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PROGRAMA FRANCISCO EDUARDO MOURÃO SABOYA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA MECÂNICA ESCOLA DE ENGENHARIA UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE Dissertação de Mestrado ANÁLISE DO COMPORTAMENTO ELASTO-VISCOPLÁSTICO DE UMA POLIAMIDA SOB CARREGAMENTO CÍCLICO LUIZ GUSTAVO MOURA OLIVEIRA DE MEDEIROS AGOSTO DE 2016

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PROGRAMA FRANCISCO EDUARDO MOURÃO SABOYA DE

PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA MECÂNICA

ESCOLA DE ENGENHARIA

UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

Dissertação de Mestrado

ANÁLISE DO COMPORTAMENTO

ELASTO-VISCOPLÁSTICO DE UMA

POLIAMIDA SOB CARREGAMENTO

CÍCLICO

LUIZ GUSTAVO MOURA OLIVEIRA DE MEDEIROS

AGOSTO DE 2016

LUIZ GUSTAVO MOURA OLIVEIRA DE MEDEIROS

ANÁLISE DO COMPORTAMENTO ELASTO-

VISCOPLÁSTICO DE UMA POLIAMIDA SOB

CARREGAMENTO CÍCLICO

Dissertação de Mestrado apresentada ao

Programa Francisco Eduardo Mourão

Saboya de Pós-Graduação em Engenharia

Mecânica da UFF como parte dos

requisitos para a obtenção do título de

Mestre em Ciências em Engenharia

Mecânica

Orientadores: Heraldo Silva da Costa Mattos,D.Sc . (PGMEC/UFF)

João Marciano Laredo dos Reis,Ph .D. (PGMEC/UFF)

UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE NITERÓI, 02 DE AGOSTO DE 2016

ANÁLISE DO COMPORTAMENTO ELASTO-VISCOPLÁSTICO DE UMA POLIAMIDA SOB

CARREGAMENTO CÍCLICO

Esta Dissertação é parte dos pré-requisitos para a obtenção do título de

MESTRE EM ENGENHARIA MECÂNICA

Área de concentração: Mecânica dos Sólidos

Aprovada em sua forma final pela Banca Examinadora formada pelos professores:

Prof. Heraldo Silva da Costa Mattos (D.Sc.)

Universidade Federal Fluminense

(Orientador)

Prof. João Marciano Laredo dos Reis (Ph. D.)

Universidade Federal Fluminense

(Co-Orientador)

_______________________________________________________________

Prof. Maria Laura Martins Costa (D.Sc.)

Universidade Federal Fluminense

Prof. Lavinia Maria Sanabio Alves Borges (D.Sc.)

COPPE - Universidade Federal do Rio de Janeiro

Ao Meu Avô

Darcy Martins

de Oliveira.

Agradecimentos

Aos meus orientadores professores Heraldo Silva da Costa Mattos, pela

orientação e ensinamentos na área de plasticidade cíclica, e João Marciano Laredo dos

Reis, pelo apoio e incentivo na realização dos ensaios mecânicos.

À CAPES pelo apoio financeiro com a bolsa de mestrado.

Aos meus pais Denise Moura de Oliveira e Luiz Osair de Medeiros por terem

me fornecido os meios necessários para a realização do mestrado.

À Andressa Cappella pelo companherismo e apoio em todos os momentos, além

da ajuda na revisão desta dissertação.

À minha irmã Luciana Moura Oliveira de Medeiros pelos conselhos e exemplo

ao longo dos anos.

RESUMO

O objetivo deste trabalho é avaliar experimentalmente o comportamento

mecânico de uma poliamida 12 (Nylon 12) submetida a carregamentos cíclicos de carga

e descarga. Corpos de prova foram retirados de uma amostra de uma barreira de pressão

de um duto flexível para a realização dos ensaios. Para investigar efeitos viscosos no

comportamento do material, ensaios de tração monótonos com três velocidades de

carregamento foram conduzidos: 0.5 mm/min, 5 mm/min e 50 mm/min. Os ensaios

cíclicos com tensão prescrita foram realizados a uma taxa de carregamento de 3 N/s e

seguiram a norma ASTM D638-08. Os resultados mostraram que a taxa de deformação

não altera significativamente as propriedades elásticas do material (módulo de

elasticidade) e seus efeitos são importantes nas propriedades plásticas (tensão de

proporcionalidade), caracterizando, assim, um comportamento elasto-viscoplástico. Sob

carregamentos cíclicos, o material exibe uma acumulação progressiva de deformação

plástica e a formação de um laço de histerese. Foi verificado experimentalmente que

esse fenômeno é devido essencialmente ao endurecimento cinemático, que para esse

polímero é muito maior que o endurecimento isotrópico. Para modelar a evolução das

variáveis de endurecimento, um modelo fenomenológico elasto-viscoplástico

unidimensional foi proposto.

Palavras-chave: Poliamida; Polímeros; Ensaios cíclicos; Elasto-viscoplasticidade;

Ratcheting.

ABSTRACT

The present study is concerned with the experimental investigation of the

mechanical behaviour observed in cyclic load and unload tests performed in a

polyamide (nylon 12). Tensile test specimens were machined from a sample used as

pressure sheath in a flexibe pipe. In order to investigate possible viscous effects on the

material behavior, monotonic tensile tests with three stroke velocities were conducted:

0.5 mm/min, 5 mm/min e 50 mm/min. Cyclic tests with prescribed stress were

conducted with a frequency of 3N/s and followed the methodology presented in ASTM

D638-08 standard. The results showed that the loading rate does not significantly affects

the materials elastic properties (modulus of elasticity), and its effects are important on

the plastic properties (proportional limit), characterizing so an elasto-viscoplastic

behavior. Under cyclic loadings, the material exhibits a progressive accumulation of

plastic deformation and a formation of hysteresis. It was experimentally verified that

this phenomenon is essentially due to the kinematic hardening, which for this kind of

polymer is much greater than the isotropic hardening. To model the evolution of the

hardening variables a phenomenological elasto-viscoplastic unidimensional model was

proposed.

Keywords: Polyamide polymer; Cyclic tensile tests; Elasto-viscoplasticity; Ratcheting.

SUMÁRIO

RESUMO .................................................................................................................... 6 ABSTRACT ................................................................................................................. 7

Capítulo 1 ...................................................................................................................... 13 Introdução ................................................................................................................. 13 1.1. Considerações Gerais ....................................................................................... 13 1.2. Objetivos .......................................................................................................... 14

1.3. Estrutura da Dissertação .................................................................................. 15

Capítulo 2 ...................................................................................................................... 16 Revisão Bibliográfica ................................................................................................ 16 2.1. Materiais Poliméricos ...................................................................................... 16

2.1.1 Influência da Temperatura e Taxa de Deformação .................................. 17 2.1.2 Comportamento Cíclico Inelástico ........................................................... 20

2.2. Ensaios Mecânicos – Observações Fenomenológicas ..................................... 23

2.1.3 Ensaio de tração monótono....................................................................... 23 2.1.4 Ensaios Cíclicos ........................................................................................ 27

Capítulo 3 ...................................................................................................................... 35 Equações Constitutivas ............................................................................................ 35 3.1. Equações Fundamentais da Mecânica do Contínuo......................................... 35

3.1.1 Elasticidade Linear ................................................................................... 38 3.1.2 Critério de Von Mises .............................................................................. 39

3.2. Equações Constitutivas Gerais Elasto-Plasticidade e Elasto-viscoplasticidade

40 3.2.1 Equações Constitutivas Unidimensionais ................................................. 43

3.3. Modelo Elasto-viscoplástico Unidimensional ................................................. 44 3.3.1 Identificação da viscosidade ..................................................................... 45

Capítulo 4 ...................................................................................................................... 47 Materiais e Métodos ..................................................................................................... 47

4.1. Material ............................................................................................................ 47 4.2. Métodos ........................................................................................................... 49

4.2.1 Ensaios Cíclicos ........................................................................................ 51

Capítulo 5 ...................................................................................................................... 53

Resultados ..................................................................................................................... 53 5.1. Ensaios Monótonos .......................................................................................... 53 5.2. Ensaios Cíclicos ............................................................................................... 59

5.2.1 Evolução do Segmento Elástico ............................................................... 61

5.3. Parâmetros do Modelo Elasto-viscoplástico .................................................... 62

Capítulo 6 ...................................................................................................................... 64

Conclusões e Perspectivas Futuras ............................................................................. 64 6.1. Perspectivas para trabalhos futuros .................................................................. 65

Capítulo 7 ...................................................................................................................... 66 Referências Bibliográficas ........................................................................................... 66

ANEXO .......................................................................................................................... 69

Lista de Figuras

Figura 2.1: Influência da taxa de deformação no comportamento mecânico do PTFE

[11]. ................................................................................................................................ 18 Figura 2.2: Curva tensão x deformação da poliamida 12 para várias velocidades de

carregamento [12]. .......................................................................................................... 18

Figura 2.3: Curva tensão x deformação do PA 6 sob várias temperaturas [14]. ............ 19 Figura 2.4: Evolução da deformação plástica progressiva no PTFE [15]. ..................... 20 Figura 2.5: Evolução do domínio elástico do epoxy sob carregamento cíclico [17]...... 21 Figura 2.6: Corpo de prova padrão submetido a carga axial. Adaptado de [21]. ........... 23 Figura 2.7: Ensaio de tração convencional típico em materiais metálicos [23]. ............ 24

Figura 2.8: Influência da temperatura nas propriedades elásticas de diversas ligas

metálicas [4]. .................................................................................................................. 25 Figura 2.9: Efeito do descarregamento na curva tensão x deformação. Adaptado de [4].

........................................................................................................................................ 26 Figura 2.10: Curva tensão x deformação plástica para um material elasto-viscoplástico

[20]. ................................................................................................................................ 27

Figura 2.11: Influência da taxa de deformação na curva x [22]. ............................. 27 Figura 2.12: Ensaio cíclico com deformação prescrita [4]. ............................................ 28 Figura 2.13: Efeito Bauschinger observado em ligas metálicas [4]. .............................. 29

Figura 2.14: Amolecimento cíclico: (a) ensaio com deformação prescrita; (b) ensaio

com tensão prescrita [4]. ................................................................................................. 29 Figura 2.15: Endurecimento cíclico: (a) ensaio com deformação prescrita; (b) ensaio

com tensão prescrita [4]. ................................................................................................. 30 Figura 2.16: Fenômenos de estabilização e ratchetting em ensaios cíclicos [4]. ........... 30

Figura 2.17: Acúmulo de deformação plástica progressivo e estabilização em ensaios

cíclicos de uma resina epoxy [17]. ................................................................................. 31

Figura 2.18: Identificação do segmento elástico em um ensaio cíclico uniaxial.

Adaptado de [4]. ............................................................................................................. 33

Figura 2.19: Influência das variáveis de endurecimento no comportamento cíclico [17].

........................................................................................................................................ 34

Figura 3.20: Representação geométrica do critério de Von Mises no espaço das

componentes principais do desviador da tensão [4]. ...................................................... 40 Figura 3.21: Evolução do domínio elástico definido pelo critério de Von Mises

Generalizado em função de X e Y[4]. ............................................................................ 43 Figura 3.22: Identificação experimental do termo viscoso [22]. .................................... 45

Figura 4.23: Barreira de Pressão utilizada na fabricação dos corpos de prova [8]......... 47 Figura 4.24: Geometria padrão dos corpos de prova retiradas da barreira de pressão.

Adaptado de [25]. ........................................................................................................... 48 Figura 4.25: Corpos de prova típicos usados nos ensaios. ............................................. 49

Figura 4.26: Arranjo típico na máquina de ensaios: (a) corpo de prova montado nas

garras; (b) controlador da velocidade de deslocamento; (c) visor de monitoramento dos

parâmetros do ensaio. ..................................................................................................... 50

Figura 4.27: Detalhe do controle de velocidade automático na máquina de ensaios. .... 50 Figura 4.28: Sistema de aquisição de dados mostrando a evolução da curva força x

deslocamento em tempo real. ......................................................................................... 51 Figura 4.29: Carregamento típico utilizado nos ensaios cíclicos. .................................. 52

Figura 5.30: Evolução de um cp padrão durante ensaio monótono de tração: (a) início;

(b) meio; (c) final. ........................................................................................................... 54 Figura 5.31: Detalhe do momento da ruptura do corpo de prova durante ensaio de

tração. ............................................................................................................................. 54

Figura 5.32: Curva para várias velocidades de carregamento até a ruptura. ......... 55

Figura 5.33: Curva limitada em 10% de deformação............................................ 55 Figura 5.34: Definição prática para o cálculo do módulo de elasticidade. ..................... 56

Figura 5.35: Ajuste de pontos dos gráficos . ......................................................... 57

Figura 5.36: Reta ajustada representando a parte elástica da curva . ..................... 57

Figura 5.37: Curva p x para diferentes velocidades. ................................................ 58

Figura 5.38: Curva cíclica até a ruptura. ............................................................... 59

Figura 5.39: Curva cíclica limitada a 16% de deformação. .................................. 59

Figura 5.40: Curva pσ x ε cíclica limitada a 10% de deformação. ................................. 60

Figura 5.41: Curva obtida a partir da curva . ............................................. 61 Figura 5.42: Evolução do segmento elástico na poliamida. ........................................... 61

Figura 5.43: Identificação do termo viscoso no gráfico . ....................................... 62

Figura 5.44: Gráfico log x log . ................................................................................. 63

Lista de Tabelas

Tabela 4.1: Dimensões do corpo de prova padrão.......................................................... 48 Tabela 4.2: Tipos de ensaios realizados. ........................................................................ 49 Tabela 5.3: Propriedades mecânicas da poliamida. ........................................................ 58 Tabela 5.4: Valores de tensão para identificação do termo viscoso. .............................. 63

13

Capítulo 1

Introdução

1.1. CONSIDERAÇÕES GERAIS

O crescimento da indústria de materiais poliméricos tem sido exponencial nos

últimos anos. O desenvolvimento de novas tecnologias e o investimento em pesquisa de

novos materiais, mais leves e resistentes, gerou uma demanda que fez com que a

produção total de polímeros superasse a de metais por mais de 20 anos [1]. Em grande

parte esse desenvolvimento acelerado se deu no período pós-segunda guerra mundial,

onde os Estados Unidos e a Alemanha lideraram o esforço tecnológico que levou a

descoberta de novos produtos petroquímicos.

Nesse contexto, a participação do Brasil na produção de resinas termoplásticas

corresponde a 2,7 % da produção mundial, sendo a maior da América Latina [2]. Suas

aplicações na industriais incluem o setor automotivo, aeronáutico, alimentos e óleo e

gás. Esse último de especial interesse onde materiais poliméricos estruturais são

utilizados em soluções para conduzir o petróleo de reservatórios em altas profundidades

para as plataformas, através dos dutos flexíveis.

O advento dos dutos flexíveis tornou possível a antecipação de projetos na

indústria de óleo e gás, permitindo a instalação das conexões com os poços em trajetos

mais flexíveis e econômicos do que os obtidos com dutos de aço. Além disso, seu

desenvolvimento demonstrou uma de suas vantagens em relação aos dutos rígidos: a

14

facilidade de ser recolhido do reservatório original e ser relançado em outro local [3].

As linhas flexíveis não-coladas são constituídas por diversas camadas

sobrepostas, em uma combinação de camadas de aço e polímeros. Cada uma possui uma

função específica e suas características variam de acordo com a aplicação a que se

destinam os dutos. Uma dessas camadas é chamada de barreira de pressão e se destina a

conter o fluido em transporte e promover a estanqueidade. É fabricada em material

polimérico extrudado, geralmente são usados: HDPE (Polietileno de Alta Densidade),

Poliamida 11/12 (Nylon), PVDF (Fluoreto de Polivinilideno). A escolha do material

adequado envolve a análise do tipo de fluido a ser transportado, sua temperatura de

operação, presença de gases como H2S (Sulfeto de Hidrogênio) sua resistência a

hidrocarbonetos.

Com os avanços na exploração do petróleo no Brasil, em especial na região do

Pré-sal, as empresas tem investido cada vez mais no desenvolvimento e caracterização

de materiais poliméricos capazes de resistir às condições severas de operação a que as

linhas flexíveis são submetidas. Nesse sentido, a motivaçao deste trabalho surgiu da

necessidade de se conhecer o comportamente mecânico da Poliamida 12 (Nylon 12),

utilizada como barreira de pressão em um duto flexível, submetida a carregamentos

cíclicos.

O estudo do comportamento mecânico de materiais poliméricos sob

carragamento cíclicos se torna extramente relevante, uma vez que, no caso dos dutos

flexíveis seu histórico de carregamento pode variar muito ao longo de sua vida útil.

Além disso, é interessante ressaltar que ao contrário dos aços, esse tipo de estudo sobre

o comportamento plástico de polímeros ainda foi pouco explorado.

1.2. OBJETIVOS

O objetivo desse trabalho é investigar experimentalmente o comportamento

mecânico da poliamida 12, utilizada como barreira de pressão de um duto flexível,

submetida a um carregamento cíclico de carga e descarga. O estudo da acumulação

progressiva de deformação plástica no PA 12 será feito através de ensaios de tração

cíclicos (tensão controlada), feitos em corpos de prova retirados da barreira de pressão.

Para avaliar a possível dependência das propriedades mecânicas com a taxa de

15

deformação (viscoelasticidade ou elasto-viscoplasticidade), três diferentes velocidades

de carregamento serão utilizadas.

Um modelo fenomenológico capaz de descrever o comportamento inelástico

cíclico da poliamida será proposto baseado nos modelos de Lamaitre-Chaboche [4]. A

idéia é propor um modelo unidimensional que combine simplicidade matemática

suficiente para que seja aplicado nos problemas de engenharia do dia-a-dia, mas que

seja capaz de descrever comportamentos mecânicos não-lineares complexos.

1.3. ESTRUTURA DA DISSERTAÇÃO

No capítulo II são apresentadas as referências bibliográficas referente a materiais

poliméricos. Em específico sobre a poliamida e suas principais características e

propriedades mecânicas. Ainda, são introduzidas observações fenomenológicas a cerca

de ensaios uniaxiais de materiais metálicos e poliméricos.

O capítulo III traz as equações constitutivas gerais no contexto da mecânica do

contínuo e do modelo elasto-viscoplástico de Chaboche. Além o procedimento para

identificação dos parâmetros do modelo proposto para este trabalho.

No capítulo IV os materiais e métodos utilizados nos ensaios experimentais são

apresentados. Já no capítulo V os resultados dos ensaios e sua comparação com o

modelo proposto são apresentados.

As conclusões e propostas para trabalhos futuros estão no capítulo VI.

15

Capítulo 2

Revisão Bibliográfica

2.1. MATERIAIS POLIMÉRICOS

Os materiais poliméricos fazem parte de uma classe de materiais extremamente

versáteis e estão presentes nas atividades cotidianas, como em embalagens, borrachas,

fitas adesivas, e em diversas aplicações industriais modernas. Suas propriedades

apresentam grandes variações entre diferentes tipos de polímeros e muitas vezes entre o

mesmo tipo em estados físicos diferentes [5].

Segundo Mano e Mendes [6], os polímeros são macromoléculas caracterizadas

por seu tamanho, estrutura química e interações intramoleculares. São formados por

unidades químicas (meros) repetidas ao longo de sua cadeia, onde o número de meros é

denominado grau de polimerização.

Devido a sua diversidade os polímeros podem ser classificados de várias

maneiras. Quanto a sua origem (naturais ou sintéticos), número de monômeros

envolvidos, método de preparação, conforme sua estrutura química, etc. Diversas

dissertações desenvolvidas no Laboratório de Mecânica Teórica e Aplicada (LMTA) da

UFF se dedicaram a explicar cada uma dessas classificações e demais características de

materiais poliméricos [[7], [8], [9]] em seus capítulos de revisão bibliográfica.

Assim, por uma questão de objetividade, o escopo desse trabalho se limitará a

apresentar os principais estudos desenvolvidos na caracterização do comportamento

mecânico dos polímeros, em especial da poliamida, objeto de estudo desta dissertação.

17

2.1.1 Influência da Temperatura e Taxa de Deformação

Como salientado no capítulo 1, as aplicações dos polímeros na indústria são as

mais variadas possíveis. Seu uso como material estrutural vem sendo cada vez mais uma

solução encontrada por engenheiros e pesquisadores, ao se depararem com restrições de

peso nos produtos desenvolvidos. Portanto, o estudo do comportamento mecânico dos

materiais poliméricos representa uma etapa crucial no desenvolvimento de novos

equipamentos.

Ao longo dos últimos anos, diversos estudos tem sido conduzidos no sentido de

caracterizar a influência de variáveis como temperatura e taxa de carragamento na

resposta mecânica dos polímeros. Reis et al. [10] analisou a resposta termomecânica do

HDPE (Polietileno de alta densidade) reciclado em ensaios de tração uniaxais. Os

ensaios foram realizados a temperaturas variando de 25°C a 100°C e taxas de

deformação de , mostrando uma grande influência desses parâmetros

no comportamento mecânico do material, especialmente na rigidez e tensão última.

Nunes et al. [11] apresentou um estudo sobre a influência da taxa de deformação

no politetrafluoretileno (PTFE), também conhecido comercialmente como Teflon,

submetido a ensaios de tração. Dado seu comportamento superplástico, onde grandes

deformações são observadas, a elongação dos corpos de prova foi medida através de um

método óptico sem contato. Um modelo constitutivo foi proposto para modelar o

comportamento mecânico do PTFE, com constantes que representam as características

do material como a dependência com a taxa de deformação. Os parâmetros foram

identificados usando a técnica dos mínimo quadrados (Levenberg-Marquardt), os

resultados mostraram uma excelente aproximação das curvas experimentais.

A figura 2.1 mostra a curva tensão x deformação do PTFE obtida nos ensaios de

[11] e evidencia seu comportamento elasto-viscoplástico, muito comum em diversos

tipos de polímeros.

18

Figura 2.1: Influência da taxa de deformação no comportamento mecânico do

PTFE [11].

O comportamento da poliamida com a variação de temperatura e da taxa de

carragamento foi estudado por Serban et al. [12] que apresentou um estudo com a

variação de temperatura de -25° C até 50°C e variações de taxa de deformação de

até em um corpo de prova de poliamida 12. Um aumento do módulo

de elasticidade e da tensão limite de escoamento foi observado com a diminuição da

temperatura. Assim como um aumento da tensão de proporcionalidade com taxas de

carragamento maiores. Esse comportamento pode ser observado na figura 2.2, que traz

as curvas tensão x deformação obtidas com velocidades de deslocamento de 2, 20, 200 e

2000 mm/min.

Figura 2.2: Curva tensão x deformação da poliamida 12 para várias velocidades de

carregamento [12].

19

Em um estudo sobre o comportamento elasto-viscoplástico do PVDF (Fluoreto

de Polivinilideno), material muito utilizado em barreiras de pressão de dutos flexíveis,

Reis e da Costa Mattos [13] apresentaram um modelo fenomenológico unidimensional

capaz de descrever o comportamento do material em ensaios de tração com taxas de

deformação variáveis. Ao observarem que a região elástica é praticamente insensível às

mudanças na taxa de deformação, e que a região plástica era fortemente influencidada, a

deformação foi dividida em duas partes: elástica e plástica. Assim, com a curva tensão x

deformação plástica, foi possível identificar duas regiões com comportamentos distintos

da segunda derivada da tensão em relação a deformação plástica. Essas observações

foram usadas para propor o modelo, baseado num contexto termodinâmico consistente,

que relacionou essas regiões distintas com constantes que representam características do

material.

Shan et al [14] fez observações sobre a resposta mecânica da poliamida 6 ao ser

submetida a carregamentos com taxa de deformação variáveis e diferentes temperaturas.

Os corpos de prova foram fabricados em 3 tamanhos, com comprimentos, larguras e

espessuras diferentes, onde cada tipo foi testado com temperaturas variando de 15°C a

80°C e velocidades de carregamento de 1, 5, 10 e 50 mm/min. Os resultados mostraram

que para temperaturas mais baixas, existiam dois patamares de limite de escoamento

distintos . A figura 2.3 mostra esse comportamento da curva tensão x deformação

observada no PA 6 para uma velocidade de carregamento de 1 mm/min e várias

temperaturas.

Figura 2.3: Curva tensão x deformação do PA 6 sob várias temperaturas [14].

20

No entanto, observou-se que conforme a temperatura atinge um certo valor a

deformação exibe um platô similar ao comportamento da borracha. Esse fenômeno de

duplo escoamento apresentou relação com a combinação de taxa de deformação e

temperatura e somente foi observado para pares dessas variáveis específicos, geralmente

para baixas temperaturas e baixas taxas de carregamento.

2.1.2 Comportamento Cíclico Inelástico

O conhecimento do comportamento mecânico de materais poliméricos sob

carregamentos cíclicos é de extrema importância em aplicações industriais,

especialmente em tubulações e aplicações na indústria de oléo e gás onde existe uma

flutuação da pressão de operação dos equipamentos. No entanto, ainda existem

relativamente poucos estudos nessa área.

Chen e Hui [15] estudaram o comportamento inelástico do PTFE sob

compressão cíclica. Os efeitos da taxa de carregamento, tensão média e amplitude na

acumulação de deformação plástica progressiva, conhecida como ratcheting, são

discutidos. A resposta mecânica do PTFE foi estudada em taxas de carregamento

variando de 4, 10, 40, 400 e 4000 N/s, em ensaios controlados pela tensão máxima de 4

kN. Efeitos viscosos foram observados no segmento de descarga dos primeiros ciclos e

a deformação plástica progressiva e sua taxa apresentaram redução com o aumento da

taxa de carregamento, assim, para a menor taxa de carregamento (4 N/s) a maior

deformação plástica foi registrada (9%). Nesse sentido, foi possível concluir que o

comportamento cíclico do material (ratcheting) é sensível a taxa de deformação. A

figura 2.4 mostra a evolução do acúmulo de deformação plástica progressivo para uma

taxa de 400 N/s.

Figura 2.4: Evolução da deformação plástica progressiva no PTFE [15].

21

Tao e Xia [16] analisaram o comportamento de uma resina epoxy sob

carregamento cíclico e o consequente acúmulo de deformação plástica progressivo

(ratcheting), além disso seu efeito na vida em fadiga do material também foi verificado.

Os ensaios foram conduzidos com tensão prescrita e uma taxa de carregamento de 10

MPa/s, além de várias combinações de tensão média e amplitude, de forma a inferir sob

sua influência no comportamento inelástico do material. Os resultados mostraram que o

fenômeno de ratcheting durante os ensaios com tensão prescrita não afeta a vida em

fadiga do epoxy estudado, ou seja, não introduz dano no material.

Em um outro artigo, da Costa Mattos e Martins [17] investigaram

experimentalmente a acumulação de deformação plástica observada em um epoxy

submetido a um carregamento cíclico de carga e descarga. Para avaliar a resposta

mecânica do material foram conduzidos ensaios de tração com diferentes taxas de

carregamento (0.5, 1, 2 e 50 mm/min) e ensaios cíclicos com tensão prescrita crescente

até o valor máximo de 5 MPa. Não foi observada dependência do material com a taxa

de carregamento, apresentando, assim, um comportamento elasto-plástico. Sob

carregamento cíclico o material exibe histerese, acumulando deformação plástica

progressivamente até estabilização. Um fenômeno de endurecimento cíclico induzido

pela plasticidade foi observado a medida que a tensão de escoamento aumenta a cada

ciclo. Foram feitas ainda considerações sobre a evolução do domínio elástico e variáveis

como endurecimento isotrópico e cinemático, além da proposição de um modelo

fenomenológico elasto-plástico unidimensional capaz de descrever o comportamento

inelástico do material. Na figura 2.5 é possível ver a evolução do segmento elástico e a

acumulação de deformação plástica na curva tensão x deformação plástica do epoxy.

Figura 2.5: Evolução do domínio elástico do epoxy sob carregamento cíclico [17].

22

Drozdov [18] apresentou observações acerca do comportamento de um

compósito polimérico, composto de uma matriz de PA 6 reforçado com fibra de vidro,

submetido a carregamentos cíclicos. Foram feitos ensaios de relação e fluência, além de

observações sobre fadiga de baixo ciclo em ensaios cíclicos com tensão prescrita e

várias taxas de carregamento. Um modelo constitutivo visco-elastoplástico foi proposto

baseado na inequação de Clausius-Duhem, ou seja, de forma termodinamicamente

consistente. Os parâmetros de ajuste do modelo foram encontrados através de um ajuste

de curva dos experimentos uniaxiais.

Bles et al [19] mostrou ainda outra aplicação importante para polímeros

termoplásticos estudando o comportamento visco-elastoplástico de uma poliamida 6-6

usada como fibra em uma cinta, aplicada em paraquedas de ejeção de cargas pesadas.

Foram realizados ensaios de tração monótonos, com várias taxas de carregamento, e

cíclicos, incluindo relaxação e fluência, onde um aparato foi utilizado para medir as

deformações axiais nas fibras. A análise dos resultados experimentais foi feita usando

um modelo visco-elastoplástico, baseado num princípio de superposição de

componentes de tensão: histerese pura, viscoelástica e reversível não-linear. Assim foi

possível prever o comportamento do material em situações com carregamentos cíclicos

complexos.

Da Costa Mattos et al [20] observou também o comportamento cíclico de uma

argamassa polimérica de poliéster. Corpos de prova cilíndricos do material foram

submetidos a ensaios monotônicos de compressão, com taxas de carregamento variáveis

( ), e cíclicos com frequências de

Os resultados mostraram um comportamento elasto-

viscoplástico, apesar de alguma variação ser notada no módulo de elasticidade com o

aumento da taxa de carregamento, esse aumento foi considerado insignificante. Nos

ensaios cíclicos, um acúmulo progressivo de deformação plástica (ratcheting) foi

observado. Um modelo fenomenológico foi proposto correlacionando variáveis como

endurecimento isotrópico e cinemático, com a deformação plástica. Através dele, foi

possível determinar que a vida em fadiga desse tipo de material é extremamente

dependente e sensível a natureza do carregamento (senoidal, triangular, etc) e da

frequência de carregamento. Assim, uma variação pequena nas propriedades do material

tem uma forte influência no comportamento de ratcheting do polímero. O que torna

23

muito difícil prever sua vida em fadiga, já que seria impossível ter um controle tão

rigoroso sobre as propriedades do material.

2.2. ENSAIOS MECÂNICOS – OBSERVAÇÕES FENOMENOLÓGICAS

O objetivo dessa seção é apresentar os conceitos fundamentais de ensaios

mecânicos monótonos e cíclicos em corpos de prova metálicos ou não. Através dessa

análise, será possível ao leitor compreender em detalhes os ensaios realizados no

decorrer deste trabalho e suas conclusões correspondentes.

Será dada enfâse aos fenômenos macroscópicos atuantes nos corpos de prova,

isto é, sem se preocupar com as causas na escala microscópica do material (interação

atômica, forma de organização dos cristais, etc).

2.1.3 Ensaio de tração monótono

O ensaio de tração padrão é usado para obter as diversas propriedades mecânicas

que caracterizam o comportamento de um dado tipo de material. Em geral, um corpo de

prova normatizado é tracionado dos dois lados e sua variação de deslocamento com

tempo é medida através de sensores acoplados no corpo de prova em si ou nos

travessões da máquina de ensaio. A figura 2.6, ilustra um corpo de prova típico

solicitado axialmente.

Figura 2.6: Corpo de prova padrão submetido a carga axial. Adaptado de [21].

As informações sobre a geometria do corpo de prova são fundamentais, assim o

valor da área da sua seção transversal inicial deve ser conhecida. Notando por F(t) a

força axial exercida, ΔL(t) a variação do comprimento final l menos 0l , A a área da

seção transversal do cp. Podemos definir a tensão e deformação correspondentes:

24

( )

( )

(2.1)

( )

( )

(2.2)

A tensão retratada na equação 2.1 é conhecida como tensão de “engenharia” na

literatura já que não leva em conta a variação da seção transversal com a deformação do

corpo de prova. A tensão “real” retrata esse fenômeno, no entanto não será abordada

nesse trabalho. Portanto, a partir daqui o termo tensão se dará sempre em referência a

tensão de engenharia como apresentado na equação 2.1.

Afim de se obter as propriedades mecânicas relevantes sobre o material, a curva

tensão x deformação é utilizada já que as variáveis e não dependem da geometria

do corpo de prova. Contudo, vale ressaltar, segundo Soares Filho [22], que para

pequenas deformações ( 0.05 ) a tensão de engenharia e a tensão real podem ser

confundidas. No caso de materiais metálicos a curva σ x ε possui duas regiões bem

distintas: i) uma região elástica caracterizada por uma relação linear entre as variáveis,

onde ao se retirar o carregamento o material retorna ao seu estado de deformação inicial

isto é, 0 , e ii) uma região plástica caracterizada por uma relação não-linear e onde o

material sofre deformações permanentes ou plásticas.

A figura 2.7 traz uma curva típica de um material metálico ensaiado

uniaxialmente.

Figura 2.7: Ensaio de tração convencional típico em materiais metálicos [23].

A partir dessa relação linear, podemos escrever a equação da elasticidade linear

para o caso uniaxial:

25

(2.3)

Onde E é o módulo de elasticidade linear ou módulo de Young do material e

pode ser obtido através da tangente da porção elástica da curva, ou seja, a razão entre o

valor da tensão e da deformação. O ponto a partir do qual a curva deixa de ser linear é

conhecido como limite de escoamento ou de proporcionalidade. Em geral, a detecção

exata desse ponto pode ser complicada para alguns tipos de materiais, especialmente

polímeros [17], por isso adota-se como regra para materiais metálicos a deformação de

0,2% como limite de proporcionalidade. Para materiais poliméricos recomenda-se usar

o valor 0,002%.

As propriedades elásticas de um material podem ser dependendentes de

variáveis como temperatura e velocidade de carregamento. Tanto para materiais

metálicos, quanto poliméricos, a temperatura influencia no valor do módulo de

elasticidade e consequentemente no limite de escoamento. A figura 2.8 traz uma tabela

com valores de propriedades elásticas para alguns tipos de ligas metálicas.

Figura 2.8: Influência da temperatura nas propriedades elásticas de diversas ligas

metálicas [4].

Outro fenômeno importante sobre ensaios de tração uniaxiais, acontece quando

se aplica um carregamento suficiente para que haja plastificação do material e se

descarrega antes da ruptura final do corpo de prova. Nesse caso a curva tensão x

deformação retorna paralela a parte elástica inicial, com inclinação igual ao módulo de

elasticidade, e podemos mensurar a deformação plástica residual. Ainda segundo

Chaboche [4], é possível desacoplar a deformação total em uma parte elástica e uma

plástica, as quais chamaremos de e p e (ver figura 2.9) respectivamente.

26

Figura 2.9: Efeito do descarregamento na curva tensão x deformação. Adaptado de

[4].

Podemos então escrever a equação que representa o desacoplamento entre a

deformação elástica e plástica, na curva σ x ε :

(2.4)

( ) (2.5)

Desta forma, através das equações 2.4 e 2.5 é possível obter a curva p x a

partir da curva x convencional, isolando a deformação plástica na equação 2.4 e

calculando a deformação elástica correspondente com o valor da deformação total

obtida no ensaio e o módulo de elasticidade. Essa informação possibilita observar

melhor o comportamento plástico do material a ser estudado, auxiliando na

caracterização de comportamentos elasto-viscocoplásticos, conforme pode ser

observado na figura 2.10 que mostra ainda o efeito da taxa de deformação na curva

p x de um cp cilíndrico feito com armagassa de poliéster.

27

Figura 2.10: Curva tensão x deformação plástica para um material elasto-

viscoplástico [20].

O comportamento observado na figura 2.10 para um material polimérico com

diferentes taxas de deformação, acontece também em ligas metálicas. Em geral, de

acordo com Soares Filho [22], quando a temperatura de ensaio for maior que um terço

da temperatura de fusão (

), a taxa de carregamento irá influenciar o

comportamento de materiais metálicos. Vale ressaltar que, para aços austenísticos,

assim como para polímeros, essa dependência é observada em temperatura ambiente.

Outra observação importante, é de que abaixo de uma certa velocidade de carregamento

não há alteração na curva x , atingindo-se um valor limite. Sugere-se adotar como

taxa de deformação prescrita limite 6 110 s . Esse fenômeno é mostrado na figura

2.11.

Figura 2.11: Influência da taxa de deformação na curva x [22].

2.1.4 Ensaios Cíclicos

28

Nos ensaios cíclicos os corpos de prova são submetidos a carregamentos

variáveis periódicos, que podem ser controlados através da força (tensão prescrita) ou

da deformação (deformação prescrita). A evolução do comportamento cíclico é então

acompanhada através da curva , onde em geral a resposta tende a estabilizar depois

de um certo número de ciclos [4]. Ainda segundo Soares Filho [22], em geral os corpos

de prova são ensaiados em frequências de carregamentos baixas a fim de evitar efeitos

de propagação de ondas. A figura 2.12 ilustra um ensaio cíclico com deformação

prescrita e sua correspondente curva tensão-deformação estabilizada.

Figura 2.12: Ensaio cíclico com deformação prescrita [4].

Em geral em ensaios de tração de carga e descarga de materiais metálicos vemos

um aumento progressivo da tensão de escoamento y , caracterizando o fenômeno de

“encruamento”. Nos ensaios cíclicos conforme a deformação plástica evolui, o limite de

escoamento também muda e pode em alguns casos apresentar diferenças em tração e a

compressão. Este fenômeno é conhecido como Efeito Bauschinger e mostra como a

plasticidade altera os limites de escoamento dos materiais introduzindo anisotropia,

assim o material endurece na tração e amolece na compressão (ver figura 2.13).

Em muitas ligas metálicas verifica-se a ocorrência de variações nas propriedades

de endurecimento durante ensaios cíclicos, resultando em um endurecimento ou

amolecimento cíclico dependendo da temperatura e estado inicial (usualmente

chamamos um material de “virgem” caso este não possua histórico de deformação

plástica, isto é,p 0 ).

29

Figura 2.13: Efeito Bauschinger observado em ligas metálicas [4].

Segundo Chaboche e Lemaitre [4], o amolecimento cíclico ocorre quando a

variação da tensão máxima e mínima diminui após sucessivos ciclos em um ensaio com

deformação controlada ou quando a variação da deformação máxima e mínima aumenta

em um ensaio com tensão controlada (ver figura 2.14). Já o endurecimento cíclico,

acontece quando um aumento na variação de tensão é registrado num ensaio com

deformação prescrita ou uma diminuição na variação de deformação num ensaio com

tensão prescrita (ver figura 2.15).

Figura 2.14: Amolecimento cíclico: (a) ensaio com deformação prescrita; (b) ensaio

com tensão prescrita [4].

30

Figura 2.15: Endurecimento cíclico: (a) ensaio com deformação prescrita; (b)

ensaio com tensão prescrita [4].

No caso de o carregamento não ser perfeitamente alternado, outros fenômenos

podem ocorrer. O comportamento da curva tensão x deformação pode se estabilizar,

fenômeno conhecido como shakedown na literatura, ou ainda um aumento da

deformação plástica progressivo pode ocorrer, fenômeno conhecido como ratchetting.

A figura 2.16 ilustra esses dois fenômenos para o caso de um ensaio cíclico controlado

pela tensão.

Figura 2.16: Fenômenos de estabilização e ratchetting em ensaios cíclicos [4].

31

Esses fenômenos podem ainda ocorrer de forma simultânea em alguns materiais.

Como no caso de resinas epoxy submetidas a carregamentos cíclicos de carga e

descarga, conforme demonstrado por da Costa Mattos e Martins [17], onde pode-se

observar um aumento nos laços de histerese resultado do acúmulo progressivo de

deformação plástica até a estabilização do ciclo (ver figura 2.17).

Figura 2.17: Acúmulo de deformação plástica progressivo e estabilização em

ensaios cíclicos de uma resina epoxy [17].

Desta forma, podemos observar que dois materiais com o mesmo valor absoluto

de deformação plástica , podem ter propriedades completamente diferentes

dependendo do histórico de deformação a que foram submetidos, isto é, do caminho que

percorreram para chegar aquele estado de deformação. Logo, podemos concluir que o

processo de endurecimento de um material, e suas propriedades mecânicas

correspondentes dependem de outra variável além da deformação plástica. Essa variável

é conhecida como deformação plástica acumulada e pode ser definida da seguinte

forma:

|

| ( ) ∫ |

|

(2.6)

Assim, a deformação plástica acumulada p é uma grandeza positiva que define

um caminho percorrido até um determinado ciclo. Vemos portanto, sua importância em

análises de integridade estrutural onde mesmo com amplitudes pequenas de deformação

32

plástica visíveis, a deformação plástica acumulada aumenta progressivamente e por

consequência maior a probabilidade de aparecimento de uma trinca de fadiga.

Portanto, podemos obter a deformação plástica acumulada p de um terminado

ensaio através da curva , que por sua vez é obtida através da curva conforme

a equação 2.4. Assim para um determinado estado inicial i, obtemos a deformação

plástica

. Desta forma, a deformação plástica é obtida através da seguinte

relação:

| |

(2.7)

(2.8)

O incremento da deformação plástica acumulada é, portanto, igual ao módulo da

variação da deformação plástica. O processo de endurecimento de um material é dentre

outras variáveis, dependente também da deformação plástica acumulada. Para entender

melhor esse processo, é conveniente introduzir nesta análise o conceito de segmento

elástico, que pode ser definido como o intervalo de valores de tensão que não causam

plastificação no material, isto é:

( ) * + (2.9)

Onde é a tensão inferior e é a tensão superior em um ensaio cíclico de

carga e descarga. Segundo Da Costa Mattos [17], os limites desse intervalo variam de

acordo com o processo e são afetados por e p. Assim, identificamos duas variáveis

que governam o processo de plastificação cíclica de um material:

(2.10)

(2.11)

A variável X é conhecida como endurecimento cinemático e representa o centro

do segmento elástico e modela a anisotropia induzida pela plasticidade. Já Y é chamado

33

de endurecimento isotrópico e representa o tamanho e o alongamento desse segmento.

Ainda segundo Chaboche e Lamaitre [4], essas variáveis estão relacionadas com a

evolução do estado de deformação de um corpo e no caso de plasticidade cíclica podem

representar o comportamento real da evolução dessas deformações. Na figura 2.18 é

possível ver a identificação dessas variáveis em um ensaio cíclico uniaxial onde o

material apresenta o Efeito Bauschinger. Nesse caso os limites superior e inferior,

seriam os limites de escoameno a tração e a compressão.

Figura 2.18: Identificação do segmento elástico em um ensaio cíclico uniaxial.

Adaptado de [4].

Para analisar melhor a relação entre a plasticidade e as variáveis de

endurecimento, é importante introduzir a definição de uma função F, chamada de

Função de Plasticidade, tal que:

( ) (2.12)

Assim quando F < 0, não haverá escoamento e ̇ ̇ , ou seja, não haverá

evolução das variáveis de plastificação. Quando o material for “virgem”, isto é ( )

e ( ) , essa condição coincidirá com o critério de Von Mises.

De acordo com Soares Filho [22], verificou-se experimentalmente que X e Y

dependem da deformação plástica e da deformação plástica acumulada p, na ausência

34

de fenômenos de envelhecimento e para ensaios com temperatura constante. Dessa

forma, podemos escrever a equação do segmento elástico como:

( ) * ( ) ( )+ (2.13)

Foi verificado ainda que, em temperatura constante, o endurecimento isotrópico

Y depende somente da deformação plástica acumulada tanto para ensaios monótonos

quanto cíclicos, e aumenta com p até convergir para um valor limite. Já o

endurecimento cinemático apresenta esse mesmo comportamento para ensaios

monótonos, no entanto em ensaios cíclicos foi observado uma forte dependência em

relação a e p [22].

Uma observação importante foi feita por Da Costa Mattos [17], comparando as

influências de X e Y no comportamento plástico cíclico de materiais poliméricos. Sabe-

se que, em geral, para metais X > Y em ensaios cíclicos e a histerese e sua acumulação

de deformação plástica progressiva (ratchetting) só ocorre se efeitos viscosos, como

depedência de ̇, forem importantes. No entanto, para alguns polímeros o

endurecimento cinemático pode ser maior que o isotrópico (X > Y), ocasionando uma

taxa de deformação plástica negativa mesmo com um valor positivo de tensão. Esse

fenômeno leva a acumulação de deformação plástica progressiva mesmo em materiais

com comportamento elasto-plástico, ou seja, onde não existe a influência significativa

da viscosidade. É possível observar esse fato na figura 2.19.

Figura 2.19: Influência das variáveis de endurecimento no comportamento cíclico

[17].

Capítulo 3

Equações Constitutivas

3.1. EQUAÇÕES FUNDAMENTAIS DA MECÂNICA DO CONTÍNUO

Antes da apresentação das equações que regem o comportamento elasto-

viscoplástico de um material, é conveniente que o leitor esteja familiarizado com os

conceitos da mecânica do contínuo e operações com álgebra tensorial. Para o

entendimento pleno do texto desta dissertação, será feita nessa seção uma revisão das

principais equações da mecânica do contínuo.

A partir desse ponto será adotada uma convenção na representação de variáveis

escalares, vetoriais e tensoriais, da seguinte forma:

, , Escalares

Vetoresv,u,w

A,B,C Tensores de Segunda Ordem

A,B,C Tensores de Quarta Ordem

Além disso, as equações serão apresentadas usando uma notação intrínsica, ou

direta, onde os índices que representam as componentes no sistema cartesiano serão

omitidos. Caso não esteja familiarizado com essa notação é sugerido ao leitor consultar

as referências [24] e [25].

Assumindo a hipótese de pequenas deformações, podemos calcular o tensor

deformação infinitesimal a partir do gradiente de deslocamentos u de um corpo

contínuo da seguinte forma:

t1( u u )

2

(3.1)

Dessa forma, o tensor deformação infinitesimal é obtido através da parte

simétrica do gradiente de deslocamentos. Vale ressaltar que a hipótese de pequenas

deformações pode ser aplicada na prática, quando o módulo da deformação for menor

em ordem de grandeza do que a precisão da computação for capaz de calcular, isto é,

2(2 5)x10 [4]. Escrevendo o tensor deformação em suas componentes matriciais

temos:

xx xy xz

yx yy yz

zx zy zz

Podemos então introduzir o conceito de tensão, que é responsável pelas

deformações em um corpo contínuo, como uma reação das forças internas do material

ao receber um esforço mecânico. Definimos a tensão através do Teorema da Tensão de

Cauchy, que estabelece que o vetor tensão t atuando na superfície interna de um

material é tal que existe um tensor tensão simétrico e assim:

t(x, t,n) (x, t).n (3.2)

Onde n é a normal externa unitária. Escrevendo a equação 3.2 na sua notação matricial,

temos:

37

[t] [ ][n]

Ou ainda,

1 11 12 13 1

2 21 22 23 2

3 31 32 33 3

t n

t = = n

t n

Vemos então que o Tensor Tensão de Cauchy

e o Tensor Deformação

Infinitesimal

são simétricos, isto é, T T

; . Assim, de acordo com o Teorema

Espectral podemos representar esses tensores em função de suas direções e valores

principais tal que:

1

2

3

0 0

0 0

0 0

(3.3)

Onde 1 2 3, , são as tensões principais (autovalores). O mesmo vale para o

tensor deformação infinitesimal. E ainda, podemos demonstrar que todo tensor admite

uma decomposição em uma parcela esférica (ou volumétrica) e outra desviadora. De tal

forma que é possível representar o Tensor Tensão como:

1tr( )I S

3 (3.4)

Onde S é o tensor desviador da tensão e I é o tensor identidade. Ou

inversamente:

1S tr( )I

3 (3.5)

O tensor desviador da tensão também é representado no espaço das direções

principais ( ).

38

1

2

3

S 0 0

S 0 S 0

0 0 S

(3.6)

Para completar o Teorema de Cauchy existe ainda a equação de equilíbrio que

satisfaz as condições de balanço de momento, na forma:

div b a (3.7)

Onde b é a força de corpo atuando no interior do corpo, é a densidade e a é a

aceleração. Em geral para um corpo em equilíbrio estático e na ausência de forças de

corpo, a equação 3.7 se resume a div 0 .

3.1.1 Elasticidade Linear

Com os conceitos de deformação e tensão estabelecidos é preciso introduzir as

equações constitutivas que relacionam essas variáveis. O primeiro modelo constitutivo a

ser apresentado é o da Elasticidade Linear, que estabelece que:

C (3.8)

Onde C é o tensor de elasticidade que caracteriza as propriedades elásticas do

material. Assim, para um material isotrópico linear a equação 3.8 pode ser expressada

como:

2 (tr )I (3.9)

Ou ainda

E E(tr )

(1 )(1 2 ) (1 )

39

Onde e são as constantes de Lamé e se relacionam com o módulo de

elasticidade E e o coeficiente de Poisson . Como o tensor de elasticidade é simétrico,

admite inversão para expressar a deformação em função da tensão.

1tr( )I

E E

(3.10)

(3 2 )E

2( )

; (3.11)

3.1.2 Critério de Von Mises

Assim a partir das equações da elasticidade linear podemos estabelecer um

critério de plastificação multiaxial, que determina a partir de que valor de tensão

uniaxial o material começa a plastificar. O critério de Von Mises estabelece uma tensão

equivalente na forma:

2 2 2 2 2 2

11 22 22 33 33 11 12 23 31 y

1J ( ) ( ) ( ) 6( )

2 (3.12)

Ou representando na base das direções principais, temos:

2 2 2

1 2 2 3 3 1 y

1J ( ) ( ) ( )

2 (3.13)

E ainda usando a equação 3.5, o critério de Mises para o tensor desviador da

tensão se torna:

3 32

ij y

j 1 i 1

3 3J S S S

2 2

. (3.14)

Representando S no espaço das direções principais como na equação 3.6, temos:

40

2 2 2

1 2 3 y

3J (S S S )

2 (3.15)

A equação 3.15 pode ser interpretada geometricamente como uma esfera

centrada na origem e raio √ , conforme ilustrado na figura 3.1.

Figura 3.20: Representação geométrica do critério de Von Mises no espaço das

componentes principais do desviador da tensão [4].

3.2. EQUAÇÕES CONSTITUTIVAS GERAIS ELASTO-PLASTICIDADE E

ELASTO-VISCOPLASTICIDADE

As observações fenomenológicas feitas no capítulo 2 e as equações

fundamentais deste capítulo serão utilizadas para apresentar os modelos da elasto-

plasticidade e elasto-viscoplasticidade baseados no trabalho de Chaboche e Lemaitre

[4]. Onde se estalece uma relação desacoplada para a deformação elástica e plástica e a

existência de uma relação constitutiva separada para e p e .

{

( ) ( )

(3.16)

41

A função F, conhecida como função de plastificação, é então definida como:

(3.17)

Quando F < 0, não há escoamento e portanto não haverá evolução das variáveis

de plasticidade ̇ e ̇ , assim as leis de evolução são da forma:

p 3S p

2J

(3.18)

p2X a bXp

3

(3.19)

N

Plasticidade p 0; F 0; pF 0

FViscoplasticidade p

K

(3.20)

y 1 2Y [1 exp( p)] (3.21)

Onde são constantes do material que caracterizam o

comportamento inelástico e podem ser obtidas através de ensaios uniaxiais. As variáveis

X e Y já foram introduzidas no capítulo 2 e representam, respectivamente, o

endurecimento cinemático e isotrópico. Analisando as equações 3.17 a 3.21, é possível

observar que quando temos que e podemos concluir que ̇ . Por

consequência, usando a equação 3.18, p

0 e concluimos que o material se comporta

elasticamente. Segundo Soares Filho [22], essa condição (F < 0) caracteriza o critério de

Von Mises Generalizado e ao substituirmos Y por , temos o caso clássico

estabelecido pela equação 3.14.

A plasticidade é caracterizada pela condição F=0, assim p

0 e existe

evolução das variáveis de endurecimento. Considera-se um material inicialmente

virgem, aquele que não apresenta histórico de deformações plásticas. Assim, pode-se

definir como conjunto de condições iniciais:

42

pp(t 0) 0; (t 0) 0; X(t 0) 0 (3.22)

O tensor de deformação plástica p e o tensor de endurecimento cinemático X ,

podem ser representados na base das direções principais. É possível demonstrar ainda,

que se as leis de evolução 3.18 e 3.19 e as condições de contorno 3.22 forem satisfeitas,

essas direções serão iguais as do tensor tensão desviador , assim como do tensor tensão

de Cauchy. Dessa forma, podemos escrever:

p

1 1

p p

2 2

p

3 3

0 0 X 0 0

0 0 ; X 0 X 0

0 0 0 0 X

(3.23)

Ainda conforme mencionado no capítulo 2 as variáveis X e Y representam as

coordenadas do segmento elástico. E modelam como a plasticidade afeta as

propriedades de um material. Segundo Chaboche [4], no caso multiaxial o tensor X

representa o centro da superfície de carregamento definida por J e Y representa o

alongamento dessa superfície. Assim o critério de Mises pode ser reescrito como:

3J (S X S X Y

2 ) . ( ) (3.24)

Assim a função de plastificação asume a forma:

F J Y F (S X) Y (3.25)

A equação 3.24 representada na base das direções principais do tensor desviador

permite visualizar o efeito das variáveis de endurecimento X e Y. Portanto, o

endurecimento cinemático introduz anisotropia no material sendo responsável pela

translação da região elástica inicial (centrada na origem) e o endurecimento isotrópico é

representado por uma expansão do limite elástico inicial.

43

Figura 3.21: Evolução do domínio elástico definido pelo critério de Von Mises

Generalizado em função de X e Y[4].

Usando a representação da equação 3.23 de p e X representados na base das

direções principais as equações constitutivas podem ser reescritas como:

p

i i

3S p; i=1,2 ou 3

2J (3.26)

p

i ii

2X a bX p; i=1,2 ou 3

3 (3.27)

2 2 2

1 1 2 2 3 3

3J {(S X ) (S X ) (S X ) }

2 (3.28)

3.2.1 Equações Constitutivas Unidimensionais

No caso de ensaios de tração uniaxiais, onde supoem-se que o estado de tensão

seja unidimensional, as equações constitutivas e leis de evolução são significativamente

simplificadas. Adimitindo-se que o tensor tensão possui apenas uma componente

( ) , as equações assumem a seguinte forma:

pE( ) (3.29)

p

gpS ; (t 0) 0 (3.30)

44

g

1 se ( -X) 0S

1 se ( -X)<0

(3.31)

pX a bXp ; X(t=0)=0 (3.32)

y 1 2Y [1 exp( p)] (3.21)

N

Plasticidade p 0; F=| -X|-Y 0; pF 0

; p(t=0)=0| -X|-YViscoplasticidade p

K

(3.33)

Vale ressaltar que a expressão para J na equação 3.33 se resumiu a J=| -X| , esse

fato se deve a substituição dos valores correspondentes do tensor desviador e do tensor

endurecimento cinemático para o caso unidimensional na fórmula de J apresentada em

3.28. A demonstração dessa transformação pode ser encontrada no capítulo 3.3 de [22].

3.3. MODELO ELASTO-VISCOPLÁSTICO UNIDIMENSIONAL

Para modelar o comportamento elasto-viscoplástico de um material, Chaboche

[4] propôs as equações 3.29 a 3.33. Onde na equação 3.33 usa-se a lei de evolução para

p correspondente a viscoplasticidade, isto é N

p | -X|-Y/K . Dessa forma, para

modelar corretamente o comportamento de um determinado material são necessários

ensaios uniaxiais para encontrar os valores das constantes .

Um procedimento sistemático para identificação desses coeficientes foi

apresentado por Soares Filho [22] e suas principais derivações serão usadas nessa

dissertação. Uma característica importante da Elasto-viscoplasticidade é a de que os

efeitos viscosos somente são relevantes na parte plástica da deformação ( ). Assim,

podemos dissociar seus efeitos e calcular os coeficientes da forma

forma que faríamos na Elasto-plasticidade. Logo, considerando a plasticidade com

, na tração e na compressão , temos da

equação 3.33 que:

45

Tração: X Y

Compressão: X Y

(3.34)

Assim uma vez identificadas as expressões analíticas para as variáveis X e Y,

através das equações 3.34 é possível escrever a relação da tensão com os coeficientes

que se deseja determinar. As equações usadas nesse trabalho serão:

p

y 1 2

aX (1 exp( b )

b

Y [1 exp( p)]

(3.35)

3.3.1 Identificação da viscosidade

Para completar a modelagem do comportamento elasto-viscoplástico é

necessário adicionar o efeito da viscosidade, isto é, da dependência das propriedades

plásticas com a taxa de deformação. O chamado “termo viscoso” é adicionado a

equação 3.34, que modela a parte elasto-plástica e pode se obtido em um ensaio uniaxial

com diferentes taxas de deformação p (ver figura 3.22).

p 1/N

p 1/N

Tração: X Y K( )

Compressão: X Y K( )

(3.34)

Figura 3.22: Identificação experimental do termo viscoso [22].

46

A figura 3.22 evidencia a existência de uma curva limite, para qual o efeito da

viscosidade seria desprezível abaixo de um valor limite de . Em geral esse valor é de

5 110 s na ausência de dados confiáveis [22]. Os valores de K e N podem então ser

obtidos traçando um gráfico logarítimico da equação do termo viscoso, medindo-se a

variação ( ̇ ) entre as curvas, assim:

p

i i

1 log( ) log K log( )

N (3.35)

A equação 3.35 representa uma reta com coeficiente angular N e intersecção

com eixo das ordenadas K. Assim, para se determinar os valores de K e N, são

necessários pelo menos 3 ensaios com taxas de deformação diferentes.

Capítulo 4

Materiais e Métodos

4.1.MATERIAL

A Poliamida 12 (PA-12) é um polímero termoplástico semi-cristalino com uma

combinação de propriedades térmicas e mecânicas que possibilitam sua aplicação em

condições operacionais severas como nos dutos flexíveis. As amostras de PA-12

utilizadas nessa dissertação, foram retiradas da barreira de pressão de um duto flexível.

Em geral, sua fabricação é feita através de extrusão do polímero em cima da primeira

camada do tubo, destinada a resistir ao colapso devido a pressão externa. Um exemplo

dos exemplares utilizados na fabricação dos corpos de prova é mostrado na figura 4.23.

Figura 4.23: Barreira de Pressão utilizada na fabricação dos corpos de prova [8].

Os corpos de prova foram usinados de acordo com a norma ASTM D638-08 (Cp

Tipo IV). A figura 4.24 ilustra a geometria padrão dos corpos de prova e a sua direção

de retirada no exemplar de barreira de pressão. As dimensões usadas são mostradas na

tabela 4.1.

Figura 4.24: Geometria padrão dos corpos de prova retiradas da barreira de

pressão. Adaptado de [25].

Tabela 4.1: Dimensões do corpo de prova padrão.

CP Tipo IV (mm)

WO 19

Wc 6

L 33

LO 115

R 14

RO 25

T 4

A figura 4.25 mostra um exemplo dos corpos de prova usinados de acordo com

as dimensões da tabela 4.1.

49

Figura 4.25: Corpos de prova típicos usados nos ensaios.

4.2. MÉTODOS

Para investigar o comportamento inelástico do PA-12 sob carregamentos

cíclicos, foram realizados ensaios cíclicos de carga e descarga com tensão prescrita e,

para avaliar a possível dependência com a taxa de deformação, ensaios monótonos com

3 velocidades diferentes. Os ensaios seguiram a metodologia apresentada na norma

ASTM D638-08, onde foram usados 3 corpos de prova para cada tipo de ensaio. A

tabela 4.2 traz de forma resumida os tipos de ensaios realizados, os parâmetros

investigados em cada um.

Tabela 4.2: Tipos de ensaios realizados.

Tipo de Ensaio Velocidade de

Carregamento (mm/min) Parâmetros Investigados

Monótono 0.5

Monótono 5

Monótono 50

Cíclico 3 N/s

As velocidades de carregamento apresentadas levam em consideração a

velocidade de deslocamento do travessão da máquina de ensaios. Todos os ensaios

foram feitos em uma máquina de ensaio universal Shimadzu® AG-X, a figura 4.26 traz

o arranjo típico utilizado nos ensaios.

50

Figura 4.26: Arranjo típico na máquina de ensaios: (a) corpo de prova montado

nas garras; (b) controlador da velocidade de deslocamento; (c) visor de

monitoramento dos parâmetros do ensaio.

A velocidade de deslocamento do travessão é controlada automaticamente pela

máquina de ensaios (ver figura 4.27), o que possibilita um controle preciso da

deformação imprimida nos corpos de prova. Esse deslocamento é medido por sensores

acoplados nas garras da máquina, assim o comprimento inicial considerado no

cálculo da deformação será a distância inicial entre as garras em cada ensaio.

Figura 4.27: Detalhe do controle de velocidade automático na máquina de ensaios.

51

A máquina é acoplada a um computador que exibe em tempo real a evolução do

gráfico força x deslocamento e depois armazena os pontos correspondentes para

exportação como pode ser visto na figura 4.28.

Figura 4.28: Sistema de aquisição de dados mostrando a evolução da curva força x

deslocamento em tempo real.

4.2.1 Ensaios Cíclicos

Os ensaios cíclicos foram realizados com o carregamento do corpo de prova até

400 N de força e descarregado até zero. No ciclo seguinte, o cp era carregado

novamente com incrementos de 50 N, esse processo foi repetido até a ruptura do corpo

de prova ou até a falha do sistema de aquisição devido a degradação do material. A

figura 4.29 traz uma representação gráfica da evolução do carregamento nos ensaios

cíclicos.

52

Figura 4.29: Carregamento típico utilizado nos ensaios cíclicos.

Capítulo 5

Resultados

5.1. ENSAIOS MONÓTONOS

Os ensaios monótonos, realizados com velocidades de 0.5 mm/min, 5 mm/min e

50 mm/min, foram feitos antes dos ensaios cíclicos para que fossem determinados os

valores de módulo de elasticidade e tensão limite de escoamento. Para o cálculo da

tensão e deformação, foram usadas as definições clássicas de tensão de engenharia

introduzidas no capítulo 2.

( )

( )

(2.14)

( )

( )

(2.15)

Os ensaios mostraram um comportamento superplástico, isto é, o material exibe

uma grande deformação plástica sem a formação de estricção (redução localizada de

área). As figuras 5.30 a 5.31 mostram a evolução dos corpos de prova durante o ensaio

até a falha.

Figura 5.30: Evolução de um cp padrão durante ensaio monótono de tração: (a)

início; (b) meio; (c) final.

Figura 5.31: Detalhe do momento da ruptura do corpo de prova durante ensaio de

tração.

Assim foram traçadas as curvas de cada ensaio para as 3 velocidades

utilizadas. Os resultados mostraram uma repetibilidade dos ensaios e assim uma curva

55

típica foi escolhida para representar o comportamento do material. A figura 5.32 mostra

a comparação da curva para as 3 velocidades. Devido a grande deformação

apresentada pela poliamida, é mais interessante restringir a análise em deformações até

0.1 mm/mm para efeitos de definição do comportamento mecânico e modelagem, o que

representa 10% da deformação. A figura 5.33 mostra a curva limitada em 10% de

deformação.

Figura 5.32: Curva para várias velocidades de carregamento até a ruptura.

Figura 5.33: Curva limitada em 10% de deformação.

56

A análise da figura 5.33 revela que a velocidade de carregamento influencia as

propriedades mecânicas do PA-12. De maneira geral, as propriedades elásticas não

sofrem essa influência, que se restringe somente a parte plástica da curva .

Caracterizando um comportamento elasto-viscoplástico. Para avaliar melhor esse

comportamento, é interessante dissociar a parte elástica da deformação da plástica.

Usando as equações 2.4 e 2.5 para calcular o valor da deformação plástica p , é

necessário calcular o valor do módulo de elasticidade E:

Assim, através da curva é possível calcular o valor de E e usando os

valores de deformação total , calcular a deformação plástica p correspondente. A

determinação do módulo de elasticidade seguiu o procedimento proposto na norma

ASTM D638-08. Para calcular o valor de E, estabeleceu-se o uma definição prática para

o valor de deformação que corresponde a parte elástica como . Esse valor foi

escolhido observando-se a curva e analisando até onde ela se comportava como

uma linha reta (ver figura 5.33).

Figura 5.34: Definição prática para o cálculo do módulo de elasticidade.

57

Assim, um ajuste de curva através de regressão linear foi feito entre diversos

pontos das 3 curvas (com as 3 velocidades diferentes) para encontrar um valor que

melhor representasse o módulo de elasticidade do material. Esse ajuste pode ser visto na

figura 5.35, assim o módulo de elasticidade encontrado foi de 397.01 Mpa. E a reta

correspodente utilizando o valor encontrado de E pode ser visto na figura 5.36.

Figura 5.35: Ajuste de pontos dos gráficos .

Figura 5.36: Reta ajustada representando a parte elástica da curva .

58

Com o módulo de elasticidade obtido foi calculado o valor da deformação

plástica usando as equações 2.4 e 2.5 e traçadas as curvas p x (ver figura 5.37).

Figura 5.37: Curva p x para diferentes velocidades.

A tabela 5.3 mostra os valores das principais propriedades calculadas nos

ensaios monótonos para a poliamida.

Tabela 5.3: Propriedades mecânicas da poliamida.

Velocidade de

carregamento

(mm/min)

Módulo de

Elasticidade E (MPa)

Limite de

proporcionalidade σp

(MPa)

Tensão Última

(MPa)

0.5 397.01 3.42 1.99 20.71

5 397.01 3.42 4.68 20.96

50 397.01 3.42 7.36 22.75

Observou-se que o módulo de elasticidade permanece praticamente constante

para todas as taxas de carregamento e os efeitos da viscosidade somente são observados

na região plástica da curva tensão-deformação. Assim, o limite de escoamento aumenta

com o aumento da velocidade de deslocamento, como pode ser observado nas figuras

5.33 e 5.37. Houve um aumento de 159% no limite de escoamento entre a velocidade de

0.5 mm/min e 5 mm/mn e um aumento de 57% de 5 mm/min para 50 mm/min. O

aumento da tensão última para as mesma velocidades foi, respectivamente, de 8 e 5 %.

59

5.2. ENSAIOS CÍCLICOS

Os ensaios cíclicos de carga e descarga realizados com taxa de carregamento de

3N/s e tensão prescrita. Começando com uma carga inicial de 400N e aumentos

progressivos de 50N. As figuras 5.38 e 5.39 mostram o resultado da curva cíclica até a

ruptura e limitada a 16% de deformação.

Figura 5.38: Curva cíclica até a ruptura.

Figura 5.39: Curva cíclica limitada a 16% de deformação.

60

Usando o mesmo procedimento dos ensaios monótonos, é possivel se obter a

curva a partir da curva conforme pode se observar na figura 5.40.

Figura 5.40: Curva pσ x ε cíclica limitada a 10% de deformação.

Observando a figura 5.40 verifica-se que sob carregamentos cíclicos a poliamida

apresenta um acúmulo progressivo de deformação plástica e a formação de laços de

histerese que levam a dissipação de energia. É possível também concluir que um

processo de endurecimento cíclico induzido pela plasticidade está presente, onde o

limite de escoamento aumenta a cada ciclo.

Usando as definições das equações 2.6 e 2.7 é possível calcular a curva a

partir da curva , como pode ser observado na figura 5.41.

61

Figura 5.41: Curva obtida a partir da curva .

5.2.1 Evolução do Segmento Elástico

A observação da figura 5.40 possibilita a interpretação da evolução do segmento

elástico, especificamente do endurecimento cinemático X e do endurecimento isotrópico

Y. Usando as definição das equações 2.10 e 2.11, vemos através a figura 5.42 a

evolução das variáveis de endurecimento.

Figura 5.42: Evolução do segmento elástico na poliamida.

62

Observa-se que o endurecimento isotrópico Y permanece constante durante cada

ciclo e o aumento do segmento elástico é principalmente devido ao efeito do

endurecimento cinemático X, que aumenta significativamente a cada ciclo. Isso explica

o porquê existe uma taxa de deformação negativa mesmo com uma tensão positiva, ou

seja, < 0 se < 0 mesmo quando . Além disso, nota-se um efeito

viscoso na parte superior do gráfico no momento do descarregamento do corpo de

prova.

5.3. PARÂMETROS DO MODELO ELASTO-VISCOPLÁSTICO

Para obter os parâmetros do modelo é necessário primeiro

descontar os efeitos da viscosidade. Assim, para calcular os coeficientes K e N do termo

viscoso na equação 3.34 ( p N K( ) ), é preciso identificar a diferença no gráfico

conforme mostrado na figura 5.43.

Figura 5.43: Identificação do termo viscoso no gráfico .

A tabela 5.4 mostra os valores de tensão obtidos na linha de deformação de

referência escolhida (0.2 mm/mm), usados para calcular as diferenças .

63

Tabela 5.4: Valores de tensão para identificação do termo viscoso.

v (mm/min) 0.5 5 50

( ) 1.6E-04 1.6E-03 1.6E-02

(ε=0.2) *Mpa+ 21.79 21.82 23.45

Assim, os valores de encontrados foram, respectivamente, 0.03507

e 1.62113. Usando a equação 3.35 com ̇ ̇

foi traçado uma

reta no gráfico log x log para se determinar o valor de K e N, conforme pode ser visto

na figura 5.44.

i i log( ) logK Nlog( ) (3.35)

Figura 5.44: Gráfico log x log ̇.

Analisando a figura 5.44 observa-se que o valor de N= 1.676 e que :

Capítulo 6

Conclusões e Perspectivas Futuras

A análise do comportamento mecânico da Poliamida 12, submetida a ensaios

trativos com diferentes taxas de deformação e ensaios cíclicos de carga e descarga,

mostrou que seu comportamento é elasto-viscoplástico. Os ensaios com taxas de 0.5, 5 e

50mm/min revelaram que o efeito da viscosidade só está presente na parcela de

deformação plástica e o módulo de elasticidade permanece aproximadamente constante.

A tensão de escoamento aumenta com o aumento da taxa de deformação, assim, houve

um aumento de 159% entre a velocidade de 0.5 mm/min e 5 mm/mn e um aumento de

57% de 5 mm/min para 50 mm/min. O aumento da tensão última para as mesma

velocidades foi, respectivamente, de 8 e 5 %.

Sob carregamento cíclico, com taxa de 3 N/s e tensão prescrita, a poliamida

exibiu um acúmulo de deformação plástica progressivo e a formação de laços de

histerese que levam a dissipação de energia. Um endurecimento cíclico também está

presente, fazendo com que o limite de escoamento cresça a cada ciclo. Além disso, foi

verificado que para esse polímero o endurecimento cinemático X é muito maior que o

endurecimento isotrópico Y, que permanece praticamente constante durante cada ciclo.

Esse fato explica o porquê existe uma taxa de deformação plástica negativa, mesmo

com uma tensão positiva.

6.1. PERSPECTIVAS PARA TRABALHOS FUTUROS

Para a continuação desse trabalho sugere-se :

Realizar ensaios monótonos com mais uma velocidade, afim de se caracterizar

melhor o efeito da viscosidade

Realizar ensaios de fluência

Desenvolver as equações para o modelo elasto-viscoplástico para encontrar as

constantes do endurecimento cinemático através das curvas experimentais de

fluência.

Capítulo 7

Referências Bibliográficas

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viscoelasticity: An Introduction, Ed. Springer, USA, 446 p.

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Federal Fluminense.

67

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12. Niterói, 2015. Dissertação (Mestrado em Engenharia Mecânica) – Escola de

Engenharia, Universidade Federal Fluminense.

[9] Motta, E. P. Caracterização Mecânica de Argamassas Poliméricas de Óleo de

Mamona Reforçadas com Fibra Natural de Piaçava. Niterói, 2014. Dissertação

(Mestrado em Engenharia Mecânica) – Escola de Engenharia, Universidade

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68

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(Doutorado em Engenharia Mecânica) – Escola de Engenharia, Universidade

Federal Fluminense.

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[26] ASTM D-638-08.Standard test method for tensile properties of plastics, West

Conshohocken, PA: ASTM International, 2010.

69

ANEXO

Artigo Publicado no IX Congresso Nacional de Engenharia Mecânica - CONEM

2016.

ELASTO-VISCOPLASTIC BEHAVIOUR OF A POLYAMIDE UNDER

CYCLIC TENSION

Luiz Gustavo Moura Oliveira de Medeiros, [email protected]

1

João Laredo dos Reis, [email protected]

Heraldo da Costa Mattos, [email protected]

1Laboratory of Theoretical and Applied Mechanics, Graduate Program of Mechanical Engineering, Universidade

Federal Fluminense, Rua Passo da Patria 156, 24210-240, Niterói, RJ, Brazil.

Abstract: The present paper is concerned with the experimental investigation of the progressive accumulation of

deformation observed in cyclic tension tests performed in a polyamide (nylon 12). The elastic properties are not

strongly affected by the strain rate, but the strain hardening induced by the plastic deformation is rate-dependent.

Thus, the material behaviour is elasto-viscoplastic rather than viscoelastic. Under cyclic loading and unloading, this

polymer exhibits hysteresis (a phase lag), which leads to a dissipation of mechanical energy and to the accumulation of

cyclic plastic deformation. It is verified experimentally that this phenomenon is essentially due to the kinematic

hardening.

Keywords: Polyamide polymer; Cyclic tensile tests; Elasto-viscoplasticity; Ratcheting; Shakedown;

1. INTRODUCTION

The demand for polymeric materials in the recent years has grown substantially. The commercial success of

polymer-based products generated a demand that overcame the total production of metals for more than 20 years

(Brinson et al, 2008). Industrial applications include automotive, aeronautical and Oil and Gas industries. Polyamide

polymers (PA 12 and 11) are often used as pressure sheaths for flexible pipes on oil explorations, along with

polyvinylidene fluoride (PVDF) and polyethylene.

Therefore, the understanding of the mechanical behaviour of the polyamide under different loadings scenarios, such

as cyclic tension and varying strain rates, is important to guarantee structural integrity of flexible pipes. There are many

studies regarding the effects of temperature and strain rates on polymers (Reis et al, 2014, 2015; Şerban et al, 2012;

Nunes et al, 2011).

However, there are still relatively few researches on cyclic plastic behaviour of polymeric materials. Materials such

as PTFE, Polyester and Epoxy have been studied under cyclic loadings (Chen and Hui, 2005; Da Costa Mattos et al,

2012, 2014). Viscoelastoplasticity of polyamide reinforced composites subjected to cyclic tensile tests were also

investigated (Bles et al, 2009; Drozdov, 2011).

This paper is focused on the experimental investigation of the accumulation of plastic strain of a polyamide (nylon

12) polymer, subjected to cyclic tensile tests. Nylon is a thermoplastic polymer used in a wide range of applications due

to its versatile characteristics. In particular, this material exhibits relatively high tensile strength and stiffness, together

with a high melting point and good chemical resistance. In addition, nylon 12 absorbs very little moisture and is

extremely resistant to crack under stress.

In order to investigate the materials rate-dependency, different cross head velocities were used in tensile tests (0.5

mm/min, 5 mm/min and 50 mm/min). The elastic properties are not strongly affected by the strain rate, but the strain

hardening induced by the plastic deformation is rate-dependent. Thus, the material behaviour is elasto-viscoplastic

rather than viscoelastic. Load-unload cyclic tensile test was performed with increasing force per cycle, starting from

400 N and a 50 N increment each cycle. The material exhibits hysteresis (a phase lag), which leads to a dissipation of

mechanical energy and to the accumulation of cyclic plastic deformation. It is verified experimentally that this

phenomenon is essentially due to the kinematic hardening.

IX C o n gr es s o N a c i o n a l d e E n g e n har i a M e c â ni c a , 21 a 2 5 de a g os t o de 20 1 6 , F or t a l ez a - C e ar á

2. MATERIALS AND METHODS

2.1. Material

Polyamide is a semi-crystalline thermoplastic with a combination of thermal and mechanical properties that allows

it to be used in severe operation conditions. Therefore, the use of polyamides as pressure sheaths for flexible pipes is

increasing in the oil and gas industry, where the operation conditions are particularly severe.

Tensile test specimens where machined from an internal pressure sheath of a real flexible pipe made of nylon 12.

The initial gage length and cross sectional area were, respectively, 33 mm and 24 , as showed in Fig.1.

Figure 1: Tensile test specimen machined from a pressure sheath of a flexible pipe.

2.2. Methods

To evaluate the mechanical behaviour of the polyamide, two kinds of tests were performed: (i) tensile tests at

different strain rates and (ii) load-unload cyclic tests with increasing maximum load level per cycle. The tensile test

methodology followed the ASTM D638-08 standard. Both tests were performed using a Shimadzu® AG-X universal

testing machine and electro-mechanical sensors for the control of the longitudinal strain.

The tensile tests were performed using three stroke velocities: 0.5 mm/min, 5.0 mm/min and 50.0 mm/min. These

tests were necessary to verify the basic features of the materials mechanical behaviour (eventual dependence of

elasticity modulus, proportional limit and tensile strength on the strain rate). With this preliminary set of tests, it was

possible to determine the stress and strain levels and frequency suitable to the second series of mechanical tests, in order

to assure plastic flow in each cycle.

From now on, the classical uniaxial engineering stress and engineering strain will be noted, respectively, σ and ε

and will be called simply stress and strain

0A

F(t)=σ(t);

L

ΔL(t)=ε(t) (1)

F(t) is the axial force necessary to impose an elongation )t(LΔ at a given instant t. L is the gauge length and 0A

the cross-section area.

3. RESULTS AND DISCUSSION

3.1. Tensile Tests

Tensile tests were performed at room temperature with three cross-head speeds: 0.5 mm/min, 5.0 mm/min and 50.0

mm/min. The elastic properties are not strongly affected by the strain rate, but the strain hardening induced by the

plastic deformation is rate-dependent (see Fig.2).

The Elastic modulus was obtained is in accordance with ASTM D638-08 standard. The detection of the

proportional limit presents an experimental problem since it depends on the precision of the strain measure. In order to

obtain an objective definition, it is adopted a conventional definition of this limit: it is the intersection between the

experimental stress-strain and the curve , with d being a given strain as shown in Fig.3. In the present

study it was considered d=0.002%. For this kind of polymer the elastic behaviour is linear since the proportional strain

and the elastic limit (the stress above which permanent deformations appear) are very close.

It is convenient to introduce in the analysis the definition of elastic and plastic strains (noted, respectively, and

):

(2)

IX C o n gr es s o N a c i o n a l d e E n g e n har i a M e c â ni c a , 21 a 2 5 de a g os t o de 20 1 6 , F or t a l ez a - C e ar á

Figure 2: Stress-strain curves with different strain rates.

Figure 3: Conventional definition of the proportional limit.

It is possible to use the equation presented in (2) in order to obtain the curve (see Fig.4) for all three cross-

head speeds from the experimental curve .

Figure 4: Stress-plastic strain curves with different strain rates.

IX C o n gr es s o N a c i o n a l d e E n g e n har i a M e c â ni c a , 21 a 2 5 de a g os t o de 20 1 6 , F or t a l ez a - C e ar á

The material elastic modulus remains constant for all three test speeds and the effects of rate dependency are only

observed on the plastic region. Thus, the yield limit changes with the variation of the strain rate as observed from Fig.4.

There is an increase of 159% on the proportional limit between 0.5 mm/min and 5 mm/min, and an increase of 57%

from 5 mm/min and 50 mm/min. The tensile strength showed a variation for the same test velocities of, respectively,

8% and 5%. Table 1 summarizes the mechanical properties (Young's Modulus, Proportional limit and Tensile Strength)

of the polyamide tensile tests performed at room temperature with different stroke velocities.

The analysis of Fig. 2 and 4, together with the results presented in Tab. 1, leads to the conclusion that the material

behaviour is elasto-viscoplastic. As the effects of the strain rate variation are only noticed on the plastic strain region.

Table 1: Mechanical properties for various tensile test speeds.

Stroke Velocity

(mm/min)

Young's Modulus E

(MPa)

Proportional limit σp

(MPa)

Tensile Strength

(MPa)

0.5 405.85 1.48 32.67

5 405.85 3.82 35.20

50 405.85 5.99 36.80

3.2. Cyclic load-unload tests

A load-unload cyclic test ( ) was conducted at room temperature. The cycles were applied with

increasing force amplitude (stress controlled), starting at 400 N with 50 N increments. The absolute test frequency was

3 N/s both in loading and unloading.

Figure 5 presents the stress-strain curve obtained in the test and Fig. 6 shows the curve obtained from Fig. 5.

Figure 5: Cyclic tensile test stress x strain curve.

Figure 6: Cyclic tensile test stress x plastic strain curve.

IX C o n gr es s o N a c i o n a l d e E n g e n har i a M e c â ni c a , 21 a 2 5 de a g os t o de 20 1 6 , F or t a l ez a - C e ar á

From the analysis of Fig. 5, is possible to conclude that under cyclic tension the material exhibits hysteresis (a

phase lag), which leads to energy dissipation. It is also verified a progressive accumulation of deformation while

polyamide is subjected to cyclic loading. A cyclic hardening phenomenon in the material induced by plasticity is also

present. After each cycle of loading and unloading the elastic limit changes.

In order to understand the material plastic behaviour, another useful auxiliary variable can be defined as the

accumulated plastic strain p:

|

| ⇒ ∫ |

|

(3)

Using definition (3), it is possible to obtain the curve from the experimental curve (see Fig. 7).

Figure 7: Cyclic tensile test stress x accumulated plastic deformation curve.

The elastic domain (or elastic segment) is defined as the interval

within which any stress variation

generates only variations of the elastic strain. The limits of this interval depend on the process, and

are

affected not only by the plastic strain, but also by the accumulated plastic strain. It is more convenient to use the

following auxiliary variables than and

:

;

(4)

Figure 8 presents the graphical identification of the variables defined in Eq. (4), for the polyamide under cyclic

loadings. X is the coordinate of the center of the elastic segment and 2Y is the size of the elastic segment.

Figure 8: Evolution of the elastic domain in cyclic tensile test.

IX C o n gr es s o N a c i o n a l d e E n g e n har i a M e c â ni c a , 21 a 2 5 de a g os t o de 20 1 6 , F or t a l ez a - C e ar á

The elastic domain is then defined as:

{ } (5)

↔ (6)

X is known as the kinematic hardening variable, while Y is noted as the isotropic hardening variable. For a virgin

material (with no loading history under plastic strains), it is possible to demonstrate that and . In this

sense, plastic deformations causes anisotropy (a variation of X) and an expansion in the elastic segment Y. Usually for

metallic materials Y is greater than X in cyclic loading tests (Lemaitre and Chaboche, 1990), and hysteresis with

accumulation of cyclic plastic strains only occur if viscous effects are considerable.

For the polyamide presented in this study, the kinematic hardening variable is greater than the isotropic hardening

(X > Y). Which explains the negative plastic strain rate even with a positive stress observed in Fig. 5 and 6 ( < 0

if < 0 even when ).

The next step of this study is the development of an elasto-viscoplastic phenomenological model able to describe

the inelastic cyclic behaviour of this polyamide. The idea is to propose a one-dimensional model that combines

sufficient mathematical simplicity to allow its use in daily engineering problems. But is also capable of describing

complex non-linear mechanical behaviour such as, strain-hardening, plastic deformation, ratcheting, etc. However this

discussing is beyond the scope of this paper.

4. CONCLUSIONS

The mechanical behaviour of a polyamide 12, used as internal pressure sheath of flexible pipes, under cyclic tensile

tests was studied. Tensile tests conducted under different cross-head speeds (0.5 mm/min, 5 mm/min and 50 mm/min)

showed that the elastic properties are not strongly affected by the strain rate and the effects of rate dependency are only

observed on the plastic region. There is an increase of 159% on the proportional limit between 0.5 mm/min and 5

mm/min, and an increase of 57% from 5 mm/min and 50 mm/min. The tensile strength showed a variation for the same

test velocities of, respectively, 8% and 5%. Therefore, the material behaviour is elasto-viscoelastic.

Under stress controlled cyclic tensile test, performed at a frequency of 3 N/s, the material exhibits hysteresis

leading to the accumulation of cyclic plastic deformation. Which was experimentally verified to be essentially due to

kinematic hardening. Thus, for this polymer the kinematic hardening is greater than the isotropic hardening.

5. ACKNOWLEDGEMENTS

The authors would like to thank the Brazilian National Council for Scientific and Technological Development

(CNPq) and Coordination for the Improvement of Higher Education Personnel (CAPES) for supporting part of the work

presented here.

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IX C o n gr es s o N a c i o n a l d e E n g e n har i a M e c â ni c a , 21 a 2 5 de a g os t o de 20 1 6 , F or t a l ez a - C e ar á

7. RESPONSABILITY NOTICE

The authors are the only responsible for the printed material included in this paper.