afrolagos julho agosto

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  Jornal Afro-Lagos - Informação - Polític a - Transformaçã o 1 ANO I - 1 JULHO/A ANO I - 1 JULHO/A ANO I - Nº 1 JULHO/A ANO I - Nº 1 JULHO/A ANO I - 1 JULHO/A GOST GOST GOST GOST GOSTO DE 2011 O DE 2011 O DE 2011 O DE 2011 O DE 2011  Jornal Afro-Lagos - Ano I - Número 1 - Julho/Agosto de 2011 - Distribuição Gratuita  Afro-Ta moios – Crescimento desordenado (Pág. 4) Meio Ambiente – A cultura africana e meio ambien te (Pá g. 5) Educação  – Que educação temos? Que educação queremos? (Pág. 5)  X da Ques tão – Dia 04 de setembro, Parada LGBT em Cabo Frio (Pág. 7) Cabeça de Negro – O mapa do poder na Região dos Lagos (Pág. 9)  Aldeia Afr o – A importância da Lei 10.639 (Pág. 9) Juventude em Pauta Precisamos deter o extermínio de Jovens Negros! (Pág. 10) Direito do Consumidor – Dano Moral: Dando o que cada um merece (Pág. 10) Brasil – Saúde da Popula ção Negra (Pág. 11)  Aqui acontece  – O primogênito (Pág. 12)  Acesse nosso blog  www.afrolagos.blog spot.com MÃOS QUE EMBALAM A NAÇÃO VERA DO AGBARA Criadora de um dos pri- meiros blocos afro do Brasil, Vera falece no Rio de Janeiro e deixa um legado de grandes realizações na área cul- tural. Nos anos de 1980 o bloco afro Agbara Dudu marcou época nas ruas de Madu- reira. Era ao mesmo tempo ponto de encon- tro, local de namoro e, principalmente de grande efervescência cultural, não só para o Movimento Negro, mas para todos que curti- am a cultura negra. Pag. 3 ENTREVISTA ENTREVISTA ENTREVISTA ENTREVISTA ENTREVISTA Márcia Fonseca, professora fundadora do GRIOUT e ativista cultural. Marcia do Jongo é a nossa entrevistada do mês. Pág. 4 Mulheres negras ainda lutam para superar limites gerados pelos estereótipos - páginas 6 e 7

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Jornal AFRO-LAGOS, Informação - Política - Transformação A Primeira Midia Étnica da Região dos Lagos - RJ

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5/9/2018 AFROLAGOS JULHO AGOSTO - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/afrolagos-julho-agosto 1/12_______________________________________________________________________________________________________________________  Jornal Afro-Lagos - Informação - Política - Transformação

ANO I - Nº 1 JULHO/A ANO I - Nº 1 JULHO/A ANO I - Nº 1 JULHO/A ANO I - Nº 1 JULHO/A ANO I - Nº 1 JULHO/A GOSTGOSTGOSTGOSTGOSTO DE 2011O DE 2011O DE 2011O DE 2011O DE 2011

Jornal Afro-Lagos - Ano I - Número 1 - Julho/Agosto de 2011 - Distribuição Gratuita

 Afro-Tamoios – Crescimentodesordenado (Pág. 4)

Meio Ambiente – A culturaafricana e meio ambiente (Pág. 5)

Educação – Que educação temos?Que educação queremos? (Pág. 5)

 X da Questão – Dia 04 desetembro, Parada LGBT em CaboFrio (Pág. 7)

Cabeça de Negro – O mapa dopoder na Região dos Lagos (Pág. 9)

 Aldeia Afro – A importância da Lei

10.639 (Pág. 9)

Juventude em Pauta –Precisamos deter o extermínio deJovens Negros! (Pág. 10)

Direito do Consumidor – DanoMoral: Dando o que cada ummerece (Pág. 10)

Brasil – Saúde da População Negra(Pág. 11)

 Aqui acontece – O primogênito(Pág. 12)

 Acesse nosso blogwww.afrolagos.blogspot.com

MÃOS QUE EMBALAM A NAÇÃO

VERA DO AGBARA

Criadora de um dos pri-meiros blocos afro doBrasil, Vera falece noRio de Janeiro e deixaum legado de grandesrealizações na área cul-tural.

Nos anos de 1980 o blocoafro Agbara Dudu marcouépoca nas ruas de Madu-

reira. Era ao mesmo tempo ponto de encon-tro, local de namoro e, principalmente degrande efervescência cultural, não só para oMovimento Negro, mas para todos que curti-am a cultura negra. Pag. 3

ENTREVISTAENTREVISTAENTREVISTAENTREVISTAENTREVISTA

Márcia Fonseca, professora

fundadora do GRIOUT e ativista

cultural. Marcia do Jongo é a nossa

entrevistada do mês. Pág. 4

Mulheres negras ainda lutam para superar limites geradospelos estereótipos - páginas 6 e 7

5/9/2018 AFROLAGOS JULHO AGOSTO - slidepdf.com

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  ANO I - Nº 1 JULHO/A   ANO I - Nº 1 JULHO/A   ANO I - Nº 1 JULHO/A   ANO I - Nº 1 JULHO/A   ANO I - Nº 1 JULHO/A GOSTGOSTGOSTGOSTGOSTO DE 2011O DE 2011O DE 2011O DE 2011O DE 2011

_______________________________________________________________________________________________________________________2 Jornal Afro-Lagos - Informação - Política - Transformação

E X P E D I E N T EJornalista Responsável: Rosana Batalha - MTb:19.298

Editor chefe: Marcos Chaves

Corpo Editorial: Marcos Chaves, Margareth Ferreira e

Rosana Batalha

Diagramação: Marcio Alexandre Gualberto

Departamento Comercial: Cleyde Araujo

Conselho Editorial: Fernando de Almeida Campos, GersonTheodoro (Togo), Hamilton Gomes da Silveira, MoysésMauro Ferreira da Silva, Paulo da Gama (Da Ghama),Roberta Cruz Santos, Rogério Carvalho Conceição, Rosáliade Oliveira Lemos, Sérgio Rodrigues Santos, Simone PagelsLoureiro e Sônia Maria Santos

Colunistas: Dalva Mansur, Ivanéia Gomes, Joseane Araújo,Luiz Felipe Ferreira Marinho, Luiz Felipe Oliveira e RodolphoCampbell

CNPJ: 07.413.165/0001-34

Telefone: (22) 9975-7900/7813-4402 ID:106*140139

E-mail: [email protected]

Blog: www.afrolagos.blogspot.com

Circulação: Cabo Frio, Araruama, Armação dos Búzios,

 Arraial do Cabo, Casimiro de Abreu, Macaé, Maricá,Iguaba

Grande, Rio das Ostras, São Pedro da Aldeia eSaquarema

Fotolito e Impressão: Tribuna dos Municípios

Tiragem: 3.000 exemplares

OBS: Os artigos assinados são de inteira e totalresponsabilidade de seus autores

Fazer o melhor que podemos não é o sufici-ente para nós.

Em geral percebemos isto ainda cedo e ten-tando encontrar um caminho cada vez maisfirme para este entendimento, vamos dei-xando mais evidenciado o sentimento deque nada será o bastante em momento

algum.Muito embora tenhamos como alento os en-sinamentos derivados das práticas religiosasque professamos, quer seja na matriz afri-cana, preservada por sua oralidade:

“O TEMPO DÁ, O TEMPO TIRA, OTEMPO PASSA E A FOLHA VIRA.”

Ou, naquela que aprendemos a conhecer

através do processo de colonização, dematriz ocidental cristã, escrita nos livrosbíblicos como em Eclesiastes 3:01:

“TUDO TEM O SEU TEMPODETERMINADO, E HÁ TEMPO PARA TODO

O PROPÓSITO DEBAIXO DO CÉU.”

Muitas vezes deixamos nos conduzir pelasensação de que ainda não nos firmamoscomo nação, por ceder aos impulsos esta-belecidos a partir daquilo que separa e quealimenta diariamente o ódio e as intole-râncias, não somente da sociedade exclu-dente de uma única cor, mas também pelaambição e sede de ocuparmos os poucos lu-

gares destinados a nós, mesmo em detri-mento das conquistas sociais mais perma-nentes que os novos discursos acadêmicos es-tabeleceram como políticas públicas.

Ouvir é uma das formas de assimilar, trans-mitir e reproduzir pensamentos e conheci-mentos, muito embora não valorizemos tantoquanto deveríamos aqueles que historica-mente vieram antes de todos os outros.

A verdade absoluta sobre o tempo é sua per-severante maneira de demonstrar a circula-ridade presente no âmago de todas as nossasações.

Então voltamos ao início de tudo, apresen-tando a força e a luta das mulheres negrasem nossa sociedade, cujo trabalho incansávelamamentou, criou e educou; limpou, cuidoue preservou; rezou, zelou e dignificou afilosofia, a cultura e as pessoas que delas seserviram. Precisaram, usaram, abusaram e a

seguir desqualificaram em um poderosoprocesso de violência, invisibilidade enegação de direitos.

Ainda que o tempo possa corrigir distorçõese injustiças, homenagens póstumas precisamser cada vez mais raras, porque as verdadei-ras homenagens devem ser feitas agora,porque são o verdadeiro PRESENTE.

Assim o JORNAL AFRO-LAGOS pretendecontribuir, trazendo sempre INFORMAÇÃO,POLÍTICA e TRANSFORMAÇÃO a pessoas quetradicionalmente não são o público alvo detodas as outras mídias: VOCÊ!

Equipe Afro-Lagos

JÁ ROLOU

No dia 09 de julho a Supir Estadual juntamente com a Associação deMulheres Negras da Rasa, realizou em Búzios, um encontro de Jovensonde foram levantadas propostas para a construção do I SeminárioJuventude Negra X Violência, que será realizada em Outubro.

Estudantes de Arraial do Cabo, liderados pelo Superintendente da Juventudeem Arraial do Cabo Ayron Freixo, participaram no perío do de 13 a 17 dejulho, do 52º Congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE) emGoiânia. O evento além de escolher o presidente para o biênio seguinte,foi um amplo fórum de debates e discussões políticas.

A Secretaria de Mulheres do PT Cabo Frio, realizou no dia 16 de julho nasede do partido um Encontro de Mulheres onde foi criado o foramSuprapartidário.

A AMB - Articulação de Mulheres Brasileiras – lançou no dia 25 de julho, diaem que foi comemorado o dia da mulher negra afro-caribenha, aCampanha Nacional pelo Fim da Violência contra as Mulheres com ofoco no racismo. A campanha vai até o dia 25 de julho de 2012.

No dia 25 de julho, a Superintendência de Promoção da Igualdade Racialde Cabo Frio, realizou no Plenário da Câmara de Vereadores da cidade,um Ato Solene em homenagem ao DIA INTERNACIONAL DA MULHER AFRO-LATINO-AMERICANA E CARIBENHA. Na ocasião, 10 mulheresnegras de Cabo Frio foram homenageadas.

No dia 11 de agosto o nosso jornal Afro-Lagos recebeu uma Moção deAplausos da Câmara dos Vereadores de Cabo Frio por indicação dovereador Dr. Taylor Jardim. Esse reconhecimento é de todos nós.

VAI ROLAR  Arraial do Cabo realizou no mês de julho, em vários locais da cidade, a

Pré-Conferência Municipal dos Direitos da Mulher. A Conferência iráacontecer no dia 18 de agosto.

Nos dia 19 e 20 de agosto a Associação de Pesquisadores(as) Negros(as) vairealizar em São Pedro da Aldeia, o I ENCONTRO DA ABPN NA BAIXADALITORÂNEA – HISTÓRIA, CULTURA NEGRA E POLÍTICAS PÚBLICAS.Abertura: dia 19/08 às 19h - Teatro Municipal Átila CostaAtividades: dia 20/08 das 8h às 17h – Centro Educacional Missão de SãoPedro.

Dia 30 de agosto vai acontecer no Teatro Municipal Inah de Azevedo Murebem Cabo Frio o Seminário CAMINHOS PARA UMA EDUCAÇÃODEMOCRÁTICA: Lei 10.639/03.

Horário: 9h às 18h No dia 26 de agosto acontece o 1º ABRAÇO SIMBÓLICO PELA DIGNIDADE

HUMANA COMEMORANDO O DIA DA VISIBILIDADE LÉSBICA. O atoacontecerá na Praça Porto Rocha em Cabo Frio. O início do eventoestá marcado para às 16:00h.

Dia 09 de setembro irá ser realizada a 1ª MARCHA EM DEFESA DA LIBERDADERELIGIOSA DA REGIÃO DOS LAGOS. Concentração na Praça Porto Rochaem Cabo Frio às 15:00h.

5/9/2018 AFROLAGOS JULHO AGOSTO - slidepdf.com

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ANO I - Nº 1 JULHO/A ANO I - Nº 1 JULHO/A ANO I - Nº 1 JULHO/A ANO I - Nº 1 JULHO/A ANO I - Nº 1 JULHO/A GOSTGOSTGOSTGOSTGOSTO DE 2011O DE 2011O DE 2011O DE 2011O DE 2011

O Rio de Janeiro perde sua “Força Negra” Fundado no bairro de Madureira, subúrbio do Riode Janeiro em 4 de abril de 1982, o Agbara Dudusignifica "Força negra" em yorubá.

Considerado o primeiro bloco afro do Rio de Ja-neiro, ainda que existissem três anteriormente:Afoxé Os Filhos de Gandhi do Rio de Janeiro (fun-dado por trabalhadores da zona do Cais do Por-to do Rio de Janeiro), Dudu Éwe, do Morro daMangueira, fundado em 1980 e o Afro Axé TerêBabá (fundado em 1981 no Largo das Neves, emSanta Tereza), todos com características deafoxé, isto é, saiam no carnaval cantando te-

mas de blocos baianos (Afreketê, Olori, Oju-Obá,Muzenza, Malê-Debalê, Badauê e Ijexá Filhos deGandhi) e músicas ligadas à religião africana,não mantendo trabalhos comunitários ou açõesque os fizessem perdurar fora do carnaval.

O Bloco Afro Agbara Dudu surgiu com a caracte-rística de mantenedor das tradições, mesmo forado período de carnaval, assim como alguns blo-

cos de Salvador o fazem, entre eles, Olodum,Ilê Aiyê e Araketu. Sua bandeira trazia as coresamarela, vermelha, preta e verde, as mesmascores da bandeira da unidade africana (sonhode reunir a diáspora africana em uma só nação).A primeira sede foi inicialmente na Portelinha(antiga sede do Grêmio Recreativo e Escola deSamba Portela). Os ensaios às sextas-feiras eramtransformados em verdadeiros encontros de cul-tura negra (comida, bebida, roupas, instrumen-

tos, ritmos, ogãs, dançarinas etc) denominado"Terreirão senzala".

Nesta primeira sede o grupo deu início aos "En-contros das Entidades Negras", no qual reuni-am-se agremiações, artistas e entidades ligadasàs artes e à política. Voltado para a comunida-de, o grupo passou a desenvolver cursos, ofici-nas de dança e capoeira, além de debates, en-contros e seminários sobre temas negros e afins.

Outros eventos importantes desenvolvidos pelogrupo são: "Festiafro" (festival de músicas para

a escolha da representante no desfile de cadaano) e "São João rastafari", em junho. Em 1983,foi organizado a "2ª Noite da Beleza Negra", no

Clube Renascença, evento homônimo baseado naexperiência do bloco padrinho Ilê Aiyê, culmi-nando na escolha da "Rainha negra". Por essaépoca, o grupo se apresentava em vários even-tos dentro e fora do Estado do Rio de Janeiro,destacando-se: "Natal Comunitário no Morro daSerrinha", em Madureira, na Favela da Galinha,em Inhaúma, apresentações nos presídios MiltonDias Moreira, Talavera, Bruce, e Associação dosEx-alunos da Funabem.

O primeiro desfile do bloco aconteceu na Aveni-da Rio Branco, com o tema "Amor e negritude",apresentando-se ao lado do afoxé Filhos deGandhi do Rio de Janeiro e do Afoxé Terê Babá.Nos anos posteriores o grupo apresentou váriostemas: "Cem anos de abolição", "O negro clamapor justiça" e "Yabás - mulher brasileira". Maistarde o grupo transferiu-se para a sede na RuaErnesto Lobão, 44, onde continuou o trabalhocom as comunidades do em torno. No ano de1988 o grupo participou da "Caminhada Zumbidos Palmares", considerada a maior manifesta-ção da comunidade negra contra a farsa da abo-lição. Em 1992, juntamente com três outros gru-po: Lemi Ayó (de São Cristóvão), Òrúnmilá (doMorro da Mineira, no Catumbi) e Dudu Éwe (doMorro da Mangueira) gravou a coletânea Terrei-ros e quilombos.

Neste LP foram incluídas quatro músicas de com-positores do Agbara Dudu: "Mulher negra Yabá"(Alcinéia F. Martins e Gabriel Lopes Neto), "Na-ção vertente" (Walmir Aragão e Alcinéia F.Martins), "Negritude consciência" e "Arerê",ambas de autoria de Júlio Mendes. Em 1996, emparceria e com o apoio da UERJ, o grupo mudou-se para a nova sede na Rua Carolina Machado,467, em Madureira, dando prosseguimento às suas

atividades de cursos, simpósios, etc. No ano de2002 o grupo desfilou na Avenida Rio Branco como tema Agbara-Dudu - 20 anos de resistência.

O falecimento de Vera Lúcia Mendes, mais conhecidacomo Vera do Agbara é, sem dúvida, uma das grandesperdas do Movimento Negro nos últimos anos. Consi-derada por todos uma das mulheres mais fortes damilitância contra o racismo, Vera do Agbara destacou-se por sempre manter firmes suas convicções e suacrença que, a melhor forma de combater o racismoera pela cultura e pela afirmação da identidade ne-

gra.

Fundou, em 1982 o Agbara Dudu e inaugurou a a sériede eventos “Noite da Beleza Negra”, onde sempre umhomem e uma mulher eram eleitos os rei e rainha dabeleza afro-brasileira.

Nos últimos anos, Vera tentava, com grande dificulda-de, retomar o Agbara Dudu, mas os tempos eram ou-tros. Aquele grupo que tantas gerações encantou doMovimento Negro carioca, ainda mantinha seu brilho,

mas as dificuldades inerentes à manutenção de umprojeto cultural se tornavam cada mais prementes edavam a Vera uma grande tristeza por não realizar seuintento.

Para nós, amigos e contemporâneos, restará a sauda-de e o exemplo desta que nunca deixou a peteca cair,que sempre acreditou em seus ideais, brigou por suaidéias e se tornou uma referência de mulheres e reali-zadora da cultura negra brasileira.

Por Marcio Alexandre M. Gualberto - CoordenadorGeral do Coletivo de Entidades Negras (CEN)

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  ANO I - Nº 1 JULHO/A   ANO I - Nº 1 JULHO/A   ANO I - Nº 1 JULHO/A   ANO I - Nº 1 JULHO/A   ANO I - Nº 1 JULHO/A GOSTGOSTGOSTGOSTGOSTO DE 2011O DE 2011O DE 2011O DE 2011O DE 2011

_______________________________________________________________________________________________________________________4 Jornal Afro-Lagos - Informação - Política - Transformação

Marcos Chaves, o Marcão, é

assessor parlamentar e ativistacultural.

Fernando Campos é analis-ta político e correspondentedo Jornal Afro-Lagos em

Tamoios.

De todos os ritmos oriundos e difundidos pelacomunidade afrodescendente, o Jongo é o quetrás características mais marcantes e identidade

indelével. A coluna aborda o tema dando foco auma personagem marcante de nossa região.Profissional da área de educação e expoentecultural, Márcia Fonseca foi rebatizada pela suamilitância e hoje o AfroSom tem a honra deentrevistar Márcia do Jongo.

AfroSom - Para Marcia Fonseca, o que é o Jongo?

Marcia Fonseca -É uma forma de culto aos meus, aos nossosantepassados.

AfroSom - Como o Jongo surgiu na sua vida?

Marcia Fonseca - Comecei desde pequena, por incrível quepareça... fiz balé clássico durante muito tempo, cursoprofissionalizante, e neste curso havia muitas disciplinas, umadelas era folclore nacional prático e teórico, outra como oAfro (contemporâneo e de orixá). Foi aí que eu entrei emcontato com a cultura brasileira, e me identifiquei com acultura afro. Conheci o jongo e outras danças e amei !!! Osanos passaram e eu fui para a faculdade de educação física(UFRRJ), tive contato com vários grupos de danças folclóricase de cultura popular nas minhas andanças acadêmicas... comosou carioca, nascida e “vivida” no Rio, tive a oportunidade de

conhecer o mestre Darci, comecei a escutar muita coisa desamba, onde o Jongo ou Caxambu é sempre lembrado. Foiquando eu conheci uma galera do Jongo da Serrinha/GrupoBrasil Mestiço e o Pau da Graúna... e com eles o Jongo, Lundu,Ciranda, Coco, etc.

AfroSom - Qual a importância do Jongo na sua história?

Marcia Fonseca - Foi o despertar para várias questões...questões inerentes ao UNIVERSO do Jongo. Fatores históricos,sociais, econômicos, políticos, e por que não dizer, espirituais,importantes para o meu crescimento pessoal e profissional.Uma fonte muito rica de conhecimento que proporciona muitasatisfação profissional, ensinando e difundindo-o na redepública de ensino de Cabo frio, e em Arraial do Cabo com oprojeto GRIOT. Entre as diversas manifestações tradicionais,

o Jongo é o que mais me sensibiliza, o que mais me faztranscender... Esses fatores mudaram meu rumo profissional,minha história...

AfroSom - Em nossa região, como vem sendo tratado o Jongo?

Marcia Fonseca - Poucas pessoas conhecem o Jongo... e na Regiãodos Lagos menos ainda... Falta TRADIÇÃO. Faltam grupos deJongo, faltam rodas de Jongo, faltam pesquisas em história donegro na região, suas tradições, costumes, manifestações, etc.

AfroSom - Existe algum fato marcante na sua relação com o Jongo,passado em nossa região que você queira registrar?

Marcia Fonseca - Quando os meus amigos Jongueiros vieram doRio e o Anderson, Lazir e Cátia do Jongo da Serrinha vieram parao “IITAMBORES DOS ANJOS” em junho de 2011, e em Arraial doCabo.

AfroSom - Que ações poderiam ser executadas na região para apreservação deste patrimônio cultural que é o Jongo?

Marcia Fonseca - Incentivar, promover, desenvolver, apoiaratividades ligadas ao Jongo nas redondezas, e é isso que é difícil.Falo por que as pessoas se deslocam pouco por aqui. Dizem queadoram o Jongo, mas não aparecem. Pessoas que conheçam oscantos, percussão, as danças... a TRADIÇÃO e a HISTÓRIA doJongo. O Jongo não se aprende de um dia pro outro, o Jongo émuito mais que dança, percussão, canto... É um compromisso derespeito aos nossos “mais velhos”, é um compromisso com asraízes africanas,... não vejo esse compromisso por aqui... e

compromisso não se aprende! Assim como não conheço pesquisasnessa área, relacionados à Região dos Lagos, principalmente CaboFrio e Arraial do Cabo. Existem indícios que em tempos passados,tinha Jongo nos quilombos, mas esses perderam a sua memória...Recuperar a memória e difundir, são ações essenciais!

AfroSom - Todo o preconceito contra as manifestações culturaisde origem africana também atingem o Jongo?

Marcia Fonseca - Sim, com certeza! Em muitos lugares a culturade raiz africana é condenada, não reconhecida pelos própriosnegros. Na maioria das vezes é chamado de “macumba”(pejorativamente). .. em muitos lugares da região existe a prática

de “ditadura religiosa” por parte de muitos “evangélicos”... Vivi-se uma verdadeira perseguição por tudo que não for “gospel”,uma espécie de caça às bruxas... rsrs. Sinto-me assim na minhaprática docente diariamente, mesmo com a lei 10639/2003, emrelação às disciplinas Capoeira e Danças populares brasileiras,que são condenadas por responsáveis de alunos junto com seuslíderes religiosos; e sempre pelos mesmos motivos: “Que nãopode fazer as aulas por que são da igreja”; “Porque a missionáriadisse que não era pra fazer”; “Porque o pastor disse pra nãofazer”, “Que não é de Deus as nossas danças populares”, etc.

AfroSom - Qual a mensagem de Márcia Fonseca para a ComunidadeAfro-Lagos?

Marcia Fonseca - Incentivar, promover, desenvolver, apoiaratividades ligadas à cultura popular brasileira, com ênfase naraiz africana, afro brasileiras como o Jongo, Coco, Maracatu,Samba, Samba de roda, Tambor de criola, enfim ações nasatividades de afirmação como mostra de filmes, concurso debeleza, um combate mais ostensivo à discriminação e preconceitoétnico racial, sua cultura sua história.

O distrito de Tamoios noperímetro compreendidoentre o km 128 (Florestinha)e a ponte sobre o rio SãoJoão (bairro Santo Antonio),cortado pela Avenida AmaralPeixoto, há muito deixou deser uma região eminente-mente rural, atualmenteconvivem harmoniosamente

o urbano e o rural, cadasegmento desenvolvendosua especificidade.

Nesse processo de transformação dois fatosmerecem destaque: um é o crescente aumento demoradias construídas ao longo da rodovia sem omenor planejamento urbano. Outro é que Tamoiosdeixou de ser reduto eminente veranista,consequentemente aumentando de forma consi-derável a população local. Um incipiente e diversi-

ficado comércio se instalou ao longo da rodovia ena periferia.

Mesmo com todo esse crescimento populacional apreocupação da população quanto ao meioambiente é pífia, e sua prioridade absoluta é aágua, esquecendo ou desconhecendo que o sanea-mento deve ser a prioridade das prioridades, poiso sumidouro utilizado pelas residências contaminao solo e consequentemente o lençol freático. Como

o aumento demográfico da região esta elevando acontaminação do lençol freático a níveis insuportá-veis ao organismo humano, indagamos:

Por que as autoridades municipais não despertarampara o crescimento desordenado da região?

Por que a prefeitura não implementa um choquede ordem em Tamoios?

Por que a população e o poder público municipal

não iniciam o debate visando um Plano deSaneamento Básico para Tamoios?

5/9/2018 AFROLAGOS JULHO AGOSTO - slidepdf.com

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ANO I - Nº 1 JULHO/A ANO I - Nº 1 JULHO/A ANO I - Nº 1 JULHO/A ANO I - Nº 1 JULHO/A ANO I - Nº 1 JULHO/A GOSTGOSTGOSTGOSTGOSTO DE 2011O DE 2011O DE 2011O DE 2011O DE 2011

Que educação temos? Queeducação queremos?

Atualmente presenciamos um momento muitooportuno no que diz respeito aos rumos daeducação em nosso país. De um lado os debatesaumentam sobre políticas educacionais a partir de

uma perspectiva emancipatória, participativa,subjetiva, onde a educação é efetivamenteconstituída como direito social. No entanto, dooutro lado, temos políticas que se consolidam nacontramão de uma educação pública de qualidade,já que nessas tendências não conseguimos enxergaruma atuação coletiva na construção do processoeducativo escolar, isto é, a lógica burocráticabaseada em critérios mercantis em detrimento doreconhecimento do professor como sujeitotransformador e da escola como instituição social

que forma cidadãos que possam lutar cada vez maispor uma sociedade justa e solidária.

Nesse contexto, devemos ampliar as discussões queenvolvam diretamente os fatores estruturais quecontribuem para que o Brasil continue adotandopolíticas educacionais desvinculadas da promoçãodo desenvolvimento pleno da cidadania eequivocadas no que diz respeito a realidade dasnossas escolas públicas. Com isso faço um paralelocom as profundas diferenças socioeconômicas que

consolidam a passos largos os padrões desiguais deformação escolar.

São inúmeras as contradições enfrentadas nasociedade, principalmente nas famílias menosfavorecidas economicamente, as diversasmanifestações de violência, desigualdade de gênero,discriminação, tensões nas relações de poder ereprodução de valores que refletem diretamentecomo a estrutura familiar no período atual estácercada de adversidades que podem ser encaradascomo produto de um sistema perverso e excludenteque naturaliza as principais questões que devem ser

debatidas. A educação, indiscutivelmente, é aprincipal dessas questões.

Nesse sentido, vale ressaltar que os atrasos napolítica educacional brasileira estão articulados aosmúltiplos determinantes que influenciam no processoeducacional, e o que vem sendo feito são medidaspaliativas essencialmente superficiais que nãoatendem as necessidades da população.

Precisamos discutir e aplicar políticas que realmentevalorizem a educação, construindo uma escola queproduza saber e garanta a liberdade, não o medopor não ter cumprido metas.

Enfim, se os trabalhadores em educação, famílias ealunos não se mobilizarem e deixarem de seengajarem na luta contra as políticas educacionaisconservadoras das desigualdades sociais,continuaremos vivenciando este completo descasocom a educação, que só vem gerando impactosdesastrosos em nossa sociedade.

Essa coluna visa ampliar discussões sobre aeducação, pois defendemos a construção de umaescola pública de qualidade Sabemos que é

possível!

Luiz Felipe Oliveira - é professor

de Geografia e pós-graduando em

Educação pela UFRJ

- Voce já pensou o que o equilibrio ambiental tem há haver com a

manutenção das matrizes africanas?

- Você brasileiro ou brasileira, afrodescendente ou não, nunca jogouflores no mar no dia 31 de dezembro para Yemanjá ?

- E aquele banho de sal grosso e flores para renovar energia e relaxar?

Santinhos, figurinhas, fitinhas, água benta, balas para as crianças.Alguns podem considerar que estou falando sobre pecados ecrendices. Entretanto na verdade, se olharmos para todos nós, comsinceridade e sem esconder de nós mesmos nossas raizes, veremosque alguns destes objetos e rituais já foram por nós usados com aintenção de dar força a um pedido ou na busca de uma solução paraum problema.

E onde entra a natureza? O ambiente onde está ele, será que nãovemos que ao usarmos alguns destes expedientes rituais tradicionaisbrasileiros estamos na verdade nos relacionando com forças danatureza, as mesmas forças que no dia a dia vivemos negando edegradando?

Vamos imaginar o homem na idade antiga (há 5 mil anos A.C.), antesdas descobertas científicas que temos hoje, e da concepção judaico-cristã que colocou o homem como centro do universo. Este homemnão sabia sobre a composição do fogo, não sabia como se formavamos ventos, nem que o sol era um planeta e a água é formada por H²O(duas moléculas de hidrogênio e uma de oxigênio). Também nãotinha ideia de que as rochas e a própria terra sobre a qual viviam,

são um aglomerado de minerais e resíduos orgânicos formados hábilhões de anos.

E como não sabia, mas por sua observação e necessidade desobrevivência, havia dominado o fogo, e aprendeu a ter medo dostrovões e raios durante as tempestades.

Percebeu que a terra quando umedecida pela água da chuva ficavamais verdejante, e que os rios enchiam e por isso deveria ficar longedas suas margens. Percebeu que o sol aquecia e dava vida as plantasnecessárias para sua alimentação. Percebeu que a água era a mãede todos os elementos porque sem ela não era possível viver. Nem ohomem, nem as plantas nem os animais viviam sem ela. E por issocomeçou a erguer suas cidades perto dos rios. Percebeu também

que as águas tinham muitas formas e que a maior delas era salgadae servia para pesca e para tranporte entre muitas terras.

Todas estas percepções fizeram surgir as primeias formas demanifestação religiosa, que eram sempre voltadas para a natureza.Havia agradecimentos pela colheita, pelas chuvas. Manifestações eoferendas antes de atravessar o mar, oferendas aos raios e trovões;para que estes não destuissem suas casas e florestas. Mas o quehavia mesmo era respeito à natureza. Era a certeza de que a naturezaservia a todos e deveria ser por isso reverenciada.

O homem sabia que era da água salgada que vinha a vida e atribuiua ela o povoamento da terra. E na verdade a ciência hoje nos mostraque a vida começou no mar e como me disseram que o tema eram as

mulheres negras, vamos pensar na senhora das águas do marYemanjá, senhora da vida e mãe dos primeiros homens. Vamoslembrar de Nanã, senhora das chuvas que regam a terra. E de Oxuma jovem sedutora como um rio que se torna em cachoeiras e a todosarrebatam.

Em relação ao ambiente lembramos: seja qual for a sua religião,olhe o mar com respeito pela sua força e pela vida que nele existe.Respeite os rios não permitindo que sejam poluídos, e plante árvorespara que as chuvas continuem a cair perto de você.

Dalva Mansur - é professora.

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Mãos que embalam a nação

Embora em uma luta exitosa dasmulheres para a conquista de seusdireitos que tem possibilitado suagradativa ampliação, aindaestamos longe de encontrarmos aigualdade que é apenas umcomponente no nosso aparato

legal. Enquanto isto, asdesigualdades vão se mantendo,demonstradas através daperpetuação da violênciaproduzida pela infração aosdireitos humanos das mulheres.

Mas, se a luta tem sido árdua paraas mulheres de todas as etnias,numa visão ampla, geral eabrangente, para as mulheresnegras as mudanças não têm sidotão perceptíveis, uma vez queainda são massacradas pelosestereótipos. A falta devisibilidade na mídia e os indicadores sociaisdemonstram de maneira inequívoca que seus direitoscontinuam sendo negados e por isto ganham menos nomercado de trabalho, são o maior número detrabalhadoras do mercado informal, no trabalhodoméstico e na base da pirâmide social. Encontram-se nos maiores índices de miserabilidade comprovandotudo o que vem sendo dito pelos Movimentos de

Mulheres Negras.

Os estudos sobre a situação das Mulheres Negras noBrasil demonstram que elas vivem entre dois principaisestereótipos: o da mulata gostosona, dona de um

desejo sexual exacerbado,  maissensual, afetiva e libidinosa,notadamente nos jogos sexuais,sem deixar de conter certo graude amoralidade e algumas vezes,de imoralidade também, capaz desempre bem servir seu homem; e

o da “Tia Anastácia”, serviçalcompetente, permanentementesubalternizada, de poucas letras,bondosa e mais preocupada com obem estar de seus patrões do quecom sua própria família, ou comela mesma. Estereótipo reforçadopermanentemente pela grandemídia que inclui todos os veículosde comuni-cação (tv, rádio, jornaise revistas, e a internet).

As mulheres negras quetranscendem esses estereótipos eprocuram mudar o rumo de suas

pró-prias histórias, de sua comunidade, família e gruposocial sofrem silenciosamente com a perseguição siste-mática a suas ações, sendo desqualifica-das e muitasvezes sentenciadas a uma solidão social, privadas deconvívio imprescindíveis onde possam desenvolverplenamente sua cidadania e vida profissional,esbarrando em piadas e brincadeiras, muitas vezesmaldosas, mas em geral decorrentes da habitualidade

em discriminar, mas sempre de conteúdo extremamentepreconceituoso e pautadas na visão dessas mulherescriadas, reproduzidas e perpetuadas pelo mesmosestereótipos por elas superados.

Entendendo o que é estereótipo

Estereótipo é a imagem preconcebida de determina-da pessoa, coisa ou situação. É usado principalmente paradefinir e limitar pessoas ou grupos de pessoas na sociedade.Nivela as pessoas de um grupo social ou étnico, atribuindo atodos os seres desse grupo uma característica,

frequentemente depreciativa, preconcebida e semfundamento. É um grande motivador do preconceito,discriminação e intolerâncias.

Então: Estereótipo é simplesmente o “rótulo” com quecostumamos classificar certos grupos de pessoas, e é muitomais comum do que possa parecer.

Os estereótipos são facilmente detectados no humor comomanifestações _de racismo, xenofobia, machismo e intolerânciareligiosa o que faz com que sejam aceitas e justificadas taisatitudes como salvo-conduto e presunção de inocência. (“Eunão sou racista, só estava brincando...”)

“A situação da mulher negra no Brasil de hoje manifesta um prolongamento da sua realidade vivida no período de escravidão com

poucas mudanças, pois ela continua em último lugar na escala social e é aquela que mais carrega as desvantagens do sistema injustoe racista do país.” (Profª Maria Nilza da Silva do Deptº Ciencias Sociais PUC/SP)

O que percebemos em conversas e grupos de trabalhonos Movimentos Sociais Negros e Instituições de

Mulheres, é a crescente necessidade da criação denovos paradigmas de relações sociais entre mulheres.Um mecanismo que permita um diálogo amplo e umentendimento de que todas as mulheres sofremdiscriminação e exclusão, principalmente dos espaçosde poder, mas as mulheres negras e indígenas sãosempre as mais oprimidas, excluídas e preteridas sobtodas as perspectivas.

No mercado de Trabalho o avanço da ocupação pormulheres, de cada vez mais postos, não tem con-

templado as mulheres negras. Mesmo com as cotas parao ensino superior, o número que atinge a graduação, éainda inferior ao de homens negros, que vem sendo

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Margareth Ferreira é

advogada, ativista política emilitante do Movimento Negro.

Porque as mulheres negras ainda se encontram

em volume tão grande no trabalho doméstico?

“Este fenômeno está, tal como mencionado

anteriormente, relacionado a uma herança

escravista da sociedade brasileira que combinou-

se com a construção de um cenário de

desigualdade no qual as mulheres negras tem

menor escolaridade e maior nível de pobreza e no

qual o trabalho doméstico desqualificado,

desregulado e de baixos salários constitui-se numa

das poucas opções de emprego.”

(Relatório do IPEA (www.ipea.gov.br) de 05 de

maio de 2011)

inferior ao de mulheres brancas, em proporçõesbastante elevadas. Então o trabalho domésticocontinua tendo uma relevante ocupação pelasmulheres negras, e correspondia em 2009 a 21,8% dospostos por elas ocupados contra 12,6% da ocupaçãodas trabalhadoras brancas, conforme mencionado no

relatório do IPEA (www.ipea.gov.br) de 05 de maio de2011.

Como sabemos o trabalho doméstico é uma relaçãopeculiar de labor, com direitos ainda inferiores aosdemais trabalhadores, significando ausência devínculo empregatício, ou seja “sem carteira assinada”e com muitos dos direitos já reconhecidos, preteridospor pessoas sem a menor compreensão do problemasocial que isto pode gerar. As inúmeras pessoas quetrabalham neste mercado sofrem a violência pelo não

reconhecimento de seus direitos, principalmente asMulheres Negras que ainda são o maior contingentedessas trabalhadoras.

Sim. As mulheres negras embalam o país. Mas,precisamos, o país precisa embalar as mulheres negrasque muitas vezes ainda tonam-se peças de descartedas famílias tradicionais de alguns municípios dointerior e até nas grandes cidades, como demonstroude maneira muito apropriada o filme brasileiro “APARTILHA”.

Precisamos nos apropriar das Políticas Públicas e dosinstrumentos de controle social, indo para osConselhos de Direito e contribuindo para as mudançasestruturais que precisam ser realizadas em nossosmunicípios.

Queremos Mudar o Rumo da Nossa História.

 Vereador afirma que não deixaráde impor suas convicçõesreligiosas

Em sessão no dia 14 de Julho o

presidente da Câmara deVereadores de Cabo Frio, SilasBento, em seu discurso deagradecimento aos outrosvereadores pela aprovação daemenda à lei orgânica, que lhegarante como presidente à criarprojetos de leis afirma: “Respeito a todos, mas nãovou deixar de impor minha religião, agora vou podertrabalhar mais pelo que acredito”.

O vice-presidente do Grupo Iguais César Valentin queestava presente no dia para receber uma Moção deAplausos, destacou em seu discurso que a constituiçãofederal garante um estado Laico, onde tem deprevalecer a liberdade religiosa, filosófica e política.

É bom que se tenha mais cuidado com certosdiscursos.

 Arraiá dos Iguais arrecada umatonelada de alimentos

Muita música, brincadeiras, alegria e, é claro,solidariedade. Foi assim o IV Arraiá dos Iguais queaconteceu, em Cabo Frio. A solidariedade ficou porconta das doações de 2 quilos de alimentos nãoperecíveis por pessoas na festa. Resultado: umatonelada de alimentos que foram doados ao LarEsperança – entidade que cuida dos portadores do

vírus HIV no município.

Na madrugada do dia 10 de julho um jovem gay foi surpreendidopor 3 jovens e agredido brutalmente no bairro Palmeiras em CaboFrio, num ato de covardia cometido por conta da orientação sexualdo ser humano. O caso foi registrado na 126ª DP e o Grupo Iguais

(ONG que luta em defesa dos homossexuais), foi a delegaciacobrar providências.

Jovem gay agredido em Cabo Frio emBairro Residencial

8º Encontro de Cultura LGBT deCabo Frio e a 7ª Parada do Orgulho

LGBTO Grupo Iguais está fazendo a convocação devoluntários da 7ª Parada do Orgulho LGBT, queacontecerá no mês de setembro, para fazer aprevenção no dia do Evento bem como ajudar naorganização do mesmo. Interessados mandar emailpara: [email protected].

“O clima desse ano é de extrema organização eempolgação para que possamos ter um evento bonitoe bem organizado onde os turistas possam ser bemrecebidos na nossa cidade”, afirmou a Diretora

Cultural do Grupo Iguais Glauce Bizzo.

Rodolpho Campbell, é presidente doGrupo Iguais, de Cabo Frio.

ANO Nº O/AANO Nº O/AANO I Nº 1 JULHO/AANO I Nº 1 JULHO/AANO I Nº JULHO/AGOSGOSGOSTGOSTGOSTOOO DE 2011O DE 2011O DE 20

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SOS BOMBEIROS - O lado oculto da crise

Militares do Corpo de Bombeiros do Rio deJaneiro no início do mês de junho organizarammanifestações onde reivindicavam,principalmente, aumento salarial. Asmanifestações tomaram grandes proporções eno seu ápice os manifestantes ocuparam o

Quartel Central da corporação. O GovernadorSergio Cabral autorizou uma ação do Bope paraa desocupação do Quartel Central e o episódioacarretou um enorme desgaste para o Governo,que via Comando Geral do Corpo de Bombeiros,debelou a manifestação impingindo a detençãode 439 militares, sendo 46 de quartéis da regiãodos lagos.

A enorme pressão popular e a mídia deram

ênfase, especificamente, ao fato da causa serjusta e honrada, e também a falta de habilidadedo Governador ao lidar com a crise. A causa éverdadeiramente justa, pois os bombeirosreivindicam isonomia salarial aos bombeiros deoutros estados, e honrada por se tratar detrabalhadores e chefes de famílias buscando oprovimento de seus lares.

Passado o momento de crise aguda, libertados e

anistiados os militares, e com o Governadorreconhecendo de público os equívocos em suacondução, se faz necessário pela importânciado assunto, uma abordagem profunda queremeta a reflexão todos os envolvidos: adesmilitarização do Corpo de Bombeiros e daPolícia Militar.

A atual Constituição Brasileira (AssembléiaConstituinte de 1988) herdou, no que tange ao

tema Corpo de Bombeiros e Policia Militar, otexto ditatorial e beligerante da Constituição

de 1967 agravado pela 1ª Emenda de 1969 (Leide Segurança Nacional) onde se institui as ForçasAuxiliares que se revelaram um forte braço nocombate as ações guerrilheiras e comunistas.

Os tempos são outros, o fantasma do comunismoinexiste, e tão pouco a guerrilha armada. Entãofaz-se necessário a discussão pela sociedade civilorganizada e pelo Estado em seus três Poderes(Executivo, Legislativo e Judiciário) da unificação

das Polícias e a desmilitarização do Corpo deBombeiros.

Os nossos heróis não dependem apenas devocação para desempenhar seu papel nasociedade, é preciso devoção para promoversalvamentos e segurança, em detrimento daprópria segurança e integridade. O amor pelafarda e o orgulho da patente, característicos detodo militar, devem ser reavaliados pelo

contingente para que suas reivindicações nãosejam relegadas à insubordinação e suas grevesa motins.

Respeito é bom e nós

exigimos!

Por Rosana Batalha

Continuamos vivendo momentos muito difíceis,onde o preconceito, a discriminação,intolerâncias, violências e uma série deexclusões ainda fazem parte do nosso dia-a-dia.

Fora as discriminações que a todo tempoouvimos falar na mídia, existem àquelas quepor muitos passam despercebidos, mas que naverdade estão a todo tempo criando traumas emuitas vezes fazendo com que as pessoas secalem ou se fechem no seu mundo desofrimentos.

Imaginem que além de ser negro e/ouhomossexual e/ou de religião afro e/ou pobree/ou mulher e/ou nordestino, o indivíduo forgordo, ou muito alto, ou baixo demais ouportador de deficiência.

A sociedade muitas vezes é cruel! Não devemosesquecer que somos nós essa sociedade quea todo tempo discrimina com “brincadeiras” semgraça alguma, e que massacra o ser humano.O mesmo ser humano que paga suas contas eque como qualquer outro, merece o nossorespeito.

Quando falamos em respeito e solidariedade, ébom termos em mente, que na dimensãohumana, somos todos(as) iguais e que essa fala

  já tão batida através das religiões e pela lei,torna-se difícil na hora de se colocar em prática.É preciso transformar algo que a princípio serialógico, mas que infelizmente não é, quando notocante ao trato diário de quem quer que seja.

Devemos reconhecer a nossa igualdadehumana, e isso com certeza irá exigir de nós, omínimo de humildade; para que possamosrespeitar e valorizar as diferenças, percebendoque a mais discriminada ou excluída daspessoas, é igual a nós perante Deus ou perantea simples existência.

Por Marcos Chaves

Historicamente no Brasil os afro-descendentesprocuram nas carreiras militares salários dignos eestabilidade profissional.

Atualmente somos: 62% do Exercito;53% da Marinha;41% da Aeronáutica;

64% da PMERJ54% do CBMRJ.

Fonte: IBGE Censo 2000

A constituição brasileira de 1988 reza, em seu Art. 144,parágrafos 5° e 6° “(...) aos corpos de bombeirosmilitares, além das atribuições definidas em lei, incumbea execução de atividades de defesa civil. As políciasmilitares e corpos de bombeiros militares, forçasauxiliares e reserva do Exército, subordinam-se,

juntamente com as polícias civis, aos Governadores dosEstados, do Distrito Federal e dos Territórios.”

O art. 22 inciso XXI, declara que cabe privativamente àUnião legislar sobre “normas gerais de organização,efetivos, material bélico, garantias, convocação emobilização das polícias militares e corpos de bombeirosmilitares”.

De acordo com o art. 42 da constituição, “São servidoresmilitares federais os integrantes das Forças Armadas eservidores militares dos Estados, Territórios e Distrito

Federal os integrantes de suas polícias militares e de seuscorpos de bombeiros militares.”

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Professor Sérgio R. Santos éespecialista em História e Cultura

 Afro-brasileira e correspondente emSão Pedro da Aldeia.

O Mapa do PoderA Região dos Lagos, politicamente tece uma intricada rede depoder, porém o último pleito contemplou apenas três partidos:PMDB, PSDB e PDT.

PMDB: Araruama, Arraial do Cabo, Macaé, São Pedro da Aldeia,Saquarema, Rio das Ostras.

PSDB: Cabo Frio, Iguaba Grande.

PDT: Búzios.

Há de se convir no que diz respeito à política no interior doEstado, que as engrenagens funcionam de forma peculiar:

As duas cidades governadas pelo PSDB (Cabo Frio e Iguaba),ciceroneadas pelo Dep. Estadual Paulo Melo, possuem bomtrânsito com o Governo do Estado;

Em Búzios o PDT com o Prefeito Mirinho Braga, também goza demuito prestígio com o Governador Sergio Cabral (PMDB).

O fato é que a Região dos Lagos, atualmente tem um bomrelacionamento com Cabral e com o “advento dos royalties”são fortes as possibilidades de maior desenvolvimento da região.

O JEITO PETISTA DE SER ...

Os nossos atentos leitores devem estar se indagando: e o PT doLula e da Presidenta Dilma, qual é a sua participação no quadropolítico de nossa região?

Tenha certeza, Comunidade AFRO-LAGOS: o PT foi agentepreponderante na supremacia política do PMDB na região. Tudoisso sob muitas discussões, debates e articulações, é claro!

CAÇA ÀS BRUXAS

Em tempos de formação de nominatas, visando as Eleições 2012,surgiu em Cabo Frio um movimento que esta dando o que falar:“Não Reeleja Vereadores”.

É que com o possível aumento do número de cadeiras nasCâmaras, todo pré-candidato não quer saber de Vereador eleitoem sua nominata.

ANTÍDOTO

E é justamente de Cabo Frio que alguns Vereadores manifestaramintenções de não aumentarem, consideravelmente, o númerode cadeiras da Câmara. Votariam pela manutenção do númeroatual ou o aumento de uma cadeira simplesmente.

Resultado: o coeficiente eleitoral permaneceria alto (algo emtorno de oito mil votos) e todos voltariam a valorizar os votosconsolidados de quem já tem mandato.

DEP. PAULO MELO

Tendo o Deputado Estadual (PDT) Janio Mendes anunciado suaintenção de disputar o cargo de Prefeito de Cabo Frio, o Presidenteda ALERJ, Deputado Estadual (PMDB) Paulo Melo tem pela frenteum grande desafio: apoiar e eleger o maior número de Prefeitose Vereadores possíveis na região.

Consolidaria assim, definitivamente, sua liderança política naregião.

Foi dada a largada.

Senhores façam suas apostas.

Chame o capitão!!

Recentemente, o sistema educacional recebeu aresponsabilidade de promover a valorização dacontribuição africana quando, por meio da alteraçãoda Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional(LDB) e com a aprovação da Lei 10.639 de 2003,tornou-se obrigatório o ensino da historia e da culturaafricana e afro-brasileira no currículo da educação

básica.

Em alguns momentos acho que nós dos movimentossociais negros, não temos a noção exata daimportância da Lei, que “obriga” a adequação dasinstituições de ensino no Brasil, a essa nova realidade.A aplicação da Lei não é respeitada pela esmagadoramaioria das instituições em todo país, em nossaregião não é diferente.

Chegou o momento de unir nossas forças,

independente da linha ideológica ou a que instituiçãodefenda. Vale ressaltar aqui, que por conta dedivergências ideológicas, acabamos não contribuindopara a mudança de comportamento das próximasgerações, isso faz com que governantes e donos deescolas particulares, continuem a não nos enxergar.O resgate de nossa cultura, a conscientização denossa “negritude”, dependem inicialmente de açõescomo as que são proposta na Lei 10.639. Onde estãoos defensores dos Negros? Porque não estamosinquirindo os governos e as instituições?

O reconhecimento da pratica do racismo como crimeé uma das expressões da decisão da sociedadebrasileira de superar a herança persistente daescravidão. Essa Lei é um marco histórico para aeducação e a sociedade brasileira por criar, viacurrículo escolar, um espaço de diálogo e deaprendizagem visando estimular o conhecimentosobre a historia e cultura da África e dos africanos, ahistoria e cultura dos negros no Brasil e ascontribuições na formação da sociedade brasileira nas

suas diferentes áreas: social, econômica e política.Colabora, nessa direção, para dar acesso a negros enão negros a novas possibilidades educacionaispautadas nas diferenças socioculturais presentes na

formação do país.

Marcos Chaves, o Marcão, éassessor parlamentar e ativistacultural.

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Dano Moral: Dando o que cada um merece

Em um caso concreto: qualquer pessoa podebuscar receber pelo Dano Moral sofrido. Aconstituição prevê isto. Está lá nos DireitosIndividuais, no famoso artigo 5º. Além disto,temos o Código de Defesa do Consumidor onde

são estabelecidas regras da relação entre quemcompra produtos ou usa um serviço(consumidor) e quem vende produtos ou forneceum serviço (fornecedor).

Em um caso imaginário: Dona Maria pretendereclamar seus direitos perante um JuizadoEspecial Cível, conhecido popularmente comoJuizado de Pequenas Causas contra dano sofridona relação com uma grande prestadora deserviços de telefonia.

Imaginemos Dona Maria como uma mulher negra,cumpridora de seus deveres, doméstica, chefede família, empreendedora individual quefornece salgadinhos para festas e depende doseu telefone celular para seus contatosprofissionais e pessoais, cuja má sorte foiadquirir um plano pós-pago de uma operadora,mas que só conseguia realizar chamadas com aintermitência de 20 dias. Ou seja, o aparelhode celular que portava um plano pré-pago,estava morto.

Dona Maria possui como bens maiores em vida oseu bom nome e a força de trabalho para venderseus salgadinhos e conseguir melhorar sua renda.O telefone em sua vida é muito mais do que navida de inúmeras pessoas de profissões maisvalorizadas, de níveis intelectuais melhores ede posições sociais mais elevadas.

Então o Dano Moral de Dona Maria, visto pelaslentes tradicionalistas pode ser e geralmentevem sendo, avaliado como de menor valor.Qualquer coisa paga o constrangimento, ahumilhação, o sofrimento e a dor de uma pessoacomum, muitas vezes até chamado de“aborrecimento normal da vida cotidiana”.

O caso imaginário de Dona Maria, bem poderia

ser um dos inúmeros casos concretos de pessoascomuns que têm buscado o apoio do judiciário

para verem seus direitos respeitados e seremdevidamente indenizadas, batendo a porta do

judiciário quando submetidos à dor, o vexame,sofrimento e profundo constrangimento, violaçãoda sua intimidade, honra, imagem e outrosdireitos de personalidade.

Entretanto, a reação dos julgadores a avalanchede processos decorrentes de pleitos legítimos deDano Moral, foi querer combatê-los, desestimulá-los e a melhor fórmula encontrada foi reduzir apó a já tão frágil angústia de pessoas comuns

que tinham ali, no Judiciário sua últimaesperança de ver a justiça ser efetivada.

Sabemos que a parte mais sensível do ser humanoé o bolso. E creiam, das empresas também. Sendoassim, estamos diante de um judiciário que semantém insensível diante do óbivo, e enquantocontinua indenizando em altíssimas cifras osformadores de opinião, donos de nomesconceituados e contas bancárias já abastadas,

mantendo, assim, a fama de fazer justiça rápida,deixa, sem culpa alguma, a beira do caminho,pessoas cujo papel social exercido comsimplicidade, grande massa consumidora,mereciam uma análise melhor do significado dodano sofrido em sua vida cotidiana.

Simone Pagels é advogada e

ativistas política

O Futuro das nossas crianças e adolescentes é a preocupaçãoconstante entre os pais e mães que frequentam as salas de Conselhos

Tutelares e ambientes onde eles são o motivo de existirem.

Embora a demanda pela atuação destes Conselhos venha de todasas classes sociais, é da periferia e das comunidades com menoresindicadores de acessos a bens e serviços públicos e privados queemergem o maior número de casos.

Como conseqüência, temos nos afro-descendentes a maioria de nossopúblico. E é desta população formada por homens e mulheres negrasde variadas tonalidades de pele que ouvimos com frequência queas políticas voltadas para crianças e adolescentes não nos reconhece,identifica ou protege com igualdade.

Isto porque as políticas públicas ainda trabalham com a perspectiva

generalista, sem priorizar aqueles que dentre todos os demais seencontram no alto dos indicadores de mortalidade, risco social efalta de assistência e acesso em todos os âmbitos.Mesmo agora, após a instituição de cotas para indígenas e negrosem concursos públicos no estado do Rio, não percebemos o públicoassistido pelos Conselhos Tutelares como aquele que será realmentebeneficiado.

As crianças e adolescentes das nossas periferias são aquelas queem sua maioria nem sequer chegarão a idade adulta, circularãomuitas vezes pelo sistema judiciário e desistirão dos estudos antesdo 6º ano.

Então ainda está longe o dia em que nós, povo negro, estaremos

representados nas salas de audiências, também na maior cadeirada sala.

A Justiça para nós é muito diferente. A violência urbana nos colocacomo a maioria na população carcerária e também na maioria dasmortes por homicídio, conforme noticiado pelo “Estadão on line”em 24 de fevereiro de 2011: “A partir de 2002 fica evidente um forte crescimento na vitimização da população negra. Se em 2002morriam proporcionalmente 46% mais negros que brancos, esse percentual eleva-se para 67% em 2005 e mais ainda, para 103% em2008. Assim, morrem proporcionalmente mais do dobro de negrosdo que brancos”.

A ausência de Políticas Públicas para mudança desses indicadores é

a principal arma que vem exterminando nossos jovens e tem umalcance bem mais longo do que qualquer projétil de arma de fogofazendo-o de maneira mais poderosa do que as muitas pistolas efuzis carregados que sabemos existir em todas as periferias.

Este é um espaço de luta por iniciativas públicas e privadas, querealmente incluam nossas crianças e nossos jovens e nós queremosressaltar: PRECISAMOS DETER O EXTERMÍNIO DE JOVENS NEGROS!

São necessários esforços redobrados pelas autoridades das áreasde educação, saúde e principalmente esporte e lazer, muito emborareconheçamos que algumas melhorias já podem ser observadas,mas infelizmente não podemos nos dar o luxo de sentarmos sobreos êxitos e nos acomodarmos, pois a caminhada é longa e o caminho

é estreito e perigoso.

Quero então, abrir um debate com nossa COMUNIDADE AFRO-LAGOS: Onde é o futuro? Como será nosso futuro? Ele já estáacontecendo ou ainda está por vir? E você pode ajudar a construiro futuro? Tem feito algo para melhorar o futuro das nossas criançase adolescentes?Pense, reflita e comente, sua opinião será discutida aqui.

Luiz Felipe Marinho é Pro-fessor de Geografia e Conse-

lheiro Tutelar do 1ª Distrito doMunicípio de Cabo Frio.

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ANO I N 1 JULHO/A ANO I N 1 JULHO/A ANO I N 1 JULHO/A ANO I N 1 JULHO/A ANO I N 1 JULHO/A GOSTGOSTGOSTGOSTGOSTO DE 2011O DE 2011O DE 2011O DE 2011O DE 2011

Rosana Batalha é jornalista

e editora do Programa Infor-me Local na Jovem TV.

SEPPIR atualiza dados

sobre implementação da

Política de Saúde daPopulação Negra nos

municípios

Informações foram coletadas no 27º CongressoNacional de Secretarias Municipais de Saúde –Conasems, que aconteceu no mês de julho, emBrasília

Técnicos do Ministério de Políticas de Promoção daIgualdade Racial (SEPPIR) estão realizando umapesquisa sobre a implementação da PolíticaNacional de Saúde Integral da População Negra(PNSIPN) nos municípios brasileiros. A coleta deinformações aconteceu no 27º Congresso Nacionalde Secretarias Municipais de Saúde (Conasems). Osdados servirão para atualizar e ampliar estudorealizado na edição do evento em 2010, emGramado, Rio Grande do Sul.

Segundo a gerente de Projetos da Secretaria deAções Afirmativas da SEPPIR, Mônica Oliveira, osresultados da pesquisa vão subsidiar o diálogoinstitucional com o Conasems. A idéia éintensificar o entendimento entre os dois órgãos,visando à adoção de iniciativas conjuntas pelagarantia dos direitos da população negra à saúde.

Saúde da População Negra

Em 13 de maio de 2009, através da Portaria nº992, o Ministério da Saúde instituiu a PolíticaNacional de Saúde Integral da População Negra. Entre as diretrizes da Portaria estão a onclusãodos temas Racismo e Saúde da População Negra nos processos de formação e educaçãopermanente dos trabalhadores da saúde e no exercício do controle social da saúde; e oreconhecimento dos saberes e práticas populares de saúde, incluindo aqueles preservados pelareligiões de matrizes africanas.

A avançada legislação do Sistema Único de Saúde (SUS) ainda não garante o atendimento dascaracterísticas específicas da população negra, e nem a mesma qualidade na atenção de saúdeoferecida aos demais segmentos da população. Por este motivo a Política Nacional de SaúdeIntegral da População Negra direciona, em todos os níveis e instãncias do SUS, um esforço parasuperar os fatores que determiam as expressões de maior vulnerabilidade da população negracomo, por exemplo, a anemia falciforme

Fonte: Coordenação de Comunicação SEPPIR

SEPPIR institui Grupo de Trabalho para efetivar Estatuto daIgualdade Racial

A ministra da Secretaria de Políticas de Promoção daIgualdade Racial, Luiza Bairros, instituiu o Grupo de TrabalhoEstatuto da Igualdade Racial, através da Portaria 79,publicada no Diário Oficial da União do dia 11/07. O objetivoé assegurar a efetividade da Lei 12.288/2010, que cria oEstatuto, a partir da consolidação e ampliação das políticasgovernamentais destinadas à promoção da igualdade racial.

Competirá ao Grupo de Trabalho, num período de 120 dias,avaliar as normas do Estatuto da Igualdade Racial e propor asmedidas necessárias à sua efetividade; identificar as açõesque demandam regulamentação e apresentar proposta em

parceria com as áreas temáticas responsáveis; identificar asações prioritárias; e propor ações de articulação institucionale interministerial para implementação do Estatuto.

Fonte: Coordenação de Comunicação SEPPIR

Sete em cada dez brasileiros consideram que a cor ou raçainfluencia o ambiente de trabalho

Mais da metade da população brasileira (63,7%) reconheceque a cor ou a raça exerce efeitos diferentes nas relaçõescotidianas. A constatação é de pesquisa divulgada neste mês

de julho pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística(IBGE).

Comemorações marcamaniversário de Mandela

Mais de 12 milhões decrianças sul-africanas canta-ram de maneira simultânea,“Feliz Aniversário, TataMadiba”, a partir de suasescolas ao ex-presidenteNelson Mandela em 18 dejulho, no dia em que oprimeiro governante negro daÁfrica do Sul e prêmio Nobelda Paz completou 93 anos.

Na ocaião a ONU pediu quecidadãos de todo mundodedicassem 67 minutos de seu tempo a algum serviço para suacomunidade - um minuto por cada ano que o líder sul-africanoNelson Mandela serviu à humanidade. A solicitação da ONU, fazparte de uma campanha da Fundação Mandela para reconeceras contribuições do líder como defensor dos direitos humanos.Mandela foi o presidente que acabou com o apartheid, o sistemade segregação racial que imperou na África do Sul até 1994.

De acordo com o estudo, o ambiente de trabalho, citado por71% dos entrevistados, é o item que mais sofre influência dacor e da raça. Em seguida, aparecem as relações com a polícia/Justiça (68,3%) e no convívio social (65%). O levantamento foifeito em 15 mil domicílios de cinco estados e no DistritoFederal.

A Pesquisa das Características Etnorraciais da População: umEstudo das Categorias de Classificação de Cor ou Raça foi feitano Amazonas, na Paraíba, em São Paulo, no Rio Grande do Sul,em Mato Grosso e no Distrito Federal. Do total dosentrevistados, 96% souberam se autoclassificar.

Fonte: IBGE

Homenagem ao Almirante Negro

O Rio de Janeiro vai abrigar um museu em homenagem àJoão Cândido Felisberto, o Almirante Negro que lutou pelo fimdos castigos corporais no início do século XX e pela melhoriadas condições de trabalho na Marinha. O museu será instaladona cidade fluminense de São João do Meriti, onde ele viveuseus últimos anos. Será o primeiro museu dedicado a este que

é um dos maiores heróis da história brasileira. O acervo serádoado pela família do marinheiro, pela fundação Palmares epela Marinha do Brasil. O início das obras estão previstas paraeste mês de agosto.

Mapa da Intolerânica

O Mapa da Intolerância Religiosa – Violação ao Direito de Culto no Brasil,já está no ar. O objetivo do mapa é criar um canal permanente derecebimento de denúncias de casos de violação do direito de culto e, aomesmo tempo, provocar o poder público a fazer valer as políticas públicasvoltadas para a defesa da liberdade religiosa em nosso país. Visite o site:www.mapadaintolerancia.com.br

ANO I - Nº 1 JULHO/AANO I - Nº 1 JULHO/A  ANO I - Nº 1 JULHO/A   ANO I - Nº 1 JULHO/A ANO I - Nº 1 JULHO/AGOSTGOSTGOSTGOSTGOSTO DE 2011O DE 2011O DE 2011O DE 2011O DE 2011

5/9/2018 AFROLAGOS JULHO AGOSTO - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/afrolagos-julho-agosto 12/12

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_______________________________________________________________________________________________________________________12 Jornal Afro-Lagos - Informação - Política - Transformação

Josi Araujo é graduanda em publicida-de e marketing.

O primogênito

Este mês terei que dar uma atenção especial ao lançamento do nosso jornal, a primeira mídia étnica da Região dos Lagos. E comointegrante desse grupo, não posso deixar de mimar e fazer festa - como toda mãe faz com seu primeiro filho, no seu nascimento.

O lançamento aconteceu no dia 29 de junho no Teatro Municipal de Cabo Frio, reunindo povos e aproximando personalidades. Comoesperávamos, foi mesmo surpreendente, um sucesso!

Iniciou-se o evento com a apresentação da Família Lopes tocando o Hino Nacional, emocionando e arrancando aplausos da platéia.

Não podemos esquecer da nossa cerimonialista, Luanda Marinho, que estava linda como sempre e fez a diferença.

Se a abertura conseguiu emocionar o público, não poderíamos esperar que fosse diferente no momento das homenagens. KadúMonteiro, Ator, Diretor, Cantor, homem de muitos dons nos emocionou com sua apresentação encenando um pouquinho do cotidianode um jornalista que tenta mostrar que consegue ser bom no que faz, mesmo utilizando recursos considerados “antigos” no mundotecnológico e fugaz que vivemos hoje. “Respeite quem pôde chegar onde a gente chegou”, foi com esse trecho da música “MolequeAtrevido” de Jorge Aragão que o ator expressou com exatidão todo o nosso respeito e admiração aos jornalistas negros da nossaregião.

E para fechar com chave de ouro, o cantor Da Ghama nos prestigiou lindamente com suas músicas onde recebeu como convidados,as belíssimas cantoras Simone Costa e Mari Trintade, e a fantástica percussão do GrupoTambores Urbanos.

Esse sonho não seria possível se alguém não tivesse sonhado, e foi sonhando que eles, os idealizadores tiraram do papel e colocaram

em prática. Deram vida ao Afro-Lagos. Daqui pra frente, como já diz a música, tudo vai ser diferente.

25 de Julho dia da

Mulher Afro-Latino- 

Americana e Afro- 

Caribenha 

A todas as mulheres parabéns!Parabéns pelas batalhas vencidascontra o descaso, a invisibilidade eo desrespeito a nós mulheres afro-

latino-americanas e caribenhas.

Seminário da

Juventude NegraBúzios

Marcamos presença em Búzios no dia 09

de Julho quando aconteceu evento

mobilizador para o Seminário da Juventude

Negra que acontecerá em outubro no Rio de

 janeiro.