agricultura no brasil do século xxi
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Agricultura no Brasil do Século XXI oferece ao leitor a visão ampla e atualizada de um segmento que não se limita mais a produzir alimentos para a população brasileira e a exportar commodities in natura. Fornece energia para si e para outras áreas da economia, produz fibras para uso artesanal e industrial em escala crescente, além de produtos especiais de alto valor internacional. Este livro combina de forma bem orquestrada dois olhares que se completam: um, analítico-sistêmico, de Miranda, e outro, um retrato visual garimpado na Pulsar Imagens, de Delfim Martins, complementado por imagens de satélite state of art do mundo agrícola brasileiro.TRANSCRIPT
M E T A L I V R O SSão Paulo, 2013
AGRICULTURA NO BRASIL
DO SÉCULO XXI
Pesquisa e Texto
Evaristo Eduardo de Miranda
Fotografia
Pulsar Imagens
Apresentação
Roberto Rodrigues
CRÉDITOS EDITORIAIS
© 2013 Metavídeo SP Produção
e Comunicação Ltda. (Metalivros)
Todos os direitos adquiridos
Direção Editorial e Gráfi ca
Ronaldo Graça Couto
Pesquisa e Texto
Evaristo Eduardo de Miranda
Fotografi a
Pulsar Imagens
Gerência Editorial e Gráfi ca
Bianka Tomie Ortega
Direção de Arte
Dora Levy | Cj.31
Diagramação
João Heleno | Cj.31
Revisão de Texto
Across The Universe Communications
Secretaria Administrativa
Roberta Vieira
Distribuição e Vendas
Celina Marques
Escaneamento, Provas e Arquivos Digitais
Bureau São Paulo, São Paulo
Impressão e Acabamento
Ipsis Gráfi ca, São Paulo
Patrocínio
APRESENTAÇÃO, 15
A DIVERSIDADE AGRÍCOLA NO
BRASIL DO TERCEIRO MILÊNIO, 19
NOTA DO AUTOR, 23
AGRICULTURAS DO BRASIL, 29
Pequenos Agricultores e Grandes Produtores, 30
Dinamismo da Agricultura, 36
Biodiversidade e Produção Agrícola, 40
Concentração da Produção, 42
Renda e Tecnologia, 47
Sustentabilidade e Inovação, 51
Preservação Florestal, 53
Potência Agrícola e Ambiental, 58
ALIMENTOS, 63
Grãos, 63
Açúcar, 92
Tubérculos, 98
Hortaliças, 108
Frutas, 120
Laranjas e Cítrus, 136
Castanhas, Amêndoas, Amendoim e Nozes, 140
Palmeiras, Palmitos, Frutos e Óleos, 146
Carnes, Leite, Ovos e Mel, 153
Aquicultura, 180
AGROENERGIA, 184
Cana-de-Açúcar, 185
Biodiesel, 197
Florestas Energéticas, 203
Resíduos Agrícolas, 209
Na Agricultura, A Energia do Século XXI, 213
FIBRAS, 214
Fibra de Celulose Florestal, 216
Algodão, 217
Palmeiras, 219
Sisal, 224
Juta e Malva, 226
Vime, 227
Rami, 228
Capim-Dourado, 229
Lã, 231
Seda, 231
A Fibra da Agricultura, 232
PRODUTOS ESPECIAIS E DIFERENCIADOS, 235
Plantas Medicinais,
Condimentares e Aromáticas, 236
Flores, 242
Uvas e Vinhos de Qualidade, 247
Cachaça, 250
Madeiras, 254
Tabaco, 258
Borracha, 260
Produtos Orgânicos, 262
Produtos Não Transgênicos, 265
Essas Plantas Estimulantes, 266
LISTA DAS ESPÉCIES VEGETAIS
CULTIVADAS OU EXPLORADAS CITADAS, 278
REFERÊNCIAS, 284
AGRADECIMENTOS, 292
BIOGRAFIA DO AUTOR, 295
CRÉDITOS FOTOGRÁFICOS, 295
SUMÁRIO
15
HÁ MUITO TEMPO SE DIZ: FALTA UMA ESTRATÉGIA para transformar defi nitivamente o campo bra-
sileiro na potência produtiva que o mundo espera. As políticas públicas favoráveis à agropecuária
acontecem em capítulos isolados, aos suspiros, nem sempre articuladas entre si. E, muitas vezes, as
medidas governamentais são inibidoras do desenvolvimento rural harmonioso.
Por outro lado, também se diz recorrentemente que a ausência de um projeto consistente para o setor
se deve ao desconhecimento da maioria da população brasileira – hoje urbana – da enorme contribuição
oferecida pela agropecuária e pelo agronegócio ao país.
E sobram argumentos para isso. Por exemplo, os números da produção de grãos, um notável es-
forço integrado entre pesquisadores, extensionistas e produtores rurais, admirado no mundo todo.
Nos últimos vinte anos, a área plantada com grãos cresceu 37% no Brasil, enquanto a produção
aumentou 173%. Por trás desses números está a grande mágica: se tivéssemos hoje a mesma pro-
dutividade por hectare de há vinte anos, seriam necessários mais 53 milhões de hectares, além dos
51 milhões hoje cultivados, para colher as safras atuais. Em outras palavras, foram preservados
53 milhões de hectares. É um fato concreto, não é promessa ou compromisso: está feito. E isso se
chama sustentabilidade, tema tratado todos os dias em eventos em todos os lugares do mundo.
Sustentável também é nossa produção de carne bovina – em geral a pasto – ou de outras carnes (suína,
de frangos) obtidas a partir daqueles mesmos grãos já referidos.
E sustentável é nossa agroenergia, com o etanol (que libera apenas 11% do CO2 emitido pela gasoli-
na), o biodiesel, a bioeletricidade. Sem falar na indústria alcoolquímica que vem vindo por aí. Susten-
táveis são nossos 7 milhões de hectares de fl orestas plantadas.
Que dizer de nossos cinturões verdes, com uma atividade hortifrutigranjeira formidável? De nossas
fi bras igualmente competitivas?
Quase ninguém sabe que o agronegócio brasileiro equivale a 23% do PIB do país, gera 37% dos em-
pregos e tem um saldo comercial muito maior que o saldo total do Brasil, o que garante as reservas
cambiais e permite importar os bens de consumo tão desejados pelos nossos concidadãos.
Pode ser mesmo que tudo isso seja verdade, essa falta de políticas públicas porque a maioria da
nossa população desconhece a importância dos nossos campos progressistas e seus agentes – os
produtores rurais – e, portanto, não pressiona os governos por apoio a eles.
Aliás, alguns esforços foram tentados para mudar isso, sempre com o objetivo de mostrar tais valores
à sociedade urbana. Mas os resultados não foram adequados. Talvez por incompetência na forma
da comunicação, com uma eventual prepotência na linha do “veja como sou importante”. Talvez por
exagerada humildade no comportamento de algumas lideranças.
Ou talvez por falta de uma clara demonstração da relação siamesa que existe entre o campo e a cida-
de, da interdependência visceral entre o urbano e o rural, da histórica construção deste grande país
pela conjugação da dedicação de trabalhadores de ambos os segmentos.
APRESENTAÇÃO
16
Pois bem, tal clareza chega agora, na forma deste livro escrito pelo pesquisador Evaristo de Miranda e
ilustrado com fotos de Delfi m Martins e outros e imagens de satélite. Fruto de longos anos de pesqui-
sas e centenas de visitas aos mais diferentes cenários rurais, Agricultura no Brasil do Século XXI nos
dá uma fotografi a atualíssima desse grande interior em que homens e mulheres de distintas origens
étnicas, com culturas diferentes e realidades edafoclimáticas, tecnológicas e fundiárias díspares,
se irmanam na maravilhosa montagem de um gigantesco quebra-cabeça de sucesso: o nosso agro.
Anonimamente, esses camponeses de todas as idades batalham dia após dia, ano após ano. Sua la-
buta diuturna da produção em comunhão permanente com a natureza os irmana aos iguais de cada
cidade, da maior à menor, que também militam sem descanso no erguimento da nossa grande nação.
Com prosa fácil e articulada, Evaristo mostra onde estamos no campo, e o que fi zemos para chegar aqui.
Finalmente, uma obra para ser lida e, como diz o autor, “visitada” por todo cidadão brasileiro, onde
quer que viva ou trabalhe. Com certeza, ao percorrer estas páginas, todos sentirão o orgulho da brasi-
lidade, a alegria de pertencer ao povo notável que construiu, com pertinácia e determinação, a maior
e melhor agropecuária tropical e sustentável do planeta. Uma obra que orientará a opinião pública na
direção de uma estratégia para levar o país a gerar muito mais bem-estar para seus cidadãos e os do
resto do mundo, com a produção competitiva deste fantástico campo brasileiro.
Roberto Rodrigues
Engenheiro agrônomo e produtor rural
Ex-ministro da Agricultura do Brasil
Embaixador especial da FAO para o Cooperativismo
19
AGRICULTURA NO BRASIL DO SÉCULO XXI COMEÇOU a ser produzido há dez anos, quando convi-
damos Evaristo Eduardo de Miranda para assinar um livro que se chamaria Agrocultura Brasileira,
com fotografi a de Delfi m Martins. Ambos já eram antigos conhecidos do setor agrícola brasileiro: o
primeiro como pesquisador da Embrapa, e o segundo como fotógrafo especializado. O projeto teria
um viés histórico da evolução de seis entre as principais culturas agrícolas do Brasil. Não chegou a
ser realizado, mas os dois autores continuaram pesquisando e fotografando incansavelmente esse
setor primário da economia brasileira.
Nesses dez anos, a atividade agrícola continuou a se desenvolver, ampliou horizontes, o que fez vol-
tar a atenção para o setor novamente. Mudamos o escopo do projeto original e planejamos uma
publicação ilustrada sobre agricultura brasileira que oferecesse uma perspectiva geral pela ótica da
produção contemporânea desde a virada do novo século. Assim surgiu a proposta da presente obra,
de levar ao leitor uma publicação atualizada, com imagens de ponta e abordagem inovadora sobre
esse vasto universo.
A reação da Bayer ao receber nosso pedido de patrocínio foi imediata e calorosa. O fi rme apoio con-
cedido nos deu a liberdade intelectual e criativa necessária para desenvolver a presente obra, nos
moldes que agora chega a público. Trata-se de criação singular, livre de dirigismos econômicos ou
ideológicos. A obra procura refl etir, de forma fi el e atraente, toda a crescente importância de nossa
agricultura, tanto para os brasileiros quanto para boa parte do mundo, que consome cada vez mais
nossos produtos, dia a dia mais eivados de ciência e tecnologia.
Com dados e informações atualizadas até o ano de 2011, este livro mostra o como e o porquê de a
agricultura brasileira se ter tornado o mais próspero setor da economia, com sólidos índices de cres-
cimento e sustentabilidade, envolvendo enorme diversidade social e econômica de muitos milhões de
agentes espalhados pelo Brasil.
A agricultura brasileira contemporânea deixou de ser atividade de baixo valor agregado, passando a
gerar uma variedade crescente de produtos cada vez mais sofi sticados. Envolve o trabalho árduo de
um enorme exército anônimo de pequenos produtores rurais, médios agricultores e grandes em-
preendedores. Juntos puxam para cima indústria e serviços, de forma cada vez mais inovadora e
complexa.
A presente obra oferece ao leitor a visão ampla de um segmento que não se limita mais a produzir
alimentos para a população brasileira e a exportar commodities in natura. Fornece energia para si e
para outras áreas da economia, produz fi bras para uso artesanal e industrial em escala crescente,
além de produtos especiais de alto valor internacional.
Este livro combina de forma bem orquestrada dois olhares que se completam: um, analítico-sistêmi-
co, de Miranda, e outro, um retrato visual garimpado na Pulsar Imagens, de Delfi m Martins, comple-
mentado por imagens de satélite state of art.
A DIVERSIDADE AGRÍCOLA NO
BRASIL DO TERCEIRO MILÊNIO
20
Miranda levantou, costurou e cruzou os milhares de dados disponíveis em órgãos públicos e privados
de todas as partes do Brasil. Contou com a gentil colaboração de dezenas de especialistas, insti-
tuições e associações agrícolas e científi cas. O resultado desta obra não dependeu, portanto, ape-
nas dos autores e editores, mas também dos muitos colaboradores atuantes neste esforço editorial
inédito no país.
Para esta publicação, a Pulsar colocou à disposição o vasto e magnífi co acervo fotográfi co sobre o
tema produzido nos primeiros anos do século XXI, envolvendo, principalmente e não por acaso, o
nome do fotógrafo Delfi m Martins, colaborador antigo e presente nos planos editoriais desde aquele
projeto mais restrito originalmente pensado há tantos anos. Foram selecionadas e reproduzidas aqui
mais de 200 dentre milhares de imagens pesquisadas de 35 fotógrafos profi ssionais.
Ressaltamos a gentil cessão de conteúdo desta iniciativa pela Embrapa Gestão Territorial e pela
Space Imaging Brasil, além da orientação na seleção das quarenta imagens de satélite aqui reprodu-
zidas, compondo uma visão espacial contemporânea da agricultura brasileira inacessível ao alcance
das fotografi as de autor.
Dora Levy, escolhida para conduzir o design desta edição, a transformou em verdadeira obra de arte,
com visual arrojado e de fácil leitura.
Finalmente, enaltecemos a apresentação de Roberto Rodrigues, Embaixador Especial da FAO (Na-
ções Unidas) para o Ano Internacional das Cooperativas. Seu aval à obra nos enche de orgulho e de
certeza de ter alcançado o objetivo: levar ao público uma obra capaz de oferecer perspectiva global,
contemporânea e inédita sobre a mais básica atividade econômica brasileira. Diante de tema tão
abrangente, apresenta-se um retrato de um país agrícola forte, inovador, diversifi cado e moderno,
feito por gente que deve ter muito orgulho de si e do resultado de seu trabalho.
Ronaldo Graça Couto
Metalivros
23
AS ÁREAS URBANAS IMAGINAM A AGRICULTURA BRASILEIRA como algo distante. Geografi camente,
ela ocorreria lá pelo interior do Brasil, no mundo rural, afastada das cidades. Essa visão clássica preci-
sa ser superada. A distinção entre cidade e campo atenuou-se, e muito. Cidadãos modernos vivem no
campo. Agricultores moram em cidades e trabalham na roça. O campo está industrializado. Pequenos
produtores, conectados às redes de informação, utilizam tecnologias de ponta, num grande esforço de
profi ssionalização.
Este livro mostra tais conexões, estreitas e indissociáveis. A agricultura está presente no cotidiano das
cidades, desde os pneus dos automóveis abastecidos com etanol até o papel dos livros e impressoras,
passando por roupas, medicamentos, cosméticos e pelo alimento consumido. Bom, variado e barato.
Apresentar a totalidade da agricultura brasileira exigiria uma enciclopédia. Retratá-la num livro sin-
gular implicou selecionar, resumir e sintetizar informações. Abdicou-se do total pelo global. Cons-
truiu-se o conteúdo em bases técnicas, porém sempre que possível sem recorrer à terminologia
científi ca e recobrindo aspectos essenciais e inéditos em muitos dos enfoques, de modo a oferecer
uma visão global da agricultura brasileira.
Esta obra se destina prioritariamente ao grande público, não familiarizado com o mundo rural e sua
dinâmica recente. E, quando não foi possível escapar aos conceitos e processos, acrescentaram-se
as explicações indispensáveis.
Para compreender a agricultura brasileira, não basta apresentar números recordes de produção,
sempre crescentes. Propalar ideias como “maior exportador do mundo”, disso e daquilo, acaba por
esconder a evolução das condições da produção, os impactos e a sustentabilidade. Mais do que o
quanto, é essencial entender como se produz no Brasil. É necessário compreender a enorme evolu-
ção da tecnologia agrícola nacional, graças à inovação e ao empreendedorismo dos agricultores e de
suas organizações. E saber como, também, tudo isso se insere em processos históricos e em raízes
culturais próprias do Brasil.
Dois ministérios cuidam da agricultura no Brasil. O Ministério do Desenvolvimento Agrário tem foco
na agricultura familiar, em comunidades extrativistas e com acesso limitado à terra. O Ministério
da Agricultura, Pecuária e Abastecimento atende ao conjunto da agropecuária e cadeias produtivas
fundamentais para abastecimento e exportação. As fronteiras não são rígidas entre as duas pastas.
Existe uma sinergia muito positiva entre elas. Essa solução política e institucional é muito interessan-
te. E rara em outros países.
Para uma visão atualizada da agricultura brasileira, recorreu-se a ambos os ministérios e a múltiplas
fontes de informação primária. As principais foram os Censos do Instituto Brasileiro de Geografi a
e Estatística (IBGE). Um grande número de associações de produtores, instituições de pesquisa e
desenvolvimento e especialistas contribuiu com sugestões e dados valiosos em vários campos da
atividade agrícola. Todos são apresentados e se encontram listados nos agradecimentos.
NOTA DO AUTOR
24
Neste trabalho, tomou-se como referência o ano de 2010. Às vezes, os dados chegam a 2011 ou 2012.
Em outros casos, param em 2008 ou 2009. Tributários da disponibilidade de informações institucio-
nais, procuramos apresentar as mais confi áveis e atualizadas. Por razões de clareza, as cifras foram
sempre arredondadas. Muitas vezes expressam médias (trienais) e ordens de grandeza, dada a fl utu-
ação interanual da produção agrícola. Na impossibilidade de ser exato com as grandezas agrícolas,
buscamos a aproximação, na medida do possível.
Diferentes instituições utilizam métodos distintos, períodos e técnicas para medir o mesmo fenô-
meno. A Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB), por exemplo, considera nas avaliações
da produção o ano agrícola; enquanto o IBGE como a FAO trabalham com o ano civil. Buscaram-se
compatibilizar as informações, considerando tecnicamente os métodos.
Algumas plantas cultivadas podem fornecer alimento, energia e fi bras e até ser qualifi cadas como pro-
dutos especiais. A cana-de-açúcar, por exemplo, entra nessas quatro rubricas: fornece alimento (açú-
car), energia (etanol), fi bras (bagaço) e é a base de um produto especial (cachaça). Por essa razão, neste
livro, um cultivo pode ser apresentado apenas por uma das características dominantes, ou ser citado
em rubricas diferentes, mais de uma vez, quando pertinente. No fi nal do livro, uma lista de mais de 480
espécies vegetais cultivadas ou exploradas é apresentada com nomes científi cos e algumas sinonímias.
A lista não abordou as plantas ornamentais nem a maior parte das medicinais e essências fl orestais.
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A importância da agricultura brasileira não está apenas em produzir alimentos, energia, fi bras e di-
versos produtos diferenciados, com muita qualidade, a preços reduzidos e de forma competitiva. Além
de gerar divisas e manter equilibrada a balança de pagamentos do país, ela é o berço de verdadeiros
tesouros culturais, marcas da identidade profunda do povo brasileiro. Culinária, artesanato, estilos e
tradições musicais, festas religiosas, romarias, turismo, hábitos alimentares, festas de peão de boia-
deiro e feiras agropecuárias estão entre os doces frutos do trabalho rural indicados ao longo do livro.
Enquanto este texto é lido, homens e mulheres estão no campo, lidando com a terra, cuidando do
meio ambiente, gado, estufas de fl ores, manutenção de máquinas, contabilidade, égua parideira, pro-
teção do feno contra a chuva, ajudando um vizinho ou tocando moda de viola com um compadre e um
par de amigos ao lado de um fogão a lenha, tomando uma cachaça ou um café bem passado.
Não leia este livro. Visite-o. Como quem visita o sítio de um amigo, a fazenda da família, a chácara de um
avô. Vá em frente. No ritmo de quem anda a pé ou a cavalo. Não se assuste com os números e a diversidade
de assuntos. Na porteira há uma mensagem de boas vindas. Fique tranquilo. O arco da entrada tem uma
placa de madeira gravada com o nome desse pedaço de chão, trabalhado e abençoado, chamado Brasil.
Evaristo Eduardo de Miranda
Pesquisador da Embrapa
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NUNCA A POPULAÇÃO MUNDIAL FOI TÃO GRANDE, nem viveu tanto. Nunca se produziram nem se
consumiram tantos alimentos. População, longevidade, renda e consumo de alimentos crescem, e o
desafi o se torna alimentar um adicional de mais de 2 bilhões de pessoas nos próximos quarenta anos.
Para atender a essa demanda, o mundo conta com a produção atual e futura da agricultura brasilei-
ra. Tanto a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO) como diversos
fóruns mundiais proclamam essa expectativa, até com certo tom de cobrança. Europa e China já
dependem cada vez mais do Brasil.
O total da produção brasileira de alimentos de origem vegetal e animal é hoje sufi ciente para atender
à necessidade básica de alimentação não só de brasileiros, mas de 1 bilhão de pessoas. Não é pouco.
Mas é pouco, em face do desafi o da demanda mundial. A liderança da agricultura do Brasil não será
apenas o resultado de grandes produções e sim da rentabilidade e competitividade. Não basta produ-
zir. É preciso ser competitivo em preço e qualidade. E essa competitividade resultará de sistemas de
produção mais efi cientes, sustentáveis e diversifi cados.
A agricultura brasileira é plural. É constituída de muitas agriculturas, diferenciadas entre si por pro-
cessos históricos, localização geográfi ca, sistemas de produção, condições socioeconômicas e agrá-
rias, origens e tradições dos produtores rurais.
A principal fonte de informação global sobre a agricultura são os Censos Agropecuários realizados
pelo Instituto Brasileiro de Geografi a e Estatística (IBGE). Seus métodos e resultados estão em conso-
nância com as recomendações e os conceitos básicos consagrados pela FAO. Isso permite a compa-
ração internacional das estatísticas. Os Censos do IBGE medem o tamanho da agricultura brasileira
e a qualifi cam.
O porte da agricultura. O Censo Agropecuário de 2006 identifi cou 5.175.489 estabelecimentos agríco-
las no Brasil. A área agrícola total, equivalente à soma das áreas de todos os estabelecimentos, não
está em expansão e sim em retração. Em 1985, ela era da ordem de 375 milhões de hectares. Em
1995, caiu para 354 milhões de hectares; e em 2006 para 330 milhões de hectares. A agricultura não
está devorando novos espaços naturais como muitos imaginam. Eventuais expansões foram ampla-
mente compensadas por recuos em outras regiões.
Segundo o IBGE, a principal razão do recuo na área total foi a criação de Unidades de Conservação
(federais e estaduais) e a demarcação de terras indígenas. Somente entre 1996 e 2006, a criação de
áreas protegidas foi da ordem de 61 milhões de hectares; e a redução da área da agricultura de 23,7
milhões de hectares. A retração anual da agricultura tem sido de 2 milhões de hectares nos últimos
vinte anos aproximadamente.
Essa área ocupada total não deve ser confundida com a área cultivada, muito inferior e da ordem de
109 milhões de hectares. Os produtores rurais cultivam apenas parte da área dos imóveis por diversas
razões: há trechos inaproveitáveis, e outros exigem investimentos e recursos não disponíveis. Algumas
áreas com vegetação natural, como campos nativos, caatingas e cerrados, são usadas como pasta-
gem. Sem desmatamento. Outras áreas de vegetação natural são preservadas por imposição de leis
ambientais, sobretudo no Norte e Centro-Oeste, ou mantidas como reserva para futuras ampliações.
AGRICULTURAS DO BRASIL
pp. 26-27 Curvas de nível
em lavoura de arroz, Mata,
RS, 2008
p. 28 Pequenas
propriedades com
agricultura anual
diversifi cada, Anita Garibaldi,
SC, 10/04/2010 (Satélite
GeoEye-1, Latitude -27°70’,
Longitude -50°94’)
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A G R I C U LT U R A N O B R A S I L D O S É C U L O X X I
PEQUENOS AGRICULTORES
E GRANDES PRODUTORES
O TAMANHO MÉDIO DOS ESTABELECIMENTOS AGRÍCOLAS BRASILEIROS diminuiu em uma década
e passou de 73 hectares em 1995 para 64 hectares em 2006. Mas o Índice de Gini, utilizado para medir
a concentração na distribuição das terras, ainda era de 0,872 em 2006. Valor que indica alto grau de
concentração de terras nas mãos de poucos proprietários.
Não é um número fi xo de hectares que defi ne uma pequena propriedade no Brasil. A classifi cação
do tamanho da propriedade rural varia conforme a região. É preciso levar em conta diversos fatores,
como solos e climas. Em regiões de clima temperado ou subtropical, as terras são mais produtivas.
Já no semiárido e em muitos solos da Amazônia, são bem menos produtivas. Para atender a essa
diversidade, as políticas agrícolas e agrárias do Brasil trabalham em cada Município com o conceito
de Módulo Fiscal (MF).
O MF corresponde à área mínima necessária a uma propriedade rural para ser economicamente
viável. A unidade, expressa em hectares, é fi xada pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma
Agrária (INCRA) do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) para cada Município. E serve de
parâmetro para a classificação fundiária do imóvel rural quanto à dimensão.
A pequena propriedade é aquela cuja área está entre 1 MF e 4 MF; a média propriedade tem área
compreendida entre 4 MF e 15 MF. Acima desse valor estão as grandes propriedades. A depender da
localização e das características do Município, um MF pode variar de 5 a 110 hectares.
Pelos dados da Embrapa Gestão Territorial, com base no INCRA e no IBGE, são 4,6 milhões de pe-
quenas propriedades, 88% dos imóveis rurais do país, ocupando 95 milhões de hectares (29% da área
agrícola). E contribuem com 50,3% da produção nacional, algo em torno de R$ 73 bilhões de acordo
com o Censo Agropecuário de 2006. As propriedades médias constituem 5% do total (233.000 hecta-
res) e ocupam 20% das terras (67 milhões de hectares). Os grandes estabelecimentos somam cerca
de 7% do total (348.000 hectares) e ocupam 51% das terras (168 milhões de hectares).
Ainda segundo o IBGE, 39% dos responsáveis pelos estabelecimentos agrícolas eram analfabetos
ou sabiam ler e escrever sem ter frequentado escola e 43% não tinham completado o Ensino Fun-
damental. A maior concentração do analfabetismo está na Região Norte e Nordeste. As mulheres
respondiam por cerca de 13% dos estabelecimentos agropecuários. Uma das forças das pequenas
propriedades e dos trabalhadores rurais são as associações, sindicatos e cooperativas.
Cooperativismo. Segundo dados da Organização das Cooperativas do Brasil (OCB), em 2010 havia
1.523 cooperativas agropecuárias. Elas reuniam 970.000 associados, dos quais 776.000 eram peque-
nos agricultores, mais de 17% do total. E empregavam diretamente 156.000 pessoas. Quase 80%
dos associados são pequenos proprietários. Todas as formas de cooperativas reúnem 10 milhões de
associados no Brasil e devem chegar a 23 milhões em 2030.
Em 2011, juntas, as cooperativas agropecuárias do Brasil exportaram mais de US$ 6,1 bilhões para
96 países, sendo os principais EUA e China (12% do total para cada um), Emirados Árabes (9%), Ale-
manha (7%) e países baixos (5%). O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) é maior nos Municípios
brasileiros com cooperativas.
Os principais produtos exportados pelas cooperativas em 2011 foram açúcar e etanol. Pequenos e
médios produtores têm participação como fornecedores de cana-de-açúcar ao complexo sucroalcoo-
leiro. O açúcar e o etanol das cooperativas representaram 37% do total nacional exportado, num mon-
tante de US$ 2,2 bilhões. Em segunda posição, a soja das cooperativas movimentou US$ 1,3 bilhão,
21% do total exportado. Na soja é grande a participação dos pequenos produtores, sobretudo no Sul.
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As cooperativas exportaram US$ 893 milhões em café, 14% do total exportado, outro segmento com
participação de pequenos produtores. Em seguida fi cou a carne de frango, com US$ 570 milhões, 9%
do total exportado.
O Estado de São Paulo assumiu a liderança das exportações das cooperativas agropecuárias em 2011,
totalizando US$ 2,1 bilhões (33,7%). O Paraná fi cou na segunda posição, com US$ 1,9 bilhão (31,3%).
Na terceira colocação fi cou Minas Gerais, com US$ 886 milhões (14,3%); seguida por Rio Grande do
Sul, com US$ 364 milhões (6%), e Santa Catarina, com US$ 313 milhões (5,1%).
Sindicalismo. A Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (CONTAG), com cinquenta
anos de existência, é outra expressão da organização e defesa dos agricultores familiares, acampados
e assentados da reforma agrária, assalariados rurais, meeiros, comodatários, extrativistas, quilom-
bolas, pescadores artesanais e ribeirinhos. Atualmente, compõem a CONTAG as 27 Federações de
Trabalhadores na Agricultura (FETAGS) nos Estados e mais de 4.000 Sindicatos de Trabalhadores e
Trabalhadoras Rurais. O Movimento Sindical de Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais luta pelos di-
reitos de mais de 15,7 milhões de homens e mulheres do campo e da fl oresta.
A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) é a entidade representante do sindicalis-
mo patronal do setor rural brasileiro. O sindicalismo patronal rural é desvinculado do poder públi-
co e representa os anseios dos agropecuaristas perante a sociedade e os governos. Nos Estados e
Municípios, a representação fi ca a cargo das federações da agricultura e pecuária e dos sindicatos
rurais. A CNA preside o Conselho Superior de Agricultura e Pecuária do Brasil (Rural Brasil), inte-
grado pela Organização das Cooperativas Brasileira (OCB), Sociedade Rural Brasileira (SRB) e outras
associações setoriais de expressão nacional. A entidade também coordena o Fórum Permanente de
Negociações Agrícolas Internacionais, integrado pela OCB e pela Associação Brasileira do Agrone-
p. 31 Treze Tílias, SC, 2012
p. 32 Assentamento sem-
terra, Guarapuava, PR, 2012
32
A G R I C U LT U R A N O B R A S I L D O S É C U L O X X I
gócio (ABAG). A CNA contribui para a congregação de várias organizações, como a Federação das
Associações dos Plantadores de Cana do Brasil (FEPLANA), o Conselho Nacional de Pecuária de
Corte (CNPC) e a Sociedade Nacional da Agricultura (SNA).
Infraestrutura produtiva. A infraestrutura rural ainda é muito carente no Brasil. Como tem sinali-
zado a ABAG, os baixos investimentos em transporte nas últimas décadas foram insufi cientes para
fornecer o apoio necessário ao agronegócio, principalmente nas regiões localizadas no interior do
país. Apenas 5% da safra de grãos é transportada por hidrovias, enquanto 67% seguem por estradas.
O modal rodoviário responde por cerca de 70% do total transportado, contrastando com outros paí-
ses, como EUA (26%) e China (8%). Nos portos, dois problemas são cruciais: o acesso aos terminais
e o alto custo das operações. A logística efi ciente é imperativa para o desenvolvimento acelerado e
sustentável. O governo pretende investir R$ 133 bilhões nos próximos anos na reforma e construção
de rodovias e ferrovias.
Em 2006, 32% dos estabelecimentos agrícolas não tinham acesso a energia elétrica, mas a eletrifi -
cação rural prossegue em expansão. Apenas 6,3% dos estabelecimentos agrícolas praticavam a irri-
gação. A área total irrigada era de 4,5 milhões de hectares. Somente 10% dos imóveis possuíam pelo
menos um trator. O uso da força mecânica motorizada abrangia mais de 30% dos imóveis, graças ao
amplo mercado de contratação e aluguel de máquinas agrícolas do Brasil. Mesmo assim, em 70% dos
imóveis a tração é animal ou humana. Há grande potencial para ampliar a mecanização em pequenas
propriedades com a produção industrial de implementos adequados conforme dados da Associação
Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (ABIMAQ).
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A G R I C U LT U R A N O B R A S I L D O S É C U L O X X I
AGRICULTURA E O SALDO DA BALANÇA COMERCIAL
Fonte: SECEX/MDIC
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Outros Setores
Agronegócio
Saldo Brasil
Crescimento. A agricultura brasileira mantém crescimento sustentado, ao contrário de outros seto-
res da economia. A agropecuária foi, em 2011, o setor que mais cresceu no Brasil (3,9%), ante 1,6%
da indústria e 2,7% dos serviços. O superávit do país chegou a US$ 29,8 bilhões, graças ao setor
agropecuário, cujas exportações somaram mais de US$ 77 bilhões. A agropecuária é a principal fonte
de prosperidade em amplas áreas do Brasil. E explica a liderança do Centro-Oeste no crescimento
econômico nacional, com expansão de 5,9% nos doze meses entre maio de 2011 e abril de 2012.
Alimentos. Em 1972, a safra de grãos foi de 30 milhões de toneladas para uma área plantada de
28 milhões de hectares. Hoje, a área plantada é da ordem de 50 milhões de hectares, e a produção
ultrapassou 166 milhões de toneladas. A área cultivada cresceu 80%, e a produção mais de 500%.
Em quarenta anos, o país multiplicou em mais de cinco vezes a produção de grãos. Além de toda a
produção de tubérculos, frutas e hortaliças. Dono do maior rebanho comercial de bovinos, o Brasil
é grande produtor de suínos, aves, ovos, leite e laticínios. É esse estoque capaz de nutrir mais de
1 bilhão de pessoas todo ano.
Agroenergia. Além dos alimentos, a agricultura também produz energia. O Brasil tem uma das matri-
zes energéticas mais limpas do mundo, graças à agricultura. Mais de 30% da energia, o equivalente a
68,3 milhões de toneladas de petróleo (TEP), vem da agricultura, que produz combustível sólido (lenha
e carvão), líquido (etanol e biodiesel), gasoso (biogás) e eletricidade (cogeração de energia elétrica).
Com tecnologia, a agricultura consome apenas 4,5% de energia fóssil na matriz energética e produz
mais de 30% de energia renovável.
Fibras. Provedora de alimentos e agroenergia, a agricultura também tem papel destacado na pro-
dução diversifi cada de fi bras de origem vegetal e animal. Em 2010, foram produzidos 14 milhões de
toneladas de fi bra de celulose e 9,9 milhões de toneladas de papel. O país tornou-se o terceiro expor-
tador mundial de algodão. Fibras originárias da casca do coco, piaçava, sisal, malva etc. entram hoje
na composição de móveis e veículos, na construção civil e em diversos usos industriais.
34
A G R I C U LT U R A N O B R A S I L D O S É C U L O X X I
Produtos especiais. Além de alimentos, agroenergia e fi bras, a agricultura brasileira, em sua diver-
sidade geográfi ca e econômica, oferece uma gama de produtos diferenciados. Muitos deles têm inú-
meras certifi cações (orgânicos, de origem e indicação geográfi ca etc.), como vinhos, fl ores, perfumes,
medicamentos, borracha, cachaça, madeiras, cafés e outros.
A agricultura brasileira ainda enfrenta muitos desafi os: ausência de um verdadeiro sistema de se-
guro rural; a situação crítica da infraestrutura, principalmente para o escoamento da produção; as
exigências da legislação trabalhista e ambiental, divorciadas da realidade rural; o protecionismo e os
subsídios agrícolas dos países desenvolvidos; e a difi culdade de articular-se e defender efetivamente
seus interesses, bem como a própria imagem, diante do mundo urbano, no Brasil e no exterior.
No imenso e diversifi cado espaço rural do Brasil, algumas características, difíceis de ser encontradas
em um mesmo país, são essenciais para entender a agricultura brasileira: dinâmica, biodiversidade,
concentração de produção e renda, sustentabilidade e inovação, preservação ambiental e identidade
cultural – a agrocultura.
p. 34 Barcaça carregada de
soja a montante da eclusa
da Usina Hidrelétrica de
Bariri, Rio Tietê, SP, 2010
p. 35 acima Colheita
mecanizada de soja, Itiquira,
MT, 2001
p. 35 abaixo Sacaria de café,
2007
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A G R I C U LT U R A N O B R A S I L D O S É C U L O X X I
DINAMISMO DA AGRICULTURA
SE ALGUÉM JULGA QUE CONHECE, ESTÁ ATUALIZADO e bem informado sobre a agricultura brasi-
leira, é porque terminou de estudá-la ontem à noite. Tarde. Se o estudo acabou na semana passada,
já estará desatualizado. A razão é simples: a enorme dinâmica da agricultura.
Em quarenta anos, enquanto a área plantada dobrou, a incorporação de tecnologias agrícolas tropi-
cais ao processo produtivo multiplicou por mais de cinco vezes a produção de grãos. O ganho de pro-
dutividade, esse crescimento “vertical” da produção, e não apenas em extensão horizontal de áreas,
evitou o desmatamento de 100 milhões de hectares de fl oresta e cerrados.
Em trinta anos, o Brasil deixou a posição de importador de alimentos e assumiu o lugar de quarto
maior exportador mundial. A produção de grãos, em 2012, foi de 166 milhões de toneladas: metade
de cereais (milho, arroz, trigo, cevada, sorgo etc.) e outra metade de leguminosas e oleaginosas (soja,
feijão, amendoim, girassol etc). O país produz grande quantidade de outros alimentos como mandio-
ca, batata, legumes, hortaliças e frutas (75% do suco de laranja concentrado exportado no mundo). É
grande fornecedor de carne bovina (30 milhões abates/ano), suína (35 milhões abates/ano), de aves
(5,5 bilhões abates/ano), leite (31 bilhões litros/ano) e ovos (2,5 bilhões dúzias/ano).
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p. 37 Silos para secagem e
estocagem de arroz, Quaraí,
RS, 2010
CEREAIS, LEGUMINOSAS E OLEAGINOSAS
ÁREA E PRODUÇÃO – BRASIL (1980 A 2012)
Fonte: CONAB
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EVOLUÇÃO DOS PREÇOS REAIS DA CESTA BÁSICA
Em dez anos, o Brasil passou da posição de um dos maiores importadores mundiais de algodão para
o terceiro maior exportador do produto e primeiro em produtividade graças à inovação tecnológica,
biotecnologia e incorporação de novas técnicas de manejo e gestão.
O sucesso da agropecuária permitiu queda de mais de 50% no valor da cesta básica entre 1975 e 2005.
O barateamento da comida foi tão grande que, nos anos 1990, alterou-se a composição dos índices de
infl ação dada a redução do peso da alimentação no orçamento familiar.
Em 2011, o Produto Interno Bruto (PIB) do agronegócio cresceu 5,73% e totalizou R$ 942 bilhões, des-
contada a infl ação. A economia do país expandiu-se 2,7% e chegou a R$ 4,143 trilhões. A participação
do agronegócio no PIB nacional aumentou de 21,8% em 2010 para 22,7% em 2011. Em dois anos, o
crescimento do PIB agrícola acumulou 13,5%.
O saldo comercial da agricultura cresceu 574% entre 1992 e 2011. E continuou superavitário entre
1995 e 2000, quando o conjunto do comércio foi defi citário. O total exportado aumentou 615% naquele
período. Sem os números positivos da agropecuária, o saldo da balança comercial fi caria negativo.
Em 2012, o recorde de exportações do agronegócio foi batido: mais de US$ 100 bilhões.
Além do crescimento e da dinâmica temporal, há grande diversidade e complexidade espacial na agri-
cultura brasileira. Constituída de numerosos territórios rurais e agrários, com realidades humanas,
sociais, econômicas e históricas muito diferenciadas.p. 39 Feira do açaí, Mercado
Ver-o-Peso, Belém, PA, 2008
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Fonte: DIEESE, valores corrigidos pelo IGP-DI. Adaptado de Martha Jr., 2012
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BIODIVERSIDADE E
PRODUÇÃO AGRÍCOLA
NESTE LIVRO ESTÃO CITADAS 488 PLANTAS CULTIVADAS ou exploradas pelos agricultores no Bra-
sil. Só na letra A do alfabeto, encontram-se setenta espécies vegetais como: abacate, abacaxi, abó-
bora, açafrão, açaí, acerola, agrião, alcachofra, alecrim, alface, algodão, almeirão, ameixa, amêndoa,
amora, anis, antúrio, araçá, arroz, aveia e outras. De onde saiu tanta biodiversidade agrícola? No
começo não era assim.
Para os descobridores do Brasil, na Terra de Santa Cruz parecia não haver agricultura, nem pecuária.
Na preciosa carta, Pero Vaz de Caminha assinalava que os índios “não lavram, nem criam, nem há
aqui boi, nem vaca, nem cabra, nem ovelha, nem galinha, nem nenhum outro animal acostumado a
viver com os homens”. Para atender às necessidades básicas de alimentação, saúde e vestimenta, os
portugueses introduziram, aclimataram e testaram em terras brasileiras tudo aquilo de que sentiam
falta ou pensavam ser de possível interesse.
Europa, Ásia e África contribuíram com a construção de uma nova paisagem brasileira, por meio
das espécies animais e vegetais, aclimatadas nas ilhas do Atlântico e introduzidas no Brasil pelos
portugueses. Um século e meio após o Descobrimento, nos campos e jardins das aldeias e povoados
encontravam-se lado a lado plantas indígenas (como mandioca, cará e batata-doce) e numerosas
hortaliças, fl ores, árvores frutíferas, cereais, legumes, fi bras e plantas medicinais de todo o planeta.
O êxito das exóticas. A razão do sucesso da introdução de espécies foi de natureza ecológica. Eram
novas terras, semeadas com novas espécies, transportadas para outro continente sem as principais
p. 40 Girassol, Poço
Redondo, SE, 2010
p. 41 Veados-campeiros em
plantação de soja, Mineiros,
GO, 2002