada e Verstegen (2001)16
propuseram a padronizao de um
mtodo computadorizado de
avaliao do movimento
espermtico, que apresentou
timos resultados na avaliao de
espermatozides da espcie
canina.
(HTR-IVOS10 analyzer, Hamilton Thorn
Research, Beverly, Mass, USA)
Utilizando-se o sistema
computadorizado podemos avaliar a
qualidade do movimento. Dentre as
possveis avaliaes ressalta-se:
motilidade espermtica total (MT),motilidade total progressiva (MP),
padro mdio de velocidade
espermtica (VAP), velocidade de
deslocamento em linha reta (VSL),
velocidade de deslocamento
curvilneo (VCL), sobreposio do
deslocamento retilneo e do
deslocamento curvilneo VSL/VCL(STR) e, ainda, a linearidade do
movimento, ou seja a proximidade
da linha de deslocamento com uma
linha linear (LIN) dos
espermatozides16.
Ellington et al. (1993)17
apresentaram resultados mdios de
73 9% para a motilidade
espermtica de ces atravs de
avaliao computadorizada. Eles
concluram que a motilidade
progressiva pode variar
consideravelmente entre indivduos,
e que a associao da motilidade
progressiva e da concentrao
espermtica caracteriza, na prtica,
de modo satisfatrio, o potencial
fertilizante de uma amostra de
smen.
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b) Concentrao espermtica:
A concentrao
determinada atravs da contagem
das clulas espermticas em
Cmara de Neubauer, aps diluiode 1:20 em gua, e o nmero de
espermatozides expresso em
mm3. Aguiar et al. (1994)4
confirmaram ser normal para ces
de at 20 kg de peso corpreo, a
concentrao espermtica de 47,73
12,20 x 106/ ml de ejaculado.
c) Avaliao da morfologia
espermtica:
Uma das metodologias que
pode ser utilizada para a avaliao
da morfologia espermtica a
colorao dos esfregaos de smen
pelo mtodo Karras modificado18,
incluindo-se a etapa de fixao dos
esfregaos de smen canino por
imerso em soluo salina aquecida
a 37C19. A colorao com
Vermelho Gongo e Cristal Violeta6
tambm possibilita a colorao de
esfregaos de smen de co. Aps
a colorao, os esfregaos devem
ser avaliados em microscopia de
campo claro com aumento de
1000x, observando-se as estruturas
da cabea, colo, pea intermediria
e cauda. Devem ser avaliadas 200
clulas espermticas em cada
esfregao. Os resultados devem ser
expressos em porcentagem e
registrados individualmente.
Feldman e Nelson (1996)5
eJohnston et al. (2001)20
classificaram as alteraes da
morfologia espermticas de ces
como: 1) primrias (aquelas
advindas de defeitos na
espermatognese) e 2) secundrias
(aquelas surgidas durante o trajeto
entre o testculo e o epiddimo, nointerior do epiddimo ou devido a
manipulao do smen). Segundo
estes autores, reprodutores normais
devem apresentar 70% de clulas
espermticas com morfologia
normal. Dentre as clulas
espermticas consideradas
alteradas podero haver, no
mximo, 10% de alteraes
morfolgicas primrias e 20% de
alteraes morfolgicas secundrias.
De acordo com o Manual
para Avaliao Androlgica do
CBRA6, as alteraes morfolgicas
dos espermatozides dos
reprodutores caninos devem ser
classificadas como: 1) defeitos
maiores (aqueles de maior impacto
sobre a fertilidade) e 2) defeitos
menores (aqueles que traduzem
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menor impacto para a fertilidade da
clula espermtica)21. Ainda
segundo este manual, os
reprodutores podem apresentar, no
mximo, 20% de defeitos menorese 10% de defeitos maiores em seus
ejaculados.
Oettl (1993)22afirmou que a
avaliao da morfologia
espermtica o teste que
apresenta maior correlao com a
fertilidade, aps verificao de queces com mais de 60% de
espermatozides normais
apresentaram taxa de fertilidade de
61%, enquanto outros, com menos
de 60% de espermatozides
normais, uma taxa de fertilidade de
apenas 13%.
d) Avaliao da integridade das
membranas espermticas:
A manuteno da integridade
das membranas espermtica de
fundamental importncia para que
uma clula espermtica finalize sua
funo primordial que a
fertilizao. A membrana de uma
clula espermtica intacta realiza
transporte seletivo de fluidos e em
condies de hiposmolaridade.
Estas trocas continuam at que um
ponto de equilbrio osmtico (extra e
intracelular) seja alcanado. Para
que o equilbrio seja alcanado
ocorre um aumento de volume
intracelular, j que a clula
espermtica dever diluir o seumeio intracelular at que a condio
hiposmtica do meio externo seja
atingida. Este processo fisiolgico
induz ao edema da cauda dos
espermatozides, que pode ser
facilmente verificado atravs de
microscopia ptica pelo
enrolamento das caudas dosespermatozides. Este mecanismo
simples de defesa da clula
espermtica gerou um mtodo de
avaliao da integridade das
membranas celulares denominado
teste hiposmtico (HOS), que logo
foi includo na rotina de vrios
laboratrios de andrologia23,24.
O teste hiposmtico pode ser
considerado mais do que uma
avaliao da morfologia e da
integridade da clula espermtica.
Ele tambm um indicativo da
capacidade funcional da membrana
em realizar trocas com o meio
extracelular, que uma das
principais necessidades no
momento da capacitao e posterior
fecundao, principal objetivo de
uma clula espermtica23,24.
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Para realizao do teste
hiposmtico, os espermatozides
so incubados em uma soluo
hiposmtica (150mOSM) eposteriormente avaliados quanto
sua morfologia sob contraste de
fase. As clulas espermticas
ntegras apresentam enrolamento
de caudas, evento que pode ser
visualizado atravs de microscopia
de contraste de fase. A
porcentagem de espermatozidescom enrolamento de cauda, ou seja,
ntegros, pode ento ser
computada24.
Um novo teste hiposmtico
para o smen do co utilizando a
gua como soluo hiposmtica foi
desenvolvido25, verificando alta
correlao entre o HOS e a
motilidade espermtica. Para a
realizao deste teste, uma parte de
smen deve ser misturada a quatro
partes de gua, obtida diretamente
da torneira, e incubada em banho-
maria a 37C por 5 minutos. O
resultado do HOS deve ser
verificado sob microscopia ptica
comum utilizando-se cmara de
Neubauer, onde 200
espermatozides devem ser
avaliados. Estes devem ser
classificados como reativos ao HOS
quando apresentarem cauda
enrolada e o resultado deve ser
expresso em porcentagem (%).
Um outro mtodo que pode
ser utilizado para a verificao da
integridade das membranas
espermticas de ces a uma
associao das sondas
fluorescentes Iodeto de Propdio e
Carboxifluorescena , descrita por
Harrison e Vickers (1990)26 emodificada por Cunha et al.
(1996)27. Para a execuo do teste,
10l de smen so acrescidos de
40l da soluo de trabalho,
composta por: 960 l de soluo de
citrato de sdio a 3 %; 10 l soluo
de iodeto de propdio (10 mg de
iodeto de propdio + 20 ml soluo
fisiolgica); 20ml soluo de
carboxifluoresceina (9,2mg
carboxifluoresceina + 20ml
DMSO); 10l soluo 1:80 de
formalina a 40%. As amostras
devero ser avaliadas sob
iluminao epifluorescente
(400x) e devero ser contadas
200 clulas que sero classificadas
como: ntegras (as clulas emitindo
fluorescncia verde) ou lesadas (as
clulas com o ncleo emitindo fluorescncia
vermelha).
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Figura 1: Co. Bolsa escrotal. Orquite. 1- Acmulo delquido que levou ao aumento de volume da bolsaescrotal causado por brucelose canina.
Figura 2:Co. Bolsa escrotal. Orquite. 1- Ulceraes eaumento de volume da bolsa escrotal.
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Figura 3:Co. Pnis. 1- Hematoma peniano.
Figura 4: Co. Pnis. 1- Base do pnis; 2- Tumorvenreo transmissvel.
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Figura 5:Co. Coleta de smen por meiode estimulo manual do pnis.
Figura 6: Co. Espermatozides. 1 Espermatozidentegro; 2- Espermatozide parcialmente lesado; 3-Espermatozide lesado. 1000x. Carboxifluorescena eIodeto de propdio.
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Recebido em: Novembro de 2007
Aceito em: Junho de 2008
Publicado em: Abril / Maio / Junho de 2008