algumas novidades que a unicamp leva ao 3º salão · de cintos adicionais que asseguram a...

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Universidade Estadual de Campinas – 16 a 21 de novembro de 2004 3 A Cadeira FEM A Unicamp solicitou recentemente o registro da patente de um novo dis- positivo de segurança para o trans- porte de crianças em veículos auto- motores. Trata-se de uma placa fixa- da ao banco traseiro com o auxílio do próprio cinto do automóvel, e dotada de cintos adicionais que asseguram a retenção da criança com um número maior de pontos. Os cintos extras, fa- bricados com material de qualidade de uso automotivo, são reguláveis para crianças entre 3 e 10 anos de idade, garantindo uma “ancoragem” de modo anatomicamente correto e impedindo que elas se deitem ou fi- quem em pé no banco. A concepção da “cadeira” desen- volvida na Faculdade de Engenha- ria Mecânica (FEM) da Unicamp, sob a coordenação do professor Cel- so Arruda, é simples. O dispositivo se assemelha a uma mochila. Uma alça em cada ombro, e uma terceira na cintura, permitem que a criança fique apoiada de modo seguro na cadeira. O equipamento é preso ao banco com o auxílio do próprio cinto de segurança do veículo, sendo que recortes nas laterais, por onde é tres- passada a alça vertical do cinto, ga- rante que este fique na altura do pei- to e não do pescoço. “As cadeiras tradicionais ainda são as mais adequadas para crianças até 3 anos, mas, a partir dessa idade, podem ser substituídas pelo novo dispositivo com vantagens, sobretu- do no preço, que deve ficar em um terço daquele cobrado pelo similar mais barato do mercado”, afirma o professor Celso Arruda. No ensaio de campo, realizado na pista de pro- vas de uma montadora de carros brasileira, nas imediações de Cam- pinas, o dispositivo teve um excelen- te desempenho. Para o teste, foi utilizado um bo- neco de peso e tamanho semelhan- tes ao de uma criança de seis anos. “Aproveitamos o ensaio de colisão traseira de um Vectra contra um no- vo protótipo de pára-choque, a 50 km/h. As imagens revelaram que a placa não se deslocou em relação ao banco e que o deslocamento da ca- beça do boneco foi mínimo. O teste provou que o conceito do uso de placa está correto”, afirmou à épo- ca o professor Celso Arruda. O próximo passo será o desen- volvimento do produto, que preci- sa ser testado e certificado pela As- sociação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) e Instituto Naci- onal de Metrologia (Inmetro) antes de chegar ao mercado. “Uma em- presa já demonstrou grande inte- resse em adquirir a licença, mas haverá a exigência de a Unicamp acompanhar o processo de fabri- cação”, salienta o pesquisador. Carro a hidrogênio O primeiro protótipo brasileiro de um veículo elétrico movido a célu- las a combustível já está em fase fi- nal de testes. A nova tecnologia uti- liza o hidrogênio como fonte de e- nergia. O projeto, orçado em R$ 400 mil, foi encomendado pelo Ministé- rio de Minas e Energia e está sendo executado por pesquisadores Uni- camp em parceria com o Centro Na- cional de Referência em Energia do Hidrogênio (Ceneh). Batizado de Vega II, o carro deverá estar conclu- ído até o final do ano. “A utilização das células a com- bustível como sistema de conversão de energia tem importância estraté- gica do ponto de vista ambiental e econômico”, diz o físico Ennio Peres da Silva, coordenador do Núcleo Interdisciplinar de Planejamento Energético (Nipe) da Unicamp. A- lém de não emitir poluentes, a tec- nologia permite reduzir a dependên- cia por combustíveis fósseis, como o petróleo. Segundo o pesquisador, o único subproduto obtido com a utili- zação do hidrogênio é o vapor d’água. A célula a combustível é um dis- positivo eletroquímico que transfor- ma energia química do combustível (no caso o hidrogênio) em eletricida- de. Sua principal função é combinar o hidrogênio com o oxigênio, que pode ser retirado da atmosfera, para a produção de energia elétrica. O equipamento usado para desen- volver o protótipo da Unicamp tem o tamanho aproximado dos mo- tores dos veículos de passeio. Im- portado dos Estados Unidos, tem capacidade para fazer funcionar, em conjunto com as baterias, um carro de 25 KW. Essa potência equivale a um motor de 500 cilindradas. “Não estamos preocu- pados com a potência por enquan- to. O principal objetivo é disponi- bilizar uma plataforma de testes pa- ra veículos elétricos que utilizem células a combustível”, afirma o pro- fessor Ennio. Para obter eletricidade a partir do hidrogênio, os veículos desta natu- reza contam com três alternativas: combustíveis fósseis, como gasolina e gás natural; combustíveis gerados através da biomassa, como o etanol (álcool usualmente obtido a partir da cana-de-açúcar) e metanol (álcool que pode ser produzido a partir do eucalipto); e o próprio hidrogênio na forma gasosa ou líquida. O protóti- po da Unicamp, abastecido por hi- drogênio gasoso, é do tipo híbrido, baseado na utilização simultânea de baterias e células a combustível. Reformador de etanol O motorista chega num posto de combustível e abastece o seu carro com álcool. Ao acionar a ignição, o produto não é injetado diretamente no motor a combustão, como ocorre convencionalmente, mas num reator que o transformará em hidrogênio. Em seguida, o gás alimentará uma célula a combustível que, por meio de uma reação eletroquímica, gerará eletricidade e fará o veículo, dotado de motor elétrico, movimentar-se. E o melhor tudo: sem contribuir para a poluição atmosférica. A cena ain- da é imaginária, mas não deverá le- var mais do que uma década para se tornar real. Pesquisadores do Labo- ratório de Hidrogênio (LH2) da Uni- camp construíram recentemente o primeiro protótipo brasileiro de um reformador de etanol para a produ- ção de hidrogênio. O equipamento, que inicialmente deverá substituir geradores de eletricidade movidos a diesel e painéis fotovoltaicos, que transformam energia solar em elé- trica, já está sendo preparado para funcionar também em automóveis. Embora seja complexa, a tecno- logia desenvolvida pelos especialis- tas da Unicamp pode ser explicada da seguinte maneira: basta colocar o etanol de um lado da máquina e usar a eletricidade que sai do outro. Para chegar a esse estágio, porém, uma equipe formada por físicos, quí- micos, engenheiros químicos, enge- nheiros mecânicos e engenheiros ele- tricistas teve que trabalhar duro. Se- gundo o professor Ennio Peres da Silva, coordenador do projeto, o e- quipamento é na realidade um sis- tema integrado, composto por um gerador de hidrogênio que utiliza o processo de reforma do etanol, uma unidade de purificação desse gás, uma célula a combustível e um in- versor que transforma a corrente elétrica contínua em alternada. Desses componentes, apenas a cé- lula a combustível foi importada. “O resto foi desenvolvido na Unicamp”, afirma o docente. De acordo com ele, o protótipo gera 300 W de energia. Mas os especialistas da Universida- de já estão trabalhando em dois no- vos equipamentos, com capacidade para produzir 1 kW e 5 kW. A idéia inicial é que os aparelhos sejam uti- lizados como substitutos de gerado- res de eletricidade a diesel e painéis fotovoltaicos. A vantagem da tecnologia desen- volvida pela Unicamp sobre os siste- mas convencionais é que, além de ser genuinamente brasileira (com exce- ção da célula a combustível), ela não polui e ainda usa matéria prima na- cional e renovável, que é o etanol ex- traído da cana-de-açúcar. “Embora ainda estejamos analisando os nichos em que o equipamento pode ser uti- lizado, uma das possibilidades é o atendimento de comunidades isola- das, que hoje não são servidas pela eletricidade. Isso vai ao encontro, por exemplo, do projeto de universali- zação do fornecimento de energia elétrica proposto pelo governo fede- ral”, explica o professor Ennio. Bomba de calor Pesquisadores da Faculdade de Engenharia Agrícola (Feagri) da U- nicamp acabam de desenvolver u- ma bomba de calor movida a biogás que se mostrou uma eficiente alter- nativa ao uso do gás e da energia elétrica para o aquecimento de água. O equipamento, que já tem três pro- tótipos diferentes, retira o calor do ar ou da água e o transfere para um reservatório. Como a temperatura da fonte original torna-se menor em razão dessa “captura”, o aparelho também tem a capacidade de produ- zir “frio” simultaneamente. “Trata- se de uma tecnologia que pode ser utilizada com vantagens, por exem- plo, em laticínios, para a produção de leite. No lugar de acionar dois equipamentos, um para resfriar e ou- tro para aquecer e pasteurizar o pro- duto, a empresa só teria a necessida- de de um”, explica Rodrigo Apare- cido Jordan, autor da tese de douto- rado que deu origem ao projeto. Orientado pelo professor Luiz Cor- tez, que também responde pela Co- ordenadoria de Relações Internacio- nais e Institucionais (Cori) da Uni- camp, Jordan está otimista quanto à aceitação da tecnologia por parte do mercado. Tanto é assim, que ele está criando uma empresa que ficará a- brigada na Incubadora de Empresas de Base Tecnológica (Incamp) da Universidade. De acordo com o pes- quisador, um dos protótipos tem ca- pacidade para aquecer a água a até 60 graus ou resfriá-la a até 8 graus nega- tivos. Ao se valer do biogás, cuja fonte pode ser o excremento do gado, a bomba de calor proporciona uma economia de até 90% em comparação ao uso da energia elétrica. Jordan está trabalhando no mo- mento em uma linha doméstica do equipamento. A idéia é que a bom- ba de gás seja empregada, a um só tempo, para aquecer a água usada no chuveiro e na cozinha e resfriar um cômodo da residência. “Num ciclo de três horas, é possível aque- cer 250 litros de água a 42 graus e manter um ambiente condicionado. Nesse caso, o consumo de energia elétrica do aparelho equivale a um terço do consumo do chuveiro”, com- para. Segundo ele, assim que a bom- ba de calor estiver sendo produzida em escala comercial, seu preço de- verá ser muito competitivo em rela- ção a outras tecnologias. Só para se ter uma idéia, o custo de um dos pro- tótipos girou em torno de R$ 900,00. “Creio que o equipamento deve che- gar ao mercado ao preço de R$ 1,5 mil ou R$ 2 mil”, calcula. O projeto con- tou com o financiamento da Fapesp e do Ministério das Minas e Energia. Dos laboratórios para a sociedade CLAYTON LEVY [email protected] MANUEL ALVES FILHO [email protected] Unicamp leva ao 3 Sal„o e FÛrum Nacional de InovaÁ„o TecnolÛgica e Tecnologias Aplicadas nas Cadeias Produtivas ñ Brasil TEC 2004 ñ, que ocorrer· entre os dias 17 e 20 de novembro, uma sÈrie de trabalhos desenvolvidos por pesquisadores da ·rea de tecnologia. Produtos, equipamentos e sistemas inovadores ser„o apresentados em forma de pÙsteres, vÌdeos e kits de experimentos em um estande medindo aproximadamente 120 metros quadrados, instalado no Centro de ConvenÁıes Anhembi, em S„o Paulo. A participaÁ„o no evento, promovido pelo MinistÈrio da CiÍncia e Tecnologia (MCT), È uma excelente oportunidade para a Universidade divulgar projetos que trazem impactos positivos para a sociedade, conforme o diretor executivo da AgÍncia de InovaÁ„o (Inova), Roberto Lotufo. ì… importante expor para a sociedade os resultados de nossas pesquisasî, diz Lotufo. ìO contribuinte p˙blico tem o direito de conhecer o retorno da parte do ICMS que È destinada ‡s universidadesî, acrescenta. Segundo ele, trata-se tambÈm de uma chance para que a Unicamp apresente ‡s agÍncias de fomento e aos diversos segmentos da ind˙stria, que estar„o representados no Sal„o, alguns resultados importantes das investigaÁıes cientÌficas conduzidas em seus laboratÛrios. O evento tem como objetivo divulgar produtos, serviÁos e processos desenvolvidos por universidades, centros de pesquisa, Ûrg„os governamentais e empresas privadas, demonstrando, na pr·tica, os resultados obtidos para inovaÁ„o tecnolÛgica aplicada ‡ cadeia produtiva. Sal„o representa, ainda, um estÌmulo aos pesquisadores, que se sentem recompensados por colaborar com o avanÁo tecnolÛgico do Brasil. Algumas novidades que a Unicamp leva ao 3º Salão Rodrigo Jordan, ao lado da bomba de uso industrial e doméstico (destaque): retirando o calor do ar ou da água Fotos: Antoninho Perri

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Universidade Estadual de Campinas – 16 a 21 de novembro de 2004 3

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Cadeira FEMA Unicamp solicitou recentemente

o registro da patente de um novo dis-positivo de segurança para o trans-porte de crianças em veículos auto-motores. Trata-se de uma placa fixa-da ao banco traseiro com o auxílio dopróprio cinto do automóvel, e dotadade cintos adicionais que asseguram aretenção da criança com um númeromaior de pontos. Os cintos extras, fa-bricados com material de qualidadede uso automotivo, são reguláveispara crianças entre 3 e 10 anos deidade, garantindo uma “ancoragem”de modo anatomicamente correto eimpedindo que elas se deitem ou fi-quem em pé no banco.

A concepção da “cadeira” desen-volvida na Faculdade de Engenha-ria Mecânica (FEM) da Unicamp,sob a coordenação do professor Cel-so Arruda, é simples. O dispositivose assemelha a uma mochila. Umaalça em cada ombro, e uma terceirana cintura, permitem que a criançafique apoiada de modo seguro nacadeira. O equipamento é preso aobanco com o auxílio do próprio cintode segurança do veículo, sendo querecortes nas laterais, por onde é tres-passada a alça vertical do cinto, ga-rante que este fique na altura do pei-to e não do pescoço.

“As cadeiras tradicionais aindasão as mais adequadas para criançasaté 3 anos, mas, a partir dessa idade,podem ser substituídas pelo novodispositivo com vantagens, sobretu-do no preço, que deve ficar em umterço daquele cobrado pelo similarmais barato do mercado”, afirma oprofessor Celso Arruda. No ensaiode campo, realizado na pista de pro-vas de uma montadora de carrosbrasileira, nas imediações de Cam-pinas, o dispositivo teve um excelen-te desempenho.

Para o teste, foi utilizado um bo-neco de peso e tamanho semelhan-tes ao de uma criança de seis anos.“Aproveitamos o ensaio de colisãotraseira de um Vectra contra um no-vo protótipo de pára-choque, a 50km/h. As imagens revelaram que aplaca não se deslocou em relação aobanco e que o deslocamento da ca-beça do boneco foi mínimo. O testeprovou que o conceito do uso deplaca está correto”, afirmou à épo-ca o professor Celso Arruda.

O próximo passo será o desen-volvimento do produto, que preci-sa ser testado e certificado pela As-sociação Brasileira de NormasTécnicas (ABNT) e Instituto Naci-onal de Metrologia (Inmetro) antesde chegar ao mercado. “Uma em-presa já demonstrou grande inte-resse em adquirir a licença, mashaverá a exigência de a Unicampacompanhar o processo de fabri-cação”, salienta o pesquisador.

Carro a hidrogênioO primeiro protótipo brasileiro de

um veículo elétrico movido a célu-las a combustível já está em fase fi-nal de testes. A nova tecnologia uti-liza o hidrogênio como fonte de e-nergia. O projeto, orçado em R$ 400mil, foi encomendado pelo Ministé-

rio de Minas e Energia e está sendoexecutado por pesquisadores Uni-camp em parceria com o Centro Na-cional de Referência em Energia doHidrogênio (Ceneh). Batizado deVega II, o carro deverá estar conclu-ído até o final do ano.

“A utilização das células a com-bustível como sistema de conversãode energia tem importância estraté-gica do ponto de vista ambiental eeconômico”, diz o físico Ennio Peresda Silva, coordenador do NúcleoInterdisciplinar de PlanejamentoEnergético (Nipe) da Unicamp. A-lém de não emitir poluentes, a tec-nologia permite reduzir a dependên-cia por combustíveis fósseis, como opetróleo. Segundo o pesquisador, oúnico subproduto obtido com a utili-zação do hidrogênio é o vapor d’água.

A célula a combustível é um dis-positivo eletroquímico que transfor-ma energia química do combustível(no caso o hidrogênio) em eletricida-de. Sua principal função é combinaro hidrogênio com o oxigênio, quepode ser retirado da atmosfera, paraa produção de energia elétrica. Oequipamento usado para desen-volver o protótipo da Unicamp temo tamanho aproximado dos mo-tores dos veículos de passeio. Im-portado dos Estados Unidos, temcapacidade para fazer funcionar,em conjunto com as baterias, umcarro de 25 KW. Essa potênciaequivale a um motor de 500cilindradas. “Não estamos preocu-pados com a potência por enquan-to. O principal objetivo é disponi-bilizar uma plataforma de testes pa-ra veículos elétricos que utilizemcélulas a combustível”, afirma o pro-fessor Ennio.

Para obter eletricidade a partir dohidrogênio, os veículos desta natu-reza contam com três alternativas:combustíveis fósseis, como gasolina

e gás natural; combustíveis geradosatravés da biomassa, como o etanol(álcool usualmente obtido a partirda cana-de-açúcar) e metanol (álcoolque pode ser produzido a partir doeucalipto); e o próprio hidrogênio naforma gasosa ou líquida. O protóti-po da Unicamp, abastecido por hi-drogênio gasoso, é do tipo híbrido,baseado na utilização simultânea debaterias e células a combustível.

Reformador de etanolO motorista chega num posto de

combustível e abastece o seu carrocom álcool. Ao acionar a ignição, oproduto não é injetado diretamenteno motor a combustão, como ocorreconvencionalmente, mas num reatorque o transformará em hidrogênio.Em seguida, o gás alimentará umacélula a combustível que, por meiode uma reação eletroquímica, geraráeletricidade e fará o veículo, dotadode motor elétrico, movimentar-se. Eo melhor tudo: sem contribuir paraa poluição atmosférica. A cena ain-da é imaginária, mas não deverá le-var mais do que uma década para setornar real. Pesquisadores do Labo-ratório de Hidrogênio (LH2) da Uni-camp construíram recentemente oprimeiro protótipo brasileiro de umreformador de etanol para a produ-ção de hidrogênio. O equipamento,que inicialmente deverá substituirgeradores de eletricidade movidosa diesel e painéis fotovoltaicos, quetransformam energia solar em elé-trica, já está sendo preparado parafuncionar também em automóveis.

Embora seja complexa, a tecno-logia desenvolvida pelos especialis-tas da Unicamp pode ser explicadada seguinte maneira: basta colocaro etanol de um lado da máquina eusar a eletricidade que sai do outro.Para chegar a esse estágio, porém,uma equipe formada por físicos, quí-

micos, engenheiros químicos, enge-nheiros mecânicos e engenheiros ele-tricistas teve que trabalhar duro. Se-gundo o professor Ennio Peres daSilva, coordenador do projeto, o e-quipamento é na realidade um sis-tema integrado, composto por umgerador de hidrogênio que utiliza oprocesso de reforma do etanol, umaunidade de purificação desse gás,uma célula a combustível e um in-versor que transforma a correnteelétrica contínua em alternada.

Desses componentes, apenas a cé-lula a combustível foi importada. “Oresto foi desenvolvido na Unicamp”,afirma o docente. De acordo com ele,o protótipo gera 300 W de energia.Mas os especialistas da Universida-de já estão trabalhando em dois no-vos equipamentos, com capacidadepara produzir 1 kW e 5 kW. A idéiainicial é que os aparelhos sejam uti-lizados como substitutos de gerado-res de eletricidade a diesel e painéisfotovoltaicos.

A vantagem da tecnologia desen-volvida pela Unicamp sobre os siste-mas convencionais é que, além de sergenuinamente brasileira (com exce-ção da célula a combustível), ela nãopolui e ainda usa matéria prima na-cional e renovável, que é o etanol ex-traído da cana-de-açúcar. “Emboraainda estejamos analisando os nichosem que o equipamento pode ser uti-lizado, uma das possibilidades é oatendimento de comunidades isola-das, que hoje não são servidas pelaeletricidade. Isso vai ao encontro, porexemplo, do projeto de universali-zação do fornecimento de energiaelétrica proposto pelo governo fede-ral”, explica o professor Ennio.

Bomba de calorPesquisadores da Faculdade de

Engenharia Agrícola (Feagri) da U-nicamp acabam de desenvolver u-

ma bomba de calor movida a biogásque se mostrou uma eficiente alter-nativa ao uso do gás e da energiaelétrica para o aquecimento de água.O equipamento, que já tem três pro-tótipos diferentes, retira o calor doar ou da água e o transfere para umreservatório. Como a temperaturada fonte original torna-se menor emrazão dessa “captura”, o aparelhotambém tem a capacidade de produ-zir “frio” simultaneamente. “Trata-se de uma tecnologia que pode serutilizada com vantagens, por exem-plo, em laticínios, para a produçãode leite. No lugar de acionar doisequipamentos, um para resfriar e ou-tro para aquecer e pasteurizar o pro-duto, a empresa só teria a necessida-de de um”, explica Rodrigo Apare-cido Jordan, autor da tese de douto-rado que deu origem ao projeto.

Orientado pelo professor Luiz Cor-tez, que também responde pela Co-ordenadoria de Relações Internacio-nais e Institucionais (Cori) da Uni-camp, Jordan está otimista quanto àaceitação da tecnologia por parte domercado. Tanto é assim, que ele estácriando uma empresa que ficará a-brigada na Incubadora de Empresasde Base Tecnológica (Incamp) daUniversidade. De acordo com o pes-quisador, um dos protótipos tem ca-pacidade para aquecer a água a até 60graus ou resfriá-la a até 8 graus nega-tivos. Ao se valer do biogás, cuja fontepode ser o excremento do gado, abomba de calor proporciona umaeconomia de até 90% em comparaçãoao uso da energia elétrica.

Jordan está trabalhando no mo-mento em uma linha doméstica doequipamento. A idéia é que a bom-ba de gás seja empregada, a um sótempo, para aquecer a água usadano chuveiro e na cozinha e resfriarum cômodo da residência. “Numciclo de três horas, é possível aque-cer 250 litros de água a 42 graus emanter um ambiente condicionado.Nesse caso, o consumo de energiaelétrica do aparelho equivale a umterço do consumo do chuveiro”, com-para. Segundo ele, assim que a bom-ba de calor estiver sendo produzidaem escala comercial, seu preço de-verá ser muito competitivo em rela-ção a outras tecnologias. Só para seter uma idéia, o custo de um dos pro-tótipos girou em torno de R$ 900,00.“Creio que o equipamento deve che-gar ao mercado ao preço de R$ 1,5 milou R$ 2 mil”, calcula. O projeto con-tou com o financiamento da Fapespe do Ministério das Minas e Energia.

Dos laboratórios para a sociedadeCLAYTON [email protected]

MANUEL ALVES [email protected]

Unicamp leva ao 3�Sal„o e FÛrum Nacional

de InovaÁ„o TecnolÛgica eTecnologias Aplicadas nasCadeias Produtivas ñ Brasil TEC2004 ñ, que ocorrer· entre osdias 17 e 20 de novembro, umasÈrie de trabalhosdesenvolvidos porpesquisadores da ·rea detecnologia. Produtos,equipamentos e sistemas

inovadores ser„oapresentados em forma depÙsteres, vÌdeos e kits deexperimentos em umestande medindoaproximadamente 120metros quadrados,instalado no Centro de

ConvenÁıes Anhembi, em S„oPaulo. A participaÁ„o no evento,promovido pelo MinistÈrio daCiÍncia e Tecnologia (MCT), Èuma excelente oportunidadepara a Universidade divulgarprojetos que trazem impactospositivos para a sociedade,conforme o diretor executivo da

AgÍncia de InovaÁ„o (Inova),Roberto Lotufo.

ì… importante expor para asociedade os resultados denossas pesquisasî, diz Lotufo.ìO contribuinte p˙blico tem odireito de conhecer o retorno daparte do ICMS que È destinada‡s universidadesî, acrescenta.Segundo ele, trata-se tambÈm deuma chance para que a Unicampapresente ‡s agÍncias defomento e aos diversossegmentos da ind˙stria, queestar„o representados no Sal„o,alguns resultados importantesdas investigaÁıes cientÌficas

conduzidas em seuslaboratÛrios.

O evento tem como objetivodivulgar produtos, serviÁos eprocessos desenvolvidos poruniversidades, centros depesquisa, Ûrg„osgovernamentais e empresasprivadas, demonstrando, napr·tica, os resultados obtidospara inovaÁ„o tecnolÛgicaaplicada ‡ cadeia produtiva.Sal„o representa, ainda, umestÌmulo aos pesquisadores,que se sentem recompensadospor colaborar com o avanÁotecnolÛgico do Brasil.

Algumas novidades que a Unicamp leva ao 3º Salão

Rodrigo Jordan, ao lado da bomba de uso industrial e doméstico (destaque): retirando o calor do ar ou da água

Fotos: Antoninho Perri