o desgaste do trabalhador de enfermagem: relaÇÃo trabalho ... · cargas de trabajo y desgaste,...

Post on 01-Oct-2018

214 Views

Category:

Documents

0 Downloads

Preview:

Click to see full reader

TRANSCRIPT

o D ES GASTE D O T RABA L H ADO R D E E N F E R MAG E M : R E LAÇÃO T RABALH O D E E N F E R M AG E M

T RA BA L H A D O R E SAÚD E DO

THE )'TRAINED PROCES") OF THE NUR'iI NG WORI(ER'i :

THE RELAT ION'iH I P OF NUR'i ING WORI( AND NUR'i ING HEALTH

EL DE'iGA)'TE DEL TRA8AJADOR DE ENFERMERíA : RELAClÓN ENTRE EL TRA8AJO

DE ENFERMERíA Y EL TRA8AJADOR DE D ICHA ÁREA

Vanda Elisa Felli da Silva 7

Paulina Kurcgant2 Vilma Machado de QueiroZ;

R ES U M O : O estudo busca a compreensão do p rocesso saúde-doença, v ivenc iado pe los trabal hadores de enfermagem no desempenho de seu t raba lho , fundamentado na determ inação social desse processo . Ev idenc ia as part icu lar idades da re lação traba lho-saúde de uma rea l idade concreta, decompondo e recompondo as i ntermediações p rocesso de va lorização , processo de traba lho , cargas de traba lho e desgaste , o que permit iu exp l ic itar o perf i l de morb idade desses trabalhadores . N esse perf i l , os fer imentos pérfu ro-cortantes e as doenças ósteo-múscu lo -art icu lares aparecem como danos característ icos desse g rupo de t raba lhadores de enfermagem.

PALAVRAS-CHAVE : E nfermagem , Saúde do traba lhador , P rocesso saúde-doença

ABSTRACT: The study a ims the understand ing of the p rocess hea lth - i l ness , as i t is exper ienced by n u rs i ng wo rkers i n the act i ng of i ts work , be ing bases i n the soc ia l dete rm inat ion of that p rocesso I t ev idences the part i cu la r i t ies of the re lat ionsh ip between labor and hea l th of a concrete real i ty. The adopted methodo logy perm ited to estab l i sh the l i nk between the valo r izat ion p rocess, work p rocess, loads and strai n . This relat i onsh ip of dete rm inat ion permit to show the unheal thy p rofi le of those n u rs i ng workers . The sharp acc idents , bones, musc les and jo int deseases are characterist ics damages of i n this p rof i l e .

K EYWO R D S : N u rs i ng , The wo rker's of n u rs ing hea lt h , The hea lth - i l ness p rocess

R E S U M E N : E I estud io busca l a comprens ión dei p roceso sa lud-enfermedad , v ivenciado por los t rabajadores de enferme r ía en e l desempeno de su trabajo , fundamentado en la dete rm inac ión socia l de ese p roceso . Se ev idenc ia las part i cu lar idades de la re lac ión trabajo-sal ud de una real i dad conc reta, descompon iendo y recompon iendo las i ntermed iac iones p roceso de valo r izac ión , p roceso de trabajo , cargas de trabajo y desgaste, l o que perm i t i0 exp l ic i tar e l perf i l de morb i l i dad de estos trabajadores . En este perf i l , los acc identes pérfu ro-cortantes y l as enfermedades osteo-múscu lo-art i cu la res aparecen como danos caracte ríst icos en este g rupo de trabajadores de enfermería .

PALAB RAS C LAV E : E nferme ría, Salud de i trabajador , P roceso sa lud-enfermedad

1 Enfermeira . Profª Drª do Departamento de Orientação Profissional da Escola de

Enfermagem da USP. 2 Enfermeira . Profª Titular do Depa rtamento de Orientação Profissional da Escola de

Enfermagem da USP. 3 Enfermeira. Profª Drª do Departamento de Sa úde Coletiva da Escola de Enfermagem da

USP.

R. Bras. Enferm. B ras í l i a , V . 5 1 , n . 4 , p . 603-6 1 4 out ./dez . 1 998 603

S/L VA, Fell; Vanda et alo

INTRODUÇÃO

1 . 1 A CONSTR U ÇÃO DO OBJ ETO DE ESTUDO

N as d uas ú l t imas décadas , observamc::: U , l i llC re ;'n l?nm d E � pub l i cações re lac ionados à saúde dos trabal hadores de enie l r·:,aye m . i'l c ef l tun to , '2stas não são s uf ic ientes para caracte r izar q uant i -qua l itat ivarn l?n t � Do p :',jb lern af, específ icos que emergem da relação entre t raba l ho de enferma;;E rr o ;,,a8de [185 t raha lhadores .

A ma io r ia dos estudos que abordam e S S E . tbrmhica 8slió rra nos l i m ites do parad i gma pos i t iv ista , fundamentados na conC ( ; ,J çRO regemên icél m u l t ifato r ia l do p rocesso saúde-doença - PSD. Ass i m , reg ist ra ,n a s i rr,p les ocorrê nc ia da doença e exp lo ram os r iscos ocupaciona is como 3ÇJtmtes ex is ten tes n o amb iente de traba l h o , portanto , buscando ident i f icar uma re l é . ç: i io 0 8 c.:! u s a e (�f (� i tc . Os estudos q u e buscaram ir a lé m , ou não evidenc ia ram a génese no co let ivo de t raba lhadores ou não abarcaram a tota l idade da re lação traba lho ae enfe rmagem e saúde dos t raba l hadores .

A s s i m , p ro p o m o s a r e a l i z a ç ã o d e s s a i n v '3 s t i g a ç ã o ( Sil va , 1 9 9 6 ) , fundame ntando-nos no refe renc ia l teó r ico-met':::' GG lj� .cú ojJe (ac iclna i desenvo lv ido por Laurel!; Noriega ( 1 989 ) , tomando como O bJ 2 �0 Jc L! s , �l d () a re l ação t raba l ho­s a ú d e , exp ressa nos t ra b a l h adores de e nfe rri'l a �r rl de I''' c s p i ta l U n ive rs i tá r io da U n i ve rs i dade de São P a u l o - H U - U S P , e m p2.rt i C'l ' I� (

Essa re lação expressa-se n o corpo b i c rdq :j i('� dos t raba lhadores de enfe rmagem pe lo desgaste por e les sofr ido , p rolJc có dc, pG la expos i r; :ão às cargas de traba l ho , ge radas nos p rocessos de traba l ho , s u b m ")t i rios q lJ e es tão aos p rocessos de va lo r ização da p rodução em saúde na soc iedade cã�< i la l i sta .

Esse objeto é resgatado do contexto socia l ondE' es1 á i n se r ido , i sto é , da p rodução em saúde art i cu lada ao seto r te rc iár io de p rodução, es pec i f icamente na p re s t a ç ã o de s e rv i ç o s . E s s e s e rv i ço i n s t i t LJ:; i o !l 3. l i zi.1 ch é p re s t a d o e m estabe lec i mentos hosp i ta la res e n ã o hosp i ta lares , cnce a s p ráti cas de saúde , tanto do setor púb l ico como p rivado, são leg i t i madas pe lH pol í t ica (;H 5<l �:I (je , no contexto das po l ít i cas soc ia i s . Essas p rát icas são executadás j:i6 1a "rc rça de trabal ho em saúde q u e operac iona l i za a pol ít i ca de saúde .

N esse contexto , buscamos ap reender o t raba ih { ) e l n sôlk.e art icu lando às dema is p rát icas soc ia is e dessa a rt i cu lação extra i r 6 r, : (! I 'é t .:j u i nlt ús dete rm inantes do p rocesso t raba lho-saúde v ivenc iado em p a rt:.'::: L , l u :' pe l �!:.; t raba lhado res de enfermage m .

Esse estudo , portanto , tem por objet ivo 8\/ idnr, c i a l 3. S � Ia l t icu la ri dades da re lação de dete rm inação traba lho-saúde que s e 13X9 ; ' f;,S2 1 10S traba lhadores de enfe rmagem do H U- U S P , no desenvolv i mento de seu tré",bal ho .

1 . 2 A FU N DAM ENTAÇÃO TEÓ R I CA PARA CC' I" ; i:J ric,:, ,\ISAO DA R E LAÇÃO TRABALHO-SAÚDE

Evidenc iar como o trabal ho gera processos sa'k1p'-rj()e rç'a itT'j1 l ic:a em exp l i c i tar como o soc ia l se trad uz no b io lóg ico e como esse se s u h m ete ao [i oc i a l , como é

604 R. Bras. Enferm. Bras í l i a , v . 5 1 , , 1 . 4 , p . 603· 6 1 4 out ./dez . 1 998

o Desgaste do Trabalho . . .

exp l i cado p o r Laurel! ( 1 983) . O P S B enquanto p rocesso colet ivo e soc ia l que se expressa no corpo h u mano

e adq u i re h i stor ic idade é conceb ido com o nexo b iopsíqu ico h u mano . Esse nexo man ifesta-se a part i r da ativ idade h u mana no t raba l ho e sua h i stor ic idade é ap ree nd ida pe lo conce i to de adaptação : "capac idade do corpo responder com p last ic idade d iante de cond ições específ i cas de desenvo lv i m ento nos p rocessos corpora i s , q u e se expressam como fo rmas b io lóg icas ca racte ríst icas" . Essas formas caracte r íst i cas , como os processos de adaptação q u e ocorrem nas d ist i ntas co let iv idades h u manas , const i tue m os estereót i pos de adaptação ou "modos de andar a v ida" .

Esses p rocessos de adaptação s i gn i f icam a t ransfo rmação de p rocessos b io lóg icos e ps íq u i cos com o desenvolv imento ou a destru i ção de capacidades e potenc ia l idades . Podem ser p rocessos f i s io log icamente no rma is , capazes de p roteger o o rgan ismo para a sobrevivênc ia , ass i m como podem transformar-se em destru i do res da i ntegr idade corpora l . É no estudo dos g ru pos h u manos que esses p rocessos são reve lados , não porq ue opõem o i nd iv íduo (pouco) ao g rupo ( m u itos) , mas porque o g rupo é vi sto a part i r de sua i nse rção soc ia l , portanto , de sua h istór i a . Os p rocessos da adaptação caracte r izam os grupos soc ia is ao emerg i r do modo específ ico de como esses homens apropr iam-se da natu reza por meio de uma dete rm i nada organ i zação socia l . Sendo os grupos homogêneos no i nter ior e hete rogêneos no exte rio r , por comparação a outro g rupo , é no g rupo que se caracte r izam os "modos de andar a v ida" e não no " i nd iv íduo" .

Para compreender o traba lho , como dete rm inante do PSD coletivo , é necessár io ana l isar as fo rmas h i stór icas que assu m e no cap i ta l i smo . N essa aná l i se , as i nte rmed iações exp l i c i tadas por Laurel!; Noriega ( 1 989) : p rocesso de valo r ização­PV, p rocesso de traba l ho -PT, cargas-CA e desgaste -DE permi tem a rt i cu la r essa re lação . No pólo traba lho (dando destaque ao p rocesso de produção-PP) é evidenciado o PV e o PT e, no pólo saúde , as CA e o D E .

Ass im , o traba lho real izado modo d e p rodução capital ista, desenvolve-se com a f ina l idade de gerar l ucro ou mais val ia . O p rocesso de geração de mais-va l ia é o processo de valorização do capita l . Esse ocorre s imu ltaneamente e somente pode materia l izar-se no momento concreto da p rodução de bens e serviços - processo de trabalho . Ocorrendo os p rocessos de adaptação que são destrutivos da i ntegridade corpora l , depreende-se que existem nos processos de trabal ho "e lementos que in te ratuam d inamicamente entre s i e com o corpo do trabalhador que se traduzem em desgaste" - cargas de traba lho . As transformações negativas dos p rocessos b iopsíqu icos que se orig inam na i nteração com as cargas de traba lho que geram "a perda da capacidade efetiva e/ou potenc ia l e ps íqu ica" é defi n ida como processo de desgaste . Esses processos de adaptação destrutivos que caracterizam os g rupos sociais conformam o perfi l patológico desses g rupos.:.

Exp l ic itamos a segu i r a decompos ição dessas i ntermediações que estrutu ram a re lação trabal ho-saúde em particu lar . 1 .2 . 1 Processo de Va lor ização

A geração de mais-val ia pode ocorre rde duas formas: absoluta (aumento da jomada

R. Bras. Enferm. Bras í l i a , v. 5 1 , n . 4 , p . 603-6 1 4 out ./dez . 1 998 605

S/L VA, Felli Vanda et alo

ou redução do salário) e relativa (por mudanças tecnológ icas ou intensificação do trabalho) . No traba lho em saúde o p roduto gerado é u m serv iço q u e é consu m ido no

momento da p rodução e como tal não p roduz ma is-va l i a d i retamente mas nem por isso de ixa de rep roduz i r a lóg ica p rodut iva . ( Gonçalves, 1 994) . Ao p roduz i r um efe i to út i l que é consum ido no mesmo momento , toma a forma de uma mercadoria e u m valor a se r com e rc ia l izado .

1 .2 .2 Processo de Traba lho

O t rab a l h o é conceb ido como uma at iv idade e m q ue o t raba l hador o r i e ntado por u m a f i n a l idade , t ransfo rma um dete r m i nado obj eto de t raba l h o e m um p rod uto f i n a l , u t i l i za n d o m e i os e i n st ru m e ntos , sob dete r m i nada o rgan i zação e d iv i são . ( Ma rx, 1 988) .

O t raba l ho em saúde como u m serv iço p restado , confo rme conceb ido por Gonçalves ( 1 994) desenvo lveu-se no capi ta l i smo com a f i na l idade de contro la r as doenças em escala soc ia l e recupera r a fo rça de traba lho i ncapacitada , i sto pe lo s i gn i f icado que os corpos h u manos adqu i rem como sede da força de traba lho , p rec isando esta r r íg ida para poder ser vend ida e consu m ida . Toma como objeto o corpo h u m ano i nvest ido soc ia l mente nas d imensões i nd iv idua l e colet iva . Para a transformação desse objeto ut i l i za meios e instru mentos : força de traba lho em saúde (traba lho colet ivo) , saber , mater ia is específ icos , eq u i pamentos de d iagnóstico e terapêut ica e o local de trabalho com destaque ao hospita l . As formas de organ ização e d iv isão adotadas no traba lho em saúde subord i nam-se a do is mode los abstratos e comp leme ntares : c l í n i co e ep ide m io lóg ico .

O traba lho de enfermagem i nsere-se no traba lho colet ivo e m saúde , como subs id iá ri o e comp lementar . ( Castel/anos, 1 989) . D iante da mesma f i na l i dade , t ransforma o mesmo objeto , part i cu la ri zando-se pe los me ios e i n stru mentos que emprega (fo rça de traba lho , sabe r , l ocal de trabal ho e i nstru mentos específ i cos) e pe las fo rmas específ icas de o rgan i zação e d iv i são (d iv isão por catego r ias com qua l i f i cações d iferenc iadas e p rocessos de traba lho também d ife renc iados entre ass ist i r e ge renc ia r) .

1 .2 .3 Cargas de Traba lho

Para apreendê- Ias é necessár io decompor o traba lho e m seus e lementos bás icos . ( Laurel!; Noriega, 1 989) .

Ao transformar o objeto no p rocesso de traba lho de enfe rmagem , o trabal hador i nterage com a sua natu reza , ou seja , os corpos i nd iv idua is/co let ivos e doentes dos pac i e n tes/c l i e n tes são tomados em s u a nat u reza b i o l ó g i ca/p s í q u ica como dete rm i nante do PSD desses traba l hadores . Na i nte ração com os meios e i nstrumentos , a sof ist i cação técn ica destes e as re lações soc ia is que determ i nam a mane i ra específ ica de traba lhar , são ge radoras das cargas . O hosp ital é re lac ionado a local de doença e morte , ao qual se associa o r isco de contrai r essas doenças e sofre r desgaste emoc iona l . Na i nte ração com as formas de organ ização/d ivisão do t raba l ho p ropr iamente d i to , o traba l hador expõe-se pe las d i fe rentes formas de consumo da fo rça de t raba l ho , que i m p l i cam em d ist i n tas fo rmas de desgasta r-se ,

606 R. Bras. Enferm. B ras í l i a , v. 5 1 , n . 4 , p . 603-6 1 4 out ./dez . 1 998

o Desgaste do Trabalho . . .

v incu ladas à extração d e ma is -va l i a , p ri nc i pa l mente re lat iva , pe lo aumento d a p rodut iv idade .

Com isso , d i st i ngue-se do i s t i pos de cargas . As cargas de materia l idade externa , rep resentadas pelas cargas b io lóg icas , f ís i cas , q u ím icas e mecân icas . ( Laurel!; Noriega, 1 989 , Silva, 1 989) . As cargas de mater ia l idade i nterna const i tuem as cargas f i s io lóg icas e ps íq u i cas . ( Laurel!; Noriega, 1 989 , Silva, 1 989) .

1 .2 .4 Desgaste

A expos ição dos traba l hadores de enfermagem às cargas ge ra p rocessos de desgaste part i cu la res (como p rocessos de adaptação destrut ivos da i nteg r idade corpora l b iops íq u ica) . ( Laurel!; Noriega, 1 989) . O p rocesso de desgaste não se refe re somente a p rocessos i r reve rs íve i s já que é poss íve l recupera r as perdas da capacidade efet iva e desenvolve r potenc ia l i dades antes h i potrof i adas . Podem não se exp ressar em uma pato log ia específ i ca . Ass i m , a l guns i nd i cadores g loba is vêm sendo mais freq üentemente ut i l i zados para o reconhec imento do desgaste de dete rm i nado g rupo de t raba lhadores com o : s i na is e s i ntomas i nespec íf i cos , pe rf i l de morb idade , anos de v ida út i l pe rd idos , envel hec i mento ace le rado e m o rte p rematu ra . ( Laurel!; Noriega, 1 989) . No t raba lho de enfe rmagem esses i nd i cadores não têm s ido captados , tornando menos v is ível o p rocesso de desgaste a que os t raba lhadores são submet idos .

O desgaste deve ser cons ide rado j u ntamente com os p rocessos rep rodut ivos . A sua com b i nação com esses p rocessos dete rm inam a const i tu i ção caracte r íst ica de doenças part i cu la res con hec ido como perf i l patológ ico desse g rupo soc ia l . ( Laurel!; Noriega, 1 989) .

2 A CONSTR U ÇÃO DO ESTU DO DA R E LAÇÃO TRABALHO-SA ÚD E DOS TRABALHADO RES D E E N F E R MAG E M DO H U-USP.

Ao estudo dessa re lação está i m p l íc i to u m cam i n h o m etodo lóg i co or ientador . N esse cam i n h o , buscou -se rep roduz i r a s i stemat ização teó rico-metodo lóg ica constru ída por Laurel!; Noriega ( 1 989) , com os dev idos aj ustes para a rea l i dade em estudo .

O p resente estudo contemp la uma abordagem q u ant i -qua l i tat iva , u t i l i zando vár ias técn icas de ap reensão dos dados que const i tuem a t r iangu lação de dados e perm i te m a comparação e val idação da i nformação g e rada .

O conce i to "processo de produção" fo i operac iona l izado e m s u as 2 ve rtentes : PV e PT. Para a operac iona l i zação do PV , os dados foram extra ídos de vár ias fontes de reg i stro refe rentes à u n ive rs idade , ao HU e ao Departamento de Enfe rmagem . Pe rm i t i ram apreender a lóg ica do p rocesso p roduti vo na qua l o H U está i nser ido e a evol ução quant i tat iva das at iv i dades rea l i zadas ( n º d e l e itos , compos ição n u m é r ica da fo rça e traba l ho de enfe rmagem por categorias e a evo l ução q uanti tativa no per íodo de 4 anos ( 1 990/94) . O PT foi decomposto enquanto p rocesso técn ico e soc ia l em seus e lementos const i tu i ntes : objeto , p roduto f i na l , me ios/i nst ru mentos e organ i zação/d iv i são do t raba lho de e nfermage m . Os dados foram ap reend i dos pela enquete colet iva e comp lementada por i nformações dos

R. Bras. Enferm. B ras í l i a , v . 5 1 , n . 4, p . 603-6 1 4 out . /dez . 1 998 607

SIL VA, Felli Vanda et ai.

enfe rme i ros . Ass i m , o PT foi decomposto/recomposto segundo a abstração da pesq u i sadora , fundamentada na concepção do traba l ho co let ivo em saúde .

Para a operac iona l i zação do conce ito "cargas " , os dados foram captados bas icamente pe la enquete colet iva . A enquete fo i constru ída com base no mode lo p roposto por ( Laurel!; Noriega, 1 989) , que tem suas or igens no Mode lo Operac iona l I ta l i ano ( Oddone, 1 986) e espec i f icada para o traba l ho de enfe rmagem . Para sua ap l i cação fo i formado um grupo homogêneo-GH (seme lhantes p rocessos de traba lho e at iv i dades , cond ições de traba l ho e r iscos e p rob lemát ica de saúde) . O grupo foi composto com 1 5 traba l hadores , sendo 4 enferme i ras , 4 técn i cos , 3 aux i l i a res e 3 atendentes . Com a in formação gerada nesse grupo , foram e laborados mapas de r isco das u n idades ne le rep resentadas .

O conce ito "desgaste" fo i apreend ido a part i r da enquete co let iva e de outros p roced i m entos comp lementares , segundo três formas ou vertentes pe las q ua is se expressa . Com os dados da enquete co let iva foi reconstru ída a morbidade refer ida . Com os dados dos p rontuár ios dos traba l hadores encam i n h ados para exame méd ico em 1 993 , foi reconstru ída a morbidade reg istrada . Com os reg istros de ac identes de t raba l ho , no ano de 1 993 , foram reconstru ídos os acidentes de traba lho .

3 A EXPR ESSÃO DA R E LAÇÃO TRABALHO-SAÚDE NOS TRABALHADORES DE E N FE R MAG E M DO H U-USP

3 . 1 A P R O D U ÇÃO EM SAÚ DE N O H U- U S P

O H U , enquanto p restador de serv iço de saúde , está i nse rido em u m a i n st i tu i ção formadora . Também está i nteg rado a o S U S como hosp i ta l de refe rênc ia . Nessa i nserção , atende as com u n idades : Butantã , USP e de pac ientes de convên ios e part i cu la res . ( To/asa , 1 994) .

Os traba l hadores de enfermagem estão i nser idos no Departamento de Enfe rmagem , que é s ubord i nado à supe ri ntendênc ia . Nessa i nse rção, não está favorec ida a part ic i pação dos traba l hadores na rep resentat iv idade f ren te aos ó rgãos dec isór ios , no p rocesso dec isór io p ropr iamente d i to e na concepção do traba lho que real i zam .

3 . 1 . 1 O Processo de Valor ização

A expressão da produt iv idade do traba lho de enfermagem fo i ap reend ida pe lo i n c re m e nto s i g n i f i cat ivo ver i f i cado e m 8 das 1 1 a t iv idades e l e i tas pa ra essa a n á l i s e . O n ú m e ro de consu l tas de e nfe rmagem teve o m a i o r i n c re m e nto no p e r íodo ( 1 25% ) e o n ú me ro de m ater i a i s p rocessados fo i a at iv i dade de m e n o r i nc re m e nto ( -29%) , poss ive l m e nte p e l o uso de mate r i a i s descartáve i s . O n ú m e ro rea l de l e i tos , a u m e ntou e m ce rca de 1 7% . Ass i m , resgato u - s e q u e h o uve u m i n c re m ento pa ra a ma io r i a d a s at iv idades desenvo lv idas , ao q u e co r responde u m i m pacto n a s at i v idades de e nfe rmagem . I sso ev idenc ia o aume nto d a p rodut iv idade do t ra b a l h o de e nfe rmag e m .

608 R. Bras. Enferm. Bras í l i a , v. 5 1 , n . 4 , p . 603-6 1 4 out . /dez . 1 998

o Desgaste do Trabalho . . .

A expressão da i ntensif icação do traba lho d e enfermagem fo i ap reend ida pe la aná l i se dos dados e m p ír icos sobre o ge renc iamento da fo rça de traba lho de enfe rm agem , pe la com pos ição da força de traba l ho e pe la rotat iv idade .

E m re lação à com pos ição da força de traba l ho , houve u m a defasagem de 1 1 a 1 7% ent re o quadro de pessoal de enfermagem auto rizado e o rea lmente existente no per íodo e a d i m i n u i ção da p ropo rção ent re t raba lhadores de enfe rmagem e o total de traba lhadores de 40% para 37% . I sso ev idenc ia q u e ocorreu um aj uste que reduz i u o n ú m e ro de traba l hadores que poder iam te r s ido adm it idos caso se mant ivesse o q uad ro autorizado para 1 990 . Os traba lhadores de enfermagem rep resentaram , no pe r íodo em estudo , ce rca de 37% da fo rça de trabal ho da i nst i tu ição , o que é cons iderada uma ba ixa p roporção . Segundo dados da AMS92 ( B RAS I L , 1 994) , cons iderando todos estabe lec i m entos de saúde do Pa ís , essa p ropo rção é de 43 ,67%. No hosp i ta l , espera-se que essa po rcentagem seja s i gn i f i cat ivamente ma ior , pe la necess idade de cu idado às 24h do d i a . Fo i , tam bé m , ver i f icado u m i nc remento de 5% da força de traba l h o de enfe rmage m , q u e não pareceu s i gn if i cat ivo para o i ncremento das at iv idades no pe r íodo na tota l i dade das u n idades .

Quanto à rotat iv idade , os índ ices são mascarados pe los traba l hadores adm it idos . O n ú m e ro de des l i gamentos e m 1 993 rep resentou uma média de 1 2 , 9 1 %. Os e nfe rme i ros foram os que mais sa íram da I nst i tu i ção (ce rca de 24%) , segu idos dos aux i l i a res ( 1 9%) . Os motivos c i tados foram o baixo sa lár io e i nsatisfação pe las cond i ções de traba l ho . Os repet idos p rocessos se let ivos de alto custo , o tem po decorr ido até a repos ição do trabal hador dev ido ao tempo necessár io para seu p reparo , rep resentam u m desgaste para os traba lhadores que permaneceram na I n st i tu i ção . A a l ta rotat iv idade tam bém não favorece a v i sua l i zação de p rob lemas de saúde re lac ionados com o trabal ho , que i m p l icam e m um "efe ito sad io" dos que permanecem e a a rt i cu l ação de res istênc ias co let ivas .

Ass i m , ev idenc ia-se q u e houve i nc remento quant i tat ivo das at iv idades sem o i nc remento co rrespondente da fo rça de traba l ho , ocorrendo a i n tens i f i cação do r i tmo de traba l ho , como estratég ia para dar conta do i nc re m ento dessa p rodut iv idade .

3 . 1 .2 O Processo de Traba lho de E nfermagem

O traba lho de enfermagem é resgatado do p rocesso ass ist i r do'H U em sua

espec i f ic idade e decomposto e m seus e lementos bás i cos : objeto/p rod uto f i na l , me ios/i nstru m entos e o rgan ização/d iv isão .

E m re lação ao objeto/produto f ina l , é ev idenc iado que , por esta r i n se rido no p rocesso ass i stenc ia l do H U , o traba l hador de enfe rmagem t ransfo rma o mesmo objeto , com a mesma f i na l idade do traba l h o colet ivo do H U . A transformação desse objeto (co rpo i nd iv idua l dos pac ientes/c l i entes com demandas ass istenc ia i s no PSD) . I n i c ia-se com a ent rada desse pac iente/c l i ente no Ambu lató r io ou P ronto Ate n d i mento e da í para uma u n idade de i nternação . Nas u n idades , as i nte rvenções de enfe rmagem são rea l i zadas segundo as necess idades de t ransformação do PSD do pac iente . Ass i m , o objeto e o p roduto f i na l ocupam o mesmo espaço : o co rpo do pac ie nte/c l i ente . No cent ro de mate r ia l e este r i l ização , o objeto é d i ferenc iado e mater ia l e a f ina l idade do trabal ho a í rea l izado é i nstrumental izar p rocessos assistenc ia is ,

R. Bras. Enferm. Bras í l i a , v . 5 1 , n . 4 , p . 603-6 1 4 out . /dez . 1 998 609

S/L VA, Felli Vanda et alo

serv i ndo à man utenção do p rocesso ass is t i r no H U . A caracte r íst ica de a lguma i n terdependênc ia entre as u n idades pode favorece r a i ntens i f i cação do traba lho nas u n i dades q u e se i nterre lac ionam , de forma s i m u ltânea ou conseq üentemente . A força de traba lho de enfe rmagem permi t indo a cont i n u idade do p rocesso ass istenc ia l , ev idenc ia a comp lementar idade e i nte rdependênc ia desse traba l ho a rt i cu lando às dema is p rát icas .

Os meiosli nstrumentos caracte r izam u m traba lho p redo m i nantemente manua l . O traba l hador detém um contro le re lat ivo dos i nstru mentos , o que poss i b i l i ta tomar dec isões de pequena comp lex idade . Ge ra l mente , os i nstru mentos não são tecno log icamente avançados e v iab i l i zam a i ntens if icação do traba l ho . O saber , que perm i te a apreensão do objeto e a p rojeção de sua transformação é d iferenc iado por categor ias .

N as formas de organ ização e d iv isão, resgata-se a dependênc ia e comp leme ntar idade do traba lho de e nfermagem da p ráti ca méd ica , rep rod uz i ndo o mode lo c l ín i co cu rat ivo e i nd iv idua l . As i n te rvenções são s istemat izadas pe lo SAE que se conve rte e m i nstru mento de contro le do enfe rme i ro , pe lo q ua l fo rma l iza a parc ia l i zação das at iv idades . O contro le é efet ivado pe la superv isão (voltada para o conteúdo das ta refas em detr imento do pó lo educat iv% r ientador) pe la qua l se rep roduz o poder i n st i tuc i ona l . Os mode los de o rgan ização e d iv isão do traba lho com gênese no taylor i smo , ford i smo , fayo l i smo e b u rocrac ia fundamentam a parc ia l i zação das at iv idades e l evam à desart i cu lação entre a concepção/ execução , superv isão/ contro l e , q u a l if i cação/desqua l i f icação , à normat ização e rot i n i zação do que fazer e como faze r . Os rod íz ios de tu rno , o t raba lho notu rno e a fa l ta de pausas para descanso d u rante a jo rnada d if icu l tam a repos ição da capac idade de traba l ho , a lém de favo recer a i ntens i f icação do r i tmo .

3 . 2 AS CARGAS D E TRABALHO D E E N F E R MAG EM

As cargas de traba l ho a que estão expostos os trabal hadores de e nfe rmagem caracter izam-se pela d ive rs idade (b io lóg icas , f ís icas , qu ímicas , mecân icas , f is io lóg icas e ps íq u icas ) . Essa d ive rs idade também está p resente em todas as un idades estudadas e d i fe renc iam pe la i n tens idade de expos ição dos trabal hadores . Freq üentemente a maior ia dos trabalhadores das u n i dades está exposta a esse conj u nto de cargas , o que

evidenc ia que a fo rma de traba lhar é geradora de cargas seme l hantes .

3 .2 . 1 Cargas B io lóg icas

As cargas b io lóg icas c i tadas fora m : o contato com pacientes portadores de doenças i nfecc iosas i nfecto-contagiosas e/ou com suas secreçõe s , que ca racte r izam a i n teração com o obj eto de traba l ho , ou seja , o corpo doente ; o contato com mater ia is contami nados ( i n stru mentos de traba l h o) e a presença de peq uenos a n i ma is (barata , mosca, m osq u i to , form iga) , q u e contam inam os lanches dos traba l hadores , ressal tam a i nadequação dos me ios de traba l ho .

3 .2 .2 Cargas Fís icas

Foram c i tadas em re lação a (o) : R u ído - p roven iente do ar cond ic ionado , b ip 's

6 1 0 R. Bras. Enferm. Bras í l i a , v . 5 1 , n . 4 , p . 603-6 1 4 out . /dez . 1 998

o Desgaste do Trabalho . . .

dos apare l hos , sons p rópr ios dos i nstru mentos d e traba l h o (mon i tores , resp i radores , uso de ar compr im ido) e de outros se rvi ços (apare l ho de l i m peza) , concentração e t râns i to de pessoas , pac iente e m estado emoc iona l a l te rado , reformas ; u m idade -expos ição à chuva ao sa i r da u n i dade , t ransporte de mate r ia l para central de gás , p isos mo lhados e escoamento de água por tubu lações e létr i cas , vapor de autoclaves , en tup imento de ra los ; i l u m i nação - art i f ic ia l , defi c iente ou excess iva ( ref lexos l u m i nosos , uso de foco l u m i noso pa ra a l guns p roced i mentos , ex igênc ia de acomodação v isua l pe la c laridade) ; mudanças bruscas de temperatu ra - uso do a r cond ic ionado , a l te rnação ca lo r/fr io entre as sa las e estações do ano (construção/ loca l i zação) , fa l ta de vent i lação , s i tuações c l i m át i cas à sa ída da i nst i tu i ção ; eletr i c idade - choques em equ i pamentos e l étr icos e tomadas , escoamento d 'água de ch uva em tubu lações , descarga de e l etr i c idade estát ica e m contato com superf íc ie metál ica e sobre o p iso , r i sco de i ncênd io e exp losõe s ; rad iação ion izante - exames rad io lóg icos sem p roteção adequada ou s i tuações q u e favoreçam à expos ição .

3.2 .3 Cargas Qu ím icas

A exposição às cargas q u ím i cas citadas foram re lat ivas às su bstâncias q u ím icas de u m modo geral (óx ido de et i l eno , forma lde ído e g l utara lde ído) ; às su bstânc ias de uso med icamentoso (gases anestés icos , q u i m ioteráp icos , ant i b i ót icos , ant issépt i cos e out ros ) ; poei ras e fumaças ( ret i rada de gesso , ar cond ic ionado , ta lco em l uvas c i rú rg i cas e fumo pass ivo dos traba l hadores) e mater ia is de borracha ( l uvas) .

3.2.4 Cargas Mecân icas

Foram re latadas em re lação à(s ) : man ipu l ação de perfu ro-cortantes (ag u l has , tesou ras , b is tu r i ) ; quedas ( p isos ence rados , escadas) ; ag ressões (pac ientes confusos ou sedados , de v is i tantes) ; prensão de dedos e mãos (maca tranfe r , m onta carga) .

3.2 .5 Cargas F is io lóg icas

São citadas em re lação à(o) : man ipu lação de peso excessivo man ipu lação de pac ientes (obesos , dependentes , anestes iados ) , de torpedos de gases , ga lões de substânc ias q u ím i cas , de portas de autoclaves , macas , cade i ras de rodas defe i tuosas , de mate ria i s pe rmanentes e uso de aventa is de chumbo ( m u l heres e g rávidas) ; traba lho em pé ; posições i nadequadas e i n cômodas - assu m idas d u rante o cu idado no l e i to , to rção de col u n a ao man ipu la r eq u i pamentos , ver i f i cação de s i na is v i ta is e outros p roced i mentos e traba lho noturno e rodíz ios de turno.

3 .2 .6 Cargas Psíq u icas

As cargas ps íq u icas c i tadas pe los t raba l hadores fo ram : atenção constante : (pac ientes sedados , i n consc ientes , anestes iados e que necess i tam de v ig i l ânc ia) ; su pervisão estr ita - (contro l e , falta de autonom ia e cr iat iv idade e não part ic i pação na tomada de dec isões) ; ritmo acelerado ; traba lho parce lado, monótono e repetit ivo (forma como o traba lho é o rgan izado e d iv id i do) ; comun icação d if icu ltada

R. Bras. Enferm. Bras í l i a , v. 5 1 , n . 4, p. 603-6 1 4 out . /dez . 1 998 6 1 1

S/L VA, Felli Vanda et aI.

(falta de tem po i mposto pe lo r i tmo ou por p ro ib i ção de superi o res , d i f icu ldade de re lac ionamentos , falta de reu n i ões e não autor ização para uso do te lefone du rante a jo rnada) ; trabal ho fem i n i no (dup la ou tr i p l a jo rnada) ; desart icu lação de defesas c o l et i vas ; ag ressão ps íq u i ca (ve rba l de pac i e n tes/c l i e n tes d oce n tes e desco n s i d e ração de a l g u n s m é d i cos ) ; fad iga , tensão , estresse ( t raba l ho desgastante e pe la expos i ção a tantas cargas) ; i nsatisfação ( pe rda sa lar ia l , dobras de p lantão e não reconhec imento do traba lho) e situações que levam ao consumo de á lcool e d rogas.

3.3 O DESGASTE DOS TRABALHADO R E S D E E N F E RMAG E M DO HU - USP

A expos ição dos trabal hadores de enfe rmagem a essa d ivers idade de cargas é geradora de p rocessos de desgaste que não são fac i lmente evidenc iados , dada a sua comp lex idade e a conseq üente d if icu ldade de captar suas man ifestações . Como não se refe re necessar iamente a uma pato log ia espec íf ica , uma forma de captá- lo é através de s i na is e s i n tomas. Os danos podem man ifestar-se em um pe ríodo de tempo variável em que se dá o p rocesso de adaptação destrut iva . Ass i m , buscamos captar o p rocesso de desgaste através de t rês formas : morb idade refe r ida e reg istrada e ac identes reg ist rados .

Os dados emp ír i cos captados por essas três fo rmas de expressão do desgaste dos trabal hadores de enfe rmagem do H U , perm it i ram conformar u m perf i l de morb idade (Quadro 1 ) , onde sobressaem-se os fer i mentos pé rfu ro-cortantes e os p rob lemas ósteo-m úscu lo-art icu lares .

4 CONC LUSÃO

As s i m , no refe re n c i a l teó r i co - m etodo l ó g i co q u e s u ste nta o es tudo , ap reendemos que o p rocesso saúde-doença v ivenc iado pe los t raba lhadores de enfe rmagem do H U - U S P evidenc ia sua s ubord i nação ao modo de p roduz i r da soc iedade b ras i l e i ra .

Nesse estudo , o momento p rodut ivo fo i abordado com o p reponderante na dete rm i nação do p rocesso saúde-doença sem que , com i sso , se descons idere que são as cond ições de v ida e traba lho q ue determ inam o p rocesso de desgaste dos traba lhadores .

O p rocesso de desgaste ev idenc iado pe los traba l hadores de enfe rmagem , ass i m apreend ido , coloca em evidênc ia a necess idade de transformação dessa rea l idade .

6 12 R. Bras. Enferm. Bras í l i a , v . 5 1 , n . 4 , p . 603-6 1 4 out ./dez . 1 998

;:o Q

UA

DR

O 1

-P

erf

il de

mo

rbili

dad

e d

os

tra

ba

lha

do

res

de

Enf

erm

ag

em

, se

gu

nd

o a

ma

ior e

me

no

r fr

eq

üê

nc

ia d

os

da

nos

na

s d

ifere

nte

s CO

fo

rma

s de

ex

pre

ssã

o d

o d

esg

aste

. HU

-US

P, 1

99

3-9

4.

� � � <li' ª co

..... O) Cf) O) < ()1

........

::J +>­ "O (J)

o

úJ , (J)

+>­ o c ..

.... '-.

.. o.

. co N (O

(O

<Xl

O)

w

MO

RB

IDA

DE

RE

FE

RID

A

MA

IS F

RE

ENT

ES:

Ferim

ento

s pé

rfur

o-co

rto-c

ontu

sos

Doe

nças

inf

ecci

osas

, in

fect

o-co

ntag

iosa

s e

para

sitá

rias

Doe

nças

ós

teo-

mús

culo

-arti

cula

res

Pro

blem

as r

espi

rató

rios

Des

equi

líbrio

men

tal

e de

sgas

te e

moc

iona

l En

xaqu

eca

e ce

falé

ia

Pro

blem

as d

e pe

le

Pro

blem

as o

cula

res

Pro

blem

as a

uditi

vos

Into

xica

ção

por

subs

tânc

ias

quím

icas

Es

tress

e, e

staf

a e

cans

aço

ME

NO

S F

RE

EN

TE

S:

Dis

túrb

ios

do s

ono

Pro

blem

as g

astr

oint

estin

ais

Difi

culd

ade

circ

ulat

ória

em

MM

II Irr

itabi

lidad

e P

robl

emas

de

vias

urin

ária

s H

iper

tens

ão a

rteria

l P

robl

emas

psi

quiá

tric

os e

tra

uma

emoc

iona

l A

lcoo

lism

o D

oenç

as

psic

osso

mát

icos

MO

RB

IDA

DE

RE

GIS

TR

AD

A

MA

IS F

REQ

ÜE

NT

ES:

Ferim

ento

s pé

rfuro

-cor

to-c

ontu

sos

Doe

nças

óst

eo-m

úscu

lo-a

rtic

ular

es

Pro

blem

as d

e vi

as u

rinár

ias

Pro

blem

as r

espi

rató

rios

Alte

raçõ

es h

emat

ológ

icas

D

oenç

as i

nfec

cios

as,

infe

cto-

cont

agio

sas

e pa

rasi

tária

s P

robl

emas

gas

troi

ntes

tinai

s E

nxaq

ueca

e c

efal

éia

Pro

blem

as g

inec

ológ

icos

A

ltera

ções

glic

êmic

as

ME

NO

S F

RE

ENT

ES:

Esta

fa, f

adig

a e

cans

aço

Pro

blem

as

audi

tivos

D

ificu

ldad

e ci

rcul

atór

ia e

m M

MII

Hip

erte

nsão

arte

rial

Doe

nças

psi

coss

omát

icas

e

emoc

iona

is

Alte

raçõ

es c

ardí

acas

P

robl

emas

de

pele

E

stre

sse

Dis

túrb

ios

do s

ono

AC

IDE

NT

ES

DE

TR

AB

AL

HO

MA

IS F

RE

ENT

ES:

Ferim

ento

s pé

rfuro

-cor

to-c

ontu

sos

Doe

nças

óst

eo-m

úscu

lo-a

rtic

ular

es

ME

NO

S F

REQ

ÜE

NT

ES:

Con

tato

com

fluí

dos

e se

creç

ões

Con

junt

ivite

Q

ueim

adur

a oc

ular

por

sub

stân

cia

qUlm

lca

Que

imad

ura

de p

ele

(cal

or,

sub.

quím

ica)

o

CJ Q) � <JJ êi) 2- ::;i ru

o­ III ::r <:)

S/L VA, Felli Vanda et aI.

5 R E F E R ÊNCIAS B I B LIOGRÁFICAS

1 . BRAS I L . M i n isté r io do P lanejamento e Orçamento . Fundação I nst ituto B ras i l e i ro de Geograf ia e Estat íst ica . Estatísticas da saúde: ass istênc ia méd ico-san itár ia -A M S . 1 992 . R i o de Jane i ro : I B G E , 1 995 .

2 . CASTE L LANOS , B . E . P . et a I . Os desaf ios da enfermagem para os anos 90 . I n : C O N G R ESSO B RAS I L E I RO D E E N F E R MAG E M , 4 1 . , 1 989 , F lor ianópo l i s . Anais . . . F lor ianópo l i s : A B E n , 1 989 . p . 1 47-69

3 . C O N S E L H O F E D E R A L DE E N F E R M A G E M . Assoc iação B ras i l e i ra de Enfermagem . O exercício da enfermagem nas instituições de saúde do Brasil 1 982/1 983: enfe rmagem no contexto i nst i tuc iona l . R i o de Jane i ro , 1 986 . V . 2 .

4 . __ o Associação B ras i l e i ra de Enfermagem . O exercício da enfermagem nas instituições de saúde do Brasil 1 982/1 983: força de t raba lho em enfermage m . R io de Jane i ro , 1 986 . V . 1 .

5 . __ o População de profissionais de enfermagem cadastrados a té 3 1/07/95. COFE N , B ras í l i a , 1 995 . M i meografado .

6 . G O N ÇALV E S , R . B . M . Tecnologia e organização social das práticas de saúde: caracte r íst i cas tecno lóg icas de p rocesso de trabal ho na rede estadua l de centros de saúde de São Pau lo . São Pau lo : H U C ITEC , 1 994 .

7 . LAU R ELL , A . C . La construcc ión teór ico-metodo lóg ica de l a i nvest igac ión sobre la sa l ud de los trabajadores . I n : LAU R ELL , A . C . (Coord . ) Para la investigación sobre la salud de los trabajadores. Wash i ngton : OPAS/O M S , 1 993 . Cap . 1 p . 1 3-35 (Sér ie PAL TEX, Sa lud y Sociedad 2000 N

º 3) .

8 . LAU R E LL , A .C . ; N O R I EGA, M . Processo de produção e saúde: traba lho e desgaste operári o . São Pau lo : H U C ITEC , 1 989 . 333p .

9 . MARX , K . O capital: cr ít ica da econom ia po l ít ica . 3 . ed . São Pau lo : N ova Cu l t u ra l , 1 988 . v . 1 .

1 0 . ODDON E , I . et a i . Ambiente de trabalho: a l uta dos trabal hadores pe la saúde . São Pau l o : H u ci tec , 1 986 .

1 1 . Q U E I ROZ, V . M . ; SALU M , M . J . Processo de produção de saúde. /Ap resentado ao S e m i nár io de Red i rec ionamento da P rát ica da Enfermagem no S U S . São Pau l o , 1 994 ./

1 2 . ROSA, M .T . L . da et a i . O desenvolv imento técn ico-c i en t íf ico da enfe rmagem : u m a a p rox i m ação com i n st ru m e ntos de t raba l h o . I n : C O N G R ESSO BRAS I LE I RO DE EN FERMAGEM, 4 1 . , 1 989, Florianópo l is . Anais . . . F lorianópol is : A B E n , 1 989 . p . 97- 1 26 .

1 3 . S I LVA, V . E . F . da Estudo sobre os acidentes de trabalho ocorridos com trabalhadores de enfermagem de um hospital de ensino. São Pau lo , 1 988 . 1 76p . D issertação (Mestrado) - Esco la de Enfe rmage m , U n ive rs i dade de São Pau lo .

1 4 . . O desgaste do trabalhador de enfermagem: relação trabalho de enfermagem e sa úde do trabalhador. São Pau l o , 1 99 6 . 2 8 9 p . Tese (Doutoramento) - Escola de Enfermagem , U n ivers idade de São Pau lo .

1 5 . TOLOSA, E . M . C . et a i . Hosp i ta l U n ivers i tá r io da U n ive rs i dade de São Pau lo : aná l i se cr ít ica dos ref lexos do p lano de gestão f inance i ra-ad m i n istrat iva nas at iv idades docentes , ass istenc ia is e de pesqu isa (per íodo de 1 990- 1 994) . Rev. Med. HU-USP, vA , n . 1 /2 , p . 1 -22 , 1 994 .

6 1 4 R. Bras. Enferm. Bras í l i a , V . 5 1 , n . 4 , p . 603-6 1 4 out . /dez . 1 998

top related