anima mystica revista digital vol 2 no 4

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Anima Mystica Revista Digital, é uma publicação trimestral dirigida à divul-gação e discussão de as-suntos relacionados com o misticismo e o mundo esotérico (dentro e fora de Portugal), sob uma perspectiva que se esten-de desde as nossas raí-zes ancestrais até aos eventos de expressão pagã dos nossos dias.

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5

Índice dos Artigos

8

Feri: êxtase e tradição

Bruno Dias

14

Compreendendo Loki pela perspetiva

da dualidade do Fogo

Valquíria Valhalladur

17

O pagão no contexto do

óbito católico

Uma perspectiva pessoal

José António Campos

28

Bruxaria Tradicional versus Wicca

Ricardo Vieira

Também, neste número:

O último beijo

Por Eduardo Puente

Babyoga, o que é?

Por Sónia Sousa

Page 6: Anima Mystica Revista Digital Vol 2 No 4

6

Editores:

Luís Miranda

Eduardo Puente

Valentina Ramos

Neste número colabo-

raram:

Casa do Fauno

Capítulo Rosacruz do

Porto

Fellowship of Isis-

Portugal

Silver Circle

Sónia Sousa

Marabô

Escola Babyoga Portu-

gal

Conselho de bruxaria

tradicional do Brasil

Anima Mystica Revista

Digital, é uma publicação

trimestral dirigida à divul-

gação e discussão de as-

suntos relacionados com

o misticismo e o mundo

esotérico (dentro e fora

de Portugal), sob uma

perspectiva que se esten-

de desde as nossas raí-

zes ancestrais até aos

eventos de expressão

pagã dos nossos dias.

Anima Mystica

Revista Digital

ISSN: 2182-7176

Editorial

Um sol morre e outro nasce. Um ciclo termina e

outro começa. Uma despedida e umas boas-vindas . Os

solstícios são momentos mágicos que nos lembram que

tudo o que começa também tem um fim ... e um novo

começo. A paciência é recompensada , porque quando

a noite parece mais escura , o dia começa a crescer.

A Anima Mystica Revista Digital também alegra

-se com os ciclos, com as mudanças e recomeços. Os dias

são frios , mas no calor da lareira, o conforto ne-

cessário para as idéias que gradualmente começam a

surgir , como as plantas que lutam contra o gelo que

cobre o chão. Viver no escuro também é benéfico. A te-

rra dos mistérios chama-nos para mostrar o oculto, o

desconhecido. Para nos mostrar nós próprios.

Mas cada solstício surpreende-nos com toda a ale-

gria , a beleza e juventude de uma nova estrada . Nós

somos atraídos para as coisas que virão. Olhamos e to-

dos nós junta-mo-nos em todos os continentes desejando

Page 7: Anima Mystica Revista Digital Vol 2 No 4

7

A Anima Mystica Revista Digital respeita a livre expressão, opinião e crença de cada autor.

A Anima Mystica Revista Digital não poderá ser considerada responsável pelo conteúdo dos

artigos publicados (seja texto ou imagem) sendo essa da inteira responsabilidade dos respecti-

vos autores.

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suas publicações sendo também os responsáveis legais por todas as questões que estes le-

vantem. O Corpo Editorial da Revista não será responsável perante qualquer questão legal de-

rivada de infrações associadas aos artigos publicados.

A Anima Mystica Revista Digital compromete-se a não divulgar os nomes dos seus colabora-

dores salvo autorização dos mesmos ou, quando ocorra uma violação à Lei e nesse caso só às

autoridades competentes.

Declaração de responsabilidade legal

felicidade. As religiões encontram-se no ponto onde o sol nasce. Homens aper-

tam as mãos e as cozinhas têm mais vida. As panelas , facas, paus ... instru-

mentos dos bruxos e magos, bruxas e magas, são utilizados no dia-à-dia para

alimentar os corpos e almas.

Que a Anima Mystica Revista Digital também permita alimentar o espí-

rito para que novos começos ganhem força , vida e bons desejos ressurjam e se

espalhem por todo o Universo!

Os editores

Contactos Anima Mystica Revista Digital

Facebook: https://www.facebook.com/groups/am.revistadigital/

E-mail: [email protected]

Download gratuito dos números: http://issuu.com/am.revistadigital

Page 8: Anima Mystica Revista Digital Vol 2 No 4

8

Feri: êxtase e tradição

* Sobre o autor: Bruno Dias é mestre de Reiki no Sistema Tradicional Usui Shiki Ryoho. Estudante e praticante da

Tradição Feri há cerca de 6 anos. O autor pode ser contactado através do seu email: [email protected].

Bruno Dias*

Feri é uma tradição de bruxaria iniciática pré-gardneriana baseada num corpo de conheci-mentos transmitidos por Victor e Cora Ander-son. Victor Anderson nasceu a 1917 nos EUA, e referia ter sido iniciado num conventí-culo de bruxaria pré-gardneriana entre 1930 e 1940. Apesar da descrença de alguns que o conheciam, em relação à sua iniciação num conventículo secreto, existem dados que comprovam a mesma, sendo que recente-mente a neta de um dos iniciados deste con-ventículo entrou em contacto com alguns ini-ciados da tradição Feri.

Considerada uma tradição de índole estática, que coloca grande ênfase no desenvolvimen-to do Self e no contacto/interação com diver-sas divindades e espíritos tutelares era, por vezes, designada por Victor Anderson de “ciência devocional”. No seu conjunto de crenças e práticas podemos encontrar influ-ências de várias fontes como o Hoodoo, Vou-dou, xamanismo (principalmente o Huna), Tantra e folclore celta (especialmente o que está relacionado com a crença em fadas). Ao incorporar cada uma destas fontes na tradi-ção, Victor Anderson enfatizava sempre as semelhanças entre elas, em vez de se focar nas suas diferenças. Tanto ele como Cora eram conhecidos por tentarem destacar a he-

rança cultural dos seus alunos durante seu treino mágico na tradição. Por isso, é natural encontrar iniciados Feri com diferentes abor-dagens iniciáticas. Victor procurava sempre ir de encontro às conexões culturais de cada aluno pois defendia que a herança mágica se encontrava no sangue de cada um. O resul-tado destes ensinamentos de grande caráter dinâmico e criativo consiste num conjunto de diversas linhagens com diferentes liturgias, práticas mágicas e um vasto corpo de conhe-cimento. O nome desta tradição surgiu espontanea-mente pois Victor mencionava várias vezes aos seus alunos as tradições celtas de cren-ça nas fadas (Faery/Fairy). Inicialmente Vic-tor e Cora denominavam os seus ensinamen-tos como Arte. Posteriormente, para estabe-lecer uma separação entre a sua tradição e as restantes, passou a usar-se o nome Vicia: palavra que, segundo Cora Anderson, parti-lhava a mesma origem da palavra Wicca. Vá-rios alunos foram usando progressivamente o uso de Faery para designar a sua tradição. Por fim, este último nome foi alterado para Feri fazendo a distinção entre a tradição de Victor e as tradições ou grupos que entretan-to surgiam com denominações semelhantes (as práticas de R.J. Stewart, Kisma Stepa-nich e outras tradições de Wicca eclético). Apesar da Feri ter um considerável número de linhagens, são várias as crenças e práti-cas comuns entre elas. A crença na triplicida-de da alma humana (o ser humano é visto como possuidor de três almas, com diferen-tes características e funções), o conceito de coração negro de inocência (o estado inocen-te, selvagem e puro que o adepto Feri procu-ra atingir), ética pessoal (os iniciados Feri não seguem a Rede Wiccan: nesta tradição é dito que o iniciado tem inteira responsabilida-de pelas suas decisões e ações). Existem,

“Apesar da Feri ter um considerável

número de linhagens, são várias as

crenças e práticas comuns entre elas.

A crença na triplicidade da alma

humana, o conceito de coração negro

de inocência, ética pessoal”

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também, diversas práticas comuns a todas as tradições: o alinhamento das três almas; o uso de pentáculos, nomeadamente o de ferro e o de pérola, em trabalho meditativo/energético para desenvolvimento pessoal; Kala (prática de purificação de origem havai-ana); trabalho com as entidades titulares da tradição, entre outras. A entidade principal da Tradição Feri é a Deusa, que pode ser chamada de Quakorali-na, Sugmad ou simplesmente Deusa Estelar. É o Ser Supremo, que contém o Todo. Ela é o masculino e o feminino: “Dela todas as coi-sas nascem e a Ela todas as coisas retor-nam” [1]. Também é chamada de Virgem Ne-gra, porque é completa em si mesma e não precisou da intervenção de mais ninguém pa-ra criar o Universo.

Ligados à Deusa, estão os Gémeos Divinos, por Ela criados. Os Gémeos podem ser vis-tos como as chamas de duas velas: chamas com brilhos distintos, mas que se fundem nu-ma chama só, se ambas as velas estiverem próximas o suficiente. Na Feri este par divino é dotado de fluidez sexual podendo ser uni-camente masculino (à semelhança de algu-mas tradições que reverenciam, por exemplo, o Deus Carvalho e o Deus Azevinho), unica-mente feminino ou de ambos os sexos. Um dos gémeos toma geralmente a forma de ave, e é arauto do mundo superior, o outro assume a forma de serpente, e é represen-tante das energias ctónicas. É a interação entre estas duas divindades que gera a ener-gia que permeia o cosmos: uma interação de vaivém que pode ser vista como uma luta ou como uma relação sexual cujo êxtase vivifica o Universo. Quando unidos num só, os Gé-meos Divinos formam o deus tutelar da Feri: Melek Taus, o Deus Pavão, o Deus belo e terrível, cujo abrir das plumas representa o acordar do Iniciado para uma nova visão dele mesmo e do cosmos. É esta a divindade tu-

telar cuja bênção gera no iniciado a visão po-lissémica que este procura, representada pe-los diversos “olhos” presentes nas suas plu-mas. Sendo que a Feri é uma tradição estática, que tem o transe como prática fulcral para obtenção da Gnose, não só é natural como necessário o adepto procurar a proteção e o exemplo do Deus Pavão cujas garras estão presas no solo e as plumas apontam para o céu, representando assim o canal pelo qual a interação entre mundos é feita e a Gnose é transmitida. Existem outras divindades características da tradição que denotam a triplicidade do ser humano seja ele do sexo masculino ou femi-nino: Nimue e Dian Y Glas, Deusa e Deus associados à juventude e, em algumas linha-gens, associados à Primavera; Mari e Twr, Deusa e Deus associados à fertilidade e ao Verão; Anna e Arddhu, Deusa e Deus An-ciões, por vezes associados ao Outono. É importante referir que embora, por vezes, estas divindades sejam associadas às esta-ções e à roda do ano, a celebração desta não é vista como “obrigatória” em todas as linha-gens e que estas divindades não são vistas como meros aspetos da psique, mas como entidades vivas e reais com quem o adepto Feri interage e se relaciona. Existe outro tipo de entidades “exclusivas” da Tradição Feri: os Guardiões, também chama-dos de “senhores do espaço exterior”. Estas entidades são geralmente convocadas na cri-ação do círculo mágico para testemunhar os ritos e guardar o círculo, pois são vistos como espíritos ancestrais da tradição. São vários os iniciados Feri que estabelecem uma rela-ção entre estes guardiões e os anjos caídos referidos no livro de enoch, que trouxeram à humanidade diversas ciências e artes.

“As divindades não são vistas como

meros aspetos da psique, mas como

entidades vivas e reais com quem o

adepto Feri interage e se relaciona”

“A entidade principal da Tradição

Feri é a Deusa. É o Ser Supremo,

que contém o Todo. Ela é o masculi-

no e o feminino”

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É através destas crenças, práticas e com o apoio das divindades e entidades tutelares que o adepto Feri desenvolve a sua Gnose e poder pessoal, caminhando entre os mundos e aproximando-os quando necessário. Apesar de ser uma tradição iniciática com mistérios revelados apenas aos iniciados e de ser uma tradição que durante muito tempo permaneceu envolta em segredo, a Feri é, hoje em dia, uma tradição cada vez mais (re)conhecida sendo que as suas influências se refletem em alguns movimentos pagãos co-mo o Reclaiming e autores contemporâneos como, por exemplo, Thorn Coyle e Starhawk, ambas iniciadas na Tradição Feri. Nos seus textos é visível a poesia, êxtase, beleza e po-der que tornam tão única esta tradição.

Bibliografia/Leitura recomendada: Anderson, Cora; Fifty Years in the Feri Tradition (Acorn Guild Press; 2005). Anderson, Victor; Thorns of the Blood Rose (Acorn Guild Press; 2003) Coyle, Thorn T.; Evolutionary Witchcraft (Jeremy P. Tarcher; 2005)

Faerywolf, Storm; The Stars within the Earth (Mystic Dream Press; 2003) Howard, Michael; Children of Cain: a study of modern traditional witches. (Three Hands Press; 2011) Starhawk; A dança cósmica das feiticeiras (Nova Era; 2007) http://www.wiggage.com/witch/fericontents.html http://www.feritrad.org http://www.witchvox.com/trads/trad_ferivl.html

Nota do autor: 1. Parte de uma oração tradicional da Feri (adaptada)

Pode anunciar o seu evento, workshops, palestras, publicações

e cursos; de forma gratuita, enviando um email dirigido a:

[email protected]

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Por Eduardo Puente

O último beijo

Deusa gloriosa! O teu amor ressuscita

os mistérios maiores no homem mortal,

a chamada fecunda do falo e da vida,

a vitória perante as noites gélidas da geração.

Leva o meu nome junto ao teu na tua viagem

o submundo espera o meu canto.

Ó Deusa, minha Deusa, abre o teu seio para mim

deixa que as minhas vestes de Deus penetrem a tua obscuridade

para do Nada reconhecer o Todo.

Eu sou tu e sou ele,

eu sou também aquele, que desde o abismo

clama pelo teu perfeito e último beijo.

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12

Apresentação Marabô

MARABÔ – Formações & Eventos Culturais

MAR – Imensidão

ABÔ – Uma forma carinhosa que a maioria dos portuenses usa para chamar o avô. Home-

nagem aos “abós” deste mundo.

Situada na cidade do Porto, a Marabô – Formações & Eventos Culturais surge para dar a

conhecer às pessoas, de um modo simples e inovador, aquilo que as rodeia.

É um espaço multidisciplinar, que engloba actividades desde tertúlias de poesia a

workshops de Artes Decorativas, enfatizando a importância da Arte e da Cultura como par-

te integrante de cada um de nós.

Horário:

Segunda – 18h30 às 20h (aula de Meditação)

Terça a Sábado – das 14h às 19h

(este horário é alargado consoante os nossos eventos)

Contactos:

Morada: Rua D. Manuel II, nº 136, 1º Direito - 4050 – 343 – Porto

Telefone: 226 003 173

Telemóvel: 910 785 717

Email: [email protected]

Site: www.marabo.pt.vu

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Compreendendo Loki pela perspetiva da dualidade do Fogo

* Sobre a autora: Valquíria Valhalladur é pseudónimo de Maria Cristina Ferreira Aguiar, nascida do Porto,

e com o qual assina o seu primeiro livro “As Moradas Secretas de Odin”, publicado pela Madras Editora, em 2007, e desta forma deu conhecer os seus estudos em Mitologia Nórdica. A partir deste intróito, de-senvolveu os conhecimentos em Posturas Rúnicas (Stadhagaldr) em workshops, e acrescentou mais uma criação, desta feita, “As Máscaras da Grande Deusa”, com a chancela da Zéfiro Editora, em 2011, mas já assinado com o nome de jornalista Cristina Aguiar. A autora pode ser contactada através de seu email: [email protected]

Valquíria Valhalladur *

Tomando como ponto de partida o texto Loki e o Mistério da Criação, publicado no meu blogue [1], decidi reforçar as linhas gerais so-bre Loki, a divindade mais obscura e incom-preendida no contexto mitológico escandina-vo. As características de Loki, vistas de re-lance, pouco ou nada têm de divinas, porém, são as mais singulares e específicas do pan-teão de Asgard. Loki é uma entidade ígnea, saído do cosmo do fogo, Muspelheim, filho de uma estirpe de gigantes com um papel, ao mesmo tempo, criador e escatológico. Sendo um filho de Muspelheim é, legitimamente, um ser da manifestação da existência no grande vazio Ginnungagap. É pelo contacto do fogo sobre as massas frias de Niflheim, que se

acumulam no abismo, que se gera a vida e faz irromper os ancestrais da linhagem dos gigantes e dos deuses. Ymir, nascido dos se-dimentos na parte mais sombria e fria de Ginnungagap, é o gigante do Gelo e a perso-nificação da geada (os Hrimthurses); Au-dhumbla, a vaca-mãe, desponta da zona mais cálida, é a personificação da chuva. Dois elementos atmosféricos associados aos ciclos produtivos moldados pela pinça do fer-reiro cósmico Muspel, de cujas chispas se formaram os corpos celestes, e os gigantes protagonistas do Ragnarok, a Morte dos Deu-ses, os carrascos da ordem espiritual funda-da por Odin.

A dicotomia com Heimdall A personalidade ambígua de Loki fá-lo balan-cear entre dois poderosos valores éticos que reconhecemos como o bem e o mal, embora ache que esta designação não seja totalmen-te adequada. Loki tem, de facto, na sua idios-sincrasia algo de destrutivo, porém, essencial para desencadear processos criativos. Trata-se de uma entidade que vem desde a origem dos Mundos, de natureza ígnea, subjacente à dinâmica da cosmogonia nórdica, assim co-mo Heimdall – outra divindade ambígua e sem hierarquia em Asgard, ainda assim, ele-mento-chave no Ragnarok. Ao impor as tre-vas caóticas tão necessárias à regeneração do universo, Loki é um dos primeiros a nas-cer na Noite dos Tempos e o último a sucum-bir no derradeiro conflito no duelo com Heimdall, o brilhante, também ele uma divin-

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dade arcaica e inicial, associada ao fogo. A dicotomia entre Loki e Heimdall é fascinante e revela-nos que são facetas da mesma indi-vidualidade do elemento fogo. Um deles tem um caráter corrosivo e o outro tem um cará-ter construtivo. O equilíbrio é isto mesmo: o confronto entre o positivo e o negativo. Loki é o senhor do Caos, mas é indispensável, e exige disciplina para que se canalize a força de destruição num sentido que favoreça a criação. Heimdall é uma divindade civilizado-ra, guardiã e a tocha que ilumina o Mundo, como se fosse o mistagogo da Humanidade e dos deuses; e Loki é um Lúcifer, cujo poder tanto cega como ilumina a consciência. É es-ta sensibilidade da sua natureza intrínseca que o torna num fogo perigoso e manipulador do Ego. Caracterizado como deus infernal, ctónico, Loki é o inimigo obstinado de Heimdall, por este representar a ordem, a coerência e a estabilidade hierárquica. Este confronto per-mite o movimento circular do nascimento-morte-renascimento. Sem Loki, o mundo tor-nar-se-ia amorfo e presa fácil da inércia. Das cinzas geradas por ele, renasce um novo mundo. Loki é adversário do status quo, o Satã que desafia e escarnece Deus, e aponta-nos o caminho da revolta à obediência. "Se aquilo que se modifica lentamente se explica através da vida, o que se modifica depressa é explicado pelo fogo", como nos diz Gaston Bachelard. O Fogo é "o único fenómeno que pode aceitar as duas valorações opostas: o bem e o mal". Loki e Heimdall são divindades primevas e escatológicas. As hostilidades do Ragnarok arrancam com Loki, líder da cavalaria dos gigantes de Surt (fogo) que incineram o mun-do cósmico; é Heimdall que dá o sinal de alerta do ataque. E só após o confronto entre Loki e Heimdall, que se destroem mutuamen-te, a poeira do silêncio da aniquilação fica a aguardar pelo dilúvio revigorante. A riqueza da personalidade destas duas divindades re-força-se na capacidade de metamorfose, ex-clusiva a ambas, mas inacessível a Odin, o Deus Supremo. Como o fogo da forja que produz instrumentos, Loki e Heimdall adotam a forma de animais em enredos que envol-vam personificações solares ou corpos celes-tes. Loki planeou o assassínio de Balder, o espírito do verão, para assegurar a regulari-

dade sazonal; transfigura-se em garanhão para manter Freya em Asgard (e desta zoo-morfia nasceu Sleipnir); e luta com Heimdall por causa do colar Brisingamen (o colar de fogo-âmbar).

Agente de vida e luz Amigo e o auxiliar mais precioso dos deuses, Loki é, em simultâneo, o seu pior inimigo. Ele destrói, mas compensa as perdas com os mais belos e poderosos tesouros. Os objetos de poder de Odin, Thor e Frey são fruto das recompensas de Loki para conseguir as tré-guas pelos tumultos que causa em Asgard. O anel Draupnir, regulador do tempo e um mul-tiplicador de riqueza (a cada nove noites mul-tiplicava-se por oito), o martelo de Thor que produz os clarões da trovoada, o javali de pe-los dourados (simbologia dos raios solares), os cabelos de ouro de Sif (metáfora para os campos de trigo) atestam a qualidade de Loki como agente patrocinador de vida e luminosi-dade. Na Dinamarca o nome de Loki está as-sociado a fenómenos curiosos da luz solar; e até à canícula. Ele é o próprio fogo utilizado pelos elfos-negros e os anões, os ferreiros e artífices da cosmologia escandinava. Como companheiro de viagem de Thor, representa o fogo que resulta da ação dos relâmpagos; e junto com Odin, representa as línguas de fogo criadas pela ação do vento. Bibliografia: Bachelard, Gaston, A Psicanálise do Fogo. Litoral Edições. Dumézil, George, Loki. Flammarion Nota da autora: 1) http://cristinavalquiria.blogspot.pt/

“Amigo e o auxiliar mais precioso

dos deuses, Loki é, em simultâneo, o

seu pior inimigo. Ele destrói, mas

compensa as perdas com os mais

belos e poderosos tesouros”

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O pagão no contexto do óbito católico

Uma perspectiva pessoal

* Sobre o autor: José António Campos é Licenciado em História pela FLL da UL e pós-graduação no Ramo Educacional; Professor 3º Ciclo e Secundário; Oficiante da PFI-Portugal; membro do grupo de estudos do “Mosaico Ibérico”; Formador do “Curso Básico de Paganismo” promovido pela PFI-Portugal. Master de Reiki Essencial, Estudioso do Paganismo, Magia, Ocul-tismo e Esoterismo nas suas diversas vertentes. Estudioso da Craft.

Nota dos Editores: O artigo está escrito segundo as normas anteriores ao acordo ortográfico

José António Campos*

Não pretendo estabelecer uma qualquer pa-dronização no que diz respeito a um qualquer hipotético conjunto de “Regras-Condutas-Comportamentos” a serem adoptados pelos Pagãos, nem para abordar o tema na pers-pectiva Cerimonial–Ritualista, até porque convém não esquecer que estamos a falar de perspectivas Religiosas bem diferentes na sua essência: Paganismo vs. Catolicismo, mas tão somente dar o meu contributo para um tema respeitante a uma realidade do quo-tidiano impossível de contornar, de fugir e de evitar. E a este respeito gostaria por referir uma questão como ponto de partida : “Se o Pagão no seu quotidiano seja de lazer ou de trabalho, vive, partilha, convive, relaciona-se com uma sociedade que se diz maioritaria-mente católica, então qual a razão que o im-pede, ou compele a não estar presente num

momento tão significativo como é o da mor-te?” A resposta parece-me óbvia, o contrário da sua presença é sem dúvida um acto de descriminação ou de auto-exclusão, con-ducente à continuidade de um clima de “caça às bruxas” que marcou durante largos anos as sociedades Humanas. Para se morrer basta estar-se vivo, bas-ta ter-se nascido. Ao longo dos tempos a morte foi sendo encarada, vivida, de diferentes maneiras e formas. Desde os tempos primitivos, os nos-sos antepassados encaravam-na com respei-to e reverência, tal como nos indicam os di-versos e diferentes tipos de sepulturas que a Arqueologia nos tem revelado. Por todo o planeta desde tempos imemoriais, que nos remetem directamente, por um lado, para o sentimento da preservação do corpo do de-funto em espaço próprio, muitas vezes afas-tado da comunidade “vivente”, e por outro lado, para um sentimento de que a morte não era um ponto final, mas simplesmente uma nova etapa, o que explica a colocação de ob-jectos pessoais, objectos do quotidiano, ri-quezas e em alguns casos de alimentos, jun-to ao corpo do falecido, prolongando a exis-tência num espaço diferente do da comunida-de “vivente”, mas ainda assim significando ou querendo significar uma real “continuidade”. Partindo dos simples pressupostos an-teriores, a morte é encarada como aconteci-mento intrínseco à vida Humana e como tal acontecimento necessário e por isso natural. Ao longo dos Séculos, a Morte foi sendo encarada de várias formas, assim como tam-bém variaram as cerimónias-rituais que lhe

“Por todo o planeta desde tempos

imemoriais, que nos remetem

directamente, por um lado, para o

sentimento da preservação do corpo

do defunto em espaço próprio,

e por outro lado, para um sentimento

de que a morte não era um ponto

final, mas simplesmente uma nova

etapa”

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dizem respeito. Diferentes povos e culturas desenvolveram simples ou complexos ritos-cerimónias fúnebres, geralmente em conso-nância com cânones religiosos formais (com ou sem significado concreto para o homem comum). Cerimónias essas que revelam igualmente diferentes contextos culturais e mentais das sociedades em que se manifes-taram. Duma maneira ou de outra, o aconteci-mento Morte, desde o momento em que se verificou o “1º falecimento” deve ter despole-tado um conjunto variado de perguntas por parte dos que ficaram, onde se salienta uma questão que ainda nos dias de hoje assalta aos pensamentos de grande parte da Huma-nidade: “E agora, para onde foi?”. Se tivermos em conta as diversas cren-ças – religiões, verificamos que todas elas à sua maneira mostram um traço comum (ainda que variável quanto aos termos e sig-nificados), o defunto irá entrar num outro pla-no de existência, mostrando com isso a ma-nutenção de uma “continuidade” que varia consoante a crença religiosa que a exprime. A naturalidade do acontecimento “Morte”, parece facilmente demonstrada atra-vés de alguns exemplos que a Humanidade nos tem legado ao longo dos tempos (e que encontramos expressos ainda hoje nalgumas práticas ou costumes). Exemplos que vão desde a preparação ainda em vida dos locais a serem utilizados na sepultura, onde encon-tramos referências sobre formas, decora-ções, materiais, etc. a serem utilizados; nos testamentos redigidos em vida; nas chama-das “últimas vontades” do falecido etc., etc. Com efeito os exemplos são inúmeros, vari-ando consoante costumes, épocas, culturas, educação, riqueza, mentalidades, regiões e povos. Temos pois a morte como um aconteci-mento intrínseco à Humanidade, aconteci-mento ao qual o Homem se mostra impotente na fuga. Momento que se nos apresenta mui-tas vezes “planificado–organizado” ainda em vida. Mas apesar de tudo, um momento que deixa mágoa, tristeza, sentimento de perda aos que ficam e com quem o defunto parti-lhou a sua existência material. Na actualidade, o Pagão é confrontado com a Morte, seja de familiares directos, pais, mães, filhos, irmãos, avós, seja de fami-

liares menos próximos ou de amigos com os quais conviveram e partilharem a sua exis-tência física.

O que se pretende desenvolver de for-ma sintética aqui, não são as crenças do Pa-gão nem a sua postura face à Morte no con-texto Pagão, mas sim, algo que muitas vezes pode levantar mil e uma questões e interro-gações ao Pagão quando ele é confrontado com acontecimento da Morte no contexto Cristão e em particular no Católico. De facto muitas poderão ser as ques-tões que o Pagão irá levantar a si próprio ao ser confrontado com a morte de uma familiar directo, cuja confissão religiosa não é Pagã mas sim Católica e que está inserido numa comunidade familiar igualmente Católica. Situação fácil de resolver no caso do falecimento dizer respeito a alguém com quem poucos laços foram criados; um sim-ples “lamento imenso mas não consigo mes-mo ir...” ou “tenho muita pena mas estou com compromissos inadiáveis”, etc. • Mais complexo e problemático será quando não existe qualquer forma de “fuga” ou de contornar a situação, e é neste ponto que procuro abordar esta temática que é fru-to de reflexão pessoal sem recorrer a qual-quer pesquisa bibliográfica, assente simples-mente em aspectos da vivência prática. Comecemos por abordar a questão co-locando uma primeira situação: “Falecimento em Casa – no Domicilio”. Estamos aqui perante um contexto mui-to privado, intimista mesmo. Em que o Pagão se encontra temporariamente “livre” das pres-sões do contexto social que podem condicio-nar a sua atitude e actuação. Momento em

“Na actualidade, o Pagão é

confrontado com a Morte, seja de

familiares directos, pais, mães,

filhos, irmãos, avós, seja de

familiares menos próximos ou de

amigos com os quais conviveram e

partilharem a sua existência física.”

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que “livre” dos condicionalismos padroniza-dos, o Pagão pode e deve homenagear o seu defunto de forma Pagã, sem nunca desres-peitar a crença religiosa (Católica) do defun-to. Respeito e Tolerância são dois princípios que marcam e definem entre outros o Paga-nismo e por isso mesmo a conduta e a actua-ção do Pagão. Sendo o defunto do ponto de vista religi-oso Não Pagão e no caso concreto, Católico, isso não representa qualquer impedimento para que o Pagão perante o acontecimento, não dê o seu “contributo” para o “encaminhamento” do defunto na sua viagem em direcção a um novo estádio. Não quer isto dizer que o Pagão nesse momento “chame” qualquer tipo de Deus ou Deusa, (ou realize qualquer tipo de cerimónia) para pro-mover o encaminhamento numa direcção es-pecífica, mas nada impede, penso eu, que o Pagão solicite aos seus Deuses que tornem essa transição o mais agradável possível, removendo obstáculos, contribuindo dessa forma para um “desprendimento” das realida-des materiais que envolveram o defunto en-quanto entidade “vivente”. A criação de um ambiente-clima espiri-tual em torno do espaço em que o defunto está (domicilio) é pois, na minha perspectiva, um dos elementos fundamentais em que o Pagão pode e deve actuar sem cair no des-respeito para com as crenças que em vida o defunto manifestou ou nas quais foi educado-habituado. Aliás toda a actuação do Pagão está no patamar do seu pensamento e não na mani-festação prática de qualquer acção seja ela cerimonial ou outra.

Temos pois que a acção do Pagão é marcada fundamentalmente pelo intimismo e é realizada no interior de si próprio, tendo co-mo objectivo o de criar condições favoráveis

ao desprendimento material do defunto, situ-ação essa que de uma forma geral não colide nem desrespeita qualquer crença religiosa uma vez que todas elas mostram ter em co-mum a ideia de que a Morte significa a transi-ção para um outro espaço, dimensão não material. Actuando dessa forma, o Pagão não só não colide em crença com outros credos reli-giosos, como utilizando as suas convicções dá um contributo importante para a transição do familiar que acabou de iniciar a “viagem”.

• Questão um pouco diferente e comple-xa é a que se manifesta aquando do faleci-mento em contexto Hospitalar que envolve muitas variantes que vão desde o espaço im-pessoal e institucional que o Hospital repre-senta e apresenta, o local onde o defunto es-tá ou onde o falecimento ocorreu, o número e tipo de pessoas presentes (médicos, enfer-meiros, outros doentes, familiares, amigos, estranhos), o acesso condicionado (ou não) ao defunto, enfim um sem número de variá-veis. Independentemente das variáveis exis-tentes no momento, a acção do Pagão, pen-so, passa pelo mesmo “método” utilizado em situação domiciliária i.e em casa, embora em situação Hospitalar seja difícil contar com o intimismo e a privacidade que neste caso é na maioria das vezes, suplantada pelo colec-tivo e pelas necessidades que esse mesmo colectivo tem ou manifesta. Em situação Hospitalar, o factor “Tempo” é um elemento condicionante, com efeito a instituição tende a apressar todo o processo (necessidade de libertar o espaço para acolher nele um outro doente, para mini-mizar os possíveis efeitos psicológicos nos outros doentes e suas famílias, etc.), reduzin-do ao máximo o tempo que a família tem dis-ponível a estar com o defunto, que geralmen-te é conduzido à morgue do hospital (onde

“Toda a actuação do Pagão está no

patamar do seu pensamento e não na

manifestação prática de qualquer

acção seja ela cerimonial ou outra.”

“Respeito e Tolerância são dois

princípios que marcam e definem

entre outros o Paganismo e por isso

mesmo a conduta e a actuação do

Pagão.”

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não existe livre acesso) sendo conduzido daí pela família em direcção a uma qualquer ca-pela mortuária onde se inicia o momento do velório.

Mas mesmo perante todos os condicio-nalismos, o Pagão (mantendo o mesmo de-ver ético do Respeito e da Tolerância) pode, tal como o faz em situação mais intimista que caracteriza o Domicilio, contribuir para o des-prendimento material do falecido, contando e solicitando a ajuda dos seus Deuses, de for-ma que a fase de transição seja amenizada, até porque a grande maioria dos óbitos acon-tecidos em situação hospitalar são resultan-tes de situações onde os acidentes dos mais diferentes tipos estão na sua origem e por isso mesmo envolvem situações traumáticas quer para quem parte quer para quem fica e por isso mesmo o Pagão deve ter uma parti-cular atenção a estes aspectos (claro que muitos óbitos que se registam nos domicílios são resultado de acidentes mas provavel-mente o seu número e incidência será me-nor). Procurando o auxilio e o conforto que os seus Deuses lhe podem dar, assim como, alargando todo esse clima de paz e de con-forto a todos os que se encontram presentes criando na medida do possível um espaço harmónico. Este último aspecto parece-me ser de importância fundamental no contexto Hospi-talar, uma vez uma vez que família e restan-tes presentes não estão no mesmo espaço em que o defunto está, mas sim num outro espaço físico muito provavelmente rodeados por outras famílias em idêntica situação. É neste contexto que os primeiros sinais-indicios de “pressão religiosa” se podem ma-nifestar, pois a actuação do Pagão e a forma como ele assume e lida com o acontecimento

Morte é diferente da padronizada pela tradi-ção-hábito popular católico, que encontra nos choros, nas faces sérias e graves e em ex-pressões padronizadas, algumas das suas marcas identificadoras. A postura-actuação do Pagão não pas-sa pelo esconder ou reprimir os seus senti-mentos, emoções e crenças, bem pelo con-trário. Ao fazê-lo, o Pagão estaria a compac-tuar com todo um conjunto de situações que nenhum significado têm para ele, estando ao mesmo tempo a cair numa situação de real cinismo. Sem esconder, mas sem desrespeitar, o Pagão age em conformidade com as suas crenças, convicções e princípios sem nunca as secundarizar ou diminuir face às outras porque elas são tão ou mais válidas do que elas, mas também sem cair no vulgar: “quero lá saber... não acredito em nada disso”, subs-tituindo-o caso seja necessário expressar a sua opinião pelo cordial e não provocativo: “...não faz parte das minhas convicções” ou pelo “a minha religião não é essa, mas res-peito que a tem”, ou ainda pelo muito usual e conveniente: “este não é o local nem o mo-mento...podemos falar sobre isso depois, se quiser”. Geralmente, e salvo algumas situações muito particulares, os óbitos não são momen-tos propícios a discussões de âmbito religio-so, embora isso se verifique muitas vezes no pós-acontecimento que ultrapassa o âmbito do tratamento do presente tema. • O Óbito Católico seja em contexto Do-miciliário, Hospitalar ou outro, é habitualmen-te seguido (após cumprimento das formalida-des legais em vigor) pelo denominado Veló-rio. Momento em que familiares directos ou não, amigos, conhecidos e suas famílias se deslocam à capela mortuária onde repousa o corpo do defunto, e apresentam os “pêsames”-condolências à família directa do defunto, prestando-lhe uma das derradeiras homenagens. Este é um dos momentos em que o Pa-gão sente mais a pressão. Não só uma pres-são que diz respeito directamente às suas crenças e convicções religiosas mas também aquelas que resultam de um conjunto de cir-cunstâncias que habitualmente ocorrem du-rante todo o tempo que marca o período do Velório. A postura, as atitudes, as acções que

“O Pagão age em conformidade com

as suas crenças, convicções e

princípios sem nunca as

secundarizar ou diminuir face às

outras porque elas são tão ou mais

válidas do que elas”

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rodeiam este momento, provocam no Pagão uma mistura de sentimentos não só contradi-tórios, mas também dissonantes face às prá-ticas habituais nestas ocasiões. Frases fei-tas, clichés do tipo “coitado”, “coitado é de quem fica”, “era tão boa pessoa...”, “os bons é que vão e ficam cá todos os maus”, “coitado, mas vai para um lugar melhor”, etc. são despejadas de uma forma ininterrupta sobre quem escuta, como se se tratassem de um qualquer tipo de mantra, muitas vezes proferido só porque as circunstâncias o de-terminam e sem qualquer real significado apreendido por quem as profere. Estas e ou-tras frases despertam no Pagão um conjunto de reacções dissonantes das circunstancias e o melhor a fazer é uma “retirada estratégica temporária” para fora do espaço, restabele-cendo o equilíbrio já abalado pelo aconteci-mento do óbito e agora agravado pelo que se vai ouvindo, (note-se no entanto que todas estas frases têm algo em comum e não tra-duzem muitas vezes a apreensão do que sig-nificam, elas não são mais do que uma forma pré-determinada de o outro mostrar ou que-rer solidarizar-se com os familiares, e por is-so o seu significado e importância não deve ser entendido de uma forma mais desenvolvi-da). É obvio que é no momento do velório que mais se evidencia a postura e a atitude do Pagão, que se deve pautar pela cordiali-dade, pelo respeito e pela tolerância, mas sem nunca deixar de ser aquilo que é, que é o que o distingue da padronização. Este é também o momento em que o Pagão sente sobre si os olhos “inquisitoriais” de todos aqueles que sabem ou desconfiam que ele não partilha da mesma crença religio-sa. E a inevitável questão do “ele(a) não é Católico, é Pagão, tem vários Deuses, Não acredita em ‘Deus Pai’....o que é que está aqui a fazer??”. Penso que a forma mais cor-recta de lidar com esta situação é encará-la com naturalidade, até porque a questão só se coloca em principio no plano da sensibili-dade e por isso não existe uma verbalização directa, ainda que muitas vezes se traduza no plano das atitudes onde quem manifesta a “discordância” crítica se afaste do espaço on-de o Pagão se encontra e procure evitar a sua proximidade, e em que o Pagão não dará nenhum tipo de resposta, pois não só não será entendido, como a sua atitude poderá

ser vista-entendida como atitude provocató-ria. Ignorar e seguir em frente poderá ser a melhor reacção. Usualmente nas Cerimónias Católicas referentes aos Óbitos, o Velório culmina ou é complementado na sua fase final com uma Cerimónia Católica: a Missa. No que diz respeito a este momento, estamos perante uma fase que do ponto de vista emocional e de sensibilidade pode con-frontar o Pagão com um conjunto muito varia-do de pressões, sejam internas (as que di-zem respeito às suas convicções), sejam ex-ternas (as que os outros visualizam e se apercebem).

Primeiro porque apesar do conceito de “Missa” poder remeter, na sua origem, para um conceito que não é estranho ao Pagão: Cerimónia enquanto Ritual Religioso, ela as-sume um conjunto variado de características que lhe são estranhas, por um lado, e um conjunto de factores contrários ao Paganis-mo, por outro lado. A situação não se foca unicamente em questões filosóficas e este não é o tempo nem o lugar para as tratar, mas passa tam-bém pela questão prática que muitos mo-mentos da Cerimónia Católica encerra. Com efeito, nela encontramos múltiplos momentos em que os crentes católicos, verbalizam um conjunto de afirmações, preces em colectivo, que fazem parte intrínseca da cerimónia da Missa Católica. Sendo este um momento de grande pressão para o Pagão, e na sua men-te surge a inevitável questão: “E agora o que é que eu faço?”; “Imito?”, ”Finjo?”, “Fico cala-do(a)?”, “Vou-me embora?”, etc., etc. Como no inicio afirmei, o Pagão no seu quotidiano está inserido numa sociedade de raíz Judaico-Cristã, onde o Catolicismo pre-domina (pelo menos do ponto de vista numé-rico, porque se olharmos em termos de práti-

“Usualmente nas Cerimónias

Católicas referentes aos Óbitos, o

Velório culmina ou é complementado

na sua fase final com uma Cerimónia

Católica: a Missa”

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ca real e assumida, o número com toda a certeza decresce), e não é por isso que o Pa-gão deixa de viver, trabalhar, conviver com não Pagãos. Partindo deste facto concreto, fica resol-vida à partida uma das questões anteriores a da saída da Cerimónia. Não existindo razão válida que obrigue ou impeça o Pagão de es-tar presente, ele deverá manter-se presente, ainda para mais tratando-se do óbito de um familiar directo (pai, mãe, filho(a), neto(a)); aliás o não estar presente poderá ainda “agravar” o sentido crítico por parte de todos quantos se apercebem da sua ausência ou saída, fazendo recair sobre o Pagão todo o tipo de anátemas. Pessoalmente, penso que a “pior” esco-lha perante as hipóteses atrás enunciadas é a do fingir, imitando o que os outros nos vari-ados momentos da cerimónia católica fazem ou dizem, isso na minha perspectiva, não passa só por desrespeitar a crença que o Pa-gão diz que tem, como é um factor de abso-luto desrespeito para com a outra confissão religiosa e até para com o defunto e a crença religiosa que em vida ele assumia. Como em tudo, o Pagão deve ser coe-rente com aquilo em que acredita respeitan-do os princípios éticos subjacentes à sua Crença Religiosa. Resta-nos a opção do “ficar calado”. Es-ta opção apesar de não estar isenta de “riscos” (críticas, desaprovação directa ou indirecta, etc.) parece-me ser a mais correc-ta. Ela não pode nem é entendida como fac-tor desrespeitador, nem coloca em causa os princípios – ética religiosa do Pagão. Este continua presente na cerimónia e dessa for-ma continua a honrar e a respeitar o defunto, revelando tolerância, aceitação do que é dife-rente. (aliás até pode ser entendida pelos ou-tros como uma mensagem clara de alguns dos princípios básicos do Paganismo, o que é sempre favorável à “Causa”). Esta solução é igualmente a mais con-fortável (na medida do possível) emocional-mente para o Pagão, uma vez que ao mesmo tempo que marca a sua diferenciação não o enreda em “problemas” de consciência do tipo: “estou a trair as minhas convicções, e agora o que faço?!”. Pessoalmente não acre-dito que os Deuses fiquem desagradados pa-ra com o adorador devido ao facto de ele es-

tar presente num espaço e numa cerimónia-ritual que lhe é contrária, os Deuses e Deu-sas (penso eu) têm coisas mais importantes para se preocuparem, e dúvido que o Pagão vá sofrer a ira dos Deuses, tal como aconte-ce entre a convicção Católica na qual encon-tramos múltiplos e permanentes exemplos e avisos da ira divina a recair sobre os crentes que “infringem” seja que por motivo for os seus dogmas e cânones.

É chegado agora o momento “final” que marca o óbito, o momento do Funeral propri-amente dito. Este pode-se revestir na actuali-dade de duas formas: Deposição do corpo na terra (enterramento) ou o da Cremação. Sem esquecer uma terceira forma talvez menos usual na actualidade devido aos custos eco-nómicos que ela implica que é o da deposi-ção do corpo num Jazigo Familiar. Embora na actualidade a prática da Cremação esteja a ganhar significativamente terreno face à forma tradicional, que se tra-duz em se enterrar o corpo no solo, esta últi-ma ainda se apresenta como a prática mais comum (basta olhar para o número de cam-pas novas que todos os dias são abertas, ou para os sucessivos alargamentos que os ce-mitérios vão sofrendo em termos territoriais). Quando olhamos para o passado lon-gínquo e percorremos os séculos até aos nossos dias, vemos que a forma de enterro

“Como em tudo, o Pagão deve ser

coerente com aquilo em que acredita

respeitando os princípios éticos

subjacentes à sua Crença Religiosa”

“Não acredito que os Deuses fiquem

desagradados para com o adorador

devido ao facto de ele estar presente

num espaço e numa cerimónia-ritual

que lhe é contrária”

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dos defuntos variou consoante as regiões, povos, culturas, mentalidades, objectivos, sensibilidades, tradições, hábitos e a que po-demos juntar um factor um tanto desviante mas que é explicável na actualidade pelo “modismo”, sem esquecer as questões de ordem económica que na actualidade têm grande relevância, basta estar-se atento à evolução que o preço dos terrenos tem regis-tado. E é claro, questões que segundo al-guns se relacionam com preocupações de salubridade e de higiene pública.

Muitas foram as formas, tipos e méto-dos que os vivos escolheram para colocarem os seus entes queridos na sua “última mora-da”. Sepultamentos simples ou mais elabora-dos nos solos, construções funerárias espe-cíficas que vão desde as Antas e Dolmens, passando por Necrópoles, pelas Pirâmides no Egipto Taj Mahal na India, os Mausoléus Familiares, os Panteões Nacionais, a Crema-ção simples, cujas cinzas do defunto são es-palhadas em locais específicos conforme de-sejo expresso pelo falecido ainda em vida (sempre que seja possível realiza-lo nesse local), ou determinado pelos preceitos religio-sos que a sua crença determina , como ainda hoje acontece na Índia, onde as cinzas são lançadas ao Rio Ganges, considerado sagra-do na crença Hindu, ou então guardadas em “pequenos contentores” e transportadas pela família para o domicilio-residência, etc., etc. Uma das primeiras questões que se co-locam logo quando se verifica o óbito é a: “Que se vai fazer com o corpo?”, i.e. a esco-lha da forma e da maneira como o acto fúne-bre deve terminar. Esta decisão passa por uma decisão familiar, não de algo do tipo de conselho familiar alargado, mas sim pelos que se relacionaram directa e intimamente no quotidiano com o defunto; uma decisão toma-da de forma consciente e ponderada, procu-rando acima de tudo não ferir sensibilidades e convicções e de acordo com a vontade ex-

pressa pelo defunto quando vivo. Pessoalmente penso que, seja qual for a forma, método escolhido, o importante é que ele esteja de acordo com a vontade que provavelmente o defunto terá expressado en-quanto vivo, respeitando as suas crenças e o seu pensamento, independentemente das convicções e vontades pessoais de qualquer familiar. Muitas vezes a colocação do corpo no solo tem a ver com o desejo dos vivos em prolongar a presença do defunto no espaço físico concreto, atribuindo-lhe um espaço pri-vado, procurando com isso encontrar algum conforto pessoal que se traduz nas “visitas” posteriores realizadas aos cemitérios, seja em momentos específicos seja quando sen-tem necessidade. Com efeito, a Cremação, nesta perspectiva torna esse prolongamento visual-físico difícil, e na actualidade algo im-possível, tendo em conta que na actualidade as cinzas dos defuntos já não são colocadas isoladamente, mas em colectivo, o que mui-tas vezes nos leva a afirmações que se tra-duzem na expressão da existência de uma espécie de “vala comum”, tal como é habitual quando as famílias não têm capacidade eco-nómica para proceder ao aluguer de espaço privado para depositar o falecido e muitas vezes para preservar as ossadas nas chama-das “gavetas” (versão económica dos jazigos familiares).

De facto, na actualidade as cinzas são lançadas em enormes espaços cavados no solo caindo umas sobre as outras, podendo esse factor despoletar na família algum des-conforto emocional independentemente de crenças e convicções religiosas.

Quase a terminar esta pequena “viagem” temática, um outro assunto gostaria de abordar, ainda que não de forma exausti-va e aprofundada. Trata-se de um assunto

“Muitas foram as formas, tipos e

métodos que os vivos escolheram

para colocarem os seus entes

queridos na sua ‘última morada’.”

“Muitas vezes a colocação do corpo

no solo tem a ver com o desejo dos

vivos em prolongar a presença do

defunto no espaço físico concreto”

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que se assume como sendo transversal as todas as diferentes fases aqui abordadas no âmbito do Pagão no contexto do Óbito Católi-co-Cristão: a utilização (visível) de símbolos e outros acessórios conotados com o Paga-nismo, independentemente dos seus signifi-cados especificos, individuais e suas ligações identificativas. Este é um dos aspectos que mais situa-ções de “risco” pode apresentar, até porque o seu entendimento por parte da generalidade da população é, na sua grande maioria erró-nea e desprovido de sentido real que advém da falta de conhecimentos específicos sobre a realidade Pagã e, muitas vezes influencia-dos por ideias preconcebidas, padronizadas e irreais, que na grande maioria das vezes encerram em si objectivos depreciativos. Muitos Pagãos têm o hábito de se faze-rem acompanhar no seu quotidiano, com um conjunto de símbolos que em principio os re-lacionam e identificam com uma determinada crença e convicções religiosas. Símbolos es-ses que são de diferentes tipos, desde os mais simples e usuais, tais como anéis, pen-dentes, pins, colantes, bordados, até aos me-nos usuais (mas permanentes e definitivos) como as tatuagens; sem esquecer um outro conjunto por vezes menos óbvio a quem ob-serva, tal como o que diz respeito ao vestuá-rio.

Qualquer que seja o tipo utilizado, pen-so que é completamente legítimo o seu uso em qualquer contexto desde que não esteja em causa o sentido provocativo da sua utili-zação, relembremos que Paganismo pressu-põe tolerância e respeito, tal como o é por parte dos Católicos ao usarem os seus sím-bolos religiosos. E seria um completo absur-do e mesmo do ponto de vista legal e consti-tucional uma descriminação, proibir, impedir a sua utilização; da mesma forma que não

exijo que um Católico esconda ou não use, por exemplo, o símbolo do “Cristo pregado numa cruz” que tem pendurado ao pescoço, também não posso admitir em nenhuma cir-cunstância que um qualquer Católico queira que eu esconda, ou não use o Pentagrama que tenho pendurado no fio que uso. O uso dos símbolos sempre foi uma re-alidade presente em qualquer sociedade Hu-mana em qualquer época desde que a Hu-manidade surgiu no planeta, ele é um refe-rencial, uma marca, algo que faz parte intrín-seca da forma como o Homem está e encara o mundo que o rodeia. Para além de ser en-tendido como elemento identificativo, o sím-bolo do ponto de vista psicológico e religioso, funciona, entre vários outros aspectos, como uma espécie de “ponto de refúgio”, um ele-mento de conforto ao qual o portador recorre sempre que necessita. Claro que em determinados contextos-situações, o símbolo pode despoletar umas vezes e, potenciar, outras vezes, situações menos agradáveis que nunca se sabe como acabam, mas a submissão á vontade do ou-tro interferindo com o livre direito de expres-são é algo que o Pagão consciente também deve ter em conta. Assim, compete a cada Pagão estar atento, pesar os prós e os con-tras tendo em conta as circunstâncias e o ti-po de pessoas envolvidas e, tomar de forma consciente a decisão que acha ser a correc-ta. Muitos outros aspectos podiam e se ca-lhar deviam ter sido abordados, uns mais simples outros cuja abordagem e tratamento é mais complexa (um exemplo: um casal de Pagãos em que um dos dois, ou os dois, es-tão inseridos num contexto familiar tradicional católico e Praticante, em que a família man-tém laços permanentes no quotidiano, um deles falece....que fazer? quais as implica-ções do ponto de vista familiar? quais as re-percussões para quem fica? como suportar a pressão?), mas esta presente abordagem é somente uma primeira parte, pois o tema não se esgota na questão dos Óbitos, uma vez que no Catolicismo encontramos um imenso manancial de Cerimónias que não dizendo respeito de forma directa ao Pagão, pelas suas características implicam a presença in loco do Pagão.

“O uso dos símbolos sempre foi uma

realidade presente em qualquer

sociedade Humana em qualquer

época desde que a Humanidade

surgiu no planeta”

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O QUE É? O Babyoga é um conceito que nasceu em Portugal em 2006, introduzido pela Escola de Babyoga Portu-gal. A Escola dedica-se inteiramente à prática de yo-ga com bebés e crianças visando o seu desenvolvi-mento integral e holístico. Tendo como missão aju-dar a gerar um novo mundo com a partilha de amor, compreensão, respeito e muita diversão. A prática de Babyoga vai dos 0 aos 4 anos e a prática de Funyoga dos 5 aos 12 anos. A crescente recetividade e procura por parte dos pais e das escolas têm revelado uma abertura e to-mada de consciência muito im-portantes acerca dos benefí-cios da prática de yoga desde a 1ª infância. A prática de Babyoga resulta de uma mistura entre a adap-tação de posturas do Yoga clás-sico, nomeadamente o Hatha Yoga, com outras posturas de-senvolvidas especificamente para estimular uma melhor in-tegração sensorial do bebé. Ao utilizar o método Kirtan (praticar a cantar) permite: - maior desenvolvimento cognitivo (o cantar envolve mais centros linguísticos que a palavra); - estabelecer o tempo dos movimentos; - repetição e previsão (que se traduz em confiança); - despertar a nossa criança interior ao permitimo-nos brincar (criatividade); - transmitir felicidade e alegria (expressão pelo mo-vimento) e - comunicar respeito. O Babyoga promove um estímulo multissensorial nos bebés ao associar o toque, movimento, som e contato visual na mesma atividade. Tornando-a nu-ma experiência rica na partilha do dar e receber en-tre pais e bebés sendo também uma excelente for-ma de ajudar a equilibrar o tempo que atualmente os bebés passam nas cadeiras (ovos), nos carros, parques ou andarilhos.

É uma prática em conjunto entre pais e be-bés. As aulas centram-se essencialmente no desenvolvimento psicomotor das crianças e no desenvolvimento de um vínculo afetivo profundo. Os pais descobrem novas formas

de estimular o desenvolvimento físico, social e emo-cional da criança construindo desde a primeira in-fância vínculos afetivos sólidos. O Babyoga surge como uma prática que visa ser re-gular e continua para que se consiga uma melhor interiorização dos benefícios para pais e bebés. Rea-liza-se entre pais e filhos ou também em escolas po-dendo ser vivenciada através de aulas regulares, workshops ou eventos. Benefícios para o bebé da prática de Babyoga: - Sono de maior qualidade;

- Melhora a digestão - Alivia as dores das cólicas; - Reduz a inquietação/irritação - Ajuda o desenvolvimento neuro-muscular - Aumenta a autoconfiança e au-toestima - Fortalece o sistema imunitário - Ajuda a uma vivência das emo-ções mais normalizada - Aumenta a consciência corporal - Contribui para o natural desen-volvimento dos movimentos des-de a nascença ao andar - Aumenta a concentração

- Promove uma atividade física estruturada e intencional. Benefícios para os pais: - Construção de um vínculo afetivo profundo; - Aprender a acalmar o bebé; - Ajuda a adquirir confiança; - Reduz stress e ansiedade - Aprender técnicas de meditação - Momentos especiais de dedicação ao bebé.

Foto e textos retirados de

http://www.babyogaportugal.com/ com autorização.

Escola Babyoga Portugal - Profª. Sónia Sousa Contatos: [email protected]

Tlm 916381764

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Comunicações e Eventos:

Informação facilitada por Casa do Fauno Para mais detalhes consulte o site: http://casadofauno.wordpress.com/

© 2013, Zéfiro - Edições e Actividades Culturais | Casa do Fauno | Ishtar - Artes Mágicas

Eventos da “Casa do Fauno”

EM JANEIRO (2014)

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Bruxaria Tradicional versus Wicca

* Sobre o autor: Ricardo Vieira é membro do Conselho de Bruxaria Tradicional. Brasil.

http://www.bruxariatradicional.com.br

Ricardo Vieira*

E eis mais um entre a gama de artigos incon-táveis que falam sobre diferenças entre estas formas de religiosidade tão confundidas na atualidade, no mundo virtual em especial, ve-mos alguns vídeos que mais desinformam do que passam uma informação clara sobre o tema, sempre mais do mesmo em conteúdos que são apenas replicados, e obviamente, se existe tamanha quantidade de artigos, pode-ríamos multiplicar esta questão por uma legi-ão de pessoas que perguntam, pois tudo o que chega a elas são opiniões, muitas vezes levianas, sobre cada um desses caminhos. O primeiro ponto a se levar em conta é que a língua portuguesa tem um leque diversificado de palavras, muitas possuem múltiplos sentidos, outras ad-vêm de traduções muito superficiais e a outra demanda vem da necessida-de das pessoas in-ventarem significa-dos novos para anti-gas palavras. Um segundo agra-vante é uma falta completa de defini-ção de algumas “tribos” quanto ao que seguem efetivamente, ao jargão comum, e um reconhecimento pleno de que X é X e Y é Y dentro de um caminho espiritual e há di-ferenciações muito claras entre estes cami-nhos. Confuso? Muito, mas neste artigo vamos elu-cidar os principais aspectos para você que esta chegando ao mundo alternativo de religi-ões, não que elas sejam propriamente novas, é pelo motivo que não são incorporadas de

igual forma a outras de base, por exemplo, cristã. Esqueça-se de tudo o que viu e escutou so-bre bruxaria, dos vídeos com morcegos, cal-deirões e jogadores de tarô, feitiços e fases da lua, esse é o momento de refletir com aprofundamento nos conceitos e o primeiro deles tem como ponto de partida o funda-mento religioso, e para não virar um curso de bacharelado, vamos começar a falar sobre fundamento religioso, para quem não sabe é a base de onde se derivam as religiões: Vamos citar o Cristianismo (fundamento): Ca-tolicismo e as demais igrejas protestantes

(religiões) Paganis-mo (fundamento): Bruxaria, Romuva, Candomblé, diver-sas crenças nativas (religiões). Dentro da questão do fundamento reli-gioso, o Paganismo antigo chega aos dias de hoje como o Paganismo Tradici-onalista, por conta da necessidade de

preservação e por também se desvincular de outro fundamento advindo da contra cultura do cristianismo, o Neo Paganismo. Portanto a Bruxaria advinda do Paganismo Tradicionalista, chamamos de Bruxaria Tradi-cional, e a Wicca advém do conceito Neo-Paganismo. A Wicca tem sua religiosidade nascida em solo britânico, portanto o termo Witchcraft

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(Witch=bruxo e craft=arte) pode além de ser traduzido para o contexto de bruxaria é tam-bém utilizado para feitiçaria, e ai meus caros leitores é onde a porca torce o rabo, e por qual motivo? Tendo o mesmo rótulo e uma diversidade de significados, o termo pode descrever as práticas feiticeiras de qualquer caminho, até mesmo do cristão (feitiçaria cristã ou em inglês Christian witchcraft), por isso alguns pensadores colocam a Wicca co-mo uma colcha de retalhos feiticeira, pois ela absorveu as diversas seitas inclusive, segun-do alguns, até da Bruxaria.

Gostamos muito da definição de uma institui-ção wicanna brasileira que seguramente hoje é a associação que mais representa os wic-canos em excelência por estas terras e ela cita a seguinte frase: “A Wicca é uma religião neopagã, mítica, po-liteísta, iniciática, de culto dualista e orienta-ção matrifocal.” De igual forma nós do CBT (Conselho de Bruxaria Tradicional) definimos para os que seguem com base em nossas premissas a seguinte definição: “A Bruxaria Tradicional é uma religião pagã (no sentido etimológico), ancestral, nativa, de culto politeísta, iniciática e hierárquica.” E com relação à data de fundação? A Wicca nasce no final da década de 50 por Gerald Gardner, já a Bruxaria Tradicional é uma reli-giosidade que nasce de um processo de tran-sição de uma estrutura familiar e campesina

(Bruxaria Familiar) para uma estruturação iniciática existente nas diversas Ordens Ini-ciáticas. Publicidade que o leitor deve refletir: A Bruxaria Tradicional é a Antiga Religião - Não, a Bruxaria Tradicional é uma das Anti-gas Religiões, e elas existem aos cachos! Traditional Witchcraft = Bruxaria Tradicional - Vamos traduzir corretamente Traditional Witchcraft = Ordem Iniciática Feiticeira, e existem diversas, sendo que a Bruxaria Tra-dicional é uma delas. Wicca = Bruxaria Moderna - O nome chama atenção, mas a tradução mais fidedigna seria algo como Ordem Iniciá-tica de Feitiçaria da Era Moderna, mas o ter-mo pegou tão fortemente no Brasil que have-ria comoção publica para quem ousar falar o contrário. Bruxaria = bruxariaS - Não preciso dizer que o rótulo a partir da idade média foi se depreciando até designar perante religiões cristãs como uma prática de malfazejo, mas do mesmo modo que eu não faço luteranismos (Igreja Luterana) por ai, eu também não faço bruxarias, parece obvio ob-servando por este lado... Acredito que estas informações já poderiam lhe dar discernimento sobre cada caminho, mas caso tenha dúvidas, segue mais uma link de outro artigo e caso queira conhecer na prática entre em nosso canal de eventos e participe! Nada melhor que a vivência.

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