jorge luiz castanheira alexandre moacyr henriques nelson...
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Diretoria da LIESA (Triênio 2015-2018)
Presidente - Jorge Luiz Castanheira Alexandre
Vice-Presidente e
Diretor de Patrimônio - Zacarias Siqueira de Oliveira
Tesoureiro - Moacyr Henriques
Diretor Jurídico - Nelson de Almeida
Secretário -
Wagner Tavares de Araújo
Diretor de Carnaval - Elmo José dos Santos
Diretor Comercial - Hélio Costa da Motta
Diretor Cultural - Hiram Araújo
Diretor Social - Erich Otto Straher
2
3
ÍNDICE
PÁGINA
ORDEM DOS DESFILES 05
RANKING DAS ESCOLAS 07
G.R.E.S. PARAÍSO DO TUIUTI 09
G.R.E.S. ACADÊMICOS DO GRANDE RIO 19
G.R.E.S. IMPERATRIZ LEOPOLDINENSE 29
G.R.E.S. UNIDOS DE VILA ISABEL 41
G.R.E.S. ACADÊMICOS DO SALGUEIRO 49
G.R.E.S. BEIJA-FLOR DE NILÓPOLIS 59
G.R.E.S. UNIÃO DA ILHA DO GOVERNADOR 67
G.R.E.S. SÃO CLEMENTE 81
G.R.E.S. MOCIDADE IND. DE PADRE MIGUEL 89
G.R.E.S. UNIDOS DA TIJUCA 99
G.R.E.S. PORTELA 113
G.R.E.S. ESTAÇÃO PRIMEIRA DE MANGUEIRA 123
4
5
GRUPO ESPECIAL
ORDEM DOS DESFILES
CARNAVAL/2017
ORDEM HORÁRIO
DE INÍCIO
DOMINGO
(26/02/2017)
SEGUNDA
(27/02/2017)
1 22:00 h PARAÍSO DO TUIUTI UNIÃO DA ILHA DO
GOVERNADOR
2 entre 23:05 e 23:15 h ACADÊMICOS DO
GRANDE RIO SÃO CLEMENTE
3 entre 00:10 e 00:30 h IMPERATRIZ
LEOPOLDINENSE
MOCIDADE IND. DE
PADRE MIGUEL
4 entre 01:15 e 01:45 h UNIDOS DE VILA
ISABEL UNIDOS DA TIJUCA
5 entre 02:20 e 03:00 h ACADÊMICOS DO
SALGUEIRO PORTELA
6 entre 03:25 e 04:15 h BEIJA-FLOR DE
NILÓPOLIS
ESTAÇÃO PRIMEIRA
DE MANGUEIRA
As Escolas de Samba, cuja posição na Ordem dos Desfiles
correspondam à numeração ímpar deverão se concentrar a partir
do prédio do Juizado de Menores no sentido dos prédios da
CEDAE e Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos;
As Escolas de Samba, cuja posição na Ordem dos Desfiles
correspondam à numeração par deverão se concentrar a partir da
lateral do Setor 01 (um) da Avenida dos Desfiles no sentido do
Edifício “Balança Mas Não Cai”.
6
7
RANKING LIESA
2012 / 2016
OR
DE
M
ESCOLA 2012 2013 2014 2015 2016
TO
TA
L
Col. Col. Col. Pt. Col. Pt. Col. Pt. Col. Pt.
1º Unidos da Tijuca 1º 20 3º 12 1º 20 4º 10 2º 15 77
2º Acadêmicos do Salgueiro 2º 15 5º 8 2º 15 2º 15 4º 10 63
3º Beija-Flor de Nilópolis 4º 10 2º 15 7ª 4 1º 20 5º 8 57
4º Portela 6º 6 7º 4 3º 12 5º 8 3º 12 42
5º Unidos de Vila Isabel 3º 12 1º 20 10º 1 11º 0 8º 3 36
Acadêmicos do Grande Rio 5º 8 6º 6 6º 6 3º 12 7º 4 36
7º Estação Primeira de
Mangueira 7º 4 8º 3 8º 3 10º 1 1º 20 31
Imperatriz Leopoldinense 10º 1 4º 10 5º 8 6º 6 6º 6 31
9º União da Ilha do
Governador 8º 3 9º 2 4º 10 9º 2 11º 0 17
10º Mocidade Independente de
Padre Miguel 9º 2 11º 0 9º 2 7º 4 10º 1 9
11º São Clemente 11º 0 10º 1 11º 0 8º 3 9º 2 6
12º Estácio de Sá - - - - - - - - 12º 0 0
Unidos do Viradouro - - - - - - 12º 0 - - 0
Império da Tijuca - - - - 12º 0 - - - - 0
Inocentes de Belford Roxo - - 12º 0 - - - - - - 0
Unidos do Porto da Pedra 12º 0 - - - - - - - - 0
Renascer de Jacarepaguá 13º 0 - - - - - - - - 0
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“Carnavaleidoscópio
Tropifágico”
G.R.E.S.
PARAÍSO DO TUIUTI
Presidente: Renato Thor
Carnavalesco: Jack Vasconcelos
Fundação: 05/04/1952
Cores: Amarelo ouro e Azul pavão
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G.R.E.S. Paraíso do Tuiuti
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“Quando o português chegou
Debaixo duma bruta chuva
Vestiu o índio
Que pena!
Fosse uma manhã de sol
O índio tinha despido
O português”
Erro de português (Oswald de Andrade)
“Carnavaleidoscópio Tropifágico”
Um poeta desfolha a bandeira e a manhã tropical se inicia...
Quando Pero Vaz Caminha descobriu que as terras
brasileiras eram férteis e verdejantes, escreveu uma carta ao
rei: “tudo que nela se planta, tudo cresce e floresce”. Antes
dos portugueses descobrirem o Brasil, o Brasil tinha
descoberto a felicidade. Aqui, o Terceiro Mundo pede a
bênção e vai dormir entre cascatas, palmeiras, araçás e
bananeiras. Alegria e preguiça. Pindorama, país do futuro.
Mas nunca admitimos o nascimento da lógica entre nós.
Contra as sublimações antagônicas trazidas nas caravelas,
contra todas as catequeses, povos cultos e cristianizados:
- Eu, brasileiro, confesso minha culpa, meu pecado. Minha
fome.
Revolução Caraíba, maior que a Revolução Francesa e o
bonselvage nas óperas de Alencar, cheio de bons
Carnaval/2017
14
sentimentos portugueses. Só a Antropofagia nos une.
Socialmente. Economicamente. Filosoficamente.
Só me interessa o que não é meu. Lei do homem. Lei do
antropófago. Única lei do mundo. Sou Abaporu faminto.
Tupi, or not tupi? Thatisthequestion.
#somostodosmacunaíma.
Contra o aculturamento. Contra os bons modos.
Contracultura. Por uma questão de ordem. Por uma questão
de desordem.
Não anuncio cantos de paz, nem me interessam as flores do
estilo. Tropical melancolia de uma terra em transe onde
reina o rei da vela.
A burguesia exige definições. Oh!
Good business!
No coração balança um samba de tamborim. Em Mangueira
é onde o samba é mais puro e os parangolés incorporam a
revolta. Eu me sinto melhor colorido. Quem não dança não
fala. Faz do morro marginal Tropicália.
Viva a mulata, ta, ta, ta, ta.
Eu organizo o movimento com água azul de Amaralina,
coqueiro, brisa e fala nordestina. Solto os panos sobre os
mastros no ar. Aventura em busca do som universal. Os
olhos cheios de cores. Pego um jato, viajo, arrebento. Com o
roteiro do sexto sentido.
G.R.E.S. Paraíso do Tuiuti
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Viva a Bahia, ia, ia, ia, ia.
Pela experimentação globalizada. Pela devoração
psicodélica do rock’n’roll, da música elétrica, das
conquistas espaciais, da cultura de massa. Pelo encontro dos
extremos. Pela união da precariedade com o moderno, do
folclore com a ciência, do cafona com a vanguarda, do
popular com o erudito.
São, São Paulo meu amor. Foi quando topei com você que
tudo virou confusão. Dando vivas ao bom humor num
atentado contra o pudor. Hospitaleira amizade. Brutalidade
jardim. Ironia crítica do deboche sentimental. Porém, com
todo defeito te carrego no meu peito. O avanço industrial
vem trazer nossa redenção.
Eu preciso cantar. Em cantar na televisão. Eu nasci pra ser o
superbacana com a capa do Rei do Mau Gosto. A elegância
de um dromedário.
Você precisa saber de mim. Coma-me! Por entre fotos e
nomes, jornais e revistas, nas paradas de sucesso. Por telas,
formas e grafismos do folclore urbano. Coma-me!
Minha terra tem palmeiras onde sopra o vento forte.
Vivemos na melhor cidade da América do Sul. Soyloco por
ti, América, soy loco por ti de amores. Tengo como colores
la espuma blanca de Latinoamérica. Esse povo, dizei-me,
arde!
E no jardim os urubus passeiam a tarde inteira entre os
girassóis. Eles põem os olhos grandes sobre mim. Aqui,
Carnaval/2017
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meu pânico e glória. Aqui, meu laço e cadeia. Mamãe,
mamãe, não chore. A vida é assim mesmo. Eu quis cantar
minha canção iluminada de sol.
Você fica, eu vou. Quem ficar, vigia. Todo o povo
brasileiro, aquele abraço! Meu caminho pelo mundo eu
mesmo traço enquanto meus olhos saem procurando por
discos voadores no céu.
Caminhando contra o vento vou sonhando até explodir
colorido.
A alegria é a prova dos nove. No matriarcado de Pindorama.
Nunca fomos catequizados. Fizemos foi o Carnaval. Não
seremos belos, recatados e do lar.
Eu oriento o carnaval. Eu vim para confundir e não para
explicar. Buzino a moça, comando a massa, dou as ordens
no terreiro. Minha Tropicália Maravilha faz todo o universo
sambar. Todo mês de fevereiro, aquele passo...
Viva a banda, da, da
Carmen Miranda, da, da, da, da...
Eu vou pelo mundo em milhares de cores. Eu vou! Porque
não? Porque não? Porque não?
JACK VASCONCELOS Em Rio de Janeiro, ano 460 da deglutição do Bispo Sardinha.
G.R.E.S. Paraíso do Tuiuti
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BIBLIOGRAFIA CONSULTADA:
ANDRADE, Oswald. A utopia antropofágica. São Paulo:
Globo, 1990.
BUENO, André. Pássaro de Fogo no Terceiro Mundo – o
poeta Torquato Neto e sua época. Rio de Janeiro: 7Letras,
2005.
DUARTE, Rogério. Tropicaos. São Paulo: Azougue,
2003.
DUNN, Christopher. Brutalidade Jardim: a Tropicália e o
surgimento da contracultura brasileira. São Paulo: Editora
UNESP, 2009.
FAVARETTO, Celso F. Tropicália: alegoria, alegria. São
Paulo: Ateliê Editorial, 1996.
JACQUES, Paola Berenstein. Estética da Ginga – A
arquitetura das favelas através da obra de Hélio Oiticica.
Rio de Janeiro: Casa da Palavra/RIOARTE, 2001.
RODRIGUES, Jorge Caê. Anos fatais: design, música e
tropicalismo. Rio de Janeiro: 2AB, 2007.
TEIXEIRA, Duda; NARLOCH, Leandro. Guia
Politicamente Incorreto da América Latina. São Paulo:
LeYa Brasil, 2011.
TELES, G.M. Vanguarda europeia e modernismo
brasileiro. Petrópolis: Vozes, 1982.
XAVIER, I. Alegorias do subdesenvolvimento: cinema
novo, tropicalismo, cinema marginal. São Paulo: Editora
Brasiliense, 1993.
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“Ivete do rio ao Rio”
G.R.E.S.
ACADÊMICOS DO GRANDE RIO
Presidente: Milton Abreu do Nascimento
Carnavalesco: Fábio Ricardo
Fundação: 22/09/1988
Cores: Vermelho, Verde e Branco
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G.R.E.S. Acadêmicos do Grande Rio
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“Ivete do rio ao Rio”
Meu nome é Ivete Sangalo, e em 2016 tive a honra de ser
escolhida para enredo da Acadêmicos do Grande Rio, E é
para vocês que eu conto a minha história, feita de amor e
muita paixão...
Eu nasci em Juazeiro na minha amada Bahia, e guardo na
memória o chão rachado da caatinga, a poeira das estradas,
o imenso Rio São Francisco, cheio de carrancas coloridas
protetoras de seus pescadores. Desde pequena ouvi
contarem da lenda da Serpente dos Olhos de Fogo que dizia:
“(....)Havia uma bela menina, que foi se admirar no espelho
d’agua do rio São Francisco e surpresa com sua beleza,
esqueceu da hora da Ave-Maria, e por isso foi transformada
numa enorme serpente que mergulhou e foi se esconder na
Ilha do Fogo.
Esta serpente de muitas formas assusta pescadores,
navegantes e lavadeiras, mas Nossa Senhora das Grotas a
amarrou em seu ninho com três fios de seus cabelos e até
hoje, o povo deste lugar reza para a santa em romarias, para
que proteja Juazeiro e Petrolina, pois dois fios já se
partiram...”
Em meus sonhos, Nossa Senhora colocou este último fio em
minha mão para dominar a serpente e o mundo com meu
canto e minha energia. Segurando este fio eu e a Grande Rio
contaremos uma linda e colorida história, de carnavais e
festas e das minhas viagens pelo mundo da música.
Carnaval 2017
24
*-*-*-*-*-*
Lembro-me de meus pais como um casal apaixonado, ele
caixeiro viajante, de origem espanhola, trazendo da Espanha
belos violões cheios de fitas. Minha mãe era pernambucana,
dona de uma voz afinada, do gingado do frevo e da paixão
pela vida. Eles reuniam os filhos e amigos para saraus
musicais com muita poesia. Nos carnavais pulei na folia
dos blocos de caretas e no São João dancei animadas
quadrilhas.
Juazeiro me fez sertaneja de coração, e essa infância
musical e festeira, junto com o amor de meus pais, guardo
até hoje na minha alma.
*-*-*-*-*-*
Guardei na memória o chão seco de Juazeiro, mas também
as estrelas do céu azul que me acompanharam até Salvador,
para onde me mudei para poder concluir meus estudos.
Lembro bem do trio elétrico de Moraes Moreira, escutando
“Pombo Correio” ao som daquela guitarra estridente... E
fiquei sabendo que a Fobica de Dodô e Osmar já arrastava o
povo fazia tempo! Então me deixei levar pelo mar de
ritmos, batuques dos blocos, bandas e trios elétricos, pois
Salvador era um universo mágico, um caleidoscópio
musical!
As ruas de Salvador, na folia, traziam a tradição do Afoxé
Filhos de Gandhy com sua mensagem de paz, blocos de
G.R.E.S. Acadêmicos do Grande Rio
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índios como o Apaches do Tororó e também a energia
africana do Olodum e do Ilê Aye.
A cidade se vestia de cores e o ar se enchia com o som dos
tambores, a energia do carnaval embalando os foliões, assim
era a Bahia de Todos os Santos...
Aquela cidade de casas coloridas e de gente tão bonita, me
seduziu. A majestosa Igreja do Senhor do Bonfim, a
capoeira, as baianas de acarajés, tantas belezas amarradinhas
nas fitas do Bonfim abençoadas pela “Mãe Preta”, símbolo
de amor e ternura maternal... Mergulhei inteira na folia
baiana!
*-*-*-*-*-*
Precisando ganhar dinheiro e ajudar a família, fui cantar
com meu violão em barzinhos, no momento em que surgia o
fenômeno do axé-music, que dominaria o país com o “Canto
da Cidade” da estrela Daniela Mercury. Ferviam sucessos
“Faraó” falando das raízes negras e egípcias e “Fricote”
também conhecida como “Nega do Cabelo Duro” com Luiz
Caldas, com o balanço inconfundível de uma nova onda
musical!
Fui então convidada para ser cantora da Banda Eva no
carnaval de Salvador mergulhando neste mar de sonoridades
e ritmos que me encantaram, e encontrei a Timbalada, me
embalando ao som daqueles tambores e timbaus
melodiosos... O axé music com o som das guitarras elétricas,
berimbaus, agogôs e tambores já ecoava por todo nosso
Brasil!
Carnaval 2017
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E decolamos com sucessos que até hoje estão aí na memória
nacional e que revelam um lado bem romântico, mas
também a energia que levava nosso trio elétrico pelas ruas
de Salvador... “Carro Velho” para brincar, “Flores” para
todos encantar, num voo cheio de emoção. A nave da
pequena Eva cruzou os céus do Brasil levando o ritmo do
axé music além do infinito, consolidando-se como um
gênero musical poderoso.
E na virada do milênio mais uma vez o destino me
desafiava, da astronave reluzente fui comandar minha
carreira solo!
*-*-*-*-*-*
O suingue da minha voz permitia viajar por vários gêneros
musicais, cantando com parceiros que até hoje são grandes
amigos e companheiros de estrada! A música “Festa” seria
um de meus maiores sucessos, e “misturando o mundo
inteiro”, tornei-me uma estrela internacional em grandes
espetáculos.
Iniciando mais um tempo de alegria, comemorei meus dez
anos de carreira, vestindo imagens de mulheres poderosas
como Carmem Miranda, cantando “Chica Chica Boom
Chic”, mas também como dona da magia em meus shows,
me transformando na mítica “Dalila” com seus véus de pura
sensualidade. E nos grandes palcos levo aos quatro cantos
do mundo minha voz e energia.
*-*-*-*-*-*
G.R.E.S. Acadêmicos do Grande Rio
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Já são mais de 20 anos de estrada... Foi então que a Escola
de Samba Acadêmicos do Grande Rio me chamou!
Reencontrei o Rio de Janeiro e suas belezas naturais e
seguindo para a baixada fluminense, Caxias se tornou minha
“Real Fantasia”! La encontrei a alegria da feira de domingo
e o forró dos nordestinos desta cidade, tão cheia de ritmos
quentes...Seduzida pelo calor desse povo cantei “Muito
Obrigado Axé” saudando em terras cariocas os orixás e o
Senhor do Bonfim de minha Bahia tão amada!
Encontrando o último trio elétrico encantado da gloriosa
Grande Rio, senti que a “Sorte Grande” havia chegado! E
juntos apresentaremos na majestosa Sapucaí, coloridas
passagens de uma folia de culturas.
O amor que sinto pela música e que nunca me deixou, é o
amor de meus fãs e foliões pipocas, que se misturam na
multidão alucinada das arquibancadas, celebrando a união
feliz de universos musicais – com o gingado do malandro
carioca e o ritmo sensual baiano - inundando a avenida de
amor, axé e alegria, levantando a poeira de estrelas!
Pois tudo isso é...
“Ivete do rio ao Rio!”
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“Xingu, o clamor que vem da
Floresta”
G.R.E.S.
IMPERATRIZ
LEOPOLDINENSE
Presidente: Luiz Pacheco Drumond
Carnavalesco: Cahê Rodrigues
Fundação: 06/03/1959
Cores: Verde, Ouro e Branco
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G.R.E.S. Imperatriz Leopoldinense
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“Xingu, o clamor que vem da Floresta”
"O índio estacionou no tempo e no espaço. O mesmo arco
que faz hoje, seus antepassados faziam há mil anos. Se
pararam nesse sentido, evoluíram quanto ao
comportamento do homem dentro da sociedade. O índio em
sua comunidade tem um lugar estável e tranquilo. É
totalmente livre, sem precisar dar satisfações de seus atos a
quem quer que seja. Toda a estabilidade social, toda a
coesão, está assentada num mundo mítico. Que diferença
enorme entre as duas humanidades! Uma tranquila, onde o
homem é dono de todos os seus atos. Outra, uma sociedade
em convulsão, onde é preciso um aparato, um sistema
repressivo para poder manter a ordem e a paz."
(Orlando Villas-Bôas, sertanista)
INTRODUÇÃO
Hoje, não vamos falar apenas de lendas, nem alimentar
mistérios que dependem de nossa imaginação. Você
cresceu, guerreiro menino, não é mais um curumim. Teve
coragem para enfrentar as tucandeiras, traz no rosto as
marcas do gavião e já consegue enxergar além das curvas
do caminho. Hoje, vamos falar da verdade. É preciso
entender o passado para saber o que nos aguarda no
futuro.
Quando seus pés tocarem o chão, pise com a certeza de
que ninguém ama tanto esta terra como a nossa gente.
Somos o povo da floresta. Os espíritos de nossos ancestrais
Carnaval 2017
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dormem nos troncos das árvores. A candura de nossas
mães flutua no ar, e se espalha no perfume das flores. O
amanhã resiste em cada semente carregada pela força do
destino, conduzida pelos pássaros que enfeitam nossos
cocares, orientam nossas flechas e repovoam essa
gigantesca floresta. Nós somos a floresta e deixaremos que
o vento leve este canto aos homens de boa vontade. Eles
precisam nos ouvir.
Sim, guerreiro menino, porque quando não existir mais
floresta, nossa gente será apenas lembrança e o que eles
chamam de país, já não terá nenhuma esperança...
CELEBRAÇÃO TRIBAL
Nossos irmãos vêm de canoa, dos lugares mais distantes da
floresta. Fazem uma roda no centro da aldeia. Corpos
pintados, iluminados pela lua cheia. É noite de festa.
Vamos dançar ao redor da fogueira. Mavutsinim, o Criador,
nos chamou para celebrar a paz e o amor. Tambores, flautas
e maracás tocarão a noite inteira. E quando o dia clarear,
nossa alma despertará: formosa, cabocla, guerreira...
Verdadeiramente brasileira!
Devemos encarar a vida com simplicidade. A terra aquecida
pelo Sol é a mesma que a Lua protege com o véu da noite,
guardando as surpresas para o novo dia. Sonhos existem,
mas o destino somos nós que traçamos: colhemos o que
plantamos. A morte faz parte da vida. Ela é o resultado de
nossas experiências. É a colheita de nossa existência. Ao
invocar os espíritos de nossos antepassados em troncos
G.R.E.S. Imperatriz Leopoldinense
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sagrados, criamos uma ponte para a eternidade, No Kuarup,
o que era mito, vira realidade. Celebramos essa derradeira
viagem com muita alegria, festejando a certeza de que raros
são os que partem com tamanha serenidade – servindo de
exemplo para os seus e a comunidade. Cantamos e
dançamos, orgulhosos do nosso jeito de fazer parte da
Humanidade.
O PARAÍSO ERA AQUI
Amamos esta terra muito antes de ela se chamar Brasil.
Desde o tempo em que não havia fronteiras. Era céu e chão,
até onde os olhos pudessem alcançar, percorrendo serras,
florestas, rios, cachoeiras... Sobre o ventre da Natureza,
nossos deuses estendiam um manto. Como por um encanto,
do lago surgia um pássaro sagrado, protegendo a nação
Kamayurá, fazendo a vida brotar... intensa, pujante,
vibrante, com uma infinidade de cores. Nuvens de
borboletas enfeitavam as flores. Surubins, matrinxãs e
tucunarés povoavam os igarapés. Aranhas tecelãs bordavam
suas teias, pirilampos faiscavam na aldeia. Do alto dos
buritis, ecoava uma sinfonia. Cigarra cantava,
acompanhando um coral de aves. O som grave dos bugios e
o esturro da suçuarana alertavam para um risco permanente
à nossa frente. Quem vem lá? Kayapó ou Kalapalo? Tatu ou
tamanduá? Assim era a nossa floresta, casa de nossa gente.
Não foi por acaso que, quando o caraíba aqui chegou,
imaginou estar no Paraíso – um Jardim Sagrado, de onde o
próprio Deus dele o expulsou.
Carnaval 2017
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O “ABRAÇO” DA SUCURI
Se perderam o seu Paraíso, os caraíbas partiram para
conquistar o nosso, pequeno guerreiro – talvez, por
vingança de um feiticeiro. Impulsionadas pelos ventos da
cobiça, as naus aportaram em nossas praias, trazendo
ensinamentos que os invasores nunca ousaram praticar.
Nada mais seria como antes. Em vez de nos tratar como
semelhantes, nos chamaram de selvagens e tentaram nos
escravizar. Vinham do Velho Mundo e representavam a
civilização. Chegaram arrogantes, se apoderando de nossas
terras e riquezas. Levaram ouro, prata e diamantes, e uma
madeira que tingia com sangue, lembranças de tantas
belezas. Em troca, traziam espelhos, doenças e destruição.
Sua missão era usar a cruz de um Deus que morava no céu,
fincando marcos aqui e ali; usando palavras sagradas,
deixaram nossa gente esmagada, como no abraço lento e
mortal da sucuri.
BELOS MONSTROS
Caraíba não mede consequências. Acredita na sua ciência,
buscando o que chama de progresso. Derruba floresta,
espalha veneno e acha o mundo pequeno para semear tanta
arrogância. Invade nossas terras, liga a motosserra e no
lugar dos troncos sagrados, planta ganância. Caraíba precisa
de mais energia para alimentar os seus interesses. Cria
verdadeiros monstros. Belos monstros... usinas que
destroem rios, matam peixes, secam nascentes, inundam
tabas e arrastam na lama o futuro de nossa gente. Não
podemos deixar, guerreiro menino, que afoguem o nosso
G.R.E.S. Imperatriz Leopoldinense
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destino. Nossa casa é aqui! E não devemos nos curvar.
Precisamos honrar cada dente do colar, cada palavra do
irmão Raoni!
CACIQUES BRANCOS
Também é justo lembrar de caraíbas que foram amigos. Eles
se embrenharam pelo sertão para fazer do Brasil uma grande
nação, criando picadas, abrindo estradas e campos de pouso
para a aviação. Ficaram encantados com o nosso jeito de
ser. Não conseguiam entender que para respeitar e ser
respeitado, nenhum de nós precisa vigiar ou ser vigiado.
Responsabilidade sempre foi um princípio honrado com a
família e a comunidade. Fizemos um kuarup para saudar
esses caciques brancos em nossos rituais. Eu ainda era
rapaz, pequeno guerreiro, quando os vi no Roncador.
Acompanhei suas expedições. Vinham em batelões,
trazendo respeito e amor. Ficarão para sempre em nossos
corações, protegidos por Tupã. Louvados sejam os irmãos
Villas-Bôas, que nos ajudaram a encontrar a passagem para
o Amanhã!
O CLAMOR DA FLORESTA
As nações xinguanas se reúnem para celebrar o orgulho de
ser índio e pedem licença para falar: Enquanto o caraíba não
recuperar o seu equilíbrio, a Natureza agonizará. E sem ela,
sem a proteção da Mãe de todos nós, estaremos ameaçados
– seja na terra dos civilizados, ou nos confins dos povos
isolados. Já é tempo de o caraíba cultivar a humildade e
Carnaval 2017
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aprender com o índio o que chama de sustentabilidade.
Precisa esquecer os lucros, o progresso, o consumo e o
desenvolvimento; zelar pelos sentimentos e os
compromissos com a Humanidade, retirando da Natureza
apenas o que basta para o seu sustento.
Jovem guerreiro, voe nas asas do vento e espalhe estas
palavras de Norte a Sul. Os povos não-índios precisam
entender que é chegado o momento de ouvir o clamor do
Xingu!
Pesquisa, desenvolvimento e texto:
Cahê Rodrigues, Marta Queiroz e Cláudio Vieira
Junho de 2016
GLOSSÁRIO
Batelões – Embarcações de fundo chato, usadas para
navegar em rios rasos.
Bugio – Espécie de macaco também conhecido como
guariba ou barbado.
Buriti – Palmeira que dá um fruto do mesmo nome, rico
em vitamina C e largo uso na cosmética.
Caraíba – Segundo o índio, o homem branco.
Kalapalo – Uma das 16 etnias do Parque Indígena do
Xingu.
G.R.E.S. Imperatriz Leopoldinense
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Kamayurá – Uma das 16 etnias do Parque Indígena do
Xingu
Kayapós – Uma das etnias do Brasil Central.
Kuarup – Ritual xinguano em homenagem aos mortos.
Mavutsinim – Segundo a etnia Kamayurá, o primeiro
homem, o Criador.
Surubins, matrinxãs, tucunarés – Peixes do Brasil
Central.
Raoni – Líder indígena da etnia Kayapó.
Roncador – Serra do Roncador, o ponto mais central do
Brasil, situado entre os rios das Mortes e Araguaia, entre
os rios Kuluene e o Xingu, no Mato Grosso.
Suçuarana – Onça parda.
Tucandeira – Formiga cuja picada é capaz de matar um
homem. No ritual de iniciação, quando da passagem do
menino índio para a adolescência, os jovens guerreiros
provam a sua coragem colocando a mão em luvas de
palha com várias dessas formigas, suportando as
ferroadas durante 15 minutos.
Carnaval 2017
40
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
O Xingu dos Villas-Bôas – Agência Estado/ Metalivros
Parque Indígena do Xingu 50 Anos – Almanaque
Socioambiental
A Marcha Para o Oeste – A epopeia da Expedição
Roncador-Xingu / Orlando e Cláudio Villas Bôas
Xingu, Viagem Sem Volta – Julio Capobianco/ Editora
Terceiro Nome
Narrativas sobre povos indígenas na Amazônia – José
Vicente de Souza Aguiar / Fapeam
Diários Índios – Os Urubu-Kaapor - Darcy Ribeiro/
Companhia das Letras
Tesouro Descoberto no Máximo Rio Amazonas –
Padre João Daniel/ Contraponto
Xingu, 55 Anos – O que o Brasil tem a aprender, por
Renata Valério de Mesquita – Revista Planeta, Edição
519 – Abril 2015
Patrimônio Cultural do Xingu, por Ulisses Capozzoli –
Scientific American – no 44 – Edição Especial
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“O Som da Cor”
G.R.E.S.
UNIDOS DE VILA ISABEL
Presidente: Levi Araujo Lafeta Junior
Carnavalesco: Alex de Souza
Fundação: 04/04/1946
Cores: Azul e Branco
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G.R.E.S. Unidos de Vila Isabel
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“O Som da Cor”
Ouço um tom de pele. Vejo a música que embala. Me
arrepio no toque da batida, saboreando o ritmo que dela
exala. Sinto cheiro daquela gente sofrida, no brilho da voz
que não cala. Esta é a saga daqueles que migraram
forçosamente, para um já velho novo mundo. Após séculos
no cativeiro, tingiram estas Américas e as fizeram crioulas.
Gerações que se seguiram colheram os frutos desta
musicalidade, semeada por seus ancestrais. Vozes e
percussão revelando seus ritmos, no bater do pé e na palma
da mão. Instrumentos inventados ou adquiridos de outras
culturas.
De início, navego milhas, nas ondas latinas, aportando nas
Antilhas, como os hispânicos reinóis, seus descobridores.
Entre chocalhos e maracas, o canto e a dança, ao som da
habanera cubana. Do culto ao etíope monarca africano,
nasce o movimento rastafári caribenho, disseminado pelo
reggae jamaicano. Seguindo para o sul da colônia,
conhecemos a cúmbia, "dança dos escravos" da Colômbia.
No Uruguai, a dança com atabaques tem como candombe
seu codinome. Bantos, de origem, seguem para a prateada
Argentina, muitos partindo do Brasil. Embarcavam, levando
em si uma cultura genuína, que, transportada em cada
cargueiro, chega ao porto de Buenos Aires vinda do Rio de
Janeiro. Assim nascem a milonga e o tango, seu irmão, que
no dialeto banto quer dizer círculo, baile, tambor ou reunião.
Além das coroas ibéricas, outros reinos colonizaram o
continente; ingleses e depois seus colonos americanos, que
se proclamaram independentes, disputaram com espanhóis e
franceses novos territórios. E neles aportaram navios
Carnaval 2017
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negreiros; a mão de obra escrava, nos brancos campos de
algodão, era despejada. Proibidos de falar, cantavam.
Cantando, dividiam dor, amor e cânticos de louvor. Blues,
ou “azuis”, era referência às pessoas de pele negra e à
melancolia nas plantações. Pai do jazz, que contém um
banzo, uma saudade. Nova Orleans foi o berço. Os
instrumentos das bandas marciais, uma vez abandonados,
após a derrota dos sulistas na guerra civil, foram
reaproveitados. Segregados, os irmãos de cor dedilhavam o
teclado em igrejas para os fiéis. Restava-lhes pouco espaço,
somente em bares, clubes e bordéis. Assim o “ritmo” vai
dominando o suingue do compasso. Do boogie-woogie e do
jump blues, nasce um novo gênero que, ao som de guitarras,
pelo mundo inteiro, a juventude conquistou: “Aumenta que
isso aí é rock'n roll”. Está na alma, está no soul! Na pista
disco. No funk e no techno. Negro é rap, é hip hop. Ser
negro é ser pop.
Agora ouço, das terras brasileiras, histórias que a memória
traz. Bantos, iorubás, jejes, minas e hauçás, sobrevivendo
entre a dor e a gana, na ex-colônia lusitana, deram início a
uma íntima relação entre música e fé. E ao seu culto
chamaram “calundu”, e em seus “batuques” na mata aberta,
nos cafundós do sertão, uma cultura se manifesta. “Se negro
festeja, não conspira", diz o amo branco, que assim
permitia. Na roda dos negros, virou lundu, uma dança
sensual que, junto à fofa e ao fado, atravessou o Atlântico e
conquistou Portugal. Este último se une aos cantos dos
mouros, às cantigas dos trovadores, da saudade inerente dos
marinheiros. Consolida-se como canção solista, inspirada na
dança estilizada. Revela-se que o grande orgulho luso, ora
pois, tem um pé na senzala.
G.R.E.S. Unidos de Vila Isabel
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Nas ruas daqui, o toque da zabumba chama o povo para o
festejo, ao relembrar a coroação do rei do congo num
sincrético cortejo, das embaixadas da nobreza negra, sua
corte e seus vassalos. A devoção da irmandade negra
católica à padroeira dos escravos. Salve Nossa Senhora do
Rosário dos Pretos, salve São Benedito. Batem tambores,
marimbas e ganzás, nas batidas de caxambus. Dos reisados,
de Chico Rei coroado e dos maracatus. Festejando em
louvação, simulam lutas nos autos negros que saúdam a
Divina Senhora da Purificação. Na tradição nagô, o
“candomblé de rua”, na cadência do ijexá com seus
xequerês e agogôs, é representado pelo afoxé. E nos trios
elétricos brincam ao ritmo do axé. Dos grandes mestres e
batutas, choram flauta e cavaquinho. As modinhas, polcas,
maxixes, pilares do meu carinhoso chorinho. E nos grandes
encontros se fez o jongo, conhecido como caxambu e
corimá.
E o samba, que vem de "semba", a angolana "umbigada",
mexe e remexe nos seus requebrados. Sincopado e
malandreado. Vem exibir, com as palmas e a resposta, os
seus passos e rebolados. Meu tamborim de bamba,
valorizando a batucada. Com as bênçãos de Ciata e das "tias
baianas", na Praça Onze e na Pedra do Sal, na Pequena
África carioca. “Brasil, esquentai vossos pandeiros, iluminai
os terreiros”, que a negritude tem a primazia. E é dessa cor
que falo, que meus sentidos expressam, naquele que é
considerado o maior espetáculo. Trazendo os matizes de
cada pavilhão, a escola que o samba fez. E ao som das cores
da Vila, que é Azul, Branca e Negra também, vem kizombar
mais uma vez.
ALEX DE SOUZA
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“A Divina Comédia do
Carnaval”
G.R.E.S.
ACADÊMICOS DO SALGUEIRO
Presidente: Regina Celi dos Santos Fernandes
Carnavalescos: Renato Lage e Márcia Lage
Fundação: 05/03/1953
Cores: Vermelho e Branco
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G.R.E.S. Acadêmicos do Salgueiro
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“A Divina Comédia do Carnaval”
“Carnaval do Rio, vendaval de sentidos! (...)
Tu és o espasmo da fera na civilização”.
(João do Rio)
Quem sou eu nessa selva de ilusões que se ergue quando o
mundo real acaba em cinzas para renascer vibrante nas
chamas de mais um Carnaval?
Muito prazer! Sou um aventureiro errante, passageiro do
delírio. Mas podem me chamar de poeta...
Embarco numa viagem desvairada pelos três reinos místicos
de Momo, navegando por um rio de escaldantes tentações.
“Se ‘essa barca’ não virar / Olê, olê, olá... Eu chego lá!”
De mente aberta e alma liberta, lá vou eu!
ALEGRIA INFERNAL
No “Balancê, Balancê”, a embarcação avança pelas águas
assombradas de onde avisto as loucas fantasias dos que se
entregam sem temor às garras da folia. São milhares de
vozes que ecoam pelos abismos mais profundos, entoando
uma ladainha profana, hino de tantos carnavais:
“Mas que calor ô-ô-ô-ô-ô-ô”!
Carnaval 2017
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Estou em pleno Inferno, ardendo numa incontrolável febre
de alegria. No rebuliço dos salões subterrâneos, o Bloco dos
Mascarados arma as trincheiras para uma intensa batalha de
confetes e serpentinas, libertando as feras que se escondem
em cada um de nós.
No decorrer do trajeto, vejo uma procissão pagã inundando
de beleza a Avenida das Labaredas, onde ressoam alto os
clarins pedindo passagem para os “Tenentes do Diabo”.
Numa triunfal aparição, é carregado em glória o Senhor das
Profundezas, que uma vez por ano segue a comandar o
soberbo desfile das Grandes Sociedades do Além-Túmulo.
Nessa euforia aterradora, a ordem do Rei do Mundo Inferior
é lavar a alma num irresistível transe coletivo, como se
fosse o último Carnaval sobre a face das trevas.
Mas sinto que é hora de partir, ainda que atraído pelas
fogosas tentações espalhadas no caminho maligno que tanto
me seduz. Sigo, então, a minha trajetória. Ainda há muito
Carnaval para pular.
PECADO É NÃO SE ENTREGAR...
Depois de abandonar as veredas infernais, eis que estou aos
pés do imponente monte Purgatório, onde o Cordão dos
Penitentes se divide em sete grupos de foliões, cada qual
com seu pecado capital. Em um cortejo alucinante,
sacodem a ladeira sem culpa, sem juízo e sem medo de ser
feliz. Afinal, não há castigo para pecados cometidos em
nome do prazer.
G.R.E.S. Acadêmicos do Salgueiro
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Mas que folião sou eu nesse reino entre o Inferno e o Céu?
Para avançar pela trilha da temperança, é preciso mergulhar
nas águas que purificam o espírito e seguir o caminho da
salvação.
“Vê? Estão voltando as flores...”.
O cenário se modifica e dá lugar a um gracioso cortejo de
sonhos e recordações. Abram alas para o esplendor dos
Ranchos e suas deslumbrantes flores, aves exuberantes e
borboletas telúricas. É a natureza se revelando em um
suntuoso Jardim do Éden, bordando de beleza a travessia
rumo às portas do reinado derradeiro de Momo.
A DIVINA FOLIA
Purificado, cruzo a grande entrada que me defronta com a
visão divinal do firmamento, onde estrelas giram como um
carrossel místico suspenso no infinito. Ao seguir o rastro de
poeira cósmica, vou percorrendo um universo magnífico e
reluzente. Nos altos círculos celestiais, um Corso espacial
desfila encanto e lirismo:
“E a lua anda tonta... com tamanho esplendor!”
A minha alma caminhante sorri diante da vastidão do
espaço ornamentado de saudade. Decorado por grandiosos
painéis multicores, flutuo em glória rumo à Apoteose que
encerra esta jornada foliã. Chego, enfim, ao meu destino
final!
Carnaval 2017
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No último portal do Paraíso, sinto o pulsar da magia dos
tambores que emanam o axé das divindades. Iluminado,
adentro o templo da divina criação, na dimensão afro-
cósmica dos reis, heróis e deuses de Yorubá.
Nesse plano superior, ponho-me diante da Santíssima
Trindade do Carnaval, que molda em arte tudo o que nasce
do coração do povo. Pai, Filho e Espírito Santo... Juntos de
novo na missão de interpretar a alma da nossa gente. Assim,
celebro, extasiado, a beleza criada pelas mãos do gênio
Arlindo, o eterno querubim arlequinal, a trançar a Divina
festança entre rendas e fitas; contemplo a obra magistral de
Joãosinho, o menino que virou rei, a tecer em luxo e brilho
o maior espetáculo do universo; e, por fim, reverencio o
supremo Deus com voz de trovão, Fernando Pamplona...
Salve o mestre de muitas artes que enfeita, nas altas esferas
de Orum de Todos os Deuses, a grande Festa para os Reis
Negros da Academia do Samba, o meu sagrado Paraíso!
Em estado de graça, completo a minha Odisseia
carnavalesca. É hora de revelar em poesia todas as
maravilhas que vi e que senti ao longo do percurso.
Meu nome é Dante! Sou poeta peregrino que anuncia o
grande aprendizado desta Divina Comédia:
A REAL FELICIDADE ESTÁ EM NOSSA INADIÁVEL
MISSÃO DE CARNAVALIZAR A VIDA.
Há um Dante dentro de você. Liberte-o!
G.R.E.S. Acadêmicos do Salgueiro
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SETORES DO DESFILE:
Setor 01 – INFERNO
1.1 - A Barca para o Inferno
1.2 - Os Tenentes do Diabo
Setor 02 – PURGATÓRIO
2.1 – O Cordão dos Penitentes - Os Sete Pecados Capitais
2.2 – Ranchos: A Purificação
Setor 03 – PARAÍSO
3.1 – O Corso Espacial
3.2 – A Santíssima Trindade no Orum de Todos os Deuses
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“A Virgem dos Lábios de Mel -
Iracema”
G.R.E.S.
BEIJA-FLOR DE NILÓPOLIS
Presidente: Farid Abrão David
Carnavalescos: Laíla, Fran Sérgio, Bianca
Behrends, Victor Santos, André
Cezari, Cristiano Bara, Rodrigo
Pacheco, Wladimir Morellembaum,
Brendo Vieira, Gabriel Mello,
Adriane Lins e Léo Mídia
Fundação: 25/12/1948
Cores: Azul e Branco
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G.R.E.S. Beija-Flor de Nilópolis
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“A Virgem dos Lábios de Mel - Iracema”
Poema em prosa.
Romance, poesia, heroísmo, lirismo, história.
Vestal consagrada à luz de Tupã – o Deus Criador, Iracema,
a Virgem dos Lábios de Mel, inocente criatura, cujo o
sorriso era mais doce que o favo da jati, nasceu no paraíso
intocado, berço da terra selvagem.
Filha da floresta, mais rápida que a ema silvestre, cujos
cabelos eram mais negros que as asas da graúna, e mais
longos que seu talhe de palmeira, a sacerdotisa é símbolo da
mais cândida pureza.
Em meio ao verde das matas, à natureza exuberante, sob a
luz das estrelas, no meio do caminho, o esplendor do
encontro da natureza com a civilização – Iracema e Martim,
a flor e o espinho.
Iracema... Menina mulher, sinuosa e faceira; é ela quem
atira a flecha certeira. Em seu semblante resplandece a face
de uma típica nativa da América*.
Bela tal qual uma pintura, ainda casta e pura, revela quase
ingênua sensualidade desnuda, desenhada nas curvas
perfeitas de seus seios e quadris.
A joia do Senhor das Aldeias, guardiã do segredo da
Jurema, se resguarda, se preserva, se mantém intacta, até
Carnaval 2017
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encontrar o mais sublime amor. Então, apaixonada, enfim,
se entrega. Entoam acordes dissonantes, explode a paixão
pulsante. Mas registre-se: não se trata só do prazer da carne;
é um momento mágico, ansiado, aguardado, desejado. Uma
questão de se perder para se encontrar...
Então, o fogo do entusiasmo acende um interesse vivo, a
vontade de realizar, o ardor do querer, satisfazer de prazer.
Até onde uma mulher é capaz de chegar por amor???
Duas raças se unem. Ele, o lenço; ela, o vento. Sedução,
ternura, encanto. O despertar de ardentes desejos viris... O
sangue correndo nas veias revela fertilidade. De dois, faz-se
um só ser.
Tabajaras, Pitiguaras, europeus. Lanças, lástima, conflito e
batalha. Pele branca e pele vermelha; terra branca, sangue
vermelho... Uma mistura de tons e sons, de mel e fel.
Essa ópera indianista de rara beleza, revela a semente
fecunda, o milagre da vida, o nascimento de Moacir, o
primeiro brasileiro mestiço.
Iracema não resiste... Mas nada de tristeza, Iracema
persiste!!! Existe em cada pedacinho de terra, e nas veias de
cada filho desse chão. É a história viva, signo de um povo!
O Ceará sempre será Iracema!!!
E nós, somos uma legião de guerreiros da tribo Beija-Flor!!!
Temos uma fé inabalável, e cremos na força de Tupã!!!
Respeitamos a magia do som do trovão, o rufar dos
tambores, e a marcação dos passos no chão, legado deixado
G.R.E.S. Beija-Flor de Nilópolis
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pelos nossos ancestrais, valentes e legítimos donos da terra.
E assim, com bravura, iremos saudar Iracema, a Virgem dos
Lábios de Mel, a Lenda do Ceará!!!
(*) Iracema é um anagrama de América.
Comissão de Carnaval e Departamento de Carnaval:
Laíla, Fran Sérgio, Bianca Behrends, Victor Santos,
André Cezari, Cristiano Bara, Rodrigo Pacheco,
Wladimir Morellembaum, Brendo Vieira Gabriel Mello,
Adriane Lins e Léo Mídia.
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“Nzara Ndembu –
Glória ao Senhor Tempo”
G.R.E.S.
UNIÃO DA
ILHA DO GOVERNADOR
Presidente: Sidney Filardi
Carnavalesco: Severo Luzardo
Fundação: 07/03/1953
Cores: Vermelho, Azul e Branco
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G.R.E.S. União da Ilha do Governador
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“Nzara Ndembu – Glória ao Senhor Tempo”
“O Tempo não existe;
a não ser em todo o resto que há!
E Rei, o Tempo, é uma epopeia,
existindo nas coisas todas que hão!
É ausência que se apresenta
como transformadora presença.
I
Pois havia as terras dos Bantos, onde Nzambi Mpungu, o
grande criador e suprema entidade, vivia em seu suntuoso
palácio, Nsanzala dia Nzambi, o Templo da Criação, na
origem do universo, entre ampulhetas mágicas e
ornamentos de ouro e marfim. Foi quando surgiu a
necessidade de convocar Kitembo, Rei de Angola, e
transformá-lo no Inquice mágico do tempo: o tempo
cronológico e o tempo mítico estariam reunidos para toda a
eternidade.
Raios e dias, tempestades e semanas, vulcões e meses,
estações do ano e os anos, maremotos e décadas, os
segundos em séculos, os minutos em milênios, as horas
dando sentido à vida! Abriram-se mágicos portais, que
conduziriam razão e emoção no longo existir. O destino e a
mutação.
No interior do Palácio, todo dia e noite, criaturas Nlundis e
Fucumbas de ferro protegiam a rara energia maleável e
evolutiva- o Nguzu, que dava a Kitembo o poder de
transformar o mundo.
Carnaval 2017
72
Foi assim que o espírito livre de Kitembo varou os céus e se
fixou na terra, alcançando conexão entre os dois mundos: o
sobrenatural e o material. Criou raízes fortes de uma árvore
sagrada, que servia como meio de comunicação e de
transporte ente os deuses e os homens, em comunhão com o
universo.
II
Já lá se vão 4,6 bilhões de anos! Sobre o supercontinente
seminal, aliou-se à Nzumbarandá, a mais velha dos
Inquices, e juntos criaram a natureza na Terra, solicitando
que Katendê lançasse sementes que formariam florestas
guardadoras de majestosa biodiversidade.
Este equilíbrio foi maculado com a chegada do grande
meteoro que avermelhou o céu. Foi preciso a ação de
Kiamboté Pambu Njila, em forma de caminhos e de
movimento, para que os continentes e o nível do mar
começassem a se mover. Pontes de terra abriram caminhos
entre um bloco e outro, permitindo que primitivos animais
migrassem livremente.
No caminho, o Rei de Angola encontrou guerreiros de
várias tribos e ensinou-lhes a cultivar a terra. Era plantar
para colher, domesticar alguns animais e aceitar que muitas
espécies permaneceriam na natureza selvagem. Kiamboté
Kabila Duilo! Gongobira! Mutalambo: salve o caçador
dos céus!
G.R.E.S. União da Ilha do Governador
73
Kiuá Nkosi, o Senhor da forja, ao transformar o
instrumento de pedra em metal viu os guerreiros lutando
para sobreviver. Da força do ferro, para o bem e para o mal,
surgiram os instrumentos de trabalho e nasceu a natureza
bélica.
Kitembo não se abateu, e convocou Kavungo, Inquice da
saúde, da morte e Senhor dos mistérios e Nsumbu, o Senhor
da terra, para celebrarem a Kukuana: festa da fartura, da
prosperidade de alimentos. O solo da mãe Terra ganhava
assim a sua celebração principal. Em contato com a natureza
plena e no reencontro com seus irmãos de Angola, o
guerreiro Kitembo renovou seus laços de fraternidade,
essência de sua ancestralidade, e seguiu viagem.
III
No final da era em que as águas se separam da terra,
surgiram os grandes reservatórios debaixo e em cima da
crosta do planeta. Angoro, Hongolo Menha, o arco-íris no
céu, foi quem disso lembrou Kitembo. Era o vapor, o
gasoso hídrico, a água, a seiva da vida, que circundaria toda
a terra e trazendo novos ciclos.
As águas que se precipitam do céu tocados por Kitembo,
Angoro e Bamburucema, se infiltram na terra e depois
renascem límpidas e brilhantes. Fontes de toda a vida, as
águas fizeram Kitembo entender a longevidade, o princípio
de toda a cura e a bebida sagrada da imortalidade. Nos
rituais africanos, a água é o elemento fundamental em
banhos de cheiro, de descarrego; nas oferendas em
Carnaval 2017
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cachoeiras; podendo, de forma mágica, também se
transformar em estado sólido, fazendo surgir na natureza o
encanto das geleiras, a neve e os icebergs.
Foi num mergulho nas águas salgadas, que Kitembo chegou
ao palácio subaquático, cercado de corais, e lá encontrou
Samba Kalunga, guardiã dos segredos dos mares
profundos, e Nkianda, a dona de todo o mar e seus peixes
abissais de extrema beleza.
A benção das águas salinizadas interagiu com lagoas e lagos
onde a vida e a beleza das espécies aquáticas são mantidas e
preservadas sob a proteção da encantadora Ndandalunda,
sereia de águas doces. Ndadalunda! Kissimbi!
IV
Kitembo sabia que havia um destino solar no seu caminhar,
o assim chamado fogo universal. Diante do poder
incandescente, louvou Nzazi, a divindade do fogo, do
trovão, da justiça. Estava diante do Inquice capaz de
fulminar os injustos com sua pedra de raio. Uma chama
incandescente que indica o caminho que deve ser seguido,
por aquele que conhece os ensinamentos das leis do
Universo. A força energética, ligada ao impulso da vida, à
paixão, à transmutação; força avassaladora e incrível,
associada à motivação, desejo, intenção, ímpeto e espírito
aventureiro. Faísca de divindade que brilha dentro de nós e
de todas as coisas vivas.
G.R.E.S. União da Ilha do Governador
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A Magia do Fogo pareceu ao Rei de Angola assustadora,
porque os resultados manifestam-se de forma rápida e
espetacular, como nosso metabolismo e as paixões que nos
movem. O movimento da ampulheta não cansava de
surpreendê-lo. O encontro do sol com a lua, do dia com a
noite, só foi possível porque o fogo, condutor da magia, a
chama da vida estava ali presente nos raios de sol de mais
um dia.
No Sol, nas estrelas, nas fogueiras, nas brasas, nas lavas,
nos vulcões e nas erupções. O frenesi que esquenta nos dias
frios e faz transpirar nos dias quentes. Foi quando Kitembo
apreciou o eclipse, mais um espetáculo da natureza:
E como isso não bastasse, o fogo era o elemento da
comunicação, pois o fogo fala diretamente aos homens.
Diante do fogo, o animal se espanta e foge, mas o humano
espanta-se e aproxima-se. E ele faz parte de cultos e rituais,
e desde os primórdios permitiu ao homem inúmeros
avanços: o preparo de alimentos e bebidas, caçadas e no
afugentamento de animais e grupos rivais, na fundição de
metais e para fazer renascer as labaredas de fé no coração do
homem.
V
O Rei Kitembo de Angola curvou-se diante do azul celeste,
repleto do elemento Ar, e ali esperou até que surgisse ao seu
lado Matamba, a Inquice rainha dos ciclones, furacões,
tufões, vendavais. A guerreira poderosa, amor e paixão do
Senhor do tempo. Contam as lendas que ele gostava de virar
Carnaval 2017
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o tempo, apenas para ver Matamba soprar seu vento, tão
fundamentais para movimentar as sementes outrora lançadas
na terra. Ali, no chão da terra, onde o homem pisa com toda
a sua humildade, estava a magia do poder transformador dos
elementos.
Matamba deu-lhe a mão, e seguiu com ele de volta para a
África, para o Reino de Nzambi. Ali uniram seus súditos na
criação de um novo reino, gerando trabalho e prosperidade
por muitos séculos, emanando para todos os povos
irradiações de amor e respeito pelo meio ambiente, a fonte
inesgotável de vida para as futuras gerações.
Que nossa vida seja um canal de manifestação do Reino de
Nzambi, onde quer que estejamos. Que nossa ação, nossa
palavra, nosso agir, revele esse maravilhoso reino com todas
as suas potencialidades. E assim abriremos de volta o
caminho para que possamos viver o nosso Tempo.
Como será o futuro da humanidade e a preservação dos
elementos naturais? A união dos povos pela preservação da
vida, responderia Kitembo.
Na história do Tempo, a árvore sagrada da vida deixou
registrada para todo o sempre esta cronologia: as raízes do
passado, as folhas do presente e os frutos do futuro.
Saravá! Nzara Ndembu!
De um velho soba do deserto de Namibe,
para União da Ilha do Governador.
Carnaval 2017
G.R.E.S. União da Ilha do Governador
77
JUSTIFICATIVA
Angola, Congo! Saravá! Vem de lá o passado, presente e
futuro do universo!
Do seio da África majestosa, mística e misteriosa, da
natureza sagrada, surge a história de um grande Rei que a
União da Ilha vem contar...
Kitembo! A força universal do Inquice Tempo: o grande
poder transformador. Grande mestre, Deus do profano e do
sagrado. Deus de todas as crenças e religiões. O Tempo da
respiração, do sopro divino da vida.
A Odisséia de Tempo, o passageiro das ilusões. É a bússola
majestosa que guia os navios, os pontos cardeais, o vento
nas velas das embarcações, as mudanças do tempo astral e
do tempo cronológico do homem na Terra.
Senhor da razão e da emoção. Condutor das sensações e das
emoções que o ser humano sofre ao longo da vida. Mutação,
evolução! Faz mudar os rumos de tudo. O tempo está na
luta, na guerra, em momentos especiais que mudaram
destinos e amarraram heranças e civilizações mundo a fora.
A União da Ilha pede licença para dançar no ritmo do
Tempo. Tal qual o povo guerreiro de Além-mar, veste a
ancestralidade de um Rei consagrado no tempo e no espaço.
Faz do carnaval, o renascimento e a celebração do Tempo
Rei, aquele que detém o poder de tudo transformar. Com as
páginas do passado, escrever no tempo presente o futuro
para uma nova era, um novo tempo.
Carnaval 2017
78
Com o canto e a força do seu povo, pede bênçãos a
Kitembo, e emoldura as cores de todos os credos e todas as
crenças no seu pavilhão.
Batam os tambores para um novo tempo: é tempo de fé para
a União da Ilha!
Ê tempo! Ê tempo Nzara Ndembu!
Enredo: Severo Luzardo e André Rodrigues
Pesquisa: Jeferson Pedro
Colaboradores: Ubiratan de Oliveira Araújo, Ricardo
Euandilu Tenório, Alex Varela e Wellington Imperial
BIBLIOGRAFIA
BATSIKAMA, Patricio: As origens do Reino do Kongo,
Luanda, Mayamba Editora, 2010.
BRASIL. Ministério da Educação. Orientações e Ações
para a educação das relações étnico-raciais. Brasília:
SECAD, 2006.
CARENO, Mary Francisca do. A lei 10639, a diversidade
cultural e racial e as práticas escolares. Disponível em
http://.www.grubas.com.br/datafiles
CARMO, J. G. Botura. Africanidades: O início de uma
discussão curricular. IN:
http://paginas.terra.com.br/educacao/josue/index%20166.
htm.
G.R.E.S. União da Ilha do Governador
79
CHAUI, Marilena. Convite a Filosofia. São Paulo: Ática,
1994.
FANON, F. Pele negra, máscaras brancas. Porto:
Paisagem, s. d.
GOMES, Flavio dos Santos. Quilombos IN: PINSKY,
Jaime & Pinsky, Carla Bassanezi. História da Cidadania
3ª ed. São Paulo : Contexto, 2005.
JURKEVICZ, Vera Irene. As irmandades negras: “lócus”
da religiosidade
popular. IN: Revista Tecnologia e Sociedade. Periódico
Técnico - científico do Programa de Pós Graduação em
tecnologia da UTFPR. n.1(out-2005) – Curitiba :Editora
UTFPR.p 195-207.
KUKANDA, Vatomene. “Diversidade Linguística em
África”. In: Africana Studia número 3. CEAUP: Porto,
2000.
KUKANDA, Vatomene. Notas de Introdução à
Linguística Bantu – Lubango: Universidade Agostinho
Neto. Instituto Superior de Ciências da Educação, 1986.
LOPES, H. T. 500 anos de cultura e evangelização
brancas do ponto de vista das religiões afro-brasileiras.
Rio de Janeiro, 1990. (Texto datilografado).
MOURA, C. Sociologia do negro brasileiro. São Paulo:
Ática, 1988.
PALMARES DO SUL.
MUNANGA, Kabengele & GOMES, Nilma Lino. O
negro no Brasil de hoje: história, realidades, problemas e
caminhos. São Paulo:Global, 2004
Carnaval 2017
80
PINSKY, Jaime. (org.) O ensino de História e a criação
do fato. 5ª ed. São Paulo: Contexto, 1992.
RATTS, Alex. DAMASCENA, Adriane A. Participação
africana na formação cultural brasileira. In: Educação
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Faculdade de Educação. Brasília. 2006. (p. 168 -183).
SOUZA, N. S. Tornar-se negro. Rio de Janeiro: Graal,
1983.
SILVA, Petronilha Beatriz Gonçalves. Africanidades.
Revista do Professor, Porto Alegre, p.29-30, out./dez.
1995.
VOGEL, Arno. A Galinha d’Angola Iniciação e
identidade na Cultura afro brasileira. Rio de Janeiro:
FLACSO: Niterói, RJ: EDUFF, 1993.
81
“Onisuáquimalipanse”
G.R.E.S.
SÃO CLEMENTE
Presidente: Renato Almeida Gomes
Carnavalesca: Rosa Magalhães
Fundação: 25/10/1961
Cores: Preto e Amarelo
82
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G.R.E.S. São Clemente
85
“Onisuáquimalipanse”
(Envergonhe-se quem pensar mal disso )
Era uma vez um principe que morava num país distante.
Quando ele era ainda jovem, o rei, seu pai, morre e ele é
coroado rei.
O jovem rei viveu sua juventude com intensidade. Dançava
todas as noites, montava a cavalo e organizava torneios.
Gostava de se mascarar no carnaval, saía de seu palácio para
visitar as senhoras importantes do “grand- monde”.
Aprendeu a cantar, dançar e a tocar guitarra. Sua mais
célebre participação foi em um balé intitulado “Balé da
Noite” baseado num poema que dizia:
“No cume dos montes, começando a clarearem,
Já começo a me fazer admirar
Eu dou cor e forma aos objetos
E quem não quiser evitar minha luz,
Vai sentir meu calor....”
Ao final nosso rei representava o sol se levantando em meio
às nuvens e tal foi o sucesso que ganhou o apelido de Rei
Sol.
E como todo rei se casa com uma princesa, este nosso
personagem não escapou à regra e se casou com uma
princesa – Maria Teresa da Austria.
Para tomar conta dos seus tesouros, e dos tesouros do país,
escolheu o advogado Nicolas Fouquet, que conseguiu sanar
as finanças e organizar financeiramente o país. Foi nomeado
Carnaval 2017
86
superintendente das finanças do Rei, uma espécie de
ministro.
Este senhor foi acumulando uma fortuna imensa tão grande
quanto seu poder. Promovia as artes, no sentido mais nobre
do termo, e vivia circundado de poetas, teatrólogos, pintores
, músicos etc...para os quais pagava uma espécie de
mesada.
Comprou muitos imóveis, mas gostava de um em particular,
um palácio, situado não muito longe de Paris, que
necessitava de reformas e cujo terreno era um tanto
acanhado. Comprou as terras em torno da edificação e deu a
missão de reforma-lo a alguns de seus amigos artistas como
Lebrun, pintor, Levau , arquiteto e Le Notre, paisagista. Deu
a estes artistas total liberdade de criação. O resultado foi
surpreendente. O palácio ficou deslumbrante, com suas
pinturas nas paredes, espelhos e madeiras douradas, um luxo
fantástico. O jardim era tão grande que se perdia de vista.
Era um verdadeiro assombro com suas alamedas
geométricas, labirintos e gramados que faziam desenhos
complexos, intercalados por lagos e espelhos de agua com
chafarizes.
Tratou de preparar uma grande festa para o rei, que levou
nada mais nada menos que 600 convidados. O cozinheiro de
Fouquet era excepcional, chamava-se Vatel , não havia , no
reino inteiro quem fizesse uma festa como ele. Porque ele
cozinhava e inventava as decorações e efeitos para seduzir
os convivas.
G.R.E.S. São Clemente
87
A recepção foi fantástica – Os chafarizes enfeitavam os
jardins e refletiam os fogos de artifícios. Vatel preparou um
bufê insuperável, a musica era da melhor qualidade e ainda
puderam assistir a uma peça de Moliere. Nunca se viu
tamanho esplendor - o Rei ficou absolutamente
deslumbrado,e depois ..... muito furioso.
Mandou que o chefe da guarda real, d’Artagnant, prendesse
o superintendente, por malversação do dinheiro publico, ou
real, pois afinal como ele havia conseguido construir
tamanha obra de arte...Fouquet conseguiu ainda avisar aos
seus mais próximos, que destruíram os documentos mais
comprometedores.
O Rei nomeou outro ministro, chamou os artistas que
haviam trabalhado no Palacio de Fouquet e os incumbiu de
construir um palácio muito mais bonito, muito mais
esplendoroso e do qual ninguém jamais imaginara e com
jardins e bosques e arvores frutíferas como ninguém jamais
houvesse visto igual.
E foi assim que esses artistas construíram um palácio ainda
mais lindo , chamado Versailles.
ps- Essa historia aconteceu há muito tempo, qualquer
semelhança com fatos de outras épocas é mera coincidência.
Rosa Magalhães
Carnavalesca
Carnaval 2017
88
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA:
MARAL, Alexandre et SARMANT, Thierry: Louis XIV –
L’Univers du Roi-Soleil – Editions Tallandier – Paris –
2014
ALIMANT-VERDILLON, Anne et GADY, Alexandre:
Le Jardin des Tuileries d’André Le Notre – Un Chef-
d’oeuvre pour le Roi-Soleil – Somogy éditions d’Art –
2013
LABLAUDE, Pierre-André: Les Jardins de Versailles –
Editions Scala - 1995
Consultas na Internet sobre: Vatel, Lebrun, Le Vau, Le
Notre, Moliere, Perrault e Corneille.
89
“As mil e uma noites de uma
‘Mocidade’ prá lá de
Marrakesh”
G.R.E.S.
MOCIDADE INDEPENDENTE
DE PADRE MIGUEL
Presidente: Wandyr Trindade
Carnavalescos: Alexandre Louzada e Edson
Pereira
Fundação: 10/11/1955
Cores: Verde e Branco
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G.R.E.S. Mocidade Independente de Padre Miguel
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“As Mil e Uma Noites de uma ‘Mocidade’
prá lá de Marrakesh”
Introdução
Todo conto é um canto de sobrevivência, de resistência,
uma história de amor. Um conto pode durar uma hora, um
dia ou mil e uma noites. Os fios que tecem uma narrativa
encantam ao recontar histórias do coração, de reconciliação
- lições que levam da vida. Todo mundo tem uma história
para contar, essa é a nossa história.
E todos nós aqui, na solidão desértica da nossa amada Zona
Oeste, a olhar as estrelas do céu, tão ávidos e sedentos por
ver novamente, no firmamento, a nossa mais querida estrela
reluzir, brilhante dentre todas as outras do universo.
O calor que banha de suor o nosso corpo e que aquece nossa
região, volta e meia, nos traz à mente imagens que hora nos
confundem e, em outros momentos, nos fazem delirar numa
overdose de desejos. Loucuras de paixão se misturam com
lembranças de bons ventos que um dia sopraram e
refrescaram a nossa memória, como em um Saara
imaginário que varre, ventando sem fim, tal qual uma
oração, o refrão de um samba que me inspira assim..
“Nos meus devaneios,
Quero viajar...
Sou a Mocidade,
Sou Independente,
Vou a qualquer lugar...”
Carnaval 2017
94
Em devaneios, a caravana parte.
Nela, toda a Mocidade, inebriada de fascínio na imaginação
que flui, assim como a brisa que alisa o deserto, na noite que
faz sonhar, busca no escuro céu uma guia - sua identidade
estelar. Esse vento, que varre as dunas, vem então semear as
histórias encantadas que, um dia, foram sopradas no tempo.
Desprendidas das areias de tantas terras, se espalharam pelo
mundo, se misturando por cá; viajaram aos quatro cantos,
num vira e mexe, aqui e acolá, perto e longe, pra lá de
Marrakesh, por todo o povo de Alah, como se fosse, a
Arábia, um só lugar.
Em um passe de mágica, o dia se faz raiar. Ao refletir sua
luz no deserto inclemente, o Sol teima em queimar a nossa
cara que, porém, em um facho sorridente, deixa a caravana
passar e seguir em frente, pois, para a Mocidade, não existe
mais quente.
Seguindo a miragem que nos estampa o olhar, eis que surge
um reino mágico - exótico e singular - que nos abre suas
portas e nos convida a entrar. O que a princípio espanta os
olhos sonhadores que o vislumbram, logo os encantam e os
deslumbram quando se estende no horizonte o país, tal qual
um tapete mágico para a Mocidade desfilar.
Yalla... Assim se descortina uma grande praça, o teatro de
ilusões, o circo do povo, onde os halakis - contadores de
histórias e herdeiros de Sherazade, ainda nos encantam,
aumentando pontos de conhecidos contos que nos
hipnotizam como serpentes ao som das flautas de seus
encantadores. Os contos roubados se tornam possíveis
diante do caleidoscópio que se forma por sua cultura plural
G.R.E.S. Mocidade Independente de Padre Miguel
95
e misteriosa, impregnada de tradições e heranças do
passado, de povos que por ali pisaram, deixando marcas no
seu viver.
Entre palácios, medinas e labirintos de mascates, a herança
fenícia da arte de negociar se encontra nos saberes e sabores
dos temperos coloridos que exalam, de suas tajines e do
refrescante chá de hortelã, aromas de tantas influências de
outros reinos que se fundem por cá, que reluzem nos
adornos e nas lanternas, nas taças e nas bandejas que imitam
o ouro, e nas joias que enfeitam os véus de suas mulheres,
cobertas de respeito e mistérios. Tudo isso se entrelaça a
uma trama que tece belos tapetes: linhas que refazem
caminhos, histórias sem fim, como se, no esfregar da
lâmpada dos desejos, a nossa genialidade nos fizesse voar
pela mágica de Aladim.
A cada portal das cidades que transpomos é como se
fôssemos guardiões da palavra-chave, um abre-te sésamo,
abra-te mente, abra-te Marrocos em seu mundo de
possibilidades, revelando a riqueza cultural do seu povo, o
seu mais valioso tesouro. Tesouro este, feito, não somente
de ricos adornos, mas também de preciosos segredos de sua
gente, receitas de bem viver e de valores que muitas vezes
desprezamos; lições para se aprender: no meio do deserto,
um pote de água, mais do que um de ouro, pode valer.
Devemos ser firmes como o camelo e guardar forças para
seguir em frente ao atravessar os Saaras da vida. Entender o
sol, o mesmo que arde e queima, e ser a fonte de energia que
acende o progresso, ser o vento que sopra a tempestade e a
força que move o futuro. De suas areias, aparentemente
Carnaval 2017
96
estéreis, faz brotar riquezas das entranhas da terra que
enriquecem este reino encantado que desperta em nós a
esperteza de Ali Babá ao preservar um tesouro em suas
profundezas.
Segue a caravana, em sua mágica aventura, a conduzir
nossos sonhos onde o azul do límpido céu, na imensa tenda
de seus berberes, encontra com o plácido anil do Atlântico,
cada vaga devolve conchas à praia, um colar de contos de
areia e mar. Cantos que nos seduzem, encantos de sereias
como as tantas aventuras de Simbad ou de outros tantos
marujos que ousaram velejar.
E nesse vai e vem, ondas de histórias, segredos guardados
no mar, de mil e uma ilhas, terras e mitos que ouvimos
contar. Mitos de batalhas e glórias, de perdas inglórias, de
cheganças e partidas, como fora El Jadida, um dia Mazagão
perdida, pela qual lutou o jovem Rei Sebastião, com espada
e sangue sobre as areias e as pedras do cais, que se cobrira
de mistério ao desaparecer, nas brumas do infinito oceano,
para não ser visto jamais.
Entre tantos contos e encantos, tantas histórias ouvidas
nessa odisseia onírica que nos leva em labirintos fantásticos,
nos mostra agora os jardins do saber, Rhiads do
conhecimento um dia semeado pelas mãos de uma mulher
que, por trás das muralhas, estão protegidos pela fé e bênção
de Alah. Residem até hoje ensinamentos, descobertas e
invenções para a humanidade nas escrituras milenares, dos
estudos da Terra aos mistérios dos astros; dos cálculos da
matemática à alquimia; sortilégios, segredos escondidos no
templo da sabedoria; magos da cura e da cirurgia; palavras
G.R.E.S. Mocidade Independente de Padre Miguel
97
que voam dos livros ao mundo e que soam familiares aos
nossos ouvidos.
E assim, como as areias da ampulheta que nos alertam sobre
o tempo, é chegada a hora do devaneio se dissipar desse
sonho e, enfim, despertar em nossa bagagem, na mente,
histórias para se lembrar... Tantas imagens, tantas miragens
e tantos outros pontos aos contos acrescentar. O exótico se
faz agora um velho conhecido - afinidades e semelhanças se
abraçam, diversidades e diferenças se respeitam sob a
linguagem universal da música na apoteose dessa aventura
como um oásis de felicidade.
Viajar é muito mais que encontrar um destino, viajar
realmente é reencontrar novos mundos. Fizemos do Saara
uma passarela, e no reino do Marrocos, o nosso conto
transformou minutos em mil e uma noites de alegria e
prosperidade, ao vestirmos a fantasia, tecemos um tapete
mágico onde desfilarão os sonhos da Mocidade. Se a nossa
música também veio da África, nossas bandeiras, estrelas
gêmeas brilharão juntas no coração de nossa gente.
E o calor?
Ah! Esse eu posso garantir que é humano e que, ao som do
batuque do samba, não existe mais quente. Se você quiser, é
só se unir com a gente que vamos mostrar um reino
diferente, bem pra lá de Marrakesh, um lugar com um povo
encantado que igual não se tem, que vale mais que um pote
de ouro, é o nosso tesouro - nossa gente da Vila Vintém.
Esse papo já tá qualquer coisa... Inshalah!
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“Música na Alma, Inspiração
de uma Nação”
G.R.E.S.
UNIDOS DA TIJUCA
Presidente: Fernando Horta
Departamento
de Carnaval: Mauro Quintaes, Annik Salmon,
Hélcio Paim e Marcus Paulo
Fundação: 31/12/1931
Cores: Azul Pavão e Amarelo Ouro
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G.R.E.S. Unidos da Tijuca
103
Esta é uma história de ficção livremente inspirada no
encontro entre Pixinguinha e Louis Armstrong,
acontecido em 27 de novembro de 1957, no Palácio
Laranjeiras, no Rio de Janeiro – quando o então
presidente Juscelino Kubitschek convidou diversos
músicos e artistas para um almoço com o jazzman norte-
americano que se apresentava no país.
“Música na Alma, Inspiração de uma Nação”
Show: Sapucaí in Concert – a história da música dos
Estados Unidos da América!
Com Pixinguinha e Louis Armstrong.
Direção Geral: Fernando Horta
Direção Artística: Mauro Quintaes, Annik Salmon, Hélcio
Paim e Marcus Paulo.
Produção: Fernando Costa
Roteiro: Marcos Roza
Realização: Grêmio Recreativo Escola de Samba Unidos da
Tijuca
Sinopse
A arte e a linguagem da música são os laços que unem dois
grandes gênios instrumentistas: Pixinguinha e Louis
Armstrong. Nossa história vislumbra-se pela sensível
sonoridade de seus instrumentos, suas vozes e pela
espontaneidade criativa da essência da alma do povo
americano (dos Estados Unidos).
Trazem-nos os acordes da eternidade do tempo, do templo
da música, onde seus expoentes se acumulam e os seus
Carnaval 2017
104
destinos tornam-se canções... Aqui, seguem em desfile e
Pixinguinha recebe Louis Armstrong para um memorável e
inédito show:
Sapucaí in Concert – a história da música dos Estados
Unidos da América.
- Seja bem-vindo, Louis Armstrong. Toque da forma que
sente dentro do peito, a nossa música não tem fronteiras.
Cante, conte... Sua história interessa ao mundo e a todas as
esferas da vida brasileira.
Abertura: Música Negra da Alma.
- Meu caro Pixinguinha...
Tudo começa com a ritualização das canções de trabalho
dos negros escravos em cânticos de louvores (spirituals) -
que sobreviveram à dor e ao lamento e revelaram a
purificação da alma e o seu estado de sofrimento.
Com o fim da Guerra Civil e a Abolição da Escravatura, sob
o discurso de unificar a nação, congregando pessoas de
diversas culturas e origens, os negros emancipados
migraram para as cidades e, com eles, levaram os seus
costumes musicais que infundiram, ao que cantavam ou
tocavam, uma vitalidade e um caráter muito peculiares.
Nesse contexto, adotaram uma forma poético-musical
individualizada, impressa na descontinuidade melódica de
profanas canções, à qual chamaram de blues.
Primeiro set: a voz musical das suas heranças.
G.R.E.S. Unidos da Tijuca
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- As concepções musicais afro-americanas que surgem no
Delta do Mississipi e percorrem uma longa estrada numa
constante evolução... Inspiram-me!
Fazem com que me lembre daqueles primeiros tempos de
Nova Orleans...
- Revivo as brass bands – que, entre outras ocasiões,
tocavam durante os cortejos dos funerais. Na ida, seguiam
cadenciadas em homenagem ao falecido, e, na volta,
“marchavam”, tocando música para os vivos ao ritmo de um
som alegre – como que se evocassem a ancestralidade de
seus músicos.
A esfuziante genialidade das brass bands, com ritmo swing
misturado ao ragtime – uma música tipicamente executada
por pianistas, exuberantemente alegre para dançar –,
caracterizava o jazz, em seus primórdios.
- Rendo-me à improvisação rítmica incandescente do jazz...
E, em homenagem a todos os seus grandes músicos,
instrumentistas e intérpretes, toco-o, desafiando o tempo,
assim como tocava, em pé e ao vento, sobre a proa de um
barco a vapor deslizando sobre as águas do rio Mississipi,
empunhando meu trompete aos céus!
E é a partir do blues, jazz e da música gospel, com seus
estilos e formas, que surge uma integração musical por
diversos caminhos com resultado artísticos idênticos ou
semelhantes e até diferentes, em busca de uma identidade.
Segundo set: as baladas de um cowboy.
- A experiência jazzística leva-me a cruzar fronteiras e a
criar laços históricos. Meus pistons se unem ao violino, ao
Carnaval 2017
106
violão e ao velho conhecido banjo e configuram a
música country americana.
- Ouça, Pixinguinha, esses acordes: eles evidenciam a fusão
das baladas folclóricas europeias e dos cantos
dos cowboys do sudoeste americano com a música oriunda
dos negros. Sua pauta segue atrativa ao estilo que se
caracteriza por tons graves e canções que descrevem o
cotidiano rural. Siga-me e também a esse som nítido e
brilhoso, sugerindo a “potência e a ternura” da
música country – que seguiu fases de sucesso com
programas de rádio e conquistou o universo musical nos
Estados Unidos.
Terceiro set: o toque freedom of speech, transpõe os limites
da cor da pele e embala-nos com a trajetória “alucinante”
do rock and roll.
- Pixinguinha…como consequência natural dos estilos
musicais dos Estados Unidos – que se aproximam e se
fundem–, deixemos que o rock preencha o nosso imaginário
e os espaços de forma intuitiva.
- Gritemos pela verdade!
Os jovens se “cobrem de coragem” e seus desejos afloram
de uma música underground tocada por homens investidos
de deuses (ou por deuses investidos de homens).
O rock celebra a irreverência performática dos primeiros
músicos roqueiros, cruza os palcos americanos e coroa seu
rei…
Mas, enquanto o público pede bis – a música soul traça um
paralelo…um som da negra raiz: rhythm and blues, um
instrumento de apoio à luta pelos direitos civis.
G.R.E.S. Unidos da Tijuca
107
E o rock? “Soprando o Vento” segue arrastando legiões de
fãs, surfa no “lirismo comportamental” das ondas
do beach rock da Califórnia...sua “loucura eletrificada”
serve de banquete aos estridentes sons de suas bandas e tudo
se mistura. No contexto social, sua evolução parece diabrura
– uma espécie de liberdade: Woodstock! E suas guitarras
transcendem a rebeldia e a candura, inscrevendo-se na
psicodélica poesia da contracultura.
Quarto set: a personificação da música no teatro e no
cinema.
- Pixinguinha, a história segue… Rejo as clássicas canções
de George Gershwin e Cole Porter, músicos compositores
que deram sempre e tanto poder de criação e vida às
interpretações dos musicais de sucesso da Broadway. A
partir de seus conteúdos artísticos, sigo narrando a
magnificência do realismo fantástico dessas belas histórias
destinadas à dramatização da música no teatro. Contudo, o
canto, a dança e a melodia emergem da memória afetiva
como poesia do saber, afinal, foi cantando “Hello Dolly” –
que tudo isso fez parte do meu ser.
Das telas de cinema,
Eu ouço e vejo:
A música esculpir os desejos.
Em foco! Ela encena,
Contracena com a emoção.
Com o mundo sem fronteiras,
Ou uma doce ilusão?
A música é o artigo definido de uma paixão
Que se revela, entre o pranto e a alegria,
Carnaval 2017
108
E conforta o coração.
E assim, ao longo das décadas, muitos filmes tiveram suas
exibições consagradas. Em alguns casos, tão originais, as
músicas foram feitas especialmente para determinados
personagens ou histórias. E sob a verdade dessas canções:
“cantam na chuva”, “mudam de hábito” e tudo parece não
ter fim...
Quinto set: a inspiração é pop.
Assim como outrora a convivência entre os povos gerou
novas variedades de músicas, assim também,
espontaneamente, – a técnica e a riqueza fonográfica – a que
seguem o rádio e a televisão – levam magníficas
composições, videoclipes, shows e revelam ao mundo novos
reis e rainhas do universo musical americano.
- Até ouço a música americana tecnologicamente vestida de
uma explosão de cores e efeitos, acrescendo sua história...
Cruzando novos portais, entre o gueto e a cidade,
misturando tradição e modernidade... Funk é Brown e sua
batida groove é poder! E nessa levada, tramando as
palavras, o movimento hip-hop tem muito a dizer: versando
a verdade nua e crua, proferindo sem distorcer, a poesia que
vem das ruas, como rima do saber.
- Com novos efeitos eletrônicos – forjando a herança
da Motown – sons inovadores ousadamente deslizam sobre
as pistas de dança ao calor da juventude –
disco, discotheque – embalados por diversos hits de sucesso.
G.R.E.S. Unidos da Tijuca
109
O passado é remixado ao futuro e, a cada década, um novo
cenário: são muitos, muitos nomes que fizeram, fazem e
farão da música popular dos Estados Unidos da América um
universo infinito de estilos, astros e estrelas.
- Ouça, amigo Pixinguinha, todos pedem bis…
Seja daqui pra lá, e de lá pra cá, o seu saxofone une-se ao
som do meu trompete!
- É, Louis, a música dos Estados Unidos é a porta-voz mais
poderosa e eloquente de seu povo – ouvida em todas as
partes do mundo. Que “jazzisticamente” influenciou o
conteúdo e as performances musicais dos “Oito Batutas” e a
Música Popular Brasileira. Hoje é coroada à celebração da
alma, às raízes de um povo, ao sucesso de uma
balada... Sapucaí in Concert é a inspiração, é o ritmo da
nossa batucada.
Comissão de Carnaval: Mauro Quintaes, Annik Salmon,
Hélcio Paim e Marcus Paulo
Pesquisa e texto: Marcos Roza
Agradecimentos: André Ferreira, Beni Borja, Cynthia
Figueira, Melissa Coutinho, Ricardo Cravo Albin, Sérgio
Vasconcelos e a todos que contribuíram com ideias, dicas
e apoio para esta iniciativa.
Carnaval 2017
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GLOSSÁRIO:
Beach Rock - gênero musical, que se popularizou como “o
som da Califórnia”, gravado, geralmente, por grupos vocais
como, por exemplo, o The Beach Boys.
Blues - gênero musical que surgiu, por volta de 1870, no
Sul dos Estados Unidos, a partir das canções de trabalho dos
negros escravos.
Brass-bands - tradicionais bandas de Nova Orleans, que
seguiam em carroças e animavam carnavais, casamentos e
funerais.
Brown (James Brown) - músico americano considerado o
“Papa” da música soul e “Avô” do gênero
musical funky americano.
Disco - um gênero de música e de dança, que atingiu o
sucesso em meados da década de 1970.
Freedom of Speech - liberdade de expressão.
Funk - gênero musical afro-americano, que surgiu nos idos
de 1960.
Gospel - forma moderna do spiritual blues, canção religiosa
dos afro-americanos.
Groove - forte batida, geralmente, executada por músicos
baixistas ou sintetizadores.
Guerra Civil - conflito que ocorreu nos Estados Unidos da
América de 1861 a 1865 e colocou o Sul e o Norte do país
em lados antagônicos.
G.R.E.S. Unidos da Tijuca
111
HelloDolly - musical da Broadway, que estreou em 1964,
com a participação musical de Louis Armstrong.
Jazz - gênero musical afro-americano, criado nos fins do
século XIX e início do século XX, em Nova Orleans.
Motown - é a gravadora americana, fundada em 12 de
janeiro de 1959 por Berry Gordy Jr., na cidade de Detroit,
mais importante para os artistas negros e seus gêneros
musicais: blues, jazz, rhythm and blues, disco funky e pop.
Nova Orleans - cidade do estado da Louisiana, que revelou
o jazz como gênero musical aos Estados Unidos.
Oito Batutas - Grupo instrumental criado em 1919 por
Donga e Pixinguinha...que excursionou pela Europa nos
idos dos anos de 1920 e entraram em contato com a música
jazz dos músicos e instrumentistas afro-americanos dos
Estados Unidos.
Pop – corruptela de popular, no contexto do enredo pop está
correlacionado às inovações tecnológicas e à globalização
da música dos Estados Unidos
Set - abreviação da palavra setting, as partes de um show.
Soprando o Vento - tradução do título da música Blowin’ In
The Wind de Bob Dylan - músico-compositor e personagem
importante para história e evolução da música dos Estados
Unidos da América.
Soul - gênero musical afro-americano, surgido nos anos de
1960, sob o conceito de conscientização e orgulho da nação
negra afro-americana.
Carnaval 2017
112
Underground - termo usado para classificar uma cultura ou
um gênero musical que foge dos padrões conhecidos pela
sociedade.
Woodstock - um dos maiores festivais de rock, realizado em
agosto de 1969, na cidade de Bethel, no estado americano
Nova York.
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA:
AUGUSTO, Pellegrini. Jazz das Raízes ao Pós-Bop;
Códex, 2004.
BERENDT, Joachim-Ernst. O livro do Jazz: de Nova
Orleans ao século XXI; tradução, Rainer Patriota:
Perspectiva, 2014.
BILLARD, François. No Mundo do Jazz; Companhia das
Letras, 1990.
CABRAL, Sérgio. Pixinguinha: vida e obra; 1977.
COLLIER, James Lincoln. Louis Armstrong; tradução,
Ibanez de Carvalho Filho: Globo, 1988.
FRIEDLANDER, Paul. Rock and Roll – uma história
social; tradução, A. Costa: Record, 2006.
SABLOSKY, Irving L. A Música Norte-Americana;
tradução, Clóvis Marques: Jorge Zahar, 1994.
113
“Foi um rio que passou em
minha vida e meu coração se
deixou levar”
G.R.E.S.
PORTELA
Presidente: Luis Carlos Magalhães
Carnavalesco: Paulo Barros
Fundação: 11/04/1923
Cores: Azul e Branco
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G.R.E.S. Portela
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“Foi um rio que passou em minha vida e meu
coração se deixou levar”
RESUMO
O rio inspira os homens. De suas águas, pescam o sonho e o
conhecimento, colhem a história e o encantamento. O rio
azul e branco nasce da fonte de onde se originam a vida e as
culturas humanas. Prima matéria, a água doce está associada
aos mitos de criação do universo das antigas civilizações, é
a manifestação do sagrado nas religiões e a maior riqueza
para as sociedades modernas. A Águia bebe dessa água
cristalina em sua nascente, onde brota o bem mais precioso
criado pela natureza. No berço do samba, o pássaro abençoa
a passarela, leito do rio da Portela. Segue recolhendo a
poesia de muitos outros rios, enquanto mantém o seu rumo.
Atravessa a Avenida, lavando a alma de quem deseja ver o
rio passar, saciando a sede de vitória, irrigando de alegria o
povo que habita a beira do rio. Suas águas purificam o
corpo, afogam a tristeza e renovam as forças a cada
alvorada. Convida a conhecer seus mistérios, cruzando
aldeias e povoados, cidades e países distantes.
O rio é velho e por ele correm muitas histórias, porque
sempre esteve ali a guardar os segredos das águas que
deram origem ao mundo. O rio é novo porque está sempre
em movimento e nunca passa duas vezes pelo mesmo lugar.
O rio não pode voltar. Ele segue em busca do seu destino.
Nasce como um fio d’água, calmo e sereno, e continua para
receber muitas contribuições em seu curso. Enquanto cresce,
irriga e fecunda as margens de onde se colhe o alimento do
Carnaval/2017
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corpo e da alma. Avança sobre a terra e não se deixa vencer
pelas pedras que encontra no caminho. Passa inspirando
canções e poemas, linhas e formas sinuosas. Em sua
exuberância, desfila entre matas, plantações, casas humildes
e mercados, do interior até chegar às grandes metrópoles e
receber as imensas construções fincadas em suas margens.
O homem e o rio estão ligados pelo corpo e pelo espírito. Os
artistas, músicos e cantadores, arquitetos e escritores
incorporam a alma do rio e refletem suas imagens. Aqueles
que se entregam à devoção e murmuram suas preces,
pedidos e promessas fazem procissões e oferendas,
agradecidos pelos desejos atendidos. O homem tira a vida
do rio. A vida é como um rio que corre em direção ao seu
destino.
O DESFILE
ABERTURA
A nascente do rio guarda os segredos da criação do mundo.
Surge generosa, na Avenida, encharcando a terra,
fecundando o solo, despertando a natureza. Lugar de
devoção de onde emana a energia criadora, a fonte dourada
reflete as cores do sol, anunciando que vale ouro nosso bem
mais precioso. A Águia encantada bebe a água sagrada e
abençoa aqueles que respeitam os mistérios da fonte da
vida.
G.R.E.S. Portela
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O PASSADO É UM PRESENTE DO RIO
E muitos são os segredos que repousam no leito do velho
rio. As antigas civilizações iniciaram seus processos de
organização social com o crescimento das vilas, povoados e
cidades. Tudo começou com o desenvolvimento das
técnicas de agricultura, o que permitiu que as primeiras
sementes fossem plantadas e germinassem, fixando a vida e
o conhecimento nas terras férteis no entorno dos rios.
Muitas eram extremamente avançadas e se organizavam em
sociedades que impressionam pela sabedoria que detinham
sobre as ciências. Ao mesmo tempo, cultuavam seus deuses
e os mitos de criação a eles relacionados. No desfile da
Portela, essas divindades representam as poderosas relações
entre o homem e a natureza, principalmente com os rios.
Definem culturas milenares, pois são ícones representativos
desses povos até hoje.
SERES DO RIO
Que outras histórias nos conta o rio? Dele emergem seres
que seduzem por sua beleza, impõem respeito pela força ou
por encantamento. O mito da Cobra-Grande, “mãe do
mundo”, é um dos mais antigos e está presente em diversas
culturas. Se muitos temem a gigantesca Boiuna, a serpente
de olhos de fogo, alguns se deixam seduzir pela Iara, a bela
sereia que enfeitiça os homens e os arrasta até o fundo do
rio, de onde jamais voltarão. Lendários dragões que habitam
e controlam as águas também são temidos e venerados.
Entretanto, existem seres que não fazem parte do mundo
sobrenatural. Os aguapés, delicadas plantas aquáticas que
Carnaval/2017
120
filtram as impurezas, podem se reproduzir velozmente em
ambientes muito poluídos, matando os peixes e se
transformando em praga. Já na “terra dos mananciais”, a
ameaça vive em águas escuras que escondem o enorme
crocodilo, réptil nativo de um país que o respeita e admira.
A VIDA PULSA NA BEIRA DO RIO
De onde vem o que é mais importante para viver? O que
sustenta o dia a dia das populações ribeirinhas espalhadas
pelo mundo? O corre-corre da vida daqueles que
amanhecem todos os dias nas beiradas em palafitas, no “zum
zum zum” das lavadeiras, no vai e vem das embarcações
repletas de produtos a suprir os mercados, cruzando as
águas que servem a todos, invade o rio da Portela.
Mudam-se famílias inteiras, levando outros sons e cheiros
para onde existia o silêncio das matas e o burburinho do rio.
Pintam de novas cores o contorno e avançam em todas as
direções em busca de um pedaço de chão. Existem também
aqueles que perdem o rumo e o rio. Mas o rio da Portela é
doce e carrega as mágoas de quem sofre desengano por ter
perdido um grande amor.
A ALMA DOS RIOS
Formas e cores. Sons e poemas. Se a alma que emana do rio
inspira o desenho da catedral que repousa em sua margem,
também escreve o romance que dá vida ao personagem que
a habita. Ah, a alma dos rios também está na música que
G.R.E.S. Portela
121
valsa nos salões e traduz o sentimento das águas calmas
atravessando montanhas e florestas. Baila o rio azul, entre
saltos e corredeiras, e a cada curva revela uma nova
aventura. Conta a história dos índios que preferem morrer a
ter que entregar as terras em que plantaram suas vidas. E o
grito de resistência atravessa o tempo: enterrem meu
coração na curva do rio. O sentimento de liberdade que flui
na alma dos rios também ecoa da música negra norte-
americana, ritmo e canto se desprendem das margens e
correm pelo mundo.
MEU CORAÇÃO SE DEIXOU LEVAR
Se um dia, que fosse por um único dia, o rio carregasse toda
tristeza, se encheria de lágrimas para levar alegria a quem
suplica ao Senhor para tornar-se um instrumento da paz. A
barqueada atravessa o velho rio, onde os devotos navegam
entre rezas e cânticos de fé.
Nessas águas azuis, encontram-se muitas culturas, histórias
e credos, lendas e mistérios. Recebem, pelo caminho,
orações e oferendas. Refletem o ouro das nascentes, que
brilha no culto a Oxum, orixá das águas doces do rio, da
riqueza, da prosperidade e da beleza. Arrastam o povo,
cantando a música que só um rio pode inspirar. No altar do
samba, rezam as pastoras e os pastores, como fiéis na santa
missa da capela. Cobre a Sapucaí o manto azul e branco da
Portela. Salve o rio, salve a Santa, salve ela!
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“Só com a ajuda do Santo”
G.R.E.S.
ESTAÇÃO PRIMEIRA
DE MANGUEIRA
Presidente: Francisco Manoel de Carvalho
Carnavalesco: Leandro Vieira
Fundação: 28/04/1928
Cores: Verde e Rosa
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G.R.E.S. Estação Primeira de Mangueira
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“Só com a ajuda do Santo”
“Te corto, te talho. Corto-lhe a cabeça, corto-
lhe o rabo, corto-lhe o coração. Só o corpo da
gente é que não. Pra trás irás, pra frente não
passarás. Onde principiais, lá acabarás.”
(Reza popular)
Pra tudo que é santo vou apelar. Para o santo de casa, para o
santo de altar. Vou bater na madeira três vezes, vela acesa,
copo d’água. Galho de arruda pra espantar quebranto e mau
olhado. Vou saudar o Benedito, e se a graça eu alcançar,
tem zabumba e reco-reco, ponho a congada pra desfilar.
Vou pedir aos Santos Reis, afastar os móveis da sala, abrir
portas e portões, dar licença para os mascarados “vadiá” no
salão. Bordar uma bandeira pro Divino. Pedir a São João.
Cortar papel fino pra fazer balão. Enfeitar de cravos e rosas
a capelinha de melão.
Botar “guri” pra ser anjinho de procissão. Bendizer o “meu
Padim.” Me apegar com a “Mãezinha” pra desatar
qualquer nó. Carregar andor, pegar na corda. Na terceira
onda que quebra na praia, lançar no balanço do mar:
perfume, rosa, espelho e pente, pra Inaê, Marabô, Janaina
se enfeitar.
Se pro velho Pedro já pedi que abrisse os portões dos céus e
mandasse chuva pro roçado; se Santo Antônio, depois da
judiação de tomarem-lhe o menino, à moça solteira já deu
matrimônio; se São Sebastião é padroeiro do meu Rio de
Janeiro, se São Francisco é quem protege os animais; se
Santa Clara ilumina o caminhar; se bala, pipoca e guaraná
Carnaval 2017
128
agradam Cosme e Damião; vou me curvar aos pés do
guerreiro, São Jorge fiel escudeiro. Por ordenança da
Virgem Maria, ele é o “praça” que vai à frente da minha
cavalaria.
Para me cercar de todo lado vou firmar ponto pro “santo”
que baixa no terreiro. Pôr amuleto nos pés do gongá. Pra
cortar demanda, me embrenhar nas matas e “saravá”
seu Sete Flechas. Mandar fazer três capacetes de penas, um
pra Iara, um pra Jandira, e um pra Cabocla Jurema.
Jetruá pra saudar o Boiadeiro. Cantiga para o Marinheiro.
Marafo, mel e dendê na farofa. Rezar para as Santas Almas,
“Preta Velha, negra Mina da Guiné o inimigo que caia, e
que eu, fique de pé”. É bom lembrar, não pode faltar, a
proteção do Orixá. A Mangueira quer passar e comandar a
procissão. Seu verde e rosa, todo mundo sabe, faz tempo já
virou religião. Pra cruzar o seu caminho, é bom saber pisar.
Traz mistério, crendices e magia. Não se engane: Só quem
pode com a mandinga, carrega patuá.
P.S.: Expedito, você que é dado ao impossível, será que
fazia mal, chegar no ouvido do pai, e interceder por mais
esse carnaval?
Leandro Vieira
Pesquisa, desenvolvimento e texto – Julho/2016
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