o desgaste do trabalhador de enfermagem: relaÇÃo trabalho ... · cargas de trabajo y desgaste,...

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o DESGASTE DO TRABALHA DOR DE ENFERMAGEM: RELAÇÃO TRABALHO DE ENFERMAGEM TRABALHADOR E SAÚDE DO THE TRAINED PROCE OF THE NURING WOR I(ER: THE RELATION HIP OF NURING WOR I( AND NURING HEALT H EL D EGATE DEL TR A8AJADOR DE ENFERMERíA: RELAClÓN E NTRE EL TRA8AJO DE ENFERMERíA Y EL TRA8AJADOR D E DICHA ÁR EA Vanda Elisa Felli da Silva 7 Paulina Kurcgant2 Vilma Machado de Quei RESUMO: O estudo busca a compreensão do processo saúde-doença, vivenc iado pelos trabalhado res de enfermagem no desempenho de seu trabalho, fun damentado na de terminação social desse p rocesso. Evidenc ia as particular idades da relação t rabalho-saúde de uma realida de concreta, decompondo e recompondo as inte rmediações processo de valo rização, processo de trabalho, cargas de t rabalho e desgaste, o que permi tiu explic itar o pe rfil de mo rbidade desses trabalhado res. Nesse perfil, os ferimentos pérfuro-co rtantes e as doenças ós teo-músculo -articulares apa recem como danos ca racterísticos desse grupo de t rabalhadores de enfermagem. PALAVRAS-CHAVE: Enfermagem, Saúde do trabalhador, Processo saúde-doença ABSTRACT: The study aims the understanding of the process healt h-ilness, as it is exper ienced by nursing wo rkers in the acting of its work, being bases in the soc ial determination of that process o It evidences the particulari ties of the relationsh ip between labor and heal th of a concrete reality. The adopted methodology permited to es tablish the link between t he valorizat ion process, work process, loads and strain. This relationsh ip of determination permit to show the unhealthy p rofile of those nursing workers. The sharp accidents, bones, muscles and jo int deseases are charac teris tics damages of in th is prof ile. KEYWORDS: Nursing, The wo rke r's of nursing health, The health-ilness process RESUMEN: EI estudio busca la comprensión dei proceso salu d-enfermedad, vivenc iado por los trabajadores de enfermería en el desempeno de su trabajo, fundamentado en la determinac ión soc ial de ese proceso. Se evidencia las particularidades de la relación trabajo-salud de una real idad concreta, descomponien do y recomponien do las intermediaciones p roceso de valorizac ión, proceso de trabajo, cargas de trabajo y desgaste, lo que permiti0 explicitar el perfil de morbili dad de estos trabajadores. En este perfil, los accidentes pérfuro-cortantes y las enfermedades osteo-múscu lo-articu lares aparecen como danos característicos e n este grupo de t rabajado res de enfermería. PALABR AS CLAVE: Enfermería, Salud dei trabajador , Proceso salud-enfermedad 1 Enfermeira. Profª Drª do Departamento de Orientação Profissional da Escola de Enfermagem da USP. 2 Enfermeira . Profª tular do Departamento de Orientação Profissional da Escola de Enfermagem da USP. 3 Enfermeira. Profª Drª do Departamento de Saúde Coletiva da Escola de Enfermagem da USP. R. Bras . Enferm. Brasília, V. 51 , n . 4, p. 603-614 out./dez . 1 998 603

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o D ES GASTE D O T RABA L H ADO R D E E N F E R MAG E M : R E LAÇÃO T RABALH O D E E N F E R M AG E M

T RA BA L H A D O R E SAÚD E DO

THE )'TRAINED PROCES") OF THE NUR'iI NG WORI(ER'i :

THE RELAT ION'iH I P OF NUR'i ING WORI( AND NUR'i ING HEALTH

EL DE'iGA)'TE DEL TRA8AJADOR DE ENFERMERíA : RELAClÓN ENTRE EL TRA8AJO

DE ENFERMERíA Y EL TRA8AJADOR DE D ICHA ÁREA

Vanda Elisa Felli da Silva 7

Paulina Kurcgant2 Vilma Machado de QueiroZ;

R ES U M O : O estudo busca a compreensão do p rocesso saúde-doença, v ivenc iado pe los trabal hadores de enfermagem no desempenho de seu t raba lho , fundamentado na determ inação social desse processo . Ev idenc ia as part icu lar idades da re lação traba lho-saúde de uma rea l idade concreta, decompondo e recompondo as i ntermediações p rocesso de va lorização , processo de traba lho , cargas de traba lho e desgaste , o que permit iu exp l ic itar o perf i l de morb idade desses trabalhadores . N esse perf i l , os fer imentos pérfu ro-cortantes e as doenças ósteo-múscu lo -art icu lares aparecem como danos característ icos desse g rupo de t raba lhadores de enfermagem.

PALAVRAS-CHAVE : E nfermagem , Saúde do traba lhador , P rocesso saúde-doença

ABSTRACT: The study a ims the understand ing of the p rocess hea lth - i l ness , as i t is exper ienced by n u rs i ng wo rkers i n the act i ng of i ts work , be ing bases i n the soc ia l dete rm inat ion of that p rocesso I t ev idences the part i cu la r i t ies of the re lat ionsh ip between labor and hea l th of a concrete real i ty. The adopted methodo logy perm ited to estab l i sh the l i nk between the valo r izat ion p rocess, work p rocess, loads and strai n . This relat i onsh ip of dete rm inat ion permit to show the unheal thy p rofi le of those n u rs i ng workers . The sharp acc idents , bones, musc les and jo int deseases are characterist ics damages of i n this p rof i l e .

K EYWO R D S : N u rs i ng , The wo rker's of n u rs ing hea lt h , The hea lth - i l ness p rocess

R E S U M E N : E I estud io busca l a comprens ión dei p roceso sa lud-enfermedad , v ivenciado por los t rabajadores de enferme r ía en e l desempeno de su trabajo , fundamentado en la dete rm inac ión socia l de ese p roceso . Se ev idenc ia las part i cu lar idades de la re lac ión trabajo-sal ud de una real i dad conc reta, descompon iendo y recompon iendo las i ntermed iac iones p roceso de valo r izac ión , p roceso de trabajo , cargas de trabajo y desgaste, l o que perm i t i0 exp l ic i tar e l perf i l de morb i l i dad de estos trabajadores . En este perf i l , los acc identes pérfu ro-cortantes y l as enfermedades osteo-múscu lo-art i cu la res aparecen como danos caracte ríst icos en este g rupo de trabajadores de enfermería .

PALAB RAS C LAV E : E nferme ría, Salud de i trabajador , P roceso sa lud-enfermedad

1 Enfermeira . Profª Drª do Departamento de Orientação Profissional da Escola de

Enfermagem da USP. 2 Enfermeira . Profª Titular do Depa rtamento de Orientação Profissional da Escola de

Enfermagem da USP. 3 Enfermeira. Profª Drª do Departamento de Sa úde Coletiva da Escola de Enfermagem da

USP.

R. Bras. Enferm. B ras í l i a , V . 5 1 , n . 4 , p . 603-6 1 4 out ./dez . 1 998 603

S/L VA, Fell; Vanda et alo

INTRODUÇÃO

1 . 1 A CONSTR U ÇÃO DO OBJ ETO DE ESTUDO

N as d uas ú l t imas décadas , observamc::: U , l i llC re ;'n l?nm d E � pub l i cações re lac ionados à saúde dos trabal hadores de enie l r·:,aye m . i'l c ef l tun to , '2stas não são s uf ic ientes para caracte r izar q uant i -qua l itat ivarn l?n t � Do p :',jb lern af, específ icos que emergem da relação entre t raba l ho de enferma;;E rr o ;,,a8de [185 t raha lhadores .

A ma io r ia dos estudos que abordam e S S E . tbrmhica 8slió rra nos l i m ites do parad i gma pos i t iv ista , fundamentados na conC ( ; ,J çRO regemên icél m u l t ifato r ia l do p rocesso saúde-doença - PSD. Ass i m , reg ist ra ,n a s i rr,p les ocorrê nc ia da doença e exp lo ram os r iscos ocupaciona is como 3ÇJtmtes ex is ten tes n o amb iente de traba l h o , portanto , buscando ident i f icar uma re l é . ç: i io 0 8 c.:! u s a e (�f (� i tc . Os estudos q u e buscaram ir a lé m , ou não evidenc ia ram a génese no co let ivo de t raba lhadores ou não abarcaram a tota l idade da re lação traba lho ae enfe rmagem e saúde dos t raba l hadores .

A s s i m , p ro p o m o s a r e a l i z a ç ã o d e s s a i n v '3 s t i g a ç ã o ( Sil va , 1 9 9 6 ) , fundame ntando-nos no refe renc ia l teó r ico-met':::' GG lj� .cú ojJe (ac iclna i desenvo lv ido por Laurel!; Noriega ( 1 989 ) , tomando como O bJ 2 �0 Jc L! s , �l d () a re l ação t raba l ho­s a ú d e , exp ressa nos t ra b a l h adores de e nfe rri'l a �r rl de I''' c s p i ta l U n ive rs i tá r io da U n i ve rs i dade de São P a u l o - H U - U S P , e m p2.rt i C'l ' I� (

Essa re lação expressa-se n o corpo b i c rdq :j i('� dos t raba lhadores de enfe rmagem pe lo desgaste por e les sofr ido , p rolJc có dc, pG la expos i r; :ão às cargas de traba l ho , ge radas nos p rocessos de traba l ho , s u b m ")t i rios q lJ e es tão aos p rocessos de va lo r ização da p rodução em saúde na soc iedade cã�< i la l i sta .

Esse objeto é resgatado do contexto socia l ondE' es1 á i n se r ido , i sto é , da p rodução em saúde art i cu lada ao seto r te rc iár io de p rodução, es pec i f icamente na p re s t a ç ã o de s e rv i ç o s . E s s e s e rv i ço i n s t i t LJ:; i o !l 3. l i zi.1 ch é p re s t a d o e m estabe lec i mentos hosp i ta la res e n ã o hosp i ta lares , cnce a s p ráti cas de saúde , tanto do setor púb l ico como p rivado, são leg i t i madas pe lH pol í t ica (;H 5<l �:I (je , no contexto das po l ít i cas soc ia i s . Essas p rát icas são executadás j:i6 1a "rc rça de trabal ho em saúde q u e operac iona l i za a pol ít i ca de saúde .

N esse contexto , buscamos ap reender o t raba ih { ) e l n sôlk.e art icu lando às dema is p rát icas soc ia is e dessa a rt i cu lação extra i r 6 r, : (! I 'é t .:j u i nlt ús dete rm inantes do p rocesso t raba lho-saúde v ivenc iado em p a rt:.'::: L , l u :' pe l �!:.; t raba lhado res de enfermage m .

Esse estudo , portanto , tem por objet ivo 8\/ idnr, c i a l 3. S � Ia l t icu la ri dades da re lação de dete rm inação traba lho-saúde que s e 13X9 ; ' f;,S2 1 10S traba lhadores de enfe rmagem do H U- U S P , no desenvolv i mento de seu tré",bal ho .

1 . 2 A FU N DAM ENTAÇÃO TEÓ R I CA PARA CC' I" ; i:J ric,:, ,\ISAO DA R E LAÇÃO TRABALHO-SAÚDE

Evidenc iar como o trabal ho gera processos sa'k1p'-rj()e rç'a itT'j1 l ic:a em exp l i c i tar como o soc ia l se trad uz no b io lóg ico e como esse se s u h m ete ao [i oc i a l , como é

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o Desgaste do Trabalho . . .

exp l i cado p o r Laurel! ( 1 983) . O P S B enquanto p rocesso colet ivo e soc ia l que se expressa no corpo h u mano

e adq u i re h i stor ic idade é conceb ido com o nexo b iopsíqu ico h u mano . Esse nexo man ifesta-se a part i r da ativ idade h u mana no t raba l ho e sua h i stor ic idade é ap ree nd ida pe lo conce i to de adaptação : "capac idade do corpo responder com p last ic idade d iante de cond ições específ i cas de desenvo lv i m ento nos p rocessos corpora i s , q u e se expressam como fo rmas b io lóg icas ca racte ríst icas" . Essas formas caracte r íst i cas , como os processos de adaptação q u e ocorrem nas d ist i ntas co let iv idades h u manas , const i tue m os estereót i pos de adaptação ou "modos de andar a v ida" .

Esses p rocessos de adaptação s i gn i f icam a t ransfo rmação de p rocessos b io lóg icos e ps íq u i cos com o desenvolv imento ou a destru i ção de capacidades e potenc ia l idades . Podem ser p rocessos f i s io log icamente no rma is , capazes de p roteger o o rgan ismo para a sobrevivênc ia , ass i m como podem transformar-se em destru i do res da i ntegr idade corpora l . É no estudo dos g ru pos h u manos que esses p rocessos são reve lados , não porq ue opõem o i nd iv íduo (pouco) ao g rupo ( m u itos) , mas porque o g rupo é vi sto a part i r de sua i nse rção soc ia l , portanto , de sua h istór i a . Os p rocessos da adaptação caracte r izam os grupos soc ia is ao emerg i r do modo específ ico de como esses homens apropr iam-se da natu reza por meio de uma dete rm i nada organ i zação socia l . Sendo os grupos homogêneos no i nter ior e hete rogêneos no exte rio r , por comparação a outro g rupo , é no g rupo que se caracte r izam os "modos de andar a v ida" e não no " i nd iv íduo" .

Para compreender o traba lho , como dete rm inante do PSD coletivo , é necessár io ana l isar as fo rmas h i stór icas que assu m e no cap i ta l i smo . N essa aná l i se , as i nte rmed iações exp l i c i tadas por Laurel!; Noriega ( 1 989) : p rocesso de valo r ização­PV, p rocesso de traba l ho -PT, cargas-CA e desgaste -DE permi tem a rt i cu la r essa re lação . No pólo traba lho (dando destaque ao p rocesso de produção-PP) é evidenciado o PV e o PT e, no pólo saúde , as CA e o D E .

Ass im , o traba lho real izado modo d e p rodução capital ista, desenvolve-se com a f ina l idade de gerar l ucro ou mais val ia . O p rocesso de geração de mais-va l ia é o processo de valorização do capita l . Esse ocorre s imu ltaneamente e somente pode materia l izar-se no momento concreto da p rodução de bens e serviços - processo de trabalho . Ocorrendo os p rocessos de adaptação que são destrutivos da i ntegridade corpora l , depreende-se que existem nos processos de trabal ho "e lementos que in te ratuam d inamicamente entre s i e com o corpo do trabalhador que se traduzem em desgaste" - cargas de traba lho . As transformações negativas dos p rocessos b iopsíqu icos que se orig inam na i nteração com as cargas de traba lho que geram "a perda da capacidade efetiva e/ou potenc ia l e ps íqu ica" é defi n ida como processo de desgaste . Esses processos de adaptação destrutivos que caracterizam os g rupos sociais conformam o perfi l patológico desses g rupos.:.

Exp l ic itamos a segu i r a decompos ição dessas i ntermediações que estrutu ram a re lação trabal ho-saúde em particu lar . 1 .2 . 1 Processo de Va lor ização

A geração de mais-val ia pode ocorre rde duas formas: absoluta (aumento da jomada

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S/L VA, Felli Vanda et alo

ou redução do salário) e relativa (por mudanças tecnológ icas ou intensificação do trabalho) . No traba lho em saúde o p roduto gerado é u m serv iço q u e é consu m ido no

momento da p rodução e como tal não p roduz ma is-va l i a d i retamente mas nem por isso de ixa de rep roduz i r a lóg ica p rodut iva . ( Gonçalves, 1 994) . Ao p roduz i r um efe i to út i l que é consum ido no mesmo momento , toma a forma de uma mercadoria e u m valor a se r com e rc ia l izado .

1 .2 .2 Processo de Traba lho

O t rab a l h o é conceb ido como uma at iv idade e m q ue o t raba l hador o r i e ntado por u m a f i n a l idade , t ransfo rma um dete r m i nado obj eto de t raba l h o e m um p rod uto f i n a l , u t i l i za n d o m e i os e i n st ru m e ntos , sob dete r m i nada o rgan i zação e d iv i são . ( Ma rx, 1 988) .

O t raba l ho em saúde como u m serv iço p restado , confo rme conceb ido por Gonçalves ( 1 994) desenvo lveu-se no capi ta l i smo com a f i na l idade de contro la r as doenças em escala soc ia l e recupera r a fo rça de traba lho i ncapacitada , i sto pe lo s i gn i f icado que os corpos h u manos adqu i rem como sede da força de traba lho , p rec isando esta r r íg ida para poder ser vend ida e consu m ida . Toma como objeto o corpo h u m ano i nvest ido soc ia l mente nas d imensões i nd iv idua l e colet iva . Para a transformação desse objeto ut i l i za meios e instru mentos : força de traba lho em saúde (traba lho colet ivo) , saber , mater ia is específ icos , eq u i pamentos de d iagnóstico e terapêut ica e o local de trabalho com destaque ao hospita l . As formas de organ ização e d iv isão adotadas no traba lho em saúde subord i nam-se a do is mode los abstratos e comp leme ntares : c l í n i co e ep ide m io lóg ico .

O traba lho de enfermagem i nsere-se no traba lho colet ivo e m saúde , como subs id iá ri o e comp lementar . ( Castel/anos, 1 989) . D iante da mesma f i na l i dade , t ransforma o mesmo objeto , part i cu la ri zando-se pe los me ios e i n stru mentos que emprega (fo rça de traba lho , sabe r , l ocal de trabal ho e i nstru mentos específ i cos) e pe las fo rmas específ icas de o rgan i zação e d iv i são (d iv isão por catego r ias com qua l i f i cações d iferenc iadas e p rocessos de traba lho também d ife renc iados entre ass ist i r e ge renc ia r) .

1 .2 .3 Cargas de Traba lho

Para apreendê- Ias é necessár io decompor o traba lho e m seus e lementos bás icos . ( Laurel!; Noriega, 1 989) .

Ao transformar o objeto no p rocesso de traba lho de enfe rmagem , o trabal hador i nterage com a sua natu reza , ou seja , os corpos i nd iv idua is/co let ivos e doentes dos pac i e n tes/c l i e n tes são tomados em s u a nat u reza b i o l ó g i ca/p s í q u ica como dete rm i nante do PSD desses traba l hadores . Na i nte ração com os meios e i nstrumentos , a sof ist i cação técn ica destes e as re lações soc ia is que determ i nam a mane i ra específ ica de traba lhar , são ge radoras das cargas . O hosp ital é re lac ionado a local de doença e morte , ao qual se associa o r isco de contrai r essas doenças e sofre r desgaste emoc iona l . Na i nte ração com as formas de organ ização/d ivisão do t raba l ho p ropr iamente d i to , o traba l hador expõe-se pe las d i fe rentes formas de consumo da fo rça de t raba l ho , que i m p l i cam em d ist i n tas fo rmas de desgasta r-se ,

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o Desgaste do Trabalho . . .

v incu ladas à extração d e ma is -va l i a , p ri nc i pa l mente re lat iva , pe lo aumento d a p rodut iv idade .

Com isso , d i st i ngue-se do i s t i pos de cargas . As cargas de materia l idade externa , rep resentadas pelas cargas b io lóg icas , f ís i cas , q u ím icas e mecân icas . ( Laurel!; Noriega, 1 989 , Silva, 1 989) . As cargas de mater ia l idade i nterna const i tuem as cargas f i s io lóg icas e ps íq u i cas . ( Laurel!; Noriega, 1 989 , Silva, 1 989) .

1 .2 .4 Desgaste

A expos ição dos traba l hadores de enfermagem às cargas ge ra p rocessos de desgaste part i cu la res (como p rocessos de adaptação destrut ivos da i nteg r idade corpora l b iops íq u ica) . ( Laurel!; Noriega, 1 989) . O p rocesso de desgaste não se refe re somente a p rocessos i r reve rs íve i s já que é poss íve l recupera r as perdas da capacidade efet iva e desenvolve r potenc ia l i dades antes h i potrof i adas . Podem não se exp ressar em uma pato log ia específ i ca . Ass i m , a l guns i nd i cadores g loba is vêm sendo mais freq üentemente ut i l i zados para o reconhec imento do desgaste de dete rm i nado g rupo de t raba lhadores com o : s i na is e s i ntomas i nespec íf i cos , pe rf i l de morb idade , anos de v ida út i l pe rd idos , envel hec i mento ace le rado e m o rte p rematu ra . ( Laurel!; Noriega, 1 989) . No t raba lho de enfe rmagem esses i nd i cadores não têm s ido captados , tornando menos v is ível o p rocesso de desgaste a que os t raba lhadores são submet idos .

O desgaste deve ser cons ide rado j u ntamente com os p rocessos rep rodut ivos . A sua com b i nação com esses p rocessos dete rm inam a const i tu i ção caracte r íst ica de doenças part i cu la res con hec ido como perf i l patológ ico desse g rupo soc ia l . ( Laurel!; Noriega, 1 989) .

2 A CONSTR U ÇÃO DO ESTU DO DA R E LAÇÃO TRABALHO-SA ÚD E DOS TRABALHADO RES D E E N F E R MAG E M DO H U-USP.

Ao estudo dessa re lação está i m p l íc i to u m cam i n h o m etodo lóg i co or ientador . N esse cam i n h o , buscou -se rep roduz i r a s i stemat ização teó rico-metodo lóg ica constru ída por Laurel!; Noriega ( 1 989) , com os dev idos aj ustes para a rea l i dade em estudo .

O p resente estudo contemp la uma abordagem q u ant i -qua l i tat iva , u t i l i zando vár ias técn icas de ap reensão dos dados que const i tuem a t r iangu lação de dados e perm i te m a comparação e val idação da i nformação g e rada .

O conce i to "processo de produção" fo i operac iona l izado e m s u as 2 ve rtentes : PV e PT. Para a operac iona l i zação do PV , os dados foram extra ídos de vár ias fontes de reg i stro refe rentes à u n ive rs idade , ao HU e ao Departamento de Enfe rmagem . Pe rm i t i ram apreender a lóg ica do p rocesso p roduti vo na qua l o H U está i nser ido e a evol ução quant i tat iva das at iv i dades rea l i zadas ( n º d e l e itos , compos ição n u m é r ica da fo rça e traba l ho de enfe rmagem por categorias e a evo l ução q uanti tativa no per íodo de 4 anos ( 1 990/94) . O PT foi decomposto enquanto p rocesso técn ico e soc ia l em seus e lementos const i tu i ntes : objeto , p roduto f i na l , me ios/i nst ru mentos e organ i zação/d iv i são do t raba lho de e nfermage m . Os dados foram ap reend i dos pela enquete colet iva e comp lementada por i nformações dos

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SIL VA, Felli Vanda et ai.

enfe rme i ros . Ass i m , o PT foi decomposto/recomposto segundo a abstração da pesq u i sadora , fundamentada na concepção do traba l ho co let ivo em saúde .

Para a operac iona l i zação do conce ito "cargas " , os dados foram captados bas icamente pe la enquete colet iva . A enquete fo i constru ída com base no mode lo p roposto por ( Laurel!; Noriega, 1 989) , que tem suas or igens no Mode lo Operac iona l I ta l i ano ( Oddone, 1 986) e espec i f icada para o traba l ho de enfe rmagem . Para sua ap l i cação fo i formado um grupo homogêneo-GH (seme lhantes p rocessos de traba lho e at iv i dades , cond ições de traba l ho e r iscos e p rob lemát ica de saúde) . O grupo foi composto com 1 5 traba l hadores , sendo 4 enferme i ras , 4 técn i cos , 3 aux i l i a res e 3 atendentes . Com a in formação gerada nesse grupo , foram e laborados mapas de r isco das u n idades ne le rep resentadas .

O conce ito "desgaste" fo i apreend ido a part i r da enquete co let iva e de outros p roced i m entos comp lementares , segundo três formas ou vertentes pe las q ua is se expressa . Com os dados da enquete co let iva foi reconstru ída a morbidade refer ida . Com os dados dos p rontuár ios dos traba l hadores encam i n h ados para exame méd ico em 1 993 , foi reconstru ída a morbidade reg istrada . Com os reg istros de ac identes de t raba l ho , no ano de 1 993 , foram reconstru ídos os acidentes de traba lho .

3 A EXPR ESSÃO DA R E LAÇÃO TRABALHO-SAÚDE NOS TRABALHADORES DE E N FE R MAG E M DO H U-USP

3 . 1 A P R O D U ÇÃO EM SAÚ DE N O H U- U S P

O H U , enquanto p restador de serv iço de saúde , está i nse rido em u m a i n st i tu i ção formadora . Também está i nteg rado a o S U S como hosp i ta l de refe rênc ia . Nessa i nserção , atende as com u n idades : Butantã , USP e de pac ientes de convên ios e part i cu la res . ( To/asa , 1 994) .

Os traba l hadores de enfermagem estão i nser idos no Departamento de Enfe rmagem , que é s ubord i nado à supe ri ntendênc ia . Nessa i nse rção, não está favorec ida a part ic i pação dos traba l hadores na rep resentat iv idade f ren te aos ó rgãos dec isór ios , no p rocesso dec isór io p ropr iamente d i to e na concepção do traba lho que real i zam .

3 . 1 . 1 O Processo de Valor ização

A expressão da produt iv idade do traba lho de enfermagem fo i ap reend ida pe lo i n c re m e nto s i g n i f i cat ivo ver i f i cado e m 8 das 1 1 a t iv idades e l e i tas pa ra essa a n á l i s e . O n ú m e ro de consu l tas de e nfe rmagem teve o m a i o r i n c re m e nto no p e r íodo ( 1 25% ) e o n ú me ro de m ater i a i s p rocessados fo i a at iv i dade de m e n o r i nc re m e nto ( -29%) , poss ive l m e nte p e l o uso de mate r i a i s descartáve i s . O n ú m e ro rea l de l e i tos , a u m e ntou e m ce rca de 1 7% . Ass i m , resgato u - s e q u e h o uve u m i n c re m ento pa ra a ma io r i a d a s at iv idades desenvo lv idas , ao q u e co r responde u m i m pacto n a s at i v idades de e nfe rmagem . I sso ev idenc ia o aume nto d a p rodut iv idade do t ra b a l h o de e nfe rmag e m .

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o Desgaste do Trabalho . . .

A expressão da i ntensif icação do traba lho d e enfermagem fo i ap reend ida pe la aná l i se dos dados e m p ír icos sobre o ge renc iamento da fo rça de traba lho de enfe rm agem , pe la com pos ição da força de traba l ho e pe la rotat iv idade .

E m re lação à com pos ição da força de traba l ho , houve u m a defasagem de 1 1 a 1 7% ent re o quadro de pessoal de enfermagem auto rizado e o rea lmente existente no per íodo e a d i m i n u i ção da p ropo rção ent re t raba lhadores de enfe rmagem e o total de traba lhadores de 40% para 37% . I sso ev idenc ia q u e ocorreu um aj uste que reduz i u o n ú m e ro de traba l hadores que poder iam te r s ido adm it idos caso se mant ivesse o q uad ro autorizado para 1 990 . Os traba lhadores de enfermagem rep resentaram , no pe r íodo em estudo , ce rca de 37% da fo rça de trabal ho da i nst i tu ição , o que é cons iderada uma ba ixa p roporção . Segundo dados da AMS92 ( B RAS I L , 1 994) , cons iderando todos estabe lec i m entos de saúde do Pa ís , essa p ropo rção é de 43 ,67%. No hosp i ta l , espera-se que essa po rcentagem seja s i gn i f i cat ivamente ma ior , pe la necess idade de cu idado às 24h do d i a . Fo i , tam bé m , ver i f icado u m i nc remento de 5% da força de traba l h o de enfe rmage m , q u e não pareceu s i gn if i cat ivo para o i ncremento das at iv idades no pe r íodo na tota l i dade das u n idades .

Quanto à rotat iv idade , os índ ices são mascarados pe los traba l hadores adm it idos . O n ú m e ro de des l i gamentos e m 1 993 rep resentou uma média de 1 2 , 9 1 %. Os e nfe rme i ros foram os que mais sa íram da I nst i tu i ção (ce rca de 24%) , segu idos dos aux i l i a res ( 1 9%) . Os motivos c i tados foram o baixo sa lár io e i nsatisfação pe las cond i ções de traba l ho . Os repet idos p rocessos se let ivos de alto custo , o tem po decorr ido até a repos ição do trabal hador dev ido ao tempo necessár io para seu p reparo , rep resentam u m desgaste para os traba lhadores que permaneceram na I n st i tu i ção . A a l ta rotat iv idade tam bém não favorece a v i sua l i zação de p rob lemas de saúde re lac ionados com o trabal ho , que i m p l icam e m um "efe ito sad io" dos que permanecem e a a rt i cu l ação de res istênc ias co let ivas .

Ass i m , ev idenc ia-se q u e houve i nc remento quant i tat ivo das at iv idades sem o i nc remento co rrespondente da fo rça de traba l ho , ocorrendo a i n tens i f i cação do r i tmo de traba l ho , como estratég ia para dar conta do i nc re m ento dessa p rodut iv idade .

3 . 1 .2 O Processo de Traba lho de E nfermagem

O traba lho de enfermagem é resgatado do p rocesso ass ist i r do'H U em sua

espec i f ic idade e decomposto e m seus e lementos bás i cos : objeto/p rod uto f i na l , me ios/i nstru m entos e o rgan ização/d iv isão .

E m re lação ao objeto/produto f ina l , é ev idenc iado que , por esta r i n se rido no p rocesso ass i stenc ia l do H U , o traba l hador de enfe rmagem t ransfo rma o mesmo objeto , com a mesma f i na l idade do traba l h o colet ivo do H U . A transformação desse objeto (co rpo i nd iv idua l dos pac ientes/c l i entes com demandas ass istenc ia i s no PSD) . I n i c ia-se com a ent rada desse pac iente/c l i ente no Ambu lató r io ou P ronto Ate n d i mento e da í para uma u n idade de i nternação . Nas u n idades , as i nte rvenções de enfe rmagem são rea l i zadas segundo as necess idades de t ransformação do PSD do pac iente . Ass i m , o objeto e o p roduto f i na l ocupam o mesmo espaço : o co rpo do pac ie nte/c l i ente . No cent ro de mate r ia l e este r i l ização , o objeto é d i ferenc iado e mater ia l e a f ina l idade do trabal ho a í rea l izado é i nstrumental izar p rocessos assistenc ia is ,

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serv i ndo à man utenção do p rocesso ass is t i r no H U . A caracte r íst ica de a lguma i n terdependênc ia entre as u n idades pode favorece r a i ntens i f i cação do traba lho nas u n i dades q u e se i nterre lac ionam , de forma s i m u ltânea ou conseq üentemente . A força de traba lho de enfe rmagem permi t indo a cont i n u idade do p rocesso ass istenc ia l , ev idenc ia a comp lementar idade e i nte rdependênc ia desse traba l ho a rt i cu lando às dema is p rát icas .

Os meiosli nstrumentos caracte r izam u m traba lho p redo m i nantemente manua l . O traba l hador detém um contro le re lat ivo dos i nstru mentos , o que poss i b i l i ta tomar dec isões de pequena comp lex idade . Ge ra l mente , os i nstru mentos não são tecno log icamente avançados e v iab i l i zam a i ntens if icação do traba l ho . O saber , que perm i te a apreensão do objeto e a p rojeção de sua transformação é d iferenc iado por categor ias .

N as formas de organ ização e d iv isão, resgata-se a dependênc ia e comp leme ntar idade do traba lho de e nfermagem da p ráti ca méd ica , rep rod uz i ndo o mode lo c l ín i co cu rat ivo e i nd iv idua l . As i n te rvenções são s istemat izadas pe lo SAE que se conve rte e m i nstru mento de contro le do enfe rme i ro , pe lo q ua l fo rma l iza a parc ia l i zação das at iv idades . O contro le é efet ivado pe la superv isão (voltada para o conteúdo das ta refas em detr imento do pó lo educat iv% r ientador) pe la qua l se rep roduz o poder i n st i tuc i ona l . Os mode los de o rgan ização e d iv isão do traba lho com gênese no taylor i smo , ford i smo , fayo l i smo e b u rocrac ia fundamentam a parc ia l i zação das at iv idades e l evam à desart i cu lação entre a concepção/ execução , superv isão/ contro l e , q u a l if i cação/desqua l i f icação , à normat ização e rot i n i zação do que fazer e como faze r . Os rod íz ios de tu rno , o t raba lho notu rno e a fa l ta de pausas para descanso d u rante a jo rnada d if icu l tam a repos ição da capac idade de traba l ho , a lém de favo recer a i ntens i f icação do r i tmo .

3 . 2 AS CARGAS D E TRABALHO D E E N F E R MAG EM

As cargas de traba l ho a que estão expostos os trabal hadores de e nfe rmagem caracter izam-se pela d ive rs idade (b io lóg icas , f ís icas , qu ímicas , mecân icas , f is io lóg icas e ps íq u icas ) . Essa d ive rs idade também está p resente em todas as un idades estudadas e d i fe renc iam pe la i n tens idade de expos ição dos trabal hadores . Freq üentemente a maior ia dos trabalhadores das u n i dades está exposta a esse conj u nto de cargas , o que

evidenc ia que a fo rma de traba lhar é geradora de cargas seme l hantes .

3 .2 . 1 Cargas B io lóg icas

As cargas b io lóg icas c i tadas fora m : o contato com pacientes portadores de doenças i nfecc iosas i nfecto-contagiosas e/ou com suas secreçõe s , que ca racte r izam a i n teração com o obj eto de traba l ho , ou seja , o corpo doente ; o contato com mater ia is contami nados ( i n stru mentos de traba l h o) e a presença de peq uenos a n i ma is (barata , mosca, m osq u i to , form iga) , q u e contam inam os lanches dos traba l hadores , ressal tam a i nadequação dos me ios de traba l ho .

3 .2 .2 Cargas Fís icas

Foram c i tadas em re lação a (o) : R u ído - p roven iente do ar cond ic ionado , b ip 's

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dos apare l hos , sons p rópr ios dos i nstru mentos d e traba l h o (mon i tores , resp i radores , uso de ar compr im ido) e de outros se rvi ços (apare l ho de l i m peza) , concentração e t râns i to de pessoas , pac iente e m estado emoc iona l a l te rado , reformas ; u m idade -expos ição à chuva ao sa i r da u n i dade , t ransporte de mate r ia l para central de gás , p isos mo lhados e escoamento de água por tubu lações e létr i cas , vapor de autoclaves , en tup imento de ra los ; i l u m i nação - art i f ic ia l , defi c iente ou excess iva ( ref lexos l u m i nosos , uso de foco l u m i noso pa ra a l guns p roced i mentos , ex igênc ia de acomodação v isua l pe la c laridade) ; mudanças bruscas de temperatu ra - uso do a r cond ic ionado , a l te rnação ca lo r/fr io entre as sa las e estações do ano (construção/ loca l i zação) , fa l ta de vent i lação , s i tuações c l i m át i cas à sa ída da i nst i tu i ção ; eletr i c idade - choques em equ i pamentos e l étr icos e tomadas , escoamento d 'água de ch uva em tubu lações , descarga de e l etr i c idade estát ica e m contato com superf íc ie metál ica e sobre o p iso , r i sco de i ncênd io e exp losõe s ; rad iação ion izante - exames rad io lóg icos sem p roteção adequada ou s i tuações q u e favoreçam à expos ição .

3.2 .3 Cargas Qu ím icas

A exposição às cargas q u ím i cas citadas foram re lat ivas às su bstâncias q u ím icas de u m modo geral (óx ido de et i l eno , forma lde ído e g l utara lde ído) ; às su bstânc ias de uso med icamentoso (gases anestés icos , q u i m ioteráp icos , ant i b i ót icos , ant issépt i cos e out ros ) ; poei ras e fumaças ( ret i rada de gesso , ar cond ic ionado , ta lco em l uvas c i rú rg i cas e fumo pass ivo dos traba l hadores) e mater ia is de borracha ( l uvas) .

3.2.4 Cargas Mecân icas

Foram re latadas em re lação à(s ) : man ipu l ação de perfu ro-cortantes (ag u l has , tesou ras , b is tu r i ) ; quedas ( p isos ence rados , escadas) ; ag ressões (pac ientes confusos ou sedados , de v is i tantes) ; prensão de dedos e mãos (maca tranfe r , m onta carga) .

3.2 .5 Cargas F is io lóg icas

São citadas em re lação à(o) : man ipu lação de peso excessivo man ipu lação de pac ientes (obesos , dependentes , anestes iados ) , de torpedos de gases , ga lões de substânc ias q u ím i cas , de portas de autoclaves , macas , cade i ras de rodas defe i tuosas , de mate ria i s pe rmanentes e uso de aventa is de chumbo ( m u l heres e g rávidas) ; traba lho em pé ; posições i nadequadas e i n cômodas - assu m idas d u rante o cu idado no l e i to , to rção de col u n a ao man ipu la r eq u i pamentos , ver i f i cação de s i na is v i ta is e outros p roced i mentos e traba lho noturno e rodíz ios de turno.

3 .2 .6 Cargas Psíq u icas

As cargas ps íq u icas c i tadas pe los t raba l hadores fo ram : atenção constante : (pac ientes sedados , i n consc ientes , anestes iados e que necess i tam de v ig i l ânc ia) ; su pervisão estr ita - (contro l e , falta de autonom ia e cr iat iv idade e não part ic i pação na tomada de dec isões) ; ritmo acelerado ; traba lho parce lado, monótono e repetit ivo (forma como o traba lho é o rgan izado e d iv id i do) ; comun icação d if icu ltada

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(falta de tem po i mposto pe lo r i tmo ou por p ro ib i ção de superi o res , d i f icu ldade de re lac ionamentos , falta de reu n i ões e não autor ização para uso do te lefone du rante a jo rnada) ; trabal ho fem i n i no (dup la ou tr i p l a jo rnada) ; desart icu lação de defesas c o l et i vas ; ag ressão ps íq u i ca (ve rba l de pac i e n tes/c l i e n tes d oce n tes e desco n s i d e ração de a l g u n s m é d i cos ) ; fad iga , tensão , estresse ( t raba l ho desgastante e pe la expos i ção a tantas cargas) ; i nsatisfação ( pe rda sa lar ia l , dobras de p lantão e não reconhec imento do traba lho) e situações que levam ao consumo de á lcool e d rogas.

3.3 O DESGASTE DOS TRABALHADO R E S D E E N F E RMAG E M DO HU - USP

A expos ição dos trabal hadores de enfe rmagem a essa d ivers idade de cargas é geradora de p rocessos de desgaste que não são fac i lmente evidenc iados , dada a sua comp lex idade e a conseq üente d if icu ldade de captar suas man ifestações . Como não se refe re necessar iamente a uma pato log ia espec íf ica , uma forma de captá- lo é através de s i na is e s i n tomas. Os danos podem man ifestar-se em um pe ríodo de tempo variável em que se dá o p rocesso de adaptação destrut iva . Ass i m , buscamos captar o p rocesso de desgaste através de t rês formas : morb idade refe r ida e reg istrada e ac identes reg ist rados .

Os dados emp ír i cos captados por essas três fo rmas de expressão do desgaste dos trabal hadores de enfe rmagem do H U , perm it i ram conformar u m perf i l de morb idade (Quadro 1 ) , onde sobressaem-se os fer i mentos pé rfu ro-cortantes e os p rob lemas ósteo-m úscu lo-art icu lares .

4 CONC LUSÃO

As s i m , no refe re n c i a l teó r i co - m etodo l ó g i co q u e s u ste nta o es tudo , ap reendemos que o p rocesso saúde-doença v ivenc iado pe los t raba lhadores de enfe rmagem do H U - U S P evidenc ia sua s ubord i nação ao modo de p roduz i r da soc iedade b ras i l e i ra .

Nesse estudo , o momento p rodut ivo fo i abordado com o p reponderante na dete rm i nação do p rocesso saúde-doença sem que , com i sso , se descons idere que são as cond ições de v ida e traba lho q ue determ inam o p rocesso de desgaste dos traba lhadores .

O p rocesso de desgaste ev idenc iado pe los traba l hadores de enfe rmagem , ass i m apreend ido , coloca em evidênc ia a necess idade de transformação dessa rea l idade .

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S/L VA, Felli Vanda et aI.

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