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FOCOS AUTÓCTONES DE Fasciola hepatica NO MUNICÍPIO DE CAMPOS DOS GOYTACAZES, ESTADO DO RIO DE JANEIRO, BRASIL FRANCIMAR FERNANDES GOMES UNIVERSIDADE ESTADUAL DO NORTE FLUMINENSE DARCY RIBEIRO CAMPOS DOS GOYTACAZES – RJ FEVEREIRO - 2007

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FOCOS AUTÓCTONES DE Fasciola hepatica NO MUNICÍPIO DE

CAMPOS DOS GOYTACAZES, ESTADO DO RIO DE JANEIRO,

BRASIL

FRANCIMAR FERNANDES GOMES

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO NORTE FLUMINENSE DARCY RIBEIRO

CAMPOS DOS GOYTACAZES – RJ

FEVEREIRO - 2007

FOCOS AUTÓCTONES DE Fasciola hepatica NO MUNICÍPIO DE

CAMPOS DOS GOYTACAZES, ESTADO DO RIO DE JANEIRO,

BRASIL

FRANCIMAR FERNANDES GOMES

Tese apresentada ao Centro de Ciências e Tecnologias Agropecuárias da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro como parte das exigências para obtenção do título de Doutor em Produção Animal.

Orientador: Prof. Francisco Carlos Rodrigues de Oliveira

CAMPOS DOS GOYTACAZES – RJ FEVEREIRO - 2007

FOCOS AUTÓCTONES DE Fasciola hepatica NO MUNICÍPIO DE

CAMPOS DOS GOYTACAZES, ESTADO DO RIO DE JANEIRO,

BRASIL

FRANCIMAR FERNANDES GOMES

Tese apresentada ao Centro de Ciências e Tecnologias Agropecuárias da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro como parte das exigências para obtenção do título de Doutor em Produção Animal.

Aprovada em 26 de fevereiro de 2007.

Comissão Examinadora:

_____________________________________________________________

Prof. Carlos Wilson Gomes Lopes (Doutor, Patologia) - UFRRJ

___________________________________________________________________

Prof. Walter Flausino (Doutor, Parasitologia Veterinária) - UFRRJ

_______________________________________________________________

Prof. Cláudio Baptista de Carvalho (Doutor, Medicina Veterinária) - UENF

___________________________________________________________________

Prof. Francisco Carlos Rodrigues de Oliveira (Doutor, Parasitologia Veterinária) - UENF (Orientador)

ii

AGRADECIMENTOS

Agradeço ao Prof. Francisco Carlos Rodrigues de Oliveira, pela atenção,

dedicação como orientador, e pela confiança que depositou em minha pessoa,

transmitindo-me conhecimentos, no que se refere às pesquisas e à responsabilidade

científica.

À Profa. Maria Angélica Vieira da Costa Pereira, responsável por meus primeiros

contatos com a pesquisa e docência nesta Universidade.

Ao Prof. Carlos Eurico Travassos pela amizade e companheirismo demonstrado

durante minha trajetória na universidade.

Ao professores Antônio Peixoto Albernaz, Francisco Carlos Rodrigues de Oliveira

e Maria Angélica Vieira da Costa Pereira pelos convites para co-orientação de

monografias e participação em bancas examinadoras. Senti-me muito honrado.

Aos técnicos, funcionários e Amigos do Laboratório de Sanidade Animal, e

especialmente a Josias Alves Machado e Orlando Melo Junior pelo apoio moral e pelos

ensinamentos pertinentes a rotina do laboratório clínico.

À amiga Helaíne Haddad Simões Machado pelo período em que trocamos

conhecimentos e estreitamos os laços de amizade.

À amiga Luciana Lemos pela realização das fotografias e pelos incentivos

constantes dados a este trabalho.

iii

Aos companheiros de laboratório Edwards Frazão-Teixeira, Cristiane da Silva

Stabenow e às amigas de Pós-graduação, Ana Paula Delgado, Bianca Brand Ederli,

Ligia Cristina Chagas, Iliani Bianchi e Giselda Matos, meus sinceros agradecimentos.

Aos colegas Ronaldo Barreto Paes, Rachel Ingrid Juliboni Cosendey e Vagner

da Silva Fiuza pelos auxílios prestados no desenvolvimento deste trabalho.

Aos integrantes da Comissão Examinadora deste trabalho Professores Carlos

Wilson Gomes Lopes, Walter Flausino, Cláudio Baptista de Carvalho, Francisco Carlos

Rodrigues de Oliveira e Clóvis de Paula pelas considerações, correções e sugestões

dadas.

Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq.) e

Coordenação do Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) pelo suporte

financeiro.

À Elma Lucy Silveira Santana pela participação positiva e constante de noiva e

crítica, pelo apoio, estímulo, equilíbrio e motivação necessários para prosseguir meus

projetos profissionais.

Expresso toda a minha gratidão aos meus pais que apoiaram todas e quaisquer

decisões minhas, não tendo medido esforços para ensinar-me o essencial sendo os

grandes responsáveis pela educação que tenho hoje.

A todos que, de alguma forma, sugeriram, criticaram, incentivaram e colaboraram

direta ou indiretamente para a realização dessa pesquisa, meus sinceros

agradecimentos.

A Universidade Estadual do Norte Fluminense e a todos os seus Professores e

servidores técnico-administrativos que tão bem me acolheram neste importante período

de minha vida acadêmica.

E principalmente, a Deus por tudo de bom que tem me proporcionado ao longo

de minha vida.

iv

BIOGRAFIA

Francimar Fernandes Gomes, filho de Benedicto Gomes e Amarílis Fernandes

Gomes; nascido em 25 de fevereiro de 1976, no município de Campos dos Goytacazes,

Estado do Rio de Janeiro. Realizou o curso primário no Colégio Externato Campista

tendo concluído em 1986.

Cursou o ginásio no Liceu de Humanidades de Campos durante o período de

1987 a 1990 onde também concluiu o 2º grau no ano de 1993. Em 1995 ingressou no

curso de Medicina Veterinária da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy

Ribeiro tendo se profissionalizado no ano 2000.

Em 2001 iniciou o curso de Mestrado em Produção Animal na mesma

universidade onde adquiriu experiência em docência, colaborando nas disciplinas de

Zoologia Aplicada à Agropecuária, Inspeção de Produtos de Origem Animal,

Parasitologia Veterinária e Doenças Parasitárias dos Animais Domésticos.

Desenvolveu projetos de pesquisa no Laboratório de Sanidade Animal, como

bolsista da CAPES sob orientação do Prof. Francisco Carlos Rodrigues de Oliveira,

trabalhando com criação, identificação de moluscos e fatores predisponentes a causa

de fasciolose hepática tendo trabalhado até o mês de fevereiro de 2003.

v

Neste mesmo ano foi aprovado no Curso de Pós-Graduação em Produção

Animal em nível de doutorado, onde deu continuidade aos projetos de pesquisa

iniciados no mestrado. Em fevereiro de 2007 defendeu tese para obtenção do título de

Doutor em Produção Animal.

vi

CONTEÚDO

RESUMO........................................................................................................ viii

ABSTRACT..................................................................................................... ix

1. INTRODUÇÃO............................................................................................ 1

2. REVISÃO DE LITERATURA....................................................................... 4

2.1. Fatores climáticos............................................................................ 4

2.2. Fatores ambientais.......................................................................... 5

2.3. Achados de matadouros.................................................................. 5

2.4. Patologia.......................................................................................... 6

2.5. Diagnóstico sorológico e coproparasitológico................................. 7

3. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS........................................................... 9

4. TRABALHOS.............................................................................................. 14

4.1. RASTREABILIDADE DE PROPRIEDADES RURAIS PARA O

DIAGNÓSTICO DE FASCIOLOSE HEPÁTICA NO MUNICÍPIO

DE CAMPOS DOS GOYTACAZES, RJ, BRASIL..........................

15

vii

4.2. IDENTIFICAÇÃO DE FOCOS AUTÓCTONES DE Fasciola

hepatica PELO USO DE ANIMAIS TRAÇADORES (Ovis aries)

NO MUNICÍPIO DE CAMPOS DOS GOYTACAZES, RJ..............

28

4.3. CONHECIMENTOS TÉCNICOS SOBRE A PREVENÇÃO E

CONTROLE DA FASCIOLOSE NO MUNICÍPIO DE CAMPOS

DOS GOYTACAZES, RJ...............................................................

44

5. CONCLUSÕES GERAIS............................................................................ 60

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS....................................................................... 61

6.1. Erros não usuais............................................................................... 61

6.2. Sugestões para o controle................................................................ 63

viii

RESUMO

GOMES, Francimar, F., Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro; fevereiro de 2007; Focos autóctones de Fasciola hepatica no município de Campos dos Goytacazes, estado do Rio de Janeiro; Orientador: Prof. Francisco Carlos Rodrigues de Oliveira.

O presente trabalho foi dividido em três etapas. Na primeira foi realizado o rastreamento de

propriedades rurais suspeitas de serem focos autóctones de Fasciola hepatica segundo o

Serviço de Inspeção Estadual do município de Campos dos Goytacazes, RJ. Para tanto,

exemplares de Lymnaea columella foram coletados, dissecados e amostras fecais de

bovinos provenientes de 23 fazendas foram examinadas para a detecção de ovos do

parasito. Apesar dos resultados dos exames de fezes terem sido positivos para os animais

de grande parte das propriedades, nenhum foco autóctone foi assinalado já que a infecção

dos moluscos examinados não foi confirmada. Então, um segundo experimento foi

realizado, desta vez utilizando ovinos como traçadores em quatro propriedades. Constatou-

se a existência de três focos no distrito de Santa Maria, logo esta metodologia foi

considerada mais adequada para a identificação de casos autóctones em áreas

enzoóticas. Baseado nesses achados e no diagnóstico freqüente de fasciolose em bovinos

abatidos no município de Campos, RJ um terceiro trabalho foi realizado para identificar os

motivos pelos quais a enfermidade é altamente prevalente no município. Constatou-se que

os erros de manejo fruto do desconhecimento generalizado sobre a epidemiologia dessa

enfermidade são importantes fatores que predispõe sua ocorrência na região estudada.

Palavras-chave: Fasciola hepatica, Lymnaea columella , traçadores, inquéritos

ix

ABSTRACT

GOMES, Francimar, F., Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro; February 2007; Autochtonal foci of fascioliasis in the municipality of Campos dos Goytacazes, state of Rio de Janeiro, Brasil; Adviser: Prof. Francisco Carlos Rodrigues de Oliveira.

The present work was divided in three stages. In the first the search was accomplished by

several rural properties that in agreement with the State Inspection Service of the

municipality of Campos dos Goytacazes were suspicious of be autochtonal foci of

fascioliasis. For so much, specimens of Lymnaea columella were collected, dissected

and fecal samples of bovine coming of 23 farms were examined for the detection of

eggs of the parasite. In spite of the results of the exams of feces have been positive for

the animals of great part of the properties, no autochtonal foci was marked since the

infection of the examined mollusks was not confirmed. Then, a second experiment was

accomplished, this time using ovine as tracer in four properties. The existence of three

foci was verified in Santa Maria's district, soon this methodology was considered more

appropriate for the identification of autochtonal foci in enzootic areas. Based on those

discovered and in the frequent diagnosis of fascioliasis in bovine dead in Campos'

municipality a third work was accomplished to identify the reasons for the disease to be

highly prevalent and it was verified that the ignorance on the epidemiology of this illness is

one of the main risk factors for this to happen in the studied area.

Key words: Fasciola hepatica, Lymnaea columella, tracer, inquiries

1. INTRODUÇÃO

A fasciolose hepática, também conhecida como distomatose é uma das mais

importantes enfermidades parasitárias de bovinos (KITHUKA et al. 2002). Trata-se

de uma importante parasitose na saúde pública, haja vista sua inclusão na lista das

helmintose com grande impacto no desenvolvimento humano (MAS-COMA et al.

2005). É causada pelo parasito Fasciola hepatica, capaz de acometer diversas

espécies (SANTOS et al. 2000).

Esta enfermidade parasitária é cosmopolita (SERRA-FREIRE, 1995; GOMES

et al. 2002; CARRADA-BRAVO, 2003) e no Brasil foi assinalada em estados como

MG, RS, SC, PR, SP e RJ (SERRA FREIRE 1995).

Seu agente etiológico é um dos helmintos que mais causam prejuízos ao

rebanho brasileiro (ECHEVARRIA 1985; SERRA-FREIRE e NUERNBERG 1992),

pois limitam a criação de animais de interesse zootécnico (PILE et al. 2001).Trata-se

de um trematódeo pertencente ao Filo Platyhelmintes, que ao se desenvolver no

fígado dependendo do grau de comprometimento pode levar a severos quadros de

anemia trazendo como conseqüência à morte (BORDIN, 1995).

Os trematódeos digenea possuem um ciclo biológico complexo em que

obrigatoriamente dependem da presença de um molusco, gastrópode como primeiro

hospedeiro (BARBOSA 1995; QUEIROZ et al. 2002) e em geral podem infectar uma

enorme variedade de espécies (SERRA FREIRE, 1995).

2

Sabe-se que no Brasil os caramujos do gênero Lymnaea foram identificados

por diversos pesquisadores como hospedeiros intermediários (ARAUJO et al. 2002;

SOUZA e MAGALHÃES 2002) e segundo ECHEVARRIA (1985), a espécie L.

columella é a mais difundida no território brasileiro e L. viatrix está mais restrita a

região sul do país. Assim sendo, torna-se necessária à realização de estudos que

avaliem as causas que influenciam em sua dispersão e manutenção no ambiente.

Diversas são as causas que podem estar envolvidas na prevalência de fasciolose

em determinada região. Segundo GOMES et al. (2002), o município de Campos dos

Goytacazes reúne condições climáticas favoráveis, tanto à presença do molusco

hospedeiro intermediário quanto à infecção dos hospedeiros vertebrados, dentre

elas destacam-se os fatores meteorológicos como temperatura e precipitação

pluviométrica, no entanto, pensa-se na influência de outros fatores no município que

ainda não foram identificados ou discutidos. Alguns trabalhos apontaram o

trematódeo F. hepatica como um dos principais parasitos encontrados em salas de

abate no Brasil (SERRA-FREIRE 1995; GOMES et al. 2006; FILGUEIRA et al. 2006;

RABELLO et al. 2006).

A doença costuma ser descrita em locais baixos e úmidos, (GOMES et al.

2002) e devido a esse fato, pode facilmente se dispersar em áreas de planícies

como o da região norte fluminense.

Para que se tenha um conhecimento global da dinâmica de parasitoses, como

a fasciolose são necessários estudos prévios e sistemáticos dos fatores ecológicos

que favorecem a presença do hospedeiro intermediário no ambiente, já que estes

participam e condicionam ao ciclo (PILE et al. 1994). Deve-se também atentar para a

existência de espécies susceptíveis (SANTOS et al 2000), além da maneira como é

realizado o manejo sanitário (SANTOS FILHO, 1999).

Baseado nessas questões procurou-se identificar casos autóctones de

fasciolose hepática em áreas de risco estudando a biodinâmica populacional de L.

columella, realizando exames parasitológicos em amostras fecais de bovinos e

ovinos, além de necropsias em animais da espécie ovina que foram utilizados como

traçadores em algumas propriedades rurais. Procurou-se também avaliar a situação

do controle da verminose na região para que os resultados obtidos sirvam de base

para a conscientização de técnicos e produtores rurais quanto à importância da

realização de um controle estratégico adequado. Espera-se que em curto prazo

sejam estabelecidas medidas capazes de aumentar a produtividade do rebanho

3

bovino, bem como facilitar a expansão da ovinocultura na região Norte Fluminense já

que esta pode ser inviável, haja vista a susceptibilidade da espécie ovina a este

parasito (PARR e GRAY 2000) e o município de Campos dos Goytacazes ser um

dos mais enzoóticos do estado do Rio de Janeiro para essa enfermidade parasitária

(FILGUEIRA et al. 2006; GOMES et al. 2006).

4

2. REVISÃO DE LITERATURA

No Brasil a primeira citação do molusco do gênero Lymnaea foi feita por LUTZ

(1921) no Rio de Janeiro. Segundo alguns pesquisadores estes proliferam

rapidamente no ambiente devido à capacidade de autofecundação (EEDEN e

BROWN, 1966). Os locais onde foram encontrados foram descritos como sendo

habitats de pouca profundidade, pouca vegetação e pouca correnteza (GONZALES

et al. 1974). No Estado do Rio de Janeiro a presença de limneídeos foi descrita por

pesquisadores como PILE (1990) e GOMES e SERRA-FREIRE (2001).

2.1. Fatores climáticos.

Estes são importantes para a dinâmica populacional de moluscos. Autores

como MATTOS et al. (1997), afirmaram que o declínio da população de L. columella

coincide com o período de temperaturas altas e segundo AMATO et al. (1986), o

efeito negativo exercido pelas altas temperaturas é minimizado pelo aumento das

chuvas.

Em experimento realizado no campo PILE et al. (1998), estudaram entre os

anos de 1985 e 1990 os fatores que afetam e influenciam na dinâmica populacional

de L. columella na pastagem. Eles observaram no decorrer dos cinco primeiros anos

um grande número de moluscos no período seco de maio-outubro em uma fazenda

localizada no município de Piquete, Estado de São Paulo. Continuando os estudos

constataram no último ano para o município de Redenção da Serra que o maior

número de moluscos ocorreu no período das chuvas de janeiro a março, concluindo

assim que a dinâmica da população de moluscos está estreitamente relacionada a

fatores ecológicos e climáticos e estes diferem de uma localidade para outra.

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2.2. Fatores ambientais.

Na Austrália, PONDER (1975) descreveu pela primeira vez a presença de L.

columella na área metropolitana de Sidney, pensando que o seu aparecimento no

país deveu-se à importação de plantas aquáticas. Por sua vez, ESCUDERO et al.

(1985), revelaram a importância do conhecimento da flora e microbiota dos habitats

dos moluscos hospedeiros intermediários de F. hepatica, devido ao papel que a

vegetação possui no ciclo de vida destes animais. Ainda com referência aos

hospedeiros intermediários ABÍLIO e WATANABE, (1998), ao realizarem estudo

malacológico durante dois anos na cidade de Campina Grande no Estado da

Paraíba, assinalaram pela primeira vez a presença de L. columella associada a

raízes de macrófitas aquáticas. Segundo esses autores, o molusco tem preferência

por águas com valores de dureza total de 300mg CaCO3/l e alcalinidade média de

150 CaCO3/l.

2.3. Achados de matadouros

Não há uma constância mundial nas avaliações de prevalência de Fasciolose

nos hospedeiros vertebrados, contudo podem ser mencionados o registro de 10,5%

de casos em bovinos abatidos na Alemanha, entretanto no Chile foi observado

42,4% em bovinos, 19,58% em pequenos ruminantes (ovinos e caprinos) e 34,56%

em suínos. Em Portugal 21,4% das infecções foi observada em bovinos; 4,8% em

ovinos e caprinos e 0,3% em suínos e em Porto Rico 3,5% em bovinos (SERRA-

FREIRE 1995).

Considerando as primeiras citações sobre a prevalência da fasciolose em

animais de abate no Brasil, REY, (1957) registrou para o Estado do Rio Grande do

Sul um total de 2,24% de casos em 714.545 bovinos abatidos, bem como 10,1% em

um total de 941 bovinos no Estado de São Paulo. Depois destes, diversos outros

registros evidenciaram a prevalência dessa enfermidade através de achados de

matadouros (SERRA-FREIRE, 1995; GOMES et al. 2006; FILGUEIRA et al. 2006;

RABELLO et al. 2006 e).

Nos municípios da Região Norte Fluminense constata -se uma grande

preocupação quanto à possibilidade de aumento nos índices de prevalência dessa

enfermidade, dada a freqüência com que a mesma é diagnosticada em animais de

6

abate pelo serviço de Inspeção Estadual – S.I.E. (FILGUEIRA et al. 2006; RABELLO

et al. 2006).

Segundo RABELLO et al. (2006), a fasciolose tem sido considerada uma

parasitose enzoótica no Estado do Rio de Janeiro tendo as regiões Norte, Noroeste

e do Médio Paraíba como as principais regiões de ocorrência e de acordo com

FILGUEIRA et al. (2006), é a doença com maior número de notificações seguida da

cisticercose.

2.4. Patologia

Constatou-se em trabalho publicado por SERRA-FREIRE (1995), que o

período de incubação varia muito com a espécie do hospedeiro vertebrado,

destacando-se: 70 a 150 dias para bovinos, 54 a 65 dias para coelhos, 97 dias para

cobaios, 51 dias para ratos, 33 a 34 dias para hamster, 31 a 35 dias para

camundongos e 60 a 120 dias para ovinos.

Dentre as diferenças patológicas verificadas em ovinos e bovinos após a

infecção, ECHEVARRIA, (1985) destacou, o grau de calcificação das lesões

tissulares e a hiperplasia dos ductos biliares como reações mais evidentes em

bovinos. O autor destacou ainda que nesta espécie pode ocorrer uma recuperação

espontânea devido à calcificação dos ductos biliares que pode causar a inanição do

parasito.

SERRA-FREIRE (1995), argumentou que em ovinos a infecção dura

aproximadamente nove meses, mas em bovinos o período parasitário tende a ser

maior, sendo que nessa espécie a evolução é quase sempre crônica. O autor

também relatou que a movimentação das formas jovens é mais intensa entre 40 e 60

dias pós-ingestão das metacercárias, para ruminantes, e causa extensa destruição

do parênquima com marcada hemorragia e em casos de infecção maciça pode

ocorrer ruptura da cápsula de Glisson acompanhada de hemorragia para a cavidade

peritoneal; nessas condições a morte acontece em poucos dias e sem

sintomatologia aparente.

O fígado fica hipertrofiado, pálido, e com áreas de hemorragia superficial e

profunda. Em casos subagudos o parênquima fica repleto de canais de migração de

F. hepatica onde um infiltrado de leucócitos é bem evidente, somado ao início do

processo de fibrose. Esses sinais são visíveis nos hospedeiros vertebrados

7

independentemente de seu estado nutricional ou idade. Clinicamente o hospedeiro

vertebrado demonstra anorexia, dor no hipocôndrio direito, aumento do abdome e

movimenta-se pouco, podendo ter febre, eosinofïlia, aumento da concentração

sérica de enzimas hepáticas, evoluindo para cirrose no estágio crônico (SERRA-

FREIRE 1995).

A patologia em outros órgãos como o peritônio também pode ser observada e

de acordo com BORDIN (1995) está ligada a quantidade de metacercárias ingerida,

ao continuismo dessa ingestão e ao grau de resistência do hospedeiro, o qual

também está relacionado à idade. O autor também afirmou que o momento em que

F. hepatica erraticamente afeta os pulmões, resulta na formação de nódulos císticos

em níveis subpleurais no parênquima e mais raramente nos brônquios. Estes cistos

usualmente medem um cm de diâmetro e freqüentemente contêm mais de um

exemplar do parasito adulto, ocorrendo por vezes a formação de fístulas, pelas quais

os ovos do parasito escoam e atingem o lúmen bronquiolar. Nestes cistos, podem

ser observados tão-somente parasitos mortos ou ovos envolvidos por reação fibrosa.

2.5. Diagnostico clínico sorológico e coproparasitológico.

O diagnóstico clínico da fasciolose não é fácil já que sintomas como

emaciação, anorexia, anemia e perda de peso, não são característicos, dessa forma

sendo necessário a realização de diagnóstico diferencial com outras enfermidades

em que se evidenciam estas mesmas manifestações clínicas. Dependendo do

número de metacercárias ingeridas a fasciolose pode se manifestar sob três

diferentes formas: subaguda, aguda e crônica (SERRA-FREIRE 1995). Na fasciolose

aguda ou subaguda os sintomas clínicos não são muito específicos. Nesse caso o

diagnóstico clínico é praticamente impossível, no entanto, podem-se empregar

testes laboratoriais para mensurar o nível plasmático de enzimas, como a glutamato

desidrogenase – GLDH liberadas quando as células parenquimatosas são lesadas e

gamaglutamiltranspeptidase – * GT, que indica lesão das células que revestem os

ductos biliares (URQUHART et al. 1998). Nesse caso através de dosagem

enzimática pode-se acompanhar a mudança da fase aguda para a crônica.

Na fase crônica a fasciolose é facilmente diagnosticada pela presença de

ovos nas fezes. Várias técnicas para o diagnóstico coprológico da fasciolose

encontram-se descritas na literatura. Estas técnicas se baseiam nos princípios da

8

sedimentação e tamisação (FOREYT, 2005), no entanto, para o diagnóstico do

parasitismo crônico de fasciolose a técnica mais utilizada é a dos quatro tamises

descrita por GIRAO e UENO (1985), para a observação dos ovos nas fezes que

indica a presença de F. hepatica adulta nos ductos hepáticos e biliares.

De acordo com SERRA-FREIRE (1995), a prevalência de fasciolose pode ser

determinada por meio de exame de fezes com a visualização de ovos de F. hepatica

em propriedades rurais. Este autor demonstrou a existência de grande variação nos

índices de prevalecia citando os resultados de exames coproparasitológicos de

diversos outros pesquisadores.

Também pode ser citado o trabalho de AMATO et al. (1986) que no estado de

São Paulo, notadamente no município de Piquete encontrou 80% de bovinos

parasitados. Por sua vez, PILE (1990) comprovou a variação de 26,6 a 50,4% de

fasciolose bovina no município de Redenção da Serra. Pesquisas também foram

realizadas no Estado de Santa Catarina, por SERRA-FREIRE e NUERNBERG

(1992) que divulgaram índices de 27,86% para bovinos, 24,72% para bubalinos,

16,92% para ovinos e 15,66% para caprinos relativos a 12 anos de investigação e

finalmente, para o Estado do Rio de Janeiro, NUERNBERG et al. (1983),

assinalaram prevalência de 35,8% para bovinos no município de Três Rios.

9

3. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABÍLIO, F.J. P e WATANABE, T. (1998) Ocorrência de Lymnaea columella

(Gastropoda: Lymnaeidae), hospedeiro intermediário da Fasciola hepatica para

o Estado da Paraíba, Brasil. Rev. Saúde Públ., 32 (2): 184–185.

AMATO, S. B. ; REZENDE, H. E. B. de ; GOMES, D. C. e SERRA FREIRE, N, M. da

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ARAUJO, S.M.; PILE, E.A.M.; BARROS, J.S.L.; SANTOS, J.A.A.; VASCONCELLOS,

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BARBOSA, F.S. (1995). Tópicos em malacologia médica, Rio de. Janeiro: Fiocruz,

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BORDIN, E. L (1995) Revisão da Anatomia Patológica da fasciolose bovina. Hora

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CARRADA-BRAVO, T. (2003) Fascioliasis: diagnosis, epidemiology and treatment.

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ECHEVARRIA, F. A. (1985) Fasciolose: ocorrência, diagnóstico e controle. Agroq.

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10

ESCUDERO, J. L. e CRESPO, R. F. (1985). Flora y microflora de tres habitats de

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Téc. Pec. Méx., 49: 157 – 159.

EDDEN, J. A. V. e BROWN, D. S. (1966). Colonization of fresh water in the Republic

of South Africa by Lymnaea columella Say (Mollusca: Gastropoda). Nature, 210:

1172 – 1173.

FILGUEIRA, I. L.; PEREIRA, L. A.; RABELLO, R. S.; PITTIGLIANI, T. M. C. GITTI, C.

B. (2006) Prevalência das principais doenças relatadas em matadouros com

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FOREYT, W.J. Parasitologia veterinária: manual de referência. 5ª edição. São Paulo.

Roca, 2005. 240p.

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coprológico quantitativo da fasciolose em ruminantes. Pesq. Agropec. Bras., 120:

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GOMES, F. F.; OLIVEIRA, F. C. R; MAURE-PILE, E. P.; LOPES, C. W. G. (2002)

Estabelecimento de foco de Fasciolose hepática em propriedade do município

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14

4. TRABALHOS

Os trabalhos serão enviados para publicação respectivamente nas revistas

abaixo relacionadas:

4.1. Revista Brasileira de Parasitologia Veterinária;

4.2. Ciência Rural;

4.3. Arquivo Brasileiro de Medicina Veteriná ria e Zootecnia.

15

RASTREABILIDADE DE PROPRIEDADES RURAIS PARA O DIAGNÓSTICO DE

FASCIOLOSE HEPÁTICA NO MUNICÍPIO DE CAMPOS DOS GOYTACAZES, RJ,

BRASIL

Francimar F. Gomes1; Vagner Ricardo da S. Fiuza1; Francisco Carlos R. de

Oliveira2; Carlos Wilson G. Lopes3; Ronaldo B. Paes4

ABSTRACT: - GOMES, F.F; FIUZA, V.R. da S; OLIVEIRA, F.C.R. de; LOPES,

C.W.G.; PAES, R.B. Tracking ability of rural properties for fascioliasis's diagnosis in

the municipality of Campos dos Goytacazes, RJ, Brazil. In the year of 2001 the State

Inspection Service (S.I.E.) identified 41 rural properties at different municipalities at

the Fluminense North region as being potential foci of fascioliasis. Among these, 23

belonged to the municipality of Campos dos Goytacazes. During the period from

March 2002 to December 2004 at the municipality of Campos dos Goytacazes were

tracked confirm by fecal examination to identify positive animals by using the

technique of four sieves, as well as the withdrawal of snails of the genus Lymnaea for

recovering larval stages. The results were coincided with accomplished S.I.E.,

because they indicated the presence of positive animals in 17 (74%) of the farms

being 8 (47%) from Santa Maria, 5 (29%) from Morro do Coco and 4 (24%) from

Santo Eduardo. The presence of the species Lymnaea columella was only verified in

three located rural properties in Santa Maria's district however, no mollusk was

sponged by larval forms of Fasciola hepatica, so the existence of autochthonal cases

was not confirmed.

KEY WORDS: Fasciola hepatica, epidemiology, Lymnaea columella, ruminant,

bovine.

RESUMO

No ano de 2001 foram identificadas pelo Serviço de Inspeção Estadual (S.I.E.) 41

propriedades rurais distribuídas em diversos municípios da região Norte Fluminense

1 Curso de Pós Graduação em Produção Animal. Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (UENF). Avenida

Alberto Lamego, 2000, Horto – Cep 28015620, Campos dos Goytacazes, RJ. E-mail: [email protected] 2 Laboratório de Sanidade Animal / CCTA / UENF. E-mail: [email protected] 3 Departamento de Parasitologia Animal/ IV/ UFRRJ. 4 Secretaria de Agricultura, Abastecimento, Pesca e Desenvolvimento do Interior do Estado do Rio de Janeiro / SEAAPI-RJ

16

como sendo potenciais focos de fasciolose hepática. Dentre estas, 23 pertenciam ao

município de Campos dos Goytacazes. Durante o período compreendido entre os

meses de março de 2002 e dezembro de 2004 as propriedades localizadas neste

município foram rastreadas para a confirmação de casos através da coleta de

amostras fecais de bovinos para a realização de exames pela técnica dos quatro

tamises, bem como o recolhimento de moluscos do gênero Lymnaea para sua

dissecação. Os resultados coproparasitológicos coincidiram na maioria das vezes

com os diagnósticos anatomopatológicos realizados pelo S.I.E., pois indicaram a

presença de animais parasitados em 17 (74%) das fazendas e destas, 8 (47%)

pertenciam às localidades de Santa Maria, 5 (29%) em Morro do Coco e 4 (24%)

Santo Eduardo. A presença da espécie Lymnaea columella foi constatada somente

em três propriedades rurais localizadas no distrito de Santa Maria, no entanto

nenhum molusco estava parasitado por formas larvais de Fasciola hepatica, logo a

existência de casos autóctones não foi confirmada.

PALAVRAS CHAVE: Fasciola hepatica, epidemiologia, Lymnaea columella,

ruminantes, bovinos

INTRODUÇÃO

A rastreabilidade é um sistema de controle de animais que permite sua

identificação no local de origem desde o nascimento até o abate, registrando todas

as ocorrências relevantes ao longo de sua vida. De acordo com Pires (2000), essa

prática possui importante papel nas campanhas de erradicação de doenças, uma

vez que permite a atuação imediata dos órgãos de defesa sanitária, possibilitando

assim, o monitoramento e o controle de diversas enfermidades de maneira mais

efetiva.

No que se refere a parasitoses como a fasciolose hepática, sabe-se que sua

ocorrência em animais vertebrados depende da viabilidade das formas infectantes

do parasito, bem como da sobrevivência das espécies de moluscos do gênero

Lymnaea na pastagem, e a presença destes está diretamente relacionada a fatores

ecológicos e climáticos (MAURE-PILE et al. 1998).

Após o estudo da relação existente entre alguns fatores climáticos e a

dinâmica populacional de Lymnaea columella em propriedade rural localizada no

17

município de Campos, RJ, Gomes et al. (2002), registraram no distrito de Santa

Maria o primeiro caso autóctone de fasciolose da região. Os autores destacaram

ainda a possibilidade de existência de outros focos, no município, haja vista as

freqüentes condenações de fígado registradas pelo Serviço de Inspeção Estadual

(S.I.E) para bovinos provenientes dessa localidade. Esses fatos serviram de

incentivo para a realização da presente pesquisa que teve como objetivo encontrar

outros focos de F. hepatica no município em áreas destacadas pelo S.I.E como

sendo de potencial enzoótico.

MATERIAL E MÉTODOS

Local e período de estudo: o trabalho foi conduzido entre os anos de 2002 e

2004, tomando-se por base os dados de condenações de fígados coletados junto ao

(S.I.E) da Superintendência de Defesa Agropecuária do Estado do Rio de Janeiro.

Estes foram relativos aos estabelecimentos Frigorífico Guarus Ltda e Matadouro

Frigorífico de Campos Ltda localizados no município de Campos dos Goytacazes,

RJ. Dessa forma, rastreamentos sistemáticos das propriedades caracterizadas

nestes matadouros como possíveis focos de fasciolose hepática foram realizados.

As propriedades em que o molusco hospedeiro intermediário foi encontrado tiveram

suas coordenadas demarcadas por um guia de posicionamento por satélite - GPS

(eTREX® GARMIN).

Amostragem, coleta e transporte de material: decidiu-se que em cada

fazenda seriam coletadas amostras fecais por conveniência de 10% do rebanho,

entretanto em propriedades com rebanhos muito grandes estabeleceu-se a coleta o

máximo de 30 amostras. Para a coleta foram selecionados por conveniência bovinos

de aproximadamente um ano de idade. As amostras fecais foram coletadas

diretamente da ampola retal dos animais, com auxílio de sacos plásticos de tamanho

15x30cm contendo a identificação da fazenda. Os sacos foram invertidos,

acondicionados em caixa de isolamento térmico com gelo e transportados até o

Setor de Clínica Médica do Laboratório de Sanidade Animal (LSA) no Centro de

Ciências e Tecnologias Agropecuárias (CCTA) da Universidade Estadual do Norte

Fluminense Darcy Ribeiro (UENF) e depois de catalogadas, cada amostra foi

homogeneizada e processada para pesquisa de ovos do trematóide. A técnica

18

empregada para a detecção dos ovos foi a de Quatro Tamises descrita por Girão e

Ueno, (1985), utilizando para contraste o corante Verde de Metila.

Coleta dos moluscos: os espécimes foram encontrados nas propriedades

visitadas, contados, classificados e separados por gênero com base em suas

características de morfologia externa. Alguns eram recolhidos das raízes da

vegetação aquática onde se encontravam aderidos, outros eram obtidos após o

agito do substrato de fundo (lama) a uma profundidade de até 20 cm utilizando para

isso uma haste de madeira rígida. Após alguns segundos os moluscos que

sobrenadavam eram coletados e transportados de acordo com a técnica citada por

Thiengo (1995).

Identificação de fauna malacológica: A identificação quanto ao gênero foi

feita com base em aspectos da morfologia externa de concha (REY, 2002) e a

identificação das espécies de Lymnaea baseada nas descrições feitas por Paraense

(1983).

Exame dos moluscos: cada molusco capturado foi colocado individualmente

em uma placa de Petri de 100 x 20 mm, e a dissecção feita após o esmagamento de

seus tecidos mediante o uso de uma lâmina de vidro. Em seguida os fragmentos da

concha eram retirados com o auxílio de uma pinça e as vísceras examinadas sob a

luz de um microscópio estereoscópico, para evidenciar as formas larvais de F.

hepatica (SOUZA et al. 2002).

RESULTADOS

Das 23 propriedades rurais rastreadas no Município de Campos, RJ para a

coleta e exame de amostras fecais, a infecção de bovinos foi constatada em 17

(74%) delas. A maioria localizada no distrito de Santa Maria 8 (47%) e parte delas

nos distritos de Morro do Coco 5 (29%) e Santo Eduardo 4 (24%) respectivamente

(Tabela 1 e Figura 1).

19

Tabela 1. Número de propriedades identificadas pelo Serviço de Inspeção Estadual

(S.I.E) como potenciais focos de fasciolose no município de Campos dos

Goytacazes e confirmação de casos através de exames de amostras

fecais.

.

Propriedades

Rastreadas Positivas Distritos

n % n %

Murundu 1 4 0 0

Morro do Coco 7 31 5 29

Santo Eduardo 4 17 4 24

Santa Maria 11 48 8 47

Total 23 100 17 100

20

Figura 1- Distritos do município de Campos dos Goytacazes, com casos de bovinos

portadores de Fasciola hepatica assinalados pelo Serviço de Inspeção

Estadual (S.I.E).

3

1

2

LEGENDA

n Brasil

n Rio de Janeiro

n Campos do Goytacazes

1. Morro do Coco

2. Santo Eduardo

3. Santa Maria

3

1

2

LEGENDA

n Brasil

n Rio de Janeiro

n Campos do Goytacazes

1. Morro do Coco

2. Santo Eduardo

3. Santa Maria

21

No total foram encontrados seis moluscos da espécie L. columella distribuídos

em três propriedades rurais (Figura 2), localizadas no distrito de Santa Maria, no

entanto nenhum exemplar estava parasitado (Tabela 2).

Figura 2- Distribuição espacial de propriedades do distrito de Santa Maria em

Campos dos Goytacazes-RJ, onde foram encontrados exemplares de

Lymnaea columela

Rio de Janeiro-BrasilRio de Janeiro-Brasil

22

Tabela 2- Locais onde foram encontrados exemplares de Lymnaea columella,

durante os meses de setembro e outubro de 2004, no município de

Campos dos Goytacazes-RJ.

Coordenadas Lymnaea columella Propriedades1

Latitude sul Longitude oeste Encontradas Parasitadas

1 21º18.60’ 41º27.62’ 1 nenhuma

2 21º17.71’ 41º31.61’ 4 nenhuma

3 21º12.36’ 41º27.39’ 1 nenhuma 1Todas localizadas no distrito de Santa Maria

DISCUSSÃO

Poder-se-ia perguntar sobre a real necessidade de se rastrear e diagnosticar

casos de fasciolose pelo método coproparasitológico em propriedades já apontadas

pelo S.I.E. como enzoóticas para essa enfermidade. A explicação decorre da

necessidade em confirmar se de fato a fasciolose ocorre nesses locais, haja vista o

fato da identificação de focos baseada apenas nas informações do S.I.E e as

contidas na Guia de Trânsito Animal – GTA não ser um critério 100% confiável. De

acordo com alguns técnicos dos serviços de Defesa e Inspeção Sanitária do

município de Campos, RJ, existe a possibilidade dos frigoríficos receberem animais

cuja origem verdadeira é negligenciada, o que torna inviável afirmar com segurança

se a infecção dos animais ocorreu no local especificado pelo matadouro.

Sabe-se que oficialmente a freqüência de algumas enfermidades parasitárias

como a fasciolose via de regra é determinada a partir dos achados de matança dos

serviços de inspeção sanitária (PHIRI et al. 2005). Contudo, dependendo do

problema enfrentado pelo produtor pode haver resistência em destinar os animais

para abate em frigoríficos. Dessa forma eles evitam as perdas econômicas

decorrentes de eventuais condenações (GONZALEZ et al. 1990), no entanto, isso

23

contribui para que os dados oficiais sejam subestimados, já que muitos animais

passam a ser abatidos clandestinamente (BESBES et al. 2003).

Segundo Lopes, (1997) a identificação segura dos animais é a base para o

controle da produção. Nesse caso, o rastreamento do local de origem para a

realização de exames coproparasitológicos minimiza as chances de obtenção de

informações fraudulentas quanto à origem do problema, haja vista que o

pesquisador tem a opção de selecionar animais nascidos e criados na fazenda para

a coleta de amostras, bem como atentar para as informações prestadas pelo criador

de maneira mais adequada, no entanto, apesar das vantagens citadas, a

identificação de casos autóctones nesse caso também não tem 100% de

confiabilidade, já que depende do interesse do proprietário em prestar informações

fidedignas quanto ao local de nascimento e criação dos animais selecionados na

pesquisa.

Um critério 100% seguro para a identificação de casos autóctones é a

constatação da infecção do hospedeiro intermediário (GOMES et al. 2002;

PREPELITCHI et al. 2004), daí a importância da coleta de moluscos do gênero

Lymnaea na propriedade para a realização de exames, (Tabela 2). Basta lembrar

que de acordo com os dados do S.I.E, haviam 23 potenciais focos de F. hepatica no

município e a partir do momento em que esses locais foram rastreados, constatou-se

a presença de L. columella em apenas três fazendas e estas passaram a ser

consideradas importantes do ponto de vista epidemiológico.

Ressalta-se, que as outras 20 fazendas não devem ser consideradas menos

importantes na cadeia de transmissão da fasciolose, haja vista que ficam localizadas

em áreas que historicamente são consideradas enzoóticas pelo S.I.E, além disso, a

busca de L. columella não foi feita mensalmente em todas as propriedades, somente

na ocasião da coleta das fezes dos bovinos e posteriormente concentradas entre os

meses de setembro e outubro, época que segundo Gomes et al. (2002), é a mais

adequada para o encontro dessa espécie na região por corresponder a um período

de maior densidade populacional.

Provavelmente o encontro de apenas seis moluscos no período considerado

favorável seja decorrente de alterações físico-químicas como pH e oxigenação da

água ou algum outro fator que não foi observado nessa pesquisa. Pensa-se também

na hipótese de que os moluscos poderiam ter sido encontrados em épocas não

favoráveis, já que Maure et al. (1998), reportaram esse fato citando como exemplo o

24

aumento de temperatura típico do verão, pois este exerce um efeito negativo sobre a

população de limneídeos. Segundo esses autores, o aumento nos índices de

precipitação pluviométrica que comumente ocorre em determinadas localidades

nessa época do ano pode minimizar o efeito negativo da temperatura fazendo com

que a população de moluscos não diminua.

É importante salientar que o monitoramento mensal de 23 propriedades rurais

para levantamento de fauna malacológica e coleta de amostras para exame

laboratorial foi inviável do ponto de vista prático, já que se tratava de um numero

grande de fazendas, que demandavam tempo, gastos com combustível, pessoal

bem treinado, bem como o uso de veículos que nem sempre estavam disponíveis.

Dessa forma procurou-se na ocasião da visita ensinar aos proprietários rurais e

campeiros das fazendas a reconhecer o molusco transmissor através de suas

características de morfologia externa (PARAENSE, 1983; REY 2002). Para tanto, em

cada fazenda foi deixado um frasco contendo conchas vazias de L. columella e

assim os proprietários poderiam fazer o monitoramento, e solicitar a presença de

serviço técnico especializado em caso de aumento da população do molusco.

Os profissionais de saúde pública devem servir-se de métodos

epidemiológicos, como a rastreabilidade para a investigação dos fatores de risco na

causa de enfermidades zoonóticas como a fasciolose, pois segundo Pires (2000),

essa pratica assume importante papel nas campanhas de erradicação de doenças.

Nesta pesquisa, o critério do rastreamento comprovou ser útil para o encontro

de possíveis focos de fasciolose, já que os resultados dos exames

coproparasitológicos confirmaram na maioria das vezes os diagnósticos

anatomopatológicos realizados do S.I.E, quanto à ocorrência da doença nas

localidades de Morro do Coco, Santa Maria e Santo Eduardo.

A integração entre os médicos veterinários responsáveis pela Inspeção

sanitária e os que atuam na Defesa Sanitária Animal valoriza as atividades inerentes

ao procedimento de rastreamento, pois aliado ao apoio laboratorial estabelece a

informação contínua de dados promovendo o melhor controle das doenças (DIAS,

1995). A continuidade dessa pesquisa é de extrema relevância para o conhecimento

da real prevalência da doença no município, haja vista que até o momento apenas

um foco autóctone foi assinalado na região (GOMES et al. 2002).

Dentre as limitações observadas na presente pesquisa, destaca-se a

sensibilidade de L. columella às variações climáticas como fora observado por

25

Gomes et al. (2002) e Maure-Pile et al. (1998). Caso esta espécie sobrevivesse

durante todo o ano na pastagem, serviria como um ótimo modelo experimental para

a identificação de focos autóctones em propriedades rurais a custos relativamente

baixos, no entanto, isso não foi verificado nesta pesquisa, haja vista que durante

quase três anos de estudo somente seis exemplares foram encontrados em um total

de 23 propriedades rurais visitadas.

Nesse caso, a introdução de animais vertebrados altamente sensíveis ao

parasito e sabidamente não infectados utilizados como traçadores em localidades

reconhecidas pelo S.I.E como enzoóticas para a fasciolose hepática seria de grande

valia, já que sua mortalidade não está condicionada às variações de temperatura

como fora observado para o molusco. Nesse caso as limitações observadas no

presente trabalho não seriam problema com a vantagem dos resultados serem 100%

confiáveis, logo o uso de animais traçadores pode ser uma metodologia útil a ser

avaliada em trabalhos futuros na região.

CONCLUSÃO

Os resultados dos exames coproparasitológicos dos bovinos provenientes dos

distritos estudados coincidiram na maioria das vezes com os resultados dos

diagnósticos anatomopatológicos realizados pelo S.I.E em nível de sala de abate,

sugerindo serem estas áreas altamente ezoóticas para F. hepatica.

Embora não tenham sido encontrados casos autóctones de F. hepatica na

região estudada pelo encontro de rédias e cercarias em L. columella, o achado desta

espécie em três propriedades aliado aos resultados dos exames fecais sugerem a

provável existência de focos autóctones, dessa forma, novos estudos são

necessários para a comprovação desta hipótese.

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28

IDENTIFICAÇÃO DE FOCOS AUTÓCTONES DE Fasciola hepatica PELO USO

DE ANIMAIS TRAÇADORES (Ovis aries) NO MUNICÍPIO DE CAMPOS DOS

GOYTACAZES, RJ.*

IDENTIFICATION OF AUTOCHTHONAL FOCI OF Fasciola hepatica FOR THE

USE OF TRACER ANIMALS (Ovis aries) IN THE MUNICIPALITY OF CAMPOS

DOS GOYTACAZES, RJ.

Francimar F. Gomes1; Vagner Ricardo da S. Fiuza1; Rachel Ingrid J. Cosendey1;

Francisco Carlos R. de Oliveira2; Ronaldo B. Paes3

RESUMO

Durante o período de junho de 2005 a dezembro de 2006 um estudo para a

identificação de focos autóctones de Fasciola hepatica foi realizado no município de

Campos dos Goytacazes, localizado na região Norte do estado do Rio de Janeiro.

Para tanto, 12 ovinos da raça Santa Inês sabidamente não parasitados pelo

trematoda foram utilizados como traçadores sendo divididos em quatro grupos

contendo três animais. Cada grupo foi introduzido em uma propriedade onde

mensalmente amostras fecais dos ovinos eram coletadas para exame visando a

detecção de ovos do parasito. Procedeu-se também a busca de moluscos da

espécie Lymnaea columella para a realização de dissecação visando encontro de

rédias e cercárias. Através do exame de fezes constatou-se a infecção de sete

ovinos, no entanto, dentre os moluscos examinados, nenhum estava parasitado.

Confirmou-se a existência de três focos autóctones de F. hepatica, todos localizados

no distrito de Santa Maria.

PALAVRAS CHAVE: Fasciola hepatica, Lymnaea columella, ovinos, ruminantes

* Sob o auspício da Capes / Cnpq 1 Curso de Pós Graduação em Produção Animal. Univ ersidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (UENF). Avenida Alberto

Lamego, 2000/ Cep – 28013-602. .Parque Califórnia. Tel (22) 2726-1679. Fax (22) 2726-1673. E-mail: [email protected] 2 Laboratório de Sanidade Animal / CCTA / UENF. E-mail: [email protected] 3 Secretaria de Agricultura, Abastecimento, Pesca e Desenvolvimento do Interior do Estado do Rio de Janeiro / SEAAPI-RJ

29

ABSTRACT

During the period of June 2005 to December 2006 a study for the identification of

autochthonal foci of Fasciola hepatica was accomplished in the municipality of

Campos dos Goytacazes, located in the North area of the state of Rio de Janeiro. For

so much, 12 ovine of the race Santa Inês knowingly no sponged by the trematoda

were used as tracer being divided in four groups containing three animals. Each

group was introduced in a property where monthly fecal samples of the ovine were

collected for exam seeking the detection of eggs of the parasite. It also proceeded

the search of snail of the species Lymnaea columella for the dissection

accomplishment seeking redias encounter and cercarias. Through the exam of feces

the infection of seven ovine was verified, however, among the examined snail, none

was sponged. The existence of three autochthonal foci of F. hepatica was confirmed,

all in Santa Maria's district.

KEY WORDS: Fasciola hepatica, Lymnaea columella, ovine, ruminant

INTRODUÇÃO:

A utilização de ovinos como sentinelas para a detecção de formas infectantes

de parasitos na pastagem tem sido uma prática comumente descrita por diversos

pesquisadores no mundo (MEEK e MORRIS, 1979; SMITH, 1981; LEMMA, 1985 e

AMATO et al. 1986). Podem ser citados os trabalhos de PARR e GRAY (2000), que

na Irlanda constataram a infecção de ovinos em duas propriedades com histórico de

fasciolose, além de experimentos como o de CROSSLAND (1976), que constatou a

existência de diferença significativa entre o número de parasitos coletados em

fígados de cordeiros mantidos em pasto submetido a tratamento moluscicida em

relação aos mantidos em pasto não tratado.

No que concerne a realização de levantamentos epidemiológicos para o

diagnóstico da fasciolose sabe-se que a utilização de animais traçadores é útil para

estimar o grau de contaminação da pastagem com metacercárias (PILE et al. 2001),

identificar as épocas de maior disponibilidade destas no ambiente, além de permitir a

identificação de focos autóctones da doença SUON et al. (2006).

30

No Brasil, a maioria dos casos de fasciolose hepática é diagnosticada em

matadouros e frigoríficos fiscalizados pelos Serviços de Inspeção Sanitária

(FILGUEIRA et al. 2006; GOMES et al. 2006; RABELLO et al. 2006). Levantamentos

coproparasitológicos e dissecação de moluscos do gênero Lymnaea também são

realizados (GOMES et al. 2002; OLIVEIRA et al. 2002), no entanto o uso de animais

traçadores em propriedades rurais com esse mesmo objetivo praticamente não é

observado.

Recentemente a ovinocultura foi introduzida, em muitas fazendas da região

Norte e Noroeste do estado do Rio de Janeiro, como fonte complementar à

bovinocultura. Talvez, este crescimento esteja associado à facilidade de adaptação

que algumas raças apresentam em ambientes adversos, constituindo assim uma

alternativa de renda para os produtores rurais. Entretanto, as helmintoses, são

importantes fatores limitadores da criação de ruminantes que geram perdas

econômicas significativas por acarretar retardo no crescimento, gastos com

medicamentos, diminuição na produção e mortalidade (DAEMON e SERRA FREIRE

1992).

Sabendo disso e com base na informação do Serviço de Inspeção Estadual –

(S.I.E.) quanto à possibilidade de localidades como Santa Maria e Mata da Cruz no

Município de Campos dos Goytacazes, RJ serem potenciais áreas de risco na

transmissão de fasciolose decidiu-se pela realização do presente trabalho que teve

como objetivo confirmar à existência de focos autóctones de fasciolose nessas

regiões, haja vista que até o presente somente um caso foi confirmado por GOMES

et al. (2002) no município. Paralelamente procurou-se avaliar os possíveis

transtornos para a criação de ovinos na região considerada.

MATERIAL E MÉTODOS

Local e período de estudo. O estudo foi realizado em quatro propriedades,

localizadas no distrito de Santa Maria, pertencentes ao município de Campos dos

Goytacazes-RJ durante o período de junho de 2005 a dezembro de 2006.

Amostragem dos animais. Inicialmente doze ovinos da raça Santa Inês

foram selecionados por conveniência em uma propriedade sem histórico de

fasciolose para serem utilizados como animais traçadores. Estes foram submetidos a

31

um período de quarentena de três meses na fazenda de origem para confirmação da

ausência de parasitismo por Fasciola hepatica mediante o exame mensal de

amostras fecais.

Coleta, exame de fezes e vermifugação. As amostras eram retiradas

diretamente da ampola retal dos animais, acondicionadas em caixa de isolamento

térmico com gelo e encaminhadas para o setor de Clínica Médica do Laboratório de

Sanidade Animal (LSA), do Centro de Ciências e Tecnologias Agropecuárias (CCTA)

da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (UENF), onde foram

examinadas para a detecção de ovos do parasito, através da técnica dos Quatro

Tamises descrita por GIRÃO e UENO (1985).

Após a constatação da ausência de parasitismo por estágios adultos de F.

hepatica durante o período de quarentena, os animais foram pesados, e em caráter

preventivo vermifugados com medicamento a base de triclabendazole na dosagem

de 12mg/kg de peso vivo. Posteriormente foram separados em quatro grupos

contendo três animais e cada grupo foi encaminhado para uma propriedade e

introduzido no rebanho de ovinos existente. Mensalmente amostras fecais dos

ovinos foram recolhidas, identificadas e levadas ao laboratório visando o encontro de

ovos de F. hepatica.

Coleta e identificação de Lymnaea columella. Durante todo o período de

estudo as coleções hídricas da propriedade onde os animais bebiam água foram

mensalmente vistoriadas na tentativa de encontrar o molusco hospedeiro

intermediário da espécie L. columella. Estes quando encontrados foram recolhidos,

contados e transportados para o laboratório segundo a técnica citada por THIENGO,

(1995).

A identificação quanto ao gênero foi feita com base em aspectos da

morfologia externa de concha (REY, 2002) e a identificação da espécie L. columella

baseada nas descrições feitas por PARAENSE, (1983).

Exame dos moluscos: Cada molusco capturado foi colocado em placa de

Petri de 100 x 20 mm, pressionado com o auxílio de uma lâmina de vidro, e os

fragmentos de concha retirados com o auxílio de uma pinça. As vísceras foram

dissecadas e examinadas sob a luz de um microscópio estereoscópico, para

evidenciar formas larvais de F. hepatica, conforme o descrito em trabalhos como os

de SOUZA et al. (2002).

32

Diagnóstico anatomopatológico. Após a constatação do parasitismo crônico

através do exame de fezes, os ovinos foram encaminhados para as dependências

da UENF e mantidos presos até a data do abate que foi realizado conforme os

princípios éticos postulados pelo Colégio Brasileiro de Experimentação Animal

(COBEA). Na ocasião foram feitas incisões ao longo dos ductos hepáticos e biliares

com auxílio de tesoura de ponta fina e os espécimes recolhidos foram contados.

Dados meteorológicos. Dados climáticos referentes ao ano de 2006 foram

obtidos do posto climatológico do campus Dr. Leonel Miranda – UFRRJ no município

de Campos dos Goytacazes – RJ e confrontados com os resultados obtidos no

campo.

RESULTADOS

Onze meses após o início do experimento a campo (maio) o primeiro foco

autóctone foi assinalado, mediante a constatação da presença de ovos de F.

hepatica (Figura 1) em duas amostras fecais recolhidas na propriedade de nº 1

(Tabela 1). Nos meses de julho e agosto outros dois casos autóctones foram

confirmados nas fazendas de número 2 e 3 respectivamente.

33

Figura 1. Ovo de Fasciola hepatica encontrado em uma amostra fecal de ovino

traçador naturalmente infectado, utilizando-se a técnica de Girão e Ueno

(1985). 400 x.

34

Moluscos do gênero Lymnaea foram encontrados em duas propriedades

dentre as quatro avaliadas, entretanto, nenhum exemplar estava parasitado por

formais larvais de F. hepatica (Tabela 1).

Tabela 1. Focos autóctones de Fasciola hepatica identificados mediante a

realização de esmagamento e dissecação de Lymnaea columella,

exames de amostras fecais e necropsias de ovinos.

L. columella Identificação Exame Parasitos Fazenda Coordenadas n Parasitadas dos ovinos de fezes no fígado

1 21º 12. 36’ S 1 Não 1 Positivo 9

41º 27. 39 O 2 Positivo 8 3 Positivo * 2 21º18.60’ S 1 Não 1 Positivo 4 41º27.62’ O 2 Negativo * 3 Positivo 5 3 21º18.50’ S Nenhuma _ 1 Negativo nenhum 41º27.59’ O 2 Negativo 5 3 Negativo 6 4 21º20.08’ S Nenhuma _ 1 Negativo nenhum 41º26.84 O 2 Negativo nenhum 3 Negativo *

* Não necropsiado

35

O período mais propício para o diagnóstico do parasitismo correspondeu

ao de menor precipitação pluviométrica tendo-se encontrado animais positivos

nos meses de maio, julho e agosto nas respectivas fazendas (Figura 2).

Figura 2. Precipitação pluviométrica expressa em milímetros observada no

posto climatológico do campus Dr. Leonel Miranda da Universidade

Federal Rural do Rio de Janeiro – UFRRJ no município de Campos

dos Goytacazes – RJ em 2006. (* meses em que se diagnosticou a

presença de Fasciola hepatica em ovinos traçadores através de

exames de amostras fecais).

119

67,2 74,4 72,4

2127,4

7,8

47,931,9

124,6

211,2

51,4

0

50

100

150

200

250

Jan FevMar

AbrMai*

JunJul*

Ago*Set

OutNov

Dez

36

Os resultados dos exames de fezes (Figura 2) e das necropsias (Figura

3) indicaram a existência de três focos de F. hepatica no distrito de Santa Maria

(Tabela 1).

Figura 3. Fígado de ovino necropsiado, onde se observa a presença de

Fasciola hepatica em ducto hepático aberto.

37

DISCUSSÃO

A escolha da espécie ovina para a realização do presente trabalho

deveu-se a necessidade de utilizar um animal sabidamente sensível ao

trematoda. De acordo com SERRA FREIRE (1995), cães e gatos apresentam

resistência natural a prima infecção e normalmente eliminam o parasito; ratos,

coelhos, cobaios e bovinos desenvolvem imunidade a partir da infecção

primária, entretanto, pequena ou nenhuma resistência é observada em

camundongos, hamsters, caprinos e ovinos. Apesar da praticidade da utilização

de animais sensíveis a Fasciola em experimentos de bioprova, verifica-se que

poucos foram os trabalhos com esse enfoque realizados no Brasil para a

espécie ovina, podendo ser citado como exemplo o experimento de PILE et al.

(2001).

A explicação para tal fato pode ser encontrada em trabalhos como os de

DAEMON (1989) que após analisar a relação custo benefício para o controle

da fasciolose bovina em uma propriedade, identificou os animais traçadores

como um dos fatores que contribuem para o encarecimento desse tipo de

pesquisa. Para contornar esse problema, PILE (1991), argumentou ser o

exame de moluscos capturados em propriedades suspeitas uma alternativa

mais viável do ponto de vista econômico. Em contrapartida, é sabido que a

identificação de rédias e cercarias a partir de moluscos infectados são

passíveis de confusão com larvas de outros trematodas, sendo necessária a

confirmação do diagnóstico por especialistas ou a utilização de métodos de

diagnóstico como a Reação de Cadeia da Polimerase – PCR que também

torna a pesquisa onerosa.

Baseado nessas questões destaca-se a vantagem do uso dos

traçadores, que tornam os resultados das pesquisas mais confiáveis, já que em

algumas ocasiões os campeiros não distinguem os animais nascidos na

propriedade dos que são comprados, principalmente quando se trata de

funcionários recém contratados e isso dificulta a identificação de focos

autóctones.

38

O fato dos animais utilizados nessa pesquisa não terem apresentado

sintomatologia clínica evidente foi um dado surpreendente dada a

susceptibilidade da espécie ovina ao trematoda (SERRA-FREIRE 1995), e os

animais terem sido introduzidos em uma área considerada altamente enzoótica

(FILGUEIRA RABELLO et al. 2006; GOMES et al. 2006).

A ausência de sinais clínicos pode ser explicada pela baixa carga

parasitária observada após a necropsia (Tabela 1) e esta provavelmente foi o

reflexo da pequena quantidade de moluscos encontrados nas propriedades 1 e

2, bem como a ausência de L. columella na propriedade 3 (Tabela 1), ou seja,

a presença de poucos moluscos disponibilizou pequena quantidade de

metacercárias no pasto e isso implicou em uma baixa contagem de parasitos

nos fígados dos animais introduzidos nas propriedades 1 e 2.

É importante salientar que apesar dos resultados dos exames de fezes

para os ovinos da propriedade 3 terem sido negativos o exame macroscópico

dos fígados teve de ser realizado porque os animais foram atacados por

cachorros do mato. Como os mesmos morreram foi solicitado ao proprietário

que congelasse esses órgãos para que pudéssemos examiná-los tão logo

fosse possível, no entanto as fezes não foram preservadas.

Outro dado importante a ser considerado na propriedade 3 é que a

infecção dos traçadores, ocorreu sem a constatação da presença de L.

columella no pasto. Isso pode ser explicado pela contaminação do pasto com

metacercárias formadas antes do inicio do experimento a campo. Sabe-se que

existem épocas de maior disponibilidade de moluscos na pastagem (PILE,

1991; GOMES et al. 2002; SUON et al. 2006) que liberam grande quantidade

de metacercárias no pasto em períodos chuvosos (SERRA-FREIRE, 1995) e

que a longevidade infectiva desse estágio evolutivo do parasito pode durar até

8 meses na faixa entre 10 e 15ºC, 4 meses na faixa de cinco ou 20ºC, dois

meses a 30ºC e nove meses em temperaturas variadas (MÜLLER et al. 1999),

logo a hipótese da contaminação prévia do pasto a partir de moluscos que

desapareceram antes do experimento a campo não pode ser descartada.

39

No que diz respeito ao período mais propício para a infecção dos

animais, SUON et al. (2006), destacaram a importância do conhecimento do

conceito de período pré-patente para a espécie estudada, pois trabalhando

com diagnóstico de Fasciola gigantica em bovinos no sudeste asiático

identificaram o mês de infecção após a subtração de 4 meses da data em que

os ovos do parasito foram descobertos nas fezes. Tomando por base esse

critério e sabendo que a evolução de F. hepatica em ovinos até a fase adulta

leva aproximadamente 9-l0 semanas (ECHEVARRIA, 1985), infere-se que os

animais utilizados nessa pesquisa se infectaram no período chuvoso, haja vista

que a detecção de ovos do helminto para as propriedades 1 e 2 ocorreu

respectivamente nos meses de maio e julho e o resultado da necropsia

realizada para os animais da propriedade 3 foi positiva no mês de agosto e

estes são considerados meses de baixa precipitação pluviométrica (Figura 2).

É sabido que um pequeno número de F. hepatica não causa doença

aparente em ovinos, no entanto ECHEVARRIA, (1985) salientou que mesmo

sem a presença de sintomas clínicos, a infecção com 197 fasciolas nesta

espécie traz como conseqüência a diminuição na qualidade de lã e ganho de

peso 70% inferior a animais não infectados. O autor relatou ainda que em

áreas altamente contaminadas a fasciolose aguda pode atingir índices de

mortalidade que variam entre 15 e 20%. Apesar desta pesquisa não ter

avaliado a prevalência de fasciolose em ovinoculturas do município, sugere-se

que a região de Santa Maria seja altamente enzoótica para esta enfermidade,

haja vista a descoberta de um foco autóctone em pesquisa realizada por

GOMES et al (2002), os constantes relatos de parasitismo em bovinos abatidos

em frigoríficos (FILGUEIRA et al. 2006; GOMES et al. 2006; RABELLO et al.

2006) e principalmente pela constatação de mais três focos no presente

trabalho. Todos esses fatos somados são fortes indicadores de

comprometimento do crescimento da ovinocultura na região. Comprovou-se a

eficiência do uso dos animais traçadores em relação a pesquisas que envolvem

a dissecação de moluscos (GOMES et al. 2002; PILE; 1991), visto que a

fasciolose foi diagnosticada em duas propriedades onde a espécie L columela

40

foi encontrada em pequena quantidade e outra onde sua presença não foi

assinalada (Figura 2).

CONCLUSÕES

Através da utilização de ovinos como animais traçadores foram

encontrados três focos autóctones de Fasciola hepatica em meses de estiagem

no distrito de Santa Maria localizado no município de Campos dos Goytacazes

estado do Rio de Janeiro.

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44

CONHECIMENTOS TÉCNICOS SOBRE A PREVENÇÃO E CONTROLE DA

FASCIOLOSE NO MUNICÍPIO DE CAMPOS DOS GOYTACAZES, RJ*.

TECHNICAL KNOWLEDGES ON THE PREVENTION AND CONTROL OF

FASCIOLIASIS IN THE MUNICIPALITY OF CAMPOS DOS GOYTACAZES,

RJ.

Francimar Fernandes Gomes1; Vagner Ricardo da S. Fiuza1; Rachel Ingrid

J. Cosendey1; Francisco Carlos R. de Oliveira2.

RESUMO

Este trabalho teve como objetivo avaliar o conhecimento dos produtores rurais,

comerciantes de lojas agropecuárias e médicos veterinários do município de

Campos dos Goytacazes, RJ quanto à prevenção, controle e tratamento da

fasciolose hepática. Para tanto, foram realizadas 70 entrevistas nas quais se

utilizou um questionário especifico para cada uma dessas três categorias de

profissionais. A pesquisa revelou que 100% dos produtores rurais adotam pelo

menos uma prática de manejo inadequado para o controle da fasciolose a

campo, bem como 100% dos estabelecimentos que comercializam anti-

helmínticos não possuíam medicamentos a base de triclabendazole que são os

mais indicados para o tratamento fasciolicida e 100% dos médicos veterinários

admitiram possuir pouco ou nenhum conhecimento sobre as práticas de

controle integrado e estratégico necessárias para combater essa doença.

Concluiu-se que a principal causa da elevada incidência de fasciolose no

município é o erro de manejo como conseqüência do desconhecimento de

todas as categorias de profissionais entrevistadas no que se refere a

epidemiologia dessa enfermidade parasitária na região.

* Sob o auspício da Capes/Cnpq 1 Curso de Pós Graduação em Produção Animal. Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (UENF). Avenida

Alberto Lamego, 2000/ Cep – 28013-602. .Parque Califórnia. Tel (22) 2726-1679. Fax (22) 2726-1673. E-mail: [email protected]

2 Professor Associado Laboratório de Sanidade Animal / CCTA / UENF. E-mail: [email protected]

45

PALAVRAS CHAVE Fasciola hepatica, entrevistas, questionário

SUMMARY

This work had as objective evaluates the knowledge of the rural producers,

merchants agricultural stores and veterinary doctors of the municipality of

Campos dos Goytacazes, RJ and as the prevention, control and treatment of

the fascioliasis. For so much, 70 interviews were accomplished in which it was

used a specific questionnaire for each one of those three categories of

professionals. The research revealed that 100% of the rural producers adopt at

least a practice of inadequate handling for the control of the fascioliasis to field

as well as 100% of the establishments that market anthelminthic didn't possess

medicines the triclabendazole base that are the most suitable for the treatment

fasciolicida and 100% of the veterinary doctors admitted to possess little or any

knowledge on the practices of integrated control and strategic necessary to

combat that disease. It was ended that the main cause of the high fascioliasis

incidence in the municipal district is the handling mistake as a consequence of

the ignorance of all the professionals interviewees' categories in what refers the

epidemiology of that parasitic illness in the area.

KEY-WORDS Fasciola hepatica, interviews, questionnaire

INTRODUÇÃO

Dentre as enfermidades que acometem os bovinos, as helmintoses

estão entre as principais causas limitantes à sua produtividade. Nesse contexto

destaca-se a fasciolose hepática que de acordo com Rabello et al. (2006), é

uma enfermidade comumente diagnosticada em bovinos abatidos em

matadouros fiscalizados pelo Serviço de Inspeção Estadua l – S.I.E, sendo por

isso classificada como enzoótica no estado do Rio de Janeiro.

Considerando que esta enfermidade parasitária pode ser transmitida

para diversas espécies animais dentre as quais o homem (MARCOS et al.

46

2005), o conhecimento sob o ponto de vista epidemiológico é essencial para a

realização de controle efetivo desta doença. Nesse caso, deve-se conhecer os

fatores que predispõe a manutenção do parasito no ambiente sendo

imprescindíveis às informações sobre os produtos anti-helmínticos utilizados,

bem como as praticas de manejo adotadas nas propriedades rurais para julgar

a eficiência do programa de controle sanitário implementado (PADILHA, 1996).

Sabe-se que a fasciolose tem as regiões Norte, Noroeste e Médio

Paraíba como sendo as principais áreas de ocorrência no estado do Rio de

Janeiro (RABELLO et al. 2006) e dentre os municípios que compõe a região

Norte Fluminense, Campos dos Goytacazes é àquele em que o número de

casos supera amplamente os demais (GOMES et al. 2006). Sabe-se também

que a difusão desta enfermidade parasitária neste município é favorecida por

condições climáticas e ambientais (GOMES et al. 2002), no entanto, supõe-se

que a adoção de práticas de manejo inadequadas sejam as principais causas

de ocorrência e dispersão dessa parasitose. Dessa forma decidiu-se pela

realização do presente trabalho que teve como objetivo conhecer mais

detalhadamente as práticas de manejo adotadas no tratamento e controle da

fasciolose em bovinos criados em propriedades localizadas no município de

Campos dos Goytacazes, RJ.

MATERIAL E MÉTODOS

Local e período de estudo. O trabalho foi realizado durante o período

de agosto a dezembro de 2006 no município de Campos dos Goytacazes,

Estado do Rio de Janeiro e foi baseado na realização de entrevistas a três

diferentes categorias de profissionais do meio rural: produtores rurais,

comerciantes de lojas agropecuárias e médicos veterinários (Quadro 1).

As entrevistas foram realizadas por meio de questionários direcionados

ao perfil do profissional a ser entrevistado e continham perguntas referentes à

transmissão, controle e profilaxia da fasciolose. Após um breve esclarecimento

a respeito dos objetivos do trabalho as pessoas entrevistadas foram

estimuladas a opinar sobre o assunto abordado.

47

De posse dos resultados a situação do controle da verminose no sistema

de produção animal vigente foi descrita, os erros de manejo identificados e os

percentuais de resposta de cada grupo foram confrontados e analisados.

Quadro 1. Entrevistas sobre questões relativas à profilaxia, controle e tratamento da fasciolose hepática, no município de Campos dos Goytacazes, RJ.

CATEGORIA ENTREVISTADA (n)

PERGUNTAS

1) Que produtos o senhor utiliza para fazer o tratamento anti-helmíntico do rebanho?

2) Costuma pesar os animais para calcular a dose de anti-helmíntico a ser administrada?

3) Em que época (mês ou meses) do ano costuma realizar o tratamento anti-helmíntico dos animais?

Produtores Rurais (25) 4) Costuma coletar amostras fecais dos animais para a realização de exames coproparasitológicos?

5) Conta com assistência de Médicos Veterinários em caráter permanente em sua propriedade?

6) Qual é o nível escolar do administrador de sua fazenda?

7) Qual é a faixa salarial desse funcionário?

1) O estabelecimento possui medicamentos específicos para o tratamento de animais com fasciolose hepática?

logistas (20) 2) Possui algum produto a base de triclabendazole?

3) Existe algum Médico Veterinário no estabelecimento para dar orientações quanto a maneira mais indicada

para combater essa enfermidade parasitária?

1) O senhor sabe realizar o controle integrado e estratégico de fasciolose?

2) Sabe reconhecer o molusco hospedeiro intermediário (Lymnaea columella) no campo?

Médicos Veterinários (25) 3) Sabe combater a doença mediante a adoção de métodos de controle da população do molusco?

4) Considerando os princípios ativos, grupos ou classes de anti-helmínticos o senhor conhece algum produto

com ação fasciolicida?

5) Qual é a época (mês ou meses) do ano mais apropriado (s) para o tratamento da fasciolose?

49

RESULTADOS E DISCUSSÃO

No total foram entrevistados 25 produtores rurais, 20 profissionais que

comercializam produtos anti-helmínticos e 25 Médicos Veterinários. Todos foram

localizados nas áreas de abrangência do município por meio de ruas, avenidas ou

estradas de rodagem, o que tornou a amostragem não aleatória (por conveniência).

Sabe-se que este tipo de amostragem não considera o acaso estatístico e por isso

não permite confirmar com precisão a existência de determinada tendência. Apesar

disso, Santos Filho (1999), afirmou que se realizada de modo correto a amostragem

pode ser útil na identificação dos problemas da população estudada. Isso foi

observado na presente pesquisa, pois foi notória a falta de conhecimento do

produtor rural quanto às praticas de manejo adequadas para o controle da

fasciolose.

Entrevistas aos produtores rurais . No que diz respeito aos anti-helmínticos

mais utilizados pelos produtores rurais foram destacados em primeiro lugar os

produtos a base de Ivermectina (54%), em segundo a aplicação de albendazol

(12%) e outros grupos destacados por 30% dos entrevistados (Tabela 1).

Tabela 1- Medicamentos parasiticidas utilizados por produtores rurais do município

de Campos dos Goytacazes-RJ.

ANTI-HELMÍNTICO BASE

Utilização1 Fasciolicida

Ivermectina 54% Não

Albendazole 12% Sim2

Triclabendazole 0% Sim

Outros 30% Não 1Total de 25 produtores entrevistados 2Dose duas vezes maior da utilizada para ação anti-helmíntica.

50

Assim como no trabalho de Santos Filho (1999), atribui-se a predominância

das avermectinas ao seu amplo espectro de ação como endo e ecto-parasiticida. O

preço do medicamento também pode influenciar na escolha dos medicamentos que

pertencem a esse grupo de anti-helmíntico, no entanto, o problema dessa escolha

decorre destes medicamentos não apresentarem efeito fasciolicida. É importante

destacar que segundo Echevarria, (1996) a falha de um tratamento anti-helmíntico

está relacionada à escolha errada do produto em relação ao parasito que se quer

controlar.

Outro dado importante se refere ao fato de 45% dos proprietários rurais

entrevistados terem afirmado que as dosificações são feitas de acordo com as

recomendações do fabricante (Tabela 2).

Tabela 2- Assistência veterinária e conhecimento técnico de produtores rurais do

município de Campos dos Goytacazes-RJ.

RESPOSTA1

QUESTIONAMENTO Afirmativa Negativa

Cálculo de dose 45% 55%

Exame de fezes 10% 90%

Veterinário permanente 15% 85% 1 Total de 25 produtores entrevistados

Nesse caso, o animal costuma ser pesado para calcular a dose de anti-

helmíntico a ser administrada, no entanto, a maioria dos entrevistados (55%) disse

que não adota essa prática, e administra o produto com base na estimativa visual do

peso do animal. O problema das dosificações sem a adoção de critérios técnicos é

que os animais podem se intoxicar pelo excesso do medicamento ou sofrer as

conseqüências da ineficiência da ação do anti-helmíntico devido à aplicação de

subdoses.

Salienta-se o fato de práticas como a subdosagem e superdosagem serem

comuns e segundo Daemon e Serra-Freire, (1995) sempre acarretam perdas

econômicas para o produtor, seja pelo fato dos animais continuarem parasitados ou

mesmo pelos gastos excessivos com medicamentos. Estas já foram assinaladas por

pesquisadores como Pereira, (1998) que no município de Itaguaí-RJ as evidenciou

em 19% do total de produtores entrevistados.

51

Em relação ao número de tratamentos anuais foi verificada a predominância

de dois tratamentos/ano na propriedade de 55% dos entrevistados, três tratamentos

em 25% delas, um tratamento em 10%, e quatro ou mais tratamentos por ano em

10% das propriedades. Isso corrobora com os resultados obtidos por Santos Filho

(1999), que constatou em sua pesquisa a realização de dois tratamentos/ano em

52% das entrevistas, três vezes em 21%, uma vez em 13%, e quatro vezes nas

propriedades de 11% dos entrevistados.

Em relação a época (mês ou meses) do ano mais propícios para o tratamento

20% dos entrevistados disseram que estes se concentram no período chuvoso,

ficando o restante separados entre aqueles que dividem seus tratamentos entre

período chuvoso e período seco 10%, aqueles que os concentram durante o período

seco 30%, e os que não possuem época definida para a aplicação do anti-helmíntico

40%. Vale ressaltar que Lessa (1995), recomendou a realização de três tratamentos

ao longo do ano sendo o inicial em maio, ou no final do outono, para eliminar as F.

hepatica fruto das infecções registradas no verão e primavera anteriores. Reportou

ainda que o segundo tratamento deve ser realizado no início da primavera, para

eliminar as infecções ocorridas após o tratamento de outono e que um tratamento

adicional pode ser realizado em dezembro, janeiro ou então no meio do período de

inverno, com benefícios similares aos anteriores.

Uma possível explicação para a não realização de controle integrado e

estratégico contra F. hepatica por parte dos produtores rurais do município se deve

ao fato da fasciolose se apresentar na forma subclínica na espécie bovina. Nesse

caso a confirmação do diagnóstico necessita de apoio laboratorial e este dificilmente

é solicitado, seja pelos produtores rurais ou pelos médicos veterinários que

trabalham no campo. Tal fato foi observado nesta pesquisa, visto que 90% dos

produtores entrevistados disseram não ter o hábito de coletar amostras fecais de

seus animais para a realização de exames coproparasitológicos (Tabela 2). Muitas

vezes os casos são conhecidos somente nas salas de matança do Serviço de

Inspeção Sanitária quando o parasito é detectado nos ductos hepáticos dos animais

enviados para abate (RABELLO et al. 2006).

Ainda que o diagnóstico da fasciolose seja confirmado pela detecção de ovos

do parasito em amostras fecais, destaca-se a dificuldade em convencer o

proprietário a tratar seus animais, sobretudo quando os mesmos permanecem

saudáveis do ponto de vista clínico. Segundo autores como Charles, (1992), no caso

52

das helmintoses, embora ocorram limitações na produtividade e aumento da taxa de

mortalidade, o prejuízo acarretado é difícil de ser estimado, e por isso a infecção

helmíntica é considerada umas das doenças mais importantes do mundo pecuarista.

Aliado a falta de conhecimento do produtor, verificou-se que a grande maioria,

85% deles não conta com assistência de Médicos Veterinários em caráter

permanente (Tabela 2). Apesar de autores como Wagner e Polley (1997) e Lendal et

al. (1998), terem destacado a importância destes como fontes de informações

técnicas para o criador, os resultados da presente pesquisa demonstraram que a

presença integral deste profissional nas fazendas foi destacada por apenas 15% dos

produtores entrevistados, os outros 85% foram divididos em 40% que relataram

solicitar o serviço veterinário somente eventualmente e 45% que relataram a

ausência total. Provavelmente a pouca procura pelo médico veterinário se deva ao

fato dos custos do serviço deste profissional serem maiores que o dos

administradores das fazendas, nesse caso o proprietário tem a falsa impressão de

que o pagamento de mão de obra menos qualificada garante um maior retorno

financeiro. Pelo contrário, sabe-se que a utilização de mão de obra que apresenta

baixos níveis sócio-econômicos e culturais comumente são identificados como

determinantes para a ocorrência de parasitoses intestinais em humanos,

(MACHADO et al. 1999).

Diante de tal realidade, procurou-se quantificar a dimensão do problema no

campo associando à ocorrência de fasciolose nos rebanhos da região em nível

escolar e faixa salarial dos funcionários que respondem pela profilaxia e controle das

helmintose nas propriedades rurais, e evidenciou-se que 10% dos campeiros

recebem até um salário mínimo, 60% recebem entre um e dois salários e 30%

recebem entre dois e três.

Quanto ao nível cultural, foi verificado que 50% dos campeiros estudaram até

o ensino fundamental, 10% são analfabetos, outros 10% cursaram o ensino médio,

30% o ensino fundamental e nenhum possui curso superior. Provavelmente esses

baixos indicadores socioeconômicos e culturais sejam decisivos para a causa de

fasciolose hepática na região, haja vista sua influencia nas condições de higiene

pessoal e, portanto nos cuidados com o rebanho.

Entrevistas aos balconistas. Nos estabelecimentos que comercializam

produtos anti-helmínticos constatou-se o despreparo dos profissionais quanto à

indicação de produtos fasciolicidas. Um total de 75% não soube recomendar

53

produtos que surtissem efeito contra o agente etiológico desta enfermidade (Tabela

3)

Tabela 3- Assistência veterinária de casas agropecuárias e conhecimento técnico

dos lojistas no município de Campos do Goytacazes-RJ.

RESPOSTA1

QUESTIONAMENTO Afirmativa Negativa

Fasciolicidas2 25% 75%

Triclabendazole 0% 100%

Plantão veterinário 0% 100% 1Número amostral de 20 lojistas entrevistados. 2Produtos a base de Closantel, Niclofolan, Rofoxanide, Albendazole e Triclabendazole.

Isso demonstra claramente o desconhecimento sobre a existência e

importância do parasito na região, além disso, em 100% dos estabelecimentos

visitados não havia um médico veterinário para prestar esclarecimentos sobre o

produto ou a maneira mais indicada para fazer o controle dessa enfermidade (Tabela

3).

De acordo com Santos Filho, (1999) os balconistas muitas vezes não citam os

riscos ou desvantagens do uso de determinados medicamentos, embora seus

efeitos benéficos sejam sempre enfatizados. Isso se deve ao fato destes

profissionais não possuírem qualificação condizente com a realidade em que atua.

Nesse caso, a presença de um Médico Veterinário é de grande importância já que se

parte da premissa que este profissional possui o conhecimento necessário para a

indicação do tratamento mais adequado.

Dentre os princípios ativos disponibilizados no mercado para o combate a

fasciolose destaca-se o Closantel, Niclofolan, Rafoxanide e Albendazole, no entanto,

dados clínicos sugerem que o triclabendazole, um derivado de benzimidazole usado

desde 1983 em medicina veterinária seja a droga mais eficaz para o tratamento de

fasciolose (KEISER et al. 2005), pois ao contrario dos demais, não atua apenas em

uma das fases de vida do parasito. Este tem como vantagem a atuação tanto nos

estágios jovens que se encontram em migração no parênquima hepático quanto no

parasito adulto alojado nos ductos hepáticos e biliares.

54

Segundo as informações de profissionais do Serviço de Inspeção Estadual –

S.I.E. do Município de Campos, RJ a fasciolose hepática é uma das enfermidades

parasitárias mais diagnosticadas em matadouros do Estado do Rio de Janeiro,

especialmente na região Norte Fluminense onde tem sido constatado o aumento do

número de casos (FILGUEIRA et al. 2006), por isso é de extrema relevância a

divulgação desses dados junto aos comerciantes e produtores rurais da região, pois

o desconhecimento sobre a existência do problema faz com que o produtor não

procure medicamentos fasciolicidas nos estabelecimentos que comercializam anti-

helminticos. Provavelmente essa falta de demanda faz com que os comerciantes

não coloquem tais produtos a venda nas prateleiras, e isso traz como conseqüência

a ineficácia dos tratamentos e o controle inadequado da fasciolose.

Os resultados dessa pesquisa evidenciam tal fato, haja vista a comprovação

de pouca variedade de produtos fasciolicidas nos estabelecimentos visitados.

Apenas dois desses possuíam três ou mais anti-helminticos que atuam contra F.

hepatica e mesmo assim, não se verificou a comercialização de produtos a base de

triclabendazole, que segundo Keiser et al. (2005) são mais eficientes no tratamento.

Entrevistas aos Médicos Veterinários. Na presente pesquisa, era de se

esperar que o conhecimento dos produtores rurais em relação a fasciolose hepática

fosse baixo, entretanto, no que concerne às respostas dadas pelos médicos

veterinários, constatou-se um resultado surpreendente, pois 100% dos entrevistados

disseram não saber realizar o controle da fasciolose. Desse total, 69% afirmaram

não lembrar e 31% admitiram não conhecer práticas de controle desta parasitose

(Tabela 4).

55

Tabela 4- Conhecimento técnico a respeito do controle da fasciolose de médicos

veterinários que dão assistência veterinária no município de Campos dos

Goytacazes-RJ.

RESPOSTA1

CONHECIMENTO Afirmativa Negativa

Controle da fasciolose 0% (100%)2

Lymnaea columella 8% 92%

Controle do molusco 0% 100%

Produtos fasciolicidas (23%)3 77% 1Total de 25 veterinários entrevistados. 2 Destes 69% não lembraram e 31% não conheciam. 3 Destes 57% indicaram produtos que não têm ação contra Fasciola hepatica.

No que diz respeito ao molusco hospedeiro intermediário, apenas 8% dos

profissionais disseram saber reconhece-lo e 100% afirmaram não saber combate-lo

no campo. Isso se reflete em tratamentos errôneos tanto por parte dos produtores,

quanto por parte dos médicos veterinários que desconsideram a presença de L.

columella no ambiente, nesse caso, o combate a fasciolose se baseia apenas nas

dosificações dos vertebrados com anti-helmínticos e os animais acabam se

reinfectando, já que os moluscos continuam a disponibilizar metacercárias no pasto.

Quando indagados se conheciam produtos anti-helmínticos com ação

fasciolicida, 77% dos veterinários afirmaram não conhecer, 23% disseram ter

conhecimento e destes, 57% indicaram produtos que não possuem ação fasciolicida

(Tabela 4). Este fato é preocupante, pois a indicação de tratamentos errados por

profissionais que julgam estar prescrevendo medicamentos corretos para o combate

a helmintose constitui mais um fator de risco na causa dessa doença. Dentre os 10%

que indicaram corretamente produtos fasciolicidas, constatou-se a predominância de

produtos a base de albendazol. Princípios ativos como o Closantel, Niclofolan e

Rafoxanide que também são importantes no combate a doença não foram citados.

Quanto a época do ano apropriada para o tratamento fasciolicida, um total de

61% disse que o controle da enfermidade deve ser feito na época das chuvas, 8%

consideram que o tratamento deve ser feito na época da seca, 31% disseram não

saber qual é o período mais indicado para o tratamento, no entanto nenhum deles

disse que o controle deve ser feito com base na epidemiologia da doença.

56

Considerações. A ocorrência de fasciolose também é influenciada por fatores

climáticos como precipitação pluviométrica, temperatura e fatores ambientais que

englobam a topografia, o tipo de solo e a presença de hospedeiros susceptíveis

(SERRA FREIRE et al. 1995; GOMES et al. 2002) no ambiente, entretanto sugere-se

que os erros de manejo fruto do desconhecimento sobre a epidemiologia da doença

sejam os principais fatores de risco na ocorrência dessa parasitose na região. Isso

foi comprovado pelas respostas dadas por profissionais do meio rural e,

principalmente pelos Médicos Veterinários que surpreendentemente não souberam

responder questões básicas e importantes sobre profilaxia e controle dessa

enfermidade parasitária.

Pesquisas envolvendo a utilização de inquéritos epidemiológicos permitem

identificar as causas que predispõe a ocorrência de verminoses como a fasciolose,

dessa forma os pontos críticos são atacados e o ciclo de vida do agente etiológico é

interrompido de maneira mais eficiente pelo profissional a campo.

Apesar dos resultados dessa pesquisa terem sido obtidos através de

amostragem por conveniência destaca-se a validade dos mesmos, pois segundo

Pereira (1995), amostras não probabilísticas informam sobre a existência, ou não, de

um problema, podendo conferir noção de sua magnitude e importância. A

identificação dos erros de manejo descritas nessa pesquisa devem servir de alerta

para a tomada de medidas visando o controle dessa enfermidade parasitária no

município e possivelmente em outras áreas enzoóticas do país. A falta de programas

educativos capazes de envolver as comunidades envolvidas na profilaxia, controle e

erradicação da fasciolose é uma das principais causas da continuidade de sua

transmissão na região e a redução de sua incidência depende da implementação de

procedimentos simples como o exame de fezes seguido do tratamento com anti-

helmínticos adequados bem como o monitoramento da presença do hospedeiro

intermediário para que este seja eliminado. Caso não haja um trabalho de extensão

rural, educação sanitária e maior integração entre os profissionais que trabalham no

meio rural a ocorrência de fasciolose continuará sendo observada no futuro na

região.

57

CONCLUSÕES

Os resultados desta pesquisa demonstraram que os erros de manejo são

pontos críticos que determinam a alta incidência de fasciolose na região, pois

decorrem do desconhecimento por parte de todas as categorias profissionais

entrevistadas quanto a aspectos da epidemiologia, profilaxia, controle e tratamento

dessa enfermidade parasitária no Município de Campos dos Goytacazes, RJ.

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60

5. CONCLUSÕES GERAIS

1. A identificação de focos autóctones pelo uso de ovinos como traçadores é um

critério mais confiável que a dissecação de moluscos.

2. Existe influência de fatores climáticos na causa de fasciolose, no entanto os

erros de manejo decorrentes da falta de conhecimento sobre a epidemiologia

dessa enfermidade aliada a não realização de controle integrado e estratégico

adequado, também contribuem para sua ocorrência na região estudada.

3. Apesar de historicamente a infecção dos animais ser mais propícia no período

chuvoso, esta também pode ocorrer no período de estiagem quando os ramos

das gramíneas nos habitats dos moluscos ficam mais expostos, facilitando

com isso a ingestão dos talos contaminados com metacercárias.

61

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

6.1. Erros não usuais

Ressalta-se que os erros de manejo citados nesta pesquisa são muito

freqüentes em propriedades rurais, no entanto existe uma série de outros que

apesar de não comuns também merecem ser destacados. Pode ser citado como

exemplo, o relato de um proprietário sobre a vermifugação de todos os animais

recém comprados como uma prática freqüente em sua fazenda. Esta tem a

desvantagem de não atender os animais já existentes no plantel e, sobretudo os

bezerros nascidos nas fazendas, que por serem animais jovens são mais

susceptíveis às verminoses. O fato de esses animais serem os principais

disseminadores de ovos de helmintos na pastagem faz com que mereçam maior

atenção em um programa de controle estratégico e integrado da fasciolose.

Chamou atenção o relato de um proprietário rural que justificou a aplicação de

subdosagens pela diluição do produto em água com a justificativa deste “render”

mais, ou seja, o proprietário pensava que essa prática implicaria em maior economia

na utilização do anti-helmíntico, pois permitiria o “tratamento” de um número maior

de animais.

Também foi relatada a vermifugação exclusiva de animais enviados para

exposição. Apesar destes requererem uma atenção especial, ressalta-se que o

negligenciamento do tratamento dos demais animais também contribui para a

contaminação do pasto com ovos de F. hepatica, bem como por outras espécies de

helmintos.

62

Respostas contraditórias também foram observadas como a de um

proprietário que afirmou vermifugar os animais do plantel a intervalos de seis meses,

sendo que o tempo decorrido desde a ultima dosificação e a data da presente

entrevista foi de oito meses, ou seja, aquilo que os proprietários fazem nem sempre

condiz com o que dizem fazer.

Outro erro de manejo observado foi a troca freqüente de produtos anti-

helmínticos durante o ano. O criador que defendeu essa prática considerou que as

chances de ocorrência de resistência anti-helmíntica são minimizadas, no entanto é

necessário ter em mente que a troca do medicamento sem a mudança do grupo

químico ou do princípio ativo de maneira correta implica apenas em mudança do

nome comercial sem maiores benefícios para o rebanho. Considerando que a

maioria dos produtores rurais 85% não utiliza produtos fasciolicidas na região e 45%

deles não dispõe de assistência técnica especializada para orientá-los no momento

da troca do medicamento, infere-se que essa prática favorece a ocorrência de

fasciolose na região. Além do mais, a troca de produtos quatro ou mais vezes ao

longo do ano implicariam em perdas econômicas por gastos excessivos com

medicamentos.

Uma situação completamente diferente da anteriormente citada é a aplicação

de anti-helmíntico somente uma vez por ano. Nesse caso, o proprietário não

considera a necessidade de descontaminação da pastagem, pois se preocupa

apenas com o tratamento curativo. Também não considera a importância

epidemiológica do hospedeiro intermediário no ambiente, logo tais condutas, entram

em total desacordo com os princípios básicos do tratamento e controle de

verminoses como a fasciolose e devido a estes fatos infere-se que os proprietários

não sabem realizar tratamentos preventivos estratégicos ou táticos que interrompam

o ciclo de vida do agente etiológico dessa enfermidade parasitária.

É importante salientar que a existência de áreas de baixada (alagadiças) é um

fator predisponente à presença do hospedeiro intermediário. Estas além de

permitirem o desenvolvimento do parasito no molusco hospedeiro, são de difícil

drenagem, sobretudo no verão quando os índices de precipitação pluviométrica

aumentam consideravelmente. Nesse período aumenta o número de coleções

hídricas onde vive o molusco hospedeiro intermediário, bem como as chances de

infecção de L. columella por miracídios oriundos dos ovos de F. hepatica carreados

pela chuva da pastagem para áreas alagadiças.

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6.2. Sugestões para o controle.

O conhecimento de tais aspectos pode contribuir para a implementação de

medidas de controle direcionadas capazes de minimizar a ocorrência dessa

parasitose na região. Sugere-se como método de controle físico a retirada da

vegetação aquática existente nas margens dos canais de irrigação e açudes onde os

animais costumam beber a água. São justamente esses os locais mais prováveis

para a ocorrência da infecção principalmente os talos da vegetação que durante o

período chuvoso se encontram na lâmina d’ água, mas que deixam de ficar

encobertos durante os períodos de estiagem.

Salienta-se que muitos proprietários não se atentam para as mudanças no

volume de água que normalmente ocorrem nessas coleções hídricas ao longo do

ano em função da variação nos índices pluviométricos. Por isso ao promover a

limpeza da borda dos criadouros, o fazem somente nas partes que não se alagam

onde as chances de encistamento das cercarias em metacercárias são mínimas.

Deve-se fazer a retirada da vegetação presente nas margens dos criadouros

que no período de estiagem não se encontram mais submersas, pois é justamente

nessa vegetação que ocorre o encistamento das cercarias e formação das

metacercárias.

Outro método de controle é a drenagem do habitat dos moluscos

acompanhada do uso de cercas para impedir o acesso dos animais às áreas

contaminadas desde que estas permaneçam isoladas por um período superior a um

ano, portanto suficiente para tornar as metacercárias inviáveis.

Também é indicado o fornecimento de água potável em bebedouros, já que

nesse caso a retirada das plantas aquáticas e o monitoramento da população de

moluscos é mais fácil. A introdução de aves aquáticas predadores naturais, como os

palmípedes (patos e gansos), também pode ser considerada.

É importante realçar, que a necessidade do controle da população de

moluscos, foi transmitida aos proprietários visitados, deixando claro que um

tratamento e controle inadequado não só acarretam mais prejuízos à pecuária, como

permitem a manutenção e disseminação de F. hepatica na região.

O fasciolicida utilizado deve ser altamente eficaz tanto contra as formas

adultas, quanto contra as formas imaturas para diminuir as chances de

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contaminação da pastagem e eliminar os danos causados pelas migrações das

formas jovens no parênquima hepático. Este deve ser aplicado no verão que

corresponde ao período mais chuvoso nesta região e portando de grande

disponibilidade de metacercárias no pasto, também no outono (maio) para eliminar

as infecções ocorridas após o primeiro tratamento, além do tratamento de primavera

(setembro) quando ocorre o pico de densidade populacional de Lymnaea columella

na região. Em suma, quando se fala em controle estratégico e integrado o ideal é

que seja realizada a associação entre diferentes métodos de controle (químico, físico

e biológico) considerando não só o hospedeiro vertebrado, mas também a existência

no pasto do molusco hospedeiro intermediário. Se estes não forem eliminados o

problema da fasciolose não poderá ser resolvido.

Estas recomendações são de ordem geral, no entanto, como em cada região

existem propriedades com diferentes níveis de parasitismo e as condições climáticas

podem ser completamente diferentes, cabe a educação continuada oferecida por

instituições públicas e privadas o fornecimento de conhecimento técnico necessário

aos profissionais do campo para que estes possam recomendar as medidas

específicas e necessárias para o combate a Fasciola hepatica nas fazendas de

acordo com a região ecológica afetada.