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não serão “levados a sério” quando trouxerem “questões relativas à li-berdade de expressão”.
A imprensa brasileira, um mo-nopólio controlado por cerca de sete famílias, está pouco interessada no bom jornalismo de Bernstein, pois fabrica notícias e transforma suas redações em comitês eleitorais. Para fi car em dois exemplos gritantes de tal prática, vejamos o caso da fi cha falsa de Dilma e do jingle dos 45 anos da Globo.
Em 25 de abril de 2009, a Folha de S.Paulo publicou com destaque uma fi cha falsa do Dops da então minis-tra-chefe da Casa Civil. A empresa de comunicação abriu mão de fazer o mais primário no jornalismo: che-car a veracidade de um documento. Nenhum de seus repórteres pesqui-sou no Arquivo Público do Estado de São Paulo se a imagem que rece-beram por e-mail era uma cópia do documento original.
Embora Dilma Rousseff tenha negado as acusações a ela imputadas
A guerra suja na rede Bom jornalismo e debates honestos na internet não serão a marca das
campanhas de 2010, que já estão a pleno vapor. No mundo virtual,
preconceitos são disseminados cotidianamente por pessoas que preferem
caluniar ou ofender em vez de debater propostas Conceição Oliveira
No lançamento da candi-datura de José Serra eu estava fora do país. Nas tevês internacionais, as notícias sobre o Brasil
eram todas focadas nas enchentes no Rio de Janeiro. Fora do Brasil, o lançamento da candidatura de José Serra foi obliterado pela tragédia das inundações que assolavam cariocas e niteroienses.
No Brasil, dois dias depois, o site nacional do PT foi invadido, exibin-do um alerta de que o “portal poderia danifi car o computador”, e no dia 14 de abril os invasores publicaram foto do candidato do PSDB, a assinatura “PSDB Hackers!”, o slogan da campa-nha de Serra e o endereço do site do partido. Em O Globo, a assessoria do PSDB negou participação e afi rmou que apoiava “uma ampla, geral e irres-trita investigação por parte da Polícia Federal”. André Vargas, secretário de Comunicação do PT, associou a inva-são ao tom virulento da campanha: “É lógico que não é o PSDB, mas dá
para dizer que é algum simpatizante e, com certeza, não é um simpatizante do PT”. O site pessoal da candidata Dilma Rousseff (www.dilmanaweb.com.br), só nos três primeiros dias de lançamento, teve 7 mil tentativas de invasão de crackers.
O Partido da Imprensa
O veterano do Washington Post Carl Bernstein, que em parceria com Bob Woodward desvendou o caso Watergate e levou à renúncia de Nixon, esteve no Brasil para um seminário sobre mídia e liberdade de expressão. Segundo Bernstein, na imprensa abunda “um culto à cele-bridade, pela fofoca, pelo sensacio-nalismo, pela negação das verdadei-ras condições de nossas sociedades e pela fabricação de controvérsias”. Ele chamou a atenção para o mau uso da liberdade de imprensa, que só ser-ve ao “interesse da ignorância e da tirania”. Para Bernstein, jornalistas devem “encorajar uma nova cultura de responsabilidade”, do contrário
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e a própria fonte que o jornal usou como testemunha de acusação da ministra tenha negado a informação publicada, a retratação do jornal dias depois foi pífi a.
Até hoje e-mails com essa fi cha falsa de Dilma circulam na rede “le-gitimada” pela publicação na Folha. Há um ano o jornal da família Frias turbinou a disseminação do hoax que circulava nos blogs de extrema direita que acusavam Dilma de “ter-rorista” desde pelo menos novembro de 2008! Dilma “terrorista”, “guer-rilheira” são os principais motes do terrorismo da campanha adversária, que se aproveita do desconhecimento das pessoas sobre um dos períodos mais violentos da história do Brasil – a ditadura militar (que, por sinal, a Folha acredita que não existiu e qual, em editorial em fevereiro de 2009, de-fendeu como “ditabranda”).
Em 17 de maio de 2010, a Folha dá voz ao general Maynard Marques San-ta Rosa, que, além de atacar o Plano Nacional de Direitos Humanos 3, disse
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que a implementação da Comissão da Verdade seria justa se se perguntasse a “Dilma Rousseff quantas pessoas ela assaltou, torturou, matou…” A essa for-mulação acusatória, a jornalista Eliane Cantanhêde não fez questionamento algum ao general.
No último questionário de pesquisa eleitoral do DataFolha de maio, regis-trado no TSE ,é estranha a inclusão de questões sobre “terrorismo” em um conjunto que tinha como objetivo ve-rifi car a preferência dos eleitores em relação aos candidatos à Presidência.
A Folha de S.Paulo também de-sencadeou uma série de matérias que punham em xeque os institutos de pesquisa que não apresentavam o mesmo resultado do instituto de seu grupo empresarial, a ponto de o Mo-vimento dos Sem-Mídia entrar com representação no Ministério Público para investigar todos os institutos.
Em 18 de abril de 2010, a Rede Globo colocou no ar um jingle para comemorar os 45 anos da emissora. Além de grafar o número 45 com a
mesma fonte usada pelo PSDB, o slo-gan do jingle era muito semelhante ao da campanha do partido. No mesmo dia, Marcelo Branco, coordenador de internet e redes sociais da campanha de Dilma, denunciou via twitter: “Jin-gle de comemoração dos 45 anos da TV Globo embute, de forma disfarçada, propaganda pró-José Serra”. Poucas horas depois a emissora retirou a cam-panha do ar.
Na mesma semana, os blogueiros globais, especialmente Noblat, ini-ciaram uma campanha de difamação de Marcelo Branco. Noblat também criou um post hermético com o título “Censurem Dilma!”, que imediata-mente foi postado centenas de vezes por twitteiros da campanha de Serra, como RedePSDB e TucanoJr, entre ou-tras contas. A tag #censuremdilma foi parar no Trending Topics do twitter.
Os “brucutus” do mundo virtual
No artigo “Jogo sujo na rede”, na Carta Capital, de 25 de abril, o jornalis-ta Leandro Fortes fez um apanhado de
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como os partidos usarão na campanha as redes sociais da internet. Segundo ele, a agência que coordena a campa-nha do PT na rede é a Pepper Comu-nicação Interativa, pela qual Marcelo Branco foi contratado. O uso da rede pelo PT é para disseminar o currículo de Dilma Rousseff contrapondo-se à campanha detratora dos sites de ex-trema direita, por vezes reverberada e turbinada pela grande mídia.
Do lado tucano são quatro em-presas: a Loops Mobilização Social, subordinada a agência Sinc, além da Knowtec e Talk Interactive. Fortes mostra todas as relações que essas agências têm com PSDB, PV e DEM, suas ações em outras campanhas e contratos com administrações da coli-gação de Serra, algumas investigadas pelo Ministério Público. Segundo o jornalista, tais agências são apenas a parte visível da campanha virtual do PSDB. O fator invisível chama-se Eduardo Graeff , tesoureiro do PSDB, ex-secretário-geral no Palácio do Pla-nalto de FHC. “Graeff organizou um grupo de twitteiros e blogueiros para inserir mensagens na rede social da internet, inicialmente com conteúdo partidário a favor da candidatura de Serra. A realidade, no entanto, tem sido outra. Em vez de militantes tu-canos formais, a rede de Graeff virou um ninho de brucutus que preferem palavrões, baixarias e frases feitas a qualquer tipo de debate civilizado.
O objetivo dessa turma é espalhar in-sultos ou replicar mentiras na rede”.
Fortes não poupa críticas aos petis-tas que cedem ao ataque e, por vezes, se igualam aos detratores.
Acompanho a campanha do PSDB e do PT no twitter. Nada se iguala ao baixo nível dos pró-tucanos, que já me renderam alguns posts no blog.
Sexismo e outros preconceitos
Na linha da campanha virulenta da coligação demotucana e, diante do insucesso de colar na candidata Dilma a pecha de “terrorista”, “guerrilheira”, “inexperiente”, a reação ao crescimen-to nas pesquisas da candidata do PT foi desqualifi cá-la como mulher. Es-crevi no Blog da Mulher sobre sexismo na campanha em que partidários de todas as profi ssões, via twitter e ou-tros blogs, buscam com piadas e co-mentários grosseiros atacar a mulher Dilma (http://www.viomundo.com.br/blog-da-mulher/sexismo-na-po-litica-digital-do-twitter.html). Sobre outros preconceitos dos simpatizantes de Serra, volto a chamar a atenção em dois artigos (http://mariafro.com.br/wordpress/?p=2381 e http://ma-riafro.com.br/wordpress/?p=2323).
O sexismo tornou-se tão corren-te que tem feito até tucanos serem alertados do risco de perder votos de suas eleitoras. Foi o caso do deputado estadual e presidente do PSDB do Pa-raná, Valdir Rosini, que depois de ser
questionado por uma eleitora tucana, a estudante de direito da Universida-de Federal do Paraná Vanessa Brito, sobre uma piada que fez sobre Dunga disse: “Você deve ser mal amada”. Ela deu o troco: “Antes falta de amor do que de bom senso, deputado. Reveja seus atos perante os cidadãos, assim como vou rever meus votos no PSDB”.
Se nem a alta plumagem do tuca-nato controla a manifestação de seus preconceitos no twitter, imaginem os de baixa plumagem. Os blogs de extrema direita que seguem a linha detratora, alguns financiados pelo PSDB, como o site Gente Que Mente, de responsabilidade de Graeff , conti-nuam a pleno vapor.
Mas a baixaria não se restringe ao mundo virtual. Em 11 de maio de 2010, O Globo noticiava que Paulo Bornhau-sen fazia uso da estrutura de recursos públicos – as instalações, os equipa-mentos e o pessoal do gabinete da lide-rança do DEM – para distribuir papers aos oposicionistas com ataques a Dil-ma. A autoria? O marketing de Serra, o publicitário Luiz Gonzales, que um mês antes havia apresentado o “pro-duto” aos partidos de oposição. Ao ser questionado, o líder Paulo Bornhausen qualifi cou a prática dessa irregulari-dade como “uma falha operacional” (http://www.brasiliaconfi dencial.inf.br/?p=15366).
Dois pesos...
O TSE já julgou e condenou várias vezes Lula, o PT e a candidata Dilma por propaganda antecipada. Em março Lula foi multado duas vezes: em R$ 5 mil, por decisão do ministro auxiliar do TSE Joelson Costa Dias, e em R$ 10 mil, pelo plenário do tribunal. Em 13 de maio o plenário do TSE condenou o PT por propaganda eleitoral ante-cipada. Além da multa de R$ 20 mil,
“A rede de Graeff virou um ninho de brucutus que
preferem palavrões e insultos a qualquer tipo de
debate civilizado. O objetivo dessa turma é espalhar
insultos ou replicar mentiras”
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propor demandas no TSE quando o alvo são as eleições presidenciais, ra-zão pela qual a representação tem de necessariamente ser arquivada”.
E a guerra mal começou
Nos EUA, as redes tiveram papel importante para que os democratas pudessem desconstruir a campanha difamatória contra Obama. O twitter é um bom revelador do que a camada dominante, a classe média majoritária do Sudeste, tanto da esquerda como da direita, pensa e de como políticos e assessores se expressam. E mais, o twitter reverbera links de jornais da grande mídia e, por vezes, alimenta matérias e blogs de seus jornalistas, pois eles estão em peso nessa rede.
Muitos twitteiros que postam as-suntos relativos às eleições procuram manter a civilidade e buscam o debate político. Procuro me inserir nessa cate-goria, não replicando posts – nem mes-mo de petistas – que considero fugir do debate político ou me soam grosseiros. Há humor na política? Muito! Políticos são matérias fartas para bons humoris-tas. Mas fazer humor inteligente exige consciência crítica, sustentá-lo só no preconceito é de mau gosto.
Não é segredo que sou uma blo-gueira ativista crítica às mazelas que vivo em minha cidade. Também não é segredo para ninguém que defendo uma candidatura feminina, feminista e progressista. Mas por fazer essa defe-
sa já fui alvo dos detratores pró-tuca-nos (assunto que explico em http://mariafro.com.br/wordpress/?p=2002). Acho uma guerra inglória essa onda de difamação e ataques sem fi m e busco não me cansar com isso, pois realmen-te me falta tempo para picuinhas.
A baixaria na rede, o partidarismo da imprensa e a batalha no TSE são apenas uma pequena mostra do que há por vir. Preparem-se. ✪
Conceição Oliveira é historiadora, autora de coleções didáticas, consultora e produtora de série para televisão, blogueira e twitteira nas horas vagas
durante os seis primeiros meses de 2011 o partido não poderá veicular propaganda partidária. Os ministros decidiram também multar a candidata Dilma, em R$ 5 mil.
Em 30 de abril de 2010, o PT entrou com representações contra o Gente Que Mente. De acordo com Graeff , a audiência do site detrator fi nanciado pelos tucanos aumentou em dez vezes após as representações. Além deste, o dirigente tucano registrou outro domínio antipetista: o site por hora inativo “Petralhas”, que está em nome do Instituto Social Democrata, criado pelo ex-presidente FHC.
Em 17 de maio, mais uma vez o ministro Joelson Dias entra em cena desfavorecendo o PT ao julgar im-procedente a representação contra o PSDB pelo site Gente Que Mente. Na avaliação do ministro, “se o go-vernante pode divulgar publicidade institucional e referir-se às realizações de sua administração antes do período ofi cial da propaganda eleitoral, sem que isso confi gure propaganda anteci-pada, é razoável que também se asse-gure àqueles que se apresentam como seus adversários políticos o direito de criticar referida ação administrativa, ainda que tal crítica seja desabonadora de sua conduta”.
Curioso o fato de Lula ter sido con-denado pelo mesmo ministro e por propaganda eleitoral antecipada!
O PT vem tentando usar dos me-canismos legais contra práticas seme-lhantes do que é acusado constante-mente pelo PSDB na Justiça, mas com menos sucesso. Em 29 de abril, um di-retório municipal do PT entrou com representação contra Serra pelo uso de sua imagem nas propagandas do rodoanel. Mas o ministro Aldir Pas-sarinho entendeu que um diretório municipal “não tem legitimidade para
O twitter é um bom revelador do que a camada
dominante, a classe média majoritária do Sudeste,
de esquerda ou de direita, pensa e de como políticos
e assessores se expressam
Cracker: aquele que pratica a quebra (ou cracking) de um sistema de segurança, de forma ilegal ou sem ética.
Hacker: programador que elabora e modi-fi ca software e hardware de computadores, desenvolvendo funcionalidades novas ou adap-tando antigas.
Hoax: histórias falsas que circulam pela internet, via email ou redes sociais.
Post: Informação publicada em veículos on-line, especialmente blogs, de formatos diver-sos, como textos, imagens, áudio e vídeos.
Postar: Publicar post em veículo na internet.
Tag: Método de indexação para websites. Permite, com a utilização de termos ou palavras-chave (as tags) organizar dados publicados em veículos online de modo não-hierárquico, possibilitando a navegação e cruzamento de informações segundo inte-resses específi cos.
Twitter: rede social e servidor para micro-blogging que permite aos usuários enviar e receber atualizações de outros contatos em textos de até 140 caracteres, em tempo real.
Twitteiro: usuário assíduo do twitter.
Trending topics: lista de assuntos mais cita-dos no twitter.
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