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ALTERNATIVA TECNOLÓGICA PARA SUPERAÇÃO DAS FRONTEIRAS GEOGRÁFICAS NAS INSTITUIÇÕES MULTICAMPI
ALTERNATIVE TECHNOLOGY FOR OVERCOMING THE GEOGRAPHICAL
BOUNDARIES IN INSTITUTIONS MULTICAMPI
Egeslaine de Nez (Universidade do Estado de Mato Grosso/Colider/MT) [email protected]
RESUMO: As universidades se deparam atualmente com uma série de desafios que são resultado das mudanças que as recentes alterações econômicas, científicas, políticas e sociais imprimiram na contemporaneidade. No caso brasileiro, desde os anos oitenta, os movimentos sociais, passaram a lutar pela expansão da Educação, e no caso aqui, especificamente da Educação Superior. Assim, muitas instituições surgiram com uma estrutura diferenciada para a expansão quantitativa, os espaços multicampi. Esse artigo tem como objetivo identificar as dificuldades vivenciadas pelas instituições multicampi, em especial pela Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat) e indicar caminhos alternativos para superação desses entraves a partir do uso das tecnologias. Os procedimentos metodológicos utilizados para a coleta de dados foram a pesquisa bibliográfica e de campo com entrevistas aplicadas a vinte e um líderes de grupos de pesquisa distribuídos em vários campi da instituição, constituindo um estudo de caso da instituição estudada. A abordagem de análise dos dados foi a partir da análise de conteúdo, além de aporte quali/quantitativo. Os dados coletados sinalizam para a utilização das tecnologias enquanto alternativa para superação das fronteiras geográficas que são enormes na Unemat. Isso pode acontecer através de teleconferência para reuniões, encontros e workshops, tanto relacionados à questão da gestão administrativa dos campi, quanto relativos a parte pedagógica, no que diz respeito a articulação dos pesquisadores para a consolidação da pesquisa. Considera-se, finalmente, que existem vantagens no modelo multicampi, entretanto, a dispersão geográfica de unidades institucionais cria dificuldades de natureza administrativa e de gestão acadêmica, além da problemática da comunicação entre os campi. PALAVRAS-CHAVE: Universidade, Multicampia, Tecnologias. ABSTRACT: The universities are faced today with a series of challenges that are a result of changes that recent economic changes, scientific, and social policies in contemporary printed. In the Brazilian case, since the eighties, social movements, began to fight for the expansion of education, and in the case here, specifically Higher Education. So many institutions have come up with a differentiated structure for quantitative expansion, the spaces multicampi. This article aims to identify the difficulties experienced by multicampi institutions, particularly the University of Mato Grosso (Unemat) and indicate alternative ways to overcome these barriers through the use of technology. The methodological procedures used for data collection were the literature and interviews with field applied to twenty-one leaders of research groups distributed at various campi of the institution, providing a case study of the institution studied. The approach to data analysis was based on the analysis of
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content, in addition to supply quality/quantity. The collected data point to the use of technology as an alternative to overcome geographical boundaries that are huge in Unemat. This can happen through teleconference meetings, and workshops, both related to the issue of the administrative management of the campi, as related to the teaching, as far respect articulation of researchers for the consolidation of research. It is, finally, that there are advantages in multicampi model, however, the geographical dispersion of units creates difficulties institutional administrative and academic management, in addition to the problem of communication between the campi.
KEY-WORDS: University Multicampia, Technologies.
PALAVRAS INICIAIS
A sociedade modifica-se rapidamente numa velocidade típica de momentos
de crise. Vive-se, em apenas uma geração, transformações profundas que afetam o
cotidiano de forma irreversível. Para Pretto (2000), o momento atual está marcado
por tendências de ordem econômica, cultural e social que geram desafios
conflitantes e interferem no destino das nações. Neste contexto, o presente trabalho
tem como objetivo a pertinência da temática elegida, que é ressaltada pelo uso das
tecnologias e seus desdobramentos no universo da Educação Superior.
A transnacionalização econômica, bem como as propostas hipermodernas
(LIPOVETSKY, 2004) de cultura e os movimentos sociais em busca de espaço na
sociedade, apesar de colidirem, recorrem à Educação e veem nela um meio para
atingir seus objetivos. Dessa forma, como produto, bem ou serviço, converte-se num
alicerce central, não confinada ao espaço escolar, mas ampliada para os processos
gerais da formação profissional, eleita como fator estratégico na construção de uma
outra sociedade (SILVA e GENTILI, 1996).
Nessa situação emblemática, encontra-se a universidade brasileira, que tem
como princípios o ensino, a pesquisa e a extensão, em uma premissa de
indissociabilidade. Segundo Botomé (1996) é imprescindível “uma compreensão
unívoca do que venha a ser o objetivo da Universidade, sem o que não poderíamos
saber para onde ela caminha e para onde deveria caminhar” (p. 46).
Assim, sua finalidade deveria ser a produção do conhecimento, bem como a
sua respectiva acessibilidade, possibilitando à sociedade agir adequadamente
quando defrontada com as limitações impostas pela realidade. Em outras palavras,
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significa dizer: produção e socialização de conhecimentos que subsidiem a
melhoria das práticas sociais.
Atualmente, as universidades se deparam com uma série de desafios que são
resultado das mudanças que essas alterações econômicas, científicas, políticas e
sociais imprimiram na contemporaneidade. No caso brasileiro, desde os anos
oitenta, os movimentos sociais, passaram a lutar pela democratização da sociedade
e da educação, e a expansão foi uma obrigatoriedade para o governo federal e/ou
estadual.
Muitas instituições de Educação Superior (IES) surgiram alternativamente
com uma estrutura diferenciada, os espaços multicampi, esse artigo tem como
objetivo identificar as dificuldades vivenciadas por essas instituições multicampi, em
especial pela Universidade do Estado de Mato Groso (Unemat) e indicar caminhos
para superação desses entraves com o uso das tecnologias.
Por fim, é necessário destacar a relevância científica deste estudo, haja vista
que muitas instituições adotaram a configuração multicampi, suprindo lacunas de
acesso à Educação Superior brasileira, porém trouxeram junto com a proposta
algumas dificuldades imanentes à distribuição geográfica.
1 CONCEITUANDO A MULTICAMPIA
Etimologicamente, a palavra multicampi se compõe da partícula multi (latim
multus) que corresponde a muitos; adicionada a campus (latim) palavra masculina
da segunda declinação, que significa o conjunto de edifícios e terrenos de uma
instituição. No dicionário de Houaiss e Villar (2009), a definição da primeira parte da
palavra é relativa à quantidade; e o segundo termo não difere do significado
etimológico.
Num sentido restrito, campus é um espaço delimitado e exclusivo, onde se
reúnem os edifícios de uma universidade, podendo estar situado em qualquer lugar
dentro ou fora dela. Para Cunha (1998) a ideia-limite consiste no território que reúne
todas as instalações de uma IES. Mas, o conceito comporta outra significação
ampliada, o sentido acadêmico: lócus da produção intelectual. Com o tempo, a
palavra perdeu este significado em substituição a ideia de localização geográfica. A
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partir dos anos sessenta, ganha no Brasil, também o significado de distanciamento
em relação aos centros urbanos.
Buarque (1994) discute que há outros elementos implícitos no conceito de
campus como lócus da produção intelectual no sentido original do termo. Sendo
manifestas duas acepções: física-espacial (assentamento de uma estrutura e de
referência para indicar o distanciamento dos centros urbanos) e acadêmica
(localização de uma determinada base da produção intelectual).
As posturas teóricas sobre a conceituação permitem evidenciar reflexões
acerca da trajetória de sentidos atribuídos consecutivamente à palavra multicampi,
tais como: quantidade, localização geográfica, e lugar da produção científica. Isso
proporciona um encontro das dimensões relativas à estrutura organizacional e a
dispersão físico-territorial para categorizar uma instituição com essas características.
Fialho (2005) constata que a designação multicampi faz supor algo a mais do
que a simples referência ao número de campus ou sua localização territorial. Ou
seja, na configuração do modelo universitário, bem como na perspectiva histórica
das IES, em geral e, particularmente, na história da universidade brasileira com essa
característica, o sentido de organicidade torna-se basilar.
Boaventura (1987) também incorpora essas reflexões quando indica que a
importância na constituição de uma universidade é a sua marca regional, isto é, “a
formação de campus se dá a partir de características profundamente regionais” (p.
32). Isso significa dizer que as instituições multicampi não podem ser definidas
apenas por seu modelo organizacional, mas também e concomitantemente pela sua
inserção geográfica numa região. Compreender essa expressão, portanto, não é
mera questão semântica ou formalidade, vai muito além, tem origem epistemológica.
As universidades multicampi favorecem a interiorização da Educação
Superior, pois cada campi é sede da universidade. Devem, para Lauxen (2006)
possuir características administrativas próprias e autonomia de recursos, bem como
de particularidades acadêmico-científicas, de modo a integrarem-se entre suas
unidades, relacionando-se intensamente com o contexto regional da qual faz parte.
Sinteticamente, pode-se considerar que uma instituição multicampi é uma
universidade geograficamente dispersa, mas economicamente autônoma e eficiente;
é uma administração complexa, com uma sede, interligando-se com os vários campi,
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sem esquecer-se de suas dimensões regionais. Fialho (2005) sinaliza que são
caracterizadas como instituições que apresentam ampla cobertura no território
estadual mediante a sua presença em um significativo número de municípios.
Nesse contexto, Nez e Silva (2012) esclarecem que se pode destacar a
introdução, no cenário brasileiro, desde longa data, do fenômeno organizacional
multicampi das instituições, predominante em universidades públicas estaduais e em
algumas instituições privadas. O termo remete a uma concepção de universidade
com uma estrutura organizacional distribuída em vários espaços geográficos, sem
estabelecimento de ordem de importância para qualquer um deles.
Para Fialho (2005) porém, existem desvantagens nesse modelo, já que essa
“dispersão geográfica de unidades institucionais cria dificuldades de natureza
administrativa e de gestão acadêmica. Emergem problemas referentes à construção
de uma identidade orgânica da instituição, com reflexos negativos no seu
desempenho” (p. 13). Além disso, começa-se aqui a se esquadrinhar a problemática
da comunicação entre os campi, que é o mote de discussão deste estudo.
2 UNEMAT: UMA INSTITUIÇÃO MULTICAMPI
Cumpre trazer à reflexão, nesse momento, o espaço da reflexão desse artigo
que é a Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat), instituída pela lei
complementar N.º 30/1993. É uma entidade de direito público, com autonomia
didático-científica, administrativa, financeira e disciplinar, denominada Fundação
Universidade do Estado de Mato Grosso, e rege-se pelo estatuto, regimento geral e
pelas resoluções de seus conselhos (ZATTAR, 2008).
A instituição está inserida neste Estado há trinta e cinco anos, com sede em
Cáceres, no Pantanal mato-grossense, na margem esquerda do rio Paraguai, de
onde se alavancou para todas as regiões (ver figura 01). Segundo Zattar (2008) teve
uma trajetória dedicada à formação de professores da Educação Básica de todo o
Estado e da região centro-oeste do país. Está distribuída geograficamente nas doze
macrorregiões do Estado definidas na Política MT+20, levando aos mais longínquos
lugares, oportunidade de acesso ao conhecimento.
Segundo o Plano de desenvolvimento institucional 2008/2014 (2008), como
instituição pública de oferta de Educação Superior em Mato Grosso, a Unemat tem
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como compromisso o atendimento das necessidades das comunidades onde está
inserida com prestação de serviços gratuitos. Isto se assenta na justificativa de que
para algumas regiões geoeducacionais, é a única possibilidade para alunos do
Ensino Médio e Profissionalizante, que sem a qualificação necessária não
conseguem continuar seus estudos noutros centros.
Atualmente, segundo o Anuário Estatístico (2012), a Unemat está presente
em cento e dezessete dos cento e quarenta e um municípios mato-grossenses, com
onze campi, dez núcleos pedagógicos e seis pólos de ensino a distância. Os campi
universitários são: Cáceres (sede), Alta Floresta, Alto Araguaia, Barra do Bugres,
Colider, Juara, Luciara, Nova Xavantina, Pontes e Lacerda, Sinop e Tangará da
Serra, e atendem a todas as regiões do Estado, conforme pode ser visualizado na
figura 01.
Figura 01 – Mapa da distribuição geográfica dos Campi da UNEMAT
Fonte: Nez (2011).
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Só para se ter ideia da distância territorial envolvida na Unemat, existe entre
os campi universitários uma diferença geográfica enorme. Pode-se usar como
referência a sede que está localizada em Cáceres e o campus que se encontra mais
ao norte do Estado que é Alta Floresta. A distância entre eles é de aproximadamente
1.000 km. Para vencer as barreiras geográficas impostas pela gigantesca extensão
territorial, a instituição se utiliza de uma estrutura diferenciada que é a multicampia.
Até no ano de 1990, a Unemat, na época denominada Fundação Centro de
Ensino Superior de Cáceres (FCESC), possuía apenas dois cursos de Licenciatura
Plena (Letras e Pedagogia) e dois de Licenciatura Curta (Ciências e Estudos
Sociais), ofertados no município de Cáceres. Zattar (2008) indica que com a
ampliação do sistema de ensino local e regional, surgem novas escolas de Ensino
Fundamental e Médio, indicando a necessidade de contratação de profissionais
habilitados para atuarem nas diversas áreas do conhecimento. Foram criados,
posteriormente, outros cursos objetivando atender essa demanda e a instituição tem
sua atuação, hoje, voltada para o interior do Estado de Mato Grosso.
A lógica das universidades multicampi, como a Unemat, é a expansão em
unidades sem perder sua identidade institucional. Fialho (2005) destaca que essa
estratégia de crescimento produz dois elementos estruturantes, um é a organização
acadêmica de base; e o outro é a dimensão regional que assume no atendimento à
necessidade de Educação Superior das regiões atendidas.
Sobre a oferta de Educação Superior, o Anuário Estatístico (2012) informa
que cerca de treze mil e setecentos acadêmicos são atendidos em sessenta e nove
cursos de graduação, sendo quarenta e quatro regulares e os demais em
modalidades diferenciadas. O ensino regular se constitui de licenciaturas e
bacharelados e atende às demandas de Mato Grosso e sua inserção regional, cada
campi apresenta suas particularidades com relação ao ensino e a Pós-graduação.
Essas são ações pioneiras do Estado para atender às demandas regionais
específicas e constituem frentes de trabalho que fazem do ensino uma atividade
responsável na Unemat, isso possibilita o pleno cumprimento de sua função social.
Segundo Zattar, Tavares e Artioli (2010), no contexto mato-grossense, a instituição
atua na formação de professores e bacharéis, nas diferentes áreas do saber, na
construção da cidadania e no desenvolvimento do Estado.
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3 O QUE O ESTUDO REVELOU
A pesquisa apresentada fundamentou-se na interlocução com a realidade
educacional mato-grossense e no levantamento de hipóteses que visavam
aprofundar estudos sobre a questão da multicampia. Organizou-se, inicialmente, a
partir de uma rede de pressupostos que definiram a concepção de universidade que
permeiam essa problemática, fazendo com que seja interpretada sob a perspectiva
de uma leitura não ingênua, mas crítica do uso das tecnologias para superação das
dificuldades existentes.
Os procedimentos metodológicos utilizados para a coleta de dados foram a
pesquisa bibliográfica e de campo com entrevistas aplicadas aos líderes de grupos
de pesquisa em vários campi da instituição, constituindo um estudo de caso (GIL,
2009) da Unemat. A abordagem de análise dos dados foi a análise de conteúdo
(BARDIN, 1977), além de aporte quali/quantitativo (GAMBOA, 1995) nas reflexões
sobre a multicampia e o uso das tecnologias.
O instrumento de coleta de dados foi uma entrevista realizada in loco nos
campi da Unemat, na tentativa de compreender a dificuldade de deslocamento de
um espaço para outro. Conforme já salientado, a instituição atende a uma grande
faixa territorial em sua estrutura multicampi, demonstrado no mapa da figura 01.
Desta forma, se evidencia a problemática relativa às distâncias geográficas
entre a sede e os diversos campi. Na execução desta pesquisa, apenas o campus
de Alto Araguaia não recebeu visita da entrevistadora, pois os pesquisadores
contatados não se dispuseram a atendê-la pessoalmente, e um deles o fez via
email. Em Cáceres foram realizados dois momentos de visitas para entrevistas (um
no primeiro e o outro no segundo semestre de 2012), e nos outros campi gastou-se
apenas um dia para entrevistar os líderes.
Foram entrevistados no total vinte e um líderes de grupos de pesquisa, que
podem ser visualizados no quadro a seguir que apresenta a distribuição nos campi
da instituição.
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Quadro 01 – Distribuição da amostra por campi universitário CAMPI QUANTIDADE DE
ENTREVISTADOS Cáceres (sede) 07 Barra do Bugres 04 Nova Xavantina 03 Sinop 03 Alta Floresta 01 Alto Araguaia 01 Tangará da Serra 01 Colider 01 Total 21
Fonte: Pesquisa de campo com líderes dos grupos na Unemat (2012).
Com relação à área edificada, os três maiores campi são respectivamente
Cáceres, Tangará da Serra e Pontes e Lacerda, e o menor deles é Luciara, que não
possui grupo de pesquisa cadastrado, por isso não foi elencado como um dos
espaços a serem visitados.
Percebe-se, que a maior quantidade de entrevistados foi na sede (Cáceres)
que tem o maior espaço físico, além de enorme quantidade de oferta de vagas para
a Educação Superior na Unemat. Das três maiores unidades acadêmicas, apenas a
de Pontes e Lacerda não foi contemplada com visita e entrevistas com os líderes de
grupos de pesquisa.
Sobre a amostra escolhida a partir do catálogo de dos grupos de pesquisa
(2010), apenas seis eram do sexo feminino, e o restante (quinze) eram do sexo
masculino. Com relação à titulação acadêmica, quatro eram mestres, treze doutores
e os outros quatro eram pós-doutores.
Sobre às áreas do conhecimento contempladas com as entrevistas,
destacam-se que foram: Engenharias, Ciências Exatas e da Terra, Ciências
Biológicas e Ciências da Saúde. Todos possuem grupo de pesquisa cadastrado no
Diretório de Grupos de Pesquisa no Brasil organizado pelo Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
Uma das questões, dentro do extenso rol que tratava sobre a Pós-graduação
na instituição, solicitava aos entrevistados opiniões relativas a estrutura multicampi
da Unemat, buscando compreender se facilitava ou não o desenvolvimento da
pesquisa (categoria - operacional) e quais as possíveis saídas (categoria - soluções)
para o seu desvelamento.
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As respostas caminharam para esclarecimentos acerca do questionamento
e podem ser verificados na tabela a seguir:
Tabela 01 – Sobre a estrutura multicampi da instituição
Respostas enunciadas
Quantidade de respondentes
Categoria operacional: • Articulação dos grupos 05 • Descentralização de decisões 02 • Fomento de parcerias 01 • Isonomia entre os campi 01
Categoria soluções: • Uso da tecnologia 06 • Divisão da instituição 01
Não responderam 05 Total geral 21
Fonte: Pesquisa de campo com líderes dos grupos na Unemat (2012).
A categoria operacional inclui proposições afirmativas sobre a multicampia
como possibilidade de articulação dos grupos de pesquisa, descentralização de
decisões administrativas, fomento de parcerias entre os pesquisadoresda Unemat e
de outros centros acadêmicos de pesquisa e a isonomia entre os campi, todos esses
elementos corroboram para a consolidação da pesquisa na instituição.
Já com relação a categoria soluções para as dificuldades das IES multcampi,
os dados coletados sinalizam para a utilização das tecnologias enquanto alternativa
para superação das fronteiras geográficas que são enormes na Unemat. Segundo
os entrevistados isso pode acontecer através de teleconferência para reuniões,
encontros e workshops, tanto relacionados à questão da gestão administrativa,
quanto relativos a parte pedagógica.
Considera-se, então, que existem vantagens no modelo multicampi,
entretanto, a dispersão geográfica de unidades institucionais da Unemat cria
dificuldades de natureza administrativa e pedagógica, além da problemática da
comunicação entre os campi, que se torna o nó da questão em detrimento das
grandes extensões territoriais envolvidas.
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PALAVRAS FINAIS
A partir do levantamento bibliográfico realizado com vistas à discussão acerca
da expansão através da multicampi na Unemat, e a tentativa de busca de
alternativas que impliquem na possibilidade de encaminhamentos que possam
melhorar o seu desenvolvimento, indica-se que a instituição encontra-se numa
situação emblemática por conta das questões geográficas, conforme alentado pelos
entrevistados na pesquisa de campo.
Cunha (2001) alerta que para pensar uma universidade voltada para o futuro
é necessário refletir e antecipar as possibilidades de organização política e social,
entendendo que a universidade não é uma “ilha de neutralidade” mas que, muito
antes, suas alternativas serão sempre imbricadas naquelas que podem ser
viabilizadas na macro-estrutura sócio-politica-econômica do país e da região onde
está inserida, e nesse estudo de caso no Estado de Mato Grosso.
As referências evidenciadas ao longo desta pesquisa revelam que a
articulação entre as dimensões acadêmicas, organizacionais e espaciais atua como
uma variável importante para com a funcionalidade do modelo universitário
multicampi.
Diante dos resultados obtidos, constatou-se que da estratégia multicampi,
dois elementos estruturantes podem ser destacados, o primeiro é a organização
acadêmica e o segundo é a dimensão regional, que atendem os acadêmicos de
comunidades que não tinham acesso a universidade. Essas regiões atendidas pela
multicampia, quase sempre estão dentro do limite de um determinado estado.
Todavia, como visto algumas das definições da multicampia potencializam a
ideia de quantidade de unidades físicas de uma universidade. Desta forma, a
Unemat através de sua expansão desenhada a partir da década de noventa, atende
fielmente à caracterização de uma instituição multicampi, com relação à quantidade
de campi.
Finalmente, é possível enfatizar que existem inúmeras vantagens na
utilização da estruturação universitária multicampi, porém o grande desafio é a
superação das distâncias geográficas com o uso das tecnologias para o avanço da
articulação da instituição acerca da consolidação da pesquisa e da Pós-graduação.
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A Unemat está trabalhando incisivamente para que isso possa ocorrer,
concretizando ações de suporte de rede para as teleconferências e demais
aplicativos, a previsão é que para o ano de 2014 isso esteja solucionado e faça
frente às novas atividades a serem desenvolvidas pela instituição que deve ser de
excelência em função da importância do espaço territorial de sua atuação.
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