a. a. fair - a pista do crime esquecido

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TTULO: A pista do crime esquecidoAUTOR: GARDNER, Erle Stanley.TTULO DA EDIO ORIGINAL: THE CLUE OF THE FORGOTTEN MURDERLOCAL DA PUBLICAO: Lisboa EDITORA: Livros do BrasilData da publicao: 1984GNERO: romance policialCLASSIFICAO: Estados Unidos Sculo XX - FicoCOLECO: Vampiro Gigante Obras Escolhidas de Erle Stanley Gardner n. 14 *DIGITALIZADO E CORRIGIDO POR:Aventino de Jesus Teixeira Gonalves Junho de 2005Nota: Em dois pontos do texto h "empastelamentos" que esto no original a tinta.**** Os volumes desta coleco so constitudos por dois ttulos, sendo este o segundo.O primeiro :O caso da noiva curiosa.Nota do digitalizador***

A PISTA DOCRIME ESQUECIDO

Traduo de L. DE ALMEIDA CAMPOS * .Capa de A. PEDRO Ttulo da edio original THE CLUE OF THE FORGOTTEN MURDERCopyright 1934, by Erle Stanley GardnerReservados todos os direitos pela legislao em vigorLisboa - 1984

PREFCIOE DEDICATRIA

Comecei a interessar-me pela administrao da justia porque sou advogado.Depois comecei a escrever sobre o crime e fiqueiinteressado no crime.Esse interesse abriu-me uma grande quantidade denovos campos: cumprimento da lei, punio, reabilitao, prova, alegao e, de uma maneira geral, a listacompleta dos assuntos respeitantes captura do criminoso, sua condenao e punio e possvel reabilitao desse criminoso.Por causa desse interesse, conheci pessoas interessantes. E uma das mais interessantes foi o meu amigo,o ilustre Magistrado Richard A. McGee, Director dosEstabelecimentos Correccionais do Estado da Califrnia,a quem este livro dedicado.Dick McGea dispe duma enorme instalao ondeopera. Tem de alimentar, vestir e alojar mais de dezassete mil e quinhentos internados. Grande parte do alojamento tem de ser constitudo por unidades de altasegurana, policiadas com guardas. Cerca de trs mil equinhentos empregados tm de ser recrutados, treinadose dirigidos em centenas de tarefas complexas, difceis e,por vezes, perigosas.Alm disso, a Califrnia est a crescer rapidamenteem populao e esse crescimento reflecte-se num aumento correspondente da populao prisional. O estadodeve manter as suas instituies correccionais a pardesse crescimento; quando so necessrias algumasfacilidades, elas devem estar prontas e disponveis. Tudoisto implica preveno e planeamento.Um dos problemas do Director McGee ter de tratar com homens que so em todos os aspectos to amar- 221

gos, to desesperados e to perigosos como qualquerdos prisioneiros federais que esto a cumprir pena emAlcatraz. No outro extremo da escola situa-se o problemade homens que so indivduos com a mente baralhada,indivduos emocionalmente perturbados que se tornaram temperamentalmente incapazes de se inserirem nasociedade ou que so perfeitamente correctos quandoesto sbrios, mas dispostos a meterem-se em complicaes quando esto embriagados.Os problemas de organizao so tremendos. O problema da instalao de novas instituies, da compra deterrenos, dos ajustamentos a fazer com os cidados dacomunidade, o problema de manter as instalaes prisionais eficientemente operacionais, o problema de descobrir trabalhos teis para milhares de internados e, aomesmo tempo, fornecer proteco adequada indstriaprivada contra a concorrncia do trabalho prisional, oproblema de preparar pessoal treinado em quem se possaconfiar completamente e que, no entanto, esteja disposto a trabalhar por salrios que o Estado possa pagar- todas essas coisas so dores de cabea bem definidas no campo administrativo.Depois h o problema de se manter a par dos desenvolvimentos no campo da penologia e, no caso de DickMcGee, ir ainda mais longe que isso e manter-se na vanguarda e pioneirismo de novas ideias em penologia.Aqueles que conhecem o Director McGee consideram que ele est bastante frente do seu tempo e, noentanto, to intensamente pragmtico que os seus psesto sempre bem assentes no cho.Creio que a minha histria preferida relacionada comele se passou na altura em que ele foi intimado a comparecer perante uma comisso legislativa que se mostrava disposta a efectuar algumas mudanas na legislao criminal. A comisso apresentou as suas ideias aMcGee. McGee pegou num lpis e papel, sentou-sedurante um momento e comeou a escrever nmeros.Os legisladores intrigados no podiam compreenderque um homem tivesse de se servir de lpis e papelpara lhes dar a sua opinio sobre alteraes legislaopenal.Enquanto eles se mantinham sombriamente silencio- 222

sos e mesmo antes que algum perguntasse ao DirectorMcGee que diabo pensava ele que estava a fazer, o Director forneceu a resposta.- Esta alterao, em primeiro lugar - declarouEle, custar ao Estado da Califrnia cerca de... - E ento disse-lhes exactamente quantos milhes de dlares custaria ao Estado pr esse plano em execuo.Levantou o olhar dos nmeros e acrescentou:- Francamente, meus senhores, penso que o Estadopodia gastar esse dinheiro duma forma melhor.A ideia de que esta reforma proposta necessitariade dinheiro para ser introduzida nunca tinha ocorrido aoslegisladores. Eles estavam a debater a questo no campopuramente terico. O Director McGee tem de conciliar ateoria com os factos. esse o seu trabalho.Por outro lado, quando se trata de conceder vantagens aos contribuintes do Estado e, duma maneira geral, sociedade, o Director McGee encontra-se na primeiralinha.Tomemos, por exemplo, a sua terapia de grupo.Como qualquer outra ideia, ela teve de passar pelafase do pioneirismo e houve, claro, pessoas que seopunham a ela.Agora, o valor da terapia de grupo reconhecidoquase universalmente.Ali, num grande centro de nova classificao e tratamento, em Vacaville, na Califrnia, homens sob observao psiquitrica renem-se e analisam as suas prpriasmentes numa inquirio minuciosa e implacvel quenunca permitiriam que fosse feita por um estranho.As fraquezas de cada homem so avaliadas por eleprprio e pelos seus companheiros. Esses homens noesto a abordar o problema com uma atitude de auto-rectido e a olharem para baixo, para os infelizes, dasalturas compacentes da superioridade moral. Esseshomens conhecem a vida por experincia prpria, sabemos seus desvios, compreendem as tentaes e tm assuas prprias fraquezas que esto tambm a ser avaliadas.O resultado que conflitos de carcter esto a sercompreendidos, fraquezas esto a ser trazidas luz eabre-se um caminho para o crescimento intelectual e for- 223

talece-se a estabilidade moral pelo fortalecimento dacompreenso.Todas estas coisas procuram duma forma bem definida baixar a percentagem do crime, tal como a sociedade est, nos nossos dias, a fazer aparecer factorescomplicados que resultaro inevitavelmente no aumentoda percentagem do crime.Tudo isto faz parte da guerra contra o crime que asociedade est a travar e deve continuar sempre a travar - e que a sociedade pode perder se no for cuidadosa.O cidado mdio gosta de sentir que, quando umcriminoso foi preso, condenado e enviado para a penitenciria, fica fora da circulao.O cidado mdio no se d conta que, provavelmente, menos de dois por cento dos internados morremna cadeia; que, mais cedo ou mais tarde, uma grandepercentagem destes homens que foram mandados paraa priso vai ser posta em liberdade; que aquilo que elesfazem a si prprios e sociedade aps a sua libertaodepende muitssimo daquilo que a sociedade fez comeles enquanto estiveram enclausurados.Em alguns estados, no pode haver a mnima dvidade que as prises so verdadeiras fbricas do crime.O homem que entra l como um indivduo perturbado obrigado a entrar em contacto com criminosos amargurados, anti-sociais e empedernidos e sai de l muito piordo que quando entrou.Felizmente, hoje comeamos a ter uma compreensomuito maior da penologia e o facto de estarmos a aprender bastante sobre o assunto e a termos dele uma grandecompreenso devido s mentes perspicazes, compreenso cheia de simpatia e avaliao lgica doshomens que compreendem o crime e o castigo, que estoa procurar constantemente melhores solues para umproblema j muito velho - os peritos em penologia queesto a devotar as suas vidas para tornar o pas um lugarmelhor e mais seguro onde se possa viver.E onde quer que se faa referncia a esses homens,,atravs dos Estados Unidos ou em muitos pases estrangeiros, o nome de Richard A. McGee inevitavelmente citado.Por isso eu peo aos leitores para terem em mente;224

que a penologia est a tornar-se uma cincia que temefeitos pessoais muito mais directos sobre o cidadodo que aqueles de que o cidado se d conta e que podemos baixar o ndice criminal dando o nosso apoio caloroso a homens que esto a devotar as suas vidas aoestudo do problema do crime, da punio, da reabilitao, da prova e da alegao.E porque ele um dos homens proeminentes nestecampo, dedico este livro ao meu amigo, o Director dosEstabelecimentos Correccionais do Estado da Califrnia,O ilustre Magistrado Richard A. McGeeERLE STANLEY GARDNER15 - VAMP. G. GARDNER 14 225

1O crime penetrava no quartel-general da polcia edepois era filtrado com todos os cuidados at sala deimprensa, no rs-do-cho, com a regularidade infalvelde gua suja a ser despejada pelo grosso cano de esgotode uma banheira.Charles Morden estava sentado sua secretriadestroada pelo uso e pela idade e tinha na mo umtelefone que estava ligado directamente ao seu jornal,The Blade. A mo esquerda apertou o auscultador contrao ouvido, enquanto a mo direita ia desfolhando algunscartes nos quais a data, 19 de Maro, e alguns apontamentos referentes aos crimes desse dia tinham sidoescritos. O jornalista tratava das misrias dos outros coma mesma atitude impessoal com que o caixa de um bancotrata o dinheiro dos seus depositantes.- Tenho mais um caso de roubo por estico pararelatar - murmurou para o telefone. - Elizabeth Givens,vinte e dois anos, Rua Reeder 3612, apeou-se do autocarro da carreira da Trigsima Segunda Avenida, na RuaWaters. A meio quarteiro da paragem do autocarro,dois homens que estavam a caminhar atrs dela passaram-na a correr e levaram-lhe a malinha. Esta continhasete dlares e quarenta e dois cntimos em dinheiro,algumas cartas, uma argola para chaves com as chavesda casa dela e um estojo de maquilhagem.Houve um assalto mo armada em Dobbs Heiqhts.Frank Peabody, de trinta e cinco anos, da Avenida Boyle2319, que se dirigia para a paragem do autocarro a fimde esperar a mulher que regressava de uma sesso decinema. Dois homens, um deles mascarado, encostaram-lhe uma arma ao estmago e levaram-lhe uma car- 227teira que continha duas notas de cinco dlares e uma dedez, pequenos trocos perfazendo cerca de dois dlares,um relgio de ouro e um alfinete de gravata.Metam uma linha na notcia dizendo que Peabody absolutamente capaz de identificar um dos bandidos eque a polcia tem uma boa descrio dele. Vamos fazerisso como um favor especial a Johnson, da brigada deassaltos. Johnson pensa que apanhou os dois homens.Eles conseguiram libertar-se dos objectos roubados, masJohnson quer mostrar-lhes o relato do assalto no jornalonde se diga que Peabody os observou detalhadamente.Ele vai atirar um contra o outro atravs de uma confissoforjada.Uma notcia gira: Um homem que diz chamar-seJohn Smith, de quarenta e oito anos de idade, residentena Avenida Maple 732, que guiava um grande Chrysler,com a chapa de matrcula 6B9813, foi detido sob a suspeita de conduzir embriagado. Estava acompanhado deuma franguinha. Esta deu o nome de Mary Briggs, disseter vinte e dois anos de idade, declarando no ter residncia certa. Afirma viajar boleia e que Smith a convidou a subir para o automvel poucos minutos antesda deteno. Ele tinha tido um pequeno acidente de trnsito com um carro conduzido por George Moffit, de trintae dois anos, residente na Rua Melrose 619. O acidenteteve lugar no cruzamento da Rua Webster com a Broadway. O agente da polcia de trnsito Carl Wheaton encontrava-se de servio esquina. Como o hlito deSmith lhe cheirasse a lcool, comeou a interrog-lo.Smith parecia ansioso por se pr a andar dali para fora.Tinha uma carteira cheia de notas e tentou subornar oagente. Wheaton ficou desconfiado. Tinha havido umcomunicado a respeito de dois assaltos a estaes deservio - de um deles dei a notcia h cerca de duashoras -em que um homem e uma mulher chegaram decarro estao de servio e a mulher levou a efeito oassalto. O casal deslocava-se num grande Chrysler, deforma que Wheaton fez uma pequena investigao...Um agente apareceu entrada da sala e cumprimentou Morden com um gesto. Morden acenou com acabea e falou para o bocal do telefone: - Um momento!Temos novidade. Dentro de um minuto darei mais informaes... Sim, eu sei que faltam vinte minutos para o228

fecho do jornal, mas isto pode ser importante. Aguentes um minuto... Est bem, est bem, eu volto a ligar.Morden pousou o telefone e dirigiu-se apressadamente at ao corredor onde o agente lhe passou para amo uma folha de papel escrita.- Chegou agora mesmo - informou ele.Morden deu uma rpida vista de olhos ao que estavaescrito e soltou um assobio em surdina. Fez uma ou duasperguntas, tomou algumas notas, depois voltou a correrpara o telefone e pegou no auscultador. A sua voz continuava a manter um tom montono, mas as palavrassaam-lhe da boca um pouco mais rapidamente.- um caso de assassnio - anunciou. - Um detective particular foi assassinado por um gangster... Estbem, est bem, eu espero.Seguiu-se um pequeno intervalo de silncio, depoisos olhos de Morden brilharam de entusiasmo. Passou apalma da mo com cuidado pelo brilhante cabelo negropara se certificar que as ondas estavam na sua devidaposio. A sua voz adquiriu um tom de ironia amvel.- Ol, gatinha, estava a perguntar a mim mesmose no me darias com os ps. Ouve, doura, descobri umnovo cantinho onde se come maravilhosamente. E tambmdo um espectculo de variedades. Que me dizes deirmos at l...Repentinamente a sua voz voltou ao mesmo tommurmurante, aborrecido, montono:- Est bem. Edward Shillingby, de cinquenta e trsanos, residente no apartamento 563 do Edifcio Monadnock, na esquina da Rua Nove com a Central, solteiro,registado como detective particular, morto a tiro sdez e quinze por um gangster na Avenida Western, entreas ruas Cypress e Hazel. Um homem que conduzia umCadillac com o farolim do lado esquerdo partido, foi-seaproximando lentamente do passeio. Thomas Decker,de quarenta e oito anos, residente na Rua Washington1542, solteiro, ia caminhando pelo passeio. O carro foi-seencostando at quase tocar no lancil. O nico ocupantelevantou a mo empunhando uma arma e gritou: Muitobem, seu abelhudo, aqui mesmo que vais receber atua conta. Decker, em pnico, desatou a correr. O homemgritou-lhe: Desculpe, parceiro, no era voc que euprocurava. O carro ps-se em movimento e ultrapassou229

Decker. Ele deu-lhe uma boa vista de olhos, mas noconseguiu apanhar o nmero da chapa de matrcula. Osfarolins da retaguarda tinham sido desligados ou entoestavam fundidos. Contudo ele conseguiu ver que o dolado esquerdo estava partido. Era um Cadillac cinzento,modelo coup. O condutor vestia um sobretudo e umchapu de feltro preto. Cinquenta metros mais frente, ocarro parou. Shillingby caminhava pelo passeio. O homemdo automvel apeou-se, atravessou o passeio, dissequalquer coisa a Shillingby, ficou quase colado a ele eDecker afirma que os dois pareceram ficar imveisdurante dois ou trs segundos. Ento o homem doCadillac disparou quatro tiros queima-roupa, voltou-se,saltou para dentro do carro e desapareceu do outro ladoda esquina. Decker correu para Shillingby e foi a primeirapessoa a chegar junto do corpo. O agente Sam Greenwood ouviu os tiros. Encontrava-se a dois quarteires dedistncia. Chegou quase no momento em que Deckerfazia parar um carro que ia a passar. A vtima estavamorta. Duas das balas entraram-lhe no corao. As outrasduas penetraram a menos de cinco centmetros do corao. Qualquer uma delas teria sido mortal. A morte foiinstantnea... E ouve, no te esqueas de mencionar SamGreenwood. um bom polcia.O homem morto era Edward Shillingby. A identificao foi feita atravs de algumas cartas que tinha naalgibeira e do carto de identidade de detective particular. Havia uma declarao escrita mquina num dosbolsos em que ele dizia que se fosse encontrado morto,a polcia deveria dirigir-se a Fay Bronson, na Rua Lockhaven 2934 e para interrogar Philip Lampson, em temposconhecido por Cincinnati Red.Os agentes dirigiram-se morada de Fay Bronson.Ela vive no apartamento B e tem vinte e trs anos deidade. Declarou que Shillingby tinha estado a trabalharnum caso contra Lampson. No sabia que caso era esse.Shillingby tinha dito que ia seguir Lampson. Ele pensavaque Lampson poderia apanh-lo e revist-lo, por issoordenara secretria que lhe dactilografasse aquela declarao. A secretria afirma que o objectivo da declarao era evitar que Lampson eliminasse Shillingby. Elequeria que Lampson pensasse que havia algumas provas230

que estavam na posse da secretria. Ela garante que istoera apenas bluff. No havia qualquer prova.A coisa parece um pouco esquisita. Shillingby pr-vavelmente tinha algum trunfo escondido na manga. natural que tenha pretendido falar com Lampson, fazendo-lhe ver a declarao. Mas agora temos outro ngulointeressante do caso: Decker est cheio de pnico. Fez oseu depoimento polcia, forneceu o seu nome e moradae prometeu que ficaria disposio da justia como testemunha. Foi-se embora e desapareceu. H apenas algunsminutos, a polcia recebeu uma comunicao telefnicade Sidney Griff, o criminologista, a informar que Deckero tinha consultado. Disse que Decker estava com medoque a quadrilha de Lampson o matasse para impedir queele testemunhasse. Griff informa que Decker estardisponvel em qualquer momento em que a sua presenaseja necessria como testemunha, mas que, entretanto,Decker vai ficar muito quietinho num lugar seguroH qualquer coisa interessante a este respeito. O depoimento de Decker polcia no indica que ele pudesseser de grande utilidade para incriminar Lampson. A polciaimagina que ou ele sabe qualquer coisa que no lhe disseou que tem qualquer outra razo para se sentir assustado. Poderia ser uma boa ideia entrar em contacto comGriff para ver se se consegue uma declarao dele.O auscultador produziu uma srie de rudos metlicos.- Claro - replicou Morden. - Posso conseguir umaboa histria no que se refere ao caso do tal John Smithe fazer com que haja um toque de interesse humano narapariga que estava a viajar boleia e que acabou porficar sob deteno. Ela no tem nada mau aspecto. Dariauma boa fotografia no jornal e do tipo que se sentaria beira de uma secretria, mostrando uma boa poroda perna. pena que no tenhamos um fotgrafo quepossa vir c abaixo a tempo de fazer um boneco para aprimeira edio, mas podamos fotograf-la para um bomseguimento da histria... Claro, John Smith um nomefalso, mas os polcias vo descobrir quem ele realmenteantes de o soltarem. No tm nada contra ele. A pessoadele no condiz com a descrio do assaltante das estaes de servio, pelo menos depois de o observarempormenorizadamente. Vo mant-lo aqui at que chegue231

um dos homens da estao de servio para ver se consegue identificar a rapariga, mas no tm nada contraSmith. Este bebeu dois ou trs copos mas no estembriagado... Est bem, vou seguir o assunto atentamente e hei-de conseguir material para um artigo quetenha interesse humano... Sim, eu sei. Posso conseguirisso dentro de dez minutos. Se quer um boneco, o melhor mandar c um fotgrafo imediatamente... Est bem,ligarei para a dentro de sete minutos, dez no mximo.Morden pousou o aparelho no descanso, acendeu umcigarro e saiu a toda a pressa da sala da imprensa, percorreu um corredor onde se respirava um ar bafiento eviciado e empurrou uma porta que ostentava o letreiro:Brigada de Investigao Criminal.Tom Carsons, da Brigada de Investigao Criminal,estava a matar o tempo at que os homens da estaode servio chegassem para fazerem a identificao. Levantou os olhos e acenou com a cabea quando Mordenentrou na sala. Depois voltou-se para o indivduo degrande estatura, um tanto ou quanto barrigudo, que seencontrava sentado num banco de madeira, com osombros ligeiramente descados, os olhos a errarem nervosamente em volta da sala. Ao lado do homem estavasentada uma rapariga que era senhora de uns olhosescuros, cautelosos e observadores, de uns lbios pintados de um vermelho-vivo em contraste com a caraplida e de um cabelo que era de um negro profundo.Morden percorreu a rapariga com olhos apreciadores,esperou que o olhar dela se pousasse na cara dele esorriu.Passado um momento, ela devolveu-lhe o sorriso.Tom Carson olhou para o homem sentado e pronunciou num tom de voz aborrecido:- Voc est a falar exactamente da mesma maneiracomo todos os que passam por aqui. Se eu recebesseuma moeda de vinte e cinco tostes por cada parceiroque declarou que me ia processar por mant-lo sob deteno, no precisaria de trabalhar mais. Voc diz quemora na Avenida Maple 732. Depois, quando lhe pr- 232

vamos que no, que no vive l, diz-nos que se chamaJohn Smith, residente em Riverview, e que nos forneceuum nome e um endereo falsos porque no queria ver-seenvolvido em qualquer escndalo. A rapariga afirma queviaja boleia e que no tem residncia fixa; que voca convidou a subir para o seu carro e...- Exactamente - interrompeu-o o homem.- Cale-se - ordenou Carsons. - Quando quiser quevoc fale, fao-lhe perguntas.O telefone tocou.Carsons levou o auscultador ao ouvido.- Vou verificar isso quanto a Riverview - anunciouele. - Est?... Comando da polcia de Riverview? Muitobem. Daqui fala do comando central da cidade. Detivemosum homem sob suspeita de estar a conduzir embriagadoe tambm suspeito de assalto. Forneceu uma moradafalsa, aqui na cidade, mas agora diz chamar-se JohnSmith e morar nos Apartamentos Rex Arms, em Riverview; declara que tem o telefone desligado temporariamente, mas a carteira dele encontra-se recheada de notas.Faa uma verificao e telefone-me a comunicar os resultados, est bem? Pergunte por Tom Carsons, da brigadade investigao criminal... Muito bem, obrigado. Atdepois.Carson pousou o telefone e voltou-se para fitar defrente o homem sentado no banco.- J vamos ver - observou ele em tom fatigado -se h alguma coisa falsa nesse endereo e, se houver,voc vai passar a noite aqui. Est-se a fazer uma verificao, l em Riverview.O homem humedeceu nervosamente os lbios com aponta da lngua e desviou os olhos na direco da rapariga. Esta, inquieta no seu banco, levantou subitamenteo olhar para Carsons e interpretou correctamente o friohumor da expresso dele.- Juro por Deus! - exclamou ela. - Se eu soubesse alguma coisa sobre ele, dir-lhe-ia. Estou a falar-lhecom toda a sinceridade, Deus bem sabe. Ia a caminhar,apenas a caminhar, sem sequer fazer qualquer sinal como polegar para pedir boleia, quando este parceiro encostouo automvel ao passeio e perguntou-me se eu no queriasubir. Disse-lhe que no, mas ele ps o carro a umavelocidade baixa e comeou a acompanhar-me...233

O telefone tocou.Carsons levou o auscultador ao ouvido, acenou coma cabea e depois fitou o homem que estava sentado nobanco.- Agora - comentou ele - parece que estamos achegar a qualquer parte. - Seguidamente, falou para obocal do aparelho: - Isso foi tudo quanto conseguiram?Acenou novamente com a cabea, pousou lentamenteo telefone no descanso, escreveu qualquer coisa a todaa pressa numa folha de papel e, finalmente, levantou oolhar para o homem.- Muito bem, Sr. Frank B. Cathay - pronunciou. -Suponhamos que nos dizia a verdade?O homem sentado no banco nem pestanejou. Os seusolhos semicerraram-se, como se ele estivesse a concentrar-se em rpidos pensamentos.- O senhor conseguiu obter esse nome na casaonde aluguei o carro, no foi? - perguntou.Os modos de Carsons lembravam os de um gato atorturarem um rato.- Porqu? - inquiriu ele com uma candura cheiade afectao. - Foi esse o nome que deu quando alugouo carro?O homem sentado no banco aquiesceu com um acenode cabea.- Sim - declarou Carsons. - A matrcula do carrofoi confirmada como pertencendo a uma dessas firmasque alugam carros sem condutor. Informam que o senhordeu o nome de Frank B. Cathay, de Riverview, e que, almdisso, apresentou documentos para comprovar a suaidentidade e tambm como referncia.O homem encolheu os ombros resignadamente.- Muito bem - admitiu ele. - No vale a pena com-tinuar com fingimentos. Sou realmente Frank B. Cathay, deRiverview.Carsons resolveu mostrar-se desdenhosamente cnicoquando ficou certo de que estava a pisar terreno seguro.- Oh, sim - replicou ele. - Agora chama-se Cathay.Este j o terceiro nome que nos forneceu. Da prximavez dir que o Pai Natal.- No - retorquiu o homem. - Sou mesmo CathayPosso prov-lo.Ps-se de p, tirou uma carteira de plstico da algi- 234

beira interior do casaco, abriu-a, mostrou a carta deconduo, vrios cartes de scio de clubes particularese de clubes de golfe.O telefone tocou novamente. Carsons premiu o auscultador contra a orelha esquerda, apoiou o cotoveloesquerdo na secretria de forma que o aparelho fossemantido num certo ngulo, com a cabea dele bem inclinada para um lado, bem encostada ao auscultador. Osseus olhos no se desviavam da cara de Cathay enquantofalava.- Sim, fala do comando central. Carsons que fala.No, eu sei agora que isso foi falso alarme. Mas que mepode dizer de um parceiro chamado Cathay? D a impresso de ser um tipo importante, com uma quantidade decartes de scio de clubes e... Oh, ele isso, hem?Muito interessante... Candidato para conselheiro domunicpio, hem? Presidente de um clube de gastrnomos,hem? Director de um banco, hem?... Bem, ele agoraest aqui detido... sim, bom, detivemo-lo apenas parainterrogatrio, mais nada. Obrigado... Estou a ver...Hum-hum... Muito bem, obrigado. No, no; no lhe foifeita qualquer acusao... apenas o detivemos por causade uma investigao relacionada com um aviso que foifeito pela rdio. Estava a conduzir um carro que se parecia com aquele que figurou num assalto. Sim, suponhoque tudo isto no passa de um engano.Pousou o telefone e olhou para o homem sentado nobanco com uma expresso de respeito acabado deencontrar.- Por que diabo no disse a verdade logo primeiravez? - perguntou ele.- No me podia aventurar a isso. No posso aventurar-me a aparecer misturado nesta coisa. No suportoo mais pequeno escndalo.Carsons acenou com a cabea.- O senhor devia ter dito a verdade logo da primeiravez - insistiu ele. - Foi detido apenas por suspeita.Vamos verificar a sua identidade. Qual o seu endereoem Riverview?O homem falou sem a mnima hesitao.- A minha residncia na Avenida Walnut 286.O nmero do meu telefone Main seis-oito-trs-um.Tenho o meu escritrio no edifcio do First National Bank.235

Ocupo uma lea, a 908, uma lea com cinco salas quecobrem totalmente toda a parte da frente do nono andar.- Que faz o senhor? - perguntou Carsons.- Acompanho de perto os meus investimentos -respondeu o homem num tom de dignidade.Carsons fez deslizar uma folha de papel por cimada mesa.- Assine o seu nome - pediu ele.Charles Morden saiu apressadamente da sala. Nolimiar, fez uma paragem, com a porta apenas ligeiramenteentreaberta.- capaz de me fazer um favor, Tom? - perguntou.Tom Carsons voltou a cabea na sua direco efranziu o sobrolho.- Aguente-o durante uns quinze minutos - pediuMorden, fechando a porta, antes que Carsons pudesseresponder-lhe qualquer coisa. Percorreu o corredor emrpidas passadas at sala de imprensa, meteu a cabeana abertura da porta e viu que Whipple, do The Planetse encontrava sentado sua secretria; continuou paraa frente pelo corredor at chegar junto de uma cabinatelefnica. Entrou na cabina e, quando puxou a porta paraa fechar, a luz l dentro acendeu-se. Morden estendeu amo e apagou a luz, desenroscando a lmpada um quartode volta. Filtrava-se luz suficiente l para dentro atravsdo vidro que constitua a parte superior da porta paraque ele pudesse ver a ranhura para meter a moeda ediscar o nmero do The Blade.- Ouve, queridinha - sussurrou ele - pe-me emcontacto com Roy... Sim, eu sei. No te preocupes comisso.Claro, o convite vlido, mas esquece-o por agora.Isto servio. Estou a usar uma moeda do meu prpriodinheiro... Ol, Roy, este caso do John Smith est completamente esclarecido. Estou a telefonar de uma cabinado corredor. O Whipple do Planet est de servio na salade imprensa. Acabou de receber agora mesmo a informao que foi distribuda e a coisa foi transmitida parao Planet como se se tratasse de um vulgar John Smith,suspeito de conduzir embriagado, mas o homem no nada John Smith. um figuro importante de Riverview,um homem que se chama Cathay - C-A-T-H-A-Y... Exacta- 236

mente... Frank B. Cathay, de Riverview. Mora na AvenidaWalnut 286, tem escritrios no edifcio do Firts NationalBank, banqueiro e candidato para conselheiro do municpio. Provavelmente est a desenrolar-se por l umarenhida luta eleitoral e a notcia da sua deteno constituir uma arma importante para um dos jornais de Riverview, dependendo de qual deles est a fazer campanhacontra ele. Sim, ele foi detido na companhia de uma franguinha. Afirma que no a conhece e que nunca a tinhavisto antes. A histria dela que se chama Mary Briggs,que viaja boleia... Bem, ele est cheio de massa e esta preparar-se para comprar a sada daqui. o Tom Carsons que est encarregado da investigao e Tom esttodo caidinho para entrar no circuito dos grandes negcios bancrios. Tom supe que o homem tem boas ligaes polticas aqui que pode pr a funcionar se quiser.Cathay vai pagar uns cem dlares para que o deixem sairpela porta das traseiras e para que o assunto seja completamente apagado do mapa, como se nunca tivesseexistido. Carsons pode fazer isso porque no foi formulada qualquer acusao. O tipo foi simplesmente detidosob suspeita, principalmente sob a suspeita de estarenvolvido nos assaltos a estaes de servio... Claro quetenho a certeza destes factos. Ouvi-o quando ele resolveudeixar-se de fingimentos e falar claramente. Tinha a carteira dos documentos com ele, cheia de cartes de clubesde que scio, mais a carta de conduo e tudo o restoe Carsons vai faz-lo assinar o nome para o compararcom o que est escrito nos cartes, no contrato de aluguerdo carro, apenas para se certificar de que o homem mesmo quem diz ser... Voc podia fazer um telefonemapara a Sr.a Cathay a fim de obter uma declarao dela...Como que sei que ele vai comprar a sua sada daqui?Com mil diabos! Como que sei que esta chamada esta custar-me uma moeda de vinte e cinco cntimos? Sevoc quer que ele permanea c o tempo suficiente paraque um fotgrafo chegue at c, necessrio que faauma boa presso sobre Carsons, mas faz-la j.Morden pendurou o aparelho na forqueta, deslizoupara fora da cabina telefnica e comeou a percorrer ocorredor na direco da sala onde Carsons mantinha sobdeteno Frank B. Cathay. Mal tinha dado uma meia dziade passos depois de sair da cabina quando Whipple do237

Planet apareceu porta da sala de imprensa e ficouparado a observ-lo desconfiadamente.- Onde tens estado, p? - perguntou.- Tenho andado por a, para esticar as pernas -respondeu Morden.A expresso de Whipple tornou-se ainda mais desconfiada. Encaminhou-se para alm de Morden na direcoda cabine telefnica e abriu a porta com um puxo. Ointerruptor fez ouvir um clique, mas a luz no se acendeu.Morden tinha-se esquecido de aparafusar novamente almpada. Whipple estendeu o brao, rodou a lmpadae fez-se luz.Whipple abriu a porta da cabina com violncia ecomeou a correr pelo corredor at sala de imprensa.Pegou no telefone e gritou para o bocal:- Parem as mquinas! Morden, do Blade, apanhouqualquer coisa importante. No sei o que . Vou descobrir.Morden, de p, entrada da sala de imprensa, acendeu um cigarro e sorriu ironicamente.- No h dvida que s um tipo desconfiado -observou. - O meu editor era capaz de me esfolar vivose eu fizesse uma coisa dessas.- Que coisa? - perguntou Whipple.- Fazer parar as mquinas por causa de um alarmefalso - respondeu Morden.- No sei se um alarme falso - replicou Whipple.- Vou j apanhar uma informaozita.Ligou para o sargento de servio, ligou para o homemde servio no posto de rdio, ligou mesmo para as vriasesquadras da cidade, sem conseguir obter a mnimainformao.Morden, receoso de abandonar a sala, foi sentar-sena sua cadeira, ps os ps em cima da velha e desconjuntada secretria e continuou a fumar placidamente.Um rapaz com a cara salpicada de sardas, com umapequena ndoa escura num olho e com o qual CharlesMorden antipatizava profundamente, foi o portador danotcia.238

- A passadeira est pronta para os seus ps -anunciou ele.Morden, sentindo-se sempre irritado quando ele lheaparecia, fitou o rapaz com o sobrolho franzido enquantoendireitava o n da gravata.- O que que ests a tentar querer dizer-me,Squinty? - perguntou-lhe.O rapaz apontou com o dedo polegar na direco dosgabinetes da direco.- Kenney, o editor, quer falar consigo - esclareceuele.Morden passou a palma da mo pelo cabelo onduladonum gesto delicado de verificao e o rapaz observou-ocom um ar de desdm que no tentou disfarar.- Porque no arranja uma rede para o cabelo? -perguntou sarcstico.- Cala a boca - ameaou-o Morden - antes que eute volte a pr o olho no lugar com um soco.- Kenney disse que quer falar consigo imediatamente... e no para a semana - disse o rapaz.- Provavelmente - pronunciou Morden num tom dedignidade - quer entregar-me qualquer trabalho importante e aumentar-me o vencimento.Quando se voltou para se encaminhar na direcodos gabinetes da direco, Squinty tossicou ironicamente.Morden encaminhou-se em largas passadas para ogabinete do editor com uma expresso de modstia norosto sereno. Ele tinha passado, sabia-o bem, a perna aWhipple. O Blade tinha sido o nico jornal a publicara histria do escndalo de Riverview - o eminentecidado candidato a conselheiro do municpio, presidentede um clube de gastrnomos, banqueiro, financeiro, umfiguro importante em suma, tinha sido detido sob a suspeita de conduzir embriagado, na companhia dumarapariga que ele afirmava nunca ter visto antes. Tinhamentido a respeito da sua identidade e a polcia apenasconseguira descobrir o seu verdadeiro nome atravs daidentificao do carro que ele conduzia e que pertenciaa uma agncia de aluguer de carros sem condutor, noobstante o facto de a esposa de Cathay ter asseguradocalorosamente ao reprter que a entrevistara atravs deuma chamada telefnica interurbana que o marido tinhapartido para a cidade no seu Hupmobile cinzento.239

Em resumo, era um belssimo naco de notcia paraum jornal que se interessasse por escndalos.O Blade interessava-se por escndalos.Morden abriu a porta do gabinete de Dick Kenneye ficou ligeiramente tenso quando viu um homem degrande corpulncia vestido com um fato de excelentecorte que voltou para ele, numa avaliao hostil, unsolhos cinzento-plidos.Dick Kenney, sentado atrs da sua secretria deeditor, desviou os olhos de Morden para o homem.- E ento? - perguntou a Morden.Morden mostrou-lhe uma expresso de perplexidade.- Queria falar comigo? - inquiriu.Kenney apontou com a cabea para o homem do fatocinzento.- Conhece este homem? - perguntou.Morden deixou escapar um suspiro de alvio. Fossequal fosse o sarilho, no era nada que pudesse vir a ser-lhe atribudo.- No - respondeu com firmeza. - Nunca o vi naminha vida.- Veja isto - pediu Kenney.O editor fez deslizar um carto sobre a superfcieda secretria. Morden pegou no carto e observou-o comateno. Este dizia simplesmente: FRANK B. CATHAY -Investimentos - lea 908, Edifcio First National Bank,Riverview.Morden voltou-se para o homem.- Veio aqui como representante do Sr. Cathay? -perguntou, com uma peculiar sensao de nusea que setornou manifesta por um aperto na boca do estmago.- Eu sou Frank B. Cathay - declarou o homem comuma raiva fria.Seguiu-se um momento de tenso silncio na sala,depois o editor olhou de frente para Morden e perguntou:- Ento?Morden abanou a cabea enfaticamente.- No - pronunciou ele. - Este homem no Cathay.So ambos mais ou menos da mesma idade, mais oumenos da mesma estatura, mas Cathay um pouco maisbarrigudo e tem os olhos um pouco mais escuros. Ele ...- Eu sou Frank B. Cathay, da Riverview - interrompeu-o o homem num tom de voz que vibrava de fria. - 240

J estabeleci convenientemente a minha identidade juntodo seu editor e posso faz-lo novamente se for necessrio.- O senhor entregou-me apenas uma carta de apresentao - disse Dick Kenney cautelosamente.O homem tirou uma carteira do bolso, extraiu delaum recorte dobrado do The Riverview Daily Press.O recorte tinha um grande ttulo que se estendia emmaisculas atravs de toda a largura do alto da pgina:CATHAY DIFAMADO PELA IMPRENSA DA CIDADEHavia subttulos mais pequenos, uma coluna e meiode espao, e via-se tambm uma fotografia de Frank B.Cathay exibida de uma forma proeminente.Kenney olhou para a fotografia, seguidamentepassou-a a Morden. Morden observou o artigo, a fotografia, levantou os olhos mais uma vez para fitar ohomem, sentindo que uma transpirao viscosa lheescorria pela testa e lhe tornava as palmas das mospegajosas.No havia a mnima dvida de que o homem que seencontrava naquele gabinete e o homem que tinha pousado para aquela fotografia de jornal eram uma nica e amesma pessoa. E tambm no havia qualquer dvida deque este homem no era o mesmo que tinha dado o nomede Frank B. Cathay no quartel-general da polcia na noiteanterior.- Vi uma carta de conduo, bilhetes de visita,cartes de scio de clubes de golfe, vi a sua assinaturae vi o senhor fazer essa mesma assinatura - declarouMorden. - Isto , vi o verdadeiro Cathay a fazer a suaassinatura.O tom de Dick Kenney era ominoso.- Viu-o mesmo assinar, Morden? - perguntou ele.Morden hesitou durante um momento.- Bem - respondeu ele - Carson f-lo assinar onome e ele encontrava-se exactamente no acto de assinarquando eu fui a toda a pressa para junto do telefone. MasCarson estava a fazer a verificao. Carson no o teriadeixado sair em liberdade se as assinaturas no coincidissem.Mas voc disse que ele ia pagar para sair - lembrou-lhe Kenney.16 - VAMP. G. GARDNER 14 241

- Eu disse que ele ia esportular dinheiro para untaras engrenagens de sada - explicou Morden. - Mas osenhor conhece Carson. Carson teria aceite uma pequena gratificao para destruir os registos do incidenteque no tinham qualquer valor, mas nunca teria recebidoum suborno para pr em liberdade um homem que tinhasido detido por suspeita de crime. Ele obrigou esse parceiro a provar que era Cathay. Depois de ele ter feitoisso, Carsons ficou ansioso por se ver livre dele eesquecer o incidente. Fez o sujeito sair do quartel-generalcom uma pressa tal que nem sequer tivemos a possibilidade de lhe dar uma vista de olhos.- A noite passada - observou o homem do fatocinzento, naquele mesmo tom de voz de dignidade calmae impressionante - fui roubado por um carteirista. Fiqueisem uma carteira com dinheiro, bem como sem uma carteira de plstico que continha no apenas bilhetes devisita, mas tambm a minha carta de conduo e cartesde identidade de scio de alguns clubes.- O senhor no comunicou o roubo polcia -observou Dick Kenney.- No era obrigado a faz-lo - replicou o homem.- Fui descuidado. Limparam-me a algibeira. Foi isso, maisnada. A polcia nada poderia ter feito sobre o caso.A atitude de Morden era desafiadora e hostil.- Este recorte de jornal no prova absolutamentenada - afirmou. - Suponhamos que esta a sua fotografia. Talvez o Riverview Daily Press tenha cometido umengano, em vez de ter sido o Blade.O homem alto riu desdenhosamente.- Essa boa! - comentou ele. - Vivo em Riverview h mais de quinze anos. O meu nome est relacionado com cada uma das mais importantes realizaescomerciais que a cidade conheceu durante os ltimosdez anos. Tenho sido presidente da Cmara do Comrcio.Sou presidente do maior clube de gastrnomos da cidade.Sou candidato a conselheiro do municpio e iria ser eleitosem a mais pequena dvida se este artigo difamante notivesse aparecido. Assim, tal como as coisas se apresentam agora, provavelmente serei derrotado. O jornalcujo recorte acabei de lhes apresentar aquele que favorvel minha candidatura. O outro jornal mostrou-semais cauteloso. No quis arriscar-se a ter um processo242

por difamao. Limitou-se a declarar que um homem quetinha apresentado cartes e uma carta de conduo emnome de Frank B. Cathay e que estabelecera com bastanteclareza a sua identidade como Frank B. Cathay, de formaa satisfazer a polcia metropolitana, tinha sido detido soba suspeita de conduzir embriagado; que, na altura dadeteno, uma rapariga muito nova estava na companhiadesse sujeito, o qual havia declarado nunca a ter vistoantes na sua vida, pois acabara de lhe dar boleia na rua.- E que me diz ao facto de o homem ter feito a suaassinatura? - perguntou Morden.- O senhor no o viu assinar - replicou o homemforte, num tom hostil e raivoso.- Talvez que eu no o tenha visto assinar, mas noh dvida de que ele assinou mesmo - afirmou Morden.- No seria a primeira vez que um carteirista serevelasse tambm falsificador - replicou o outro.- Suponhamos, Sr. Cathay - interveio Dick Kenneynum tom de voz suave, como se tivesse admitido queestava derrotado - que assina o seu nome aqui para nsa fim de que possamos confrontar a sua assinatura comaquela que est nos registos da polcia?Cathay hesitou por uns momentos.- Os senhores difamaram-me - declarou ele. - Provocaram danos irreparveis numa reputao que eufui construindo ao longo de mais de quinze anos. E agoratm a temeridade de insistir na vossa difamao e mesmoreiter-la. No satisfeitos com o facto de terem aceitadosem hesitaes a identidade de um impostor, acrescentaminsultos s ofensas anteriores, recusando aceitar provasconcretas da minha identidade.Dick Kenney manteve-se firme.- Lamento muito, Sr. Cathay - pronunciou ele. -No sei, por enquanto, para onde esta situao ir conduzir-nos, mas, dado que o senhor se deu ao incmodode vir at aqui para estabelecer a sua identidade, ficar-se-ia com a impresso de que o senhor no hesitaria emassinar o seu nome.- Oh, tem razo - apressou-se a responder ohomem. - Tinha-me esquecido da carta do presidentedo First National Bank. Pensei que lha tinha entregue.Tirou da carteira uma carta com o timbre do FirstNational Bank de Riverview. A carta declarava que a243

pessoa cuja fotografia estava apensa carta era oSr. Frank B. Cathay; que a assinatura do Sr. Cathay eraaquela que aparecia debaixo da fotografia; que oSr. Cathay tinha um saldo no First National Bank deRiverview que poderia expressar-se num bom nmero deseis algarismos; que ele era um cidado conceituado eestimado em Riverview e que fazia parte do conselho deadministrao do banco como director.Kenney leu a carta e apontou para a assinatura.- Julgo compreender - comentou ele - que o subscritor desta carta esperava que o senhor fizesse umaassinatura para confrontar com esta.- A fotografia no suficiente? - perguntou Cathay.- Preferia - respondeu-lhe Kenney, continuando afalar num tom de fria insistncia, mas com uma delicadeza que deixava transparecer uma nota de deferncia -que o senhor assinasse o seu nome na minha presena.O homem pegou no bloco-notas que Kenney lhe tinhaestendido, apertou entre os dedos o lpis macio 6B comque o editor costumava escrever os seus apontamentos etraou com firmeza uma assinatura que era um perfeitoduplicado daquela que se encontrava sob a fotografia.- Isto - disse o editor do Blade, fitando intensamente Morden - arruma o assunto.Fez-se um profundo silncio na sala, apenas quebradopelo restolhar de papis quando Cathay os dobrava, osvoltava a arrumar na carteira e metia esta na algibeira.- Bem -observou Kenney com um suspiro de resignao. - Que deseja o senhor?- Quero fazer uma retractao - respondeu Cathay. - E quero tambm uma indemnizao por danos.- Se houver uma retractao - fez-lhe notar Kenney- no haver quaisquer danos.A cara de Cathay ficou vermelha de raiva.- No me fale dessa maneira! - explodiu ele. - Emprimeiro lugar, os senhores no podero publicar umaretractao que possa atrair as atenes da mesmaforma que aquele maldito artigo. Foi aproveitado porquase todos os jornais do pas. Personalidades vriaspertencentes s grandes associaes de imprensa tmtelefonado para minha casa. Recebi centenas de telegramas e houve tambm algumas cartas cheias de insultos. Riverview ficou a ferver com a notcia. Algumas244

pessoas declararam j que, devido minha grande riqueza,eu seria capaz de obter uma retractao pagando.Os danos nunca podero ser reparados.Kenney brincou com o lpis, fazendo deslizar osdedos para cima e para baixo daquele pedao de madeiracastanha. A ponta do lpis, grossa e macia, fazia pequenasmarcas no papel do bloco-notas. Cathay continuou:- Sofri danos e prejuzos num montante que, provavelmente, de um ponto de vista financeiro, nunca poderoser reparados. Contudo, espero receber uma boa contribuio material... no tanto por causa do dinheiroenvolvido mas principalmente devido ao efeito moral. minha inteno depositar o vosso cheque no FirstNational Bank de Riverview, mas, antes de o depositar,tomarei as providncias necessrias para que seja fotografado e um fac-smile publicado no Riverview DailyPress.A expresso de Kenney era de fria selvtica.- O senhor pe-se a falar dessa maneira - disseele - e ainda h-de passar muito tempo antes que recebaum cheque! Pode ter uma retractao na altura que maisdesejar. O senhor provou a sua identidade. Foi cometidoum engano. No entanto, h umas certas circunstnciaspeculiares que podem justificar a aceitao desse engano.Telefonmos sua esposa para uma confirmao. Eladeclarou que o senhor se encontrava aqui, na cidade;que no sabia em que hotel se encontrava o senhor.- Isso verdade - concordou Cathay.- A propsito - observou Kenney, com uma descontraco propositada. - Em que hotel esteve, Sr. Cathay?Cathay soltou um resmungo.- No vim aqui para continuar a ser insultado -respondeu. - No assunto que lhe diga respeito olugar onde fiquei nem aquilo que fiz! Vim cidade tratarde negcios e no tenho nada que revelar a natureza e aextenso desses negcios a qualquer pasquim indecenteque queira meter o nariz nos meus assuntos particulares!J o informei daquilo que espero. Em primeiro lugar,espero uma retractao. Depois disso, ficarei esperado cheque.Rodou nos calcanhares e comeou a encaminhar-separa a porta.- Um momento! - gritou-lhe Kenney. - Vamos245

mergulhar at ao fundo deste assunto. Quero apresent-loao Sr. Bleeker, o scio mais jovem da firma que publicaThe Blade.- E que espera que eu v dizer-lhe? - perguntou oSr. Cathay truculento.- Pode dizer-lhe aquilo que acabou de me dizer -replicou Kenney.- No, obrigado - ripostou o Sr. Cathay gelidamente. - J lhe entreguei a minha mensagem. Pergunteiqual era a pessoa indicada para falar comigo sobre oassunto. Fui enviado para o senhor. No estou acostumado a desperdiar o meu tempo. Fico espera da vossaretractao. A minha queixa por difamao ser apresentada dentro de um ou dois dias, a menos que o assuntofique satisfatoriamente resolvido no entretanto. Desejo-lhe uma boa tarde.A porta foi fechada com estrondo.Dick Kenney fitou Charles Morden acusadoramente.- Uma notcia exclusiva e sensacional! - disse elesarcasticamente. - O nico jornal da cidade a public-la!- Este assunto escuro como o inferno! - explodiuCharles Morden.Kenney empurrou a cadeira para trs.- Venha comigo, jovem - disse ele. - Vamos falarcom Dan Bleeker.Dan Bleeker devia ter perto de cinquenta anos. Tinhauma compleio fina e o seu rosto era muito plido. Osolhos negros, chamejantes, ergueram-se num rpido movimento de apreciao para as caras dos dois homensquando estes entraram no seu gabinete particular.- Parece uma coisa sria - observou.- uma coisa sria - garantiu-lhe Dick Kenney.- Sentem-se e esperem at que eu acabe estascartas - pronunciou Bleeker secamente.Os dois homens puxaram por cadeiras e sentaram-se.Bleeker puxou para junto de si algumas cartas acabadasde escrever mquina, p-las na devida posio, leu-asrapidamente e fez correr a caneta atravs do papel comuma pressa nervosa.246

Assinou o seu nome tal como fazia qualquer outracoisa - de uma maneira nervosamente rpida. Quem oobservasse supunha que o seu esprito se encontravamergulhado num estado de irritao permanente em virtude da incapacidade do ambiente fsico para acompanhara rapidez dos pensamentos do homem. Quando falava,fazia-o de uma forma explosiva. A articulao das palavrasera perfeitamente destacada, como se as cortasse tesoura e elas saam-lhe da boca com a velocidade debalas disparadas por uma metralhadora. Quando ouvia, asua atitude era de impacincia delicada. Parecia queantecipava as coisas que as pessoas se preparavam paradizer-lhe e quisesse que elas fossem ditas rapidamentede forma que ele pudesse dar-lhes a devida respostae o assunto ficasse arrumado.Correu a caneta pela ltima das cartas. A parte finalda assinatura prolongou-se um pouco at formar umalinha floreada como se, tendo perdido tempo a desenharas letras da primeira parte da assinatura, a sua impacincia permanente levasse a melhor sobre ele, ainda que umpouco tardiamente, e ele ento se limitasse a traar coma caneta alguns movimentos indefinidos, curvos, de formaque a assinatura fechasse com um floreado.Carregou num boto e uma rapariga alta e magra, comos olhos salientes, entrou no gabinete em passada larga,lanou um olhar especulativo para os dois homens quetinham ocupado cadeiras em frente da secretria, pegounas cartas e foi-se embora.Assim que a porta se fechou, Dan Bleeker voltou-separa os dois homens.- Muito bem - disse ele. - Que se passa?A sua atitude nervosa, impaciente, levou Dick Kenneya falar de uma forma rpida e lacnica.- Aquela histria de Frank B. Cathay que publicmosa noite passada.- Que h com a histria? - inquiriu Bleeker.- Est estragada.- Est estragada porqu? - quis saber Bleeker.- O homem que foi detido no era nada Cathay.Dan Bleeker engoliu em seco. Fez rodar a cadeira,olhou para os dois homens com uma raiva agressiva quelhe fazia chispar os olhos negros e ps-se em p de umsalto.247

- Com trezentos mil diabos! - trovejou ele. - Noest h tempo suficiente neste negcio da imprensa parasaber que no se pode publicar uma histria escandalosasobre um homem sem se ter bem a certeza do terrenoque se est a pisar? No sabe que quanto mais importante um homem, pior o escndalo? No sabe que estas...?A profunda veemncia da sua exploso provocou neleprprio um choque que o levou a ficar em silncio.- Bah! - exclamou, deixando-se cair na cadeira.A voz de Dick Kenney estava cheia de ansiedade.- uma daquelas coisas que no se consegue evitar- explicou ele. - Apareceu mesmo ltima hora parao fecho do jornal. O homem disse chamar-se John Smith.A polcia foi investigar na firma onde ele tinha alugado ocarro sem condutor e descobriu que tinha fornecido onome de Frank B. Cathay, de Riverview. Confrontaram-nocom essa declarao e ele admitiu a sua identidade. Apresentou cartes, todos os tipos de identificao.Desviou o olhar na direco de Morden.- Morden encontrava-se numa situao difcil -afirmou. - O jornal estava pronto para entrar na mquina.Whipple do Planet suspeitou de qualquer coisa...Dan Bleeker resmungou desdenhosamente.- Cartes! - exclamou ele. - Bom Deus! Se nemsequer se consegue receber um cheque de vinte dlarescom esse gnero de identificao! E, no entanto, o senhoranda para a frente e mete o jornal num processo pordifamao por causa de uma identificao que no tinhaa apoi-la nada mais que isso!- No, no, s um momento - pediu Dick Kenney,falando com uma pressa quase histrica, tentando apresentar a sua opinio do caso antes que Bleeker tomassequalquer deciso drstica. - Fizemos muito mais do queolharmos apenas para os cartes. Telefonmos para Riverview e falmos com a Sr.a Cathay. Ela admitiu que omarido se encontrava na cidade. E Tom Carsons, dabrigada de investigao criminal, no libertou o homemantes de ele ter fornecido provas da sua identidade. Haviaassinaturas nos cartes. Carsons obrigou-o a fazer assinaturas coincidentes com aquelas.Bleeker fitou o editor com um olhar agudo. DickKenney enfrentou-o com calma.- essa a sua histria? - perguntou Bleeker.248

Kenney acenou afirmativamente.- uma maneira pobre como o diabo de verificara identidade de um homem - comentou Dan Bleeker.- Estvamos mesmo com o jornal pronto para entrarna mquina - recordou-lhe o editor.- Isso no faz qualquer diferena. Se notcia,publica-se. Se difamao, larga-se.- Mas a verdade - recordou-lhe Kenney - queno se pode dirigir um jornal da mesma forma que sedirige um banco. Tem de se andar a grande velocidade. H...- Um momento - interrompeu-o Bleeker. - Hqualquer coisa esquisita neste caso.- Claro que h qualquer coisa esquisita no caso -afirmou Morden.Bleeker levantou para ele os olhos negros, velados, efitou o jovem reprter durante um longo segundo antesde pronunciar:- Cale-se!Apoiou o queixo nas mos, ficou com os olhos fixosno soalho durante alguns minutos, depois levantou-ospara fitar novamente o editor.- Como descobriu que o homem, afinal, no eraCathay? - perguntou.- Foi o prprio Frank B. Cathay que veio falarcomigo.- Que queria ele?- Muitas coisas.- Quanto quer ele?- No disse. Quer uma retractao e quer umaindemnizao por danos.- Ah, sim? - perguntou Bleeker sombriamente.- Parece que nos ps numa situao difcil - admitiu Kenney. - O sujeito uma pessoa importante emRiverview. candidato a conselheiro do municpio local.Tem sido presidente da Cmara do Comrcio, presidentedo maior clube de gastrnomos da cidade...- No vale a pena preocupar-se com esses pormenores - interrompeu-o Bleeker truculentamente. -Conheo esse gnero. Sei tudo a respeito dele, sei maissobre ele do que ele prprio. um desses hipcritas presumidos e complacentes que dominam a vida de umacomunidade suburbana. A mulher uma das dirigentes249

sociais. ela que determina o estatuto social de todasas mulheres da cidade. O sujeito pavoneia-se para cimae para baixo na rua principal e fica todo inchado comoum pavo perante as saudaes deferentes de todosos cidados que tm alma de lambe-botas. As pessoasadulam-na a ela e adulam-no a ele. Quanto dinheiro querele?- No disse.- Porque no disse?- Porque pensa que o montante de dinheiro envolvido secundrio em relao ao princpio da coisa.- Muito bem, nesse caso pague-lhe um dlar emande-o para o diabo que o carregue.- A questo no essa. Ele quer receber um chequechorudo, de forma que possa publicar um fac-smiledele no Riverside Daily Press, que o jornal que o esta apoiar na sua campanha poltica.- Quer o qu? - gritou Bleeker.- Foi isso o que ele disse - fez notar Kenney. - Ele queria um fac-smile do cheque publicado de forma apoder convencer os cidados locais de que era uma reparao para uma grande difamao que lhe fora feita.- P-lo fora do gabinete a pontaps? - perguntouBleeker.- Pensei que j estvamos suficientemente enterrados - respondeu Kenney. - Pensei que ele poderia sercapaz de nos armar alguma ratoeira para que ns fizssemos qualquer coisa nesse gnero e ele pudesse entoinvocar inteno deliberada de ofender. Se bem me lembro, a lei sobre difamao estabelece uma grande diferena quando o queixoso pode provar que houve intenodeliberada ou...- A lei sobre difamao que v para o diabo! -explodiu Bleeker. - A lei sobre difamao no vai entrarnisto de maneira nenhuma. O senhor j est h temposuficiente no negcio dos jornais para saber mais queisso, Kenney.- Foi por isso que achei melhor passar o caso paraas suas mos - replicou Kenney.Bleeker rodou na cadeira voltando-se para Morden.- Foi voc que nos meteu nisto, hem? - perguntou.- Comuniquei o caso quando ele comeou. A princpio no passava de mais um caso John Smith. Foram-me250

dadas instrues para conseguir um artigo em que houvesse interesse humano e...- Foi voc que nos meteu nisto, hem? - repetiuBleeker.- Sim, senhor.Bleeker suspirou.- Isso assim est muito melhor, meu rapaz - disseele. - Quando lhe fizer uma pergunta directa, d-me umaresposta directa. Os libis podem vir depois. Se voctivesse continuado a desbobinar para a coisas, t-lo-iadespedido. Assim, tal como as coisas esto, no meimporto de lhe dizer que voc fez aquilo que qualquerjornalista atento e desperto teria feito em circunstnciassemelhantes. Como conseguiu um exclusivo do caso?- Estava a cobrir a coisa de um ponto de vista deinteresse humano - esclareceu Morden - quando a polcia comeou a verificar a identidade do homem. Osagentes descobriram que um automvel que ele conduziaera um carro de aluguer sem condutor; que quando elealugou o carro tinha dado o nome de Frank B. Cathay, deRiverview, que tinha mostrado a carta de conduo eapresentado os bilhetes de visita e os cartes de sciode vrios clubes como referncia.- Como que ele conseguiu esses cartes? -perguntou Bleeker dirigindo-se a Dick Kenney.- Cathay diz que lhe roubaram a carteira. ;- Ele apresentou queixa polcia? - No.- Disse quanto dinheiro tinha perdido?- No.- Perguntou-lhe o que andava ele a fazer na cidade?- Disse que estava c para tratar de negcios.- Informou-o da natureza desses negcios?- No.- Informou-o do local onde se tinha alojado?- No. Perguntei-lhe, mas ele recusou-se a responder.Dan Bleker voltou a pousar os olhos relampejantessobre Morden.- Alguma vez trabalhou para um jornal a quem foimovida uma aco por difamao, Morden? - perguntou ele.Morden abanou a cabea.251

- Sabe como que se faz? - inquiriu Bleeker.- Tenho uma ideia - respondeu Morden.- Muito bem - prosseguiu Bleeker. - Meta-se namorgue e desenterre de l tudo quanto encontrar a respeito de Frank B. Cathay, de Riverview. Se ele tem sidoum cidado proeminente l, h mais de quinze anos, provavelmente devemos ter abundante material a seu respeito. O Riverview Daily Press o jornal dele. Issosignifica que o Riverview Chronicle lutar contra ele. Vat l o mais depressa possvel e contacte o editor doRiverview Chronicle. Veja se consegue todo o materialque eles tm sobre Cathay. Descubra onde que ele conseguiu arranjar o dinheiro que tem, onde e como passaas noites quando vem cidade. Descubra sobre ele todasas coisas que ele no gostaria de ver trazidas a pblico.Depois de ter obtido todas essas informaes, euterei uma conversa franca, de corao aberto, com oSr. Frank B. Cathay e, quando ele sair deste gabinete,ir a rastejar sobre a barriga como uma cobra. Vai preparar um fac-smile de um cheque substancial para ser publicado no Riverview Daily Press, no vai? Hum! Eu voumostrar-lhe como . No h nada que me possa darmaior prazer do que ter esse passaro sentado minhafrente, do outro lado da secretria, e dizer-lhe: Oua,Sr. Cathay, h-de compreender que se tentar uma acopor difamao, a questo que ser naturalmente apresentada perante o tribunal ser a que se refere aos danossofridos pela sua reputao. Portanto, a natureza e ocarcter da sua reputao constituiro a base da suaqueixa. Ento, o senhor vai tentar mostrar que o cidado mais eminente da sua comunidade; ns tentaremosmostrar que o senhor um maldito hipcrita. Evidentemente, ns no queremos fazer isso. Mas somos obrigados a fazer isso. Vamos mexer nessa questo da coristaem cuja companhia andou. Somos obrigados a pr a descoberto aquelas acusaes de fraude relacionadas comaquela fuso de sociedades que o senhor efectuou hdois anos. Somos obrigados a desenterrar aquele velhoassunto em que o senhor foi o verdadeiro beneficirio acoberto dum contrato que, por seu intermdio, o bancoassinou com um intermedirio.Bleeker interrompeu-se e mostrou um sorriso sardnico.252

- J lhe tenho dito muitas vezes, Kenney - observouele - mas vou dizer-lho novamente agora: ns somosum jornal dirigido a todo o pblico; no publicamos histria, publicamos notcias. preciso fazer-se o melhorque se pode. Obter a notcia enquanto ela est fresca epublic-la enquanto est quente. Quando for necessrioarriscar, arrisca-se. Quando um tipo qualquer entrar poraqui dentro e comear a falar sobre aces por difamao, mande-o para mim. Eu trato dele. Compreendeu?Dick Kenney acenou com a cabea e suspirou dealvio.- Este - comentou ele - pareceu-me um sino atocar a rebate.- Tocar realmente a rebate antes de eu ter acabado com ele - replicou Bleeker.Voltou-se para Morden.- Vou mandar algum substitu-lo no seu posto lem baixo, no quartel-general da polcia - informou ele. - Voc mexa-se e descubra o mximo que puder sobreeste assunto. Escave a vida toda de Cathay com umaespada e cave bem fundo. Haver l muita coisa que eleno querer que seja trazida superfcie - h sempre.O problema com indivduos deste gnero que eles seapresentam sempre demasiadamente bons. Apresentamuma fachada que no humana. Quando se conseguever por detrs dessa fachada, descobre-se l muita coisaque est podre. Mexa-se e descubra o que .- Sim, senhor - respondeu Morden.- Mas no deixe que as coisas lhe saltem das mos- avisou-o Bleeker. - Meta tudo dentro do seu chapue veja se consegue manter a boca fechada. Obtenha informaes. Assim que as obtiver, traga-mas. O melhor fazer relatrios dirios.- Suponhamos que eles se do conta de mim? -perguntou Morden.- E ento? - quis saber Bleeker.- Suponhamos - explicou Morden - que eles descobrem que eu estou a proceder investigao? Ficaroquase certos disso, bem sabe, quando eu comear ameter o nariz nalguns lugares de Riverview e...As palavras de Bleeker saram-lhe da boca com afora explosiva de bombas de Carnaval:- Mande-os para o diabo! Deixe que eles descubram!253

Que nos importa a ns? Diga-lhes a razo por que seencontra l se eles lhe fizerem perguntas. Lembre-se,meu rapaz, que este jornal est atrs de si, a apoi-lo.Frank B. Cathay pode ser maior que voc, mas, por Deus!,o jornal maior que ele! Foi ele que comeou a luta.Muito bem, nesse caso vai ter uma luta. Diga-lhe issomesmo! Ponha-se direito e olhe-o nos olhos. Diga-lheque vai descobrir material suficiente para fazer a reputao dele cheirar to mal como um ovo podre.Faa o que fizer, no se agache, no se esconda.No se ponha a andar nas pontas dos ps para espreitars esquinas, para ouvir pelos buracos das fechaduras,para espiar atravs das janelas. Faa as coisas s claras.Voc tem um trabalho a fazer, um trabalho decente elegtimo. Frank B. Cathay vai reclamar que a sua reputao vale alguma coisa e que ns lha prejudicmos.Muito bem, a questo de quanto vale a reputao dele um facto a ser determinado. Depende duma quantidadede coisas. Ns vamos descobrir essas coisas. No tenhavergonha daquilo que vai fazer. No consinta que sejaquem for o ponha na defensiva. Est a compreender?Mordem acenou afirmativamente.- Voc est engalfinhado numa luta - continuouDan Bleeker - e h uma certa dignidade num lutador,desde que ele se mantenha bem assente nos dois ps elute. Lembre-se disto a respeito do Blade, meu rapaz:ele no espia - luta. Voc vai para Riverview como representante do Blade. Vai combater contra um dos homensmais poderosos da cidade. Vai encontrar todas as forasde defesa prontas a combat-lo. Tentaro faz-lo cair emalguma ratoeira. Ho-de fazer tudo quanto possam paralhe tornarem as coisas desagradveis. Aguente-se de pe apare os golpes de frente, no deixando que eles ofaam entrar em pnico e fugir ou mesmo lev-lo a hesitar. Se tiver essa oportunidade, diga-lhes que o Blade estmetido nisto at ao fim; que se eles o fizerem cair nalguma ratoeira e conseguirem expuls-lo de Riverview,outro homem ir tomar o seu lugar.E quanto ao que se refere ao prprio Frank B.Cathay, no se atrapalhe. Assista s reunies do clubede gastrnomos de que ele o presidente. Deixe-seandar pela cidade bem vista. Sorria-lhe. Mostre-se cordial para com ele. Mas nunca se esquea nem por um254

momento do facto de que voc se encontra l para lhefazer explodir a reputao de forma que tudo fique mostra. Entendido? - Sim, senhor - respondeu Morden.- Pode fazer isso?- Sim, senhor.- Nesse caso, comece.Ethel West, a secretria de Dan Bleeker, tinha aspernas muito compridas e um aspecto lnguido. A suacara apresentava uma expresso de aborrecimento perptuo que parecia devido no tanto a uma desaprovaopelo ambiente que a rodeava, mas antes pelas pessoasque o enchiam.Observou a mulher com uns olhos glaciais que sefixavam com uma avaliao inexpressiva por detrs dosculos.- O seu nome - disse ela - Sr.a Frank B. Cathay.Reside em Riverview e deseja falar com o Sr. Bleeker,mas no quer explicar a natureza do assunto que a trouxec para tratar com ele. isto?A mulher estava vestida com ostentao e muitobem arranjada, a sua postura era de uma altivez rgia,no entanto, preocupada. Tinha o rosto emoldurado pelagola de um casaco de pele, uma gola que tinha sidocuidadosamente escolhida para servir de moldura aodelicado oval do rosto, quando esse rosto se encostavaa ela num determinado ngulo.- Sim - respondeu ela. - Queira fazer o favor delhe dizer que eu estou aqui.Ethel West moveu-se com lenta deliberao.- Vai ter de esperar - preveniu ela. - Quer fazero favor de se sentar?A Sr.a Cathay mordiscou o lbio inferior, depois oseu rosto descontraiu-se novamente at ficar numaexpresso de perfeito repouso.- Obrigada - respondeu ela numa voz que no eranem cordial nem agradecida. Permaneceu de p.Ethel West entrou no gabinete particular de DanBleeker.255

- Est l fora a Sr.a Cathay - anunciou ela.Bleeker ergueu o olhar para ela com o sobrolho subitamente franzido.- Sozinha?- Sim.- Que quer ela?- No me quis dizer.- Como ela?- Deve ter uns trinta anos. Tem dinheiro a rodose gastou uma quantidade dele na sua aparncia. Tem umaexpresso que faz lembrar um colegial inocente. Os seusmsculos faciais mal se mexem. Os olhos dela mostram-se nervosos. Est a tentar produzir uma boa impresso. Traz um casaco de peles com uma grande gola;parece melhor metida nele quando est de p. Comeoua sentar-se, mas depois mudou de ideias. Pensa, talvez,que o senhor vai l fora para lhe falar, em vez de a mandar entrar para aqui para falar consigo. Assim, ficou dep, de forma a causar-lhe uma boa impresso.- Gorda? - perguntou Bleeker.- No. Tem uma estatura perfeita e o casaco aindamais lhe reala essa qualidade.- Mande-a entrar - decidiu Bleeker.Ethel West encaminhou-se sem pressas para a portaque dava para a outra sala.- Faa favor de entrar, Sr.a Cathay - pediu ela.A Sr.a Cathay entrou no gabinete em passos curtose rpidos. A partir do momento em que chegou a umponto de onde podia dominar com a vista a secretriade Dan Bleeker, os seus olhos abriram-se completamente,deixando ver as longas pestanas. Tinha a cabea ligeiramente inclinada para um lado contra a grande gola depele. Os seus lbios estavam curvados num sorriso quedesenhava um arco perfeito.- Sr. Bleeker! - exclamou ela. - Foi muita gentileza da sua parte receber-me e ainda melhor gentilezapor me ter recebido to prontamente. Sei que o senhor um homem muito ocupado.Dan Bleeker no se levantou da secretria. EthelWest empurrou a porta at a fechar atrs de si quandoregressou ao gabinete exterior. A porta deixou escaparum som indicativo de que houvera uma nfase desnecessria em relao ao acto de fech-la.256

- Sente-se, Sr.a Cathay - disse Dan Bleeker.- Queria falar com o senhor a respeito do meu marido - informou a Sr.a Cathay.- Sim, claro.- Oh, o senhor sabia que eu vinha c?- No, mas muito naturalmente deduzi que era essaa razo por que a senhora queria falar comigo quando aminha secretria me informou de que a senhora estaval fora.A Sr.a Cathay espanejou-se na cadeira, acomodando-se com um ligeiro gesto dos ombros e uma pequenatoro da cabea. Os seus olhos, cor de avel, mostravam-se agora sorridentes. A voz deixava soar uma notabaixa de sugestiva intimidade.- Como sabe, Sr. Bleeker - observou ela - os maridos mostrar-se-iam frequentemente uns patetas se notivessem a mo da mulher a puxar-lhe as rdeas.Bleeker pousou na mulher uns olhos frios.- Sou solteiro - replicou.Ela soltou uma gargalhada baixa, nervosa.- E - prosseguiu Bleeker, a senhora pode prde parte os prembulos e entrar imediatamente noassunto.- O meu marido - declarou ela, um homemcom uma vontade muito forte.Fez uma pausa, mas Bleeker manteve-se silencioso.- s vezes, mostra-se bastante impulsivo. Isto ,quando est zangado, o senhor sabe. Toma uma decisonum acesso de raiva momentnea, quando est realmente zangado com qualquer coisa, e depois demasiadamente orgulhoso e obstinado para voltar atrs.Pareceu aconchegar-se dentro do casaco de pelescom um rpido movimento serpenteante. A cabea, ligeiramente inclinada para um lado, ficou em repouso sobrea larga gola de pele. Os olhos, tal como os lbios, sorriram intimamente para Dan Bleeker.- Continue - convidou-a Bleeker.Ela endireitou a cabea. Os olhos deixaram de sorrir. Houve como que uma investida, rpida e impetuosa,nas suas palavras:- Vou falar-lhe com franqueza, Sr. Bleeker, poiscompreendo muito bem que o senhor um homem atarefado que gosta de tratar as coisas com clareza. Fiquei17 - VAMP. G. GARDNER 14 257

a saber atravs do meu advogado que quando um cidadoinfluente apresenta uma queixa por difamao contraum jornal, esse jornal comea imediatamente a escavaro seu passado, procurando descobrir algum velho escndalo ou qualquer outra coisa que possa ser utilizada contra ele. Isto verdade?Dan Bleeker enfrentou a Sr.a Cathay com uma expresso de sombria ferocidade nos seus olhos negros.- Claro que verdade - afirmou com nfase. - Ns publicamos um jornal. Trabalhamos a grande velocidade. Procuramos evitar cometer enganos. Ocasionalmente cometemos um engano. exactamente o que isso, um engano. Se ofendemos algum, fazemos tudoquando podemos para rectificar essa ofensa. Publicamosuma retractao. Se uma ofensa muito grave, deixamosque esse facto fique arquivado nas nossas mentes. Tentamos dar a esse homem uma compensao em qualquermomento, no futuro; procuramos que ele volte a readquirir a imagem que tinha antes. Mas se um homem querlutar contra ns, nesse caso ns lutamos contra ele.A senhora sabe e eu sei que nunca ningum foi prejudicado ou sofreu prejuzos por uma difamao resultantede um engano inocente. Isto , nunca houve qualquerprejuzo que no tivesse podido ser rectificado por umaretractao. Estamos sempre dispostos a publicar umaretractao quando cometemos um engano. Quando umhomem pretende tirar lucros da nossa infelicidade,lutamos.E quando lutamos, lutamos mesmo. Utilizamostodas as armas que tenhamos ao alcance da mo.- O senhor acha que leal - perguntou ela , atingir o adversrio abaixo do cinto?- Quando um homem inicia uma luta contra ns,ns lutamos contra ele - replicou Bleeker. - Se ele nosder pontaps, ns respondemos-lhe com pontaps. Seele resolve agarrar-se a ns, ns agarramo-nos a ele.Se ele nos atinge abaixo do cinto, ns batemos-lhe abaixodo cinto.- Mas - disse ela, suponhamos que os senhores no conseguiriam descobrir nada de reprovvel nocarcter de um homem?Bah! - rosnou Bleeker. - Todos ns somos humanos. Considere um homem que vai para uma cidade e se258

torna um cidado proeminente que comea a ser incensado por uma quantidade de lambe-botas. A primeiracoisa que ele percebe e quer tentar manter as coisasdessa maneira. No tem coragem suficiente para se libertar disso e ser humano. No capaz de admitir que umser humano como os outros indivduos; comea a procurar comportar-se como se fosse Deus. H um certotipo de pequenas cidades que gostam de pr num altaresse gnero de homem.Esses so os homens que tm sempre qualquercoisa que desejariam conservar esquecida. Todos nssomos mais ou menos a mesma coisa. Temos dentro dens tanto de bom como de mau.- Mas o meu marido no assim - declarou aSr.a Cathay.A rplica de Bleeker foi agressiva.- Nesse caso, o que veio a senhora aqui fazer? -inquiriu.Ela fez aquele rpido movimento que j fizera cravando os dentes no lbio inferior.- O senhor est a tornar-me as coisas difceis -queixou-se.- A senhora est a tornar as coisas difceis para simesma - retorquiu ele. - Diga-me o que tem a dizerpara acabarmos com isto. So estes prembulos emocionais da senhora que esto a atrapalhar as coisas.Ela fitou-o intensamente e tomou uma inspiraoprofunda. A animao dissipou-se no seu rosto; os seusolhos deixaram de brilhar para ele. A voz dela perdeua sugesto de intimidade bem modulada, tornando-se fria,tona, decisiva.- Frank um pateta - declarou ela. - Ele no tinhaqualquer necessidade de tomar a atitude que tomou. Ossenhores publiquem uma retractao; isso tudo quantoh a fazer.- Quem diz isso? - perguntou Dan Bleeker.- Sou eu que digo isso.- E que diz o seu marido? - inquiriu ele.- O que o meu marido diz no conta - afirmou ela.- O Dr. Charles Fisher, da firma de advogados Fisher,Barr e McReady, encontra-se na minha suite do PalaceHotel. O Sr. Fisher scio e amigo ntimo do meu marido,assim como seu consultor jurdico. Est ligado a ele h259

muitos anos. Conhece Frank melhor do que qualqueroutra pessoa no mundo. Estiveram associados em negcios na frica do Sul antes de Frank vir para Riverview.Na verdade, Frank trouxe consigo para Riverview Charles! Fisher, ps disposio dele os fundos necessrios paraque pudesse tirar o curso de Direito e financiou-o duranteos primeiros anos em que ele comeou a exercer a. profisso. Esta apenas uma das numerosas boas obras que o meu marido praticou.O Dr. Fisher dar-lhe- todas as garantias legais queo senhor desejar para que o assunto fique completamente arrumado. -O seu marido sabe que a senhora se encontraaqui? - perguntou Dan Bleeker.O rosto dela permaneceu frio e inexpressivo. O tom dela foi firme e decisivo. -No - respondeu.- Gostaria de falar com ele - observou Bleeker.- No necessrio.- Sou eu o juiz nessa matria. -No quer fazer o favor de vir comigo para falarcom o advogado dele?- Porque havia de ir?- Pouparia com isso uma quantidade de aconteci- mentos desagradveis. Evitar-lhe-ia ter de respondernuma aco por difamao. Talvez lhe poupasse milharesde dlares em despesas judiciais, mesmo que mais nofosse. -E se eu no for? - inquiriu Bleeker.Ela deu uma gargalhada que no passou de um simples gesto vazio que no continha nem alegria nem amar- gura, antes lembrava profundamente o beijo sem significado que a mulher devotada d ao marido despedida.- O senhor no compreende? - observou ela. - Estou a estender-lhe um ramo de oliveira. - Porque que o seu advogado no vem at c?- Porque - explicou ela, no seria uma coisaindicada para ele fazer. No pareceria bem. Ele prefere permanecer no hotel. -H quanto tempo se encontra ele no hotel? -quis saber Bleeker.- Porqu? - replicou ela.260

- Porque... porque tenho uma razo para perguntar- esclareceu ele.- No compreendo o que isso tem a ver com o caso.- A senhora quer que eu v at ao hotel - explicouele. - um procedimento que sai das normas. No voufazer isso enquanto no souber exactamente aquilo comque tenho de me defrontar. Para isso, necessito de obterumas certas e determinadas informaes. Se a senhoraquer que eu...- Chegmos ao hotel s dez horas desta manh -interrompeu-o ela. - Samos de Riverview s nove e meiae seguimos directamente no carro para o hotel.- A senhora esteve l desde ento?- Que tem isso a ver com o assunto?- Simplesmente isto - explicou Bleeker. - A senhora e o seu advogado formularam qualquer plano decampanha cuidadosamente estruturado. Tiveram imensotempo para o fazer. E agora a senhora quer que eu lhed uma resposta categrica num abrir e fechar de olhos.O rosto dela mostrou uma expresso de alvio.- Oh, no! - exclamou ela. - No se passou nadadisso. A razo da minha demora em vir c foi porque tivede fazer algumas compras e o Dr. Fisher tambm tevealguns assuntos para tratar. Chegmos ao hotel por voltadas onze horas e, depois, no voltei a ver o Dr. Fisherat h cerca de meia hora.Bleeker fitou-a com um olhar especulativo.- E - observou ele, as suas compras eram suficientemente importantes para a fazerem adiar a suavinda aqui, ao mesmo tempo que mantinha um advogadocheio de afazeres sua espera nos aposentos do hotel?Ela soltou uma gargalhada nervosa e depois, numsbito acesso de franqueza, disse:- Oh, muito bem, se o senhor deseja saber mesmo,eu estava ansiosa por lhe causar uma boa impresso. Sade Riverview muito apressadamente, de forma que,depois de ter c chegado, fui at um salo de belezapara que me tratassem da cara e do cabelo.- Quem sugeriu isso... o seu advogado? - perguntou Bleeker.A gargalhada dela foi espontnea.- Santo Deus, no. Quando uma mulher procura causar261

boa impresso, no tem necessidade que um advogadoa aconselhe...- No era isso o que eu queria dizer - interrompeu-a Bleeker. - O que eu quero dizer se foi por sugesto do seu advogado que saiu assim to apressadamentede casa logo de manh?A Sr.a Cathay evitou o olhar dele.- O senhor acha que essa uma pergunta leal?Bleeker encolheu os ombros.- No responda, se no quiser - concedeu.- Sim - pronunciou ela, aps uns momentos desilncio. - Foi por sugesto do Dr. Fisher que eu vimaqui.- E veio a toda a pressa?- Samos de l a toda a pressa, sim.- E depois esperou o tempo suficiente para se tornar o mais atraente possvel antes de vir aqui?- J lhe disse isso.Dan Bleeker tinha a reputao de nunca se enganarna avaliao instantnea do carcter duma pessoa. Eraconhecido pela sua capacidade de tomar decises rpidas e exprimi-las em monosslabos explosivos.- Muito bem - decidiu. - Eu vou.Empurrou a cadeira para trs, abriu com um puxoa porta de um pequeno armrio, tirou de l um chapuque enfiou profundamente na cabea e esbracejou paravestir o sobretudo.A cara da Sr.a Cathay manteve-se inexpressiva, masos ombros do casaco de pele subiram e desceram quandoela deixou escapar um profundo suspiro. Bleeker seguroua porta aberta para ela passar. Ela atravessou em passosondulantes o escritrio exterior, de queixo bem levantado e os olhos fitos sua frente.- Palace Hotel? - perguntou Bleeker.- Palace Hotel - confirmou ela. - Tenho carro commotorista espera.Em silncio, entraram no pesado elevador que desceu lentamente at ao rs-do-cho. Bleeker abriu a portada rua do edifcio, e convidou a Sr.a Cathay a passar sua frente. Um motorista fardado encontrava-se de p aolado de um brilhante e enorme carro preto. Perfilou-se eabriu a porta com a preciso firme de um soldado numaformatura.262

Os olhos de Bleeker relampejaram quando se pousaram na cara do homem. Era uma cara simptica, mashavia nela qualquer coisa de implacvel - o orgulho arrogante de algum que tem conscincia do seu poder.A expresso da cara formava um estranho contraste coma sua atitude marcadamente militar.A Sr.a Cathay hesitou ligeiramente ao levantar o ppara o estribo, mas Bleeker no se deu ao incmodo dea ajudar a entrar no automvel. Assim que ela entrou,ele acomodou-se nas almofadas ao lado dela. O motorista observou a Sr.a Cathay com um rpido olhar atrevidoe inquiridor. Ela levantou os olhos para ele e fez-lhe umsinal quase imperceptvel com a cabea. O motoristasorriu, um sorriso que no foi mais que um leve erguerdos cantos dos lbios. Os olhos no mudaram de expresso. Depois, o motorista fechou a porta com fora, deslizou para detrs do volante, ps o carro em andamentoe, sem qualquer palavra de instruo audvel, seguiudirectamente para os elevadores, entrou no que estavaaberto e foi encostar-se muito direita ao fundo da caixa.Bleeker entrou atrs dela e tirou o chapu. A porta doelevador foi fechada.- Oitavo andar - se faz favor , pediu a Sr.a Cathaye o elevador comeou a subir suavemente, com os olhosdela rigidamente fixos nas paredes brilhantes, o corpotenso e imvel.Quando o elevador parou, a Sr.a Cathay saiu frentepara indicar o caminho, sem sequer dar uma olhadelapara trs, at ao quarto 894. Bateu levemente na portacom as costas da mo enluvada.A porta foi aberta por um indivduo alto cujos olhoscinzentos se pousaram em Dan Bleeker com uma expectativa ansiosa.- Trouxe-o - pronunciou ele, e havia um indisfarvel tom de alvio na sua voz.Bleeker baixou ligeiramente a cabea, seguiu aSr.a Cathay para dentro do quarto e voltou-se para ficarde frente para o homem de grande corpulncia que estavaa fechar a porta.- E ento? - perguntou ele.- Foi muita gentileza da sua parte vir - respondeuo homem numa voz potente que, aparentemente, tinha263

sido cuidadosamente educada para se harmonizar com umambiente de dignidade impressiva.Era uma figura impressionante de homem que deviater pouco mais de quarenta anos. Era enorme, pesado eos seus ombros inclinavam-se para a frente como sea maior parte do seu trabalho tivesse sido feito debruado a uma secretria.- Sou Charles Fisher - apresentou-se ele - scioprincipal da firma Fisher, Barr e McReady, com escritrios no edifcio do First National Bank, em Riverview.Somos ns que nos encarregamos de todas as questeslegais respeitantes ao Sr. Cathay. No quer fazer o favorde se sentar, Sr. Bleeker?A Sr.a Cathay aproximou-se do espelho que cobria aparede do fundo, mirou-se nele rapidamente, girou sobresi mesma e, sem um olhar para Bleeker, dirigiu-se porum pequeno corredor para o quarto adjacente. A suaatitude era a de uma pessoa que acabou de executar oseu trabalho.- Fico de p - respondeu Bleeker.- Mas o senhor h-de compreender - observouFisher, na sua voz profunda e bem modulada, que esta uma daquela situaes que, talvez, venha a necessitarde uma discusso um pouco demorada, Sr. Bleeker. Certamente que o senhor no esperaria que um assunto destagravidade fosse resolvido em meia dzia de palavras.Do ponto de vista jurdico, penso que o senhor h-defacilmente concordar...- Que quer o senhor, afinal? - interrompeu-oBleeker.- O Sr. Cathay - replicou Fisher com expressograve - uma pessoa muito importante em Riverview.Talvez que, por vezes, ele sobrestime essa importncia.Isto, no entanto, no se refere a qualquer atitude emespecial e eu tambm no desejo que as minhas palavras sejam para citar. Ele tem um bocadinho de orgulhoa mais e, quando toma uma deciso, a sua tendncia para se manter...- J ouvi tudo isso antes - interrompeu-o Bleeker.Fisher franziu o sobrolho. Um sbito acesso de raivapareceu querer quebrar a sua segurana, mas depoissorriu lenta e gravemente.- Certamente - disse ele , que desconhecia at264

que ponto foi a Sr.a Cathay ao apresentar os prembulosda questo.- Considere os prembulos completamente terminados - replicou secamente Bleeker, de p, com os psbem afastados e fincados no soalho, com os olhos negrose enevoados fitando intensamente os olhos cinzentos doenorme indivduo que se erguia bastante acima dele.- Vamos ao que interessa. O que h?Fisher suspirou.- Estou preparado para aconselhar o meu cliente- informou ele , para desistir de qualquer aco pordifamao e para dar aos senhores a garantia de quenada empreender contra o jornal desde que os senhoresse comprometam a publicar uma retractao.A voz de Bleeker era seca, a sua atitude truculenta.- Publicaremos apenas a retractao que lhe vouenunciar e no outra - declarou ele. - Publicaremosuma declarao com o objectivo de esclarecer que oBlade descobriu que o homem que deu o nome de Cathayno quartel-general da polcia era um impostor, um carteirista que tinha roubado a carteira de Cathay e queresolveu levar a efeito uma mascarada sob o nome deCathay. Publicaremos isso de um modo bem evidente,no como uma retractao mas sim como uma informaoadicional resultante das diligncias dos nossos reprteres. Esta a nossa resposta final e decisiva. pegarou largar.- Aceito - disse Fisher.Dan Bleeker ps-se em movimento, passando porele em direco porta.- S um momento - pediu Fisher. - O senhorh-de querer um recibo qualquer. Qualquer coisa quelhe assegure que no haver um processo a pedir reparao por danos.Dan Bleeker, com a mo no punho do puxador daporta, olhou fixamente para Charles Fisher e abanou lentamente a cabea de um lado para o outro.- No queremos nada de Frank B. Cathay - declarou ele. - Vamos publicar a retractao nos termos exactos que h pouco lhe comuniquei. Em qualquer momentoque Cathay pense poder obter dinheiro atravs dumaaco contra o nosso jornal, ns mostrar-lhe-emos que265

no pode faz-lo. Isto aplica-se tanto a ele como aosadvogados dele. Estamos entendidos?Fisher franziu o sobrolho.- Fiz todos os esforos para o trazer aqui - pronunciou ele com dignidade - a fim de que pudssemosestabelecer um entendimento amigvel.- Muito bem, foi isso mesmo que fizemos, no foi?- replicou Bleeker.- No foi to amigvel como isso - observouFisher.- Foi to amigvel como devia ser - respondeu-lheBleeker, fechando com fora a porta atrs de si quandosaiu para o corredor.Dan Bleeker franziu irritadamente o sobrolho paraEthel West.- Qual foi o seu ltimo relatrio provindo de Charles Morden? - perguntou ele.Ethel West levantou de cima da secretria um bloco-notas de estengrafa.- O senhor falou pessoalmente com ele anteontem,no foi?- Foi. Que notcias teve dele ontem?- Telefonou-me por volta da uma hora. Foi logo aseguir ao almoo. Disse-me que tinha uma pista muitoprometedora, mas que para conseguir apanh-la devidamente tinha de captar a simpatia de uma rapariga. Disse-me tambm que no achava prudente mencionar nomespelo telefone, mas que passaria c pelo escritrio a umahora qualquer desta manh ou ainda ontem tardinha.- Ontem tardinha - repetiu Bleeker pensativamente. - Que estava eu a fazer nessa altura?... Oh, sim,aquela conferncia com a Sr.a Cathay e com o advogadode Cathay.- O senhor arrumou o caso? - inquiriu ela.- Mortalmente assustada - respondeu ele. - A mulher no era capaz de pronunciar palavra com o medo.Foi ter com o advogado a toda a pressa e pediu-lhe paraque abafasse tudo. Depois, ambos procuraram no sairdesprestigiados fazendo um bluff que no enganaria ningum.266

- O senhor fez rastej-los? - perguntou ela.- Claro que no - declarou ele. - Quis apenasassegurar-me de que eles ficavam a compreender devidamente a nossa posio.- E pensa que eles fizeram isso por qualquer coisaque Morden ps a descoberto?- uma coisa que no se pode dizer. No foi tantoqualquer coisa que afectasse Cathay, mas antes qualquercoisa que afectasse a mulher dele.- Ela do gnero de j ter estado metida em sarilhos muitas vezes - opinou Ethel West. - uma dessasmulheres que no deixa que a mo esquerda saiba o quefaz a direita.Dan Bleeker franziu pensativamente o sobrolho,fitando a carpeta.- Ligue para Dick Kenney - pediu ele. - Diga-lhepara vir at c para uma pequena conferncia.- Mais alguma coisa?- Nada, a no ser que Morden telefone. Se ele dernotcias, quero falar com ele. Diga-lhe para vir falarcomigo se puder deixar o caso o tempo suficiente paraisso.Ethel West saiu apressadamente do gabinete particular de Bleeker. Passados poucos minutos entrou DickKenney.- Aquele caso Cathay - anunciou Bleeker. - Queroque as coisas se movimentem.- Mas, segundo compreendi, a questo ficou completamente arrumada - replicou Kenney com a testafranzida numa expresso de perplexidade.- Da parte de Cathay ficou arrumada - corrigiuBleeker secamente. - Da nossa parte, no.- Que quer que se faa?- Quero que se siga a pista do homem detido. preciso descobrir quem foi o homem que pilhou os bolsosde Cathay, que personificou Cathay e por que razo fezisso.- Mas eu pensei que era sobre esse ponto que nosbasevamos para fazermos a retractao.- Era e , mas vamos fazer uma investigao maisaprofundada.Dick Kenney acenou com a cabea em concordncia.- Tambm quero que se descubram mais coisas267

sobre Cathay - prosseguiu Bleeker. - Ele passou a noiteaqui na cidade, em qualquer parte. Ponha alguns homensa investigarem em todos os hotis. Descubram em quehotel se registou Cathay. Vejam se conseguem descobrirqualquer coisa sobre os negcios dele. Descubram se eleesteve c sozinho ou se algum esteve com ele. E, muitoespecialmente, procurem descobrir mais qualquer coisasobre a questo do roubo da carteira. Havia uma rapariga,uma dessas que andam boleia, segundo creio ela terdito. Penso que o nome dela era Mary Briggs. Deve serpossvel localiz-la. Explorem bem esse ngulo do caso.Quero descobrir para onde foi o homem depois de tersado do comando da polcia e que fez ele.- Mary Briggs provavelmente ps-se a andar parafora da cidade assim que saiu do comando da polcia -aventou Kenney.- Nesse caso, procurem-na fora da cidade! - ripostou explosivamente Bleeker.O telefone tocou. Dan Bleeker estendeu o brao parapegar no auscultador, levou-o ao ouvido e anunciou: FalaBleeker, depois ficou escuta enquanto o aparelho faziaouvir uma rpida sequncia de sons metlicos.- De onde est a falar? - perguntou ele. - Muitobem, vou passar-lhe o telefone para que fale com ele.Bleeker estendeu o aparelho a Dick Kenney.- o Fred Nixon que se encontra no quartel-generalda polcia - informou. - Oua o que ele tem a dizer.Kenney pegou no telefone e perguntou num tom devoz baixa, coloquial:- Muito bem, Nixon. Que se passa?Mais uma vez o aparelho produziu uma sucesso derudos metlicos. Kenney ficou rgido, todo atento ao quelhe era dito do outro lado do fio. A pele em volta dosns dos dedos ficou branca quando ele apertou o auscultador com toda a fora.- Santo Deus! - exclamou baixinho. - Eles tm acerteza?Seguiu-se uma nova srie de rudos produzidos peloaparelho. Depois Kenney anunciou:- Vamos mandar-lhe alguns homens para o ajudarem. Espere a at que eles cheguem, depois comecema cobrir tudo devidamente. O jornal vai acompanhar deperto todo este caso at se lhe descobrir um fim. Diri- 268

ja-se brigada de homicdios e d-lhes a entender quens nos pusemos em campo para fazer sangue. Est acompreender?... Muito bem, nesse caso aguente s ummomento.Kenney olhou para Dan Bleeker.- Tem algumas instrues especiais? - perguntouele. - Morden foi assassinado.- O senhor j as deu - respondeu Bleeker laconicamente.- tudo - disse Kenney para o telefone. Premiu aforqueta do receptor, depois voltou a solt-la.- Miss West - chamou ele - fala Dick Kenney.Quer fazer o favor de me ligar imediatamente para BillOsborne?... Sim, sim, no desligo... Viva, Bill, daqui falaKenney. Nixon acaba de telefonar do quartel-general dapolcia. Apanhou uma informao transmitida pela rdio.A polcia descobriu um cadver nos arredores da cidade, esquina das ruas 192 e Sanborne. Trata-se de um localque tem vindo a ficar abandonado. Restam l apenasmeia dzia de casas. A polcia pensa que o cadver ode Charles Morden. Leve Sam Lane consigo. V at aocomando da polcia e ponha-se a trabalhar no caso. Con- tacte com a brigada de homicdios. Informe-os que Morden estava a trabalhar num assunto muito importante eque ns vamos remover cu e terra para pormos tudoa limpo. Pode passar palavra a prevenir que o Blade esperaver resultados. Descubra todos os factos e depois faaum relatrio. Nessa altura p-lo-ei ao corrente do assuntoem que Morden estava a trabalhar. Junte-se a Fred Nixone os trs faam todos os possveis para esclarecerem ocaso. Entendido?Acenou com a cabea e pousou o tele