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Renato de Medeiros
O ensino, a concepção do projeto de arquitetura e a aplicação dos
conteúdos tecnológicos: análise em duas Instituições de Ensino Superior.
Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio Grande do Norte como requisito para obtenção do título de Doutor em Arquitetura e Urbanismo.
Orientadora:
Prof.ª Dra. Maísa Fernandes Dutra Veloso.
Natal/ RN 2017
Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN
Sistema de Bibliotecas - SISBI
Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial Prof. Dr. Marcelo Bezerra de Melo Tinôco - DARQ - CT
Medeiros, Renato de.
O ensino, a concepção do projeto de arquitetura e a aplicação
dos conteúdos tecnológicos: análise em duas instituições de
ensino superior / Renato de Medeiros. - Natal, 2017.
245f.: il.
Tese (Doutorado) - Universidade Federal do Rio Grande do
Norte. Centro de Tecnologia. Departamento de Arquitetura e
Urbanismo.
Orientadora: Maísa Fernandes Dutra Veloso.
1. Projeto arquitetônico - Tese. 2. Arquitetura - Urbanismo -
Tese. 3. Ensino de projeto - Tese. 4. Tecnologia da construção -
Tese. I. Veloso, Maísa Fernandes Dutra. II. Universidade Federal
do Rio Grande do Norte. III. Título.
RN/UF/BSE15 CDU 72.012.1
Renato de Medeiros
O ensino, a concepção do projeto de arquitetura e a aplicação dos conteúdos tecnológicos: análise em duas Instituições de Ensino Superior.
Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio Grande do Norte como requisito para obtenção do título de Doutor em Arquitetura e Urbanismo.
Área de concentração: Projeto, Morfologia e Tecnologia do Ambiente construído.
___________________________________________________________________
Profa. Dra. Maísa Fernandes. D. Veloso – UFRN (Orientadora/ Presidente)
___________________________________________________________________
Profa. Dra. Maria Luiza M. Xavier de Freitas – UFPE (Examinadora externa)
___________________________________________________________________
Profa. Dra. Naia Alban Suarez – UFBA (Examinadora externa)
___________________________________________________________________
Profa. Dra. Edna Moura Pinto – UFRN (Examinadora interna)
___________________________________________________________________
Prof. Dra. Solange Virginia Galarça Goulart - UFRN (Examinadora interna)
Natal, 26 de junho de 2017
À memória do professor Marcelo Bezerra de Melo Tinôco.
Quando chefe do DARQ/UFRN, foi ele quem me telefonou para que eu
assumisse, como professor substituto, as disciplinas de Tecnologia da
Construção. Naquele dia, me presenteava sem saber que era o meu aniversário. E, graças a essa
experiência docente, foi germinada esta tese.
AGRADECIMENTOS
À professora Maísa Veloso, minha orientadora de sempre, por acreditar e se
dedicar a esse trabalho, durante os quatro anos de construção dessa tese, sempre
com incentivos e reflexões estimulantes.
Aos professores que abriram as portas das suas salas de aula para a pesquisa,
sobretudo, Tânia Liani Beisl Ramos que aceitou me orientar no estágio de pesquisa
na Faculdade de Arquitectura da Universidade de Lisboa e ao professor Pedro Belo
Ravara, docente da disciplina Laboratório de Projeto III deste mesmo curso.
A todos os alunos com quem tive o prazer de conviver em sala de aula e que,
com as suas demonstrações de interesse e vontade de aprender, me incentivam a
seguir na carreira docente. Agradeço, principalmente, àqueles envolvidos nos
processos de investigação realizados nos ateliers de ensino. Obrigado por permitir a
minha aproximação enquanto pesquisador dos seus pensamentos e processos
projetuais.
Aos colegas do PPGAU com quem tive a satisfação de compartilhar diversos
momentos dessa jornada, especialmente Mônica Lima, Rafaela Balbi e Camila
Resende.
À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES)
pela bolsa concedida para a realização da pesquisa no Brasil e durante a etapa de
investigação no exterior.
À minha mãe, a maior encorajadora dos meus estudos. Hoje, ainda que às
vezes não lembre meu nome, sei pelo seu sorriso que não me esquece.
Aos demais familiares e amigos que me incentivaram a vencer esse desafio.
E a Deus, que sabe de todas as coisas.
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ABEA Associação Brasileira de Ensino de Arquitetura
ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas
AU Arquitetura e Urbanismo
BIM Building Information Modeling
CAD Computer Aided Design
CAPES Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
CAU Curso de Arquitetura e Urbanismo
CAU-UFRN Curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio
Grande do Norte
CNE Conselho Nacional de Educação
CPC Conceito Preliminar do Curso
DARQ/UFRN Departamento de Arquitetura da Universidade Federal do Rio
Grande do Norte
DGES Direção Geral do Ensino Superior
EAC Engenharia, Arquitetura e Construção
EBASP Escola de Belas Artes do Porto
ENANPARQ Encontro da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação
em Arquitetura e Urbanismo
FAU Faculdade de Arquitetura e Urbanismo
FA-UL Faculdade de Arquitectura da Universidade de Lisboa
FA-UP Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto
FAU-USP Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São
Paulo
IES Instituições de Ensino Superior
AU-SÃO CARLOS Instituto de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São
Paulo
INEP Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio
Teixeira
IGC Índice Geral de Cursos
MEC Ministério da Educação
NPGAU/ UFMG Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo da
Escola de Arquitetura da Universidade Federal de Minas Gerais
NBR Norma Brasileira
PGFAU/ USP Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo da
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São
Paulo.
PÓSARQ Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade
Federal de Santa Catarina
PPGAU/UFRN Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo da
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
PPG Programa de Pós-Graduação
PROARQ Programa de Pós-Graduação em Arquitetura da Universidade
Federal do Rio de Janeiro
PROPAR Programa de Pesquisa e Pós-Graduação em Arquitetura da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul
PUC Pontifícia Universidade Católica
RIBA Royal Institute of British Architects
SESU/MEC Secretaria de Educação Superior do Ministério da Educação
SINAES Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior
TFG Trabalho Final de Graduação
UFMG Universidade Federal de Minas Gerais
UFPB Universidade Federal da Paraíba
UFRJ Universidade Federal do Rio de Janeiro
UFRN Universidade Federal do Rio Grande do Norte
UFRGS Universidade Federal do Rio Grande do Sul
UFSC Universidade Federal de Santa Catarina
UNB Universidade de Brasília
UNICAMP Universidade Estadual de Campinas
USP Universidade de São Paulo
UTL Universidade Técnica de Lisboa
FCT Fundação para a Ciência e Tecnologia
CIAUD Centro de Investigação em Arquitetura, Urbanismo e Design
LISTA DE FIGURAS
Figura 01 – Modelo desenvolvido pela Associação de Arquitetos de Londres na
década de 1970. ........................................................................................................ 29
Figura 02 – Esquema mais complexo do processo de projeto desenvolvido por
Markus e Maver na década de 1970. ........................................................................ 30
Figura 03 – Modelo de Broadbent apresenta diversos pontos de decisão no
processo. ................................................................................................................... 30
Figura 04 – Pensamento divergente versus pensamento convergente. .................... 31
Figuras 05 e 06 – Resultados projetuais alcançados na experiência realizada pelo
professor Helio Costa Lima, na disciplina Projeto de edificação I, do CAU/ UFPB. .. 45
Figura 07 – Partes que configuram os processos de desenvolvimento formal.......... 47
Já o trabalho do arquiteto chileno Cristian Fernández Cox, com a sua obra El orden
complejo de la Teoria básica del proceso proyectual, apresenta um modelo gráfico
que expressa o processo projetual visto através de uma analogia sistêmica
ampliada, formada por quatro subsistemas imersos no contexto que o condiciona. O
autor apresenta um modelo gráfico que denomina como Ordem-complexo em
arquitetura (Figura 08). .............................................................................................. 48
Figura 08 – Modelo do sistema de processo de projeto proposto por Fernandez Cox.
.................................................................................................................................. 48
Figura 09 – Variação do número de artigos que abordam a relação projeto, ensino e
questões construtivas nas sete edições do Seminário Projetar. ............................... 53
Figura 10 – Temas dos artigos identificados nos anais do Projetar (2003-2015). ..... 53
Figura 11 – Fachada do Harpa Concert Hall. ........................................................... 58
Figura 12 – Visão de conjunto do Metropol Parasol. ................................................. 58
Figura 14 – Composição da estrutura curricular curso de Arquitetura da FA-UL ...... 78
Figura 15 – Vista geral da Faculdade de Arquitectura da Universidade de Lisboa. .. 81
Figura 16 – Vista do bloco de salas de aula onde se concentram os laboratórios de
arquitetura e projeto. ................................................................................................. 82
Figura 17 – Vista de uma das salas de aula/ laboratório de projeto da FA-UL.......... 82
Figura 18 – Imagem do ambiente onde foi proposta a intervenção. .......................... 84
.................................................................................................................................. 84
Figuras 19 e 20 – Estudos realizados em maquete para o projeto do café do hall. .. 85
Figura 21 – Fotografia de satélite demarcando área disponível para intervenção em
zona histórica da cidade. ........................................................................................... 87
Figura 22 – Assessoria ao projeto com o acompanhamento de grupo de alunos. .... 88
Figura 23 – Painel com análise de projeto de habitação apresentando corte,
fachadas e materiais de acabamento. ....................................................................... 89
Figura 24 – Painel com análise de projeto de habitação. Plantas, cortes e imagens
de uma unidade residencial. ...................................................................................... 90
Figura 25 – Sobreposição de estudo volumétrico sobre estudo desenhado à mão
com instrumento. ....................................................................................................... 90
Figura 26 – Maquetes do terreno, estudo volumétrico da proposta e implantação em
CAD. .......................................................................................................................... 91
Figura 27 – Acompanhamento do professor com aluna. ........................................... 92
Figura 28 – Processo de concepção projetual. Zoneamentos e estudo da topografia.
.................................................................................................................................. 93
Figura 29 – Diário gráfico de aluno com estudos de zoneamento funcional e
esquemas de concepção. ......................................................................................... 93
Figura 31 – Discussão sobre obra construída e detalhes construtivos em projeto de
autoria do professor. ................................................................................................. 99
Figura 32 – Obra de uso residencial analisada em sala de aula. .............................. 99
Figura 33 – Apresentação e discussão com a turma sobre a proposta da aluna. ... 100
Figura 34 – Exemplo de painel com a análise de elementos de composição. ........ 102
Figura 37 – Apresentação com a participação de professor convidado. ................. 105
Figura 38 – Apresentação em banca final. .............................................................. 105
Figura 39 – Maquete de apresentação final de proposta. ....................................... 106
Figuras 40 e 41 – Propostas finais de projetos representadas em maquetes físicas.
................................................................................................................................ 106
Figura 43 – Ações e métodos de apoio utilizados pelos alunos durante o processo
projetual................................................................................................................... 110
Figura 44 – Discussão com o professor sobre solução de esquadria pesquisada em
obra de referência. .................................................................................................. 110
Figura 46 – O que deve apresentar maior grau de dificuldade para a execução na
obra. ........................................................................................................................ 112
Figura 47 – Partes, aspectos ou detalhes que deve ser mais bem detalhados
segundo os alunos. ................................................................................................. 113
Figura 48 – Questões que exigiram novos estudos no processo de projeto. .......... 113
Figuras 50 e 51 – Esquema em desenho e estudo de modulação da malha estrutural
em maquete física. .................................................................................................. 115
Figura 52 – Justificativas para a escolha das vedações da proposta. ..................... 116
Figura 53 –Justificativa para escolha do sistema de cobertura. .............................. 116
Figura 54 – Indicação de hierarquia das justificativas para escolhas dos materiais de
acabamento. ............................................................................................................ 117
Figura 56– Gráfico do processo projetual. .............................................................. 119
Figura 57– Gráfico do processo projetual. .............................................................. 119
Figura 58 – Gráfico do processo projetual. ............................................................. 120
Figura 59 – Gráfico do processo projetual. ............................................................. 121
Figura 60 – Gráfico do processo projetual. ............................................................. 121
Figura 61 – Gráfico do processo projetual. ............................................................. 122
Figura 62 – Gráfico do processo projetual. ............................................................. 123
Figura 64– Gráfico do processo projetual. .............................................................. 124
Figura 65– Gráfico do processo projetual. .............................................................. 125
Figura 66– Gráfico do processo projetual. .............................................................. 125
Figura 67 – Gráfico do processo projetual. ............................................................. 126
Figura 68 – Gráfico do processo projetual. ............................................................. 127
Figura 70– Representação da fachada de um dos projetos. ................................... 129
Figura 78 – Aspectos que foram analisados no processo projetual segundo os
alunos. ..................................................................................................................... 143
Figura 79 – O que deve apresentar maior grau de dificuldade para a execução na
obra. ........................................................................................................................ 144
Figura 81– Foi preciso repensar soluções? ............................................................ 146
Figura 82 – Justificativa para escolha do sistema estrutural. .................................. 146
Figura 83 – Justificativa para escolha das vedações. ............................................. 147
Figura 84 – Indicação das justificativas para os materiais de acabamento. ............ 148
Figura 85– Gráfico do processo projetual. .............................................................. 149
Figura 86 – Gráfico do processo projetual. ............................................................. 150
Figura 87 – Gráfico do processo projetual. ............................................................. 150
Figura 88 – Gráfico do processo projetual. ............................................................. 151
Figura 89– Gráfico do processo projetual. .............................................................. 152
Figura 90– Gráfico do processo projetual. .............................................................. 153
Figura 92 – Apresentação do sistema estrutural em concreto e outros componentes.
................................................................................................................................ 154
Figura 93 – Apresentação do sistema estrutural em estrutura metálica de um dos
projetos apresentados. ............................................................................................ 155
Figura 94 – Apresentação do sistema construtivo de uma proposta. ...................... 155
Figura 99 – Atuação da escala técnica na estrutura da Catedral Metropolitana de
Natal. ....................................................................................................................... 164
Figura 100 – Atuação da escala técnica na estrutura da Catedral de Brasília. ...... 165
Figura 102 – Exemplo de atuação da escala técnica em grau zero. ....................... 166
Figura 103 – Alunos apresentam suas referências pessoais quanto à presença da
escala técnicas nos edifícios. .................................................................................. 167
Figura 104 – Proposta de pavilhão em estrutura de madeira, com possibilidade de
expansão. ................................................................................................................ 168
Figura 105 – Uma das propostas, com justificativas para as decisões construtivas.
................................................................................................................................ 168
Figura 106 – Estudo comparativo entre a estrutura em metal e a de concreto. ..... 169
Figura 107 – Catedral Metropolitana de Natal. ........................................................ 170
Figura 108 – Capela do Campus da UFRN. ........................................................... 171
Figura 109 – Registro de visita de campo. ............................................................. 171
Figura 110 – Estudo volumétrico com marcas de estudo à mão livre demonstrando o
processo projetual. .................................................................................................. 172
Figura 111 – lustração final de uma das propostas desenvolvidas. ........................ 173
Figura 113 – Templo Budista: apresentação com detalhes da cobertura e estrutura.
................................................................................................................................ 175
Figura 115 – Indícios de expressividade estrutural nos croquis de concepção. ...... 176
Figura 116 – Templo ecumênico: apresentação final. ............................................ 176
Figura 118 – Apresentação final da proposta de um templo budista. Esquemas de
detalhes construtivos e indicações de materiais. .................................................... 178
Figura 121 – Croqui da Catedral Metropolitana de Natal com ênfase para o sistema
de vigamentos. ........................................................................................................ 184
Figura 124 – Alunos realizando os seus estudos projetuais. .................................. 186
Figura 126 – Tentativas de racionalizar a estrutura: modulação para a fachada. ... 187
Figura 128 – Corte esquemático da estrutura dos pórticos e relações com aberturas
zenitais. ................................................................................................................... 189
Figura 129 – Processo de projeto com desenho a mão livre e massa de modelar.
................................................................................................................................ 189
Figura 130 – Estudo volumétrico realizado com massa de modelar. ...................... 190
Figura 131 – Exemplo de estudo volumétrico ressaltado o papel da estrutura e do
sistema de cobertura no projeto. ............................................................................. 190
Figura 132 – Os desenhos apresentam a atenção conferida à cobertura, à estrutura
e à ventilação predominante. .................................................................................. 191
Figura 133 – Indicações de materiais em croqui de concepção. ............................ 192
Figura 134 – Croqui indicando a relação do volume construído com vegetação. .. 192
Figura 136 – Claraboia e efeito de exaustão de ar pretendido. ............................... 194
Figura 137 – Esquema de estrutura com indicação de material.............................. 194
Figura 138 – Forma circular e tentativa de promover regularidade nos pilares. ...... 195
Figura 139 – Tentativas de alcançar medidas que atendam a questões formais e
estruturais nos pilares. ............................................................................................ 195
Figura 140 – Registro de um diário gráfico: estudo para o pátio da edificação. ...... 206
Figura 141 – Exemplo de painel final que apresenta diagnóstico da área de estudo.
................................................................................................................................ 207
Figura 142 – Exemplo de painel final que apresenta propostas de intervenções
urbanas para a área de estudo. .............................................................................. 208
Figura 143 – Exemplo de painel final que apresenta proposta paisagística para área
de estudo................................................................................................................. 208
LISTA DE TABELAS
Tabela 01 – Programas de pós-graduação com interesse para a pesquisa e
instituições às quais se vinculam ..............................................................................70
Tabela 02 – Quadro resumo dos cursos pesquisados...............................................71
RESUMO
Esta tese tem como objeto a concepção do projeto no ensino de Arquitetura e sua
integração com o conteúdo tecnológico-construtivo, tendo em vista a importância da
compreensão da materialização do artefato arquitetônico desde as fases iniciais do
projeto. As observações empíricas que deram origem à pesquisa, foram confirmadas
pela literatura científica, que aponta para uma situação de distanciamento entre as
disciplinas de projeto arquitetônico, seus processos e produtos e o conteúdo das
disciplinas de tecnologia da construção e afins. O objetivo principal é compreender a
inserção dos conhecimentos advindos das disciplinas de tecnologia da construção, na
concepção de projeto no atelier de ensino de arquitetura, para promover uma melhor
integração de conteúdos e gerar maior reflexão no processo projetual. Em nível de
coleta primária, foram realizados estudos de caso com observação estruturada em
ateliers de ensino de projeto de duas Instituições de Ensino Superior, uma no Brasil,
outra em Portugal, além da realização de duas experiências didáticas. No campo da
sala de aula, os estudos de caso demonstraram a importância do planejamento
didático e clareza da definição de objetivos a serem alcançados. As experiências
didáticas, por sua vez, mesmo com as suas diferenças de formato, demonstraram,
com o direcionamento proposto, que foi possível alcançar o objetivo de fazer os alunos
participantes refletirem sobre as questões construtivas no processo projetual, o que
demonstrou a importância do estímulo do instrutor. Ao mesmo tempo, os resultados
também expressaram que o aluno, devido a sua própria autonomia, não pode ser visto
como mero receptor, configurando-se como agente ativo do processo de ensino-
aprendizagem. O trabalho é finalizado com indicações para o ensino de arquitetura e
de projeto tais como a reaproximação com a prática construtiva na formação discente
e o uso de maquetes físicas em todos os níveis do processo projetual a fim de
estimular o uso do pensamento divergente. Estas recomendações pretendem
colaborar, junto às discussões, quanto a um ensino capaz de gerar reflexão crítica e
melhor integração entre o projeto e as questões tectônicas no projeto, buscando
contribuir para minimizar o problema detectado.
Palavras-chave: Arquitetura e Urbanismo. Projeto de arquitetura. Ensino de projeto. Processo de projeto. Tecnologia da construção.
ABSTRACT
This thesis aims at the conception of the architectural design in the teaching and its
integration with the technological-constructive content, considering the importance of
understanding the materialization of the architectural artifact from the initial phases of
the design. The empirical observations that gave rise to the research were confirmed
by the scientific literature that points to a situation of distancing between the disciplines
of architectural design, its processes and products, and the content of the disciplines
of construction technology. The main objective is to understand the insertion of the
knowledge coming from the disciplines of construction technology in the teaching of
architectural design to promote a better integration of contents and generate greater
reflection in the design process. At the primary collection level, case studies were
carried out with structured observation in design teaching workshops of two education
institutions, one in Brazil, the other in Portugal, as well as two didactic experiences. In
the classroom, the studies demonstrated the importance of didactic planning and
clarity of the definition of goals to be achieved. The didactic experiences, in turn, even
with their differences in format, demonstrated with the proposed direction, that it was
possible to achieve the objective of making the participating students reflect on the
constructive issues in the design process, which demonstrated the importance of the
stimulus of the instructor. At the same time, the results also expressed that the student,
due to his own autonomy, cannot be seen as mere receiver, configuring himself as an
active agent of the teaching-learning process. The work is finished with indications for
the teaching of architecture such as the rapprochement with the constructive practice
in the student formation and the use of physical models at all levels of the design
process in order to stimulate the use of divergent thinking. These recommendations
intend to collaborate with the discussions, on a teaching capable of generating critical
reflection and better integration between the project and tectonic issues in the project
and contribute to minimize the problem detected.
Keywords: Architecture and Urbanism. Architectural design. Architectural design teaching. Design process. Construction technology.
RESUMEN
Esta tesis tiene por objeto la concepción del proyecto en la enseñanza de la
arquitectura y su integración con el contenido tecnológico y constructivo, en vista de
la importancia de comprender la materialización del artefacto arquitectónico desde las
primeras etapas del proyecto. Las observaciones empíricas que condujeron a la
investigación, fueron confirmadas por la literatura científica, lo que apunta a una
situación de distancia entre las disciplinas de proyecto arquitectónico, procesos y
productos y el contenido de las disciplinas de tecnología de la construcción y similares.
El objetivo principal es entender la integración de los conocimientos derivados de las
disciplinas de tecnología de la construcción con el proyecto en el taller de enseñanza
de la arquitectura para promover una mejor integración de los contenidos y generar
una mejor reflexión sobre el proceso. En la pesquisa primaria se llevaron a cabo
estudios de casos con la observación estructurada en los talleres de proyecto de dos
instituciones de educación superior, uno en Brasil, una en Portugal, además de la
realización de dos experimentos de enseñanza. En el campo de la clase, los estudios
de casos demostraron la importancia de la planificación de definición y claridad de los
objetivos educativos que deben alcanzarse. Los experimentos con los estudiantes, a
su vez, a pesar de sus diferencias de formato, demostraron, que fue posible alcanzar
el objetivo de hacer que los estudiantes reflexionen sobre cuestiones constructivas en
el proceso de proyecto, lo que demuestra la importancia de los estímulos didácticos.
Al mismo tiempo, los resultados también expresaron que el estudiante, debido a su
propia autonomía, no puede ser vista como un mero receptor, configurado como un
agente activo del proceso de enseñanza-aprendizaje. El trabajo es finalizado con
indicaciones como la reaproximación con la práctica constructiva en la formación
discente y el uso de maquetas físicas en todos los niveles del proceso proyectual a fin
de estimular el uso del pensamiento divergente. Estas recomendaciones pretenden
colaborar, junto a las discusiones, para una enseñanza capaz de generar reflexión
crítica y una mejor integración entre el proyecto y los problemas tectónicos para
minimizar el problema detectado.
Palabras clave: Arquitectura y urbanismo. Proyecto de arquitectura. Enseñanza de proyecto. Proceso de proyecto. Tecnología de la construcción.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 21
1. REFERENCIAL TEÓRICO-CONCEITUAL ........................................................ 28
Projeto, pesquisas e processos ................................................................... 28
Pesquisa em ensino de projeto de arquitetura ............................................. 35
Concepção e materialização: o lugar da firmitas no ensino de projeto. ...... 42
Considerações sobre o capítulo. .................................................................. 59
2. AÇÕES, MÉTODOS E UNIVERSO DA PESQUISA .......................................... 61
Nível de abordagem I: coleta e análise de dados secundários .................... 61
Nível de abordagem II: coleta e análise de dados primários ........................ 63
Experiências didáticas .................................................................................. 65
O curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio Grande
do Norte ................................................................................................................. 66
Outros cursos pesquisados .......................................................................... 69
O CAU-UFRN e o quadro de cursos pesquisados. ...................................... 72
O ensino de Arquitetura em Portugal e a FA-UL. ......................................... 75
Considerações sobre o capítulo. .................................................................. 79
3. INVESTIGANDO OS PROCESSOS PROJETUAIS E OS PRODUTOS
DESENVOLVIDOS EM ATELIER DE PROJETO NA FACULDADE DE
ARQUITECTURA DA UNIVERSIDADE DE LISBOA (2015.1). ................................ 80
O ambiente de pesquisa na Faculdade de Arquitectura da Universidade de
Lisboa. ................................................................................................................... 80
Aproximação inicial com as disciplinas a fim de reconhecimento. ............... 83
3.2.1 Laboratório de Arquitetura II – Primeiro ano do curso. ....................... 84
3.2.2 Laboratório de Projeto I – segundo ano do curso. ............................. 86
3.2.3 Laboratório de Projeto III – Terceiro ano do curso. ............................ 88
3.2.4 Laboratório de Projeto V – Quarto ano. .............................................. 91
3.2.5 Considerações gerais e seleção da disciplina para a realização da
coleta de dados. ............................................................................................. 94
Caracterização da disciplina Laboratório de Projeto III. ............................... 97
3.3.1 A percepção do docente ................................................................... 106
3.3.2 Retrospectiva dos alunos quanto ao processo projetual e ao produto .. .
......................................................................................................... 108
3.3.3 Análise dos processos de projeto ..................................................... 117
3.3.4 Análise geral dos produtos (FA-UL, 2015.1). ................................... 127
Considerações sobre o capítulo. ................................................................ 130
4. INVESTIGANDO OS PROCESSOS PROJETUAIS E OS PRODUTOS
DESENVOLVIDOS EM ATELIER DE PROJETO NO CURSO DE ARQUITETURA E
URBANISMO DA UFRN (2015.2) ........................................................................... 131
A seleção da disciplina no CAU-UFRN ...................................................... 131
4.1.1 O ambiente da pesquisa no CAU-UFRN. ......................................... 132
4.1.2 Caracterização da disciplina Projeto de arquitetura III ..................... 134
4.1.3 A percepção do docente ................................................................... 140
4.1.4 Retrospectiva quanto ao produto e ao processo pelos alunos ......... 142
4.1.5 Análise dos processos de projeto ..................................................... 148
4.1.6 Análise geral dos produtos (CAU-UFRN, 2015.2). ........................... 153
Considerações sobre o capítulo. ................................................................ 158
5. EXPERIÊNCIAS DE ENSINO: ESTIMULANDO A REFLEXÃO QUANTO À
MATERIALIZAÇÃO DA OBRA ARQUITETÔNICA NO PROCESSO DE PROJETO.
159
Primeira experiência didática (CAU-UFRN, 2014.2) .................................. 159
5.1.1 Primeira experiência didática: Metodologia do Projeto arquitetônico .... .
......................................................................................................... 159
5.1.2 Atividades desenvolvidas ................................................................. 162
5.1.3 Avaliação dos resultados da primeira experiência ........................... 173
Segunda experiência didática (CAU-UFRN, 2015.2). ................................ 179
5.2.1 Segunda experiência didática: oficina de projeto. ............................ 180
5.2.2 Atividades desenvolvidas ................................................................. 182
5.2.3 Avaliação dos resultados da segunda experiência ........................... 188
Considerações sobre o capítulo. ................................................................ 196
6. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS .................................................................. 197
Comparando os resultados da FA-UL e do CAU-UFRN. ........................... 197
6.1.1 Os processos ................................................................................... 197
6.1.2 Os produtos ...................................................................................... 202
6.1.3 Aspectos do processo de ensino-aprendizagem .............................. 204
Discussão comparativa das experiências didáticas. .................................. 209
CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................... 213
REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 220
APÊNDICE 01 ......................................................................................................... 228
APÊNDICE 02 ........................................................................................................ 230
APÊNDICE 03 ........................................................................................................ 232
APÊNDICE 04 ........................................................................................................ 234
APÊNDICE 05 ........................................................................................................ 236
ANEXO 01 ............................................................................................................... 238
ANEXO 02 ............................................................................................................... 240
ANEXO 03 ............................................................................................................... 242
ANEXO 04 ............................................................................................................... 244
21
INTRODUÇÃO
Denominada Entre o projeto e a obra: a questão construtiva em processos
de ensino-aprendizagem em duas instituições de ensino superior de arquitetura,
esta tese tem por objetivo principal compreender a inserção dos conhecimentos
advindos das disciplinas de tecnologia da construção na concepção de projetos no
atelier de ensino de arquitetura, no sentido de promover uma melhor integração de
conteúdos e gerar maior reflexão no processo projetual.
Apresenta, como objeto de estudo, a concepção do projeto no ensino de
Arquitetura e sua integração com o conteúdo tecnológico-construtivo, tendo em vista
a importância da compreensão da materialização do artefato arquitetônico desde as
fases iniciais do projeto. Inicialmente, segundo critérios estabelecidos, o universo da
pesquisa foi determinado pela identificação de doze cursos, sendo onze nacionais e
um estrangeiro1. Após uma análise mais aprofundada desse universo, baseada na
leitura e análise dos documentos oficiais2, foram selecionadas duas instituições para
a realização dos estudos de caso e coleta de dados primários: o curso de Arquitetura
e Urbanismo da Universidade Federal do Rio Grande do Norte e a Faculdade de
Arquitetura da Universidade de Lisboa, em Portugal.
Este trabalho está vinculado à Área de Concentração II – Projeto, Morfologia e
Tecnologia no Ambiente Construído, do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura
e Urbanismo da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (PPGAU/UFRN).
Insere-se, mais especificamente, na linha de pesquisa “Projeto de Arquitetura”, por se
enquadrar como uma investigação que contribui para aproximar a teoria da arquitetura
e o projeto através do estudo de métodos e técnicas de projetação, análise e avaliação
de projetos; de especificidades do ensino e da pesquisa em projeto de arquitetura.
Tendo em vista a relação entre a prática profissional e acadêmica do autor, que
se apresenta como justificativa pessoal para o desenvolvimento dessa pesquisa,
acredita-se na possibilidade de oferecer elementos que possam servir de base para a
fomentação de uma renovação do ensino das disciplinas de projeto de arquitetura e
de tecnologia da construção, não só em projetos políticos-pedagógicos e estruturas
1 A fim de constituir uma análise de contraponto. 2 Como será demonstrado no capítulo III que trata dos procedimentos, os métodos e o universo da pesquisa.
22
curriculares, como também na prática do atelier de projeto, colaborando, assim, para
o aperfeiçoamento do ensino de Arquitetura e Urbanismo.
Defende-se a ideia de que, quando incentivada, a aplicação das questões
relacionadas às tecnologias construtivas desde as primeiras fases da concepção
projetual no processo de ensino do atelier, o projeto desenvolvido pelo aluno será
alicerçado por um conjunto de decisões que permitem planejar e compreender melhor
o artefato arquitetônico.
Trata-se de uma pesquisa em que é evidente a multidisciplinaridade da questão
levantada, lidando com uma temática que aborda assuntos da pedagogia, ensino de
projeto, tecnologia e teoria da arquitetura. Apresenta relevância, já que se realiza em
um momento de discussão sobre questões do ensino e da adoção de abordagens
tectônicas em algumas instituições brasileiras. Outro fato importante diz respeito à
relação que estabelece com futuras mudanças no próprio curso de Arquitetura e
Urbanismo da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, gerando, assim, uma
contribuição direta para essa instituição.
A constituição da problemática desta pesquisa se dá a partir de observações e
reflexões oriundas da experiência pessoal de ensino das disciplinas de Tecnologia da
Construção I, II e III, ministradas durante dois anos no curso de Arquitetura e
Urbanismo da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Com a prática da
docência, foi possível identificar empiricamente a necessidade de ampliar a integração
do conteúdo referente aos sistemas construtivos com o atelier de projeto arquitetônico,
além de outras disciplinas, como a de desenho de arquitetura, tendo em vista as
dificuldades observadas nas aulas de ensino de projeto.
Durante esse período, foi detectada a dificuldade dos discentes em
compreender a lógica da materialização da obra, sobretudo quando eram discutidas,
em sala de aula, questões focadas, por exemplo, em orçamento e planejamento para
execução, temas que também fazem parte das ementas das disciplinas de tecnologia
da construção e são intrínsecos à vida profissional do arquiteto. Essas deficiências,
latentes inclusive em trabalhos de alunos do penúltimo ano do curso (oitavo período),
foram também observadas na avaliação de trabalhos finais de graduação, enquanto
convidado para pré-bancas e bancas de defesa de projetos. Observou-se a
importância conferida a aspectos funcionais, formais e estéticos nos projetos, mas,
em alguns casos, quando se questionava a respeito de decisões sobre materiais de
acabamento e até mesmo sobre questões estruturais, como o tipo da laje a ser
23
utilizada, as respostas eram evasivas ou ainda apresentadas como medidas que
estavam sendo analisadas (no caso das pré-bancas). A sensação ocasionada a partir
desse cenário era de que esses aspectos eram definidos a posteriori, como se fosse
natural pensar a arquitetura e a sua execução em partes, de maneira dissociada,
relegando a um plano inferior as escolhas que definem aspectos importantes não
apenas para a execução da obra, mas também para a manutenção e a operação do
edifício.
A partir daí, uma incursão pela literatura revelou o longo debate que se formou
com o afastamento do arquiteto do canteiro de obras, provocado pela especialização
advinda do pleno domínio da representação da perspectiva e da tridimensionalidade,
o que remonta à Filippo Brunelleschi durante o renascimento italiano. Essa condição
foi posteriormente ampliada com a constituição de um ensino de arquitetura amparado
em composições meramente artísticas e formais, enquanto o domínio técnico era visto
como atribuição dos engenheiros.
Essa formação profissional no âmbito do ensino, característica da Escola
Francesa de Belas Artes, influenciou a configuração de outras academias de ensino,
como a instalada no Brasil com a vinda da corte portuguesa no século XIX,
colaborando para distinguir a formação do arquiteto daquela proposta ao engenheiro,
figura profissional que se apresentava como de grande importância para lidar com as
novas tecnologias em desenvolvimento. Somente a partir do início do século XX e o
debate surgido com o movimento modernista, sobretudo com as experiências de
ensino desenvolvidas pela Bauhaus na Alemanha, a importância dos aspectos
relativos à materialização do artefato arquitetônico foram recolocados em posição de
destaque para a formação e revalorização do profissional de arquitetura. Diversos
autores, como Martinez (2000), caracterizam essa situação, demonstrando esses
momentos da profissão, do seu ensino e a sua constituição na história e reflexos na
prática atual.
No campo do ensino de arquitetura, sabe-se da influência ocasionada pelo
método beaux-arts, assim também como a herança deixada pelo racionalismo
modernista e a sua sobrevalorização dos aspectos funcionais e programáticos para a
arquitetura. No Brasil, as faculdades e os cursos de arquitetura foram constituídos sob
essa dicotomia que posiciona a arquitetura entre a arte e a técnica que, para alguns,
representa uma ciência social e para outros, é compreendida como uma arte aplicada.
24
A respeito da formação do arquiteto e denotando preocupação com o
direcionamento dado a um “descaminho” nessa formação profissional, autores como
Graeff (1995) apontaram que
(...) o divórcio esse, entre a concepção-projeto da obra e sua realização-construção, gera graves consequências para a arquitetura: o desenho se faz cada vez menos projeto e mais desenho mesmo, e a arquitetura passa a ser, cada vez mais, pensada e avaliada como arte plástica... O saber fazer arquitetura vai dando lugar, na formação do arquiteto, ao saber desenhar e discursar sobre arquitetura. Assim, o divórcio entre arte e técnica na arquitetura começa com o distanciamento entre teoria e prática, o desenho / proposta teórica e a construção / realização prática da obra, vale dizer, do espaço (GRAEFF,1995, p.130).
Nota-se que essa problemática permanece, ainda hoje, gerando discussões
sobre a temática da separação entre o saber e o saber-fazer e a distância entre a
teoria e o entendimento de como essa se realiza na prática. No Brasil, a preocupação
com tais temas, além da própria definição de como se deve processar o ensino, é
observada na legislação que trata da composição dos cursos de Arquitetura e
Urbanismo.
Atualmente, a configuração do ensino de arquitetura no país é amparada por
uma resolução que institui as diretrizes curriculares nacionais, datada de 20063 e
indica que a formação do profissional deverá ser generalista, porém, deverá revelar
competências e habilidades específicas. Dentre estas, nota-se a importância conferida
aos aspectos ligados diretamente à compreensão dos sistemas construtivos, o seu
uso adequado e a relação direta com o projeto e a execução.
Segundo a Resolução nº 6 do CNE/ MEC (2006) devem ser desenvolvidas:
c) as habilidades necessárias para conceber projetos de arquitetura, urbanismo e paisagismo e para realizar construções, considerando os fatores de custo, durabilidade, de manutenção e de especificações (...); g) os conhecimentos especializados para o emprego adequado e econômico dos materiais de construção e das técnicas e sistemas construtivos, para a definição de instalações e equipamentos prediais, para a organização de obras e canteiros e para a implantação da infraestrutura urbana; h) a compreensão dos sistemas estruturais e o domínio da concepção e do projeto estrutural, tendo por fundamento os estudos de resistência dos materiais, estabilidade das construções e fundações (BRASIL, 2006, p.3).
3 Revisada pela Resolução nº 2 de 17 de junho de 2010.
25
Na formação do Arquiteto e Urbanista, esse conteúdo deve estar enquadrado
no chamado núcleo de conhecimentos profissionais que compõem os campos do
saber e que se destinam a caracterizar a identidade profissional do arquiteto. Como
apontado, o documento reitera a importância de garantir a coexistência de relações
entre a teoria e a prática, indicando que dentre as atividades a serem realizadas, além
da produção no atelier, poderão ser conjugadas experimentações em laboratórios e
visitas a canteiros de obras (BRASIL, 2006, p.4).
Mesmo assim, as realidades dos currículos, as práticas existentes, a lógica do
produtivismo acadêmico e as incursões ainda limitadas na reflexão do projeto e o seu
ensino, além das próprias experiências vivenciadas e compartilhadas, demonstram
um certo descompasso entre esses campos formadores do saber arquitetural. Logo,
o distanciamento já observado entre as disciplinas de projeto arquitetônico e as de
tecnologia da construção acabam gerando interferências no processo e na
compreensão do discente quanto à materialização do projeto, o que afeta as soluções
projetuais, gerando hiatos na formação deste futuro profissional.
Desdobram-se, a partir desse quadro, alguns questionamentos sobre como
proceder. Como se dá o rebatimento do conhecimento tecnológico-construtivo no
processo de concepção projetual do aluno? Como buscar uma integração mais efetiva
entre o projeto e o conteúdo tecnológico que lhe é indissociável, para aperfeiçoar o
processo de ensino-aprendizagem?
Com base nesses questionamentos, foram definidos os objetivos específicos
da pesquisa: I) Investigar o quadro atual do ensino do conteúdo relacionado à
tecnologia da construção em cursos de AU no Brasil e as suas relações com as
disciplinas de projeto de arquitetura; II) Investigar os processos de ensino de projeto
em Instituições de Ensino Superior (IES) para analisar como se realiza a aplicação e
integração do conteúdo tecnológico na concepção do projeto no atelier de ensino de
arquitetura; III) realizar análise de contraponto à instituição brasileira em IES
estrangeira; IV) realizar experimento didático através de investigação participante no
atelier de projeto.
Desenvolvida entre os anos de 2012 e 2016 a tese foi realizada por meio de
dois níveis de abordagem. O primeiro inclui a revisão de literatura e a construção do
o referencial teórico-conceitual pesquisado, além da definição do universo estudado e
dos procedimentos e métodos de pesquisa. Posteriormente, o segundo nível de
abordagem compreende as coletas de dados primários em disciplinas de projeto de
26
arquitetura no Brasil e em Portugal4 e por meio de realização de experiências didáticas
em disciplina e oficina de projeto.
O primeiro capítulo (referencial teórico-conceitual) é dividido em três partes ou
seções. A primeira seção apresenta as investigações realizadas a partir da década de
1960 sobre o processo de projeto e as tentativas de sistematizá-lo. Em seguida, o
capítulo aborda as pesquisas desenvolvidas no ambiente acadêmico sobre o tema,
no Brasil e no exterior e trata, posteriormente, da reflexão voltada para a materialidade
da obra arquitetônica e o seu rebatimento na pesquisa e no ensino em Arquitetura e
Urbanismo.
O segundo capítulo apresenta os critérios de seleção para a delimitação do
universo de pesquisa e procura esclarecer os métodos e instrumentos utilizados. Em
seu desenvolvimento, o universo é aprofundado a partir de uma pesquisa realizada
por meio de dados secundários referentes às estruturas curriculares de doze
instituições nacionais, a fim de traçar um panorama quanto à relação existente entre
o conteúdo tecnológico-construtivo e as disciplinas de projeto arquitetônico. Busca-se
também justificar a seleção do curso de Arquitetura da UFRN para a realização do
estudo de caso.
O terceiro capítulo desta tese, apresenta o estudo de caso desenvolvido no
curso de Arquitetura da Universidade de Lisboa e os dados resultantes da coleta de
dados primários, obtidos através do acompanhamento de disciplinas de projeto
arquitetônico na instituição. Além da caracterização do laboratório e do seu ambiente
de desenvolvimento, são analisadas as percepções do docente quanto ao processo
de ensino-aprendizagem, dos discentes quanto ao processo e ao produto elaborado.
O quarto capítulo faz uso da mesma sistemática apresentada no caso
português para apresentar os dados coletados no âmbito do CAU-UFRN.
O quinto capítulo apresenta outros dois estudos de caso, desenvolvidos por
meio da aplicação de duas experiências de ensino. Ambas foram realizadas no curso
de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio Grande do Norte,
caracterizando-se a primeira como de longa duração e a segunda, como de curta
duração. Estas experiências tiveram como objetivo estimular a reflexão discente sobre
as questões tecnológico-construtivas desde o início do processo projetual dos
estudantes.
4 País selecionado para o desenvolvimento do estágio doutoral.
27
O sexto capítulo dessa tese se propõe a apresentar uma discussão comparada
entre os estudos de caso, sendo a primeira seção dedicada aos ateliers de ensino
português e potiguar. Pretende-se refletir sobre os processos, os produtos e as
práticas de ensino-aprendizagem nos dois casos estudados. A segunda parte deste
capítulo apresenta uma discussão comparada entre as experiências didáticas, tendo
em vista as suas diferenças de formato.
Por fim, as considerações finais retomam a hipótese da pesquisa, associando-
a aos resultados alcançados nos níveis de abordagens realizados. Além disso, aponta
para outras reflexões e possíveis direcionamentos de futuras pesquisas.
28
1. REFERENCIAL TEÓRICO-CONCEITUAL
O primeiro capítulo desta tese apresenta o referencial teórico-conceitual da
pesquisa e está dividido em três partes ou seções. A primeira, trata da temática da
pesquisa em projeto desde as primeiras tentativas de sistematizar as etapas do
processo projetual, a partir da metade do século XX e, também, de descrever alguns
métodos e técnicas características na prática dos projetistas. A segunda parte do
capítulo situa o debate sobre a pesquisa em ensino de projeto de arquitetura, com
ênfase para o cenário brasileiro e a apresentação de algumas experiências
internacionais. A terceira parte trata da importância das questões relativas à
materialização da obra arquitetônica, por meio das tecnologias construtivas, a sua
relação intrínseca com o pensamento projetual em arquitetura e a sua inserção no
ensino do projeto, com destaque para dados de outras investigações pesquisadas.
Projeto, pesquisas e processos
A partir da década de 1950, houve, nos países anglo-saxões, uma tentativa de
sistematizar o conhecimento sobre os métodos de projetos e de caracterizar o ato de
projetar como um tema passível de ser explorado e explicado pela ciência.
Inicialmente, as pesquisas propuseram a interpretação dessas ações a partir da
construção de esquemas e modelos, dando início a um debate que promoveu, em
1962, em Londres, a primeira conferência sobre o tema, organizada pelo engenheiro
e professor Christopher Jones (KOWALTOWSKI, 2011).
O evento denominado “Conferência em Métodos Sistemáticos e Intuitivos na
Engenharia, Desenho Industrial, Arquitetura e Comunicações” (The Conference on
Systematic and Intuitive Methods in Engineering, Industrial Design, Architecture and
Communications), mais conhecido como “Conference on design methods” foi o
primeiro de outros encontros que passaram a discorrer sobre o tema e a influenciar
as pesquisas sobre a temática. A partir de então, buscava-se não apenas
compreender e manifestar tais procedimentos, mas também lançar bases para
promover o aperfeiçoamento dos métodos de projetação, com a finalidade de evitar
ou minimizar problemas e erros na prática profissional.
De acordo com Celani (2003), embora este movimento tenha assumido
proporções internacionais, expandindo-se para o Canadá e Estados Unidos, não
29
parece ter chegado a impactar o ensino e a prática da arquitetura no Brasil, por
motivos que se relacionam com a ligação do ensino com a tradição artística e com o
tipo predominante de organização dos primeiros escritórios de arquitetura que, ao
contrário das grandes firmas inglesas e americanas, se baseava mais no talento
individual.
Segundo Andrade (2011), em função dessas novas investidas científicas,
diversos métodos e estruturas de processo de projeto foram criados, buscando
racionalizar e sistematizar o ato da projetação em uma sequência de ações definidas
por três etapas: análise, síntese e avaliação. A princípio, os modelos desenvolvidos
foram influenciados pelas lógicas das engenharias, teoria da informação, matemática
e da computação e tentaram resumir a prática e o processo projetual a padrões
operacionais de causa e efeito, onde a criatividade, por ser compreendida como a
“caixa preta” do processo projetual, era considerada como um fenômeno fora do
controle consciente do projetista.
Os primeiros modelos elaborados apresentavam as etapas do processo e
indicavam ordenamento das ações desde a fase de assimilação das informações à
etapa de comunicação e apresentação da proposta (Figura 01).
Figura 01 – Modelo desenvolvido pela Associação de Arquitetos de Londres5 na década de 1970.
Fonte: LAWSON, 2011.
Posteriormente, essas tentativas de representar o processo por meio de um
conjunto de ações sequenciadas e ordenadas foram aprofundadas pelos
pesquisadores, o que ampliou a importância da reflexão crítica em todas as fases do
processo de tomada de decisões, demonstrando que o processo não é tão simples,
sendo sempre “realimentado” por meio de análises e avaliações (Figura 02).
5 Royal Institute of British Architects (RIBA).
30
Figura 02 – Esquema mais complexo do processo de projeto desenvolvido por Markus e Maver na década de 1970.
Fonte: LAWSON, 2011.
A contínua discussão acerca dos processos de projetação possibilitou a
evolução desses modelos de representação para sistemas que demonstravam um
maior grau de compreensão da complexidade do processo, como no caso da
representação apresentada em 1973 por Broadbent (Figura 03).
Figura 03 – Modelo de Broadbent apresenta diversos pontos de decisão no processo.
Fonte: ANDRADE et al., 2011.
O esquema com forma de espiral apontava para diversos pontos de decisão e
partia do abstrato para o concreto (ANDRADE, 2011), o que veio a ser refutado por
Bryan Lawson (2011). De acordo com Lawson (2011), o projeto não precisa partir do
31
geral para o particular. A sua argumentação é baseada na produção de profissionais
que, em alguns dos seus processos de concepção projetual, partem do estudo do
detalhe para o desenvolvimento da proposta, fato que também é apontado por Boudon
et al (2001).
Anos depois, em 1978, Kneller (apud Kowaltowski, 2011) ampliou a
caracterização do processo de projeto em quatro etapas: a preparação (investigação
para se familiarizar com o problema), a incubação (fase de conexão das ideias,
gestadas a partir da recombinação, memorização, distanciamento e rejeição de
hipóteses), a iluminação/solução (resolução pela integração de ideias, afetadas pela
percepção) e a verificação (revisão e análise crítica), onde trabalhariam dois tipos de
pensamentos: convergentes e divergentes.
A diferença entre esses dois tipos de pensamento reside no fato de que,
enquanto o primeiro visa a única possibilidade correta de solução para determinado
problema e estabelece um método ou padrão, o pensamento divergente ou lateral,
movimenta-se em várias direções, desenvolvendo a ideia com associações mais
amplas capazes de gerar várias soluções aceitáveis (Figura 04).
Figura 04 – Pensamento divergente versus pensamento convergente.
Fonte: SIQUEIRA, 2014.
Segundo Kowaltowski et al. (2011), o princípio da solução criativa de problemas
baseia-se na alternância de fases convergentes e divergentes do pensamento. Tais
fases são realizadas a partir de operações cognitivas que recuperam conhecimentos
por meio de processos mentais que associam os dados da memória de longa duração
em um processamento de informações na memória de curta duração. Nessa fase, os
projetistas tendem a fazer uso de meios de representação (gráfica e/ou textual) a fim
de gerar comunicação, organização e acúmulo de ideias.
32
Segundo Andrade (2011), existem diversas maneiras de descrever o processo
de projeto arquitetônico e como este processo interfere na produção do edifício.
Entretanto, citando autores como Vries e Wagter (1991) e Lawson (2005), de certo
modo, existem características que devem ser consideradas nas investigações a
respeito dos processos de projetação.
Mark de Vries e Harry Wagter, em um artigo publicado em 1989 sobre o uso do
desenho auxiliado por computador (CAD) em fases iniciais da concepção
arquitetônica, identificam três características do processo de projeto:
First, the architectural design process is ill structured. It is not possible to describe a series of steps that will finally lead to a successful solution for a design problem. The best that a designer can do in such a process is to create a solution and verify that it satisfies the constraints.(...) Second, the architectural design process is open-ended. A design is never completed and can always be further improved. (...) Third, the designer has no fixed starting point. This characteristic relates to the preceding one. Usually the designer must start with a design brief and a given site. These two are not fixed. The design brief is usually global and incomplete (...) (VRIES,
M.;WAGTER,H.,1989, p. 217).6
De acordo com os autores, um processo é mal estruturado quando o problema
é mal definido, o que dificulta a resolução dos problemas de projeto. Assim, para
minimizar os problemas de imprecisão, os projetistas em arquitetura buscam reduzir
o número de requisitos para um nível aceitável e tentam sobrepor princípios de
ordenação para o projeto (VRIES, M., WAGTER, H., 1989).
Durante as primeiras fases do processo de projeto, a redução dos requisitos
apenas para aqueles que influenciam as principais partes do edifício relega a um
segundo plano partes específicas do edifício, que não precisam ser consideradas nas
fases iniciais do projeto (tais como soluções de viés mais técnico, como instalações e
até mesmo decisões estruturais). Com a evolução do processo, os projetistas devem
considerar outros requisitos (inicialmente considerados menos importantes) e mais
específicos. No âmbito do ensino, a didática empregada pelo docente pode orientar o
uso desse método no processo projetual do aluno, o que pode levar a uma
6 Em primeiro lugar, o processo de projeto arquitetônico é mal estruturado. Não é possível descrever uma série
de passos que conduz finalmente a uma solução bem sucedida para um problema de projeto . O melhor que um projetista pode fazer em tal processo é criar uma solução e verificar se preenche as restrições( ... ) Em segundo lugar, o processo de projeto arquitetônico está em aberto. Um projeto nunca é concluído e pode sempre ser melhorado( ... ) Em terceiro lugar, o projetista não tem ponto de partida fixo. Esta característica refere-se a primeira característica. Normalmente, ele deve começar com um “briefing” do projeto e um determinado sítio. Estes dois não são fixos. O resumo do projeto é geralmente global e incompleto( ... ). Livre tradução a partir do original em inglês.
33
incorporação desta maneira de projetar, influenciando no uso de um pensamento mais
convergente e menos holístico, ou seja, menos divergente.
A outra técnica, apontada por Vries e Wagter (1989) e que indica a
sobreposição de princípios de ordenação, visa a fornecer um ponto inicial para o
processo de projeto, assim como uma série de critérios que possam ser usados para
a avaliação nos estágios iniciais. Este método é materializado por meio de
representações em diagramas esquemáticos, indicadores de operações e fluxos,
entre outros.
Além desses métodos, os projetistas usam outras abordagens como: (1)
método baseado em tentativa e erro, (2) método de satisfação de restrições, (3)
métodos baseados em regras e (4) métodos baseados em precedentes. (KALAY,
2004, apud ANDRADE, 2011).
O primeiro método de tentativa e erro, como o próprio nome diz, faz com que
o processo se repita até que se encontre a solução que melhor atenda às metas e às
restrições. Pode consistir em encontrar uma solução de maneira aleatória através de
sucessivas tentativas ou com o auxílio de testes para guiar as tentativas
subsequentes. Segundo Celani (2003), esse modelo de cunho empiricista de tentativa
e erro parece ser incentivado na prática de ensino de projeto no Brasil.
Quanto ao método de satisfação de restrições, este consiste na busca pelo
atendimento de diversas e diferentes tipos de restrições impostas ao projeto, sejam
estas de acordo com o tipo do gerador das restrições: internas ou externas ao projeto
ou de acordo com as suas funções, como explicado por Lawson (2011).
No caso dos métodos baseados em regras, estes são constituídos por
instrumentalizações para a realização dos passos das atividades de projeto. Visam a
reduzir a quantidade de problemas utilizando um tipo de informação fornecido por elas
(ANDRADE, M. et al., 2011). Segundo Rowe (1998), são divididas em cinco classes:
Analogias antropométricas – analogias que reduzem a variedade de
problemas de projeto a aspectos mais próximos à relação com o corpo
humano, as suas ações (como andar e sentar) e os seus limites
dimensionais;
Analogias literais – analogias que usam os conhecimentos de objetos,
construções existentes ou de elementos naturais como ponto de partida
para estruturar um problema e gerar inspiração para a forma;
34
Relações ambientais – aquelas que compreendem regras que
permitem estabelecer uma ligação mais apropriada entre o homem, o
meio ambiente e o edifício. Estabelecem relações com o clima, a
topografia, a tecnologia e os recursos disponíveis;
Tipologias – são invariantes de projeto que podem ser aplicadas
através do conhecimento de soluções anteriores em novos problemas
de projeto e podem ser classificadas segundo o modelo, o tipo de
organização e em alguns casos específicos, podem ser baseadas em
protótipos;
Linguagens formais que se baseiam em regras presentes nos tratados
clássicos e que ordenam elementos formais do projeto.
O uso de métodos baseados em precedentes apoia-se na ideia de que a
maioria dos problemas de projeto apresenta similaridades com outros precedentes. A
formação desse repertório é um precioso acervo, que pode ser utilizado em várias
circunstâncias de projeto e a sua aplicação deverá se dar de forma indireta, como
substrato para novas ideias.
Em busca de investigar os processos em projeto de arquitetura, pesquisas
interpretativas, histórico, qualitativas, correlacionadas, experimentações, pesquisas-
ação, estudos de campo, gramáticas da forma, estudos de caso, entre outras, buscam
identificar esses métodos e abordagens. “No entanto, os estudos de caso constituem
o cerne das pesquisas em arquitetura, em torno do qual outras metodologias orbitam”
(GROAT; WANG, 2013, apud KOWALTOWSKI, 2011, p.44).
Além disso, o direcionamento das pesquisas que tratam dos processos de
concepção para o âmbito do ensino de arquitetura indica a relevância do tema. A
pesquisa bibliográfica desenvolvida por Kowaltowski e Moreira (2015), a partir da
análise da produção do periódico Design Studies em publicações entre 1995-2015,
identificou o termo “ensino de projeto” como objeto de pesquisa em um considerável
número de artigos publicados pelo periódico. Como será demonstrado a seguir, o
avanço no quadro da pesquisa quanto a essa temática tem sido apontado por outros
trabalhos recentemente realizados no Brasil, indicando também uma mudança
positiva no cenário nacional.
35
Pesquisa em ensino de projeto de arquitetura
No Brasil, no final da década de 1970 e início dos anos de 1980, a questão do
ensino do projeto em arquitetura passou a ser abordada nas instâncias acadêmicas
de discussão, sobretudo em ocasiões que precederam alterações ou reformas
curriculares, como no caso de instituições como a FAU-USP e no curso de Arquitetura
e Urbanismo da UFRGS7.
De lá para cá, o espaço destinado à reflexão dos processos e procedimentos
de ensino e seus resultados foram abordados em eventos realizados pela Associação
Brasileira de Ensino de Arquitetura (ABEA) e com mais afinco e especificidade em
fóruns de pesquisa e discussão acerca do processo de ensino-aprendizagem na área,
como o evento PROJETAR, cuja primeira edição aconteceu em 2003 em Natal/RN e,
atualmente, configura-se como evento bienal de referência neste campo.
Segundo Arcipreste (2012, p.21), incertezas e questionamentos perpassam o
ensino da profissão em função da “difícil conciliação de abordagens da arquitetura
como ofício e como conhecimento, como prática e teoria”. A formação é alvo de
críticas tanto por parte dos discentes quanto pelos docentes, que juntos buscam
minimizar problemas de uma formação que pretende ser generalista e que,
consequentemente, solicita dos egressos, especializações para lidar com as
exigências do atual mercado de trabalho.
Pode-se dizer que, dentro desta temática do ensino, nestas últimas décadas,
muito já foi debatido, várias teses na área já foram publicadas e, no entanto, situações
identificadas como semeadoras de uma “crise” no ensino de arquitetura parecem
ainda configurar muitas das problemáticas dos estudos e pesquisas elaboradas e que
vem sendo desenvolvidas. Uma delas, que se apresenta como um ponto chave é a
questão da interdisciplinaridade e a dificuldade em promover a integração de
conteúdos. Até hoje, esta questão não foi bem resolvida na prática acadêmica,
caracterizando-se como um dilema que sucessivas reformas curriculares em diversas
instituições tentam solucionar. Inúmeras investigações realizadas por meio de
análises de currículos e práticas de cursos de arquitetura e urbanismo no Brasil, além
O curso de arquitetura e urbanismo da UFRGS realizou em 1985 o I Encontro sobre Ensino de Projeto Arquitetônico o que gerou um conjunto de textos organizados no livro Projeto de Arquitetura: Disciplina em Crise, Disciplina em Transformação (COMAS, 1986), que ainda hoje é referência nos debates sobre o assunto.
36
de pesquisas em trabalhos finais de graduação, demonstram os problemas existentes
relacionados a esta questão (TEIXEIRA, 2005; ARCIPRESTE, 2012; CAVALCANTE,
2013) e demonstram a importância e responsabilidade do professor e, ao mesmo
tempo, a necessidade de compromisso dos alunos envolvidos.
Pois bem, se tanto já foi escrito, pesquisado e, aparentemente, pouco parece
ter sido obtido, vale a pena novamente escrever sobre o ensino e educação em
Arquitetura e Urbanismo? Segundo Naruto
Certamente que sim, porque esse movimento incessante de mudanças demonstra exatamente que, para além do próprio dinamismo da arquitetura como pratica social e, apesar das incontáveis tentativas, existem problemas específicos de ensino de arquitetura que não estão sendo satisfatoriamente encaminhados. Não que se acredite que existam soluções definitivas ou algum padrão universal válido para o ensino de arquitetura e para todas as escolas, mas o fato é que as propostas e experiências não têm conseguido responder ao que foi percebido como problema e sequer formular uma dinâmica de constante avaliação face à evolução vertiginosa não só́ dos meios de produção do espaço arquitetônico como da própria sociedade como sistema cultural e econômico (NARUTO, 2006, p.18).
Apesar de não esclarecer com especificidade quais seriam os problemas
identificados, o autor declara que problemas de ensino de arquitetura “são,
fundamentalmente, problemas de ensino de projeto. O que pode ser somado à
constatação realizada por Elvan Silva (2003), que diz que o tema ensino do projeto
arquitetônico recebe menos atenção do que se poderia esperar, apontando que há
aspectos que exigem aprofundamento.
Desse modo, estudar aspectos relacionados ao ensino e educação em
Arquitetura exige o aprofundamento nas práticas educacionais desenvolvidas pelo
país afora, para tentar compreender o modelo de ensino existente e como fazer para
aperfeiçoá-lo.
Hoje, este tipo de investigação se beneficia com a expansão do universo das
pós-graduações em AU na última década e com a criação de áreas de pesquisa em
projeto de arquitetura (VELOSO, M; ELALI, G; 2003). Este fato tem colaborado para
fomentar o debate nacional atual, focando no estudo dos métodos de projetação e no
ensino do projeto no ateliê, que se caracteriza como um dos eixos principais das
estruturas curriculares de ensino de arquitetura no país. Pode-se afirmar que o atelier
de ensino de projeto é considerado como a espinha dorsal dos cursos e, por meio
dele, deveriam convergir ou serem rebatidos os conteúdos relacionados à teoria e
prática no ensino de arquitetura.
37
No entanto, de acordo com Lara e Marques (2003), os estudos sobre o ato de
projetar não acompanharam a evolução desse processo de consolidação da pós-
graduação em Arquitetura e Urbanismo e sofrem com a resistência dos profissionais
(do mercado ou da academia) em sistematizar e organizar o que realmente fazem ou
ensinam e, ainda, o que os seus alunos realmente aprendem. Arcipreste (2012),
quase uma década depois, relata que pesquisas abordando as práticas projetuais dos
estudantes, “ainda são insuficientemente exploradas em relação ao potencial que têm
para produção de conhecimento no campo arquitetônico”.
Analisando o quadro da pesquisa e da pós-graduação no Brasil, observa-se
que, dos trinta e três programas de pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo
reconhecidos pela CAPES (2012), apenas onze possuem áreas de concentração e/ou
linhas de pesquisa abordando questões relacionados ao projeto de arquitetura, ensino
e tecnologias, seja formando áreas isoladas ou conjuntas. Quanto à produção
desenvolvida pelos grupos de pesquisa brasileiros, foi visto que são elaborados
estudos relacionados aos métodos, processos, estratégias e formulações de projeto;
às teorias e métodos aplicados ao ensino e ao aprendizado, análises sobre a questão
da interdisciplinaridade, além de averiguações sobre as relações das tecnologias em
arquitetura e urbanismo, sua história e interfaces. Como já afirmado, esse quadro,
apesar de ainda ser insuficiente, demonstra uma evolução no cenário da investigação
sobre o projeto de arquitetura e o seu ensino no país, evidenciando um crescente de
valorização que vem sendo dado ao tema, mas que, na verdade, deveria ser tratado
sempre como prioridade.
Considerando que o ato de projetar caracteriza a principal atividade do arquiteto
e que a universidade é um dos lócus de formação deste profissional generalista, outro
ambiente não seria mais propício para o desenvolvimento de pesquisas sobre os
processos de concepção dos que se desenvolvem na concepção do projeto, que o
atelier educacional de projeto de arquitetura. Consideramos que as práticas
acadêmicas disciplinares possibilitam, em certa medida, a sistematização dos
processos de ensino-aprendizagem.
Partindo deste pressuposto, vemos na literatura algumas pesquisas, como a
desenvolvida por Donald Schön, nos Estados Unidos, durante o final da década de
1970. Em várias faculdades americanas de arquitetura, ele estudou o atelier de projeto
como ambiente de investigação e o considerou como protótipo do espaço de ensino
prático-reflexivo, onde os estudantes aprendem através do fazer, apoiados pela
38
instrução do professor. Por mais de dez anos, Schön realizou procedimentos por meio
de observação participante, que consistiram em acompanhar e efetuar gravações dos
processos de ensino-aprendizagem no atelier de projetos. Muitos dos diálogos, nos
quais são discutidas as questões projetuais pelo professor e aluno, são transcritos e
complementados pela reprodução de croquis de concepção. Tais elementos, juntos,
são capazes de elucidar os procedimentos sobre a ação de construir e refletir sobre o
projeto.
O autor considera a atividade projetual como uma forma de talento artístico que
pode ser desenvolvido por meio de um ensino que se ampara no relacionamento entre
mestre e aprendiz e na compreensão da reflexão teórica aplicada na ação da
concepção do projeto. Schön desenvolveu uma pesquisa onde descreveu e analisou
os fatos observados durante a investigação e, apesar de não ter proposto métodos
para o ensino de arquitetura, contribuiu posteriormente para o desenvolvimento de
trabalhos na área.
Na Europa, especificamente na França e em Portugal, temos os exemplos dos
professores e pesquisadores Philippe Boudon e Jorge Cruz Pinto, que ao
desenvolverem estudos acerca dos processos de concepção e métodos de
projetação, elaboraram manuais que podem ser aplicados em sala de aula, em
disciplinas de projeto de arquitetura ou que tratem da concepção arquitetural.
O primeiro desenvolveu o conceito de arquiteturologia, que se configura como
uma ciência da concepção arquitetural, baseada em uma série de ações, amparadas
por um conjunto de conceitos definidos pelo autor. Trata-se de uma proposta com
caráter epistemológico, relacionada ao conhecimento do processo e da concepção
arquitetônica. Nela, busca-se compreender a concepção por meio de exercícios que
estimulam a reflexão sobre o ato de projetar. Em sua obra Enseigner la conception
architecturale. Cours d’architecturologie, escrita em coautoria com pesquisadores de
sua equipe, apresenta, ao fim das sessões de conteúdo teórico, atividades que
pretendem desenvolver análises de projetos e de soluções arquitetônicas, além de
exercícios de concepção projetual com a exposição dos critérios de avaliação da
atividade (Anexo 01).
O autor também associa o conteúdo presente na representação por meio de
croquis de concepção ao discurso, elaborados pelos arquitetos para tentar extrair
informações sobre o processo projetual. Segundo Boudon (2001):
39
Os arquitetos desenham, representando a arquitetura, mas eles falam e também escrevem igualmente, produzem o discurso. O discurso é um enunciado proferido em uma dada situação e dirigida a um interlocutor. Um discurso tem um fim, ele não é somente palavra. Qual é então a finalidade da produção discursiva dos arquitetos? (...). Essas questões interessam ao historiador, ao sociólogo ou ao especialista em comunicação. Elas também nos importarão quanto ao valor que possuem para o próprio arquiteto, desde que o discurso acompanhe o trabalho de concepção arquitetural (BOUDON et al, 2001, p.49)8.
A partir desta argumentação, que valoriza o papel do discurso do projetista,
nota-se que a análise do discurso pode introduzir uma dimensão narrativa que as
imagens nem sempre poderiam conter, contribuindo para a compreensão do trabalho
intelectual que caracteriza o processo projetual.
Já o professor da Faculdade de Arquitectura da Universidade de Lisboa, Jorge
Cruz Pinto (2007), em seu livro Processos e metodologias de projecto, propõe uma
metodologia pedagógica que se apresenta com um forte direcionamento
fenomenológico. O autor busca incentivar a reflexão e a compreensão da arquitetura
pelo discente por meio da valorização da experiência arquitetural do espaço e das
suas relações intrínsecas como composições, volumes, texturas e cores. O processo
está centrado no sujeito da aprendizagem, que representa o receptor e produtor do
conhecimento (em conjunto com o docente). Este processo que deve ser dinâmico e
crítico, pretende direcionar o aluno para um confronto dialético entre o conhecimento
teórico e o experimentado com a sua sensibilidade individual. Assim como Boudon,
faz uso em seu manual de exercícios projetuais para estimular e avaliar o discente
quanto aos aspectos abordados na teoria apresentada (Anexo 02).
As disciplinas que apresenta são compostas de duas partes que se
complementam e visam a reflexão conceitual, associada à experiência empírica: uma
componente teórica e outra prática. Segundo o autor, a componente teórica tem o
objetivo de enquadrar a componente prática em um universo cultural mais vasto. A
primeira apresenta, nesse grande universo possível, as relações da arquitetura com
as artes e ciências, fornecendo as informações, a dissecação das ideias, por meio de
croquis e modelos, a fim de “abrir mundos de possibilidades compositivas” (PINTO,
2007, p. 45). Deve desenvolver o senso crítico do aluno referente ao projeto, tanto a
respeito ao seu processo, quanto ao seu produto. Para isso, o professor faz uso,
sobretudo, de análises de referências arquitetônicas. A componente prática, por meio
de visitas in loco, coloca o aluno em contato com a materialidade arquitetônica e o faz
8 Tradução livre.
40
vivenciar a obra e as suas relações com o lugar. Busca-se uma síntese que colabore
no processo de projeto, por meio das aulas práticas de desenvolvimento de estudos,
croquis e modelos físicos em diferentes escalas.
Pinto (2007) diz que partes do processo de concepção são de difícil acesso, já
que o ato é composto por uma série complexa de procedimentos analógicos,
relacionados com a razão e com a emoção. A “imaginação produtiva” formada por
memórias e percepções interiores sustenta a criação arquitetônica, que emerge a uma
fase de expressão por meio de croquis e modelos e configura a investigação formal e
não rigorosa, por meio da linguagem arquitetônica e da sua materialidade. A fase
posterior, denominada de racionalização, corresponde à integração e a
sistematização dos elementos que compõem a investigação arquitetônica, o que
representa um aprofundamento em adequações de caráter técnico, programático,
funcional e normativo. Caracteriza-se pelo avanço para a conclusão do processo em
direção à fase de apresentação. Esta, por sua vez, é mais rigorosa ao desenho
técnico, aos detalhes de execução e visa a comunicar as informações necessárias
para a concretização da obra.
Todas as fases estão relacionadas e tem grande importância, o que caracteriza
o ato de projetar como sendo sincrônico/indissociável e que se realiza através de
elementos concretos, abstratos e adequações. Este processo da criação arquitetônica
conforma a composição integrada, que resulta na síntese expressa pela
apresentação/comunicação presente na produção da representação técnica (plantas,
cortes e fachadas). A produção de sentido no campo da arquitetura, de acordo com
Cruz Pinto, seria fruto desta composição com os aspectos perceptivos, sensoriais e
imaginativos, os quais são essenciais ao conceber o projeto.
Outro professor europeu, de origem espanhola, chamado Helio Piñon, oferece,
em seus textos, direcionados para a reflexão e o ensino do projeto: Curso básico de
proyectos (1998) e Teoria del Proyecto (2006), um conjunto de reflexões amparadas
nas atividades desenvolvidas no Laboratório de Arquitetura das instituições onde
atuou como docente. Piñon, que é um ferrenho crítico da produção arquitetônica pós-
moderna, argumenta ainda que o discurso conceitual presente nessa arquitetura, no
qual é possível identificar uma sobrevalorização da imagem, foi capaz de influenciar
diretamente os processos de ensino. Pretende, com a discussão teórica apresentada
e a adoção de atividades por meio de exercícios de projetos com uma maior
aproximação com a realidade, estimular o aluno quanto a aspectos importantes para
41
construção formal da obra arquitetural como, por exemplo, a relação com o entorno,
o programa, a funcionalidade, entre outros aspectos (Anexo 03). Ao contrário dos
exercícios presentes em Boudon et al (2001), não parece estar interessado no
processo de concepção e sim no produto resultante do processo, o qual deve atender
a uma série de exigências, inclusive, quanto à representação gráfica.
A análise desses discursos e os exemplos de exercícios apresentados por
estes autores, sejam questões mais objetivas ou enunciados mais elaborados,
apresentam-se como modelos de referência, por serem passíveis de adoção no atelier
de ensino, desde que almejem responder a algum tipo de meta pedagógica, referente
ao conteúdo abordado em sala de aula.
No Brasil, buscando caminhos para o ensino de projeto, Rheingantz (2003, p.
126) se ampara em leituras, investigações sobre a pedagogia, ensino de arquitetura
e a sua vasta experiência acumulada em sala de aula, para desenvolver o argumento
sobre a possibilidade de “ensinar arquitetura, superando a crença de que professores
de projeto são meros treinadores e transferidores de conhecimento’’.
Apresenta a proposta de que o ensino de projeto deve apontar para uma
perspectiva sócio-interacionista, em que a produção do conhecimento é reconhecida
como tradução individual e coletiva, que é construída a partir da interação social. Para
o autor, os conteúdos devem possibilitar a apreensão dos valores culturais expressos
a partir dos objetivos programáticos e do contexto definidor do problema. O professor
deve ser um intermediador do processo, superando autoritarismos e instituindo uma
avaliação a ser realizada em função do conteúdo, com critérios definidos pelas duas
partes ativas do processo: o mestre e o aluno.
Para o professor paulista Wilson Florio (2009), que realizou uma experiência
didática em disciplina de projeto de final de curso onde pretendia estimular a reflexão
sobre os atos de pensar-fazer dos alunos, é essencial desenvolver a capacidade
crítica de analisar o que foi realizado no processo projetual. Caberia ainda ao
professor, segundo Florio, a organização e o rigor metodológico para o monitoramento
do processo. Em seu exemplo de investigação aplicada no ambiente do atelier de
projeto, os croquis, desenhos, modelos físicos e virtuais foram organizados em forma
de relatório, de maneira a tornar possível a análise das escolhas e definições
projetuais. Visando a sintetizar o processo, foi utilizada pelos alunos uma ficha para
destacar as etapas, as dúvidas e incertezas relativas ao produto elaborado de modo
a contribuir para a sistematização retrospectiva dos dados.
42
Outras pesquisas desenvolvidas por Wilson Florio focam nos processos
cognitivos que se realizam durante as atividades mentais de elaboração projetual
2013) e na importância do croqui de concepção no processo de projeto.
Estas representações permitem materializar suas ideias, facilitando a comparação e avaliação entre elas. Assim, as representações assumem o papel “ativo” no processo de projeto, pois colaboram para tornar explicito aquilo que está implícito na mente de quem está projetando (FLORIO, 2013, p. 375).
Ainda que essas últimas pesquisas não tenham sido realizadas no ambiente
acadêmico, pois foram aplicadas junto a profissionais de Arquitetura e Urbanismo, as
suas experiências se relacionam com as pesquisas apresentadas anteriormente.
Assim como outros autores, (Lawson, Boudon e Cruz Pinto), Florio valoriza o papel
do croqui, que representa um tipo de diálogo reflexivo (como apontado por Schön) e
que é essencial para o desenvolvimento das ideias projetuais.
Diante desse quadro de investigações em âmbitos nacional e internacional,
nota-se a preocupação quanto ao ensino de projeto de arquitetura por meio de
diversas abordagens. Estas inserem o tema em uma discussão ontológica, prático-
reflexiva e crítica das ações da concepção. Tais estudos apontam caminhos para o
desenvolvimento de um campo de métodos didáticos na prática do atelier, inserindo
novos conceitos, apresentando caminhos e técnicas, que se sustentam em reflexões
e exercícios que trabalham com a concepção arquitetônica em vários níveis e
aproximações junto aos alunos.
Concepção e materialização: o lugar da firmitas9 no ensino de projeto.
Sabemos que o projeto supõe uma antecipação da construção, com base na
seleção de materiais e técnicas construtivas. Logo, esse tema pode ser abordado
desde as primeiras etapas de concepção do projeto. Helio Piñon (2006), em seu livro
Teoria do projeto, assinala que não há projeto sem matéria e que concepção e projeto
para a obra não são questões diversas, mas representam facetas de uma mesma
atividade. Para o autor, a construção é um “instrumento para conceber, não uma
9 O termo Firmitas representa a resistência e a firmeza da construção e junto com os princípios de beleza (Venustas) e utilidade ou função (Utilitas) compõem a tríade vitruviana, presente no tratado escrito no século I A.C. pelo romano Marco Vitruvio. A sua obra Sobre Arquitetura possui grande importância histórica por se tratar do único tratado clássico sobre o tema que se conservou até os dias atuais (VITRUVIO, 2007).
43
técnica para resolver” (PIÑON, 2006, p. 122). Não se trata de uma opção de projeto
nem de uma escolha arbitrária, porém, “configura-se como uma condição necessária
para a atuação do arquiteto, uma exigência” (PIÑON, 1998, p.94). Ainda segundo
Piñon (2006), tanto a técnica como o programa são fundamentais para a concepção
arquitetônica e esta não existe sem consciência construtiva, que se configura como
um problema central da arquitetura.
Bryan Lawson (2011), por sua vez, diz que os problemas de projeto costumam
ser multidimensionais e interativos e que, ao projetar, é necessário imaginar uma
solução integrada para toda uma conglomeração de exigências. A solução que
responde de maneira mais integrada e combinada a essas questões dá origem ao
bom projeto ou expressam a sua boa qualidade.
O mesmo autor classifica os aspectos construtivos como RESTRIÇÕES
PRÁTICAS do processo de projeto e nestes, são incluídos fatores externos, como a
capacidade de resistência do terreno e outros considerados internos. Neste segundo
grupo se enquadram os materiais a serem utilizados na construção, além de outras
questões inerentes à obra construída, como o desempenho e a vida útil dos
componentes e do edifício como um todo.
Entende-se que pensar o projeto não se esgota no objeto arquitetônico e na
sua materialização, mas também em viabilizar o seu planejamento, que se expressa
em aspectos pouco explorados em sala de aula, como o conceito de
construtibilidade10, custos de execução, de operação e de manutenção da edificação.
No cenário atual, onde se discute tanto sobre sustentabilidade e planejamento
estratégico, é inadmissível não refletir sobre isso na prática projetual, em seu ensino
e nas disciplinas relacionadas às tecnologias da construção.
A verdade é que o afastamento entre o arquiteto e o canteiro, que já foi citada
por diversos autores como Sérgio Ferro (1979) e remonta ao renascimento, com o
processo de separação entre a figura do arquiteto e do construtor e que foi
intensificado com a revolução industrial, gerou consequências que pouco são
discutidas na formação do profissional, conforme adverte Costa Lima (2010).
10 O conceito de construtibilidade associado ao projeto diz respeito a “consideração detalhada dos elementos de projeto para atender os requerimentos técnicos e financeiros do empreendimento, considerando quando possível a relação projeto - construção para melhorar a efetividade do projeto e com isto subsidiar o processo de construção no canteiro” (GRIFFITH, 1995).
44
Gregotti (1975) já havia alertado para essa situação quando descreveu a
situação da prática profissional.
A produção arquitetônica institui-se hoje segundo fases distintas pelas quais a operação projetual se separa da atividade propriamente construtivo-produtiva que outros projetos haverão constituído separadamente, até chegar ao consumo do objeto, este também produto de uma ação projetual diversa. Assim, fica eliminada a unidade entre projeto e construção na obra (GREGOTTI, 1975, p.13).
É certo que a evolução e a ampliação do quadro tecnológico que envolve a
indústria da arquitetura, engenharia e construção exigiram uma especialização maior
entre os profissionais, criando campos próprios de atuação e formações distintas, no
entanto, totalmente relacionadas. A necessidade de integração entre os profissionais,
nos processos de desenvolvimento do projeto em todas as suas fases, é
imprescindível, mesmo porque é impensável que o arquiteto articule domínio e plena
liberdade em todos os aspectos particulares do ofício que são necessários ao ato de
projetar (SARAMAGO, 2012). Deste modo, não se pretende, aqui, discutir uma
formação ainda mais ampla para o arquiteto (essa já é bastante generalista), porém,
refletir sobre a relação entre o ensino de projeto e as disciplinas tecnológicas ligadas
à materialização da proposta arquitetônica e o seu efetivo resultado na vida
acadêmica.
Em uma publicação francesa de 2005, Jean-Pierre Chupin e Cyrille Simonett
demonstraram essa preocupação e propuseram a implementação de um debate sobre
o lugar do pensamento construtivo nas escolas de arquitetura, nas escolas de arte e
de engenharia, tendo em vista que “as dificuldades encontradas, de modo persistente,
repousam enormemente sobre um distanciamento entre o pensamento construtivo e
o pensamento da tectônica e da forma, tal como apontado por outros teóricos“
(CHUPIN, 2005, p.08).
Essa publicação, resultado de um colóquio realizado na França em 2001, parte
da reflexão e desdobramento do termo e conceito de tectônica, que a partir da metade
do século XX foi retomado por alguns autores que estudaram os escritos de teóricos
alemães de arquitetura do século XIX: Gottfried Semper e Carl Bötticher. Entretanto,
o debate que trata da temática da tectônica foi difundido através da obra Studies in
Tectonic culture de Kenneth Frampton de 199511. Em seu livro, fruto de reflexões
11 Em 1995, doze anos depois da sua primeira incursão na temática com a publicação do texto Towards a critical regionalism: Six points for an architecture of resistance (1983) foi lançado o seu livro Studies in tectonic culture: The poetics of construction, onde o autor faz uso dos conceitos desenvolvidos para analisar obras de sete arquitetos modernistas.
45
iniciadas em 1983, o autor desenvolveu uma crítica à produção arquitetônica da
época, combatendo os excessos cenográficos e estilísticos em voga, baseado no
argumento de retomar a importância da legitimidade entre a relação forma e estrutura
portante, no momento mascarada pelos artifícios da produção pós-modernista.
Assim, além de difundir o conceito, este foi ampliado por Frampton, com a
inserção de questões fenomenológicas, dada a importância que o autor confere à
dimensão do lugar ou ao contexto onde se insere a obra. O termo passa a ser
composto pelo argumento de que existe uma verdade construtiva, parte integrante e
perceptível da obra, que está associada a um conjunto de aspectos que são relevantes
para a definição do projeto e que não se restringem apenas ao sistema construtivo e
aos materiais, mas se associam às características locais, às tradições e às técnicas
existentes.
No Brasil, Costa Lima (2012) defende a abordagem tectônica na formação do
arquiteto, pois, segundo o autor, há a necessidade de construção de uma cultura
projetual comprometida com a preparação de futuros profissionais, que devem
responder às novas exigências da sociedade.
Em artigo publicado em 2003, durante o I Seminário Projetar, o autor já
demonstrava o interesse pelo tema que envolve solução tecnológica e projeto,
apresentando os resultados de experiências realizadas no curso de arquitetura e
urbanismo da UFPB. Nestas incursões experimentais, amparadas no seu largo
conhecimento e prática do ensino, durante a primeira disciplina de projeto, os alunos
eram introduzidos à tarefa da concepção arquitetural por meio de uma abordagem que
os faziam refletir sobre a estrutura arquitetônica como “entrada” para o
desenvolvimento de projetos de grande porte, tais como ginásios poliesportivos
(Figuras 05 e 06).
Figuras 05 e 06 – Resultados projetuais alcançados na experiência realizada pelo professor Helio Costa Lima, na disciplina Projeto de edificação I, do CAU/ UFPB.
Fonte: MARQUES, F., LARA, F. (2003).
46
Ao desenvolver esta atividade, a intenção do professor era de subverter a lógica
costumeira de iniciação dos alunos pela forma ou pela função, incitando um
pensamento projetual mais abrangente, com o input pela estrutura arquitetônica, o
que poderia ser capaz de minimizar a fragmentação de saberes que é apontada em
seu discurso.
Nesse sentido, a crítica que faço à fragmentação da Tríade de Vitrúvio é que ela é decomposição de fundamentos e não decomposição de saberes em conteúdos didáticos. E como tal, ela dificulta a realização, pelo estudante, da recomposição dos fragmentos didáticos em um savoir-faire arquitetônico. (...). Essa dissolução estimula um raciocínio compartimentado, que prejudica a visão da integralidade da mecânica projetual arquitetônica e, fatalmente, conduz à adoção de procedimentos de projetos viciados e distorcidos (COSTA LIMA, 2003, p.86).
Vê-se que Costa Lima trata de vícios e distorções presentes no ensino de
projeto que, de acordo com as suas palavras, se estendem à vida profissional,
afetando a qualidade da produção arquitetônica contemporânea. Para o autor, a
fragmentação dos conteúdos no ensino de arquitetura seria a principal responsável
por essa situação (COSTA LIMA, 2003).
Em artigo publicado no II ENANPARQ, no ano de 2012, Costa Lima sugere
reintegrar a perspectiva da tectônica nos cursos de graduação e de pós-graduação
em AU, sem advogar uma volta ao passado e às relações mestre-aprendiz; assim,
para o autor é essencial “evocar os vínculos da arquitetura, e, por conseguinte, da
concepção arquitetônica com o conhecimento dos mecanismos de materialização do
artefato arquitetônico” (COSTA LIMA, 2012, p.4).
Este mesmo autor indica uma renovação das estruturas curriculares para
resgatar a importância dessa abordagem, que se for
devidamente conduzida, dentro de estruturas curriculares que favoreçam a germinação de uma Cultura Tectônica nos cursos de arquitetura, pode conduzir a uma superação dos problemas atuais, na medida em que significa um espaço de conciliação, e não de conflito, entre Venustas e Firmitas (COSTA LIMA, 2012, p.09).
Sob esta mesma interpretação, o professor Andrea Deplazes, do Instituto
Federal de Tecnologia de Zurique12, elaborou um manual voltado para os estudantes
12 Interessante notar que essa Instituição onde leciona o professor Andrea Deplazes foi fundada pelo arquiteto e teórico Gottfried Semper.
47
de arquitetura. A sua obra: Construir la arquitectura: del material en bruto al edificio13
faz menção à abordagem tectônica como apresentada por Frampton e revaloriza o
discurso por ele retomado. Para Deplazes (2010), importa compreender as relações
que se dão entre os diferentes fragmentos que ordenam um volume arquitetônico e
são arranjados em três eixos fundamentais, os quais denomina de tipologia, tectônica
e topologia (Figura 07).
Figura 07 – Partes que configuram os processos de desenvolvimento formal.
Fonte: DEPLAZES, 2010.
De acordo com o esquema apresentado pelo autor, esses fatores são
complementares, se condicionam e se influenciam no decorrer da concepção
projetual. É nesse ínterim, segundo Deplazes, que se dá a passagem da obra
construída para a arquitetura. O seu objetivo, que é semelhante ao de Rebello (2000),
é oferecer subsídios que não se amparem apenas em orientações técnicas, pois
pretende centrar a mirada do estudante nos aspectos da construção que geram um
significado arquitetônico. Deste modo, mescla informações técnicas sobre os
materiais junto a exemplos de arquitetura construída, com obras de arquitetos
cultuados como Wright, Khan e Philip Johnson.
13 Ainda sem edição em língua portuguesa, foi lançada em 2005 originalmente em alemão e, posteriormente, traduzida para o espanhol em 2010 pela editora Gustavo Gili.
48
Estes exemplos, segundo Deplazes (2010), constituem um material
complementar que possibilita a geração de reflexões sobre como uma ideia
construtiva se converte em arquitetura. Nota-se, nessa empreitada de mais de
quinhentas páginas, uma tentativa de distinguir a arquitetura através também de um
olhar poético, o que foi proposto por Frampton, em seus textos sobre a tectônica.
Já o trabalho do arquiteto chileno Cristian Fernández Cox, com a sua obra El
orden complejo de la Teoria básica del proceso proyectual, apresenta um modelo
gráfico que expressa o processo projetual visto através de uma analogia sistêmica
ampliada, formada por quatro subsistemas imersos no contexto que o condiciona. O
autor apresenta um modelo gráfico que denomina como Ordem-complexo em
arquitetura (Figura 08).
Figura 08 – Modelo do sistema de processo de projeto proposto por Fernandez Cox.
Fonte: COX, 2005.
O seu esquema apresenta dois sistemas associados. É composto por cinco
dimensões primárias, presentes em todo problema arquitetônico: forma, uso,
significado e técnica, inseridos em um sobre sistema denominado de contexto. Este,
por sua vez, é condicionado por quatro aspectos: morfológicos, técnicos, civilizatórios
e culturais.
De acordo com Fernandez Cox (2005):
1- Todas as dimensões interatuam com todas. Por exemplo, a mudança de um
material (subsistema técnica) interfere na qualidade formal da proposta;
49
2- Todas as dimensões são importantes para a o problema de projeto;
3- Em função da importância que deve ser conferida a todas as dimensões, o
arquiteto deve se importar com todas;
4- Pode existir uma hierarquia quanto as dimensões. Por exemplo, no projeto de
uma fábrica, a função tende a ser mais importante que a aparência.
Estes múltiplos fragmentos, a organização sistêmica e, sobretudo, as
dimensões que podem apresentar um grau de atuação maior ou menor, de acordo
com o projeto, são ratificados na teoria construída por Boudon et al. (2001). Na teoria
da Arquiteturologia, são apresentadas as escalas atuantes no processo de elaboração
do projeto que, segundo Boudon, são variáveis que funcionam como operações que
conferem medidas, de acordo com pertinências específicas, capazes de guiar as
decisões projetuais. Isso quer dizer que, de acordo com as exigências, condições ou
fatos que condicionam a elaboração da proposta, as definições das escalas entrarão
em ação no processo de projetação para conferir as medidas que os projetistas julgam
adequadas ao projeto. Por exemplo, se for necessário trabalhar com aspectos
simbólicos em determinada proposta, a escala simbólica será atuante. Se a
preocupação com a implantação da edificação é fundamental, seja para associar ao
contexto ou para negá-lo, as escalas de vizinhança, parcelamento ou geográfica
estarão presentes, de uma maneira ou de outra, na elaboração da proposta.
Deste modo, o mesmo ocorre com a atuação da escala que os autores
denominam de Escala Técnica. Esta faz uso das considerações de ordem técnica
para induzir a uma modalidade de atribuição de medidas a uma parte ou ao todo
arquitetônico (Boudon et al., 2001). Vê-se a importância conferida à questão pelos
autores, quando apresentam em alguns exercícios de análise de projetos, a
solicitação da identificação da atuação dessa escala em projetos construídos e, nos
exercícios de concepção propostos aos alunos, a referência quanto à necessidade da
sua utilização para a resolução de problemas propostos.
Não relacionado ao ensino do projeto, mas em pesquisa sobre o ensino em
Arquitetura e Urbanismo, merece destaque a tese elaborada pela professora e
pesquisadora Maria Amélia Devitte D’Azevedo Ferreira Leite (2005), que busca
investigar a aprendizagem tecnológica do arquiteto no ambiente acadêmico.
Desenvolve, inicialmente, uma retrospectiva e análise histórica da formação em
Arquitetura e Urbanismo e das relações existentes entre os conteúdos que a
50
compuseram desde a sua instituição no Brasil. Segundo a autora, a análise dos dados
demonstra a existência de relações intrínsecas entre o ideário sobre a profissão e o
padrão de formação, as quais definiram e ainda mantém uma desvalorização da
formação tecnológica, frente à formação teórica e projetual.
A verificação da inexistência de um ensino verdadeiramente tecnológico em
Arquitetura e Urbanismo faz com que a autora o considere proto-tecnológico.
Segundo Leite (2005), isso se deve ao fato das concepções curriculares adotadas se
caracterizarem por conteúdos fragmentados e com alta abstração, em função do
comportamento didático-pedagógico, que valoriza a acumulação de conhecimentos e
a sua reprodução, além da ausência de contato dos alunos com a realidade.
Relacionados a estes aspectos, a pesquisa aponta dois fatores críticos.
Inicialmente, o despreparo dos profissionais que migram do mercado de trabalho para
o ambiente da sala de aula, sem haver passado por um processo de formação voltado
para a prática do ensino. O outro fator é um entendimento presente nas concepções
dos currículos, que aponta que “a finalidade do arquiteto é a de elaborar o projeto
arquitetônico e não a obra arquitetônica” (LEITE, 2005, p. 18).
É interessante notar a sutileza entre os significados dos termos apontados
nessa afirmação, que também se associam as palavras proferidas por Helio Piñon,
quando diz que “devido à valorização do imagético e da metáfora na arquitetura atual,
essa passou do entendimento da representação da construção para a materialização
de um conceito” (PIÑON, 2012. p.44).
Em sua pesquisa, realizada no período de 2001 a 2005, Leite desenvolveu
experiências didáticas em disciplinas 14 que fazem parte do quadro do curso de
Arquitetura e Urbanismo da PUC/Campinas, onde leciona, buscando avaliar “a
eficácia de determinados pressupostos metodológicos e práticos voltados à formação
tecnológica do arquiteto” (2005, p. 23). Nestas disciplinas, realizou atividades
diversas, inicialmente de cunho teórico- conceitual para, em outra etapa, envolver os
alunos em atividades práticas e reflexivas, como análises de projetos construídos,
com a construção de suas maquetes em escala reduzida pelos próprios discentes. Em
outra componente curricular, tendo em vista a necessidade de aprofundar as questões
referentes à produção industrial, realizou, em conjunto com as turmas, o projeto e o
planejamento para a confecção de elementos estruturais (vigas, pórticos, contenções
14 Disciplinas ministradas pela professora em conjunto com outros docentes onde foram realizadas as experiências: Industrialização da construção e Sistemas estruturais para arquitetura I.
51
e escadas), com o objetivo de promover o enfrentamento de todos os aspectos que
estão presentes no processo de pré-fabricação e que fazem parte da realidade da
construção contemporânea. A análise das experiências didáticas gerou a constatação
de que a materialização dos objetos arquitetônicos, concebidos intelectualmente,
implica no enfrentamento da realidade em todas as suas vertentes: recursos físicos,
materiais, econômicos e temporais (LEITE, 2005).
Segundo Leite, a partir destas atividades, foi possível refletir sobre as diversas
formas de solucionar o problema, sobre os materiais e o desempenho próprio de cada
um, além do planejamento para a execução e a aproximação com a realidade da
construção, através do estabelecimento do contato com fornecedores, custos de
execução, alcance de metas de produção e a instituição de comparativos entre os
produtos desenvolvidos.
Ao fim de cada experiência, a autora relata que foi realizada uma avaliação da
disciplina, conferindo importância à percepção dos discentes envolvidos, suas críticas
e sugestões. Para checar a hipótese sobre os procedimentos didáticos e o grau de
aproveitamento do conhecimento, foram aplicados questionários junto aos alunos e
também com os professores de disciplinas posteriores (do ano seguinte), para
identificar alguma mudança no perfil do aluno que passou por estas experiências. Os
resultados demonstraram a eficácia do trabalho desenvolvido, tendo colaborado no
aprendizado dos futuros arquitetos.
Além desta tese, sabemos de outras que também já abordaram um aspecto
muito importante do elo arquitetura e tecnologia como a relação entre a estrutura e a
arquitetura. Uma delas é a que foi desenvolvida por Yopanan Rebello (1999). Este
autor detectou as dificuldades dos alunos em compreender o funcionamento das
estruturas e as abordagens pouco didáticas presentes na literatura técnica sobre o
tema, “comprometidas pela escassez de procedimentos que pudessem servir de apoio
para uma melhor compreensão do assunto sem, no entanto, perder de vista as suas
relações com a concepção arquitetônica” (REBELLO, 2000, p. 16). Com o objetivo de
promover um entendimento mais qualitativo dos assuntos relativos às estruturas
inseridas no processo de projeto, Rebello publicou, a partir do ano 2000, livros que
tratam dessa temática, com destaque para A concepção estrutural e a arquitetura
(2000) e Bases para projeto estrutural na arquitetura (2007).
Mais recentemente, pesquisas em desenvolvimento, como a de Saramago
(2012), reafirmam este estranhamento entre o que se entende por concepção
52
arquitetônica e a resolução tecnológica – estrutural. Tal fato, como no caso do ensino
de tecnologia da construção, implica na constatação de que “se houverem deficiências
no seu processo educativo, esses profissionais ficam comprometidos de exercer
plenamente a sua prática” (SARAMAGO, 2012, p.02).
Deve-se lembrar de que as decisões tecnológicas vão além do essencial
sistema estrutural, envolvendo aspectos relativos às vedações, materiais de
acabamento, orçamento, gestão e qualidade do projeto e de sua execução. Isso quer
dizer que existe um conjunto abrangente de informações e que estas noções precisam
ser vistas em sala de aula e integradas ao ensino de projeto e, até mesmo, de outras
disciplinas que compõem a estrutura curricular do curso, como as da área de teoria e
história da arquitetura. Isso porque acredita-se que seja importante que, em conteúdos
que apontem a evolução arquitetônica e apresentem soluções consagradas e ícones
de diversas fases da história da arquitetura possam ser discutidas questões
associadas às técnicas utilizadas e como o seu emprego repercutiu nessas obras,
além de como puderam colaborar para a formação da sociedade.
A partir de coletas de dados sobre teses, dissertações e outras produções
científicas no Brasil e no exterior, pode-se afirmar que a temática tecnologia na
arquitetura e sua relação com o ensino vêm sendo muito pesquisada. No entanto, o
foco é maior para as ferramentas de projetação e de representação arquitetônica,
sendo pouco recorrente esta relação com as tecnologias da construção e a concepção
arquitetural. Talvez isso se deva à notória evolução nos modos de produzir o projeto
nas últimas décadas por meio de tecnologias auxiliadas por computador, o que tem
suscitado muitas investigações e colocado essa temática como de maior interesse
para os pesquisadores.
Fazendo uso de palavras-chave (tais como construção, tecnologia, tecnologia
da construção e tectônica), foi realizada uma pesquisa nos anais dos Seminários
Projetar (2003 a 2015), por meio do banco de dados do Grupo Projetar/UFRN
(PROJEDATA). Deste modo, foram identificados trinta e um trabalhos que abordam a
relação entre o projeto, o ensino e as questões construtivas.
Os dados coletados apontaram para uma variação no número dos artigos que
abordam o tema dos processos de ensino-aprendizagem de projeto e a relação com
o conteúdo tecnológico-construtivo durante as sete edições do evento já realizadas
(Figura 09). Esta oscilação, identificada na produção científica dos seminários, é
influenciada pela temática principal, que também é variável em cada edição. Por
53
exemplo, na edição realizada em 2007, em Porto Alegre, quando o seminário foi
realizado em conjunto com o VII DOCOMOMO Brasil, apenas um trabalho foi
identificado como relevante para esta investigação, por tratar da relação projeto e a
linguagem dos materiais (HEIDTMANN, D., AFONSO, S.,2007).
Figura 09 – Variação do número de artigos que abordam a relação projeto, ensino e questões construtivas nas sete edições do Seminário Projetar.
Fonte: Elaborado pelo autor, a partir de dados coletados em pesquisa nos anais dos Seminários Projetar (2003-2015)
Esta produção foi agrupada em cinco categorias: (1) ensaio/crítica; (2)
materiais; (3) experiências de ensino; (4) análise de obras e (5) pesquisas na produção
discente (Figura 10).
Figura 10 – Temas dos artigos identificados nos anais do Projetar (2003-2015).
Fonte: Elaborado pelo autor, a partir de dados coletados em pesquisa nos anais dos Seminários Projetar (2003-2015).
23%
10%
48%
13%
6%Ensaio/crítica
Materiais
Experiências deensino
Análise de obras
Pesquisa
0
2
4
6
8
10
12
2003 2005 2007 2009 2011 2013 2015
54
O maior número destes trabalhos diz respeito a quinze artigos que relatam e
analisam experiências de ensino, com diversos estudos de caso realizados em sala
de aula 15 . Relatam experiências didáticas, como a construção de módulos ou
mockups16 e modelos físicos e atividades em canteiros experimentais (MEIRELLES,
C. et al., 2009; IMBRONITO, M.I. et al., 2015; MODLER, N. et al., 2013, entre outros).
Sete publicações pretendem, em formato de ensaio crítico, refletir sobre a
necessidade de renovar o ensino, apresentando possibilidades que promovam uma
melhor integração entre o projeto e as questões construtivas (FOLZ, R. et al., 2005;
VILLÀ, J. et al., 2009; PISANI, M.A.J. et al., 2009, entre outros). Os outros nove artigos
identificados apresentaram análises de projetos e obras construídas (quatro
ocorrências), estudos sobre a linguagem da madeira como material construtivo (três
ocorrências) e apenas dois trabalhos trataram de análises de trabalhos finais de
graduação.
Foi observado que existem diversos trabalhos científicos voltados para a
relação entre forma e a estrutura portante ou, ainda, relacionadas às envoltórias das
edificações (SQUIRES, 2008; BORSATO, 2009; OBATA, 2010 etc.). Estas pesquisas,
em princípio, estudam os elementos isolados inseridos na lógica do processo de
projeto, entretanto, não tratam dessa relação a partir de uma análise holística do
fazer/aprender/projetar arquitetura, inseridas no processo pedagógico.
As teses, livros e artigos que abordam esta relação entre projeto e tecnologia,
quando o fazem, reafirmam os problemas evidenciados há décadas. É o caso do artigo
desenvolvido por Costa Lima (2012). O autor cita que, em sua experiência prática na
docência, tem observado que o principal problema apresentado pelos estudantes
diz respeito à dificuldade de explorar a energia expressiva da construção. Persiste uma nítida desarticulação entre o pensar a forma e o pensar a técnica, que denuncia um vácuo de conhecimento em tectônica. Este fenômeno não é isolado e tem clara determinação histórica: ele é fruto da prevalência do discurso sobre a experimentação (...) (COSTA LIMA, 2012, p.07).
Observação semelhante é realizada por Teixeira (2005) em sua tese sobre
integração de conteúdos no ensino de arquitetura:
15 Resultado semelhante ao apontado por Kowaltowski (2015) em pesquisa no periódico Design Studies, como apresentado anteriormente. 16 Molde para teste em tamanho natural feito de madeira, papelão ou outro material com a finalidade de experimentar, ou seja, saber onde são os pontos fracos e fortes em uma ideia, um projeto.
55
Uma situação recorrente diz respeito à insistência com que a elaboração do projeto de arquitetura, durante a formação, continua separada de sua materialização, tratada - se diria, à primeira vista, “pelos alunos” – muito mais como uma questão plástica, meramente formal, independente da caracterização física, material e construtiva do objeto, sem a preocupação, ou com grandes dificuldades, em relação à sua própria existência, à sua viabilidade (TEIXEIRA, 2005, p.36).
Um ano antes, Vidigal (2004, p.72), em sua pesquisa sobre o ensino nas
escolas de arquitetura e urbanismo de Curitiba, diz que “(...) o maior problema do
ensino de arquitetura, no entanto, para 65% dos professores, é o distanciamento entre
as disciplinas das áreas teórica e tecnológica e o ensino de projeto”.
Em pesquisa desenvolvida pelo grupo PROJETAR da UFRN entre 2006 e
2008, em dados oriundos de 210 trabalhos finais de graduação realizados por
discentes de Arquitetura e Urbanismo de nove instituições de ensino no Brasil,
verificou-se que
No que se refere aos aspectos construtivos, apurou-se que 51% das propostas são desenvolvidas em vários blocos e 61,5 % tem de 1 a 3 pavimentos. Dentre as técnicas construtivas utilizadas, uma parte significativa dos trabalhos emprega o concreto armado (27,5%) e outra utiliza técnicas construtivas diversificadas (25%). Deve-se mencionar que 27% dos autores não indicaram os materiais construtivos utilizados, nem nas pranchas nem nos textos dos produtos finais, o que, novamente, caracteriza uma não preocupação com a definição da obra, o que nos remete a uma futura discussão relativa a essa etapa do curso (VELOSO, 2011, p.53).
Esta constatação é reafirmada por Arcipreste (2012) em sua tese, que trata da
análise de trabalhos finais de curso em seis instituições de ensino de arquitetura e
urbanismo das cidades de São Paulo e Belo Horizonte, confirmando a deficiência
quanto aos aspectos tecnológicos nos projetos analisados. De acordo com a sua
pesquisa, mesmo aqueles trabalhos que focaram nessas dimensões denotaram um
desequilíbrio na consideração dos aspectos técnicos e da materialidade, pois ainda
que a relação forma/estrutura tenha sido explorada plasticamente em vários projetos,
poucos enfocaram suas possibilidades e condições efetivas de viabilidade para
execução. Segundo a autora, por diversas razões, as questões de ordem técnica têm
sido pouco trabalhadas de maneira reflexiva e investigativa no TFG e “esse
detalhamento é frequentemente tratado de maneira burocrática pelos estudantes e
pouco considerado efetivamente na avaliação dos trabalhos” (ARCIPRESTE, 2012, p.
181).
56
Aqui, a autora apresenta uma situação chave e crítica. Observa-se que, além
da postura discente, a etapa de análise das qualidades, que faz parte do processo
avaliativo uma das etapas pedagógicas do ensino-aprendizagem de fundamental
importância para o processo, parece desconsiderar ou preterir a apreciação deste
conteúdo.
É fazendo uso da tese de Leite (2005) que Claudia Arcipreste apresenta
algumas razões para esse problema no ensino, refletido na produção dos trabalhos
de conclusão de curso por ela estudados:
(...) a deficiência de formação do arquiteto na área tecnológica, motivada, principalmente, pelos padrões curriculares adotados, que, entre outros aspectos, são desprovidos de metas de aprendizagem claras; restringem-se a trabalhar a concepção formal, em detrimento à resolução global do objeto arquitetônico; e apresentam resistência à revisão dos paradigmas estruturadores das concepções curriculares, em especial no campo tecnológico (LEITE, 2005, p.301 apud ARCIPRESTE, 2012).
O texto extraído de um artigo publicado por Costa Lima (2011), durante o V
Seminário Projetar, complementa esse fator apresentado anteriormente.
A própria divisão do ensino de arquitetura nas três já tradicionais “áreas de conhecimento” – Teoria, Projeto e Tecnologia – reflete um quadro de banimento da razão construtiva do âmbito teórico, e, ainda mais grave, do âmbito projetual. A expressão “lançar a estrutura” - hoje muito utilizada no meio acadêmico, e já generalizada no meio profissional, para se referir à concepção estrutural como uma etapa de projeto posterior à concepção da arquitetura, e alienada ao engenheiro – testemunha uma persistente desarticulação entre o pensar a forma e o pensar a técnica em arquitetura (COSTA LIMA, 2011, p.7).
Esta provocação encontra-se também nas palavras de Verde Zein (2003),
quando esta se refere à existência de uma ilusão quanto às tradicionais estruturas
curriculares que são organizadas de maneira fragmentada e segmentadas por áreas
de conhecimento, ou ainda departamentalizadas, para empregar o termo utilizado pela
autora. Segundo Verde Zein (2003, p. 83) “urge também propor que, cada vez mais,
as disciplinas “teóricas” e “técnicas” sejam transformadas, igualmente, em atividades
teórico-práticas”.
A partir deste panorama, a tese de Ronconi (2002) sobre a Inserção
do canteiro experimental nas Faculdades de Arquitetura e Urbanismo e a dissertação
de mestrado de Minto (2009), sobre a experimentação da prática construtiva na
57
formação do arquiteto, colaboram com a apresentação de uma proposta de
aproximação do estudante da realidade prática do ofício. Ambos caracterizam o
canteiro e a experimentação, que lhe é típica, como um espaço de ações privilegiadas
para formar aspectos importantes do arquiteto e urbanista em desenvolvimento.
Contudo, segundo Minto (2009, p.20) “esse instrumento didático e de grande potencial
reflexivo quando existente é, na grande maioria das instituições, trabalhado de
maneira muito isolada em relação ao restante do curso”.
Também preocupada com essa relação projeto-canteiro, a dissertação de
Tsukumo (2009) levanta um aspecto pouco explorado no ambiente acadêmico: o
projeto da obra ou o conjunto de informações (principalmente composto por
desenhos), que vão para o canteiro de obras até a direção aos operários. Tsukumo
analisa alguns projetos de habitação multifamiliar na cidade de São Paulo e
acompanha a execução dessas obras, apoiando-se em entrevistas com os arquitetos
responsáveis, engenheiros e operários envolvidos para tecer algumas conclusões.
Dentre estas, destaca-se a percepção de uma dicotomia entre o desenho e o canteiro,
“com a preponderância de um sobre o outro, fruto do processo histórico de separação
entre quem concebe e quem executa as obras em instâncias distintas” (TSUKUMO,
2009, p.199).
Neste caso, a autora não faz relação com o processo de ensino de projeto e a
necessidade de articulação de conhecimentos de representação junto ao
conhecimento das tecnologias construtivas e o planejamento de obra. Como seu
universo é o da prática profissional, suas análises estão direcionadas para este meio.
No entanto, suas observações reverberam e alcançam o processo de formação do
arquiteto contemporâneo, constituindo-se como mais um alerta para discussão.
Se consideramos a evolução atual das tecnologias, principalmente
relacionadas às da computação e da informação e a sua aplicação direta na indústria
da engenharia, arquitetura e construção (EAC), veremos que os encaminhamentos
decorrentes da adoção da tecnologia BIM (Building Information Modeling), da
parametrização, das formas geométricas complexas e da produção file-to-factory,
onde os arquivos do projeto informam diretamente às máquinas de usinagem para
produção, esse cenário passa a ser ampliado em grau de complexidade.
Segundo Tramontano (2016), é “muito provável que estejamos assistindo, no
Brasil e no mundo, a uma lenta, mas irreversível alteração nos processos produtivos
da construção” (TRAMONTANO, 2016, p.4). Atualmente, o que pode um dia ter sido
58
considerado como perspectiva começa a se tornar palpável. São diversos os
exemplos de edificações que fazem uso dessas novas tecnologias para a concepção
do projeto. É o caso do Harpa Concert Hall, projetado pelo escritório
Henning Larsen Architects com a participação do artista Eliasson Olafur, localizado
em Reykjavik, capital da Islândia ou do Metropol Parasol de Sevilha, de autoria do
arquiteto alemão Jürgen Mayer-Hermann (Figuras 11 e 12).
Figura 11 – Fachada do Harpa Concert Hall.
Fonte: FERNANDES, 2017.
Figura 12 – Visão de conjunto do Metropol Parasol.
Fonte: Fotografia do autor, 2015.
Em ambos os casos, a adoção destas tecnologias foi incorporada no processo
de projeto e de execução, tanto dos módulos criados pelo artista finlandês, quanto das
mais de três mil peças em madeira micro laminadas necessárias para materializar a
obra espanhola.
Esta transformação em curso, que é geradora de novas demandas, mais cedo
ou mais tarde, solicitará dos arquitetos uma mudança na maneira de conceber o
projeto, passando a exigir um maior conhecimento das tecnologias e dos modos de
produção.
Diante deste cenário, vê-se a necessidade de engendrar respostas aos
desafios que se desenham na atualidade que, como cita Costa Lima (2011, p.10),
59
“pede uma renovação das teorias e práticas do projeto, no sentido da recondução da
razão construtiva para o núcleo do processo projetual, como co-determinante
privilegiada da forma arquitetônica”.
Considerações sobre o capítulo.
Este capítulo buscou tratar do ensino de projeto, apontando as relações com a
aplicação do conteúdo tecnológico-construtivo na prática acadêmica. Por meio da
associação de dados provenientes de várias pesquisas desenvolvidas no Brasil e no
exterior, aprofundou a problemática apontada há décadas quanto ao afastamento
entre o projeto e o conteúdo tecnológico-construtivo na formação do Arquiteto e
Urbanista. Tal resultado é detectado em pesquisas que investigaram a integração de
conteúdos em outros temas, como os conteúdos analisados em trabalhos de
conclusão de curso.
Foram pontuadas investigações, experiências e práticas com fins didáticos, que
pretenderam gerar maior reflexão no âmbito do processo projetual e no planejamento
de soluções e de procedimentos relacionados ao que se considera o eixo principal
dos cursos de Arquitetura: o projeto do edifício.
Inicialmente, o trabalho desenvolvido por Schön (2000) se configurou como
uma referência primordial para a pesquisa in loco desenvolvida, tendo em vista a
adoção de um método de coleta de dados, que se baseou em observações
estruturadas. Como será visto no capítulo seguinte, será considerado o seu método
de investigação, baseado em observações das atividades que se realizaram no
laboratório de projeto e, ainda, o conceito apresentado por este autor quanto à prática-
reflexiva inerente ao ato de projetar.
A tese fez uso da contribuição de Bryan Lawson (2011) e de Vries e Wagter
(1989), por meio dos seus estudos sobre os métodos de projetação e quanto às
características próprias dessa ação intelectual. A adoção das suas classificações e
demais observações possibilitou uma melhor compreensão das ações projetuais
analisadas. Soma-se a isso a teoria desenvolvida por Boudon et al. (2000); a sua
investigação de uma “ciência” da concepção arquitetônica: a Arquiteturologia, as
escalas atuantes no projeto (sobretudo a de ordem técnica) e a importância que é
conferida ao processo projetual, a representação gráfica dos croquis de estudo, de
60
diagramas e também dos discursos dos projetistas quando tratam do processo de
elaboração da proposta arquitetônica.
Além disso, a tese se apoiou em exemplos de experiências e procedimentos
didáticos, por meio de atividades e exercícios que focam em aspectos como análises
de processos projetuais e de soluções arquitetônicas presentes em disciplinas de
projeto ou ligadas ao conteúdo tecnológico, como apresentados em Boudon et al
(2001), Pinto (2007) e Piñon (1998). Essas experiências colaboraram para a reflexão
e o desenvolvimento de procedimentos similares aplicados em experiências no ensino
do projeto, onde se estimulou a reflexão crítica, a integração e o rebatimento dos
conhecimentos tecnológicos no processo projetual.
Vê-se que ainda há um rico debate a ser aprofundado e que dele podem surgir
novos direcionamentos e até mesmo outros questionamentos sobre esta tensão
existente entre instruir e construir, seja o conhecimento, o projeto ou, ainda, o edifício
em si.
61
2. AÇÕES, MÉTODOS E UNIVERSO DA PESQUISA
Este capítulo tem como objetivo apresentar os procedimentos metodológicos
desenvolvidos e caracterizar o universo de estudo da pesquisa. De modo geral, a
investigação desenvolveu-se em dois âmbitos: o primeiro é referente à coleta de
dados secundários em documentos oficiais das instituições que compõem o universo
de estudo e o segundo âmbito faz alusão aos estudos de caso, onde se realizaram in
loco investigações e coletas de dados primários in loco.
Inicialmente, é importante declarar que, desde o delineamento do projeto de
tese, pretendia-se pesquisar o curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade
Federal do Rio Grande do Norte, não apenas pelo vínculo existente entre o
pesquisador e a instituição, como também pelo fato de haver um reconhecimento
nacional através das instâncias e órgãos de avaliação do ensino superior que apontam
a qualidade do ensino oferecido pelo CAU-UFRN17
Entretanto, visando traçar um retrato mais amplo do ensino de arquitetura e
urbanismo no Brasil, não amparado apenas em avaliações oficiais, foi proposta uma
pesquisa apenas em nível documental (secundário) de outros cursos de arquitetura e
urbanismo, cujo resultado não esgotaria uma futura análise mais aprofundada, porém,
seria capaz de posicionar o exemplo potiguar inserido em um quadro comparativo
mais restrito, tanto em número de cursos quanto em relação à pesquisa, ao ensino de
projeto e à relação com o conteúdo tecnológico-construtivo.
Em síntese, as ações metodológicas da pesquisa contemplaram
essencialmente cinco etapas: i) Pesquisa e estudo de referências bibliográficas; ii)
Coleta de dados sobre o ensino do conteúdo tecnológico em cursos de AU no país e
em Instituição no exterior.; iii) Realização de experiências didáticas para teste de
hipótese; iv) Análise dos dados obtidos e v) Redação da tese.
Nível de abordagem I: coleta e análise de dados secundários
O primeiro nível de abordagem da investigação diz respeito à fase da pesquisa
documental, cuja coleta de informações visou a caracterizar uma amostra de cursos
17 Como por exemplo, em matéria disponível em página web do Centro de tecnologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte: http://www.ct.ufrn.br/mec-avalia-curso-de-arquitetura-e-urbanismo-como-o-melhor-do-pais/ Acesso em 25 dez. 2015.
62
superiores de Arquitetura e Urbanismo no Brasil, através da análise das suas
estruturas curriculares, com o foco da investigação direcionado para o conteúdo
relacionado às tecnologias da construção, os seus posicionamentos/ papéis que
representam e a existência de temáticas relacionadas nas ementas das disciplinas de
projeto de arquitetura. Para tanto, foram analisadas as estruturas curriculares e os
documentos oficiais que tratam de doze cursos selecionados para o estudo.
Para o desenvolvimento deste nível da análise, foi observado como os
conteúdos estão organizados nos currículos e como são distribuídos segundo os
períodos de realização da graduação. Foi possível elaborar uma caracterização das
disciplinas, em termos de oferta de conteúdos teóricos e práticos, visando a
identificação do que vem sendo abordado nos cursos. Neste momento, as
informações disponíveis através dos documentos oficiais das Instituições como as
estruturas curriculares, projetos pedagógicos, ementas e programas das disciplinas
se configuraram como dados essenciais para a realização das análises.
Com isso, os dados foram sistematizados em uma ficha (Apêndice 01 – Ficha
01), a fim de auxiliar o processo de análise deste nível da coleta de dados. Este
instrumento organizou a identificação de aspectos como a carga horária total dos
cursos, das disciplinas da área de tecnologia da construção e de projeto de
arquitetura. Além disso, reuniu as informações presentes nas ementas quanto aos
conteúdos e objetivos das disciplinas de projeto e as relações explícitas nos temas e
exercícios propostos quanto aos assuntos relacionados às questões construtivas.
A pesquisa documental ainda investigou a existência de ambientes de apoio,
tais como laboratórios, oficinas e canteiros experimentais, tendo em vista que são
espaços importantes e que se caracterizam como apoio didático para a formação dos
estudantes. Estes dados também foram organizados neste primeiro instrumento.
Outro aspecto averiguado para a delimitação do universo de estudo foi a
atuação dos programas de pós-graduação existentes nessas instituições, com a
identificação das suas áreas de concentração, linhas de pesquisa quanto à relação
projeto e o conteúdo tecnológico-construtivo.
Esta etapa da pesquisa possibilitou traçar um retrato específico, apresentando
com maiores detalhes as instituições selecionadas e respaldou a seleção inicial do
CAU-UFRN para o desenvolvimento do segundo nível de abordagem da investigação.
A partir desta caracterização, foi também possível, orientar a seleção de um curso
estrangeiro, com o objetivo de desenvolver uma pesquisa de coleta de dados
63
primários, capaz de servir como contraponto à discussão sobre o ensino e as práticas
projetuais no atelier educacional de projeto de arquitetura no curso da UFRN.
Nível de abordagem II: coleta e análise de dados primários
O segundo nível de abordagem da pesquisa tratou da coleta e análise de dados
primários, ou seja, das informações reunidas por meio das práticas de investigação
desenvolvidas em salas de aula dos ateliers de ensino de projeto arquitetônico. Esta
fase pode ser dividida em duas etapas.
Enquanto a primeira tratou do acompanhamento de dois ateliers de ensino de
projeto de arquitetura para o aprofundamento da investigação por meio de estudos de
caso, a segunda etapa refere-se a dois experimentos didáticos relacionados aos
processos de ensino e de concepção projetual. Ambos os procedimentos inseriram o
pesquisador no ambiente da sala de aula para realizar observações in loco. A primeira
etapa foi baseada em observações estruturadas e sem a participação do pesquisador
nos processos de ensino-aprendizagem, ao passo que a segunda fez uso de
observações estruturadas e participativas, tendo em vista que o pesquisador atuou na
condução das atividades e no processo de ensino-aprendizagem em sala de aula.
Para investigar o encaminhamento das atividades, foram utilizados dois
modelos de fichas preenchidas pelo próprio pesquisador. No primeiro (Apêndice 02 –
Ficha 02), uma tabela indicava aspectos ligados às fases construtivas que deveriam
ser observadas no processo de projeto e as datas em que essas questões foram
abordadas pelo aluno. Buscou-se, com isso, monitorar o desenvolvimento da proposta
e o percurso projetual, apontando o momento em que as ações foram tomadas.
Mesmo que tenha sido realizado por um aluno ou por um grupo, cada projeto possuía
sua própria ficha, a fim de identificar, em cada caso, as “entradas” tecnológicas no
processo projetual. Esta tabela foi complementada pelo segundo modelo de ficha, que
buscava identificar os itens abordados no instrumento anterior, detalhando melhor tais
aspectos na análise do produto final (Apêndice 03– Ficha 03).
O uso destes instrumentos fez-se necessário para compreender o processo de
concepção projetual e a lógica das ideias e soluções de projeto que são realizadas e
comunicadas por meio da representação gráfica dos croquis, esboços e diagramas,
entre outras técnicas.
64
Autores como Boudon (2001) e Schenk (2010) recomendam e incentivam esta
associação complementar entre discurso e representação, para proporcionar uma
compreensão mais abrangente do processo de concepção arquitetural. Esta
necessidade de associar o discurso presente tanto nos textos quanto nos desenhos
foi considerada fundamental para extrair maiores informações, sendo capaz de gerar
uma análise mais qualitativa sobre as tomadas de decisão dos alunos.
Por fim, esta etapa de coleta de dados foi complementada pela aplicação de
dois tipos de formulário (com perguntas fechadas e abertas), direcionados aos
professores envolvidos (de projeto de arquitetura) e a todos os alunos inseridos na
pesquisa do atelier de projeto. Estes instrumentos (Apêndices 04 e 05 – Formulários
01 e 02) tem o objetivo de identificar a percepção dos envolvidos quanto às questões
de projeto, ensino e os aspectos abordados nessa tese. Foram aplicados com os
professores no início da pesquisa in loco e com os alunos ao fim da coleta de dados,
evitando, desta forma, influenciar nos processos de projetação.
O formulário aplicado ao professor de projeto das disciplinas observadas
(Formulário 01) objetivou elucidar fatos relacionados às práticas desenvolvidas em
sala de aula, investigando, por meio de questões abertas, o tratamento da relação
projeto/construção no processo de ensino-aprendizagem, as estratégias didáticas e,
entre outras indagações, os aspectos que são abordados junto aos alunos no
processo de concepção do projeto arquitetônico.
Em relação aos discentes, o instrumento visou a compreender melhor as suas
decisões projetuais, complementado as informações que eventualmente não estavam
evidentes nas representações gráficas ou em textos presentes em memoriais
justificativos (Formulário 02). O formulário composto por nove questões questionava
a respeito da realização de análises quanto aos sistemas construtivos, quanto ao
planejamento da obra e justificativas para as decisões relativas ao sistema estrutural,
aos tipos de vedações, de cobertura e de acabamentos.
Ao fim dessa etapa relacionada aos dados primários, foram analisadas as
informações obtidas a partir das coletas de dados. As análises aconteceram ao fim de
cada procedimento, almejando a constituição de uma reflexão crítica concomitante às
atividades realizadas. Deste modo, foi redigida, imediatamente após o fim do processo
de cada estudo de caso, uma síntese dos resultados obtidos para que,
posteriormente, fosse elaborada uma discussão final comparativa entre as IES
investigadas.
65
Experiências didáticas
Complementando esta fase de coleta de dados primários, optou-se por inserir
nos procedimentos metodológicos a construção de uma experiência didática.
A sua proposta se justificou porque, como se sabe, ao lidarmos com as
questões de planejamento de projeto, existem variadas condições ou fatores que
precisam ser integrados na resolução do problema. A resposta projetual deve atender
ao conjunto destes elementos ou à maioria deles, conforme uma escala de prioridades
atribuída pelo projetista (LAWSON, 2011). No caso dos aspectos tecnológicos, mais
especificamente os que se relacionam com a materialização da obra arquitetônica,
tais como os sistemas construtivos, deve-se a eles ser conferida uma grande
importância, tendo em vista que são decisões indissociáveis da concepção do artefato
arquitetônico, e que, assim sendo, deveriam estar presentes desde os primeiros
croquis, já interferindo em aspectos formais e também relacionados à utilização,
manutenção e vida útil da edificação (MASCARÓ, 1990). Entende-se que a
compreensão desta questão e a adoção deste pensamento reflexivo, baseado nesta
lógica, deverá promover um resultado projetual mais bem fundamentado quanto a
estes aspectos.
Inicialmente, a proposta foi realizada junto a uma disciplina optativa do
currículo do CAU/UFRN, tendo sido lecionada durante o semestre 2014.2 e com
previsão para uma segunda aplicação no ano de 2015. No entanto, em função da
pequena procura por disciplinas eletivas pelo corpo discente do curso no segundo
semestre de 2015, não foi possível realizar a segunda experiência, baseada nos
mesmos moldes, ao longo de um semestre letivo18. Deste modo, foi preciso adaptar o
conteúdo e as estratégias para desenvolver a experiência didática em um formato
concentrado de uma oficina, com quatro dias de duração, totalizando uma carga
horária de 15 horas. Ressalta-se que, apesar da limitação de tempo, foi assegurada a
essência e o objetivo da experiência, conservando o debate sobre a temática e os
principais procedimentos e exercícios. Com isso, a segunda experiência foi realizada
durante a semana acadêmica do curso de Arquitetura da Universidade Federal do Rio
18 Em 2015 o curso de Arquitetura e Urbanismo da UFRN contava com um grande percentual de estudantes participando do programa de intercâmbio Ciência sem fronteiras, o que inviabilizou a realização da disciplina optativa segundo os moldes originais.
66
Grande do Norte19 , entre os dias 19 e 22 de outubro de 2015 e contou com a
participação de estudantes advindos de três cursos de Arquitetura existentes na
cidade de Natal.
Com estas aplicações práticas, o pesquisador, inserido na prática do seu
próprio campo de investigação, teve a possibilidade de realizar uma verificação de
como se poderia melhor promover a integração de conteúdos que pudessem refletir a
discussão ora apontada por essa tese. Configuraram-se como investidas capazes de
experimentar, como docente, não um novo método de ensino, porém uma abordagem
de conteúdo que visava a associar melhor o projeto à discussão e reflexão quanto ao
planejamento construtivo, fazendo uso de conceitos que se relacionam e que podiam
ser integrados com enfoques de diferentes disciplinas, como a história e a teoria da
arquitetura.
As experiências foram avaliadas pelos participantes ao fim de suas
programações e serviram de base para análise da contribuição dessas abordagens
no processo de ensino de projeto.
O curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio
Grande do Norte
Nosso primeiro estudo de caso, o CAU-UFRN foi criado pela Resolução
CONSUNI-58/73 de 13 de agosto 1973, tendo se desmembrado do Curso de
Engenharia em maio de 1977, quando passou a fazer parte do Centro de Tecnologia.
O curso foi reconhecido pelo MEC, através do Decreto Lei n° 83208/79, datado de 28
de fevereiro de 1979 (DARQ, 2005).
Atualmente, o curso encontra-se no quinto currículo, denominado A5
(implantado em 2005) e está em discussão para implementação de nova reforma
curricular. Segundo o texto do Projeto Político Pedagógico vigente, o primeiro currículo
do CAU baseou-se nos currículos dos cursos de Arquitetura da Universidade de
Brasília e da Universidade Federal do Ceará, refletindo diretamente o momento de
seu surgimento, uma vez que:
19 A semana acadêmica do CAU-UFRN é promovida pelo Centro Acadêmico do curso e apoiada pelo Departamento de Arquitetura. Atualmente intitula-se “A Goiabeira”.
67
(i) submetia os estudantes a uma grande carga de tecnologia; (ii) era composto por muitas disciplinas isoladas, oferecidas por vários departamentos da universidade; (iii) impunha um saber compartimentado e pouco direcionado para a área de atuação profissional (DARQ, 2005, p.4).
A partir de 1989, foi implantado o currículo A3, que buscava eliminar esta
fragmentação com a inserção do princípio da integração de conteúdos disciplinares,
princípio que persistiu nas atualizações curriculares subsequentes. Nos dias atuais o
curso é estruturado em cinco áreas de estudos: Representação e Linguagem, Projeto,
Planejamento e Projeto Urbano e Regional, História e Teoria da Arquitetura e do
Urbanismo e Tecnologia.
De um total de cinquenta e sete disciplinas obrigatórias que equivalem a uma
carga horária total de 4050 horas-aula, foram identificadas dez que são relacionadas
ao conteúdo tecnológico-construtivo e que somam seiscentas horas. As oito
disciplinas de projeto de arquitetura são responsáveis por carga semelhante:
seiscentas e quinze horas.
Segundo o Projeto Político Pedagógico, a área de Tecnologia dá suporte, de
maneira gradual e integrada, as demais áreas “através da instrumentalização dos
alunos mediante conceitos e aplicação de recursos tecnológicos, visando ao equilíbrio
entre o projeto e a execução” (DARQ, 2005, p.6).
Observa-se que são oferecidas aos estudantes a partir do segundo período do
curso (primeiro ano) e prosseguem até o oitavo período (quarto ano) de formação. O
curso dispõe de um laboratório para aulas práticas com materiais de construção, no
entanto, este encontra-se atualmente desativado ou subutilizado, sendo possível,
quando necessário, utilizar o laboratório do curso de Engenharia de Materiais, também
vinculado ao Centro de Tecnologia.
Quanto às disciplinas de projeto e a sua possível integração com conteúdos
que tratam da materialidade da obra arquitetônica, foram identificadas quatro
disciplinas onde as questões construtivas estão presentes em suas ementas: Projeto
de Arquitetura I, III, IV e VI. A primeira é ofertada no terceiro período do curso e em
seus objetivos consta a necessidade de possibilitar ao aluno a integração de
conhecimentos e o domínio do elemento estrutural como parte integrante do espaço
no exercício do projeto. A ementa dessa disciplina indica que devem ser apresentados
os conceitos básicos de estrutura e sua relação com forma e a função. Aborda, ainda,
68
a necessidade de tratar da compatibilidade entre a estrutura e a arquitetura,
considerando a lógica, a estética e a estabilidade.
A disciplina Projeto de Arquitetura III tem como objetivo a elaboração de uma
proposta arquitetônica com ênfase para a racionalização da proposta, em termos de
coordenação modular e metodologia de projetação. A ementa aponta para uma busca
de soluções que reflitam um processo projetual voltado para a economia, a modulação
e a aplicação da tecnologia. A ênfase, segundo o documento, é para a racionalização
estrutural no projeto. Nos últimos anos, o tema que vem sendo desenvolvido em sala
de aula é o da habitação de interesse social.
No caso do Projeto de Arquitetura IV (6° período), o tema a ser trabalhado com
os estudantes é o do edifício vertical e visa a acrescentar ao conhecimento dos futuros
arquitetos e urbanistas, “as exigências inerentes à verticalização das edificações e
suas especificidades, sobretudo no que se refere à estrutura, às circulações e às
instalações” (DARQ, 2005, p.7).
Segundo a descrição do conteúdo que deveria ser explorado em sala de aula
pela disciplina do sexto período, foi considerada relevante a menção quanto o custo
das decisões arquitetônicas para o desenvolvimento da proposta e a indicação que a
proposta deveria ser desenvolvida até o nível de projeto executivo, contando com o
detalhamento de partes da edificação a ser projetada.
Por fim, o Projeto de Arquitetura VI, aborda um exercício cujo tema deve ser
considerado complexo, como o projeto de hospitais, aeroportos, shopping centers,
entre outros. Diante disso, aponta para o detalhamento do projeto, a elaboração de
suas especificações e para o gerenciamento e a coordenação de projetos
complementares, como etapas do processo projetual em arquitetura. Em seu
conteúdo, deve ser abordada, entre outras questões, a Influência das variáveis
econômicas e tecnológicas na proposta projetual.
Quanto à formação pós-graduada, ressalta-se que o Programa de Pós-
Graduação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio Grande do
Norte (PPGAU-UFRN) surgiu em 1998, com o curso de especialização em “Estudos
do habitat com ênfase na questão ambiental”. A partir do ano seguinte, com a
aprovação do órgão competente, passou a oferecer o curso de mestrado stricto sensu
em Arquitetura e Urbanismo e, logo a seguir, em um curto período de tempo (apenas
oito anos), tem a sua estrutura ampliada com o início das atividades do doutorado, em
2007. Em 2010, se destacou ao fundar o primeiro curso de mestrado profissional em
69
Arquitetura e Urbanismo do Brasil, aprovado pela CAPES, com foco na Arquitetura,
Projeto e Meio Ambiente. O Programa dito acadêmico, que contempla o mestrado
acadêmico e o doutorado, apresenta outra configuração e possui uma estrutura
composta por duas áreas de concentração: Área I - Urbanização, Projetos e Políticas
Físico-Territoriais; Área II - Projeto, Morfologia e Tecnologia do Ambiente Construído.
A segunda área do PPGAU se concentra em estudos que tratam de ambientes
edificados por meio de análises que focalizam principalmente a concepção e os
processos projetuais que lhes deram origem, as relações pessoa-ambiente, as
relações formas-usos e as questões de conforto ambiental e de eficiência energética.
A partir do que foi levantando, pode-se afirmar que, no âmbito do PPGAU/
UFRN, o trabalho a ser executado se relaciona diretamente com o conteúdo já
abordado em outras pesquisas da área de concentração II, especificamente das linhas
de pesquisa em projeto de arquitetura, por buscar investigar o seu ensino e a
aprendizagem do projeto.
Outros cursos pesquisados
A definição do universo da pesquisa refere-se à seleção das instituições de
ensino de Arquitetura e Urbanismo para a aplicação dos procedimentos de coleta de
informações, tanto em nível primário, quanto secundário. Procurou-se fazer uma
melhor caracterização de uma amostra de cursos e justificar a escolha da instituição
onde foram realizadas as coletas de dados primários, nos ateliers de ensino de
projeto.
Inicialmente, a definição deste quadro apresentou, como primeiro critério, a
identificação dos cursos brasileiros de graduação melhor avaliados pela SINAES
(Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior)20, em sua última análise,
realizada em 2011. O resultado desse sistema avaliativo gerou um produto
denominado de IGC (Índice Geral de Cursos) que, segundo o INEP (Instituto Nacional
de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), representa um indicador de
qualidade de instituições de ensino superior21.
20 Esse sistema foi criado em 2004, pela lei número 10.861 e se baseia em três componentes principais: a avaliação das instituições, dos cursos e o desempenho dos estudantes. 21 Esse resultado final é dado em valores expressos em faixas de 1 a 5, denominado CPC (Conceito Preliminar do Curso), que representa uma nota baseada nos aspectos citados anteriormente.
70
Neste ano em que se deu a última aplicação aos cursos brasileiros de
Arquitetura e Urbanismo, foram avaliadas cento e oitenta e uma escolas, sendo que,
deste total, apenas quarenta e uma eram cursos oriundos de universidades públicas
e a grande maioria (incluindo cursos públicos e privados) se encontrava distribuída
em estados do Sul e do Sudeste do país. Esta avaliação contemplou aspectos
relacionados à pesquisa, ensino e extensão, além do corpo docente e instalações
físicas, dentre outros aspectos.
Durante a fase de identificação dos cursos de Arquitetura e Urbanismo
avaliados por este índice, foi observado que a maioria dos que encabeçavam a lista
oficial se enquadrava no perfil de instituições privadas e sem tradição relevante em
pesquisa e extensão na área de estudo. Além disso, a ciência de que os boicotes
organizados pelos estudantes, sobretudo de universidades públicas, poderiam ter
afetado diretamente o resultado dessa avaliação educacional, fez com que fosse
desenvolvida uma nova estratégia para a seleção dos cursos a serem alvo desta fase
da pesquisa.
Deste modo, o novo critério excluiu a avaliação federal e os seus resultados
muitas vezes polêmicos, que poderiam causar uma distorção. Estabeleceu-se que os
cursos a serem avaliados seriam aqueles que, além de possuirem tradição no ensino
e na pesquisa em Arquitetura e Urbanismo no Brasil, também apresentassem relações
diretas na pós-graduação com a temática do projeto, seu ensino e com as questões
tecnológicas. Pressupôs-se que a existência de áreas de concentração nos
programas de pós-graduação e, consequentemente, de grupos de pesquisas na área
de projeto e/ou de tecnologia gerassem rebatimentos nas organizações curriculares e
nos processos de ensino-aprendizagem nas graduações em AU destas instituições.
Assim, ao analisarmos a situação no Brasil e os trinta e três programas de pós-
graduação em Arquitetura e Urbanismo reconhecidos pela CAPES22, observou-se que
1/3 dos PPGs em AU possuíam áreas de concentração e linhas de pesquisa que se
relacionavam com o trabalho de pesquisa (projeto de arquitetura e/ou tecnologia).
Após análise destes onze programas brasileiros, dos grupos de pesquisa a eles
relacionados e de suas produções científicas, foi visto que eram estabelecidas
Ao se analisar o quadro geral dos cursos, foi estabelecido como critério inicial que para ser avaliado, o CPC deveria ser superior a 3,50 (o que corresponde a uma média 7,0 calculando-se a devida proporção) e constatou-se que apenas dezessete cursos alcançaram esse resultado. 22 Cursos de pós-graduação em AU reconhecidos pela CAPES até 2014, quando se deu a definição do universo de estudo.
71
relações com o tema estudado. Logo, considerou-se que esse novo critério de seleção
apresentou a devida coerência e os onze cursos de graduação em AU puderam ser
identificados para o desenvolvimento do estudo ao qual se propôs esta tese (ver
Tabela 01).
Tabela 01 – Programas de pós-graduação com interesse para a pesquisa e instituições às quais se vinculam.
Fonte:Elaboração própria.
Além disso, como forma de estabelecer uma análise de contraponto, capaz de
gerar uma discussão comparativa para com o caso brasileiro estudado, optou-se por
acrescentar a este universo de pesquisa uma instituição estrangeira (Faculdade de
Arquitectura da Universidade de Lisboa, em Portugal) para a realização da coleta de
dados em pesquisa em um estágio doutoral, tipo sanduíche, desenvolvido durante um
semestre letivo.
Em função de um recente acordo celebrado entre o governo local e o português,
que possibilita a validação dos diplomas dos arquitetos em ambos os países,
acreditou-se que seria importante a realização desta etapa da pesquisa em uma
instituição portuguesa, o que poderia contribuir para uma aproximação quanto ao
conhecimento dos processos de ensino implementados em cursos de arquitetura
neste país.
Após proceder a uma análise dos cursos de Arquitetura existentes em Portugal,
por meio de pesquisa documental em suas páginas oficiais, na rede mundial de
computadores, optou-se pela Faculdade de Arquitetura da Universidade de Lisboa. A
escolha desta Instituição justificou-se pela tradição no ensino de Arquitetura em
Portugal, que remonta ao século XVI e por oferecer cursos de Licenciatura, Mestrado
PROGRAMA INSTITUIÇÃO
FAU/ PÓS GRADUAÇÃO UNB/ DF
ARQUITETURA, TECNOLOGIA E CIDADE UNICAMP/ SP
IAU-SÃO CARLOS USP/ SP
NPGAU UFMG/ MG
PPGAU UFPB/ PB
PPG MACKENZIE/SP
PROARQ UFRJ/ RJ
PPGAU UFRN/ RN
PROPAR UFRGS/ RS
PÓSARQ UFSC/ SC
PGFAU USP/ SP
72
e Doutoramento nas áreas da Arquitetura, Urbanismo e Design. Esta fase de coleta
de dados também foi financiada pela CAPES e aconteceu entre março e agosto de
2015, sob orientação local da professora doutora Tânia Liani Beisl Ramos.
O CAU-UFRN e o quadro de cursos pesquisados.
A análise do quadro de cursos apresentados permitiu, a partir da
sistematização dos dados identificados, tecer algumas considerações a respeito do
cenário de ensino que trata do conteúdo tecnológico-construtivo e a integração com
as disciplinas de projeto de arquitetura e como se enquadra o curso de Arquitetura e
Urbanismo da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (Tabela 02).
Tabela 02 – Quadro resumo dos cursos pesquisados.
Legenda: TC: Tecnologia da Construção; CH.TC.: Carga horária das disciplinas de Tecnologia da Construção; CT: Carga horária total do curso.
Fonte: Elaboração própria a partir dos dados pesquisados.
Aponta-se para uma diversidade quanto à existência e a participação de
disciplinas relacionadas ao conteúdo tecnológico-construtivo nas estruturas dos
cursos selecionados. Vê-se que algumas instituições apresentam um maior número
de disciplinas da área que outras, no entanto, em vários casos, quando se comparam
os dados relativos à carga horária obrigatória destes cursos, o percentual apresenta-
INSTITUIÇÃO N° DISC. T.C.
CH. T.C. (H)
CH TOTAL
(H)
CHTC/CHT %
DISC. PROJETO
TEMAS DE INTEGRAÇÃO
APOIO DIDÁTICO (LABORATÓRIOS)
UNB 15 840 4110 20,43% 3 Habitação, Grandes vãos, Verticalização
3
IAU SÃO
CARLOS
11 750 5805 12,92% 4 Habitação 1
CAU/UNICAMP 15 840 4620 18,18% 2 Racionalização, Verticalização
6
FAU/UFMG 14 765 3600 21,25% __ __ __
CAU/UFPB 6 375 3645 10,28% 3 Habitação __
CAU/MACKENZIE 18 510 4920 10,36% 4 Verticalização __
FAU/UFRJ 15 795 4710 16,87% 3 Habitação, Integração técnicas
construtivas
1
CAU/UFRN 10 600 4050 14,81% 4 Estrutura, Racionalização,
Habitação, Verticalização
1
FAU/UFRGS 17 930 4260 21,83% 2 __ __
CAU/UFSC 11 855 4392 19,46% 2 __ 1
FAU/USP 14 810 5880 13,78% 2 Habitação 3
73
se menor que o esperado, como é o caso do curso da Universidade Presbiteriana
Mackenzie ou do IAU de São Carlos. O curso da UFRN, por exemplo, mesmo com um
número menor de disciplinas que o da FAU/USP possui uma carga horária
proporcional à estrutura curricular maior que o dessa segunda instituição. Apenas o
CAU/UFPB apresentou um índice mais baixo entre as estruturas dos cursos
pesquisados. Os maiores índices demonstrados ficaram a cargo dos cursos da FAU/
UFRGS, FAU/UFMG (curso diurno) e FAU/UNB. Pode-se acrescentar que, além
disso, a importância conferida ao assunto também foi demonstrada nos cursos gaúcho
e brasiliense por meio da observação da existência de estágios supervisionados em
obra, que atuam no currículo como disciplinas obrigatórias.
Em relação à constatação da existência de indicações de integração com as
questões construtivas nas súmulas das disciplinas de projeto, foi possível realizar a
identificação em quase todos os cursos pesquisados, com destaque para o curso do
IAU/São Carlos, CAU/Mackenzie e CAU/UFRN, com quatro ocorrências de disciplinas
em cada uma dessas instituições.
Apesar da existência de textos sintéticos e as vezes genéricos nas ementas de
três cursos pesquisados (FAU/ UFMG, FAU/UFRGS e CAU/UFSC), foi possível
coletar informações sobre as prováveis temáticas utilizadas em exercícios de
concepção destas disciplinas de projeto de arquitetura. Em primeiro lugar, o tema da
habitação (multifamiliar ou social) foi detectado em seis disciplinas, explicitando a
sua relevância e associação considerada profícua com as questões construtivas, tais
como a racionalização, a industrialização da construção e o planejamento estrutural,
entre outros assuntos. A temática da verticalização em arquitetura, em segundo
lugar, com quatro ocorrências, também se caracterizou como outra opção viável e de
complexidade para a abordagem de aspectos construtivos, tais como o planejamento
da estrutura e das instalações complementares. O assunto racionalização da
construção foi observado em outras duas disciplinas de projeto. Ao proceder à
análise dos dados, percebeu-se que, dentre todos os cursos pesquisados, o
CAU/UFRN foi o curso que demonstrou abordar todos os temas citados anteriormente.
Deste modo, após as considerações sobre os cursos pesquisados, tendo em
vista a sua reconhecida preocupação com a utilização do conceito de integração de
conteúdos em sua organização curricular e a constatação de uma produção recente
(porém relevante) em pesquisas na área de projeto e tecnologia, envolvendo a
graduação e a pós-graduação, foi considerado que o CAU/UFRN, de fato, atende a
74
todos os requisitos previamente estabelecidos para a execução de um estudo de caso
e coleta de dados primários. Além disso, o acesso facultado aos ambientes da
pesquisa, as salas de aula das disciplinas de projeto de arquitetura, aos demais
ambientes e recursos didáticos, foi decisivo para a realização das tarefas,
caracterizando a viabilidade da pesquisa.
Como se sabe, o critério que definiu a seleção das disciplinas de projeto
arquitetônico para a realização da pesquisa primária fundamentou-se na leitura e
análise das estruturas curriculares e das ementas das disciplinas dessas instituições.
Esperava-se que as disciplinas de projeto escolhidas apresentassem, na
documentação oficial do curso, uma explicita relação com as questões tecnológico-
construtivas e estabelecessem, de algum modo, a integração entre estes conteúdos,
possibilitando a verificação da sua atuação direta no transcurso a ser percorrido em
sala de aula, no processo de ensino-aprendizagem do atelier.
Deste modo, foi selecionada a disciplina Projeto de Arquitetura III, oferecida no
quinto período de formação acadêmica, para ser acompanhada no curso de
Arquitetura e Urbanismo da UFRN, com a aplicação de procedimentos e ferramentas
de coleta de informações. A temática explorada no exercício projetual tem sido a da
habitação de interesse social e tanto em seus objetivos e conteúdos a serem
abordados são observados aspectos ligados às questões de planejamento da obra
arquitetural (Figura 13).
Figura 13 – Fragmento do documento oficial que descreve a disciplina de Projeto de Arquitetura III.
Fonte: DARQ/ UFRN (2005). Editado pelo autor.
Concluída a fase de análise e avaliação de cursos brasileiros, fez-se necessária
a realização de uma pesquisa documental quanto ao ensino de arquitetura em
Portugal, país escolhido para a realização de um estágio tipo sanduíche, a fim de
construir uma referência para a realização de uma discussão comparada com o caso
brasileiro. Em função do cronograma da pesquisa e dos prazos para a concessão da
75
bolsa pela CAPES, optou-se pela realização da coleta de dados primeiramente na
instituição portuguesa, após a qualificação do projeto de pesquisa no PPGAU/UFRN.
No caso do estágio tipo sanduíche realizado, durante o semestre letivo
2015.123, foi realizado o acompanhamento de uma disciplina de projeto de arquitetura,
fazendo o uso dos mesmos procedimentos utilizados para o caso brasileiro. Ou seja,
o pesquisador se configurou como um observador das ações desenvolvidas em sala
de aula, tendo realizado apontamentos em fichas previamente elaboradas para tal. No
entanto, deve-se ressaltar que, como na pesquisa realizada no curso brasileiro, neste
caso da análise de disciplinas, o pesquisador não interferiu diretamente nos processos
de ensino-aprendizagem.
O ensino de Arquitetura em Portugal e a FA-UL.
O ensino de Arquitetura em Portugal remonta ao século XVI quando a formação
dos profissionais da área se dava na denominada Torre do Risco, no próprio Terreiro
do Paço ou Praça do Comércio, em Lisboa. Posteriormente, no século XIX, a formação
do arquiteto se associou à criação das Academias de Belas-Artes de Lisboa e do Porto
reproduzindo o modelo das Écoles des Beaux-Arts parisienses, “o qual abrangia, em
um só corpo, os estudos do desenho, pintura, escultura, gravura e arquitetura” (SILVA,
2011, p.14).
A reforma de 1881 criou, no norte de Portugal, a Escola de Belas Artes do Porto
(EBASP) e a separou da Academia, porém, não estabeleceu a existência de um curso
de arquitetura independente, o qual apenas surgiu em 191124. Apenas em 1976, após
o fim do regime ditatorial, se deu a criação da Faculdade de Arquitetura da
Universidade do Porto.
Na capital, com o retorno à democracia em 1975, a escola de Arquitetura foi
reaberta e, em 1979, passou a fazer parte da Universidade Técnica de Lisboa (UTL).
Segundo Silva (2011), essa nova fase se caracterizou pelo incentivo ao estímulo e a
realização da investigação científica. Em 1983, a escola foi elevada à condição de
Faculdade de Arquitetura tornando-se autônoma a partir do ano letivo de 1985/1986
(SILVA, 2011). Recentemente, por meio do Decreto lei nº 266-E/2012, a Universidade
23 Considerado como o segundo semestre letivo na Europa. 24 FA-UP, 2012.
76
Técnica de Lisboa veio a fundir-se com a Universidade de Lisboa, adotando esta
denominação em definitivo.
Com a expansão dos cursos superiores no país a partir de 1986, Portugal
passou a contar com outros cursos de Arquitetura e, atualmente, contabiliza um total
de dezoito cursos. Tal informação caracteriza uma grande expansão na oferta para a
formação profissional na área.
Em Portugal, a profissão de arquitetura enquadra-se, de acordo com a
classificação nacional do Ministério do Trabalho, na área das ciências físicas,
matemáticas, engenharias e afins. Existem duas categorias de arquitetos, sendo a
primeira denominada como arquiteto de edifícios e a segunda como arquiteto
paisagista. Apesar de estar relacionado na mesma categoria de especialização, o
profissional do urbanismo é denominado como Urbanista de cidade e de tráfego
(MINISTÉRIO DO TRABALHO, 2011).
Enquanto a formação em arquitetura paisagística teve início na década de 1940
(NUNES, 2011), a separação do ensino entre arquitetura e urbanismo é recente em
Portugal. Em 1991, a Universidade Lusófona já oferecia uma licenciatura com duração
de três anos, enquanto os demais cursos tratavam a área do urbanismo como parte
integrante da formação em arquitetura. Apesar do Ministério do Trabalho ter
caracterizado a profissão de urbanista em 1997, os cursos específicos foram
consolidados no país somente após a declaração de Bolonha (MOUTINHO, 2006).
Em 1986, com o ingresso de Portugal na União Europeia e o posterior acordo
com assinatura da declaração de Bolonha 25 de 1999, foi necessária uma
reorganização do sistema de ensino universitário do país, com vistas a adequar-se a
uma realidade comum ao bloco. Assim como nos demais países signatários do
acordo, o curso de Arquitetura passou a ser constituído por dois ciclos. O primeiro
conduz ao grau de licenciado e dura até o terceiro ano de formação em Arquitetura,
enquanto o segundo ciclo confere o título de mestre com o complemento de mais
quatro semestres de aulas, resultando em cinco anos de estudos.
25 A declaração de Bolonha tem como objetivos gerais o aumento da competitividade e a promoção da mobilidade e empregabilidade dos diplomados do ensino superior no espaço europeu. Baseia-se na adoção de um sistema de graus académicos capaz de promover a mobilidade intra e extracomunitária de estudantes, docentes e investigadores; fomentando o ensino superior e a sua qualidade (DGES, 2015).
77
No caso da Instituição selecionada para a realização de uma das etapas de
investigação, a Faculdade de Arquitetura da Universidade de Lisboa é, de acordo com
o seu estatuto, composta por dois departamentos: Departamento de Projeto de
Arquitetura, Urbanismo e Design e o Departamento de Artes, Humanidades e Ciências
Sociais. Por sua vez, o primeiro departamento compreende quatro secções: Secção
de Projeto de Arquitetura, Secção de Projeto de Urbanismo, Secção de Projeto de
Design e Secção de Tecnologia da Arquitetura, Urbanismo e Design.
Quanto à pós-graduação na instituição, foi constatado que suas atividades se
encontram relacionadas ao Centro de Investigação em Arquitetura, Urbanismo e
Design (CIAUD), constituído em 2006 e que obteve a qualificação de excelente pela
Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT)26. Dentre as suas principais linhas de
investigação, foram identificadas uma que aborda a temática da tecnologia/sistemas
construtivos e outra que trata da representação e da concepção projetual, o que vai
ao encontro dos critérios estabelecidos para a nossa pesquisa primária27.
A análise da estrutura curricular do curso de Arquitetura da FA-UL identificou a
existência de dez disciplinas obrigatórias, relacionadas com a questão da
materialização projetual, oferecidas a partir do segundo até o penúltimo semestre do
curso (do primeiro ao quinto ano). No caso do conteúdo do ensino de projeto
arquitetônico, constatou-se a existência de nove disciplinas, sendo as duas primeiras
denominadas de Laboratório de Arquitetura I e II e as demais intituladas Laboratórios
de Projeto. A leitura das fichas das disciplinas não possibilitou a compreensão geral
do número de horas-aulas destinadas aos conteúdos. Como os países que fazem
parte do bloco da União Europeia possuem um sistema próprio de créditos (Sistema
Europeu de Transferência de Créditos - ECTS) e que pode variar segundo as
atividades e abordagens das instituições28, não foi possível gerar essa conversão. No
entanto, foi possível compreender a proporção entre as partes que formam a estrutura
curricular, o que demonstrou uma valorização do ensino do projeto, seguido pelo
conteúdo ligado aos aspectos construtivos (Figura 14).
26 Órgão responsável entre outros atributos, pela avalição dos programas portugueses de pós-graduação. 27 (CIAUD, 2015). 28 Segundo o Decreto Lei nº 42/05 de 22/02., um ECT pode variar entre 25 e 28 horas (FA-UL,2015).
78
Figura 14 – Composição da estrutura curricular curso de Arquitetura da FA-UL
Fonte: Elaboração própria a partir de documentos oficiais da FA-UL.
Se observamos com atenção os dados do gráfico e o quadro de disciplinas do
curso (Anexo 01), veremos que não são oferecidas disciplinas da área de paisagismo.
O conteúdo dedicado aos estudos urbanos é diminuto e se associa às disciplinas de
geografia urbana, sociologia (teoria do lugar) e direito urbanístico. Esta característica
da estrutura curricular decorre das exigências locais para formações distintas em
arquitetura de edifícios, arquitetura paisagística e urbanismo, ao contrário do quadro
brasileiro, que forma um profissional generalista.
Quanto às disciplinas de projeto, a leitura das suas ementas apontou para
aspectos referentes ao conteúdo, que trata da materialização da obra arquitetônica
nas disciplinas de Laboratório de Arquitetura II, Laboratório de Projeto I e Laboratório
de Projeto III. No entanto, a falta de uma melhor descrição das temáticas dos
exercícios de projeto sugeriu que se fizesse uma investigação exploratória in loco,
durante a etapa do doutorado sanduíche em Portugal.
No caso do estágio tipo sanduíche realizado durante o semestre letivo 2015.1,
foi feito o acompanhamento de uma disciplina de projeto de arquitetura (Laboratório
de Projeto III), fazendo o uso dos mesmos procedimentos e instrumentos utilizados
no caso brasileiro. Ou seja, o pesquisador se configurou como um observador das
ações desenvolvidas em sala de aula, tendo realizado apontamentos em fichas
previamente elaboradas para tal (conforme apresentado nos itens 3.1 e 3.2). No
entanto, deve-se ressaltar que, assim como na pesquisa realizada no curso brasileiro,
não interferiu diretamente nos processos de ensino-aprendizagem.
79
Considerações sobre o capítulo.
O presente capítulo buscou apresentar as ações e os métodos empregados
para a realização da pesquisa. Além disso, traçou um perfil mais bem caracterizado
do universo de onze instituições nacionais, as quais foram definidas a partir de critérios
de seleção que consideraram a importância conferida pelas suas organizações
curriculares ao conceito da integração de conteúdos e a existência de programas de
pós-graduação, com áreas e linhas de pesquisa em projeto e/ou tecnologia.
Sabemos que o Brasil dispõe de diversas instituições com características de
excelência no ensino em Arquitetura e Urbanismo, no entanto, o vasto número de
cursos exigiu a definição desses parâmetros, capazes de traçar um retrato viável do
quadro de ensino com enfoque para a relação projeto de arquitetura e a sua relação
com o ensino do conteúdo tecnológico-construtivo.
Ao mesmo tempo, sabemos também que, para além do currículo formal, existe
o que alguns autores denominam de currículo oculto29 e como este é capaz de gerar
influências na prática educativa e no cotidiano das instituições.
O percurso metodológico foi essencial para a elaboração dos instrumentos da
pesquisa e, consequentemente, para a apresentação da justificativa para a seleção
do curso onde foram realizadas as coletas de dados in loco, assim também como
outros pontos pertinentes observados, como a questão da habitação como tema
recorrente nas disciplinas de projeto associadas à temática construtiva e as
especificidades de estruturas curriculares, como a obrigatoriedade de estágios
supervisionados em obras, presente em dois cursos do universo estudado.
Por fim, a posterior seleção do caso a ser estudado no exterior e os
direcionamentos para a fase seguinte encerraram esta etapa de construção teórica-
metodológica em direção às fases práticas e de envolvimento do pesquisador no (s)
plano (s) da sala de aula, como será demonstrado nos capítulos seguintes.
29 Segundo Rodriguez (2006), esse termo está mais ligado a um conceito do que a uma teoria. O currículo oculto, de acordo com Silva (2001, p.14) é aquele existente dentro das relações sociais do espaço escolar: as relações entre mestres e aprendizes, administração e estudantes, entre docentes e discentes, além dos demais agentes inseridos neste ambiente. Ou seja, vai além daquele que está formalizado em um documento oficial.
80
3. INVESTIGANDO OS PROCESSOS PROJETUAIS E OS PRODUTOS
DESENVOLVIDOS EM ATELIER DE PROJETO NA FACULDADE DE
ARQUITECTURA DA UNIVERSIDADE DE LISBOA (2015.1).
Este capítulo apresenta o estudo de caso realizado em uma instituição de
ensino estrangeira, quando foram executados acompanhamentos e observações
durante um semestre letivo em disciplinas de atelier de projeto de arquitetura30. Os
dados que serão apresentados a seguir dizem respeito às investigações efetuadas no
curso de Arquitetura da Faculdade de Arquitectura da Universidade de Lisboa (entre
os meses de março e julho de 2015).
As informações coletadas foram organizadas em cinco partes que sistematizam
a análise. Inicia-se com a caracterização dos ambientes31onde as pesquisas foram
realizadas para, em seguida, particularizar as investigações. Deste modo, são
apresentadas as descrições e as especificidades da disciplina investigada,
complementada pelas visões dos professores envolvidos. A seguir, é realizada a
exposição das retrospectivas dos processos projetuais e produtos desenvolvidos
pelos alunos para, posteriormente, proceder à interpretação e à análise dos dados
que tratam mais especificamente das entradas dos aspectos tecnológico-construtivos
nos processos de projeto e nos produtos elaborados.
O ambiente de pesquisa na Faculdade de Arquitectura da Universidade
de Lisboa.
Conforme apresentado no capítulo anterior, a Faculdade de Arquitectura da
Universidade de Lisboa (FA-UL) é resultado da fusão da antiga Universidade Técnica
com a Universidade de Lisboa. No entanto, originalmente, a criação da faculdade se
dá por decreto-lei que data de dezembro de 1979. Com este decreto, é promovida a
separação da Escola de Belas Artes, a qual esteve associada desde a sua origem32
passando, a partir de então, a se constituir como unidade autônoma. Desde 1994, a
30 Um semestre letivo. 31 Considera-se importante, ao desenvolver pesquisas que tratam de processos de ensino-aprendizagem, a realização de uma análise do ambiente onde se dão as atividades, tendo em vista que a qualidade ambiental interfere nos processos e nas ações relacionadas aos ambientes e usuários envolvidos (KOWALTOWSKI,D. et al, 2011). 32 Que remonta ao século XVI (FA-UL, 2014).
81
FA-UL tem a sua sede, no Polo Universitário da Ajuda, localizado na zona oeste da
capital portuguesa. É composta por um conjunto de blocos edificados onde se dão as
atividades de ensino e de pesquisa nas áreas de Arquitetura, Urbanismo, Design e
Design de moda (Figura 15).
Figura 15 – Vista geral da Faculdade de Arquitectura da Universidade de Lisboa.
Fonte: Fotografia do autor, 2015.
As salas de aula (Figuras 16 e 17), onde foram realizadas as observações,
estão situadas em um bloco que concentra os laboratórios de aulas de projeto. Estas
salas apresentam formato retangular e são bem iluminadas naturalmente, possuindo,
em sua maior dimensão, um fechamento em pano de alumínio e vidro, além de
claraboias para prover luz zenital para o ambiente. Dispõem de lousas (nas duas
extremidades da sala), móveis de apoio ao professor (mesa e cadeira), armários e
pranchetas (sem réguas fixas) para o uso dos alunos. Ao lado deste ambiente, há
também uma sala menor que, normalmente, é integrada ao laboratório. É utilizada
como apoio para a confecção e depósito de maquetes em desenvolvimento. Foi visto
que na sala do terceiro ano, este outro ambiente apresentava divisórias de vidro e
contava com a instalação de um projetor multimídia para apresentações de aulas
teóricas. Entretanto, foi observado que as aulas teóricas relacionadas às disciplinas
de projeto aconteciam em outro ambiente, neste mesmo bloco. Nas ocasiões em que
foram presenciadas, tinham por objetivo reunir as turmas de cada turno e os seus
respectivos professores como maneira de otimizar a exposição do conteúdo teórico
junto às diversas turmas. Por fim, deve-se destacar que as salas de aulas práticas são
separadas pelas divisórias, onde estão instaladas as lousas, existindo uma circulação
que possibilita que todos os alunos e usuários dos espaços transitem entre os
laboratórios contíguos.
82
Figura 16 – Vista do bloco de salas de aula onde se concentram os laboratórios de arquitetura e projeto.
Fonte: Fotografia do autor, 2015.
Figura 17 – Vista de uma das salas de aula/ laboratório de projeto da FA-UL.
Fonte: Fotografia do autor, 2015.
Considera-se que os ambientes onde se desenvolviam as atividades de projeto
eram adequados para a realização das tarefas, posto que contavam com boas
condições quanto aos equipamentos disponíveis e dimensões para a realização das
atividades. Apresentaram, durante as observações, boas condições quanto aos
aspectos de conforto ambiental, no que diz respeito à iluminação natural, artificial e
acústica33. Mesmo contando com turmas de cerca de trinta alunos e com a relação
33 As observações quanto aos aspectos do ambiente foram realizadas sem a utilização de instrumentos.
83
direta e contínua junto às demais salas, as atividades não pareceram ser
prejudicadas.
Aproximação inicial com as disciplinas a fim de reconhecimento.
O primeiro mês do estágio doutoral na FA-UL foi dedicado ao reconhecimento
inicial do ambiente de pesquisa. Como esclarecido no capítulo anterior, buscou-se,
através de uma aproximação com as disciplinas, com os docentes responsáveis e
discentes, compreender melhor o curso para além das descrições presentes nos
documentos oficiais da faculdade, os quais foram pesquisados durante a fase de
seleção da instituição,
Optou-se por essa estratégia porque as ementas disponíveis não esclareciam
os objetivos, as atividades que seriam desenvolvidas e nem os temas específicos que
seriam trabalhados nos laboratórios de projeto. Deste modo, foi necessário conhecer
melhor o que era desenvolvido em sala de aula para, em um segundo momento,
investigar com maior profundidade um caso selecionado e, por fim, a ele aplicar as
ferramentas de pesquisa e de coleta de dados primários. Assim, neste primeiro
momento, foram acompanhadas quatro disciplinas da área de projeto, referente aos
quatro primeiros anos do curso.34
Em função do grande número de turmas (em média, são cinco turmas
referentes a cada ano, distribuídas nos três turnos), a Coordenação Pedagógica
designa um professor responsável para coordenar a disciplina de projeto. Este indica
o trabalho que deve ser desenvolvido pelas turmas e deve estar presente nas fases
de avaliação das atividades.
Durante o período de um mês, foram alvos deste acompanhamento, a fim de
reconhecimento inicial as seguintes disciplinas:
1- Laboratório de Arquitetura II (primeiro ano) com a professora 35 Tânia
Ramos;
2- Laboratório de Projeto I (segundo ano) com a professora Ana M. Feliciano;
34 O quinto ano não foi considerado por se tratar do período no qual os alunos estão envolvidos com o seu trabalho final de curso e tendo em vista que se trata de um trabalho com temática livre e com um período mais longo para o seu desenvolvimento. 35 Foi visto que todos os professores que tiveram os laboratórios de projeto acompanhados, possuem título de doutoramento e, além da prática docente, histórico de prática profissional em atelier de projetos.
84
3- Laboratório de Projeto III (terceiro ano) com o professor Pedro Belo Ravara;
4- Laboratório de Projeto V (quarto ano) com o professor Miguel A. Bastos.
As primeiras observações aconteceram entre os dias 20 de março e 16 de abril.
Pelo fato das aulas de projeto serem concentradas em dois dias da semana (terças e
quintas-feiras), duas disciplinas foram acompanhadas em cada dia. Isto é, o primeiro
e o segundo ano tiveram as suas observações realizadas na terça e, na quinta-feira,
as atividades se concentraram nas turmas do terceiro e do quarto ano. Como o horário
matutino compreende das 8h às 12:30h, a metade de cada manhã foi dedicada a cada
uma dessas disciplinas.
3.2.1 Laboratório de Arquitetura II – Primeiro ano do curso.
O laboratório de arquitetura, oferecido no primeiro ano do curso, era composto
por cerca de trinta alunos. Caracterizou-se pelo incentivo à experimentação formal e
a descoberta da arquitetura, das formas, volumes e as relações destes com os
espaços.
A atividade, que foi acompanhada durante o primeiro mês da pesquisa,
solicitava aos discentes uma intervenção em um espaço que lhes era conhecido (hall
das salas de aula) visando a instalação de um café e uma área de convivência ou
interação entre os alunos (Figura 18).
Figura 18 – Imagem do ambiente onde foi proposta a intervenção.
Fonte: Fotografia do autor, 2015.
Os alunos foram incentivados a compreender os fluxos e perceber os
problemas ou deficiências existentes para desenvolver, individualmente, uma
proposta, levando em consideração questões como a iluminação proveniente de uma
85
abertura zenital existente, o pé-direito duplo do local e as funções já definidas por
outros ambientes existentes e contíguos ao hall.
Foi solicitado que desenvolvessem as propostas por meio de maquetes físicas
de estudo. Grupos de três ou quatro alunos executaram uma maquete comum do
espaço aonde se daria a intervenção (na escala de 1:20). Cada um desenvolveu a
sua própria maquete de estudo e, durante as assessorias ao projeto, o modelo físico
era analisado, após ser inserido nesta maquete comum (Figuras 19 e 20). Observou-
se que esta atitude proporcionava uma melhor compreensão das relações
estabelecidas e, consequentemente, o melhor entendimento da proposta. Apenas em
fase posterior, após a lapidação da ideia, ela deveria ser representada graficamente,
respeitando as normas técnicas do desenho de arquitetura.
Figuras 19 e 20 – Estudos realizados em maquete para o projeto do café do hall.
Fonte: Fotografias do autor, 2015.
Segundo a professora Tânia Ramos, a orientação dada pelo professor
coordenador do laboratório de arquitetura do primeiro ano foi que a criatividade
deveria ser explorada ao máximo, não sendo a força da gravidade 36 um fator
preponderante para a elaboração dos estudos. Mesmo assim, foi observado, durante
a etapa de discussão da proposta entre os alunos e a professora, que foram
levantados questionamentos sobre o uso de um ou de outro material, principalmente,
36 Grifo do autor.
86
quanto às suas características e de como poderiam reagir no ambiente. Como se viu,
as questões não se direcionavam para a resistência, durabilidade ou uso apropriado
do material. Isso se justifica pela incentivada liberdade formal que é oferecida aos
alunos que, nesta altura do curso, estão começando a descobrir a arquitetura e as
suas diversas possibilidades.
3.2.2 Laboratório de Projeto I – segundo ano do curso.
Durante o reconhecimento realizado junto à disciplina de Laboratório de projeto
do segundo ano, também composta por cerca de trinta alunos, notou-se, em princípio,
um maior aprofundamento quanto aos aspectos que relacionam o projeto ao meio e
às pré-existências urbanas37. O exercício de projeto tratou de uma intervenção em um
lote que está implantado em zona histórica e que mantém somente a fachada de um
edifício do século XIX (Figura 21). Tal condicionante já impunha um questionamento
importante e fomentava, de imediato, o debate sobre a relevância de preservar ou não
esse elemento. A apresentação desse debate, no segundo ano do curso, pareceu ser
natural e não se apresentou como uma discussão polêmica sobre a importância de
preservar ou a necessidade de renovar a cidade por meio de intervenções que
marquem o tempo do ato de projetar, provavelmente pelo fato dos alunos se
encontrarem sempre envolvidos em zonas de valor patrimonial.
O tema do projeto desenvolvido foi o de um residencial para idosos e teve o
programa de necessidades fornecido no enunciado do exercício. Para formar o
repertório de soluções arquitetônicas, os alunos foram solicitados a desenvolver um
primeiro trabalho de análise de referências projetuais. Divididos em grupos, estudaram
cinco residenciais com esse uso e executados em várias partes do globo. Após essa
etapa, sintetizaram as suas análises em painéis que foram expostos em conjunto no
ambiente da sala de aula (e que permaneceram ali durante todo o semestre).
37 Existia uma maquete única para toda a turma e que representava o ambiente onde estava inserido o lote, proporcionando uma visão geral da área onde o projeto seria instalado.
87
Figura 21 – Fotografia de satélite demarcando área disponível para intervenção em zona histórica da cidade.
Fonte: FA- UL, 2015.
A partir daí e da definição pessoal quanto à preservação ou a eliminação da
fachada existente, os alunos passaram a desenvolver os seus estudos por meio de
modelos físicos em escala livre, com a intenção de trabalhar os aspectos volumétricos
da edificação.
Neste primeiro momento, as atividades de orientação aos alunos pela docente
configuraram-se como oportunidades para discutir as propostas, analisando, além das
questões formais, as definições funcionais, o atendimento ao programa de
necessidades, as exigências de acessibilidade (sobretudo em função do tema
trabalhado) e as relações com o patrimônio arquitetônico na vizinhança.
Além dos acompanhamentos individuais, também foram presenciadas
assessorias em grupo. Esta ação ampliava o compartilhamento de informações com
os demais alunos e otimizava o tempo, dirimindo duvidas e questionamentos (Figura
22).
88
Figura 22 – Assessoria ao projeto com o acompanhamento de grupo de alunos.
Fonte: Fotografia do autor, 2015.
Durante esse reconhecimento do Laboratório de Projeto II, foi observado que
os alunos se empenhavam em atender principalmente aos aspectos funcionais
associando estas questões aos seus estudos volumétricos iniciais. Já apresentavam
o seu partido arquitetônico definido, porém, demonstraram dificuldades em
dimensionar diversos ambientes que compunham o programa de necessidades do
edifício.
3.2.3 Laboratório de Projeto III – Terceiro ano do curso.
O tema trabalhado na disciplina de projeto do terceiro ano do curso de
arquitetura da FA-UL tratou da questão habitacional multifamiliar em um edifício de
uso misto e a discussão sobre a criação de um espaço de integração à cidade.
Percebeu-se a intenção de associar a disciplina de projeto com a de urbanismo,
tendo em vista que, no início do semestre, ocorreu uma visita ao local da intervenção
com os professores. A intenção dessa atividade, segundo o professor Pedro Ravara,
foi fazer os alunos conhecerem a zona de estudo e identificarem problemas existentes
e peculiaridades do local, como as características tipológicas das quadras, dos
edifícios, gabaritos, fluxos dos pedestres, relação com a malha ferroviária existente e
a topografia do terreno eleito para o desenvolvimento do projeto.
As unidades habitacionais deveriam ter plantas diferenciadas com um quarto,
dois e até três quartos. O edifício deveria prover unidades para comércio e serviços e
o enunciado do exercício fazia a previsão de vagas de garagem para todos os usos,
89
porém, com fluxos e acessos independentes. Outra exigência foi possibilitar que ao
menos um banheiro em cada unidade residencial fosse adaptado para os portadores
de necessidades especiais e que os apartamentos com maior número de quartos
permitissem que, em caso de necessidade, houvesse um acesso independente para
um cômodo que poderia vir a ser alugado.
Como uma das primeiras tarefas a ser desenvolvida, assim como aconteceu no
segundo ano, os alunos foram incentivados a, em grupo, realizar a análise de
exemplos de projetos (sugeridos pelo professor), baseada em roteiro pré-definido de
aspectos a identificar como: implantação, zoneamento funcional, elementos
constitutivos, malha estrutural, cortes, fachadas, pormenores de elementos de
composição, as plantas da unidade residencial e as suas funções.
A síntese desta análise foi apresentada de maneira ilustrada em um jogo de painéis
(tamanho A3) e ficaram expostos em sala de aula para a apreciação dos alunos
(Figuras 23 e 24).
Figura 23 – Painel com análise de projeto de habitação apresentando corte, fachadas e materiais de acabamento.
Fonte: Fotografia do autor, 2015.
90
Figura 24 – Painel com análise de projeto de habitação. Plantas, cortes e imagens de uma unidade residencial.
Fonte: Fotografia do autor, 2015.
No decorrer das aulas, nesse primeiro mês de observação, os alunos já com
estudos feitos em maquetes físicas tentavam solucionar as relações espaciais de
implantação da edificação e os fluxos dos usuários ou dos pedestres que poderiam
circular pelo empreendimento, quando usassem o espaço semi-público proposto em
soluções de praças externas ou internas (Figura 25).
Figura 25 – Sobreposição de estudo volumétrico sobre estudo desenhado à mão com instrumento.
Fonte: Fotografia do autor, 2015.
Os alunos também foram estimulados a desenvolver os estudos iniciais em
croquis de estudo à mão livre, partindo, à medida que avançavam em suas definições,
91
para o desenho com instrumento. No entanto, observou-se que, nesta altura do curso,
os discentes já utilizavam softwares do tipo CAD e também o software de modelagem
SketchUp para a realização da concepção do projeto (Figura 26).
Figura 26 – Maquetes do terreno, estudo volumétrico da proposta e implantação em CAD.
Fonte: Fotografia do autor, 2015.
A turma era composta por dezesseis alunos, com a presença regular da grande
maioria, que estava sempre trabalhando na concepção do projeto em sala de aula, no
horário da disciplina.
3.2.4 Laboratório de Projeto V – Quarto ano.
A turma do quarto ano era composta por um grupo formado por cerca de 30
alunos, de diferentes nacionalidades, provenientes de outras instituições europeias e
participantes do programa Erasmus38 de mobilidade estudantil. O tema do projeto do
semestre era o de uma unidade hoteleira associada a equipamentos de apoio à
produção vinícola (adega, armazéns, sala de provas/degustação, entre outros) em
uma região costeira, nas proximidades da capital portuguesa. O enunciado do
38 O Erasmus é um programa de ensino e formação da União Europeia (UE), que promove atividades de mobilidade (para estudantes, pessoal docente e não-docente) e de cooperação transnacional, ao nível do Ensino Superior, num total de 33 países europeus: 27 Estados-Membros da União Europeia; Estados EFTA/EEE (Islândia, Liechtenstein, Noruega, Suíça) e Estados candidatos à UE (Croácia e Turquia). (EUROPEAN COMISSION, 2015).
92
exercício projetual apontava o objeto a ser trabalhado, tarefas e objetivos a serem
alcançados em etapas com períodos de tempo limitados. Indicava também os critérios
de avaliação:
Serão considerados os seguintes critérios de avaliação: 1) Contexto – Integração no lugar cultural, social, ambiental e paisagístico. 2) Programa - Resolução da complexidade funcional dos espaços, tendo em vista referência de boas práticas e legislação e/ou normativas aplicáveis. 3) Expressão – Articulação entre expressão arquitectónica e conceito, coerência entre os elementos arquitectónicos projectados. 4) Construção -Articulação entre estrutura, materialidade, detalhe e conceito. 5) Exposição – Capacidade de fundamentação e de apresentação do projecto (FA-UL, 2015, p.1).
Percebe-se, a partir da leitura do seu enunciado de projeto, que a disciplina
apresentou explicitamente a importância que seria conferida aos aspectos
construtivos da proposta, exigindo relações entre a estrutura, materialidade e detalhes
arquitetônicos, o que não foi declarado pelos documentos oficiais dos outros
laboratórios de projeto.
Nesse enunciado, estavam identificadas as funções mínimas exigidas (áreas
pública, privada e técnica) e que deveriam indicar as definições do programa de
necessidades que deveria ser construído pela turma. Outros aspectos foram exigidos
como: área mínima de construção (2.000 m²), acesso de pedestres à praia e a criação
de condições para o desenvolvimento de novas experiências relacionadas com o mar.
Durante esta etapa de investigação na disciplina, observou-se o
acompanhamento individual do professor com os estudos preliminares dos alunos
(Figura 27).
Figura 27 – Acompanhamento do professor com aluna.
Fonte: Fotografia do autor, 2015.
93
Discutindo com eles as suas dúvidas, apontava questões, suscitava reflexões,
sem, no entanto, apontar para direcionamentos específicos. Em alguns casos, fez
referências às soluções desenvolvidas por outros profissionais para exemplificar
maneiras de resolver as questões projetuais.
Quanto às tarefas já desenvolvidas pelos alunos, observou-se a existência de
estudos de zoneamento, croquis de concepção volumétricos e maquetes volumétricas
físicas (planos de massas), além de listagens de ambientes (programa de
necessidades) com o pré-dimensionamento das respectivas áreas (Figuras 28 e 29).
Figura 28 – Processo de concepção projetual. Zoneamentos e estudo da topografia.
Fonte: Fotografia do autor, 2015.
Figura 29 – Diário gráfico de aluno com estudos de zoneamento funcional e esquemas de concepção.
Fonte: Fotografia do autor, 2015.
94
Além do desenvolvimento do projeto em sala de aula, nesta etapa inicial do
processo, aconteceu a apresentação de um trabalho realizado por um aluno que
cursou esta disciplina no ano anterior e que desenvolveu trabalho semelhante, no
mesmo terreno. Esta ação didática configurou-se como uma maneira de compartilhar
o conhecimento por meio da apresentação da solução projetual elaborada, servindo
também como referência de trabalho acadêmico para os estudantes participantes do
atelier de ensino de projeto.
3.2.5 Considerações gerais e seleção da disciplina para a realização da coleta
de dados.
A partir da primeira fase de observação realizada em sala de aula, por meio do
acompanhamento das atividades das disciplinas, análise dos enunciados dos
exercícios projetuais e de conversas informais com os professores e alunos
envolvidos, foi possível tecer algumas considerações que resultaram em uma decisão
final quanto à investigação a ser realizada na fase seguinte.
A disciplina do primeiro ano, que leva o nome de Laboratório de Arquitetura II,
ainda não é caracterizada como de projeto. Mesmo que os alunos tenham
desenvolvido um estudo para um café, os discentes ainda se encontram em fase
introdutória no curso e são estimulados a fazerem descobertas, sobretudo, através de
experimentações formais. Existe uma preocupação em incentivar a criatividade do
discente, fazendo com que ele não se sinta limitado. Ficou claro que, para desenvolver
a ideia, os estudantes necessitaram pensar quanto ao aspecto da materialidade; no
entanto, de maneira geral, ainda o fizeram sem muitas informações sobre as
propriedades técnicas, já que cursavam a primeira disciplina que trata dessas
questões. Foi observado que possuíam a tendência de fazer uso do que lhes atraia
mais esteticamente ou do que conheciam a partir de obras de referência ou mesmo
do seu repertório e de suas vivências pessoais. Mesmo assim, foi válido acompanhar
o desenvolvimento das atividades e, principalmente, a adoção da maquete física como
instrumento de concepção e de representação da proposta desde o início da formação
em arquitetura na faculdade, caracterizando-se como um instrumento não apenas de
comunicação da proposta, mas como de auxílio à concepção projetual. Além disso, a
estratégia de propor um trabalho em um ambiente que é usado pelos próprios alunos
parece ter sido bastante proveitosa, pois colaborou na compreensão do espaço de
95
intervenção e auxiliou no desenvolvimento da proposta pelo discente, que também é
usuário do espaço e, neste exercício, foi alçado à posição de projetista.
A disciplina do segundo ano (Laboratório de Projeto I) se apresentou como uma
transição mais efetiva ao universo do projeto arquitetônico e as suas regras de
composição, no jogo de relações entre forma, função, estética, estrutura e mais ainda,
o meio ou contexto onde se instala a obra arquitetônica. Trata-se da primeira disciplina
do curso, nomeada como Laboratório de Projeto e demonstrou ser capaz de fazer
exigências quanto aos aspectos materiais da obra arquitetônica, tendo em vista que
já foram oferecidos, em semestres anteriores, conteúdos que tratam dos materiais de
construção e de aspectos relativos aos sistemas construtivos. Neste momento do
curso, além de avançar na compreensão dessas questões com a disciplina de
Edificações II (Revestimentos e materiais), os alunos também estudavam a disciplina
Física da Construção, que precede ao conteúdo relativo ao estudo estrutural. Deste
modo, no decorrer do segundo ano, já se deparavam com estes aspectos e puderam
refletir mais conscientemente quanto às suas decisões projetuais.
O fato do objeto arquitetônico não possuir uma escala muito grande pareceu
possibilitar um maior domínio do projeto; entretanto, a pouca experiência dos
discentes com o ato de conceber a arquitetura e a escassez de referências de
soluções projetuais dificultou a evolução da proposta. Isso foi notado porque, embora
os fluxos e os zoneamentos de funções já apresentassem argumentos mais fortes,
mesmo que, muitas vezes, estivessem imbuídos de juízos pessoais, o
dimensionamento dos ambientes apresentou-se como uma das dificuldades
detectadas.
Além disso, a elaboração do estudo volumétrico e a sua adequação à real
medida da edificação e/ou ao seu conjunto tornou-se, de maneira geral, uma
dificuldade latente. Neste estágio, a atenção foi direcionada para a solução desse
“problema”, enquanto os aspectos técnicos pareceram ficar em um plano secundário,
a serem resolvidos após a solução deste quebra-cabeça.
Quanto às observações realizadas no Laboratório de Projeto III, foi visto que os
trabalhos ainda se encontravam em estágio inicial, com um forte interesse por parte
dos alunos pela relação entre o território, o seu contexto urbano e o conjunto
arquitetônico a ser planejado. Após a fase de análises de referências, os alunos
evoluíram as suas propostas a partir de estudos volumétricos e através das tentativas
de zonear e de definir funções para o edifício. Ao mesmo tempo em que tratavam e
96
aprofundavam os conceitos a serem aplicados, já era possível ver, em alguns estudos
de concepção, indicações de materiais ou de soluções que diziam respeito à estrutura
do edifício e até mesmo quanto às instalações técnicas. Tais projetos suscitaram o
interesse, tendo em vista que, dentre as disciplinas acompanhadas, foram os
primeiros trabalhos que demonstraram tais preocupações, já no início do processo
(Figura 30).
Figura 30 – Croqui demonstrando preocupações com diversos aspectos como a estrutura, cobertura e instalações.
Fonte: Trabalho de aluno. Fotografia do autor, 2015.
Nessa etapa inicial de observações realizadas no Laboratório de Projeto V, o
material produzido pelos alunos demonstrava uma preocupação mais direcionada
para a resolução da distribuição funcional do complexo hoteleiro e a acomodação das
atividades de hospedagem no lote. Acreditou-se que, pelo fato do objeto arquitetônico
a ser desenvolvido ser de grande escala e de maior complexidade, poderia vir a exigir
dos discentes uma atenção muito orientada para a resolução funcional, apesar de se
esperar que, em fins do curso, os alunos já mais experimentados e em fase final de
formação pudessem trabalhar com mais equilíbrio as questões formais, funcionais e
estéticas. No entanto, o fato da turma ser composta principalmente por alunos de
outras nacionalidades, trazendo em sua formação, influências das escolas dos seus
países de origem (onde foi cursado o primeiro ciclo do curso), também suscitou
dúvidas quanto ao acompanhamento desta disciplina. Mesmo sabendo que a
investigação é pontual e retrata a experiência de um único semestre, imaginou-se que
este fator poderia resultar em uma análise deturpada, o que poderia não corresponder
aos objetivos da pesquisa na FA-UL.
97
A partir da análise de todos estes cenários, foi eleita como disciplina para a
realização da investigação primária e aplicação de formulários e fichas de
acompanhamento o Laboratório de Projeto III, do terceiro ano do curso da FA-UL, sob
orientação do professor Pedro Belo Ravara. As observações realizadas nesse período
permitiram vislumbrar, a partir da proposta de exercício projetual e dos trabalhos já
iniciados, possibilidades concretas quanto à conferência da atuação dos aspectos
técnico-construtivos no processo de concepção projetual.
Caracterização da disciplina Laboratório de Projeto III.
A disciplina, sob o comando do professor doutor Pedro Belo Ravara, foi
oferecida duas vezes por semana, às terças e às quintas-feiras, no período matutino,
com quatro horas e meia de duração em cada dia. A sua ementa aponta para 12,5
créditos (Ect’s) com 153 horas-aulas, das quais 126 horas são dedicadas aos
encontros de laboratório e 27 horas restantes às tutorias ou acompanhamentos
extraclasse.
Como conteúdo programático, segundo a ficha da disciplina,
O tema incide particularmente no desenvolvimento projetual aplicado a três exercícios que desenvolvem a habitação coletiva em edifícios multifuncionais. O desenvolvimento do tema deverá abordar questões como: composição / espaço servidor e espaço servido; espaço funcional e espaço visual; equipamento e mobiliário; enquadramento projectual / conforto; estrutura e distribuição; flexibilidade e adaptabilidade; acessibilidade e espaço exterior; materialidade e linguagem; unidade e agregação; processo de projecto (FA-UL, 2013, p.1).
Relacionado ao conteúdo tecnológico-construtivo, nesse semestre, os alunos
cursavam a disciplina Estruturas I que, segundo a sua ementa, trata da introdução ao
estudo do funcionamento estrutural, abordando o comportamento mecânico dos
materiais e prosseguindo o conteúdo apresentado no semestre anterior, que
introduziu as análises de sistemas estáticos (Estática). As demais disciplinas desta
área, oferecidas nos semestres anteriores, apresentaram os materiais de construção,
os elementos primários da edificação (fundações, estruturas, alvenarias e divisórias)
e secundários (revestimentos e acabamentos), além de tipos de redes de instalações
(esgoto, hidráulica, elétrica, de dados, aquecimento, ar condicionado e gás). Ou seja,
vê-se que neste estágio do curso, os discentes já foram apresentados a um conteúdo
98
amplo no que diz respeito aos aspectos construtivos da obra arquitetônica. Deve-se
ressaltar que em nenhum momento do atelier foi detectada a participação do professor
da disciplina de Estruturas I e quando questionada a sua participação junto aos alunos,
a resposta foi de que não havia integração nas práticas didáticas. Deve-se salientar
que uma participação ativa e o acompanhamento do processo poderiam, no entanto,
aproximar os conteúdos e apoiaria as decisões e escolhas projetuais dos alunos.
A disciplina contou com cerca de dezesseis alunos, dentre os quais quinze
frequentavam regularmente a sala de aula e destes, quatorze tiveram o seu processo
de concepção e desenvolvimento da proposta acompanhados. Além disso, ao fim do
semestre, estes alunos puderam responder a um formulário com perguntas a respeito
das suas decisões projetuais, com vistas a esclarecer as suas ações e escolhas. Ao
professor foi aplicado um questionário que tratava de questões relativas aos aspectos
de ensino-aprendizagem neste laboratório, o que possibilitou, junto às observações
realizadas, traçar uma análise pormenorizada do quadro existente. No total, foram
observadas quinze aulas do laboratório, entre os dias 26 de março e 17 de junho de
2015, além do exame final dos trabalhos que ocorreu no dia 7 de julho desse mesmo
ano.
Com as observações in loco, pode-se afirmar que as aulas, em sua grande
maioria, se caracterizaram como sendo atividades práticas, onde os discentes
desenvolviam em sala os estudos, fazendo uso de desenho à mão livre, com o auxílio
de instrumentos ou de ferramentas computacionais. Não havia professores
assistentes ou monitores em sala de aula, apenas o acompanhamento do professor
responsável que atendia individualmente a cada aluno.
Durante as observações realizadas, não foram identificados, por parte do
docente, direcionamentos a soluções arquitetônicas nem imposições quanto a ideias
projetuais. A sua atitude pedagógica se caracterizou como indutora de uma reflexão
crítica quanto às soluções, questionando-lhes, sobretudo, quanto a questões de
ordem funcional e, quando necessário, a respeito dos aspectos estruturais.
Durante o semestre, foram presenciadas, além das aulas práticas (que
equivalem ao maior percentual de sessões de ensino na disciplina), três aulas teóricas
relacionadas ao projeto. Estas abordaram a temática da habitação coletiva e
apresentaram algumas soluções da arquitetura e do urbanismo modernista, além de
casos da produção contemporânea. Em uma dessas aulas, houve também a
apresentação de um projeto de um edifício de uso habitacional multifamiliar, realizado
99
pelo atelier profissional onde o professor é associado. Neste exemplo, por meio das
fotografias, representações técnicas e da descrição do processo do projeto, foram
discutidas as soluções adotadas e alguns aspectos que foram considerados
relevantes, tais como a implantação do conjunto, os acessos e circulações, a
materialidade da obra (com destaque para a estrutura como elemento de expressão
arquitetônica e os seus detalhes construtivos), os pormenores das esquadrias e a
relação com os acabamentos (Figuras 31 e 32). Houve também a discussão de um
trabalho de um dos alunos que, voluntariamente, se apresentou para discutir a sua
proposta junto aos demais colegas (Figura 33). Esta ação foi favorável para o
esclarecimento de dúvidas e possibilitou também uma discussão sobre a proposta
apresentada.
Figura 31 – Discussão sobre obra construída e detalhes construtivos em projeto de autoria do professor.
Fonte: Fotografia do autor, 2015.
Figura 32 – Obra de uso residencial analisada em sala de aula.
Fonte: BAIXA ATELIER, 2015.
100
Figura 33 – Apresentação e discussão com a turma sobre a proposta da aluna.
Fonte: Fotografia do autor, 2015.
Por fim, foi realizada, já no fim do semestre letivo, uma última aula teórica da
disciplina de Laboratório de Projeto III. Tratou-se de uma sessão conjunta com todas
as turmas do terceiro ano e abordou as relações de escalas no processo de projeto,
com ênfase para os pormenores e os detalhes de execução. Ao contrário das demais
aulas, que foram ministradas pelo docente apenas para a turma onde se deu o
acompanhamento da pesquisa, esta última antecedeu a fase de finalização da
proposta e foi realizada no mini-auditório do setor de aulas de projeto, com a
participação dos outros professores e demais alunos do terceiro ano do curso. Além
de concentrar a tarefa, essa ação possibilitou uma discussão ampliada entre os
discentes que tratavam da mesma temática.
Deste modo, durante todo o semestre letivo, foram realizadas apenas três aulas
teóricas, além de uma visita de campo para reconhecimento da região e do terreno
para onde seria desenvolvida a proposta. A integralidade das demais aulas do
laboratório de projeto foram aulas dedicadas à produção em atelier com
acompanhamento pelo professor responsável, identificando a prática do projeto, como
grande característica do laboratório.
A partir da análise de dois enunciados elaborados pela coordenação do
laboratório, foi possível compreender a disciplina como dividida em duas etapas. A
primeira etapa seria dedicada à assimilação das informações e à formação de
repertório de soluções por meio de um exercício de análise de projetos. Já o segundo
101
enunciado se restringiu à primeira tarefa da segunda etapa do laboratório e tratou do
desenvolvimento do edifício de uso habitacional. Este segundo momento foi ainda
dividido em mais duas fases, que diziam respeito ao detalhamento da proposta e
quanto à finalização do projeto.
De acordo com estes enunciados, foram realizadas, durante o semestre,
entregas intermediárias dos produtos desenvolvidos pelos alunos ao professor, com
o objetivo de nivelar o andamento das atividades da turma, indicando, junto aos
discentes, a necessidade de alcançar metas no desenvolvimento das atividades.
O enunciado do primeiro exercício da disciplina de laboratório de projeto III
descrevia os objetivos, o programa, os meios de trabalho a utilizar, os modos de
apresentação e os critérios de avaliação da atividade. A tarefa deveria ser realizada
em grupo formado por três participantes. Tratou-se de um exercício de análise de
referências de obras arquitetônicas e destinava-se a “familiarizar os alunos com o
tema dos edifícios de habitação colectiva a partir de uma experiência analítica e crítica
de casos construído” (FA-UL, 2015, p.1). De acordo com o enunciado, pretendia-se
“desenvolver o olhar crítico sobre a arquitectura, na perspectiva da sua compreensão
e do reconhecimento dos seus instrumentos projectuais, neste momento centrados,
sobretudo, no estudo das suas várias escalas de leitura (do tecido urbano ao fogo”39
(FA-UL, 2015, p.1).
O exercício foi baseado na decomposição dos estudos de caso,
individualização das suas partes e na identificação das várias relações existentes e
na compreensão dos seus princípios compositivos a partir do processo inverso à
síntese da concepção arquitetônica. Esta análise deveria acontecer apoiada na
interpretação de três aspectos: (1) a relação urbana do edifício e o seu contexto, (2) a
organização e composição do edifício e (3) a organização da planta (Figura 34).
A estratégia de ensino proporciona a formação de repertório de soluções a
partir da análise de obras e projetos, sendo um método recorrente na prática
pedagógica e mesmo na vida profissional.
39 Em Portugal o termo “fogo” também é sinônimo de casa.
102
Figura 34 – Exemplo de painel com a análise de elementos de composição.
Fonte: Trabalho de alunos. Fotografia do autor, 2015.
Quanto ao objetivo do segundo trabalho, este foi “desenvolver aptidões de
projetos a partir da reflexão sobre o tema da habitação colectiva” (FA-UL, 2015). O
exercício foi dividido em três fases, sendo a primeira destinada ao estudo do conjunto
das relações com as pré-existências e os espaços públicos e ao atendimento ao
programa estabelecido. Uma segunda fase que pretendia o desenvolvimento
arquitetônico do estudo do edifício resultante da primeira etapa e, por fim, em terceira
etapa, o desenvolvimento da proposta em sua dimensão construtiva.
A primeira fase do trabalho buscava uma integração horizontal com a disciplina
de urbanismo. Destinou-se
(...) a conceber uma solução de ocupação volumétrica, agregação tipológica e definição das correspondentes estruturas de articulação, que eventualmente configure um fragmento de uma solução urbana mais alargada e desenvolvida na unidade curricular de Urbanismo II (FA-UL, 2015, p.02).
Dentre as recomendações, observou-se que a solução poderia partir dos
conceitos urbanos mais variados, desde que garantissem as qualidades de integração
e de consolidação da área de intervenção. Quanto aos condicionantes programáticos,
o enunciado considerava a necessidade da existência de dois tipos de unidades
residenciais, sendo um de maior dimensão e outro de menor área. Deveriam ser
103
planejados doze unidades com área bruta máxima de 165 m² e vinte e quatro unidades
com 80 m².
Além disso, eram solicitados espaços de atividade não habitacional, destinados
ao comércio e à prestação de serviços, com área mínima bruta estipulada de 1000
m². O programa também indicava a quantidade de vagas de estacionamento segundo
o tamanho das unidades habitacionais e de acordo com os usos.
O enunciado do exercício orientava que o trabalho deveria ser realizado
individualmente e quais seriam os instrumentos que deveriam ser utilizados para a
sua realização: “o processo de concepção do projecto recorre exclusivamente aos
meios tradicionais de desenho (lápis, tinta, grafite, marcadores, canetas, guaches,
carvão, etc.) sobre papel opaco ou transparente (...)” (FA-UL, 2015, p.1). Apesar
dessa instrução, foi visto que muitos alunos usavam também ferramentas
computacionais para o desenvolvimento da proposta. No entanto, o professor só
realizava a orientação com os desenhos impressos e nunca na tela do computador.
A descrição do exercício também indicou a necessidade da utilização de
maquetes de estudo nas escalas utilizadas nos desenhos e o modo de entrega de
todos os elementos que fizessem parte do processo projetual: esquemas,
visualizações, peças desenhadas e peças escritas, a serem organizadas em um
dossiê. De acordo com o documento (FA-UL, 2015), as peças mínimas para entrega
da primeira fase seriam:
1- Planta de integração, na escala de 1:1000; 2- Plantas, cortes e alçados, na escala de 1:500; 3- Perfis da rua Ferreira Borges, na escala de 1:200; 4- Planta de caracterização de um detalhe do espaço público, na escala de
1:200; 5- Maquetes de estudo.
Em seu último parágrafo, o enunciado citava que o processo de trabalho
deveria contemplar a produção de diagramas capazes de explorar as categorias de
análise desenvolvidas no primeiro exercício de leitura analítica de exemplos de
habitação coletiva, quanto à relação do edifício com o tecido urbano, a sua
organização funcional, a agregação das unidades habitacionais e os seus aspectos
funcionais. Ou seja, era esperado que a leitura analítica realizada no primeiro
exercício do semestre, contribuísse para a realização do projeto arquitetônico.
Essas tarefas intermediárias foram entregues em forma de painéis, onde se
viam as ideias sistematizadas, através dos desenhos que representavam os
104
resultados de etapas do processo de projetação, baseadas na listagem de itens
previamente apresentados à turma. Em um primeiro momento, foram entregues as
propostas de implantação do empreendimento, acompanhadas de alçados, sem
maiores detalhes do edifício. Nesta etapa, a escala analisada dizia respeito às
relações com a vizinhança e o entorno imediato. As fachadas não apresentavam
pormenores, mas denunciavam relações de altura e proporção (Figuras 35 e 36).
Figuras 35 e 36 – Painéis desenvolvidos por estudantes para primeira entrega.
Fonte: Trabalhos da disciplina. Imagem editada pelo autor, 2015.
No segundo momento de entrega e avaliação, aconteceu a participação de
outro professor da disciplina de Laboratório de Projeto do terceiro ano (Figura 37). Tal
ação enriqueceu a discussão sobre os projetos dos discentes, por ter possibilitado a
inserção de um olhar externo sobre os produtos apresentados. Ao mesmo tempo, esta
estratégia preparou os alunos para a avaliação final do laboratório que se realizou
posteriormente, com a formação de uma banca composta por três professores da
disciplina de Laboratório de Projeto III, semelhante a uma defesa de trabalho de fim
de curso (Figura 38).
105
Figura 37 – Apresentação com a participação de professor convidado.
Fonte: Fotografia do autor, 2015.
Figura 38 – Apresentação em banca final.
Fonte: Fotografia do autor, 2015.
Na avaliação final, além dos painéis impressos com a representação gráfica
exigida para a compreensão da solução, os alunos apresentaram maquetes físicas de
suas propostas finais (Figuras 39, 40 e 41). Pôde-se, com isso, ratificar a importância
conferida a esse instrumento de representação e composição no curso da FA-UL,
tendo em vista o fato de que as demais maquetes de estudo também foram
apresentadas à banca, objetivando expor a retrospectiva do processo projetual.
106
Figura 39 – Maquete de apresentação final de proposta.
Fonte: Fotografia do autor, 2015.
Figuras 40 e 41 – Propostas finais de projetos representadas em maquetes físicas.
Fonte: Fotografias do autor, 2015.
3.3.1 A percepção do docente
Logo no início das observações em sala de aula, foi aplicado ao professor
responsável um formulário de perguntas com o objetivo de coletar maiores
informações sobre os objetivos da disciplina e visando, também, a compreender a sua
percepção do processo de ensino.
107
Inicialmente, foi questionada qual a sua abordagem quanto à relação entre
projeto e construção. Segundo o professor, esta associação “(...) é mais ontológica
que ao nível do detalhe. Nesse sentido, os elementos são considerados como “letras”
do texto, relacionando-se com a expressão e o sentido geral do espaço (sua
recepção)”. Considerando que a questão do planejamento da obra arquitetônica foi
considerada pouco relevante no nível deste laboratório de projeto, os alunos não
foram estimulados a pensar no planejamento da obra, ainda que, na realidade, tal fato
tenha sido verificado. Isso acontece, principalmente, pelo fato de ser, em sua opinião,
“o primeiro momento no curso em que são confrontadas de forma mais persistente as
questões construtivas”.
No caso desta disciplina, em função do programa de necessidades ser mais
extenso e a temática da verticalização exigir maior preocupação com as questões
construtivas, sobretudo em relação à estrutura, mesmo que o planejamento do
artefato arquitetônico não estivesse explícito na organização do laboratório, a
temática, naturalmente, passou a exigir este cuidado por parte dos discentes.
O professor reconheceu que, às vezes, são observadas dificuldades por parte
dos alunos quanto ao pensamento da materialização da obra. Segundo o docente, a
principal dificuldade “prende-se com a emergência de considerar a materialidade
como um princípio construtivo e não como uma escolha decorativa”. Tal indicação
denotou uma preocupação quanto ao encaminhamento da visão do discente para um
olhar mais crítico e tectônico da obra. Essa reflexão foi notada em sala de aula,
durante os momentos de acompanhamento e assessoria dos projetos junto aos
alunos.
Tendo em vista este quadro, algumas estratégias foram utilizadas para
minimizar tais dificuldades. Pedro Ravara indicou o incentivo à integração da estrutura
enquanto motivo arquitetônico e o estabelecimento de uma relação entre a
materialidade e a expressão arquitetônica. Reiterou, desta maneira, a sua
preocupação com o Figurativismo na arquitetura e a adoção de elementos decorativos
sem função estrutural. Além disso, apontou a adoção de critérios de racionalidade
construtiva no projeto como a repetição e a integração com os sistemas de
infraestrutura do edifício. Tais pontos foram considerados estratégicos para minimizar
problemas de concepção da obra arquitetônica.
Quando questionado sobre quais são os elementos, sistemas e aspectos
tecnológico-construtivos abordados junto aos alunos no processo de ensino de projeto
108
em sala de aula, o professor relacionou a estrutura, a cobertura, os materiais de
acabamento, as instalações e os aspectos quanto à operação dos edifícios.
Mesmo que não tenha citado a importância do planejamento da obra e
justificado que não se trata do tema mais relevante nesse momento do curso,
observou-se em seu discurso, a preocupação com tal questão, tendo em vista que fez
menção a importância da estrutura e a sua expressão no projeto, além de aspectos
como a questão da racionalização da construção.
3.3.2 Retrospectiva dos alunos quanto ao processo projetual e ao produto.
Ao fim do semestre, foram aplicados, junto aos alunos, formulários com o intuito
de elucidar as suas decisões projetuais e a visando-se a estimular uma reflexão
retrospectiva das suas escolhas. As perguntas tratavam de questões relacionadas aos
aspectos construtivos e quanto ao planejamento da obra arquitetônica, durante o
segundo semestre letivo da disciplina de Laboratório de projeto III do curso de
Arquitetura da FA-UL. O formulário aplicado foi composto de nove questões, as quais
tratavam do processo e, ao mesmo tempo, do produto desenvolvido. Buscou
investigar a reflexão projetual dos estudantes participantes do laboratório e
complementar as observações realizadas em sala de aula pelo pesquisador.
Inicialmente, os participantes foram questionados sobre a realização de
análises de opções quanto aos sistemas construtivos e aspectos técnicos em seus
processos de trabalho. Além disso, buscou saber o que por eles foi analisado e como
isso foi praticado. Diante das respostas obtidas, foi visto que apenas um respondente
disse não ter se preocupado com tal questão. Segundo as demais respostas todos os
outros conferiram importância ao assunto, o que demonstrou, por parte dos discentes,
uma compreensão da necessidade de pensar a obra e a relação com a materialidade.
Dentre as questões que foram analisadas durante a etapa de concepção, vê-
se que elementos como as fachadas e as instalações foram alvos recorrentes de
preocupação. No entanto, o sistema estrutural recebeu destaque nos resultados
obtidos. Isso se deve às interferências entre a estrutura e os espaços exigidos para a
configuração do edifício de uso residencial e as demais funções agregadas ao
exercício, o que exigiu dos projetistas um maior empenho para investigar e propor as
melhores soluções. As outras respostas a essa primeira pergunta indicaram que, de
modo geral, vários aspectos construtivos foram analisados, o que caracterizou uma
109
importância conferida à análise do sistema construtivo como um todo. Ou seja,
percebeu-se a consciência da relação entre o edifício e a obra como um conjunto de
ações de causa e efeito. As múltiplas e variadas respostas obtidas nos formulários
refletiram essa compreensão de que são vários os elementos que se relacionam para
a configuração da obra arquitetônica (Figura 42).
Figura 42 – Aspectos que foram analisados no processo projetual segundo os alunos.
Fonte: Resultado da pesquisa.
Ainda quanto a este momento de análise e avaliação das decisões projetuais,
segundo os respondentes, estas se deram, sobretudo, através das reflexões apoiadas
a partir de pesquisas bibliográficas em livros, apostilas e por meio de documentos
eletrônicos disponíveis na rede mundial de computadores. Outras análises se deram
no próprio desenvolvimento do projeto e possibilitaram avaliações dimensionais das
soluções. Pode-se dizer que os alunos se referiram ao processo de refletir na própria
ação projetual, como apontado por Schön (2000). Segundo as demais respostas, as
aulas teóricas e a orientação com o professor foram os meios que menos contribuíram
para a análise quanto às decisões a serem tomadas. Nota-se, desse modo, uma
tomada de iniciativa por parte dos alunos que buscaram, por si mesmos, respostas
para os seus questionamentos e dúvidas por meio de pesquisas de referências de
projetos e obras construídas (Figuras 43 e 44).
0
1
2
3
4
5
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110
Figura 43 – Ações e métodos de apoio utilizados pelos alunos durante o processo projetual.
Fonte: Resultado da pesquisa.
Figura 44 – Discussão com o professor sobre solução de esquadria pesquisada em obra de referência.
‘
Fonte: Fotografia do autor, 2015.
A segunda pergunta do formulário buscou identificar se houve, em algum
momento, no decorrer do processo, alguma preocupação com o planejamento da
obra. Do total de respostas, nove afirmaram assumir esse cuidado. Mesmo que não
tenha sido um aspecto fundamental abordado em sala de aula pelo professor do
Laboratório de projeto III40, o percentual de afirmações positivas (60% das respostas)
reitera a compreensão dos discentes quanto a essa relação arquitetura e construção
e sobre a necessidade de planejamento do artefato arquitetônico. Nas observações
40 O que não quer dizer que essa preocupação dependa apenas de um direcionamento docente.
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111
realizadas in loco, foram observadas algumas estratégias de racionalização do
projeto, como por exemplo, a configuração de malhas dimensionais para definição dos
espaços, ou a tentativa de criar módulos habitacionais (Figura 45).
Figura 45 – Estudo com modulação presente na concepção projetual.
Fonte: Fotografia do autor, 2015.
Questionados sobre o elemento ou solução que demandaria maior grau de
dificuldade para a execução da obra e o porquê, foram identificadas diversas
respostas (Figura 46). Tendo em vista as dificuldades impostas pelo programa e a
relação com a estrutura, como já citado anteriormente, independente da complexidade
do projeto, a maioria dos dados apontou a estrutura como elemento de maior
dificuldade para a execução. Entretanto, todos os projetos elaborados indicaram o uso
da estrutura em concreto armado convencional, tecnologia já incorporada e
comumente realizada no país.
Possivelmente, os estudantes confundiram as suas dificuldades de concepção,
definição e “lançamento” da estrutura (o que é aceitável para um aluno em vias de
formação) com as ações de execução. Parece também que a falta de aulas de caráter
mais prático e/ou de vivência em canteiros de obra colaboraram para essa visão ainda
limitada. Essa ausência de clareza quanto à relação entre fases da obra, de partes da
construção e o grau de dificuldade para a sua materialização, também pareceu
acontecer com o tipo de terreno escolhido para o exercício projetual.
Acredita-se que o fato do lote para a implantação do empreendimento
apresentar uma variação no seu perfil topográfico, o que exigiu diversos estudos
iniciais quanto a locação da obra e a atribuição de relações com o meio urbano
112
envolvente, fez os alunos acreditarem na dificuldade de realizar o serviço de
movimento de terra que seria necessário para a execução da obra. Esta relação entre
a topografia e o edifício em processo de projeto, tornou-se novamente evidente com
a preocupação com as passagens de pedestres e a ligação do empreendimento com
o contexto urbano imediato.
Figura 46 – O que deve apresentar maior grau de dificuldade para a execução na obra.
Fonte: Resultado da pesquisa.
Ao mesmo tempo, quando foram questionados sobre qual elemento ou partes
do projeto deveriam ser mais bem detalhados (com um pensamento voltado para a
fase de execução da obra), notou-se uma acentuada preocupação com os itens que
conferem acabamento ao edifício. Se observarmos os resultados obtidos, veremos
um grande índice de respostas que podem ser agrupados como integrantes da fase
de finalização dos serviços: elementos de sombreamento, esquadrias e detalhes de
fachada (Figura 47). Novamente, o sistema estrutural foi apontado como um elemento
que deveria ser mais bem detalhado, reiterando a importância que os participantes do
Laboratório de Projeto III conferem a essa parte do todo arquitetônico.
0 1 2 3 4 5 6
ESTRUTURA
MOVIMENTO DE TERRA
INSTALAÇÕES
COBERTURA
RELAÇÃO COM O CONTEXTO
PASSAGENS DE PEDESTRES
NÃO RESPONDEU
113
Figura 47 – Partes, aspectos ou detalhes que deve ser mais bem detalhados segundo os alunos.
Fonte: Resultado da pesquisa.
A seguir, visando a compreensão do processo de reflexão no processo de
projeto, os alunos foram indagados se foi necessário repensar algumas soluções
arquitetônicas devido a dificuldades ou restrições de caráter técnico-construtivo. Neste
caso, a resposta positiva foi unânime e todos reconheceram a necessidade de pensar
e repensar as soluções para alcançar, sobretudo, os seus objetivos funcionais. De
acordo com as respostas, foi necessário buscar uma compatibilização entre a
proposta funcional e a estrutura portante. Isso foi dificultado devido aos diferentes
usos solicitados no projeto, em função da variação de plantas das unidades
habitacionais e também devido à necessidade do planejamento de um
estacionamento no subsolo, onde foi notada pelos projetistas a interferência dos
pilares na definição de vagas e na circulação de veículos (Figura 48).
Figura 48 – Questões que exigiram novos estudos no processo de projeto.
Fonte: Resultado da pesquisa.
0 1 2 3 4 5 6 7
ESTRUTURA
FACHADAS
ACABAMENTOS
COBERTURA
DIVISÓRIAS E PAREDES
CIRCULAÇÕES
ESQUADRIAS
ELEMENTOS DE SOMBREAMENTO
INSTALAÇÕES
PLANTAS DO TÉRREO
PLANTAS DO APT.
0 2 4 6 8 10
RELAÇÕES ESTRUTURA E FUNÇÃO
FUNCIONALIDADES
QUESTÕES CONSTRUTIVAS
ALTURA DO EDIFICIO
CUSTOS
COBERTURA
O PORQUÊ DE REPENSAR AS SOLUÇÕES
114
As últimas cinco perguntas do formulário diziam respeito às decisões projetuais
quanto aos sistemas adotados. Mais do que saber o que havia sido escolhido,
pretendia-se, nesta etapa, descobrir o porquê das decisões. Ou seja, investigar a
lógica presente nas escolhas técnico-construtivas dos projetos em elaboração. Neste
momento, foram questionados os motivos para a escolha do sistema estrutural, dos
tipos de vedação e fechamento dos ambientes, do sistema de cobertura e dos
materiais de acabamento.
Em se tratando do sistema estrutural, como citado, todos as propostas
adotaram o uso do concreto armado. A justificativa fornecida foi de considerarem que
este seria o sistema que se adequaria melhor ao empreendimento e as funções
exigidas pelos ambientes relacionados ao uso habitacional. As proporções e
dimensões dos vãos dos espaços seriam bem atendidos por esse tipo de tecnologia
construtiva. O segundo aspecto mais apontado para a adoção desse sistema
estrutural em concreto, segundo os dados coletados, diz respeito à estética que era
pretendida para a edificação. Outros possíveis enfoques, como propriedades e
características da tecnologia selecionada, também surgiram nas respostas e podem
ser relacionados com a adequação ao uso, tendo em vista as características do
concreto armado quanto a durabilidade, manutenção e possibilidades de alcance dos
vãos. As outras respostas citadas se referem aos custos, conhecimento do sistema
pelo projetista, além do tema da sustentabilidade e da possibilidade de racionalização
construtiva (Figura 49).
Figura 49– Justificativa para escolha do sistema estrutural.
Fonte: Resultado da pesquisa.
A respeito deste último aspecto, foi observado que estratégias de modulação
estrutural foram avaliadas pelos alunos e postas em prática durante o processo de
0 1 2 3 4 5 6 7
MELHOR ADEQUAÇÃO À FUNÇÃO
MODULAÇÃO/ RACIONALIZAÇÃO
CONHECIMENTO DO SISTEMA
CUSTOS
SUSTENTABILIDADE
ESTÉTICA
PROPRIEDADES/ CARACTERÍSTICAS
115
concepção nos projetos realizados, por meio de esquemas em desenho, cálculos e
até mesmo maquetes físicas (Figuras 50 e 51).
Figuras 50 e 51 – Esquema em desenho e estudo de modulação da malha estrutural em maquete física.
Fonte: Fotografias do autor, 2015.
Quanto ao motivo das escolhas das vedações e fechamentos presentes em
suas propostas (em alvenaria, placas de gesso acartonado ou outros tipos de painéis),
os alunos se referiram principalmente à preocupação com o isolamento térmico,
fazendo menção a questão do conforto ambiental. Além disso, se destacou no número
de respostas à importância conferida aos aspectos estéticos (dada a atenção ao
tratamento das fachadas), as propriedades e características dos materiais que, de
certa forma, se associam também às questões de conforto térmico e de
funcionalidade. Apenas uma resposta apontou que houve tentativa de experimentar e
investigar o uso de materiais e técnicas. Também apenas outra resposta indicou que
não havia sido realizada, até o momento de aplicação da pesquisa, uma definição
quanto a esse aspecto, ainda que o projeto estivesse em desenvolvimento e em fins
de exercício (Figura 52).
116
Figura 52 – Justificativas para a escolha das vedações da proposta.
Fonte: Resultado da pesquisa.
A decisão a respeito da cobertura do edifício, segundo as respostas fornecidas,
indicou uma preocupação, sobretudo, com o visual do conjunto do edifício. Este
cuidado com a estética, em alguns casos, se associou com a conferência de função à
laje de cobertura. Várias propostas foram planejadas para que pudessem ser
percorridas pelos usuários, refletindo uma característica presente em edifícios
divulgados atualmente pela mídia e que valoriza a criação de novos espaços de
convívio no alto dos edifícios. Além disso, a adoção de platibandas nas fachadas (a
maioria dos projetos não possuía telhamento, apenas a laje impermeabilizada)
estabeleceu releituras de um padrão estético usual na arquitetura portuguesa
contemporânea presente nesse tipo de edifício. Outras respostas foram justificadas
em função do conforto térmico, da economia de custos e da relação com os demais
edifícios existentes no entorno (Figura 53).
Figura 53 –Justificativa para escolha do sistema de cobertura.
Fonte: Resultado da pesquisa.
0 2 4 6 8
ISOLAMENTO
TRATAMENTO FACHADA
PROPRIEDADES/ CARACTERÍSTICAS
FUNCIONALIDADE
EXPERIMENTAÇÃO
NÃO DEFINIU
0 2 4 6 8 10
ESTÉTICA
FUNÇÃO(PERCORRÍVEL)
CONFORTO
ECONOMIA
RELAÇÃO COM ENTORNO
117
Por fim, a escolha dos materiais de acabamento denotou, segundo as
respostas coletadas, a importância conferida em primeiro lugar às questões de
conforto ambiental, em segundo lugar às questões estéticas da edificação e, em
terceiro plano, aos aspectos funcionais destes materiais ou técnicas de acabamento.
Aspectos técnicos, de inovação ou tradição, apesar de citados não se configuraram
como questões fundamentais nas definições de projeto relacionadas a essa parte do
artefato arquitetônico (Figura 54).
Figura 54 – Indicação de hierarquia das justificativas para escolhas dos materiais de acabamento.
Fonte: Resultado da pesquisa.
De modo geral, a partir da análise das respostas obtidas, pode-se dizer que foi
possível compreender as tomadas de decisão quanto às questões tecnológico-
construtivas nos projetos, evidenciando-se a importância conferida ao sistema
estrutural, o que indica uma atenção ao planejamento da obra. Ainda que, segundo o
docente, isso não tenha sido uma exigência da disciplina, caracterizou-se como uma
condição natural do ato de projetar em arquitetura.
Visando a complementar as informações obtidas, os dados a seguir,
apresentam as análises dos processos projetuais dos alunos.
3.3.3 Análise dos processos de projeto
Aluno 01 O aluno 01 trabalhou o início do processo baseado na implantação e na busca
pelo desenvolvimento da volumetria de sua proposta. Depois, percebe-se, em uma
0
1
2
3
4
5TÉCNICOS
FUNCIONAIS
ESTÉTICA
INOVAÇÃO
CONFORTO
TRADIÇÃO
DEFINIÇÕES DOS ACABAMENTOS
118
fase mais avançada da segunda etapa, que a estrutura passou a ser pensada em
conjunto com as divisões e as funções dos ambientes, tentando alcançar uma
compatibilização entre essas partes do edifício. No fim do processo, nota-se a
tentativa de solucionar a cobertura. Ao mesmo tempo, o estudante retomou os estudos
volumétricos do projeto aliados a ações que denotaram uma preocupação estrutural
(Figura 55).
Figura 55– Gráfico do processo projetual.
Fonte: Resultado da pesquisa.
Aluno 02
A primeira fase do processo do segundo aluno acompanhado caracteriza-se
pela realização de estudos volumétricos e a associação com estudos de implantação
e de enfrentamento de questões topográficas. Tal cenário também se repetiu no início
da segunda fase. A preocupação com o sistema estrutural também foi observada no
início da segunda fase do projeto, em dois dias de trabalho no atelier de sala de aula.
Apesar de serem observadas diversas variáveis atuando nessa fase de
desenvolvimento da proposta, a preocupação com a funcionalidade passou a ser mais
presente nas ações que caracterizaram essa etapa (Figura 56).
0
1
2
3
4
5
6
07.04 14.04 21.04 28.04 30.04 05.05 07.05 19.05 21.05 26.05 28.05 02.06 04.06
Aluno 01
IMPL. TOP. FUND. EST. VED. COB.
ACAB. INST. CONF. FUNC. VOL.
119
Figura 56– Gráfico do processo projetual.
Fonte: Resultado da pesquisa.
Aluno 03
Volumetria, implantação e atenção ao sistema estrutural estão presentes na
primeira fase do projeto, assim também como aspectos relacionados às escolhas de
acabamento. A segunda etapa foi marcada por um acréscimo de variáveis, como a
preocupação com o conforto ambiental, as instalações e as vedações/divisórias. Os
aspectos funcionais predominaram durante todo o processo, assim também como
foram identificadas reflexões a respeito do sistema estrutural e quanto aos materiais
de acabamento (Figura 57).
Figura 57– Gráfico do processo projetual.
Fonte: Resultado da pesquisa.
0
1
2
3
4
5
6
7
07.04 14.04 21.04 28.04 30.04 05.05 07.05 19.05 21.05 26.05 28.05 02.06 04.06
Aluno 02
IMPL. TOP. FUND. EST. VED. COB.
ACAB. INST. CONF. FUNC. VOL.
0
1
2
3
4
5
6
7
07.04 14.04 21.04 28.04 30.04 05.05 07.05 19.05 21.05 26.05 28.05 02.06 04.06
Aluno 03
IMPL. TOP. FUND. EST. VED. COB.
ACAB. INST. CONF. FUNC. VOL.
120
Aluno 04
Este participante do laboratório de projeto III não teve a sua primeira fase de
projetação acompanhada. Os dados coletados dizem respeito a uma fase avançada
do processo de projeto quando se notou um forte apelo funcional nos estudos e
croquis que trabalham as relações volumétricas do empreendimento. Não foram
identificadas preocupações latentes com questões estruturais, mas é possível
observar a reflexão sobre os materiais de acabamentos às vésperas do encerramento
da coleta de dados da pesquisa (Figura 58).
Figura 58 – Gráfico do processo projetual.
Fonte: Resultado da pesquisa.
Aluno 05
O participante pode ser enquadrado no grupo que inicia o processo de projeto
estudando as relações volumétricas do edifício, a sua implantação no lote e as
associações com a topografia existente no lote. No início do seu trabalho, já é possível
identificar uma reflexão quanto ao sistema estrutural do conjunto arquitetônico. A partir
da segunda fase, as decisões de apelo funcional tornam-se evidentes e,
pontualmente, surgem as demais variáveis que incidem sobre o projeto como as
decisões quanto aos acabamentos e quanto às instalações complementares (Figura
59).
0
1
2
3
4
5
07.04 14.04 21.04 28.04 30.04 05.05 07.05 19.05 21.05 26.05 28.05 02.06 04.06
Aluno O4
IMPL. TOP. FUND. EST. VED. COB.
ACAB. INST. CONF. FUNC. VOL.
121
Figura 59 – Gráfico do processo projetual.
Fonte: Resultado da pesquisa.
Aluno 06
O aluno inicia o trabalho a partir de estudos de implantação, porém, na segunda
fase, abordou inúmeras variáveis como estrutura, acabamentos e aspectos funcionais.
Tais dados indicam, desse modo, uma visão mais global do projeto em direção a uma
compressão sistêmica da obra arquitetônica. Percebe-se que a funcionalidade está
muito presente nas duas etapas, assim também como o cuidado com a questão
estrutural (Figura 60).
Figura 60 – Gráfico do processo projetual.
Fonte: Resultado da pesquisa.
0
1
2
3
4
5
6
26.0307.0414.0421.0428.0430.0405.0507.0519.0521.0526.0528.0502.0604.06
Aluno 05
IMPL. TOP. FUND. EST. VED. COB.
ACAB. INST. CONF. FUNC. VOL.
0
1
2
3
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5
6
7
26.0307.0414.0421.0428.0430.0405.0507.0519.0521.0526.0528.0502.0604.06
Aluno 06
IMPL. TOP. FUND. EST. VED. COB.
ACAB. INST. CONF. FUNC. VOL.
122
Aluno 07
Inúmeras variáveis são observadas desde a primeira fase de desenvolvimento
da proposta. O aluno tentou trabalhar uma grande variedade de questões, desde a
volumetria, a relação com a implantação e a topografia, demonstrando, até mesmo,
preocupação com as instalações, a cobertura e a estrutura. A análise do gráfico do
seu processo indicou uma procura por pensar o edifício como um todo e a tentativa
de dominar as partes que compõem a obra arquitetônica (Figura 61).
Figura 61 – Gráfico do processo projetual.
Fonte: Resultado da pesquisa.
Aluno 08
A análise do gráfico apontou para uma primeira fase marcada pela avaliação e
pela decisão de questões volumétricas, de relação com o lote e a sua topografia.
Decisões ligadas ao sistema estrutural também foram observadas nessa fase inicial.
A partir da segunda etapa, o aluno demonstrou se dedicar com maior afinco às
questões funcionais a fim de solucionar a proposta e com o objetivo de finalizar o
produto a ser entregue para a avaliação (Figura 62).
0
1
2
3
4
5
6
7
8
Aluno 07
IMPL. TOP. FUND. EST. VED. COB.
ACAB. INST. CONF. FUNC. VOL.
123
Figura 62 – Gráfico do processo projetual.
Fonte: Resultado da pesquisa.
Aluno 09
O aluno 09 também iniciou o seu processo de projeto pelo estudo da volumetria
e da implantação e também investigou a relação entre esses aspectos e a topografia
presente no lote. A seguir, ampliou o estudo do projeto conferindo atenção às diversas
variáveis. Em fase posterior da segunda etapa do processo, desenvolveu o trabalho
com preocupações quanto à estrutura, as instalações, a cobertura, as vedações e
fundações (Figura 63).
‘ Figura 63 – Gráfico do processo projetual.
Fonte: Resultado da pesquisa.
0
1
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Aluno 08
IMPL. TOP. FUND. EST. VED. COB.
ACAB. INST. CONF. FUNC. VOL.
0
1
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7
8
ALUNO 09
IMPL. TOP. FUND. EST. VED. COB.
ACAB. INST. CONF. FUNC. VOL.
124
Aluno 10
O aluno não teve o seu início de processo acompanhado. Na segunda etapa
de desenvolvimento do trabalho, os dados presentes no gráfico apontaram um
enfoque em questões de implantação, vedações, divisórias, estrutura e de aspectos
relacionados ao conforto ambiental. No entanto, é o aspecto funcional que se
sobressaiu na análise dos dados presentes no gráfico de acompanhamento do
trabalho (Figura 64).
Figura 64– Gráfico do processo projetual.
Fonte: Resultado da pesquisa.
Aluno 11
De acordo com o que foi acompanhado a partir dos dados coletados em sua
ficha, o aluno conferiu, desde a primeira etapa de desenvolvimento da proposta, uma
atenção maior aos aspectos estruturais que as questões volumétricas e de
implantação ou, mesmo ainda, quanto às relações funcionais do edifício. Na segunda
fase, passou a estudar e atuar sobre soluções para definir os acabamentos do edifício
de uso habitacional, ao mesmo tempo em que a implantação do empreendimento
ainda sofria ações de planejamento (Figura 65).
0
1
2
3
4
5
Aluno 10
IMPL. TOP. FUND. EST. VED. COB.
ACAB. INST. CONF. FUNC. VOL.
125
Figura 65– Gráfico do processo projetual.
Fonte: Resultado da pesquisa.
Aluno 12
O aluno iniciou o seu processo de projetação associando em seu trabalho,
questões plásticas e funcionais. Observou-se uma atenção à topografia e aos
aspectos estruturais do empreendimento. A importância conferida à função e ao
sistema estrutural marcaram a segunda fase de desenvolvimento da proposta,
caracterizando-se como os dois itens mais atuantes nesse momento de
aprofundamento e de detalhamento da proposta (Figura 66).
Figura 66– Gráfico do processo projetual.
Fonte: Resultado da pesquisa.
0
0,5
1
1,5
2
2,5
3
3,5
4
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Aluno 11
IMPL. TOP. FUND. EST. VED. COB.
ACAB. INST. CONF. FUNC. VOL.
0
1
2
3
4
5
6
Aluno 12
IMPL. TOP. FUND. EST. VED. COB.
ACAB. INST. CONF. FUNC. VOL.
126
Aluno 13
O processo de projeto do estudante teve início com os estudos volumétricos,
evidências de preocupações com a implantação do edifício no lote e com a atenção
aos aspectos ligados ao conforto ambiental. Na segunda fase do processo, surgiram
outras variáveis, como a definição de materiais de acabamentos. A preocupação com
a estrutura foi observada apenas no final da segunda etapa de projeto, durante o
momento que equivale ao detalhamento e a representação da proposta (Figura 67).
Figura 67 – Gráfico do processo projetual.
Fonte: Resultado da pesquisa.
Aluno 14
Desde o início do processo projetual, este aluno incorporou diversas variáveis
em sua proposta. As relações estabelecidas com a topografia, a implantação e a
estrutura são visíveis desde o primeiro momento. Nessa etapa inicial, também
avançou nos aspectos volumétricos do seu projeto. Na fase seguinte, a preocupação
com o sistema estrutural e as funções a serem definidas nos ambientes é perceptível.
Em momentos diversos, observam-se as reflexões ou ações quanto aos materiais de
acabamentos e às instalações complementares (Figura 68).
0
1
2
3
4
5
6
7
Aluno 13
IMPL. TOP. FUND. EST. VED. COB.
ACAB. INST. CONF. FUNC. VOL.
127
Figura 68 – Gráfico do processo projetual.
Fonte: Resultado da pesquisa.
3.3.4 Análise geral dos produtos (FA-UL, 2015.1).
Ainda que não tenham sido disponibilizados os produtos finais dos estudantes,
foi possível tecer considerações sobre os trabalhos apresentados devido ao
acompanhamento sistemático realizado em sala de aula durante a pesquisa.
A maioria das propostas desenvolvidas pelos alunos do Laboratório de projeto
III considerou o entorno em suas soluções projetuais e levou também em
consideração a topografia do terreno para as definições das propostas arquitetônicas.
Isso foi verificado na proposição de estacionamentos, na implantação de áreas de
acesso ao público como lojas e na configuração de espaços, como praças de uso
semi-público.
Na representação gráfica dos projetos, as fundações foram indicadas em um
terço dos trabalhos realizados. Mesmo sem existir especificações diretas, as suas
demonstrações nos desenhos manifestaram uma consciência quanto à sua
necessidade enquanto base fundamental para os edifícios. Essa mesma consciência
construtiva tornou-se evidente com a importância conferida ao sistema estrutural dos
prédios, como pode ser visto na representação em corte de um dos projetos
elaborados (Figura 69).
0
1
2
3
4
5
6
7
Aluno 14
IMPL. TOP. FUND. EST. VED. COB.
ACAB. INST. CONF. FUNC. VOL.
128
Figura 69 – Corte transversal de proposta indicando o sistema estrutural como um todo, inclusive fundações.
Fonte: Trabalho final de um aluno. Editado pelo autor.
Foi visto que 75 % dos produtos apresentados demonstraram uma relação
direta entre a arquitetura e a estrutura. Tal como foi apresentado nos gráficos dos
processos de concepção, o aspecto estrutural foi tratado com frequência pela maioria
dos discentes no decorrer do semestre e se caracterizou como uma entrada
recorrente no planejamento arquitetônico. Entretanto, a grande maioria dos alunos
(dez trabalhos) optou pelo uso de estruturas convencionais em concreto armado - uma
tecnologia construtiva de uso recorrente nas obras de arquitetura que se realizam em
Portugal. Apenas dois projetos apresentaram a possibilidade de usar sistemas mistos
de construção, conjugando estruturas metálicas ao concreto. Estas propostas não
apresentaram aprofundamento técnico, entretanto, denotaram um pensamento em
direção a técnicas e tecnologias construtivas capazes de atender às exigências das
suas propostas (como balanços e vãos livres).
Quanto às vedações, não foram identificadas especificações exatas, mas todos
os trabalhos indicaram, por meio da representação gráfica, características que
diferenciavam materiais segundo usos internos ou externos. Isso se tornou evidente
por meio da análise das espessuras das paredes que variavam segundo a sua posição
nas plantas baixas e por meio das conversas sobre os projetos durante o atelier.
129
O mesmo ocorreu quanto às definições sobre as coberturas definidas para os
edifícios projetados. Nas representações gráficas, não foram vistas especificações
objetivas, porém, as observações realizadas in loco e os acompanhamentos dos
processos projetuais dos alunos permitiram ao pesquisador a obtenção da informação
que as lajes planas indicadas em onze propostas apresentavam razão estética e/ou
funcional.
Os materiais de acabamento tão pouco foram especificados nas
representações gráficas dos projetos e as informações quanto às suas escolhas se
devem, como no caso das soluções para as lajes de cobertura, às descobertas da
pesquisa durante a fase de desenvolvimento das propostas pelos alunos.
Esta inexistência de especificações nos produtos confirma o discurso do
docente que, anteriormente, esclareceu que estes dados não eram fundamentais para
o nível de detalhamento pretendido para os projetos. Desse modo, foi verificado que,
de fato, tais questões não foram essenciais para avaliação. Constatou-se que a
importância maior foi destinada às soluções funcionais e volumétricas do projeto e que
os alunos, por meio de iniciativas próprias, estabeleceram as suas propostas quanto
a estes aspectos e que, somente graças ao acompanhamento dos processos, foi
possível compreender as suas intenções (Figura 70).
Figura 70– Representação da fachada de um dos projetos.
Fonte: Trabalho final de um aluno. Editado pelo autor.
Por fim, outros aspectos, como uma possível preocupação com as instalações,
foram confirmados positivamente por meio de análise das soluções arquitetônicas de
resolução das plantas das unidades habitacionais. Em todos os projetos, os alunos
buscaram concentrar áreas molhadas, criando paredes hidráulicas. Ainda que não
tenha sido um aspecto exigido nos enunciados, nem pelo professor da disciplina
130
durante o processo de ensino em sala de aula, tais definições se configuraram como
indicadores de preocupação com os custos da obra. O estabelecimento de uma
modulação estrutural para o projeto foi outra preocupação que não foi ditada pelo
docente, mas que, apesar disso, foi visível em sete das doze propostas elaboradas.
Como explicitado anteriormente, este cuidado já havia sido verificado nos
acompanhamentos dos croquis de concepção e até mesmo em estudos volumétricos.
Considerações sobre o capítulo.
A partir da exposição da pesquisa desenvolvida no curso de arquitetura
português e da análise do Laboratório de projeto III, suas características oficiais
(baseada na análise da sua ementa) e aspectos observados em sala de aula, é
possível, ao fim do capítulo, tecer algumas considerações.
Pode-se concluir que existiam boas condições ambientais e pedagógicas para
o desenvolvimento do processo projetual dos alunos. A proporção de número de
alunos por professor (16:1) é considerada adequada e a carga horária semanal (com
dois encontros) era satisfatória para o desenvolvimento das atividades no atelier.
Apesar de haver orientação quanto à abordagem das questões materiais na
ementa da disciplina, esta não se caracterizava como uma questão fundamental do
processo, como foi esclarecido pelo docente. A importância conferida pelos alunos,
sobretudo à questão estrutural, partiu das necessidades funcionais do tipo de
empreendimento.
No processo projetual, que aconteceu sem integração com a disciplina de
Estruturas I, os discentes demonstraram a clareza quanto à necessidade de planejar
a obra arquitetural e durante o desenvolvimento da proposta, os aspectos materiais
foram pontuados em todos os projetos, com maior incidência em alguns trabalhos que
em outros.
Por fim, a utilização da maquete física desde o início de concepção do estudo
até a apresentação final da proposta demonstrou ser um meio relevante para o
aprendizado projetual nesta escola. Segundo o que foi observado, a sua função vai
além de comunicar o projeto, colaborando para a reflexão crítica do que é
desenvolvido.
131
4. INVESTIGANDO OS PROCESSOS PROJETUAIS E OS PRODUTOS DESENVOLVIDOS EM ATELIER DE PROJETO NO CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO DA UFRN (2015.2)
Este capítulo apresenta o estudo de caso realizado no curso de Arquitetura e
Urbanismo da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (CAU-UFRN), entre
setembro e dezembro de 2015.
Como no estudo de caso realizado em Portugal, apresentado no capítulo
precedente, os dados foram organizados em seis partes, as quais sistematizam a
análise e partem da caracterização do ambiente da sala de aula, para a descrição da
disciplina Projeto Integrado III, a percepção do professor de projeto, a análise dos
dados decorrentes das retrospectivas dos produtos e os processos, além da análise
dos produtos.
A seleção da disciplina no CAU-UFRN
Ao analisarmos a estrutura e ementário das disciplinas de projeto arquitetônico
que compõem o CAU-UFRN, percebe-se que, da sua totalidade, duas são
introdutórias e trabalham em sala de aula, noções essenciais ligadas à arquitetura, à
criação de formas, de volumes e às relações de escala, entre outras questões
fundamentais. Denominadas de Espaço e forma I e II, são oferecidas no primeiro ano
do curso, sendo uma em cada semestre. Ao analisarmos as cinco ementas das
demais disciplinas da área de projeto (Projeto de Arquitetura I, II, III, IV, V e VI), foi
observado que em quatro delas é feita alguma menção a assuntos relacionados ao
tema da materialização da obra41, seja apontando a necessidade de relacionar a forma
com a estrutura do edifício e promover a estabilidade, seja alertando para a
importância da incorporação de técnicas de racionalização e modulação no projeto e
na obra, ou ainda, ao tratar das instalações complementares, fases de detalhamento,
coordenação e gerenciamento do projeto.
Após análise42 da estrutura curricular do curso e dos seus demais documentos
oficiais (projeto político-pedagógico, ementas e programas de disciplinas de projeto)
41 Existem menções nas disciplinas de Projeto de Arquitetura I, III, IV e VI. 42 Não foi necessário realizar uma investigação de aproximação no CAU-UFRN tendo em vista que o pesquisador, além de ter estudado na instituição, também exerceu atividades de professor substituto em anos anteriores, fazendo com que houvesse uma compreensão maior do cenário local.
132
e levando em consideração a pesquisa realizada na Faculdade de Arquitectura da
Universidade de Lisboa, optou-se por realizar a investigação na disciplina Projeto de
Arquitetura III que, atualmente, é oferecida em atelier integrado no quinto período do
curso juntamente com os componentes curriculares denominados como Planejamento
e Projeto Urbano e Regional III e Planejamento da paisagem I.
Quanto à disciplina de projeto, foco principal desta etapa da pesquisa, ela foi
conduzida pelo Professor Doutor Marcelo Bezerra de Melo Tinôco e, segundo a
identificação do componente curricular disponível, possui uma carga-horária de 75
horas-aula. Os seus objetivos apontam para a elaboração de uma proposta
arquitetônica em nível de anteprojeto “com ênfase para a racionalização da proposta
em termos de coordenação modular e metodologia de projetação” (CAU-UFRN, 2006,
p.1). Observa-se a preocupação com as questões construtivas e tecnológicas na
reflexão e na elaboração do projeto de arquitetura, o que é reiterado pela ementa, que
se refere a uma busca de soluções que reflitam um processo projetual voltado para a
economia, a modulação e a aplicação das tecnologias construtivas.
Acredita-se que, para promover uma melhor análise comparativa entre os
casos estudados, apesar das diferenças entre as duas escolas, deveriam existir
características comuns às disciplinas. Deste modo, assim como no caso português, a
temática abordada nesta etapa do terceiro ano também foi o projeto de habitação
multifamiliar. Entretanto, o curso brasileiro analisado se diferenciou por voltar o olhar
especificamente para o projeto do edifício habitacional com fins sociais. O modo de
estruturação das aulas de projeto, inseridas em um atelier com outras disciplinas e a
elaboração do trabalho em grupo, também se caracterizou como um dos diferenciais
do caso do CAU-UFRN. Ainda que os contextos locais, as exigências culturais,
tecnológicas, inclusive climáticas também diferissem, considerou-se que o foco da
pesquisa na ocorrência das entradas de questões tecnológicas-construtivas na
concepção projetual no processo de projeto permitiram, ao final desse trabalho, uma
discussão comparativa.
4.1.1 O ambiente da pesquisa no CAU-UFRN.
O atelier de projeto aconteceu em sala localizada no bloco de aulas do setor IV
do campus central da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. O ambiente de
133
realização das atividades possuía climatização e contava com iluminação artificial
adequada e dispunha de pranchetas para acomodar os grupos de trabalho.
As pranchetas possuíam réguas paralelas móveis para auxiliar no desenho a
instrumento, porém, foi observado que, desde o início do processo de trabalho, os
alunos faziam uso de computadores portáteis pessoais. A sala também disponibilizava
aos seus usuários quadro a giz e projetor multimídia, utilizado para as aulas teóricas
e para as apresentações dos professores em seminários ou trabalhos desenvolvidos
pela turma (Figura 71).
Figura 71 – Vista da sala onde se realizavam as aulas de projeto.
Fonte: Fotografia do autor, 2015.
Observou-se que, em dias mais quentes e com a pouca eficiência dos
aparelhos de ar condicionado, a sala de aula apresentava uma temperatura ambiental
maior43. Além disso, o layout do ambiente (a distribuição do mobiliário) ou o número
de pranchetas da sala parecia dificultar os momentos de trabalho em grupo.
Kowaltowski et al (2011) apontam a direta relação entre a qualidade do espaço físico
e o desempenho dos alunos, indicando que há evidencias dos efeitos das variáveis
físicas do espaço no aprendizado, como a temperatura, a qualidade acústica,
dimensões funcionais, dentre outros aspectos. No caso da turma em observação,
notou-se que, por diversas vezes, durante o horário de aula, alguns estudantes se
reuniam em outros ambientes da universidade (como a área de convívio do setor de
laboratórios de Arquitetura ou a antessala do laboratório de informática) para discutir
e desenvolver os projetos (Figura 72).
43 As observações quanto aos aspectos do ambiente foram realizadas sem a utilização de instrumentos.
134
Figura 72 – Registros de alunos trabalhando no Laboratório de Informática do CAU-UFRN.
Fonte: Fotografia do autor, 2015.
Na verdade, comparando ao caso estudado na FA-UL em Lisboa, observava-
se, nos horários dedicados ao atelier de ensino de projeto do CAU-UFRN, muita
discussão sobre o trabalho e menos desenvolvimento da proposta em sala de aula.
Apesar destas condições, foi possível acompanhar a realização das atividades
durante o segundo semestre letivo de 2015, fazendo uso dos mesmos procedimentos
adotados para o caso estrangeiro.
As aulas do projeto integrado 44 aconteciam com a presença dos três
professores das disciplinas citadas e uma estagiária de docência da disciplina de
projeto (atividade relacionada ao PPGAU-UFRN), sempre às terças-feiras e às sextas-
feiras, em todo o período matutino (8:00h às 12:00h). Contou com a participação de
vinte e cinco alunos, dos quais cinco eram intercambistas (sendo quatro franceses e
um argentino). Os participantes foram agrupados em seis grupos, sendo cinco equipes
formadas por quatro participantes e apenas uma com cinco alunos.
4.1.2 Caracterização da disciplina Projeto de arquitetura III
No quinto período do CAU-UFRN, as atividades relativas ao projeto
arquitetônico encontram-se associadas diretamente às atividades das disciplinas da
44 A adoção desse conceito para a disciplina foi posta em prática a partir de 2013 com a experimentação de um novo currículo para o curso.
135
área de estudos urbanos e de paisagismo (Planejamento e projeto urbano e regional
III e Planejamento da paisagem I). As demais disciplinas ofertadas durante o quinto
semestre do curso são consideradas como complementares ao Atelier Integrado:
Estruturas I, História e teoria da Arquitetura e Urbanismo III, Desenho auxiliado por
computador II e Conforto ambiental I.
Segundo o programa da disciplina Projeto Integrado III, esta é dividida em
quatro fases: (1) problematização; (2) análise; (3) concepção e desenvolvimento e,
por fim, (4) representação. Estas quatro fases são distribuídas em três unidades que
perfazem um total de dezoito semanas de aula.
No primeiro momento (na primeira unidade do semestre), aconteceu a
teorização do assunto, buscando envolver as disciplinas que compõem o Projeto
Integrado III. Ao analisarmos o conteúdo programático e atividades, vê-se que nesta
primeira fase há um maior número de leituras, estudos dirigidos e de aulas teórico-
expositivas. Nesta etapa, que foi caracterizada como de problematização, ocorreu a
visita à área de estudo e o reconhecimento do terreno para a implantação do
empreendimento que seria projetado pelos alunos. Tratou-se de um momento de
coleta de informações para a análise e compreensão da área onde se daria a
intervenção. Posteriormente, como exercício e atividade avaliativa foi elaborado um
diagnóstico que investigou diversos aspectos que vão desde as características das
tipologias edilícias até as relações com o sistema urbano no qual a área se insere. Foi
no final deste momento de problematização e princípios da fase de análises em que
foi iniciada uma discussão sobre o conceito que indicaria os encaminhamentos para
a elaboração de um plano de massas e a implantação do conjunto habitacional.
Além disso, como no caso estudado em Lisboa, outra atividade desenvolvida
pelos alunos foi a análise de obras e projetos de habitação realizados no país e no
exterior, com o objetivo de formar o repertório arquitetônico de soluções. Estes
exemplos foram apresentados e discutidos em sala de aula, fazendo uso de projetor
multimídia. No entanto, diferentemente do que foi observado no curso português, os
alunos não precisaram escolher os estudos de referência a partir de uma lista pré-
definida pelo docente, o que exigiu dos grupos a realização de uma pesquisa sobre
precedentes arquitetônicos com esse tema. Estas duas tarefas marcaram o início do
processo projetual dos alunos e aconteceram nas duas últimas semanas de aula da
primeira unidade, contando com a participação do professor da disciplina de História
e teoria da Arquitetura e Urbanismo III.
136
Uma das exigências feitas pelo professor de projeto foi que, no primeiro
trabalho a ser entregue, os alunos anexassem ao relatório final da unidade os croquis
de concepção das propostas de zoneamento e de implantação do conjunto
habitacional. Estes registros deveriam fazer parte da avaliação do projeto, indicando
elementos do processo desenvolvido pelos estudantes (Figura 73).
Figura 73 – Croqui de concepção de implantação de conjunto habitacional de um dos grupos.
Fonte: Trabalho de um grupo. Fotografia do autor, 2015.
Esta exigência, ao constituir um memorial das ações projetuais, indicou a
importância conferida pelo docente ao processo de projeto, contribuiu para uma
melhor compreensão dos conceitos e zoneamentos adotados pelas equipes.
O título conferido à segunda unidade do atelier integrado (Desenvolvimento da
proposta: implantação, desenho urbano, tipologias habitacionais, paisagismo)
apresentou de maneira sucinta os objetivos a serem alcançados pelos alunos nesse
momento, que foi composto por sete semanas.
Após a fase inicial de embasamento quanto ao referencial teórico,
compreensão das potencialidades e necessidades da área de estudo e da construção
de referenciais de soluções arquitetônicas, a maior parte dos momentos do atelier de
projeto foram dedicados à elaboração da proposta arquitetônica, das intervenções no
desenho urbano e o tratamento da paisagem.
Percebeu-se como forte objetivo da disciplina Projeto Integrado III a intenção
de transmitir para os futuros arquitetos a compreensão da importância de pensar
esses projetos de maneira conjunta e não isoladamente, trazendo, para a formação
do arquiteto, uma visão holística de pensar o lote e as suas relações com o edifício, a
137
cidade e a paisagem 45 . Essa intenção implicou em um aumento no grau de
complexidade do projeto, tendo em vista o maior número de relações existentes a
partir da definição dessa estratégia/ método de ensino e de concepção projetual.
Nesta etapa, dedicada mais ao ato de refletir sobre as propostas e desenvolvê-
las, voltou-se a discutir a implantação do empreendimento com uma maquete que
representava o terreno com a sua variação topográfica na escala de 1:250. A base
era comum à turma e os grupos explicavam a suas propostas fazendo uso de modelos
físicos volumétricos, através de arranjos de massas (Figuras 74 e 75).
Figuras 74 e 75 – Registros das aulas dedicadas à análise das propostas em maquetes.
Fonte: Fotografias do autor, 2015.
Foram necessárias duas aulas para que todos os grupos apresentassem e
justificassem as suas propostas de implantação, posicionando nesta maquete os seus
estudos volumétricos. Imediatamente, após cada apresentação, os alunos receberam
avaliações dos professores presentes. Nestes dias, além dos três professores do
atelier, encontrava-se em sala o docente da disciplina de conforto ambiental que,
oportunamente, apontou para aspectos relacionados à orientação espacial dos blocos
residenciais e para o melhor aproveitamento da ventilação natural.
Tais observações renderam discussões nos grupos e, posteriormente,
adaptações nos projetos, sobretudo baseadas nas análises voltadas para a
45 A área estudada pelos alunos compreendia um trecho urbano da cidade de Natal/ RN predominantemente residencial e que estabelece uma relação direta com uma área de proteção ambiental (Parque das dunas). O lote selecionado para a proposição de um projeto de um empreendimento residencial multifamiliar e de cunho social, encontrava-se em região com características de assentamento informal consolidado às margens do parque urbano. Incidiam sobre o lote uma série de normas decorrentes da legislação municipal quanto à questões construtivas (limitação de gabarito e potencial construtivo) além de outras legislações relacionadas ao controle preservação ambiental.
138
otimização de aspectos relacionados ao conforto ambiental, como a orientação e o
posicionamento dos blocos edificados no lote. Acredita-se que esta discussão
conjunta, realizada com a participação de todos os alunos e professores envolvidos,
demonstrou ser uma excelente oportunidade, não apenas de apresentar as decisões
projetuais das equipes, mas, sobretudo, para compartilhar as observações efetuadas
pelos docentes (Figura 76). Esta mesma estratégia de discussão das propostas em
conjunto com todos os alunos também foi detectada no caso estudado em Lisboa e
também se apresentou como um meio profícuo para incentivar a reflexão no processo
de ensino-aprendizagem.
Figura 76 – Análise e discussão conjunta com sobre as propostas representadas em maquetes físicas.
Fonte: Fotografia do autor, 2015.
Já em um artigo de 2003, Tinôco et al. apresentavam as experiências com
planos de massas realizadas na disciplina do atelier integrado de arquitetura (do nono
período do curso da UFRN) e justificava o uso desse recurso metodológico no
processo de elaboração da proposta:
(...) temos utilizado o recurso do PLANO DE MASSAS como um dos instrumentos de projeto a serem explorados nos processos de negociação entre os atores convocados para a sua execução. Através do PLANO DE MASSAS é possível gerar um Plano Diretor de Diretrizes para a área e, portanto, uma base legislativa como expressão pura do desenho daquele espaço devidamente negociado. Esse procedimento, anterior à consolidação física do espaço construído, permite testar as variáveis do Plano, oferecendo uma configuração volumétrica da ocupação negociada, baseada em diversos cenários processados durante as fases de planejamento (TINÔCO et al., 2003, p.05).
139
A incorporação deste mesmo método aplicado anteriormente no nono período
do curso na disciplina de que trata essa pesquisa, indica os bons resultados
alcançados nessa busca didática do atelier de gerar reflexão, compreensão e
proposição em uma relação que o autor chama de dialética entre a forma e a norma
(TINÔCO et al., 2003).
Foi observado que outros encontros previstos no cronograma de aulas, com a
participação dos demais docentes das disciplinas complementares (Estruturas I e
Desenho auxiliado por computador II), não se concretizaram. Porém, por meio de
conversas informais com os participantes, foi informado que dúvidas relacionadas ao
projeto e a estas disciplinas eram sanadas junto aos professores destas disciplinas
em seus horários específicos ou outros momentos de orientação, fora da disciplina
Atelier Integrado. Estes dados indicam que, mesmo sem acontecer diretamente na
sala de aula, eram estabelecidas relações com as demais disciplinas, fato que não foi
notado no estudo de caso realizado em Portugal.
A última fase do processo de ensino, referente à terceira unidade, foi
caracterizada como destinada à representação e foi constituída por três semanas de
aula. Neste período, foram realizados os ajustes apontados na avaliação do projeto
entregue na segunda unidade, o detalhamento de alguns elementos considerados
essenciais para o melhor entendimento da proposta e a representação/ apresentação
em formato de pôster (em tamanho A3) para apresentação dos resultados alcançados.
A análise da distribuição dos conteúdos e atividades, nestas três etapas do atelier
integrado, demonstrou que a primeira fase, com oito semanas de aula (assimilação
de informações e análise da área urbana), foi responsável por quase 45% do
calendário da disciplina. Como visto, os alunos finalizaram a primeira unidade apenas
com a definição do conceito e zoneamento que pretendiam adotar no projeto. Tiveram
as sete semanas seguintes (segunda unidade) para desenvolver a proposta e as três
semanas finais (terceira unidade) para fazer ajustes e preparar os painéis.
Os painéis foram apresentados no último dia de aula, que contou também com
uma avaliação informal do atelier entre todos os participantes quanto às atividades,
processos e produtos obtidos.
Quanto à avaliação dos processos e produtos, ao fim de cada unidade, o
conjunto dos três professores se reunia para discutir os resultados obtidos pelos
grupos, examinar e planejar as ações didáticas seguintes, ajustando as tarefas ao
calendário. A avaliação era sistematizada em um quadro, o qual era entregue aos
140
discentes durante a reunião de feedback em aula posterior. Deste modo, era possível
documentar os pontos positivos e questões a serem aperfeiçoadas nos próximos
exercícios e trabalhos. Esta prática foi utilizada durante as avaliações dos trabalhos
finais de todas as unidades e colaborou com o processo de ensino-aprendizagem,
tornando a avaliação mais objetiva e transparente.
4.1.3 A percepção do docente
Seguindo o mesmo molde do que foi realizado no estudo de caso português e
em busca de compreender com maior afinco as questões envolvidas no processo de
ensino de projeto no quinto período do CAU-UFRN e os seus objetivos, foram
coletadas informações junto ao docente responsável pelo ensino do projeto
arquitetônico. Tais respostas representam a percepção do professor e acrescentam
ao estudo de caso as justificativas para o que foi refletido no planejamento e na prática
didática do atelier de projeto onde se deram as observações.
Inicialmente, quando perguntado sobre como foi abordada a relação arquitetura
e construção, a resposta fornecida é amparada pela definição da própria disciplina, já
que a temática prevista para o quinto período se associa à racionalização da
construção. Desse modo, segundo Tinôco, “(...) a relação entre projeto e construção
no atelier de projeto resulta da adoção de sistemas construtivos que tem como
princípios a modulação e a pré-fabricação”.
Ainda segundo Tinôco, no caso da disciplina do quinto período, a maior
dificuldade em trabalhar conteúdos tecnológicos-construtivos baseados na modulação
e pré-fabricação aplicados a habitação social está na escassez de referências e
experiências locais decorrente de um parque construtivo e tecnológico pouco
desenvolvido.
De fato, pode-se afirmar que existem limitações tecnológicas na indústria da
engenharia e arquitetura no Estado do Rio Grande do Norte, o que dificulta a
realização de palestras e debates, visando a difundir outras técnicas e tecnologias
construtivas existentes.
De acordo com o docente, este é o mesmo motivo que gera dificuldades
também junto aos estudantes, tendo em vista que estes não possuem grandes
oportunidades de vivenciar e conhecer na prática estes sistemas por meio de visitas
141
e acompanhamentos técnicos. De fato, essa observação é pertinente, tendo em vista
que esse distanciamento da prática pode gerar insegurança nas definições projetuais
dos alunos.
Visando a minimizar estes problemas, o docente citou a necessidade de
estimular a adoção nos projetos elaborados pelos estudantes, sistemas construtivos
mistos que fazem uso de elementos pré-fabricados associados a componentes de uso
tradicional no mercado da construção civil da região. Foi observado, durante os
momentos do atelier, que o professor levava para a sala de aula exemplos de modelos
de divisórias e catálogos técnicos de materiais, com o objetivo de aproximar esses
elementos construtivos e outras informações técnicas da prática do projeto
desenvolvida no atelier de ensino (Figura 77).
Figura 77 – Modelos de divisórias e detalhes técnicos sendo demonstrados em sala de aula.
Fonte: Fotografia do autor, 2015.
Esta atitude configurou-se como uma ação didática capaz de instigar a reflexão
dos discentes sobre a materialidade da obra, tentando atender às exigências definidas
para o curso no quinto período, sem deixar de demonstrar a possibilidade de conjugar
soluções a partir da utilização de materiais e técnicas que são disponíveis e familiares
aos alunos. Vê-se, como o próprio professor afirmou, a existência de um estímulo para
pensar o planejamento da obra arquitetônica em sala de aula.
Segundo a sua resposta, a preocupação, por parte dos estudantes com o
planejamento da obra, acontece naturalmente e resulta da necessidade de utilização
de princípios da modulação e da pré-fabricação aplicados a sistemas que denominou
142
de “abertos”. Para Tinôco, o aluno se vê diante da necessidade de pensar em “famílias
de componentes” construtivos, o que de certa forma exige pensar na obra como um
conjunto sistêmico e planejado.
Por fim, quanto aos aspectos que são abordados junto aos alunos no processo
de concepção, o professor indicou os seguintes pontos: estrutura, vedações,
cobertura, instalações e questões relacionadas à economia de custos da obra. No
caso desse último, devido ao estímulo em pensar a obra segundo estudos de
modulação.
O que foi observado nas propostas é que esta preocupação com a modulação,
ao menos por parte dos alunos, se refletiu apenas no plano horizontal dos projetos,
ou seja, nas plantas baixa propostas. Acredita-se que a sua adoção no plano vertical
(fechamentos e divisórias) também poderia ter sido explorada. Em todo caso, a
iniciativa foi considerada válida, por estimular essa reflexão no processo projetual.
Considera-se que as respostas fornecidas pelo professor ratificaram os
objetivos declarados na ementa da disciplina e demonstraram, associadas às ações
presenciadas em sala de aula, o intuito do docente de trabalhar questões relativas ao
planejamento e materialização do projeto arquitetônico.
4.1.4 Retrospectiva quanto ao produto e ao processo pelos alunos
Foram aplicados vinte e um formulários junto à turma de alunos, com a
finalidade de apurar as justificativas para as escolhas técnico-construtivas e, como
realizado no caso estudado em Portugal, complementar as informações quanto às
etapas do processo de projetação. Desta forma, o mesmo instrumento de coleta de
dados foi aplicado, visando a estabelecer uma discussão posterior a respeito de
ambas as investigações.
No caso brasileiro, o instrumento de coleta de dados direcionado aos
estudantes foi aplicado como no caso da disciplina acompanhada em Lisboa. Ou seja,
se deu individualmente, mesmo o projeto tendo sido desenvolvido em equipes.
Posteriormente, as respostas foram agrupadas também de acordo com os grupos
para extrair informações nos dois níveis.
Quando perguntados se foram desenvolvidas análises quanto aos sistemas e
técnicas construtivas para a concepção dos projetos, a grande maioria das respostas
143
foi afirmativa. Apenas quatro alunos responderam que não foram realizadas tais
análises. Dentre os pontos analisados, destacam-se, em primeiro lugar, uma busca
por métodos mais convencionais de construção, a relação entre a construção e a
estrutura, além de características como a flexibilidade nas plantas, a racionalização
da construção e o uso da modulação para a estruturação das áreas e vãos dos
ambientes das unidades habitacionais. O aspecto economia de custos também foi
mencionado e pode-se dizer que se associa ao cuidado com os dois últimos itens
citados (Figura 78).
Figura 78 – Aspectos que foram analisados no processo projetual segundo os alunos.
Fonte: Resultado da pesquisa.
Considera-se que a atenção conferida a estes aspectos são reflexos dos
objetivos presentes na ementa da disciplina de projeto, os quais apontam para a
elaboração de um projeto de habitação multifamiliar destinado a população de menor
renda, assinalando a intenção de trabalhar as propostas com as questões de
racionalização e de modulação arquitetônica. Além disso, vê-se que a intenção de
valorizar o uso de métodos mais convencionais e disponíveis no mercado da
construção civil local indica uma reflexão quanto ao planejamento da obra. Ao mesmo
tempo, pode representar uma opção mais segura para os próprios estudantes, que
também são mais familiarizados com essas técnicas e materiais.
Segundo a maioria das respostas, as análises se deram, sobretudo, a partir de
pesquisas em diversas fontes de referência tais como consultas a livros, periódicos e
páginas especializadas na internet.
00,5
11,5
22,5
33,5
44,5
Mét
od
os
mai
sco
nve
nci
on
ais
Rel
ação
sis
tem
aco
nst
ruti
vo e
estr
utu
ra
Flex
ibili
dad
e
Rac
ion
aliz
ação
Mo
du
laçã
o
Eco
no
mia
Div
ers
os
144
Mesmo que apenas 52% das respostas tenham indicado que existiram
preocupações com o planejamento da obra, os estudantes declararam que foram
pretendidas soluções mais convencionais pois, de acordo com os seus discursos,
seriam capazes de facilitar a execução da obra. Segundo as respostas fornecidas, os
grupos também procuraram racionalizar os projetos, tentando relacionar melhor o
sistema estrutural à variedade de opções de plantas desenvolvidas para as moradias
para alcançar a pretendida flexibilidade espacial, também apontada nas respostas.
Questionados sobre o elemento que deveria apresentar maior grau de
dificuldade para a execução da obra, a grande maioria das respostas se referiu ao
sistema estrutural. A cobertura foi o segundo item mais citado pelos discentes. Foram
identificados projetos que apresentaram lajes de cobertura em concreto, com a função
de terraços descobertos, que atuariam como espaço de convivência para os usuários
do empreendimento. Anteriormente, vimos essa mesma solução nos projetos
portugueses analisados no estudo de caso da FA-UL. Outras propostas foram
pensadas em estrutura metálica, com generosos beirais, compostos por telhas
específicas, para amenizar a transmissão térmica para o interior dos apartamentos,
resultado das discussões ocorridas junto à disciplina de Conforto Ambiental I. Por
último, a variação tipológica pretendida em todos os projetos e que se destacou como
um partido adotado por todos os grupos, alertou aos alunos para a necessidade de
um maior detalhamento das plantas e de suas variantes, de modo a evitar problemas
em relação à estrutura e com as instalações complementares (Figura 79).
Figura 79 – O que deve apresentar maior grau de dificuldade para a execução na obra.
Fonte: Resultado da pesquisa.
0 1 2 3 4 5 6 7 8
ESTRUTURA
COBERTURA
PLANTAS
PROTETORES SOLARES
PASSARELAS
SOLUÇÕES DE URBANISMO
145
Quanto a este aspecto, ao contrário do resultado da análise dos dados da FA-
UL, onde os alunos parecem ter confundido as suas dificuldades pessoais de projeto
com as dificuldades de execução de partes da obra, os discentes brasileiros parecem
ter compreendido melhor a questão.
Tendo em vista que no sistema estrutural foi considerado o aspecto que
apresentaria maior grau de dificuldade para a etapa de materialização da obra, este
item também foi citado como o que merecia ser mais bem detalhado ou que exigiria
um melhor detalhamento em fases posteriores de representação, destinadas a uma
fase de execução do projeto. A sua menção se deu com uma expressiva diferença
entre os demais itens citados pelos alunos, tais como as plantas das unidades
habitacionais e elementos como os painéis de divisórias, de fachadas, os protetores
solares, os gradis e as passarelas. Curiosamente, a cobertura, anteriormente indicada
como uma das partes da construção que apresentaria um alto grau de dificuldade, não
foi citada com a mesma intensidade (Figura 80).
Figura 80– Partes ou aspectos que devem ser mais bem detalhados segundo os alunos.
Fonte: Resultado da pesquisa.
Catorze afirmações positivas, equivalente a 66% do total das respostas,
relataram que não foi necessário repensar as soluções iniciais do projeto. Segundo os
alunos que responderam deste modo, isso se deve ao fato de que as propostas já
foram pensadas segundo estudos de modulação e baseados em conceitos
relacionados aos partidos arquitetônicos adotados. Os demais assumiram o fato de
que adaptações precisaram ser realizadas e também alterações mais profundas em
virtude das necessidades funcionais, entre outros motivos (Figura 81).
0 1 2 3 4 5 6 7
ESTRUTURA
OUTROS
PAINÉIS (VEDAÇÕES)
GRADIS
PROTETORES SOLARES
PLANTAS DAS UNIDADES
PASSARELAS
COBERTURA
146
Figura 81– Foi preciso repensar soluções?
Fonte: Resultado da pesquisa.
Quanto à definição dos tipos de sistemas estruturais adotado para os projetos
(sistema estrutural em concreto armado moldado in loco, pré-moldados de concreto,
sistemas mistos em estrutura metálica e concreto), foram elencados onze motivos. A
grande parte destas razões diz respeito ao fato de ser uma tecnologia construtiva
bastante conhecida, familiar e que já é incorporada no mercado da construção civil
local. Outras características relacionadas à manutenção, modulação, precisão,
esbelteza das peças, leveza e flexibilidade também foram citadas como relevantes
para as decisões quanto ao sistema estrutural. A preocupação com a geração de
resíduos também se fez presente nas respostas, testemunhando uma preocupação
ambiental (Figura 82).
Figura 82 – Justificativa para escolha do sistema estrutural.
Fonte: Resultado da pesquisa.
0 1 2 3 4 5
EXECUÇÃO "FÁCIL"
FAMILIARIDADE. TECNOLOGIA…
FLEXIBILIDADE
LEVEZA
ESBELTEZ
CAPACIDADE DE VENCER VÃOS MAIORES
ADEQUAÇÃO À PROPOSTA
MODULAÇÃO
PRECISÃO
GERAÇÃO DE POUCOS RESÍDUOS
MANUTENÇÃO
7
14
SIM NÃO
147
Já as vedações, segundo as respostas, foram definidas em função da
flexibilidade que poderiam oferecer ao projeto (Figura 83). Neste caso, tanto os painéis
em dry wall quanto as divisórias propostas em alvenaria possibilitariam tais mudanças,
tendo em vista que o segundo caso é mais convencional e há um maior número de
mão de obra habilitada para executá-la em casos de reformas nas unidades.
Essa procura por opções de técnicas e de tecnologias construtivas, já
comumente utilizadas nas obras de arquitetura e engenharia na região, ratificam o
partido adotado pela maioria das propostas e se relaciona com o que havia sido
apontado pelo docente responsável pela disciplina, quando se referiu aos métodos e
técnicas construtivas comumente empregadas no estado. No entanto, como
apontado, também foi possível notar a incorporação de outros tipos de sistemas, como
os painéis móveis e as divisórias internas em dry wall.
Figura 83 – Justificativa para escolha das vedações.
Fonte: Resultado da pesquisa.
Quanto às definições da cobertura, estas foram pautadas, principalmente, por
opções estéticas. Justificativas funcionais também foram levantadas tendo em vista
que, em algumas propostas, as lajes de cobertura foram tratadas como áreas de uso
comum (laje em concreto impermeabilizada). Por fim, outras razões como leveza
estrutural e a atenção conferida aos aspectos do conforto ambiental também surgiram
nas respostas, como relatado com as especificações das telhas metálicas.
Finalmente, as respostas que trataram das definições de materiais de
acabamento nas propostas apontaram em ordem de atenção conferida pelos
projetistas, primeiramente à associação com cuidados com questões ligadas ao
conforto ambiental e, em segundo lugar, às questões funcionais dos materiais e em
terceiro, aos aspectos técnicos dos elementos (Figura 84).
0 2 4 6 8
FLEXIBILIDADE
ECONOMIA
SIMPLICIDADE
FAMILIARIDADE (USUÁRIO)
MÃO DE OBRA
MONTAGEM
MOTIVO ESCOLHA VEDAÇÕES
148
Figura 84 – Indicação das justificativas para os materiais de acabamento.
Fonte: Resultado da pesquisa.
Confirma-se a importância conferida aos aspectos tecnológicos relacionados
ao conforto, resultado de uma efetiva integração de conhecimentos e de uma reflexão
promovida pelas disciplinas de conforto ambiental que compõem o curso de
Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
Os dados apresentados demonstraram que as propostas elaboradas
incorporaram soluções baseadas nos aspectos exigidos pela disciplina de projeto,
como a modulação, a racionalidade construtiva e a flexibilidade. A análise dos
aspectos tecnológicos-construtivos nos processos de projeto dos grupos
demonstrará, a seguir, como se deram essas entradas e em quais momentos foram
consideradas relevantes para o processo.
4.1.5 Análise dos processos de projeto
Grupo 01 (05 alunos)
O gráfico do processo de projeto do Grupo 01 demonstra atenções iniciais com
a implantação do empreendimento, aspectos volumétricos e ainda com questões
urbanísticas. A resolução das plantas se deu a partir do meio do processo e indicou
que o foco nessa etapa passou a ser na solução funcional da proposta. Preocupações
com a modulação e a racionalização aconteceram já no início do processo de projeto,
enquanto que definições de acabamentos, cobertura e do sistema estrutural aparecem
somente em fase final (Figura 85).
0
1
2
3
4
5
6
7
8
9
TÉCNICOS FUNCIONAIS ESTÉTICA INOVAÇÃO CONFORTO TRADIÇÃO
DEFINIÇÕES DOS ACABAMENTOS
1º 2º 3º 4º 5º
149
Figura 85– Gráfico do processo projetual.
Fonte: Resultado da pesquisa.
Grupo 02 (04 alunos)
Implantação, conforto e volumetria são as primeiras entradas do processo no
gráfico do segundo grupo em análise. Definições funcionais surgiram com maior
intensidade no meio do desenvolvimento da proposta junto a questões de
modulação/racionalização do projeto. Nesse momento, os integrantes do grupo
trabalham o projeto baseados em módulos de 1,20 m x 1,20 m. Preocupações com as
instalações surgiram em uma fase mais avançada, assim também como as questões
estruturais que passaram a aparecer constantemente na fase final de
desenvolvimento do anteprojeto. Definições de acabamentos e de cobertura tornaram-
se evidentes apenas no produto avaliado no dia 20 de novembro, ou seja, em fins do
processo (Figura 86).
0
1
2
3
4
5
6
Grupo 01
IMPL. TOP. FUND. EST. VED.COB. ACAB. INST. CONF. FUNC.VOL. MOD/RAC. URB
150
Figura 86 – Gráfico do processo projetual.
Fonte: Resultado da pesquisa.
Grupo 03 (04 alunos)
A única observação realizada no início do processo de projeto indicou a
discussão e desenvolvimento de ideias de implantação. A modulação/racionalização
se apresentou com força no desenvolvimento do projeto, o que interferiu diretamente
nos aspectos funcionais. Ao mesmo tempo, aspectos estruturais só ficaram evidentes
no fim do processo, sugerindo que foram definidos a posteriori. Também surgiram no
trabalho entregue para avaliação da segunda unidade as indicações de materiais e
dos sistemas de vedação, fechamentos e acabamentos, ou seja, apenas no fim do
desenvolvimento da proposta (Figura 87).
Figura 87 – Gráfico do processo projetual.
Fonte: Resultado da pesquisa.
0
1
2
3
4
5
Grupo 02
IMPL. TOP. FUND. EST. VED.
COB. ACAB. INST. CONF. FUNC.
VOL. MOD/RAC. URB
0
1
2
3
4
5
Grupo 03
IMPL. TOP. FUND. EST. VED.
COB. ACAB. INST. CONF. FUNC.
VOL. MOD/RAC. URB
151
Grupo 04 (04 alunos)
De acordo com as observações realizadas, o grupo 04 foi o único a fazer
referência à topografia do terreno nos croquis de concepção com um corte
esquemático, que demonstra os níveis e os gabaritos propostos para os edifícios. Os
estudos de implantação deram início ao processo, como menções a aspectos de
conforto ambiental e a características volumétricas dos prédios em elaboração.
Questões ligadas à modulação e à racionalização foram presenças constantes
desde o início até as fases mais avançadas do projeto. Os integrantes do grupo
incorporaram também ao processo, desde a fase intermediária, diversas questões
como vedações, acabamentos e questões urbanísticas, além de preocupações
funcionais associadas às instalações hidráulicas. No entanto, decisões quanto à
cobertura e ao sistema estrutural apareceram apenas no fim do processo da segunda
unidade (Figura 88).
Figura 88 – Gráfico do processo projetual.
Fonte: Resultado da pesquisa.
Grupo 05 (04 alunos)
As observações realizadas sobre o processo de projetação do grupo 05
indicaram preocupações iniciais com a implantação e que se associaram a aspectos
de modulação e racionalização em fase intermediária do desenvolvimento da
proposta. Ao contrário dos demais grupos, a volumetria pareceu ser pouco explorada
no processo. Definições técnicas relacionadas à materiais, instalações e estrutura
surgiram no fim do processo de projetação, antes da segunda entrega de trabalho
(Figura 89).
0
2
4
6
8
Grupo 04
IMPL. TOP. FUND. EST. VED.
COB. ACAB. INST. CONF. FUNC.
VOL. MOD/RAC. URB
152
Figura 89– Gráfico do processo projetual.
Fonte: Resultado da pesquisa.
Grupo 06 (04 alunos)
Inicialmente, o processo de projeto do sexto grupo observado foi marcado por
preocupações que dizem respeito à urbanização e à implantação do empreendimento
na área, com estudos volumétricos e elaboração dos planos de massas. Vê-se, a partir
da análise do gráfico, a incidência de questões relacionadas à
modulação/racionalização do projeto e a tentativa de solucionar funcionalmente as
tipologias. O grupo avançou na proposta abordando outros aspectos técnicos-
construtivos, mas que surgiram no meio do processo como questões ligadas às
instalações hidrossanitárias, definições de cobertura e de acabamentos. Estudos ou
indicações quanto ao sistema estrutural não foram detectados em grande parte do
processo. A solução adotada para a estrutura foi apresentada apenas no trabalho da
segunda unidade assim também como as definições de fechamentos e vedações
(Figura 90).
0
1
2
3
4
Grupo 05
IMPL. TOP. FUND. EST. VED.COB. ACAB. INST. CONF. FUNC.VOL. MOD/RAC. URB
153
Figura 90– Gráfico do processo projetual.
Fonte: Resultado da pesquisa.
4.1.6 Análise geral dos produtos (CAU-UFRN, 2015.2).
Ao contrário do estudo de caso realizado na FA-UL, todos os trabalhos finais
em forma de painel foram disponibilizados ao pesquisador, complementando os dados
sistematizados na ficha de análise dos produtos. Deste modo, ao analisarmos as
propostas desenvolvidas pelos grupos de trabalho da disciplina Projeto de Arquitetura
III, percebe-se que todas consideraram o entorno e as suas características (tipológicas
e ambientais) para o desenvolvimento dos projetos. Todas as propostas respeitaram,
sobretudo os gabaritos dos edifícios existentes, os limites e os níveis do Parque das
Dunas que circunda a área.
Compreendeu-se, a partir dessa condição, que as implantações dos projetos
pretenderam criar ambientes de transição entre o ambiente construído e o natural,
considerando, além da legislação incidente na área, aspectos de conforto ambiental
(Figura 91).
Figura 91 – Corte demonstrando a transição de gabaritos e a relação com as dunas.
Fonte: Trabalho final de um grupo. Editado pelo autor.
0
2
4
6
Grupo 06
IMPL. TOP. FUND. EST. VED.
COB. ACAB. INST. CONF. FUNC.
VOL. MOD/RAC. URB
154
O fato da topografia ser praticamente plana fez com que os projetos não
precisassem lançar mão de soluções mais arriscadas e complexas de implantação.
As propostas, deste modo, também não sugeriram movimentação de terra para o
estabelecimento de configurações novas.
Quanto ao sistema estrutural, como visto na análise dos processos de
concepção, a maioria dos grupos parece ter solucionado em estágio mais avançado
do planejamento arquitetônico. Em busca de soluções mais familiares a todos os
envolvidos (projetistas e usuários), metade dos grupos optou pelo sistema
convencional em estrutura de concreto armado. Os outros três grupos propuseram o
uso de estruturas metálicas com laje em steel deck ou em placas pré-moldadas de
concreto (Figuras 92, 93 e 94).
Figura 92 – Apresentação do sistema estrutural em concreto e outros componentes.
Fonte: Trabalho final de um grupo. Editado pelo autor.
155
Figura 93 – Apresentação do sistema estrutural em estrutura metálica de um dos projetos apresentados.
Fonte: Trabalho final de um grupo. Editado pelo autor.
Figura 94 – Apresentação do sistema construtivo de uma proposta.
Fonte: Trabalho final de um grupo. Editado pelo autor.
156
Notou-se que, apenas em dois projetos, a forma foi aliada à estrutura desde o
início do processo de projetual. As demais propostas parecem ter incorporado
somente após análises realizadas em fases mais avançadas da projetação ou em
função dos estudos de modulação, que fizeram com que os estudantes se sentissem
mais seguros para propor o “lançamento” dos pilares.
Nos produtos apresentados, os painéis de vedação externos e divisórias
internas foram definidas pelos alunos. O uso do tijolo cerâmico nos fechamentos foi
predominante. Internamente, a metade dos projetos indicou a utilização de painéis
industrializados, justificados pela flexibilidade e leveza, entre outras características.
Todos os projetos indicaram o tipo de cobertura a ser executada, com a
representação do material de telhamento ou com a especificação da
impermeabilização da laje. Quanto a esse item do projeto, notou-se uma atenção
relacionada com aspectos de conforto ambiental na escolha de chapas de telhas
industrializadas em alumínio com preenchimento em poliestireno expandido e nas
composições de grandes beirais, para promover o sombreamento.
Quanto às definições de acabamentos, foi visto que, de maneira geral, estes
são identificados nas representações. No entanto, não foram aprofundados nas
pranchas ou nos painéis (Figura 95). Nota-se, a partir dos demais acompanhamentos
e das análises dos processos, que a maioria das definições surgiu na fase final de
entrega do anteprojeto dado que, poucas soluções ficaram evidentes nos croquis e
nos desenhos realizados na fase dos estudos preliminares.
Figura 95 – Exemplo de apresentação de uma das propostas: esquema estrutural, plantas-baixas e vistas em perspectiva.
Fonte: Trabalho final de um grupo. Editado pelo autor.
157
Há uma notória preocupação com as instalações hidrossanitárias, quando se
percebe que todos os trabalhos (assim como no caso português) buscaram concentrar
as áreas molhadas nas resoluções funcionais das plantas baixas das unidades
habitacionais (Figura 96).
Figura 96– Planta baixa demonstrando a busca pela concentração de áreas molhadas e suas instalações.
Fonte: Trabalho final de um grupo. Editado pelo autor.
Este procedimento de setorização no projeto refletiu uma preocupação com o
planejamento da obra arquitetônica, já que definições como essa influenciam na
execução da obra e na fase de operação dos edifícios, proporcionando economia de
custos em ambas as fases.
Tendo em vista os produtos analisados, é possível afirmar que a dimensão do
exercício projetual e a sua complexidade, que envolvia diversos aspectos
relacionados às questões arquitetônicas, urbanas e paisagísticas, pareceu dificultar a
sistematização das especificações. Ou os discentes não tiveram tempo hábil para
avaliar melhor as opções em função das demais urgências presentes nas disciplinas
integradas.
Por último, foi constatado que cinco dos seis projetos analisados demonstraram
a preocupação com a modulação e a racionalização do projeto, confirmando o alcance
do objetivo da disciplina de fazer os alunos refletirem sobre esses assuntos e
aplicarem como argumento em suas proposições arquitetônicas.
158
Considerações sobre o capítulo.
Como visto, a ementa da disciplina de projeto apresenta a necessidade de
buscar soluções capazes de refletir um processo projetual voltado para a economia,
a modulação e a aplicação da tecnologia.
Os dados coletados em sala de aula permitiram confirmar que a intenção da
ementa foi incorporada nas definições das estratégias didáticas elaboradas pelo
docente responsável e, nesta ocasião, fizeram parte do discurso que apresentou a
sua percepção do processo de ensino-aprendizagem.
A retrospectiva do processo projetual dos alunos demonstrou a compreensão
dos discentes quanto à necessidade de planejar o projeto do empreendimento
habitacional segundo princípios de racionalização da construção e, ao mesmo tempo,
com o olhar voltado para a área onde seria implantado o conjunto arquitetônico. Esta
visão mais abrangente decorreu dos esforços empreendidos pelo grupo de
professores envolvidos, que, a partir da definição de um método de análise conjuntural
(que envolve as questões urbanas, da paisagem e condições ambientais), possibilitou
uma análise mais aprofundada e uma visão sistêmica do projeto.
No entanto, este maior grau de complexidade e o tempo limitado para o
desenvolvimento da proposta, em nível de anteprojeto, pode ter afetado o seu
desenvolvimento, pois, como visto, várias definições de materiais (ainda que tenham
sido apontadas nos painéis da fase “representação”), parecem ter surgido ao fim do
semestre, às vésperas da entrega final. Mesmo assim, os dados apresentados no
capítulo demonstraram que, tal como foi proposto, foi possível abordar as questões
tecnológico-construtivas no processo de ensino e de projeto, por meio de estímulos
voltados para a reflexão deste conteúdo em sala de aula.
159
5. EXPERIÊNCIAS DE ENSINO: ESTIMULANDO A REFLEXÃO QUANTO À MATERIALIZAÇÃO DA OBRA ARQUITETÔNICA NO PROCESSO DE PROJETO.
Este capítulo tem como objetivo apresentar e discutir duas experiências
didáticas realizadas no curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do
Rio Grande do Norte. A primeira experiência, caracterizada como de longa duração,
aconteceu no segundo semestre de 2014, enquanto a segunda investida, de curta
duração, foi realizada no segundo semestre de 2015, durante quatro dias em um
evento promovido pelo centro acadêmico do CAU-UFRN. Inicialmente, a proposta era
repetir a experiência seguindo os mesmos moldes da primeira, no entanto, por motivos
acadêmicos, não foi possível fazê-lo, exigindo da pesquisa uma adaptação.
Estas duas investigações, também consideradas como estudos de caso, serão
apresentadas a partir da ordem cronológica dos acontecimentos e terão os dados
coletados expostos a partir da seguinte organização: (i) apresentação da experiência;
(ii) atividades desenvolvidas; (iii) avaliação dos resultados.
Primeira experiência didática (CAU-UFRN, 2014.2)
O conteúdo apresentado a seguir tem como objetivo descrever e analisar a
primeira experiência didática realizada para o desenvolvimento desta tese, com a
participação direta do pesquisador em sala de aula. Tratou-se de um curso de longa
duração realizado durante os meses de julho a novembro de 2014 e oferecido para
alunos a partir do sétimo período do curso de Arquitetura e Urbanismo da
Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Contou com a participação de nove
estudantes de diferentes períodos, inclusive com a presença de três alunos oriundos
de universidades sul-americanas, participantes de programa de mobilidade estudantil,
o que enriqueceu o compartilhamento e a troca de informações.
5.1.1 Primeira experiência didática: Metodologia do Projeto arquitetônico.
A primeira experiência investigativa desenvolveu-se em uma disciplina optativa
ao currículo do CAU/UFRN, lecionada durante o segundo semestre de 2014, com um
160
encontro semanal, no período noturno. Por se tratar de um componente curricular
eletivo e já existente no quadro de disciplinas do curso e que trata de metodologia de
projetos, foi necessário manter o objetivo geral presente na ementa oficial. Porém, foi
preciso adaptar o seu objetivo específico para servir como meio de coleta de dados
para a pesquisa no atelier de ensino de projeto46. A intenção com a adaptação do
objetivo específico foi possibilitar aos alunos a integração de conhecimentos
relacionados aos aspectos construtivos da obra arquitetônica e o seu planejamento
durante o processo de concepção projetual.
Os encontros semanais aconteceram em sala de aula do Centro de Tecnologia,
normalmente utilizada para outras disciplinas do curso de Arquitetura e Urbanismo da
Universidade Federal do Rio Grande do Norte. O ambiente climatizado e com
iluminação artificial mostrou-se adequado para a realização das atividades. Dispunha
de pranchetas com réguas paralelas e cadeiras, quadro negro a giz e projetor
multimídia. Aos participantes, de acordo com as atividades realizadas, foram
fornecidos papéis, lápis de cor e canetas hidrográficas, caso fossem necessários para
o desenvolvimento de estudos em croqui (Figura 97).
Figura 97 – Alunos desenvolvendo atividades de projetação em sala de aula.
Fonte: Fotografia do autor, 2014.
46 A disciplina optativa ARQ 0252, denominada Metodologia do Projeto Arquitetônico tem como objetivo atualizar a formação do estudante, completando a sua formação na área de projetos arquitetônicos através da discussão de tópicos de metodologia de projeto inovadoras, aprofundando os aspectos conceituais, normativos, legislativos e epistemológicos do processo (DARQ,2005). Para a sua realização foi cadastrada e supervisionada durante o semestre letivo pela professora e orientadora desta tese: Maísa Fernandes Dutra Veloso.
161
Dentre os nove alunos participantes dessa pesquisa, dois encontravam-se no
oitavo período do curso, quatro no nono período e três estudantes cursavam o último
semestre. Observa-se que os alunos estavam em fases finais da graduação em
Arquitetura e Urbanismo, tendo concluído todas as disciplinas referentes à temática
relacionada aos sistemas tecnológicos-construtivos. Nesta etapa do estudo, esta foi
uma condição estabelecida para o preenchimento das vagas disponíveis para a
disciplina. Acreditava-se que, pelo fato de serem estudantes com maior carga de
conhecimento em projeto e em conteúdos da área de tecnologia da construção, seria
possível aprofundar esses aspectos nos processos de projetação em sala de aula.
A disciplina foi dividida em duas fases, sendo a primeira etapa com uma maior
carga teórica associada ao projeto, aos processos e a relação com a sua materialidade
e a expressão construtiva na arquitetura. A última fase, que caracterizou o segundo
momento da disciplina, se concentrou na elaboração de um estudo projetual,
adquirindo um caráter mais voltado para a prática da projetação, mais próximo ao
padrão convencional do atelier de ensino de projeto.
No entanto, deve-se ressaltar que no primeiro momento, também foram
desenvolvidas atividades de concepção projetual. Foram realizados pequenos
enunciados para promover a elaboração de estudos projetuais em algumas aulas, que
se configuraram como componentes práticas dessa primeira fase. A intenção com tais
exercícios foi de intercalar as atividades de cunho teórico desenvolvidas em sala de
aula, direcionando os conceitos discutidos para a prática da atividade projetual.
Inicialmente, o conteúdo abordado em sala de aula buscou trazer à tona a
importância de pensar o projeto e os seus processos, apresentando um histórico de
pesquisas sobre a temática, embasada teoricamente por Lawson e a sua obra “Como
arquitetos e designers pensam” (2011). Nesta primeira etapa, além de apresentar a
discussão acerca dos estudos sobre o processo projetual, abordou com maior
discussão teórica o conceito das escalas que, segundo Boudon (2001), atuam no
desenvolvimento do projeto arquitetônico, dando ênfase para a noção da escala
técnica.
A discussão deste conceito foi considerada como o ponto-chave para iniciar o
debate em sala de aula e veio a ser retomado diversas vezes no decorrer do curso,
até a sua atividade final.
Na segunda etapa, a disciplina propôs estabelecer ligações entre o projeto e os
aspectos construtivos, acrescentando ao debate em sala de aula a questão tectônica
162
discutida por autores como Gottfried Semper, Carl Bötticher e retomada por Kenneth
Frampton em fins do século vinte. Deste modo, a questão da tectônica segundo
Frampton (1999) foi abordada associando a conteúdos teóricos que dizem respeito à
materialização do projeto, tais como a relação do projeto com a estrutura, as
vedações, os materiais de acabamento e o planejamento da obra arquitetônica. A
abordagem que buscou demonstrar a conexão entre esses aspectos se deu por meio
da apresentação e análise de pormenores de projetos reconhecidos pela historiografia
da arquitetura moderna e contemporânea, em obras de diversos profissionais do
Brasil e do mundo.
A realização do curso se apoiou em exemplos de outras experiências e
procedimentos didáticos presentes em disciplinas de projeto ou ligadas ao conteúdo
tecnológico, como apresentados em Piñon (1998), Boudon et al. (2001), Costa Lima
(2003), Leite (2005), Cruz Pinto (2007) e Florio (2009). Estes trabalhos e investigações
científicas colaboraram para a reflexão e o desenvolvimento de procedimentos
similares aplicados na experiência realizada. Por meio de atividades e exercícios que
focavam em aspectos como análises de projetos e de obras construídas, dos
processos projetuais e das soluções arquitetônicas envolvidas, a experiência didática
pretendeu instigar a reflexão crítica junto aos alunos e proporcionar a integração e o
rebatimento dos conhecimentos tecnológicos no processo projetual.
Ao mesmo tempo, o conteúdo da disciplina optativa procurou estimular a
criatividade no processo de desenvolvimento das atividades de concepção projetual,
partindo do pressuposto que as novas ideias surgem da combinação do
conhecimento, dos produtos e processos conhecidos, baseadas em investigações,
questionamentos e análises que levam às mais criativas e melhores soluções
(KOWALTOWSKI, 2011). Para tanto, além de incentivar a pesquisa e análise de
referências arquitetônicas, buscou associar a teoria apresentada ao repertório pessoal
de cada aluno, relacionando às suas vivências, experiências pessoais e,
consequentemente às suas percepções, como destacado por Rheingantz (2003).
5.1.2 Atividades desenvolvidas
No primeiro encontro, após a apresentação do programa, dos objetivos da
disciplina e de uma rápida descrição das atividades a serem realizadas, foi
163
direcionada aos participantes uma pergunta sobre como estes compreendiam a
relação entre o projeto de arquitetura e a construção. A intenção deste primeiro
questionamento foi iniciar o debate e averiguar a percepção e o grau de discernimento
geral da turma a respeito dessa questão, configurando-se como um exercício de
sondagem.
De acordo com as respostas obtidas e que caracterizaram a visão dos alunos,
a construção é vista como controladora, materializadora, como um processo e, ao
mesmo tempo, como produto da arquitetura. Uma das respostas atribuída a um dos
participantes relatou que “o projeto bem detalhado é fundamental para o resultado da
construção”. Ou seja, os participantes que responderam à pergunta, demonstraram a
partir da análise das suas respostas, que entendem essa ligação entre arquitetura e a
construção como uma relação direta. Percebem, portanto, a importância da relação
indissociável entre o projeto arquitetônico e a obra construída. Trata-se, deste modo,
de um resultado positivo, tendo em vista que esta percepção deveria ser inegável para
estudantes da área de Arquitetura e Urbanismo.
A seguir, a discussão do conceito das escalas, segundo Boudon (2001), com
ênfase para a identificação da escala técnica em projetos e obras construídas,
possibilitou que os alunos percebessem a atuação dessa medida na concepção
arquitetônica. Solicitados a apresentar exemplos que indicassem referências da
atuação dessa escala em edificações locais ou presentes em seu repertório pessoal
de obras, os participantes elaboraram e apresentaram nove croquis. Desse total, oito
apontaram a relação da estrutura com a escala técnica e identificaram esta escala
agindo globalmente na arquitetura.
Citado por duas vezes, o estádio construído para o Mundial de futebol de 2014
em Natal, denominado de Arena das Dunas, foi uma das obras locais identificada. A
sua menção deveu-se à sua estrutura metálica espacial que, de acordo com as
representações gráficas apresentadas pelos alunos, foi fundamental para a definição
da forma do empreendimento. Ainda quanto a esta estrutura, ambos os alunos
representaram, em detalhe, partes de componentes do sistema de pilares, como
referências da escala técnica atuando globalmente no edifício (Figura 98).
164
Figura 98 – Exemplo de atuação da escala técnica no estádio Arena das dunas.
Fonte: Croqui de um participante. Fotografia do autor, 2014.
Foram ainda representados em croquis dois edifícios de função religiosa, sendo
um deles, a catedral metropolitana de Natal, de autoria do arquiteto Marconi Grevi,
com o seu sistema estrutural bastante expressivo e visivelmente essencial para a
definição da forma. O outro caso apontado trata-se da catedral de Brasília, projetada
por Oscar Niemeyer e que também segue a mesma lógica da estrutura como
definidora da forma (Figuras 99 e 100).
Figura 99 – Atuação da escala técnica na estrutura da Catedral Metropolitana de Natal.
Fonte: Croqui de um participante. Fotografia do autor, 2014.
165
Figura 100 – Atuação da escala técnica na estrutura da Catedral de Brasília.
Fonte: Croqui de um participante. Fotografia do autor, 2014.
Outros exemplos indicados pelos participantes também associaram
diretamente a escala técnica à forma do edificado, seja no edifício do curso de
Arquitetura de uma universidade boliviana, em uma casa modernista de 1943,
localizada em Mar del Plata, na Argentina ou ainda no terminal de passageiros do
aeroporto de Marrakesh. Houve, nesta última resposta, uma tentativa do aluno de
compreender e explicitar por meio de esquemas gráficos, o modo de organização e
direcionamento das forças atuantes na estrutura metálica do edifício (Figura 101).
Figura 101 – Análise realizada por aluno da estrutura do aeroporto de Marrakesh no Marrocos.
Fonte: Croqui de um participante. Fotografia do autor, 2014.
166
Apenas um participante identificou a escala técnica atuando em grau zero na
escultura denominada Pórtico dos Reis Magos, projetada pelo arquiteto Moacyr
Gomes e localizada na cidade de Natal. Neste caso, um grande balanço de cinquenta
metros que poderia inviabilizar a obra foi obtido por meio de uma estrutura em
concreto protendido, graças a uma solução na fundação, como representado em
croqui elaborado por um dos alunos (Figura 102).
Figura 102 – Exemplo de atuação da escala técnica em grau zero.
Fonte: Croqui de um participante. Fotografia do autor, 2014.
Ao fim do exercício e compartilhamento das referências arquitetônicas (Figura
103), observou-se que foi possível a identificação da escala técnica em projetos e
obras. Apesar da maioria das respostas terem sido relacionadas à atuação global da
escala, notou-se, ainda junto aos participantes, a busca pela compreensão dos
detalhes ou dos sistemas presentes e atuantes nos exemplos indicados,
caracterizando uma atitude positiva de análise.
167
Figura 103 – Alunos apresentam suas referências pessoais quanto à presença da escala técnicas nos edifícios.
Fonte: Fotografia do autor, 2014.
Outro exercício aplicado em sala, foi a elaboração de um pavilhão multiuso a
ser implantado em uma área hipotética para servir como espaço de uso múltiplo e
destinado a uma população de baixa renda. De acordo com o enunciado da atividade,
o aluno deveria
(...) desenvolver uma proposta de espaço arquitetônico cuja função é servir como ambiente de uso múltiplo para uma determinada comunidade carente. Esta edificação deve possuir um volume de no máximo 5000m³ e será o núcleo de desenvolvimento de um empreendimento maior, portanto, poderá apresentar uma volumetria marcante capaz de apontar o início da construção de um símbolo para essa comunidade. Como restrição para o desenvolvimento da proposta, o aluno poderá utilizar até no máximo três materiais para compor a estrutura, vedação e cobertura. Deve-se fazer uso das suas melhores qualidades para resolver o problema (AUTOR, 2014, p.1).
O objetivo do exercício era fazer com que os participantes refletissem sobre as
escolhas dos materiais e as técnicas a serem empregadas, vislumbrando a
possibilidade futura de expansão do empreendimento. Ao fim da aula, esperava-se
receber como produtos da tarefa: um estudo de implantação, a planta baixa proposta,
um corte esquemático e a volumetria da edificação. Tais itens deveriam vir
acompanhados por um texto justificativo, com até duzentas palavras.
Apesar da apreensão inicial causada, sobretudo, pela restrição de uso de
materiais para o projeto, oito propostas foram entregues ao fim da aula, cumprindo as
exigências do enunciado. Enquanto alguns alunos escreveram um texto justificativo,
168
outros preferiam, através de linhas de chamadas, fazer especificações descrevendo
as soluções escolhidas. Destas propostas, duas já incorporavam soluções que
anteviam a possibilidade de modulação estrutural e uma sugeria o uso de tijolos de
adobe, que poderiam ser fabricados pela própria comunidade, usuária do centro de
múltiplas atividades (Figuras 104 e 105).
Figura 104 – Proposta de pavilhão em estrutura de madeira, com possibilidade de expansão.
Fonte: Elaborado por um participante. Fotografia do autor, 2014.
Figura 105 – Uma das propostas, com justificativas para as decisões construtivas.
Fonte: Elaborado por um participante. Fotografia do autor, 2014.
No encontro seguinte, após uma exposição teórica baseada na obra “O custo
das decisões arquitetônicas” de Mascaró (2004), cujo objetivo foi discutir sobre a
forma dos ambientes, da edificação e a relação com os custos da obra, os alunos
169
foram convidados a retomar as propostas desenvolvidas na aula anterior. Com isso,
desenvolveram outro exercício baseado na reflexão sobre a racionalização das suas
decisões projetuais.
Em croquis e em textos justificativos, apresentaram as suas respostas que,
principalmente, indicavam redução do perímetro do empreendimento com aumento
do índice de compacidade (como indicado por Mascaró), o estabelecimento de
modulação na estrutura e ou nos componentes e até a alteração de especificações de
materiais. Neste último caso, isso se deu ao se levar em consideração as
características e propriedades dos materiais, como, por exemplo, em uma
comparação entre o uso do concreto e da estrutura metálica, que é capaz de vencer
vãos maiores, diminuir a quantidade de pilares e agilizar a execução da obra (Figura
106).
Figura 106 – Estudo comparativo entre a estrutura em metal e a de concreto.
Fonte: Elaborado por um participante. Fotografia do autor, 2014.
Além dos exercícios de concepção, ao fim da primeira e segunda etapa da
disciplina, foram realizados trabalhos de análise de projeto ou de obras construídas a
partir do uso de um roteiro previamente elaborado pelo docente, já com as indicações
dos aspectos que deveriam ser explorados na análise, focando nas relações
arquitetura e sistemas construtivos e no uso da escala técnica segundo Boudon
(2001) no processo de projeto. O primeiro trabalho não restringia o uso da edificação
a ser estudada, enquanto o segundo, que seguia os mesmos moldes de análise,
direcionou para o tema do projeto a ser desenvolvido na terceira etapa do curso para
170
servir como estudo de referência. Os participantes apresentaram as suas análises
com uso de projeção multimídia e, desse modo, puderam compartilhar as suas
observações junto aos demais colegas.
No último mês de aulas, na fase final da disciplina, concluído todo o debate
teórico, foi apresentado o exercício de projeto final a ser desenvolvido. A atividade
consistiu na elaboração e um projeto em nível de anteprojeto de um edifício para a
realização de celebrações religiosas (igreja ou templo), com capacidade para uma
centena de usuários, em terreno real com área de 4.200 m², localizado no município
de Natal, Estado do Rio Grande do Norte.
Além de visita ao local para o reconhecimento da área, foi fornecida aos alunos
uma planta topográfica do lote que indicava pouca variação no relevo, sobretudo
devido a sua grande dimensão. Optou-se, nesta primeira experiência, não dificultar o
exercício com um terreno mais acidentado, tendo em vista que a intenção era dominar
ao máximo possível o projeto em suas diferentes escalas e também devido ao pouco
tempo disponível para a realização da tarefa. Em outra aula, foi realizada uma visita a
exemplares arquitetônicos locais com essa mesma função e com forte expressão
tectônica: a catedral metropolitana de Natal e a capela do Campus da UFRN (Figuras
107, 108 e 109).
Figura 107 – Catedral Metropolitana de Natal.
Fonte: ARQUIDIOCESE DE NATAL, 2014.
171
Figura 108 – Capela do Campus da UFRN.
Fonte: Fotografia do autor, 2014.
Figura 109 – Registro de visita de campo.
Fonte: Acervo do autor, 2014.
A sugestão do tema para o projeto deu-se pelo fato de que, normalmente, um
edifício com esse tipo de uso necessitaria de um grande vão para receber os usuários
e também porque, pelo fato de questões simbólicas, também estarem envolvidas em
projetos desta natureza, poderia existir um estímulo à criação de estruturas e formas
mais expressivas ou, por que não dizer, criativas, que exigiriam soluções construtivas
apropriadas.
Quanto ao programa de necessidades, este foi discutido em sala de aula e se
adaptou ligeiramente e de maneira particular a cada projeto, tendo em vista que os
alunos podiam escolher o tipo de culto ou atividade a ser realizada no local.
Buscava-se estimular as suas escolhas pessoais e direcionar as pesquisas
para o projeto, de acordo com os seus interesses ou crenças. Assim, foram propostas
172
pelos nove participantes cinco igrejas cristãs, sendo três católicas e duas evangélicas,
além de dois templos ecumênicos e dois budistas.
Deve-se ressaltar que, durante todas as atividades de projetação, foi
estimulado que o processo de concepção dos alunos fosse feito com o uso de
instrumentos de desenho à mão livre, incentivando ainda o uso de croquis de estudo.
Na última atividade, no entanto, os alunos puderam decidir quais técnicas e
instrumentos utilizar, de modo a não tolher os seus processos criativos. Assim, cinco
alunos desenvolveram todo o processo e a proposta final à mão, três alunos fizeram
uso de desenho auxiliado por computador (CAD, SkectchUP e Corel Draw), enquanto
apenas um desenvolveu também a sua proposta fazendo uso de maquete física.
Pode-se observar, na imagem da maquete, riscos em grafite, que apontavam para a
instalação de aberturas na laje de cobertura e que denotam a reflexão presente no
processo de desenvolvimento do exercício. Este estudo resultou na proposta
apresentada pelo participante ao fim da experiência (Figuras 110 e 111).
Figura 110 – Estudo volumétrico com marcas de estudo à mão livre demonstrando o processo projetual.
Fonte: Elaborado por um participante. Fotografia do autor, 2014.
173
Figura 111 – lustração final de uma das propostas desenvolvidas.
Fonte: Elaborado por um participante. Fotografia do autor, 2014.
As observações e registros fotográficos realizados pelo pesquisador, durante
as aulas práticas de projeto, puderam estabelecer, ao fim da experiência de ensino,
uma análise dos processos projetuais dos alunos. A sua análise, junto à avaliação dos
trabalhos finais, rendeu conclusões positivas quanto à experiência desenvolvida.
5.1.3 Avaliação dos resultados da primeira experiência
O curso, avaliado ao fim do semestre, se caracterizou como uma experiência
com aspectos positivos e outros que merecem ser aperfeiçoados para uma segunda
aplicação.
Dentre os pontos positivos mencionados, foram citados: os exercícios de
concepção projetual; a sua aplicação logo em seguida aos conteúdos discutidos
(durante as mesmas aulas); o estímulo ao processo e não ao produto em si, além do
incentivo à representação através dos croquis de estudo à mão livre. As críticas foram
direcionadas à atividade final de projeto em função do seu caráter mais tradicional de
desenvolvimento, com quatro semanas para o seu desenvolvimento. Entretanto, a
ideia original era, ao fim do semestre, simular o atelier convencional de projeto para
acompanhar o processo e analisá-lo junto ao produto final.
174
A partir do acompanhamento dos percursos projetuais dos discentes e da
análise dos resultados finais obtidos pelos alunos, observa-se que o objetivo da
disciplina foi alcançado, tendo em vista a reflexão mais aprofundada sobre a
importância da relação arquitetura e os seus aspectos técnico-construtivos. Tal fato
se tornou evidente desde a fase de elaboração dos croquis de concepção até as
propostas finais apresentadas pelos alunos (Figuras 112 e 113).
Além disso, os discursos presentes nas justificativas e memórias da maioria
dos projetos desenvolvidos também evidenciaram essa preocupação. Foi possível
perceber que a atenção conferida pelos discentes aos aspectos técnico-construtivos
em seus projetos também funcionou como estímulo à criatividade para a resolução
dos problemas apresentados.
Figura 112 – Templo Budista: Processo de projeto e importância dada à resolução do sistema de cobertura.
Fonte: Trabalho final de um aluno – Fotografia do autor, 2014.
175
Figura 113 – Templo Budista: apresentação com detalhes da cobertura e estrutura.
Fonte: Trabalho final de um aluno – Fotografia do autor, 2014.
No caso da proposta desenvolvida para um centro ecumênico, percebe-se que
a ideia original parte de uma forma circular que, de acordo com as imagens do
processo, é racionalizada e transformado em octógono (Figura 114).
Figura 114 – Croquis de concepção indicando estudos formais iniciais para templo.
:
Fonte: Elaborado por um participante. Fotografia do autor, 2014.
176
A escolha deste partido, segundo o autor da proposta, deveu-se à simbologia
para a qual o círculo aponta, de união e perfeição, mas se justificou pelo fato desse
formato apresentar o melhor índice de compacidade, como visto na aula que abordou
o custo das decisões arquitetônicas, segundo Mascaró (2004).
Nota-se também a almejada expressividade do sistema estrutural que já é
antecipada nos croquis de concepção (Figura 115) e esclarecida no trabalho final
(Figura 116).
Figura 115 – Indícios de expressividade estrutural nos croquis de concepção.
Fonte: Elaborado por um participante. Fotografia do autor, 2014.
Figura 116 – Templo ecumênico: apresentação final.
Fonte: Trabalho final de um aluno – Fotografia do autor, 2014.
177
A proposta apresenta indicações de materiais que compõem o volume
arquitetônico, com justificativas expostas na apresentação oral para as escolhas
realizadas. De acordo com o aluno, a seleção dos materiais visa a envolver a
comunidade residente nas proximidades, sugerindo a ideia de mutirão para a
construção do templo. Além disso, as características funcionais dos materiais
selecionados garantem uma maior vida útil durante a sua fase de operação.
Em outra proposta para um templo budista, vemos a atuação da escala
simbólica (Boudon, 2001) no projeto por meio da incorporação de um elemento natural
como ponto referência à história da vida de Buda, denominada pelo aluno de árvore
da meditação (Figura 117).
Figura 117 – Estudos iniciais para um templo budista com atuação da escala simbólica.
Fonte: Elaborado por um participante. Fotografia do autor, 2014.
Em função das aparentes dificuldades encontradas ao pensar o planejamento
da obra arquitetônica, o aluno foi estimulado a refletir sobre os possíveis modos de
execução da estrutura. Ao apresentar o resultado final, indica esquematicamente o
tipo de estrutura (casca) com destaque para croqui de detalhe da estrutura. Vê-se
também na proposta final a representação da fundação do templo budista (Figura
118). Sua proposta inicial, de pintar toda a estrutura na cor preto com tinta lavável, é
178
discutida em sala de aula, apontado os problemas que podem ser advindos da pouca
durabilidade e necessidade de manutenção deste acabamento. Ao fim do exercício,
demonstrando uma reflexão sobre o problema, o aluno sugere a utilização de um
pigmento ou de aditivos capazes de conferir cor ao concreto, na sua fase de
fabricação.
Figura 118 – Apresentação final da proposta de um templo budista. Esquemas de detalhes construtivos e indicações de materiais.
Fonte: Trabalho final de um aluno. Fotografia do autor, 2014.
Foi visto que ter promovido a associação da teoria apresentada em sala de aula
com as referências arquitetônicas pessoais, fruto das vivências dos alunos, colaborou
no processo de cognição do conteúdo teórico discutido, tornando possível estabelecer
relações menos abstratas e mais objetivas quando se analisaram obras e projetos.
A utilização de pequenas tarefas de projetação, por meio dos exercícios de
concepção relacionados às discussões teóricas, também permitiu aplicar diretamente
as discussões na atividade do atelier, fazendo os alunos refletirem imediatamente no
processo de análise e síntese projetual. Mesmo que para isso precisassem
desconstruir o trabalho feito em exercício anterior, visando a promover uma adaptação
179
a uma nova ou complementar discussão. No caso deste curso, isso aconteceu quando
foi preciso pensar a racionalização e o melhor planejamento do projeto que havia sido
desenvolvido em aula anterior.
Para uma segunda experiência, observou-se que seria necessário ampliar a
variação da escala no processo de concepção projetual, almejando a alcançar maior
aprofundamento quanto aos pormenores e detalhes no exercício do atelier,
estimulando ainda mais o aluno em direção a um pensamento mais global do projeto,
que proceda do geral para o particular ou que venha a acontecer até mesmo de
maneira inversa. Em uma segunda aplicação da disciplina, pretende-se, também,
restringir mais o tempo para a elaboração da proposta final. As quatro aulas
originalmente destinadas a esta atividade poderiam ser divididas em duas etapas.
Por fim, sabemos que o exercício de estudos de precedentes é fundamental.
No entanto, reafirma-se aqui a importância de incorporar a análise de projetos e de
obras construídas na prática do ensino do laboratório de projeto, objetivando não
apenas a composição de repertório de soluções, mas como estímulo à pesquisa e a
reflexão crítica quanto aos produtos, identificando aspectos positivos e negativos das
obras estudadas.
Faz-se necessário direcionar o olhar do discente para uma investigação quanto
ao processo de concepção do artefato arquitetônico, por meio de roteiro de análises
e, sempre que possível, a realização de discussão com os demais participantes do
curso sobre estas, a fim de compartilhar e construir um pensamento crítico. Acredita-
se que quanto mais se discute sobre o projeto e os seus processos, mais se retira o
véu que paira sobre o ato da projetação, ultrapassando ainda mais a velha ideia da
“caixa preta” e do gênio criador (SILVA, 1986).
Segunda experiência didática (CAU-UFRN, 2015.2).
A segunda aplicação da abordagem didática aconteceu no segundo semestre
de 2015 e foi aplicada em um formato diferente da primeira experiência realizada. De
acordo com as observações realizadas pelos participantes na avaliação final da
disciplina, quando se deu a primeira aplicação, optou-se por manter o foco na
discussão da escala técnica segundo Boudon (2001), no debate sobre a importância
de refletir sobre a materialização da obra, na análise de referências arquitetônicas,
180
nos seus aspectos construtivos e na realização de uma atividade projetual em um
período de tempo mais concentrado.
5.2.1 Segunda experiência didática: oficina de projeto.
Neste segundo momento de aplicação desta abordagem, o curso foi montado
em forma de oficina de projeto e realizado durante quatro dias da programação da
semana acadêmica de arquitetura da Universidade Federal do Rio Grande do Norte,
entre os dias de 19 a 22 de outubro de 2015.
O evento 47 , organizado por estudantes da graduação, contou com a
participação de alunos de três instituições de ensino de arquitetura de Natal, sendo
uma pública e as demais privadas (respectivamente Universidade Federal do Rio
Grande do Norte, Universidade Potiguar e Centro Universitário Facex). A atividade foi
denominada como oficina de projeto e recebeu o título: Refletindo sobre a escala
técnica no processo de projeto (Figura 119).
Figura 119 – Oficina em andamento durante a semana acadêmica do CAU-UFRN.
Fonte: Acervo do autor.
Contou com a participação de dez alunos que, voluntariamente, participaram
da atividade de projeto. Deste total, quatro eram alunos matriculados no CAU/UFRN
e três estudantes de cada um dos outros dois cursos. Quanto ao perfil dos
47 Evento anual promovido pelo Centro Acadêmico dos estudantes de Arquitetura e Urbanismo do CAU-UFRN com apoio do Departamento do curso. É composto por atividades diversas como oficinas, palestras e vivências com inscrições abertas também para estudantes de outras instituições.
181
participantes, três alunos cursavam o quarto período, cinco encontravam-se no quinto
período e dois estavam em fase mais avançada, sendo um no sexto e outro no oitavo
período da formação. Vê-se, no entanto, que a maioria dos participantes se
encontravam no segundo ou no terceiro ano do curso.
Foi detectado que apenas um integrante da atividade já havia cumprido as
disciplinas da área tecnológica de seu curso. Ou seja, a grande maioria, por ainda se
encontrar em fase inicial da formação em Arquitetura e Urbanismo, não havia se
aprofundando quanto a teoria e a prática do conteúdo técnico-construtivo presente
nas estruturas curriculares das suas respectivas escolas.
As atividades ocorreram nas dependências da própria Universidade Federal do
Rio Grande do Norte e em sala de aula idêntica à da aplicação anterior e sob
condições semelhantes. Além da redução da carga horária e, consequentemente, da
diminuição do conteúdo para se ajustar ao tempo disponível, outra alteração em
relação à experiência do ano anterior foi a mudança no horário da aplicação (em
horário vespertino) e a disponibilização de materiais que estimulassem a confecção
de maquetes físicas de concepção como o papel “paraná” (escolhido devido a sua
maior gramatura) e a massa de modelar. Com este material disponível sobre as
pranchetas, pretendeu-se estimular a elaboração de estudos em maquetes físicas,
permitir a exploração formal e, logo, contribuir para uma melhor visualização das
ideias iniciais, o que pode ser essencial no processo projetual. No entanto, a oficina
não definiu o uso da maquete física como exigência de trabalho, nem tão pouco o
desenho à mão livre ou o uso de ferramentas computacionais. Mais uma vez, permitiu
que os participantes se expressassem da maneira que lhes fosse conveniente,
evitando, desta maneira, tolher os seus processos criativos.
Outra diferença em relação a experiência passada foi a mudança quanto ao
perfil do aluno participante. Nesta ocasião, não se configurou como requisito
fundamental para a oficina (e, consequentemente, para a pesquisa em execução) que
o discente se apresentasse em fase avançada do curso e já contasse com a
integralização das disciplinas relacionadas as tecnologias da construção. Essa
alteração permitiu diversificar os alunos quanto a este aspecto e possibilitou, além da
troca de informações entre os estudantes de estágios diferentes, incentivar, nos mais
jovens, a preocupação com a materialidade da obra arquitetônica. A mudança de
estratégia na pesquisa buscou identificar a possibilidade de adoção dessa abordagem
182
em períodos iniciais da formação do arquiteto e urbanista, estimulando este raciocínio
na concepção projetual o mais cedo possível no quadro dos cursos.
A partir do dia 19 de outubro de 2015, foram realizados quatro encontros em
dias consecutivos, com duração de quatro horas em cada ocasião. Como a primeira
experiência, a oficina pode ser caracterizada como dividida em duas partes, sendo
composta por uma seção teórica e outra voltada para a prática da projetação. A
primeira parte tratou da apresentação do conceito da escala técnica segundo Boudon
(2001) e a importância de refletir sobre as relações entre arquitetura e construção.
Estes debates, associados a uma exposição sobre a influência da resolução formal
nos custos da obra e na sua execução, definiram a teoria abordada junto aos
participantes. Esta última discussão foi baseada em O custo das decisões
arquitetônicas, de Mascaró (2004) e posicionada na programação da oficina, de modo
a estimular a reavaliação do produto em desenvolvimento pelos participantes, fazendo
com que o processo fosse analisado com o intuito de ampliar o planejamento e uma
possível racionalização da obra arquitetônica.
Quanto à segunda parte, esta apresentou um caráter prático, que foi definido
pela solicitação do desenvolvimento de uma proposta de projeto em nível de estudo
preliminar, porém, com definições mais aprofundadas quanto aos aspectos materiais
do artefato arquitetural. Vê-se que o eixo principal da experiência passada foi mantido,
apenas tendo sido realizadas adaptações no dimensionamento do conteúdo teórico e
nos métodos empregados visando se adequar ao novo formato.
O exercício de concepção realizado nesta segunda edição manteve a mesma
temática da atividade final da experiência passada: um estudo para um espaço de
reuniões religiosas com capacidade para cem pessoas, em lote urbano da cidade de
Natal. Deve-se ressaltar que o terreno para a implantação também foi o mesmo
utilizado na edição passada e que esta repetição das características do exercício
pretendeu identificar aspectos comuns nas soluções desenvolvidas e possibilitar
discussões comparativas entre os resultados.
5.2.2 Atividades desenvolvidas
A respeito do encaminhamento das ações didáticas, a primeira atividade foi
novamente sondar o entendimento prévio da relação entre arquitetura e construção
183
segundo os próprios alunos. Em seguida, a apresentação teórica sobre a escala
técnica segundo Boudon (2001) foi aplicada à atividade que tentava relacionar este
conceito a um edifício conhecido dos participantes, presente no seu repertório pessoal
de projetos e de soluções arquitetônicas locais ou ainda resultado de pesquisas
anteriores em sua vida acadêmica.
A análise das respostas da primeira tarefa demonstrou que há um consenso a
respeito da ligação essencial entre a arquitetura e a construção. Para os alunos, a
arquitetura precisa da construção, ainda que o inverso não seja necessário como está
expresso em uma das respostas: “a arquitetura é o conceito e o guia que vai nortear
a construção”. É considerada pelos discentes uma associação direta e intrínseca. De
acordo com os dados coletados nesse exercício de sondagem, trata-se de “um
princípio de projeto(...) por vezes limitante, por vezes encorajador”. Assim, percebe-
se que as afirmações positivas apontam para uma compreensão adequada desta
relação e já incorporam esse sentido na compreensão do próprio processo de projeto
e na relação com a sua execução.
Quanto ao exercício de associação entre o conceito e o exemplar arquitetônico,
os participantes identificaram a escala técnica atuando globalmente em algumas
edificações. Dentre estas, foram citadas a catedral metropolitana de Natal, o Museu
de Arte de São Paulo (MASP), a torre Eiffel e o Metropol Parasol de Sevilha, na
Espanha (Figuras 120 e 121).
Figura 120 – Identificação da presença da escala técnica em obra de referência: MASP.
Fonte: Fotografia do autor, 2015.
184
Figura 121 – Croqui da Catedral Metropolitana de Natal com ênfase para o sistema de vigamentos.
Fonte: Elaborado por um aluno. Fotografia do autor, 2015.
Sabemos que estes projetos possuem um forte apelo quanto a estrutura,
enquanto elemento essencial para a definição projetual, o que torna evidente a
atuação dessa medida de ordem técnica nestas obras.
Houve ainda uma referência ao centro comercial Midway Mall de Natal, que foi
citado por um dos participantes, devido a sua execução em sistema pré-moldado de
concreto. Neste caso, a atuação da escala técnica foi identificada agindo tanto
globalmente (na configuração geral do edifício) como de maneira local, nos elementos
de vedação realizados em painéis pré-fabricados (Figura 122).
Figura 122 – Croqui de um shopping-center localizado em Natal com destaque para os elementos pré-moldados.
Fonte: Elaborado por um aluno. Fotografia do autor, 2015.
Como na edição passada, a atividade de reflexão em obras conhecidas pelos
participantes proporcionou o estabelecimento de uma ligação entre o conceito
185
abordado e as suas referências pessoais, o que foi considerado útil para a cognição
desta noção.
A atividade de análise de projetos e obras, que havia sido aplicada com êxito
na experiência anterior, aconteceu desta vez de maneira condensada, a partir da
leitura e interpretação de textos, imagens e representações de obras e projetos
selecionados. Cada participante recebeu um artigo sobre uma obra e assim foram
estudados exemplos nacionais e internacionais dentro da temática trabalhada. Ao fim
dessa atividade, foram apresentadas as principais características dos projetos cuja
leitura analítica era conduzida a partir de um roteiro que indicava a necessidade de
refletir sobre as questões funcionais, estéticas e, sobretudo, técnicas. EsTas
informações foram compartilhadas com todos os participantes em “mesa redonda” e
a ação enriqueceu a formação de repertório arquitetônico da turma, tendo sido
observado posteriormente a adoção de soluções similares em um dos projetos
realizados (Figura 123).
Figura 123 – Apresentação e discussão conjunta com os participantes.
Fonte: Acervo do autor.
A seguir, no decorrer das atividades, os alunos deram início ao processo de
projeto fazendo uso de desenho à mão livre e, de modo espontâneo, de estudos
volumétricos em maquetes físicas. Tendo em vista a limitação do número de horas da
oficina, os participantes não dispuseram de muito tempo para alterar as propostas
iniciais. Sendo assim, desenvolveram os seus conceitos e as suas propostas
realizando ajustes, otimizando as soluções, racionalizando os elementos constitutivos
ou a forma do edifício (Figura 124).
186
Figura 124 – Alunos realizando os seus estudos projetuais.
Fonte: Fotografia do autor, 2015.
Deste modo, foi mantida a intenção de realizar exercícios de concepção com o
prazo curto, considerando-se que o exercício projetual teve o seu período de
realização ajustado para um intervalo menor de tempo. Este ajuste atendeu a principal
crítica presente na experiência passada, quando foi apontado que o prazo para o
exercício final tinha sido muito alargado, o que fez diminuir o ritmo e a dinâmica do
processo.
No terceiro dia de atividades, durante a fase de projetação e após a primeira
entrega e apresentação do material desenvolvido até então, abriu-se um “parêntese”
na etapa de desenvolvimento das atividades práticas para a realização de uma
apresentação teórica sobre o tema do planejamento da obra, baseado em Mascaró
(2004). Este foi o momento de discutir junto aos participantes como a racionalização
de soluções projetuais interferem no custo e na execução dos serviços. No dia
seguinte e como tarefa final do atelier, os estudantes foram estimulados a pensar em
como seria possível adotar medidas capazes de racionalizar os seus projetos e, por
fim, ajustar as suas ideias para a apresentação final do workshop.
Como exemplos de ações tomadas, constatou-se a tentativa de racionalizar as
formas dos pilares presentes no projeto de um centro ecumênico, com estrutura em
concreto ou a criação de módulos para o dimensionamento de painéis verticais de
fechamento em outra proposta. No primeiro caso, as tentativas de refletir sobre a
questão estrutural se associaram à preocupação com a proporção da forma da
edificação, principalmente quanto à altura do edifício. Os estudos foram realizados em
187
croquis à mão livre, mas a decisão final quanto as decisões tomadas foram facilitadas
pelas maquetes físicas realizadas (Figuras 125 e 126).
Figura 125 – Tentativas de racionalizar a estrutura do projeto e preocupação formal.
Fonte: Fotografia do autor, 2015.
Figura 126 – Tentativas de racionalizar a estrutura: modulação para a fachada.
Fonte: Elaborado por um aluno. Fotografia do autor, 2015.
188
5.2.3 Avaliação dos resultados da segunda experiência
A avaliação realizada ao fim da experiência junto aos alunos apresentou um
retorno positivo quanto ao novo formato desenvolvido para a oficina, com a aprovação
dos participantes quanto ao seu dimensionamento em termos de conteúdo teórico e
das atividades práticas. Nesta ocasião, não foram realizadas pelos participantes
críticas ou sugestões de aperfeiçoamento do workshop.
Foi observado que os alunos que ainda estavam em fase inicial do curso não
sentiram grandes dificuldades em compreender e realizar as tarefas. Na verdade,
foram verificadas, junto a todos os participantes, tentativas de refletir sobre como
materializar os seus projetos, seja por meio de representações em desenho ou em
estudos volumétricos com o uso dos materiais disponíveis. Em um destes casos, um
aluno do quarto período buscou representar no desenho de um corte longitudinal, a
estrutura da edificação e as relações com as aberturas zenitais presentes no projeto
e a sua cobertura. Esta era uma das características marcantes de sua proposta e que
parece ter sido resultado de um dos estudos de referência discutidos em sala de aula
(Figuras 127 e 128).
Figura 127 – Maquete de estudo do projeto com vários pórticos de alturas diferentes.
Fonte: Fotografia do autor, 2015.
189
Figura 128 – Corte esquemático da estrutura dos pórticos e relações com aberturas zenitais.
Fonte: Elaborado por um aluno. Fotografia do autor, 2015.
Foi visto também que a diversidade, quanto à origem institucional dos
participantes, não prejudicou o andamento das atividades. Independentemente desta
questão, foi possível demonstrar que os alunos compreenderam e assimilaram o
conceito de escala técnica e conseguiram explorá-lo de modo satisfatório,
identificando nos exemplares arquitetônicos de referência pessoal, nos que foram
analisados em sala de aula e ainda nos seus próprios projetos.
Diferentemente da primeira experiência, enquanto apenas um participante
realizou o seu estudo em maquete volumétrica, nessa oportunidade, todos os
participantes que chegaram a fase final do exercício, desenvolveram a sua proposta
fazendo uso dessa ferramenta de concepção (Figuras 129, 130 e 131).
Figura 129 – Processo de projeto com desenho a mão livre e massa de modelar.
Fonte: Fotografia do autor, 2015.
190
Figura 130 – Estudo volumétrico realizado com massa de modelar.
Fonte: Fotografia do autor, 2015.
Figura 131 – Exemplo de estudo volumétrico ressaltado o papel da estrutura e do sistema de cobertura no projeto.
.
Fonte: Fotografia do autor, 2015.
Estes produtos serviram de estudo para análise da proporção volumétrica, mas
também foram utilizados para indicar uma reflexão global e de planejamento quanto
aos principais elementos da estrutura no projeto.
Devido ao tempo limitado, não foi possível avançar em direção a uma
representação mais aprofundada das soluções arquitetônicas e o tratamento dos
pormenores do edifício. Assim, ao final da oficina, as propostas não puderam ser
191
sistematizadas e entregues como na experiência passada. No entanto, o
acompanhamento dos processos individuais e apresentação dos resultados
alcançados funcionaram como momento de socialização dos estudos e de avaliação
conjunta dos resultados.
Recomenda-se, em outras oportunidades e em um atelier de ensino de projeto
convencional, o encaminhamento para esse aprofundamento das decisões e melhor
detalhamento dos sistemas construtivos, elementos e especificidades quanto aos
acabamentos. No caso analisado, onde o objetivo foi estimular desde o início do
processo projetual, a construção de uma proposta com maior reflexão sobre a
materialização da obra arquitetônica, pode-se dizer que foi possível identificar uma
atenção com detalhes de estrutura, fechamentos, cobertura ou esquadrias e mesmo
com a topografia do terreno, como pode ser visto no conjunto de desenhos (Figura
132).
Figura 132 – Os desenhos apresentam a atenção conferida à cobertura, à estrutura e à ventilação predominante.
Fonte: Elaborado por um participante. Fotografia do autor, 2015.
Em um dos projetos, os estudos de fachada, por meio da representação
utilizada, indicam os materiais de vedação e de fechamento (bambu e cobogós de
192
concreto), o sistema estrutural (taipa de pilão) e o sistema de cobertura, com estrutura
em madeira e telhas cerâmicas. (Figuras 133 e 134).
Figura 133 – Indicações de materiais em croqui de concepção.
Fonte: Elaborado por um participante. Fotografia do autor, 2015.
Figura 134 – Croqui indicando a relação do volume construído com vegetação.
Fonte: Elaborado por um participante. Fotografia do autor, 2015.
Fica ainda evidente a preocupação com a relação com o ambiente externo, já
que vemos árvores de grande porte associadas ao prédio. A ventilação natural é um
condicionante observado para as definições das aberturas e observa-se a indicação
de um ático na cobertura para servir de exaustão do ar mais quente.
Em outra proposta, observa-se que as questões de conforto ambiental também
se fizeram presentes, influenciando as definições projetuais. Esta constatação pode
ser observada no croqui de sua planta baixa, que aponta a direção predominante da
ventilação em Natal e condiciona a orientação da igreja (Figura 135).
193
Figura 135 – Croqui com indicação da ventilação natural predominante.
Fonte: Elaborado por um participante. Fotografia do autor, 2015.
A claraboia (em policarbonato) pensada como solução de iluminação zenital,
assim também como o exemplo anterior, faz uso do efeito chaminé para evitar
acúmulo de ar quente no ambiente e proporcionar a exaustão natural. Quanto ao
sistema estrutural, essa proposta de projeto se caracteriza pelo uso de um conjunto
de pilares e vigas em concreto pré-moldados, seguindo uma modulação que pretende
racionalizar o projeto, denotando preocupação com o planejamento e execução da
obra (Figuras 136 e 137).
Vê-se novamente, em todos os projetos, a presença marcante de uma análise
projetual amparada pela avaliação de condicionantes locais e associados às questões
de conforto ambiental. Tal observação foi anteriormente ressaltada na investigação
desenvolvida junto à disciplina de Projeto de Arquitetura III, em outro momento da
pesquisa e demarca a relevância conferida a essa temática no CAU-UFRN, já
apontada em outras pesquisas como em Macedo et al (2011) e Cavalvante (2015).
194
Figura 136 – Claraboia e efeito de exaustão de ar pretendido.
Fonte: Elaborado por um participante. Fotografia do autor, 2015.
Figura 137 – Esquema de estrutura com indicação de material.
Fonte: Elaborado por um participante. Fotografia do autor, 2015.
Em outro exemplo, que parte da analogia entre a forma de um círculo de
pessoas com as mãos dadas (indicando unidade) nota-se, por meio da análise de sua
planta, uma regularidade na distribuição dos pilares (Figura 138).
195
Figura 138 – Forma circular e tentativa de promover regularidade nos pilares.
Fonte: Elaborado por um participante. Fotografia do autor, 2015.
A estrutura em concreto é depois reestudada por meio de tentativas de
representação em vistas e cortes esquemáticos (denominadas como “testes” pelo
próprio participante), que tentam auxiliar o encaminhamento do projeto em direção as
melhores dimensões e proporções para a forma (Figura 139). A passagem para os
estudos em maquete física dá continuidade ao processo de projeto e asseguram a
avaliação quanto a essas decisões.
Figura 139 – Tentativas de alcançar medidas que atendam a questões formais e estruturais nos pilares.
Fonte: Elaborado por um participante. Fotografia do autor, 2015.
196
É possível concluir que, como na edição passada, os objetivos pedagógicos
foram atendidos. É valioso perceber que os discentes foram capazes de buscar
soluções viáveis e aprofundar o seu pensamento projetual, mesmo que ainda não
possuíssem toda a teoria e prática quanto aos assuntos técnicos-construtivos. Tal
análise permite apontar que a abordagem didática foi satisfatória, tendo em vista que
fez jus ao título da atividade realizada e aos objetivos da pesquisa, ou seja, estimulou
a reflexão sobre a materialidade da obra no processo de projeto em sala de aula.
Considerações sobre o capítulo.
Os dados apresentados no capítulo foram oriundos de duas experiências
didáticas com formatos distintos, afinal, como esclarecido, foi necessário adaptar, na
segunda experiência, o formato de longa duração (como inicialmente previsto) para
uma oficina realizada em apenas quatro dias, com encontros subsequentes.
Pelo exposto no capítulo, acredita-se que foi possível demonstrar, além das
descrições das atividades planejadas e postas em prática, os resultados alcançados
pelos participantes, por meio de imagens de croquis e de maquetes físicas de estudo
que ilustram os processos dos estudos elaborados. Como visto, estes são frutos de
discussões e tentativas de estimular reflexões críticas no processo criativo em
arquitetura, indicando a necessidade de pensar o projeto e a sua relação com as
questões que promovem não apenas a sua materialidade física, mas também o seu
desempenho e funcionamento.
O capítulo seguinte pretende discutir comparativamente os resultados obtidos,
não apenas dessas duas experiências, mas também dos demais estudos de caso
investigados nos cursos da Faculdade de Arquitectura da Universidade de Lisboa e
da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, apresentados em capítulos
anteriores desta tese.
197
6. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
Ao final das coletas de dados e análises dos casos apresentados nos capítulos
precedentes, pode-se, agora, proceder às discussões comparadas dos quatro estudos
realizados.
A primeira parte trata dos resultados atingidos nas investigações realizadas nos
ateliers de ensino de projeto da FA-UL e do CAU-UFRN e foi sistematizada através
da análise de três dimensões. Inicialmente, traça-se um comparativo entre os
processos de projeto realizados pelos estudantes das duas instituições. Na segunda,
comparam-se os produtos finais que foram entregues ao fim de cada disciplina; e, por
fim, a terceira dimensão de análise aborda aspectos didáticos que foram considerados
fundamentais para os processos de ensino-aprendizagem investigados.
No segundo momento, pretende-se comparar as respostas obtidas nas
experiências didáticas discutindo os principais resultados, o que era pretendido e o
que foi alcançado.
Comparando os resultados da FA-UL e do CAU-UFRN.
6.1.1 Os processos
A análise dos estudos de caso em disciplinas regulares de projeto possibilitou
a compreensão de que os processos de concepção projetual dos estudantes, nas
duas instituições, foram condicionados principalmente pelas exigências dos
componentes curriculares e pelos seus programas de atividades estabelecidos pelos
seus docentes. Inicialmente, o que se destacou foram os elementos relacionados com
os objetivos presentes em cada fase das atividades programadas, o que ficou
bastante evidente em ambos os casos, quando se analisaram os conteúdos
programáticos.
Constatou-se que ambas as disciplinas iniciaram o processo de projetação por
estudos de zoneamento, implantação e pela elaboração de planos de massas para os
edifícios. Desse modo, tentaram fazer com que os alunos pudessem estabelecer
relações entre o lote, a proposta e o meio onde seriam inseridas as propostas de uso
misto ou com fins habitacionais. Essa questão foi considerada ainda mais relevante
no caso do atelier integrado do curso de Arquitetura e Urbanismo da UFRN, em função
198
da participação direta dos professores das disciplinas de Planejamento e Projeto
Urbano e Regional III e Planejamento da paisagem I.
Além disso, enquanto na disciplina acompanhada no curso de arquitetura da
FA-UL, essa relação com o meio envolvente se resumiu à fase inicial do processo de
projeto, no curso brasileiro, a discussão sobre a implantação do empreendimento
perdurou mais. No caso português, após ser realizada a primeira entrega do trabalho,
os alunos partiram para os estudos funcionais das unidades habitacionais, o que fez
com que os projetistas aperfeiçoassem ou negassem as suas propostas iniciais de
implantação. Deste modo, os aspectos funcionais passaram com maior ênfase a
orientar as decisões da segunda etapa do Laboratório de Projeto III.
Essa afirmação também é válida para o Projeto Integrado III do CAU-UFRN, no
entanto, nesta disciplina, os estudos funcionais demoraram mais a acontecer. Os
estudos de implantação desenvolvidos ao fim da primeira unidade continuaram a ser
discutidos no decorrer da segunda unidade, até o exercício de desenvolvimento de
maquetes físicas das propostas, que aconteceu, aproximadamente, no meio do curso.
Este momento, que foi considerado muito importante para a definição e
encaminhamento dos projetos, já que contou com a participação de todos os
professores envolvidos com o atelier integrado (exceto da disciplina de Estruturas I),
pareceu acontecer com um pouco de defasagem na distribuição das atividades da
disciplina. Tal situação fez com que os discentes tivessem menos tempo para se
debruçar sobre as unidades habitacionais e outras questões arquitetônicas, sobretudo
aquelas ligadas às questões construtivas, o que leva a crer que isso possa ter afetado
no desenvolvimento da proposta, segundo a ótica desta pesquisa. Considera-se que
se fosse possível antecipar um pouco esse exercício de análise das propostas em
maquetes físicas no calendário das atividades, os estudantes poderiam ganhar mais
tempo para pensar o projeto em sua célula habitacional e os demais aspectos
relacionados à obra arquitetônica.
Em síntese, observou-se que, nas duas disciplinas, os estudos começaram sob
o mesmo tipo de orientação, mas se encaminharam de maneiras diferentes. A
discussão mais alargada no caso do CAU – UFRN, contando com a atuação direta
dos conteúdos das disciplinas de Planejamento e Projeto Urbano e Regional III e de
Planejamento da Paisagem I e consequentemente a existência de outras variáveis
que incidiram na elaboração da proposta, foi a principal justificativa para este
diferencial.
199
Foram detectados, nos processos de projeto analisados nas duas instituições,
a atuação dos métodos de solução apontados por Kalay (apud ANDRADE, 2011). No
caso dos processos de projeto dos estudantes da FA-UL, foi possível identificar a
influência de métodos baseados em precedentes como estratégia de ensino, a partir
do exercício de estudos de referências arquitetônicas de outros edifícios com o uso
semelhante. A leitura da sintaxe dos projetos e o conhecimento sobre os elementos
que compõem a semântica do projeto foram mais bem sistematizados nos painéis
apresentados pelos alunos da FA-UL. No entanto, não é possível afirmar que os
estudos de precedentes influenciaram diretamente nas propostas realizadas pelos
alunos portugueses.
No caso da disciplina do CAU-UFRN, durante a primeira unidade, também se
fez uso de estudos desta natureza e foi possível perceber algumas analogias formais
relacionadas a exemplares analisados, como no caso dos edifícios “em fita” ou
aqueles que referenciaram soluções apresentadas, como a criação de espaços de
convivência nas lajes de cobertura dos prédios e conexões por meio de passarelas
elevadas entre os blocos, ou seja, em decisões de elementos pontuais.
Tanto no caso português como no brasileiro, foi detectado o uso do método de
tentativa e erro nos processos projetuais dos alunos. O fato da temática se apresentar
como um conteúdo novo, a pouca ou nenhuma familiaridade com o tema por parte
dos estudantes e o próprio grau de complexidade do exercício, naturalmente,
proporcionou “idas e vindas” nos processos de projeto.
Foi identificado também, em ambos os casos, a adoção do método de
satisfação de restrições, porém, com atuações diferentes. No caso do Laboratório de
Projeto III, as restrições externas foram mais atuantes (como o caso das exigências
de compatibilização com o sistema estrutural). Restrições formais também foram
percebidas com maior ênfase nos processos de projeto da instituição portuguesa,
tendo em vista que os estudantes iniciaram o processo de projeto a partir de estudos
volumétricos e desde o início com a utilização de maquetes físicas. No caso brasileiro,
as restrições internas, associadas ao sítio de implantação do empreendimento
habitacional, foram grandes delimitadoras das ações do processo. Em fase mais
avançada, restrições funcionais, do tipo prática, surgiram nos processos de projeto do
CAU-UFRN. Contudo, não foram identificadas restrições simbólicas em nenhum dos
casos estudados.
200
Os métodos apoiados em regras (Kalay, apud ANDRADE, 2011) foram
percebidos no caso estudado na UFRN e basearam-se em normas de relações
ambientais (em função da proximidade com a área de proteção ambiental e a
legislação incidente) e em regras tipológicas (relacionadas às tipologias habitacionais
definidas pelos grupos de trabalho).
Quanto à habilidade de representação e a relação direta com a capacidade de
projetação a fim de alcançar uma solução de projeto, como apontado por Andrade
(2011), pode-se dizer que ambas as instituições apresentaram bons resultados, porém
através de meios distintos. O uso dos estudos em maquetes com maior ênfase pela
Faculdade de Arquitetura da Universidade de Lisboa em todos os níveis e escalas do
projeto rendeu um volume maior de trabalho e de reflexão no decorrer do processo,
antecipando discussões e análises que no caso da UFRN surgiram ou se
evidenciaram em fases mais tardias da projetação.
No caso brasileiro, a representação tridimensional por meio de softwares de
desenho auxiliado por computador atuou com maior relevância do meio para o fim do
processo da disciplina e do projeto, ainda que o seu desenvolvimento tenha se dado
quase que inteiramente com o uso de computadores. O incentivo ao uso da maquete
física no Projeto Integrado III apenas na fase intermediária do processo demonstrou a
validade do procedimento e favoreceu a discussão quanto as propostas de
implantação dos projetos. Acredita-se que poderia ter sido mais utilizado pelos grupos
para o desenvolvimento de suas propostas arquitetônicas.
A observação e análise da estrutura do problema de projeto, segundo Vries e
Wagter (1991), indica que nenhum dos dois casos apresentou o que os autores
denominam de “má estrutura”. No entanto, pode-se dizer que o exercício de projeto
da FA-UL, em comparação com o exercício do atelier integrado do CAU-UFRN,
apresenta-se com um menor grau de complexidade devido à incorporação, no caso
brasileiro, de questões urbanísticas, de planejamento da paisagem e de conforto
ambiental no exercício projetual. Esse fato ampliou o grau de dificuldade e exigiu um
maior planejamento dos conteúdos e procedimentos didáticos junto aos docentes
envolvidos.
No caso do Projeto Integrado III, como o processo de projeto, tem início apenas
após uma interpretação e análise aprofundada da área de estudo, pode-se dizer que
a definição do problema projetual é construído pelos professores e alunos. Cabe aos
responsáveis pela condução da disciplina orientar os encaminhamentos, já que o
201
problema de projeto criado em sala de aula é, na verdade, definido em dois momentos.
Quando é sistematizado pelo professor em um enunciado de exercício e quando é
recebido pelo aluno. Este último, em sua individualidade e à sua maneira, estruturará
o mesmo problema de projeto de modo particular, o que resultará em um processo
personalizado, baseado em seus anseios, repertório pessoal e até mesmo em sua
história de vida, o que é considerado positivo.
Foi visto que, ao contrário do caso estudado na UFRN, na disciplina da FA-UL,
alguns alunos já apresentaram, desde a fase inicial de estudos preliminares,
pensamentos projetuais em direção à materialidade da obra. A suposição é de que
isso pode ser o reflexo direto do uso de maquetes físicas de estudo desde o início do
processo, o que proporcionou uma visão mais esclarecedora das ideias junto a todos
os envolvidos (docente e discentes) e fez com que fosse possível perceber nuances
que se apresentam menos visíveis apenas nas representações gráficas. Isso pode
indicar que esses processos de projeto foram beneficiados com o maior uso do
pensamento divergente ou lateral, aquele que atua em várias frentes no processo de
concepção projetual em busca de melhores soluções (LAWSON, 2011;
KOWALTOWSKI, 2011).
Em comparação com o que foi visto no Projeto Integrado III do CAU-UFRN, a
segunda fase de projetação da disciplina da FA-UL foi muito mais marcada pela
inserção de variantes tecnológico-construtivas. Estas surgiram aliadas com as
definições funcionais e foram também resultantes da necessidade de compatibilização
das funções em todos os níveis do conjunto arquitetônico projetado. Foi percebido,
por parte dos alunos, uma maior dedicação para solucionar a função no projeto e, ao
mesmo tempo, para atender às exigências das questões estruturais. Esta atitude fez
com que a estrutura, mesmo que não tenha sido um forte elemento de expressão
estética no projeto, estivesse presente com muita intensidade nas definições
projetuais dos alunos, desde a fase preliminar da projetação48.
Esta preocupação não ficou patente nos projetos acompanhados no curso de
Arquitetura da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Na verdade, foi notado
que as definições estruturais se tornaram evidentes em fases avançadas do processo
de projeto em vésperas de entrega ou já no produto finalizado, ao contrário do que foi
observado na FA-UL. No caso brasileiro, a dificuldade em acompanhar o processo
48 Ainda que isso não tenha sido uma exigência formalizada pelo professor responsável.
202
projetual dos grupos experimentada pela pesquisa também pode ter distorcido essa
impressão, entretanto, essa situação quanto às decisões a respeito da estrutura foi
comum a todos os seis grupos observados.
Já ao fim do processo de projetação, quando as representações gráficas se
encontravam em estágio de anteprojeto arquitetônico, os produtos desenvolvidos
pelos alunos da UFRN apresentaram maiores especificações e informações quanto
às questões técnico-construtivas. Esta característica, presente nos projetos e
apresentações, deveu-se ao fato de que estes esclarecimentos foram exigidos pelo
docente para a avaliação dos produtos. Pois, desde a apresentação do plano de aulas,
os alunos já haviam sido informados quanto a exigência de, na etapa de
representação (fase final da programação da disciplina), desenvolver um painel
específico sobre o sistema estrutural adotado nas propostas.
No caso dos trabalhos apresentados pelos alunos da FA-UL, as apresentações
finais das propostas não contavam com especificações de materiais. Tão pouco havia
memorial ou textos explicativos. A leitura do processo era possibilitada pelo dossiê
individual de cada aluno, onde estavam anexados os desenhos de concepção
realizados desde o início das atividades do Laboratório de projeto III. Acompanhando
este material e servindo como elemento fundamental para a avaliação da proposta
pelo professor responsável e demais examinadores, via-se a maquete física de cada
estudo e de cada aluno.
6.1.2 Os produtos
A análise dos produtos dos dois estudos de caso foi capaz de detectar
determinados aspectos projetuais nos resultados finais entregues pelos alunos quanto
às semelhanças e às diferenças.
A princípio, pode-se dizer que os produtos desenvolvidos pelos alunos da FA-
UL na disciplina Laboratório de projeto III da FA-UL focaram mais nas decisões
arquitetônicas relacionadas ao cumprimento das exigências funcionais e volumétricas
do projeto. A partir dos acompanhamentos realizados em sala de aula, é possível
também afirmar que as decisões quanto ao sistema construtivo estavam integradas
ao processo de projetação, mas não foram consideradas como essenciais para a
avaliação dos trabalhos entregues, deste modo, não houve especificações dos
203
materiais selecionados nas representações gráficas. De maneira geral, as escolhas
foram mais convencionais quanto a esses aspectos e menos ousadas que os
trabalhos analisados no CAU-UFRN.
Como visto, os projetos finais desenvolvidos pelos estudantes do terceiro ano
de Arquitetura da UFRN demonstraram a incorporação de um número maior de
reflexões construtivas somente a partir de uma fase mais intermediária do processo e
da disciplina (e às vésperas da última entrega). No entanto, ao final do andamento,
todos os trabalhos apresentaram uma maior especificação de materiais e de sistemas
construtivos adotados em suas propostas. Foi atestado que os painéis finais dos
trabalhos apresentaram representações detalhadas dos sistemas estruturais
adotados, inclusive com detalhamento de componentes. Em comparação ao caso
português, conclui-se que houve uma maior diversidade na seleção de tecnologias
construtivas e seus componentes, além de uma manifestação mais intensa de
cuidados com os aspectos do conforto ambiental. Essa particularidade foi constatada
nas definições de elementos de proteção solar (como brises metálicos ou em
madeira), nas esquadrias móveis e nos sistemas de cobertura, com telhas
industrializadas e grandes beirais.
Quanto à implantação e a relação com a topografia dos lotes, constatou-se que
os projetos brasileiros foram mais cuidadosos com o entorno, sobretudo pelo controle
de gabarito (que é exigido pela legislação) e a relação com a paisagem circundante.
Novamente, no caso do CAU-UFRN, foi observada uma influência da disciplina de
conforto ambiental nas implantações propostas aos conjuntos habitacionais, com o
propósito de aproveitar melhor a ventilação natural.
No caso português, a preocupação com a estrutura foi um destaque no
processo de projeto, sobretudo, devido à necessidade de compatibilizar as funções
das unidades habitacionais e de prestação de serviços pretendidas para o
empreendimento associado à exigência de níveis de estacionamento em diferentes
níveis de subsolo. Tal exigência, como já foi dito, rendeu um maior grau de dificuldade
para o desenvolvimento do projeto e reivindicou um maior esforço por parte dos alunos
para a resolução desta questão. Contudo, apesar de ter sido um ponto analisado com
frequência no desenvolvimento do projeto, não se configurou como uma força
expressiva enquanto aspecto estético na maioria dos produtos desenvolvidos. No
caso estudado na UFRN, onde o pensamento projetual quanto ao sistema estrutural
204
foi detectado em uma fase mais avançada da elaboração da proposta, tal constatação
também pode ser reproduzida.
A respeito das especificidades sobre as vedações e fechamentos, os projetos
desenvolvidos no curso da UFRN apresentaram maior diversidade de materiais que o
caso da FA-UL. Em ambos os casos, não houve especificações quanto aos materiais
de acabamento. As informações a respeito destes itens, no caso brasileiro, puderam
apenas ser extraídas a partir da análise das imagens das maquetes eletrônicas
apresentadas nos painéis finais de apresentação. No caso português, resultaram das
observações realizadas no decorrer do semestre e foram fruto de averiguações por
meio de conversas com os alunos em sala de aula. Deve-se ressaltar que nas
respostas obtidas junto aos professores responsáveis das duas instituições, este
aspecto não foi considerado prioritário para o desenvolvimento das propostas.
Por fim, uma preocupação comum aos projetos analisados das duas
instituições diz respeito à atenção conferida às instalações hidrossanitárias, através
das tentativas de concentrar as áreas molhadas nas plantas baixas das unidades, o
que caracteriza uma reflexão que se direciona para o planejamento da obra
arquitetônica e as suas atividades operacionais.
6.1.3 Aspectos do processo de ensino-aprendizagem
Quanto à condução didática no processo de ensino-aprendizagem, constatou-
se, nos dois estudos de caso, que a sequência de ações a fim de obter dos discentes
determinados produtos do projeto faz com que sejam mais trabalhados pensamentos
convergentes do que divergentes, no processo de projetação. Como visto, a análise
dos processos de projetação indicou que a maioria dos alunos ou grupos teve as suas
ações focadas nos produtos que deveriam ser entregues de acordo com os objetivos
e etapas das disciplinas. Observou-se, por exemplo, no início dos processos
investigados, a forte presença de estudos volumétricos na fase de análise, voltada
para a definição de planos de massas para os empreendimentos. Ao mesmo tempo,
como já mencionado, no caso estudado na UFRN, aspectos relacionados a
especificidades da materialidade da obra arquitetônica foram identificados apenas em
fase final da projetação, quando deveriam obrigatoriamente constar na representação
gráfica do produto a ser entregue.
205
O uso da maquete de estudo e de apresentação da proposta, ao final do
processo, foi decisiva para uma melhor compreensão dos resultados e das lógicas
presentes nas propostas, não apenas em relação ao edifício em si, como também em
relação ao sistema urbano imediato aonde o conjunto seria inserido. No entanto, é
possível que o tempo dedicado à confecção das maquetes físicas possa ter impedido
uma discussão mais aprofundada ou um melhor esclarecimento quanto às decisões
construtivas. Na FA-UL, tal opção parece ser uma questão de escolha didática e de
tradição pedagógica que indicaria a análise da materialidade mais associada à
apreensão da forma arquitetônica através de maquetes físicas, ao invés de discutir
especificidades de materiais e apontar especificações técnicas nas pranchas dos
desenhos.
No caso da UFRN, de modo geral, sabemos que a maquete de concepção é
pouco utilizada como instrumento nas aulas dos ateliers de projeto. Foi visto que o
estímulo ao seu uso na disciplina analisada, na fase de reflexão sobre a implantação,
rendeu boas discussões quanto às propostas, tendo sido estimulada desde o início do
processo de projeto como sugerido por diversos autores como Machado (2011) e
Oliveira (2013).
Acredita-se que o modo de avaliação instituído pela FA-UL, com o exame do
produto apresentado nas duas últimas entregas através de uma banca formada por
outros professores, enriqueceu o processo de análise dos resultados alcançados, com
a inserção de visões externas que avaliaram o produto. No caso brasileiro, a avaliação
conjunta realizada pelos professores do Atelier Integrado apontou a importância
conferida ao conjunto do exercício, o que poderia ser ampliado com a adoção de uma
visão externa.
O uso do diário gráfico 49 no caso do curso português, permitiu o
acompanhamento do processo de concepção dos alunos pelo professor responsável
pela disciplina, que também possuía as suas próprias anotações sobre as questões
individuais de cada projeto. Esta técnica de registro, comumente utilizada em diversas
escolas de arquitetura, foi fundamental para a realização da pesquisa (Figura 140).
49 Designação para caderno de esboços, álbum de desenhos, bloco de notas ou sketchbook. Apresenta-se como um caderno transportável, que serve de suporte ao registo gráfico, por observação direta ou de imaginação e memória, podendo ser auxiliado pelo recurso da escrita e outras técnicas complementares, como a colagem (SALAVISA, E. apud RAMOS, 2012).
206
Figura 140 – Registro de um diário gráfico: estudo para o pátio da edificação.
Fonte: Elaborado por um aluno. Fotografia do autor, 2015.
No estudo realizado na UFRN, esta ação estava presente nas atividades
projetuais dos alunos intercambistas, porém, o fato do projeto ter sido realizado em
equipes, a pouca sistematização dos croquis de concepção e o uso constante das
ferramentas computacionais dificultaram a compreensão dos encaminhamentos.
Ademais, a participação frequente dos alunos em sala de aula, fazendo uso do horário
da disciplina para desenvolver as propostas na própria sala do laboratório de projeto
III da FA-UL, caracterizou fortemente o caso estudado e permitiu a observação dos
encaminhamentos dos projetos.
No caso da UFRN, muitos dos resultados eram apresentados após o
desenvolvimento das atividades (fora da sala de aula), sem haver registros que
demonstrassem o processo de reflexão projetual. Esse traço característico pode ter
gerado lapsos no acompanhamento das rotas de planejamento das propostas.
Pode-se dizer que, nos dois casos estudados, uma integração efetiva com a
disciplina que trata do conteúdo referente ao estudo do sistema estrutural50 poderia
ter ampliado uma maior reflexão sobre o projeto realizado, tal como aconteceu com a
disciplina de conforto ambiental, no curso da UFRN. A participação desse conteúdo e
do docente responsável, considerado como complementar ao atelier integrado,
estimulou a reflexão no projeto quanto aos vários aspectos importantes e que se
relacionaram às escolhas dos materiais e tecnologias empregadas.
50 Em ambos os casos, são oferecidos no mesmo período aos alunos, disciplinas que tratam dessas questões, porém, a integração desses conhecimentos no processo de ensino-aprendizagem não foi verificada.
207
Finalmente, apesar de ter sido detectada uma inserção tardia dos aspectos
estruturais na maior parte dos projetos desenvolvidos na disciplina do CAU/UFRN,
acredita-se que a disciplina analisada conseguiu alcançar o objetivo de fazer os
estudantes refletirem sobre questões relacionadas à modulação e racionalização da
obra, por meio da incorporação de estudos que tentaram solucionar a função e a
estrutura. No caso da UFRN, este objetivo era oficializado, ao contrário do estudo de
caso realizado na FA-UL. Mesmo assim, no caso estudado na instituição portuguesa,
foi possível ver que mais da metade dos alunos procurou pensar a estrutura segundo
uma modulação, o que demonstrou um interesse autônomo dos discentes, instituído
a partir de uma preocupação que aponta para a ação consciente de planejar a obra
arquitetônica.
Como visto, a dimensão do objeto do exercício de projeto arquitetônico na
UFRN era maior que o proposto na FA-UL. As outras exigências, que diziam respeito
às questões urbanísticas e paisagísticas, ao mesmo tempo em que tornaram o projeto
com uma demanda maior de problemas e de soluções, ao lidar com conflitos e
potencialidades, diagnósticos, reflexões e proposições, devem ter ampliado junto aos
estudantes, a perspectiva de que um projeto não é só um conjunto de representações
indicativas de possíveis soluções mas, que representam decisões capazes de gerar
diversas relações no meio urbano, como exposto nos painéis finais (figuras 141,142 e
143).
Figura 141 – Exemplo de painel final que apresenta diagnóstico da área de estudo.
.
Fonte: Trabalho final de um grupo. Editado pelo autor.
208
Figura 142 – Exemplo de painel final que apresenta propostas de intervenções urbanas para a área de estudo.
Fonte: Trabalho final de um grupo. Editado pelo autor.
Figura 143 – Exemplo de painel final que apresenta proposta paisagística para área de estudo.
Fonte: Trabalho final de um grupo. Editado pelo autor.
Desse modo, pode-se dizer, a partir da análise realizada, que a visão oferecida
pela disciplina do CAU-UFRN foi considerada mais complexa e holística, inclinando-
209
se para a preparação do futuro profissional com as atribuições de Arquiteto e
Urbanista51, como prescreve a resolução nacional que trata do ensino na área.
Acredita-se que, no decorrer da formação, projetos complexos são necessários
para fazer o estudante compreender/perceber a dimensão das exigências projetuais
e a necessidade de buscar reforços capazes de dar o suporte necessário para o
melhor planejamento das ações de projeto, já que dominar toda a série de elementos
pode ser inviável. No entanto, uma observação resultante das análises dos dados
primários suscitou a hipótese de que um objeto arquitetônico de porte médio favorece
o processo de ensino/aprendizagem, porque possibilita um maior controle dos
elementos e variáveis do projeto, aumentando o domínio sobre o processo e o
produto, o que parece ter favorecido os processos de projeto investigados em
Portugal.
Por fim, cabe ressaltar que as análises realizadas a partir dos dados coletados
nos dois estudos de caso estão associadas às circunstâncias e aos momentos
específicos observados nas disciplinas. Apesar de se configurarem como registros
pontuais em um ou dois semestres letivos nessas instituições, colaboram para a
interpretação dos processos de ensino-aprendizagem do projeto de arquitetura,
ampliando o debate sobre práticas e pesquisas no âmbito acadêmico e incentivando
a proposição da reflexão crítica capaz de sugerir outras abordagens na prática do
atelier de ensino de projeto.
Discussão comparativa das experiências didáticas.
Ao final da aplicação dos dois experimentos e analisados os resultados obtidos,
pode-se afirmar que as ações didáticas puderam alcançar os seus objetivos de
estimular o debate e a reflexão sobre a importância de pensar os aspectos técnicos-
construtivos, no processo de projeto em arquitetura.
Constatou-se, por meio das sondagens iniciais, que, em ambos os casos, a
percepção geral dos alunos quanto à relação arquitetura e construção foi considerada
positiva e que existe a consciência da indissociabilidade entre as partes desse
complexo processo de criação.
51 Como visto, o curso português é desvinculado dessa segunda atribuição profissional.
210
A adoção do conceito da escala técnica segundo Boudon (2001), como um
ponto-chave para a discussão teórica e análise projetual nas experiências, foi
essencial para a prática desenvolvida com os exercícios. Inicialmente, a sua
identificação em exemplares arquitetônicos que faziam parte do repertório pessoal dos
alunos foi fundamental para uma efetiva cognição do conceito pelos participantes. Em
ambas as experiências, os participantes puderam apontar a atuação dessa escala em
exemplos arquitetônicos.
Posteriormente, o incentivo aos estudos de referências arquitetônicas (como
exercícios obrigatórios) contribuíram para o desenvolvimento do estudo projetual final,
pois, como visto, foram observadas influências de soluções analisadas nas propostas
desenvolvidas pelos alunos, como o uso de modulação e outras estratégias projetuais
como a adoção de iluminação zenital e interferências na implantação e na relação
interior-exterior dos projetos. Ações desta natureza, que busca compor conhecimento
por meio do estudo de precedentes (formação de memórias de protótipos e projetos),
são úteis no processo de ensino-aprendizagem segundo Kowaltowski (2011).
Foi visto que os exercícios de concepção foram capazes de orientar a atenção
dos alunos em direção à materialidade da obra arquitetural, com os resultados
apontando para a reflexão e o planejamento do projeto atento às questões
construtivas. Nos exercícios em que se retomaram as propostas desenvolvidas para
aprofundar a reflexão projetual, foi possível aplicar, diretamente, a teoria discutida
quanto ao custo das decisões arquitetônicas. Isso tornou-se evidente nas tentativas
de racionalização das propostas, o que foi detectado tanto na primeira, quanto na
segunda aplicação das experiências didáticas.
Acredita-se que a atividade de retomada do exercício projetual para rever
aspectos construtivos e racionalizar a proposta enriqueceu o processo e se amparou
no pensamento de Lawson (2011), que sugere que para se aprimorar o processo e a
criatividade possa ser alterada, deve haver a direção do pensamento “já que, em geral,
reconhece-se que achamos mais fácil ir na mesma direção em vez de iniciar uma nova
linha de pensamento” (LAWSON, 2011, p.146).
Deste modo, ambas as experiências conseguiram estimular o pensamento
divergente ou lateral no processo de projeto, tendo em vista que, ao mesmo tempo
em que os participantes tentavam resolver os exercícios e atender a exigências
funcionais ou simbólicas, também eram solicitados a pensar no planejamento da obra
arquitetônica, antevendo não somente fases de sua construção, mas também a sua
211
utilização relacionada a aspectos de operação e de manutenção dos edifícios
planejados.
A segunda aplicação, mesmo com o tempo destinado às suas atividades
reduzido, conseguiu adaptar os objetivos e os procedimentos essenciais, tendo
aperfeiçoado algumas ações da primeira experiência, em função das críticas
realizadas na primeira execução de longa duração. Deste modo, ao fim da oficina,
recebeu aprovação unânime dos participantes quanto às atividades teóricas e práticas
quanto aos debates fomentados.
A segunda experiência didática pôde confirmar também o exposto por Veloso
et al. (2015), que relata que em oficinas temporárias de trabalho intensivo em projeto,
a riqueza dos processos vivenciados se sobrepõe à qualidade dos produtos finais, já
que as apresentações dos produtos foram mais preliminares, em função do curto
tempo destinado à concepção e ao desenvolvimento das propostas.
A maioria dos projetos elaborados pôde, mesmo com prazos limitados de
tempo para a confecção das propostas (principalmente no caso da segunda aplicação
da experiência didática), indicar as decisões ligadas aos aspectos técnicos-
construtivos, através das especificações presentes nas representações ou nos
discursos dos textos justificativos. Deve-se ressaltar que as argumentações durante
as apresentações orais dos resultados dos exercícios denotaram a incorporação dos
termos apresentados em sala de aula, demonstrando a absorção dos conceitos
trabalhados.
Nas duas experiências, os croquis de concepção atuaram como ferramentas
de experimentação e extensão do raciocínio arquitetural no processo de projeto,
estruturando e legitimando a concepção arquitetural, como citado por Schenk (2010)
e Tinôco et al. (2013). No caso da segunda experiência didática, o maior estímulo ao
uso de maquetes físicas associadas aos estudos em croqui colaborou para a melhor
visualização e análise das propostas e para além disso, a sua adoção baseou-se no
pensamento proposto por Duarte (2013, p. 142) que diz que “a maqueta deverá ser
tomada como modo de o aluno pensar, e não apenas como modo de revelação de um
pensamento já definido”.
Por fim, constatou-se, mesmo com a alteração no perfil do participante na
segunda experiência, que foi possível promover o estímulo à reflexão no processo de
projeto quanto ao planejamento da obra arquitetônica junto aos estudantes,
independente da sua “posição” na graduação em Arquitetura e Urbanismo,
212
evidenciando que a definição de um método e de um planejamento didático faz toda
a diferença no processo de ensino-aprendizagem que almeja alcançar metas. Assim,
acredita-se que a utilização de abordagens como esta, que tratem da questão técnica-
construtiva no processo de projeto e exaltem a sua fundamental importância desde o
princípio da formação superior em AU, são capazes de gerar bons reflexos na
formação do profissional Arquiteto e Urbanista.
213
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Sabemos que o mundo, em constante desenvolvimento de novas tecnologias,
novas maneiras de viver, habitar e produzir, passou a exigir uma postura atenta do
profissional da arquitetura, indicando que, mesmo que não sejamos capazes de
acompanhar todas as mudanças, é preciso saber que elas existem e que nos serão
exigidas, mais cedo ou mais tarde. Quer estejamos em sala de aula, nos laboratórios
de pesquisa ou na prática cotidiana do atelier de projetos.
Deste modo, a realização do presente estudo partiu de observações
decorrentes na prática de ensino em arquitetura que identificavam dificuldades dos
estudantes quanto à integração do pensamento projetual com os aspectos técnicos-
construtivos, relacionados ao planejamento da obra arquitetural. Na revisão do estado
da arte para a pesquisa, estas impressões pessoais vieram a ser confirmadas por
meio do que afirmam outros pesquisadores que, há algumas décadas, já apontavam
para um certo distanciamento entre o ensino de arquitetura e estas questões.
A relevância dessa problemática originou duas perguntas que nortearam o
desenvolvimento desse trabalho e formularam o objetivo geral da pesquisa: uma
busca por compreender a inserção dos conhecimentos advindos das disciplinas de
tecnologia da construção na concepção de projeto, a fim de promover uma melhor
integração de conteúdos e gerar maior reflexão no processo projetual em sala de aula.
Ou seja, uma investida científica direcionada não para o estabelecimento de um
método de projetação, mas orientada para um método de ensino do projeto, com o
propósito de apresentar e discutir estratégias didáticas capazes de minimizar a lacuna
detectada.
Os quatro objetivos específicos da pesquisa propunham, em primeiro lugar,
investigar o quadro atual do ensino do conteúdo relacionado à tecnologia da
construção em cursos de AU no Brasil e as suas relações com as disciplinas de projeto
de arquitetura para, em seguida, examinar os processos de ensino de projeto em duas
Instituições de Ensino Superior (IES), sendo uma destas em outro país, a fim de
desenvolver uma discussão comparada. Esses objetivos foram alcançados a partir
das análises documentais realizadas em instituições brasileiras e por meio dos
estudos de caso desenvolvidos no CAU-UFRN e no curso de arquitectura da FA-UL,
em Lisboa. Por fim, a realização de experimentos didáticos no atelier de projeto, se
caracterizou como quarto objetivo específico da pesquisa e foi obtido por meio das
214
atividades praticadas na disciplina optativa e na oficina de projeto, realizadas na
Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
Inicialmente, os dados provenientes da pesquisa secundária, a qual analisou
documentos oficiais de uma amostra de cursos brasileiros demonstraram que, na
graduação, alguns temas de exercícios de projeto normalmente estão atrelados às
questões tecnológicas-construtivas, principalmente ao problema da habitação (de
interesse social ou não) e à verticalização.
Acredita-se que essas temáticas estão relacionadas aos ateliers de projetos na
academia, por permitirem uma maior integração com essas questões construtivas e
de planejamento. Devido ao grau de complexidade destes tipos de problemas
arquitetônicos que, naturalmente, gerarão exigências de compatibilização da forma,
função e estrutura e sua adequação ao lugar, são oferecidas maiores oportunidades
de demonstrar e explorar essas relações no ensino do projeto.
No entanto, é importante lembrar que, independentemente de uma aparente
complexidade, mesmo em projetos com um programa menor, como residências
unifamiliares (que apresentam outros níveis e tipos de dificuldades), estas relações. e
em outra medida, também precisam ser exploradas, visando a conscientizar (desde
sempre) quanto à importância da relação entre arquitetura e construção. Afinal, todos
os edifícios devem “ficar de pé”, mas não apenas isso... precisam atender aos
requisitos de desempenho, relacionados à operação (uso) e a manutenção da
edificação. Mas as construções precisam ter, também, expressão artística ou
tectonicidade, na expressão de Piñon (2006).
A partir da compreensão dessa perspectiva e da certeza que a percepção
dessa relação é evidente, a pesquisa pretende, como outros estudos já fizeram,
indicar que seja revalorizada esta aproximação do estudante com a prática
construtiva, por meio de uma ampliação da sua experiência em/com obras, seja por
meio de ações ligadas aos ambientes de apoio didático, como laboratórios e canteiros
experimentais, o que foi sugerido por autores como Ronconi (2002), Minto (2009) e
Pisani (2009). Além disso, uma questão que merece atenção e que poderia vir a ser
discutida diz respeito ao estágio obrigatório. A pesquisa secundária apontou que,
dentre a amostra de instituições, apenas o curso da UFRGS e da UNB exigem em
suas estruturas curriculares o estágio supervisionado em obra, o que se apresenta
não apenas como uma maneira de aproximar o aluno do canteiro e da prática, mas
215
também de demonstrar que essa é uma atribuição ou uma área na qual o arquiteto e
urbanista também pode atuar. Caberia ao ensino de arquitetura proporcionar uma
aproximação efetiva com a realidade, para resolver o que foi apontado por Leite
(2005), a respeito dessa ausência de contato com a prática.
No campo da sala de aula, a fim de responder aos demais objetivos específicos
dessa pesquisa, afirma-se, ao final dessa investigação, que os estudos de caso
demonstraram a importância do planejamento didático e clareza da definição de
objetivos a serem alcançados. A identificação ou clareza, quanto ao conteúdo dos
produtos a serem entregues, funciona como o estabelecimento de metas para os
participantes, sejam eles professores ou alunos. Independente do enfoque a ser dado
pelo planejamento, a tendência é que apenas o que é exigido como produto seja
aprofundado ou mais bem planejado. Logo, a racionalização ou a modulação, a
preocupação com as instalações e com as especificações de materiais são itens que
podem ser avaliados pelos alunos e integram os seus processos projetuais. No
entanto, serão mais bem esclarecidas se tiverem sido definidos como partes exigidas
para os exercícios projetuais e, consequentemente, como condicionantes para a
avaliação e atribuição de nota ou conceito.
A análise dos processos de ensino-aprendizagem demonstrou que também
deve ser estimulado o uso do pensamento divergente e não convergente, a fim de
tratar a arquitetura como um sistema, como já apontado por Boudon et al (2001), Cox
(2005) ou Deplazes (2010).
Uma maneira de colaborar com esta ideia seria incentivar o uso da maquete
física em todos os níveis do processo projetual. Desde o seu uso como instrumento
de concepção (DUARTE, 2013), como estudo de plano de massas (TINÔCO et al.,
2003), até alcançar um nível que represente e ensaie detalhes construtivos. Esta
última prática, recentemente abordada no livro Construção 2.0, de autoria de Lopes
(2015). Nessa obra, o professor apresenta um conjunto de trabalhos realizados em
sala de aula, orientados para a produção de maquetes, que possibilitem a análise,
interpretação e comunicação de processos ou dos sistemas construtivos de obras de
arquitetura, à escolha dos alunos.
Essa experiência, procura, segundo Lopes,
recuperar e atualizar certas práticas – próximas dos antigos modos de projetar e de fazer arquitectura, que aqui se (re) inventam, (re) produzem e (re) orientam para as ciências da Construção – levando os alunos a pensarem
216
com conhecimento e criatividade, a resolverem problemas, tomando decisões e colaborando como um grupo de projeto. No fundo, reproduzindo a verdadeira essência da arquitetura como arte coletiva dirigida para a Construção (LOPES, 2015, p.22).
No caso desta tese, foi demonstrado que o uso da maquete física em Portugal
está incorporado ao processo de projetação em sala de aula, já que a sua utilização
foi presenciada desde a fase da pesquisa que propôs a aproximação com as
disciplinas ligadas ao ensino de projeto na FA-UL. Tanto no caso brasileiro, com o uso
das maquetes para estudar a implantação e a relações com o entorno, quanto nos
estudos formais estabelecidos pelos alunos portugueses, constatou-se a possibilidade
de antecipar questões e auxiliar na compreensão da proposta, tanto por parte de quem
projeta, quanto por parte de quem orienta, analisa ou avalia a ideia. Cabe aqui lembrar
que, em nossa revisão bibliográfica, foram vistas as experiências de ensino
promovidas pelo professor Hélio Costa Lima, realizadas na UFPB e que valorizavam
o uso dessa prática no atelier, associando às questões construtivas do projeto.
Por iniciativa própria dos alunos, nas experiências didáticas realizadas na
UFRN, também foi possível demonstrar o potencial das maquetes. Como visto,
mesmo que tenham sido utilizadas com o objetivo de estudar a forma, puderam
orientar decisões e escolhas dos projetos relacionadas às questões construtivas,
como a estrutura e estratégias de iluminação zenital. Estas observações suscitaram
interesses que podem resultar em futuras pesquisas quanto ao tema.
Como o processo de projeto também deve ser encarado como um processo de
pesquisa, outra estratégia, considerada produtiva em todos os estudos de caso, foi a
adoção dos estudos de referências. Esses exercícios foram considerados relevantes
para a composição de repertório de soluções, como apontado por diversos autores
como Hertzberger (1996), Lawson (2011) e Kowaltowski (2011).
Entretanto, de acordo com as intenções do professor e das limitações da
disciplina, as tarefas podem ser delimitadas e direcionadas (em caso de restrição do
tempo para a análise) ou selecionados a partir dos interesses dos próprios alunos, o
que pode vir a ser mais proveitoso, tendo em vista que interesses pessoais estarão
presentes nestas escolhas. Acredita-se que o papel de quem planeja o uso desta
estratégia deve ser a composição de um roteiro que estabeleça o recorte analítico
daquilo que se pretende analisar/avaliar no precedente. Deste modo, será possível
217
não apenas extrair as informações, mas também orientar os alunos para uma análise
mais crítica dos dados.
Outro aspecto observado nos estudos de caso e apontado durante as análises
dos resultados diz respeito à dimensão do problema arquitetônico a ser tratado pelos
estudantes. As observações realizadas nos estudos de caso fizeram emergir a
questão de que, quando o problema possui um número limitado de restrições, é
possível chegar a soluções mais aprofundadas, o que leva a crer que a
dimensão/escala dos objetos de projeto para exercício no atelier pode auxiliar ou
prejudicar na compreensão das fases necessárias para se planejar a obra
arquitetônica. Tal consideração influenciou na decisão do tema projetual para as
experiências didáticas e os seus exercícios.
Com base nisto, os exercícios de concepção, com enunciados e problemas
arquitetônicos de pequena escala ou restrições limitadas apresentaram-se como
meios para gerar reflexões projetuais após algum tipo de apresentação e discussão
de caráter mais teórico-conceitual, possibilitando a incorporação imediata dos
conceitos abordados em sala de aula. Configuram-se, desta maneira, como parte dos
estímulos e incentivos para o rebatimento do conteúdo estudado, proporcionando
respostas mais rápidas52.
Não se pretende advogar a limitação irrestrita do grau de complexidade dos
exercícios, por não se discutir que, no decorrer da formação, projetos complexos
sejam necessários para provocar a percepção das diferentes escalas de edifícios,
suas dimensões, exigências e ainda a necessidade de buscar reforços para a
integração de saberes e de competências em prol da qualidade projetual.
Pode-se afirmar que o ensino envolve uma associação de método e de
estratégias e suas definições são importantes para indicar como e aonde se quer
chegar. Deste modo, as sugestões que emergem das observações realizadas em sala
e da análise dos casos investigados buscam sinalizar maneiras de aperfeiçoar o
processo de ensino-aprendizagem e diminuir o que foi considerado como hiato na
problemática detectada. Não se esgotam as possibilidades e a necessidade de propor
inovações ou renovações no ensino acadêmico em arquitetura. Felizmente, com a
52 Em temas de maior complexidade, a adoção dos exercícios de concepção deve exigir uma adaptação. Por exemplo, em uma atividade relacionada ao projeto hospitalar, os exercícios podem ser direcionados para a compreensão de partes do conjunto arquitetônico: áreas que concentram determinadas atividades como setores destinados a centros cirúrgicos ou centros de material esterilizado.
218
ampliação da pesquisa na área de ensino de projeto, são diversas as experiências
apresentadas em livros, dissertações, teses e congressos científicos que tratam da
temática e auxiliam na busca pelo seu aperfeiçoamento. Como exemplo, vemos um
outro tipo de proposta, a fim de preencher a mesma lacuna identificada por essa
pesquisa. Rheingantz (2015), na primeira edição da revista Projetar, apresenta a ideia
proposta por Edward Allen, que sugere a implantação de um atelier paralelo ao de
projeto. Este segundo atelier congregaria o conteúdo tecnológico, atuando não
apenas como suporte ao desenvolvimento da ideia, mas também como estruturador
das decisões e escolhas. Esta proposta pode fortalecer o elo do projeto com a sua
materialidade e o planejamento da obra arquitetônica e se apresentar como um
caminho para minimizar um grave problema do ensino, que seria a fragmentação dos
conteúdos, problema apontado por Leite (2005), Costa Lima (2003) e Verde Zein
(2003), dentre outros autores.
Finalmente, a pesquisa leva à conclusão de que a hipótese de que “quando
incentivada a aplicação das questões relacionadas às tecnologias construtivas desde
as primeiras fases da concepção projetual no processo de ensino do ateliê, o projeto
desenvolvido pelo aluno seria alicerçado por um conjunto de decisões que permitem
planejar e compreender melhor o artefato arquitetônico” é, em parte verdadeira. Ela
foi comprovada até certo ponto, porque o seu pressuposto foi construído a partir de
uma visão inicialmente limitada, que coloca o professor como o elemento chave do
processo, como se fosse o único responsável pelo estímulo ao aluno. Este, como
afirmam Pinto (2007) e Rheingantz (2003), não é apenas mero receptor. Carrega
consigo as suas referências e também possui a sua própria autonomia, que é capaz
de fazê-lo trilhar o caminho da descoberta proporcionada pelo conhecimento.
Isso pôde ser atestado, pelo acompanhamento das disciplinas observadas em
Portugal e no Brasil. Como se sabe, no primeiro caso, os aspectos construtivos não
foram considerados os mais relevantes para o desenvolvimento do projeto, contudo,
os alunos se ativeram a essas questões, conferindo importância a vários aspectos
construtivos, sobretudo ao sistema estrutural. Ao mesmo tempo, no caso do CAU-
UFRN, a proposta de racionalizar e modular o projeto e a adoção de tecnologias que
promovessem a flexibilidade espacial foram aspectos estimulados desde o início do
processo, rendendo, ao final, produtos que atendiam às exigências citadas, ainda que
vários aspectos tenham, aparentemente, sido decididos às vésperas da última
entrega.
219
As experiências didáticas, por sua vez, mesmo com as suas diferenças de
formato, demonstraram a validade de planejar as aulas, as metas e os exercícios,
visando a um estímulo capaz de gerar reflexão e a melhorar a integração almejada
entre o projeto e as questões tectônicas no projeto. Neste caso, também ficou claro
que o enfoque direcionado pelo responsável, sendo fundamental para a reflexão e
alcance dos resultados positivos, o que ratifica a hipótese do trabalho.
Ao concluirmos, pode-se dizer que as principais dificuldades em empreender
essa pesquisa se relacionaram ao acompanhamento dos processos dos alunos,
afinal, mesmo que possamos observar os meios de representação e comunicação das
ideias, através dos croquis, diagramas, maquetes e extrair informações, através dos
seus discursos, as coisas mais interessantes que acontecem no processo de projeto
estão escondidas na cabeça dos projetistas, sem serem audíveis ou visíveis
(LAWSON, 2011). Então, sempre haverá limites para compreensão de processos de
concepção, ainda que se possam analisar desenhos, textos e contextos que os
expressam (VELOSO, 2011). É também possível analisar a atividade projetual como
prática reflexiva no âmbito dos ateliers (SCHÖN,2000) e, a partir da compreensão
deste diálogo, construir novos caminhos para a sua aprendizagem.
Assim sendo, ao fim dessa pesquisa, acredita-se que os seus objetivos foram
alcançados, na busca por essa compreensão e construção de uma pedagogia mais
voltada para a materialidade da arquitetura. Espera-se que as reflexões apresentadas
contribuam com futuras investigações na área que, como esta, acreditem que
compreender o “lugar” da construção no projeto arquitetônico faz parte do conceito
libertador, que, segundo Paulo Freire (1991), a educação proporciona.
220
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228
APÊNDICE 01
Ficha 01: Identificação e caracterização de cursos de Arquitetura e Urbanismo
quanto às disciplinas de projeto de arquitetura e de tecnologia da construção.
229
FICHA 01 – INFORMAÇÕES SOBRE AS ESTRUTURAS CURRICULARES
(Para aprofundamento do universo de pesquisa).
INSTITUIÇÃO: _____________________________________________DATA: _____________________________
N° disciplinas obrigatórias: ____ N° disc. Tecnologias Construtivas e afins _____ N° disciplinas Projeto: _______
CH total: ______ CH disciplinas de Tecnologias Construtivas e afins: _______CH Disciplinas projeto: _________
Identificação das disciplinas com temática tecnológico-construtiva (períodos/ anos): _________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
Identificação de disciplinas de projeto com temas com apelo tecnológico-construtivo:
1- DISCIPLINA: ___________________________CRÉDITOS/ CARGA HORÁRIA: ___________________________
OBJETIVOS: _________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
CONTEÚDO: _________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
2 -DISCIPLINA: ___________________________CRÉDITOS/ CARGA HORÁRIA ____________________________
OBJETIVOS: _________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
CONTEÚDO: _________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
3- DISCIPLINA: ___________________________CRÉDITOS/ CARGA HORÁRIA ____________________________
OBJETIVOS: _________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
CONTEÚDO: _________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
Obs.: Ambientes de apoio didático:
230
APÊNDICE 02
Ficha 02: Tabela de acompanhamento do processo projetual dos alunos.
FICHA 02 - ACOMPANHAMENTO DO PROCESSO DE PROJETO Aluno: _______________________________________________________ Instituição: ______________________ Período/ Ano: ______________
________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
Aspectos observados no processo de
projeto.
AULAS DE ACOMPANHAMENTO DO PROCESSO DE PROJETO/ DATAS
01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12 13 14 15 16 17
Implantação
Topografia
Fundações
Estrutura
Vedações
Cobertura
Acabamentos
Instalações
Outros
OB
SE
RV
AÇ
ÕE
S
APÊNDICE 03
Ficha 03: Instrumento para observação e análise dos produtos finais (projetos)
desenvolvidos pelos alunos.
233
FICHA 03 - OBSERVAÇÃO/ANÁLISE DO PRODUTO DATA:
Aluno:__________________________________Instituição:________________Período/ano:_______ Disciplina/docente (s): __________________________Tema projetual: ________________________
ASPECTOS A SEREM OBSERVADOS NO PROJETO:
1- Solução em relação ao lote:
Entorno: Considera Desconsidera
Topografia: Considera Desconsidera
Como? ______________________________________________________________
2- Fundações:
Especifica Não especifica
Observações:________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
3- Estrutura:
Com expressão formal Coadjuvante na definição do projeto
Tipo(s) selecionado (s):_____________________________________________________
Observações:________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
4- Vedações/ fechamentos:
Especifica Não especifica
Tipo(s) selecionado(s): _____________________________________________________
Observações:________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
5- Cobertura
Especifica Não especifica
Resultante da forma: Sim Não
Material de estrutura/ apoio: ________________________________________________
Material de telhamento: ____________________________________________________
Outros: _________________________________________________________________
6- Acabamentos
Definições no estudo preliminar: Sim Não
Materiais predominantes: ___________________________________________________
7- Instalações complementares:
Indícios de preocupação Sem preocupação aparente
8- Observações compçementares
Uso de materiais locais? Sim Não
Predominância de materiais industrializados? Sim Não
Preocupação com algum tipo de modulação/ aspectos relacionados à racionalização da
construção? Sim Não
Preocupação com os custos da obra? Sim Não
234
APÊNDICE 04
Formulário 01: Destinado ao professor da disciplina de projeto acompanhada, visa
obter informações quanto à percepção docente sobre o tema e as estratégias
didáticas adotadas.
235
FORMULÁRIO 01- QUANTO AO PROCESSO DE ENSINO (PROFESSOR DE PROJETO)
Caro professor, as perguntas apresentadas a seguir objetivam elucidar aspectos relacionados às práticas didáticas
desenvolvidas em sala de aula, na disciplina que está sob a sua responsabilidade. A sua participação é de extrema
importância para o desenvolvimento desta tese. Atenciosamente, Renato de Medeiros (Doutorando PPGAU/
UFRN).
1- Como é abordada em sala de aula a relação projeto/ construção no processo de ensino-
aprendizagem?
_______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
2- No processo de ensino-aprendizagem, quais são as dificuldades ou desafios identificados
quanto ao enfrentamento do conteúdo tecnológico-construtivo ou na integração desses
conteúdos no processo projetual dos alunos?
____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
3- É observada alguma dificuldade por parte do aluno quanto ao planejamento/ materialização da
obra arquitetônica que é desenvolvida no atelier de projeto? SIM NÃO ÀS VEZES
3.1 – Por quê?
___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
4- Quais são as estratégias utilizadas para minimizar esses possíveis problemas?
_______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
5- Durante o processo de ensino os alunos são estimulados a pensar no planejamento da obra
arquitetônica?
SIM NÃO
6- Quais são os aspectos que são abordados junto aos alunos no processo de concepção do
projeto arquitetônico?
Relação com o solo (fundações) Estrutura Vedações Cobertura Acabamentos
Instalações Planejamento obra Economia de custos/ orçamento
Aspectos quanto à manutenção da edificação Aspectos quanto à operação das edificações
236
APÊNDICE 05
Formulário 02: Destinado ao aluno. Tem por objetivo obter informações quanto ao seu
processo de projeto e justificativas para as escolhas técnico-construtivas.
237
FORMULÁRIO 02 - QUANTO AO PROCESSO DE PROJETO (Discente) Caro aluno, as perguntas apresentadas a seguir objetivam elucidar aspectos relacionados às decisões projetuais quanto ao projeto desenvolvido nessa disciplina. Agradeço a sua colaboração em contribuir com o desenvolvimento dessa pesquisa. Atenciosamente, Renato de Medeiros (Doutorando PPGAU/ UFRN).
1. Durante a elaboração da proposta, foram realizadas análises de opções quanto aos sistemas construtivos e aspectos técnicos? Sim Não
Como?
_________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
2. Em algum momento houve alguma preocupação com o planejamento da obra? Sim Não
3. Qual elemento/ solução demandará maior grau de dificuldade para a execução? Por quê?
_________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
4. Que elemento deve ser mais bem detalhado para a execução da obra?
_________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
5. Em algum momento alguma solução teve que ser “abandonada” devido a um tipo de dificuldade ou restrição em relação ao uso de técnicas ou sistemas construtivos?
Sim Não. Por quê? _________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
6. Qual o motivo da escolha do tipo estrutural adotado no projeto?
_________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
7. Qual o motivo da escolha do (s) tipo(s) de vedação(ções) adotado(s) no projeto?
_________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
8. Qual o motivo da escolha pelo (s) sistema(s) de cobertura(s) adotada(s) no projeto?
_________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
9. Quais os motivos das escolhas pelos acabamentos adotados no projeto? Caso sejam vários, numere pelo grau de importância conferida.
Aspectos Técnicos Aspectos funcionais Aspectos de Conforto ambiental
Estética Tradição Inovação Outro:_____________________________________
238
ANEXO 01
Estrutura curricular do Mestrado Integrado em Arquitetura da FA-UL
Fonte: Elaboração própria a partir de dados coletados.
239
240
ANEXO 02
Exemplo de exercício de concepção proposto por Boudon et al (2001).
241
Em Pessac, Le Corbusier propôs um conjunto de residências tipo, seguindo o modo de um jogo de dominós, mas ele não faz uso de todas as possibilidades combinatórias das configurações espaciais em função da visualiação sobre os espaços privados.
Denomine duas escalas que atuaram respectivamente com funções inicializantes e limitantes na concepção dessa proposta. (Tradução nossa).
(FONTE: BOUDON et al, 2001, p. 249).
242
ANEXO 03
Trecho de um exercício proposto por Jorge Cruz Pinto (2007), onde se identifica o
enunciado, o programa, além de alguns objetivos pedagógicos.
243
(FONTE: PINTO, 2007, p. 103).
)
244
ANEXO 04
Exemplo de exercício proposto por Helio Piñon (1998) em seu livro “Curso básico de
proyectos”.
245
(FONTE: PIÑON, 1998, p. 117).
)
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