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  XIII ENCONTRO ANUAL DA ABEM 18 a 22 de outubro de 2004 Rio de Janeiro – RJ

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XIII ENCONTRO ANUAL DA ABEM18 a 22 de outubro de 2004 Rio de Janeiro RJ

Realizao Conservatrio Brasileiro de Msica Centro Universitrio (CBM / CEU) Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO) Associao Brasileira de Educao Musical (ABEM)

Apoio Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Colgio Pedro II Escola de Msica Villa-Lobos / FUNARJ Escolas Livres

Local MEC Salo Gustavo Capanema CBM / CEU Auditrio Lorenzo Fernandez

ASSOCIAO BRASILEIRA DE EDUCAO MUSICAL ABEMDiretorias e Conselho Editorial da ABEM Binio 2003-2005 DIRETORIA NACIONAL Presidente: Vice-Presidente: Presidente de Honra: Secretria: Tesoureira: Dra. Jusamara Souza (UFRGS) [email protected] Dra. Alda de Jesus Oliveira (UFBA) [email protected] Dra. Vanda Bellard Freire (UFRJ) [email protected] Dra. Beatriz Ilari (UFPR) [email protected] Dra. Teresa Mateiro (UDESC) [email protected]

DIRETORIA REGIONAL Regio Norte: Regio Nordeste: Regio Sudeste: Regio Sul: Regio Centro-Oeste: CONSELHO EDITORIAL Presidente: Editora: Dra. Cludia Ribeiro Bellochio (UFSM) [email protected] Dra. Luciana Del Ben (UFRGS) [email protected] Dra. Cristina Grossi (UnB) [email protected] Dra. Lia Braga Vieira (UEPA/UFPA) [email protected] Dra. Maria Isabel Montandon (UnB) [email protected] Ms. Celson Sousa Gomes (UFPA) [email protected] Dra. Cristina Tourinho (UFBA) [email protected] Dr. Srgio Alvares (UFES) [email protected] Dra. Magali Kleber (UEL) [email protected] Dra. Cssia Virgnia Coelho de Souza (UFMT) [email protected]

Comisso Organizadora do XIII Encontro Anual da ABEM COORDENAO GERAL Profa. Ceclia Conde (CBM-CEU) Profa. Dra. Regina Marcia Simo Santos (UNIRIO) COMISSO ORGANIZADORA Prof. Ms. Avelino Romero (UNIRIO) Prof. Ms. Carlos Soares (EMVL/FUNARJ) Profa. Denise Borborema (EMVL/FUNARJ) Profa. Ms. Helena Rosa Trope (CBM-CEU) Profa. Ms. Ins Rocha (Colgio Pedro II) Prof. Ms. Jos Maria Braga (EMVL/FUNARJ) Prof. Dr. Jos DAssuno (CBM-CEU) Profa. Ms. Luciana Requio (Escolas Livres) Prof. Dr. Marco Antonio Carvalho Santos (CBM-CEU) Prof. Dr. Marcos Vincio Nogueira (UFRJ) Prof. Ms. Maria Cristina Nascimento (Colgio Pedro II) Prof. Ms. Patrcia Peres (CBM-CEU/UNIMONTES) Profa. Ms. Sarah Cohen (UFRJ) Profa. Ms. Sonia Almeida (EMVL/FUNARJ) Prof. Thegenes Eugnio Figueiredo (STBSB) Profa. Dra. Vanda Freire (UFRJ) SECRETARIA Ana Paula Cabral (CBM-CEU) Clara Leito (CBM-CEU) COORDENAO CIENTFICA Prof. Ms. Ins Rocha (Colgio Pedro II) Prof. Dr. Marco Antonio Carvalho Santos (CBM-CEU)

XIII ENCONTRO ANUAL DA ABEM

Apresentao

Os encontros anuais da ABEM tm-se constitudo em espaos de divulgao e socializao de conhecimentos e partilha de experincias entre pesquisadores e professores da rea de educao musical. A cidade do Rio de Janeiro tem orgulho de sediar o XIII Encontro Anual da ABEM, no perodo de 18 a 22 de outubro de 2004, por ser uma cidade com significativo trabalho na rea de educao musical e tradio na luta pela volta da msica s escolas. O XIII Encontro Anual da ABEM tem como tema A realidade nas escolas e a formao do professor de msica: polticas pblicas, solues construdas e em construo. uma realizao do Conservatrio Brasileiro de Msica Centro Universitrio (CBM / CEU), em parceria com a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UNIRIO) e com a Associao Brasileira de Educao Musical (ABEM), contando com o apoio da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), do Colgio Pedro II, da Escola de Msica Villa-Lobos / FUNARJ e de Escolas Livres de Msica.

AUTORESClique no sinal |+| no quadro esquerda para ter acesso a todos os artigos. Para consulta de palavras-chave, utilize a ferramenta Editar/Localizar (Ctrl+F) Para visualizar apenas o trabalho clique em F5. Para retornar ao ndice, pressione novamente F5.

TRABALHOSClique no sinal |+| no quadro esquerda para ter acesso a todos os artigos. Para consulta de palavras-chave, utilize a ferramenta Editar/Localizar (Ctrl+F) Para visualizar apenas o trabalho clique em F5. Para retornar ao ndice, pressione novamente F5.

ADOLESCENTES, O CANTO E AS MDIAS ELETRNICAS Agnes Schmeling (UFRGS) [email protected]

Resumo. A educao musical tem mostrado interesse em investigar prticas musicais nas diferentes faixas etrias e em diferentes espaos e contextos sociais. Nesta comunicao apresento um recorte da pesquisa em andamento intitulada O canto intermediado pelas mdias eletrnicas: um estudo de caso com adolescentes, desenvolvida no Programa de Ps-Graduao em Msica da UFRGS, sob orientao da Profa. Dra. Jusamara Souza. Ela aborda o canto apoiado pelas mdias eletrnicas e os processos de aprendizagem musical provocado por estes meios. Neste relato trago as questes da pesquisa, a metodologia utilizada, os participantes da mesma e reflito, a partir da coleta de dados, sobre alguns resultados preliminares.

Introduo As crianas e os jovens demonstram atravs de seu repertrio, o qual cantam, percutem, danam e discutem, um grande envolvimento com a msica. Tagg (1990) comenta que as crianas de oito anos de idade, esto hoje mais envolvidas com a msica do que seus bisavs em toda sua vida (Tagg apud Mnch, 1990, p. 383). A msica em suas formas de distribuio, acesso, produo, na diversificao de estilos e tendncias musicais est vinculada ao desenvolvimento tecnolgico. Do manuseio do rdio aos processadores digitais de som, a tecnologia se desenvolve oferecendo acesso e possibilidade de manuseio da prpria msica. Este desenvolvimento proporciona novas formas de produo e divulgao musical, bem como diversifica os modos de entretenimento e apropriao da msica na sociedade. A presena da msica pode ser observada atravs das seguintes mdias eletrnicas: do rdio, que preenche a maior parte da sua programao com canes; da televiso, que utiliza a msica em trilhas sonoras de filmes, em temas de novelas, em videoclips e na programao musical especfica; da internet, atravs de programas especficos de msica que permitem gravar e reproduzir, cantar e mixar a voz, baixar letras, cifras e arranjos vocais. Os equipamentos musicais como CD player e DVD possibilitam a escolha do repertrio a ser ouvido. A relao dos adolescentes com a msica atravs das mdias me motivou a esta pesquisa, na qual os jovens buscam sua forma de participao, execuo e aprendizagem.

1.A pesquisa A pesquisa, hora em andamento, intitulada O canto intermediado pelas mdias eletrnicas: um estudo de caso com adolescentes1, tem como objetivo abordar o canto apoiado pelas mdias eletrnicas e os processos de aprendizagem musical envolvidos nesta prtica. Investigar como as mdias eletrnicas tm provocado novas formas de um fazer msico-vocal e como adolescentes tm se apropriado da tecnologia para esta prtica, tem sido o foco deste trabalho. As questes norteadoras da investigao so as seguintes: Quais so as mdias eletrnicas disponveis para os adolescentes? Quais destas so utilizadas para o canto? Por que eles utilizam as mdias eletrnicas para cantar? De que maneira os adolescentes o fazem? Que funes pedaggicomusicais exercem as mdias sobre as prticas msico-vocais dos adolescentes? Atualmente a educao musical tem discutido sobre diferentes modos de se fazer msica, sobre processos de aprendizagem em espaos no escolares, sobre a auto-aprendizagem, sobre a aprendizagem da msica atravs da televiso e do rdio, sobre padres estticos surgidos a partir dos recursos tcnicos das novas mdias, entre outros aspectos. Os trabalhos de Araldi (2004), Schmitt (2004), Fialho (2003), Ramos (2002), Corra (2001), Fischer (2001), Bozetto (2000), Del Ben (2000), Krger (2000), Santos (2000) e Souza (2000), por exemplo, embora no abordem especificamente o canto, discutem o emprego da tecnologia na educao musical. Entre os autores que abordem o canto, encontramos, por exemplo, os que se referem a palavra cantada2. 2.Metodologia Para participar desta pesquisa, procurei adolescentes envolvidos por um interesse comum, a prtica vocal intermediada pelas mdias eletrnicas. Selecionei os participantes atravs de visitas a diferentes espaos nos quais eu supunha encontrar adolescentes envolvidos com o ato de cantar: uma escola particular de ensino regular e trs espaos de ensino musical em diferentes contextos sociais. A partir deste contato inicial, acabei selecionando cinco adolescentes, entre 16 e 17 anos de idade. Os critrios de seleo basearam-se no hbito e interesse de cantar, na utilizao de equipamentos eletrnicos em sua prtica vocal e na disponibilidade em participar da pesquisa.Pesquisa desenvolvida junto ao Programa de Ps-Graduao em Msica da UFRGS, sob orientao da Profa. Dra. Jusamara Souza. 2 MATOS, Cludia Neiva de; Travassos, Elizabeth; Medeiros, Fernanda Teixeira de (orgs.) Ao encontro da palavra cantada poesia, msica e voz. Rio de Janeiro: 7 letras, 2001.1

A coleta de dados tem se concentrado em entrevistas espontneas e focais e em observao direta (Yin, 2003). Estas esto sendo registradas por meios de gravaes em udio e vdeo, fotografias e complementadas pelo dirio de campo. As entrevistas so individuais e ocorrem nos locais escolhidos pelos participantes: em sua escola ou em sua casa. Os participantes Beatriz, uma jovem que gosta de cantar em todos os momentos. Como comenta: pedem para eu calar a boca. Ela gosta de ouvir muito rdio. Nas estaes de sua escolha ouve e acompanha cantando as msicas e presta ateno nos comentrios dos locutores que definem para ela o que ser jovem. Seus CDs so compostos por suas msicas prediletas, em formato MP3, confeccionados pelo seu amigo de escola. Gosta muito de teatro e dos videoclipes apresentados pela MTV. Roberto conquistou-me quando chegou com o seu discman e me disse: professora, esta aqui a msica que eu gosto de cantar, pontuando na prtica o que tentara me descrever momentos antes e apontando para o uso que faz da mdia eletrnica para cantar. Tambm ouve muito rdio e imita os cantores utilizando seu registro vocal de bartono e o falsete quando se trata de imitar as vozes femininas ou passagens muito agudas na voz masculina. Os CDs, troca ou pede emprestado aos amigos. Gosta de cantar e danar com eles e o ato de cantar mostra-se como um elemento muito importante em sua vida. Fernando toca e canta numa banda. Em diferentes momentos coloca que canta porque toca violo. Utiliza na maior parte o computador para baixar suas msicas, as cifras e as letras. Faz uso deste para cantar com o microfone acompanhando e aprendendo as suas canes escolhidas. Gosta de cantar no seu quarto e com os amigos. Mostra-se desenvolto para modular as canes para seu conforto vocal. Relata que o rdio e a televiso lhe proporcionam as novidades musicais, enquanto que atravs do computador acessa o que lhe interessa. Gabriela, uma jovem de voz mais grave, com uma rouquido proveniente de fendas nas pregas vocais, no se inibe em cantar. Canta acompanhando seus mltiplos CDs atravs do PC. Vasculha na internet canes novas, em busca de vozes que j ouviu e gostou. Adora trilhas de filmes, no se inibe com o ingls e com passagens mais agudas, as quais acompanha assobiando.

Gosta de videoclipes e DVDs. Demonstra a interao com as diferentes mdias eletrnicas no manuseio dos equipamentos em seu quarto. Luis dificilmente consegue falar sem estar acompanhado de seu violo, sem estar batucando ou acompanhando o ritmo da msica com o corpo. Em seu quarto mergulha no alto volume de suas caixas de som. Pega com propriedade o microfone, canta junto com seus CDs, improvisa backing vocals, escreve poesias e toca com seus amigos. Fala com paixo sobre msica e quando perguntado sobre se j fez alguma aula de msica, responde que j tentou mas que no tem pacincia de estudar aquelas coisas. 3.Alguns resultados preliminares A msica apresenta-se no dia-a-dia dos adolescentes como um elemento onipresente. Todos os entrevistados tm acesso ao rdio, televiso e ao CD player. O DVD e o discman so aparelhos eletrnicos utilizados somente por alguns dos adolescentes entrevistados. Tambm nem todos entrevistados tm acesso direto ao computador, mas atravs de amigos ou do local de estudo eles tm como usufruir de seus recursos. Quando perguntados sobre a motivao para cantar e sobre o seu repertrio, estes esto, em muitos momentos, relacionado a possibilidade de contato que os adolescentes tm com as diferentes mdias eletrnicas e a questes familiares. Por exemplo, o primo que vocalista de uma banda, o av que canta em encontros de famlia e mostra sua coleo de LPs para a neta e as lembranas da me e dos primos que ouviam rdio, como descreve Roberto:Na poca em que a minha me era viva, ela sempre escutava bandinha [...], Terceira Dimenso, Os Atuais, Amado Batista, ento eu, nessa poca eu s escutava esse tipo de msica, eu s gostava desse tipo de msica, da eu sabia tudo, qualquer msica que desse no rdio desses grupos eu cantava, da ela faleceu, da eu fui me distraindo ... Meus primos escutavam outros tipos de msica da eu comecei a viver mais com eles, escutava outros tipos de msica, fui mudando, fui gostando de outro tipo de msica [...] (Roberto, Entrevista 1, p.5).

Os adolescentes entrevistados relatam que gostam de cantar especialmente quando esto em seus quartos, no banho, realizando os afazeres da casa ou da escola, nos percursos para escola, no encontro com os amigos, nos intervalos das aulas e inclusive desafiam as regras da instituio na utilizao de mdias eletrnicas durante o transcorrer das atividades escolares ou de sala de aula. Luis afirma:

Eu durmo ouvindo msica, eu tomo banho ouvindo msica, eu acordo, a primeira coisa que eu fao ligar o rdio, eu como ouvindo msica... eu fao tudo ouvindo msica! Tudo, tudo, assim ...[...] Tudo! Eu vou pro banheiro eu vou com meu radinho eu vou ouvindo msica. Se eu t aqui no colgio, [..] ou sair, sempre com o radinho. Eu gosto de estudar [...] por exemplo, histria, geografia, eu no consigo estudar [...] ouvindo msica porque da eu me desconcentro, mas ahm matemtica, fsica, qumica isso a tudo eu fao ouvindo msica. At a aula, por exemplo, que uma coisa que eu brigo aqui no colgio a sculos, o fato de no poder ouvir walkman aqui na aula, que eu acho uma palhaada porque se eu t ouvindo msica, eu t no meu mundo [...] (Luis, entrevista 1, p. 4-5).

Quando descreve os meios utilizados, Fernando relata que o rdio e a televiso divulgam as novidades musicais enquanto que, atravs do computador e dos CDs, pode escolher seu repertrio, detalhando-o, repetindo-o e acompanhando os cantores e instrumentistas, at aprendlo, a fim de cantar e acompanhar-se ao violo., o que mais me incentiva assim a cantar o, a mp3 mesmo, porque eu passo bastante tempo no computador e nesse tempo, eu fico bastante, fico escutando bastante msica e isso me empolga mais ou menos, me d vontade de tocar, de cantar as msicas porque so msicas que eu gosto, n? [...] Tipo, na frente do computador comecei a cantar sozinho. (Fernando, entrevista 1, p.7)

O manuseio do computador, o acesso internet, possibilita diferentes formas de estar em contato e aprender msica. Este processo permite ao Fernando uma forma de aprendizagem onde ele no aprende totalmente sozinho, mas interagindo com as informaes apresentadas pelos sites e programas. Um outro aspecto observado na atuao dos adolescentes a sua maneira de cantar. O padro esttico vocal estabelecido atravs das msicas escolhidas e dos cantores que as interpretam. Estas msicas so o referencial vocal dos adolescentes pesquisados. Por elas so estabelecidos padres de andamento, de dinmica, de colocao vocal, de inflexes, de expresso musical, entre outros elementos. As mdias eletrnicas, neste contexto, servem como base para a aprendizagem msico-vocal. Roberto, por exemplo, relata que tenta imitar o mximo a voz dos cantores (Roberto, entrevista 1, p.5). Alm de servir como elemento tcnico e de apoio para essa aprendizagem, Roberto e os demais adolescentes entrevistados apontam para a necessidade de interao e de identificao com aquele cantor/cantora ou com aquela banda escolhida. 4.Consideraes finais O desenvolvimento da tecnologia estimula o jovem a incluir a msica nas suas atividades cotidianas. Por exemplo, no mais necessrio sair de casa para se fazer msica, no se precisa

mais de uma tecnologia especializada para produzir e vivenciar a msica. Como comenta Gonh (2003), a tecnologia desenvolveu-se a tal ponto, que alm de participar na produo e disseminao da msica, passou a fazer parte integrante do cotidiano musical dos indivduos (p. 63). Com a possibilidade do jovem poder participar da produo musical bem como da propagao da msica, no apresentado-se como um participante passivo, um mero receptor, mas sim, como [uma] pessoa usando e apropriando-se da msica; [um] agente que tenta o melhor dele: trabalhar com os materiais disponveis e engajado na interao humano-msica (DeNora, 2000, p. 95). O uso das tecnologias na msica um fenmeno relevante na atualidade, o que leva Knolle (1996), a indagar se podemos nos permitir ignorar uma evoluo irreversvel a tecnizao da atual cultura musical e a convivncia com a mesma como desafio educao musical e sua concepo pedaggica? (Knolle apud Schlbitz, 1996, p. 8). Dessa forma, as relaes que os adolescentes estabelecem com as mdias eletrnicas, bem como com o espao sociocultural onde a sua msica se insere em seus cotidianos pode contribuir como fomento s reflexes sobre a educao musical ligada a seu tempo.

REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ARALDI, Juciane. Formao e prtica musical de DJs: um estudo multicaso em Porto Alegre. Dissertao de Mestrado. Programa de Ps-Graduao em Msica, Universidade Federal do Rio Grande do Sul. POA, 2004. BOZZETTO, A. A msica do Bambi: da tela para a aula de piano. 2000. In: SOUZA, Jusamara (org.) Msica, Cotidiano e Educao. Porto Alegre: PPG-Msica/UFRGS, p.107-117, 2000. CORRA, Marcos Kroning. Violo sem professor: um estudo sobre processos de autoaprendizagem musical com adolescentes. Dissertao de Mestrado. Programa de Ps-Graduao em Msica, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2000. DEL BEN, Luciana. Ouvir-ver msica: novos modos de vivenciar e falar sobre a msica. In: SOUZA, Jusamara (org.). Msica, Cotidiano e Educao. Porto Alegre: PPG-Msica/UFRGS, p. 91-106, 2000. DeNORA, T. Music in everyday life. Cambridge: University Press, 2000.

FIALHO, Vania Malagutti. Hip Hop Sul: um espao televisivo de formao e atuao musical. Dissertao de Mestrado. Programa de Ps-Graduao em Msica, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2003. FISCHER, R. M. B. O estatuto pedaggico da mdia: questes de anlise. Revista Educao e Realidade. p. 59-80, 1997. GOHN, Daniel Marcondes. Auto-aprendizagem musical: alternativas tecnolgicas. So Paulo: Annablume/Fapesp, 2003. KRGER, S. E. Desenvolvimento, testagem e proposta de um roteiro para avaliao de software para educao musical. Dissertao de Mestrado. Programa de Ps-Graduao em Msica, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2000. MATOS, Cludia Neiva de; Travassos, Elizabeth; Medeiros, Fernanda Teixeira de (orgs.) Ao encontro da palavra cantada poesia, msica e voz. Rio de Janeiro: 7 letras, 2001. MNCH, Thomas. Jugend, Musik und Medien. In: BAACKE, Dieter(orgs), Handbuch Jugend und Musik, Leske + Budrich, Ophalen, p.383 400, 1997. RAMOS, Silvia Nunes. Msica da televiso no cotidiano de crianas: um estudo de caso com um grupo de 9 e 10 anos. Dissertao de Mestrado. Programa de Ps-Graduao em Msica, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2002. SANTOS, C. A. Influncias da mdia na educao das crianas: a observao consciente do cotidiano. 2000. In: SOUZA, Jusamara (org.). Msica, Cotidiano e Educao. Porto Alegre: PPG-Msica/UFRGS, p. 121-131, 2000. SCHMITT, Marta Adriana. Programa Clube do Guri: um espao musical no rdio (1959-1960). Dissertao de Mestrado. Programa de Ps-Graduao em Msica, Universidade Federal do Rio Grande do Sul. POA, 2004. SCHLBITZ, Norbet. Der diskrete Charme der Neuen Medien. Digitale Musik im medientheoretischen Context und deren musikpdagogisch Wertung. Augsburg, Bernd Wisner, 1996. SOUZA, Jusamara. A experincia musical cotidiana e a pedagogia. In: SOUZA, Jusamara (org.). Msica, Cotidiano e Educao. Porto Alegre: PPG-Msica/UFRGS, p. 3343, 2000a. ______. Cotidiano e Mdia: desafios para uma educao musical contempornea. In: SOUZA, Jusamara (org.). Msica, Cotidiano e Educao. Porto Alegre: PPG-Msica/UFRGS, p. 4557, 2000b.

______. Caminhos para a construo de uma outra didtica da msica. In: SOUZA, Jusamara (org.). Msica, Cotidiano e Educao. Porto Alegre: PPG-Msica/UFRGS, p. 173185, 2000c. YIN, R. Estudo de caso: Planejamento e mtodos. Traduo de Daniel Grassi. 2 ed. Porto Alegre: Bookman, 2003.

VILLA-LOBOS E A IDEOLOGIA DO CANTO ORFENICO: DO CONSCIENTE AO INCONSCIENTE Alessandra Coutinho Lisboa [email protected] Maria de Lourdes Sekeff Zampronha [email protected]

Resumo. A pesquisa trata do projeto de Educao Musical atravs do Canto Orfenico desenvolvido por Villa-Lobos no Brasil (dcadas de 1930 / 1940) e suas relaes com a poltica ento vigente. O Canto Orfenico, caracterizado ento por sua grande abrangncia, desenvolveu-se juntamente implantao do regime totalitrio do Estado Novo. A mobilizao de massas e a associao entre msica, disciplina e nacionalismo possibilitaram uma convergncia de idias e fizeram com que projeto se tornasse uma forma de instrumento propagador da ideologia do regime (tambm assentada em tais ideais). Tendo em vista esse fato, a pesquisa se prope a trabalhar um novo enfoque a respeito das relaes entre o movimento orfenico e tal ideologia, que se baseia na investigao de estruturas mticas arquetpicas possivelmente influentes no repertrio e nas concentraes orfenicas, estruturas amplamente utilizadas por regimes totalitrios e que teriam a funo de preparar e promover "inconscientemente" a aceitao da ideologia imposta.

O ensino do Canto Orfenico no Brasil parte deste seguinte princpio filosfico: do consciente para o sub-consciente. (in Villa-Lobos, 1951, pg. 6)

A afirmao acima consta no 2 volume do Manual de Canto Orfenico organizado por Villa-Lobos, ao lado de outras declaraes do compositor acerca dos objetivos desse ensino e dos decretos do Ministrio da Educao referentes sua obrigatoriedade como disciplina nas escolas pblicas. Tal afirmao assume importncia para a nossa pesquisa ao apontar a linha de investigao que nos propusemos encetar: o estudo do projeto de Villa-Lobos indo alm do canto em conjunto, revelando-se como possvel agente propagador (em mbito consciente e tambm inconsciente) da ideologia poltica que vigia no momento histrico em que o projeto foi desenvolvido. O Canto Orfenico j vinha sendo praticado no Brasil desde fins do sculo XIX no estado de So Paulo, desenvolvido sobretudo por Carlos Gomes Cardim, Joo Gomes Jnior e Fabiano Lozano. Mas foi com Villa-Lobos, durante as dcadas de 1930 e 1940, perodo que abrange o regime totalitrio do Estado Novo (1937-1945)1, que o movimento orfenico tomou1 O Estado Novo foi um regime ditatorial que se instaurou no Brasil em 1937 por meio de um golpe de estado

dimenses considerveis, uma vez que, por meio da interveno do governo federal representado pelo ento presidente Getlio Vargas, o projeto foi implantado e regulamentado nacionalmente como disciplina obrigatria nas escolas pblicas. O movimento trazia em si a associao msica-disciplina-civismo, revestindo-se de conotaes nacionalistas. A ditadura implantada em 1937 esteve assentada em uma ideologia burguesa tambm voltada ao nacionalismo, promovendo sociedade ampla divulgao do sentimento nacional e patritico a fim de que fossem absorvidos pela massa, garantindo elite a manuteno do poder. O efeito de unificao psicolgica, de disciplina e harmonia de ao, carregado de conotao cvico-patritica induzida pelas melodias aprendidas e cantadas em grupo, acabou concorrendo para a emergncia e desenvolvimento de um forte sentimento patritico e nacionalista, que consciente e/ou inconscientemente, ia alm da msica pela msica. Como enfoques musicolgicos (Andrade, 1965) e psicolgicos (Ribas, 1957) sustentam que a msica, construda sob determinados princpios formais e vivenciada sob determinadas condies, contribui particularmente para unir os homens entre si, investigamos o projeto do Canto Orfenico, que propunha como objetivo a disciplina, civismo e arte, no sentido de ter respondido aos interesses da ideologia ento vigente, interessando ditadura como instrumento de propagao ideolgica. Diretrizes cvico-patriticas caracterizaram movimentos polticos de afirmao de identidade nacional tambm em outros pases, circunstncia comum em razo do contexto histrico, poltico e econmico mundial que favoreceu o nascimento de regimes totalitrios em vrios pases da Europa e da Amrica do Sul (contexto entre as duas guerras mundiais). Nessas circunstncias a educao musical de pases como Hungria e Alemanha tambm esteve impregnada de elementos nacionalistas, sobretudo em termos de repertrio coral, com os corais alemes servindo de exemplo de perfeio tcnica e disciplina para o movimento orfenico no Brasil. O repertrio orfenico villa-lobiano era todo baseado em canes folclricas prexistentes e tambm em melodias ambientadas com novos textos, alm de canes compostas e/ou arranjadas pelo prprio compositor, sempre com letras impregnadas de patriotismo, exaltando as belezas da terra, a raa brasileira e a figura do presidente Vargas. O uso do folclore e o incentivo prtica coral como fator de educao musical remontam corrente modernista-nacionalista (liderada por Mrio de Andrade), que pregava a msicapromovido pelo ento presidente Getlio Vargas, que fechou o Congresso Nacional e passou a governar com a centralizao mxima do poder em suas mos.

folclrica nacional como fonte essencialmente brasileira de criao esttico-musical, desprovida da contaminao dos gneros musicais europeus. Alm desses elementos a msica coral viria carregada de valor social (ao contrrio da msica de elite, tida ento como individualista e sem engajamento social), sendo considerada por Mrio de Andrade como a mais coletiva de todas as artes (Andrade, 1965, p. 18). O canto em conjunto era o smbolo dessa coletividade. Assim, considerando as bases em que estava assentado o repertrio orfenico e seu olhar voltado ao nacionalismo musical, num primeiro momento objetivamos investigar se as idias contidas no projeto educacional de Villa-Lobos realmente legitimam a possvel convergncia com a ideologia poltica vigente, possibilitando que o movimento orfenico pudesse ter sido utilizado pelo poder como modelo e prtica de educao pela msica e tambm como difuso da ideologia poltica reinante. Para o conceito de ideologia, num contexto ligado existncia de classes sociais, baseamo-nos na teoria do socilogo Karl Mannheim (1968), que a conceitua dentro do mesmo referencial histrico mundial contemporneo (sculo XX). Levantamos diferentes trabalhos que registram a referida convergncia de idias entre o Canto Orfenico de Villa-Lobos e a ideologia getulista, como os de Jusamara Souza (1991 / 1999), Arnaldo Contier (1998) e J. Miguel Wisnik (1983). Contudo acreditamos que nossa pesquisa avance um pouco mais, pois que se assenta em um novo enfoque: o mtico. Nas expressivas mobilizaes de massas que o movimento orfenico promoveu atravs de concentraes orfenicas realizadas em campos de futebol (em celebrao de datas cvicas), o apelo emocional e o xtase coletivo resultantes envolviam as massas de forma inquestionvel, cabendo assim levantar o qu, nas concentraes e no movimento em geral produzia essa reao, esse estado psicolgico que poderia estar servindo como um meio facilitador de uma impregnao mais eficiente da ideologia poltica nas massas: as melodias? O texto? O ritmo? A prpria concentrao? Lembremos o depoimento de Cacilda Guimares Fres a respeito de sua participao em uma das concentraes orfenicas realizadas por Villa-Lobos:(...) Os coraes fremem de entusiasmo e vem-se lgrimas at nos olhos de gente grande (...) Esse o meu patriotismo. Patriotismo que vale por todos os outros que senti antes, porque brotou ali, espontneo, daquela comunho perfeita de vozes, de gestos, de almas, de pensamentos disciplinados, coesos, num esforo de todos para o xito comum. (Fres, 1972, p. 33)

Melodias e textos unidos a um ideal coletivo expresso nas concentraes orfenicas, imergindo os indivduos num estado psicolgico coletivo prximo hipnose, no poderiam ter colaborado para uma forma de aceitao e interiorizao inconsciente da ideologia

poltica de ento? O que estaria presente ali nos textos, melodias e concentraes orfenicas e que provocaria tal xtase? Para esse questionamento, levantamos a hiptese de que tal estado psicolgico em que as massas eram envolvidas poderia encontrar sua explicao na vivncia de um arqutipo mtico. Ao adentrarmos nessa questo, procuramos respaldo nas teorias do mito de Joseph Campbel (1904-1987) e na Psicologia Analtica de Carl Gustav Jung (18751961) e sua teoria a respeito da natureza inconsciente. Conceitos como inconsciente coletivo, arqutipos e mitos so necessrios para levantarmos a hiptese de que estruturas mticas arquetpicas sustentavam as canes e concentraes orfenicas. Experincias mticas so vivenciadas na emoo coletiva e tambm fundamentam regimes totalitrios, como afirma Patai (1974, p. 285):Os mitos do totalitarismo so estruturas imensas, esmagadoras, que exercem influncia quase mgica sobre as pessoas e tendem a ignorar os interesses individuais. Incutem no indivduo a sensao de fazer parte de uma grande aventura, um sentimento que psicologicamente muitssimo satisfatrio e que, sejam quais forem os seus inconvenientes, concorre para a unidade nacional.

Para a pesquisa baseamo-nos na metodologia da pesquisa qualitativa (interpretativa). Em termos de pesquisa qualitativa ou interpretativa considera-se aqui, privilegiadamente, o seu carter baseado na investigao de fenmenos em que no so utilizadas mensuraes de variveis (como na pesquisa quantitativa). Nesse modelo de investigao o pesquisador observa tais fenmenos, interpreta-os e estabelece relaes entre os mesmos. Assim, num primeiro momento, analisamos como se desenvolveu a ideologia poltica do Estado Novo e de que forma o movimento do Canto Orfenico de Villa-Lobos possa ter entrado em convergncia com tal ideologia. Para tanto foram analisadas algumas das canes que integram os dois volumes do Manual de Canto Orfenico organizado pelo compositor, observando-se sobretudo o teor ideolgico de seus textos. Essa anlise foi feita posteriormente a uma explanao do contexto histrico em que se deu a proclamao do Estado Novo e da definio do conceito de ideologia (como dissemos, com referencial nas teorias do socilogo Karl Mannheim (1968)), alm da identificao dos pilares ideolgicos que guiaram poltica totalitria. Adentramos em seguida nos conceitos de Joseph Campbel (1991 / 1995) a respeito do mito e sobretudo na Psicologia Analtica de Carl Gustav Jung (1993) e sua teoria a respeito da natureza inconsciente. Levantamos conceitos tericos necessrios ao objetivo desta pesquisa, no adentrando em questes relacionadas a procedimentos teraputicos da Psicologia Analtica, o que fugiria ao escopo do trabalho e certamente necessitaria uma formao

especfica nessa rea. Baseamo-nos, sobretudo, na teoria do inconsciente de Jung, haja vista que ela suporta o mito, legitimando nossos caminhos2. A principal obra de Jung em que nos baseamos o volume X de suas Obras Completas (1993), uma coleo de textos que envolvem anlise e interpretao do papel do que ele chama de inconsciente coletivo e sua ao em termos de massa na realidade do sculo XX (contexto entre guerras), demonstrando sua fora perante o indivduo massificado. A partir desses textos e da compreenso de inconsciente individual e coletivo, procuramos levantar a possvel relao "inconsciente" do movimento orfenico com o regime totalitrio, com o referido projeto educacional acabando por funcionar como veculo de propaganda do regime varguista. Para o levantamento de elementos que podem ser considerados mticos e arquetpicos dentro do repertrio orfenico utilizamos tambm os dois volumes do Manual de Canto Orfenico organizado pelo prprio Villa-Lobos (1940 e 1957), alm da programao de uma de suas principais concentraes orfenicas realizadas (1940). Tendo em vista a importncia do projeto educacional de Villa-Lobos, expressa sobretudo nas dimenses que adquiriu ao ser regulamentado nas escolas pblicas em mbito nacional e tambm por estar vinculado a um contexto histrico relevante no Brasil, torna-se pertinente a realizao desta pesquisa tambm pelo estabelecimento desse enfoque, ainda no encontrado em pesquisas sobre a mesma temtica. atravs da interdisciplinaridade (com apoio sobretudo em teorias sociolgicas e psicolgicas) que esta pesquisa poder contribuir para novas dimenses dessa temtica. Para isso temos como referencial terico textos que, advindos da sociologia, antropologia e psicologia, ligam-se gerao do mesmo contexto histrico, da realidade circundante ao desenvolvimento do movimento orfenico. O movimento orfenico de Villa-Lobos, ncleo desta pesquisa, tem a vivncia coletiva como o fio condutor para a nossa proposta nesse trabalho, ligada ao conceito de ideologia e interpretao junguiana do papel do inconsciente coletivo em movimentos de massa na referida conjuntura histrica. Esse aparato terico pelo qual objetivaremos desvendar mais uma faceta do movimento orfenico, englobar seu repertrio e suas concentraes orfenicas, procurando-se desvelar de que forma esse movimento pode ter (ou no) agido como catalisador de uma interiorizao inconsciente da ideologia estado-novista, ou seja,

2 Conforme nos lembra Cacilda Guimares Cuba, a psicologia junguiana se divide em dois campos: o clnico propriamente dito e o campo de estudos e pesquisas, que tambm recebe a denominao de Psicologia Complexa (1976, p. 137)

contribudo para um fim extra-musical em que as concentraes orfenicas constituiriam expresso dessa interiorizao ideolgica inconsciente. Em relao aos resultados, no que se refere confirmao ou no das hipteses levantadas, at o presente momento pudemos constatar em diversas canes dos Manuais de Canto Orfenico a presena de textos que fazem apologia figura do heri, seja ele representado em figuras histricas nacionais como Tiradentes, Duque de Caxias, Marechal Deodoro, entre outros, como tambm representado em figuras annimas da sociedade (trabalhadores em geral), realizando uma forma de elevao dessas figuras tambm condio de heris. O heri, segundo a teoria junguiana, constitui-se uma importante imagem mtica arquetpica presente no inconsciente coletivo, imagem explorada em demais regimes totalitrios com a funo de levar os indivduos a aes coletivas, arrebatando a massa para a causa ideolgica do regime. O culto do heri implica numa projeo, por parte do indivduo massificado, de contedos inconscientes, num desejo de identificao com o heri cultuado:(...) elemento capaz de satisfazer a uma necessidade profundamente enraizada, que continua a sobreviver na psique de muitos membros da nossa imensa sociedade de massa: a necessidade de imaginar-nos no papel do heri magnfico (...) protagonista de causas vitalmente propostas. (Patai, 1974, pg. 194)

As implicaes dessa constatao no repertrio orfenico podem ser de vital importncia para o que se objetiva buscar nesta pesquisa: a confirmao de que a presena dessas estruturas arquetpicas no repertrio e concentraes orfenicas, alm de ser responsvel pelo citado xtase psicolgico coletivo, estaria colaborando para uma forma de aceitao inconsciente da ideologia poltica por parte da massa.

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QUEM CANTA UM CANTO AVANA UM PONTO: O ENSINO DA MSICA COMO MEDIADOR DO DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM DE CRIANAS PORTADORAS DE DEFICINCIA MENTAL Alessandra Mara Gazel dos Reis (UEPA) [email protected] Antnio Pdua Sales Costa (UEPA) [email protected] Thaynah Patrcia Borges Conceio (UEPA) [email protected]

Resumo. Este trabalho est sendo realizado desde de o ano de 2002 na APAE Associao de Pais e Amigos dos Excepcionais de Belm-PA, desenvolvendo atividades musicais com crianas de 07 a 11 anos portadoras de deficincia mental. Tem como objetivo contribuir com o desenvolvimento e aprendizagem, bem como o aprimoramento da audio, dico, coordenao motora e percepo, alm de fortalecer o desenvolvimento sociocultural, psicomotor, afetivo e o processo de integrao global; levando em considerao suas singularidades: problemas fsicos, afetivos, mentais e de integrao social. Aderindo a concepo construtivista, o referencial adotado para o planejamento das atividades o material sonoro-musical que os alunos adquirem no seu cotidiano, sempre elaborados de acordo com particularidades de cada criana. Sumariamente, este trabalho tem apresentado resultados relevantes no mbito da educao musical especial e j se estende a outra escola, confirmando assim a importncia da msica e contribuindo com a real democratizao desta arte.

Hoje, na maioria dos meios de comunicao, a msica est presente, nos proporcionando sentimentos de relaxamento e prazer. Quem executa ou absorve tais sensaes, torna-se uma pessoa sensvel s artes e com maior capacidade de lidar com situaes de aprendizagem, visto que a msica estimula o desenvolvimento fsico, cognitivo e emocional. A educao musical importante no processo de aquisio de habilidades bsicas para o aprendizado de toda e qualquer criana destacando, sobretudo, as portadoras de deficincia mental (URICOECHEA, 1993, pg.28), pois favorece a percepo, a sensibilidade, organizao motora, o desenvolvimento das funes intelectuais e a socializao. Olhando por este prisma percebe-se que a educao musical pode ser uma ferramenta no processo de incluso e no desenvolvimento das potencialidades dessas crianas.Muitas delas apresentam timo senso-rtmico, assim possvel fazer trabalhos

musicais com resultados satisfatrios, atravs da msica que temos procurado contribuir com seu desenvolvimento e suas relaes sociais confirmando que a msica capaz de produzir modificaes no individuo. Crianas portadoras de deficincia mental possuem um ritmo prprio no processo de aprendizagem visto que diante de uma tarefa apresentam dificuldades de concentrao e dispersam facilmente (MARTINS, 2002, pg. 27). A educao musical, por sua vez, norteia o aprimoramento da audio, dico, coordenao motora e percepo, o que termina por contribuir com a concentrao e, portanto, favorecendo grandes avanos, no s no aspecto intelectual, mas tambm nas reas sociais e afetivas. Pensando na falta de oportunidade dada aos portadores de deficincia mental, na desvalorizao que a sociedade apresenta em relao a estes e no grande valor da educao musical para o desenvolvimento ; procuramos promover um espao em que estes tivessem oportunidade de ter contato com a arte musical, de forma ativa e prazerosa e que no representasse um passa-tempo ou um momento de recreao, mas que fosse um meio para contribuir com seu desenvolvimento e aprendizagem, pois a educao musical pode ser um coadjuvante no processo de incluso e no desenvolvimento das potencialidades de toda criana, por ela qualquer pessoa desenvolve componentes intuitivos, sensoriais e percepo auditiva e espacial. As aulas do projeto acontecem desde o ano de 2002 na APAE-Associao de pais e amigos dos excepcionais de Belm, duas vezes na semana totalizando 3 horas semanais. As crianas atendidas so portadoras de deficincia mental na faixa etria de 07 a 11 anos. Nas aulas so utilizados mtodos ativos como Orff e Dalcroze e as principais atividades que vem sendo desenvolvidas so: Exerccios de ostinato, acompanhamento de melodias (ambas utilizando instrumentos de percusso), exerccios de reconhecimento de timbres e intensidade. O Trabalho tem como objetivo promover o desenvolvimento e aprendizagem de crianas portadoras de deficincia mental, no sentido de melhorar de alguma forma sua coordenao motora, sua percepo auditiva, a relao social, o desenvolvimento psicomotor e afetivo, enfim, o processo de integrao global; tudo isso por meio de atividades musicais. O objetivo principal no formar msicos, as atividades tm demonstrado que

possvel se fazer msica em todo lugar, alm de dar oportunidade a essas crianas de criar, tocar, fazer msica de forma prazerosa e ao mesmo tempo desenvolver as habilidades citadas acima. Aderindo a concepo construtivista, o referencial adotado para o planejamento de cada aula o material sonoro-musical que os alunos adquirem no seu cotidiano, elaborados de acordo com as caractersticas particulares de cada criana. Temos notado no decorrer das aulas o aprimoramento da percepo auditiva, coordenao motora e nas relaes sociais, alm de obedincia a comandos estabelecidos pelo professor em algumas atividades e o desenvolvimento na rea rtmica. Por exemplo: uma aluna de 8 anos que no inicio do projeto no participava de nenhuma atividade e ficava um pouco afastada do grupo na hora da aula, no participando nem com a interveno do professor; depois de alguns meses se mostrou mais participativa e hoje j esta participando intensamente das atividades, mostrando muita habilidade rtmica que chegou at a nos impressionar. A cada aula, ns aprendemos que eles so capazes de realizar tarefas que antes eram tidas como adequadas somente a crianas em situao normal de ensino, percebemos na pratica que eles possuem habilidades como qualquer criana, apesar das singularidades de cada deficincia So utilizadas fichas individuais de avaliao contendo um relato completo de como o aluno desenvolveu cada atividade e se os objetivos propostos foram alcanados, assim analisamos o que precisa ser acrescentado nas aulas para que o aluno possa ter melhor desempenho. Sendo a arte eficiente e democrtica, qualquer pessoa pode desenvolver componentes intuitivos, sensoriais, perceptivo-auditivos e espaciais. Acreditamos, no entanto, que apesar das vastas possibilidades que a msica traz aos seus ouvintes e do seu carter democrtico quando se trata de fazer um aprofundamento no estudo da msica so poucos os espaos encontrados para este fim, ficando estes restritos a escolas especializadas o que termina por limitar o pblico atendido. Apesar destes limites, o interesse e a utilidade da educao musical persiste, o que abre espao para produo de projetos que pretendam contribuir com a real democratizao desta arte.

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A FORMAO E A TRANSFORMAO DE CIDADOS POR MEIO DO ENSINO COLETIVO DE INSTRUMENTOS ATRAVS DA INICIAO INSTRUMENTAL DE CORDAS Alexander Ciarlo (UFSCar) [email protected]

Resumo. O presente artigo o relato de parte da pesquisa que est em fase final de coleta de dados, e faz parte de uma dissertao de Mestrado em Educao, que visa comprovar a eficincia da metodologia de Ensino Coletivo de Cordas, em particular, o aprendizado do violino na iniciao musical e a sua influncia co comportamento e desenvolvimento dos alunos. A premissa de que o investimento na formao desses alunos resulta em um melhor aproveitamento da aula, crescimento diferenciado mas levando em considerao o coletivo, estimulando a capacidade de alunos e estagirios a aprenderem por imitao e por troca de experincias. Discute-se a importncia da educao na sociedade como instrumento de transformao social, as relaes existentes entre educao, cultura, msica e sociedade; a Educao Musical no contexto social contemporneo e o Ensino Coletivo de Instrumentos Musicais. A democratizao do ensino musical atravs da metodologia que prope a transformao da sociedade, est sendo discutida e analisada, chegando-se a algumas concluses.

A necessidade de criar cursos para o ensino coletivo de instrumentos tem levado professores a repensar os modelos de ensino unicamente tutorial que vinham praticando at ento. A partir da dcada de 90, muitas pesquisas e artigos sobre o ensino coletivo em instrumentos musicais vm ganhando espao nos encontros e seminrios pelo pas. Atravs de experincias cotidianas, da observao de resultados positivos, da organizao e sistematizao de metodologias, aos poucos vem se comprovando que possvel ensinar, com muita eficincia, instrumentos musicais em grupo. Agrupar alunos para ministrar aulas voltadas para a performance no uma atividade recente, embora tenha se mantida restrita a algumas iniciativas isoladas no Brasil at a dcada de 50. Na segunda metade do sculo XX, as metodologias de ensino em grupo ganharam mais espao nas escolas especializadas de msica. cada vez maior o nmero de pessoas interessadas em trabalhar dessa maneira, registrando-se cada vez mais um nmero maior de iniciativas desta espcie, apesar de prevalecer o ensino tutorial de instrumento. (Oliveira e Costa Filho, 1999; Freire, 2001; Ray, 2001) Repertrios e metodologias de ensino em grupo ainda esbarram no pressuposto de que o aprendizado instrumental altamente individualizado. O individual no ensino em

grupo tambm preservado, mas o aluno tem outros referenciais que no o modelo do seu professor, e aprende a aprender vendo e ouvindo os colegas. O ensino da msica no pas ainda no consegue alcanar um grande nmero de pessoas, embora haja um nmero significativo de projetos e programas de iniciativas pblicas e privadas que incluem ensino coletivo de instrumentos musicais (como o Projeto Guri, Escolas Municipais de Msica, Cursos de Musicalizao Infantil oferecidos pelas Universidades e por Escolas de Msicas Especializadas no assunto). Podemos dizer que os problemas que enfrentamos na rea de educao musical vo desde a falta de institucionalizao e reconhecimento do valor da educao musical como disciplina integrante do currculo escolar at a falta de sistematizao do ensino de msica, seja este como parte do ensino formal, bem como em muitas escolas de msicas. Por isso, o educador musical deve ter em mente questes como: qual deve ser o papel do educador musical na sociedade? Quais so os espaos de atuao do educador musical na atualidade? Qual ser humano pretende-se formar atravs da msica? De que maneira? A partir de quais metodologias? Dentro deste contexto ainda se discute: qual o papel do educador musical na sociedade contempornea? Segundo Hentschke (1991) todo profissional que trabalha com educao musical seja ele especialista ou no-especialista, deve ter se defrontado ao menos uma vez com a seguinte questo: Qual o valor do ensino de msica nas escolas? E qual o seu papel na educao formal do indivduo? No difcil imaginar que numa concepo de cultura em que valores intrnsecos e subjetivos no exercem papel determinante na educao formal do indivduo, a atividade musical, freqentemente seja assumida como puramente ldica, sem conseqncia educativa. Segundo Libneo (1991) a educao ou seja, a prtica educativa um fenmeno social e universal, sendo uma atividade humana necessria existncia e funcionamento de todas as sociedades (p. 16 e 17). Complementando esse pensamento com o fator poltico, Saviani (2001) acredita que a importncia poltica da educao reside na sua funo de socializao do conhecimento (p.88). Transpondo para o campo musical, Schafer (1991) afirma que a aula de msica sempre uma sociedade em microcosmo, e cada tipo de organizao social deve equilibrar as outras (p. 279). O autor compara uma aula de canto coral a um sistema poltico, onde o canto coral cria o mais perfeito exemplo de comunismo, jamais conquistado pelo homem.

No contexto atual, que prima pela diversidade e ao mesmo tempo pela tentativa de unificao (globalizao) cultural, cada vez mais, se torna necessrio que os professores de msica compreendam as realidades scio-culturais dos alunos, para que se proponha metodologias e estratgias de ensino adequadas. Souza (2000) afirma que os educadores musicais tm buscado associar as experincias musicais dos alunos s experincias sociais do mundo. Sem a compreenso das realidades scio-culturais por parte dos alunos no h como propor uma pedagogia musical adequada. A partir deste quadro, o Ensino Coletivo se torna uma importante ferramenta no processo de democratizao do ensino musical. A Musicalizao/Iniciao Instrumental atravs do ensino coletivo, pode dar acesso a um maior nmero de pessoas Educao Musical. A partir de uma conduta democrtica, cria-se um ambiente favorvel ao ensino-aprendizagem, buscando a participao efetiva dos alunos e a troca de experincias, contribuindo para a motivao e o desenvolvimento da autonomia e do senso crtico. Alguns projetos ligados a essa filosofia vm surgindo no pas, alando xito, tanto na rea pedaggica quanto na rea social. Com isso, pode-se afirmar que o estudo da msica, atravs do ensino coletivo, veio democratizar o acesso do cidado formao musical. Moraes (1995) acredita que de todas as vantagens que o ensino em grupo pode trazer, a motivao , provavelmente, a mais importante. Tambm a competio, em sua expresso mais natural e saudvel, pode trazer estmulo extra para um aprendizado mais rpido e de melhor qualidade (p. 35). No contexto contemporneo, acredita-se que atravs do ensino coletivo, os alunos podero ter uma Educao Musical transformadora, onde podero vivenciar novas experincias tanto no mbito individual quanto no coletivo. A partir da experincia em grupo, os alunos podero vivenciar situaes e dinmicas, interagindo e socializando com os demais colegas, contribuindo para que sua formao musical e instrumental seja mais ldica. Da mesma forma, o educador musical deve conduzir a aula, trabalhando no s novos conhecimentos da rea musical, mas tambm, das reas interdisciplinares, proporcionando uma formao musical mais crtica. METODOLOGIA A presente pesquisa tem como objetivo geral, analisar e investigar as fundamentaes tericas e metodologias de ensino coletivo de instrumentos musicais, a partir de uma experincia com a iniciao instrumental de cordas, em particular, a

iniciao instrumental no Violino a partir da metodologia ou filosofia de ensino criada pelo Professor Shinichi Suzuki. A pesquisa teve como ponto de partida duas turmas de musicalizao/iniciao instrumental que foram criadas dentro do programa de Musicalizao do Departamento de Artes da UFSCar (Universidade Federal de So Carlos), sendo a primeira turma criada no II Semestre de 2003 e a segunda turma criada no I Semestre de 2004. A partir do momento em que as turmas foram criadas, a pesquisa procurou definir pontos importantes a serem estudados e analisados, sendo assim, partiu-se de dois pontos importantes: 1.Descrever e analisar o processo de aprendizagem de cada turma envolvida na pesquisa, considerando os aspectos do Ensino Coletivo de Cordas; 2.Descrever e analisar o ensino coletivo de msica como um meio de transformao social dos indivduos envolvidos. Tendo como ponto de partida da pesquisa esses dois pontos importantes foi preciso sugerir ou criar hiptese para a pesquisa em questo. Devido a isso se partiu das seguintes hipteses: a)O Ensino Coletivo de Cordas, de maneira geral, cria oportunidades de iniciao ao instrumento e aprendizagem musical. b)O Ensino Coletivo de Cordas amplia o nmero de oportunidades de aprendizagem musical dentro da comunidade. A reviso bibliogrfica procura corresponder necessidade da formao de um referencial terico que auxiliasse a presente pesquisa, incluindo as reas de conhecimentos afins Educao Musical, tais como Pedagogia, Psicologia, Filosofia, Sociologia, entre outros. A abordagem metodolgica esta sendo fundamentada na Pesquisa-Ao, que indica que o pesquisador no neutro no processo de pesquisa, mas est inserido no mesmo. Atravs da ao e reflexo, o pesquisador est atuando como um interventor objetivando a mudana social. Por isso, a pesquisa-ao a cincia da prxis e o seu objeto de pesquisa est relacionado elaborao da dialtica da ao em um processo pessoal e nico. Barbier (1997) acredita que este processo de pesquisa relativamente

libertador quando s imposies dos hbitos, dos costumes e da sistematizao burocrtica (p. 34). A pesquisa est contando com a participao de 21 sujeitos, com faixa etria de 09 a 40 anos (crianas, pr-adolescentes, adolescentes, estudantes universitrios e adultos). A pesquisa j se encaminha para seu terceiro semestre letivo, tendo se iniciado no II semestre letivo de 2003 e indo para II semestre letivo de 2004. O experimento de estudo realizado com uma carga horria de duas intervenes/aulas semanais, sendo que cada turma possui 01 hora e meia de interveno/aula por semana. Esse experimento de estudo foi elaborado para grupos de pessoas da comunidade com perfis diferentes. O experimento de estudo conta com a ajuda de monitores orientados pelo pesquisador de maneira que a captao dos dados possa favorecer o intuito do interventor e, conseqentemente, da pesquisa em questo. A coleta de dados tem como instrumentos de pesquisa: -Planejamento das aulas; -Dirio de Classe; -Fichas de questionrio dos sujeitos; -Filmagens atravs de cmera de vdeo 8mm de cada interveno/aula; -Fotos atravs de cmera digital de cada sujeito da pesquisa em cada momento diferente; -Programas de Recitais (verificao do ensino-aprendizagem); -Elaborao de um CD contendo a participao dos sujeitos envolvidos na pesquisa. ALGUNS RESULTADOS/CONCLUSES Aps algumas descries e anlise dos dados coletados at agora via metodologia adotada (descrevendo e analisando as filmagens de cada interveno/aula filmadas at o presente momento), percebeu-se alguns resultados (em fase de comprovao e constatao) como: -o aprendizado em grupo privilegia o desenvolvimento da percepo e dos elementos tcnico-musicais para a iniciao instrumental; -a teoria musical aplicada associada prtica instrumental facilitando o entendimento dos alunos;

-o resultado musical acontece de maneira rpida, motivando os alunos a dar continuidade ao estudo do instrumento; -o desenvolvimento musical dos sujeitos e uma maior concentrao, disciplina, autoconfiana e independncia por parte dos sujeitos; -o ensino coletivo de cordas promove um processo de interao entre os alunos, sociabilizando-os e desenvolvendo o senso crtico; -as relaes interpessoais entre os sujeitos do grupo contribuem de maneira significativa no processo de desenvolvimento de aprendizagem de cada sujeito. A eficcia do ensino coletivo de instrumentos de corda vem se comprovando atravs das anlises das filmagens de cada interveno/aula que identifica todo o desenvolvimento da aprendizagem, bem como, dos resultados comprovados via recital. Os sujeitos pesquisados iniciaram no experimento que se segue como leigos em msica (no mbito do instrumento) e esto conseguindo se alfabetizar musicalmente atravs da iniciao instrumental coletiva. Todos os sujeitos participaram de duas apresentaes pblicas (Musical da gua), demonstrando a excelncia da metodologia no processo de ensino-aprendizagem atravs do ensino coletivo de cordas. A pesquisa vem demonstrando atravs das anlises dos grupos experimentais com perfis diferenciados que a metodologia aplicada vem tendo que ser adequada para cada grupo, a partir da realidade dos mesmos. O contedo programtico e as estratgias de ensino esto sendo utilizados de acordo com a necessidade de cada grupo, a partir de cada fato novo surgido em sala de aula. Devido a isso, as estratgias e a dinmica em grupo contribuem para a consolidao da socializao, da autoconfiana, do respeito aos colegas, do senso crtico e da independncia dos sujeitos. A motivao dos sujeitos vem sendo provocada pela eficincia da metodologia e pelas relaes interpessoais no grupo contribuindo no processo de aprendizagem vem sendo responsvel pelo baixo ndice de desistncia dos sujeitos analisados nesta pesquisa. Por outro lado, o papel da Educao Musical na contemporaneidade est sendo discutido, chegando-se concluso de que a mesma deve ser voltada para a transformao dos educandos, levando em conta a sua realidade, comprometida com a mudana social. Com isso, o educador musical deve preocupar-se com o desenvolvimento musical e humano dos seus alunos, mas tambm, com o desenvolvimento social dos mesmos. Deve-se ter o compromisso com a formao

crtica atravs da utilizao da metodologia coletiva de instrumentos musicais, que poder ser usada como um dos meios de democratizao do ensino musical no pas. Do estudo e criao de metodologias eficientes do ensino coletivo instrumental, a sociedade teria maior acesso ao aprendizado musical, uma vez fortalecida a construo da cidadania e reconhecido a disciplina como agente de transformao dos alunos e, conseqentemente, da sociedade.

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APORTES PARA O ESTUDO DE MSICA POPULAR A PARTIR DO RELATO DA EXPERINCIA DE ENSINO DE CONTRABAIXO EM UM CURSO DE EXTENSO DA UNIRIO Alexandre Brasil de Matos Guedes (UNI-RIO) [email protected]

Resumo. Em minha dissertao de mestrado, intitulada Introduo uma potica do contrabaixo no choro: o fazer do msico popular entre o querer e o dever, procurei construir os alicerces necessrios para um discurso investigativo da linguagem do choro, a partir de prticas interpretativas que, como contrabaixista, me eram familiares. O trabalho contou com o referencial terico da semiologia (as teorias de Algirds Greimas e Eero Tarasti) e levou a concluses interessantes, particularmente no que diz respeito ao uso de modalidades discursivas prprias da msica popular. A presente comunicao investiga as tentativas de aproveitamento de tais concluses no contexto mais propriamente prtico de um curso de extenso em contrabaixo popular, em andamento na UNIRIO, no qual procuro estabelecer procedimentos didticos a partir da msica popular, com enfoque especial msica brasileira, questionando inclusive as implicaes polticas, pragmticas e ticas de tais procedimentos.

Entre os anos de 2001 e 2003, estive envolvido, em meu mestrado na Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro - UNIRIO, com uma pesquisa acerca do contrabaixo no choro. Tendo estudado o instrumento academicamente (conclura o bacharelado em 1995, pela UFRJ) e, desde muito cedo, tocado msica popular, o retorno academia tinha como objetivo realizar uma pesquisa voltada para aqueles que eram os gneros musicais que mais despertavam meu interesse naquele momento, ou seja, o choro e o samba. Dizer que estudei contrabaixo academicamente no incio da dcada de noventa significa que tive uma formao tcnica baseada na tradio da msica erudita europia e que todo aprendizado de musica popular fora realizado fora da universidade. Embora as universidades tenham, de l pra c, depositado cada vez maior nfase na msica popular, no caso do contrabaixo e do estado do Rio de Janeiro, pelo menos, este vis erudito ainda hoje uma realidade. Meu trabalho final contou com um anexo de trs entrevistas feitas com contrabaixistas ligados ao choro: Dalton Vogeler, o mais antigo, que pertencera ao conjunto de Valdir Azevedo; Carlos Silva e Souza, o Caula, que tocou no regional de Arlindo Rodrigues e na

Rdio Tupi; e Orondino da Silva Filho, Dininho, filho de Dino Sete cordas e baixista que toca com Paulinho da Viola. Meus objetivos, com as entrevistas, eram: a) comprovar a presena do contrabaixo na prtica do choro, uma vez que muitos estudiosos e especialistas no gnero no fazem meno a ela; b) levantar e confirmar o mximo de dados sobre contrabaixistas envolvidos com o choro: com quem tocavam, como tocavam, seus nomes, se ainda viviam, etc; c) validar ou no meu prprio discurso sobre msica como contrabaixista de choro, por comparao ao discurso deles, determinando pontos em comum e pontos divergentes; d) averiguar as estratgias de desempenho musical utilizadas por eles. A principal concluso a que as entrevistas me levaram foi a de que, realmente, a presena histrica do contrabaixo no choro muito mais comum do que se costuma supor. Como afirmam Dalton Vogeler: A maioria dos contrabaixistas de choro eram muito antigos, gente de uma poca anterior aos anos cinqenta, do tempo da msica de salo, onde o contrabaixo era obrigatrio. Do tempo de Nazareth, Chiquinha Gonzaga, meu tio Henrique Vogeler, onde tinha que ter um contrabaixo que tocasse1. E tambm Caula: Olha, em todas as gravaes tinha contrabaixo. Podia no ter no conjunto, mas na hora de gravar ia um contrabaixista fazer. O Bill, o Taranto, Tio Marinho, Lus Marinho, Dalton Vogeler. O Arlindo [Rodrigues] que gostava de contrabaixo fixo no regional2 Em face de declaraes como estas, eu podia reivindicar, para a prtica de tocar contrabaixo no choro, uma certa tradio, pelo menos histrica. O uso do contrabaixo em conjuntos de choro no , como costuma classific-lo o senso comum, uma inovao. Uma vez observada esta questo, minha pesquisa se voltou para o estudo (ou introduo ao estudo) das maneiras como se deve realizar uma linha de baixo segundo os modelos e padres cannicos do gnero. Para isto me baseei na prtica musical (que eu aprendera empiricamente, e na qual procurei delimitar aspectos relevantes do desempenho), nas citadas entrevistas, em bibliografia sobre o assunto (mtodos brasileiros de contrabaixo e mtodos e dissertaes acadmicas sobre as baixarias dos violes de choro) e em gravaes consideradas importantes no contexto do gnero.

A linha de baixo costuma ser referida como aquela que d sustentao a toda a estrutura discursiva da obra. De fato, assim que os contrabaixistas a concebem e assim que os outros msicos esperam que ela seja realizada. Dar sustentao, neste caso, significa marcar os padres rtmicos tpicos do gnero ou estilo e realizar as tnicas ou inverses de baixo dos acordes que caracterizam a progresso harmnica da obra. No obstante, para alm deste aspecto em que a articulao do discurso musical impe ao contrabaixista modelos de execuo estilisticamente pertinentes, podemos identificar instncias de realizao que extrapolam o mbito da prescrio e da obrigao. So bossas, dispositivos especiais, reputados como aqueles que do o balano, o suingue, o molho da linha de baixo. Para enfocar este aspecto, trabalhei com o conceito de modalidades, segundo as teorias de lgirdas Greimas (1979), da maneira como tal conceito foi aplicado por Eero Tarasti (1984) em anlises semio-musicolgicas. As modalidades so instncias muito gerais, presentes nas linguagens e determinantes de cargas significantes muito importantes na construo do sentido do discurso. Na linguagem verbal, por exemplo, o enunciado vai chover pode assumir cargas modais distintas se pronunciado de maneira interrogativa, afirmativa, com um vis de pesar ou de temor, etc. Identifiquei o tal molho da linha de baixo com a modalidade greimasiana /querer/, por razes que seria muito extenso justificar aqui; identifiquei tambm as instncias prescritivas modalidade /dever/, e trabalhei com a dicotomia /querer/ versus /dever/. Meu trabalho dissertativo final foi, de fato, apenas uma introduo ao problema da produo da linha de baixo no choro, de maneira a levar em conta as normas estilsticas e genricas que permeiam tal produo e as variaes, impostas pelos intrpretes, a que os enunciados esto sujeitos durante o desempenho musical, to caractersticas do choro e de outros gneros aonde se improvisa. Aps a concluso do mestrado, aprovei junto ao departamento de educao musical da UNIRIO um projeto de curso de extenso voltado para o ensino do contrabaixo atravs de seu uso em prticas musicais populares. O objetivo do curso seria desenvolver, ao longo do semestre e de acordo com os interesses e demandas de cada aluno, projetos de trabalhos sobre gneros, estilos, tcnicas e problemas especficos. O curso conta com sete alunos e est em seu segundo semestre. Embora seja cedo para apontar concluses geradas por esta

experincia, podemos sugerir alguns aportes para a educao musical baseada na msica popular e de carter profissionalizante. O primeiro aporte diz respeito caracterizao estilstica e genrica3. A imensa maioria dos trabalhos didticos voltados para a prtica musical popular apresenta modelos e padres de realizao para cada estilo ou gnero. Este procedimento, ainda que vlido, nos parece insuficiente e preferimos adotar um mtodo baseado na transcrio e identificao de estruturas paradigmticas. Desta maneira, o trabalho consiste, primeiramente em identificar gravaes de obras que sejam pertinentes e revestidas de um conceito de autoridade, quer pela importncia atribuda pelo senso comum, quer pelo alcance e popularidade desta gravao, quer por aspectos de competncia ou domnio da linguagem identificados nos intrpretes. Assim, ao estudar o gnero choro, poderamos comear pelas gravaes de Jacob do Bandolim ou Pixinguinha, ao estudar o gnero Reggae, pelas gravaes de Bob Marley, e assim por diante. O prosseguimento do trabalho seria de transcrio e anlise, com o intuito de identificar usos e procedimentos recorrentes. O prximo passo consistiria em elaborar enunciados baseados nestas estruturas, ou em dispositivos encontrados nelas, visando por em prtica o conhecimento adquirido. Fica claro que tal linha de trabalho visa formao de um conhecimento, digamos, gramatical, do gnero estudado. O segundo aporte se refere ao estudo das estratgias de desempenho. Boa parte da produo de msica popular se d a partir de princpios de enunciao que permitem ao intrprete um tratamento bastante elstico do enunciado. O estudo de procedimentos de variao e improvisao faz-se, portanto, necessrio. Neste sentido, preciso construir uma metodologia que d conta de processos de ensino e aprendizagem tpicos da educao informal, dentro das grades do conhecimento acadmico. A prtica da msica popular requer um estudo diferente dos usos e prticas comuns ao estudo de msica erudita. Por exemplo, em ambas as prticas deve existir uma nfase na formao de um repertrio. Na tradio erudita a execuo das obras deste repertrio dever ser aprimorada diligentemente. Na tradio da msica popular a execuo no pode partir de um texto estabelecido definitivamente e o executante deve aprimorar sua capacidade de enunciao variada das obras. Em comparao, na tradio popular o limite entre as atribuies do intrprete e do compositor mostra-se muito menos claro que na tradio erudita. O msico

popular precisa de uma formao que atenda suas demandas de executante/criador. Os modelos mais tradicionais do ensino conservatorial4 no so suficientes, com suas prticas didticas to segmentadas onde, por exemplo, as cadeiras de composio e de interpretao requerem currculos totalmente distintos. Sob este aspecto, inclusive, nos parece que a msica erudita perpetuou um modelo distorcido de ensino e aprendizagem musical, formando intrpretes que, com poucas excees, no possuem competncias equivalentes no mbito da composio e da execuo. Um terceiro aporte pode ser mencionado, centrado em questes de vis mais poltico. Embora minha atividade como contrabaixista esteja atualmente voltada em parte para o choro e eu tenha conseguido demonstrar que o uso do instrumento no gnero foi comum, no pude basear o curso que ofereo na UNIRIO nesta prtica. Parece-me que necessrio primeiro proporcionar ao aluno um conhecimento de gneros que sejam de uso mais amplamente difundido entre contrabaixistas, como o samba, o funk, o jazz, o reggae, o rock ou mesmo a msica erudita5 pois isso aumenta suas chances diante do mercado de trabalho. A realidade que o choro, nos moldes em que atualmente praticado, apresenta poucas oportunidades para contrabaixistas, estando estas oportunidades restritas a iniciativas individuais. Pode-se, no entanto, utilizar as melodias de choro como suporte ao desenvolvimento do aparato tcnico do aluno6. Pode-se tambm pensar no choro como uma opo vlida ao estudo do jazz, gnero comumente abordado em escolas de msica para desenvolver a capacidade de improvisar dos alunos. A opo pelo choro, que no deveria de modo algum descartar um estudo do jazz, teria um carter poltico na medida em que se ligaria a uma concepo artstica comprometida com ideais nacionalistas; e um carter pragmtico na medida em que seria muito mais fcil encontrar bons intrpretes de choro no Brasil, do que intrpretes de jazz. Por fim, gostaria de mencionar a importncia da semiologia como ferramenta analtica. Me parece que ela se adequa perfeitamente bem s especificidades da anlise dos paradigmas genricos em msica popular, e capaz de lidar com a linguagem musical no como um conjunto de normas e preceitos, mas como um todo significativo inserido na rede de comunicao que chamamos cultura. Alm do trabalho de Tarasti (op. Cit.), gostaria de citar os de Philip Tagg (2003) e de Jean-Jacques Nattiez (1990) como de suma importncia.

REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS: GUEDES, Alexandre Brasil de Matos. Introduo potica do contrabaixo no choro: o fazer do msico popular entre o querer e o dever. Dissertao (Mestrado em Msica) PPGM-UNIRIO, Rio de Janeiro. 2003. GREIMAS, A. J. & COURTES, Joseph. Smiothique : Dictionnaire raisonn de la thorie du langage. Paris: Hachette, 1979. MOURA, Roberto. Tia Ciata e a pequena frica no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Funarte, 1983. NATTIEZ , Jean Jacques. Music and discourse: toward a semiology of music. Princeton, New Jersey: Princeton University Press, 1990. SANDRONI, Carlos. Feitio Decente: transformaes do samba no Rio de Janeiro, 19171933. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed.: Ed. UFRJ, 2001. TAGG, Philip & CLARIDA,Bob. Ten Little Title Tunes (Towards a musicology of the mass media). New York & Montreal: Mass Media Music Scholars Press. 2003. ______. http://www.mediamusicstudies.net/tagg/ptbib.html TARASTI, Eero. A Theory of Musical Semiotics. Bloomington: Indiana University Press, 1994. VIANNA, Hermano. O Mistrio do Samba.. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor/Editora Ufrj, 1995.

NOTAS 1 Comunicao pessoal ao autor. 2 Idem. 3 Para caracterizar gnero e estilo, sem contudo nos estendermos demasiadamente, digamos que estas so categorias, classes ou tipos definidos por convenes contingenciais (e como tal sujeitas a mudanas) codificadas a partir de repeties de paradigmas no passado e que tambm induzem as formas das manifestaes futuras, sendo portanto sancionadas pela prtica. Para caracterizar a diferena entre os dois termos, no mbito deste artigo, digamos

que os gneros so, por um lado mais abrangentes que os estilos, e que, por outro, possuem contornos mais claramente definidos, como a existncia de repertrios cannicos e padres de organizao estabelecidos. Poderamos falar assim, no choro como um gnero e na maneira de tocar de um intrprete ou de vrios intrpretes de um perodo histrico ou lugar, como um estilo. 4 Criticar os modelos conservatoriais um lugar comum das pesquisas do campo didtico. Tal prtica, contudo, equivale a discutir com um sonmbulo, uma vez que tais modelos, comuns nos conservatrios de msica, se por um lado so marcantes das estruturas de ensino musical, por outro so os prprios fantasmas da prtica didtica formal. O sucesso dos processos de ensino e aprendizagem reside na capacidade de produzir experincias humanas consistentes, capazes de produzir impacto na vivncia musical do indivduo, e independe dos modelos adotados. 5 A msica erudita, apesar de estar cada vez mais restrita a um nicho do mercado musical , muito provavelmente, a mais bem aparelhada, com seus grandes corpos orquestrais de organizao secular, um carter que extrapola fronteiras nacionais e instituies de ensino e pesquisa de longa tradio. 6 Cabe aqui mencionar, que neste caso, o uso do choro se aproxima da prtica de msica erudita. interessante notar como o gnero parece possuir uma vocao para a intermediao cultural, nas instituies de ensino de hoje, como ponte entre o erudito e o popular. Da mesma maneira, o choro foi reputado como mediador entre a sociedade branca e a sociedade negra, no Rio de Janeiro do sc. XIX, quando era executado nas salas de visitas das festas da praa onze. Cf. Moura, 1983; Vianna, 1995 e Sandroni, 2001.

ASPECTOS DA EDUCAO MUSICAL PARA ADULTOS NO ENSINO NOTURNO DAS ESCOLAS MUNICIPAIS DO RIO DE JANEIRO Alexandre Hudsoon Gois Nogueira (UNI-RIO) [email protected]

Resumo. Este trabalho visa discutir as atividades musicais que vm sendo praticadas nas aulas noturnas do PEJ1 uma vez que, ao contrrio das outras disciplinas, existe pouco material adequado faixa etria dos alunos que sirva de subsdio ao trabalho do professor. Para a realizao deste trabalho est sendo necessrio desenvolver pesquisas de campo (englobando: visitar escolas, entrevistar professores de educao musical e aplicar questionrios aos alunos) e bibliogrfica, se valendo da legislao internacional2, federal e municipal concernente Educao de Jovens e Adultos (EJA); das discusses bibliogrficas de Medeiros3 e Coffman4 e sobre Andragogia5, que se refere ao processo de educao de adultos. Atravs dessa pesquisa, pretendemos reconhecer tanto as dificuldades dos professores em ensinar como dos alunos adultos em aprender msica e estabelecer estratgias que possam ajudar a san-las.

Este texto apresenta projeto de pesquisa a ser desenvolvida para a realizao da dissertao de mestrado em msica e educao na Universidade do Rio sob a orientao do Professor Dr Jos Nunes Fernandes. Nos ltimos anos venho percebendo uma grande procura de alunos com faixa etria superior aos 35 anos de idade por aulas de teclado. Muitos dos quais se recusavam a ler partitura convencional. O que me fez deparar com a seguinte realidade: nada do que aprendi na universidade foi adequado para lidar com adultos. A primeira exigncia deste aluno aprender a tocar alguma msica conhecida o mais rpido possvel. Outra questo que instigava reflexes em minha prtica educativa ao ensinar teclado com acompanhamento automtico, era a sensao de estar ludibriando os alunos, j que

1

2 DECLARAO de Hamburgo: Agenda Para o Futuro. Conferncia Internacional Sobre a Educao de Adultos (realizada em 1997) Braslia: SESI/UNESCO, 1999. 3 MEDEIROS, Flvio Gomes Tenrio de. O Adulto Fazendo Msica: Em Busca de Uma Nova Abordagem na Educao Musical de Adulto. Dissertao de Mestrado. CBM, 1998. 4

Projeto de Educao Juvenil do Municpio do Rio de Janeiro

5 MADEIRA, Vicente de Paulo Carvalho. Para Falar Em Andragogia. Srie Educao do Trabalhador, volume 2. Braslia: SESI, {s.d.}

COFFMAN, Don D. Adult Education. In COLWELL, Richard, RICHARDSON, Carol. The New Handbook of Researsch on Music Teaching And Learning. New York: Oxford University Press, 2002.

tocavam melodias na mo direita e acordes em blocos na mo esquerda (enquanto o teclado fazia todo o acompanhamento sozinho) sem lerem uma nota musical sequer. Aos poucos fui percebendo que estava enganado. Que na verdade estava lhes proporcionando a oportunidade de realizarem-se ao tocar as msicas que eles gostavam de ouvir e que atualmente nem so mais tocadas em rdio. A metodologia sem partitura possibilitou que adultos sem nenhuma iniciao partitura tocassem, em pouco tempo, as msicas que gostavam com melodias e ritmos que poderiam levar anos para tocar no ensino tradicional. Isso sem levar em considerao as desistncias que certamente ocorreriam no caminho. Foi quando percebi que seus objetivos no so tornarem-se pianistas. Eles querem apenas reconhecer o que tocam. O que tambm acaba estimulando e mexendo com sua auto-estima. Em 2002 fui convocado, aps aprovao em concurso, para lecionar educao artstica em turmas de 5 8 srie em escola classificada como regular noturna da rede Estadual do Rio de Janeiro (rede que ainda acredita na existncia de professores polivalentes na rea capazes de ensinar msica, artes plsticas e teatro): agora estava lecionando para alunos que sequer consideravam que msica fosse arte6. Alunos adultos que vinham cansados do trabalho e que no tinham disposio para cantar ou tocar algum instrumento. Ento, o que ensinar? Ler partitura? Tocar flauta doce? Construir instrumentos? Criar um coral? Que repertrio usar que atenda a todos os interesses j que existem rixas entre grupos que apreciam Funk, Pagode,msica romntica7 ou gospel8? E aqueles alunos que se recusam a tocar ou a cantar? A grande questo era: que tipo de atividades musicais podemos fazer em sala de aula com alunos adultos em escolas noturnas? Em 2003 ao iniciar o mestrado da Uni-Rio, tambm fui convocado para lecionar no Municpio do Rio de Janeiro, onde travei contato com o PEJ9 que devido estrutura me encorajou a levar adiante a presente pesquisa.Segundo declaraes de alunos ao saberem que teriam aulas de msica ao invs de desenho nas aulas de artes. 7 Msica romntica aqui est no sentido de msica popular lenta cujo texto fala sobre amor. 8 Msica gospel se refere s msicas religiosas, geralmente evanglicas (de igrejas protestantes) que tocam em rdios e podem variar nos mais contraditrios estilos desde que a sua letra fale sobre Cristo ou a ele relacionado. 9 Projeto de Educao Juvenil do Municpio do Rio de Janeiro, que tambm noturno e aceita alunos adultos de todas as idades.6

Em sua dissertao, O Adulto Fazendo Msica (1998), Medeiros aponta a formao da Associao Americana para educao de Adultos em 1926 como o marco inicial para a ampliao dos estudos na rea. Logo depois surgiu a associao Alem Hohenrodter Bund (1927) que fundou a Escola Alem para Investigao da Educao de Adultos na cidade de Kiel. Onde em 1954 chegou-se concluso de que a educao de adultos necessita de professores especializados ao invs de professores transplantados de outras atividades educativas. O termo Andragogia foi usado na Europa para definir essa especializao em educao de adultos e em 1973 o Canad cria um bacharelado em Andragogia na Concrdia University em Montreal. No Brasil existem poucos trabalhos adotando esta terminologia (andragogia). Embora Paulo Freire tenha desenvolveu um grande trabalho pensando na prtica da educao de adultos, ela era percebida como educao popular. Todavia, o Termo Andragogia mencionado por Medeiros (1998) foi questionado por Madeira (1999) que afirmava referir-se educao do homem adulto, como era feito no incio de sua prtica (final do sculo XIX), poca em que a mulher no podia aprender. E mais que isso, a prpria prtica da Andragogia foi questionada por Coffman10 (2002) com o texto Adult Education que afirma tratar apenas de uma listagem de caractersticas com algumas sugestes de procedimentos que no se justificariam como prtica educativa. J Carlos Alberto Torres11 acredita que a educao de adultos pode ter um papel importante na hegemonia poltica de um partido ou regime como o que ocorreu com o MOBRAL no Brasil. Romo (2002) e Paiva (1997) nos alertam para as propostas do substitutivo de Lei de Darcy Ribeiro, que poderia levar ao fim da Educao de Jovens e Adultos e que felizmente no foi aprovado, mas que nos faz perceber o quanto os interesses polticos podem influenciar um processo educacional. A LDB de 1996 (lei 9394) torna obrigatrio o ensino de educao artstica (Art.26 2 e Art. 36 I ), mas no especifica qual modalidade de arte, o que subentende o ensino de todas as formas de arte: musical, cnica e plstica. A mesma situao podemos encontrar

10

COFFMAN, Don D. Adult Education. In COLWELL, Richard, RICHARDSON, Carol. The New Handbook of Researsch on Music Teaching And Learning. New York: Oxford university Press, 2002. 11 Professor universitrio dos EUA que trabalhou no Mxico formulando uma poltica educacional na dcada de 1980.

na prpria documentao federal, onde pouco material relacionado educao musical foi encontrado no PCN12 do EJA13 e nos Parmetros em Ao da Educao de Jovens e Adultos, sendo o pouco material encontrado generalizado educao artstica. Felizmente outro documento Federal da COEJA14 preenche esta lacuna e especifica cuidadosamente uma sugesto de contedos e procedimentos que devem tratar a educao artstica no processo de educao de adultos, inclusive dissertando sobre educao musical, artes plsticas, dana e artes cnicas. Entretanto, tal documento foi muito pouco divulgado. Diante desse quadro uma grande pergunta surge: o que est acontecendo com a educao musical de adultos no ensino regular noturno? Na realidade existem poucos materiais sobre o assunto por se tratar de algo novo no ensino regular de adultos. A prpria experincia da dissertao de Medeiros (1998) voltada para estudantes universitrios, jovens de artes plsticas e cnicas com idades entre 18 e 36 anos que escolheram e se inscreveram numa oficina de msica que seria realizada em um nico perodo letivo. A experincia est longe de se comparar ao que surge com a implantao da educao musical no ensino noturno de Jovens e Adulto. Principalmente no que tange educao do PEJ(A) no municpio do Rio de Janeiro. Com este trabalho pretendemos refletir sobre formas de manter e ampliar o interesse dos alunos na disciplina de educao musical e para tal devemos observar as seguintes questes: a) O que a legislao fala sobre a educao de adultos e sobre a educao musical? b) Qual a bagagem de conhecimento musical o aluno adulto trs para sala de aula? c) Em que as dificuldades e os benefcios da bagagem cultural levada pelo aluno adulto pode traduzir em sala de aula? c) Como devemos estabelecer a relao professor-aluno? e) O que o professor de msica pode e o que no pode fazer para realizar um trabalho produtivo com os alunos adultos? na preocupao de professor, na tentativa de sanar ao mximo as questes levantadas e de desenvolver um trabalho produtivo e consistente em sala de aula, que se justifica a realizao desta pesquisa. Outro ponto importante a observar a inexistncia de trabalho correlato. De modo que este projeto se justifica pela necessidade de uma pesquisa mais aprofundada sobre os12 13

Propostas Curriculares Nacionais Educao de Jovens e Adultos 14 Coordenadoria da Educao de Jovens e Adultos,

processos que vm ocorrendo em educao musical para alunos em idade adulta. Deste modo, poderemos reconhecer tanto as dificuldades dos professores em ensinar como a destes alunos em aprender msica, e estabelecer estratgias para san-las de um modo produtivo. Esta pesquisa poder ajudar a muitos professores de educao musical do municpio (e mesmo de outras instituies), ao menos em saber que tipo de trabalhos vem sendo desenvolvidos nas outras unidades, considerando que ainda existem poucas escolas com PEJ(A) e menos ainda com educao musical em funcionamento. O Pblico alvo abrange todos os educadores musicais que trabalhem com adultos ou que tenham interesse em pesquisas sobre o assunto. Esta pesquisa torna-se importante, pois existe pouca literatura, sobretudo no Brasil, que trata da educao musical de adultos. Nosso objetivo : (1) observar e traar um quadro sobre o ponto em que se encontra a prtica da educao musical para adultos no curso noturno da rede Municipal do Rio de Janeiro; e (2) a partir da refletir e discutir sobre formas de manter e ampliar o interesse dos alunos na disciplina. Para tanto ser necessrio alcanar os seguintes objetivos especficos: 1) Realizar pesquisa de campo atravs de entrevistas com professores e questionrios com alunos. 2) Identificar caractersticas dos perfis de alunos em idade adulta que fazem aulas de educao musical, assim como sua bagagem cultural. 3) Refletir sobre a influncia da mdia em sua formao como um todo. 4) Identificar como a legislao em vigor aborda a Educao Musical de Adultos. 5) Abordar a discusso existente sobre Andragogia e sua prtica educativa. 6) Identificar quais as dificuldades e facilidades que os professores encontram ao ministrar aulas de msica. 7) Traar sugestes de procedimentos didticos. 8) Ampliar os estudos existentes sobre educao musical de adultos, que ainda foi pouco explorada no campo da educao, tendo como base terica as legislaes em vigor, estudos sobre Andragogia (cincia que estuda a educao de adultos) e os resultados da pesquisa de campo. Esta uma pesquisa descritiva. Como processo de pesquisa iremos nos valer tanto de reviso da bibliografia como da pesquisa de campo (atravs de questionrios e entrevistas

com alunos e professores). Sobre os procedimentos metodolgicos da pesquisa seguiremos as seguintes especificaes: a) Populao e Amostra A populao desta pesquisa fornada pelos professores e alunos das escolas da rede Municipal de ensino do Rio de Janeiro, turno noturno. Dentre os quais deveremos escolher turmas referentes a 10 professores. Dentre os critrios para escolha da escola contaremos o tempo de funcionamento da disciplina de Educao Musical nunca ser inferior a 6 meses Isso necessrio para termos uma opinio mais definida tanto dos alunos quanto dos professores sobre a prtica da educao musical. Outro critrio ser a localizao das escolas: que sejam em reas de fcil acesso. b) Instrumentos de Coleta de Dados Os 10 professores sero entrevistados sobre as dificuldades, facilidades e prticas metodolgicas de ensino realizadas com os alunos. Estas entrevistas sero estruturadas e devero ser gravadas em fita cassete. Os questionrios sero direcionados aos alunos e sero com questes abertas e fechadas. O local da coleta de dados ser a prpria escola em horrios marcados posteriormente pelos