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i UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO FACULDADE DE LETRAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LINGUÍSTICA CRISTIANE RAMOS DE SOUZA ANIMACIDADE E PAPÉIS TEMÁTICOS: um estudo experimental RIO DE JANEIRO Fevereiro de 2015

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i

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO FACULDADE DE LETRAS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LINGUÍSTICA

CRISTIANE RAMOS DE SOUZA

ANIMACIDADE E PAPÉIS TEMÁTICOS: um estudo experimental

RIO DE JANEIRO

Fevereiro de 2015

ii

Cristiane Ramos de Souza

ANIMACIDADE E PAPÉIS TEMÁTICOS: um estudo experimental

Dissertação de Mestrado submetida ao Programa de Pós-Graduação em Linguística da Universidade Federal do Rio de Janeiro como quesito para a obtenção do Título de Mestre em Linguística. Orientadora: Professora Doutora Aleria Cavalcante Lage

Rio de Janeiro

Fevereiro de 2015

iii

Souza, Cristiane Ramos Animacidade E Papéis Temáticos: um estudo experimental/ Cristiane

Ramos de Souza – Rio de Janeiro, 2015.

xiv, 71 f: il. Dissertação de Mestrado em Linguística – Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, Faculdade de Letras – Programa de Pós-Graduação em Linguística, 2015. Orientadora: Aleria Cavalcante Lage 1. Gramática Gerativa. 2. animacidade 3.– papéis temáticos. Dissertações. I. Lage,Aleria Cavalcante (Orient.). II. Universidade Federal do Rio de Janeiro. Faculdade de Letras. Programa de Pós-Graduação em Linguística. III. Animacidade e Papéis Temáticos: um estudo experimental.

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ANIMACIDADE E PAPÉIS TEMÁTICOS: um estudo experimental Cristiane Ramos de Souza

Orientadora: Professora Doutora Aleria Cavalcante Lage

Dissertação de Mestrado submetida ao Programa de Pós-Graduação em Linguística da Universidade Federal do Rio de Janeiro como quesito para a obtenção do Título de Mestre em Linguística Examinada por:

___________________________________________________

Presidente, Professora Doutora Aleria Cavalcante Lage Universidade Federal do Rio de Janeiro

___________________________________________________

Professora Doutora Erica dos Santos Rodrigues Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro

___________________________________________________

Professor Doutor Marcus Antonio Rezende Maia Universidade Federal do Rio de Janeiro

___________________________________________________

Professor Doutor Humberto Peixoto Menezes, Suplente Universidade Federal do Rio de Janeiro

___________________________________________________

Professora DoutoraMaria Marcia Damaso Vieira, Suplente Universidade Federal do Rio de Janeiro

Rio de Janeiro

23 de fevereiro de 2015

v

Ao meu esposo: Rodrigo, meus pais, meu irmão e

avós.

vi

AGRADECIMENTOS

Não tenho palavras para expressar tamanha gratidão a todos que de alguma forma me

ajudaram nesta empreitada. Agradeço primeiramente a Deus pela força e coragem e aMaria

Santíssima pela proteção maternal.

Ao meu esposo mais que querido: Rodrigo Souza da Silva, meu amor e companheiro,

por toda paciência, dedicação e apoio nas horas difíceis dessa jornada. Aos meus familiares:

meus pais Jânio e Mariângela, que mesmo na simplicidade sempre me acolheram e ajudaram

a vencer. Meu irmão amado, pelo carinho, e aos meus avós, Marlene e João (in memoriam),

que sempre apoiaram meus estudos.

Agradeço também a todos os meus amigos pela paciência e aos meus colegas de

estudo e caminhada que muito ajudaram no meu crescimento. Especialmente à Kalyne Alves

Melo da Silva e à Nathacia Lucena Ribeiro que tanto me ajudaram nesta reta final.

Faço aqui o meu agradecimento especial aos professores do Curso de Mestrado que

tanto contribuíram para o meu crescimento acadêmico. E Professoras Aniela e Juliana,

também muito obrigada. E o meu agradecimento especial à Professora, orientadora, amiga, de

todas as horas, Aleria Cavalcante Lage. Professora, muito obrigada pela força e dedicação,

palavras de conselho e carinho quando eu mais precisava. A todos muito obrigada!

vii

RESUMO

SOUZA, Cristiane Ramos. Animacidade e Papéis Temáticos: um estudo experimental. Rio

de Janeiro, 2015. Dissertação de Mestrado em Linguística, Faculdade de Letras, Universidade

Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2015.

Considerando a relação sintático-semântica estabelecida entre um verbo, seus

argumentos e os papéis temáticos que o verbo lhes atribui, esta pesquisa tem o objetivo de

investigar os papéis temáticos de Agente, Paciente e Experienciador e a animacidade dos DPs

com função sintática de sujeito. Com base na Gramática Gerativa (Chomsky, 1957-atual),

abordam-se também computação linguística, estrutura argumental, teoria temática e léxico.

Neste sentido, é por meio de um experimento psicolinguístico online de processamento de

sentenças, com verbos transitivos e intransitivos, também incoativos, que se estuda a

hierarquia temática dos DPs-sujeito.Os resultados apontam, sim, para uma hierarquia dos

papéis temáticos e para a confirmação do postulado bottom-up na computação linguística. (Cf.

LAGE, 2005a, 2005b; LAGE et al., 2008, entre outros).

Para que a visibilidade da hierarquia temática aconteça, é necessário que o

processamento da sentença chegue ao final, pois só com a concatenação do verbo com seu

argumento interno (first merge), e a concatenação de v` com o possível argumento externo

(second merge), se conhecem os papéis temáticos atribuídos aos argumentos. O papel

temático, portanto, é essencial para se distinguirem os argumentos e suas respectivas funções

sintáticas. No entanto, isso não faz o papel temático ser destinado unicamente a uma posição

argumental. São as relações estabelecidas entre verbo e seus argumentos que determinam o

papel temático sendo projetada na sintaxe uma função a ele atribuída. E é justamente na

relação entre sintaxe e semântica que a hierarquia temática é estabelecida.

Palavras-chave: Animacidade; papéis temáticos; Gramática Gerativa;

Psicolinguística;Processamento de Sentença; verbos incoativos; bottom-up.

Rio de Janeiro

Fevereiro de 2015

viii

ABSTRACT

SOUZA, Cristiane Ramo. Animacidade e Papeis Temáticos: um estudo experimental. Rio

de Janeiro, 2015. Dissertação de Mestrado em Linguística, Faculdade de Letras, Universidade

Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2015.

Considering the syntactic-semantic relation between a verb, its arguments, and the

thematic roles that the verb establishes to them, this research aims to investigate the Theta

roles for DPs with a subject syntactic function. Based on Generative Grammar (Chomsky,

1957-present), it also addresses linguistic computation, argument structure, thematic theory,

and lexicon. Thus, it is through an online psycholinguistic experiment in sentence processing,

with transitive and intransitive verbs, also inchoative verbs, that the thematic hierarchy of

DPs-subject is studied. The results indicate a hierarchy of thematic roles and a confirmation of

the bottom-up principle in language computation as well. (Verify LAGE, 2005a, 2005b;

LAGE et al., 2008, between others).

In order to make the thematic hierarchy visible, it is necessary that the sentence

processing ends, because only with the merge of the verb with its internal argument (first

merge), and the merge of v` with the possible external argument (second merge), we can

know the thematic roles assigned to the arguments. Therefore, the thematic role is essential to

distinguish the arguments and their respective syntactic functions. However, this does not

make a thematic role exclusive to one argument position. Indeed, the relations between verb

and its arguments determine the thematic role, and the function it receives is projected in the

syntax. And it is precisely in the relation between syntax and semantics that the thematic

hierarchy is established.

Keywords: Animacy; thematic roles; Generative Grammar; Psycholinguistics; Sentence

Processing; inchoative verbs; bottom-up.

Rio de Janeiro

Fevereiro de 2015

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LISTA DE FIGURAS

1Figura 1: Voluntário lendo as instruções

2Figura 2: Voluntário fazendo o experimento

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LISTA DE QUADROS

1 Quadro 1: Exemplos dos tipos de estímulos

2 Quadro 2: exemplo de apresentação dos estímulos

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LISTA DE GRÁFICOS

1 Gráfico 1: Médias de tempo de resposta a DP-sujeitos [AGENTE] com verbo transitivo (SAVT) versus médias de tempo de resposta a DP-sujeitos [AGENTE] com verbo incoativo transitivo (SAVI). 2 Gráfico 2: Médias de tempo de resposta a DP-sujeitos [AGENTE] com verbo transitivo (SAVT) versus médias de tempo de resposta a DP-sujeitos [TEMA] com verbo incoativo intransitivo (STVII)

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3 Gráfico 3: Médias de tempo de resposta a DP-sujeitos [AGENTE] com verbo incoativo transitivo (SAVI) versus médias de tempo de resposta a DP-sujeitos [TEMA] com verbo incoativo intransitivo (STVII). 4 Gráfico 4: Médias de tempo de resposta a DP-sujeitos [TEMA] com verbo incoativo transitivo (STVII) versus médias de tempo de resposta a DP-sujeitos [INSTRUMENTO] com verbo transitivo (SIVT).

5 Gráfico 5: Médias de tempo de resposta a DP-sujeitos por condição. 6 Gráfico 6: Médias de tempo de resposta a DP-sujeitos: papel temático. 7 Gráfico 7: Médias de tempo de resposta aos verbos em todas as condições consideradas: SAVI, SAVT, SIVT e STVII 8 Gráfico 8: Médias de tempo de resposta a DP-objeto 9 Gráfico 9: Médias de tempo de resposta às sentenças

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LISTA DE TABELAS

1 Tabela 1: Legenda das condições

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO

2PRESSUPOSTOS TEÓRICOS

2.1A GRAMÁTICA GERATIVA

2.1.1 O léxico: traços sintáticos, fonológicos e semânticos

2.1.2Mais sobre Computação Linguística

2.2 ESTRUTURA ARGUMENTAL

2.2.1 Núcleo lexical e funcional

2.2.2 Estrutura argumental e papeis temáticos

2.3A POSSIBILIDADE DE ALTERNÂNCIA ESTRUTURAL: OS VERBOS

INCOATIVOS

2.4HIERARQUIA TEMÁTICA

2.5 A PSICOLINGUÍSTICA E PROCESSAMENTO DE SENTENÇAS

3O EXPERIMENTO PSICOLINGUÍSTICO

3..1 MATERIAIS E MÉTODOS

3.1.1Condições e estímulos

3.1.2 Cronologia de apresentação do experimento

3.1.2 Cronologia de apresentação do experimento

3.2MATERIAIS

3.3MÉTODOS

3.3.1 Tratamento estatístico dos resultados

3.1.2 Cronologia de apresentação do experimento

3.1.2 Cronologia de apresentação do experimento

3.5RESULTADOS

3.5.1 DP-sujeitos [AGENTE] com verbo transitivo versusDP-sujeitos [AGENTE]

com verbo incoativo transitivo

3.5.2 DP-sujeitos [AGENTE] com verbo transitivo versusDP-sujeitos [TEMA]

com verbo incoativo intransitivo

3.5.3 DP-sujeitos [AGENTE] com verbo transitivo versusDP-sujeitos [TEMA]

com verbo incoativo intransitivo

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3.5.4 DP-sujeitos [TEMA] com verbo incoativo intransitivo versusDP-sujeitos

[INSTRUMENTO] com verbo transitivo

3.5.5 Resumo dos resultados dos DPs-sujeitos

3.5.6 Todos os tempos de resposta aosDPs-sujeitos, juntando os DPs-sujeitos

[AGENTE]

3.5.7 Resultadosdos tempos de resposta aos verbos

3.5.8 Resultadosdos tempos de resposta aos DP-objetos

3.5.9 Resultadosdos tempos de resposta às sentenças

3.6ANÁLISE LINGUÍSTICA DOS RESULTADOS

4CONSIDERAÇÕES FINAIS

5REFERÊNCIAS

6 APÊNDICES

APÊNDICE 1 – Estatística das médias do tempo de resposta aos segmentos DPs-sujeito:

comparação entre condições

APÊNDICE 2 – Estatística das médias do tempo de resposta aos segmentos DPs-sujeito:

papel temático

APÊNDICE 3 – Estatística das médias do tempo de resposta aos segmentos DPs-sujeito:

comparação [AGENTE] x [INSTRUMENTO]

APÊNDICE 4 – Estatística das médias do tempo de resposta aos segmentos DPs-sujeito:

comparação [AGENTE] x [TEMA]

APÊNDICE 5 – Estatística das médias do tempo de resposta aos segmentos DPs-sujeito:

comparação [INSTRUMENTO] x [TEMA]

APÊNDICE 6 – Estatística das médias do tempo de resposta aos segmentos verbos:

comparação entre todas as condições

APÊNDICE 7 – Estatística das médias do tempo de resposta aos segmentos DPs-objeto:

comparação entre as condições SAVI, SAVT, SIVT

APÊNDICE 8 – Estatística das médias do tempo de resposta à sentença: comparação entre

todas as condições

APÊNDICE 9 – Lista dos estímulos do experimento

APÊNDICE 10 – Lista das frases distratoras

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1 INTRODUÇÃO

A linguagem tem sido investigada por diversos teóricos a partir de diferentes pontos de

vista. Nesta dissertação, assumo uma abordagem que entende a linguagem como sendo um

objeto de estudo natural. Essa abordagem conhecida como Teoria Gerativa ou Gerativismo

postula que a linguagem é estritamente humana e inata na espécie.

Tomando como base a versão mais recente da Gramática Gerativa, o Programa

Minimalista (CHOMSKY, 1995-atual), investigo a relação sintático-semântica que se

estabelece entre os argumentos selecionados pelos verbos e os papeis temáticos atribuídos a

eles com o intuito de averiguar uma hierarquia dos papeis temáticos para os DPs com função

sintática de sujeito.

O estudo dos papeis temáticos e da existência de uma hierarquia para eles tem sido alvo

de muitas discussões entre os teóricos da área (HALLIDAY, 1967; FILLMORE, 1968;

CHAFE, 1970; JACKENDOFF, 1972, 1976; CANÇADO, 2003, 2005, 2009, 2013;

BRESNAN, KANERVA, 1989, entre outros).

Por isso, assumo os postulados da Gramática Gerativa e focalizo os

merges(concatenações) para um maior entendimento sobre esse assunto. Esse modelo teórico

chama de first merge (primeira concatenação) a concatenação do verbo (v) ao seu argumento

interno, sendo second merge (segunda concatenação) a concatenação da projeção

intermediária do núcleo verbo (v’) ao seu argumento externo. Isso, em se tratando de verbos

transitivos.

No caso de verbos intransitivos, ocorre somente um merge, que pode ser do verbo (V)

ao argumento interno ou externo, sendo essemerge, portanto, o único merge do verbo,first

merge, e não existindo o second merge clássico, que seria da projeção intermediária do verbo

ao argumento externo.

Esses merges, de verbos a argumentos, são especificados pela teoria como set merges

(concatenações de conjunto), em contraposição a pair merges (concatenações de par), que são

as concatenações de adjunto, seja sintagma adverbial ou preposicional, a vP ou VP.

Essas projeções na sintaxe dependem de acesso às informações semânticas dos verbos,

ou seja, da sua ou das suas estruturas argumentais. Mas sem qualquer interpretação ainda. Por

exemplo, um mesmo verbo pode ter estruturas argumentais diferentes, ora um verbo

transitivo, ora um verbo intransitivo com um argumento interno: esses são os chamados

verbos incoativos. Então o único argumento interno do verbo incoativo terá o papel temático

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de [TEMA], e o argumento interno do verbo incoativo transitivo também terá o papel

temático de [TEMA], enquanto o argumento externo terá o papel temático de [AGENTE]. Um

mesmo DP pode ter papéis temáticos variados, dependendo da frase: [AGENTE], [TEMA],

[INSTRUMENTO] etc.

Considerando essa relação sintaxe-semântica e enfocando a hierarquia temática,

minhas ideias são diferentes das de Bresnan e Kanerva (1989) e, em parte, coincidentes com

as de Cançado (2013), conforme expliquei na seção 2.4 (Hierarquia temática). Defendo a

hierarquia temática em que [AGENTE] > [TEMA] > [INSTRUMENTO], ou seja, o falante

acharia mais importante, de forma inconsciente, é claro, e, portanto seria mais frequente,

papel temático com agentividade, sendo assim manifestado por DP que contém N com traço

[+ANIMADO]1.

Até aqui, com base na Teoria Linguística, estou falando de computação linguística,

cuja descrição e tentativa de explicação devem ser iguais tanto para produção quanto para a

recepção linguística. Mas a abordagem desses acontecimentos mentais pela Teoria Linguística

não parece ser suficiente, pois existem processos linguísticos que vão além da computação

linguística, e esses processos são diferentes em se considerando produção ou recepção. Basta

pensarmos, por exemplo, nas diferenças que acontecem no nosso organismo ao falarmos uma

frase e ouvirmos uma frase. Entretanto, não desejo me deter aqui nas diferenças motoras ou de

processos em outras cognições.

Fato é que, para tentar desvelar um pouco essa trama, abraçamos a área de

Processamento, mais especificamente de Processamento de Sentença, que está assentada na

Psicolinguística e também tem suas teorias. E essas áreas e subáreas são essencialmente

experimentais.Um experimento psicolinguístico pode ajudar a identificar as fases do

processamento, medindo o tempo de reação do voluntário diante de um elemento frasal. Esse

tempo é gravado por um programa de apresentação de estímulos linguísticos toda vez que o

voluntário apertar uma tecla do computador para que apareça cada segmento. Esse tempo de

resposta reflete o tempo de processamento dos segmentos pelo voluntário.

Especialmente de acordo com a minha intuição de falante, e por vários trabalhos

dentro da área de Processamento e de Neurociência da Linguagem (KUTAS, HILLYARD,

1984; LAGE, 2005a, 2005b; LAGE et al., 2008; LAU, PHILLIPS, POEPPEL, 2008;

GESUALDI, FRANÇA, 2011), entendo que quando um constituinte aparece na posição

esperada, o seu processamento é mais simples e, portanto, menos demorado do que o de outro

1 Para mais informações sobre traço de animacidade, [± ANIMADO], conferir Lage (2011a, 2011b); Santos (2013).

3

elemento que se encontraem uma posição não esperada. Por exemplo, intuitivamente o falante

espera que o DP-sujeito da frase seja mais agentivo e tenha o traço [+ANIMADO]. Por isso,

um DP com papel temático de [AGENTE] parece ser o mais esperado na posição de sujeito.

No entanto, na falta de um DP-sujeito mais agentivo, um DP com papel temático de [TEMA]

ou [INSTRUMENTO] pode assumir essa posição, o que acarretaria em um custo de

processamento maior, em razão de esses papéis temáticos não serem típicos de DPs-sujeito.

Além disso, considero que o item lexical verbal, com todos os seus traços de

subcategorização e estrutura semântica, traz do léxico a informação relevante necessária para

a constituição da sentença. E ele, juntamente com os traços dos DPs selecionados para serem

seus argumentos, indica os papéis temáticos, necessários à projeção sintática dos argumentos.

Em vista desses fenômenos sintático-semânticos e com o intuito de averiguar a

existência de uma hierarquia temática, realizei um experimento psicolinguístico online

focalizando o processamento de sentença e de cada segmento constituinte, esperando que as

médias dos tempos de resposta aos segmentos críticos pudessem revelar uma hierarquia de

papéis temáticos de DPs-sujeitos.

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2 PRESSUPOSTOS TEÓRICOS

2.1 A GRAMÁTICA GERATIVA

A Gramática Gerativa ou Gerativismo é uma teoria, postulada por Noam Chomsky,

que teve início na década de 1950, com a obra SyntaticStructures (CHOMSKY, 1957),

embora não ainda com o nome de Gramática Gerativa, mas conhecida com o nome de

Gramática Transformacional.Segundo a Teoria Gerativa, a espécie humana seria a única

dotada de linguagem e, potencialmente, capaz de gerar infinitas sentenças por meio de um

conjunto finito de regras.

A Gramática Gerativa se baseia na concepção inatista da linguagem humana,

direcionando-se para os universais linguísticos e na Modularidade da Mente. Assim, o fato de

a linguagem ser uma dotação do organismo humano, essa teoria coloca a Linguística entre as

ciências naturais e biológicas.

O que conhecemos hoje por Gramática Gerativapassou, por exemplo,pelo embate

entre Chomsky (CHOMSKY, 1959) e Skinner (SKINNER, 1957). Skinner defendia a

hipótese behaviorista, apresentando a linguagem como algo estritamente exterior ao homem,

que devia ser ensinada, a partir da simples repetição da fala dos adultos. Skinner, portanto,

retomou a proposta de Aristóteles databula rasa, em que o homem nasceria sem qualquer tipo

de conhecimento.Se a criança apenas imitasse, como se explicaria o fato de ela falar frases

que nunca ouviu?

Por outro lado, Chomsky retomou a ideia de Inatismo, existente desde Platão, que

entendia que o ser humano nascia com conhecimentos ou saberes que deviam ser

desenvolvidos. Isso se tornou conhecido como o problema de Platão:Como se pode saber

tanto diante de tão pouca evidência? Issosó pode ser respondido segundo a existência das

várias cognições no nosso organismo.

Esse conhecimento linguístico inato e que é desenvolvido naturalmente pelo homem, a

chamada Universal Grammar – UG (Gramática Universal – GU), passa por vários estágios,

até a criança ser falante, ou seja, dominar a gramática da sua língua, ter a sua

5

competêncialinguística (CHOMSKY, 1965).Estes estudos foram responsáveis por conceber o

que veio a se chamar de Biolinguística2.

O módulo específico de linguagem está em sintonia com a existência de outros

módulos cognitivos, que, apesar de poderem ter processos e desenvolvimento concomitantes,

são independentes. Assim, os módulos cognitivos são como órgãos da mente que se inter-

relacionam e interagem, porém, repito, de forma independente. Cada cognição funciona como

um módulo específico no cérebro, onde o output de um determinado processo pode ser o input

de outro processo em outra cognição.

Esta tese, conhecida como Modularidade da Mente, já apresentada por Chomsky desde

a década de 70, em um debate entre ele e Piaget em Piattelli-Palmarini (1979/1983), e tese

abordada por Chomsky e Fodor, foi mais formalizada por Fodor (1983). Até hoje esta teoria

vai contra o pensamento de Piaget (1970) e dos conexionistas.

Para Chomsky (1981), o homem é dotado de um aparato genético de linguagem que se

desenvolve a partir do contato da criança com os estímulos linguísticos, chamados de dados

primários. Em outras palavras, nenhuma criança é ensinada a falar. Ela adquire sua língua

materna de forma natural, espontânea e inconsciente. Todos os indivíduos já nascem com um

dispositivo inato, um conhecimento geral e universal das línguas, ou seja, um conjunto de

propriedades comuns às línguas naturais, Princípios, que são parametrizados

(PrinciplesandParameters– P&P:Princípios e Parâmetros). Para cada Princípio é selecionado

um Parâmetro, conforme a língua a que a criança é exposta. O processo de desenvolvimento

de linguagem parte então de um estágio inicial (S0) e vai até um estágio estável (Ss), quando a

criança já é considerada falante da língua,embora ainda este não seja o estado final, já que

alguns parâmetros, os mais complexos, ainda não estão fixados.

Em outras palavras, além desta preocupação da Gramática Gerativa em explicar o

desenvolvimento de linguagem, ou seja, como funciona o que Chomsky (1965) chamou de

LanguageAcquisitionDevice – LAD (Mecanismo de Aquisição de Linguagem), há também a

preocupação em explicar, sem deixar de descrever, as semelhanças entre as línguas,

mostrando que elas são em muito maior quantidade do que as diferenças. E esta desproporção,

que é uma característica natural entre as línguas, é a base para a postulação de P&P.

2O Programa Biolinguista se iniciou em 1974, em uma conferência internacional realizada pelo MIT em

cooperação com o Instituto Royaumont de Paris (Piattelli-Palmarini, 1979/1983). O termo Biolinguística é sugerido pelo organizador do evento, MassimoPiattelli-Palmarini, e tem como marco inicial a obra de Eric Lennerberg, BiologicalFoundationsofLanguage, de1967 (CHOMSKY, 2005).

6

Assim, a GU permite que qualquer criança saudável desenvolva qualquer língua,

desde que a criança seja exposta aos dados primários da língua dentro de um período crítico

da aquisição, classicamente até os sete anosde idade, isto é, há uma janela temporal para o

desenvolvimento espontâneo e natural da linguagem (LENNEBERG, 1967). Porém, quem

primeiro falou de período crítico, mais especificamenteem relação a gansos e patos, foi o

zoólogo austríaco que fundou a etologia3, Konrad Lorenz (1949), referindo-se a imprinting

(cunhagem). Lorenz revelou que as espécies animais, ao nascerem, já estariam prontas

geneticamente para aprender informações que estivessem ligadas à sobrevivência da espécie.

Essa noção do período crítico foi estendida para uma melhor compreensão das nossas

cognições. (Cf. HINZEN, POEPPEL, 2011; FRANÇA, LAGE, 2013, 2014).

O período crítico de uma cognição é sempre específico. E o período crítico da

linguagem vai classicamente até aos sete anos, mas, de fato,até a puberdade, é um divisor de

águas para o desenvolvimento de uma língua, pois, após esse período a criança dificilmente

desenvolverá a linguagem de forma natural. (Cf. MAIA, 2006) No entanto, sendo exposta ao

ambiente linguístico dentro do período crítico, a criança pode desenvolver até mais de uma

língua materna, ou seja, ser falante nativo de mais de uma língua.

Como os parâmetros são a parte variável entre as línguas, além do léxico, são eles que

são fixados de acordo com a língua a que a criança é exposta. Por isso, os parâmetros são

binários possuindo duas opções de valor: positivo ou negativo. Quando uma das opções é

marcada, atribui-se ao Princípio um valor positivo, e as demais opções então não são

escolhidas, são automaticamente desmarcadas, recebendo um valor negativo por não serem

usados na língua. Para ficar mais claro, citemos o exemplo do parâmetro do sujeito nulo. Em

línguas como o português, o espanhol e o italiano, construímos frases em que o sujeito pode

aparecer foneticamente pronunciado ou não. Vejamos em português duas sentenças

igualmente gramaticais:

(1) Eu comi um pedaço de bolo

(2) Comi um pedaço de bolo

Isso significa que em português temos o parâmetro de sujeito nulo valorado

positivamente, e por isso podemos ter sentenças como (1) ou (2). Porém, em línguas como o

inglês, este parâmetro é valorado negativamente, isto é, não é possível ter na sintaxe da língua

sentenças formadas sem a presença fonética do sujeito:

3 Etologia: estudo do comportamento animal.

7

(3) It snows

(4) * Snows

O sujeito em inglês é sempre pronunciado, ou a frase se torna agramatical. Para que a

frase seja gramatical, utilizamos, como no exemplo (3), o pronome it, que é um pronome

expletivo, ou seja, um pronome esvaziado semanticamente, mas que preenche a posição de

sujeito.

Dessa forma, percebemos que os parâmetros são fixados de acordo com a língua a que

a criança é exposta. Ocorre então uma filtragem do input através da GU. O input recebido de

uma determinada língua formata a GU e estabelece a gramática de uma língua.Para a

Neurociência da Linguagem, a fixação de parâmetro tem uma contraparte neurológica bem

definida, ou seja, fixar um parâmetro é firmar um circuito neuronal, um caminho pelo qual as

informações são transmitidas através da eletricidade que caminha por meio dos neurônios.

(Cf. FRANÇA, LAGE, 2013)

Desde que foi concebida, a Teoria Gerativa passou por diversas reformulações até

chegar hoje em sua versão mais recente: o Programa Minimalista ou Minimalismo

(CHOMSKY, 1993, 1995, 1998, 2000/20005, 2001; HAUSER, CHOMSKY, FITCH, 2002).

Ele é considerado de natureza lexicalista, por apresentar a computação linguística se iniciando

a partir do léxico, ou seja, os itens lexicais já prontos ou formados e selecionados do léxico,

faltando apenas as operações sintáticas, a leitura fonológica e a interpretação dos traços

semânticos, ao final da derivação. Assim, no início da computação, as informações

semânticas são acessadas e projetadas na sintaxe, sendo esse modelo teórico considerado

também, portanto, de natureza projecionista.

2.1.1 O léxico: traços sintáticos, fonológicos e semânticos

“A GU deve prover meios para apresentar uma ordem de itens do léxico de uma forma

acessível para o sistema computacional.” (CHOMSKY, 1993, p. 6). Esse inventárioé o nosso

léxico mental, no qual estão todas as palavras de uma língua.

Por isso, buscando explicar a GU e o LAD, a Gramática Gerativa vem burilando seu

postulado teórico, sempre atualizando o seu modelo de arquitetura da linguagem, que, de

acordo com o Minimalismo (CHOMSKY, 1995), se fundamenta em uma abordagem

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lexicalista, interessando ao modelo que a derivação sintática começa do léxico, do qual são

retirados os itens lexicais, a partir dos quais se formará a sentença.

O léxico mental traz informação detalhada, na modalidade de traços, sobre as

propriedades formais, fonológicas e semânticas das palavras da língua, isto é, cada lexical

item (LI – item lexical) é constituído por um feixe de traços sintáticos, fonológicos e

semânticos. Conforme o modelo de arquitetura da linguagem da Gramática Gerativa, a partir

da vontade de se expressar uma determina proposição, os itens lexicais, com todos os seus

traços, são retirados do Léxico e enviados para a Numeração. Só neste momento se iniciam as

operações sintáticas, até se chegar ao da final compreensão ou produção da sentença.

Masmuita computação linguística acontece não só nas operações sintáticas como

também entre o fim das operações sintáticas e o fim da compreensão ou produção da

sentença. Logo que as operações sintáticas terminam, os traços formais, em geral, deixam de

existir, sendo computados. Os restantes, que são fonológicos e os semânticos, são separados

pelo mecanismo de Spell-Out (separação) e enviados, respectivamente, para os componentes

PhonologicalForm (PF – Forma Fonológica) e LogicalForm (LF – Forma Lógica), onde são,

também respectivamente, organizados. Os traços fonológicos são lidos em PF, por meio da

chamada Sensory-Motor interface (S-M – interface sensório-motora); e os traços semânticos

são interpretados na Conceptual-Intentional interface (C-I – interface conceptual-intencional).

(HAUSER, CHOMSKY, FITCH, 2002). Só então se chega ao fim da derivação da frase, com

a sua compreensão ou produção. E são os traços semânticos do DP, juntamente com os traços

semânticos do verbo, os responsáveis pela constituição do papel temático desse DP. E esse é

um ponto chave para a nossa dissertação.

2.1.2 Mais sobre computação linguística

A dicotomia clássicacompetência(competence) versusperformance (desempenho),

proposta por Chomsky (1965), contrasta fundamentalmente o conhecimento que o falante tem

de sua língua, que se desenvolveu a partir da formatação da GU, através da fixação dos

parâmetros, e, respectivamente, o comportamento linguístico, o uso da língua.

Esta noção de competência e desempenho, no Programa Minimalista, é repensada e

renomeada, passando a ser entendida a competência como Faculdade da Linguagem Estreita

(FacultyofLanguage in thenarrowsense – FLN), e o desempenho como Faculdade da

9

Linguagem em sentido amplo (Facultyoflanguage in thebroadsense – FLB). Ainda sobre a

Faculdade da Linguagem,Hauser, Chomsky e Fitch (2002) comentam:

A Faculdade da Linguagem no sentido amplo (FLB – Facultyoflanguage –

broadsense)inclui um sistema computacional interno (Faculdade da Linguagem no sentido estreito – Facultyoflanguage in thenarrowsense: FLN) combinado com pelo menos dois outros sistemas internos ao organismo, que chamamos de sensório-

motor e conceitual-intencional. Apesar do debate sobre a natureza precisa destes sistemas, e sobre se eles são substancialmente compartilhados com outros vertebrados ou unicamente adaptados às exigências da linguagem, tomamos como não controverso a existência de alguma capacidade biológica dos humanos que nos permite (e não, por exemplo, a chimpanzés) prontamente dominar qualquer língua sem instrução explícita. A FLB inclui esta capacidade, mas exclui outros sistemas internos do organismo que são necessários, mas não suficientes para a linguagem (por exemplo, memória, respiração, digestão, circulação etc.). A FLN é o sistema computacional exclusivamente linguístico, independente dos outros sistemas com os quais ele interage e faz interface. A FLN é um componente da FLB, e os mecanismos que subjazem à FLN são um subconjunto daqueles que subjazem à FLB. (HAUSER, CHOMSKY, FITCH, 2002, p. 1570-1571)

Ainda neste sentido, os autores fazemuma distinção entre a FLB e a FLN, salientando

que na FLB estão incluídas as interfaces Sensório-Motora e Conceitual-Intencional e

mecanismos computacionais para a Recursividade, que permitem gerar uma variedade infinita

de sentenças a partir de um conjunto finito de elementos.Por outro lado, na FLN está apenas a

Recursividade, componente único e exclusivo da Faculdade da Linguagem. Além disso,o

sistema computacional seria um componente-chave da FLN que geraria representações

internas levando-as à interface Sensório-Motora, por meio do sistema fonológico, e à interface

Conceitual-Intencional, pelo sistema semântico. (HAUSER, CHOMSKY, FITCH, 2002)

Dessa forma, o discurso faria parte da Faculdade da Linguagem Ampla (FLB), sendo

um produto dessas duas interfaces juntas. O sistema cognitivo relacionado à Faculdade da

Linguagem Estreita (FLN) produziria material linguístico restrito pelas condições impostas

pelas interfaces para interagir com o discurso (CHOMSKY, 1995). Portanto, a dicotomia

competência e desempenho no Minimalismo é uma distinção ainda necessária e que diz

respeito ao que é computado e como é computado nas interfaces.

Então, para explicar as relações que ocorrem entre os constituintes formadores da

sentença, representando-os na forma de estrutura arbórea, o Modelo Minimalista continua

adotando o que já era conhecida na teoria como a unidade mínima da Teoria X-barra (X’):

uma estrutura que se baseia na concatenação de um núcleo (X) com seu complemento

(Compl), projetando suas características, que geram um produto, um nível intermediário (X`),

e este, por sua vez, se concatena com seu Especificador (Spec), formando, assim, a projeção

máxima (XP) deste núcleo (X). O esquema vai a seguir.

10

XP

Spec X`

X Compl

A título de exemplificação, utilizo como núcleo (X) o verbo transitivo comprar na

sentença:

(5) João comprou uma bola

vP

DP v`

João

v DP

Compr- uma bola

Durante a derivação, depois de os itens lexicais serem selecionados do léxico com

todos os seus traços sintáticos, semânticos e fonológicos, é projetada na sintaxe uma noção

abstrata do verbo comprar(o v √comp-), sem a noção de infinitivo,que se concatena com seu

argumento interno (o DP uma bola), que está na posição de Compl de v. Esta é a primeira

operação sintática, que dá origem ao nível intermediário de v (vezinho),que é v’. Portanto,

ocorre aqui o primeiro merge (verbo + argumento interno), argumento que é checado e tem

todas as suas características projetadas para um nível intermediário (v’). Daí ocorre o segundo

merge: do produto v’ + argumento externo (no caso, o DP João), que, até então, ocupa a

posição de Spec de vP. Essa é a segunda operação sintática, onde se chega à projeção máxima

de v, ou seja, vP.

A partir daqui entra T (Tense) na derivação, ou seja, a inclusão da noção de Tempo,

além de Voz, Modo, Aspecto, etc., somada aos traços sintáticos do DPque se tornará

sujeito(os traços- phi: grosso modo, gênero número e pessoa). Assim, temos o primeiro

movimento, que é um movimento de núcleo, em que v vai para T, para assimilar esses traços,

dando origem à relação de concordância.

O segundo movimento é o movimento tipo A, o movimento argumental, em que o DP

argumento externo de vvai para [Spec, TP], onde recebe o caso nominativo, caso

11

característico do sujeito. O verbo, por sua vez é que atribui papel temático aos seus

argumentos e caso acusativo ao seu argumento interno.

Esses dois movimentos deixam um vestígio anotado como t (trace), ou seja, um

vestígio decorrente de movimento, seja de núcleo, seja de argumento. Por fim, acima de TP,

temos outra projeção, a de CP, que é necessária para verificar se a derivação continua,

havendo, por exemplo, um movimento do tipo A-barra, isto é, um movimento de adjunto ou

Sintagma de QU- (WH- Phrase). Vejamos esses movimentos na seguinte árvore.

(5) CP

Spec C`

C TP

DP T`

João j

T vP

comproui

DP v`

t j

v DP

ti uma bola

Quando se trata de uma sentença, como as projeções na sintaxe dependem do acesso

às informações semânticas dos verbos, ou seja, das suas estruturas argumentais, pode-se dizer

que existiria um primeiro acesso para a escolha do DP que se transformará em sujeito, e

obviamente, para a escolha do DP que se transformará em objeto. Contudo, sem interpretação

ainda, e sem a atribuição de Caso. Temos apenas um acesso básico e geral que nos diz que

essa frase tem um DP tal, escolhido para ser sujeito e outro para ser objeto. Quando o

processamento da sentença chega ao verbo se iniciam os processos de merge, acessando a

grade específica do verbo que vai direcionar as projeções. Somente na computação do verbo

com seus argumentos e ao final do processamento da sentença, temos acesso aos Casos e os

papéis temáticos dos DPs.

12

A esta ideia essencial de que as estruturas sintáticas são determinadas de forma direta

pela estrutura argumental do item lexical selecionado, chamamos de Princípio da Projeção.

No caso dos verbos, por exemplo, a estrutura sintática deve refletir o quadro de

subcategorização e a seleção dos argumentos. Assim, em se tratando de verbo transitivo, é

projetada na sintaxe uma posição de sujeito, que reflete a seleção de argumento externo feita

pelo verbo, e igualmente a de objeto, que refletirá a seleção de argumento interno. A

representação da projeção da estrutura sintática ocorre, então, de baixo para cima, onde o

verbo vai projetando, a partir de suas concatenações, todas as suas propriedades. Além disso,

o Princípio da Projeção deve garantir que a estrutura dos constituintes seja preservada, ou

seja, que os traços de seleção do verbo sejam preservados até a interpretação na interface

Conceitual-Intencional (C-I). Dessa forma, o princípio, garante que não ocorra um aumento

ou uma diminuição do número de argumentos ao se passar de um nível de derivação para

outro. Um constituinte pode apenas ser movido, por isso, deixamos um t (trace: vestígio) para

indicar que houve um movimento de constituinte daquele local.

A Teoria também preconiza o Princípio da Projeção Estendida

(ExtendedProjectionPrinciple – EPP), que prevê o nó T (Tense), a sua projeção máxima TP, e

a posição de Spec de TP ser preenchida pelo sujeito, ainda que não pronunciado: em outras

palavras, toda sentença tem sujeito. No caso das línguas parametrizadas para o sujeito nulo,

como apresentado em (3) e (4), na seção 2, um pronome expletivo preenche este local. No

caso de verbo que não seleciona um argumento externo, como é o caso dos inacusativos, que

selecionam apenas argumento interno, este deve ocupar a posição de sujeito. Parece, então,

que para se cumprir esta exigência de sempre haver sujeito, a língua possui mecanismos para

que isso ocorra, como por exemplo, o inacusativo não ser capaz de atribuir caso acusativo ao

seu argumento interno, o que faz que este ocupe a posição de sujeito para receber Caso.

Saliento aqui a distinção entre: caso semântico, caso estrutural e caso morfológico. A

literatura aponta que ocaso semânticodiz respeito aos papéis temáticos. Já o caso estrutural, ou

abstrato, também universal, dá visibilidade às funções sintáticas dos DPs, garantindo a

interpretação dos papeis temáticos. Assim, todo DP pronunciado precisa ser checado, para que

lhe seja atribuído Caso, e seu papel temático seja detectado.O caso morfológico, por sua vez,

é a marcação morfológica do caso estrutural: um paradigma de morfemas associados aos

diferentes casos, como no latim. Apenas parte das línguas possui caso morfológico, portanto

ele é parametrizado.

13

2.2 A ESTRUTURA ARGUMENTAL

2.2.1 Núcleo lexical e funcional

As sentenças de uma língua são formadas por uma sequência não só linear como

também ordenada de itens lexicais. Esses itens combinados formam sintaticamente uma

estrutura de constituintes. E um constituinte é delimitado pela sintaxe a partir de um núcleo.

Um constituinte é uma unidade sintática construída hierarquicamente e que recebe o nome de

sintagma. O sintagma, além de poder ser o próprio núcleo, também pode ser um conjunto de

itens que desempenha algumas funções determinadas pelo núcleo. Podemos ter um sintagma

de natureza nominal (NounPhrase – NP), verbal (Verbal Phrase – VP), adjetival

(AdjectivePhrase – AP) e preposicional (PrepositionalPhrase – PP).

Um núcleo pode ser de natureza lexical ou funcional. E sua identificação,junto com a

identificação das relações que ele estabelece com outros elementos, favorece o

reconhecimento do sintagma. Os núcleos lexicais são definidos pela combinação de dois

traços essenciais e distintivos: [± Nome] e [± Verbo]. Esses traços combinados geram as

categorias: A (adjetivo) que é a combinação de [+ V] e[+ N]; V (verbo), com os traços [+ V] e

[- N]; a categoria N (nome), com os traços [– V], [+ N]; e a categoria P(preposição), com os

traços [- N] e [- V].

Somente um núcleo lexical possui a capacidade de selecionar semanticamente seus

argumentos (seleção semântica ou s-seleção). Tomemos como exemplo a sentença (5). De

acordo com o que se deseja expressar, o verbo comprar, como núcleo lexical, toma como seus

argumentos João, que é quem comprou, e uma bola, o que é comprado. Essas seleções são

adequadas para este verbo por possuírem propriedades compatíveis com a semântica do

verbo, que exige que um argumento tenha a capacidade de praticar a ação de comprar, e o

outro a capacidade de ser algo a ser comprado.

Os núcleos funcionais, no entanto, não possuem esta capacidade de s-selecionar seus

argumentos. Ao contrário, eles apenas c-selecionam (seleção categorial ou c-seleção) seus

complementos, ou seja, selecionam apenas a categoria a que o complemento deve pertencer.

Assim ocorre, por exemplo, com a flexão verbal (tempo, modo, número, pessoa) que ao c-

selecionar um verbo não leva em consideração a semântica desse verbo, mas apenas a

necessidade de selecionar a categoria de seu complemento.

14

Ressalto aqui, enquanto núcleo funcional, o núcleo D (Determiner: Determinante), que

possui como projeção máxima o constituinte DP(DeterminerPhrase: Sintagma

Determinante).O núcleo D tem como complemento um NP (NounPhrase: Sintagma

Nominal), que, por sua vez, tem como núcleo um N (Noun: Nome). E paralelamente, assim

como o TP domina VP, o DP domina o NP, ou seja, o D dá referencialidadeao NP atribuindo-

lhe um estatuto de argumento.E foi Abney (1987)quem primeiro compreendeu essa estrutura

do DP, um sintagma tendo como núcleo um D e como complemento um NP.(Cf. RAPOSO,

1992; MIOTO, SILVA, LOPES, 2004)

O D, núcleo do DP, pode ser preenchido fonologicamente ou não. Um artigo ou

demonstrativo, por exemplos, são constituintes do tipo D, que preenchem o núcleo do DP. Ao

passo que um DP sem determinante realizado fonologicamente é chamado de DP nu. Vejamos

abaixo os esquemas arbóreos com possibilidades de DP.

i) DP ii) DP iii) DP

D` D` D`

D NP D NP D NP

que/qual a/ uma/ esta

N` N` N`

N N N

Casa casa casa(s)

Em (i) temos um DP interrogativo, do tipo WH- Phrase (Sintagma QU-), com que ou

qual como determinante; em (ii), temos um DP com um artigo definido (a), indefinido(uma)

ou demonstrativo (esta); e em (iii), um DP vazio. Os interrogativos que ou qualpodem

preencher a posição de D, ou seja, são Ds porque estão em distribuição complementar com Ds

como artigos. Em outras palavras, os interrogativos que ou qual não podem co-ocorrer com

Dscomo a, uma ou esta:

(6) *Que/ qual/ a/ uma/ esta casa Pedro construiu?

15

2.2.2 Estrutura argumental e papéis temáticos

Um constituinte enquanto um predicado ou um predicador, como diz Raposo (1992),

tem seu sentido incompleto. Para que seu sentido seja saturado, ou completado, é necessário

um determinado número de argumentos. O predicado é especificado de acordo com o número

de argumentos exigidos para se formar uma sentença gramatical. E na estrutura da sentença, o

predicado(r) mais importante é o verbo; e seus argumentos correspondem sintaticamente ao

sujeito e aos seus complementos, ou seja, depois de a frase já estar formada. (Cf. CANÇADO,

2013).

Há também um acesso semântico aos traços dos itens lexicais que formarão esses

argumentos, sem haver, no entanto, ainda interpretação semântica, a qual ocorrerá somente ao

final da derivação, na interface Conceitual-Intencional (C-I). Logo, esta semântica inicial da

computação, que se refere apenas à seleção semântica dos predicados, argumentos e seus

papéis temáticos, está apenas a serviço da sintaxe, são informações projetadas na sintaxe,

dando, assim, início às operações sintáticas.

Além disso, a seleção categorial determina qual a categoria sintática do argumento

selecionado. Um verbo c-seleciona seus argumentos determinando se estes serão um DP, um

AP, um PP ou um CP.Vou exemplificar. Voltamos a (5) e olhemos também para (7).

(5) João comprou uma bola

(7)? A mesa comprou uma bola

Em (5) podemos perceber que o verbo comprar precisa de dois argumentos para

compor a sentença com ele, e que um desses elementos precisa ser um DP cujo N precisa ter o

traço [+ ANIMADO], para comprar alguma coisa. Além disso, é preciso haver algo para ser

comprado. Dizemos então que o verbo comprar exige dois argumentos: um argumento

interno (que terá sintaticamente a função de objeto direto) e um outro externo (que se tornará

seu sujeito). Em (7), há o Nmesa, que tem o traço [- ANIMADO], ou seja, a agentividade do

DP-sujeito não existe, o que torna a sentença incongruente semanticamente.

Dessa forma, comprar traz do léxico mental as seguintes informações. Primeiro, são

necessários dois elementos que co-ocorram com o verbo para que a sentença seja bem

formada (gramatical). Em segundo lugar, um desses elementos precisa ser animado, com a

capacidade de comprar algo. Além do que, o outro elemento precisa ter a característica de ser

alguma coisa que possa ser comprada. Essas informações semânticas é que codificam os

papéis temáticos.Isso significa que, digo mais uma vez, como na seção 2.1.1, são os traços

16

semânticos do DP, juntamente com os traços semânticos do verbo, os responsáveis pela

constituição do papel temático desse DP. E isso é central para o nosso trabalho.

As informações semânticas e categoriais estão contidas nos itens lexicais. E, em se

tratando do verbo, por exemplo, a esse conjunto de informações dá-se o nome de estrutura

argumental. Assim, de acordo com o Minimalismo, ao analisar uma sentença, podemos

verificar que cada verbo tem uma estrutura argumental, ou mais de uma, e que essa estrutura é

responsável por selecionar semanticamente seus argumentos (s-seleção ou seleção semântica)

e projetá-los na sintaxe, por meio de categorias específicas (c-seleção ou seleção categorial).

A seguir apresento algumas ocorrências possíveis de estruturas dos VPs:

i) Verbo sem argumentos (ex.: chover); VP V` V

ii) Verbo que seleciona só argumento externo – inergativo (ex.: trabalhar);

VP DP V’ V

iii) Verbo que seleciona só argumento interno – inacusativo, incapaz de atribuir caso

acusativo; argumento interno = XP (= DP, CP, InfP, GerP, PartP ou SC), que é

sempre um TEMA (ex.: parecer);

iv) Verbo que seleciona argumento interno e externo (ex.: desejar);

VP V’ V XP

VP DP V’ V XP

17

v) Verbo que seleciona argumento externo e dois internos (ex.: dar).

vi)

vii)

viii) ix) x) xi) xii)

Os verbos podem ter mais de uma estrutura ou grade argumental: estes se chamam

verbos incoativos. Ora apresentam a estrutura de um verbo transitivo, como em (7), ora

apresentam a estrutura de um verbo intransitivo, visto em (8), sem que com isso se modifique

seu significado,

(8) O menino quebrou a bicicleta.

(9) A bicicleta quebrou.

Em (8), o verbo é transitivo, selecionando dois argumentos. O menino recebe papel

temático de [AGENTE]; e a bicicleta, de [TEMA]. Em (9), porém, o verbo seleciona apenas

um argumento interno, que, embora venha a ocupar a posição de sujeito, tem o papel temático

de [TEMA].

Apesar de duas grades temáticas possíveis, estou considerando a existência de apenas

uma entrada lexical para cada item verbal. A entrada lexical, segundo Raposo (1992) “contém

a informação pertinente de natureza fonológica, sintática e semântica sobre o item lexical que

representa”. Estruturalmente, cada entrada lexical pode conter mais de uma informação

categorial, isto é, toda informação de subcategorização desse item. Então, quando se trata de

verbo incoativo, todas as possibilidades de ocorrência do verbo já estão codificadas no léxico,

formatadas pela GU.

Tenho a acrescentar que os verbos marcam de forma direta o papel temático do seu

argumento interno e de forma indireta o papel temático do seu argumento externo. Na

sentença (5), João comprou uma bola, o predicado (comprar) atribui o papel temático de

[TEMA] ao seu argumento interno (uma bola), ao passo que João recebe o papel temático de

[AGENTE] de v’ (verbo + argumento interno), nível intermediário de v. Mas, afinal, o que

seria o papel temático? E que implicações ele teria para o estudo das relações sintáticas e

semânticas entre um predicador e seus argumentos?

Fillmore(1968) afirma que as relações estabelecidas entre o predicado e seus

argumentos se encontram em um nível intermediário, sintático-semântico. E Cançado (2013)

VP DP V’ V’ PP V DP

18

explica que a relação que o predicado estabelece com seus argumentos, atribuindo-lhes uma

função semântica, são os papéis temáticos. Os papéis temáticos, então, são as funções

exercidas pelos argumentos. E diferentes argumentos terão funções diferentes no evento

verbal. Também podemos definir os papéis temáticos como um conjunto de propriedades

semânticas cujos traços têm uma implicação direta na estrutura argumental dos verbos que

será projetada na sintaxe. Assim, as informações de natureza semântica dos predicados estão

diretamente ligadas às estruturas argumentais desses verbos e à quantidade de argumentos que

são selecionados por eles.

Existem vários tipos de papéis temáticos apresentados na literatura, por diversos

autores, como Halliday (1967),Fillmore (1968), Chafe (1970), Jackendoff (1972, 1976),

Cançado (2003, 2005, 2009, 2013), entre outros. No entanto, este assunto ainda é palco de

divergências e controvérsias, sendo que os papéis temáticos mais comuns são: [AGENTE],

[EXPERIENCIADOR], [TEMA], [PACIENTE], [LOCATIVO], [INSTRUMENTO]. E cada

papel temático pode receber diferentes atribuições, de acordo com o autor que o esteja

estudando. Por exemplo, Halliday (1967) diz que agente é o que/quem controla o desenrolar

de uma ação. Para Chafe (1970), agenteé o que/quem origina ação, voluntariamente ou não.

Dialogando com a Gramática Gerativa, os estudos de Fillmore (1968) e Jackendoff

(1972) foram importantes para esclarecer as relações entre as funções semânticas e sintáticas

de um item lexical. Os autores percebem ser necessário “assumir essas funções semânticas em

estudos gramaticais, pois as funções gramaticais de sujeito, objeto e outras são insuficientes

para traduzir certas relações existentes entre algumas sentenças” (CANÇADO, 2013). Assim,

vários autores começam a incorporar a noção de papel temático em seus estudos e teorias

gramaticais.

A relação entre os papéis temáticos, atribuídos pelo verbo aos seus argumentos e suas

respectivas funções sintáticas se tornam visíveis na sentença a partir dacomputação do verbo

com seus argumentos e sua interpretação final nas interfaces. Todos os traços e restrições

eventivas de um verbo, e possivelmente também o tempo de processamento da sentença,

estarão de acordo com estrutura temática específica desse verbo. Nos verbos transitivos

teríamos então grades argumentais mais amplasdo que as dos verbos intransitivos, por

exemplo. Além de uma estrutura específica a cada verbo, relativa ao evento que ele delimita,

que, a propósito, pode ser ação ou evento. Isso já está na natureza do verbo e vai se manifestar

no conjunto das relações do verbo com seus argumentos.Então, os verbos trazem em si, nos

seus traços, as possibilidades de arranjos para a língua. Vejamos alguns exemplos.

19

(10) A criança quebrou o vaso

s-seleçãoc-seleção

[AGENTE], [TEMA] [DP], [DP]

(11) O vaso quebrou

s-seleção c-seleção

[TEMA] [DP]

(12) A criança quebrou o vaso com a bola

s-seleçãoc-seleção

[AGENTE], [TEMA], [INSTRUMENTO] [DP], [DP], [DP]

Todas essas possibilidades estão presentes nos traços dos verbos no léxico. A GU

permite essas possibilidades, e cada língua vai mostrar isso de uma forma. Por ex: as línguas

que são mais morfológicas como o Português, Italiano, são assim classificadas, pois

apresentam um conjunto de semelhanças, mas cada uma apresenta características específicas

que só vão aparecer naquela língua.

A Teoria Temática ainda postula que cada argumento, em forma de DP, deve receber

somente um papel temático. E no caso de um verbo selecionar mais que um argumento, a eles

não poderão ser atribuídos papéis iguais. Chomsky (1981) alega que a função dos papéis

temáticos é a de estabelecer a posição dos argumentos na sintaxe, não considerando o

acarretamento semântico que esses papéis podem gerar gramaticalmente. No entanto, as

propriedades semânticas de um papel temático estão estritamente ligadas às posições

sintáticas que um argumento ocupa na sentença, como por exemplo, um DP com papel

temático de [AGENTE] ocupar a posição de sujeito na sentença. Muitos autores,

(JACKENDOFF, 1972; BRESNAN, KANERVA, 1989; CANÇADO, 2003, 2005, 2009,

2013; LEVIN, 2013, 2014), então, tentam evidenciar as relações entre as funções semânticas e

a organização sintática dos argumentos nas sentenças.

20

2.3 A POSSIBILIDADE DE ALTERNÂNCIA ESTRUTURAL: OS VERBOS

INCOATIVOS

É um princípio a língua nos oferecer alternativas para expressarmos uma mesma

proposição, dependendo do que se deseja ressaltar na sentença. Uma dessas possibilidades é a

alternância verbal. A alternância verbal está relacionada à possibilidade de um verbo

apresentar duas estruturas argumentais, alternado sua transitividade.

Um exemplo disso são os verbos incoativos que apresentam duas estruturas temáticas

possíveis e um mesmo significado, como acontece com o verbo rasgar.

(13) O homem rasgou a camisa

(14) A camisa rasgou

Entre as sentenças (13) e (14) a diferença está no fato de que uma estrutura

argumental, a mais simples, (14), contém apenas um argumento com papel temático de

[TEMA], o DP que tem esse papel temático se torna então o sujeito da frase. A outra estrutura

argumental do verbo incoativo corresponde à seleção de dois argumentos, como em (13): um

DP com o papel temático de [AGENTE] e outro com o papel temático de [TEMA], tendo o

DP [AGENTE] a função sintática de sujeito; e o DP [TEMA] a função sintática de objeto

direto. A representação das sentenças se encontra nos seguintes esquemas arbóreos.

(13)

CP Spec C’ C TP DP T’ o homemj T VP rasgoui DP V’ tJ V DP ti a camisa

21

(14)

Em (14), a camisa é argumento interno do verbo, portantonasce à direita do verbo,

como seu Compl, onde lhe é atribuído o papel temático [TEMA]; depois é movido para [Spec,

TP], onde T lhe atribui o caso nominativo. O DP argumento interno a camisa se torna sujeito

da frase, mas seu papel temático, [TEMA], não muda.

Nem todos os verbos, entretanto, apresentam essa possibilidade de alternar a estrutura

argumental como os incoativos. Vejamos os exemplos abaixo:

(15) A moça temperou a salada

(16) *A salada temperou

A alternância com o verbo temperar não é possível já que promove uma sentença mal

formada ou agramatical, como em (16). Para alguns autores (FILLMORE, 1968;

WHITAKER-FRANCHI, 1989; LEVIN, 1993), o que permite um verbo alternar sua estrutura

argumental, como em (13) e (14), é ter seu complemento com papel temático de

[PACIENTE]/ [TEMA]. Apesar denotórias as relações semânticas entre ospapéis temáticos e

os argumentos, a explicação ainda não é clara. Ainda não há um consenso na teoria acerca dos

fundamentos dos papéis temáticos. O que se define como PACIENTE para um autor pode ser

também TEMA para outro. Então, na sentença (15) o DP a salada pode ser [PACIENTE],

pois sofre a ação de ser temperada, ou [TEMA], já que passa de um estado de não temperada

para temperada.

CP Spec C’ C TP DP T’ a camisaj T VP rasgoui

V’ V DP ti tj

22

O que me parece mais adequado é a explicação de que o que permite um verbo

apresentar variações em sua estrutura argumental é o fato de ele ter a necessidade de ter como

argumento DP com todos esses traços possíveis, já no léxico codificado pela GU.

Ainda é preciso acrescentar que alguns autores (LEVIN, 1993; FRANCHI, 1997;

LEVIN, RAPPAPORT HOVAV, 2005; PERINI, 2008) consideram o termo alternância

verbal o mesmo que diátese verbal. No entanto, para outros, como Benveniste (1991) e Moura

Neves (1987), alternância verbalsignificam as vozes verbais. Assim, existem três tipos de

vozes verbais: a ativa, a passiva e a média. No português brasileiro, o que mais se aproxima

da voz média seria a voz reflexiva. Na voz média, a ação ou estado do evento verbal afeta o

sujeito. (Cf. CANÇADO, 2013). Então no português teríamos como exemplo:

(17) A menina cortou o bolo

(18) O bolo foi cortado pela menina

(19) A menina se cortou

Nas sentenças acima,estamos diantedas seguintes estruturas temáticas: em (17),

[AGENTE, TEMA]; em (18), [TEMA, AGENTE]; e em (19), [AGENTE, TEMA], já que a

anáfora do tipo reflexivo se corresponde ao objeto. Com isso, percebemos que além de se

manterem os papéis temáticos, não ocorre uma alternância na estrutura argumental do verbo

cortar, como acontece com os verbos incoativos.

2.4HIERARQUIA TEMÁTICA

A literatura linguística postula uma hierarquia de papéis temáticos que existiria a partir

da relação entre cada papel temático com a sua possível função sintática. Mas existe um

problema nessa proposição hierárquica: a falta de consenso entre os pesquisadores. (Cf.

FOLEY, VAN VALIN JUNIOR, 1984; CANÇADO, 2003, 2005; LEVIN, RAPPAPORT

HONAV, 2005; RAPPAPORT HONAV, LEVIN, 2007; CANÇADO, 2009, 2013; LEVIN,

2013, 2014).

Jackendoff (1972) propõe [AGENTE] > [LOCAL]/ [FONTE]/ [ALVO] > [TEMA].

Foley e Van Valin Junior (1984) postulam que [AGENTE] > [EFETUADOR] >

[LOCATIVO] > [TEMA] > [PACIENTE]. E, de acordo com Bresnan e Kanerva (1989),

[AGENTE] > [BENEFICIÁRIO] > [EXPERIENCIADOR] > [INSTRUMENTO]

23

>[TEMA]/[PACIENTE] >[LOCATIVO].Franchi (1994), Cançado (1995) e Franchi e

Cançado (1997, 2002), estudando o PB, também propõem uma hierarquia temática4.

O consenso que há na literatura linguística quanto à hierarquia temática é o de que a

relação entre os papéis temáticos e as funções sintáticas é regida por princípios universais, e

estes princípios estariam na estrutura argumental de um item lexical. Este princípio linguístico

é conhecido como Princípio da Hierarquia Temática ou Princípio de Linking entre a Sintaxe

e a Semântica. (Cf. FILLMORE, 1968; JACKENDOFF, 1972, 1983; FOLEY, VAN VALIN

JUNIOR, 1984; GIVÓN, 1984; CARRIER-DUNCAN, 1985; BAKER, 1988; BRESNAN,

KANERVA, 1989; GRIMSHAW, 1990; JACKENDOFF, 1990; DOWTY, 1991; VAN

VALIN JUNIOR, LAPOLLA, 1997; VAN VALIN JUNIOR, 2005; CANÇADO, 2003, 2005,

2009, apud CANÇADO, 2013)

E o Princípio da Hierarquia Temática diz qual papel temático é estabelecido para qual

função sintática. Neste sentido, o Princípio da Hierarquia Temática apresenta as seguintes

ideias:

i) O Princípio estabelece as relações entre o conjunto das propriedades semânticas e

as posições dos argumentos dos predicados, ou seja, estabelece uma organização

dos argumentos externo e interno nas sentenças.

ii) As propriedades semânticas dos papéis temáticos são o que compõe este princípio

e não os papéis temáticos por si.

iii) É preciso considerar toda sentença ou proposição para atribuir papel temático às

posições argumentais, apesar de a Hierarquia Temática apenas organizar a

estrutura argumental.

No português brasileiro e em outras línguas é notável que o DP com papel temático

de[AGENTE] ocupa a posição de sujeito, como em (20); DP [INSTRUMENTO] também

pode ocupar a posição de sujeito, como em (21), ou então ocupa a de adjunto (20); e DP

[TEMA] ocupa, habitualmente, a função de objeto, como em (20), mas também pode ocupar a

posição de sujeito (22).

(20) A mãe forrou a cama com a colcha.

(21) A colcha forrou a cama.

(22) A cama rachou.

4Cançado (2003, 2005, 2009, 2013), estudando o PB, não propõe uma hierarquia, apenas fala da existência dos

seguintes papéis temáticos: [AGENTE], [PACIENTE], [CAUSA], [INSTRUMENTO], [TEMA], [EXPERIENCIADOR], [BENEFICIÁRIO], [OBJETIVO], [LOCATIVO], [ALVO] e [FONTE].

24

Isso mostra que DPs com qualquer um dos três papéis temáticos que o verbo seleciona

pode ocupar a posição de sujeito, o que deflagraria um processo hierárquico, como afirma

Cançado (2013):

“Muitos autores têm sugerido que esse processo de diferentes papéis temáticos ocuparem a posição de sujeito é um processo hierárquico, e não somente em português, mas também em muitas outras línguas. Parece que, quando um falante constrói uma sentença, tende a colocar o agente na posição de sujeito; se não houver um agente, a segunda preferência é para um beneficiário ou experienciador; a terceira preferência é para um tema ou paciente; e assim por diante”. (CANÇADO, 2013, p.20)

Então, ao que parece, existiria uma preferência do falante, uma ordem de importância,

para a posição de sujeito ser ocupada por um Nome com possibilidade de agentividade, ou

seja, um Nome com o traço [+ANIMADO], o que parece coincidir com a frequência de uso.

Dadas as limitações experimentais, pela quantidade de estímulos possíveis e pelo

desenho experimental que se impôs, nesse trabalho trato só de [AGENTE],

[INSTRUMENTO] e [TEMA]. Sendo assim, por esta lógica e pela minha intuição de falante,

descordo de Bresnan e Kanerva (1989) e posso concordar parcialmente com Cançado (2013).

Assumo que [AGENTE] > [TEMA] > [INSTRUMENTO].

2.5 PSICOLINGUÍSTICA E PROCESSAMENTO DE SENTENÇA

A Psicolinguística tem como marco inicial a Teoria da Complexidade Derivacional

(DerivationalTheoryofComplexity – DTC) com os experimentos de George Miller e

associados (MILLER, 1956), que demonstraram estruturas sintáticas em suas realidades

psicológicas. Com o advento da Gramática Gerativa (CHOMSKY, 1957), surge o primeiro

modelo transformacional, Kamel&Tags, e as investigações experimentais passam a tentar

identificar o processamento da linguagem e sua manifestação sintática.

Entretanto, outros experimentos que se seguiram (FODOR, BEVER, GARRET, 1974)

evidenciaram que as diferenças encontradas no processamento de algumas construções

salientadas pela DTC eram atribuídas não a fatores sintáticos, mas a semânticos. Com isso,

aconteceram a falência da DTC e o afastamento da Psicolinguística dos estudos de Chomsky,

ou seja, Psicolinguística e Gramática Gerativa se separam.

Somente na década de 80, a Psicolinguística ressurge, com força, especialmente a

partir de Frazier (1987), na subárea de Processamento de Sentença. Diferentes modelos de

25

processamento, então, tentam explicar, por meio de variadas formas, suas visões acerca da

organização da mente e do funcionamento da linguagem. Preconiza-se, assim, a existência de

um processador linguístico autônomo (parser), um aparato da cognição responsável por

conduzir a computação linguística em tempo real, em sua produção e compreensão de

enunciados.

Dessa forma, as teorias de processamento de sentenças objetivam identificar as

informações que são acessadas pelas pessoas ao lerem ou ouvirem frases para se determinar

princípios universais do processamento linguístico. Vejamos algumas das teorias apresentadas

na literatura.

O modelo serial de processamento de sentença (Theoryof Garden Path – TGP),

formulado por Frazier (1987), afirma que as várias informações sintáticas, morfológicas,

semânticas, ortográficas e prosódicas contidas em cada item lexical, são acessadas em dado

momento específico do processamento. O parser, sendo serial, processa primeiro as

informações sintáticas separadamente das informações semânticas e de conhecimento de

mundo. Na primeira passada, o parser processa apenas as informações sintáticas, por serem

elas essenciais para a concatenação sintagmática. A estas informações, seguem-se as de

ordem morfológica, prosódica, etc., até que o falante processe toda frase. Frazier e Clifton Jr

(1996) revisam a teoria TGP em Construal. Os autores afirmam que quando somos expostos a

um estímulo linguístico utilizamos uma estratégia única. Essa estratégia cognitiva busca

estabelecer imediatamente relações sintáticas mínimas como a estruturação de marcadores

frasais necessários às exigências gramaticais. Essa estratégia cognitiva básica é a aposição

mínima, ou seja, a concatenação do verbo com seu complemento. Sendo o modelo serial, essa

concatenação resulta em uma única estrutura, formando o fechamento de um elemento. Se no

decorrer da derivação aparecer um outro segmento que precise ser integrado, mas que não se

encaixa na estrutura já formada pela aposição mínima, ocorrerá uma estranheza e hesitação na

derivação, esse é o efeito Garden Path (labirinto). Esse efeito faz com que a derivação seja re-

analisada e recomece. Ainda, se possível, há uma reparação da derivação.

O modelo de processamento paralelo conversa com o conexionismo. Diferentemente

do serial, no paralelo, todas as informações de ordem morfológica, semântica, sintática,

pragmática, etc., são usadas em paralelo desde o início do processamento. Uma das teorias

que representa esse modelo é a de satisfação de condições, teoria que propõe que o parser

pode acessar diferentes informações paralelamente. Mas este é influenciado pelas informações

dos itens lexicais de caráter semântico, pragmático e discursivos, assim também como pela

26

frequência da ocorrência dos itens lexicais. Este modelo procura mostrar o quanto as

condições de natureza pragmática são importantes para resolver ambiguidades estruturais.

O modelo interativo (incrementacionalou incremental) propõe uma interação direta

entre os módulos que atuam no processamento linguístico. Como exemplo, temos o modelo

de Bates e MacWhinney (1989) de competição. Em razão de propor uma visão de linguagem

integrada, este modelo é considerado cognitivista, em que cada módulo interage com o outro,

trocando informações, comunicando-se entre si até chegar a um processador geral.

Ressalto que a questão da derivação sintática e sua direcionalidadesão

consideradasbottom-uppelo Programa Minimalista. Isso, em vista dos resultados apontados

pelo experimento aqui realizado, se faz muito importante para esta dissertação. E como bem

salienta Rodrigues (2012):

NoPrograma Minimalista assume-se uma visão derivacional da computação sintática, sendo os objetos sintáticos construídos passo a passo, a partir da aplicação de operações sintáticas. Essa visão é altamente compatível com a ideia de incrementalidade, em especial quando conjugada ao conceito de fase, que corresponde a subpartes dos arranjos de itens lexicais, ponto de partida da derivação sintática. (RODRIGUES, 2012)

Dessa forma, esses vários modelos de processamento tentam avaliar a realidade da

Faculdade da Linguagem, buscando desvendar como as pessoas processam as sentenças,

extraindo delas as informações para sua interpretação e como esse processo ocorre. Assim, a

Psicolinguística tem se revelado uma interface importante entre os fenômenos da mente e os

linguísticos. (Cf. MAIA, 2001; LAGE, 2005a; MIYAMOTO, 2005; CORRÊA, 2008; MAIA,

2010; RODRIGUES, 2012; ALVES, 2014).

27

3 O EXPERIMENTO

3.1 MATERIAIS E MÉTODOS

Este é um experimento de leitura automonitorada para avaliar o tempo de leitura de

sentenças manipuladas no cruzamento de duas variáveis independentes, sempre em relação ao

DP sujeito: animacidade e papel temático. A variável animacidade foi testada em dois níveis

[+ANIMADO] e [-ANIMADO]. A variável Papel Temático foi manipulada em três níveis:

agente, experienciador e paciente. Cruzando as duas variáveis independentes no design

fatorial, programamos um experimento 3x2, dando origem a seis condições experimentais,

com distribuição entre os participantes do tipo within subject, segundo quadrado latino (cf.

distribuição no anexo). Pela forma como organizamos o experimento poderemos testar

separadamente ou de forma cruzada o impacto das duas variáveis independentes. Como o

experimento proposto foi deleitura automonitorada, as variáveis dependentes foram o tempo

de leitura de cada segmento das sentenças e a acurácia das respostas a uma pergunta final que

tinha por objetivo testar a compreensão e atenção do participante às as sentenças do

experimento.

As sentenças foram divididas em segmentos, cujo aparecimento na tela foi comandado

pelo participante. O comando para exibir mais um segmento foi considerado o fim do tempo

de leitura daquele segmento e o início do tempo de leitura do próximo segmento.

Assim, para cada participante, cada sentença experimental gerou um tempo de leitura

em quatro pontos: tempo de leitura do sujeito, do verbo, do objeto e do adjunto com função de

protetor.

É interessante notar que no primeiro ponto de observação – no DP sujeito – o tempo

de leitura só pode ser relacionado à animacidade porque ainda não há nenhuma manifestação

relacional naquele ponto a que se possa atribuir influência do papel temático. Assim a

primeira predição que se faz é a de que será possível verificar uma diferença de tempo de

leitura nesse ponto exclusivamente por conta da animacidade, já que tamanho de constituinte

e frequência de itens foram controlados. Portanto, os tempos de leitura nesse ponto não estão

submetidos a seis condições, mas somente a duas: DP [+animado] e DP [-animado]. Para

aferir esses tempos e calcularmos a significância estatística dos tempos de leitura do sujeito

usaremos todos os DPs animados vs todos os DPs inanimados dos estímulos experimentais.

Isso torna o número de observações dessa condição três vezes maior do que aqueles que

28

encontraremos nos outros pontos de observações, em que a variável animacidade já cruza com

os três níveis da variável tipo de papel temático.

À medida em que mais palavras são exibidas pelo protocolo do experimento e

colocadas na estrutura sintática que está sendo formada, a variável independente – tipo de

papel temático do sujeito – começa a poder ser aferida melhor. Os outros três pontos de

observação – no verbo, objeto e adjunto – estão sendo considerados por nós como

oportunidades paulatinas de observar o momento do processamento em que o papel temático

do sujeito pode ser atribuído. O esquema abaixo demonstra um possível curso de

processamento, tentando assumir o mínimo, apenas para dar conta dessa situação de

incrementação de possibilidades na Figura 1:

Apresentação do 1º DP Conjeturas do

participante sobre o sujeito

Apresentação do verbo

Predições do participante sobre a naturezasemântica do sujeito.

A diferença no tamanho das fontes tenta estabelecer uma relação com força da

expectativa

Apresentação do objeto

Predições sobre a natureza

semântica do sujeito

O mágico “É animado”

passou

“Se ROUPA; então

AGENTE”

um sufoco

“Ah,

experienciador.”

“Se SUFOCO; então EXPERIENCIADOR”.

“Se CARÃO do chefe; então PACIENTE”

Apresentação do protetor Digestão da carga semântica da sentença inteira

no teatro

Se EXPECTATIVA MAIS FORTE SATISFEITA, menos tempo de processamento geral da sentença

Se NECESSIDADE DE REFORMULAÇÃO da expectativa mais forte, então mais tempo de

processamento geral da sentença

Figura 1: Possível curso de processamento sob a ótica da compreensão semântica do sujeito

3.1.1Condições e estímulos

Utilizei como estímulos sempre sentenças do tipo S-V-O, com um adjunto ao final

para servir de zona de spillover (protetor), no qual pode incidir o processamento geral da

sentença. O sujeito das sentenças era sempre um DP com núcleo Artigo Definido. O verbo foi

conjugado invariavelmente no Pretérito Perfeito. Nas duas condições que envolvem papel

temático paciente utilizou-se verbo leve: DP-sujeito [PACIENTE], com traço [+ANIMADO]

ou [-ANIMADO]. O objeto era sempre um DP com núcleo Artigo Indefinido. E o

29

protetor era do tipo Adjunto (Adj) com a Preposição (P) em ou de, somada a um Artigo

Definido. DPs-objeto, protetores e verbos, jamais eram repetidos, exceção a alguns verbos

leves, dada a sua pouca quantidade na língua e por ser esvaziado semanticamente.

Por outro lado, os DPs-sujeitos foram repetidos propositadamente entre as listas para

que pudéssemos controlar perfeitamente a relação que eles estabeleciam com o verbo. Porém

os verbos iguais sempre eram lidas em distribuição entre voluntários diferentes, tendo em

vista que o experimento era withinsubjects. Assim nenhum participante leu duas palavras

repetidas, com exceção aos verbos leves (deu, tomou, levou etc), em número muito reduzido

por razões já explicadas acima e que dizem respeito somente às condições Animado +

Paciente e Inanimado + Paciente.

Cruzando-se os dois níveis da Variável Animacidade com os três níveis da Variável

Papel Temático, obtiveram-se seis condições experimentais: (i) AA animado + agente; (ii)

AE animado + experienciador; (iii) AP animado + paciente; (iv) IA inanimado + agente; (v)

inanimado + experienciador; (vi) inanimado + paciente.

Note-se que por razão da distribuição Within-Subject, tivemos seis listas semelhantes

equanimemente distribuídas entre os participantes, cujas apresentações eram sempre

aleatorizadas. As duas primeiras listas serão transcritas abaixo para exemplificação. As outras

quatro serão colocadas no anexo da dissertação:

Tabela 1: LISTA 1

# Sujeito Verbo Objeto Protetor Pergunta Resposta alvo

Assunto da pergunta sobre

sujeito, objeto ouprotetor

AA20 O goleiro jogou uma camisa na torcida Sobre goleiro? Sim S

AA26 O marido tirou um cigarro da carteira Sobre cigarro? Sim O

AA32 O culpado abriu uma bebida ao volante Sobre volante? Sim P

AE1 O diretor sentiu uma pontada na cabeça Sobre diretor? Sim S

AE7 O lutador sacou uma traição do médico Sobre traição? Sim O

AE13 O detento sofreu um período de aflição Sobre aflição? Sim P

AP39 A atleta passou um problema de doença Sobre atleta? Sim S

AP45 O músico teve um aplauso do público Sobre aplauso? Sim O

AP51 O atleta levou uma facada na barriga Sobre barriga? Sim P

IE58 A câmera fisgou uma pessoa no recinto Sobre sombra? Não S

IE64 A favela venceu uma batalha de saúde Sobre paz? Não O

IE70 O ônibus perdeu um retorno da estrada Sobre destino? Não P

IA77 A antena vestiu umaproteção de plástico Sobre dor? Não S

IA83 O software cedeu uma licença ao cliente Sobre caderno? Não O

IA89 O albergue pediu uma cópia do seguro Sobre entulho? Não P

IP96 O governo pegou uma inspeção da justiça Sobre planetário? Não S

IP102 A rádio tocou umamúsica de piano Sobre trabalho? Não O

IP108 A empresa ganhou um rótulo de conceito Sobre verdade? Não P

30

Tabela 2:LISTA 2

# Sujeito Verbo Objeto Protetor Pergunta Resposta alvo

Assunto abordado pela

pergunta: sujeito, objeto ou

protetor

AA21 A idosa raspou um panela de cocada Sobre idosa? Sim S

AA27 O músico tocou um pagode no terraço Sobre pagode? Sim O

AA33 O atleta riscou um traçado no caminho Sobre caminho? Sim P

AE2 O goleiro ouviu um palavrão do árbitro Sobre goleiro? Sim S

AE8 O marido pescou uma mentira da esposa Sobre mentira? Sim O

AE14 O culpado nutriu um remorso no coração Sobre coração? Sim P

AP40 A menina levou um bofetão do colega Sobre menina? Sim S

AP46 A gestante tomou um remédio na clínica Sobre remédio? Sim O

AP52 O turista marcou uma bobeira no calçadão Sobre calçadão? Sim P

IE59 A antena captou um objeto no espaço Sobre nuvem? Não S

IE65 O software pensou uma reação do sujeito Sobre roubo? Não O

IE71 O albergue curtiu um inverno de reformas Sobre lual? Não P

IA78 O governo mostrou uma figura da pesquisa Sobre mercado? Não S

IA84 A rádio soltou um sucesso no domingo Sobre recado? Não O

IA90 A empresa comprou um prédio no nordeste Sobre Sul? Não P

IP91 A floresta teve um ataque de abelhas Sobre galeria? Não S

IP97 O palácio sofreu um furacão no outono Sobre detetização? Não O

IP103 O produto ganhou um esbarrão do cliente Sobre criador? Não P

Alguns controles implementados devem ser esclarecidos. Por exemplo, note-se que na

Lista 1, o sujeito o marido, cuja célula está colorida de verde, aparece na condição Animado-

Agente (item AA26). Já na Lista 2, o mesmo DP o marido aparece na condição Animado-

Experienciador (item AE8),cuja célula também foi colorida de verde.

Da mesma forma na Lista 1 o sujeito a rádio, cuja célula está colorida de azul, aparece

na condição Inanimado-Paciente (item IP102). Já na Lista 2, a rádio aparece na condição

Inanimado-Agente (item IA84),cuja célula também foi colorida de azul.

Assim, entre as seis listas pudemos controlar exatamente os mesmos sujeitos

animados, assumindo os três papéis temáticos que controlamos (agente, experienciador e

paciente), e os mesmos sujeitos inanimados, assumindo os mesmo três papéis temáticos que

controlamos (agente, experienciador e paciente).

Outro controle que julgamos ter sido muito importante para a comparabilidade entre as

condições foi estabelecido entre os sujeitos animados e os inanimados. É que apesar de eles

serem itens lexicais diferentes, como músico (+Animado) e rádio (-Animado) os verbos que

se combinavam com eles eram os mesmos. Note-se assim que na Lista 1 o verbo “tocou”, cuja

31

célula está colorida de coral, aparece na condição Inanimado-Paciente (item IP102). Já na

Lista 2, tocou aparece na condiçãoque tem sujeito Animado-Agente (item AA27).

Cada participante foi exposto a 18 sentenças experimentais nas seis condições como

pudemos ver em cada um dos quadros acima. Além dessas sentenças, cada participante

também foi exposto a 36 sentenças distratoras, totalizando 54 sentenças. As sentenças

distratoras e as experimentais foram aleatorizadas pelo software de apresentação (E-prime –

Psychology Software Tools, Inc.: Solutions for Research, Assessment, andEducation), a cada

rodada do experimento.

Computando todas as listas e os distratores, foram criados 18 estímulos de cada

condição, totalizando 108 sentenças experimentais, e 36 distratoras, também do tipo S-V-O-

Adjunto, que serviram para tentar afastar controle consciente por parte dos participantes dos

objetivos do experimento.

As sentenças experimentais foram divididas em 4 segmentos e cada um deles foi

controlado pelo número de sílabas e de fonemas (Tabela 3). Segmentos nasais não fonêmicos

não contaram em nossa lista como fonema (ex. panela=6 fonemas; renda=4fonemas):

Tabela 3: Tamanho dos segmentos em número de sílabas e fonemas

Sujeito Verbo Objeto Protetor

Artigo definido : 1 fonema

Nome: 3 sílabas; de 5 a 7 fonemas

2 sílabas, de 4 a 6

fonemas

Artigo definido : 1 fonema

Nome: 3 sílabas; de 5 a 7 fonemas

Preposição: 1 sílaba[

Nome: 3 sílabas; de 5 a 7 fonemas

Os verbos foram sempre conjugados no pretérito perfeito, que é o tempo que descreve

de forma mais natural um evento acabado, assim evitando vieses de aspecto e modalidade. A

frequência dos nomes e verbos também foi controlado de maneira mais informal por três

membros do laboratório LADS e seis adolescentes do mesmo grupo daqueles que fizeram o

teste. A eles foi pedido que classificassem as palavras entre muito frequentes, frequentes,

pouco frequentes e desconhecidas. Só as frequentes e muito frequentes foram utilizadas.

3.1.2 Cronologia de apresentação do experimento

O código de apresentação do experimento no monitor foi desenvolvido na Plataforma

E-Primee a metodologia de inserção dos estímulos foi a de lista interna. Esta modalidade é a

32

mais indicada para listas de estímulos curtas, pois evita o endereçamento para fora do código,

envolvendo acesso a listas armazenadas em outros endereços.

A sequência experimental aparece na Figura 1, abaixo.

Figura 1: Sequência do experimento. Após a apresentação de uma cruz de fixação por 1500ms os quatro segmentos da sentença e a pergunta final de compreensão são auto-temporizadas, sendo que os quatro segmentos aparecem a partir do acionamento da barra de espações e a resposta à pergunta se dá quando o participante escolhe acionar uma de duas teclas, ou a verde para SIM ou a vermelha para NÃO. Todo teste, incluindo instruções, fase de treinamento e fase experimental demorava por volta de 10 minutos.

Foi usada uma tela de fundo preto com as letras dos segmentos em branco, fonte 18,

Times New Roman, conforme mostram a sequência de Figuras de 2 a 7, da sentença AE1.

Figura 2: Tela de Instruções

Figura 3: Exibição da cruz de fixação por 1500ms

+

33

Figura 4: Exibição do Segmento 1 – DP sujeito

Figura 5: Exibição do Segmento 2 – verbo

Figura 6: Exibição do Segmento 3 – DP objeto

sentiu

uma pontada

O diretor

34

Figura 7: Exibição do Segmento 4 – Adjunto protetor

3.1.3 Participantes

Os participantes desse experimento foram 39 alunos (16 do sexo feminino), destros,

com visão perfeita ou corrigida, idade média de 16,8, cursando a segunda série do Ensino

Médio no Grupo Escolar Joaquim Távora, situado no Campo de São Bento, Niterói. Todos os

alunos que fizeram o teste entregaram uma cópia do Termo de Consentimento Livre e

Esclarecido - TCLE - devidamente assinado pelo responsável.

A Escola por sua vez aceitou o pedido de cooperação com a Pós-Graduação em

Linguística da UFRJ, tendo o pedido sido encaminhado através da autora do experimento que

é professora da escola. A diretoria concordou em disponibilizar uma sala de aula apropriada

para o teste. A situação física da implementação do teste pode ser visualizada na Figura 8.

na cabeça

35

Figura 8: Cenário real do teste sendo implementado. Sala de aula bem iluminada, climatizada e tranquila, com o participante fazendo o teste só com a presença da pesquisadora sentada ao lado.

3.2 RESULTADOS E ANÁLISE ESTATÍSTICA

Como já foi explicado anteriormente, há quatro pontos de observação que nos

interessam nesse teste. Eles correspondem à leitura do sujeito, do verbo, do objeto e do

protetor. Os resultados lineares, suas estatísticas e gráficos poderão ser observados abaixo:

3.2.1 Tempos de leitura do sujeito

Como já explicado, qualquer diferença no tempo de leitura do sujeito, que é o primeiro

segmento apresentado, só pode estar relacionada à animacidade porque, controlados o

tamanho e frequências dos itens, ainda não teria havido nenhuma manifestação relacional

entre o sujeito e outro elemento da sentença, naquele ponto da leitura do sujeito a que se

poderia atribuir influência do papel temático.

36

Assim, a primeira predição que fizemos é a de que seria possível verificar uma

diferença de tempo de leitura nesse ponto, exclusivamente por conta dos traços de

animacidade dos NPs, já que tamanho de constituinte e frequência de itens foram controlados.

Como não precisamos dividir os estímulos nesse ponto entre os três níveis de papel

temático investigados, tivemos um total de 142 nomes animados e 142 inanimados (Tabela 4).

Tabela 4: Lista dos tempos de leitura para os 142 nomes animados e os 142 inanimados sinalizados por barra programada em MSExcel, cuja extensão corresponde ao tempo de leitura item a item. É possível perceber que a cada duas colunas, a segunda, relativa aos nomes inanimados, tem barras mais longas.

A Tabela 4 propicia uma simples inspeção visual item a item dos resultados por nível

de animacidade. As barras azuis correspondem ao tempo médio de resposta àquele item.

Para aferir a significância estatística desses tempos utilizamos o pacote EZ Anova for

Windows (disponível em http://www.cabiatl.com/mricro/ezanova/), que provém uma análise

da variância tanto para casos com uma variável independente com para casos com duas ou

três. Nesse caso, para os tempos de leitura do sujeito, usamos a opção de uma variável

37

independente em dois níveis, com distribuição withinsubject. Os resultados podem ser vistos

no Gráfico1.

Gráfico1: Médias dos tempos de leitura dos sujeitos em ms; colunas assinaladas com “*” da significância estatística. Animacidade do sujeito ANOVA: Design 1 WithinSubjectFactor

Animacidade F(1,141) = 16,8 p<0,000071 SS=1353918,60 MSe=80704,43

PAIRWISE COMPARISONS

[animado]vs[inanimado] t(141)=4,10 p< 0,0001 DESCRIPTIVE DETAILS

Animacidade : animado vs inanimado

A I

Mean 708,26 846,35

nStDev 200,88 200,88

nSE 16,86 16,86

nVar 40352,22 40352,22

nCI95% 47,13 47,13

N 142 142

Skew 0,391 0,988

zSkew 1,904 4,808

Pode ser aferido um efeito principal para a variável Animacidade com alta

significância estatística (p<0,000071). A comparação entre os dois níveis de Animacidade

Sujeitos animados Sujeitos inanimados

Sujeito 708,27 846,35

708,27

846,35

600

650

700

750

800

850

900

tem

po

de

le

itu

ra e

m m

s

Média dos Tempos de Leitura

* p< 0,0001

38

também resultou em significância estatística (p< 0,0001), ou seja, é possível afastar a hipótese

nula de que não haveria diferença entre os grupos comparados.

3.2.2 Tempos de leitura do verbo

Com a Tabela 5 é possível fazer uma simples inspeção visual linear dos tempos de

leitura do verbo por condição. As barras verdes correspondem ao tempo médio de resposta

àquele item.

Tabela 5: Lista dos tempos de leitura dos verbos por condiçãosinalizados por barra programada em MSExcel, cuja extensão corresponde ao tempo de leitura item a item.

39

Para avaliarmos a significância estatística dos tempos na Tabela 5, plotamos o Gráfico

2, com as médias dos tempos de leitura comparados por cada uma das seis condições:

40

Gráfico2: Médias dos tempos de leitura dos verbos em ms; colunas assinaladas com “*” apresentam comparações com significância estatística. Tempo de Leitura no Verbo ANOVA: Design 2 WithinSubjectFactors

Animacidade F(1,49) = 0,068 p<0,795159 SS=3502,08

MSe=51395,44

Papel Temático F(2,98) = 15,2 p<0,000002 SS=1965189,73

MSe=64813,56

Greenhouse-Geisser{0,9984} p<0,0000019 Huynh-Feldt{1,000} p<0,0000018

Animacidade*Papel Temático F(2,98) = 1,73 p<0,182613 SS=199326,17

MSe=57600,99

-Note: ezANOVA does not compute sphericity correction for interactions.

Para os tempos de leitura do verbo não pode ser aferido um efeito principal para a

variável Animacidade (p<0,795159). Porém houve um efeito principal forte para a

variávelPapel Temático (p<0,000002), ou seja,foi possível afastar a hipótese nula de que não

haveria diferença entre níveis de papel temáticos durante a leitura do verbo.

Faremos dois tipos de comparações. Primeiro, comparações dos tempos de leitura do

verbo precedido por sujeito animado nos três níveis de papel temático: agente; experienciador

e paciente. E comparações dos tempos de leitura do verbo precedido por sujeito inanimado

também nos três níveis de papel temático: agente; experienciador e paciente.

Em segundo lugar, faremos comparações dos tempos de leitura do verbo em que

mantemos o papel temático constante e comparamos os dois níveis de animacidade.

41

Vamos começar então pelas comparações das condições AA, AE e AP e IA, IE e IP

que podem ser vistas no Gráfico 2.

COMPARAÇÕESPAR A PAR

[Animado_Agente]vs[Animado_Experienciador] t(49)=1,85 p< 0,0708

[Animado_Agente]vs[Animado_Paciente] t(49)=3,00 p< 0,0043

[Animado_Experienciador]vs[Animado_Paciente] t(49)=3,92 p< 0,0003

[Inanimado_Agente]vs[Inanimado_Experienciador] t(49)=0,55 p< 0,5878

[Inanimado_Agente]vs[Inanimado_Paciente] t(49)=3,48 p< 0,0011

[Inanimado_Experienciador]vs[Inanimado_Paciente] t(49)=3,44 p< 0,0012

A primeira comparação envolvendo sentenças como AA20 e AE02 abaixo teve um

efeito quase estatístico (p< 0,0708) e na direção do que se esperava, com as médias para

agente menores do que aquelas de experienciador. Aqui a predição não se realizou

plenamente porque esperava-se para sujeitos animados o papel temático agente funcionaria

como default. Estes achados serão abordados com profundidade na discussão.

AA20 O goleiro jogou uma camisa na torcida

AE02 O goleiro ouviu um palavrão do árbitro

As comparações entre sentenças da condição Animado_AgentevsAnimado_Paciente

foi altamente significativa ( p<0,0043) sendo que os verbos da condição sujeito paciente

foram mais baixos, para sentenças como as exemplificadas abaixo:

AA20 O goleiro jogou uma camisa na torcida

AP38 O goleiro levou uma bolada no joelho

A condição paciente envolve verbo leve, que naturalmente posterga a interpretação do

evento até o aparecimento do objeto. O verbo leve também tem muito pouco conteúdo

semântico o que pode ensejar uma aceleração na completude da ação de leitura em direção ao

objeto que enfim poderá completar o sentido da sentença.

As comparações entre sentenças da condição

Animado_ExperienciadorvsAnimado_Paciente também foi altamente significativa (p<0,0003)

42

sendo que os verbos da condição sujeito paciente foram mais baixos, para sentenças como as

exemplificadas abaixo:

AE02 O goleiro ouviu um palavrão do árbitro

AP38 O goleiro levou uma bolada no joelho

De novo, se a comparação entre AA e AE não resultou em números significativos, já

era de se esperar que a comparação AE com AP fosse ser significativa, por razões

semelhantes às sugeridas acima.

Entre os três grupos com sujeito inanimado a primeira comparação envolvendo

sentenças como IA88 e IE70 abaixo não teve um efeito estatístico (p< 0,5878) e a direção foi

oposta àquela das condições animadas: com as médias para agente maiores do que aquelas de

experienciador. Ou seja, a relação entre um sujeito inanimado e um verbo com a possibilidade

de potencializar nele agentividade, demanda mais esforço, ainda que linear, do que a

possibilidade de potencializar nele o papel temático de experienciador.

IA88 O caminhão comeu uma calota Na estrada

IE70 O caminhão perdeu um retorno da estrada

As comparações entre sentenças da condição

Inanimado_AgentevsInanimado_Paciente(como em IA88 e IP106) e também Inanimado

Experienciador e Inanimado_Paciente(como em IE70 e IP106) foram altamente significativas,

(respectivamente p< 0,0011 e p< 0,0012). Realmente nossa predição aqui se cumpriu que

seria a de que sujeito inanimado tivesse como papel temático default o de paciente.

IA88 O caminhão comeu uma calota na estrada

IP106 O caminhão levou umabatida na traseira

IE70 O caminhão perdeu um retorno da estrada

IP106 O caminhão levou umabatida na traseira

O segundo grupo de comparações que pode ser feito a partir dos tempos de leitura do

verbocontrasta o mesmo papel temático do sujeito entre as versões animadas e inanimadas.

Isso é o que podemos ver plotado no Gráfico 3.

43

Gráfico3: Médias dos tempos de leitura dos verbos em ms; não houve comparações com estatística relevante.

COMPARAÇÕESPAR A PAR

AA20 O goleiro jogou uma camisa na torcida

IA88 O caminhão comeu uma calota na estrada

[Animado_Agente]vs[Inanimado_Agente] t(49)=1,45 p< 0,1539

AE02 O goleiro ouviu um palavrão do árbitro

IE70 O caminhão perdeu um retorno da estrada

[Animado_Experienciador]vs[Inanimado_Experienciador] t(49)=0,96 p< 0,3438

AP38 O goleiro levou uma bolada no joelho

IP106 O caminhão levou umabatida na traseira

[Animado_Paciente]vs[Inanimado_Paciente] t(49)=0,81 p< 0,4209

As comparações no sentido da animacidade, no ponto da leitura do verbo, não

resultaram em diferenças estatísticas. Isso é bastante interessante se levarmos em conta que a

análise dos tempos de leitura no sujeito mostraram-se estatisticamente muito significativas,

sendo os nomes animados lidos mais rapidamente do que os inanimados. Parece que esta

diferença não se propagou para o ponto de leitura do verbo, como se não houvesse tentativa

de estabelecer uma relação nesse momento. Por outro lado,com o fato de que no sentido dos

papéis temáticos houve diferenças estatísticas significativas na leitura do verbo, poderíamos

pensar que a informação de papel temático já se encontra disponível ou pelo menos latente no

AA IA AE IE AP IP

Verbo A vs I 718 694 780 723 723 551

718 694780

723 723

551

0

200

400

600

800

1000

1200

Te

mp

o d

e l

eit

ura

em

ms

Tempo de Leitura do Verbo em

sentenças com Sujeito Animado

comparada à de sujeito Inanimado

44

ponto de leitura do verbo, mas ela parece ainda não se combinar ainda com o traço de

animacidade que também já foi percebido.

3.2.3 Tempos de leitura do objeto

Com a Tabela 6 é possível fazer uma simples inspeção visual linear dos tempos de

leitura do objeto por condição. As barras corais correspondem ao tempo médio de resposta

àquele item.

45

Tabela 6: Lista dos tempos de leitura dos objetos por condiçãosinalizados por barra programada em MSExcel, cuja extensão corresponde ao tempo de leitura item a item.

46

Para avaliarmos a significância estatística dos tempos na Tabela 6, plotamos o Gráfico

4, com as médias dos tempos de leitura comparados por cada uma das seis condições:

Gráfico 4: Médias dos tempos de leitura dos objetos em ms; colunas assinaladas com “*” apresentam comparações com significância estatística.

Tempo de leitura do Objeto ANOVA: Design 2 WithinSubjectFactors

Animacidade F(1,47) = 6,14 p<0,016830 SS=657135,59

MSe=106952,98

Papel Temático F(2,94) = 9,52 p<0,000172 SS=1905888,59

MSe=100110,50

Greenhouse-Geisser{0,8883} p<0,0003335 Huynh-Feldt{0,921} p<0,0002751

Animacidade*Papel Temático F(2,94) = 2,05 p<0,134244 SS=523245,67

MSe=127520,64

-Note: ezANOVA does not compute sphericity correction for interactions.

DESCRIPTIVE DETAILS

AA AE AP IA IE IP

Mean 694,88 845,46 938,50 895,12 836,90 1033,42

nStDev175,34 280,28 322,24 286,32 274,82 437,68

nSE 25,31 40,46 46,51 41,33 39,67 63,17

nVar 30742,47 78558,68 103840,66 81981,50 75528,72 191563,21

nCI95%95,44 95,44 95,44 95,44 95,44 95,44

N 48 48 48 48 48 48

AA AE AP IA IE IP

Objeto 695 845 938 895 837 1033

695

845

938895

837

1033

0

200

400

600

800

1000

1200

Te

mp

o d

e l

eit

ura

em

ms

Tempo de leitura do objeto

*

* **

47

Skew 0,379 0,764 2,128 1,016 0,571 1,755

zSkew 1,073 2,161 6,019 2,875 1,614 4,963

Para os tempos de leitura do objetopode ser aferido um efeito principal forte para as

duas variáveis independentes: Animacidade (p<0,016830); e Papel Temático (p<0,000172).

Ou seja, foi possível afastar a hipótese nula de que não haveria diferença entre níveis de

animacidade e de papel temáticos durante a leitura do objeto.

Faremos dois tipos de comparações. Primeiro, comparações dos tempos de leitura do

objeto precedido por sujeito animado nos três níveis de papel temático: agente; experienciador

e paciente. E comparações dos tempos de leitura do objeto precedido por sujeito inanimado

também nos três níveis de papel temático: agente; experienciador e paciente.

Em segundo lugar, faremos comparações dos tempos de leitura do objeto em que

mantemos o papel temático constante e comparamos os dois níveis de animacidade.

Vamos começar então pelas comparações das condições AA, AE e AP e IA, IE e IP

que podem ser vistas acima, no Gráfico 4.

COMPARAÇÕESPAR A PAR

[Animado_Agente]vs[Animado_Experienciador] t(47)=3,33 p< 0,0017

[Animado_Agente]vs[Animado_Paciente] t(47)=4,43 p< 0,0001

[Animado_Experienciador]vs[Animado_Paciente] t(49)=3,92 p< 0,0003

[Inanimado_Agente]vs[Inanimado_Experienciador] t(49)=0,55 p< 0,5878

[Inanimado_Agente]vs[Inanimado_Paciente] t(49)=3,48 p< 0,0011

[Inanimado_Experienciador]vs[Inanimado_Paciente] t(47)=2,23 p< 0,0307

A primeira comparação envolvendo sentenças como AA20 e AE02 abaixo teve um

efeito estatístico (p<0,0017) e na direção do que se esperava, com as médias para agente

menores do que aquelas de experienciador. Aqui a predição se realizou plenamente porque

esperava-se que no momento em que entrasse o objeto as sentenças que tivessem na posição

de sujeito um agente seriam processadas mais rapidamente. Isso só aconteceu realmente no

ponto de leitura do objeto.

AA20 O goleiro jogou uma camisa na torcida

AE02 O goleiro ouviu um palavrão do árbitro

[Animado_Agente]vs[Animado_Experienciador] t(47)=3,33 p< 0,0017

48

As comparações entre sentenças da condição Animado_AgentevsAnimado_Paciente

foi altamente significativa (p< 0,0001) sendo que os objeto de sentenças em que o sujeito era

paciente foram mais baixos, para sentenças como as exemplificadas abaixo:

AA20 O goleiro jogou uma camisa na torcida

AP38 O goleiro levou uma bolada no joelho

[Animado_Agente]vs[Animado_Paciente] t(47)=4,43 p< 0,0001

As comparações entre sentenças da condição

Animado_ExperienciadorvsAnimado_Paciente também foi significativa ( p<0,0307) sendo

que os objetos em sentenças cujo sujeito era paciente foram mais altos, para sentenças como

as exemplificadas abaixo:

AE02 O goleiro ouviu um palavrão do árbitro

AP38 O goleiro levou uma bolada no joelho

[Animado_Experienciador]vs[Animado_Paciente] t(49)=3,92 p< 0,0003

O segundo grupo de comparações que pode ser feito a partir dos tempos de leitura do

objeto contrasta o mesmo papel temático do sujeito entre as versões animadas e inanimadas.

Isso é o que podemos ver plotado no Gráfico 5.

49

Gráfico5: Médias dos tempos de leitura dos objetos em ms; houve uma comparaçãos com estatística relevante. COMPARAÇÕESPAR A PAR NO OBJETO

AA20 O goleiro jogou uma camisa na torcida

IA88 O caminhão comeu uma calota na estrada [Animado_Agente]vs[Inanimado_Agente] t(47)=3,92 p< 0,0003

AE02 O goleiro ouviu um palavrão do árbitro

IE70 O caminhão perdeu um retorno da estrada [Animado_Experienciador]vs[Inanimado_Experienciador] t(47)=0,14 p< 0,8915

AP38 O goleiro levou uma bolada no joelho

IP106 O caminhão levou umabatida na traseira [Animado_Paciente]vs[Inanimado_Paciente] t(47)=1,03 p< 0,3106

As comparações no sentido da animacidade, no ponto da leitura do objeto, só

resultaram em uma diferença estatística: no contraste entre nome animado agente e nome

inanimado agente. No ponto de leitura do objeto, o Nome animado agente foi estatisticamente

mais rápido do que o paciente. Como comentamos antes nas sentenças se sujeito animado

AA IA AE IE AP IP

Objeto A vs I 695 895 845 837 938 1033

695

895845 837

938

1033

0

200

400

600

800

1000

1200

Te

mp

o d

e l

eit

ura

em

ms

Tempo de Leitura do Objeto em sentenças

com Sujeito Animado

comparada à de Sujeito Inanimado

*

50

atribuir papel temático de agente é uma expectativa default, e atribuir papel temático de

paciente é a condição menos esperada. Porém note-se que este contraste só se deu de forma

clara no ponto de leitura do objeto. As outras comparações não se mostraram relevantes.

3.2.4 Tempos de leitura do protetor (zona de spillover)

Com a Tabela 7 é possível fazer uma inspeção visual dos tempos de leitura do protetor

por condição. As barras lilás correspondem ao tempo médio de resposta àquele item.

Tabela 7: Lista dos tempos de leitura dos objetos por condiçãosinalizados por barra programada em MSExcel, cuja extensão corresponde ao tempo de leitura item a item.

51

Para avaliarmos a significância estatística dos tempos na Tabela 7, plotamos o Gráfico

6, com as médias dos tempos de leitura do protetor comparados por cada uma das seis

condições:

Gráfico6: Médias dos tempos de leitura dos protetores em ms; colunas assinaladas com “*” apresentam comparações com significância estatística.

Tempo de leitura do Protetor ANOVA: Design 2 WithinSubjectFactors

Animacidade F(1,51) = 30,6 p<0,000001 SS=3778720,82

MSe=123620,09

Papel Temático F(2,102) = 10,6 p<0,000065 SS=2204681,81

MSe=103889,08

Greenhouse-Geisser{0,8654} p<0,0001628 Huynh-Feldt{0,893} p<0,0001348

Animacidade*Papel Temático F(2,102) = 5,62 p<0,004849 SS=1086231,58

MSe=96685,42

-Note: ezANOVA does not compute sphericity correction for interactions.

DESCRIPTIVE DETAILS

AA AE AP IA IE IP

Mean 776,38 761,15 820,29 957,67 860,10 1200,37

nStDev 223,77 212,41 246,78 314,06 252,48 454,20

nSE 31,03 29,46 34,22 43,55 35,01 62,99

nVar 50074,82 45117,66 60901,01 98632,05 63745,65 206297,90

nCI95% 88,59 88,59 88,59 88,59 88,59 88,59

N 52 52 52 52 52 52

AA AE AP IA IE IP

Protetor 785 759 818 964 860 1211

785759

818

964

860

1211

-100

100

300

500

700

900

1100

1300

1500

Te

mp

o d

e L

eit

ura

e

m m

s

Tempos de Leitura dos Protetores

*

*

52

Skew 0,439 0,901 0,492 0,854 0,734 1,188

zSkew 1,293 2,652 1,448 2,513 2,161 3,498

Para os tempos de leitura do protetorpode ser aferido um efeito principal forte para as

duas variáveis independentes: Animacidade (p<0,000001); e Papel Temático (p<0,000065).

Ou seja, foi possível afastar a hipótese nula de que não haveria diferença entre níveis de

animacidade e de papel temáticos durante a leitura do verbo.

Faremos dois tipos de comparações. Primeiro, comparações dos tempos de leitura do

protetor precedido por sujeito animado nos três níveis de papel temático: agente;

experienciador e paciente. E comparações dos tempos de leitura do protetor precedido por

sujeito inanimado também nos três níveis de papel temático: agente; experienciador e

paciente.

Em segundo lugar, faremos comparações dos tempos de leitura do objeto em que

mantemos o papel temático constante e comparamos os dois níveis de animacidade.

Vamos começar então pelas comparações das condições AA, AE e AP e IA, IE e IP

que podem ser vistas acima, no Gráfico 4.

COMPARAÇÕESPAR A PAR PARA LEITURA DO PROTETOR

Não houve efeito estatisticamente relevante para nenhuma das três comparações

envolvendo sentenças com sujeitos animados como podemos observar nos quadros abaixo:

AA20 O goleiro jogou uma camisa na torcida

AE02 O goleiro ouviu um palavrão do árbitro

[Animado_Agente]vs[Animado_Experienciador] t(51)=0,35 p< 0,7294

AA20 O goleiro jogou uma camisa na torcida

AP38 O goleiro levou uma bolada no joelho

[Animado_Agente]vs[Animado_Paciente] t(51)=1,03 p< 0,3079

AE02 O goleiro ouviu um palavrão do árbitro

AP38 O goleiro levou uma bolada no joelho

[Animado_Experienciador]vs[Animado_Paciente] t(51)=1,43 p< 0,1583

53

Entre as três condições de sentenças com sujeito inanimado a primeira comparação

envolvendo sentenças como IA88 e IE70 abaixo não teve um efeito estatístico (p<0,0875) e a

direção foi oposta àquela das condições animadas: com as médias de leitura nos protetores em

relação ao sujeito para agente maiores do que aquelas de experienciador. Ou seja, a relação

entre um sujeito inanimado e um verbo com a possibilidade de potencializar nele

agentividade, demanda mais esforço, ainda que somente linear, do que a possibilidade de

potencializar nele o papel temático de experienciador.

IA88 O caminhão comeu uma calota Na estrada

IE70 O caminhão perdeu um retorno da estrada

[Inanimado_Agente]vs[Inanimado_Experienciador] t(51)=1,74 p< 0,0875

As comparações entre sentenças da condição

Inanimado_AgentevsInanimado_Paciente (como em IA88 e IP106) e também Inanimado

Experienciador e Inanimado_Paciente (como em IE70 e IP106) foram altamente

significativas, (respectivamente p< 0,0087e p< 0,0001). Realmente nossa predição aqui se

cumpriu que seria a de que sentenças com sujeitos inanimados seriam as mais difíceis de

processar.

IA88 O caminhão comeu uma calota na estrada

IP106 O caminhão levou umabatida na traseira [Inanimado_Agente]vs[Inanimado_Paciente] t(51)=2,73 p< 0,0087

IE70 O caminhão perdeu um retorno da estrada

IP106 O caminhão levou umabatida na traseira [Inanimado_Experienciador]vs[Inanimado_Paciente] t(51)=4,17 p< 0,0001

O segundo grupo de comparações que pode ser feito a partir dos tempos de leitura do

protetor contrasta o mesmo papel temático do sujeito entre as versões animadas e inanimadas.

Isso é o que podemos ver plotado no Gráfico 7.

54

Gráfico5: Médias dos tempos de leitura dos objetos em ms; houve duas comparações com relevância estatística.

COMPARAÇÕESPAR A PAR NO OBJETO

AA20 O goleiro jogou uma camisa na torcida

IA88 O caminhão comeu uma calota na estrada [Animado_Agente]vs[Inanimado_Agente] t(51)=3,07 p< 0,0034

AE02 O goleiro ouviu um palavrão do árbitro

IE70 O caminhão perdeu um retorno da estrada [Animado_Experienciador]vs[Inanimado_Experienciador] t(51)=2,14 p< 0,0372

AP38 O goleiro levou uma bolada no joelho

IP106 O caminhão levou umabatida na traseira [Animado_Paciente]vs[Inanimado_Paciente] t(51)=4,69 p< 0,0001

As comparações no sentido da animacidade, no ponto da leitura do protetor, só

resultaram em uma diferença estatística: no contraste entre nome animado agente e nome

inanimado agente. No ponto de leitura do objeto, o Nome animado agente foi estatisticamente

mais rápido do que o paciente. Como comentamos antes nas sentenças se sujeito animado

atribuir papel temático de agente é uma expectativa default, e atribuir papel temático de

paciente é a condição menos esperada. Porém note-se que este contraste só se deu de forma

clara no ponto de leitura do objeto. As outras comparações não se mostraram relevantes.

AA IA AE IE AP IP

Protetor A vs I 785 964 759 864 816 1211

785

964

759864 816

1211

0

200

400

600

800

1000

1200

1400

Te

mp

o d

e l

eit

ura

Tempo de Leitura do Protetor

em sentenças com Sujeito Animado

comparada à de Sujeito Inanimado

*

*

55

3.2.5 Acurácia das respostas às perguntas de compreensão e atenção ao teste

Os participantes se mostraram motivados para fazer o teste. O gráfico 6 mostra a

percentagem de acertos (90%) e a percentagem de erros totais por condição.

Mesmo no caso da condição sentenças com sujeito inanimado experienciador que

provocou a maior percentagem de erros (3%), o percentual total de acertos parece bastante

expressivo da atenção com a tarefa do experimento. Nenhum participante foi eliminado por

erros. Houve eliminações de itens pelo desvio padrão adotado. Observamos um corte de mais

dois e menos dois desvios padrões da média dos tempos de leitura.

90%

1%

2%

1%

2%

3%

1%

Acurácia das respostas de compreensão das

sentenças

certas

er-AA

er-AE

er-AP

er-IA

er-IE

er-IP

56

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O fato de o papel temático ser essencial para distinguir os argumentos e suas posições

sintáticas não confere a ele o estatuto de exclusividade a uma determinada posição

argumental. Essa parece ser justamente a razão de a hierarquia temática acontecer, pois são os

traços do verbo juntamente com os traços dos DPs selecionados para argumentos desse verbo

que determinarão, por exemplo, maior ou menor agentividade ao sujeito. É no conjunto das

relações que se estabelece entre verbo e argumentos que o papel temático se manifestará e

será projetado na sintaxe uma função a elecorrespondente.

Os resultados obtidos com o experimento desta pesquisa-dissertação sugerem que há

uma hierarquia de papéis temáticos do DP-sujeito, sendo esta hierarquia igual a [AGENTE] >

[TEMA] > [INSTRUMENTO]. Ou seja, trata-se de uma gradação de importância de papéis

temáticos do DP-sujeito, nesta ordem, que resulta em uma gradação de frequência, que, por

sua vez, corresponde a uma gradação de facilidade de processamento de DP-sujeito. Um DP-

sujeito [AGENTE] é processado muito mais rapidamente do que um DP-sujeito [TEMA], que

é processado muito mais rapidamente do que um DP-sujeito [INSTRUMENTO].

Apesar de não encontrarmos médias de tempo de resposta aos DPs-sujeito

estatisticamente diversas, essas diferenças que flagram a hierarquia de papéis temáticos do

DP-sujeito foram demarcadas no tempo total de processamento das sentenças, sendo

estatisticamente confirmadas. Provavelmente, tais fatos demonstram que, em termos de

processamento da sentença, é necessário se chegar à computação do verbo com seus

argumentos para se saberem os papéis temáticos dos respectivos DPs. Ao final da sentença, e

apenas nesse momento então, com o merge do verbo com seu complemento, merge de v’ com

o possível argumento externo, verificação dos casos e visibilidade aos papéis temáticos,

depois de a estrutura argumental do verbo ter revelado as projeções sintáticas, se consegue

então saber o papel temático do DP-sujeito. Isso significa que a computação linguística deve

ser mesmo bottom-up(Cf. LAGE, 2005a, 2005b; LAGE et al., 2008;) ou seja, em se tratando

de verbo transitivo, é preciso se chegar à computação e ao processamento do DP argumento

interno do verbo para que o verbo se concatene a ele(firstmerge), projetando v’, e que o v’,

então, se concatene ao DP argumento externo, projetando vP(secondmerge).

Assumo, assim, a computação segundo a Gramática Gerativa (CHOMSKY, 1995-

atual) não só a partir das razões expostas pela teoria como também dos resultados

experimentais que encontrei. Quanto ao processamento de sentença, parece haver pistas

57

experimentais que sustentam o processamento incrementacional. Fosse processamento serial,

teríamos uma primeira passada apenas sintática, e os resultados experimentais desta pesquisa-

dissertação não nos levam a esse entendimento.

A literatura é muito controversa quanto às definições dos papéis temáticos, e não

menos quanto a possíveis hierarquias temáticas. Mas entendo que a relação entre sintaxe e

semântica é capaz de promover uma hierarquia entre os papéis temáticos. E se a hierarquia

temática é um princípio universal, comum a todas as línguas, provavelmente estaria então

submetida ao postulado de P&P: um princípio universal presente na GU a ser parametrizado

durante o desenvolvimento de linguagem. Esta é uma questão que pode ser reconhecida.

É claro que aindahá muito a se investigar sobre tais assuntos. Mas espero ter atingido

com esta pesquisa-dissertação uma discussão acerca de uma hierarquia temática de DPs-

sujeito, computação e processamento de sentença, também prestando alguma contribuição ao

estudo das relações sintático-semânticas.

58

5 REFERÊNCIAS

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63

6 APÊNDICES APÊNDICE 1 – Estatística: Animacidade do sujeito

ANOVA: Design 1 WithinSubjectFactor

Animacidade F(1,141) = 16,8 p<0,000071 SS=1353918,60 MSe=80704,43

PAIRWISE COMPARISONS

[animado]vs[inanimado] t(141)=4,10 p< 0,0001 DESCRIPTIVE DETAILS

Animacidade : animado vs inanimado

A I

Mean 708,26 846,35

nStDev 200,88 200,88

nSE 16,86 16,86

nVar 40352,22 40352,22

nCI95% 47,13 47,13

N 142 142

Skew 0,391 0,988

zSkew 1,904 4,808

64

APÊNDICE 2 Estatística: Tempo de Leitura no Verbo ANOVA: Design 2 WithinSubjectFactors

Animacidade F(1,49) = 0,068 p<0,795159 SS=3502,08

MSe=51395,44

Papel Temático F(2,98) = 15,2 p<0,000002 SS=1965189,73

MSe=64813,56

Greenhouse-Geisser{0,9984} p<0,0000019 Huynh-Feldt{1,000} p<0,0000018

Animacidade*Papel Temático F(2,98) = 1,73 p<0,182613 SS=199326,17

MSe=57600,99

-Note: ezANOVA does not compute sphericity correction for interactions.

65

APÊNDICE 3 Estatística:Tempo de leitura do Objeto ANOVA: Design 2 WithinSubjectFactors

Animacidade F(1,47) = 6,14 p<0,016830 SS=657135,59

MSe=106952,98

Papel Temático F(2,94) = 9,52 p<0,000172 SS=1905888,59

MSe=100110,50

Greenhouse-Geisser{0,8883} p<0,0003335 Huynh-Feldt{0,921} p<0,0002751

Animacidade*Papel Temático F(2,94) = 2,05 p<0,134244 SS=523245,67

MSe=127520,64

-Note: ezANOVA does not compute sphericity correction for interactions.

DESCRIPTIVE DETAILS

AA AE AP IA IE IP

Mean 694,88 845,46 938,50 895,12 836,90 1033,42

nStDev175,34 280,28 322,24 286,32 274,82 437,68

nSE 25,31 40,46 46,51 41,33 39,67 63,17

nVar 30742,47 78558,68 103840,66 81981,50 75528,72 191563,21

nCI95%95,44 95,44 95,44 95,44 95,44 95,44

N 48 48 48 48 48 48

66

APÊNDICE 4 Estatística:Tempo de leitura do Protetor ANOVA: Design 2 WithinSubjectFactors

Animacidade F(1,51) = 30,6 p<0,000001 SS=3778720,82

MSe=123620,09

Papel Temático F(2,102) = 10,6 p<0,000065 SS=2204681,81

MSe=103889,08

Greenhouse-Geisser{0,8654} p<0,0001628 Huynh-Feldt{0,893} p<0,0001348

Animacidade*Papel Temático F(2,102) = 5,62 p<0,004849 SS=1086231,58

MSe=96685,42

-Note: ezANOVA does not compute sphericity correction for interactions.

67

APÊNDICE 5 – Lista dos estímulos do experimento

LISTA 1 - vermelha Pergunta Resposta

AE1 O diretor sentiu uma pontada na cabeça Sobre diretor? Sim S

AE7 O lutador sacou uma traição do médico Sobre traição? Sim O

AE13 O detento sofreu um período de aflição Sobre aflição? Sim P

AA20 O goleiro jogou uma camisa na torcida Sobre goleiro? Sim S

AA26 O marido tirou um cigarro da carteira Sobre cigarro? Sim O

AA32 O culpado abriu uma bebida ao volante Sobre volante? Sim P

AP39 A idosa passou um problema de doença Sobre idosa? Sim S

AP45 O músico teve um aplauso do público Sobre aplauso? Sim O

AP51 O atleta levou uma facada na barriga Sobre barriga? Sim P

IE58 A câmera fisgou uma pessoa no recinto Sobre sombra? Não S

IE64 A favela venceu uma batalha de saúde Sobre paz? Não O

IE70

O

caminhão perdeu um retorno da estrada Sobre destino? Não P

IA77 A antena vestiu

uma

proteção de plástico

Sobre

computador? Não S

IA83 O software cedeu uma licença ao cliente Sobre caderno? Não O

IA89 O albergue pediu uma cópia do seguro Sobre entulho? Não P

IP96 O governo pegou

uma

inspeção da justiça Sobre planetário? Não S

IP102 A rádio tomou

uma

chamada

do

produtor Sobre elogio? Não O

IP108 A empresa ganhou um rótulo

de

conceito Sobre verdade? Não P

LISTA 2 -

verde Pergunta Resposta

AE2 O goleiro ouviu

um

palavrão do árbitro Sobre goleiro? Sim S

AE8 O marido pescou

uma

mentira da esposa Sobre mentira? Sim O

AE14 O culpado nutriu um remorso

no

coração Sobre coração? Sim P

AA21 A idosa raspou um panela de cocada Sobre idosa? Sim S

AA27 O músico tocou um pagode no terraço Sobre pagode? Sim O

AA33 O atleta riscou um traçado

no

caminho Sobre caminho? Sim P

AP40 A menina levou um bofetão do colega Sobre menina? Sim S

AP46 A gestante tomou um remédio na clínica Sobre remédio? Sim O

AP52 O turista marcou

uma

bobeira

no

calçadão Sobre calçadão? Sim P

IE59 A antena captou um objeto no espaço Sobre nuvem? Não S

68

IE65 O software pensou uma reação do sujeito Sobre roubo? Não O

IE71 O albergue curtiu um inverno

de

reformas Sobre lual? Não P

IA78 O governo mostrou uma figura

da

pesquisa Sobre mercado? Não S

IA84 A rádio soltou um sucesso

no

domingo Sobre recado? Não O

IA90 A empresa comprou um prédio

no

nordeste Sobre Sul? Não P

IP91 A floresta teve um ataque de abelhas Sobre galeria? Não S

IP97 O palácio sofreu um furacão no outono

Sobre

detetização? Não O

IP103 O produto ganhou

um

esbarrão do cliente Sobre criador? Não P

LISTA 3 -

azul Pergunta Resposta

AE3 A idosa temeu um desastre de avião Sobre idosa? Sim S

AE9 O músico amou uma ópera no estádio Sobre ópera? Sim O

AE15 O atleta viveu uma alegria na corrida Sobre corrida? Sim P

AA22 A menina guardou uma sacola de verduras Sobre menina? Sim S

AA28

A

gestante lavou uma toalha de algodão Sobre toalha? Sim O

AA34 O turista bebeu um guaraná na esquina Sobre esquina? Sim P

AP41 A artista pegou uma virose na viagem Sobre artista? Sim S

AP47

O

prefeito tomou um prejuízo do estado Sobre prejuízo? Sim O

AP53 O piloto teve um derrame no trabalho Sobre trabalho? Sim P

IE60

O

governo passou um aperto

nas

finanças Sobre museu? Não S

IE66 A rádio odiou um concerto de piano Sobre venda? Não O

IE72

A

empresa achou um acordo

na

transação

Sobre

transmissão? Não P

IA73 A floresta fechou uma entrada da cidade

Sobre

temperatura? Não S

IA79 O palácio rasgou um contrato da senhora Sobre retrato? Não O

IA85

O

produto limpou uma sujeira no armário Sobre chão? Não P

IP92 A pintura levou um retoque

de

responsa Sobre quadro? Não S

IP98 O código ganhou uma correção da gerência Sobre costura? Não O

IP104 O estado sofreu uma demanda

dos

grevistas Sobre garis? Não P

LISTA 4 - rosa Pergunta Resposta

AE4 A menina notou um nos óculos Sobre menina? Sim S

69

arranhão

AE10

A

gestante venceu

uma

gravidez de gêmeos Sobre gravidez? Sim O

AE16 O turista catou uma piada no evento Sobre evento? Sim P

AA23 A artista vestiu um casaco de veludo Sobre artista? Sim S

AA29 O prefeito cedeu um carreta de tijolos Sobre carreta? Sim O

AA35 O piloto pediu um colírio no hospital Sobre hospital? Sim P

AP42 O mágico levou

uma

carreira do macaco Sobre mágico? Sim S

AP48 A vítima tomou

uma

pedrada da cunhada Sobre pedrada? Sim O

AP54 A criança ganhou um picolé do palhaço Sobre palhaço? Sim P

IE55 A floresta sentiu um declínio de animais Sobre mar? Não S

IE61 O palácio sacou a tramóia do ministro Sobre confiança? Não O

IE67

O

produto passou um perigo no incêndio Sobre lavagem? Não P

IA74

A

Marinha jogou uma ancora no litoral Sobre exército? Não S

IA80 O código tirou um malware do sistema Sobre site? Não O

IA86 O estado fechou

um

concurso

de

professor

Sobre

procurador? Não P

IP93 O navio levou um reparo na elétrica Sobre moto? Não S

IP99 O celular teve um ajuste no conserto

Sobre

promoção? Não O

IP105 A mobília sofreu um estrago na mudança Sobre compra? Não P

LISTA 5 - marrom Pergunta Resposta

AE5 A artista focou

uma

imagem na máquina Sobre artista? Sim S

AE11 O prefeito pensou um projeto de saúde Sobre projeto? Sim O

AE17 O piloto curtiu uma cerveja no boteco Sobre boteco? Sim P

AA24 O mágico mostrou uma cartola de coelhos Sobre mágico? Sim S

AA30 A vítima soltou um sapato na calçada Sobre sapato? Sim O

AA36 A criança comprou um salgado na cantina Sobre cantina? Sim P

AP37 O diretor sofreu um assalto na cidade Sobre diretor? Sim S

AP43 O poeta pegou uma mania de limpeza Sobre mania? Sim O

AP49 O detento ganhou

uma

pernada do golpista Sobre golpista? Sim P

IE56 A Marinha ouviu

um

comando de atenção

Sobre

aeronáutica? Não S

IE62 O código pescou uma rotina do usuário Sobre rota? Não O

IE68 O estado nutriu uma revolta

de

campanha Sobre eleição? Não P

IA75 O navio raspou uma escada na saída Sobre carro? Não S

IA81 O celular tocou uma música de roqueiro Sobre alerta? Não O

IA87 A mobília marcou uma saleta do castelo

Sobre

apartamento? Não P

70

IP94 A câmera tomou um pontapé do pivete Sobre lápis? Não S

IP100 A favela teve uma erosão de décadas Sobre construção? Não O

IP106

O

caminhão levou

uma

limpeza na traseira Sobre farol? Não P

LISTA 6 - cinza Pergunta Resposta

AE6 O mágico passou um sufoco no teatro Sobre mágico? Sim S

AE12 A vítima odiou um relato

da

repórter Sobre relato? Sim O

AE18 A criança achou

uma

diversão no gatinho Sobre gatinho? Sim P

AA19 O diretor fechou uma gaveta da escola Sobre diretor? Sim S

AA25 O lutador rasgou um bilhete na entrada Sobre bilhete? Sim O

AA31 O detento limpou uma cabine

do

presídio Sobre presídio? Sim P

AP38 O goleiro ganhou uma bolada no joelho Sobre goleiro? Sim S

AP44 O marido sofreu um desvio

de

dinheiro Sobre desvio? Sim O

AP50 O culpado pegou uma cadeia na Europa Sobre Europa? Sim P

IE57 O navio temeu uma geleira no sudeste

Sobre

submarino? Não S

IE63 O celular amou uma capinha

de

borracha Sobre enfeite? Não O

IE69 A mobília viveu um século no casarão Sobre sotão? Não P

IA76 A câmera encheu um pendrive

do

inspetor Sobre video? Não S

IA82 A favela lavou

uma

pracinha no sábado Sobre Igreja? Não O

IA88

O

caminhão comeu uma calota no asfalto Sobre oficina? Não P

IP95 A antena teve um defeito no telhado Sobre chaminé? Não S

IP101 O software tomou uma pisada

do

porteiro Sobre busca? Não O

IP107 O albergue levou um calote

do

hóspede

Sobre

empregado? Não P

71

APÊNDICE 6 Lista das frases distratoras

DISTRATORES Pergunta Resposta

1 Os bezerros foram vacinados nos currais Sobre bezerros? Sim S

2 O dentista chega ao serviço altas horas Sobre serviço? Sim O

3 A carência gera as depressões mais atrozes Sobre atrozes? Sim P

4 O mosquito picou a vizinha no pescoço Sobre mosquito? Sim S

5 Essa bolsa posso dar agora para a creche Sobre agora? Sim O

6 Bem antigo tudo que o senhor apresentou

Sobre

apresentou? Sim P

7 A madastra ralou a cenoura na cozinha Sobre madrasta? Sim S

8 Na Itália existe uma máfia sem clemência Sobre máfia? Sim O

9 O consumo cresceu além da conta no Carnaval Sobre Carnaval? Sim P

10 Quando chove vamos pelas ruas sem chinelos Sobre quando? Sim S

11 Os mineiros foram

os que

doaram os tratores Sobre doaram? Sim O

12 Escritórios custam muito tempo pra decorar Sobre decorar? Sim P

13 A lojista rodou a baiana no provador Sobre lojista? Sim S

14 O maestro negou o convite do festival Sobre convite? Sim O

15 O ciclista subiu a colina de Lisboa Sobre Lisboa? Sim P

16 O aprendiz varreu a garagem da pousada Sobre aprendiz? Sim S

17 O caçador feriu a orelha do cabrito Sobre orelha? Sim O

18 O general quebrou a costela na guerrilha Sobre guerrilha Sim P

19 A madrinha serviu a salada no almoço Sobre garçon? Não S

20 Elefantes trajam roupa bege de chenile Sobre azul? Não O

21 Papai Noel trouxe uma boneca para cada Sobre ninguém? Não P

22 Inimigos correm em direção ao abismo Sobre amigos? Não S

23 Minha irmã anda devagarzinho no escuro Sobre rápido? Não O

24 O capitão provou o conhaque da Espanha Sobre Paris? Não P

25 O rodeio será essa semana em Barretos Sobre desfile? Não S

26 O orvalho molhou a plantação da fazenda Sobre boiada? Não O

27 Se você for vai sim dar ruim logo na balada Sobre abrigo? Não P

28 O abajur amou a bancada de mármore Sobre papel? Não S

29 Meu querido sogro anseiava por atenção Sobre chorarava? Não O

30 O sorvete novo de morango está no fim Sobre início? Não P

31 A carteira caiu da mochila do nosso pai Sobre lapiseira? Não S

32 A pulseira sumiu da caixinha da cômoda Sobre cofre? Não O

33 Claramente noto que se trata da mordida Sobre risada? Não P

34 Muitas vezes rezo sem que eles o observem Sobre nada? Não S

35 Passarinhos voam para longe no verão Sobre perto? Não O

36 Deixaremos hoje a casa limpa e cheirosa Sobre suja? Não P