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ANÁLISE COMPARATIVA DOS CUSTOS DE IMPORTAÇÃO E CUSTOS DE
AQUISIÇÃO DE MATÉRIA PRIMA NO BRASIL: UM ESTUDO DE CASO EM UMA
ORGANIZAÇÃO INDUSTRIAL DE EMBALAGENS PLÁSTICAS
Patrícia Rodrigues de Carvalho1
Vinícius C. da S. Zonatto 2
Resumo:
Este estudo teve como objetivo identificar qual a alternativa mais viável para aaquisição da principal matéria prima utilizada por uma indústria de embalagensplásticas, entre as opções de importação do produto ou aquisição no mercadointerno. A metodologia utilizada na pesquisa é caracterizada como um estudo decaso, de natureza descritiva, com abordagem quantitativa dos dados. Os resultadosencontrados indicam que a principal matéria prima utilizada pela organização é aresina. Apesar desta não considerar os gastos com transporte adicional (entrepostos), armazenagem (depósito) e acondicionamento dos produtos, além doscustos financeiros de manutenção dos estoques (custos de oportunidade) naapuração dos custos de importação, a aquisição deste produto no mercado externoproporcionou um menor custo de aquisição do produto. Conclui-se que, no casoanalisado, a importação foi a alternativa mais viável para a empresa. Recomenda-sea organização que esta inclua os gastos identificados neste estudo, em análisesfuturas de viabilidade de aquisição de seus produtos.
Palavras-Chave: Importação. Gestão de Custos. Custos logísticos.
Abstract:
This study had the objective to identify the most viable alternative of acquisition of themain raw material used in a plastic packaging industry, among the options to importor purchase in the domestic market. The methodology used in the research ischaracterized as a “case study”, descriptive, with quantitative data approach. Theresults indicate that the main raw material used by the organization is the resin.Although this does not consider the additional transportation expenses (between thewarehouse and the company), storage costs, and financial costs of maintaining stock(opportunity costs), in determining the importation costs, the purchase of this productin foreign markets provided a lower purchase cost. I concluded that, in the analyzedcase, the importation was the most viable alternative for the company. It isrecommended that this organization includes the expenses identified in this study, forfurther analysis of the feasibility of purchasing their products.
Key-Words: Importation. Cost management. Logistics costs.
1 Graduanda do Curso de Ciências Contábeis da Faculdade Dom Alberto.2 Professor Orientador, Doutorando em Ciências Contábeis e Administração e Mestre em CiênciasContábeis (FURB).
1 Introdução
Com o advento da globalização o mercado tornou-se muito competitivo,
fazendo com que diversas organizações e países se movimentem em busca de
vantagens competitivas. Essas organizações vão atrás de mecanismos que
propiciem a redução de custos e a maximização de seus resultados, para que assim
possam se diferenciar dos seus concorrentes.
Na busca pela sustentabilidade econômica e financeira, algumas
organizações optam por adquirirem produtos, insumos ou matérias primas no
mercado externo. Esta motivação pode estar relacionada a diversos fatores, como a
qualidade do produto, a escassez dos mesmos em seu local de instalação, bem
como, custos de aquisição mais vantajosos.
No entanto, ao que se refere aos custos de aquisição, ao importar um
determinado produto, o gestor deve atentar a uma série de outros gastos adicionais
que decorrem desta operação e que nem sempre são tão perceptíveis. Nesta
perspectiva, Brito (2004) destaca que os custos de importação vão além da análise
dos custos de aquisição do produto, bem como do transporte e demais impostos
incidentes e/ou taxas aduaneiras. Compreendem ainda gastos com armazenagem,
transporte e restrição de capacidade de armazenamento, custos financeiros de
manutenção dos estoques, entre outros.
Desta forma, pode-se perceber que a análise dos custos de importação torna-
se relevante para as organizações, uma vez que em determinado momento, tais
gastos podem inviabilizar essa operação. Neste contexto, buscando-se contribuir
para com a melhoria dos processos de gestão de uma organização industrial de
embalagens plásticas, busca-se neste estudo identificar qual a alternativa mais
viável para a aquisição da principal matéria prima utilizada pela organização, entre
as opções de importação do produto ou aquisição no mercado interno.
A questão problema que norteia a pesquisa é: A importação de matéria prima
por uma indústria brasileira de embalagens plásticas é mais viável do que a
aquisição desse produto no mercado interno? De forma mais específica, busca-se: i)
identificar a matéria prima mais utilizada pela empresa; ii) verificar os custos de
importação de um lote deste produto, bem como os custos de aquisição no mercado
interno; e, iii) analisar os custos adicionais decorrentes do processo de importação.
O estudo justifica-se por apresentar uma contribuição prática para com a
organização e está estruturado da seguinte forma: além desta introdução,
apresenta-se a seguir, a fundamentação teórica do estudo. Na seqüência, descreve-
se o método e os procedimentos da pesquisa. Por fim, são apresentados os
resultados e as considerações finais do estudo.
2. Referencial Teórico
2.1 O Processo de Importação
Segundo Maia (2007), desde épocas pré-históricas o ser humano tinha que
satisfazer algumas necessidades básicas para sua sobrevivência. Com isso o
homem começou á perceber que para satisfazê-las era necessário possuir bens. O
problema é que a natureza nem sempre tornou esses itens suficientes, sendo o
homem obrigado á produzi-los ou adquiri-los de algum outro lugar onde esses
recursos eram mais abundantes.
A busca por recursos (produtos, insumos ou matérias primas), fora das
divisas de determinado País é denominada de processo de importação (VASQUEZ,
2004). De acordo com Faria, Tomoyose e Ruiz (2010, p. 1), “a necessidade de
importações decorre da escassez da matéria-prima ou material secundário. Apesar
de o Brasil ser um País rico em recursos minerais, existe a necessidade de importar
outros produtos extrativos”.
Mesmo que haja produção de determinado produto no próprio País, existem
outras razões que podem motivar uma importação. Nesta perspectiva, Lopes e
Gama (2002) explicam que as importações estão relacionadas ao aprimoramento da
qualidade dos produtos, insumos ou matérias primas; a incorporação de tecnologia;
a redução dos custos de produção; e, a aquisição de novas ideias que possibilitem o
crescimento empresarial.
Desta forma pode-se verificar que por meio dos processos de importação,
uma organização pode obter vantagem competitiva frente a seus concorrentes.
Contudo, para que se possa efetuar uma importação, uma organização deve
observar uma série de exigências, decorrentes do atendimento a normas comerciais,
cambiais e fiscais vigentes (MDIC, 2010). O Quadro 1 sintetiza as principais
atividades decorrentes do processo de importação.
Observa-se no Quadro 1, que são várias as atividades desenvolvidas durante
o processo de importação pelas empresas. Para estas, torna-se necessário a
identificação dos gastos decorrentes de cada atividade, a fim de se identificar o
custo efetivo da importação. O processo de importação como um todo é
acompanhado desde o início pelas autoridades locais, as quais podem autorizar ou
não a importação.
Após a obtenção da autorização, a empresa pode efetuar a operação. Caso
contrário, a mesma deve ser cancelada. Sendo viável economicamente e estando
autorizada, o processo de importação é viabilizado por meio da atividade logística,
tema apresentado a seguir.
2.2 A Atividade Logística e a Gestão de Custos em Operações Logísticas
A logística é a essência do comércio global, contribuindo para melhorar o
padrão econômico de vida geral das pessoas e das organizações. Através da
logística, o comércio mundial se beneficia do fato de não serem as terras e as
pessoas que vivem nelas uniformemente produtivas. De acordo com o Council of
Logistics Management (CLM), a atividade logística pode ser entendida como o
“processo de planejamento, implantação e controle de fluxo eficiente e eficaz de
mercadorias, serviços e informações relativas desde o ponto de origem até o ponto
de consumo, com o propósito de atender às exigências dos clientes” (BALLOU,
2006, p. 27).
De maneira geral, pode-se verificar que a atividade logística, além de atender
as necessidades das organizações, cumpre uma função social, contribuindo para
com a melhoria da qualidade de vida das pessoas, levando insumos, matérias
primas e produtos a diferentes locais, gerando emprego e renda. No entanto, do
ponto de vista das organizações que utilizam os serviços logísticos, este processo
como um todo deve ser constantemente avaliado, visto que apresenta um
determinado custo, o qual deve ser ponderado pelo gestor, quando da realização de
seus investimentos, a fim de se identificar de que forma torna-se possível obter
produtos a um menor custo.
Já o gerenciamento logístico pode proporcionar uma fonte de vantagem
competitiva para as organizações, ou seja, uma posição de superioridade sobre os
concorrentes. De acordo com Christopher (2002, p. 9), “a fonte da vantagem
competitiva é encontrada na capacidade de organização e na capacidade de operar
a baixo custo, e, portanto, com mais lucro”. No caso de operações relacionadas a
processos de importação e/ou exportação de produtos, a logística contribui
significativamente para com as organizações, por meio do transporte de mercadorias
entre um local de origem e outro de destino. A Figura 1 apresenta o fluxo do
processo de importação ou exportação, de acordo com Brito (2004).
Figura 1: Fluxo de materiais e locais de ocorrência dos custos de importação
Fonte: Adaptado de Brito (2004)
Segundo o autor, uma organização ao importar ou exportar determinado
produto, incorre numa série de gastos, que nem sempre são perceptíveis pelo
gestor. Além dos custos tradicionais de aquisição dos produtos (com fornecedores),
bem como os demais gastos decorrentes do transporte, impostos incidentes e/ou
taxas aduaneiras (2 e 4), as empresas ainda podem incorrer em outros gastos,
relacionados a necessidade de transporte adicional (entre postos), armazenagem
(depósito) e acondicionamento dos produtos (1, 3 e 5), além dos custos financeiros
de manutenção dos estoques, também denominados de custos de oportunidade.
De acordo com Martins (2000), o custo de oportunidade representa o quanto
à empresa sacrificou em termos de remuneração por ter aplicado seus recursos
numa alternativa ao invés de outra. Logo, pode-se verificar que o custo de
oportunidade está relacionado ao valor do dinheiro no tempo.
Neste contexto, percebe-se a importância da identificação de todas as
variáveis que oneram o processo de importação. Por meio destas, torna-se possível
analisar comparativamente se de fato é mais viável a aquisição de mercadorias no
mercado externo, razão pela qual se realiza este estudo. A seguir, descreve-se o
método e os procedimentos da pesquisa.
3. Metodologia da Pesquisa
Esta pesquisa caracteriza-se como um estudo de caso, de natureza descritiva,
com abordagem qualitativa e quantitativa dos dados. Segundo Gil (2002), as
pesquisas descritivas têm como principal finalidade descrever características de
determinada população ou fenômeno ou o estabelecimento de relações entre as
variáveis. Inicialmente realizou-se uma pesquisa bibliográfica, para se aprofundar os
conhecimentos sobre o tema. A seguir, procurou-se identificar junto à organização
as informações necessárias através de coleta de dados para a conclusão do objeto
em estudo.
A empresa pesquisada é uma organização industrial do ramo de embalagens
plásticas localizada na região sul do País. Possui atualmente mais de 7.800 metros
quadrados de área fabril, e tem um quadro funcional de 150 colaboradores. A
organização aplica recorrentes investimentos em todas as suas áreas, buscando
sempre aprimorar a qualidade dos produtos e a qualificação de seus colaboradores,
possuindo ainda certificação ISO 9001/2000.
Na coleta de dados realizada, foram analisados os documentos da empresa
referente a um lote da principal matéria prima importada pela empresa em setembro
de 2010, bem como as cotações realizadas pela mesma neste período, para a
aquisição do produto no mercado interno. De posse destas informações procurou-se
verificar o período de consumo da matéria prima analisada. Após a coleta destas
informações, realizou-se a análise dos resultados da pesquisa.
Para a análise dos dados, utilizou-se de uma abordagem quantitativa para a
tabulação dos dados, realizada por meio do software Excel e qualitativa para a
análise. De acordo com Richardson (1989, p. 29), a abordagem quantitativa
“caracteriza-se pelo emprego da quantificação tanto nas modalidades de coleta de
informações, quanto no tratamento dessas através de técnicas estatísticas”. Por sua
vez, a abordagem qualitativa, segundo Triviños (1999), parte da descrição que
busca captar não só a aparência do fenômeno, como também sua essência,
procurando as causas da sua existência, explicar sua origem, suas relações e suas
mudanças.
Como limitação do estudo proposto, destaca-se que a pesquisa analisou
apenas um lote importado pela empresa, não sendo objeto do mesmo a análise
desta aquisição em diferentes períodos. Na seqüência apresentam-se a análise e
interpretação dos resultados da pesquisa.
4. Análise e Interpretação dos Resultados da Pesquisa
4.1 Identificação da Matéria Prima Principal
A primeira etapa da pesquisa consistiu na identificação da principal matéria
prima utilizada pela empresa. Verificou-se que a resina é utilizada na maioria das
embalagens produzidas pela empresa, caracterizando-se como a matéria prima
principal. Esta chega a organização na forma de polipropileno, e por meio de uma
máquina extrusora transforma-se em filmes. Após este processamento, ela é
transportada para outros setores para os acabamentos finais, transformando-se em
diferentes produtos finais comercializados pela empresa. O Quadro 02 apresenta a
síntese das principais matérias primas utilizadas pela organização.
Quadro 02: Análise do consumo de matérias primas nos exercícios de 2009 e 2010MATÉRIA-PRIMA CONSUMIDA EM 2009 MATÉRIA-PRIMA CONSUMIDA EM 2010
PRODUTO% Quantidade
Consumida% Total em R$ PRODUTO
% QuantidadeConsumida
% Total em R$
Resinas 52,29% 43,70% Resinas 51,30% 40,90%PET-Poliester 10,99% 16,32% PET-Poliester 9,95% 13,07%
BOPP 16,59% 17,50% BOPP 23,24% 26,00%TINTAS 20,13% 22,48% TINTAS 15,51% 20,03%
TOTAL ANO 100,00% 100,00% TOTAL ANO 100,00% 100,00%
Observa-se no Quadro 2, que a resina detém em valor e em quantidade os
maiores percentuais, em relação ao total de matérias primas consumidas pela
empresa nos períodos de 2009 e 2010. Essa por sua vez, pode ser adquirida de
duas maneiras: no mercado interno ou no exterior. Verificou-se que atualmente a
empresa vem adquirindo esta matéria prima, no mercado externo, mais
especificamente nos Estados Unidos e no México, por acreditar que nestes locais, a
matéria prima resina apresenta um menor custo de aquisição.
De posse destas informações, procurou-se averiguar se a organização
considera como custos de importação, os gastos com transporte adicional (entre
postos), armazenagem (depósito) e acondicionamento dos produtos, além dos
custos financeiros de manutenção dos estoques (custos de oportunidade).
Identificou-se que estes gastos não são considerados pela empresa como custos de
importação. Neste sentido, optou-se por analisar o impacto destes gastos, na
viabilidade de aquisição deste produto, o que passa a ser analisado a seguir.
4.2 Análise dos Custos de Importação
Após a identificação da principal matéria prima comercializada pela empresa,
verificou-se como ocorre o processo de aquisição deste produto. O processo de
importação tem início por meio da realização de cotações, onde a empresa busca
identificar junto a importadores, os custos para aquisição deste produto. De posse
desta informação, a empresa efetua uma nova cotação no mercado interno, a fim de
comparar os custos de aquisição da resina, identificando a alternativa mais viável.
Caso a empresa opte pela importação, essa entra em contato com o
representante da importadora no Brasil, e através de pedido de compra formaliza a
solicitação da mercadoria. Do outro lado, a importadora finaliza o pedido através de
um contrato chamado proforma, em que é especificado o produto que será enviado,
a quantidade, o prazo de chegada no país, e o prazo de pagamento. Ambas as
empresas assinam, firmando o pedido. Neste momento, é autorizada a transação
entre as organizações, podendo a mercadoria ser transportada. A Figura 3 evidencia
a síntese do processo de importação na empresa pesquisada.
Figura 3: Fluxo de materiais e locais de ocorrência dos custos de importação
Legenda da Figura 3: 1- Origem dos materiais (Estados Unidos ou México). 2- Transporte do fornecedor ao pólo/centro de consolidação. 3- Pólo/Centro de consolidação de cargas 4- Transporte internacional. 5- Zona primária no Brasil (porto ou aeroporto) na importação. 6- Transporte rodoviário da zona primária até a unidade de produção. 7- Unidade de produção na região sul do Brasil.
Na empresa pesquisada verificou-se que os custos de importação,
considerados pela organização, compreendem os custos externos (custo da matéria
prima e custo de seguro até a chegada do produto no país), as taxas portuárias e os
custos com taxas e impostos no momento do seu desembaraço. O Quadro 3
apresenta a síntese dos custos de importação da resina no momento de entrada da
mercadoria na empresa pesquisada.
Quadro 03: Análise dos custos de importação de resina considerados pela empresa
Fonte: Dados da empresa
Observa-se no Quadro 3, que o custo total de importação identificado pela
empresa para a quantidade de resina adquirida nesta operação, é de R$ 322.978,42
(trezentos e vinte e dois mil, novecentos e setenta e oito reais e quarenta e dois
centavos), e o custo unitário, de R$ 3,80 (três reais e oitenta centavos). A próxima
etapa da pesquisa consistiu na identificação dos custos de aquisição desta matéria
prima no mercado interno. Os resultados desta análise são apresentados a seguir.
4.3 Análise dos Custos de Aquisição de Resina no Mercado Interno
No processo de aquisição das MP no mercado interno, a empresa pode
trabalhar de forma programada, a fim de otimizar seus recursos, pois após a cotação
do produto e identificada sua viabilidade de aquisição, o mesmo estará na empresa
em menos de uma semana, o que representa uma vantagem se comparado ao
prazo de recebimento do mesmo na importação.
As principais vantagens relacionadas a esta possibilidade de aquisição de
produtos, estão relacionadas a possível redução de custos adicionais, decorrentes
do processo de importação, como: os custos de armazenagem, de logística e
distribuição dos produtos, além é claro, do custo de oportunidade. O Quadro 4
evidencia os custos de aquisição da mesma quantidade de resina, quando essa é
adquirida no mercado interno.
Quadro 04: Análise dos custos de aquisição de resina no mercado interno
Fonte: Dados da empresa
Ao contrário do que ocorre na importação, o valor informado em cotação já
inclui as alíquotas de PIS e COFINS. Além disso, existe ainda a incidência dos
custos de ICMS e IPI. O ICMS é incluído também no valor do custo unitário e o IPI é
destacado na nota fiscal emitida. Nota-se que mesmo com apenas estes custos
adicionados incluídos no valor dos produtos, o valor unitário final, no caso analisado,
ainda é maior que o custo de importação (Quadro 3). O custo total identificado foi de
R$ 402.838,80 (quatrocentos e dois mil, oitocentos e trinta e oito reais e oitenta
centavos) e o custo unitário de R$ 4,74 (quatro reais e setenta e quatro centavos).
Segundo a organização, estes valores estão diretamente relacionados a
variação de moeda estrangeira, neste caso, do dólar. Assim sendo, optou-se ainda
por analisar o comportamento do custo de aquisição no mercado interno desta
mercadoria, considerando-se as mesmas variáveis de quantidade e valor, a fim de
identificar qual a variação do custo unitário do mesmo, considerando-se a variação
da moeda, no período compreendido entre os meses de Julho de 2010 a Abril de
2011. O Gráfico 1 apresenta os resultados desta análise.
Gráfico 01: Variação do custo de aquisição de resina conforme a variação da moeda (dólar)
Para a apuração dos resultados apresentados no Gráfico 1, também se
considerou a incidência dos impostos analisados no Quadro 04 (PIS, COFINS e
demais impostos incidentes). Observa-se no Gráfico 1, que o custo unitário do
produto é variável neste período. Em Julho 2010 o custo unitário com impostos
inclusos chegou a R$ 5,38, caindo para R$ 4,80 em agosto e ficando estável entre
setembro á novembro no valor R$ 4,74. Em dezembro por sua vez, este custo voltou
a aumentar significante, chegando a R$ 5,11.
Logo, observa-se que a empresa deve acompanhar constantemente tal
variação, visto que essa pode tornar a importação mais cara do que a aquisição
deste produto no mercado interno. No caso analisado, mesmo sendo a alternativa
mais viável a importação, procurou-se identificar o impacto dos gastos não
considerados pela empresa, no custo final de aquisição deste produto. Os resultados
encontrados são apresentados a seguir.
4.4 Análise dos Custos Adicionais decorrentes da Importação
Para que fosse possível analisar o impacto dos custos adicionais, não
considerados pela empresa nos custos de importação transporte adicional (entre
postos), armazenagem (depósito) e acondicionamento dos produtos, e, custo de
oportunidade, inicialmente procurou-se verificar o período em que a matéria prima
resina permaneceu nos estoques da empresa. O Quadro 05 evidencia o consumo do
produto pela organização.
Quadro 05: Análise do consumo da matéria prima resinaInformações Mês Kg Unitário Valor
Mercadoria na empresa 30/09/2010 85.000,00 3,80 R$ 322.974,50
Consumo Outubro 2010 31/10/2010 28.222,52 3,80 R$ 107.237,10
Consumo Novembro 2010 30/11/2010 20.637,39 3,80 R$ 78.415,87
Consumo Dezembro 2010 31/12/2010 16.007,17 3,80 R$ 60.822,45
Consumo Janeiro 2011 31/01/2011 20.132,93 3,80 R$ 76.499,08
Saldo Resina 0,00 R$ 0,00
Analisando-se o Quadro 05, pode-se verificar que a resina importada pela
empresa foi consumida entre os meses de outubro 2010 á janeiro 2011. Os valores
considerados nesta análise (custo unitário e custo total) são os mesmos custos
identificados no Quadro 3, quando da apuração do custo de importação realizado
pela empresa. Observa-se que o produto importado demora quatro meses para ser
consumido totalmente pela organização, gerando assim custos adicionais referente
à armazenagem e acondicionamento dos produtos, de transporte, e custo financeiro
de manutenção dos produtos nos estoques da empresa.
Logo, torna-se oportuno identificar o quanto estes gastos oneram a operação
de importação, visto que por meio da aquisição programada no mercado interno,
estes custos poderiam ser reduzidos. Ao que se refere a armazenagem, primeiro
item analisado nesta etapa da pesquisa, verificou-se que a empresa aluga um
depósito fechado, onde mantêm a maioria de suas matérias primas armazenadas.
Como o produto resina não é o único que fica armazenado neste depósito, o critério
utilizado para se identificar o custo desta operação na empresa, foi o percentual
médio do valor total (em Reais) que este produto representa para a mesma.
Entre o período de 2009 e 2010, este percentual representa 42,30% do
volume financeiro movimentado pela empresa. Este indicador, multiplicado pelo
valor que a empresa paga pelo aluguel, resulta no custo final de armazenagem por
período (mês), ou seja, R$ 1.480,50 (hum mil quatrocentos e oitenta reais e
cinqüenta centavos). Além dos custos com armazenagem, se identificou também
outros dois tipos de gastos que a empresa incorre decorrente do manuseio e
transporte deste produto, do depósito até a fábrica.
Ambos são serviços terceirizados onde a empresa necessita contratar
empresas que prestam serviços de frete (para transportar a mercadoria do depósito
para a fábrica) e a locação de empilhadeiras (necessária para movimentar está
matéria prima que, na maioria das vezes, vem através de pallets). Os gastos
decorrentes destas operações são apresentados no Quadro 06.
Quadro 06: Análise dos custos com manuseio de cargas e transporte
Observa-se no Quadro 6, que estes dois custos analisados, foram os gastos
que efetivamente incorram na organização, durante o período de consumo deste lote
de resina importado. O valor total destes gastos, frete (R$ 864,45) e locação de
empilhadeira (R$ 621,81), impactam o custo de importação no valor total de R$
1.486,26 (hum mil, quatrocentos e oitenta e seis reais e vinte e seis centavos).
Por se tratar de um depósito fechado, torna-se necessário também que um
colaborador da organização se desloque da fábrica até o depósito, para acompanhar
o carregamento dos produtos. Este gasto também foi mensurado.
Considerando-se o tempo despendido por este colaborador, bem como os
demais gastos com deslocamento, verificou-se um custo adicional estimado para
este processo de R$ 115,13 (cento e quinze reais e treze centavos). Foram
consideradas as variáveis de tempo médio em horas trabalhadas, consumidos entre
o deslocamento do colaborador até o depósito, tempo de carga e tempo para retorno
Informação Data Nota Unitário Valor Kg Frete Empilhadeira
Mercadoria para depósito 30/09/2010 2,592 R$ 165.240,00 63.750 R$ 0,00 R$ 0,00
Retorno para matriz 15/10/2010 81 2,592 R$ 14.256,00 5.500 R$ 71,11 R$ 93,33
Retorno para matriz 26/10/2010 83 2,592 R$ 29.160,00 11.250 R$ 135,23 R$ 19,69
Retorno para matriz 04/11/2010 87 2,592 R$ 32.400,00 12.500 R$ 213,09 R$ 21,88
Retorno para matriz 02/12/2011 93 2,592 R$ 29.160,00 11.250 R$ 136,49 R$ 102,37
Retorno para matriz 15/12/2011 97 2,592 R$ 9.720,00 3.750 R$ 25,97 R$ 54,54
Mercadoria para depósito 30/11/2011 99 2,592 R$ 1.296,00 500 R$ 0,00 R$ 0,00
Retorno para matriz 27/12/2011 100 2,592 R$ 9.720,00 3.750 R$ 43,95 R$ 57,69
Retorno para matriz 04/01/2011 101 2,592 R$ 19.440,00 7.500 R$ 74,45 R$ 97,72
Retorno para matriz 12/01/2011 104 2,592 R$ 22.680,00 8.750 R$ 164,15 R$ 174,60
Saldo depósito R$ 0,00 0 R$ 864,45 R$ 621,81
(até a unidade fabril). Os custos com deslocamento foram apropriados com base na
distância percorrida pelo mesmo entre o trajeto: fábrica x depósito x fábrica.
Por fim, procurou-se identificar os custos de oportunidade, decorrentes da
permanência dos produtos no estoque, até o seu efetivo consumo. Para a
identificação deste valor, considerou-se o mesmo rendimento recebido pela
organização, quando da realização de aplicação de recursos em operações
financeiras, ou seja, o rendimento médio de 1% ao mês. Os resultados encontrados
são apresentados no Quadro 7.
Quadro 07: Análise dos custos de oportunidade
Informações Mês Kg Unitário Valor Custo de Oportunidade
Mercadoria na empresa30/09/201
085.000,0
0 3,80R$
322.974,50 R$ 0,00
Consumo Outubro 201031/10/201
028.222,5
2 3,80R$
107.237,10 R$ 4.302,12
Consumo Novembro 201030/11/201
020.637,3
9 3,80 R$ 78.415,87 R$ 5.086,27
Consumo Dezembro 201031/12/201
016.007,1
7 3,80 R$ 60.822,45 R$ 5.694,50
Consumo Janeiro 201131/01/201
120.132,9
3 3,80 R$ 76.499,08 R$ 0,00
Total 0,00 R$ 0,00 R$ 15.082,89
Observa-se no Quadro 7 que este é o gasto que representa o valor mais
significativo entre os custos adicionais não considerados pela empresa. Analisando-
se os valores dos saldos finais dos produtos em estoque ao término de cada
período, foi possível identificar o valor total do custo de oportunidade incidente nesta
operação (R$ 15.082,89 - quinze mil e oitenta e dois reais e oitenta e nove
centavos).
Nota-se que todos os custos informados na análise proposta são possíveis de
mensuração, razão pela qual se recomenda a identificação dos mesmos em cada
análise de viabilidade de importação. Evidentemente que podem existir outros
custos que são mais difíceis de se mensurar, como os custos do pedido que compõe
o material utilizado (papel, materiais de escritório, computadores), os custos de
pessoal (salários e encargos) e os custos indiretos da organização (luz, telefone,
dentre outros). No entanto, por meio desta proposta, torna-se possível identificar os
valores mais significativos, que apresentam maior impacto nesta operação.
Nesta perspectiva, após a análise e mensuração dos custos adicionais
analisados na pesquisa, torna-se possível analisar o impacto destes, no resultado
final da importação. Os resultados encontrados são apresentados no Quadro 8.
Quadro 08: Análise do novo custo de importação
Custos Adicionais Outubro 2010 Novembro 2010 Dezembro 2010Janeiro
2011Totais
Aluguel R$ 1.480,50 R$ 1.480,50 R$ 1.480,50 R$ 1.480,50 R$ 5.922,00Frete R$ 206,34 R$ 213,09 R$ 206,42 R$ 238,60 R$ 864,45
Empilhadeira R$ 113,02 R$ 21,08 R$ 214,60 R$ 272,31 R$ 621,01
Custo de Oportunidade R$ 4.302,12 R$ 5.086,27 R$ 5.694,50 R$ 0,00 R$ 15.082,89
Outros Gastos R$ 0,00 R$ 0,00 R$ 0,00 R$ 0,00 R$ 115,13
Custo Total R$ 6.101,98 R$ 6.800,94 R$ 7.596,02 R$ 1.991,41 R$ 22.605,48
Custo Total de Importação R$ 322.978,42Custo Total de Importação com Adicio-
naisR$ 345.583,90
Observa-se no Quadro 8 que houve um acréscimo real de 7% (R$ 22.605,48)
sobre o valor considerado anteriormente como custo total de importação deste lote
(R$ 322.978,42). Desta forma, o novo custo unitário da matéria prima importada
passaria a ser de R$ 4,07 (quatro reais e sete centavos).
Apesar deste ainda ser inferior ao custo de aquisição do mesmo produto no
mercado interno (R$ 4,74); verifica-se a importância do acompanhamento da
variação da moeda, bem como da inclusão destes gastos na análise da viabilidade
de aquisição, uma vez que por meio de uma compra programada, a organização
pode reduzir seus custos de aquisição, reduzindo também os custos dos produtos, e
maximizando o resultado da organização.
5. Considerações Finais
Este estudo teve por objetivo identificar qual a alternativa mais viável para a
aquisição da principal matéria prima utilizada por uma indústria de embalagens
plásticas, entre as opções de importação do produto ou aquisição no mercado
interno. Inicialmente procurou-se identificar a principal matéria prima utilizada pela
empresa no período de 2009 e 2010, sendo esta a resina. A seguir, procurou-se
verificar como a empresa apura o custo de importação.
Verificou-se que os custos de importação, considerados pela organização,
compreendem os custos externos (custo da matéria prima e custo de seguro até a
chegada do produto no país), as taxas portuárias e os custos com taxas e impostos
no momento do seu desembaraço. De posse destas informações, procurou-se
analisar o impacto de outros gastos adicionais, decorrentes da importação, na
viabilidade de aquisição deste produto.
Apesar desta não considerar na apuração dos custos de importação os
gastos com transporte adicional (entre postos), armazenagem (depósito) e
acondicionamento dos produtos, além dos custos financeiros de manutenção dos
estoques (custos de oportunidade), a aquisição deste produto no mercado externo
proporcionou um menor custo de aquisição para a empresa. Desta forma, pode-se
concluir que, neste caso, a importação foi a alternativa mais viável para a empresa.
No entanto, observa-se a importância do monitoramento destes gastos na
avaliação da viabilidade de importação, uma vez que estes representaram, no lote
analisado, 7% do valor total da operação. Assim sendo, torna-se oportuno
recomendar a organização, que esta inclua os referidos gastos identificados neste
estudo, em futuras análises de viabilidade de importação. Como recomendação a
estudos futuros, sugere-se a reaplicação deste estudo aos demais lotes importados
pela empresa em diferentes períodos, a fim de se identificar se de fato a importação
foi a alternativa mais viável realizada pela empresa.
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