76257413 sintese de compostos cobre glicina
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Um Experimento em Química Bioinorgânica:
Síntese de Compostos de Cobre-Glicina
Josiane Aparecida Sobrinho
Juliana Frizarin Campos Sás
Yuri Renan Bovolenta
Química Inorgânica III
Presidente Prudente, novembro de 2011.
1
Sumário
1. OBJETIVOS ..................................................................................................................................... 2
2. INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 2
2.1. Bioinorgânica ............................................................................................................................ 2
2.2. Espectroscopia vibracional de absorção na região IV ........................................................... 4
2.3. Descarte de resíduos ................................................................................................................. 6
3. MATERIAIS E MÉTODOS ............................................................................................................ 7
3.1. Materiais .................................................................................................................................... 7
3.2. Reagentes ................................................................................................................................... 7
3.3. Procedimentos ........................................................................................................................... 7
3.3.1. Preparação de compostos de coordenação entre o metal cobre e glicina. ......................... 7
3.3.2. Síntese de adutos entre cobre, cobalto e uréia .................................................................... 8
3.3.3. Recuperação do cobalto na forma de resíduo gerado nas práticas anteriores e purificação
do sobrenadante para ser descartado na pia. ................................................................................ 8
3.4. Fluxogramas .............................................................................................................................. 9
3.4.1. Preparação de compostos de coordenação entre o metal cobre e glicina. ......................... 9
3.4.2. Síntese de adutos entre cobre, cobalto e uréia .................................................................... 9
3.4.3. Recuperação do cobalto ...................................................................................................... 9
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO ................................................................................................... 10
4.1. Um Experimento em Química Bioinorgânica: Síntese de Compostos Cobre-Glicina ....... 10
4.2. Parte B – Síntese de adutos entre Cobre, Cobalto e Uréia: Química de Coordenação no
Estado Sólido ................................................................................................................................... 12
4.3. Parte C – Recuperação de Cobalto na Forma de Resíduo e Purificação do Sobrenadante
.......................................................................................................................................................... 16
5. CONCLUSÕES .............................................................................................................................. 17
REFERÊNCIAS .................................................................................................................................. 18
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1. OBJETIVOS
Preparar compostos de coordenação entre o metal cobre e a glicina;
Utilização da rota alternativa via síntese no estado sólido para preparação de
compostos de coordenação.
Recuperar o cobalto na forma de resíduo gerado nas práticas anteriores e purificar o
sobrenadante de forma a torná-lo inofensivo para ser descartado na pia
2. INTRODUÇÃO
2.1. Bioinorgânica
As funções biológicas desempenhadas por elementos e compostos inorgânicos são
muito variadas, podendo ser de estruturas de mensageiros, de transportadores de elétrons e
oxigênio, de catalisadores de reações de óxido redução e ácido-base.
Os metais de transição agem como ácidos de Lewis. O ferro e o cobre por exemplo,
são centros ativos de metaloenzimas e também de proteínas transportadoras de oxigênio. As
interações dos íons metálicos com biomoléculas geralmente consistem na formação de
compostos de coordenação, portanto as teorias da química de coordenação também se aplicam
a sistemas biológicos. Os ligantes mais comumente envolvidos em sistemas biológicos são
aminoácidos de cadeias laterais e ácidos nucléicos.
As proteínas são constituídas de vinte aminoácidos essenciais, representados na
Figura 1.1
3
Figura 1: Os vinte aminoácidos essenciais.
Os sítios de coordenação possíveis nesses aminoácidos são:
1. Grupos NH e Co da ligação peptídica;
2. Grupos COOH de aminoácidos ácidos;
3. Grupo NH2 de aminoácidos básicos;
4. OH alquílico da serina ou treonina;
5. OH aromático da tirosina;
6. Grupo imidazol da histidina;
7. Grupo SH da cisteína;
8. Grupo tioéter da metionina.
4
2.2. Espectroscopia vibracional de absorção na região IV
A região espectral no infravermelho compreende radiação com números de onda no
intervalo de aproximadamente 12800 a 10 cm-1
ou comprimentos de onda de 0,78 a 1000 µm.
Do ponto de vista tanto da aplicação como da instrumentação, o espectro infravermelho é
convenientemente dividido em radiação no infravermelho próximo, médio e distante. As
técnicas e aplicações de métodos baseados nestas três regiões espectrais diferem
consideravelmente. Medidas na região do infravermelho próximo são feitas com fotômetros e
espectrofotômetros com projetos e componentes semelhantes aos instrumentos descritos
anteriormente. As aplicações mais importantes dessa região espectral ocorrem na análise
quantitativa de materiais industriais e agrícolas e no controle de processos .2, 3,4
.
Até o início dos anos de 1980, a maioria dos instrumentos para a região do
infravermelho médio era do tipo dispersivo, baseadas em redes de difração. A partir daí, no
entanto, houve uma mudança drástica nesses instrumentos, de modo que agora a maior parte
deles são do tipo de transformada de Fourier. Fotômetros baseados em filtros de interferência
também encontram uso para medidas de composições de gases e contaminantes atmosféricos.
A radiação infravermelha não é energética o suficiente para causar as transições
eletrônicas como foi mencionado sobre a radiação ultravioleta, visível e raios X. A absorção
de radiação infravermelha está muito restrita a espécies moleculares que têm diferenças de
energia pequenas entre vários estados vibracionais e rotacionais. Para absorver radiação
infravermelha, uma molécula precisa sofrer uma variação no momento de dipolo como
conseqüência do movimento vibracional ou rotacional. Apenas nessas circunstâncias o campo
elétrico alternado da radiação pode interagir com a molécula e causar variações na amplitude
de um de seus movimentos. O momento dipolar é determinado pela magnitude da diferença
de carga e a distância entre os dois centros de carga. Quando uma molécula vibra, uma
variação regular do momento dipolar ocorre e surge um campo que pode interagir com o
campo elétrico associado à radiação. Se a freqüência da radiação coincidir exatamente com a
freqüência vibracional natural da molécula, ocorre uma transferência efetiva de energia e
resulta em uma variação da amplitude da vibração molecular; a absorção da radiação é a
conseqüência. Do mesmo modo a rotação de moléculas assimétricas em torno de seus centros
de massa resulta em uma variação periódica do dipolo que pode interagir com a radiação.2,4
Como os níveis rotacionais são quantizados, a absorção por gases na região do
infravermelho distante é caracterizada por linhas discretas e bem-definidas. Em líquidos ou
sólidos, as colisões intermoleculares e interações causam o alargamento dessas linhas para um
contínuo. Os níveis de energia também são quantizados e, para a maioria das moléculas, as
5
diferenças de energia entre estados quânticos corresponde à região do infravermelho médio.
Em sólidos e líquidos, a rotação está rigorosamente restrita então, linhas discretas
vibracionais/rotacionais desaparecem, deixando apenas picos vibracionais alargados.
As posições relativas dos átomos em uma molécula não estão fixadas exatamente;
variam continuamente como conseqüência de inúmeros tipos de vibrações e rotações em torno
das ligações da molécula. Para uma molécula diatômica ou triatômica simples, é fácil definir
o número e a natureza de tais vibrações e relacioná-las a energias de absorção. Uma análise
desse tipo fica difícil, se não impossível, para moléculas constituídas de muitos átomos. Não
apenas as moléculas grandes têm um grande número de centros podem ocorrer e precisam ser
levadas em conta.
As vibrações caem na categoria de estiramentos e de deformações angulares. Uma
vibração de estiramento envolve uma variação contínua na distância interatômica ao longo do
eixo da ligação entre dois átomos. As vibrações de deformação angular são caracterizadas
pela variação do ângulo entre duas ligações e são de quatro tipos: tesoura (scissoring),
balanço (rocking), sacudida (wagging) e torção (twisting). Os vários tipos de vibração estão
mostrados esquematicamente na Figura 5. Todos os tipos de vibração mostrados na Figura 5
podem ser possíveis em uma molécula contendo mais de dois átomos. Além disso, interação
ou acoplamento de vibrações pode ocorrer se as vibrações envolvem ligações de um mesmo
átomo central. O resultado de um acoplamento é uma variação nas características das
vibrações envolvidas.2
Figura 2: Tipos de vibrações moleculares. (a) Vibrações
do tipo estiramento e (b) Vibrações de deformação
angular.
(a)
Simétrico Assimétrico
(b)
-
++
Sacudida
(Wagging)
+ -
Torção
(Twisting)
Balanço
(Rocking)
Tesoura
(Scissoring)
6
A vibração característica de cada ligação entre dois átomos ou em uma molécula se
apresenta numa determinada posição no espectro. Pode-se estimar qual a posição em que uma
determinada vibração pode aparecer através de equações que fornecem os dados de número de
onda característico dos modos vibracionais.
As equações da mecânica clássica não descrevem completamente o comportamento de
partículas de dimensões atômicas. Podemos, no entanto, usar o conceito de oscilador
harmônico simples para desenvolver as equações de onda da mecânica quântica.
Onde ν é o número de onda de um pico de absorção em cm-1
, k é a constante de força para a
ligação em newtons por metro (N/m), e a massa reduzida µ tem unidades de kg.
A equação acima e as medidas no infravermelho permitem a avaliação de constantes
de força para vários tipos de ligações químicas. Geralmente, observa-se que k se situa entre
3x102 e 8x10
2 N/m para a maioria das ligações simples, sendo 5x10
2 um valor médio
razoável. Observa-se que as ligações duplas e triplas, do mesmo modo, têm constantes de
força de cerca de duas a três vezes esse valor (1x103 e 1,5x10
3, respectivamente). Com esses
valores médios experimentais, a equação acima pode ser usada para se estimar o número de
onda do pico fundamental de absorção, ou o pico de absorção devido à transição do estado
fundamental ao primeiro estado excitado, para uma variedade de tipos de ligação.
Há vários catálogos de espectro no infravermelho disponíveis que ajudam uma
identificação qualitativa fornecendo espectros de um grande número de compostos puros para
comparação. Além deste método a atribuição também pode ser feita mediante análise através
de espectros disponíveis de pacotes de software.2
2.3. Descarte de resíduos
Até há pouco tempo, os laboratórios descartavam seus rejeitos (resíduos) sem os
cuidados necessários; solventes voláteis eram evaporados (lançados para a atmosfera), sólidos
eram descarregados em lixo comum e, líquidos e soluções, eram descartados na pia. Essas
práticas não são recomendadas e, atualmente, existe uma preocupação maior no descarte de
rejeitos químicos. Existem regras estabelecidas para o descarte de rejeitos, especialmente os
perigosos; no entanto, muitas vezes são difíceis e de custo elevado para serem
implementadas.5
7
Assim, na prática, procura-se, sempre que possível, minimizar a quantidade de
resíduos perigosos gerados nos laboratórios de ensino:
Redução da escala (quantidade de sustância) de produtos químicos usados nos
experimentos;
Substituição de reagentes perigosos por outros menos perigosos;
Conversão dos resíduos para uma forma menos perigosa através de reação química,
antes do descarte;
Redução dos volumes a serem descartados (concentrando as soluções ou separando os
componentes perigosos por precipitação);
Recuperação dos reagentes para novamente serem utilizados.
3. MATERIAIS E MÉTODOS
3.1. Materiais
Erlenmeyer;
Gelo;
Banho termostático;
Balança analítica;
Balança semi-analítica;
Bastão de vidro;
Funil de Bucnher;
Papel de filtro;
Funil;
Almofariz;
Béquer;
Pipeta Pasteur.
3.2. Reagentes
Acetato de cobre;
Etanol;
Cloreto de cobre;
Cloreto de cobalto;
Uréia;
Resíduo contendo Cobalto
Hidróxido de sódio;
Sulfeto de sódio;
Hipoclorito de sódio.
3.3. Procedimentos
3.3.1. Preparação de compostos de coordenação entre o metal cobre e glicina.
Em um Erlenmeyer dissolveu-se 0,1 g de acetato de cobre monoidratado em 1,5 mL
de água. Acrescentou-se 1,0 mL de etanol 95% (quente) à solução. A solução foi mantida a
temperatura de 70 ºC com auxilio de um banho termostático.
8
Em outro Erlenmeyer dissolveu-se 0,075 g de glicina em 1 mL de água. Misturou-se
as duas soluções previamente preparadas e observou-se a formação de precipitado com
auxilio de um banho de gelo.
Filtrou-se o precipitado formado, e lavou-o com 0,5 mL de etanol gelado. Deixou-se
o composto secar a temperatura ambiente.
3.3.2. Síntese de adutos entre cobre, cobalto e uréia
Utilizando as proporções (em mol) 1:2 e 1:4 para o cobre e 1:4 e 1:6 para o cobalto,
partindo-se de 2,0 g do sal do metal em cada caso, triturou-se por quinze minutos o haleto
(CuCl2.2H2O ou CoCl2.6H2O) e ligante (uréia) para se obter os compostos. Observou-se e
anotou-se a cor dos compostos obtidos após o tempo de trituramento.
3.3.3. Recuperação do cobalto na forma de resíduo gerado nas práticas anteriores e
purificação do sobrenadante para ser descartado na pia.
Nas práticas anteriores, foi gerada solução aquosa que contém íons Co2+
, se a
oxidação não foi completa, e Co3+
, sendo necessário realizar a precipitação dos íons cobaltos
com uma solução saturada de Na2S (formação de um sólido preto), o seguinte tratamento
aconteceu na capela, antes do descarte final:
A solução contendo íons Co(III) era ácida, antes de adicionar sulfeto de sódio
neutralizou-se até pH entre 9 e 10 com NaOH 13 mol/L.
Preparou-se cerca de 10 mL da solução saturada de Na2S para iniciar a precipitação,
e à medida que foi necessário, uma quantidade maior foi preparado.
Verificou se a precipitação foi quantitativa através da adição de algumas gotas de
Na2S ao sobrenadante, até não haver mais precipitação.
O sólido foi separado do sobrenadante por filtração. O sobrenadante foi tratado com
NaOCl (hipoclorito de sódio) para eliminar o excesso de Na2S adicionado, para então ser
descartado no esgoto comum.
Na2S + 4 NaOCl → Na2SO4 + 4 NaCl
9
3.4. Fluxogramas
3.4.1. Preparação de compostos de coordenação entre o metal cobre e glicina.
3.4.2. Síntese de adutos entre cobre, cobalto e uréia
3.4.3. Recuperação do cobalto
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4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
4.1. Um Experimento em Química Bioinorgânica: Síntese de Compostos Cobre-Glicina
A glicina é um aminoácido que pode se dissociar para formar o ânion glicinato (gly),
o qual pode se coordenar a uma grande variedade de centros metálicos. O íon glicinato é
assimétrico, e pode dar origem a isômeros estruturais, dependendo da orientação relativa com
que se coordena. A Figura 3 abaixo representa (a) a estrutura da glicina e (b) os isômeros que
pode formar com íons metálicos:
(a) (b)
Figura 3: (a) Molécula de glicina. (b) Aduto entre cobre e glicina, nas formas cis e trans.
O isômero cis precipita muito mais rapidamente que o trans, deslocando o equilíbrio
para sua formação. Esse isômero, cineticamente mais favorecido, se converte no trans (que é
favorecido termodinamicamente) simplesmente por aquecimento a 180 °C durante 15
minutos.
No organismo, o Cu(II) tem papel essencial no organismo, sendo encontrado em
várias enzimas e proteínas que tem funções centrais em muitos processos biológicos. Ele pode
interagir de diversos modos com essas moléculas, já que elas apresentam diferentes sítios de
coordenação. A glicina, por exemplo, possui dois potenciais sítios de ligação, que podem
fazer do aminoácido um ligante mono ou bidentado.6 A coordenação se dá através do átomo
de nitrogênio do grupo amino e/ou pelo oxigênio desprotonado do grupo carboxilato.
Conforme indica a Figura 3, os complexos formados, sejam em sua forma cis ou
trans, apresentam estrutura quadrado-planar. O Cu(II) é um íon d9, e o diagrama de energia
para o desdobramento dos orbitais é representado na Figura 4:
11
Figura 4: Digrama de níveis de energia mostrando o desdobramento dos orbitais para íons d9
Como mostra o diagrama, a distribuição é assimétrica em eg, ocorrendo a distorção
de Jahn-Teller. Para o caso de coordenação com a glicina, um ligante de campo forte, ocorre a
inversão – em termos de energia – entre os orbitais dxy e dz2 e perda dos ligantes axiais,
estabilizando o complexo na estrutura quadrado-planar.
A síntese do glicinato de cobre utilizou como precursores acetato de cobre
monoidratado e glicina. A reação que descreve a formação do complexo é representada a
seguir:
Cu(CH3CO2)2.H2O (aq) + 2 H2NCH2CO2H (aq) ↔ [Cu(gly)2] (s) + 2 CH3CO2H (aq)
Misturadas as soluções dos precursores – sendo a do íon metálico contendo etanol
95% e a temperatura de aproximadamente 70 °C para facilitar a solubilização do sal – a
solução resultante foi colocada em banho de gelo para favorecer a precipitação, que foi lenta.
O precipitado formado, de cor azul clara, foi filtrado a pressão reduzida e lavado com etanol
gelado. Após seco, o produto foi pesado. Os dados relativos à síntese são descritos na Tabela
1:
D4hOhÍon Livre
t2g
eg
dx2-y2 dz2
dxy dxz dyz
dx2-y2
dz2
dxy
dxz dyz
10 Dq
d9
dx2-y2
dxy
dz2
dxz dyz
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Tabela 1: Dados relativos à síntese do composto glicinato de cobre (II)
Cu(CH3CO2)2.H2O [Cu(gly)2]
Massa molar (g mol-1
) 200,0 211,67
Massa pesada (g) 0,1058 0,0958
Massa teórica - 0,1120
Rendimento (%) - 85,5
Os cálculos abaixo exemplificam como foi determinado o rendimento:
Como pode ser verificado, o rendimento é bastante elevado, indicando a eficiência
do método síntético. Porém, o rendimento elevado pode estar relacionado a presença de águas
de hidratação na esfera de coordenção do metal, as quais não foram consideradas nos
cálculos. Não podem ser descartadas perdas durante a filtração, como ocorreram, e nem a
solubilização do composto durante as lavagens.
4.2. Parte B – Síntese de adutos entre Cobre, Cobalto e Uréia: Química de Coordenação
no Estado Sólido
Compostos de coordenação entre metais de transição e uréia – ou seus derivados –
têm sido sistemática e progressivamente estudados ao longo das duas últimas décadas. Esses
compostos têm sido estudados do ponto de vista de sua preparação, estruturas e propriedades,
principalmente em conexão com sua habilidade em formar compostos de coordenação.7
A uréia, por exemplo, pode formar adutos com cobre e cobalto. Para o caso da
presente prática, a verificação desta formação pôde ser avaliada pela mudança de coloração
do produto final. A Tabela 2 apresenta as massas utilizadas para a preparação dos compostos
de coordenação com diferentes estequiometrias
Tabela 2: Massas dos reagentes utilizadas na preparação dos adutos de Co(II) e
Cu(II) em diferentes estequiometrias
Metal Proporção MCl2.H2O Uréia
Cu 1:2 2,0707 1,42
1:4 1,9500 2,89
Co 1:4 2,0280 2,02
1:6 1,9505 3,03
mteórica = [0,1058 g CuAc2.H2O] = 0,1120 g1 mol CuAc2
200,0 g
1 mol complexo
1 mol CuAc2
1 mol complexo
1 mol CuAc2
211,67 g complexo
1 mol complexo
211,67 g complexo
1 mol complexo
Rendimento = . 100 = 85,5 %0,0958
0,1120
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Os adutos foram preparados por síntese no estado sólido, outra rota bastante eficiente
na preparação de compostos de coordenação, em que quantidades estequiométricas dos
reagentes foram trituradas por aproximadamente quinze minutos. As cores observadas para os
produtos finais são descritas na Tabela 3:
Tabela 3: Coloração observadas e absorvidas para os adutos de Co(II) e Cu(II) com uréia
em diferentes estequiometrias
Metal Proporção Cor Observada Cor Absorvida
Cu 1:2 Verde Marinho Vermelho
1:4 Turquesa Rosa
Co 1:4 Azul Violeta Laranja amarelado
1:6 Púrpura Amarelo esverdeado
Para o caso dos complexos de cobre, observou-se apenas pequena variação na
coloração dos compostos formados. O cloreto do sal, de cor verde, passou a verde marinho
quando da adição estequiométrica de dois mols de uréia para um do metal; para a
estequiometria 1:4, o produto final adquiriu coloração turquesa. Em ambos os casos, os
compostos de coordenação passaram a absorver comprimentos de onda mais energéticos com
o aumento da estequiometria, conforme indica Tabela 3 e a esfera de cores, representada na
Figura 5, indicando a possível substituição das moléculas de H2O da esfera de coordenação do
metal por uréia, de campo mais forte.
Figura 5: Esfera de cores
A uréia pode apresentar dois potenciais sítios de ligação: os átomos de oxigênio e
nitrogênio. Para avaliar qual dos dois interage mais efetivamente com o íon metálico central,
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foram adquiridos espectros de absorção na região do infravermelho de ambos os adutos e dos
reagentes de partida, os quais estão representados na Figura 6, a seguir:
Figura 6: Espectros de absorção no infravermelho para os precursores a
adutos de Cu(II) com uréia em diferentes estequiometrias
Para o espectro da uréia, a banda larga na região de aproximadamente 3300 cm-1
corresponde ao modo vibracional da ligação N─H. As bandas finas na região de 1680 e 1460
cm-1
correspondem às vibrações por estiramento das ligações C═O e N─H, respectivamente,
características de amidas. O pico em ~1160 cm-1
é associado à vibração por estiramento da
ligação C─N.
Para o espectro do cloreto de cobre(II), verifica-se a larga banda na região de
também 3300 cm-1
associada à vibração por estiramento da ligação O─H na molécula de
água. A diferença básica entre esta banda e a banda associada à vibração N─H é que a
primeira apresenta alargamento bem maior, especialmente em sua base. Pode-se verificar que
a banda para o primeiro caso estende-se de aproximadamente 3650 a 2850 cm-1
, enquanto
para a vibração N─H localiza-se entre 3500 e 3000 cm-1
. Ainda para o sal, a fina banda
localizada em aproximadamente 1600 cm-1
corresponde à vibração por deformação da ligação
O─H. Neste caso, a estrutura fina indica que a água está coordenada ao metal, o que restringe
as vibrações da molécula.
Comparando os espectros dos precursores com os produtos finais, podem-se notar
alterações no perfil das bandas. Especialmente para os modos vibracionais associados às
4000 3500 3000 2500 2000 1500 1000 500
4000 3500 3000 2500 2000 1500 1000 500
578
11551465
1678
23602802
3332
1597
2279
3277
1165
1643
21672789
3462
1165
1633
21752790
3460
Numero de onda (cm-1)
Uréia786
CuCl2.2H
2O
Aduto 1:2
Cu2+
e Uréia
760
760
1470
T
ran
sm
itâ
ncia
(%
)
Aduto 1:4
Cu2+
e Uréia
15
ligações na molécula de uréia, os deslocamentos observados dão indícios de seu possível sítio
de coordenação. Para facilitar as comparações, os principais modos vibracionais e seus
máximos de absorção estão registrados na Tabela 4:
Tabela 4: Bandas no IV (cm-1
) para uréia e adutos de Cu(II) em diferentes estequiometrias
ν(C═O) ν(N─H) ν(C─N)
Uréia 1678 1465 1155
Aduto 1:2 1643 1472 1165
Aduto 1:4 1633 1472 1165
Os modos vibracionais associados à ligação C═O são os que sofrem maior
deslocamento do reagente puro para aquele coordenado ao metal, indicando que o oxigênio
deve ser o sítio ativo na coordenação. Já as ligações N─H e C─N não sofrem grandes
deslocamentos; a pequena variação observada é associada ao fato de que alterações no
momento de dipolo da ligação C═O refletem nas demais ligações, visto a proximidade entre
elas, conforme indica a Figura 7, representando a molécula de uréia
Figura 7: Molécula de uréia
É interessante notar que, estando a uréia coordenada ao metal, os deslocamentos
observados para as vibrações que envolvem o átomo de nitrogênio não sofrem alterações com
a variação da estequiometria, ao contrário da vibração associada ao provável sítio de
coordenação, em que mudança da estequiometria de 1:2 para 1:4 provocou alterações na
energia da vibração, dando mais indícios da coordenação por este ponto.
Com relação à definição das estruturas finais formadas, a estequiometria 1:4 sugere a
formação de [Cu(uréia)4]Cl2 quadrado-planar, esperado para íons com configuração
assimétrica como o Cu(II) e ligantes de campo forte como a uréia. Para o caso da
estequiometria 1:2, as duas outras posições não ocupadas pela uréia podem ser preenchidas
por íons Cl- ou moléculas de H2O. Considerando a elevada labilidade da água, é possível que
seja formado o aduto [Cu(uréia)2(Cl)2]. A análise dos espectros revela que o alargamento da
banda em 3300 cm-1
não é tão grande, e a mesma se assemelha muito à da uréia pura, dando
indícios da possível ausência de água na esfera de coordenação; o pico em ~1600 cm-1
,
16
porém, ainda é observado. Dessa forma, as demais possibilidades, [[Cu(uréia)2(H2O)2]Cl2 e
[Cu(uréia)2(OH2)Cl]Cl, não podem ser descartadas.
Para o caso dos adutos de cobalto, o aumento da razão uréia:cobalto provocou o
mesmo efeito observado para os adutos de cobre. Conforme indica a Tabela 3, as cores
absorvidas pelos complexos passaram a ser mais energéticas quando a estequiometria variou
de 1:4 a 1:6, o que indica a maior coordenação da uréia ao íon metálico com o aumento da
proporção. Assim, para a estequiometria 1:6, supõe-se a formação de [Co(uréia)6]Cl2,
octaédrico; para a estequiometria 1:4, como no caso do cobre, as duas posições restantes não
ocupadas pelo ligante orgânico podem ser ocupadas por íons Cl- ou moléculas de água;
todavia, como anteriormente discutido, a labilidade da água pode levar à formação do aduto
[Co(uréia)4(Cl)2]. As demais possibilidades não podem ser descartadas.
Para os complexos deste íon metálico não puderam ser adquiridos espectros no IV.
Devido ao caráter higroscópico do sal de cobalto, o produto final apresentou-se como um
líquido viscoso, o que impossibilitou as medidas. Todavia, a variação nas cores dos produtos
finais dá indícios da coordenação. Trabalhos na literatura8 descrevem a coordenação da uréia
também pela carbonila.
4.3. Parte C – Recuperação de Co na Forma de Resíduo e Purificação do Sobrenadante
A geração de resíduos é um dos grandes problemas no laboratório. Com o advento da
Química Verde, sobretudo, este passou a ser um ponto cuidadosamente avaliado na realização
de sínteses.
Durante as práticas de Química Inorgânica (III), uma grande quantidade de resíduos
de Co(II) e Co(III) foi gerada. Os íons, porém, podem ser recuperados na forma de sulfeto, o
que torna o sobrenadante, depois de devido tratamento, inofensivo e possível de ser
descartado na pia.
Uma pequena porção de resíduo foi tomada para o tratamento. A precipitação foi
realizada com solução saturada de sulfeto de sódio, Na2S. Antes de adicionar o agente
precipitante, entretanto, a solução foi neutralizada até pH próximo a 10. Em caso de solução
ácida, a adição de Na2S levaria à formação de ácido sulfídrico, conforme indica a reação:
Na2S (aq) + 2 H3O+ (aq) ↔ H2S (aq) + 2 Na (aq) + 2 H2O (l)
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Levada a pH básico, a solução foi então tratada com Na2S. Com a adição, verificou-
se a precipitação de sólido preto, o sulfeto de cobalto. A adição foi realizada até verificar-se a
precipitação quantitativa.
O sólido obtido foi então filtrado e descartado em frasco previamente destinado. O
sobrenadante, de coloração amarelada, foi tratado com NaOCl a fim de eliminar o excesso de
Na2S adicionado, conforme indica a reação abaixo:
Na2S (aq) + 4 NaOCl (aq) ↔ Na2SO4 (aq) + 4 NaCl (aq)
A solução, de coloração inicialmente amarelada, tornou-se límpida ao término do
tratamento, indicando que todo o excesso de Na2S foi convertido a Na2SO4. A solução do sal,
o qual é branco e inofensivo, pode então ser descartada no esgoto comum.
5. CONCLUSÕES
A partir dos resultados obtidos, foi possível verificar a eficácia do método sintético
na preparação do composto de coordenação entre cobre e glicina. O rendimento elevado dá
indícios do quão eficiente são as interações entre metais e proteínas (aminoácidos) no
organismo.
Para a síntese de adutos entre cobre e cobalto com uréia, a variação nas colorações
obtidas para os produtos finais indica a coordenação da molécula orgânica ao metal, em
substituição à água. Para o caso dos adutos de cobre, a aquisição dos espectros no IV
confirmou a formação do produto desejado, sugerindo ainda que a coordenação ocorra pelo
oxigênio da carbonila. Com o aumento da razão uréia/metal, os produtos passaram a absorver
energias cada vez maiores, em concordância com o aumento da substituição das moléculas de
água, de campo menor que as de uréia. Para os complexos em que a estequiometria não é
máxima, as posições restantes podem ser ocupadas tanto por íons cloreto quanto por água,
todavia, devido à elevada labilidade desta, é possível que as posições sejam preferencialmente
ocupadas por íons Cl-.
O tratamento de resíduos de Co(II) e/ou Co(III) foi eficientemente realizado. O metal
pôde ser separado da solução na forma de seu sulfeto, e o sobrenadante final foi então
devidamente tratado, sendo convertido a produtos não tóxicos que puderam ser descartados
diretamente na pia.
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REFERÊNCIAS
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2007.
2 SKOOG, D. A. Fundamentos de Química Analítica. Chicago: Holt, Rinehart and Winston, 1963.
3 VAITSMAN, DELMO SANTIAGO, CIENFUEGOS, FREDDY. 1. ed. Análise Instrumental. Rio
de Janeiro: Interciência, 2000, 606p.
4 EWING, G.W. Métodos Instrumentais de Análises Químicas. São Paulo: Edgar Blücher, 1972.
5 APOSTILA de Experimentos. Disponível em: <http://www.dqi.ufms.br/~lp4/Apostila%20aula%20
pratica.pdf>. Acesso em: 14 nov. 2011.
6 SILVA, A. M. et al. Avaliação da estabilidade de complexos formados entre o íon cobre (II) e os
aminoácidos tirosina e glicina. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE QUÍMICA, 50, 2010, Cuiabá –
MT. Anais. Rio de Janeiro: Associação Brasileira de Química, 2010. Disponível em:
<http://www.abq.org.br/cbq/2010/trabalhos/2/2-443-4723.htm>. Acesso em: 25 nov. 2011.
7 Carp, O.; Patron, L.; Reller, A. Thermal behavior of the coordination compound [Co(urea)6](NO3)2].
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8 FARIAS, Robson Fernandes de. Solid state synthesis, characterization and thermogravimetric study
of the adducts CoCl2.6L (L = ethyleneurea, propyleneurea and ethylenethiourea). Thermochimica
Acta, v.376, p.63–66, 2001.