6. fasciolose
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PROFº M Sc. GUILHERME COLLARES
FASCIOLOSE
INTRODUÇÃO
É uma enfermidade parasitária que afeta uma grande quantidade de herbívoros, onívoros e o homem;
Causada pelo trematódeo Fasciola hepatica, conhecida como “baratinha do fígado” ou “saguaype”;
A 1ª referência mundial é de 1379, de Jehan de Brie;
É aceito mundialmente que os únicos hospedeiros intermediários são as espécies do gênero Lymnaea
Em 1930, Bengolea et al., identificam Lymnaea viatrix como hospedeiro intermediário;
Ciclo Biológico
Mamífero 6 – 12 semanas
Adultos nos ductos
biliares
Formas jovens migrando no parênquima hepático
Penetração ativa através da cápsula hepática
Migração pela cavidade abdominal
Atravessa o duodeno
Ambiente
Ovo – Miracídeo
2 -6 semanas
Metacercária
Molusco 4 – 12 semanas
Esporocisto
Rédia de 1ª geração
Rédia de 2ª geração
Cercária
Diferenças entre os HI
Lymnaea viatrix
Se infecta com miracídeos em qualquer
idade
Originam grandes quantidades de metacercárias
Habitat no campo, em mananciais, águas pouco
profundas
Lymnaea columella
Só se infecta com miracídeos quando são
jovens
Originam poucas metacercárias
Habitat no campo, em águas mais profundas e
limpas
Características do Ciclo Biológico
Uma Fasciola hepatica adulta pode eliminar 20.000 ovos por dia junto à matéria fecal;
Cada ovo que vire um miracídeo e infecte um molusco, pode produzir 400 – 600 cercárias;
Os bovinos são mais resistentes à infecção, podendo chegar à cura espontânea em 5 -8 meses pós infecção;
Estudos epidemiológicos demonstram que os ovinos infectados são os que mais contribuem com a contínua contaminação das pastagens, chegando à eliminação de 2 milhões de ovos por animal, por dia;
Resistência dos Hospedeiros
Resistência
ALTA
Equinos
Suínos
MODERADA
Bovinos
Humanos
Coelhos
Lebres
Cervos
BAIXA
Ovinos
Caprinos
Epidemiologia
A fasciolose é mantida nos rebanhos Brasil pelos principais hospedeiros, que são bovinos e ovinos;
Estes hospedeiros eliminam milhares de ovos, servindo como fontes de infecção;
Apenas ovos que caem em locais úmidos eclodem. Não sobrevivem à dessecação ou a temperaturas baixas por muito tempo;
O miracídeo tem pouco tempo de vida, sendo necessário penetrar no hospedeiro intermediário para prosseguir seu desenvolvimento;
Os principais biótopos dos HI são águas superficiais ou situadas nas margens de lagoas ou represas e pastagens alagadiças, onde os moluscos se alimentam de microalgas que cobrem o substrato;
Em épocas de seca prolongada, esses moluscos podem entrar em estivação por vários meses e aqueles que sobrevivem, com as primeiras chuvas, graças a seu elevado potencial biótico, conseguem repor as colônias rapidamente;
Epidemiologia
Os moluscos, com as primeiras chuvas, são rapidamente disseminados pelas águas correntes e também pelas aves aquáticas;
Durante o período de estivação dos moluscos, cessa também o desenvolvimento das fases larvárias da Fasciola hepatica, que com o retorno das condições climáticas favoráveis, retomam também rapidamente o seu desenvolvimento;
As metacercárias são mais resistentes ao meio ambiente;
As vegetações aquáticas não oferecem tanto perigo quanto às pastagens que sofrem inundações periódicas, porque com a evaporação das águas os animais tem acesso mais fácil as forrageiras com as metacercárias;
As criações intensivas, utilizando melhoramento de pastagens e restevas de arroz tem contribuído para o desenvolvimento dos surtos;
Epidemiologia
Os surtos seguem de perto as oscilações positivas das populações de caramujos, que por sua vez dependem diretamente das condições climáticas;
A fasciolose pode se manter em pequenos habitats, constituídos de lugares úmidos, sem a presença de hospedeiros domésticos: Nesses nichos, a população de moluscos se mantêm constante o
ano inteiro;
Os hospedeiros definitivos podem ser roedores ou outros animais silvestres;
Estes locais são considerados zonas endêmicas;
Em épocas chuvosas, a água desses locais transborda e forma grandes extensões de banhados, sendo estes locais zonas epidêmicas, causando graves surtos de fasciolose;
Fatores que influenciam o ciclo biológico
Fatores favoráveis
Alta postura de ovos
Resistência das metacercárias
Longos períodos de sobrevivência no hospedeiro
Alta reprodução dos moluscos
Dispersão passiva e ativa dos moluscos
Estivação e invernação dos moluscos
Biológicos
Fatores desfavoráveis
Resistência dos bovinos
Curto período de vida dos miracídeos
Presença de predadores dos moluscos
Presença de outros trematódeos – competição
Resistência relativa dos moluscos à infecção
Fatores que influenciam o ciclo biológico
Fatores favoráveis
Temperaturas > 10ºC
Estações úmidas
Áreas permanentemente
úmidas
Fontes renováveis de água
Climáticos e Topográficos
Fatores desfavoráveis
Temperaturas < 10ºC
Áreas secas
Correntes de águas rápidas
Águas totalmente paradas
Fatores que influenciam o ciclo biológico
Fatores favoráveis
Alta carga animal
Má utilização dos fasciolicidas
Irrigação permanente
Drenagens ineficientes
Humanos
Fatores desfavoráveis
Não coincidência hospedeiro-parasita
Período seco prolongado
Tratamentos regulares adequados
Carga animal e manejo correto
Fontes de infecção das pastagens
A 1ª e mais importante:
Deriva da infecção de caramujos no verão por miracídeos
desenvolvidos de novos hospedeiros, depositados na primavera;
Esta infecção resulta em incremento dos níveis de metacercárias nas pastagens desde o final de fevereiro até os princípios do outono;
As pastagens ingeridas poderiam dar lugar a problemas clínicos no outono-inverno que seriam sinergizados pela deficiência nutricional;
No caso de não ingestão, as metacercárias que sobrevivam ao inverno, serão iniciadoras da infecção na primavera seguinte.
PERÍODO
Nov Dez Jan Fev Mar
T > 10º C
CARACÓIS INFECTADOS POR OVOS RECÉM DEPOSITADOS OU QUE SOBREVIVERAM AO INVERNO
DESENVOLVIMENTO DE CERCÁRIAS NOS MOLUSCOS
METACERCÁRIAS QUE PASSARAM O INVERNO NAS PASTAGENS
METACERCÁRIAS NOVAS NAS PASTAGENS
Fontes de infecção das pastagens
A 2ª fonte de infecção:
Irá produzir uma contaminação “do cedo” nas pastagens;
Ocorre pela ativação, na primavera, do ciclo evolutivo que se detém ou diminui no molusco durante o inverno;
Em ambientes onde a temperatura é capaz de interromper o ciclo da F. hepatica no molusco, observa-se uma tendência de sincronizar a emissão de cercárias durante a primavera;
Isto irá produzir um incremento do risco de infecção durante o período primavera-verão;
Durante o verão, o desenvolvimento das formas larvais de F. hepatica e dos moluscos dependerá das chuvas, ou ficará circunscrito aos habitats permanentes que não são afetados pelas secas;
PERÍODO
Fev Mar Nov Dez Jan
AUSÊNCIA DE DESENVOLVIMENTO DURANTE O INVERNO
DESENVOLVIMENTO DE CERCÁRIAS NOS MOLUSCOS
METACERCÁRIAS NAS PASTAGENS
DESENVOLVIMENTO DE RÉDIAS E ESPOROCISTOS
MOLUSCOS INFECTADOS POR OVOS DE PORTADORES
T > 10º C T > 10º C
Patogenia
A patogenia varia de acordo com os seguintes fatores:
Idade do animal;
Primo-infecção;
Número e tamanho dos trematódeos no tecido hepático;
Migração das formas jovens:
Ocorre preferencialmente pelo lobo esquerdo do fígado;
Acarreta hipertrofia do lobo direito (com abundância de tecido sadio);
Patogenia
Fasciolose Aguda: Ocorre nas épocas mais chuvosas (inverno e primavera) e ataca mais os
ovinos (mais susceptíveis); A migração das formas jovens causa hepatite traumática hemorrágica O tecido destruído é substituído por tecido fibroso;
Fasciolose Crônica: Ocorre mais na primavera e verão e ataca mais os bovinos; Fibrosamento de tecido hepático; Espessamento e calcificação dos canais biliares (“cachimbos de barro”); Obstrução dos ductos biliares pelos parasitas; Hiperplasia do epitélio dos ductos biliares; A irritação constante do epitélio dos canais biliares causa colangite
crônica e pré-disposição a infecções bacterianas secundárias A hipoalbuminemia ocorre pela extensão das lesões do tecido hepático,
que é o principal sintetizador da albumina A anemia seria decorrente da retirada do organismo do hospedeiro de
grandes quantidades de sais de ferro, cobalto e vitamina B12.
Sinais Clínicos
1ª FASE
Ocorre quando animais jovens são submetidos a uma carga
parasitária intensa:
Pode ocorrer morte súbita sem qualquer manifestação clínica, em consequência da ação traumática exercida pelas formas imaturas;
Elevação da temperatura;
Anemia (evidenciada por palidez das mucosas aparentes);
Animais debilitados;
2ª FASE Presença de adultos nos ductos biliares;
Emagrecimento progressivo;
Edema;
Mucosas anêmicas;
Sinais Clínicos
3ª FASE
Agravamentos dos sintomas da 2ª fase;
Caquexia;
Inapetência;
Baixa conversão alimentar – baixa produtividade;
Abortos e nascimentos de cordeiros fracos;
Obs.: Nos bovinos predominam os distúrbios digestivos. Terneiros perdem peso e entram estado de fraqueza generalizada.
Diagnóstico
Clínico
Sinais clínicos
Laboratorial
Técnica dos 4 tamises – 1 ovo indica positividade
(qualitativa)
Necropsia
Presença de formas imaturas no parênquima hepático e adultas nos ductos biliares
Como diagnosticar a fasciolose?
O diagnóstico a campo não é tão simples, pois os sinais clínicos podem ser confundidos com os de outros helmintos hematófagos. Devem ser considerados alguns fatores: Animais bem nutridos são menos susceptíveis; Ao contrário de outras parasitoses a fasciolose se apresenta sob
formas pouco aparentes, podendo apenas 5% dos casos se manifestarem de forma clara e visível;
Os parasitas agem lentamente, exteriorizando seus efeitos a longo prazo;
As mortes por fasciolose nem sempre são causadas por efeito direto dos parasitas, sendo consequência das deficiências orgânicas causadas secundariamente nos animais;
O exame clínico deve basear-se na anemia, papeira, pelo quebradiço e sem brilho, animais debilitados, diarreia e/ou constipação, associando estes dados à época do ano e habitat
Importância Econômica
Inúmeros prejuízos:
Retardo no crescimento;
Diminuição da produção de carne, leite e lã;
Redução da fertilidade;
Aumento da mortalidade;
Os animais jovens são os mais susceptíveis, sendo a patogenicidade proporcional à carga parasitária:
Animais experimentalmente infectados com Fasciola hepatica apresentaram, a partir da 5ª semana, um decréscimo acentuado na produção de leite, cuja perda, na 11ª semana atingiu 5%
Controle
O desenho de um programa de controle se baseia no conhecimento de alguns fatores: Dinâmica de transmissão estacional do parasita;
Relacionado ao sistema de manejo da propriedade.
O objetivo de qualquer programa seria de um controle preventivo, promovendo a descontaminação de metacercárias das pastagens, principalmente para categorias animais mais susceptíveis.
As medidas básicas englobam 3 fatores principais: Eliminação dos parasitas nos hospedeiros definitivos; Contras as formas livres do parasitas; Contras os moluscos.
Idade mínima da Fasciola
hepatica em relação à
eficácia do fasciolicida
FASCIOLICIDA
Período Parasitário:
Pré-Patente (sem eliminação de ovos)
Patente (com
eliminação de ovos)
Idade da Fasciola hepatica em semanas:
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
11
12
13
14
10 semanas Niclofolan,
Albendazole, Netobimim
8 semanas Nitroxynil, Clorsulon
6 semanas Rafoxanida,
Closantel
1 dia Triclabendazole
(10 mg/kg)
1 dia Diamphenetide
(100 mg/kg)
50 – 90 %
91 – 99 %
50 – 90 % 91 – 99 %
50 – 90 % 91 – 99 %
90 – 99 % 99 - 100 %
91 – 100 % 50 - 90 %
Controle no HD
Tratamento fasciolicida
Propriedades com alta incidência:
Animais jovens – até 2,5 anos
SET/OUT
JAN/FEV
MAI/JUN
TRICLABENDAZOLE
Animais adultos
SET/OUT
JAN/FEV
MAI/JUN
TRICLABENDAZOLE, CLOSANTEL OU NITROXYNIL
Controle no HD
Tratamento fasciolicida
Propriedades com média incidência:
Todos os animais
SET/OUT
MAI/JUN
TRICLABENDAZOLE, CLOSANTEL, NITROXYNIL
Controle das fases livres de F. hepatica
Cercar áreas com alta incidência dos moluscos, reduzindo a área de pastoreio dos animais;
Rotação do potreiros em combinação com tratamentos estratégicos;
Existe um forma de descontaminação das pastagens com animais limpos: Se introduz o rebanho não contaminado em uma pastagem
contaminada por um período não superior a 8 semanas;
Logo, os animais são transladados a potreiros não infectados e um período de pastoreio maior que 12 semanas;
Isto permite que todos os parasitas ingeridos na pastagem contaminada estejam adultos e altamente sensíveis aos tratamentos;
2 semanas antes de voltar aos campos contaminados, os animais devem ser dosificados, para assim evitar a recontaminação dos moluscos.
Controle dos moluscos
Controle químico:
São utilizados compostos como Niclosamida,
Pentaclorofenato de Sódio e N-tritylmorpholine;
Também é utilizado o Sulfato de Cobre;
A eficiência do controle químico é muito discutida devido ao grande potencial biótico dos moluscos.
Controle físico:
Alguns habitats podem ser reduzidos ou eliminados com
drenagem;
Canais devem ser limpos e cortada sua água em tempos de calor para diminuir a quantidade de moluscos.
Controle dos moluscos
Controle biológico:
Peixes como as carpas e outros moluscos dos gêneros Marisa e Pomacea – são predadores dos moluscos dos gêneros Lymnaea e Biomphalaria (como desvantagem podem virar pragas de arrozais e são possíveis HI de nematódeos e trematódeos);
Dipteros da família Sciomyzidae, espécie Sepedon macropus foram introduzidos na Nicarágua para controlar moluscos do gênero Lymnaea, HI da Fasciola gigantica;
Protozoários da ordem Microsporida são inimigos naturais das fases larvais no molusco, com potencial para suprimir totalmente a produção de cercárias em caramujos afetados;
Métodos alternativos de controle
Métodos de estimulação da resistência tem sido tentados em bovinos através da infecção experimental com metacercárias, obtendo percentuais de proteção a reinfecções sucessivas de 56 – 94%;
Com a utilização de extratos somáticos do parasita, conseguiu-se resistência à reinfecção na ordem de 99%;
A utilização de métodos integrados de controle, através de manejo dos animais, tratamentos fasciolicidas, drenagens, etc., aliados às características epidemiológicas regionais, constituem o caminho mais seguro para a prevenção e controle da Fasciolose.