ações preparatórias da embrapa para criação de … · estratégia para incentivar a criação...

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Ações Preparatórias da Embrapa para Criação de Empreendimentos de Base Tecnológica Cássia Isabel Costa Mendes 1 , Deise Oliveira 1 , Adriana Delfino dos Santos 1 Guilherme Luiz Pereira 2 , Marcelo Mikio Hanashiro 1 , Bruno Moreira Bianchini 2 1 Embrapa Informática Agropecuária, Instituto de Inovação 2 {cassia, deise, adriana, mikio}@cnptia.embrapa.br  {guilherme.pereira, bruno.moreira}@institutoinovacao.com.br Resumo: O trabalho relata a experiência da Embrapa Informática Agropecuária na implementação de estratégias de incentivo à criação de empreendimentos de base tecnológica para a transferência de resultados de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (PD&I) para o agronegócio. Também apresenta a metodologia utilizada para elaboração de Estudos de Viabilidade Técnica e Econômica (EVTEs) em quatro de suas tecnologias com vistas à potencial criação de empresas nascentes. As ações desenvolvidas referem-se ao biênio 2005/2006. A Embrapa implementou o Programa de Apoio ao Desenvolvimento de Novas Empresas de Base Tecnológica Agropecuária e à Transferência de Tecnologia (Proeta). O objetivo do Programa é criar mecanismo sustentável para incubação de empresas do agronegócio e implementar experiências que proporcionam inovação no processo de transferência de tecnologias. Uma atividade preparatória, que antecede a incubação de empresas, refere-se à elaboração de EVTEs. A Embrapa Informática Agropecuária, com aporte financeiro da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), viabilizou a análise de quatro tecnologias geradas por seus projetos de PD&I: Agência de Informação Embrapa; Sistema de Monitoramento Agrometeorológico; Árvore Hiperbólica e Suite de Programas para Análise Estrutural de Proteínas. A metodologia utilizada pelo Instituto de Inovação - consultoria contratada para elaboração dos EVTEs - contou com quatro etapas: Treinamento Embate,  Diligência da Inovação®,  Definição do Modelo de Negócios  e Estruturação do Plano de Negócios. Os resultados demonstram que duas tecnologias têm potencial de comercialização por empresas incubadas. Ainda no primeiro semestre de 2007, há perspectiva de lançamento de edital para seleção de empresas. Como estratégia para futura comercialização, a Embrapa Informática Agropecuária iniciou o processo de proteção à propriedade intelectual de suas tecnologias, pelo registro de software junto ao Instituto Nacional de Propriedade Industrial. 1

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Ações Preparatórias da Embrapa para Criação de Empreendimentos de Base Tecnológica

Cássia Isabel Costa Mendes1, Deise Oliveira1, Adriana Delfino dos Santos1, Guilherme Luiz Pereira2, Marcelo Mikio Hanashiro1, Bruno Moreira Bianchini2

1Embrapa Informática Agropecuária, Instituto de Inovação2

{cassia, deise, adriana, mikio}@cnptia.embrapa.br {guilherme.pereira, bruno.moreira}@institutoinovacao.com.br

Resumo:

O   trabalho   relata   a   experiência   da   Embrapa   Informática   Agropecuária   na implementação   de   estratégias   de   incentivo   à   criação   de   empreendimentos   de   base tecnológica para a transferência de resultados de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (PD&I) para o agronegócio. Também apresenta a metodologia utilizada para elaboração de   Estudos   de   Viabilidade   Técnica   e   Econômica   (EVTEs)   em   quatro   de   suas tecnologias   com   vistas   à   potencial   criação   de   empresas   nascentes.   As   ações desenvolvidas referem­se ao biênio 2005/2006.

A   Embrapa   implementou   o   Programa   de   Apoio   ao   Desenvolvimento   de   Novas Empresas de Base Tecnológica Agropecuária e à Transferência de Tecnologia (Proeta). O objetivo do Programa é criar mecanismo sustentável para incubação de empresas do agronegócio e  implementar  experiências  que proporcionam inovação no processo de transferência de tecnologias.

Uma   atividade   preparatória,   que   antecede   a   incubação   de   empresas,   refere­se   à elaboração de EVTEs. A Embrapa Informática Agropecuária, com aporte financeiro da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), viabilizou a análise de quatro tecnologias geradas  por   seus   projetos   de   PD&I:   Agência   de   Informação   Embrapa;  Sistema  de Monitoramento   Agrometeorológico;   Árvore   Hiperbólica   e   Suite   de   Programas   para Análise Estrutural de Proteínas.

A   metodologia   utilizada   pelo   Instituto   de   Inovação   ­   consultoria   contratada   para elaboração dos EVTEs ­ contou com quatro etapas: Treinamento Embate,  Diligência da Inovação®,  Definição do Modelo de Negócios  e Estruturação do Plano de Negócios.

Os resultados demonstram que duas tecnologias têm potencial de comercialização por empresas incubadas. Ainda no primeiro semestre de 2007, há perspectiva de lançamento de  edital  para   seleção  de  empresas.  Como estratégia  para   futura  comercialização,  a Embrapa   Informática   Agropecuária   iniciou   o   processo   de   proteção   à   propriedade intelectual de suas tecnologias, pelo registro de software junto ao Instituto Nacional de Propriedade Industrial. 

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1. Introdução

A   geração   de   inovações   constitui   um   pressuposto   básico   da   competitividade,   do crescimento  e  do desenvolvimento  econômico  no  contexto  de acirrada  concorrência internacional. A inovação é apresentada por Schumpeter (1912) como mola mestra da dinâmica  capitalista,  a  qual  ocorre  com a   introdução  de  novos  métodos  produtivos, novos produtos e serviços, novas formas de organização da produção. 

A inovação tecnológica é movida pela geração de conhecimentos e sua aplicação na criação de novos produtos e processos que possam trazer vantagens competitivas para as empresas. Mendes (2006) afirma que passou a ser estratégico para empresas e países apropriar­se e proteger ativos e insumos relevantes, dentre eles aqueles protegidos pela propriedade intelectual.

O   impulso   fundamental   que   mantém   em   funcionamento   as   organizações   –   tanto públicas como privadas ­ é oriundo das inovações, razão pela qual as empresas buscam introduzir   mudanças   constantes   e   se   submetem   aos   mecanismos   de   seleção   dos mercados   pela   concorrência.   O   progresso   técnico   é   marcado   por   assimetrias tecnológicas num ambiente de mudança constante e de incerteza. O esforço de inovar das empresas é caracterizado pela busca de novas oportunidades de mercado, centradas em inovação (POSSAS, 1989).

O processo de difusão de novas tecnologias é relevante no contexto de mundialização econômica,   com   estratégias   empresariais   variadas,   para   promover   um   processo   de aprendizagem decorrente do acúmulo de conhecimentos e capacidades tecnológicas que envolvem as firmas, as instituições e o ambiente em que operam. 

Instituições de ensino e de PD&I operam nesse ambiente com o importante papel de contribuir  para a produção de pesquisa,  conservação do conhecimento,   formação de pessoas, geração de tecnologias e, também, com a meta de incentivarem a criação de Empresas  de  Base  Tecnológica   (EBTs)  como alternativa  de  viabilizar  a   exploração comercial de novas tecnologias e inovações geradas dentro de seus espaços.  

Com exemplo, pode­se citar instituições de ensino e de PD&I norte­americanas, como a Universidade   de  Stanford  e   o  Massachussets   Institute   of   Technology  (MIT),   que participaram  da   formação  do  Vale   do  Silício   e   atuaram  diretamente  na   criação  de empreendimentos originários de pesquisas com alto potencial inovador. A situação no Brasil,   no   entanto,   é   diferente   quando   se   trata   dessas   instituições   incentivarem   o nascimento de empresas tecnológicas. Isso decorre, dentre outros fatores, do histórico da   política   nacional   de   investimento   em   ciência   e   tecnologia   a   qual   prioriza   o investimento na formação de mestres e doutores, o que fez com que o Brasil melhorasse sua participação em termos de publicações científicas internacionais de 0,9% em 1990 para   1,8%   em   2005,   no   entanto   sem   a   contra­partida   necessária   em   depósitos   de patentes, um dos indicadores de inovação tecnológica (PEREIRA E MUNIZ, 2006).

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Importante   marco   legal   foi   editado   como   tentativa   para   criar   ambiente   propício   a parcerias estratégicas entre universidades, institutos de pesquisa e empresas privadas. Trata­se da Lei de Inovação Tecnológica – lei nº 10.973, de 02/12/2004 – a qual surgiu para estimular a participação destes agentes no processo de inovação, prevendo tanto a incubação de empresas no espaço público, como o compartilhamento de infra­estrutura, de   equipamentos   e   recursos   humanos   entre   os   agentes   públicos   e   privados   para   o desenvolvimento tecnológico e a geração de produtos inovadores (BRASIL, 2004). 

A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa)1 – empresa pública federal de  pesquisa   e  desenvolvimento,  vinculada  ao  Ministério  da  Agricultura,  Pecuária   e Abastecimento   –,   como   geradora   de   conhecimentos   e   tecnologias   para   o desenvolvimento sustentável do espaço rural brasileiro com foco no agronegócio, tem buscado apresentar soluções para dinamizar o processo de transferência e adoção de seus serviços e produtos tecnológicos pela sociedade brasileira. Um dos mecanismos utilizados  pela  Embrapa para  fomentar  a  criação de empreendimentos  de tecnologia agropecuária é o Programa de Apoio ao Desenvolvimento de Novas Empresas de Base Tecnológica Agropecuária e à Transferência de Tecnologia (Proeta). Uma atividade que antecede a incubação de empresas é a elaboração de Estudos de Viabilidade Técnica e Econômica (EVTEs). 

Este   trabalho  relata  a  experiência  da Embrapa  Informática  Agropecuária  –  uma das unidades da Embrapa –, na elaboração de EVTEs em quatro de suas tecnologias, como estratégia para incentivar a criação de EBTs para transferência de resultados de pesquisa e desenvolvimento ao agronegócio. Para tanto, o artigo está dividido em cinco seções, incluindo esta introdução e a conclusão. A segunda seção apresenta rápido panorama do agronegócio   brasileiro   e   demonstra   o   papel   da   Embrapa   nesse   setor   econômico, destacando   suas   ações   para   transferência   de   tecnologias   e   inovações,   dentre   elas   o Programa de Incubação de Empresas da Embrapa. Na terceira seção, são destacados o marco teórico sobre incubação de empresas, a metodologia utilizada para aplicação dos EVTEs   e   suas   quatro   etapas   –   Treinamento   Embate,     Diligência   da     Inovação®2, Definição do Modelo de Negócios  e Estruturação do Plano de Negócios –, citando as tecnologias   analisadas.   A   seção   seguinte   discorre   sobre   os   resultados   dos   EVTEs evidenciando as próximas ações com base nos resultados obtidos, as lições aprendidas e o aspecto inovador da experiência. Por último, seguem algumas reflexões à guisa de uma conclusão.

2.  Breve  Panorama do  Agronegócio  Brasileiro,  a  Embrapa e  o   seu Programa de Incubação de Empresas

Na segunda metade do século XX, o Brasil acelerou o processo de industrialização e urbanização que teve como uma de suas conseqüências a diminuição da agricultura no peso da economia brasileira. Nos anos 70, o Produto Interno Bruto (PIB) agrícola já era menor que o industrial. Os investimentos públicos e privados na indústria indicavam um caminho onde a agricultura teria cada vez menos espaço. Os anos 80 se iniciaram com a crise da dívida dos países emergentes que se viram impedidos de dar prosseguimento 

1 www.embrapa.br2 Marca registrada do Instituto de Inovação.

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aos processos forçados de industrialização. Nos anos 90, o processo de abertura das economias   e  globalização  de  mercados   redirecionou  o  processo  de   industrialização, agora com menos participação do Estado e mais sujeito à competição internacional. 

Particularmente no Brasil, o final dos anos 90 foi de crise de endividamento externo e interno, e de desindustrialização de muitos setores que passaram a ser importadores de produtos acabados ou semi­acabados. Neste cenário de crise da industrialização e de necessidade de reversão do saldo negativo da balança comercial, o setor agrícola voltou a   mostrar   sua   importância   no   panorama   econômico   brasileiro.   Mesmo   exposta   à concorrência   internacional,   a   agricultura   deu   grandes   saltos   nos   anos   90   e   hoje   o agronegócio é   fundamental  na geração de emprego,   renda e na melhoria  das contas externas brasileiras.

O crescimento da produção agrícola brasileira entre as safras 1990/1991 e 2002/2003 foi um dos maiores do mundo. Saltou de 57,8 milhões de toneladas para 123,2 milhões de toneladas no período3. Esse crescimento foi possível, em parte, devido a melhores políticas de financiamento agrícola, melhores preços no mercado internacional e avanço nas técnicas de produção, como a agricultura de precisão e o uso de transgênicos, em especial,  na cultura  de  soja.  A participação  do  Brasil  no  comércio   internacional  de produtos agrícolas também se elevou, e cresceu de 2,8% para 3,9% em quatro anos. Nesse período, entre os anos de 2000 e 2004, o setor exportador agrícola brasileiro cresceu mais que o dobro do comércio agrícola mundial, passando de US$ 15,4 bilhões para  US$ 30,8 bilhões.  Do  total  de  exportações  brasileiras,  o   setor  do  agronegócio participa com 40% dos produtos exportados4.  

As  duas  últimas   safras   (2005/2006)   foram  caracterizadas  por  dificuldades:   situação meteorológica desfavorável, queda de preços no mercado externo e a situação cambial da moeda brasileira também desfavorável ao produtor agrícola. Mesmo assim, o setor continuou   forte   e   os   produtores   cada   vez   mais   percebem   que,   para   continuarem competitivos,  devem praticar   técnicas  mais  avançadas,  capazes  de prever  problemas com pragas, problemas meteorológicos, novas doenças e recorrer ao seguro rural como forma de  prevenção de perdas  ocasionadas  por   fatores   incontroláveis.  A agricultura sempre   estará   sujeita   a   estas   variações   ambientais   que   afetam   a   produtividade. Entretanto,   o   avanço   tecnológico   permite   que   hoje   se   tenha   uma   ampla   gama   de possibilidades  de prevenção contra  alguns destes problemas,  permitindo àqueles que utilizam novas tecnologias, que se mantenham competitivos no mercado internacional. 

O crescimento da produção agrícola brasileira e a utilização de inovações tecnológicas no   campo   se   deve,   principalmente,   ao   trabalho   da  Empresa   Brasileira   de  Pesquisa Agropecuária (Embrapa)5 e de agentes do Sistema Nacional de Pesquisa Agropecuária (SNPA)6, os quais mudaram a agricultura brasileira. Como exemplo, pode­se citar a soja que foi adaptada às condições brasileiras e hoje o Brasil é o segundo produtor mundial. A oferta  de  carne  bovina  e   suína   foi  multiplicada  por  quatro  vezes   e   a   de   frango 

3 http://www.agricultura.gov.br4 http://www.portaldoagronegocio.com.br/5 www.embrapa.br6  O SNPA é  coordenado pela Embrapa e constituído por  instituições públicas federais,  estaduais,  universidades, empresas privadas e fundações,  que, de forma cooperada,  executam pesquisas nas diferentes áreas geográficas e campos do conhecimento científico no agronegócio.

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aumentou 18 vezes. A produção de leite aumentou de 7,9 bilhões, em 1975, para 24,6 bilhões de litros, em 2005, já a produção brasileira de hortaliças, elevou­se de 9 milhões de   toneladas,   em   uma   área   de   700   mil   hectares,   em   1980,   para   17,4   milhões   de toneladas, em 773,2 mil hectares, em 2005 (EMBRAPA, 2007).

A   Embrapa,   criada   em   1973,   tem   como   missão   viabilizar   soluções   para   o desenvolvimento sustentável do espaço rural, com foco no agronegócio, por meio da geração, adaptação e transferência de conhecimentos e tecnologias, em benefício dos diversos   segmentos   da   sociedade   brasileira.   Atua   por   intermédio   de   38   centros   de pesquisa,   três   serviços  e  11  unidades  centrais,  estando  presente  em quase   todos  os Estados   brasileiros.   A  Embrapa   Informática   Agropecuária7  é   um desses   centros   de pesquisa que contribui com esse esforço da empresa tem por missão viabilizar soluções em tecnologia da informação para o agronegócio.  

Muitas são as funções a serem desempenhadas por uma instituição de pesquisa como a Embrapa.  Para elas,  a  transferência de tecnologias   inovadoras e conhecimento é  um grande desafio. Dentre os fatores que interferem na difusão de seus produtos, serviços e tecnologias, estão: a) dificuldade de implementar políticas institucionais favoráveis ao desenvolvimento   e   à   agilização   do   processo;   b)   inadequação   de   metodologias;   c) carência de treinamentos e de recursos financeiros e humanos.

A transferência de tecnologias da Embrapa para o setor agropecuário vem passando por várias mudanças desde a criação da empresa. No início, foram ações intensas de difusão de tecnologia, onde se buscou assegurar a expansão da fronteira agrícola, aumentar a produção para o abastecimento interno a preços baixos e promover o crescimento das exportações (GOEDERT  et al., 1994). Depois disso, houve a concentração das ações em   programas   nacionais   de   pesquisa,   propondo­se   o   desenvolvimento   de   ações   de articulação sistemáticas e dinâmicas com os sistemas federal e estaduais de pesquisa e com órgãos de assistência técnica e de extensão rural,  mas ainda sem o enfoque em negócios. 

No final dos anos 80 e início dos anos 90, com a política de modernização gerencial, iniciaram­se algumas ações de vendas de tecnologias e prestação de serviços. Nos anos 90,  o  enfoque foi  dado às  diretrizes  estratégicas  que estabeleciam a necessidade  de cooperação e parceria com os órgãos integrantes do SNPA. Ficou explícita a intenção de   promover   e   agilizar   a   transferência   mediante   a   promoção   de  marketing  das informações,   visando   reduzir   o   tempo   entre   a   geração   e   a   adoção   de   tecnologias (EMBRAPA, 1994).

Em   1998,   com   o   propósito   de   alinhar   a   Empresa   estrategicamente   no   período   de 1999­2000,   a   Embrapa   lançou   o   seu   III   Plano   Diretor.   O   Plano   destacou   o desenvolvimento sustentável do agronegócio, em benefício da sociedade, por meio da geração,   adaptação   e   transferência   de   conhecimentos   e   tecnologias.   As   diretrizes estratégicas  da empresa passaram a apoiar­se no conceito  de negócios.  As diretrizes estratégicas  nortearam­se  por  uma política  de  administração   focada  em qualidade  e marketing,  entendido como um processo de relacionamento orientado pelas visões e necessidades da sociedade 

7 www.cnptia.embrapa.br

5

(EMBRAPA, 1998).

Nessa   época,   ocorreu   uma   iniciativa   pioneira   nesse   sentido,   com   o   projeto   de Transferência de Tecnologia através de Empreendimentos de Tecnologia Agropecuária na   Embrapa   (Ttentar)   com   a   intenção   de   viabilizar   empresas   de   base   tecnológica, conforme previsto no Plano Diretor da Embrapa. 

A partir  de 2004, diante da necessidade de crescimento do agronegócio e do espaço rural brasileiro, em consonância com uma visão de futuro e, em face das modificações dos   cenários,   surgiram   novas   implicações   para   a   ciência,   a   pesquisa   e   o desenvolvimento   e   a   inovação   tecnológica.   Atendendo   à   demanda   da   sociedade,   a Embrapa criou o Programa de Apoio ao Desenvolvimento de Novas Empresas de Base Tecnológica Agropecuária e à Transferência de Tecnologia (Proeta), mediante acordo com   o   Fundo   Multilateral   de   Investimentos   do   Banco   Interamericano   do Desenvolvimento Mundial (BID).

O Proeta efetivou­se através de arranjos institucionais entre a Embrapa, incubadoras de empresas   (chamadas   de   parceiras)   e   empreendedores   interessados   em   utilizar   as tecnologias agropecuárias desenvolvidas pela Embrapa. O objetivo do Programa é criar um mecanismo sustentável para incubação de empresas do agronegócio e implementar experiências que proporcionam inovação no processo de transferência de tecnologias.

Atividade preparatória à incubação de empresas, por intermédio do programa Proeta, refere­se à elaboração de Estudos de Viabilidade Técnica e Econômica para se verificar se  determinada   tecnologia   encontra­se  pronta  para   ser   transferida  ao  mercado,  bem como o seu potencial de comercialização e o modelo de negócio mais apropriado. A Embrapa   Informática   Agropecuária   elaborou,   em   2005/2006,   os   EVTEs   de   quatro tecnologias.  A seção seguinte,  após   relatar  breve  marco   teórico  sobre  incubação  de empresas, discorre sobre a metodologia utilizada pela Embrapa e cita as  tecnologias analisadas.

3.   Incubação   de   Empresas   e   Estudos   de   Viabilidade   Técnica   e Econômica

Apesar do ambiente de incubação ser um grande catalisador para o desenvolvimento de novas oportunidades, de base tecnológica ou não, ele não constitui,  sozinho, a chave para o sucesso de um empreendimento. Este caminho, que o empreendedor deve traçar para atingir suas metas, é caracterizado pelo processo de transformação de uma idéia em uma realidade, processo este repleto de barreiras e tentativas múltiplas (KATZ, 1993). 

Este processo é altamente desafiador, pois as métricas necessárias para o embasamento das decisões dos empreendedores não estão estabelecidas  ou não são suportadas por indicadores suficientes. Para tanto, utilizam­se, então, informações atuais para suportar estrategicamente  os   julgamentos   inerentes  ao  próprio  negócio,   elevando  os   riscos  e acarretando em conseqüências negativas (WEST E DECASTRO, 1999).

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Como alicerce de criação de uma empresa de base tecnológica encontra­se o capital humano e social,  geralmente instrumentais  (BRUSH  et al.,  2002). Estes capitais  são utilizados, então, para alavancar as demais necessidades do negócio, transformando e organizando   os   ativos   iniciais   em   recursos   organizacionais   únicos.   A   dificuldade, porém, ainda é   transportar a idéia inicial  para a realidade,  principalmente quando se trata da criação de novos bens ou serviços.

No mundo inteiro,  a relação entre os centros  de conhecimento,  empresas e  governo formam   a   base   dos   sistemas   de   inovação   e   desenvolvimento   de   oportunidades tecnológicas. A alta incerteza associada aos processos de desenvolvimento das empresas de   base   tecnológica   e   o   dinâmico   ambiente   de   mudanças   da   economia   moderna constituem fontes de risco ao planejamento de negócios e, portanto, se faz necessário o uso de ferramentas e técnicas que foquem na minimização destes riscos e no foco das oportunidades   (QADROS,  2004).  Portanto,   tornam­se  cada  vez  mais  necessários  os estudos de viabilidade técnica e econômica e o desenvolvimento de planos de negócios muito bem estruturados.

No Brasil, o governo, em geral, garante subsídios, através de agências de fomento, para a   implantação  de  projetos   de  prospecção   e   análise   das   oportunidades   tecnológicas. Estas, no entanto, estão na maioria concentradas nas instituições de ensino e pesquisa e são aplicadas  ou   replicadas  no  setor  privado da  economia   (HARDING E BOSMA, 2007). No país, esta articulação entre as universidades, governo e setor produtivo ainda é modesta (FROIS E PARREIRAS, 2007).

3.1. Abordagem metodológica

Com aporte   financeiro  da  Financiadora  de  Estudos   e  Projetos   (Finep)8,   a  Embrapa Informática Agropecuária contratou consultoria especializada em gestão da inovação e tecnologia – Instituto Inovação Ltda.9  –, viabilizando a elaboração de EVTEs com a utilização de metodologia desenvolvida por esta empresa. 

No sentido geral de análise de tecnologias, a experiência da consultoria, investigando o potencial  de tecnologias  geradas nos laboratórios de institutos  de pesquisa e ensino, constatou dois fatores:

a)É   possível   trabalhar   a   tecnologia   respeitando   os   valores   que   são   caros   à comunidade científica na instituição de ensino e pesquisa (tais como autonomia e liberdade para a pesquisa básica que gera o avanço do conhecimento), porém atribuindo­lhe uma motivação prática de análise do seu potencial de valor para uso  da   sociedade.  Toda   tecnologia   inovadora  merece   ser   considerada   sob   a hipótese de uma aplicação de mercado. 

b)Tecnologia patenteada, até então, não tem sido sinônimo de tecnologia a ser licenciada, ou seja, com raras exceções, propriedade intelectual em instituição de 

8 www.finep.gov.br9  Empresa privada que atua em atividades de gestão da  inovação e   tecnologia,  com o objetivo de promover  a aproximação   entre   o   conhecimento   científico   gerado   no   Brasil   e   o   mercado.   Informações   adicionais   em: www.institutoinovacao.com.br

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ensino e pesquisa é apenas fonte de custos, e não se sabe se realmente é possível extrair valor do estoque de patentes. Não se logra benefício algum em patentear por patentear. 

Partindo destas  constatações  e  somando­se a  experiência  com a gestão de empresas nascentes   (start­up’s)   baseadas   em   novas   tecnologias,   a   empresa   de   consultoria desenvolveu metodologia  de  investigação e modelagem de  tecnologias  que ainda  se encontram no laboratório  em estágio de bancada e  que normalmente  são objetos de pedidos de patente. Ao se tratar de investigação do potencial de um projeto, comumente se   associa  diretamente  esta   análise  a  um plano  de  negócios.  Este   tipo  de  estudo  é utilizado  para   se   avaliar   projetos   de  novos  produtos   ou  processos   em   empresas   já constituídas ou, no mínimo, para o planejamento de um novo negócio para o qual já se consiga obter as variáveis mínimas para a tomada de decisão.

A   metodologia   é   composta   por   quatro   etapas:   treinamento   EMBATE   – Empreendedorismo   de   Base   Tecnológica,   Diligência   da   Inovação®,   definição   do modelo de negócios e estruturação do plano de negócios.

A primeira etapa, denominada Treinamento EMBATE – Empreendedorismo de Base Tecnológica, consiste em nivelar conhecimentos entre todos os participantes, motivando a   equipe   a   entender   o   que   é   necessário   para   o   sucesso   do   projeto.   O   perfil   dos envolvidos nas atividades é um dos fatores críticos para o desenvolvimento do negócio, mesmo quando temos uma tecnologia com alto potencial  inovador. O objetivo deste primeiro  passo  é   tornar  o  pesquisador  consciente  dos  desafios  de   transformação  da tecnologia em real inovação, despertando o seu perfil empreendedor.

Em   seguida,   a   equipe   de   consultores   inicia   o   contato   com   os   pesquisadores   para conhecimento das tecnologias e primeiras sondagens ao mercado, dando início à etapa Diligência da Inovação®. A Figura 1 demonstra os passos desta etapa que visa subsidiar a elaboração do plano de negócios de base tecnológica. O objetivo é entender qual é o processo produtivo e os custos relacionados à produção, o estado da arte relacionado à tecnologia, os produtos e serviços potenciais, a identificação preliminar de um mercado alvo,   identificação   de   competidores   em   potencial   e   a   enumeração   dos   diferenciais competitivos.

Figura 1. Diligência da Inovação

Com estas informações, os consultores podem avaliar de forma mais crítica a tecnologia e passar para a elaboração dos estudos de viabilidade técnica e econômica. A partir daí, entra­se   na   terceira   etapa   para   definição  do  modelo  de   negócio.  São  mapeadas   as possibilidades de atuação da futura empresa a ser incubada, detalhando­se a oferta, os 

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processos necessários para obterem­se os resultados esperados, o processo produtivo, as considerações   sobre   a   transferência   de   tecnologia,   a   propriedade   intelectual   e   os investimentos necessários. 

Após esta primeira análise, a equipe consegue ter uma visão geral do empreendimento de   forma  mais   crítica,   podendo   tomar   a   decisão  pela   reavaliação  dos  objetivos  do projeto ou, então, pela continuidade do processo para a elaboração do plano de negócio propriamente dito, a última etapa da metodologia. 

A   confecção   do   plano   de   negócios   é   orientada   por   uma   das   informações   que   a Diligência da Inovação® avalia: o modelo do negócio. A partir deste ponto, são, então, elaborados  estudos  com  informações  atuais  na   tentativa  de  embasar  a  descrição  do funcionamento   da   empresa,   da   oferta   e   demanda   associadas   à   oportunidade,   dos potenciais concorrentes e barreiras de entrada, da dinâmica do mercado, dos resultados financeiros e, por fim, uma análise da sensibilidade do conjunto de dados como um todo.

A aderência do negócio ao mercado é um fator chave para o sucesso de todo o projeto, sendo uma etapa  essencial  da  Diligência  da   Inovação®.    Em síntese,   a   avaliação  e confecção de um plano de negócio aliadas às outras etapas da metodologia oferecem: informações  sistematizadas  sobre  o mercado à  pesquisa  científica;  estudo da  cadeia onde a inovação se insere; as regras de negócio e seus protagonistas; um documento estruturado sob a ótica  do mercado;  apresentação da tecnologia de forma detalhada, preservando   as   informações   confidenciais;   estímulo   do   avanço   do   conhecimento   e criação   de   oportunidades   concretas   de   aplicação   da   tecnologia;   intercâmbio   de conhecimento   e   acesso   ao   mercado,   assegurando   o   princípio   da   autonomia   dos pesquisadores   e   avaliação   do   processo   de   proteção   à   propriedade   intelectual   da tecnologia em conjunto com especialistas.

Portanto,   em   resumo,   além   de   permitir   um   melhor   entendimento   do   estágio   de desenvolvimento de uma tecnologia e seu potencial de valor, a Diligência da Inovação® 

fornece  os  parâmetros  necessários  para  a  elaboração  do  plano  de  negócios  de  base tecnológica. Os planos de negócios, então, são apresentados em formato de relatório, contendo um sumário executivo, a descrição do negócio, a análise da indústria, a análise do público­alvo, a análise dos competidores, as estratégias de marketing, as estratégias de  vendas,  o  plano operacional,   a  definição  dos   recursos  humanos,  o  planejamento financeiro e as recomendações para entrada no mercado.

Ao final do projeto, todas as tecnologias são classificadas de acordo com o seu potencial de geração de valor e seu estágio de desenvolvimento, havendo uma relativização de todos os projetos sob a ótica do potencial de inovação, ou da aderência da tecnologia ao mercado. Esta classificação permite a identificação dos projetos com maior potencial para inserção no mercado, dando um suporte na tomada de decisões estratégicas.

3.2. Tecnologias analisadas

No   projeto   em   questão,   a   Embrapa   Informática   Agropecuária   apresentou   quatro tecnologias para a análise. De forma resumida, as tecnologias são:

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a)Agência de Informação Embrapa (Agência):  é  uma ferramenta de organização, tratamento e divulgação de informação tecnológica em ambiente web; 

b)Sistema de Monitoramento Agrometeorológico (Agritempo): permite aos usuários o   acesso,   via   internet,   às   informações   meteorológicas   e   agrometeorológicas   de diversos municípios e estados brasileiros;

c)Suite de Programas para Análise Estrutural de Proteínas (Sting): é um conjunto de ferramentas  para   visualizar   e   analisar   estruturas   de  proteínas   (fundamentais  nos processos vitais dos seres vivos);

d)Árvore Hiperbólica: permite visualizar, criar e editar uma estrutura em formato arbóreo (com galhos e nós), onde se vislumbra de maneira  hierárquica a relação entre os diversos temas analisados.

Tema da seção seguinte refere­se aos resultados da aplicação da metodologia junto às quatro tecnologias analisadas.

4. Resultados: lições e aspecto inovador da experiência

Em conjunto com os treinamentos conduzidos pela consultoria contratada, no âmbito da Embrapa Informática Agropecuária foram realizados quatro seminários técnicos (Tabela 1)   para  sensibilização   dos   pesquisadores   e  responsáveis  pelas   quatro   tecnologias analisadas   (citadas   na   seção   anterior)   os   quais   abordaram   a   lei   da   inovação, conceituação básica sobre inovação, estudos sobre a inovação no Brasil,  cases de spin­off,  programa de inovação e propriedade intelectual.

Tabela 1 – Seminários Técnicos

Tema Palestrante/Empresa

Lei de Inovação: destaques, oportunidades e desafios

Carlos Américo Pacheco, Instituto de Economia/Unicamp

Desafios para a Embrapa Sérgio Salles Filho, Instituto de Geociências/Unicamp

PROETA: o modelo Embrapa de incubação de empresas

Ana Lúcia Atrasas, Coordenadora do Proeta/Embrapa

Propriedade intelectual: pedido de registro de programa de computador: princípios básicos

Rodrigo Guerra e Argemiro Galvão, Agência de Inovação da Unicamp

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A realização do treinamento EMBATE capacitou 40 pessoas das instituições Embrapa Informática   Agropecuária,   INCAMP   (Incubadora  da   Inova   –   Unicamp)   e   Embrapa Meio Ambiente11 nos conceitos de empreendedorismo de base tecnológica, promovendo o nivelamento  de conhecimentos  entre   todos os participantes,  motivando a equipe a entender   o   que   é   necessário   para   o   sucesso   de   todo   o   projeto,   além   de   tornar   o pesquisador consciente dos desafios de transformação da tecnologia em real inovação, despertando o seu perfil empreendedor. Para tal, foram abordados os seguintes temas: o empreendedor;   características   empreendedoras,   quebrando   padrões,   percepção   de oportunidades, processo de criação e inovação, venda de idéias, análise e oportunidades.

A realização do treinamento Deligência da Inovação capacitou as mesmas 40 pessoas das instituições participantes do projeto nos conceitos de necessários ao entendimento das atividades  a serem realizadas  na próxima etapa do projeto.  Foram abordados os seguintes temas: contexto da inovação, pesquisa e inovação em instituições de ensino e pesquisa, inovação nas empresas e diligência da inovação. No último tema, apresentou­se  o  objeto  da   análise,   as   características   e   aplicações   da  diligência,   o   processo  de investigação, a coleta de dados e a estrutura de análise, além de um estudo de caso.

A etapa Diligência da Inovação® foi realizada para as quatro tecnologias selecionadas da Embrapa Informática Agropecuária e conduzida pelos consultores contratados. Essas tecnologias foram caracterizadas em termos de processo e aplicação, foi realizada uma prova de conceito que testou as tecnologias em situação real de campo, foi realizado um estudo de mercado das tecnologias e, finalizando a diligência, os estudos avaliaram a viabilidade dos negócios gerados a partir das tecnologias. 

Os estudos da viabilidade dos negócios consideraram a definição do modelo de negócio a ser adotado para comercialização das soluções.  Com isso,  foi  possível  calcular  as principais estruturas de um negócio ou produto criado a partir da tecnologia: receita, custos   operacionais   e   investimentos.  A   etapa   considerou  o  máximo  de  dados   reais possíveis, sem, contudo, se perder em um nível de detalhes que o estágio da tecnologia ou   do   negócio   ainda   não   permita.   O   objetivo   foi   oferecer   uma   primeira   análise financeira das tecnologias e, para duas delas que se mostraram viáveis economicamente, gerar subsídios à elaboração do plano de negócio para essas três tecnologias.

A   realização   do   treinamento   Plano   de   Negócio   capacitou,   também,   40   pessoas   na elaboração de um plano de negócios e abordou os seguintes temas: definição de plano de negócios, definição do modelo do negócio, análise de mercado, o cliente, estratégia de marketing, recursos humanos, plano financeiro e “vendendo o peixe”.

Os   resultados   dos   Estudos   de   Viabilidade   Técnica   e   Econômica   indicam   novas perspectivas   para   transformação  dos  produtos   da   pesquisa   da   Embrapa   Informática Agropecuária em negócios e em inovações tecnológicas. Em síntese, as conclusões do estudo apontam:

11 No âmbito dos EVTEs, também foram analisadas outras tecnologias da Incubadora da Unicamp (Incamp) em parceria com a Agência de Inovação da Unicamp, e da Embrapa Meio Ambiente. Como o presente trabalho objetiva relatar a experiência da Embrapa Informática Agropecuária, nos atemos  apenas a este estudo de caso.

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a)A Agência poderá oferecer soluções em comunicação informacional através de um sistema de recuperação de dados com alta qualidade e eficiência. Foi apontado o potencial   da   Agência   através   da   criação   de   uma  spin­off,   que   deve   atuar   na organização   da   informação   e   do   conhecimento,   com   foco   em   dados   não estruturados, utilizando sistema de gestão próprio. 

b)O   Agritempo   utiliza­se   da   expertise   da   equipe   em   tratamento   de   dados agrometeorológicos  para  oferecer   serviços  de   suporte  à   previsão  de   safras   e   ao cálculo  do risco  rural,  entre  outros.  Como modelo  de negócios,   identificou­se o potencial para a utilização da capacidade técnica e metodologias desenvolvidas no projeto Agritempo, para a geração de uma nova empresa de base tecnológica (spin­off).

c)O   Sting   poderá   dar   suporte   à   criação   de   uma   empresa   voltada   à   análise   de proteínas para o setor bioquímico e farmacêutico. Atinente aos modelos de negócios para o Sting,  existem,  pelo menos,  dois. O primeiro seria o desenvolvimento da ferramenta   como   um  software  de   auxílio   à   empresas   farmacêuticas   e   de biotecnologia na produção de novos compostos ou novas formulações. O segundo modelo possível é o da prestação de serviços utilizando­se da expertise da equipe, do banco de dados (que hoje é o maior do mundo em parâmetros calculados) e do software.

d)A Árvore Hiperbólica, por sua vez, se mostrou inviável dentro das condições de análise,   uma   vez   que   atenderia   um   mercado   ocupado   por  softwares  gratuitos similares.   Ela,   se   agregada,   porém,   a   outras   tecnologias,   como   à   Agência   de Informação   e   ao   Agritempo,   poderá   aumentar   o   diferencial   em   organização   de informação. 

Foram elaborados planos de negócio apenas para as tecnologias Agência e Agritempo. O   Sting não chegou à etapa de elaboração de planos de negócios em decorrência da necessidade de finalizar o desenvolvimento de alguns módulos da tecnologia. Quanto à Árvore   Hiperbólica,   a   análise   demonstrou   inviabilidade  pelos   motivos   aduzidos   no parágrafo anterior.  

Os   relatórios   finais   da   Agência   e   do   Agritempo   contêm   a   descrição   do   negócio (histórico  do   projeto,   o   modelo  de   negócio,   diferencial   da   futura   empresa   e   infra­estrutura), a análise da indústria (mercado, tendências, clientes, competidores), análise do   cliente   (caracterização   do   público­alvo,   o   cliente   do   cliente),   análise   dos competidores, estratégia de marketing (produtos e serviços, preço, praça, comunicação), estratégia de vendas, plano operacional (riscos e oportunidades, metas, plano de ação, acompanhamento),   recursos   humanos   (sócios,   estrutura   organizacional,   principais executivos, gaps), e plano financeiro (projeção de receitas; valor presente líquido, taxa interna de retorno; análise do fluxo da caixa e recomendações para entrada no mercado.

Para   finalizar   o   projeto,   foi   realizado   o   treinamento   Técnicas   para   Elaboração   de Apresentações  Eficazes  que capacitou 40 pessoas. Foram abordados os conceitos de apresentações eficazes, o processo de elaboração constituído de briefing, planejamento da apresentação, preparação dos slides, formatação e lições aprendidas.

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Concomitantemente  à   elaboração  dos  EVTEs,   a  Embrapa   Informática  Agropecuária iniciou o processo de registro da propriedade intelectual de suas tecnologias junto ao Instituto Nacional de Propriedade Industrial12.

Como os resultados de duas tecnologias demonstraram potencial de comercialização por empresas incubadas, ainda no primeiro semestre de 2007 há perspectiva de lançamento de edital para seleção de empresas. 

As principais lições obtidas neste processo referem­se ao aprendizado adquirido durante a   aplicação   da   metodologia,   possibilitando   aos   pesquisadores   da   Embrapa,   que desenvolveram   as   quatro   tecnologias,   aprender   aspectos   teóricos   e   práticos   sobre empreendedorismo,  modelos  de  negócios,   formas  para   transformar   a   tecnologia   em inovação, em produto e licenciamento para o mercado  e a elaborar plano de negócio.  

Para   a   Embrapa   Informática   Agropecuária,   a   elaboração   de   EVTE   antecedendo   a incubação  de  empresas  é  uma atividade  nova,  dado que  nas  diretrizes  do  Proeta  o empreendedor  selecionado após edital  público é  quem elabora do plano de negócio. Dessa forma, aumentam as chances do negócio ser profícuo, pois somente será objeto de edital a tecnologia que demonstra, ex ante, viabilidade tanto técnica como econômica para ser transferida ao mercado.

 5. Conclusões

A Embrapa   é   uma  empresa   reconhecida   internacionalmente  pela  qualidade  de   seus trabalhos, com enfoque em pesquisa no agronegócio. Contudo, na situação atual, com a grande   dependência   dos   recursos   do   Tesouro   Nacional,   constata­se   o   aumento   das vulnerabilidades quanto à manutenção da competitividade da empresa nesse segmento. 

Aliás, para a empresa permanecer na dianteira, investimentos contínuos são necessários para   todo  o  Sistema  Nacional  de  Pesquisa  Agropecuária.  A  falta   de  atenção  nesse quesito  pode  comprometer,   inclusive,   a  bem­sucedida  atuação  dos  agentes  do   setor primário  na geração de  superávits  comerciais,   trazendo  divisas  significativas  para o Brasil.   Com   efeito,   estes   agentes   privados   se   beneficiaram   do   amplo   alicerce tecnológico   construído   pela   pesquisa   agropecuária   no   decorrer   dos   anos;   esta reconhecida competência não foi algo que surgiu por acaso e de imediato. 

Vale lembrar que esta necessidade por recursos de custeio e de investimento através do Governo não é  exclusiva da Embrapa e outras empresas com tal  escopo de atuação (pesquisa   e   desenvolvimento).   No   caso   específico   da   Embrapa,   ela   tem   direito   a royalties  decorrentes  do  licenciamento  e comercialização de suas   tecnologias   (como sementes e mudas) por terceiros, mas tais recursos não são suficientes frente aos gastos do dia­a­dia. 

Este “pano­de­fundo” demonstra a necessidade de buscar soluções sustentáveis para o desenvolvimento   de   atividades  de  pesquisa,   desenvolvimento   e   inovação   dentro  da Embrapa. A Lei de Inovação Tecnológica permite que determinada tecnologia chegue 12 www.inpi.gov.br

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ao   mercado,   podendo,   inclusive,   a   Embrapa   usufruir   de   ganhos   oriundos   do   uso comercial  da  mesma,   através  das   empresas   incubadas.  Por   sua  vez,   estas   empresas incubadas trarão recursos decorrentes do licenciamento, que serão internalizados junto à Embrapa,  estimulando  um “ciclo  virtuoso”  da  geração de conhecimento.  Este  é  um processo recente dentro da esfera pública, e ainda mais dentro desta Empresa. 

Países que alcançaram o desenvolvimento  econômico invariavelmente  valorizaram a questão da inovação junto às suas companhias e instituições. Ou seja, é um cenário ao qual é preciso estar atrelado para a sobrevivência enquanto empresa ou como nação. É, também, uma das saídas para financiar a pesquisa e estimular o desenvolvimento de tecnologias   realmente   impactantes   em   termos   socioeconômicos   e   ambientais, diminuindo a dependência nacional de serviços e tecnologias  desenvolvidas em outros países e remuneradas a alto preço.

O presente artigo abordou a experiência da unidade Embrapa Informática Agropecuária, numa proposta amparada pela Finep, para   elaborar Estudos de Viabilidade Técnica e Econômica. Este processo antecede a incubação de Empresas de Base Tecnológicas e é uma iniciativa pioneira dentro da própria empresa, pois os resultados gerados propiciam um ganho  de   tempo  e  de   recursos  humanos  e   financeiros  na  etapa   seguinte,   a   ser apoiada  pelo  Programa de Apoio ao Desenvolvimento  de  Novas  Empresas  de  Base Tecnológica Agropecuária e à Transferência de Tecnologia (Proeta), da Embrapa.  

Os   estudos   acima   foram   realizados   em   diversas   etapas   pelo   Instituto   de   Inovação (Treinamento Embate, Diligência da Inovação®, Definição de Modelo de Negócios e Estruturação do Plano de Negócios), com o intuito de proporcionar as condições básicas junto   aos   interessados   na   incubação   de   empresas,   subsidiando­os   quanto   ao conhecimento   técnico   mínimo   necessário,   e   fomentando   o   espírito   empreendedor, principalmente quando estiverem à frente ou apoiando tecnicamente as mesmas, como consultores.  Das  quatro   tecnologias  abordadas  nesse  estudo  ­    Agência,  Agritempo, Sting e Árvore Hiperbólica ­, as duas primeiras geraram resultados bastante promissores em termos de viabilidade técnica e econômica, fornecendo fortes indícios de sucesso do empreendimento   quando   da   incubação   tecnológica   propriamente   dita,   minimizando riscos durante este processo; resulta, assim, em um exercício prévio de articulação entre universidades, governo e setor produtivo, a ser consolidado em breve.

A experiência adquirida durante a elaboração dos EVTEs e do treinamento de técnicas empresariais  terá  reflexos positivos na execução da etapa seguinte, independente das tecnologias que serão estudadas no futuro. Os passos a seguir se tornaram mais claros a todos os treinados e aqueles que se interessaram em participar em conjunção com as EBTs   têm   expectativas   mais   nítidas   para   se   posicionarem   junto   à   Embrapa, principalmente   durante   a   vigência   do   Proeta.   A   equipe   que   acompanhou   todo   o processo,   por   sua   vez,   terá   o   discernimento   de   apontar   possíveis   tecnologias promissoras   e   seus   desenvolvedores,   os   quais   poderão   compor   o   corpo   técnico   da empresa   que   buscará   o   acesso   mercadológico   efetivo,   gerando   sustentabilidade   na geração de conhecimento científico e benefícios diretos à sociedade como um todo, nos quesitos emprego e geração de renda, entre outros.

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Agradecimentos

À Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), pelo aporte financeiro que possibilitou a elaboração de Estudos de Viabilidade Técnica e Econômica. 

À Agência de Inovação da Universidade Estadual de Campinas (Inova/Unicamp), pela parceria   profícua   e   incentivo   à   criação   de   empresas   de   base   tecnológica   para   o agronegócio.

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