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A Missão do Administrador

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Page 1: A missão do administrador - Stephen Kanitz

A Missão do Administrador

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A Missão doAdministrador

Administração Como Filosofia de Vida

Stephen Kanitz

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A Missão do Administrador Direito autoral © 2014

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Conteúdos

Capa viiIntrodução viii

Um Brasil Mal Administrado xComo Mudar o Mundo xv

A Nova Realidade Econômica xxO Verdadeiro Significado da Palavra Gestão xxv

O Que Falta Para o Brasil Dar Certo? xxix

Part I.As Principais Funções

1. A Função do Presidente de Uma Empresa 22. Administrar é Ter Acabativa 7

3. Administrar é Realizar o Sonho dos Outros 134. Administrar é Nunca Acumular Problemas 19

5. Administrar é Saber Delegar 316. Administrar é Por Fim a Incompetência 34

7. Administrar é Saber o Intervalo Entre Ação e Reação 388. Administrar é Ter Que Lidar Com Problemas Brochantes 41

9. Administrar é Por em Ordem o Progresso 4510. Administrando Pessoas Estranhas 49

11. Administrando Pessoas Muito Estranhas 5512. Administrando Com Desconfiança 59

13. Administrar é Saber Delegar - II 6414.

Administrar É Saber Fazer as Perguntas, Não Achar as Soluções67

15. Administrar é Ser Ágil na Ação e Decisão 72

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16. Criando Laços de Confiança 7517. A Função Mais Difícil do Administrador 79

18. Se Karl Marx Tivesse Estudado Administração 82

Part II.Postura Ética

19. O Atributo Mais Importante do Administrador: Sua Ética89

20. A Primeira Regra Ética a Seguir 9321. O Administrador é Íntegro 96

22. O Administrador é Humilde 10123. O Administrador e o "Poder" 104

24. O Administrador é Um Democrata 10725. O Administrador é Um Mediador de Conflitos 111

26. Administradores ou Revolucionários ? 11627. Existem Administradores de Esquerda 120

28. Administrar é Cuidar do Capital Social da Sociedade 124

Part III.O Futuro

29. Administração Tem Que Ser Divertida 12930. A Importância de Uma Visão do Futuro 133

31. Chegamos na Era do Administrador, Finalmente 13632. A Nova Sociedade Brasileira 142

33. O Administrador Como Um Político 14634. Empresas Preparadas Para Servir 150

35. Capitalismo Beneficente 153

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Part IV.Problemas

36. Você Não Entende Absolutamente Nada de Administração?157

37. Jornalista Precisa Ser Treinado, Administrador Não? 16138. A Função do Gestor e a Função do Administrador 163

39. A Lei do Mínimo Esforço 16640. O Mal Que Karl Marx Fez Para a Administração 171

Part V.Conclusões

41. Por Um Brasil Bem Administrado 17942. A Lei 7988/45 Que Atrasou o Brasil 182

43. Quem Salvará o Capitalismo dos Capitalistas? 18544. A Missão do Administrador Brasileiro 189

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Capa

A capa foi feita por Helio de Almeida, 30 anos atrás, que eu con-sidero a melhor capa da Edição de Melhores e Maiores.

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Introdução

Este não é um livro de administração comum.Ele não irá discorrer sobre técnicas administrativas nem sobre

as melhores práticas usadas pelas melhores e maiores empresas dopaís.

Mas será um livro que fará de você um administrador melhor.Ele abordará a missão do administrador como um agente da

sociedade, a função do administrador na sua plenitude. Mostraráo espaço maior da existência de um ser humano.

A Missão do Administrador mostra a administração como umafilosofia de vida, mostra o significado maior da tarefa de ser umadministrador.

Prometo que no fim deste livro você terá um maior significadopara sua vida, uma maior clareza e porque estamos fazendo o quefazemos.

Embora eu esteja usando o termo administrador, isto não sig-nifica que eu esteja advogando que o mundo seria melhor na mãode administradores.

Eu realmente acredito nisto, mas rapidamente vou acrescentarque eu acredito é que todos nós deveríamos ser administradoresdas nossas vidas, das nossas atividades econômicas, das nossasfamílias e das nossas finanças.

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No meu mundo ideal, todos teriam noções de Administração.Seja com um pós-graduação para complementar a sua profissão demédico, engenheiro, etc, não somente os administradores de fato.

No meu mundo ideal, os administradores de fato são somenteos maiores especialistas no assunto e que servirão de mentores,professores, observadores e pesquisadores.

Eu sou um caso típico. Se eu fosse o Presidente de uma empresa,provavelmente eu seria um desastre.

Mas isto não me impede de ser um bom administrador comoconsultor, mentor, escritor e pesquisador do assunto.

Portanto, vocês das outras profissões não sintam que eu estousendo classista ou corporativista quando eu uso o termo Admin-istrador.

Estou sempre me referindo à sua parte ainda não desenvolvidade administrador, que acho que todos deveriam ter.

Minha grande frustração na vida é que a maioria dos jornalistas,economistas, contadores, políticos, juízes e sociólogos com quemconversei na vida, nem sequer entendiam o que eu estava falando,de tão atrasados que eles eram em termos de conhecimentoadministrativo.

Administração é o único curso que ativamente procura noMBA formandos de outras disciplinas, porque achamos a comple-mentaridade necessária.

Se todos nós nos imbuirmos da missão e das funções do admin-istrador lato sensu, tenho certeza que o Brasil será um país melhor.

Se você fez um download da Versão Beta, acessehttp://administrador.pressbooks.com/ para incluir comentários,erros e sugestões.

Stephen Kanitz

Introdução

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Um Brasil Mal Administrado

Mas existe uma Solução

Um país do tamanho do Brasil, com os recursos naturais e a pop-ulação que tem, não é exatamente um país com problemaseconômicos. Mas o mantra todo dia nos jornais é sobre os proble-mas econômicos deste país.

Somos, sim, um país muito mal administrado. Não sabemosadministrar os Estados, não sabemos administrar nossas dívidas,não sabemos administrar nossa previdência nem nossa segurança.

Nossos governantes e ministros normalmente não são formadosem administração nem fizeram aqueles cursos de MBA que prolif-eram por aí.

A maioria dos nossos ministros nunca trabalhou numa das 500maiores empresas do país, nem como presidente nem como dire-tor.

Fernando Henrique Cardoso teve como ministros muitos pro-fessores brilhantes, que administravam sessenta obedientesalunos e de um momento para o outro passaram a administrarmais de 5.000 funcionários públicos, sem formação em adminis-tração, recursos humanos, motivação, liderança nem avaliação dedesempenho.

Teriam sido bons assessores, não executivos.

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O socialismo que prometia justiça, progresso e melhoria paraas classes menos favorecidas, fracassou nos maiores países que oabraçaram. Vladimir Putin, presidente da Rússia, se elegeu com abandeira que o Comunismo foi o maior erro da história da Rússia.

O Capitalismo, com seus bancos alavancados 20 vezes e total-mente descontrolados, ou supostamente controlados interna-mente por algoritmos falhos, ou então controlados externamentepor acadêmicos teóricos, vive entrando em crise e levando dezenasde outros setores de roldão.

A Social Democracia Europeia, que poderia ter sido o meiotermo salvador, está atolada de ineficiência e dívidas impagáveis.

O Brasil está atolado em problemas cada vez maiores, que emvez de serem resolvidos à medida que aparecem vão se acumu-lando sem solução, piorando o problema.

A tese deste livro é que todos estes fracassos e todos estes prob-lemas advêm do fato de que o mundo está cada vez mais maladministrado. Governos são administrados por políticos, cujoúnico conhecimento formal que tiveram em administração é o deMarketing Eleitoral.

O Banco Mundial, o FMI, o FED, o Banco Central e o BNDESsão dirigidos por pessoas indicadas por estes mesmos políticos, eque também não têm nenhuma educação prática ou formal dasvárias competências necessárias para serem administradoresdestes organismos nacionais e federais.

Parte-se do pressuposto que o problema destes organismos ésaber o que fazer, quando na realidade a falha destes organismos énão saber implantar o que já sabem e, aliás, todo mundo já sabe.

Todo jovem de 16 anos já sabe quais são nossos problemas: inefi-ciência do Estado, gastar mal, corrupção e falta de auditoria, con-

Um Brasil Mal Administrado

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tratação de amigos e parentes e não de profissionais para adminis-trar a coisa pública.

Esta é a missão social do administrador. Mudar o Brasil. Trocaros donos do poder por administradores do bem-estar social.

Tirar os amigos e parentes, conselheiros e puxa-sacos. Trocá-los por administradores éticos e responsáveis, cuja lealdade sejapara com os princípios da administração, com a função do admin-istrador, e não com os interesses do Partido que os indicaram.

Embora o Brasil forme administradores públicos competentes,eles são os primeiros preteridos para os principais cargos daadministração pública.

O escolhido é amigo de campanha ou um colega da época estu-dantil.

Os Estados Unidos são a maior potência econômica não pelaqualidade de suas teorias econômicas, mas pela qualidade de suasteorias administrativas.

Algumas são modismos, outras funcionam.Embora a imprensa americana sempre se refira ao governo como

administração Bush ou “the Clinton administration”, poucos jornaisbrasileiros usariam a expressão administração Cardoso, Lula ouDilma para descrever nosso governo. Lacan explica.

Quarenta por cento dos colunistas americanos são gurus deadministração, como Peter Drucker, Tom Peters e Michael Porter,que disseminam diariamente o mantra da eficiência, competênciae boa administração.

No Brasil, eles são substituídos por ex-ministros que escrevemjustificando seus erros no governo e sobre como se deveria“administrar” o estrago que deixaram, como Maílson da Nóbregana Veja, ou Delfim Netto na Folha, e como se deveria “adminis-trar” corretamente um país.

Um Brasil Mal Administrado

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Em pleno século XXI, temos pouquíssimos administradorescom uma coluna fixa na grande imprensa brasileira.

Todo jornal brasileiro tem seu caderno de Economia.Por que não criar os cadernos de Engenharia, de Sistemas, de

Advocacia ou de Administração para poder ouvir as outras profis-sões que têm contribuições a dar sobre os problemas do país?

No rol dos alunos famosos da Harvard Business School hádezenas de ministros que serviram ao governo.

George W. Bush foi meu calouro em Harvard, onde ele apren-deu a defender a indústria americana como ninguém, algo queFernando Henrique Cardoso obviamente não aprendeu emseu curso de Sociologia.

O problema de Bush é que Harvard não nos ensinou a fazerguerra, matéria em que Saddam Hussein e Osama bin Laden eramprofessores.

Mitt Romney foi outro colega, e se formou entre os 5% mel-hores alunos da Faculdade, e mesmo assim preferiram dar umasegunda chance a Obama.

Nunca tivemos no Brasil um presidente formado em Admin-istração nem que tenha sido presidente de uma das 500 maioresempresas privadas antes de dirigir todo um país.

Criticaram Lula, mas ele foi o primeiro presidente a ter pelomenos trabalhado numa das 500 maiores empresas privadas doBrasil, as Indústrias Villares.

Mas esquecemos disto ao eleger a Dilma.Este livro faz parte de uma luta que teremos que enfrentar.Uma luta para que administradores profissionais e testados na

prática sejam escolhidos para o primeiro escalão do governo.Executivos de primeira e ministros com experiência administra-

Um Brasil Mal Administrado

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tiva que tomem decisões não por critérios políticos, mas porcritérios de custos e eficiência.

Um projeto e tanto para salvar este país.Comente aqui http://administrador.pressbooks.com/front-

matter/59-2/

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Como Mudar o Mundo

Continuadamente, Constantemente, Diariamente e NãoRevolucionariamente

Todo jovem quer mudar o mundo.Isto é bom e ruim ao mesmo tempo.Bom, porque é uma força inovadora e idealista.Ruim, porque a maioria dos jovens não tem os conhecimentos

necessários para mudar o mundo. Não estudaram organização,métodos, recursos humanos, planejamento, finanças, etc, áreasnecessárias para tirar grandes ideias do papel.

Pior, no Brasil e no Mundo temos um histórico de jovens e int-electuais que pregam revolução, que é justamente destruir todaa organização que existe por aí, sem nenhum conhecimento decomo organizar o novo mundo.

O problema de ser jovem é não entender como implantar assuas ideias de como mudar o mundo, e na maioria das vezes sópioram a situação como a turma de 1968 fez com o Brasil. Nãomudaram nada e assustaram a ditadura militar prorrogando-a pormais 20 anos no poder.

Existem duas formas de mudar o mundo, a forma revolu-cionária típica de partidos de esquerda, e a forma conservadoratípica de partidos de direita, liberal e neoliberal.

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A forma revolucionária é mudar tudo que está aí, de preferênciade uma vez só.

Parte da premissa de que “tudo que está aí” é inútil e precisa sermudado.

Daí o termo revolucionário.A forma ultra conservadora acha que o mundo não precisa de

muitas mudanças, que o problema reside nas mudanças equivo-cadas já feitas, daí o termo “conservador”.

Quero que o leitor aceite uma terceira opção.A do administrador e administradores.Uma das nossas funções é realizar mudanças constantemente,

pequenas suficientes para serem incorporadas por todos, massempre mudanças porque o mundo é mutável e inconstante.

A opção que observa o que nossos antepassados construíramde bom, e mudar aquilo que é ruim. Concentrarmos mais em ten-tar disseminar as boas práticas, as melhores, as mais eficientes,replicar as boas soluções.

Normalmente os progressistas, que também querem mudar omundo como nós, se concentram em eliminar o que eles veem deruim, a ponto de querer mudar “tudo que está aí”, criar o “novo”,implantar ideias nunca antes testadas.

Só que mudanças bruscas e revolucionárias, como todo admin-istrador aprende, têm enormes chances de dar errado, e ao invésde melhorar pioram a situação.

Normalmente queremos testar ideias novas e revolucionáriascientificamente, com calma, num beta test ou num “projeto piloto”,antes de adotar para toda a população de uma forma revolu-cionária.

Algo que nós administradores sabemos fazer muito bem, e faze-mos o tempo todo.

Como Mudar o Mundo

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Infelizmente, nossos jovens revolucionários e os professoresque os incentivam não acreditam em “pesquisa de mercado”, “betatests”, plano piloto, “best practices”, escolas modelos, que deveriamprimeiro fazer testes antes de generalizar, e partem para a tomadade poder, a revolução.

Acham que o sistema já é podre na sua essência, que soluçãoteórica e ótima não precisa ser previamente testada. Ou, se frus-traram nas várias tentativas de implantar melhorias que nãoderam certo.

Por isto o Administrador é tão importante como mediador dosconflitos naturais de uma sociedade.

Lidamos com conflitos diariamente.De todos os revolucionários da história nenhum era admin-

istrador, ou que tivesse feito um curso de administração que jáexistia na França desde 1802. Nenhum trabalhou numa empresa,por exemplo: Karl Marx, Hegel, Rosa Luxemburg, Lenin, MaoTsé-Tung, Fidel Castro. Nenhum foi treinado para implantar pro-jetos nem medir o sucesso na prática, e deu no que deu.

Administradores não se frustram com tudo o que está erradopor aí.

Sabem que mudanças sempre partem do existente, começar donovo é fórmula para o desastre.

Também percebem como tudo está mudando diariamente: osseus departamentos, hospitais, escolas e empresas. O problema égeneralizar tudo e disseminar estas melhorias rapidamente, maisdo que destruir tudo que está aí e começar do zero.

Revolução para o Administrador são as ideias que foramimplantadas rapidamente em cima do que já existia, como porexemplo, o uso do computador.

Revolução para os não administradores é tomar o poder seja

Como Mudar o Mundo

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pela democracia, seja pelas armas. É dar as ordens certas, as dire-trizes certas que todos precisam obedecer imediatamente.

Vejam as resoluções do Partido em cada país que adotou essalinha administrativa. Acham que o mundo é ineficiente por ide-ologia ou por falta de vontade política, e não por incompetênciaadministrativa.

Por isto a maioria dos administradores é de esquerda na agendasocial, mas na forma de implantar esta agenda social é de centrodireita.

Curiosamente todos os países, que adotaram a Revolução comoforma de mudar o mundo, mudaram tudo que estava ali de um diapara o outro, mas nos 50 anos seguintes quase nada mudaram.

Não há nada mais conservador do que isto. Stalin, Fidel Castroe Mao Tsé-Tung permaneceram 30 anos no poder, mudanças con-stantes não faz parte do ideário revolucionário.

Cuba, Rússia, China, Albânia e Coreia do Norte são hoje ospaíses que mais estagnaram nos 50 anos seguintes. Quase nadamudaram após a grande mudança revolucionária.

China é uma exceção, porque passados 50 anos eles decidiramtratá-la como uma empresa, com o concurso de milhares deadministradores e engenheiros de produção, que será assunto deum outro livro em breve, Introdução à Administração SocialmenteResponsável.

Se você é jovem e quer mudar o mundo, aprenda a ser admin-istrador ou complemente o seu curso profissional com um MBA.

Aí sim, mude o mundo constantemente, diariamente, compequenas melhorias, pequenos processos, pequenas ideias, e nãodestruindo tudo o que está aí, na esperança de termos um mundomelhor.

Como Mudar o Mundo

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Comente aqui http://administrador.pressbooks.com/front-matter/como-mudar-o-mundo/

Como Mudar o Mundo

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A Nova Realidade Econômica

Stakeholder ou Stockholder?

Boa parte da teoria econômica e política do passado parte do pres-suposto de que as empresas são criadas e controladas porempresários. Nunca imaginaram que o “capital” cairia nas mãos deadministradores profissionais que poderiam ser treinados, como oforam em escolas como Harvard e Stanford a serem socialmenteresponsáveis.

A Nova Teoria Administrativa substitui o conceito de acionistacontrolador como peça fundamental da empresa, para um con-ceito mais pluralista de parceiros reunidos num mesmo local parauma cooperação mútua.

A empresa é vista como a organização de vários grupos de inter-esse, empregados, clientes, fornecedores, governo e acionistas emtorno de um objetivo comum.

O acionista não é mais a peça fundamental, mas um dos compo-nentes cujos interesses também precisam ser satisfeitos.

A missão e função do administrador profissional, ao contráriodo empresário acionista, passa a ser aquele que tenta conciliartodos estes interesses difusos. Agradando na medida do possível atodos, e não a um único grupo – o acionista.

É o conceito de StakStakeehhoolldderer em vez do StocStockhkhoolldderer.

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Fonte http://www.ebah.com.br/

Stake, significa compromisso ou participação.Um formando que decide trabalhar numa empresa, também

está investindo por assim dizer na empresa, também está correndoriscos “capitalistas”, também tem algo a perder se a empresa nãoder certo.

Idem para um cliente, fornecedor e colaborador externo.O administrador profissional pode ser agora despedido ad

nutum, algo que não ocorria no acionista controlador familiar.Agora veja um diagrama de Stakeholders vs Stockholders na

prática, neste caso da CHESF.

A Nova Realidade Econômica

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Fonte: http://www.ebah.com.br/ e CHESF

Pelo organograma da CHESF percebe-se que a preocupação dasempresas é bem mais ampla.

Karl Marx achava que o mundo era a luta entre duas únicasclasses.

A luta é muito pior, é entre dezenas de grupos de interesses.Todos com suas agendas próprias e representando demandasdiferentes.

Tudo isto tem de ser politicamente gerenciado por hábeisadministradores profissionais.

O que Marx, Engels, Lenin, Rosa Luxemburg e tantos outrosnão diagnosticaram, é que os trabalhadores de chão de fábrica,assunto de suas análises, passariam a ser um dos inúmeros gruposde interesse de uma empresa, e que hoje representam somente

A Nova Realidade Econômica

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10% dos custos dessa empresa. E, as margens de lucro da empresaseriam até menores, de 4% sobre vendas.

Esta perda de poder do Stockholder, do acionista, que de con-trolador e majoritário passou a ser minoritário e sem muito poderde decisão, veio acompanhada de uma tendência contrária de for-talecimento do administrador em relação aos acionistas, agoraminoritários.

MaisMais ddoo qqueue maximizamaximizarr oo llucroucro,, minimizaminimizarr oo custocusto ddee cacapipitaltal sesetorntornouou fafatortor ddeeterminanterminantete paparara osos aadministradministraddoresores profissiprofissionais,onais,poderíamos dizer que isto é uma guinada de 180 graus no capital-ismo de antigamente.

Em vez de explorar o trabalhador pagando salários mínimos,passamos literalmente a explorar o capitalista fazendo IPOs ondese cobra P/Ls máximos.

O objetivo é vender uma quota do capital da empresa pelopreço máximo, e não pagar o mínimo para nossos companheiros etrabalhadores. Para o Administrador Profissional, os funcionáriosda empresa são mais próximos a ele do que os acionistas pulver-izados e dispersos mundo afora.

Os acionistas viraram distantes, e os trabalhadores da empresa ecolegas de trabalho viraram próximos e objetos da nossa proteção.

Sou membro do Novo Mercado, onde se iniciou este paradigma,mas ainda são poucas as empresas que adotam esta postura. Emesmo assim, muitas empresas do Novo Mercado são controladaspelo Partido ou pelo Governo Único, como o Banco do Brasil,única estatal a aderir ao novo mercado.

A Nova Realidade Econômica

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Sua missão como administrador é tentar tornar todas as empresas“capitalistas” em empresas Democráticas de capital pulverizadodiminuindo o poder individual do capitalista, e aumentando opoder do Administrador. Por isto, nossa ênfase na AdministraçãoSocialmente Responsável.

Comente aqui http://administrador.pressbooks.com/front-matter/a-nova-realidade-administrativa/

A Nova Realidade Econômica

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Page 25: A missão do administrador - Stephen Kanitz

O Verdadeiro Significado da PalavraGestão

Gestão É Um Termo Que Administradores Não DeveriamUsar

Muitos administradores usam a palavra gestão como sinônimo deadministração.

Gestãestão vo vem dem de Gestoe Gesto, Gesti, Gesticulaculaçãçãoo..Gestores eram aqueles que gesticulavam, que apontavam com o

dedo indicador, 200 anos atrás, onde o carregamento de alimentosdeveria ser deixado ou estocado.

Ou apontavam quem deveria fazer uma tarefa.“Coloque este fardo aqui.”“Você, venha já.”

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Gestores ainda usam termos como:“in“indidicacaddoresores” de produção,“a“aponpontatar”r” uma solução,“aaponpontamtamenentos”tos” de uma reunião, remanescentes da época em

que administrar era basicamente apontar com o indicadora didireçãreçãoo a seguir.

Isto não é Administração do Século XXI, isto é gestão doSéculo XVI.

Quem usa o termo Gestão está 500 anos atrasado, e pior, nemsabe disto, porque normalmente são aqueles que não são forma-dos em Administração, e não querem admitir o fato.

Administrar não é mais mandar.Nem dirigir os estoques para serem colocados aqui e ali.Administradores nem dirigem mais, não somos mais dirigentes

nem diretores.Somos criadores de sistemas, adoramos empresas que andam

O Verdadeiro Significado da Palavra Gestão

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sozinhas, delegamos, treinamos, damos poder aos nossos colegascontratados.

Administrar vem de servir, como em ministério, ministrar, serreligioso.

Gestores por outro lado querem gesticular sobre tudo.Dão ordens, dão murros na mesa.Gritam para subordinados que não cumprem as ordens.É o estilo Comand and Control das organizações militares.Se você usa ainda o termo Gestão, cuidado.Eu sei que muitos Administradores usam o termo Gestão como

sinônimo.Mas tenho notado que quem usa Gestão normalmente não é

um Administrador formado e usa este termo como porta deentrada.

Quem não é formado em Administração usa normalmente otermo Gestor, que é o único que eticamente ele ou ela pode usar.

Semelhante ao uso do Termo Bispo, para aqueles que não fiz-eram Teologia, nem foram confirmados como tais pela IgrejaCatólica.

Portanto, ao contrário da Igreja Católica, eu acho que temosdefender os nossos termos daqueles que a usurpam, mesmo quealguns Administradores sintam que o termo já era nosso.

Mas não é. Não mais.

O Verdadeiro Significado da Palavra Gestão

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Page 28: A missão do administrador - Stephen Kanitz

Se quiser continuar o termo, fique a vontade.Mas você está mostrando para todo mundo que acredita que

administrar é dar ordens para subordinados.Esta não é a missão de um administrador.Comente aqui http://administrador.pressbooks.com/front-

matter/o-verdadeiro-significado-da-palavra-gestao/

O Verdadeiro Significado da Palavra Gestão

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Page 29: A missão do administrador - Stephen Kanitz

O Que Falta Para o Brasil DarCerto?

Uma Linguagem Comum Em Prol da Eficiência

Desde a ditadura militar, o Brasil segue a visão economicista, queacredita que o desenvolvimento depende exclusivamente da esta-bilidade econômica, algo que se persegue há 50 anos, sem sucesso.

Esta visão acredita que basta um ambiente econômico propício,que o crescimento emergiria naturalmente.

Espontaneamente, como segue a cartilha da Escola de Chicago.Infelizmente, não é bem assim.Já se foi o tempo de Adam Smith, John Maynard Keynes e Karl

Marx, que acreditavam que um pouco de ganância e capital seriamsuficientes para gerar empresas e empregos.

Já se foi o tempo em que “agentes econômicos”, com um mínimode “espírito empreendedor”, abriam empresas bem-sucedidas.

Esta é a visão que reina neste país. Basta uma boa políticaeconômica, que os empresários farão o resto.

Hoje em dia, para montar uma empresa e ter sucesso, sãonecessários sólidos conhecimentos práticos e teóricos de adminis-tração de empresas.

Oitenta por cento das empresas brasileiras quebram nos

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Page 30: A missão do administrador - Stephen Kanitz

primeiros cinco anos, por cometer um dos 100 erros banais citadosnos livros de administração.

Só que o Brasil formou nestes últimos vinte anos menos de250.000 administradores de empresas.

O Conselho Federal de Administração tem menos de 90.000inscritos.

Por isto temos uma taxa de poupança tão baixa.A poupança que temos é desperdiçada em empresas que jamais

darão certo.Aí está a principal razão para o nosso atraso, a desorganização

de nosso Estado e a estagnação econômica.Com 4.650.000 empresas, nem sequer temos um administrador

por empresa, que permita que problemas não acumulem e atolemde vez a empresa.

Pela falta crônica de administradores formados, temos médicosque administram hospitais, enfermeiros que tocam laboratóriosde análises, e engenheiros mecânicos que administram carteirasde ações. Um desperdício!

No Brasil perdemos assim excelentes médicos e engenheirosmecânicos formados com dinheiro público e ganhamos péssimosgestores sem formação, que nem sabem o verdadeiro significadoda palavra.

E pior, acabam aprendendo a gerir empresas à moda antiga:errando.

Os Estados Unidos tomaram outro caminho.De 1960 para cá formaram nada menos que 8 milhões de admin-

istradores de empresas.É a profissão mais frequente, com 19% do total de 50 milhões dos

americanos formados.

O Que Falta Para o Brasil Dar Certo?

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É também a que dá o tom, a filosofia, o modus operandi de todaa economia americana.

É o segredo bem escondido da economia americana.Nossos economistas levaram 40 anos para aprender que países

precisam manter reservas internacionais, algo que se aprende noprimeiro ano de Administração Financeira.

Só começamos a acumular reservar internacionais quando tive-mos um administrador no Banco Central. Pode uma coisa desta?

Empresários aprendem com os livros de administração vendi-dos nas livrarias de aeroportos, uma péssima forma de aprenderadministração, a um custo social monstruoso.

De 1,5 milhões de formados pelas nossas universidades federaise estaduais, somente 4,5% são de administradores de empresas.

Muitos governos de esquerda inclusive foram contra esses cur-sos, coisa da direita a ser custeada pela iniciativa privada e nãopelo Estado. Jamais!

Eu pessoalmente pedi ao antigo Capes uma Bolsa de Estudospara um Mestrado nos Estados Unidos, e me disseram que jamaisconcederiam.

“Peça às empresas, seu pequeno burguês.” Eu não era, era épobre.

Os próprios empresários achavam esses cursos desnecessários,já que suas empresas seriam geridas pelos filhos, treinados pelafamília.

Em pós-graduação a situação piora ainda mais.A Harvard Business School forma por ano mais MBAs que o

Brasil inteiro.Os Estados Unidos têm 2.400.000 MBAs, 10% deles trabal-

hando no governo.

O Que Falta Para o Brasil Dar Certo?

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O Brasil possui no máximo 5.000 mestres em administração, e aimpressão que se tem é que nenhum deles trabalha no governo.

O Ministro da Fazenda acredita que o país crescerá na hora queele achar oportuno.

Os “desenvolvimentistas”, do outro lado, acham que sete econ-omistas estrategicamente colocados farão o país crescer na inten-sidade e direção que eles determinarem.

Ledo engano.A mão invisível de Adam Smith não funciona mais no mundo

moderno.Toda nação requer a mão firme e visível de centenas de milhares

de pessoas treinadas e preparadas para criar empregos e organiza-ções.

O futuro do Brasil depende da disseminação de livros comoeste.

Vamos torcer.

O Que Falta Para o Brasil Dar Certo?

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Part I

As PrincipaisFunções

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1

A Função do Presidente deUma Empresa

É Olhar Para Fora da Empresa, Não Para Dentro

A função do cargo de Presidente, seja de uma empresa, seja deuma nação, é pensar grande, pensar no todo.

Infelizmente no Brasil, temos uma visão equivocada ou melhoratrasada da função do administrador/a, que muitos confundemcom a de ggestorestor, termo ainda muito usado no Brasil.

Como vimos no capítulo anterior, gestor era aquele que faziagestos, gesticulava e apontava quem deveria fazer o quê. Rimacom Feitor.

Administrar para esta linha de pensamento era dar ordens.“Empregados” não tinham uma função a realizar.“Empregado” tinha que obedecer as ordens do Gestores, justa-

mente em troca de um “emprego”.Administração não é nada disso.

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Administração é criar um sistema operacional de tal forma quea empresa ande sozinha.

Sem que precisemos dar ordem alguma.Administradores não possuem “empregados”. Administradores

possuem funcionários, pessoas que treinamos para exerceremuma função.

Uma função que independe de estarmos dando ordens a torto edireito. Eles já sabem o que fazer.

Não somos Gestores, somos talvez Supervisores.Na maior parte do tempo podemos até não fazer nada, até que

um problema surja que necessite da nossa atuação. Ou, até queum funcionário fique na dúvida sobre o que fazer e nos peça umaopinião.

Para a Teoria da Gestão, o Presidente da Empresa é o dirigentesupremo.

Ele é quem decide tudo.Tudo passa pela mão dele.É a visão do empresário.Do Gestor Familiar.Do capo supremo.Da máfia inclusive.A visão daqueles que acreditam que “É o Olho do Dono é Que

Engorda o Gado”.A verdadeira função de um Presidente na visão da Teoria da

Administração é olhar para fforaora da empresa.Não para dentro, dando ordens para todo mundo.A Missão do Administrador é cuidar da empresa para fora, não

empresa para dentro.É cuidar das relações com a sociedade, com o governo, cuidar de

Stephen Kanitz

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Page 37: A missão do administrador - Stephen Kanitz

alianças estratégicas, da expansão da empresa, com as vendas noexterior.

Foi o estilo Lula, que vivia viajando pelo mundo afora, criticadoconstantemente pelo seu Aero Lula, bem diferente do estiloDilma, que administrava o Brasil para dentro, seus ministros esecretários, cobrando resultados, dando esporros de tempos emtempos.

O Presidente “Administrador” tem tempo para cuidado dofuturo, da expansão dos negócios, porque a empresa, lembre-se,anda sozinha, ou praticamente sozinha.

Lula foi um administrador neste sentido.Justamente porque cuidou do Brasil para fora, e como fruto

desse esforço o Brasil teve um prestígio jamais visto, até vir aDilma.

Dilma é uma Gestora, o que faz parte de seus problemas, e doBrasil.

Ela vê seu cargo de Presidente como uma controladora de gas-tos, da corrupção, realiza o micro-management, que deveria ser feitopelos seus Ministros e não por ela.

Ela nem tem tempo para supervisionar 39 Ministros e 230Secretários. Suas reuniões Ministeriais são totalmente improduti-vas, a maioria dos participantes nem abre a boca. Bastaria ler a atada reunião.

A Missão do Administrador

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Page 38: A missão do administrador - Stephen Kanitz

Mas todos os seus Ministros escolhidos também não entendiamabsolutamente nada de administração.

E as consequências estão aí.E como ela está descobrindo, Gestor não tem tempo para tudo

isto, fica atolado controlando todas as áreas de sua empresinha.Verdade seja dita que nosso governo não anda sozinho.Esta é a missão de vocês jovens administradores.Agir politicamente para mostrar que o Brasil está 500 anos

atrasado e exigir que o país seja administrado por admin-istradores, aqueles que têm tempo para pensar no todo, no Brasil,no Brasil para fora e não para dentro.

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Presidentes que pensam estrategicamente para ampliar os negó-cios, e não ficar atolados nos problemas internos que se acumulamdia a dia.

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Administrar é TerAcabativa

Saber Acabar o Que Você Iniciou

Iniciativa é a capacidade que todos nós temos de criar, iniciar pro-jetos e conceber novas ideias.

Algumas pessoas têm muita iniciativa e outras têm pouca.Iniciativa tem sido um atributo cantado em verso e prosa por

filósofos, cientistas, economistas e políticos.Uma das correntes políticas mais discutidas chama-se inclusive

“livre iniciativa“.Vou mostrar neste artigo que todos estão equivocados.De nada adianta “livre iniciativa” sem uma classe na sociedade

preocupada com acabativa.Acabativa é um neologismo que significa a capacidade que algu-

mas pessoas possuem de terminar aquilo que iniciaram ou con-cluir o que outros começaram.

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É a capacidade de colocar em prática uma ideia e levá-la até ofim.

Os americanos dividem o mundo em duas categorias, os dream-ers e os doers, os sonhadores e os fazedores.

Mas os seres humanos podem ser divididos em quatro grupos,dependendo do grau de iniciativa e/ou acabativa de cada um:os empreendedores, os iniciativos e os acabativos e os mantenedores

A Missão do Administrador

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Page 42: A missão do administrador - Stephen Kanitz

* Empreendedores são aqueles que têm iniciativa e acabativa.Um seleto grupo que não se contenta em ficar na ideia e vai a

campo implantá-la. São estatisticamente muito raros. Menos de1% da população. São os Thomas Edison, Bill Gates, Steve Jobs,Irineu Evangelista (o Barão de Mauá), e muitos outros.

* Iniciativos são os criativos, os que têm mil ideias, mas abomi-nam a rotina necessária para colocá-las em prática.

São filósofos, cientistas, professores, intelectuais. Acabativa é oponto fraco desse grupo. São os Thomas Moore, os Karl Marx, osAugusto Compte, os Rousseau que sonhavam com uma sociedademelhor, mas nunca delinearam como estas sociedades funcionar-iam de fato, achando que o amor e a fraternidade resolveriamtodos os problemas operacionais. São os sonhadores utópicos.

* Acabativos são aqueles que gostam de implantar projetos. Suaatenção vai mais para o detalhe do que para a teoria.

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Não se preocupam com o imenso tédio da repetição do dia-a-diae não desanimam com as inúmeras frustrações da implantação.

Nesse grupo está a maioria dos executivos, empresários, admin-istradores e engenheiros.

A ênfase que muitos no Brasil estão dando ao empreendedor éequivocada.

Eles são muito raros e normalmente veem prontos, não dá paraformá-los em MBAs e universidades.

Como iremos ver, o que o Brasil deveria esta incentivando é aformação de Acabativos, e incentivar a cooperação dos Iniciativoscom os Acabativos.

Este grupo representa 80% da população e não somente 1%.Esta é outra Missão do Administrador. Terminar o que 40% da

população inicia mas não termina.Essa singela classificação explica muitas das contradições do

mundo moderno.Empresários, normalmente associados à “livre iniciativa” desco-

brem rapidamente que ficar implantando suas próprias ideias écoisa de narcisista. E portanto, egoísta.

Existem muito mais pessoas com excelentes ideias do que pes-soas capazes de implantá-las.

É por isso que empresários ficam ricos e intelectuais, profes-sores – entre os quais me incluo - morrem pobres.

Temos ideias, mas não sabemos implantá-las.Mesmo se soubéssemos, jamais implantaríamos ideias de outros

intelectuais.No ramo intelectual o narcisismo e o egoísmo imperam, justa-

mente o contrário do que pregam.Se Bill Gates tivesse se restringido a implantar suas próprias

ideias teria parado no Basic.

A Missão do Administrador

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Page 44: A missão do administrador - Stephen Kanitz

Ele fez fortuna porque foi hábil em implantar as ideias dos out-ros – dizem as más línguas que até copiou algumas.

Essa classificação explica porque intelectual normalmente odeiaempresário, e vice-versa.

Há uma enorme injustiça na medida em que os lucros fluempara quem implantou uma ideia, e não para quem a teve.

Só que uma ideia somente no papel é letra morta, inútil para asociedade como um todo.

Um dos problemas do Brasil é justamente a eterna predominân-cia, em cargos de ministérios, de professores brilhantes e com ini-ciativa, mas com pouca ou nenhuma acabativa.

Para o Brasil começar a dar certo, precisamos procurar valorizarmais os brasileiros com a capacidade de implantar nossas ideias.

Tendemos a encarar o acabativo, o administrador, o executivo, oempresário como sendo parte do problema, quando na realidadeeles são parte da solução.

Iniciativo almeja ser famoso, acabativo quer ser útil.Mas a verdade é que a maioria dos intelectuais e iniciativos não

tem estômago para devotar uma vida inteira para fazer dia apósdia, digamos bicicletas.

O iniciativo vive mudando, testando, procurando coisas novas,e acaba tendo uma vida muito mais rica, mesmo que seja menosrentável.

Por isso, a esquerda intelectual e a direita neoliberal conviverãoàs turras, quando deveriam unir-se.

HáHá umum diditataddoo cchinhinês,ês, “Quem“Quem sasabebe ee nãnãoo faz,faz, nnoo funfunddoo,, nãnãoosasabebe” -” - muito apropriado para os dias de hoje.

A Função Primordial de um Administrador é ser o acabativo deuma sociedade.

É se prestar para colocar em ação as ideias, e tirá-las do papel.

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O sistema que deveríamos apoiar é o de “livre acabativa“.Nem o conceito correto acertamos.No próximo capítulo revelarei a função mais nobre de um

Administrador.A de realizar os sonhos dos outros.

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Administrar é Realizar oSonho dos Outros

O Líder Servidor

Existem mais pessoas no mundo com ideias, do que pessoascapazes de implantar estas ideias.

Sabemos que 4 entre 5 empresas quebram nos primeiros 5 anosde vida. Isto é um desastre mundial e brasileiro.

Isto significa para 80% da população de empreendedores e seustrabalhadores um fracasso total. Tempo e dinheiro totalmentedesperdiçado.

Significa 80% dos trabalhadores desempregados em 4 anos, comum péssimo currículo.

Significa 80% de ex-capitalistas, agora sem capital e provavel-mente com pesadas dívidas e impostos em atraso.

Tudo isto seria amenizado se pudéssemos ter uma classe profis-sional com talento e treinamento em acabativa.

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Para isto precisamos motivar e treinar jovens para estarem dis-postos a realizar os sonhos dos outros.

Aceitar a ajudar os criativos, os intelectuais, aqueles com ideiasinovadoras a passarem do papel para a realidade.

Realizar os sonhos dos outros não é uma tarefa fácil nem recom-pensadora.

Significa treinar jovens que não sejam egoístas, narcisistas, arro-gantes, donos da verdade, egocêntricos e preocupados com si.

Significa treinar pessoas dispostas a implantar as ideias dos out-ros, deixar os outros com a fama da inovação, deixar os outrosditarem as ideias, deixar os outros com boa parte da glória.

Quem foram os administradores que colocaram as ideias deSteve Jobs em prática? Poucos sabem.

Deveriam ter dividido o mérito com Steve Jobs? Sem dúvida.Mas estes administradores não se preocupam com fama, holo-

fotes, dedicação aos sonhos dos outros. Nosso sonho é ajudar aspessoas com ideias a colocá-las em prática.

Por isto eu discordo desta ênfase que o PSDB, o PT e o PMDBdão para o Empreendedorismo.

Por isto eu discordo destas faculdades que ensinamEmpreendedorismo.

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Na sua essência, Empreender é saber realizar o seu próprio sonho.É a atitude mais egoísta e egocêntrica que se pode tomar.

E é o problema que o mundo ocidental enfrenta, o do egocen-trismo e do narcisismo dos nossos políticos e intelectuais.

Não precisamos de faculdades que incentivem o empreende-dorismo, mas sim que incentivem a criação de uma classe deprofissionais que esteja disposta a realizar os sonhos dos outros,colocando o seu próprio ego de lado.

Não que nós administradores não daremos palpites, que nãoescolheremos o nosso jeito de implantar, e derivar daí muita sat-isfação. Mas quem irá brilhar no final é o outro, o inovador, o cri-ador.

Como o anônimo pedreiro e obreiro de construção, nossa satis-fação é ver o prédio pronto.

Eu realmente acredito que uma sociedade centrada no admin-

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istrador e na administradora, aqueles que se preocupam de fatocom os sonhos dos outros, será a sociedade ideal.

Muito melhor que a sociedade socialista e marxista preconizadapor Marx, ou a “livre iniciativa” preconizada por Milton Fried-man.

A história mostra que ambos incentivam a competição de indi-víduos ou de grupos ideológicos antagônicos, digladiando-se pelopoder de mandar nos outros.

Nossa cultura é toda voltada a não realizar os sonhos dos out-ros.

Realizar os sonhos dos outros é considerado ser feito de bobo. Nãoé.

Precisamos de pessoas como você, disposta a realizar os sonhosdos outros.

Que aceita ser humilde, deixar a glória para o outro que teve aideia. Estamos acima disto.

Por isto na Índia havia duas castas, a dos Intelectuais, os Brah-mins com suas ideias, e os Chátrias, os administradores com atarefa de implantá-las. Na Índia jamais deixam o “dono” da ideia

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implantá-la, para não incorrer no que chamamos no Ocidente“cegueira profissional”.

Por isto dizemos que só o Administrador pode salvar o Econ-omista, o Sociólogo e o Cientista Político do fracasso, porquetrazemos para a realidade suas teorias nem sempre malucas, masnormalmente mal executadas quando executadas por eles mes-mos.

Realizar os sonhos dos outros requer um tipo de ser humanoinfelizmente raro.

Um ser humano desapegado de si, confiante o suficiente em sipara deixar os outros brilharem.

Um ser humano que de fato ouve os outros, que esteja dispostoa servir e até obedecer os outros. Disposto a devotar uma vidaonde os outros se realizam e nós seremos meros coadjuvantes.

Seres humanos onde não impera a soberba, a arrogância, oautoritarismo, o egocentrismo.

Espero que você seja um deles.Uma das tragédias do Brasil é que tantos jovens idealistas pref-

erem ser filósofos, assistentes sociais, historiadores, jornalistas dedenúncia, marxistas e revolucionários, querendo destruir tudoque está aí, em vez de dedicar a sua vida a realizar o sonho de seusconcidadãos vivos e criativos.

Pergunte a qualquer trabalhador do mundo se eles estão felizescom os intelectuais que tomaram o poder em nome deles. Per-gunte se estes intelectuais de fato realizaram os sonhos dos trabal-hadores do mundo e dos trabalhadores brasileiros.

O caminho para melhorar o mundo não passa pelo Marxismonem pelo Liberalismo, mas por uma classe de profissionais compe-tente em administração e cooperação humana, disposta a servir osoutros.

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Esta é a nossa missão.

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Administrar é NuncaAcumular Problemas

O Ótimo é o Maior Inimigo do Bom

O segredo para o sucesso de toda família, empresa e governo énunca acumular problemas.

Este é o segredo da administração profissional.

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Quando problemas acumulam, o diagnóstico dos problemasseguintes fica mais difícil.

As soluções ficam mais complicadas, a implementação fica maiscomprometida, e a avaliação dos resultados fica bem mais ques-tionada.

O vigésimo problema é na realidade consequência do oitavoproblema não resolvido.

O décimo quinto, consequência do terceiro.Aí, você terá enormes problemas ao discutir “prioridades”,

quais dos 20 problemas atacar primeiro, e para piorar a sua situ-ação os escolhidos não serão o primeiro, segundo e terceiro comodeveriam ser.

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Por isto administradores profissionais são tão necessários emempresas, governos e até para administrar conflitos familiares.

A primeira função do administrador é nunca permitir prob-lemas acumularem. Por isto somos chatos, queremos tudo paraontem.

Eles se dedicam integralmente para que problemas não se acu-mulem, facilitando a vida de todos os envolvidos.

Por isto mulheres estão cada vez mais sendo requisitadas paracargos administrativos. Elas possuem a maioria das qualidadesque se espera de um administrador moderno.

Ou como já coloquei anteriormente, a Administração Modernaincorpora muitos dos valores que consideramos mais femininosdo que masculinos. O que torna o homem administrador não maisfeminino, como imaginariam alguns, mas mais humano.

Como sempre, estamos sugerindo o caminho do meio, admin-istradores menos autoritários e agressivos, e administradoras maisefetivas e incisivas.

Pergunte a um engenheiro, advogado ou psicólogo qual é oestilo gerencial do administrador comum, e eles provavelmentetambém usariam um único adjetivo.

Provavelmente nos definiriam de “imediatistas”, preocupadoscom lucros de curto prazo, como Paul Krugman e seus colegas nãoparam de escrever no New York Times.

Administradores, segundo a visão popular, querem tudo para“ontem”, vivem dizendo que “o ótimo é o inimigo do bom”, queprecisamos mais de “acabativa” e não de iniciativa.

Algo que uma mãe já sabe intuitivamente que é a única formade gerenciar uma família.

“Vamos promover um debate e consultar as bases” não é admin-istrar, mas sim postergar.

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Infelizmente, a maioria dos administradores não consegueprovar a sua utilidade nem sabe explicar exatamente o que faz.

Por isto, eles não ganham o que merecem, por isto não são val-orizados.

Muitos acham que administrar é liderar, executar, coordenar,valores essencialmente masculinos.

Isto está até escrito em inúmeros livros de Administração ado-tados pelas nossas Faculdades de Administração.

Uma organização complexa, que é a empresa moderna, requer acooperação de milhares de pessoas, dentro e fora da empresa.

E isto inclui cooperação de mulheres em postos de comando,algo que a civilização europeia, americana e brasileira estão longede implantar.

E, esta cooperação multipessoal gera inúmeros problemas quese não forem solucionados a tempo afetarão todos os parceirosenvolvidos na empresa.

Não permitir que problemas se acumulem talvez seja a tarefamais importante para o bom andamento de toda família, empresae nação.

Quando o mundo era gerido por açougueiros, padeiros e fábri-cas de alfinetes, como observou na época Adam Smith, de fato nãohavia muitos problemas “acumulados”.

Nem havia necessidade para se contratar administradores.Tudo funcionava pela Mão Invisível do mercado.Hoje, o mundo é bem mais complexo e rápido, razão pela

demanda crescente de profissionais em administração.Toda empresa e nação precisa de um corpo de profissionais

treinado e dedicado a resolver os problemas de forma rápida.Não somos imediatistas como muitos acreditam, nós simples-

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mente estamos evitando que problemas se acumulem um atrás dooutro, e nestes casos rapidez de raciocínio e ação são essenciais.

Por isto, nós nos preocupamos tanto com acompanhamento,qualidade total, processos, auditoria, recursos humanos, etc.

Infelizmente, não é assim que a maioria dos intelectuaisbrasileiros que ocuparam tantos cargos de destaques neste paíspensam.

Toda a filosofia de ensino, pelo menos a partir do iluminismo ecientificismo, é voltada para resolver proprobbllemasemas correcorretamtamenentete,, aatétéa seguna segunda casa dda casa decimal.ecimal.

RaRapipiddez, só nez, só no vo vestiestibulabularr..Países dominados por professores acadêmicos, como o Brasil,

estão fadados ao atraso.Para um acadêmico, todos os dados precisam ser precisos e

rechecados. Decisões são postergadas até “termos melhores dados“.Um acadêmico precisa estar “absolutamente certo”, prefere não

tomar uma decisão se não tiver todos os dados necessários.Quando se acusa o PSDB de ficar sempre em cima do muro, na

realidade se comete uma injustiça.O PSDB, que é um partido de acadêmicos e intelectuais, sim-

plesmente é mais demorado na tomada de decisão, como todo int-electual.

Eles vivem pensando, literalmente.

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Só que resolver problemas corretamente hoje em dia não é o sufi-ciente.

Eles precisam ser resolvidos rapidamente, algo que nossos for-madores de opinião, jornalistas e acadêmicos simplesmente nãocompreendem.

Temos que tomar decisões com os dados que temos, não com osdados que gostaríamos de ter.

OO BrasilBrasil éé umum paíspaís aatrasatrasaddoo porqporqueue estamestamosos eeternamternamenentete aacu-cu-mmulanulanddo proo probbllemasemas.

É tão óbvia esta constatação que é um espanto que a nossaopinião pública, nossos intelectuais e professores de histórianunca perceberam esta simples verdade da história brasileira.

Quando se diz que precisamos fazer a Reforma Política, aReforma Tributária, a Reforma Judiciária, o que queremos dizer é

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que deixamos tantos problemas se acumularem nestas áreas quesomente uma ampla reforma resolverá o problema.

Se tivéssemos resolvido os problemas na medida que surgiram,o Brasil teria evoluído, teria caminhado para um sistema ótimo,em vez de termos que criar revoluções e enormes reformas de tem-pos em tempos, que no fundo nos atrasam ainda mais.

Temos problemas no judiciário, na previdência, na logística, nainfraestrutura, na educação, na economia, simplesmente porquenão temos um estilo gerencial que se preocupa com a rápidasolução de problemas.

E problemas que se acumulam crescem exponencialmente, nãolinearmente, como todo administrador sabe por experiência.

Quatro entre cinco empresas quebram no Brasil porque sãogeridas por profissões que não percebem que problemas nãopodem se acumular. Aí, qualquer crise ou evento fora do comumas abate.

Nenhuma empresa quebra por uma única razão, nenhum avião

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cai por causa de um único problema. Estas quatro empresas que-bram a um custo de capital monstruoso para o país, por falta deum estilo gerencial apropriado.

O Brasil não poupa o suficiente para crescer; e pior, torramos80% desta poupança em empresas que irão quebrar em quatroanos.

Eu não diria, e nunca disse, que o estilo gerencial do/a admin-istrador/a é superior ao do/a engenheiro/a, do advogado/a ou con-tador/a.

Infelizmente, estas profissões se sentem ameaçadas pelosadministradores à toa. E se mostrarmos que mulheres são exce-lentes administradoras, as ameaças se tornam maiores ainda paraaqueles que não entendem de administração.

Não queremos comandar, gerir, tomar o lugar de ninguém, nemmesmo as administradoras, embora muitas feministas coloquemisso como meta.

Quero deixar claro para todo empresário, sociólogo, engenheiroe político que possam se sentir ameaçados, que o estilo do/aadministrador/a não é superior. Ele é simplesmente nnecessáecessáririoo.

Não podemos permitir que nossos problemas se acumulem sim-plesmente porque cada profissão acha que seu estilo gerencial ésuperior.

Nós administradores aceitamos que engenheiros sejam perfec-cionistas, que advogados sejam detalhistas, que economistasqueiram dados precisos, mas tudo isto tem de ser adequado paranão atrapalhar os outros dentro da empresa ou do governo.

Não podemos ficar esperando enquanto os outros seguem seusestilos individuais.

Engenheiros, advogados, contadores enfim, precisam entenderque seus estilos gerenciais podem ser superiores e apropria-

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dos qquanuanddoo sese tratrabalhabalha sozinhsozinhoo,, masmas qquanuanddoo sese tratrabalhabalha emem grupogrupoé né necessáecessáririo cono conciliaciliarr..

Trabalhando em grupo, um simples atraso numa reunião atra-palha os outros, imagine um problema que não foi solucionadopor anos a fio.

Quando vejo acusarem administradores e empresários de “ime-diatistas”, que pensamos somente no curto prazo, percebo queestas pessoas nada entendem das funções do administrador, decrescimento, de justiça social, de democracia e de um mundo felizcheio de realizações, porque tudo é feito na velocidade necessária.

Se você está cansado de um país estagnado, que cresce aquémde suas possibilidades, que acumula pobreza, corrupção, injustiçae inúmeros problemas, converse mais com um administrador.

Ele o ajudará a decidir e implantar suas ideias muito mais rapi-damente do que você vem fazendo até hoje.

Mais do que ninguém elas sabem que problemas não podemficar sem solução por muito tempo, enquanto o maridinho ficapensando por aí.

O problema do Brasil é que devido a 50 anos de gestãoacadêmica deixamos dezenas de problemas acumularem e agora agrande discussão é qual resolver primeiro, já que não temos recur-sos para resolver todos.

Tudo isto exige preparo, treinamento, um código de ética, umavisão epistemológica do mundo, uma determinação e uma cor-agem que leva tempo para ensinar. Por isto o curso de Adminis-tração não é para qualquer tipo de pessoa, ele não combina comalguns tipos de personalidade, especialmente os perfeccionistas,por exemplo.

Se sua empresa, seu governo ou sua ONG anda devagar, paradaporque acumulou problemas demais e agora não consegue

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resolvê-los, contrate um administrador profissional, alguémtreinado para resolver problemas de forma competente.

Mas contrate antes disto tudo acontecer porque senão serátarde demais, e não haverá muito que um administrador possafazer, a não ser lentamente fechar as portas de sua empresa ouorganização.

Como administradores conseguem sucesso numa área ondetantos fracassam como os empresários, empreendedores, políticose governo?

LeiLei NNúmúmeroero 1.1. PProrobbllemasemas precisamprecisam serser iiddenentifitificacaddosos llogogoo qqueueocorrem.ocorrem.

Administradores irão implantar um complexo sistema de avali-ação e contabilidade, para identificar todos os problemas nonascedouro.

Irão estabelecer padrões, benchmarks, orçamentos, planos, parajustamente identificar problemas assim que eles ocorram.

Eles estarão medindo a sua “pressão” constantemente.LeiLei NNúmúmeroero 2.2. PProrobbllemasemas precisamprecisam serser resoresollvividdosos assimassim qqueue

ocorrem.ocorrem.Um dos problemas em empresas “administradas” por profis-

sionais de outras áreas é que o mundo acadêmico preza análises edecisões bem feitas, dde prefe preferênerência perfcia perfeieitas.tas.

Engenheiros, psicólogos, advogados, todos passaram pelaexperiência de ter tirado zero numa prova por um pequeno erroou detalhe.

Às vezes, erro de aproximação por calcular 3,9 em vez de 4,0.Isto leva a um erro administrativo que chamamos de “analanalysisysis

paparalralysisysis”.Se todo problema for analisado a exaustão, a empresa para.

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MasMas nnoo mmununddoo aacacaddêmiêmicoco nanadada precisaprecisa serser ffeieitoto paparara amanhãamanhãou onou ontem.tem.

Professores levam meses para corrigir provas de alunos, nuncaleram a lei número um acima.

LeiLei NNúmúmeroero 3.3. PProrobbllemasemas precisamprecisam serser resoresollvividdosos semsem termtermosostodtodos os daos os daddos à nos à nossa disposiossa disposiçãçãoo..

Isto em Engenharia e Economia seria uma heresia e uma irre-sponsabilidade.

Como não saber todos os fatos antes de tomar uma decisão?Por isto não é fácil ser administrador. A responsabilidade é

enorme, justamente porque tomamos algumas decisões “irrespon-savelmente” na terminologia de pessoas leigas.

Fazemos isso porque sabemos que não tomar uma decisão, deficar paralisado analisando um problema à exaustão, também éuma forma de ser irresponsável.

O que na realidade ocorre não é que tomamos decisões às cegas,mas normalmente juntamos dados com diferentes níveis de pre-cisão.

Em contabilidade isto é muito claro.Os valores do Caixa são precisos até duas casas decimais, os

centavos, mas tranquilamente somamos com os valores de Esto-ques e Ativo Fixo que não tem nem perto, a mesma precisão.

Muitos empresários nem sabem que os dados dos Ativos dasempresas são agregados com diferentes níveis de significância.

Os formuladores dos Acordos da Basileia não sabem que ovalor do Patrimônio dos Bancos é totalmente impreciso, justa-mente porque não se permite no Brasil a correção monetária dosbalanços.

E mesmo assim usam este valor para criar leis como os Acordosda Basileia, tema que não vou remoer mais uma vez aqui.

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LeiLei NNúmúmeroero 4.4. UmaUma ddecisãecisãoo malmal ffeieitata éé mmeelhlhoror ddoo qqueue umaumaddecisãecisão não não fo feieita.ta.

A primeira vez que eu ouvi este conselho, de um dos meusprofessores de Harvard, tive a mesma reação que você está tendoagora.

Malucos, óbvio que estão brincando, não pode ser sério.O raciocínio é mais ou menos assim.Se você tomou uma decisão errada, rapidamente através dos

indicadores que já estabeleceu para avaliar tudo o que você fazdescobrirá que sua decisão foi equivocada.

E como você é rápido, logo irá corrigir o problema.É uma questão de postura, mais do que de ciência.

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Administrar é SaberDelegar

Aquilo Que Você Já Sabe Fazer

Um dos grandes problemas dos Gestores é o pavor de delegaraquilo que não entendem.

Querem centralizar tudo e poder acompanhar tudo de perto,especialmente aquilo onde sentem insegurança.

Por isto, os Gestores são verdadeiros ditadores, centralizadores,desconfiados ao extremo e inseguros.

Vemos isto claramente na Gestão Familiar, onde o velho patri-arca não larga o osso e não confia nem nos próprios filhos.

Colocar os pés na mesa e não fazer nada, nem pensar.“Esta empresa não anda sem mim, ela precisa de mim.“Para o Gestor Familiar, o objetivo NÃO é criar uma empresa

que ande sozinha.

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Por isto a maioria das empresas familiares não sobrevive à mortedo fundador.

Se você quiser subir na vida, saiba delegar.Se você quer ser um Administrador, saiba delegar em vez de

gerir tudo sozinho.Agora, existe um grave problema: saber delegar exige conhecer

bem o assunto que você está delegando.Quem nunca estudou administração nem sabe como delegar.Muitas pessoas leigas não apreciam ou não entendem o signifi-

cado de SABER delegar.Saber delegar não significa saber Como Delegar, mas sim saber O

Que Está Sendo Delegado.Por isto, os acadêmicos e a maioria dos brasileiros acha que

qualquer um pode ser Gestor.Basta dar os gestos e ordens necessárias para fazer uma empresa

funcionar.Saber delegar é conhecer bem o assunto que você está dele-

gando.

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Muitos acham justamente o contrário, que se delega aquilo quenão se entende.

Se você não entende de Marketing, delega-se a um executivo deMarketing que entenda.

Assim, no limite, um Presidente de uma empresa não pre-cisa entender de nada, basta ter executivos de “confiança” queentendam.

Que é o que acontece na maioria das empresas estatais e Min-istérios entregues a políticos de partidos aliados.

Saber delegar é justamente saber o que está sendo delegado.Caso contrário, você não saberá se o que foi delegado foi bem

feito.Você pode ser enganado, e muito bem enganado pelo seu confi-

ado.Você também não saberá ajudar o seu delegado quando os

problemas começarem a se complicar.Por isto, é muito difícil encontrar bons Presidentes de Empre-

sas.Porque são pessoas que entendem um pouco de tudo, se inter-

essam um pouco por tudo.Sabem dialogar com competência com todas as áreas de uma

empresa.Podem não saber os detalhes, mas sabem o que é essencial.Muitos leitores se surpreendem que eu escrevo sobre muitos

assuntos diferentes como casamento, família, ciência, economia,dança de salão, etc…

Nós administradores somos treinados a nos interessar por tudo.Somos fuçadores por excelência.Estamos procurando sempre a essência das coisas.

Stephen Kanitz

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Page 67: A missão do administrador - Stephen Kanitz

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Administrar é Por Fim aIncompetência

Todo Mundo Tem Que Ser Incompetente?

Casar com a filha do dono da empresa, arrumar emprego público,ter padrinho político ou obedecer piamente às ordens do chefeeram, em linhas gerais, os caminhos para o sucesso no Brasil.

QI no Brasil é sinônimo de “quem indica”.Ter um MBA no exterior, falar cinco idiomas, desenvolver nova

tecnologia, caminhos certos para o sucesso no Primeiro Mundo,em nada adiantavam no Brasil.

Fui um dos primeiros brasileiros a me formar pela Harvard Busi-ness School, achando que eu seria cortejado para ser professortitular da FGV, eleito para uma diretoria do Conselho Regionalde Administração, cortejado pelo Ministério da Educação, convi-dado para assessor do Presidente da FIESP, ter dezenas de headhunters querendo a minha cabeça.

Nada disto aconteceu.

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Competência no Brasil é justamente uma ameaça ao status quodos medíocres.

E são os medíocres que infelizmente dominam o país.Sua missão será mudar esta visão de mundo.Visão de mundo inclusive incentivada pela classe de intelectu-

ais e os formadores de opinião, na maioria tão medíocres quanto.Muitas empresas brasileiras ainda preferem mamar nas tetas do

governo, do BNDES, com créditos subsidiados, numa economiaprotegida por acadêmicos no poder, do que gerar competênciaprópria.

Até um perfeito imbecil toca uma empresa brasileira naquelascondições.

Fato que irrita sobremaneira a esquerda e os nossos intelectuaismarxistas, com toda razão.

Contratar pessoas competentes, além de não ser necessário, eradesperdício de dinheiro.

Competência num ambiente desses não tem razão para ser val-orizada.

Até hoje no Brasil, os jovens não veem necessidade de adquirirconhecimentos. Acham que o objetivo é passar de ano.

Felizmente, tudo isso já está mudando.Empresários incompetentes estão quebrando ou vendendo o

que sobrou de suas empresas para as multinacionais.Por muitos anos, no Brasil, quem tivesse um olho era rei.Daqui para a frente, serão necessários dois olhos, e bem abertos.Sai o improvisador e o esperto, entra o Administrador formado

em cooperação e treinamento.A Função Social do Administrador é promover e treinar a com-

petência. É identificar aqueles que têm talento e supervisioná-los.

Stephen Kanitz

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É medir os resultados dos velhos incompetentes e sugerir que seretirem de cena.

A regra básica daqui para a frente é a competência, e não a fili-ação política, a amizade ou o parentesco.

Competência profissional, experiência prática e não teórica,habilidades de todos os tipos.

De agora em diante, seu sucesso será garantido não por quem oconhece, mas por quem confia em você.

Estamos entrando numa nova era no Brasil, a era da meritocra-cia.

Felizmente, para os jovens que querem subir na vida, o méritoserá remunerado e não desprezado.

Já se foi a época em que o melhor aluno da classe era ridicular-izado e chamado de CDF, o Cu de Ferro, nome que dávamos paraquem estudava e sabia a matéria, em vez de fazer política estudan-til.

Se seu filho de classe média não está levando o 1º e o 2º grau asério, ele será rudemente surpreendido pelos filhos de classes maispobres, que estão estudando como nunca.

As classes de baixa renda foram as primeiras a perceber que aera do status quo acabou.

Hoje, até filho de rico precisa estudar, e muito.Há vinte anos eram poucas as empresas brasileiras que tinham

programas de recrutamento nas faculdades.As empresas administradas por administradores colocam esta

meta em primeiro lugar.Hoje, as empresas possuem ativos programas de recrutamento

nas faculdades não somente aqui, mas também no exterior.Os 200 brasileiros que estão atualmente cursando mestrado em

administração no exterior estão sendo disputados a peso de ouro.

A Missão do Administrador

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Infelizmente, os milhares de jovens competentes de geraçõespassadas acabaram não desenvolvendo e tiveram seu talento tol-hido pelas circunstâncias.

Talvez eles não tenham mais pique para desfrutar essa nova era,e na minha opinião esta é a razão da profunda insatisfação atual davelha classe média.

Mas os jovens de hoje, especialmente aqueles que desen-volveram um talento, os estudiosos e competentes, poderão final-mente dormir tranquilos.

Não terão mais de se casar com a filha do dono, arrumar umpadrinho, aceitar desaforo de um patrão imbecil.

O talento voltou a ser valorizado e remunerado no Brasil comoo é mundo afora.

Talvez ainda mais assustador é reconhecer que o Brasil não serámais dividido entre ricos e pobres, mas sim entre competentes eincompetentes.

Os incompetentes que se cuidem.( Publicado originalmente na Revista Veja edição 1536 ano 31 nº

9 de 4 de março de 1998 )

Stephen Kanitz

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Administrar é Saber oIntervalo Entre Ação e

Reação

Nada é Instantâneo no Mundo Real, Só na Teoria

Você pede desculpas ao seu marido, mas ele continua brigando.Você traz flores para a sua esposa, só que ela não o perdoa no

ato.Infelizmente, ação e reação instantâneas só acontecem na física.Na psicologia, nas finanças, na economia, nas empresas, nas

relações de trabalho sempre existe um intervalo demorado entreação e reação.

Não saber avaliar corretamente o intervalo de reação da suaesposa, do seu chefe ou de uma política econômica tem sido aprincipal causa dos conflitos entre seres humanos.

Não saber ao certo esse intervalo causa enormes problemas.Primeiro, nunca se consegue avaliar se:

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1) suas políticas fracassaram, ou se 2) você errou nas estimaestimatitivasvasddoo inintervaltervaloo ddee reareaçãçãoo,, ou se 3) vvocêocê errouerrou nana ddoseose da ação inter-ventora.

Quando uma política econômica ou social não dá os resultadosesperados, os que a implantaram invariavelmente se defendempedindo mais tempo.

É sempre assim, nunca aceitam que erraram na política ou namedida econômica.

Aí temos o famoso problema administrativo do culpado fazer“mais do mesmo“, aumentando a taxa de juros, pedindo mais verbaspara segurança e educação.

Aumentam a dose da medida em vez de abandonar a ideia porinteiro.

Aí elevam ainda mais os juros dando maiores subsídios, aumen-tando ainda mais os gastos públicos, e assim por diante.

Foi dessa forma que nossos juros, nossos impostos, os gastos degoverno foram subindo, subindo, subindo, em vez de se mudar apolítica econômica.

Só quando a política está prestes a arruinar o país é que se mudaa equipe e sua nefasta política.

Muitas vezes se faz o movimento diametralmente oposto, quetambém não é necessariamente a solução correta.

Essas duas políticas, “mais da mesma coisa” e “guinada de 180graus“, resumem praticamente 95% das políticas econômicasimplantadas neste país nos últimos 35 anos. O famoso “stop and go”que faz até parte da literatura econômica.

Agora imaginem, em vez de lidar com uma única variável, tipojuros, e seu intervalo de reação, temtemosos qqueue lilidadarr comcom cincincoco ouou maismaisvavariáriávveis aeis ao mo mesmesmo temo tempopo.

Quem já tomou banho de chuveiro em casa antiga sabe como é

Stephen Kanitz

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difícil ajustar a temperatura quando é grande o intervalo de reaçãoentre abrir a torneira de água quente e ter um fluxo de água natemperatura desejada.

Requer paciência, num vai e vem sutil, requer disciplina.Imaginem agora acertar a temperatura com cinco torneiras e

cinco intervalos de reação diferentes e desconhecidos.IstoIsto éé oo qqueue nnósós aadministradministraddoresores fazemfazemosos todtodoo dia.dia. EE nãnãoo sãsãoo 55

mas 50mas 50..Tentamos calibrar a dose certa e observar os efeitos antes de agir

novamente.As doses são homeopáticas e impera a paciência.Agora imaginem tentar controlar as duzentas variáveis

necessárias para desenvolver um país.“Vamos usar todas as medidas que forem necessárias.“Mas se com uma única variável já é complicado os economistas

acertarem a mão, imagine com 10 “medidas macro prudenciais“.Lidar com 50 variáveis ao mesmo tempo é a tarefa do Admin-

istrador, uma das razões que as mulheres têm se destacado nestaárea cada vez mais.

Administradores são treinados para lidar com 50 variáveis aomesmo tempo, e não somente duas ou três como juros e câmbio,inflação e emprego.

O mundo do administrador é muito mais complexo que o doeconomista.

Lidar com 50 variáveis ao mesmo tempo é a seara da Adminis-tração e não se aprende isso somente em quatro anos de teoria.

A Missão do Administrador

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Administrar é Ter QueLidar Com Problemas

Brochantes

Ninguém Quer Tirar o Lixo e Lavar a Louça

Nossa educação, cultura, nossos poetas, historiadores e escritoresescrevem milhares de textos contando os efeitos e as glóriasdaqueles que resolveram as grandes questões da humanidade.

Aqueles que lidam com as grandes perguntas da ciência, dafilosofia, da política, que vou chamar de Perguntas Edificantes.

Perguntas que uma vez respondidas nos permitiram o uso daluz, do rádio, do voo à lua, da internet, da eliminação da pobreza,da melhor distribuição da renda.

Estes são os heróis das novas gerações.Responder as Perguntas Edificantes dá fama e prestígio.Devido a este viés infeliz da nossa cultura, somente assim você

irá se tornar herói, merecedor de um Prêmio Nobel, de uma entre-

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vista em jornal, de pertencer a uma academia exclusiva denotáveis.

Não é por acaso que todo jovem quer se tornar engenheiro,cientista político, sociólogo, jornalista, juiz, economista, e dedicara sua vida para resolver estes problemas edificantes de justiça,ciência, economia e bem-estar social.

Mas o mundo moderno não é mais o mundo simples de Platão,Aristóteles, Durkheim, Kelsen e Karl Marx.

Hoje, nosso problema não é mais descobrir coisas novas, masmanter as velhas funcionando.

Tanto é que o edifício de nossos Edificadores está ruindo.E você sabe disto.Nosso edifício de justiça, democracia, educação e economia,

está ruindo rapidamente.O povo está cada vez mais descrente de nossos cientistas, sociól-

ogos, intelectuais, e veem que o mundo melhor que prometeramestá gerando aquecimento global, crises financeiras em todos ospaíses ditos desenvolvidos, justamente os já edificados.

Por quê?Muito simples, e é assustador que a maioria assustada nunca

leia algo como o que mostrarei em seguida.Existe outro tipo de problema no mundo.Os Problemas Brochantes.Os Problemas Brochantes são aqueles que nos levam para trás,

e não para frente.São problemas que deveríamos colocar como prioridade, mas

não o fazemos.Ainda aplaudimos os que nos prometem ir para frente, igno-

rando que estamos indo para trás.

A Missão do Administrador

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Obviamente, ninguém quer lidar com os Problemas Brochantesque cada sociedade gera.

Não dá Ibope.Não ganha eleição.Ninguém quer lidar com problemas como falha de qualidade,

atraso, descumprimento do planejado, roubos de produtos feitos,desvios de recursos distribuídos, intrigas entre colaboradores,falta de dinheiro para implantar soluções edificantes, pagar osimpostos atrasados, resolver estes gargalos de falta de quase tudo.

Ninguém quer lidar com a manutenção do edifício, sua limpezae contabilidade de custos.

Ninguém quer lidar com problemas que estão nos levando paratrás, todos obviamente querem lidar com problemas que noslevam para a frente.

Mas precisamos destas profissões mais e mais.A medida que nos tornamos mais civilizados e edificados, pre-

cisamos mais e mais de profissões que mantêm as fronteiras doque aquelas que abrem novas fronteiras.

Precisamos de profissões que sejam treinadas e estejam dis-postas a lidar com nossos problemas brochantes com criatividadee sorriso no rosto.

Todo mundo quer mudar o mundo, e não manter os edifícios jáexistentes que os edificantes do passado construíram.

Pior, nunca valorizamos as profissões que lidam com os proble-mas brochantes da sociedade.

Cite um auditor, contador, fiscal, engenheiro de manutenção,psicólogo, geriatra, administrador, que tenham sido premiadoscom um Prêmio Nobel.

Cite um auditor, contador, fiscal, engenheiro de manutenção,

Stephen Kanitz

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psicólogo, geriatra, administrador, que tenham sido enaltecidos eelogiados por algum blog de renome.

Cite um auditor, contador, fiscal, engenheiro de manutenção,psicólogo, geriatra, administrador, que você admira porque elescuidam dos problemas brochantes da sociedade.

Agora pergunte a um auditor, contador, fiscal, engenheiro demanutenção, psicólogo, geriatra, administrador, se eles estãofelizes por serem ignorados pelos nossos poetas, historiadores eblogueiros.

Pergunte a um auditor, contador, fiscal, engenheiro demanutenção, psicólogo, geriatra, administrador, se eles nãogostariam de serem reconhecidos, validados e motivados de vezem quando.

A todo auditor, contador, fiscal, engenheiro de manutenção,psicólogo, geriatra, administrador, o meu muito obrigado porresolverem os problemas brochantes que têm de ser feitos.

Esta é uma missão edificante, podem crer.

A Missão do Administrador

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Administrar é Por emOrdem o Progresso

Ordem e Progresso ou Progresso e Ordem, Eis a Questão.

Um dos modismos em administração de empresas na década de80 foi a criação da “missão da empresa” e da “carta de princípios“,que você encontra incrustadas nas paredes da maioria das salas derecepção das grandes empresas.

Algumas têm cinco pontos básicos, outras chegam a ter doze oumais.

A “missão” mais antiga que eu conheço tem 1.000 anos e per-tence a uma entidade beneficente, a Ordem dos Cavaleiros daCruz de Malta, “Obsequium Pauperum“, servir aos pobres, umamissão que se mantém até hoje.

O Brasil é um dos poucos países do mundo que possui uma“carta de princípios“, nisto somos administrativamente inovadores.

Nossa carta de princípios reza “Ordem e Progresso“, nesta ordem,o lema positivista de Auguste Comte gravado em nossa bandeira.

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“Ordem é a precondição para todo progresso“. “Ordem por base, pro-gresso por fim”, diz Comte em seu “Cours de Philosophie Positive“.

Boa parte das políticas econômicas de Getúlio Vargas, fã deAugusto Comte, dos Governos Militares, seguiram o lema pos-itivista de manter a casa em ordem, sem inflação, por exemplo,como precondição para o progresso.

Temos uma Constituição de mais de 300 parágrafos que põe“ordem” em tudo, ou em quase tudo.

Para abrir uma empresa no Brasil são necessárias dezenas deautorizações prévias para podermos começar tudo em “ordem”.

O governo Fernando Henrique Cardoso e o Ministro PedroMalan seguiram mais ou menos o mesmo princípio.

Colocando a casa em ordem, o progresso viria automatica-mente.

Nosso lema deixa bem claro que “ordem” vem em primeirolugar, sem “ordem” não há progresso.

Ricardo Semler, um dos primeiros a escrever um livro de

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administração no Brasil que se tornou best-seller popular, VViiranranddooa Pa Prórópria Mpria Mesaesa, mostra uma interessante inconsistência.

“Ordem e progresso são incompatíveis“, argumenta Semler.Progresso, por definição, é desordem.Criatividade é bagunça e confusão.Basta observar a mesa de um cientista, injustamente chamado

de louco por suas atitudes desordeiras.“Ou se escolhe ordem ou se escolhe progresso”, diz Semler.Sem dúvida é bem engraçado, mas a realidade é um pouco difer-

ente.Felizmente não precisamos escolher entre a ordem e o pro-

gresso.Graças ao administrador, poderemos ter ambos.Segue a linha de Semler, mas é um pouco diferente.Nossa bandeira deveria conter a frase invertida:“Progresso ee Ordem”.No sentido Progresso e depois Ordem.Depois da bagunça da criação, é necessário ter uma fase mais

calma de consolidação.Todos os cientistas sabem disso.De tempos em tempos, até eles criam vergonha e arrumam o

laboratório.Vocês mães já deram um basta nos seus filhos, ou arruma este

quarto ou não sai no sábado.PProgressorogresso primprimeieiroro,, ordordemem ddeepoispois faz mais sentido do ponto de

vista operacional.Quem coloca a sociedade em ordem não são os economistas, os

sociológos, os intelectuais, como nos querem fazer acreditar.Quem coloca ordem na bagunça são os aadministradministraddoresores, aaddvvo-o-

gadgados, conos, contataddores, jornalistas, historiaores, jornalistas, historiaddores e profores e professores.essores.

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São eles que ajudam a consolidar os “progressosprogressos” feitos peloscientistas, empreendedores, criadores, engenheiros,sedimentando-os em leis, sistemas, procedimentos e lições paraque o restante da sociedade possa imitá-los.

Nossa missão neste caso é dupla. Ajudar aqueles que são pro-gressistas a colocar suas ideias em prática, e depois colocar tudoem ordem e divulgar as inovações replicando-as em novas filiaisou empresas.

Até os progressistas mais revolucionários precisam, periodica-mente, de um governo mais conservador, para que as mudanças setornem consagradas, sedimentadas e difundidas.

Sem dúvida, quem gera o progresso são os criadores, os ino-vadores, as pequenas empresas e os pequenos empresários, osartistas que quebram paradigmas, os que destroem a “ordem” e avisão reinante, os que se arriscam e mostram o exemplo.

A desordem dessa fase precisa de uma pausa para respirar e demembros da sociedade preocupados em consolidar as conquistasgeradas.

Nosso erro fundamental, portanto, foi inverter o processo.A ordem sucede ao progresso.Esta é a nossa missão.

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Administrando PessoasEstranhas

Administrar Filhos e Parentes é Muito Mais Fácil

Observando o crescimento da renda no mundo, vemos umenorme ponto de inflexão em 1910, quando o crescimento se tornaexplosivo.

A riqueza crescia lentamente desde 1980 com a industrialização,mas subitamente dá um salto quântico, que começa a resolverdefinitivamente o problema da pobreza no mundo.

Veja o Gráfico abaixo, que mostra o tamanho médio de umaempresa metalúrgica, uma das poucas que temos dados de mais de500 anos.

Elaborei-a com os poucos dados que temos, portanto ela é bemimprecisa mas erros para mais ou para menos de 20% não afetam aconclusão.

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Em 2020, a renda média do mundo está estimada em US$ 20.000,por ano.

Contra US$ 400, em 1800.O livro AA RiRiqquezaueza dasdas NNaaçõesções, que propunha a divisão do tra-

balho, não surtiu o aumento de riqueza proposto.Ficamos com crescimento lento por mais 200 anos, embora mel-

hor do que zero.Faltou algo muito importante, que Adam Smith não percebeu.As empresas da época de Adam Smith eram quase todas famil-

iares.A divisão do trabalho era sempre entre irmãos, vizinhos ou

gente do bairro.Predominava a Teoria da Gestão e seus “cacargrgosos ddee confiaconfiannçaça”,

que prevalecem até hoje na Gestão Governamental e Familiar.Só se encontrava gente de confiança entre familiares, e mesmo

assim olhe lá para os genros, e as empresas familiares se man-tiveram “médias e pequenas”.

Colocar uma pessoa estranha para cuidar de uma parte vital daempresa, nem pensar.

Com o surgimento da Administração Profissional, quecomeçou em 1911, as empresas explodiram de tamanho. Corre-lação quase perfeita com o crescimento do PIB.

Em vez de dar ordens e mandar em trabalhador por trabalhador,criamos cargos e funções.

E mais importante é que passamos a contratar não mais par-entes e amigos e sim pessoas “estranhas”, mas capazes de tocarindependentemente aquela função.

Funções não são mais dadas a familiares ou membros do mesmopartido político, mas para gerentes previamente treinados que nãose conhecem, estranhos entre si.

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IstoIsto permipermititiu,u, pepelala primprimeieirara vvezez nana história,história, qqueue emempresaspresas comcom1100..000000 funfuncicionáonáririos,os, comcom maismais ddee 440000 ggerenerentestes ee aadministradministraddoresorestratrabalhabalharem em harem em harmrmonia aonia apesapesar dr de nãe não se conho se conheceremecerem.

Administrar pessoas estranhas entre si se tornou uma ciênciaa parte, e ocupa uma parcela considerável da ciência da Adminis-tração, Recursos Humanos, Psicologia Industrial, Motivação, Lid-erança, Organização, Incentivos e Remuneração do Trabalho.

É esta mudança de paradigma que permitiu economias deescala.

Empresas puderam criar subsidiárias em outros países, sem terque deslocar expatriados para comandar estas filiais, podendocontratar administradores locais, e expandir as tecnologias desen-volvidas na matriz.

Não foi a “divisão do trabalho” de Adam Smith que revolucio-nou o mundo, foram as economias de escala quando descobrimoscomo pessoas estranhas entre si poderiam trabalhar com objetivoscomuns e em harmonia.

ÉÉ difícildifícil aa aaddoçoçããoo dada ttecnecnoolloogiagia bbrrasilasileireiraa poporr outroutrooss paíspaíseess,, poporrququee aamaioriamaioria dasdas nnoossssasas empemprreessasas ccoontinntinuauamm ffaamiliamiliarreess ee ddeepenpenddemem ddee ccaar-r-ggoos ds de ce coonnfiafiannçça, o qua, o que impede impede a ee a exxpapansnsãão pao parra o ra o reeststo do do mo muunnddoo..

Veja abaixo o estrago feito pela Lei do Economista 7988 de 1945,que determinou o fechamento de todas as Faculdades de Admin-istração deste país, que durou 50 anos.

A função do administrador é justamente esta.Permitir pessoas estranhas entre si trabalhar harmoniosamente,

sem suspeitas, sem dossiês, sem arapongas, sem as intrigas famil-iares que sabemos existir em muitas pequenas empresas.

A sua função, futuro administrador, é criar uma empresa ondepessoas estranhas possam produzir em harmonia, fiéis aos clientes

A Missão do Administrador

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e aos fornecedores e que saibam colocar de lado as suas diferençasem prol do bem comum.

PPoorr nãnãoo ttermermooss dadaddoo aa ddevidaevida atatenenççããoo paparraa aa CiênCiênciacia dada AAddminis-minis-trtraaççããoo,, nãnãoo inincclluímuímooss pepessssoasoas eestrstraanhasnhas,, mamantivemntivemooss aa eexxccllususããoo ssocial,ocial,quque outre outroos paíss paísees abas abannddoonanarraam.m.

O gráfico acima mostra claramente o atraso da América Latina,fruto da Lei do Economista, 7988/45 que determinou ofechamento em 1946 de todas as Faculdades de Administraçãodeste país, proibindo assim a formação de futuros professores deadministração, pesquisas em administração, que comprometem onosso ensino de Administração até hoje.

Portanto, esta talvez seja a nossa maior missão.Ajudar pessoas estranhas entre si, trabalharem conjuntamente

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para um objetivo comum, em harmonia, com valores comunscompartilhados, semeando assim o respeito mútuo, paz no mundoe o aumento da produção.

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Administrando PessoasMuito Estranhas

E Bota Estranhas Nisso

Como vimos no capítulo anterior, uma das difíceis tarefas daAdministração é criar um ambiente de trabalho onde pessoas deculturas diferentes, personalidades diferentes, níveis educa-cionais diferentes, irão trabalhar em relativa harmonia.

Mas o problema hoje é ainda mais complicado do que isto.Eu tenho uma casa num condomínio perto da praia que tem um

acesso exclusivo, um direito de passagem ao mar.Para que banhistas estranhos ao condomínio não entrem pela

porta estreita, colocamos um aviso. “Proibido a Entrada de PessoasEstranhas.”

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Meus dois filhos pequenos rolaram de rir quando viram aquelecartaz.

“Quer dizer que o Paulinho (filho do vizinho) nunca mais poderáentrar?”

Para eles, estranho era sinônimo de esquisito e não de pessoasdesconhecidas.

Hoje, fora das Empresas Familiares e Governos, cargos admin-istrativos não são mais dados a familiares ou membros do mesmopartido, mas a gerentes treinados em administração, que nem seconhecem, estranhos entre si.

Mas Administração vai muito além disto.Quanto se contrata 10.000 funcionários, não somente eles são

desconhecidos entre si, mas entre eles há muitas pessoas estra-nhas, muito estranhas.

No sentido que os meus filhos usaram.Usando a famosa curva normal, provavelmente temos numa

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destas empresas 400 pessoas muito, mais muito estranhas mesmo,que dificilmente seriam contratadas em empresas com Gestãofamiliar.

São os Nerds, os Gênios, os perfeccionistas, e assim por diante.Não conheço nenhum escritório de Advocacia, Medicina ou

Engenharia que já tenha contratado pessoas com tatuagem natesta, gravata cor de rosa, um ex-presidiário, por exemplo, algomuito comum em empresas com mais de 10.000 funcionários.

As grandes empresas, por sua vez, têm Nerds no departamentode TI que poderiam encher um hospício, com todo respeito.

Eles podem ser pessoas que jamais seriam contratadas comovendedores ou advogados, mas numa empresa moderna eles seencaixam sem muitos problemas.

Seus departamentos de RH sabem que não existe este homemperfeito que os filósofos almejam.

Muito do fracasso do socialismo reside no fato deles gastaremfortunas com cursos de ética, consciência social, teoria política,cidadania, no afã de criar toda uma população ética e perfeita, paraassim poder eliminar a corrupção, a preguiça, etc.

AAdministradministraddoresores aaceiceitamtam asas pessoaspessoas comcomoo eelaslas sãsãoo, sasabembemososqqueue nãnãoo sese mmudauda umauma pessoapessoa comcom teorias,teorias, ensinensinoo ddee cicidadadaniadania ououddoutrinaoutrinaçãçãoo.. O que podemos fazer é incentivar o que a pessoa temde diferente e de bom num clima de harmonia.

Criamos centenas de eventos corporativos para que todos pos-sam se conhecer, e centenas de cursos de treinamento onde asqualidades possam ser aprimoradas e não os defeitos.

Temos psicólogos nos nossos departamentos de RH que sabemos defeitos e as idiossincrasias de cada funcionário, os acompan-hamos psicologicamente, e nunca despedimos os mais estranhos.

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Sempre damos uma segunda chance, mudamos o funcionáriode departamento ou mudamos de função.

Quem é o psicólogo que cuida de você na UniversidadePública?

Isto mesmo, quem o Diretor da Faculdade, na aula de intro-dução ao curso, indicou como Terapeuta da Faculdade para quevocês pudessem discutir os N problemas que o ensino traz paraum jovem moderno?

Justamente numa fase da vida que você mais precisa?Quem numa Universidade Pública está encarregado de zelar

pela sua carreira?Quem numa Universidade Pública encontra com você de tem-

pos em tempos para avaliar como está seu desempenho, e que fal-has precisam ser corrigidas?

Obviamente elas não são administradas dentro dos preceitos daCiência da Administração.

Os últimos quatro Ministros de Educação do Brasil eram Econ-omistas, isto mesmo, sem nenhum conhecimento de Pedagogianem Administração.

E ninguém entrou em greve por isto, a UNE nunca abriu a boca,os DCEs e Centro Acadêmicos idem.

Faculdades no Brasil não são administradas por admin-istradores, e sim por professores, sociólogos e cientistas políticos,que ainda acham que todo mundo pode se tornar perfeito.

Administradores trabalham com o que se tem, não com umautopia teórica inatingível.

Portanto, vocês estudantes de Administração, lembrem-se queas pessoas muito estranhas deste país dependem de você.

Vocês têm uma bela missão a cumprir.

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Administrando ComDesconfiança

Ninguém é Santo Neste Mundo

Infelizmente, por falta de uma cultura Administrativa, o Brasilnunca desenvolveu a meritocracia, que é um sistema de seleção epromoção das pessoas mais capazes e treinadas para as funções decomando que irão exercer na comunidade.

Impera no Brasil o Nepotismo, o Paternalismo, o Favoritismo,em todas as esferas.

Nas Universidades Públicas, onde deveria prevalecer o Con-curso Público, é incrível o número de filhos de professores quetambém são professores públicos.

Sem falar nas “Indicações”, onde os Gestores com um gesto deseu indicador apontam o amigo que irá ocupar um cargo impor-tante, no governo ou nas empresas não meritocráticas.

Em vez de Meritocracia, usamos um termo que é Cargo deConfiança.

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Isto ocorre a cada quatro anos, amplamente divulgado pelosjornais, quando presidentes e governadores precisam preenchercentenas de “cargos de confiança” que compõem um governo.

O número exato de cargos varia de Estado para Estado.Para o governo federal eu já ouvi estimativas que variavam de

2.000 a 20.000 cargos a ser preenchidos.O problema é que a maioria dos políticos não conhece um

número suficiente de pessoas em quem realmente possa confiar.Por isso, as primeiras pessoas convidadas são normalmente

amigos e parentes de irrestrita confiança.Mas logo o desespero é tal que até genros, normalmente vistos

com certa suspeita na escala familiar, são convidados para partici-par da equipe de governo. Não vou citar nomes, mas vocêssaberão de alguns.

Não que amigos e parentes não possam ser pessoas compe-tentes, mas a base de escolha é muito pequena para que a médiaseja qualificada.

Imaginem criar uma seleção nacional de futebol dessa maneira,entre amigos e parentes.

Você apostaria no seu sucesso?O mesmo ocorre com nossas equipes de governo. Você apos-

taria no sucesso de um governo assim constituído?Mas o número é limitado, e eu sei e você sabe que o governo

acaba sendo lotado por pessoas de confiança de amigos, pessoasaté desconhecidas do Presidente da República, o indicador-mordo Brasil.

A primeira decepção de cada novo governo e a primeira críticaque a imprensa lhe faz ocorrem por ocasião do anúncio da equipee dos parentes contratados.

O pior é que a imprensa até insinua em alguns relatos, que par-

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Page 94: A missão do administrador - Stephen Kanitz

entes foram contratados para que todos se tornem ricos, o quepelos salários atuais do setor público é praticamente impossível.

Não, não é a ganância e vontade de ficar rico às nossas custas.Isto existe também sem dúvida, mas o grande problema é estememe que se infiltrou na cultura do Brasil que precisamos de fatoter cargos de confiança.

Você, honestamente, vê outra alternativa?Pois há, é uma das missões do Administrador.O erro que a maioria dos políticos eleitos comete é descon-

hecer uma das leis básicas da administração:TTododo cao cargrgoo, se, seja púja púbblilicoco, se, seja prija privavaddoo, é d, é de toe total e ital e irrestrirrestritata

ddesconfianesconfiança.ça.

Infelizmente todo colaborador, por mais amigo que seja, precisaser tratado com certa dose de desconfiança.

Os maiores desfalques em empresas familiares são cometidospor parentes, onde não escapam nem filhos, muito menos genros.

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Bons amigos então, nem se fala. De onde surgiu este mito deque amigo do peito e parente não roubam?

Essa prática não é exclusiva de nossos políticos.A maioria de nossas empresas contrata diretores da mesma

maneira, tanto que são chamadas de empresas “familiares”.A saída para esse dilema é outra.Em vez de contratar um amigo do peito, selecione o melhor e

mais qualificado profissional possível para o cargo, independentede conhecê-lo ou não.

Em seguida, cerque o contratado de controles gerenciais, fiscal-ização interna, auditoria externa, o que for necessário para man-ter o pessoal na linha.

As multinacionais não trazem mais um presidente de confiançado exterior como faziam antigamente.

Contratam brasileiros, sejam eles amigos dos acionistas ou não.Dois brasileiros, Alain Belda Fernandez e Henrique de Cam-

pos Meirelles, foram presidentes da matriz americana das multi-nacionais em que trabalhavam, o equivalente a contratar umamericano para cuidar de nossa dívida interna.

Infelizmente no Brasil, o melhor administrador financeiro dopaís tem poucas chances de ser Ministro da Fazenda, se já não foramigo do presidente bem antes de sua eleição.

CCaargrgo do de confiane confiança é simça é simppllesmesmenente um conte um conceiceito anato anacrônicrônicoco,,alalggo do do passao passaddo pré-go pré-gerenerencial, da era dcial, da era do Gestoro Gestor..

NNum mum mununddo como compepetitititivvoo, tod, todos os caos os cargrgos, inos, incclluinuinddo os do os dooggoovernvernoo, precisam ser d, precisam ser de toe total e ital e irrestrirrestrita comta compepetêntência, e nãcia, e não do deeconfianconfiança.ça.

A rigor, num mundo globalizado, onde temos de dominaralguns segmentos da economia mundial, deveríamos estar con-tratando os melhores do mundo.

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Pelo menos algum dia vamos começar timidamente con-tratando os melhores brasileiros desde o início.

PS – Se você, amigo ou parente de político, for convidado paraum cargo de confiança nos próximos três meses sem ter pelomenos vinte anos de experiência na área, a nação encarecida-mente implora: recuse delicadamente.

Publicado na Revista Veja, Editora Abril, na edição 1560, nº33, de 19 de agosto de 1998, página 22

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Administrar é SaberDelegar - II

E Ficar Observando

Administração é possivelmente a única profissão onde o sonho énão ter poder.

Administração é possivelmente a única profissão onde o sonhoé delegar o poder de mando para outros.

Administração é possivelmente a única profissão onde o sonhoé não fazer nada, e não fazer tudo, centralizar tudo, mandar emtudo.

Nosso sonho é perder poder, e saber delegar.Vocês já viram charges com um/a executivo/a reclinado na

cadeira com os pés na mesa?

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Nenhuma outra profissão ousaria ser pego numa posição destas,seria considerado motivo para demissão na certa.

Para o administrador e administradora isto é um momento deorgulho, de sucesso profissional. As coisas estão funcionando sempapai e mamãe tendo de controlar a rapaziada.

Sucesso para um bom administrador é quando delegamos tudo,quando a empresa anda sozinha, quando não precisa mais dagente, quando nos tornamos dispensáveis.

Compare essa atitude com a conhecida atitude de Fidel Castro,Hugo Chávez, Stalin onde o objetivo era controlar tudo.

Administrar é conseguir criar um sistema autossustentávelonde pessoas estranhas e desconhecidas conseguem trabalharjuntas em relativa harmonia, sem supervisão.

Por isto delegamos.Por isto, você não encontra Ditador administrador, admin-

istrador centralizador de tudo, administrador que quer assinartudo que precisa ser assinado numa empresa.

Queremos uma empresa que mais dia menos dia não mais pre-

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cisará de nós, por isto precisamos delegar e criar organizaçõesautossustentáveis.

Claro que nem sempre isto ocorre, sempre surgem imprevistos.Por isso, nossos pés não ficam muito tempo em cima da mesa,

mas mostra uma atitude profissional de dar poder aos outros, enão acumular poder para si.

Para mim é tão óbvio que uma sociedade livre só é possívelem organizações descentralizadas onde todos participam dasdecisões.

Por que então a nossa sociedade brasileira exclui a visão doadministrador/a como faz há mais de 60 anos?

Sua missão é mostrar o erro da sociedade, dos formadores deopinião, dos intelectuais, e mostrar que o administrador não seráuma ameaça aos status quo deles, mas um complemento que deve-ria ser bem-vindo e não atacado.

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Será Que o Problema é Este Mesmo?

Um dos maiores choques de minha vida foi na noite anterior aomeu primeiro dia de pós-graduação em administração.

Havia sido um dos quatro brasileiros escolhidos naquele ano,e todos nós acreditávamos, ingenuamente, que o difícil fora terentrado em Harvard, e que o mestrado em si seria sopa.

Ledo engano.Tínhamos de resolver naquela noite três estudos de caso de

oitenta páginas cada um.O estudo de caso era uma novidade para mim.

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Lá não há aulas de inauguração, na qual o professor diz quem ele ée o que ensinará durante o ano, matando assim o primeiro dia deaula.

Essas informações podem ser dadas antes.Aliás, a carta em que me avisaram que fora aceito como aluno

veio acompanhada de dois livros para ser lidos antes do início dasaulas.

O primeiro caso a ser resolvido naquela noite era de marketing,em que a empresa gastava boas somas em propaganda, mas as ven-das caíam ano após ano.

Havia comentários detalhados de cada diretor da companhia,um culpando o outro, e o caso terminava com uma análise dopresidente sobre a situação.

O caso terminava ali, e ponto final.Foi quando percebi que estava faltando algo.Algo que nunca tinha me ocorrido nos dezoito anos de estudos

no Brasil.

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Não havia nenhuma pergunta do professor a responder.O que nós teríamos de fazer com aquele amontoado de

palavras?Eu, como meus outros colegas brasileiros, esperava perguntas

do tipo “Deve o presidente mudar de agência de propaganda oudemitir seu diretor de marketing?”

Afinal, estávamos todos acostumados com testes de vestibular eperguntas do tipo “Quem descobriu o Brasil?”.

Harvard queria justamente o contrário.Queria que nós descobríssemos as perguntas que precisam ser

respondidas ao longo da vida.Uma reviravolta e tanto. Eu estava acostumado a professores

que insistiam em que decorássemos as perguntas que provavel-mente iriam cair no vestibular.

Adorei esse novo método de ensino, e quando voltei para daraulas na Universidade de São Paulo, trinta anos atrás, acabeiimplantando o método de estudo de casos em minhas aulas.

Para minha surpresa, a reação da classe foi a pior possível.“Professor, qual é a pergunta?”, perguntavam-me.E, quando eu respondia que essa era justamente a primeira per-

gunta a que teriam de responder, a revolta era geral:“Como vamos resolver uma questão que não foi sequer formu-

lada?”.TTememosos umum ensinensinoo nnoo BrasilBrasil vvoolltataddoo paparara pergunperguntastas pronprontastas ee

ddefiniefinidas,das, porpor umauma razãrazãoo mmuiuitoto simsimpplles:es: éé maismais fáfácilcil paparara oo alalununoo eetambém patambém para o profra o professoressor..

OO profprofessoressor éé vistovisto comcomoo umum sásábibioo,, umum inintetellecectual,tual, alalguémguém qqueuetem sotem solluçãução pao para tudra tudoo. E com o tem. E com o tempo os alpo os alununos aos acredicreditam.tam.

E os alunos, por comodismo, querem ter as perguntas feitas,como no vestibular.

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Nossos alunos estão sendo levados a uma falsa consciência, omito de que todas as questões do mundo já foram formuladas esolucionadas.

O objetivo das aulas passa a ser apresentá-las, e a obrigação dosalunos é repeti-las na prova final.

Em seu primeiro dia de trabalho você vai descobrir que seupatrão não lhe perguntará quem descobriu o Brasil e não lhepagará um salário por isso no fim do mês.

Nem vai lhe pedir para resolver “4/2 = ?”. Em toda a minha vidaprofissional nunca encontrei um quadrado perfeito, muito menosuma divisão perfeita, os números da vida sempre terminam comlongas casas decimais.

Seu patrão vai querer saber de você quais são os problemas queprecisam ser resolvidos em sua área. Bons administradores sãoaqueles que fazem as melhores perguntas, e não os que repetemsuas melhores aulas.

Uma famosa professora de filosofia me disse recentemente quenão existem mais perguntas a ser feitas, depois de Aristóteles ePlatão.

Talvez por isso não encontramos solução para os inúmerosproblemas brasileiros de hoje.

O maior erro que se pode cometer na vida é procurar soluçõescertas para os problemas errados.

Em minha experiência e na da maioria das pessoas que trabal-ham no dia-a-dia, uma vez definido qual é o verdadeiro problema,o que não é fácil, a solução não demora muito a ser encontrada.

Se você pretende ser útil na vida, aprenda a fazer boas pergun-tas mais do que sair arrogantemente ditando respostas.

Se você ainda é um estudante, lembre-se de que não são asrespostas que são importantes na vida, são as perguntas.

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Se você é um engenheiro, advogado, economista, enfim, façaum MBA, vai enriquecer a sua forma de pensar.

Editora Abril, Revista Veja, edição 1898, ano 38, nº 13, 30 demarço de 2005, página 18

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Administrar é Ser Ágil naAção e Decisão

Não São os Mais Fortes Que Vencem, São os Mais Ágeis

Um dos grandes erros de alguns intelectuais no Brasil, foi dissem-inar entre a nova geração que capitalismo é a sobrevivência dosmais fortes.

Essa é uma das razões porque a esquerda sempre atacou asempresas e seus administradores, achando que elas eram grandesdevido ao seu poder monopolista ou oligopolista de extrair maisvalia dos trabalhadores e da população.

Administradores foram assim sistematicamente discriminadospor professores e intelectuais, vilipendiados e até atacados pormais de 50 anos devido a este errôneo conceito da sobrevivênciado mais forte, termo incorreto cunhado por Herbert Spengler, quenão entendeu Darwin.

Getúlio Vargas extinguiu as escolas de administração em 1946,com a lei 7988/45.

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Se fosse a sobrevivência dos mais fortes, os dinossaurosestariam povoando o mundo até hoje.

A sobrevivência não é do mais fortes, mas sim dos mais ágeis,aqueles que puderam se adaptar aos novos tempos.

Isso nada tem a ver com força, pelo contrário.Apesar dos dinossauros serem supremos, não conseguiram se

adaptar ao novo ambiente após a queda de um asteroide.Somos todos descendentes do camundongo, que de forte não

tem absolutamente nada.O segredo da sobrevivência humana é a sua adaptabilidade, sua

agilidade em se adaptar às mudanças que ocorrem.Infelizmente, a maioria dos professores nos ensina a ser pre-

cisos, acertar as respostas até a terceira casa decimal, a sermosabsolutamente certos e não necessariamente ágeis.

Como tornar um país ágil, que não vive acumulando proble-mas?

O sucesso das nações depende da rapidez com que ela abandonaideias que funcionaram no passado, mas que agora precisam sersubstituídas porque os tempos mudaram.

Esse é também o grande erro da direita, achar que as ideias anti-gas precisam ser “conservadas”, outra ideologia que nunca aceitoua figura do administrador profissional.

O mundo mudou, mas infelizmente ambas as ideologias de dire-ita e de esquerda estão lerdas, lentas e inadequadas.

Veja a lentidão da máquina do Estado e das empresas familiares.Minha insistência em valorizar a classe política dos admin-

istradores não é porque estes possuem boas ideias, mas porqueadministradores bem treinados são os únicos capazes de implantaras ideias dos outros na velocidade que precisamos.

Por isso, empresas administradas por administradores profis-

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sionais são mais ágeis do que repartições públicas, empresasEstatais e empresas familiares.

A função do administrador é justamente agilizar as decisões detodos os envolvidos na empresa.

É criar sistemas onde os problemas são rapidamente identifica-dos, diagnosticados, soluções alternativas encontradas, avaliadas,implantadas, reavaliadas e corrigidas, tudo isto rapidamente.

A primordial função do administrador seja público ou privadoé não permitir que problemas se acumulem e decisões sejam efeti-vamente tomadas.

Esta é uma das nossas missões.

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Criando Laços de Confiança

Como Confiar em Você?

O Brasil está num estágio acelerado de desagregação social.Aumento da criminalidade, corrupção, assaltos, consumo de

drogas, desquites, filhos sem um pai ou mãe presentes, queda naconfiança de nossas instituições, especialmente de nossos políti-cos, pessimismo com relação ao futuro do país e da própriademocracia.

Clubes Esportivos lutam para manter seus associados, fun-cionários lutam para manter os seus empregos, famílias lutam parase manter unidas.

Observando as manchetes dos últimos quatro anos, constata-mos que quase 70% delas são no fundo a mesmíssima notícia.

Numa leitura, obviamente mais ampla, todas noticiam Desagre-gação Social.

Vejamos: Fuga para Dólar, CPI no Congresso, Greve da Polícia,

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Saques a Supermercados, Desquite da Prefeita, Confiança noGoverno em Baixa, Candidato romperá com FMI.

Esta desagregação social é fenômeno mundial, e não é de hoje.É fruto da destruição dos pequenos vilarejos onde existia calor

humano.A urbanização fria e solitária e a televisão eliminaram a con-

versa familiar em volta da mesa, a transmissão de valores comu-nitários.

Desde Getúlio, nossos governos deixaram de se preocupar como fortalecimento de laços de confiança entre indivíduos, e se pre-ocuparam em aumentar os laços com o indivíduo.

Criaram a dependência perante o Estado, e não a interde-pendência da comunidade.

Quem escolhe seu médico é o Ministro da Saúde, o professordo seu filho é o Ministro da Educação, o gestor do seu fundo deaposentadoria é o Ministro da Previdência.

Quando se perde a confiança no Estado, como agora, perde-seconfiança em tudo.

Alguns acreditam que isto é a salvação, outros percebem quejustamente estas funções do Estado inibem a criação de laçosentre pais e filhos, médicos e clientes, professor e família, e assimpor diante.

Para piorar nosso tecido social, o Brasil teve sete desastrososplanos econômicos, que com exceção do Real, destruíram laços deconfiança construídos lentamente ao longo dos anos entre inquili-nos e senhorios, funcionários e patrões, clientes e fornecedores,credores e devedores, e no Plano Zélia Cardoso de Melo, todoscontra todos.

O resultado está aí.Numa pesquisa mundial, 50% dos americanos, 30% dos mexi-

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canos e 60% dos guatemaltecos afirmam que “confiam na maioriadas pessoas”.

O Brasil tem o mais baixo índice do mundo, somente 2% dosbrasileiros confia na maioria das pessoas.

Em 1995, nosso índice era um pouco maior, 10%, mas com FHCe seu governo Social-Democrata este índice despencou para 2%, ecom tendência de queda.

O Brasil é o retrato de Hobbes, homem contra homem neces-sitando urgentemente de um Estado que no mínimo ofereça pro-teção, justiça e polícia.

Estreitar novamente os laços de confiança dos brasileiros é atarefa número um, pois estamos a rigor a um passo da guerra civil,de todos suspeitando de todos.

Na minha opinião, a verdadeira função do Estado deveria ser ade promover a cooperação entre os cidadãos.

Em vez de leis que protejam o trabalhador, leis que permitamtrabalhadores negociar em igualdade com seus patrões.

Fiscalizar entidades beneficentes para assegurar que os nossosdonativos são destinados para os caminhos prometidos, em vez decriar Ongs próprias como Comunidade Solidária.

Supervisionar as empresas em Bolsa, em vez de usar a Bolsa parafinanciar estatais.

Aqui apresento exemplos rápidos deste novo Estado, que nãotemos ainda:

Milhares de brasileiros têm se engajado em restaurar os laços deamizade novamente entre brasileiros, destruídos ao longo destesanos pelo Estado.

Estão se engajando em trabalho voluntário, incentivando aResponsabilidade Social das Empresas diante da falência daResponsabilidade Social do Estado.

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Estão pregando a solidariedade entre indivíduos em vez dosSocialismo Estatal entre estado e contribuinte.

Mas temos ainda muito por fazer.Transformar nossos 2% em 100%, significa crescer nada menos

do que 50 vezes, transformar o Brasil num país onde todos confiemna maioria das pessoas.

Esta é a missão filosófica do Administrador.Criar laços de confiança entre milhares de pessoas estranhas,

para que possam cooperar entre si em prol de um objetivo comum,seja um produto, uma ONG, um hospital, um clube esportivo.

Administradores são os agregadores da sociedade, que lutamcontra tantos membros da sociedade cujo objetivo é desagregar,conspirar, destruir a sociedade que temos.

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A Função Mais Difícil doAdministrador

Tem Muitos Que Não Querem um Brasil BemAdministrado

Administradores e Engenheiros criam sistemas, procedimentos,regras, normas e rotinas para serem obedecidas.

Esta obediência permite empresas atuarem em mais de um local,em mais de uma cidade e até em mais de um país.

Basta replicar o sistema que deu certo na fábrica original.São estas regras e normas que dão escala, segurança, qualidade

e tranquilidade para os funcionários e clientes.Empresas onde não há normas, não há procedimentos estuda-

dos, como em artesanato por exemplo, a produção é baixa e irreg-ular.

Embora seja o sonho de todos os intelectuais que aderem àchamada Economia Solidária, um dos grandes movimentos contrao administrador.

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Seu principal porta voz, professor de Economia Paul Singer,escreve:

“Empresas solidárias não aceitam a mentira propagada poradministradores de que meros trabalhadores não possam gerirempresas com eficiência.”

É um movimento bem radical contra a missão do administrador,que para o professor Paul Singer é desnecessária, e que nós espal-hamos mentiras por aí.

Mas Paul Singer continua na sua propaganda de difamação daprofissão de Administrador.

“Administrar uma grande empresa no capitalismo está maispróximo da condução de uma guerra do que da solução de proble-mas ‘técnicos’.”Ele afirma, que somos violentos, que usamos a mesma violênciautilizada em guerras, e assim por diante. E ele é professor Titularda Faculdade de Economia da Universidade de São Paulo, e foiprofessor de alunos que se tornaram Ministros e Presidentes doBNDES.

Administração tem sido, infelizmente, duramente combatida peloMarxismo, definidos como Taylorismo, o engenheiro que criou aergonomia.

Uma das funções do Administrador é determinar quandomudar ou suspender temporariamente os sistemas, procedimen-tos, regras, normas e rotinas.

Regras são úteis mas são sempre generalizações, que podemgerar enormes injustiças.

Este é o grande problema do nosso funcionalismo público.Devido a Constituição de 1988, e da criação e atuação do Min-

istério Público, todo funcionário é obrigado a seguir as regras, leia-se leis.

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Abrir exceções às regras, papel primordial do Administrador,vira um crime.

Por isto nossos governos estão inoperantes, engessados etremendamente injustos.

A função do administrador público não deveria ser a de imporas leis e as regras, mas determinar com autoridade quando estasregras deveriam ser desobedecidas nos casos em que seriam injus-tas.

Por isto o Administrador precisa de um comportamento ético,uma história pessoal de probidade e respeito, porque será aqueleque irá determinar quando as leis não devem ser aplicadas.

Uma responsabilidade bem superior a de um juiz.Por isto a escolha, treinamento, acompanhamento da classe de

Administrador precisa ser criteriosamente conduzido pela própriasociedade.

E não perseguido até o ponto de termos por 50 anos proibiçãode se ensinar Administração, para poder favorecer a profissão doeconomista.

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Se Karl Marx TivesseEstudado Administração

Não Imaginou Empresas Geridas por AdministradoresProfissionais

O objetivo de uma empresa da era pré-industrial não era maxi-mizar o lucro, mas sim o controle da empresa pela família.

Este foi um dos graves erros de diagnóstico de Karl Marx e dosmarxistas em geral.

No início da industrialização, a maioria das empresas eram con-troladas pelos engenheiros que inventaram as milhares demáquinas que irão compor a revolução industrial.

Trinta anos depois eram controladas por seus filhos, a maioriaincompetentes que não conseguiam chegar aos pés de seus pais.

Frederick Engels era um caso típico, filho problemático de umempresário de Manchester, onde era um Diretor Estatutário.

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Ermen e Engels era uma empresa tipicamente familiar. Possuía atéo nome das famílias na razão social.

Uma empresa familiar em vez de maximizar o lucro, premissabásica da maioria das teorias política e econômica, o objetivo pri-mordial é outro.

O objetivo é maximizar não o lucro, mas o controle da empresadentro da família.

Preferem ter 100% de um lucro menor, do que 49% de um lucrotrês vezes maior e perder o controle de mando.

Preferem ser menores, com lucro total menor, mas com controleacionário dentro da família.

Do que ter lucros maiores, mas deter somente 20% das ações daempresa, e aí não poder indicar seus filhos para os cargos de Dire-toria, como fez o pai de Frederick Engels.

Maximizar o lucro portanto, NÃO é o objetivo principal destasempresas, e sim ter a empresa sob controle total.

É um detalhe que muda tudo na análise marxista.

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Karl Marx achava que era contra o capitalismo, mas se não fosseseu grande mentor Engels, ele deveria ter sido contra a empresafamiliar.

Os excessos, abusos que ele via, eram devidos a estrutura famil-iar das empresas, e não ao capitalismo em si, no uso de máquinaspara aumentar a produtividade do ser humano.

Eu sou contra a empresa familiar em geral, como forma deadministrar empresas grandes, ou capitalistas.

Se vocês entenderam este ponto, agora podem entender o casoespecial de Ermen e Engels.

Cada sócio já estava no seu limite de 50%.Abrir o capital em 5% para comprar novas máquinas estava fora

de cogitação. O sócio de 5% poderia passar a mandar, porque seriaele que faria a diferença do controle.

Então Ermen e Engels tinham que sempre comprar novasmáquinas com recursos internos, somente com recursos geradosinternamente.

Neste sentido, a preocupação era vender com enormes margensde lucro, que é bem diferente de lucro máximo. Algo que pessoas,como Marx, sem formação em Contabilidade e Administraçãonão iriam entender.

Karl Marx disseminou a ideia de que o aumento de produtivi-dade proporcionado pelos engenheiros capitalistas que investiramcapital na construção das revolucionárias máquinas industriais,deveria pertencer aos trabalhadores e não aos engenheiros. Achamada “mais valia”, ou aumento de valor da produção.

A lógica de Karl Marx era muito simples.Trabalhador: “Eu produzia um metro de tecido por dia, com o

tear manual, usando minha força de trabalho.”

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Engenheiro: “Isto mesmo, por isto eu te pago 1 guine por dia detrabalho.”

Trabalhador: “Só que eu estou produzindo cinco metros detecido por dia, e quero ganhar cinco vezes mais, afinal ‘só o tra-balho acrescenta valor’.”

Engenheiro: “E eu acrescento nenhum valor, você mesmo jápercebeu que teve que despender muito menos esforço com amáquina que levei 10 anos para construir, tem agora os vendedorespara vender cinco vezes mais, os custos de transporte para venderem mercados mais distantes, o marketing e a propaganda, a con-tabilidade, o crédito, temos mais pessoas para remunerar que nãoo trabalhador de fábrica.”

Trabalhador: “Mentira, segundo Marx existem somente duasclasses na sociedade, engenheiros e trabalhadores de chão defábrica, não existem contadores, operadores logísticos, admin-istradores, agências de propaganda, banqueiros, impostores comimpostos cada vez maiores.”

Engenheiro: “Hoje de fato não, mas a medida que as empresasficarem maiores, necessitando mais mão de obra, os salários irãoaumentar e os preços que vendemos os tecidos irão despencar,bem como estas minhas elevadas margens de lucro.”

E foi o que aconteceu. Os salários quintuplicaram, só HenryFord dobrou uma vez os salários já em 1914. Os preços despen-caram, o Iphone custava em 1972 US$ 300.000,00 e fazia umdécimo dos cálculos. E as margens de lucro caíram de 50% para5%, mas que cobrado sobre milhares de peças, ainda dava um bomlucro.

Marx queria que os trabalhadores de chão de fábrica ganhassemos US$ 300.000,00 para produzir o IBM 1320, o primeiro computa-

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dor que eu operei na vida. Se tivesse conseguido, estaríamos atéhoje com computadores que custariam US$ 300.000,00.

A “mais valia” ou aumento de produção de Karl Marx, não ficoutotalmente para os engenheiros inventores das máquinas, mas foidividida entre os trabalhadores. Nem tudo de fato, entre os engen-heiros e todas as classes profissionais necessárias para criar empre-sas grandes e produtivas, e em enormes reduções de preços, queno final até Karl Marx percebeu o que estava ocorrendo.

E nas diminuições de preço, os trabalhadores chão de fábricaganharam mais uma vez comprando mais com o mesmíssimosalário, benefício compartilhado pelos engenheiros, mas esteseram em menor número.

As grandes empresas de hoje operam com margens delucro ínfimas, tipo 1% até 5%, o que deveria ser o objetivo de todotrabalhador.

Isto significa que ele não está muito longe de comprar o fruto deseu trabalho, que é o que os marxistas querem, e Marx achava queseria impossível ocorrer.

Pagar somente 1% a 5% pelos equipamentos que aumentem a suaprodutividade, pelo risco de abrir uma empresa, pelo trabalho deinventar um novo produto, tipo Camisas Polo, com marca e tudo,não me parece um exagero pelo benefício da comunidade em rece-ber um produto pronto.

Lembre-se que os demais 99% e 95% são custos que teriam queser incorridos seja no socialismo seja no comunismo, não há comoescapar.

Karl Marx não percebeu que o problema do capitalismo não é olucro máximo, mas as margens de lucro máximas devido ao obje-tivo de Ermen e Engels em manter o controle na família, ou na

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solução preconizada por Marx do capital ser controlado por umúnico partido, o seu.

O problema de ineficiência, preços elevados, margens colossais,como é na Petrobras e Eletrobras, continuaria, e pior, o Partido nopoder lutaria para nunca perder uma eleição, como as empresasfamiliares nunca querem perder o controle da companhia.

Karl Marx em vez de lutar pela Democratização e Pulverizaçãodo Capital, bandeira ideológica defendida pela Ciência daAdministração e implantada pelos administradores de empresasde Capital Aberto e Democrático, foi na direção oposta.

Karl Marx forneceu o arcabouço teórico para manter o Cont-role Único da empresa, não na mão de uma família, mas na mão deum único partido. O que é muito pior.

Em ambos os casos, a preocupação do Partido é igual à dafamília pré-industrial, que é não perder o controle do capital e delutar contra nós administradores que queremos democratizar asempresas familiares e estatais, dando a cada trabalhador acionistao direito de voto, mesmo que tenha uma única ação.

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Part II

Postura Ética

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O Atributo MaisImportante do

Administrador: Sua Ética

Prometo Respeitar a Ética do Administrador

A maioria das profissões acha que Ética é cumprir as leis, não fazernada de “errado”, não mentir, não corromper funcionários públi-cos, o “do no evil” da Google.

Por isto a maioria nem estuda Ética, sob este ângulo ela é con-siderada até meio óbvia.

Infelizmente, Administração é uma das poucas profissões queensina ética profissional para os seus alunos.

Harvard Business School nos Estados Unidos e Tsinghua naChina ensinam logo no primeiro ano.

AA primprimeieirara coisacoisa qqueue ensinamensinamosos emem AAdministradministraçãçãoo éé qqueue ÉtiÉticacaéé tudtudoo qqueue ddeciecidimdimosos nãnãoo fazerfazer,, aapesapesarr ddee serser correcorretoto,, llegalegal ee per-per-mitimitiddoo..

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Page 123: A missão do administrador - Stephen Kanitz

Parece estranha esta definição, por isto vou simplesmente darum exemplo concreto de como a nossa ética funciona na prática.

Estamos na crise de 2008, que por pouco não contaminou oBrasil.

Mas quase perdemos tudo devido a três empresas brasileiras:VCP, Sadia e Aracruz, que sozinhas criaram uma enorme crisecambial.

EstasEstas trêstrês emempresaspresas fizeramfizeram ooperaperaçõesções especulaespeculatitivasvas comcom câm-câm-bibioo,, ee nnoo mmeieioo dada crisecrise ininternaternacicionalonal perdperderameram enentretre 66 bilhbilhõesões aa 1212bilhbilhões.ões.

Em 200Em 2004 teria si4 teria siddo 50% das no 50% das nossas reservas inossas reservas internaternacicionais.onais.Seus diretores financeiros apostaram praticamente a totalidade

do seu patrimônio, e se não fosse a ajuda da Perdigão e do governoteriam quebrado.

Posteriormente, descobrimos que nenhum dos três diretores“financeiros” era formado em Administração, muito menos emAdministração Financeira.

O diretor financeiro da Sadia era formado em EconEconomiaomia pelaPUC Bahia.

O diretor financeiro da Aracruz era formado em EconEconomiaomia pelaPUC RIO.

O diretor financeiro da VCP era formado em EconEconomiaomia pelaPUC SP.

(Algo inclusive que todos os colunistas econômicos do Brasil aba-faram.)

Os três economistas especularam com câmbio, para obter umlucro eexxtratra. Maximizaram o lucro como reza o discurso únicodesta ciência.

AAvaliavaliaramram osos riscosriscos ddenentrotro ddosos alalggorioritmtmosos ddee suasua ciciênência,cia, gagaran-ran-

A Missão do Administrador

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tiramtiram aaoo CConseonselhlhoo ddee AAdministradministraçãçãoo qqueue osos cálcálculculosos mmostraostravamvambaixbaixo riscoo risco, e f, e foram em frenoram em frentete..

Nós, Administradores Financeiros, jamais teríamos aceito umcargo de Economista Chefe, por exemplo, já que não fomos ade-quadamente treinados. Por que economistas não podem fazer omesmo? Veremos no próximo capítulo.

Mas mais importante ainda, teríamos dito aos nossos Consel-hos de Administração que especular com o câmbio não é o nosso“core busincore business”ess”..

Queremos maximizar o lucro, mas dentro de limites, dentro denossas competências e dentro de nossos planos operacionais.

Especular com câmbio para ter um “lucrinho extra” é algo quenão fazemos. Não faz parte do “core business” que era Frango ouCelulose.

ÉtiÉtica é saca é saber o qber o que nãue não fazero fazer, a, apesapesar dr de ser le ser legal.egal.Na Sadia porém, o diretor financeiro não disse “Senhores, nosso

core business é frango”.Nem na VCP e Aracruz disseram aos seus Conselhos “Nosso

negócio é celulose e não especular com câmbio”.Todos os Administradores Financeiros nas demais empresas

foram enfáticos nesta questão, e safaram as suas empresas, compoucas exceções.

“Aqui fazemos hedghedgee ccaambmbial,ial, mas se suas famílias querem eesspeculapecularrccoom cm cââmbmbioio, que o façam na pessoa física e não na nossa jurídica.”

Foi o que salvou o Brasil e milhares de empresas brasileiras comprofissionais de uma enorme crise, os erros ficaram basicamenterestritos a três grandes empresas.

Pena que nestes 50 anos de profissão não tenhamos mostradocomo o administrador tem salvo este país de uma série de enras-cadas. Como estou fazendo aqui.

Stephen Kanitz

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Page 125: A missão do administrador - Stephen Kanitz

Pudera, sequer temos um American Management Association,criada nos Estados Unidos em 1918.

Espero que você leitor, nos próximos 50 anos, seja mais ativo emmostrar a nossa contribuição.

A Missão do Administrador

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A Primeira Regra Ética aSeguir

Nunca Aceitar um Cargo Para o Qual Não EstejaPreparado

Um dos princípios éticos que seguimos é “nunca aceitar um cargopara o qual não estejamos plenamente preparados”.

A ética do “aprender fazendo e errando” não faz parte do nossoideário. Acreditamos em treinamento continuado e preparoresponsável. Os erros podem afetar outros seres humanos, nossoscolegas e subordinados.

Infelizmente no Brasil, engenheiros, médicos e economistasbrasileiros têm se tornado manchete de jornais por aceitar cargospara os quais nunca foram preparados.

Antonio Palocci, médico que se tornou Ministro da Fazendano Governo Lula, candidamente confessa: trabalhar no governoé uma “experiência única que dá enorme valor depois para a gente, nomercado privado“.

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Page 127: A missão do administrador - Stephen Kanitz

E para exemplificar, Palocci cita em seguida vários professoresacadêmicos que nunca trabalharam antes na vida quando forampara o governo, e não vou repetir estes nomes aqui. Estão noGoogle, e que de fato ficaram ricos com o “valvaloror” criado com aexperiência no governo.

Só que fomos nós contribuintes que pagamos caro pelo apren-dizado desse pessoal.

Outros países convocam administradores financeiros, forma-dos e treinados, e com vasta experiência anterior para ocupar umcargo destes no governo, justamente o contrário.

Isto se chama ética profissional.Eles trazem experiência ao governo, que normalmente é o

último a adotar as técnicas de administração desenvolvidas pelasempresas.

Uma tragédia da União Soviética é que com 70 anos de econo-mia centralizada, não saiu uma única técnica de administraçãonova.

Nenhum conceito novo que pudéssemos adotar nas empresas.Não conheço um guru, um livro de administração de sucesso

escrito por um russo.Nada!Portanto, que “experiência única que dá enorme valor depois para a

gente” é esta que acrescenta tanto dinheiro e valor para quem foido governo?

Não preciso responder.Nossa missão como administradores é justamente mostrar a jor-

nalistas, colunistas e intelectuais de esquerda o erro que o governobrasileiro comete ao convidar professores acadêmicos, sem nen-hum valor e experiência, que vão justamente para o governo pela

A Missão do Administrador

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Page 128: A missão do administrador - Stephen Kanitz

“experiência única que finalmente dará valor às suas insignificantescarreiras“.

E pelo jeito, a maioria dos engenheiros, sociólogos e advogadosdo Brasil, e especialmente jornalistas, aprovam e são a favor; bastaler abaixo os poucos comentários endossando o que eu estou pro-pondo aqui.

Quando recebi o convite para trabalhar no Governo Sarneyconsultei meus colegas professores da USP.

Alguns me incentivaram, “você tem muito a contribuir“, “vocêentende do assunto, já está com tudo pronto“, “O Brasil precisa de pes-soas como você”.

Outros infelizmente repetiram 30 anos atrás exatamente o quevocês ouviram do Palocci. “Vai, você vai adquirir muita experiência“.

Por isto, estamos atolados como nação e governo.Estamos treinando amadores a ter experiência, com um dos

mais elevados custos de treinamento do mundo, e o único benefi-ciado é a carreira dos valorados.

Aos engenheiros, médicos e economistas deste país aqui vai umpedido.

Sejam profissionalmente éticos.Nunca aceitem um cargo para o qual vocês não estejam prepara-

dos.Nunca aceitem um cargo no governo se não foram duplamente

preparados e testados para as suas funções.Governo não é o local para se adquirir experiência, para depois

ser consultor do setor privado.Convite para trabalhar no governo é para usar as suas experiên-

cias e não adquirir experiência a custa do povo brasileiro.O povo brasileiro agradece.

Stephen Kanitz

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O Administrador é Íntegro

Administrar Requer Ética e Caráter

O futuro é para ser feito, não para ser previsto.Esta é a grande linha divisória que divide administradores de

um lado, e os sociólogos, cientistas políticos e acadêmicos deoutro.

Muitos cientistas sociais e economistas acham que seu dever étentar prever o futuro, e proteger a sociedade das coisas ruins queenxergam na nossa frente.

Por isto a maioria de suas previsões são negativas e catastrofis-tas.

Nenhuma sociedade precisa de uma classe que nos proteja dascoisas boas que o futuro nos trará, somente das coisas ruins.

Por isto vivem prevendo recessões, inflação, deficit, nada depositivo.

Porque são catástrofes que os colocam em ação, criando políti-cas públicas de gastos públicos, políticas macro prudenciais, criam

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salvaguardas financeiras, alfandegárias, proteções como BolsaFamília e até novas sociedades possíveis.

Como foi o marxismo de Karl Marx, que sugeriu uma mudançaradical em toda a sociedade com o uso da violência, violência rev-olucionária, porque ele previu o mundo econômico não repletode mais de 250 classes profissionais, como admitiu recentementeCuba, mas que o mundo se reduziria para somente duas classes, osengenheiros que inventavam as máquinas industriais e os trabal-hadores de chão de fábrica.

Para nós administradores e engenheiros o futuro é feito e nãoprevisto.

E o futuro que queremos implantar é sempre bom, normal-mente são as boas práticas que algumas empresas inovadoras jádescobriram que funcionam.

Para nós o futuro é para ser construído com suor e lágrimas enão destruído com ações revolucionárias e guerrilha.

O máximo que cada um de nós pode fazer é ter uma vaga ideiado que poderá acontecer, podemos saber o jeijeitãtãoo dada coisacoisa, e nadamais.

Minha vida é um bom exemplo. Meu Livro O Brasil Que DáCerto, foi um best seller em 1994, porque foi praticamente o únicoque mostrou um Brasil positivo depois do Real.

Praticamente, todos os economistas famosos previram que oPlano Real daria errado.

Prof. Roberto Macedo, Professor Titular da Universidade deSão Paulo, escreveu uma coluna no Estado de São Paulo me ata-cando pessoalmente, num argumento ad hominem, como sempre,dizendo o seguinte:

“Li perplexo a entrevista A Crise Já Era, do meu colega de fac-uldade da USP, Stephen Kanitz”.

Stephen Kanitz

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O título de seu artigo catastrofista foi “A Crise Está Aí”, muitoapropriado para um economista.

“Stephen foi meu colega também em Harvard, ele na Faculdadede Administração e eu do Departamento de Economia.”

“A metodologia das duas áreas é bem diferente e é tradicionaluma rivalidade intelectual entres elas.”

A Business School ficava do outro lado do Rio Charles, só quesegundo Macedo “no outro lado do rio se pensa de forma errada”.

Existe sim uma luta de classes neste país, mas é entre aquelesque acham que o futuro é científico e previsível e que o futuro trazsurpresas que precisam ser bem calculadas e evitadas.

É a luta de classes entre intelectuais que acham que sabem e oresto da população que acha que não sabe tanto, mas trabalha pro-duzindo coisas todo dia, não ideias.

“O professor Kanitz baseia as suas afirmações muito otimistasnas 1000 empresas que analisa na edição de Melhores e Maiores”,afirma Macedo.

Insinuando que quem analisa as 50 variáveis que determinam osucesso das 1000 maiores empresas deste país é incapaz de enten-der o Brasil tão bem como aqueles que analisam cinco variáveis, adívida interna, o deficit público, taxa de investimento e ajuste fis-cal, variáveis apontadas por Macedo no seu artigo.

O ataque foi tão violento, que a direção do Estado de São Paulome procurou se eu não queria escrever uma réplica.

Disse que não. Ficaria feliz se eles simplesmente o demitissemdo Conselho do Estado de São Paulo, se o Plano Real desse certo.

Algo que não fizeram.A maioria dos intelectuais são movidos por prestígio, entrevis-

tas na imprensa, plateias e programas de televisão.

A Missão do Administrador

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Page 132: A missão do administrador - Stephen Kanitz

Aparecer em público ou simplesmente aparecer é a sua moedade troca, a sua motivação.

Aí, a questão que todo intelectual é forçado a enfrentar é: devodizer o que eu penso, ou devo dizer o que a plateia quer ouvir.

Se meu compromisso é com a integridade intelectual, a minhaopção é a primeira.

Digo o que penso mesmo que seja contra a corrente.E já sofri muito com isto, mas minha ética é esta, dizer o que tem

de ser dito.De forma clara e inequívoca.Ao escrever O Brasil Que Dá Certo, estava colocando em risco

a minha reputação. Se o Plano Real não desse certo, pelo menosaté 2005, que era a data limite da minha previsão muito otimista,você não estaria lendo este livro.

Escrever um único artigo “A Crise Já Era”, não comprometeuma reputação, tanto é que Roberto Macedo continua colunistado Estado de São Paulo, apesar de ter contribuído justamente parao baixo nível de investimentos em 1994, tão necessário para osucesso do Real.

Devido às previsões pessimistas de Macedo e tantos outros, ademanda explodiu como previra. Os investimentos não, porqueninguém investe antes de uma catástrofe, e o Banco Central teveque elevar os juros para mais de 25% de juro real, para conter oconsumo.

Exatamente o que se ensina no outro lado do Rio Charles.Mas se seu compromisso é com a vaidade, a segunda opção é a

que vence, você vai dizer o que os outros querem ouvir.Ser pobre e ao mesmo tempo desconhecido é a morte para todo

intelectual.

Stephen Kanitz

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Page 133: A missão do administrador - Stephen Kanitz

Woody Allen retrata magistralmente este personagem no filmeZelig.

Zelig é uma pessoa tão amável, tão desejosa de agradar, que con-corda com tudo o que a pessoa ao lado diz.

Eu é que lia perplexo os artigos do economista Mario HenriqueSimonsen, que ao longo de cinco anos apresentou cinco planosdiferentes da Dívida Externa.

Com isto ele permaneceu na mídia cinco anos mais do que eu.Eu apresentara logo no início o Plano de pagarmos Juros Reais enão Nominais, e nunca mudei meu raciocínio.

Obviamente os jornalistas brasileiros perderam todo o interesseem mim, “seu discurso é sempre o mesmo, Kanitz”.

Para quem tem integridade intelectual tem que ser assim, nãooutra saída do que a solução científica, do que a solução domomento.

Zelig ao mudar de opinião constantemente acaba indo aopsiquiatra com um sério problema.

Ao querer ser todo mundo, agradar todo mundo, especialmentejornalistas, ele acaba sendo ninguém.

Sendo ninguém e não tendo opinião própria ele acaba esque-cido.

No Brasil, falar sempre a verdade é de fato complicado. Por istonão somos tão bem vistos como queríamos, mas temos que seguirem frente.

Precisamos aprender a dizer a verdade com “ternura”, à modalatina, sem ofender, sem ir direto ao ponto, que é a moda dos anglosaxões.

Não ter medo de dizer a verdade é 0 nosso primeiro passo comoadministrador.

Um compromisso ético e tanto.

A Missão do Administrador

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O Administrador é Humilde

O Administrador Não Sabe Tudo, Por Isto VivemosPerguntando

Viajei uma vez de classe executiva, e ao meu lado um senhor deterno, cara de executivo, lendo a Bíblia.

Achei que fosse um destes “bispos” destas igrejas questionáveisviajando com todo o conforto do mundo, mas era na realidade umVice Presidente de uma empresa subsidiária da Alcoa.

Perguntei porque ele estava lendo a Bíblia.Sua reposta me surpreendeu.“Como Vice Presidente de uma grande empresa eu tenho muita

influência e poder sobre a vida de milhares de pessoas.Se eu não tomar cuidado, este poder pode subir à minha cabeça, o que

causaria muita infelicidade.Por isto, acho importante ir todo domingo à Igreja, para relembrar que

existe uma pessoa mais poderosa e muito mais sábia do que eu.”Eu já ouvi muitas razões para se ir todo domingo à Igreja, mas

esta era uma ideia totalmente nova.

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Page 135: A missão do administrador - Stephen Kanitz

Achei uma razão muito interessante para ir até uma Igreja todasemana.

Não para pedir perdão ou pedir ajuda.Mas como uma forma para que aqueles que comandam o poder

tenham o bom senso de baixar a bola.Um momento para refletir todo domingo o limite da prepotên-

cia, fazer semanalmente um ato de humildade e ficar de joelhoscomo todos nós.

A classe dominante de ontem ainda acreditava em Deus, e por-tanto era mais humilde.

Mas infelizmente nestes últimos 50 anos a classe que comanda oBrasil foi substituída por outra classe que já não acredita em algosuperior à história.

Que não acredita que haja algo superior à ciência.Que não acredita que a ideologia pode não ser perfeita como

acreditam.Uma classe dominante que não vai à Igreja mostrar humildade,

nem jogar um balde de água fria de tempos em tempos na suaarrogância.

Concordo plenamente com estes intelectuais que a Igreja não élugar para pedir ajuda.

Mas refletir nos nossos erros, e refletir um pouco de forma maishumilde não faz mal a ninguém.

A nova classe dominante das universidades, da mídia, doslíderes dos movimentos sociais, dos políticos e da maioria dos int-electuais passaram a acreditar que não há ninguém superior a eles,que eles sabem tudo, que mudarão o mundo sem ter que prestarcontas a mais ninguém.

Os fins justificam os meios.

A Missão do Administrador

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Page 136: A missão do administrador - Stephen Kanitz

Como eles sabem tudo, os fins justificam os meios, afinal elessão superiores.

Os social democratas, como o PSDB, achavam que bastavacolocar 100 intelectuais em postos chaves, as mel-hores cabeças deste país, e tudo ficaria resolvido.

E não entendo porque o PSDB é tão popular entre meus amigosinteligentes e pensantes, mas cujas opiniões práticas e sensatasnunca são ouvidas.

Mal sabe o PSDB, o PT e demais partidos, que hoje em dia nãobasta uma centena de intelectuais para administrar um país.

O número mais próximo seria no mínimo os 12 milhões demembros da chamada classe média, que está sendo deliberada-mente destruída pelos intelectuais, vide os vídeos de MarilenaChauí.

Se você intelectual que não acredita em Deus, e por isto nãoquer ir para a Igreja uma vez por semana, pelo menos seja humildecomo o Vice Presidente da Alcoa.

Pense um pouquinho nos outros e nas consequências de seusatos.

O sofrido povo do Brasil agradece.

Stephen Kanitz

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O Administrador e o"Poder"

Uma das Poucas Profissões Que Dá Poder e Condições aosOutros

O poder governamental sempre foi considerado afrodisíaco.Que o poder daria uma sensação humana que poucos têm o

privilégio de desfrutar, mas de efeitos fantásticos sobre aquelesque o detêm.

Frequentei por um ano os corredores do poder quando fuiassessor do Ministro do Planejamento, e todos meus amigosquerem saber como foi a experiência, como é de fato este tal de“podpoderer“.

Honestamente, não sei de onde vem este mito orgásmico.Claro, um número enorme de pessoas que lhe tratam com

reverência aumenta, o número de puxa-sacos explode, o telefonenão para de tocar com pedidos de audiência.

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Mas alguém que quer realizar algo de bom e concreto voltaabsolutamente frustado.

Quem está acostumado a realizar coisas na vida privada ficaabsolutamente estarrecido com a lentidão e inércia do governo.

Ninguém lá é formado em administração, e assim nem começaa haver diálogo, ninguém entende o que é administrar a coisapública.

Infelizmente, nestes últimos 50 anos nunca tivemos um Presi-dente da República e ministros que tenham trabalhado numa das500 maiores empresas privadas deste país.

Executivos acostumados à pressão de gerenciar planos comrapidez e cumprir orçamentos de forma moderna.

Profissionais que conhecessem a fundo as dezenas de disci-plinas da administração, gerência de recursos humanos, contro-ladoria, análise de sistemas, gerenciamento do crescimento,administração financeira, apuração contábil, estratégia e planeja-mento para disseminá-las aos seus subordinados. E, mais impor-tante, com experiência de implantar aquilo que parece perfeito nopapel.

Nossos governos, de 1964 para cá, foram administrados poracadêmicos, teóricos, bons de fala e bons escritores de artigos emjornal.

Quem conheceu no passado as grandes empresas como a Tel-ebras ou a Matarazzo sabe como elas também eram paquidermeslentos e pesados.

Quanto maior a empresa, pior é a sua capacidade de responderàs demandas da sociedade.

Agora imaginem o Governo.Um Governo que não contrata pessoas treinadas, que não sabe

delegar, e portanto nem sabe como cobrar.

Stephen Kanitz

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Page 139: A missão do administrador - Stephen Kanitz

Por isto não entendo porque o povo brasileiro, os comentaristasem blogs e os próprios blogueiros e Twitteiros não lutam para tergovernos administrados por pessoas treinadas, em vez de sermosgovernados por amadores que estão aprendendo nos primeirosdois anos, em vez de cumprir boa parte dos planos nos primeiros100 dias de governo.

O poder é afrodisíaco para quem é incompetente.Eles só precisam decidir entre os dois assessores que está pro-

pondo a melhor ideia, e muitas vezes nem isto sabem fazer.Para quem é competente o poder é angustiante.Entreviste os poucos administradores que já trabalharam no

governo.Pessoas como Antoninho Trevisan, Alcides Tápias ou o Furlan,

e eles dirão como é frustante trabalhar no governo.Pergunte para algum deles se pensa algum dia em voltar ao

“poder”.Jamais!Por outro lado, pessoas que veem o poder como forma de apare-

cer, que adoram ser bajuladas por puxa-sacos, que adoram osholofotes do cargo público, estes de fato acham o poder afrodis-íaco e só pensam em voltar.

Vários leitores me perguntam porque não vou para o governo, eesta é a razão.

Poder é a capacidade de realizar, e não a capacidade de decidir ofuturo de uma nação sem os conhecimentos necessários para tal.

Isto, nós administradores consideramos ser um crime contra ahumanidade.

Um crime que lutaremos para evitar.

A Missão do Administrador

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O Administrador é UmDemocrata

O Objetivo É Ouvir e Não Mandar

Administração é a Ciência que mais discute questões comodemocracia e eleições, algo que poucas pessoas sabem.

Administração é a Ciência que mais experiências práticas reali-zou em termos de democracia e eleições.

A Ciência Política se restringe a estudar as práticas criadas por120 países, a grande maioria as mesmas.

Mas em Administração pudemos fazer verdadeiras pesquisasem pequena escala.

Já criamos centenas de milhares de formas diferentes de democ-racia nas empresas, mas só vou relatar um aspecto importante, odas eleições.

A grande descoberta nesta área é que o grande problema danossa democracia são as eleições diretas e as campanhas eleitorais.

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Quem é bom administrador de um país normalmente não ébom de voto, e quem é bom de voto não é bom administrador.

Temos exemplos notórios como Jânio, Collor de Mello e opróprio FHC.

Normalmente nas eleições para nossos governantes somos obri-gados a optar entre dois candidatos carismáticos e com um belodiscurso populista, mas sem experiência em administração deempresas muito menos governos.

Ambos prometem milhares de coisas que são incapazes de exe-cutar ou partem para agressões mútuas, dossiês de última hora euma imprensa imparcial.

Nas empresas não temos campanhas sujas, marketing nempromessas eleitorais.

Os candidatos não podem fazer promessas falsas aos acionistas,que por sinal sequer votam.

Acionista não tem condições nem tempo para analisar detal-hadamente os currículos de 6.000 deputados federais, por exem-plo, para saber qual o melhor.

Esta tarefa é delegada e feita por um Conselho de Adminis-tração. Votamos para termos um Conselho, que nos representanesta questão.

Composto por administradores velhos, maduros e já testados,eles é que irão escolher por nós o futuro presidente da empresa.

Este conselho normalmente não escolhe candidatos formadosem Sociologia ou Economia, e sim com experiência prática com-provada e formação profissional correta.

Normalmente é um vice-presidente ou um dos diretores daempresa.

Também não existem partidos políticos nas empresas que bar-ganham votos por cargos.

A Missão do Administrador

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Page 142: A missão do administrador - Stephen Kanitz

Tudo é decidido com base na competência dos candidatos.E eles não precisam ter carisma, somente capacidade de lider-

ança.É isto mais ou menos o que acontece hoje na China, embora

muitos considerem o regime de ditadura de esquerda. Não é.A escolha para presidente da China é feita por um Conselho de

Administração de 400 membros.E os acionistas, fazem o quê?Primeiro, votamos no Conselho de Administração.Mas o mais importante é que temos o poder, sim, de derrubar o

Presidente quando acharmos conveniente.E mais, todo Presidente escolhido pelo Conselho pode ser

demitido de uma hora para a outra convocando-se uma Assem-bleia Extraordinária de Acionistas.

Não é impeachment, é simplesmente mudança de opinião.Eu chamo isto de democracia negativa, temos direito de desti-

tuir quem não desempenhar a contento.A qualquer momento, algo curiosamente negado na maioria das

“democracias”.Quando se descobre que o Presidente mentiu na sua campanha,

que não é competente, na nossa democracia não há nada que sepossa fazer.

Isto é bem diferente do impeachment, onde o Presidente tem queter cometido um crime bem definido.

Existe uma outra arma que muitas vezes é usada, que éo takeover.

Às vezes, o Presidente se mancomuna com o Conselho deAdministração, e a empresa vai de mal a pior.

Nestes casos, um grupo de investidores externos compra as

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ações da empresa a preço de banana e destitui o Conselho deAdministração e toda a Diretoria.

Algo que hoje não ocorre com países nem empresas estatais,porque o controle estatal é de 51% das ações com direito a voto.

Em empresas administradas de forma responsável não existeditador, enganador, incompetente, pelo menos não por muitotempo, respeitando sempre a vontade do acionista.

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O Administrador é UmMediador de Conflitos

Funcionários Infelizes Não Criam Grandes Empresas

A maioria dos nossos intelectuais ainda acredita que o mundo écontrolado por “empresários”, pelos “donos do poder”, por uma“classe dominante” preocupada exclusivamente em maximizarlucros e com seus próprios interesses.

Este talvez seja o maior problema do administrador brasileiro.Nosso intelectuais e nossos jornalistas associam admin-

istradores como sendo parte desta “classe dominante que precisa sereliminada”, junto com os empresários como reza o marxismo.

Infelizmente Marx nunca conversou com um único admin-istrador na época.

Apesar de ser sobrinho de Lion Philips, o fundador da Philips.Mas hoje, 150 anos depois, é um insulto à inteligência, aos novos

estudantes que aprendem marxismo nas escolas, e à de todos nósadministradores formados deste país desconhecer a revolução

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bem sucedida que se concretizou no século XX no mundo inteiro.A Administração Socialmente Responsável.

Fruto dessa revolução, iniciada pela Harvard Business Schoolem 1912, administradores profissionais literalmente tomaram opoder das empresas, sem derramamento de sangue, sem guerrilhase emboscadas, conseguindo a derrota definitiva dos empresários,o grande sonho de Karl Marx.

Hoje nos Estados Unidos os “donos do capital” não adminis-tram as suas próprias empresas.

Inclusive o termo Empresário continuadamente usado no Brasilé justamente este dono do capital que também administra a suaprópria empresa.

Enquanto marxistas querem destruir o empresário e o capital,nós Administradores Socialmente Responsáveis sem alarde fomostomando o poder destes empresários, pulverizando seu capital,criando Fundos de Pensão de Trabalhadores que iam comprandolentamente as ações dos empresários, e dezenas de outras medidasnão revolucionárias nos termos marxistas.

Pelo contrário, criamos Fundações Filantrópicas para osherdeiros ricos destes empresários, dando um novo significadopara a vida deles.

Hoje nem temos mais capitalistas na definição de Karl Marx,o que temos são milhares e milhares de acionistas, a maioriaminoritários, que não têm poder de mando nas suas empresas.

Pequenos acionistas não podem pedir ao presidente da empresapara contratar um filho ou parente, pois sequer será recebido.

Pequeno acionista não pode pedir para o Departamento de RHcontratar sua amante ou moça bonita, para então abusar sexual-mente como até hoje acreditam tantos intelectuais marxistas.

Fica bem claro para mim, que é o marxismo brasileiro que

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impede o crescimento do movimento da Administração Social-mente Responsável, e quero deixar bem claro que não sou alguémde direita atacando Karl Marx, pelo contrário.

Sou alguém de esquerda que quer implantar uma esquerda efi-ciente, responsável e social, que atenda os interesses dos Stake-holders da empresa, e não somente dos Stockholders visão da direita,dos Trabalhadores de Chão de Fábrica, visão da esquerda, ou doEstado, visão dos nacional-socialistas do Brasil.

Voltei de Harvard determinado para implantar esta nova formade pensar, uma das razões pela qual logo procurei a RevistaExame, e me tornei parte do conselho editorial.

Mas minha maior dificuldade foi convencer os jornalistas petis-tas, o mais conhecido hoje sendo Rui Falcão, por 10 anosSecretário de Redação, que não queria ouvir nada que melhorasseo capitalismo, porque isto impediria a vinda do nacional-social-ismo, a ideologia que reina hoje no Brasil, desde Getúlio Vargas.

Slavoj Zizek que parece ter lido praticamente todos os livros domundo, não leu Peter Drucker.

A verdade é que ao longo do século XX, os empresários domundo inteiro foram sendo lentamente substituídos por umgrupo de revolucionários que, sem derramamento de sangue,tomaram o poder das empresas.

Refiro-me aos novos protagonistas da história, os admin-istradores profissionais, pessoas especialmente treinadas paraconciliar os interesses conflitantes entre clientes, fornecedores,acionistas, trabalhadores, ecologistas, ONGs e governo.

O acionista majoritário, o famoso “empresário”, deixou de sero todo-poderoso, aquele gestor que administrava sua empresa emcausa própria e de sua família, à custa dos demais, o chamadoStockholder.

Stephen Kanitz

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O novo tipo de empresa que administradores criaram é aempresa de “capital aberto” com milhares de acionistas que ofere-cem sua poupança como “capital social” para a sociedade.

Essas empresas, listadas em bolsa, não têm dono, no sentidotípico da palavra. O administrador socialmente responsável nãotem o Stockholder como meta, mas sim o Stakeholder, todos os quetêm interesse na perpetuação sustentável da empresa. Trabal-hador, cliente, fornecedor e o acionista, nesta ordem.

Esses revolucionários humanizaram as empresas, tornando-associalmente responsáveis, valorizaram fornecedores, clientes etrabalhadores.

O objetivo da empresa passou a ser servir à sociedade em geral,e não servir aos interesses de uma única família ou do Estado, atodo custo.

Administradores não são de direita nem de esquerda, nãodefendem exclusivamente capitalistas ou somente os trabal-hadores em detrimento dos demais Stakeholders.

A preocupação é sempre defender o todo. Ao contrário do queacreditam acadêmicos e os intelectuais, administradores não max-imizam lucros.

Eles habilmente deixam os acionistas “satisfeitos”, com afamosa fórmula de “dividendos mínimos”, sistemáticos e cres-centes, que aprendemos no primeiro ano da faculdade de admin-istração.

Clientes, governo, trabalhadores, acionistas e fornecedores,porém, têm interesses conflitantes, que precisam ser adequada-mente resolvidos por um mediador, que é a função política e mod-erna do administrador. O administrador como político.

Quando um desses grupos domina os demais, cessam a cooper-ação e o crescimento da empresa.

A Missão do Administrador

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Foi o que ocorreu com as estatais dominadas pelo Estado, comoa Varig dominada pelos funcionários, e com muitas empresasfamiliares comandadas pelo grupo majoritário.

Aí, uma das partes da equação sempre controlará a empresapensando em seu próprio interesse, em detrimento das demais.

A função do administrador é justamente manter esses gruposheterogêneos nos seus devidos lugares.

Um administrador de empresas é antes de tudo um hábilpolítico, um líder, um mediador e conciliador de conflitos.

Ele sabe conciliar como ninguém as forças difusas e conflitantesque garantem o sucesso de uma empresa. São políticos que enten-dem de administração, ao contrário do que temos por aí.

Em vez de torcer para que o próximo Congresso tenha deputa-dos que possam eventualmente entender de administração, vamoseleger administradores que já entendam de política.

Stephen Kanitz

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Administradores ouRevolucionários ?

Melhorias Constantes Funcionam Mais Do Que UmaÚnica Revolução

Por que alguém se tornaria guerrilheiro ou guerrilheira se suaintenção é melhorar o mundo?

Por que alguém lutaria para mudar tudo que está aí causandouma enorme confusão, pelo menos inicial?

Por que temos tantos acadêmicos, sociólogos, economistas,cientistas políticos que sonham com um mundo melhor, maspregam o uso da violência, da luta armada, para chegar ao futuroque imaginam?

E por que acabam a maioria no fim da vida frustados e mal-humorados?

Revolucionários normalmente são pessoas com reduzido con-hecimento administrativo.

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Page 150: A missão do administrador - Stephen Kanitz

Lidam mal com pessoas, são tímidos, têm dificuldade de contro-lar a sua raiva, são mandões por excelência.

Como não sabem lidar bem com o presente, vivem mais numfuturo utópico.

Administradores raramente são revolucionários.Nenhum administrador famoso foi guerrilheiro na juventude,

apesar de discordar de muita coisa e também querer melhorar omundo.

Administradores conseguem melhorias pequenas, mas con-stantemente.

Conseguem rapidamente colocar o que acreditam em prática.De pequeno em pequeno resultado vão longe.

Administradores acreditam que se o presente for corretamenteadministrado, o futuro se desenrolará melhor do que se imagina.

A maioria das experiências utópicas que foram implantadas,sejam comunitárias ou políticas, fracassaram por má adminis-tração.

Veja Cuba, Coreia do Norte, União Soviética e o governoDilma.

Pena que os movimentos de esquerda nunca perceberam isto,nunca se associaram com administradores, especialmente ossocialmente responsáveis.

Esta é uma tese complicada de provar num único artigo, masvou dar um exemplo vindo da medicina.

Os melhores cirurgiões são aqueles que fazem a mesmíssimacirurgia todo dia, com a mesmíssima equipe, uma repetição de dardó.

Mas devido a estas repetições, eles conhecem instintivamenteos 450 procedimentos que precisam ser corretamente executadosnuma cirurgia de tórax, por exemplo.

Stephen Kanitz

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Page 151: A missão do administrador - Stephen Kanitz

Não ficam nervosos ou preocupados com cada uma das etapas,sabem administrar a cirurgia perfeitamente.

Isto permite que o cérebro pense em outras coisas. A cirurgiaem questão tiram de letra.

Uma das coisas em que eles pensam é justamente no futuro.Pensam no que pode dar errado na próxima etapa da cirurgia,

se antecipam mentalmente. Percebem as diferenças particularesdaquele paciente, e onde devem tomar mais cuidado do que ousual.

Vou pedir já um cateter extra, neste caso poderei precisar dele numaemergência.

Por isto acreditamos que com uma administração correta dopresente, o futuro será positivo sem necessidade de revoluções.

Quem está atolado com problemas no presente não tem tempopara pensar no futuro. Muito menos planejar o passo seguinte.

Bons cozinheiros sabem disto, engenheiros idem.O problema do Brasil é que nossos partidos de esquerda e os

que sobraram de direita, ouvem todo mundo, menos os admin-istradores, e que muitos por ideologia odeiam.

E as boas intenções dos revolucionários de esquerda viram estabagunça que aí está. Como ocorreu na União Soviética, China,Cuba, Bolívia e Venezuela.

E continuará por mais 20 anos. Até hoje a Rússia não desen-volveu escolas de Administração.

Não existe um livro de administração escrito por um russosobre como administrar enormes empresas, que foi a especiali-dade da Rússia de 1917 até 1980. Agora, eles teriam sido grandesconsultores de megaempresas do Ocidente, mas administradoressequer existiam.

Países que dão certo precisam de administradores que inovem

A Missão do Administrador

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constantemente, e não de revolucionários que reviram tudo edepois se estagnam para sempre.

Contamos com você para convencer seus colegas revolu-cionários de que eles precisam de você.

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Existem Administradoresde Esquerda

Os Adeptos da Administração Socialmente Responsável

Em 500 anos de história nunca tivemos equipes de admin-istradores elaborando programas de governo, muito menos osimplantando.

Quando elogiei uma declaração de Dilma Rousseff, em VEJAde 21 de março de 2007, usei a expressão “administradores deesquerda”, que intrigou muita gente.

Principalmente aqueles que pensam que só existem admin-istradores de direita.

Achar que só existem administradores de direita no mundo éum preconceito e um insulto aos dois milhões de administradoresdeste país.

Para começar, administração é uma ciência neutra, como aengenharia e a medicina.

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O que não impede que haja administradores de direita, deesquerda e de centro-esquerda, como de fato acontece.

Em segundo lugar, há tempos existe no Brasil a carreira deadministração pública, que de direita não tem nada.

De fato, administradores de direita são encontrados em empre-sas controladas por empresários de direita.

Mas a maioria dos administradores é de centro e centro-esquerda, embora nem todos se definam assim.

São aqueles que administram empresas “sem dono”, são aquelesque administram empresas de capital aberto e democrático, são osadministradores socialmente responsáveis, que estão crescendoem número e poder.

Foram eles que lutaram pela pulverização do capital, enfraque-cendo assim o controlador capitalista, que foi a primeira ação daesquerda de fato vitoriosa.

Foram os primeiros a criar fundos de aposentadoria para trabal-hadores, que hoje controlam 40% do capital americano.

Foram os primeiros a criar planos de saúde aos trabalhadores.Foram os precursores do movimento de responsabilidade social

das empresas brasileiras.No 3° Congresso Internacional de Responsabilidade Social de

1998, havia somente três administradores representando o Brasil.Este que escreve, o administrador Oded Grajew, criador do

Instituto Ethos de Responsabilidade Social, e Henrique Meirelles,mais um desses administradores (do Coppead, Instituto dePesquisa e Pós-Graduação em Administração de Empresas daUniversidade Federal do Rio de Janeiro)

Um dos grandes erros da Revolução Socialista de 1917 foi queela eliminou, destituiu e expulsou todos os administradores daUnião Soviética.

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Dizimaram o segundo escalão da nação. Machiavel, lembre-se,recomendava eliminar somente o primeiro escalão.

“Em meados de abril de 1918 os administradores haviam sido total-mente eliminados“, orgulha-se um historiador da revolução de 1917,já que eles eram considerados lacaios do capitalismo.

Acabaram também com todos os gerentes, supervisores, chefesde seção, bem como contadores e auditores, considerados“espiões” do capitalismo.

O restante fugiu a tempo.Os socialistas e os marxistas incentivaram a autogestão, porque

segundo a doutrina os administradores não acrescentam valoralgum à sociedade.

Os trabalhadores autogestores imediatamente destruíram ossistemas de avaliação de desempenho, e a produção na UniãoSoviética despencou logo em seguida.

Foi esse erro que deu início à desorganização, ineficiência e cor-rupção que ainda persiste na Rússia.

O erro foi esquecer que o socialismo precisa ser tão bem admin-istrado quanto o capitalismo.

Algo que muitos intelectuais brasileiros também esqueceram.Muitos nem sequer conhecem um único administrador.Nos Estados Unidos, a esquerda americana encabeçada por

Harvard fazia justamente o contrário.Criava uma escola de administração em 1908 para formar e

apoiar o “administrador socialmente responsável”.Incentivaram e deram prestígio àqueles que fariam oposição ao

empresariado capitalista da época.Infelizmente, o Brasil seguiu a linha da esquerda soviética e não

a da esquerda americana.Nossos intelectuais, em vez de apoiar, demonizam o admin-

A Missão do Administrador

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Page 156: A missão do administrador - Stephen Kanitz

istrador nos seus textos, na mídia, nas novelas, retratando-oscomo fordistas, desumanos e “lacaios do capitalismo“.

Movimentos sociais que alijam administradores do seu seioestão fadados ao fracasso.

Por incrível que pareça, nunca tivemos equipes de admin-istradores elaborando programas de governo, em 500 anos dehistória.

A esquerda raramente coloca administradores de esquerda ecentro-esquerda para ministros, para administrar este país.

Algo que a esquerda brasileira, a mais moderna pelo menos,deveria seriamente repensar.

Enfrentamos a oposição da direita, que não quer admin-istradores profissionais e sim seus filhos tocando o capital socialdas suas empresas, e temos, por incrível que pareça, a esquerdabrasileira que também não quer um país transparente e eficiente.

Esta é a principal razão pela qual a Administração não é umaprofissão devidamente valorizada, apesar de ser a profissão maisprocurada pela nova geração.

Escrevi este livro pensando em vocês, fornecendo argumentospara vocês conseguirem o que eu infelizmente não consegui.

“Administradores de Esquerda”, acabou sendo meu últimoartigo na Veja.

Nem permitiram despedir-me dos meus queridos leitores. Aoposição da direita e da esquerda é dura e violenta.

Preparem-se devidamente, mas o Brasil depende de vocês paramudar este preconceito idiota por parte de ambos.

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Administrar é Cuidar doCapital Social da Sociedade

O Capital Social Pertence à Sociedade e Não aosCapitalistas, Enquanto Empresa

Uma única inovação ocorrida no século XV teve enorme influên-cia para o progresso, a inclusão social e a redução da pobreza.

Foi a invenção do conceito de CCaapipitaltal SociaSocial pelo frei Luca Paci-oli, o criador da Contabilidade.

Esse conceito perdura até hoje em todos os contratos sociais enas demonstrações financeiras das empresas brasileiras.

Antes de Luca Pacioli, um comerciante ou produtor que nãopagasse suas dívidas poderia ter todos os bens pessoais, comocasa, móveis e poupança, arrestados por um juiz ou credor.

Ele perdia não somente a sua empresa, mas sua casa e todos osseus bens pessoais. Isto mesmo.

Só um louco varrido abria uma empresa para gerar produção eemprego para os outros.

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Por isso na época, todo mundo produzia somente para si.Reinava o egoísmo total.

Produzir para os outros como se faz atualmente, nem pensar.O conceito de Capital Social de Luca Pacioli mudou tudo isto.Permitiu que legisladores e advogados criassem o conceito de

empresa de Responsabilidade Limitada.Depois desta inovação administrativa e contábil, se você mon-

tasse um negócio sua responsabilidade ou “desgraça” ficaria lim-itada ao Capital Social que tivesse colocado na empresa, e nãoabrangeria a totalidade dos seus bens pessoais, como antes.

Funcionava mais ou menos assim.Você abria uma empresa com Capital Social de R$ 100.000,00.Isto é divulgado, e diz a todos seus futuros funcionários e

fornecedores o seguinte:“Eu não sou um empresário perfeito, cometo erros como todos vocês.

Vou cometer erros sim, e estou colocando estes R$ 100.000,00 comogarantia dos meus possíveis erros. Se eu falir e não puder pagar a mer-cadoria ou os salários, eu me responsabilizo sim pelos meus erros, massomente até R$ 100.000,00, nada mais.

“Se vocês acharem que estes R$ 100.000,00 é pouco, não trabalhempara mim, não me vendam matéria prima. Mas se aceitarem, pago pelosmeus erros, até R$ 100.000,00 e não reclamem depois se meu erro formaior, porque minha casa e meus bens pessoais não entram neste negó-cio que estou tentando montar.”

Milhares de pessoas com competência administrativa eempreendedora começaram a abrir empresas muito mais tranqui-los, e começaram a produzir para os outros e não somente para si.

Passaram a produzir muito mais barato do que as pessoas indi-vidualmente e artesanalmente, passando a empregar trabal-hadores até então desempregados.

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Desde então, o mundo não para de se desenvolver, com exceçãoda América Latina que ainda não entendeu o conceito.

O Capital Social é o capital que os acionistas oferecem àsociedade para garantir que empregados e fornecedores recebamno final do mês.

Diferentemente do que se ensina nos cursos de Marxismo, ocapital não pertence aos acionistas, e sim à sociedade – daí o termosocial.

Os contadores e técnicos de contabilidade vão concordarcomigo, pois eles colocam o Capital Social numa categoriachamada “nã“nãoo eexixigígívveell””, justamente porque são dívidas que nãopodem ser “exigidas” pelos acionistas enquanto a companhia exi-stir.

O Capital Social que acionistas colocam nas empresas paragarantir os outros pertence à sociedade e não aos capitalistas,enquanto empresa.

Repito, o capital é Social. Pertence à sociedade e não aosacionistas.

Estes somente têm o “direito” de reaver o capital se a empresafechar. Se a empresa quebrar, o Capital Social vai para os Stake-holders não para os Stockholders.

A ironia do Capitalismo, algo que os socialistas de estado e osmarxistas nunca perceberam, é que como empresa rentável nuncafecha, o Capital do capitalismo nunca volta para os capitalistas.

Duzentas mil famílias brasileiras compraram nos últimos anosações da Gol, Dasa, Copasa, Porto Seguro, Rossi, Gafisa, OHL,Iochpe, Grendene, Natura, Cyrela, Cosan, UOL.

Talvez não saibam, mas nunca mais verão a cor daquele din-heiro.

A Missão do Administrador

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Essas empresas jamais devolverão o dinheiro “investido”,porque ele agora faz parte do seu Capital Social.

Essas famílias se juntaram a mais outros dois milhões de investi-dores altruístas que ofereceram sua suada poupança à sociedadebrasileira, subscrevendo o capital social da Petrobras, Banco doBrasil, Vale, Telesp, Eletrobras, e assim por diante.

Se precisarem deste dinheiro de volta, todos estes investidoresnão poderão procurar as empresas em que investiram.

Elas jamais irão devolver o dinheiro investido. Isto mesmo, istoé Capitalismo Social minha gente.

Estes investidores terão de torcer para que alguma alma cari-dosa ou tão altruísta como eles compre esses seus “direitos nãoexigíveis” no pregão da Bolsa de Valores de São Paulo.

Terão de arrumar um outro “garantidor” para substituí-los, eexercer esta nobre função.

Em troca de oferecer capital social à sociedade, você fará jus auns míseros dividendos de 3% ao ano, e em 33 anos você terá seudinheiro de volta.

Isso se a empresa não quebrar ao longo do caminho.Aí seu “capital social”, ou o que sobrar dele, será distribuído aos

trabalhadores e fornecedores e você não receberá absolutamentenada.

A maioria dos intelectuais da América Latina ainda conclamaseus alunos a lutar pela completa “destruição do capital” do mundo.

Muitos cientistas políticos e sociólogos usam o termo Capital,sonegando o termo correto Capital Social, uma tentativa deliber-ada de confundir o leitor.

A missão do administrador, entre tantas outras, é a de adminis-trar bem o Capital Social a serviço da sociedade.

Nada mais nobre do que isto.

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Part III

O Futuro

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Administração Tem Que SerDivertida

Empresas Onde Só o Dono se Diverte Já Eram

Por 25 anos analisei as 1.000 maiores empresas do Brasil, e muitosprofessores de administração me perguntam como eu classificariaas companhias brasileiras com base nessa experiência.

Daria um livro, mas resumindo em uma única página diria queexistem cinco tipos de empresas no país.

A empresa Tipo AA é aquela na qual somente o dono se diverte.A empresa familiar por excelência.

A empresa do Empresário.Tudo gira em torno dele, tudo é feito do jeito dele.Ele é o verdadeiro Deus de sua companhia e assim consegue

implantar rapidamente sua visão do negócio.É o “empresário bem-sucedido” que aparece em capa de revis-

tas, invariavelmente sozinho.É o dono da verdade, de tudo e de todos.

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Não preciso dizer que os demais integrantes dessas empresasnão se divertem nem um pouco, não é esse o objetivo da empresafamiliar.

A empresa Tipo BB é aquela em que somente os filhos do dono sedivertem.

O pai, com 75 anos, ainda a controla com mão-de-ferro, mas issojá não é tão fácil como antigamente.

Ele está ficando gagá e nunca quis fazer a transição de umaempresa familiar para uma profissional, contratando admin-istradores, e muito menos entregar a companhia aos filhos.

Para manter-se no poder e deixar seus filhos já com 40 anosfelizes, comprou-lhes iates e BMWs e deu-lhes cargos no conselhopara fazer absolutamente nada.

Não conseguindo salário compatível em nenhuma outraempresa por serem incompetentes, estes filhos se tornam resigna-dos e se deleitam fazendo cruzeiros mundo afora.

No fundo, são os únicos que se divertem. O empresário gagá jánão.

A empresa Tipo CC é aquela onde ninguém mais se diverte.O pai finalmente morreu sem deixar uma equipe de admin-

istradores profissionais.E a empresa vai de mal a pior.Os filhos chamados às pressas do iate no Caribe começam a

brigar entre si sobre as questões administrativas a serem tomadas.Óbvio, porque só entendem de iates e BMWs.E aí nossa elite empresarial não entende por que todos os

empregados, trabalhadores e sindicalistas de empresas A, B e Csão de esquerda e por que temos tantos intelectuais e professoresde filosofia marxistas querendo acabar com tudo isso que está aí.

A empresa Tipo DD é aquela na qual todo mundo se diverte.

A Missão do Administrador

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Ela não tem um único dono, é uma associação coletiva depequenos acionistas, a maioria formada de trabalhadores daprópria empresa, fundos de pensão de trabalhadores, da classemédia, de médicos e engenheiros, poupando para a aposentadoria,para não depender do salário dos filhos.

São as empresas de capital democrático, em que não há açõessem direito a voto, onde todos votam, como essas companhias lis-tadas no novo mercado transacionadas todo dia na Bovespa.

São administradas por administradores testados, escolhidospela sua competência no setor.

Empresas tipo D são a concretização moderna do sonho de KarlMarx, nas quais trabalhadores e consumidores são acionistas dire-tos das empresas em que trabalham ou compram, detendo assimos meios de produção.

O mundo marxista que quer os meios de produção estatizadosna mão de brilhantes economistas, não é marxismo e sim fascismo.

Normalmente, o presidente dessas empresas é um admin-istrador profissional, funcionário demissível a qualquer momento,como todos os outros.

Nada de cargo vitalício como nas empresas dos tipos A, B e Cnem indicações por apadrinhamento político como nas empresasTipo G, G de governo.

O presidente dessas companhias é escolhido pela competênciaadministrativa, e não pelo parentesco familiar ou loteamentopolítico.

Como esse administrador depende da cooperação de todos paramanter-se no poder, a opinião geral é ouvida, todo mundo fazparte da solução, ele acredita no trabalho de equipe.

As ideias de todos são desejadas e levadas a sério.Nessas empresas, o presidente não destrata nem desrespeita os

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subordinados, jamais berra em público, não é o dono da verdade,caso contrário não sobreviveria.

São empresas preocupadas com o social, e não somente com obolso do acionista controlador, que nessas empresas nem existe.

O D é de Divertido, Diversificado e Democrático.São empresas como a Google, Apple, Twitter.São as empresas das listas “Melhores Companhias para Trabal-

har no Brasil”, infelizmente muito raras devido à proliferação deempresas dos tipos A, B, C e G.

Mas empresas Tipo D estão sendo criadas todo dia.Um outro mundo é possível, mais democrático, mais bem

administrado, mais includente, mais socialmente responsável emuito mais divertido.

A Missão do Administrador

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A Importância de UmaVisão do Futuro

Vivemos Para o Futuro, Não Para o Presente

Nosso maior problema como prisioneiros de guerra“, diz Viktor Franklno seu livro “O Significado da Vida”, “era não ter uma visão defuturo“.

Ao contrário de presos comuns, não havia para um prisioneirode guerra uma data certa para a liberdade.

Isto gerava consequências trágicas.Muitos prisioneiros de guerra achavam que seriam libertados

antes do Natal de 1944, porque as Forças Inglesas e Americanas jáhaviam desembarcado na Normândia.

Mas o Natal passou e a guerra somente acabaria em Junhode 1945.

Decepcionados e desiludidos, centenas de prisioneiros mor-reram logo depois do Natal, sem explicação, numa frequênciaduas vezes o estatisticamente normal.

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SimSimppllesmesmenentete ddesistiesistiramram ddee vivivverer porpor aacchaharemrem qqueue nãnãoo tinhamtinhammais futuromais futuro. Erra. Erraram por alram por alguns mguns meses.eses.

Nos últimos 30 anos, nossos filhos têm sido bombardeadospelos nossos intelectuais, imprensa e professores universitáriosque nosso país não tem futuro.

Nos inúmeros textos escritos por intelectuais para as comemo-rações dos 500 anos do Descobrimento emem vvezez ddee oolhalharmrmosos papararaumum futurofuturo aa fazerfazer,, usaram a ocasião para mostrar que nem passadotínhamos.

Intelectuais nos lembraram que somos um país de corruptos portermos sido colonizados por desterrados e criminosos, mas nuncarevelam que nossas Universidades Públicas contratam mais pro-fessores de Sociologia e Política do que professores de Auditoria eFiscalização.

A USP tem um único professor de Auditoria, consequência daLei do Economista de 1945, Lei 7988, que mandou fechar a partirde 1946 todas as escolas de Administração deste país.

E no curso de Economia, recém-criado, não se ensina Auditorianem Fiscalização.

E de lá para cá perdemos a nossa VVisãisãoo ddee FFuturouturo do admin-istrador, do advogado, do engenheiro, do empresário, doempreendedor e passamos a ser dominados pela visão de futurodo Economista, o único entrevistado pela imprensa sobre estaquestão.

A Revista Veja, dos quatro colunistas fixos, três são economis-tas, Maílson da Nóbrega, Cláudio de Moura Castro e GustavoIoschpe, os dois últimos falando de Educação para o futuro.

Para o economista, o futuro é para ser previsto e evitado quandofor ruim. Aumenta-se os juros, reduz-se o câmbio, aumenta-se osgastos públicos dependendo do que se “vê” pela frente.

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Para o administrador, o advogado, o engenheiro, o empresário,o empreendedor, o futuro é para ser feito, com suor, lágrimas e tra-balho, não simplesmente previsto com “modelos estatísticos”.

O futuro é nosso para ser criado da forma que desejamos, não“esperado” num Deus que o dará pela bola de cristal.

O Japão e a Alemanha do pós-guerra não pautaram sua recon-strução em previsões econométricas porque sequer tinham maisuma economia para ser prevista.

Decidiram construiconstruirr seu novo futuro ao ponto que suplantaramseus vencedores, a Inglaterra e os Estados Unidos, tal o poderdesta postura perante o futuro.

Precisamos resgatar a visão de futuro dos engenheiros, doscarpinteiros, empreendedores, advogados e administradores erejeitar de vez a visão niilista dos previsores do futuro, que pre-veem o futuro da volatilidade, do câmbio, do juro para poderespecular, e das previsões de curto prazo que levam a nada.

Ficamos tão preocupados com as marolas que esquecemos dever as ilhas do horizonte.

Administradores muitas vezes quebram a cara não conseguindofazer o que pretendiam, nem sempre criam empresas de sucessocomo gostariam.

Mas a favor dos administradores, eles têm o mérito de ter pelomenos tentado.

Tentado fazer, em vez de simplesmente tentado prever, sentadosem cátedras acadêmicas com suas redomas de vidro.

Única forma de devolver aos nossos filhos um sentido para suasvidas é mostrar que existe uma outra visão de mundo, de açãoconstrutiva e não de especulação.

A missão do administrador, e de muitas outras profissões, éfazer o futuro, como o queremos.

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Chegamos na Era doAdministrador, Finalmente

Lentamente os Donos Capitalistas Estão SendoSubstituídos por Administradores

Por que os Estados Unidos são o país mais bem-sucedido domundo?

Por que são um país que resolveu o problema da miséria e daestagnação econômica, ao contrário do Brasil?

O segredo americano, que você jamais encontrará em nenhumlivro de economia, é que os Estados Unidos são um país bemadministrado, um país administrado por profissionais.

DezenDezenoovvee porpor cencentoto ddosos gragradduauaddosos ddee uniunivversiersidadaddeses amameri-eri-canas sãcanas são fo formaormaddos em aos em administradministraçãçãoo..

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Administração é a profissão mais frequente, e portanto a que dá otom ao resto da nação.

Engenheiros fazem MBA, advogados fazem MBA, economistascomo Michael Porter fazem MBA, o que os tornam pessoas queconseguem tirar projetos do papel.

Como eles se encontram finalmente juntos numa sala de aula,criam empresas das mais variadas do que escritórios de advocacia,consultorias de economia e escritórios de engenharia.

Infelizmente, o Brasil nunca foi bem administrado.Sempre fomos “administrados” por profissionais de outras

áreas, desde nossas empresas até o governo.Até recentemente, tínhamos somente quatro cursos de pós-

graduação em administração, um absurdo!De 1832 a 1964 a profissão mais frequente no Brasil era a de advo-

gado, e foi essa a profissão que exerceu a maior influência no país.

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Tanto que nos deu a maioria de nossos presidentes até 1964.A revolução de 1964 acabou com a era do advogado e a legali-

dade.O Brasil já tem 2.300 cursos de administração, contra 350 em

1994.Estamos logo depois dos Estados Unidos e da Índia.Administração já é hoje a profissão mais frequente deste país,

com 18% dos formandos.Antes, nossos gênios escolhiam medicina, direito e engenharia.

Agora escolhem medicina, administração e direito, nessa ordem.Há dez anos tínhamos apenas 200.000 administradores, e só 5%

das empresas contavam com um profissional para tocá-las.O resto era dirigido por “empresários” que aprendiam admin-

istração no tapa. Como o Sandoval do Panamericano e seu livro“Aprendendo Fazendo”. O custo de aprendizado quebrou obanco.

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Por isso, até hoje 50% das empresas brasileiras quebram nos doisprimeiros anos e metade de nosso capital inicial vira pó. E por istoos juros são caros, a inadimplência é elevada.

O que o aumento da participação dos administradores na gestãodas empresas significará para o Brasil?

Uma nova era que poderia ser muito promissora.Finalmente poderíamos ser administrados por profissionais, e

não por amadores.Daqui para a frente, 75% das empresas poderia não quebrar nos

primeiros quatro anos de vida, e nossos investimentos poderiamgerar empregos, e não falências.

Temos hoje mais do que milhões de administradores formados,e se cada um empregar vinte pessoas haverá 40 milhões de empre-gos novos. Será o fim da exclusão social.

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Administradores nunca foram ouvidos por políticos, e deputadosnem concorriam a cargos públicos.

A maioria dos nossos ministros e governantes aprendia admin-istração no próprio cargo, errando a um custo social imenso para anação.

Foi-se o tempo em que o mundo era simples e não havia neces-sidade de ter um curso de administração para ser um bom admin-istrador.

Não quero exagerar a importância dos administradores, massomente lembrar que eles são o elo que faltava.

Ordem não gera progresso, estabilidade econômica não geracrescimento de forma espontânea, sempre há a necessidade de umcatalisador.

Não será uma transição fácil, pois as classes dominantes nãoaceitam dividir o poder que tem.

Administradores têm pouco espaço na imprensa para defendersuas ideias e soluções.

Em pleno século XXI, eu era um dos raros administradores comuma coluna na grande imprensa brasileira, a Veja, e mesmo assimmensal.

Peter Drucker desde 1950 tinha uma coluna semanal em dezenasde jornais americanos, ele e mais trinta gurus da administração.

Administradores têm outra forma de encarar o mundo.Eles lutam para criar a riqueza que ainda não temos.Economistas e intelectuais lutam para distribuir a pouca riqueza

que conseguimos criar, o que só tem gerado mais impostos e maispobreza.

Se esses dois milhões de jovens administradores que vêm por aíocuparem o espaço político que merecem, seremos finalmente umpaís bem administrado, com 500 anos de atraso.

A Missão do Administrador

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Desejo a todos coragem e boa sorte.Tem muita gente interessada num país mal administrado, onde

é mais fácil corromper e ser corrompido.

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A Nova SociedadeBrasileira

O Antigo Intelectual se Vê Cada Vez Mais Marginalizadoda História

Bernardo Sorj escreveu recentemente um excelente livro intitu-lado A Nova Sociedade Brasileira, que vale a pena ser lido.

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Ele mostra uma quebra de paradigma que está ocorrendo.Como Bernardo é sociólogo, prefiro que vocês leiam dele estas

previsões.“A intelectualidade e os cientistas sociais ocuparam nos últimos 50

anos um lugar singular como formadores de projetos para o Estadonacional.

Com a democratização esse grupo foi enormemente reduzido.Os antigos intelectuais ligados a projetos liderados pelo Estado, geral-

Stephen Kanitz

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mente economistas, sociólogos, cientistas e antropólogos continuam aocupar um lugar importante no debate político pois a sociedadebrasileira apresenta problemas sociais de tal monta que continuamnecessários.”

Foram estes intelectuais, devo salientar, que financiaram osdeficit públicos com emissão de moeda que iniciou nosso processoinflacionário.

Depois cobriram estes deficit endividando o estado até ainsolvência, e nestes últimos dez anos cobriram estes deficitsobrando a carga tributária para estes atuais 45%.

Deficit públicos eram gerados porque estes intelectuais queriamacelerar o curso da história, nas quais eles eram os protagonistasinfalíveis.

Os deficit de hoje seriam cobertos com os superavit de amanhã,algo que não aconteceu.

Neste 50 anos em vez de crescer mais rapidamente com estaspolíticas públicas, crescemos mais lentamente, poderíamos hojeter uma renda per capita o dobro da que temos hoje.

Some-se que nossa carga tributária retira a metade do que gan-hamos, o que não ocorria 50 anos atrás antes que estes intelectuaisdominaram o estado e temos o seguinte.

Ou seja, poderíamos estar hoje com uma renda per capita prati-camente quatro vezes maior, duas pelo crescimento que não ocor-reu e praticamente o dobro se não existissem estes impostos emnome do social.

Pergunta: Teríamos este nível de problemas sociais se a rendafosse quatro vezes maior?

Estes números não ficarão escondidos da população para sem-pre, e quanto mais pessoas mostrarem os fatos reais, estes econo-

A Missão do Administrador

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mistas, sociólogos e cientistas perderão cada vez mais o seu espaçopúblico.

No que Sorj parece concordar.“Se o antigo intelectual se vê cada vez mais marginalizado do palco

da história, novas categorias de legisladores ocupam novos espaços.1. Administradores de empresas, formados por cursos de administração

que apropriaram do discurso e da clientela estudantil que anteriormentebuscava as Ciências Sociais.

2. Dirigentes de movimentos sociais e ONGs.3. Técnicos de grandes burocracias, desde promotores de globalização

a defensores dos direitos das crianças.”Pela análise de Sorj, dá também para antever que esta mudança

não será fácil, os intelectuais encastelados irão lutar com unhas edentes para manter o poder.

Vocês estão preparados, e dispostos a lutar pelo bem do Brasil?O Brasil espera que sim.

Stephen Kanitz

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O Administrador Como UmPolítico

Precisamos Atender os Interesses de Todos e Não dosAcionistas Exclusivamente

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Muita gente esclarecida neste país, intelectuais e professoresuniversitários, acredita que o mundo é controlado porempresários, donos do capital, oligarcas e arrogantes.

Existem no mundo poucos empresários, definidos como admin-istradores, que controlam suas empresas por serem donos do cap-ital.

Hoje quem manda nas empresas globais são administradores.Administradores profissionais treinados para conciliar osenormes conflitos que existem entre clientes, fornecedores,acionistas, trabalhadores, ecologistas e governo.

O sucesso de uma empresa moderna depende da capacidadede seus administradores conciliar esta gama de interesses confli-tantes, que os americanos chamam de “stakeholders“.

Um trabalhador e um fornecedor também investem na empresada mesma forma que um acionista, embora antigamente isto nãofosse tão claro.

Por isto a missão do administrador moderno é ser um político,ele tem de saber dosar e manter unido este grupo de interessesconflitantes.

A grande crítica que se fazia ao capitalismo de 1890, é que ospróprios capitalistas eram os administradores, como ocorre emmuita empresa familiar brasileira.

E aí fica difícil a conciliação.Um dos elos, os acionistas, sempre ganhava na disputa com os

demais.Sempre que um dos participantes controla a empresa, este par-

ticipante defende seus interesses em prejuízo dos demais.Veja o que ocorreu com a Varig, uma empresa não controlada

pelos capitalistas, mas pelos empregados.

Stephen Kanitz

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Ou seja, quando um dos elos controla a empresa pensandosomente nos seus interesses.

O bom administrador tentará agradar a todos os elos de umaempresa e não somente o capitalista ou acionista.

Foi justamente esta separação do capitalista e do administrador,antes unificados num único indivíduo arrogante, que permitiureduzir os conflitos empresariais que os socialistas tanto detestam,e com razão.

O administrador não defende o acionista em detrimento dosoutros.

A solução socialista, ao entregar a gerência da empresa a um dos“stakeholders” neste caso o Governo, acabou criando outro tipo deditadura, a ditadura de esquerda, em detrimento do pluralismodemocrático gerenciado pelo administrador.

O presidente da Petrobras, o economista Felipe Reichstullmudou o nome da empresa para Petrobrax, em 2001, sem antessubmeter a decisão para a Assembleia de Acionistas. Erro fatal,fruto de seu desconhecimento das leis que regem empresas.

Foi um escândalo nacional, colocou políticos da oposição empolvorosa, e quase perde seu emprego de Presidente.

Uma aprovação prévia pelo Conselho de Acionistas, lhe teriadado respaldo contra as críticas dos políticos.

Mas isto não foi feito porque o governo detém 51% dos votos, eage ditatorialmente.

A Petrobras nega até hoje o direito de voto para 75% de seusacionistas, para que o controle se mantenha na mão de poucos.

O socialismo parece cada vez mais o antigo capitalismo, comopreviu George Orwell, na Revolução dos Bichos.

A solução moderna “neoliberal” é nenhum grupo de interessecontrolar a empresa e muito menos a gerência, que é entregue a

A Missão do Administrador

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administradores profissionais, que serão verdadeiros políticos naconciliação de interesses difusos.

O problema escondido da Enron e da bolha da Internet é que aprática de dar “stock options” a administradores, estes começarama pensar novamente como capitalistas, defendendo somente umdos interessados, neste caso eles.

Juntaram novamente o gerente com o capitalista, o que provouum retrocesso.

Administrador de empresas na minha opinião não pode partic-ipar do lucro nem ter ações da companhia, senão perde sua inde-pendência como conciliador de interesses.

Que receba um bom salário, algo que não acontecia com oantigo capitalista gerente porque tinha o controle das ações.

O administrador moderno não é mais o tecnocrata, orçamen-tista, controlador de resultados de antigamente, mas se aproximamais do líder carismático, de fácil trato, com amplo trânsitopolítico, socialmente responsável.

O administrador moderno é hoje antes de mais nada um pro-fundo conhecedor de política, e um dos problemas do Brasil é quenossos políticos não entendem nada de administração.

E quando ouvem alguém, procuram economistas, que nãoentendem absolutamente nada de administração muito menos decrescimento das empresas, base de qualquer economia.

Stephen Kanitz

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Empresas Preparadas ParaServir

Servir e Não Ser Servido, o Novo Paradigma Para o Brasil

Rolim Amaro, da TAM, era um amigo que faz muita falta.Ele era o exemplo de um empresário intuitivo, observador, hon-

esto, prova de que diploma não é condição necessária para serpresidente de empresa ou nação.

Eu sempre brincava com ele que se tivesse feito faculdade, hojeele seria diretor de uma das companhias de aviação concorrenteem vez de ser dono da TAM.

A característica do Rolim era que ele gostava de servir os out-ros. Marca do verdadeiro administrador.

Toda a sua atitude neste sentido era autêntica, não era da bocapara fora só para ganhar dinheiro.

Tanto que ele foi um dos primeiros a apoiar os meus dois proje-tos sociais, o site voluntarios.com.br e o Prêmio Bem Eficiente.

Quando eu apontei que os voluntários que usam nosso site são

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pessoas predispostas a servir o outro, Rolim imediatamente ado-tou como prática de seleção que o departamento de pessoal daTAM privilegiasse candidatos a emprego que tivessem sido volun-tários quando jovem.

O mundo empresarial de hoje é o mundo dos serviços.Daqui para a frente as empresas de sucesso serão as empresas

que eu chamaria de “Preparadas Para Servir”.Como criar este tipo de empresa?Transformar empresas para servir o outro será nosso enorme

desafio daqui para a frente, e administradores profissionais esocialmente responsáveis vão ter que promover uma mudançacultural de enormes proporções, por razões históricas.

Herdamos uma cultura portuguesa greco-romana que via oservir o outro como servidão, um fardo, uma obrigação a ser evi-tada.

Servir o outro era visto como uma penalidade, algo que deviaser evitado a todo custo.

O segredo é ser servido, tanto que adotaram a escravidão semremorso, e nunca servir.

Esta mentalidade ficou ainda mais forte no Brasil com quase 400anos de tradição escravocrata, quando importamos escravos paranos servir, e queremos que o Estado nos sirva de todos as nossasnecessidades e obrigações.

A maioria dos brasileiros, inclusive muitos intelectuais, queremser servidos e não servir.

Querem aposentadorias integrais, 13º. salário sem existir 13meses de trabalho, querem serviços públicos em todas as áreas,querem ensino grátis, saúde grátis, transporte grátis, remédiosgrátis.

Querem seus direitos, sem pensar nas obrigações.

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Por estas razões históricas, o Brasil ainda vive uma enormeresistência a servir os outros, ao contrário de outras civilizaçõescomo a chinesa, japonesa e americana, onde servir o outro não étão mal visto assim.

Se ensinarmos as pessoas que servir o outro não é degradante,pelo contrário, de que é um raro prazer, construiremos umasociedade sólida e uma plataforma de exportação de serviços.

Criaremos uma nação de cidadãos compromissados com ocliente e com o social.

A Missão do Administrador

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Capitalismo Beneficente

"Se Tivesse Pesquisado, o Consumidor Teria Dito QueQueria Cavalos Mais Rápidos" Henry Ford

Precisamos achar meios para aprimorar o capitalismo em vez depassarmos por uma revolução para substituí-lo.

Mas como mudar o capitalismo como o conhecemos?De que forma?O capitalismo se provou muito competente para produzir bens

e serviços que os consumidores querem.Se houver um desejo insatisfeito no mercado, algum

empreendedor irá se mexer para provê-lo.O que o capitalismo não sabe fazer ainda é produzir bens e

serviços que as pessoas precisam.Não há segredo em vender frangos barato entupindo-os com

Deus sabe o quê ou vender morangos saborosos, com mil e umagrotóxicos.

A indústria automobilística colocou airbags nos carros por

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determinação do governo americano, porque há dez anos o con-sumidor não queria.

As TVs e os anunciantes se digladiam para mostrar o grotesco eo pornográfico, assuntos que o povo quer mas que não necessaria-mente precisa.

Alguns administradores, porém, estão lentamente mudandoesta situação.

Steve Jobs da Apple, Larry Page da Google, Elon Musk da Tesla,estão produzindo e produziram produtos que eles achavam que oconsumidor precisaria, ponto final.

Gastam fortunas tentando criar coisas novas que nenhum con-sumidor sequer imaginaria.

Estão tambem gastando tempo, recursos organizacionais e din-heiro em atividades beneficentes e filantrópicas simplesmenteporque acreditam que as empresas precisam produzir tambémbens que a sociedade quer.

Surge uma nova geração de administradores, os admin-istradores socialmente responsáveis como Guilherme Leal, FabioBarbosa, Sérgio Amoroso, Luís Norberto Pascoal, entre outros,que estão gastando mais do que 5% do seu tempo, lucro e recursosorganizacionais para oferecer o que eles acreditam que a sociedadeprecisa.

Fazem parte de uma nova geração de administradores eempresários que está transformando um capitalismo de resultadosem um capitalismo de benefícios.

Um outro grupo de empreendimento vai além, devota 100%de suas energias, dinheiro e organização para produzir o que asociedade precisa.

São as entidades beneficentes, que ao longo destes anos adquiri-

A Missão do Administrador

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ram competência e técnicas organizacionais que seriam de muitavalia para as empresas.

Quão mais fácil seria, por exemplo, para os Alcoólatras Anôni-mos vender pinga a seus associados, do que a abstinência?

Quão mais fácil seria colocar um outdoor vendendo bebida commulheres sensuais do que angariar fundos filantrópicos?

Quão mais fácil seria para a Igreja Católica ceder às pressões demudança, oferecendo o que os fiéis querem, do que se manter lealaos seus dogmas e insistir em oferecer o que ela acha que os fiéisprecisam, custe o que custar?

Conseguirão os empresários obter lucro ofertando o que o con-sumidor precisa?

Conseguirão obter lucro vendendo frangos humanamente cria-dos, sorvetes sem aditivos químicos e morangos sem agrotóxicos?

Várias experiências mostram que sim.A Superbom, empresa dirigida pela Igreja Adventista consegue

ser rentável apesar de produzir sucos dentro de processos natural-istas.

Tornar o capitalismo mais responsável já não parece uma tarefaimpossível e existem vários grupos agindo neste sentido sem terque passar pelo traumático processo de derrubar o sistemavigente.

Todo ano 50 entidades beneficentes receberam, merecidamente,o Prêmio Bem Eficiente pela sua competência, liderança e exem-plo, provando que existem soluções para os problemas sociais.

Essas e as demais entidades são a semente para um novo tipo decapitalismo voltado para suprir a sociedade com o que ela precisae não necessariamente com o que ela quer.

Existe missão mais nobre do que essa?

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Part IV

Problemas

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Você Não EntendeAbsolutamente Nada de

Administração?

Administrar Não É Para Principiantes

Muitos leitores acham que eu defendo uma “reserva de mercado”para administradores.

Que defendo que somente administradores com formação etreinamento em Faculdades de Administração conceituadas, comno mínimo nota 9, deveriam administrar enormes empresas comoPetrobras e outras com mais de 1.000 funcionários.

Estes leitores defendem que qualquer um pode administraruma Petrobras, por indicação política, sem um curso formal emadministração, e que como nação nem deveríamos lutar para ter-mos cursos de Administração de primeiro nível, e exigir dos queexistem aprimoramento contínuo.

Minha opinião é outra.

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Não sou contra advogados, engenheiros, economistas e médi-cos serem presidentes de cias. de software, cias. elétricas, Petro-bras ou hospitais.

A única ressalva é que defendo que tenham pelo menos umMBA complementar em Administração.

Ser Diretor e Presidente de uma empresa com 1.000 fun-cionários é muita responsabilidade para ser tratado de formaamadora. Vidas estão em jogo.

Pior que desperdiçar recursos financeiros e ecológicos, devido àineficiência, é desperdiçar vidas humanas mal utilizadas.

Nos cursos de MBA, 90% dos alunos são de fato advogados,engenheiros, economistas e de todas as outras profissões, é onde amaioria das empresas tem seu nascedouro.

O Mestrado de Administração é um dos cursos maisdemocrático e includente, e menos corporativista que existe.

Eu sou fruto desta democracia, sou bacharel em Contabilidadecom mestrado em Administração. Tenho dois pés em duas áreasdiferentes do conhecimento humano.

Estes dois pés são a chave da riqueza das nações. É a dupla, ini-ciativa e acabativa que já escrevi anteriormente.

Esta dupla permite que a criatividade de engenheiros, advo-gados, economistas e médicos não fique somente na teoria, maspasse do papel para a prática. Não é por acaso que os países quetêm o maior número de cursos de MBA cresce mais.

A minha grande divergência com economistas, sociólogos eadvogados que assumem postos no governo é que eles não con-seguem implementar as políticas públicas necessárias para estepaís, porque não têm acabativa, não sabem os problemas adminis-trativos que algumas ideias bem intencionadas geram.

Nos demais mestrados como Advocacia, Engenharia e Econo-

A Missão do Administrador

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mia, 90% dos alunos são da mesma profissão, criam endogenia eeste corporativismo que está segurando este país.

Pior, estes cursos não preparam seus alunos para os postos deliderança que alguns membros da profissão devem alcançar.

Minha tese é que empresas públicas, que usam o dinheiro dopovo, empresas de capital aberto que usam a poupança de mil-hares de acionistas, empresas com mais de 1.000 empregados, pre-cisam sim de um administrador formalmente treinado para tal,com nota acima de 9.

Hoje estes postos são ocupados com pessoas com nota ZERO,pessoas que não têm a menor ideia do que é administração.

Empresas familiares, empreendedores que estão investindo seupróprio dinheiro e querem correr o risco da ignorância, come-tendo dezenas de erros administrativos que poderiam ser evitados,e que tenham 20 a 30 funcionários, que façam o que quiseremmesmo sem diploma.

Aprendam errando, quebrem nos primeiros cinco anos, parasatisfazer a corrente de leitores que acham que administração nãoé importante.

Querem argumentar que nossos cursos de Administração sãoruins, são fracos, eu aceito a crítica.

Reclamem da lei 7988 de 1945 que decretou o fechamento detodos os cursos de Administração do Brasil na época, e que ressur-giram de fato somente a partir de 1985, depois da ditadura militar.

Enquanto os países do mundo estavam criando seus MBAsdepois da segunda guerra, nós estávamos decretando ofechamento das poucas escolas de Administração que tínhamos,e ninguém na época reclamou.

Agora, honestamente, quem não entende absolutamente nadade administração, nunca será um competente Presidente, Ministro

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ou Secretário, nem irá ser um competente pai ou mãe de umafamília e vou dizer mais.

Dificilmente será um bom funcionário, sem saber exatamenteo porquê que está trabalhando, nem como funciona o sistema deprodução de uma nação.

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Jornalista Precisa SerTreinado, Administrador

Não?

Mas Todos Acham Que Podem Administrar

Segundo o STF, “qualquer um pode exercer a profissão de jornalista”frase bem conhecida de tantos administradores.

Mas os jornalistas, ao contrário dos administradores, insurgi-ram.

Beth Costa presidente da Federação Nacional dos Jornalistas,escreve: não é óbvio que precisamos de uma “regulamentaçãoprofissional que exija o mínimo de qualificação?”

É exigir demais pedir o mínimo de qualificação, para um presi-dente da Petrobras, ser diretor financeiro da Aracruz, Sadia Con-cordia e VCP, empresas que estão agora com problemas, e foramadministradas por vocês sabem quem?

Vejam o estrago que fizeram nestas 4 empresas.

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Nenhum jornalista amador chegou perto de causar um pre-juízo de 20 bilhões.

Aos administradores só posso alertar que vocês não merecem odiploma que possuem, se manterem esta passividade.

Aos jornalistas só peço que denunciem o corporativismo da Lei7988/45, e defendam agora o mínimmínimoo ddee qqualifiualificacaçãçãoo paparara aa“a“administradministraçãçãoo” d” deste país.este país.

A Missão do Administrador

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A Função do Gestor e aFunção do Administrador

Gestores Não São Administradores, Por Isto Usam EsteTermo

Gestor vem de Gesto, gesticular, apontar, aquele que dá as ordense indica com um gesto do indicador o caminho a seguir.

Administrar vem de Ministério, servir o outro, ajudar os outrosa serem mais produtivos.

GestoresGestores são aqueles que usam o termo “empregados” e “empre-gadores”.

Empregados para um Gestor são as pessoas contratadas paraobedecer as ordens de quem os “empregam“.

AAdministradministraddoresores usam o termo “funcionários“, pessoas con-tratadas para exercer uma certa funfunçãçãoo e não obedecer ordordensens.

A última coisa que queremos é dar ordens para 39 Ministros e260 Secretários.

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Quem exerce uma funfunçãçãoo obedece aos papaddrõesrões exigidos poraquela função, os ensinamentos e treinamento dado.

Sem ter que ser oriorienentataddosos continuadamente por gestores.(Orientado vem de Oriente, a direção que o Gestor apontapara seus empregados se dirigirem.)

Isto permite uma organização mais enxuta, com menosCaciques e mais Índios.

Justamente o contrário do mundo dos Gestores, que tem queter muito mais Caciques para dar ordens constantes aos Índios.

Quanto os funcionários exercerem corretamente a sua função,não precisarão nem da “supervisão” de Administradores.

Só entramos em cena quando algo dá errado e estes precisam deajuda.

GestoresGestores usam também o termo “trabalhadores“.São pessoas que trabalham para os gestores em troca de uma

remuneração.AAdministradministraddoreores usam o termo “colaboradores”.Estes não trabalham para nós, trabalham para a empresa.Seja fazer uma função como uma auditoria segundo os padrões

estudados, ou manter o clima organizacional da Empresa.Desde a Ditadura Militar, tivemos uma preferência maior para

os ditos Gestores do que os Administradores preparados para tal.Militarismo exige obediência às decisões que vêm do Comando

Superior. Militar quer empregado, dirigido, soldado, que vá nadireção apontada pelo indicador do General.

“O inimigo está para lá.”Como a maioria dos nossos formadores de opinião não tem a

menor ideia da diferença entre ggestorestor e aadministradministraddoror, continuamcom a visão Militar no mundo dos Gestores. Até o PT segue avisão da Ditadura Militar.

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Muitos manifestantes saíram pedindo melhor gestãopública, que é justamente o que não queremos.

Dezenas de editoriais saíram pedindo uma melhoria na GestãoPública, como se este estilo de administrar fosse justamente o queo Brasil precisa.

Óbvio que não irá ocorrer e continuaremos na mesma.A missão de um jovem administrador é mostrar a grande difer-

ença entre gestão e administração.Entre o amadorismo do século XVI e as modernas formas de

pensar da administração do século XXI.

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A Lei do Mínimo Esforço

Não É a Ganância Que Rege o Mundo, É a Preguiça

Acho cômico algumas ciências sociais gastarem horas e horas,livros e livros, achando que a ganânganânciacia é que faz o mundo girar.

Acham que é a ganância e o lucro que motivam os sereshumanos, que é a lei número um que rege o mundo, especial-mente o mundo capitalista.

A lA lei qei que gue gere o mere o mununddo é a Lei do é a Lei do Mínimo Mínimo Esfo Esforçoorço..Especialmente no Brasil.Todo mundo quer no fundo fazer nada, ganhar sem trabalhar,

ter um emprego público garantido e vitalício.Todo mundo quer seu Bolsa Família, todo mundo quer uma

boquinha e uma benesse do Estado.Isto parece fazer parte da vida.Com o surgimento das civilizações aparecem inevitavel-

mente os parasitas sociais, membros da sociedade que vivem dotrabalho dos outros.

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Por que não?Há várias formas de se fazer isto, desde roubar, corrupção, enga-

nar e criar impostos policialescos de 40% da produção dos outros.Jared Diamond, no seu livro Guns, Germs and Steel, discute

isto no capítulo CCrescimrescimenento das Klto das Kleepptocratocracias.cias.

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O crescimento de indivíduos e grupos da sociedade especializa-dos em tirar dinheiro dos outros.

OO grangranddee periperiggoo éé esteeste grupogrupo sese alastraalastrarr ee tomatomarr concontata ddee umaumacicivilizaçãvilização ou país.o ou país.

Alguns fazem isto diretamente roubando, outros justificando-se com argumentos religiosos, políticos, igualitários, ideológicos,idealistas, éticos e altruísticos.

É interessante ler as inúmeras formas lógicas bem estruturadase ensinadas para nos convencer a tirar dinheiro do nosso bolso eentregar a outrem sem obter nada em troca.

Altruísmo, cidadania, é dando que se recebe, amor a Deus, acausa, solidariedade humana, etc, etc, etc.

Pelos menos os ladrões, corruptos e salafrários assumem serparasitas sociais descaradamente, sem aquela hipocrisia racional ecientífica que outros grupos usam para justificar a mesma coisa.

É tirar dos ricos mesmo, meu chapa.Intelectuais são mais hipócritas, ensinam aos nossos filhos que

a renda é distribuída e mal distribuída.Não é.Dinheiro é ganho com suor e lágrimas.Quem tem de ganhar dinheiro oferecendo bons serviços é o

pipoqueiro da esquina da Faculdade de Filosofia, que sabe que odinheiro não é distribuído, e sim ganho com suor e lágrimas.

O professor de Filosofia de uma Universidade Pública, ganhasempre, faça sol faça chuva, mesmo com greve de ônibus, mesmodando péssimas aulas.

A renda destes professores é de fato distribuída, ou redis-tribuída pelo Estado, que nos retira via impostos independente-mente do professor ter sido eficiente.

Temos também os espertos, os sedutores, os enganadores, que

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usam vários artifícios para lhe devolver muito menos do que vocêpagou.

E aí tem de tudo.Governo, empresários, empresas, repartições públicas, ONGs,

igrejas, escolas, universidades, enfim.Não há valor humano mais valorizado pelos intelectuais e os

poetas do que o altruísmo e a solidariedade.Impedir a proliferação de parasitas sociais tem sido uma pre-

ocupação constante de filósofos, religiosos e cientistas políticos deantigamente.

Hoje, estão escondidos a sete chaves e são o maior perigo detoda civilização.

IstoIsto porqporqueue sese oo paparasirasitismtismoo socialsocial sese proprolifliferaerarr,, eellee mamatatarárá aasocisociedaedadde he hospedospedeieira.ra.

SemSemprepre teremteremosos paparasirasitastas sociaissociais emem nnossoosso mmeieioo,, éé aa lleiei ddoo mín-mín-imimo esfo esforço qorço que resiue residde em cae em cada um dda um de ne nós.ós.

Mas de acordo com alguns estudos sociais, se 17% da populaçãosucumbir a este vírus, o restante dos 83% não conseguirá sustentara si e os parasitas mamando nas nossas tetas.

É o que parece estar acontecendo nos Estados Unidos e Europa.As religiões foram as primeiras tentativas em coibir o para-

sitismo.NNãão mo mentirentirásás,,nãnão ro roubaoubarrás a pás a prrooppriedariedadde alheia,e alheia,nãnão mato mataarrásás,,nãnão engo engaananarrásás,,nãnão co coobbiçiçaarrás a pás a prrooppriedariedadde púbe públiclica na nem pem privarivada,da,nãnãoo ususaarrásás oo nnoommee ddee DDeuseus nnoo sseueu mamarrkketingeting ssocial,ocial, ffoorraamm ooss

pprimrimeireiroos mas manndadammententooss..Em todas as religiões Deus é onisciente.

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Ele sabe que você está roubando.E Ele irá lhe punir mesmo que nós não o façamos.Pena que muitas religiões esqueceram a natureza de sua origem.O liberalismo inglês e americano também foi um movimento

político contra o que eles viam como parasitas sociais.Foram os primeiros a lutar contra os reis e os lordes feudais.A lutar contra o conservadorismo europeu ao lado dos socialis-

tas.O livre mercado e a livre concorrência eliminaram os tubarões

dos lucros altos e os cartéis capitalistas.A globalização eliminou os monopólios nacionalistas e os mer-

cados protegidos e novamente reduziu margens de lucros.E, os únicos a lutar contra os burocratas e tecnocratas do fas-

cismo e do socialismo mundial.E estes, obviamente são os maiores inimigos do liberalismo e

neoliberalismo.Se o neoliberalismo vingasse teria tirado sua boquinha.Administradores são constantes farejadores para reduzir custos

desnecessários e de pessoas que pouco contribuem para o bemestar dos outros.

Por isto, o patrão e o administrador são sempre odiados pelosparasitas e os corpos moles.

A ciência da Administração criou sistemas com auditoriasinternas e externas, contabilidade de custos, controle e fiscaliza-ção, e o sistema de preços, tudo com o objetivo de reduzir onefasto parasitismo social e a lei do mínimo esforço.

Talvez seja por isto que o administrador tenha tantos inimigos,tantos grupos agindo contra o desenvolvimento da cultura deadministração neste país.

Uma missão a mais para você.

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O Mal Que Karl Marx FezPara a Administração

Teria Escrito "O Ativo" em Vez de "O Capital"

Na época de Karl Marx havia pouco capital e poucos capitalistas.

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Tanto que os marxistas criaram como seu símbolo a foice e omartelo, bens de capital que custam menos que R$ 10,00.

Um tear mecânico custava na época em torno de R$ 1.000,00, sóque aumentava a produtividade do tecelão em mais de dez vezes.

Num primeiro momento, este aumento de produção nãochegava a afetar o preço do tecido que ficava praticamente igual,nem do trabalhador.

Os primeiros donos de teares passaram a ganhar nove vezesmais do que na produção manual.

O lucro inicialmente se tornou colossal.Foi isto que Karl Marx viu, e infelizmente achou que era o nor-

mal e não um fenômeno sui generis.

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Do dia para a noite, o lucro que era de 10% sobre um tecidopassou a ser de 50%, uma baba. O que permitiu a compra de maisteares.

Pergunte a um Empresário ou Capitalista o que ele acha defornecedores que embutem margens de lucro de 50%.

Garanto que ele responderá “um bando de ladrões”. A mesmaanálise feita por Karl Marx. Como isto é possível?

Karl Marx não entendia de Processos Dinâmicos. Não tinha àsua disposição um Excel.

Não conseguiu ir além da sua análise da situação da época, nãoconseguia simular o futuro, como tudo isto iria terminar.

Sem Excel e Matemática de Processos Dinâmicos, Marx achavaque os capitalistas seriam cada vez mais ricos, e os trabalhadorescada vez mais pobres.

Isto porque ele não reconhecia o valor dos engenheiros inven-tores das máquinas da revolução industrial, e dos administradorescom suas novas técnicas gerenciais.

Ele argumentava que o aumento de produtividade obtido pelasmáquinas dos engenheiros e os processos dos administradoresdeveria reverter somente para os trabalhadores.

Isto porque segundo ele, só o trabalho enobrece e acrescentavalor.

Os fisiocratas anos antes também usaram argumento parecido,que só a agricultura acrescentava valor, e por isto o Estado deveprotegê-lo.

No caso de Marx, se um trabalhador trabalhava oito horas eproduzia um metro de tecido, porque ele deveria continuar a rece-ber as mesmas oito horas, se sua produtividade aumentara em 10vezes?

Stephen Kanitz

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Portanto, ele queria que toda esta mais valia fosse para o trabal-hador.

Marx não era contra o lucro do engenheiro, algo que muitosMarxistas esqueceram, Marx admitia que o engenheiro recebesseo lucro sobre um metro de tecido, aquele antes do aumento deprodutividade. E que recebesse a depreciação da máquina que eleinventou e as horas trabalhadas ao construí-la.

Para um trabalhador sem escolaridade Marx tem uma lógicainterna, todo mundo ganha, o que para o trabalhador parece justo.

Infelizmente, os engenheiros parariam de inovar, como ocorreuem Cuba e na União Soviética. Você não tem nenhum produtoem casa inventado na Rússia nem em Cuba.

E os administradores deixariam de ser administradores, e vocêde fato não leu livros de administração vindos da Rússia nem deCuba, apesar de mais de 10.000 serem escritos por ano.

O que Karl Marx não entendeu?O mínimo de administração.As empresas reinvestem 90% dos seus lucros. Devolvem por

assim dizer a mais valia de Marx de volta para a sociedade. Nãopara comprar iates, mas sim comprando mais e mais teares.

Maior produtividade e mais teares começavam a saturar o mer-cado da época e os preços despencaram. Muito mais do que pelametade.

No fundo, a chamada mais valia de Marx foi reduzindo. 30%acabou virando aumento de salários, 50% acabou virando reduçãode preços, e 20% ficou de fato para os engenheiros e admin-istradores pelo seu esforço e inovação.

Mas vejam o mais interessante. Trabalhadores são também con-sumidores, e no fundo 80% da “mais valia” nos anos seguintes foipara o trabalhador.

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Estas porcentagens variam de país para país, e de ano para ano.Na Coreia do Sul, um dos países capitalistas mais eficiente do

mundo, todo ganho de produtividade se reverte imediatamenteem redução de preço. Nem o trabalhador individual nem o capi-talista se beneficiam da mais valia.

A redução de preços gera mais consumo, e embora o trabal-hador fique na mesma, mais trabalhadores arrumam emprego. Ocapitalista ganha no aumento de produção e não na expropriaçãoda mais valia.

Tudo sem violência, quer consumir, consuma, quer trabalhar,trabalhe, ninguém é obrigado a fazer nada.

Na filosofia de Karl Marx, como engenheiros não concordaramcom a Teoria que de fato não fazia sentido prático, só ideológico,a única forma de reduzir a “mais valia” era por uso da violênciahumana.

Pela luta revolucionária, matando os engenheiros burgueses ouestatizando as suas máquinas, pelo uso da violência.

Milhões de vidas foram sacrificadas, todos os administradoresde Cuba e Rússia foram dizimados, todos os contadores e audi-tores, declarados espiões do capitalismo.

Hoje, o lucro embutido num produto de R$ 100,00 que vocêcompra, é por volta de R$ 2,00, dependendo do produto. Novelada Globo você nem paga o produto.

Honestamente, você se incomoda em dar 2% do preço do pro-duto para o empreendedor que criou o produto que não existia,que organizou toda a equipe de produção, que gerou todo o sis-tema administrativo, que paga bem seus funcionários dandocreches, educação e fundos de pensão que deveriam ser função doEstado?

Que arrisca um dia quebrar e perder tudo porque você não

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gosta do produto, que produz antecipadamente para que vocêsempre possa comprar aquilo que precisa?

Eu não pegaria em armas para destruir este sistema, eu não seriauma guerrilheira como foi a economista Dilma, tudo isto paraentregar empresas estatizadas a gestores de estatais que nem sem-pre são tão eficientes e comprometidos com o consumidor.

Se aparecer um setor com 50% de lucro, hoje em dia a saída deum governador que sabe administrar um país é permitir mais con-corrência entre as empresas, que irá reduzir a margem de lucrose os preços, em vez de dar poderes monopolísticos à Petrobras, àVale, aos Correios, à Caixa, ao Banco do Brasil e assim por diante.

Karl Marx nunca estudou administração, e não percebeu quecapitalismo se combate com mais capitalismo, com mais “concor-rência”, algo que não existe nas escolas de Marxismo, onde os pro-fessores têm monopólio, emprego vitalício, onde o melhor alunojamais lhe substituiria como professor.

Marxistas, Socialistas, Trotskistas, Maoistas, Stalinistas, Chav-istas, Castristas, enfim, não perceberam que já em 1800, admin-istradores estavam substituindo os barões capitalistas do passadoe que os trabalhadores seriam proprietários das ações das empre-sas em que trabalhavam, via os Fundos de Pensão que nós admin-istradores criamos.

Metade das ações das 500 maiores empresas americanas estãohoje na mão de seus funcionários, e a outra metade nas mãos dasviúvas dos antigos funcionários.

Fomos nós administradores que implantamos a justiça queMarx tanto sonhou, e não os acadêmicos socialistas como Arrow,Joan Robinson, e Paul Sweezy.

Karl Marx ensinou três gerações de acadêmicos a pregarem aestatização, os monopólios estatais..

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Petrobras, Vale, Eletrobras, Sabesp vendem commodities atéhoje.

Se Karl Marx tivesse estudado administração, Rússia, Cuba,China, Índia e o Brasil não estariam tão atrasados como estãohoje.

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Part V

Conclusões

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Por Um Brasil BemAdministrado

Muitos Preferem Bagunça e Desorganização

Estamos chegando ao final deste livro. Hora das conclusões eplanos de ação.

Uma das tragédias deste país é que nossas lideranças políticasnão aceitam a participação de administradores profissionais nopreenchimento dos cargos de confiança, quando seus partidos sãoeleitos.

Existem hoje mais de 5.000 executivos competentes, ex-presi-dentes e ex-diretores das 1.000 maiores empresas brasileiras, queestão aposentados aos 60 anos de idade, mas com muita energiaainda para oferecer.

São relativamente ricos, com filhos encaminhados, quegostariam de contribuir para o social, doando três a quatro anosde suas vidas para um cargo público. Sendo ricos, dificilmente

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aceitariam ser corrompidos para dar uma obra para um e não paraum outro.

Sendo aposentados, dificilmente ajudariam um Banco quepoderia ser um empregador agradecido depois que deixarem deser Ministro da Fazenda, Diretor do Banco Central, e assim pordiante.

Trariam experiência prática e não meramente teórica, que pordefinição nem experiência é.

Tendo trabalhado efetivamente 40 anos, sabem melhor doque ninguém os problemas que travam nosso crescimento.

Acreditem ou não, estes aposentados querem fama e não maisgrana.

Querem sair da aposentadoria, querem ser úteis novamente,querem fazer algo pelo país.

Aceitam o salário baixo do serviço público, em troca dos holo-fotes que perderam.

Prefiro vaidade com competência do que vaidade com incom-petência, que é a situação em que estamos.

Estes 5.000 não procuram o poder, não fazem o lobby que políti-cos fazem para obter um cargo para um filho ou amigo numaestatal, e por isto não são convidados.

Estes 5.000, pelo contrário, acham que precisam ser conven-cidos a sair da aposentadoria, acham que estão nos fazendo umfavor, o que é verdade, e por isto precisam ser procurados e seduzi-dos.

Sempre defendi Henrique Meirelles, um dos primeiros nestacategoria, porque ele representava o início de um Brasil bemadministrado, honesto e socialmente responsável.

Infelizmente nossos políticos não querem executivos já realiza-

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dos, ricos suficientes para se preocupar com os outros e não comsuas finanças pessoais, preferem Professores de Universidades.

Nossos colunistas de jornais e revistas também não percebemtudo isto e não conclamam por administradores com cabelosbrancos, que não permitiriam os problemas acumularem, em vezescolhermos sempre jovens de 30 anos, acadêmicos idealistas masingênuos, que vão para o Governo adquirir experiência.

Ninguém elogiou a decisão de Meirelles de apoiar o PT,uma decisão difícil para um executivo de um banco internacionale um deputado do PSDB.

Ele fez muito pelo Brasil, mas todos os formadores de opiniãoou ficaram em cima do rumo, ou o atacaram brutalmente.

Uma decisão não tão difícil, se você é um Administrador daEscola Socialmente Responsável a qual ele pertence, que sabe queservir os outros não é uma traição ideológica, mas sim uma obri-gação moral.

Meu último artigo na Veja foi um elogio direto a Meirelles,“AAdministradministraddoresores ddee EsqEsquerdauerda“, que vocês já leram, um capítulodeste livro.

Precisamos mais exemplos como este.

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A Lei 7988/45 Que Atrasouo Brasil

O Fechamento de Nossas Escolas de Administração,Finanças e Atuária

Poucos historiadores relatam nos livros de História uma lei queatrasou o Brasil em pelo menos 30 anos.

Uma lei que explica porque somos um país atrasado, ineficiente,improdutivo, com baixo crescimento, corporativista, cheio deempresas familiares, corrupto e clientelista.

A lei é a 7988 de 1945.Uma lei que decretou o fechamento dos cursos de adminis-

tração e finanças deste país. (Só a partir de 1970 os cursos realmentecomeçaram a proliferar novamente no Brasil. O que existia operavammeio as escondidas)

Decretou o fechamento de todos os cursos, e todos os profes-sores de administração deste país foram demitidos.

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Inacreditável que os livros de História nada comentem, e quevocê leitor nunca soube deste fato.

Vou repetir: Todos os cursos de administração que con-seguimos criar desde 1931 foram fechados por lei, e os seus profes-sores demitidos.

Enquanto outros países estavam criando cursos de adminis-tração, especialmente após a segunda guerra mundial, nós criamosuma lei fechando os poucos cursos de administração que tín-hamos.

AArtrt.. 99ºº FFicicaamm eextintxtintooss aa papartirrtir ddoo aannoo eessccoolalarr ddee 11994646,, oo cucurrssoo superiosuperiorrddee aaddministrministraaççããoo ee finafinannççasas ee oo cucurrssoo ddee atuáatuária,ria, ddee ququee trtratataa oo DDecrecretetoonnº 20º 20.1.15858, d, de 30 de 30 de julho de julho de 1e 1993131..

Vou repetir, porque é difícil de acreditar.Art. 9º Ficam extintos a partir do ano escolar de 1946, oo cucurrssoo supe-supe-

rioriorr ddee aaddministrministraaççããoo ee finafinannççasas ee oo cucurrssoo ddee atuáatuáriaria de que trata oDecreto nº 20.158, de 30 de julho de 1931.

Alguém pode justificar esta afronta aos futuros administradoresdeste país, aos atuários e ao próprio futuro deste país?

É um mistério como historiadores e economistas puderamignorar um fato deste nas suas análises do porquê do atraso destepaís.

Obviamente não pode ser devido ao capitalismo, porque nocapitalismo se incentiva o ensino e o preparo prévio antes decomandar empresas com 1.000 a 5.000 funcionários.

Esta lei atrasou a criação de uma classe gerencial neste país, queaté hoje está perdida e sem liderança.

Temos que correr atrás do prejuízo.Será que nossa passagem para a era do administrador está

seguindo o caminho certo?Os EUA começaram essa fase em 1850. Lá e em todos os outros

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países, surgiu, na época, uma enorme antipatia dos intelectuaiscom relação às escolas de Administração. Nas escolas americanas,os intelectuais eram geralmente de esquerda e os administradoreseram vistos como pessoas de direita. Até porque as primeirasescolas eram, realmente, para formar gerentes de empresas pri-vadas familiares, que a gente conhece tão bem no Brasil.

Em 1910, entretanto, surgiu nos EUA algo que não aconteceuem lugar nenhum do mundo.

A esquerda mais prática – que é a de Harvard, onde eu estudei– percebeu que o administrador ia ser uma força política muitoforte, e as empresas familiares iriam ser substituídas pelas de capi-tal aberto e democrático, onde o administrador seria a peça chave,no lugar do capitalista dono.

Então, Harvard muda esse negativismo, pensando assim:“vamos alinhar esses administradores do nosso lado, o lado sociale não do lado dos capitalistas. Vamos criar, então, o curso social-mente responsável”.

No Brasil, a animosidade dos intelectuais contra os admin-istradores é visível até hoje, mesmo depois da revogação daLei 7988 de 1945, a lei que criou a profissão do Economista.

Por exemplo, a Universidade de São Paulo expulsou o MBA delá.

E isso é até assustador, porque 10% do ICMS do Estado de SãoPaulo vai para as universidades públicas estaduais.

Ou seja, nós temos os professores que, apesar de receberem 10%do imposto que é arrecadado pelas empresas, são contra o ensinode Administração.

Conto com vocês.

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Quem Salvará o Capitalismodos Capitalistas?

O Administrador Socialmente Responsável e o CapitalismoDemocrático

A ideia de Alan Greenspan e de muitos neoliberais de que o mer-cado se autorregula, não se concretizou.

A ideia de que o Banco Central, o FED, do poder reguladorde alguns economistas esclarecidos no comando da Economia,o SEC, a Sarbanes-Oxley, as leis e os regulamentos que já con-trolavam o capitalismo dos capitalistas há algum tempo, tambémnão funcionaram.

O problema do mundo é que o Capitalismo já estava sendo“salvo”, mas pelas pessoas erradas.

Se não são os políticos, os acadêmicos, os intelectuais, os bis-pos, a religião, a ética, a filosofia que irão salvar o capitalismo doscapitalistas, quem será?

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Uma das grandes descobertas da Ciência da Administração foique controlar o produto ddeepois dpois de prode produziuziddo não não funo funcicionaona.

Testar produto por produto para saber se ele está dentro do 1%permitido de margem de segurança, dentro dos regulamentos, epunir os funcionários faltosos, não funciona.

Mais ou menos, é este o modelo que se discute agora para salvaro capitalismo.

Desde 1980 estudiosos em Administração perceberam que asolução era focar nos insumos e não no produto final.

A teoria é simples.Os insumos e os processos sendo de qualidade, o produto tam-

bém o será.Hoje nas empresas, nem testamos mais os produtos que saem de

linha. Sequer ligamos o motor.Este é o caminho para resolver a crise do capitalismo.Avaliar, selecionar melhor os insumos bem como os processos,

e não os resultados.Físicos e Economistas que nunca estudaram Ética nos Negó-

cios, que nunca aprenderam Administração Creditícia, nuncapoderiam ter sido promovidos aos cargos nos Bancos como foram.

Estes jovens sequer tinham uma reputação a perder, algo queocorre com Médicos e Administradores que pisam na bola.

Quando estes acadêmicos erram, simplesmente voltam parasuas escolas de Chicago e Yale, de onde nunca deveriam ter saído.

O compromisso deles era exclusivamente com a Física e aMatemática, e com os bônus prometidos.

Precisamos escolher corretamente os insumos.Uma lei ficha limpa precisa existir não somente para políticos,

mas para administradores de empresas de capital aberto, especial-mente bancos.

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E o primeiro item é saber se foi formado em AdministraçãoBancária antes de entregar 1 bilhão para estes malucos adminis-trarem.

Por isto, tenho batido na mesma tecla há 34 anos desde quandoescrevia na Revista Exame, a primeira revista de negócios doBrasil.

“O único que poderá salvar o capitalismo dos capitalistas é o Admin-istrador Socialmente Responsável, treinado, educado, conscientizado,selecionado, almejado e valorizado pela sociedade, para executar exata-mente esta função.”

Para quem não acompanha esta tese, Administradores Social-mente Responsáveis são aqueles que se preocupam com os Stake-holders, e não somente os Stockholders, inglês para capitalistas.

Stakeholders são todos aqueles que têm um compromisso comas empresas, que vai desde os trabalhadores, fornecedores, colab-oradores, que tal qual os capitalistas também “investem” naempresa.

Para o desespero das escolas de Chicago, ficou evidenciado queAdministradores Socialmente Responsáveis não maximizavam olucro do acionista. Pecado mortal.

De fato, damos aumentos aos funcionários para mantê-los fiéis,trocamos produtos defeituosos sem fazer perguntas ao cliente,mantemos os acionistas felizes com dividendos mínimos, mascrescentes.

De fato não almejamos o lucro máximo, porque acreditamosque o lucro máximo não é autossustentável, tese que se confirmoucom esta crise.

Para minar este movimento da Administração, a Escola deChicago inventou o “bônus”, o Stock Option, para alinhar nova-

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mente o administrador profissional com o capitalista e maximizaro lucro trimestral.

Que deu no que deu.Não existe esta tal mão invisível do mercado pregada pelos

economistas e os neoliberais.Nem tampouco existe esta mão visível do Estado que provou

ser ágil e capaz de resolver a crise do capitalismo, mas somentedepois que ela ocorreu.

Quem pode salvar o capitalismo dos capitalistas é o movimentoda Administração Socialmente Responsável, que prevaleceu atéos anos 80.

Se você é um jovem desiludido com o Capitalismo de Mercadoe com o Capitalismo de Estado, não se preocupe, existe uma luzno final do túnel.

Se você não acredita mais no poder do mercado regulador, nemnos regulamentos elaborados pelo Estado, existe uma solução.

Se você sente que o mundo está à deriva, sem controle, umsalve-se quem puder, existe uma salvação.

Ela dependerá de um movimento que envolverá dois milhões deprofissionais, que estejam dispostos a serem treinados, que este-jam dispostos a seguir uma linha ética e de conduta socialmenteresponsável.

Que estejam dispostos a seguir os valores compartilhados deuma profissão voltada não a defender os capitalistas, Wall Streete Washington, mas promover o bem-estar de todos que investemnas empresas em que colaboram.

Isto já foi feito em outros países há mais de 100 anos.Agora só depende de você, Administrador Socialmente

Responsável.

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A Missão do AdministradorBrasileiro

Recuperar o Tempo Perdido Pelo Dec Lei 7988/45

A cada ano surgem dezenas e dezenas de modismos empresariais.Destes, um ou outro pega e vira coqueluche.“Reengenharia”, “zero-defects”, “organizações que aprendem”,

etc… são alguns exemplos.Muitas dessas coqueluches são teorias simples, algumas até

antigas com roupagem nova, moda feita especialmente para man-ter nós, consultores, em demanda e com clientela.

Não somos os únicos a criar moda, diga-se de passagem.O problema com estas coqueluches não está no fato de serem

modismos.O grande perigo está na sua natureza.Ao adotar coqueluches administrativas de países de Primeiro

Mundo, estamos importando modelos que são soluções eficazespara os problemas do Primeiro Mundo.

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Nossos problemas são outros, e requerem outras soluções.Nós ainda não precisamos “reinventar a organização”, pre-

cisamos somente criá-la corretamente do início.Não precisamos fazer a “reengenharia” das nossas empresas,

somente a engenharia.O Brasil não precisa ainda desmontar o que foi feito, como é o

caso das empresas americanas, porque tudo ainda está por fazer,exceção feita a algumas grandes empresas de São Paulo, que defato precisam se reinventar.

Se olharmos, porém, as empresas de Santa Catarina, MinasGerais, Paraná e Ceará, veremos que estão dando um banho deeficiência justamente porque não precisam se reinventar, não pre-cisam de reengenharia.

A era do administrador está ainda no seu nascimento e vamosdobrar o número de empresas existentes.

Santo de casa não faz milagre, diz um ditado brasileiro, massoluções de fora também não.

Problemas brasileiros requerem soluções brasileiras.Esta afirmação gera enormes calafrios, porque embora seja rel-

ativamente óbvia, ela nos coloca cara a cara com a nossa pobrezacriativa.

De fato, falta talento criativo nesta área, uma das razões pelaqual copiamos de pronto os modismos de fora.

Porém, copiar não é a saída, embora muitos acreditam que éuma perda de tempo reinventar a roda se Peter Drucker, MichaelPorter e Phillip Kotler já acharam a solução.

Minha experiência profissional, aliás, mostra justamente o con-trário.

Quem reinventa a roda tem mais chances de achar uma ino-vação tecnológica do que aquele que simplesmente a copia.

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O PIB brasileiro nesta virada de milênio é similar ao PIB ameri-cano de 1920.

Entre 1910 e 1920 a grande discussão acadêmica e empresarialnos Estados Unidos era como transformar estrutura familiar emestrutura profissional – a mesma discussão que vivem as grandesempresas de capital nacional.

Em 1919 fundava-se nos Estados Unidos a Associação Nacionalde Contadores de Custos, organização que até hoje não con-seguimos criar no Brasil.

Em 1920 os Estados Unidos possuíam 150 milhões de habitantes,praticamente a mesma população do Brasil nesta virada de século.

As semelhanças entre o Brasil de hoje e os Estados Unidos de1920 são enormes.

Por isto, se vocês insistem em ler livros americanos de adminis-tração, comecem com os livros escritos em 1920.

Como ninguém vai achar que estou falando sério e vão quererler os autores de hoje, como Peter Drucker, comecem com oslivros que ele escreveu em 1950.

“Effective Management” falava da necessidade de introduzircontabilidade de custo, por exemplo, algo que muitas empresas atéhoje não tem.

O “Managing For Results”, escrito em 1953, contém uma dezenade técnicas de gerenciamento elementares que muitas pequenase médias empresas brasileiras ainda não utilizam, como curvasABC.

Leiam também a literatura americana de administração de 1950,1940 e 1930.

Com certa dose de adaptação, a leitura será muito proveitosa.O ano de 1950 não precisa ser encarado como um atraso e retro-

cesso, e sim como fonte de inspiração.

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Esta ideia brasileira de pular etapas é uma bobagem intelectual.Podemos no máximo acelerar etapas, jamais pulá-las.Para continuarmos esta discussão, inscreva-se para receber

meus artigos futuros em blog.kanitz.com.brBoa sorte.

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