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Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação XXV Encontro Anual da Compós, Universidade Federal de Goiás, 07 a 10 de junho de 2016 Trabalho apresentado no GT EPISTEMOLOGIA DA COMUNICAÇÃO ,no XXV Encontro Anual da Compós, Universidade Federal de Goiás, 07 a 10 de junho de 2016 www.compos.org.br / page 1/23 / Nº Documento: E29DCBDF-9251-4C1D-B8B2-EFDBAECC98B3 A Epistemologia Política da Comunicação The Epistemological Politics of Communication Lucrécia D´Alessio Ferrara I I Doutor, PUCSP. Contato: [email protected] Resumo: Parte de pesquisa que se encontra em desenvolvimento, esse trabalho estuda as polaridades dicotômicas que, emergindo da lingüística, atingiram a comunicação através de várias tendências epistemológicas dos anos 60 do último século até os anos 2000 do século atual. As profundas alterações tecnológicas que atingiram e transformaram a comunicação nos últimos anos, obrigam-nos a uma revisão das suas bases epistemológicas. Nesse sentido, impõem-se rever os paradigmas que sedimentaram a produção de conhecimento e suas transformações. Esse trabalho se propõe a acompanhar, entre os índices do passado, os rastros que podem sustentar essa revisão e propor uma comunicação interativa que, coletiva nos seus complexos processos de transindividuação, pode produzir as bases de uma epistemologia política da comunicação. Palavra chave: epistemologia, política, transindividuação, coletivo, cultura Abstract: Inserted in a more comprehensive research sequence, the aim of this work is the study of linguistic dichotomous polarities which affected communication through the epistemological tendencies ofthe sixties in the XX century up to the year two thousand of this century. The profound technological development that transformed our communication, impose the revision of their epistemological bases. In this way, it is indispensable to review the paradigms which have consolidate the production of knowledge and their transformation. The aim of this work is to follow, among the past indexes , the traces which support that revision and to propose an interactive communication , which being collective in their complex transindividuality processes, could produce the basis of a political epistemology of communication. Keywords: epistemology, politics, transindividuality, collective, culture “ A cultura é aquele dispositivo graças ao qual as informações adquiridas são armazenadas para que possam ser acessadas. Tomara que vocês tenham percebido imediatamente a malícia. Defini a cultura de tal forma que a comunicologia se torna responsável por ela. A crítica é o ato graças ao qual um fenômeno é rompido para que se veja o que está por trás dele.” (Flusser, 2014, p.45) “La Cultura se há constituído en sistema de defensa contra las técnicas; ahora bien esta defensa se presenta como uma defensa del hombre, suponiendo que los objetos técnicos no

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Trabalho apresentado no GT EPISTEMOLOGIA DA COMUNICAÇÃO ,no XXV Encontro Anual da Compós, Universidade Federal de Goiás, 07 a 10 de junho de 2016

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A Epistemologia Política da Comunicação

The Epistemological Politics of Communication

Lucrécia D´Alessio Ferrara I

IDoutor, PUCSP. Contato: [email protected]

Resumo: Parte de pesquisa que se encontra em desenvolvimento, esse trabalho estuda aspolaridades dicotômicas que, emergindo da lingüística, atingiram a comunicação através devárias tendências epistemológicas dos anos 60 do último século até os anos 2000 do séculoatual. As profundas alterações tecnológicas que atingiram e transformaram a comunicação nosúltimos anos, obrigam-nos a uma revisão das suas bases epistemológicas. Nesse sentido,impõem-se rever os paradigmas que sedimentaram a produção de conhecimento e suastransformações. Esse trabalho se propõe a acompanhar, entre os índices do passado, os rastrosque podem sustentar essa revisão e propor uma comunicação interativa que, coletiva nos seuscomplexos processos de transindividuação, pode produzir as bases de uma epistemologiapolítica da comunicação.

Palavra chave: epistemologia, política, transindividuação, coletivo, cultura

Abstract: Inserted in a more comprehensive research sequence, the aim of this work is the studyof linguistic dichotomous polarities which affected communication through the epistemologicaltendencies ofthe sixties in the XX century up to the year two thousand of this century. Theprofound technological development that transformed our communication, impose the revisionof their epistemological bases. In this way, it is indispensable to review the paradigms whichhave consolidate the production of knowledge and their transformation. The aim of this work isto follow, among the past indexes , the traces which support that revision and to propose aninteractive communication , which being collective in their complex transindividualityprocesses, could produce the basis of a political epistemology of communication.

Keywords: epistemology, politics, transindividuality, collective, culture

“ A cultura é aquele dispositivo graças ao qual as informações adquiridas são

armazenadas para que possam ser acessadas. Tomara que vocês tenham percebido

imediatamente a malícia. Defini a cultura de tal forma que a comunicologia se torna

responsável por ela. A crítica é o ato graças ao qual um fenômeno é rompido para que se

veja o que está por trás dele.” (Flusser, 2014, p.45)

“La Cultura se há constituído en sistema de defensa contra las técnicas; ahora bien esta

defensa se presenta como uma defensa del hombre, suponiendo que los objetos técnicos no

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contienen realidad humana. Querriamos mostrar que la cultura ignora em la realidad técnica

una realidad humana y que, para cumplir su rol completo, la cultura debe incorporar los

seres técnicos bajo la forma de conocimiento y de sentido de los valores.... La cultura se

comporta con el objeto técnico como el hombre con el extrangero cuando se deja llevar por

la xenofobia primitiva.” ( Simondon, 2007, p. 31)[1]

1.A Comunicação como dualidade

Que realidades estão escondidas sob a comunicação?  Qual é a cultura que a

comunicação encobre? Que traços culturais a comunicação pode revelar?  Que relações se

estabelecem entre comunicação, cultura e técnica?  Esse trabalho procurará encontrar uma

possível resposta para essas perguntas, a fim de saber como a epistemologia, enquanto

crítica,  poderá revelar escondidas, mas inequívocas dimensões culturais que a

comunicação encobre e guarda.

Em Nova York,  em 15 de abril de 1960, Roman Jakobson apresentou ao Symposium

on Structure of Language and in Mathematics Aspects uma conferência de notória

contribuição para a Linguística e a Teoria da Comunicação.  Em 1974 e em Milão por

ocasião do I Congresso da Associação Internacional de Semiótica, o renomado autor

apresentou outra célebre conferência sobre o desenvolvimento da semiótica. Nas duas

contribuições, surgem afirmações que nos parecem relevantes para encontrar possíveis

respostas para as questões introduzidas nesse trabalho, pois parecem desconsiderar

qualquer possibilidade que proponha à comunicação um território científico autônomo,

visto que se vincula à linguagem verbal como sua origem e matriz:

É  fato que as coincidências e convergências são notáveis

entre as etapas mais recentes da análise lingüística e a abordagem

da linguagem na teoria matemática da comunicação; como cada

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umas dessas duas disciplinas se ocupa, embora por vias diferentes

e assaz autônoma, do mesmo domínio da comunicação verbal,

um estreito contato entre elas revelou-se útil a ambas e não há

dúvida de que se tornará cada vez mais proveitoso. O fluxo da

linguagem falada, fisicamente contínuo, colocou em princípio a

teoria da comunicação diante de uma situação

“consideravelmente mais complicada” do que no caso de um

conjunto finito de elementos discretos que a linguagem escrita

apresentava. ( Jakobson, 1969, p. 73)

A afirmação de Jakobson parece indicar que para traçar qualquer limite para a

comunicação como ciência e, sobretudo, como crítica da ciência que produz, é necessário

começar por analisar aquela matriz que a vincula ao verbal. Na conferência apresentada em

Milão, Jakobson debruça-se sobre a necessidade de discriminar os elementos básicos que,

propostos por Saussure no célebre Curso de Lingúística Geral e, mais tarde, revistos e

solidificados por Hjelmslev, sugerem a necessidade de reconhecer, no verbal, elementos

que, entendidos como base universal e invariante, constituiriam sua dimensão científica.

Trata-se dos célebres pares: signo/sistema; língua/fala; significante/significado;

substância/forma; expressão/conteúdo. Nesses pares, os primeiros elementos são bases de

referência para o segundo, pois à maneira de um código, constituem um sistema de

invariantes coercitivas que se voltam para uma afirmação totalizante: “ a substância é a

manifestação da forma na matéria”(Ducrot, Todorov, 1972, p. 38), ou seja, retoma-se a

base aristotélica que confere à forma a única possibilidade cognitiva da matéria,

conferindo-lhe uma dimensão segura e sempre permanente de um sistema que, fechado,

conteria o arsenal de todos os signos  verbais e não verbais e poderia ser diagramado como

um modelo lógico-formal que permitiria a reconstrução do próprio processo determinante

da forma do texto.  A comunicação teria a missão de transmitir um conteúdo que, contido

em uma forma invariável, garantiria a manutenção do próprio sistema.

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Nessa cadeia que se considera universal e invariante, surge o conceito de sentido para o qual Hjelmslev

propõe análoga dimensão, na medida em que o identifica com a matéria modelada pela forma. Desse

modo, propõe-se para sentido uma:

definição operatória,  identificando-a com o “material”

primeiro, ou com o “suporte” graças ao qual qualquer semiótica,

enquanto forma se acha manifestada. Sentido torna-se, assim,

sinônimo de matéria,  uma e outra são empregadas

indiferentemente, falando-se de dois “manifestantes”: o plano da

expressão e o plano do conteúdo. (Greimas e Courtés. 2008.

p.457)

Porém, no mesmo texto, Jakobson aponta que, sob a influência da Teoria Matemática

da Informação formulada por Shannon, a comunicação seria responsável pelo controle da

redundância, ou de modo mais explícito, equivaleria a um controle da entropia a fim de que

o sistema se mantivesse inalterável e a informação tenha seu território de transmissibilidade

resguardado.  Desse modo,  a comunicação seria uma coadjuvante da forma na manutenção

coerente do sentido, garantindo-lhe o reconhecimento de validade. Nessa interlocução

sistêmica entre a lingüística e a comunicação, constroem-se as figuras do emissor ou do

enunciador que se comunicam com enunciatários sob a forma  de um contrato

comunicativo que:

 implica a existência  de dois sujeitos em relação de

intersubjetividade, a existência de convenções, de normas e de

acordos que regulamentam as trocas linguageiras, a existência de

saberes comuns que permitem que se estabeleça uma

inter-compreensão, o todo em uma certa situação de

comunicação. Isso explica que a comunicação seja bem sucedida

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“não quando os ouvintes reconhecem o sentido lingüístico do

enunciado, mas quando inferem o “querer dizer” do locutor.(

Charaudeau e Maingueneau, 2004, p. 131)

Como coadjuvante da lingüística na manutenção coerente do sentido, a comunicação

assume a dimensão estratégica de um contrato seguro da sua transmissão, através da forma

que o configura  e lhe permite  reconhecimento. O estruturalismo que se desenvolveu na

Europa e, sobretudo na França, nos anos 50 e durante a década de 60 do século XX,

convocou a adoção da imanência da linguagem, através de uma gramática comum a todas

as atividades comunicativas.  Enquanto sistema de coerções, a língua impôs-se à linguagem

e assumiu a dimensão de um conceito universal que tudo envolvia, inclusive a

comunicação.  Entram em cena a linguagem como total imanência significante, a

semiologia como domínio de estudo da estrutura da língua, o controle que, ao disciplinar a

língua nas regras de um sistema, pretendia dar conta de todas as manifestações

comunicativas que utilizassem o verbal entendido como meio técnico de natureza

funcional.

Quase simultâneo a Saussure, Charles Sanders Peirce desenvolvia, nos Estados Unidos,

sua lógica da linguagem que denomina semiótica onde procura, não as constantes ou

invariantes do controle disciplinar da língua, mas o modo como aquela lógica, sem

fundamentos pré-determinados, constrói o mundo e lhe permite ser cognoscível. Em lugar

das certezas sistêmicas que construíram a semiologia, Peirce procura uma lógica sem

certezas,  porque não se subtrai à indeterminação, mas a ela se expõe, para dela extrair uma

epistemologia feita de evolução e surpresa. Em lugar da gramática universal semiológica,

Peirce ( 1982-2000) propõe uma lógica que alia à semiótica, a estética,  na estrita qualidade

da sua materialidade formal que tudo evidencia mas nada explica sobre a substancia  a que

dá existência,  e a ética atenta à imprevisível evolução e mudança.

Observar as diferenças entre semiologia e semiótica, constitui tarefa urgente e

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necessária, se quisermos entender as possibilidades epistemológicas da comunicação que se

desenvolve no século XXI. Entretanto, para o desenvolvimento dessa tarefa é necessário

observar variáveis que interferem no modo como se conhece e desfazem a pretendida

certeza cognitiva. Essas variáveis abrem um leque de inferências que exigem outro olhar

sobre a segunda metade do século XX e suas consequências futuras.

Embora rigorosamente fenomenológica, a semiótica de Peirce não se deixa atingir pela

imanência de uma totalidade explicativa, ao contrário propõe uma epistemologia que não se

subtrai ao confronto com a experiência que, como dado duro, se representa no objeto que

desafia a experiência e a faz contínua e disponível à surpresa da alteridade( Ibri, 2015), 

mantendo-se como um  outro individual, coletivo e social,  pronto aos estranhamentos

propostos pela própria singularidade da experiência.  Sujeita à repetição e, talvez, à

redundância, a experiência transforma-se em generalidade que, insistente, é correlata a um

tempo, não imanente e cronológico, mas evolutivo. A passagem da experiência como

alteridade real  para a regularidade daquilo que, tendendo à repetição, é mudança e

evolução, tem especial interesse para esse trabalho. .Nesse desafio, esse trabalho é levado a

perceber que a comunicação é experiência de alteridade, mas sujeita a um eterno devir

evolutivo que a torna complexa, na medida mesma em que a transforma e procura

esclarecer a interatividade da experiência que a agencia. Nessa operação, é evidente uma

proposta cognitiva que edifica uma epistemologia feita de exigente inteligibilidade dos

processos que agencia e das possibilidades que promete: uma semiose epistemológica com 

condição de levar a pensar em possibilidades, sem necessidades.

Embora não divulgadas e quase desconhecidas no próprio território acadêmico

estado-unidense, as propostas de Peirce encontram amplo eco no final da primeira metade

do século XX e, sobretudo, nas primeiras décadas da sua segunda metade.

Nesse percurso surgem autores e conceitos fascinantes porque, subversivos à ordem da

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língua e da estrutura, diluem a decantada procura de certezas sistêmicas e imanentes que

caracterizaram a semiologia. Esses ecos que parecem emanar da obra de Peirce,  são

responsáveis por uma espécie de hipérbole expansiva do conhecimento que, ressonante,

constitui a grande herança do conhecimento que, produzido no século XX, vem impactar o

XXI. Entre esses autores que se situam nas primeiras décadas do século XX, mas são,

pouco a pouco, reconhecidas nas décadas que se seguiram ao final da Segunda Grande

Guerra, é necessário citar, a título de exemplo, nomes como Dewey (1985), Tarde(1895),

Backtin(1992), Bateson(2006) e Foucault( 2004).

Sob forte influência de Peirce e do seu pragmatismo, Dewey foi responsável por

instalar, no pensamento norte americano, uma definitiva desconfiança em relação a crenças

cognitivas dicotômicas que opunham razão e sentimento, lógica e empirismo, fatos e

valores, idealismo e realismo ( Calcaterra, 2014). Tarde, celebrado nas duas primeiras

décadas do século XX, permaneceu em absoluto esquecimento nos anos posteriores, para

ser redescoberto no século XXI através dos seus, hoje renomados, conceitos de público e

conversação, considerados motores da ação, da memória e, sobretudo, da imitação e da

herança social.  Ao propor o conceito de dialogismo, Bakhtin reavalia a linguagem que,

ultrapassando o sistema lingüístico, surge preenchida pela presença do outro que a

completa, edifica e transforma. A Bateson se deve a necessidade de considerar que a

comunicação está sujeita à incomunicabilidade do duplo vínculo que, para ser ultrapassada,

exige o impacto metacontextual que leva a aprender a aprender;  Foucault propõe, nas

famosas conferências do Collège de France,  o conceito de biopolítica que se opõe ao

governo como poder  exercido através de  dispositivos sutis que povoam o contemporâneo.

Entre esses autores e seus conceitos, surge a exigência indispensável de superar a

língua como certeza expressiva, para encontrar a linguagem que, como discurso, não é

apenas aquilo que enuncia, mas aquilo que antecipa e preanuncia o mundo que decorre da

ação dos homens.  No rastro dessa mudança, a comunicação não é um contrato, mas o risco

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de produzir a interação que, fértil e sugestiva, se apresenta como motor daquela mudança.

A descoberta desse rastro corresponde ao apelo da primeira epígrafe desse trabalho mas,

para  tanto, é necessário descobrir ou revisitar a epistemologia que desenvolve, no território

da comunicação, a proteção de uma cultura que insiste em ser infensa a mudanças.

2. Epistemologias protetoras

A epistemologia da comunicação só alcança seu objetivo se desenvolver a crítica que

lhe permitirá ver e entender a comunicação no seu processo e devir, a fim de ser possível

perceber as densidades culturais que pode encobrir ou patrocinar, ou seja, é necessário

verificar como as polaridades desenvolvidas pelo verbal como sistema de constrições,

 atinge a comunicação e suas  consequências epistemológicas.

Entendida como um contrato que emana dos processos emissivos para atingir o

receptor, a comunicação está presa à sua competência funcional, tendo em vista atingir o

contrato pretendido. Nesse sentido, a comunicação é instrumento, é meio técnico adequado

àquela função e, nesse sentido, exaurem-se a comunicação e a técnica porque, ambas,

surgem distantes daquela possibilidade de mudança que a comunicação contemporânea

parece permitir.

As decorrências epistemológicas dessa função técnica está contida na necessidade de

entender a produção científica como aplicação de teorias que, advindas de sistemas

filosóficos, são  rapidamente aplicadas,  a fim de explicar a natureza do fenômeno e

transformar aquela epistemologia em certeza balizada pela teoria e pelo método. Nesse

sentido, cada território científico  desenvolve uma epistemologia que parece reflexo das

certezas estabelecidas:

Cada hipótese, cada problema, cada experiência, cada

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equação reclamaria a sua filosofia. Deveríamos fundar uma

filosofia do pormenor epistemológico, uma filosofia científica

diferencial que estivesse em harmonia com a filosofia integral

dos filósofos. É esta filosofia diferencial que estaria encarregada

de medir o devir de um pensamento.  De  um  modo  geral,  o

 devir  de  um  pensamento  científico  corresponderia  a  uma

normalização,  à  transformação  da  forma realista numa forma

racionalista (Bachelard, 1971, p. 28/29)

Embora seja imperioso considerar a relevância das reflexões epistemológicas de

Bachelard, não é possível desconsiderar que seu entendimento está apoiado na concepção

de um conhecimento que só pode ser  considerado se estabelecer, na diferença, a harmonia

com o que foi previamente afirmado. No território dessa diferença harmônica, a

epistemologia de uma ciência é fiadora de um capital científico que, ao solidificar uma

área, estabelece os créditos de um saber reconhecido como tal, “ um capital científico 

funciona como um capital simbólico de reconhecimento que vale, antes de mais, e por

vezes, exclusivamente nos limites do campo”( Bourdieu, 2001, 80) . Enquanto fiadora de

um capital científico, a epistemologia deve catalogar o valor do conhecimento para que

assim possa ser ratificado e entendido como “contributo distintivo”. Nesse sentido, a

epistemologia da comunicação tem sua atuação disciplinada pela funcionalidade que lhe

atribui seu próprio capital. Ao lado das duas tendências epistemológicas anteriores,

observa-se que o significante se vincula a uma imanência do sentido que confunde matéria

e forma e é responsável por outra tendência que protege a comunicação de todas as

possibilidades que, ao mudar seus paradigmas científicos, lhe possibilite descobrir outras

ações cognitivas. Nesse caso, proteção é manutenção da ordem e estabilidade de normas,

conceitos e valores. Naquela imanência do sentido, a comunicação é, sobretudo, “forma de

dizer” que esconde um sentido que só pode ser revelado/descoberto através dela. Surge

uma operação epistemológica que protege o contrato comunicativo, reservando-lhe o

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sentido que precisa ser procurado através de uma genealogia hermenêutica. Articulam-se

sentido e texto mesmo que, para a ortodoxia das teorias  do discurso, observe-se certa

disparidade entre a procura genealógica do sentido e a forma imanente ao texto. Para a

ortodoxia da análise do discurso, entende-se que as raízes genealógicas são entendidas

como extralingüísticas ou referências do texto, ou seja, são sentidos assimilados ao texto. O

exercício epistemológico que procura  articulação entre aqueles sentidos e o texto, recebe o

nome de hermenêutica. 

Como atuação epistemológica protetora do contrato comunicativo e, conforme alguns

epistemólogos famosos, a hermenêutica surge como método seguro de assunção do sentido

recluso sob as malhas formais do texto e desenvolve uma espécie de saneamento científico:

A reflexão hermenêutica cumpre-se desconstruindo os

objetos teóricos que a ciência constrói sobre si própria e,

consequentemente, as “imagens” teóricas que dá de si. Esta

desconstrução aprofunda o trabalho de desdogmatização da

ciência levado a cabo nas últimas décadas, mas para isso tem de

adaptar uma concepção da ciência que facilite a reflexão

hermenêutica. Tal concepção tem os seus fundamentos no

pragmatismo americano e, por não ser ainda uma concepção

dominante, a reflexão hermenêutica apresenta-se como pedagogia

de uma epistemologia pragmática ( Sousa Santos, 1989, p.

169/170)

Embora a primeira parte da citação esclareça o papel da hermenêutica para a definição

da ciência contemporânea, observa-se que  a segunda parte da citação deixa evidente o

equívoco que confunde o sentido enclausurado nas formas do texto,  com os interpretantes

sígnicos que caracteriza o pragmatismo norte-americano que, em evolução contínua, 

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produz uma semiose que não se estanca nas bases hermenêuticas do sentido comunicativo

que subjaz aos contextos receptivos.  Ou seja, mais uma vez, torna-se evidente como a

clausura do sentido nas malhas da forma protege, mas limita as possibilidades

epistemológicas da comunicação. 

Outra estratégia protetora da comunicação consolida-se no próprio conceito de meio

comunicativo que, à semelhança do sistema verbal, é entendido como instrumento apto a

comunicar, embora dócil às próprias exigências do meio. Nesse sentido, entende-se que o

meio é proteção do contrato comunicativo  na medida em que se apresenta como

significante vazio ( Laclau e Mouffe, 2010, p. 239), disponível ao hegemônico poder

midiático que, não raro, reduz a comunicação à epistemologia das possibilidades de fruição

dos impactos da visualidade e do entretenimento que impregnam os meios comunicativos,

 reduzidos ao simples recurso instrumental de um meio técnico. Nessa atmosfera, não se

estranha o profundo desconforto conceitual quando Mcluhan afirma “o meio é a

mensagem”, entendido como redução daquele sentido protetor do contrato comunicativo,

confundido com simples meio instrumental. Como o autor já observou em inúmeras

oportunidades,  sentido epistemológico e cognitivo daquele conceito entende que os meios,

 enquanto tecnologias, nada mudam no cenário comunicativo, mas atuam como  origens de

ambientes complexos onde tudo e todos se comunicam, com os meios, através e apesar

deles:

Possivelmente, a definição mais elevada de imprensa criou a

expectativa de um significado mais inclusivo do que exclusivo.

Mas há apenas uma geração que o mundo literário foi

convulsionado pelas redes dos múltiplos níveis de expressão das

palavras e da sintaxe mais simples. À medida que nos

aprofundamos na Galáxia eletrônica, a pressão para reconfigurar

padrões antigos da galáxia alfabética e gutenberguiana torna-se

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intolerável  ( Mcluhan, 1980, p. 50)

Talvez o conceito citado e a influência de Mcluhan constituam elementos incisivos

para revisão de uma ciência que, sofrendo a consequência cognitiva dos meios, encontra-se

disposta e madura para dar outros passos epistemológicos. Superar os limites de uma

técnica alienada dos seus papeis humanos e alienante das suas possibilidades cognitivas 

constitui a promessa, de claro viés político, de uma epistemologia da comunicação para o

século XXI.

3 Individuação e comunicação

Na Europa e à luz das vibrações científicas e sociais que sucederam o final da segunda

grande guerra, Gilbert Simondon publicou, em 1958, seu doutorado onde lança o complexo

e debatido conceito de individuação a partir das, não menos controversas, noções de forma

e informação.

Considerando o caráter transdisciplinar do primeiro conceito e, sobretudo,  observando

que o viés aristotélico da noção de forma atingiu a comunicação como um contrato

coercitivo entre processos de emissão e recepção, parece propício considerar o modo como

a informação, enquanto processo de produção alternativo de experiências, pode atingir a

comunicação e alterar sua performance coercitiva e contratual. Para tanto, examinar o

conceito de individuação parece promissor e instigante.

Entretanto, considerar o indivíduo ou a comunicação como forma a partir da qual é

possível o conhecimento ontológico da matéria ou substância é admitir a individuação ou a

comunicação como entidades de natureza “a priori”, prontas a explicar o próprio caráter

existencial do indivíduo ou da comunicação que, enquanto instrumental, está apoiada em

recursos técnicos e tecnológicos:

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Es dificultoso considerar las nociones de forma y de matéria como

ideas innatas. Sin embargo, en el momento en que estamos tentados de

asignarles un origen tecnológico, somos retenidos por la notable

capacidad de generalización que poseen esas nociones. No es

solamente la arcilla y el ladrillo, el mármol y la estatua los que pueden

ser pensados según el esquema hilemórfico, sino también un gran

número de hechos de formación, de génesis y de composición en el

mundo viviente y en el domínio psíquico. La fuerza lógica de esse

esquema es tal que Aristóteles ha podido utilizarlo para sostener un

sistema universal que se aplica a lo real tanto según la via lógica como

según la via física, asegurando el acuerdo entre ambos ordenes , y

autorizando el conocimiento inductivo. La própria relación entre el

alma y el cuerpo puede ser pensada según el esquema hilemórfico. (

Simondon, 2015, p. 27/28)[2]

Como vemos, Simondon quer construir o conceito de individuação superando uma ontologia

hilemórfica para “ situar el indivíduo en el sistema de realidad en el cual se produce la

individuación” ( idem, op, cit. p. 8).  O esquema que subjaz à comunicação como um contrato

estabelecido “a priori” pelo sistema lingüístico e a transforma em simples enunciação de natureza

transmissiva e coercitiva, aproxima-se da observação de Simondon sobre o desenvolvimento de

um foco ontológico e/ou hilemórfico do indivíduo. Nos dois casos, observa-se uma natureza

substancialista e monológica daquilo que, na realidade,  se manifesta de modo complexo e

desafia nossa percepção e compreensão:

La busqueda del principio de individuación se consuma después o

antes de la individuación, según que el modelo de la individuación sea

físico ( para el atomismo sustancialista)   o tecnológico y vital ( para el

esquema hilemórfico) Pero en  los dos casos existe una zona oscura

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que recubre la operación de individuación.  ( Simondon, 2015. p. 9)[3]

Operando  com o  contrato comunicativo, observa-se estreita analogia entre a transmissão

que se utiliza do verbal ou dos meios técnicos como performances, mais ou menos, estabelecidas

da comunicação, para desconsiderar a própria natureza complexa do comunicar que, interativo, 

desconhece  a  monologia transmissiva, mas se processa como base essencial de todo gesto

comunicante:

Si supusiéramos, por el contrario, que la individuación no produce

solamente el indivíduo, no buscaríamos pasar de manera tan rápida a

través de la etapa de individuación para llegar a esta realidad última

que és el individuo: intentaríamos captar la ontogenesis en todo el

 desarollo  de  sua  realidad,  y  conocer  al  individuo  a  través  de  la

 individuación  antes  que  la  individuación  a  partir  del  individuo.  

Quisiéramos mostrar que es preciso operar una inversión en la

busqueda del principio de individuación a partir de la cual el individuo

llega a existir y cuyo desarollo, régimen y modalidades el refleja em

sus caracteres. El individuo sería captado entonces  como una realidad

relativa, una cierta fase del ser que supone antes que ella una realidad

preindividual y que, aún despues de la individuación, no existe

completamente sola, pues la individuación no consume de golpe los

potencialidades de la realidad preindividual, y por outra parte, lo que la

individuación hace aparecer no es solamente el individuo sino la pareja

individuo-medio.  ( Simondon. 2015. p. 9/10)[4]

Portanto e analogamente, a individuação e a comunicação surgem como possibilidades

relativas que  jamais chegam a ser definitivas ou concluídas,  porque o traço que as tornam

semelhantes está no fato de ambas estarem sempre acontecendo. Enquanto devir,  o  comunicar é

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de natureza atemporal ou sempre presente  que,  nas dimensões  constitutivas de um tempo

ausente ou sem marcas definitivas,  se aproxima da falsa incomunicabilidade que subjaz à

ausência de sentido do célebre conceito de “duplo  vínculo”:

Esa red de ideas fue fértil, no en el sentido de que diera nacimiento

a ideas separadas de ella misma, sino en el sentido de que hizo nacer

otras partes de si misma, pues la matriz fue algo que creció y se fue

haciendo cada vez más compleja, cada vez más amplia en su alcance y,

según creo, cada vez más fértil a medida que transcurria  el tiempo. La

teoria del doble vínculo fue y es parte de esta epistemologia general, no

fue inducida ni deducida de ella.....la matriz es uma epistemologia y

especificamente es uma epistemologia recursiva; al mismo tiempo es

uma epistemologia de  la recursividad .  (Bateson,  2006, p. 256)[5]

Assim como a epistemologia do duplo vínculo supõe a necessidade de um salto

meta-contextual a fim de,  através da recursividade, aprender a aprender e construir a diferença

que consolida o comunicar  à medida em que supera a homogeneidade transmissiva, o conceito

de individuação exige uma metaestabilidade que supõe a energia potencial de um sistema,

sempre afeito à possibilidade de aumento da entropia. ( Simondon, 2015, p. 11). Ou seja, o

comunicar e a individuação convocam a informação que, por sua vez, sugere uma realidade, mais

insegura como devir, embora mais rica como possibilidade de experiência, recuperando a grande

contribuição científica e cultural da segunda lei da termodinâmica que se destaca  no século XX e

constitui  impacto primordial para o século XXI que se manifesta como arquiteto de  ressonantes

relações entre conceitos,  áreas científicas, homem, cultura,  sociedade, vida. Nesse sentido e

recuperando Mcluhan (1988, p. 128) o comunicar é anterior à comunicação assim como o meio

precede a mensagem. Se a noção de informação  utiliza a tecnologia como elemento que se

impõe, mas não a determina, o meio sustenta a mensagem, mas vai além dela, na medida em que

comunica o próprio modo como se processa e, como conseqüência,  transforma a cultura e a

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sociedade, evidenciando “os meios como extensões dfo homem” (Mcluhan, 1969)

4. A epistemologia trajetiva do comunicar

Assim como Bateson e Mcluhan,  a grande contribuição  de Simondon é nos fazer

entender que a epistemologia da comunicação exige a individuação do comunicar inerente à

informação e aos meios técnicos e culturais que preside e supõe considerar os modos interativos 

que, recursivos ao comunicar, constituem um desdobramento do próprio processo atemporal que

engendra e, pelo qual são, sem cessar,  relativizados. Essa observação nos faz considerar a

extraordinária complexidade que os meios digitais introduzem  para a epistemologia que,

superando a exclusiva dimensão mediativa, se apresenta interativa, mas distante do simples

caráter instrumental do uso daquela tecnologia. Portanto, estabelece-se entre meios, interações e

comunicar um vital processo de tradução  como  trajetividade que,  sem adições ou duplicações

apressadas, impede  asserções transmissivas  que justificariam ou assegurariam  o trajeto

comunicativo que entre elas se estabelece. Como outra fase daquela ressonância conceitual que

se expande entre os séculos XX e XXI,o conceito de trnsindividuação e/ou trajetividade comum a

Simondon ( 2015. p.  298)  e a Augustin Berque ( 2000, p. 89) supõe mobilidade daquilo que se

move, se altera, se transforma e evolui, criando uma trama relacional entre meio técnico,

interação e comunicar que associa sujeitos e objetos, meios e técnicas, cultura e sociedade,

ciência e epistemologia:

 La trajection c´est ce double processus de projection technique et

d´introjection symbolique. C´est le va-et-vient, la pulsation

existentielle qui, animant la médiance, fait que le monde  nous importe.

Il nous importe charnellement,  parce qu´il est issu de notre chair sous

forme de techniques et qu´il y revient sous forme de symboles. C´est en

cela que nous sommes humains, en cela qu´existe l´écoumène, et c´est

pour cela que le monde fait sens. ( Berque, 2000, p. 129)[6]

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Esse caráter simbólico da transindividuação  trajetiva que não é diretamente salientada por

Simondon, mas indicada por Berque,  é responsável pelo caráter coletivo e expansivo daquela

mobilidade feita, não tanto de deslocamentos topográficos, mas de contaminações ressonantes

que atravessam as individualidades e as comunicações, sem jamais limitá-las ou completá-las em

um sentido ou significação homogêneos ou monológicos, ou seja, a trajetividade de Berque e a

transindividuação de Simondon têm caráter ontológico (chora), afastando-se de qualquer vínculo

topográfico que,  como ocorre com a cidade enquanto meio comunicativo, é território de uma

comunicação localizada (topoi),  vinculada a territórios de poder, não só, político, mas sobretudo,

econômico-financeiro motivado por especulações comerciais com várias motivações. Os dois

autores chamam a atenção exatamente para essa diferença: Berque aponta a diferença

epistemológica que existe entre cora e topoi; Simondon avança na radicalidade das suas

observações:

 Pour être tout à fait moderne, il manque au topos aristotélicien  de

se situer dans un espace, notion que les grecs ne possédaient pas.

Cependant, il annonce deux caractéristiques fondamentales de la

pratique des lieux dans l´architecture moderne; a savoir d´y positionner

librement des objets qui sont  là comme ils pourraient être ailleurs,

c´est à dire des objets séparables du lieu e possédant leur identité à

l´nintérieur de leur propre envelope locale; en somme, des objets sans

lieu ontologique avec leur entourage. La notion de chora implique

exactement le contraire, c´est à dire une archetecture engagée dans son

lieu, et que par cela même déploie un milieu humaun.  (Berque, 2000,

p. 25)[7]

Simondon avança na radicalidade das suas observações:

 Es al nivel de lo transindividual que las significaciones son

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descubiertas, no al nível de lo interindividual o de lo social. El ser

individuado lleva consigo un porvenir possible de significaciones

relacionales a descubrir: es lo preindividual aquello que funda lo

espiritual en lo colectivo....Lo colectivo es uma individuación que

reúne las naturalezas que son transportadas por vários indivíduos, pero

no están contenidas en las individualidades ya constituídas de esos

indivíduos; por eso el descubrimiento de significación de lo colectivo

es a la vez trascendente e inmanente respecto al individuo anterior;

dicho descubrimiento es contemporâneo de la nueva personalidad de

grupo.....( Simondon, 2015. p. 388/389)[8]

Como dimensão coletiva do comunicar,  a epistemologia apresenta uma dimensão política, 

na medida em que se define pelo conhecimento que produz, ou seja, é nessa dimensão cognitiva

que se projeta aquela política. Não se consideram, portanto,  dispositivos e interesses políticos

que utilizam técnicas, meios,  imagens e visualidades  como estratégias de persuasão de um

receptor incauto, ao contrário,  trata-se  de estudar a natureza política da comunicação enquanto

área científica voltada para o estudo das relações interativas  que transformam a  ordem social,

cultural e ambiental permitindo, à comunicação,  superar  dimensões lineares e utilitárias da

simples transmissão ou os dispositivos midiáticos que a caracterizam como forte instrumento de

poder. A epistemologia política da comunicação exige ser sensível às transformações sociais que

lhe  permitem estar atenta à natureza política do comunicar e às características que, como

conseqüência,  interferem sobre a ciência que desenvolve.

5. A epistemologia política da comunicação

Se a natureza coletiva não constitui escolha individual, mas é resultado de uma relação pela

qual os indivíduos se descobrem como participantes de uma unidade coletiva, observa-se que o

comunicar é, ao mesmo tempo, meio técnico e comunicativo daquela trajetividade  comunicante 

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que, na sua inerente dimensão política, interessa a esse trabalho.

Enquanto conseqüência de uma relação que ocorre entre os seres e através deles, a interação

de um comunicar se expande no coletivo e se apresenta, em segunda instância,  com a

complexidade de um grupo:

 La reciprocidad,  la resonancia interna es la condición del

advenimiento de lo colectivo.... La segunda individuación, la de lo

colectivo y lo espiritual, dá nacimiento a significaciones

transindividuales que no mueren con los indivíduos a través de los

cuales se han constituído....( Simondon, 2015. p. 396)[9]

No coletivo assim entendido, descobrem-se rastros que Gabriel Tarde conceituou como

público e opinião:

 A opinião está para o público, nos tempos modernos, assim como

a alma está para o corpo, e o estudo de um nos conduz naturalmente ao

outro......na palavra opinião confundem-se habitualmente duas coisas,

que estão misturadas de fato, é verdade, mas que uma boa análise deve

distinguir: a opinião propriamente dita, conjunto de juízos e a vontade

geral, conjunto de desejos......Bem antes de ter uma opinião geral e

sentida como tal, os indivíduos que compõem uma nação têm

consciência de possuir uma tradição comum e submetem-se de bom

grado às decisões de uma razão julgada superior. Assim, desses três

ramos do espírito público, o último a se desenvolver, mas também o

mais apto a crescer a partir de um certo momento, é a opinião e ela

cresce à custa dos outros dois.” ( Tarde, 2005,p. 60/61)

Tradição, razão e opinião fazem parte da tríade construída por Tarde  para explicar o público;

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nessa mesma rede de idéias ressonantes, agrega-se Foucault com a percepção de população como

rastro de uma ação biopolítica de governo:

Esta nova arte de governar é, a meu ver, essencialmente

caracterizada pelo aparecimento de mecanismos internos, numerosos e

complexos, mas que têm por função – é isto que marca a diferença

relativamente à razão de Estado – não tanto assegurar o crescimento do

Estado em força, riqueza e poder, ou o crescimento infinito do Estado,

mas limitar do interior o exercício do poder de governar. (Foucault,

2004, p. 55)

Essa  ação de governar como ação biopolítica se situa no próprio cerne da transindividuação

coletiva e se faz contagiante e ressonante entre ação e política, indivíduo e público, mediação,

técnica e interação comunicativa;  governo, sociedade, cultura e desejo. A rede de ideias que se

desenvolveram no século XX e impacta o  XXI, supõe uma relação política inerente à

comunicação. Distante do exercício do poder, deixa evidente um meio, tecnológico ou não, capaz

de criar um ambiente rico de informações potenciais, que só se atualizam através de uma relação

transindividual que, coletiva, seleciona e transforma a informação de partida em sentido

agregador de subjetividades de grupo, sempre incompleta na sua capacidade de ação. Essa

dinâmica nos faz entender que o comunicar é gerador de intensa subjetividade emotiva e aponta

para uma ativa epistemologia política, distante daquele sistema coercitivo que  reduz a

comunicação a um contrato estabelecido que se repete e não se move.

Essa potencialidade do comunicar  se evidencia quando, se distanciando do poder como

meio, tecnológico ou não, de exercício do poder, é capaz de se descobrir na viva abrangência

ambiental de realidades intersubjetivas e coletivas.  Uma política que não se submete  à invenção

de um Estado que a reduz  a uma ação planejada, tendo em vista  fins ou interesses a atingir;  

nessa dimensão, uma epistemologia política da comunicação não se manifesta como visualidade

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política, mas como imaginação  que transforma as interações coletivas em modos de produzir

uma cognição comunicante, mais imaginada do que definida: uma atenção crescente à

trajetividade de um comunicar interativo  criador de uma ontologia  da comunicação  ao

descobrir sua possibilidade epistemológica.

 

 

 

Notas

[1] “A cultura se constituiu em sistema de defesa contra as técnicas: porém, essa defesa se apresenta como uma defesado homem, supondo que os objetos técnicos não contem uma realidade humana e que para cumprir por completo seupapel, a cultura deve incorporar os seres técnicos sob a forma de conhecimento e sentido de valores... A cultura secomporta com o objeto técnico como o homem com o estrangeiro quando se deixa levar por uma xenofobia primitiva.”( Simondon, 2007, p. 31)

[2] “ É difícil considerar as noções de forma e matéria como ideias inatas. Entretanto, no momento em que estamostentados a apontar-lhes uma origem tecnológica, somo impedidos pela notável capacidade de generalização que essasnoções possuem. Não é somente a argila e o ladrilho, o mármore e a estátua que podem ser pensados segundo oesquema hilemórfico, mas também grande número de formações, de genesis e composição do mundo vivo e dodomínio psíquico. A força lógica desse esquema é tal que Aristóteles foi capaz de utiliza-lo para sustentar um sistemauniversal de classificação que se aplica ao real, tanto conforme a lógica, como com a física, assegurando a ordem entreambas e autorizando o conhecimento indutivo. A própria relação entre a alma e o corpo pode ser pensada conforme oesquema hilemórfico” (Simondon, 2015, p. 27/28)

[3]“ A busca do princípio de individuação se confirma antes ou depois da individuação, conforme o modelo deindividuação é físico ( para o atomismo substancialista), ou tecnológico e vital ( para o esquema hilemórfico). Mas, nosdois casos existe uma zona escura que encobre a operação de individuação” ( Simondon, 2015, p. 9)

[4]  Se, ao contrário, supusermos que a individuação não produz apenas o individuo, não passaríamos de maneira tãorápida pela etapa de individuação para chegar a essa realidade última que é o indivíduo: tentaríamos captar aontogênese  do desenvolvimento da realidade, e conhecer o indivíduo através da individuação, mais do que aindividuação a partir do indivíduo. Gostaríamos de mostrar que é preciso operar uma inversão na busca do princípio deindividuação, considerando como primordial a operação de individuação a partir da qual o indivíduo vem existir e cujodesenvolvimento, regime e modalidades são refletidos em suas características. O individuo passa a ser compreendidocomo realidade relativa,  certa fase do ser que supõe, antes dela, uma realidade pré-individual  que, depois daindividuação,não está completamente sozinha, pois a individuação não finaliza de uma só vez as potencialidades darealidade pré-individual,  o que a individuação revela não é somente o indivíduo, mas o par indivíduo-meio.(Simondon, 2015. p. 9/10)

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[5] Essa rede de ideias ou matriz foi fértil, não no sentido de dar nascimento a ideias separadas dela mesma, mas no sentido de que feznascer outras partes de si mesma, pois a matriz foi algo que cresceu e se foi tornando cada vez mais complexa, cada vez mais amplaem seu alcance e, segundo acredito, cada vez mais fértil à medida em que transcorria o tempo. A teoria do duplo vínculo foi e é partedessa epistemoloigia geral, não foi induzida ou deduzida dela ( Bateson,  2006, p. 256)

[6] A trajeção é esse duplo processo de projeção técnica e de introjeção simbólica. É esse ir e vir, a pulsaçãoexistencial que, animando a “médiance”, faz com que o mundo adquira sentido. Ele nos interessa de modo carnal,porque   é  tecido pela nossa carne sob a forma de técnicas e  a ela  retorna sob a forma de símbolos. Daí sermoshumanos naquilo que existe de ecumênico e, como consequência, constrói o sentido do mundo. ( Berque, 2000,p. 129)

[7] Para ser definitivamente moderno, falta ao topos aristotélico situar-se no espaço, noção que os gregos nãopossuíam. Entretanto, ele anuncia duas características fundamentais para a prática dos lugares na arquitetura moderna;a saber , posiciona livremente aí objetos que lá estão como poderiam estar em outro lugar, isso é, objetos separados dolugar e possuindo uma identidade que advém do interior da própria situação local, em suma, objetos sem relaçãoontológica com a situação que os envolve. A noção de chora é exatamente o contrário, isto é uma arquitetura engajadacom seu lugar e que por isso mesmo se  desdobra no meio humano. ( Berque, 2000, p. 25)

[8] È no nível do transindividual que as significações espirituais são descobertas, não no nível do interindividual ou dosocial. O ser individuado leva consigo um possível futuro de significações relacionais para serem descobertas: é opré-invididual que situa o espiritual no coletivo......O coletivo é uma individuação que reúne as naturezas que sãotransportadas por vários indivíduos, mas não estão contidas nas individualidades desses indivíduos, em consequência ,o descobrimento de significação do coletivo é, ao mesmo tempo, transcendente e imanente tendo em vista o indivíduoanterior; essa descoberta é contemporânea à nova personalidade de grupo, da qual participa o indivíduo através dassignificações que descobre  ( Simondon, 2015, p 388/389)

[9] A reciprocidade, a ressonância interna é a condição de assunção do coletivo.... A segundo individuação, aquela docoletivo e do espiritual, dá nascimento a significações transindividuais que não morrem com os indivíduos,  através dosquais se constituiu ( Simondon, 2015, p. 396

 

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