analise socio-historica da comunidade caicara de conceicaozinha - guaruja

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SÍTIO CONCEIÇÃOZINHA EM GUARUJÁ Carlos Eduardo Vicente Da vida Breve história como prólogo É cedo... cinco e meia. Como eu sei? Sei lá, pelo galo pessoinha, sempre o primeiro a cantar, e sempre no mesmo horário, e é claro, também por algo que não sei direito, que é um negócio que me acorda, não importa o dia, quase sempre antes do sol nascer. É cedo, mas já dá aquela vontade de ir pra beira da “maré”, procurar “coisas”, quaisquer coisas, desde brinquedos a frutas, (coco, maçã), peixe grande morto, tatu morto, ou até mesmo algum bicho esquisito, (outro dia mesmo lembro de um “veado” que apareceu aqui na maré, cansado de tanto nadar, quem pegou ele foi o marido da dona Antônia, e todo mundo comeu carne de veado por quase uma semana). As “coisas” caem de navios e vem parar aqui na maré, e é a maior alegria encontrar, nem que seja uma maçã “salobra”, e comer logo cedinho. Eu levanto, tomo o café, uns pedaços de mandioca, ou um angu, peixe com farinha e saio correndo pra maré, passo nos tambores e já pego umas bananas verdes cozidas (que são as mesmas que a gente dá aos porcos), aí vou catar as coisas que a maré traz. Descendo o barranco, eu vou passando pelo mar 1

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Page 1: Analise socio-historica da comunidade caicara de Conceicaozinha - Guaruja

SÍTIO CONCEIÇÃOZINHA EM GUARUJÁ

Carlos Eduardo Vicente

Da vida

Breve histór ia como prólogo

É cedo . . . c i nco e me ia . Como eu s e i? Se i l á , pe lo ga lo

pe s so inha , s empre o p r ime i ro a can ta r , e s empre no mesmo horár io ,

e é c l a ro , t ambém por a lgo que não s e i d i r e i t o , que é um negóc io

que me acorda , não impor ta o d ia , quase s empre an t e s do so l

nasce r .

É cedo , mas j á dá aque la von tade de i r p ra be i ra da “maré” ,

p rocurar “co i sas” , qua i squer co i sa s , de sde b r inquedos a f ru ta s ,

( coco , maçã ) , pe i xe g rande mor to , t a tu mor to , ou a t é mesmo a lgum

b i cho e squ i s i t o , ( ou t ro d ia mesmo l embro de um “veado” que

apareceu aqu i na maré , cansado de t an to nadar , quem pegou e l e f o i

o mar ido da dona An tôn ia , e t odo mundo comeu carne de veado por

quase uma semana) . As “co i sas” caem de nav io s e v em parar aqu i

na maré , e é a ma ior a l egr ia encon t rar , nem que s e ja uma maçã

“sa lobra” , e comer l ogo ced inho .

Eu l e van to , t omo o ca f é , uns pedaços de mand ioca , ou um

angu , pe i xe com fa r inha e sa io cor rendo p ra maré , pas so nos

t ambores e j á pego umas bananas ve rdes coz idas (que são a s

mesmas que a gen t e dá aos porcos ) , a í vou ca ta r a s co i sa s que a

maré t ra z . Descendo o bar ranco , eu vou pas sando pe lo mar a s s im ,

a água bem c la ra a a re ia bem c la ra , nós t emos um por t i nho , um

e s ta l e i r i nho , onde f i ca nos sa canoa , nos sa embarcação , e quando

eu de sço a s s im , na maré , aque la água c la ra , o s s i r i z i nhos s e

en t e r rando quando a gen t e põe o pé na água , e o s s i r i z i nhos que

e s tão a s s im na be i r i nha s e en t e r ram, o s pe i x inhos , aque l e s

pe i x inhos , a gen t e va i andando , cor rendo a t rá s de l e s a s s im na

1

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be i rada da maré , e e l e s s e en t e r ram na a re ia , e l e s não cor rem

d i r e to p ro f undo do mar , e l e s s e en t e r ram, e f i cam só o s o lh inhos

de l e s o lhando p ra gen t e . Da í , a gen t e v endo que não t em nada

i n t e re s san t e , ou que o bom a gen t e j á t i nha l e vado , a gen t e f i ca

b r incando , pegando um s i r i z i nho , pegando f ru ta , go iaba , banana ,

cana , carambo la , e t an ta s ou t ras , ou en tão vamos pegar pas sar inho

a t é a mãe chamar .

E não t em j e i t o , quando são o i t o , nove horas , mãe t a

chamando pra ca ta r l enha , p ra emp i lhar l á em c ima , p ra mãe poder

f a ze r o a lmoço , ou p ra que imar no f ogão à no i t e . En tão eu vou

pegar g rave to s , que eu não pos so pegar no machado , porque a mãe

não de i xa . Depo i s da l enha , é f a ze r a lguns s e rv i ç inhos p ra mãe ,

var re r o qu in ta l , a r rumar uma co i sa ou ou t ra , a t é a hora do

a lmoço . Ah , que a lmoço gos to so , aque l e vaz io no e s tomago , s empre

o f e i j ãoz inho com ar roz e mand ioca , uma ve rdura , aqu i do qu in ta l

mesmo , f rango , pe i xe , s i r i , ca rangue jo , mar i s co , ou mesmo p i t u ou

camarão , que mu i ta s v e ze s e ra a gen t e mesmo que pegava . Cerca de

onze horas , me io d ia , depo i s do a lmoço , eu s en to na á reaz inha , e

da á rea da p ra ve r pe la en t rada dos bambuza i s , a maré , e ne s sa

be i rada de maré , eu o lho o r e f l e xo do so l que ba t e na água e f i ca

r e lu z indo , como se f i ca s se p i s cando a água . En tão aqu i l o a l i me

enche de v ida , me da uma co i sa que me f a z v i b rar , aqu i l o a l i ,

quando eu e ra bem c r ianc inha mesmo , eu imag inava que e ra uma

quan t i dade em v idas que t ava p i s cando naque l e mar , mas

s imp le smen t e e ram re f l e xos do so l bem fo r t e , na água do mar que

r e lu z ia , e eu imag inava que aqu i l o e ra um mon te de pe i xe que t i nha

a l i .

Es sa e ra a hora t ambém que a mãe va i t raba lhar , que e la

t raba lha do ou t ro l ado , em San tos , na casa da “dona Mar ia

Ve lha” , que é a avó do Ch iqu inho . E a gen t e t i nha que f i ca r

e spe rando p ra buscar e la quando e la v i e s se embora , por que e la

não pod ia l e var o barco p ro l ado de l á s enão a lguém rouba , que l á

é t udo ma to , e i s so e ra t odo d ia .

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Depo i s , ma i s t a rde , a gen t e va i t udo a l i p ra be i ra da maré ,

p ra e sperar a mãe , e f i ca j ogando bo la na a re ia da p ra ia , s en ta

aque l e mundo de mo lecada , e ra eu , Rober to , Rober t i no , a s men inas

nadando a l i na f a i xa da maré , e a gen t e f i ca l i gado , porque sabe

que quando e la apon tar l á do ou t ro l ado e acenar com uma toa lha ,

ou começar a g r i t a r a gen t e t em que i r co r rendo l á buscar e la , mas

mo leque é o d iabo , pas sa a hora e e squece , en tão nós nos

e squecemos a l i naque l e j ogo , e e l a s empre apon tava do l ado de l á ,

à s qua t ro horas da t a rde , que e la sa ia t r ê s horas da casa da “dona

Mar ia Ve lha” , e a t é c i nco horas , e ra , puxa , s e pas sas se das c inco

horas da t a rde , quando a mãe chegasse , e l a pegava uma vara e

sa ia em c ima de t odo mundo , de l ambada , né , e nós f i cávamos t odo

d ia a l i , e spe rando . Mas à s v e ze s t i nha ou t ras pe s soas que v inham

do l ado de l á t ambém, e à s v e ze s nós f i cávamos j ogando bo la a l i ,

quando o lhava do l ado de l á , v i a l á uma co i sa , s e t ava abanando

ou não t ava abanando , s e e s t ava g r i t ando ou não , p ra gen t e v e r ,

p ra i r l á buscar e la . Se a t rave s sas se o e s t uár io e f o s se buscar e la

do l ado de l á , e l a f i cava s empre a l i na f r en t e da casa da vó do

Ch iqu inho , a dona Mar ia Ve lha , e à s v e ze s , quando a gen t e i a

pegar na cha ta , j á i a sa indo uma ou t ra cha ta de l á , a í a gen t e

f a lava s e rá que é mãe , ou não é mãe , mas s e f o s se e l a que t ava

chegando , t ava t udo bem, mas s e não f o s se e l a e a gen t e chegas se

l á a t ra sado p ra buscar e la , cace t e , o pau comia , a vara comia .

En tão o que acon t eceu f o i i s so , t ava ano i t e cendo j á , e a gen t e

en t r e t i do com o j ogo não f o i buscar e la , e quando a gen t e a v i u j á

t ava no me io do e s tuár io , e f o i um ta l de um cor re r p ra um lado ,

ou t ro p ra ou t ro , e f i ca r e scond ido , mas não ad ian tou nada , quando

deu j á no i t e , a gen t e t udo t e ve que vo l t a r p ra casa , por medo do

sac i , e de cobra , e ou t ros b i chos que g r i t ava , que não dava ma i s

p ra ve r nada , e f o i um chegando e t omando sur ra de vara de

a roe i ra , e e ra ou t ro chegando e t ome vara no l ombo , e a s s im mãe e

pa i pegaram todo mundo .

O que e la f i cava ma i s ne rvosa e ra que e la s empre v inha che ia

de co i sa , porque e la t ra z ia a inda o s a l imen tos p ra gen t e , t ra z ia o

3

Page 4: Analise socio-historica da comunidade caicara de Conceicaozinha - Guaruja

pão , t ra z ia o açúcar , t ra z ia o sa l , e gen t e quando mo leque , a gen t e

não l i gava p ra nada , o negóc io e ra j ogar bo la e f i ca r t omando

banho de maré , e mu i ta s v e ze s a gen t e e squec ia , como ho j e , e não

t i nha f uga , o “couro comia” .

En tão , com as pe rnas a rdendo , e de banho t omado à gen t e

f i cou no quar to , ouv indo aque la m i s tu ra de mus i ca , do rad inho à

ba t e r ia do pa i , e pas sar inho , e ra pas sar inho que não acabava ma i s ,

e b i cho , e sac i p iando , que andava na be i ra do mangue pegando

quem f i cava de no i t e na maré .

Á no i t e , ma i s t a rde , quando o som do rád io j á t i nha f i cado

qu i e to , e a pas sarada t i nha s e aca lmado , do meu quar to , que f i cava

do l ado da sa ída p ro bar ranco e o bambuza l , dava p ra e scu ta r o s

sons da no i t e , en tão quando eu não dormia cedo , e consegu ia f i ca r

acordado a t é t a rde eu f i cava na cama e e scu tava o baru lho da maré

ba t endo no bar ranco quando a maré ench ia , ou a canoa ba t endo l á

na água , um pás saro , sa racura , ou a coru ja can tando no

bambuza l . . . 1

1 Os fatos narrados neste texto foram coletados em diversas entrevistas com moradores diferentes e utilizados como sendo parte da vida de um único morador. A alocação dos fatos como ocorridos na vida de um só morador, um menino, é uma construção literária com base em depoimentos, que apesar de terem ocorrido com um ou outro morador em momentos distintos, não constituem um fato real e comprovadamente acontecido. No entanto é muito possível que possam ter ocorrido nessa ordem e situação citada. Quero aqui deixar claro que esta é uma construção literária fictícia porem, bastante verossímil. Entendo que a idéia de verossimilhança se encaixa na analise aqui proposta e pode servir como auxilio no entendimento dos temas que serão abordados. Baseio-me na idéia de narrador expressa por Walter Benjamin no ensaio homônimo e também nas análises críticas em relação à busca da verdade científica pela História realizadas por Hayden White em Trópicos do Discurso ao justificar sua idéia de que a História também é uma ficção literária de seu autor, porém baseada em fontes documentais deixadas. Como é obviamente impossível reconstruir os fatos exatamente da forma como eles ocorrerram no passado valho-me da idéia de História verossímil para apresentar um conto de como eles podem ter ocorrido.

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O migrante

Da chegada , d i f i cu ldades e po rquês . 2

“ . . . Mas m inha f i l ha , nós l e vamos uma v ida aqu i que só Deus ,

porque nós v i emos de Minas , não conhec ia n inguém, o conhec ido

que t i nha aqu i e ra o i rmão do meu mar ido , que j á morava aqu i há

t empo , e quando nós chegamos aqu i nós não t í nhamos conhec imen to

para a r rumar um f i ador , e e ra l á de San tos , porque a gen t e só

conhec ia l á . A í eu f i que i pensando s e nós i r í amos t e r que vo l t a r

para Minas a pé , porque o que nós í amos f a ze r , e t rouxemos a inda

o s t r ê s f i l hos ma i s v e lhos e de i xamos o s ma i s pequenos l á com

minha mãe para v i r aqu i a r rumar uma morad ia , p ra depo i s i rmos

a t é l á e buscar o s pequenos [ . . . ] e l e d i s s e que t i nha uma v iúva

querendo vender o bar raqu inho de la por 30 con tos de r é i s [ . . . ]

duas s emanas depo i s o s eu Jonas ve io p ra casa da Dona Mi ra

buscar a chocade i ra , e eu e o s eu Jonas v i emos ve r o bar raqu inho .

Meu mar ido não qu i s v i r porque e l e t i nha mu i to medo de água . Seu

Jonas ve io com a cha t i nha car regada de made i ra , quando chegou

ma i s ou menos pe r to da margem de cá , a cha t i nha a fundou , encheu

de água , a í , eu f i que i em c ima das t aboas e o s eu Jonas f o i

r emando , r emando a t é que chegamos na t e r ra . Quando chegamos a

t e r ra , eu f u i a t é aque la casa que vocês v i ram lá , e o bar raqu inho

e ra de f undo de l a tão , sapé , pape lão t apando o s buracos p ra

p ro t eger da chuva , en tão eu conver se i com e l e , e t i nha que f a ze r

ou t ro bar raqu inho mesmo , porque aque l e não dava p ra nada . A í eu

chegue i l á , f a l e i com o meu mar ido , e o j e i t o que t e ve f o i nós v i r . E

a gen t e consegu iu carona com um Sr . Chamado Zé Pedre i ro , na

cha t i nha de l e , e nós v i emos com e l e , me t emos a s caras , de r rubamos

aque l e bar raqu inho , que não t i nha nada para aprove i t a r , e

t raba lhamos vár io s d ia s e f i z emos uma cas inha que pe lo menos

2 Este item somente diz respeito aos moradores mais antigos que vieram de outras regiões, e procura entender e explicitar os motivos que vão fazer os moradores deixar seus lares e se dirigirem para a comunidade. Logo, aqueles moradores cuja vinda para a região seja anterior ao inicio do século XX e que suas famílias já estejam na quarta geração serão considerados pelo presente trabalho como moradores natos, assim sendo, prescindíveis na analise proposta nesse item.

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Page 6: Analise socio-historica da comunidade caicara de Conceicaozinha - Guaruja

dava p ra agüen tar o so l e a chuva , e t i nha uma coz inha e um

quar to , só i s so que nós f i z emos , e f omos l á p ra Minas , porque j á

e s t ava em t empo de i r buscar o s men inos . Fomos l á e t rouxemos o s

men inos , e a í f o i t odo mundo t raba lhar , que o s men inos j á e s t avam

acos tumados . Todo mundo a judou , meu f i l ho ma i s v e lho e ra

empregado em San tos e a judava a gen t e com co i sas que comprava .

E g raças a Deus , ne s se t empo , t i nha aqu i um povo mu i to bom,

m inha f i l ha , e ho j e em d ia não t em ma i s não , mas quando , naque la

época , d i s s emos que v ínhamos para cá , nós ganhamos t an ta co i sa ,

e f o i quando f i cou ma i s f ác i l p ra gen t e f a ze r nos sa cas inha , e eu

e s tou aqu i a t é ho j e . Fu i buscar meu pa i , m inha mãe , j á pas sado

t empo , l á em Te i xe i ra de Fre i t a s , o s t rouxe p ra cá [ . . . ] pas sado um

t empo , m inha f i l ha ve io p ra cá s em casa p ra morar , e a cas inha ,

que j á e ra a s egunda que nós t í nhamos f e i t o j á e s t ava ru in z inha

[ . . . ] r i queza nunca t e ve , nunca t e ve mar de ro sas em can to nenhum.

Em Minas e ra mu i to ru im porque a gen t e t raba lhava nas roças e

quando chegava a época das s ecas , o gado dos pa t rõe s quebrava a s

c e rcas e comia a s roças t odas , e e ra f e i j ão , e não sobrava nada , é

nunca f o i um mar de ro sas , e o lhando a d i f i cu ldade que a gen t e

t e ve l á e aqu i , aqu i é me lhor . E só a mor t e va i me t i ra r daqu i , ou

en tão s e aparece r dono . . .” . 3

O depo imen to ac ima dá uma i dé i a c l a r a de como se cons t i t u iu

a comun idade , po i s de f a t o , mesmo den t r e o s morado re s ma i s

an t i gos a p r edominânc i a é de mig ran t e s de ou t r a s r eg iõe s . 4 Ou t r a

obse rvação mu i to impor t an t e é o g r au de d i f i cu ldades pa r a a

sob rev ivênc i a que t i nha a ma io r i a dos morado re s an t e s de pa s sa r a

hab i t a r a r eg i ão ( e s se t i po de d i f i cu ldades é uma cons t an t e nos

depo imen tos ) , o que nos l eva a c r e r que , de sde s eu i n í c io , a r eg i ão

s e rv iu como á r ea de fuga pa r a vá r i o s morado re s que encon t r avam

d i f i cu ldades pa r a morad i a em ou t r a s l oca l i dades .

3 Dejanira Batista dos Santos, moradora da comunidade a aproximadamente 44 anos. 4 Entretanto este é um dado que torna ainda mais interessante a formação da comunidade, pois apesar da grande maioria ser oriunda de estados, e regiões diferentes, todos assimilaram uma identidade cultural muito própria do caiçara. Seja a questão da pesca, seja a coleta em mangues, seja os tipos de culturas plantadas, notamos a similaridade do relacionamento de todos com o meio e entre si.

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Page 7: Analise socio-historica da comunidade caicara de Conceicaozinha - Guaruja

Ass im como nas pe r i f e r i a s de ou t ro s c en t ro s u rbanos no Bra s i l

a comun idade so f r eu o impac to do que fo i chamado Êxodo Rura l . A

pa r t i r da década de qua ren t a começou a f l u i r pa r a a comun idade e

em to rno , um f l uxo cada vez ma io r de mig ran t e s de ou t r a s r eg iõe s

impu l s ionados pe l a s d i f i cu ldades da v ida no campo , e pe l a

pos s ib i l i dade de emprego e me lho re s cond i ções de v ida . 5

Vamos encon t r a r o s p r ime i ro s m ig ran t e s ( i s so a t é o f i na l da

década de c inqüen t a ) como o r iundos de d ive r sos e s t ados , com

p redominânc i a dos e s t ados do Su l , Sudes t e e Cen t ro -Oes t e , e ma i s

f o r t emen te do Pa raná , a l ém é c l a ro dos p róp r io s morado re s da

Ba ixada San t i s t a que po r mo t ivo de fuga dos a lugué i s d i r i g iu - s e

pa r a a á r ea . 6

Nas décadas de s e s sen t a , s e t en t a e meados de o i t en t a s e r ão o s

m ig ran t e s do êxodo ru r a l que começa rão a ocupa r a r eg i ão . Se rão

ba s i camen te pe s soas do no r t e e no rdes t e do Bra s i l que mu i t a s veze s

i n t e r rompe rão sua s t r a j e t ó r i a s e s e f i xa r ão na comun idade . 7

Até que f i na lmen t e , na s ú l t imas ocupações o f a t o que va i

oco r r e r é ba s i camen te a “mudança de ba i r ro” . Morado re s de ou t r a s

á r ea s , pa r a fug i r do a lugue l vão pa s sa r a ocupa r a á r ea .

“São pe s soas de sempregadas que vêm fug i r do a lugue l , são

pe s soas , p r inc ipa lmen t e de V i cen t e de Carva lho , d i f e r en t emen t e de

a t é a década de 70 , que e ram pes soas do Nordes t e , que f ug iam pra

cá , mas e ra uma min i -ocupação . De 90 p ra cá , j á é uma ocupação

do p rópr io mun ic íp io ocas ionada p r inc ipa lmen t e pe la f a l t a de

d inhe i ro , e vão para a s á reas de ma ta .” 8

Apesa r do c l ima de nos t a lg i a e de s audade que pe rme ia g r ande

pa r t e dos depo imen tos a v ida nos p r ime i ro s t empos e r a mu i to

d i f í c i l :

“ . . . aqu i não t i nha hosp i t a l [ . . . ] Mas e ra t udo p ra San ta Casa

de San tos , t udo pegava a cha t i nha e i a embora , é , quando uma

5 Colocar fonte.6 Idem a nota 37.7 Idem.8 Idem a nota 27.

7

Page 8: Analise socio-historica da comunidade caicara de Conceicaozinha - Guaruja

mulher i a ganhar neném, pegava a cha t i nha e i a embora , com

chuva , com ven to , com tudo , eu mesma fu i uma que f o i p ra ganhar

uma f i l ha m inha , [ . . . ] Chuva e v en to , me encapo taram toda e eu

com a dor , eu com a dor , a m inha cunhada f a lava p ra eu e sperar

que a gen t e j á i a chegar , e meu mar ido ace l e rava , ace l e rava a t é

chegar do ou t ro l ado , e quando chegamos do ou t ro l ado a água

v inha no j oe lho , p ra c ima do j oe lho e m inha cunhada i a na f r en t e

por causa de a lgum buraco , né? Que a ambu lânc ia não v inha a l i ,

t i nha que i r ma i s p ra l á , a i f o i quando e la f o i i ndo na f r en t e que

pod ia t e r a lgum buraco , e a í dava a dor , uma dor hor r í ve l , e eu

s egurava ne l e e f i cava a s s im no me io da água , e parava e i a , e

parava e i a , e quase que eu ganho a c r iança no me io da água . . .” 9

As d i f i cu ldades e r am mu i t a s , a f a l t a de hosp i t a l ou p ron to

soco r ro p róx imo , de comérc io l oca l , ( t udo nece s s i t ava s e r

comprado em San tos ) , r ep re sen t avam um g rande obs t ácu lo pa r a a

pe rmanênc i a na comun idade .

“ . . . água e ra na casa da m inha avó , t i nha que pegar do l ado

de l á , en t endeu? T inha que a t rave s sar de cha ta com os ba lde s p ra

t ra ze r água , en t endeu nós í amos buscar na INAPE, e quando e ra no

t empo do Jayme Dayge , a o rdem que t i nha e ra não dar água p ra

n inguém, en t endeu? [ . . . ] A í a gen t e i a buscar em San tos , t i nha uma

mu lher que dava água p ra gen t e , mas p ra m im e ra ma i s f ác i l

buscar em San tos , porque eu t i nha uma cha t i nha , e i a buscar água

na casa da m inha avó . . .” 1 0

“Água encanada , a p r ime i ra água encanada que ve io f o i em

74 , com o sobr inho do Domingos de Souza , An tôn io de Souza Ne to ,

[ . . . ] que co locou um cha far i z l á na rua [ . . . ] e l e e ra v i c e -p re f e i t o

ne s sa época , [ . . . ] no r eg ime da D i tadura Mi l i t a r [ . . . ] porque e l e

d i z i a que v inha roubar go iaba aqu i na Conce i çãoz inha , gos tava

mu i to do s í t i o , co locou água em ami zade com os co lonos , [ . . . ]

depo i s nós puxamos e s sa água p ra t odo o ba i r ro , nós pusemos

c inco m i l me t ros de canos e co locamos em cada pon ta de rua um

9 Idem a nota 1.10 Idem a nota 39.

8

Page 9: Analise socio-historica da comunidade caicara de Conceicaozinha - Guaruja

cha far i z . [ . . . ] Nós t í nhamos a água de d i r e i t o , né? E água

l ega l i zada , cobrada pe la Sabesp , e l a v e io em 88 . [ . . . ] En tão a l u z a

l u z v e io depo i s , a l i á s , [ . . . ] em 83 e a í f o i o Maur i c i que

co locou .” 1 1

As nece s s idades ma i s bá s i ca s e r am d i f í c e i s de s e ob t e r , água

encanada , l uz , t e l e fone , t udo i s so fo i f r u to de anos de e spe ra , e

a i nda ex i s t em ce r t a s á r ea s da comun idade em que , dev ido à

l oca l i z ação , a água encanada só chega , como d i zem os p róp r io s

morado re s , “ um f i ap inho” . Quan to à r ede de e sgo to s , não ex i s t e

a i nda , em nenhuma rua , bem como t ambém não ex i s t em ca l çamen tos

ou pav imen tação .

De aco rdo com os p róp r io s morado re s , g r ande pa r t e do a t r a so

na imp lemen tação de s se s bene f í c i o s s e r i a mo t ivada pe l a

i r r egu l a r i dade na ques t ão da p rop r i edade da t e r r a . Ou s e j a , nenhum

morado r da comun idade t i nha , ou t em , a i nda , a p rop r i edade

r econhec ida de s eu t e r r eno . E i s t o s e r i a pe lo f a t o de que a á r ea e r a ,

e é , cons ide rada á r ea da Un ião .

Segundo r e l a to s a t é o f i na l da década de o i t en t a a s cons t ruções

de a lvena r i a na comun idade e r am p ro ib ida s dev ido á mesma

a l egação de i l ega l i dade no t ocan t e a p rop r i edade da s t e r r a s .

Ho je t emos na comun idade , g r ande quan t i dade de morad i a s de

a lvena r i a , e s endo que j á há um p roces so de ve r t i c a l i z ação com a

cons t rução de d ive r sos sob rados . Es sa queb ra da p ro ib i ção no

t ocan t e a cons t ruções de a lvena r i a s i n i c iou - se no f i na l da década de

o i t en t a , quando da cons t rução da p r ime i r a Ig r e j a de a lvena r i a na

comun idade , que fo i ameaçada de demol i ção , e ge rou uma g rande

mob i l i z ação no Ba i r ro . Pouco t empo depo i s novas cons t ruções

fo r am sendo e rgu ida s a t é que ho j e , t a l vez 20% das cons t ruções da

comun idade s ão de a lvena r i a . 1 2

Alguns morado re s s e r e f e r em à e spe ra de ho ra s pa r a s e ob t e r

água pa ra s eus a f aze r e s domés t i cos , en t r e t an to hav i a t ambém em

11 Idem nota 27.12 Idem.

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épocas an t e r i o r e s , quando a comun idade a inda t i nha poucos

morado re s ou t r a s fo rmas de ob t enção de água :

“ . . . eu i a l avar roupa no poço , o poço e ra a nascen t e , a gen t e

e svaz iava , e s vaz iava , de i xava l imp inho , né? A í a água c re sc ia , a í

quando a gen t e i a a água j á t ava na me tade , e sub ia , b ranqu inha , a

gen t e o lhava a s s im l imp inha , aque la nascen t e mesmo . . .” 1 3

Com o t empo a s na scen t e s fo r am so f r endo a i n f l uênc i a da

ocupação , a t e r r amen to e po lu i ção , e a t ua lmen t e não ex i s t e ma i s

nenhuma nascen t e no ba i r ro .

“a í o povo , co i t ado , que t i nha nece s s idade , começou a v im

procurar e l e s , [ . . . ] que quer iam comprar um pedac inho de

t e r ra[ . . . ] e l e s f a z iam i s so , quando o “ f r eguês” chegava , e l e s f a lava

“ó , f a z o t eu bar raqu inho aqu i” , a s pe s soas pegava , e ra t udo ma to ,

t udo aque la s made i ras , e aque l e s mon te s de t e r ra , e no me io e ra

aque la s poças de água , eu s e i que e l e s a r rancavam aque l e s t ocos ,

a j e i t ava t udo o t e r reno , quando t ava t udo ce r t i nho l á , p ra f a ze r a

casa , e l e s chegava e t i rava o “ f r eguês” , “á , aqu i não pode , aqu i

va i pas sar uma rua” , dava ao “ f r eguês” ou t ro l ugar , ma i s d i s t an t e ,

quando o “ f r eguês” i a p ra ou t ro l ugar , e l e s j á pegava aque l e que

t ava p ron t i nho e v end ia , e f o i f i cando a s s im , f i cando a s s im , a t é que

f o i um d ia o povo deu p ra r ec lamar , [ . . . ] a í , o f i nado Juvênc io , que

morava aqu i , f o i l á na Cap i tan ia , a í e l e chegou l á , con tou o caso ,

a í , v e io um o f i c i o p ra nós , [ . . . ] i s so a í j á f o i depo i s que o s homens

f o ram tudo l á , a í quando eu f u i e l e s j á mandou uma car ta e d i s s e

“ó , dona De jan i ra , a s enhora conhece e s se s f r eguês” , eu f a l e i

“conheço” , a s enhora l e va e s sas duas car ta s , e dá uma ao Cap i tão

S inópo l i s , e dá ou t ra a Tomas , mas a s enhora não dá a n inguém pra

en t r egar a e l e s , a s enhora en t r egue a e l e s , não p ra ou t ro , a í eu

v im , f u i l á no I t apema , de scobr i e l e s l á , en t r egue i a s car ta s , a í

f i l ho , da í p ra cá , Deus a judou que o povo de i xou de pe r segu i r a

gen t e com h i s t ó r ia de t i ra r a gen t e daqu i , [ . . . ] a í a Cap i t an ia

t ambém ve io aqu i , f a lo com nós , que i s so aqu i e ra p ra s e r da Base

(Base aé rea de San tos ) , t i nha o s poços , o s t anques , a l i do l ad inho

13 Idem a nota 1.

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da maré , a l i , do l ad inho aonde e l e s f i z e ram os e s t a l e i ro s de pe sca ,

a l i t i nha uns t anques mu i to bon i t o s , que e ra da base , d i z que e ra

p ra s e r a Base , mas depo i s t rocaram o t e r reno daqu i por aque l e de

l á onde a Base ho j e é hab i t ada , a l i , naque l e pedaço . . .” . 1 4

-A gen t e não l embra quem e ra , mas e s se s caras quer iam

expu l sar a gen t e . A ún i ca co i sa que eu me l embro é que num d ia de

domingo de manhã e s távamos l á [ . . . ] , e encos tou uma lancha , e o

cara que t ava na l ancha de sceu na a re ia e pe rgun tou s e t i nha

gen t e , s e o meu pa i e s t ava , m inha mãe d i s s e que e l e só vo l t ava de

t a rde , e e l e f i cou de vo l t a r e d i s s e que e l e s e ram donos da á rea

onde e s tava o s í t i o . Pas sado um t empo , num d ia de sábado , a gen t e

t i nha s e a r rumado para i r a s s i s t i r a m i s sa na Ig re ja Ma t r i z e

chegou e s sa mesma lancha a zu l , meu pa i conv idou e l e s p ra t omar

um ca f é , da í eu ouv i e l e f a la p ro meu pa i : “o lha , nós e s t amos

av i sando o s enhor p ra vocês não mexerem ma i s nas ma tas , não

p lan ta r ma i s nada , que e s sa á rea é uma área par t i cu la r , e

f u tu ramen te e s sa á rea , n inguém poderá ma i s f i ca r morando ne la” .

Meu pa i con t e s tou d i z endo que aque la á rea e ra do pa i de l e , que

morava l á de sde 1898 . Os caras d i s s e ram novamen te que não e ra

p ra p lan ta r ma i s nada , meu pa i r e t rucou , e f i cou naque la

d i s cus são , e e l e s f o ram embora d i z endo p ro meu pa i p rocurar não

s e i quem. Minha mãe f i cou com medo , e v i e ram ma i s uma ve z . Da í

depo i s eu ouv i meu pa i f a lando p ra m inha mãe que o s caras

e s t avam a f im de t i ra r mesmo e l e s da l i .Chegou um d ia , nós sa ímos

para um casamen to de uma t i a , t i a N i ca (Emí l i a ) , vo l t amos do i s

d ia s depo i s e t i nham dado um t i ro no cachorro , na por ta de casa . 1 5

Após a f i xação no ba i r ro , a p róp r i a pe rmanênc i a e r a d i f í c i l ,

po i s d ive r sos e s t r a t agemas como os a c ima expos to s e r am u t i l i z ados

po r pe s soas ou g rupos i n t e r e s sados na á r ea .

O ca r á t e r de s se s e s t r a t agemas é d i f e r enc i ado de aco rdo com o

morado r e a época . Todos t êm uma h i s t ó r i a e a l guém, ou a lgumas

pe s soas que t en t a r am em de t e rminada época t i r a r p rove i t o da

14 Idem a nota 47.15 Idem nota 27.

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i ngenu idade no t ocan t e à pos se da t e r r a . E novamen te e s sa s i t uação

fo i p rop i c i ada pe l a compl i cada ques t ão da á r ea s e r ou não da

Un ião , de o s morado re s t e r em ou não a lgum d i r e i t o sob re e l a .

De aco rdo com os depo imen tos l evan t ados , é no t áve l ho j e o

g r au de conv i cção que a ma io r pa r t e dos an t i gos morado re s t em

com re spe i t o ao f a to da t e r r a não s e r , l ega lmen t e de l e s :

“e s e i que a gen t e va i v i v endo , e s e por acaso aparece r dono

que i nden i z e e s se s nos sos anos de d i f i cu ldade , porque nós v i v emos

uma v ida , a gen t e não s e cons ide ra i nvasor . Nós e s tamos morando

no s i t i o .” 1 6

. “ . . . e eu gos ta r ia s e eu pudes se s e r o v e rdade i ro dono daqu i ,

porque eu gos to mu i to daqu i , e nós e s t amos aqu i , mas não sabemos

o que pode acon t ece r , porque s e f o s se uma g l eba de t e r ra de um

par t i cu la r j á t i nha l o t eado t udo , mas como é da Un ião , en tão nós

e s tamos aguardando o que va i acon t ece r , agora não é c e r to a gen t e

pe rder nos so d inhe i ro [ . . . ] E na Conce i çãoz inha , mu i ta gen t e f o i

avançando , eu não avance i , eu compre i e f i que i , e f a z ma i s de

t r i n ta anos que eu e s tou v i vendo na Conce i çãoz inha .” 1 7

A mesma conv i cção que o s morado re s t em no en t end imen to de

que a t e r r a não é , po r d i r e i t o l ega l , de l e s , e l e s t em em a f i rma r a

“pos se de f a to” , dev ido à s d i f i cu ldades pa s sadas po r e l e s pa r a s e

e s t abe l ece r na comun idade .

A a tuação de mi l i t ânc i a po l í t i c a no Ba i r ro va i i n f l uenc i a r mu i to

a noção dos morado re s de que a pos se “de f a to” s e r i a de l e s .

“ . . . começa com a v inda da Edmé ia Ladewig (a s s i s t en t e

soc ia l ) , com o pe s soa l do Pro j e to Rondon . E la começa a t raba lhar

com os pe scadore s , para t rans fo rmar o S í t i o Conce i çãoz inha numa

agrov i l a . Da í começam as d i s cus sões com a comun idade sobre a

pos se da t e r ra , o rgan i zação da pe sca , e e s sas i dé ia s a judam na

c r iação da Soc i edade de Me lhoramen tos da Conce i çãoz inha

(SOMECON) . Também nes sa mesma época , a Edmé ia t en ta f o rmar

j un to com os pe scadore s uma as soc iação de pe scadore s , para que

16 Idem a nota 47.17 Idem a nota 4.

12

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pudes sem en t rar em con ta to com a sua cu l t u ra e que a pe sca f i z e s se

par t e da r enda f ami l i a r . Fundam a Un ião dos pe scadore s

(UNIPESC) , mas que não e s tava j u r id i camen te l ega l i zada por f a l t a

de i n s t rumen tos e por a inda e s ta r em per íodo de D i tadura Mi l i t a r .

Freqüen t emen t e a Base Aérea e s tava cadas t rando a s pe s soas do

S í t i o , po i s s e d i z i a p ropr i e tá r ia da á rea , e i am cons t ru i r um

aeropor to naque la á rea . Sendo a s s im a SOMECON consegu iu s e r

l ega l i zada em 79 /80 , j á a UNIPESC só f o i l ega l i zada em 1996” . 1 8

No depo imen to ac ima , é v i s í ve l a i n f l uênc i a de i nd iv íduos

e s t r anhos a comun idade na o rgan i zação da mesma . ( a pe s soa c i t ada ,

Edmé ia Ladewig , f o i impor t an t e quad ro do Pa r t i do dos

T raba lhado re s na década de o i t en t a . Fa l eceu no ano de ________) .

Es sa i n f l uênc i a va i s e f a ze r s en t i r na fo rmação da ma io r

l i de r ança comun i t á r i a do ba i r ro , Newton Ra fae l Gonça lve s , que

exe rce p r e sença cons t an t e em todas a s d i s cus sões pe r t i nen t e s a

s i t uação da comun idade . No tamos , como no depo imen to em

ques t ão , a d i f e r ença no e s t i l o da f a l a , ma i s po l i t i z ado , e ma i s

enga j ado em uma de fe sa da comun idade e da s t r ad i ções cu l t u r a i s .

A inda ho j e a á r ea é uma á r ea em l i t í g io , s em uma de f i n i ção de

pos se ou p rop r i edade f avo ráve l ao s morado re s , que , en t r e t an to ,

pe r s i s t em na d i spu t a , s e r e cusando a s a i r .

18 Idem a nota 27

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