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HIPOTIREOIDISMO CANINO – RELATO DE CASO
HYPOTHYROIDISM CANINE - A CASE REPORT
Luana Mirela de Sales PONTES1; Débora Mirelly Sobral da SILVA²; Ivyson da Silva
EPIFÂNIO2; Vitor Miranda de TRAVASSOS3; Joane Isis Travassos VIEIRA4; Rute
Chamié Alves de SOUZA5; Edna Michelly de Sá SANTOS6
1 Discente de Medicina Veterinária, Universidade Federal Rural de Pernambuco, luanamspontes@hotmail.com 2 Médico Veterinário autônomo pela Universidade Federal Rural de Pernambuco- Unidade Acadêmica de Garanhuns 3 Médico Veterinário, R2 do Programa de Residência em Área de Saúde do Departamento de Medicina Veterinária, Universidade Federal Rural de Pernambuco 4 Mestranda em Ciência Veterinária – Universidade Federal Rural de Pernambuco 5 Professora Adjunta do Departamento de Medicina Veterinária, Universidade Federal Rural de Pernambuco- Unidade Acadêmica de Garanhuns 6 Professora Adjunta do Departamento de Medicina Veterinária, Universidade Federal de Pernambuco.
Resumo:
O hipotireoidismo é considerado a afecção endócrina que mais acomete os cães.
Esta patologia se caracteriza pela diminuição da função da glândula tireoide,
levando à deficiência de tiroxina (T4) e a triiodotironina (T3) a partir de qualquer
desequilíbrio no eixo hipotálamo-hipófise-tireoide. Geralmente os animais
apresentam letargia, intolerância aos exercícios e ao frio, sonolência, aumento de
peso sem polifagia e alterações dérmicas. A partir da importância clínica desta
afecção, objetivou-se relatar o caso de um canino atendido no Hospital Veterinário
da Universidade Federal Rural de Pernambuco e diagnosticado com hipotireoidismo
primário. O paciente apresentava alopecia dorsal, otite bilateral de repetição, prurido,
seborreia mista, bem como ganho de peso e sonolência. Foram solicitados:
tricograma, hemograma e bioquímica sérica, sem alterações, além de citologia do
cerúmen – com presença de cocos e bacilos – citologia de fita interdigital (10
leveduras de Malassezia por campo), e dosagem de T4 livre (0,30 ng/dL) e TSH
(0,56 ng/dL), firmando o diagnóstico de hipotireoidismo. Como tratamento,
prescreveu-se: levotiroxina sódica, obtendo-se melhora clínica após o início do
tratamento. Conclui-se que o diagnóstico precoce do hipotireoidismo primário
possibilita a realização de tratamento adequado, evitando complicações oriundas
dos níveis cronicamente baixos dos hormônios tireoideanos.
Palavras-chaves: cão; hipotireóideo; tireoide, levotiroxina.
Keywords: Dog, Hypothyroid, Thyroid, Levothyroxine
Revisão de Literatura:
38º CONGRESSO BRASILEIRO DA ANCLIVEPA, 2017 - RECIFE/PE38º CONGRESSO BRASILEIRO DA ANCLIVEPA, 2017 - RECIFE/PE
Anais do 38º CBA, 2017 - p.1967
A glândula tireoide é formada por folículos tireoideanos e estes são responsáveis
pela síntese e armazenamento dos principais hormônios da tireoide (JUNQUEIRA;
CARNEIRO, 2013). A tireoide interfere nos processos metabólicos e seu controle se
dá através da secreção dos hormônios: tiroxina (T4) e triiodotironina (T3) –
responsáveis pelo metabolismo intermediário – e calcitonina, que atua diminuindo o
cálcio sérico (REECE, 2006).
O Hormônio Liberador de Tireotrofina (TRH) é produzido principalmente no
hipotálamo através de neurônios especializados que estimula a hipófise a produzir
Hormônio Estimulador da Tireoide (TSH). Por sua vez, o TSH estimula a tireoide a
produzir T3 e T4 (REECE, 2006).
O hipotireoidismo é caracterizado por uma diminuição de função da glândula
tireoide, levando a produção deficiente dos hormônios T3 e T4, gerada pelo
desequilíbrio no eixo hipotálamo-hipófise-tireoide, sendo considerada a afecção
endócrina que mais acomete os cães (BOJANIĆ et al., 2011; MOONEY, 2011).
A patologia se classifica como primária, secundária ou terciária, podendo ser ainda
de ocorrência natural ou iatrogênica. A forma primária ocorre cerca de 95% dos
casos e sua origem advém da destruição da glândula tireoide, sendo mais comum
nos casos de tireoidite linfocitica e atrofia idiopática da glândula (HOSKINS, 2008). A
forma secundária é relacionada a neoplasias, hipercortisolismo adquirido ou a
síndrome do eutireoideo doente, levando à deficiência de TSH. Já a terciária ocorre
quando há produção insuficiente TRH, sendo a presença de neoplasias
hipotalâmicas a única causa relatada em cães (NELSON e COUTO, 2015).
O animal pode apresentar uma diversidade de sinais clínicos, desde letargia,
sonolência, intolerância a exercícios, obesidade, alterações dermatológicas, emese,
diarreia (REUSCH, 2006), até sinais cardiovasculares (NELSON e COUTO, 2015).
O diagnóstico do hipotireoidismo deve ser realizado a partir da análise de diversos
parâmetros, tais como os sinais clínicos, epidemiologia e os achados laboratoriais
específicos e inespecíficos, com o intuito de torná-lo o mais correto possível
(NELSON e COUTO, 2015).
A levotiroxina sódica (T4) é a droga de eleição para o tratamento do hipotireoidismo.
Após o início do tratamento, este deve ocorrer por toda a vida do animal, mas ainda
há discussão quanto à posologia do tratamento (SCOTT et al, 2001; LALIA, 2004).
Descrição do caso:
38º CONGRESSO BRASILEIRO DA ANCLIVEPA, 2017 - RECIFE/PE38º CONGRESSO BRASILEIRO DA ANCLIVEPA, 2017 - RECIFE/PE
Anais do 38º CBA, 2017 - p.1968
Foi atendido no Hospital Veterinário da Universidade Federal Rural de
Pernambuco, Recife-PE, um canino, SRD, macho, nove anos, 29 Kg, castrado há
dois anos. O tutor relatou queixa dermatológica, com agravamento do quadro de
alopecia dorsal há dois anos, bem como otite de repetição.
O paciente demonstrou ganho de peso, aumento dos períodos de sono e
prurido de leve a moderado, com lambedura considerável das patas. Histórico de
tratamentos pregressos sem resultados satisfatórios.
Durante o exame físico os parâmetros cardiorrespiratórios, temperatura retal e
palpação abdominal estavam dentro da normalidade para a espécie. Entretanto, o
exame dermatológico mostrou alopecia dorsal e de cauda total, com
hiperpigmentação. Presença de seborreia mista, com predominância da fração
oleosa e otite bilateral com secreção escurecida e odor fétido.
Foram realizados tricograma, citológico do cerúmen, citologia de fita
interdigital, além de hemograma, bioquímica sérica e dosagem de T4 livre e TSH.
Discussão:
Segundo Mooney (2012), a maior incidência de hipotireoidismo ocorre nas
raças puras, porém Varallo et al. (2014) encontraram uma maior frequência em
animais SRD, podendo ser relacionada a predominância populacional racial do
estudo.
O paciente manifestou os primeiros sinais clínicos aos seis anos,
concordando com Cunningham e Klein (2008) que – de acordo com a predisposição
racial – indicam o aparecimento dos primeiros sinais clínicos entre quatro e seis
anos de idade. Werner (2014) aponta que animais castrados desenvolverem mais a
patologia em comparação a animais inteiros, tal qual o canino estudado que
evidenciou a sintomatologia após a castração.
A letargia, obesidade e prurido comentados na anamnese são comumente
encontradas em cães hipotireóideos (DIXON et al. 1999; TEIXEIRA, 2008), sendo o
último devido infecções secundárias ou distúrbios seborreicos (HOSKINS, 2008).
Outros sinais reportados, como alopecia simétrica, hiperpigmentação
(TEIXEIRA, 2008), alopecia dorsal (CIESIELSIK, 2008), cauda-de-rato (LARSSON,
2014), além de infecção secundária por Malassezia, positivo na fita interdigital, são
descritos como típicos de animais com redução da função tireoidiana.
A citologia de cerúmen com presença de cocos e bacilos corrobora com
Coatesworth (2011) que indica o hipotireoidismo como uma causa primária de otite
38º CONGRESSO BRASILEIRO DA ANCLIVEPA, 2017 - RECIFE/PE38º CONGRESSO BRASILEIRO DA ANCLIVEPA, 2017 - RECIFE/PE
Anais do 38º CBA, 2017 - p.1969
externa em cães, devido às modificações no perfil de ácidos graxos, aumento da
atividade das glândulas e redução da resposta imunológica.
O hemograma apresentou uma anemia normocítica normocrômica, achado
comum em cães com hipotireoidismo (NELSON e COUTO, 2015). Já a bioquímica
sérica apresentou resultados dentro dos valores de referência pouco condizentes
com indivíduos hipotireoideos. Pereira et al. (2009) relataram hipercolesterolemia e
hipertrigliceridemia em seus estudos e, segundo Nelson e Couto (2015) este é um
achado encontrado em até 75% dos animais acometidos. Apesar do aumento da
fosfatase alcalina (FA) ser um achado comum em cães com hipotireoidismo,
segundo Cesena et al. (2005), esta alteração não foi encontrada.
O resultado da dosagem hormonal confirmou a suspeita clínica de
hipotireoidismo. Imediatamente, prescreveu-se o tratamento com levotiroxina sódica,
na dose de 10 mcg/kg. Após cinco meses, com melhora significativa, a dose foi
reajustada (17 mcg/kg) devido o T4 livre se encontrar em 0,34 ng/dL. O peso do
paciente também foi sendo acompanhado, mostrando redução considerável, total de
11 kg em 5 meses.
O animal continuou em tratamento hormonal como preconizado, refletindo
melhora clínica significativa, evidenciado principalmente na pele, que demonstrou
considerável repilação, bem como o emagrecimento notável do animal. Quanto às
infecções secundárias que persistem, é esperado que ocorram, até que os níveis
hormonais estejam ajustados.
Conclusão:
O hipotireoidismo canino é uma afecção ainda subdiagnosticada na rotina clínica,
sendo muitas vezes identificada tardiamente, quando o animal já apresenta
alterações graves. Apesar de causar uma diversidade de sinais, geralmente a
respostas dos cães é positiva a suplementação hormonal, ficando clara a
importância de um diagnóstico precoce para um de tratamento o mais rápido.
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38º CONGRESSO BRASILEIRO DA ANCLIVEPA, 2017 - RECIFE/PE38º CONGRESSO BRASILEIRO DA ANCLIVEPA, 2017 - RECIFE/PE
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Anais do 38º CBA, 2017 - p.1971
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