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ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE OS MAPEAMENTOS DE PROCESSOS UTILIZANDO O FLUXOGRAMA E O IDEF0 EM UMA EMPRESA DO SETOR GRÁFICO QUE ADOTA O MAPEAMENTO DO FLUXO DA CADEIA DE VALOR Paulo Cesar Chagas Rodrigues (UNESP/FEG) [email protected] Descrever e analisar, a forma como são mapeados o fluxo da cadeia de valor e o mapeamento dos processos produtivos apontando os principais aspectos em uma indústria que atua no setor de produtos para papelaria e que possui sede na região dee Bauru/SP. Pesquisa qualitativa com base na metodologia de estudo-de-caso, os instrumentos de coleta de dados na empresa estudada se deram por meio da realização de entrevistas, análise de documentos e visitas in loco. A partir do momento que a empresa decidiu analisar a viabilidade e os ganhos que poderia ter com a adoção de um modelo formal de mapeamento do fluxo da cadeia de valor, puderam-se fazer reflexões sobre as variáveis que regem a gestão de estoques e a produção. E realizando a modelagem do processo produtivo com ênfase ao modelo IDEF0, que se mostrou interessante, porque permite a padronização das operações com um nível de detalhamento dos controles, mecanismos, as entradas, e saídas dentro da função operação. Com a análise entre os modelos de fluxograma e IDEF0, pode-se observar que o modelo IDEF0 facilita o entendimento dos processos, permitindo a padronização o que irá facilitar a tomada de decisão por parte da gerência e direção. Por ter sido aplicado em uma única empresa não há como definir sua originalidade, mas quanto ao valor da pesquisa pôde-se chegar à conclusão de que se o mapeamento do fluxo da cadeia de valor for aplicado de forma correta, poderá vir a ser um diferencial importante da empresa em relação a sua concorrência. Palavras-chaves: mapeamento da cadeia de valor; mapeamento de processo; IDEF0; fluxograma XXX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO Maturidade e desafios da Engenharia de Produção: competitividade das empresas, condições de trabalho, meio ambiente. São Carlos, SP, Brasil, 12 a15 de outubro de 2010.

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ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE OS

MAPEAMENTOS DE PROCESSOS

UTILIZANDO O FLUXOGRAMA E O

IDEF0 EM UMA EMPRESA DO SETOR

GRÁFICO QUE ADOTA O

MAPEAMENTO DO FLUXO DA CADEIA

DE VALOR

Paulo Cesar Chagas Rodrigues (UNESP/FEG)

[email protected]

Descrever e analisar, a forma como são mapeados o fluxo da cadeia de

valor e o mapeamento dos processos produtivos apontando os

principais aspectos em uma indústria que atua no setor de produtos

para papelaria e que possui sede na região dee Bauru/SP. Pesquisa

qualitativa com base na metodologia de estudo-de-caso, os

instrumentos de coleta de dados na empresa estudada se deram por

meio da realização de entrevistas, análise de documentos e visitas in

loco. A partir do momento que a empresa decidiu analisar a

viabilidade e os ganhos que poderia ter com a adoção de um modelo

formal de mapeamento do fluxo da cadeia de valor, puderam-se fazer

reflexões sobre as variáveis que regem a gestão de estoques e a

produção. E realizando a modelagem do processo produtivo com

ênfase ao modelo IDEF0, que se mostrou interessante, porque permite

a padronização das operações com um nível de detalhamento dos

controles, mecanismos, as entradas, e saídas dentro da função

operação. Com a análise entre os modelos de fluxograma e IDEF0,

pode-se observar que o modelo IDEF0 facilita o entendimento dos

processos, permitindo a padronização o que irá facilitar a tomada de

decisão por parte da gerência e direção. Por ter sido aplicado em uma

única empresa não há como definir sua originalidade, mas quanto ao

valor da pesquisa pôde-se chegar à conclusão de que se o mapeamento

do fluxo da cadeia de valor for aplicado de forma correta, poderá vir a

ser um diferencial importante da empresa em relação a sua

concorrência.

Palavras-chaves: mapeamento da cadeia de valor; mapeamento de

processo; IDEF0; fluxograma

XXX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO Maturidade e desafios da Engenharia de Produção: competitividade das empresas, condições de trabalho, meio ambiente.

São Carlos, SP, Brasil, 12 a15 de outubro de 2010.

Page 2: ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE OS MAPEAMENTOS DE …

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1 INTRODUÇÃO

Os métodos de intervenção nas organizações para que racionalizem seus processos de

produção, melhorem a qualidade de seus produtos e serviços, possuem o objetivo de satisfazer

as necessidades de seus clientes. Destes métodos, o que será abordado neste artigo refere-se à

gestão de estoques, por meio do mapeamento do fluxo da cadeia de valor e seus processos

produtivos. Para tanto será utilizado o modelo Integrated Definition for Function Modelling

(IDEF), para mapear todo o processo produtivo e que irá possibilitar identificar os principais

processos e consequentemente as suas variáveis.

Quando gerenciado de forma errada, se torna um dos grandes geradores de

desperdícios na linha de produção, podendo ocultar vários problemas de gestão, vindo a ter

reflexos diretos e significativos na eficiência financeira e na imagem da empresa.

No setor gráfico, dada à alta sazonalidade dos produtos e complexidade dos processos, a

gestão de estoques ganha uma importância ainda maior. Por meio de um gerenciamento eficaz

da movimentação, armazenagem e controle dos estoques intermediários é possível reduzir

consideravelmente os custos e os riscos que envolvem a estocagem da matéria-prima em

processo, evidenciando, portanto, a importância do conceito de administração de materiais e

sua estreita relação com o tema aqui tratado.

Com base no exposto, o principal objetivo deste artigo é descrever e analisar, a forma

como são mapeados o fluxo da cadeia de valor e o mapeamento dos processos produtivos

apontando os principais aspectos em uma indústria que atua no setor de produtos para

papelaria e que possui sede na região de Bauru/SP.

Para tanto, será realizada uma pesquisa qualitativa com base na metodologia de

estudo-de-caso, pois este tipo de pesquisa preocupa-se fundamentalmente com a compreensão

e interpretação de determinado fenômeno, conforme o pretendido aqui. Os instrumentos de

coleta de dados na empresa estudada se deram por meio da realização de entrevistas, análise

de documentos e visitas in loco.

Neste artigo é feito uma revisão teórica sobre mapeamento da cadeia de valor e

mapeamento de processos no qual é dada principal ênfase nos modelos de mapofluxograma e

IDEF de forma a embasar conceitualmente o referido estudo. Este artigo tem por objetivo

principal, apresentar a forma como são mapeados a cadeia de valor e seus processos

produtivos e qual a sua influência na tomada de decisão por parte da diretoria e do corpo

gerencial da empresa.

Segundo Alves (1999), o ambiente industrial caracteriza-se por uma concorrência

muito baseada no prazo e na satisfação das exigências do cliente traduzidas, frequentemente,

no requisito de produtos únicos e exclusivos e entregas imediatas ou em prazos muito curtos.

2 MAPEAMENTO DA CADEIA DE VALOR

Segundo Protzman e Raval (2004), o mapeamento, facilita o movimento de

informações através das barreiras perceptivas e fornece uma base para a ligação entre as

novas informações percebidas e conhecimentos adquiridos anteriormente.

Alves, Alves e Bertelli (2009) descrevem que o mapeamento da Cadeia de Valor é a

primeira atividade de um programa de implantação, para a definição do estado atual dos

fluxos produtivos. Determinando o tempo de manuseio, a quantidade de operações,

funcionários, maquinários, gargalos, distâncias a serem percorridas, inspeções,

documentações a serem preenchidas e formas de comunicação durante o processo.

Page 3: ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE OS MAPEAMENTOS DE …

3

Segundo Hopkins e Fynes (2006), o mapa de valor, deve ilustrar a interatividade e

distribuição de valor entre os players, com a finalidade de estabelecer fundamentos detalhados

para pesquisas futuras. Recklies (2009) descreve que a análise da cadeia de valor pode ser

realizada conforme as seguintes etapas:

1. Análise da cadeia de valor própria - identificar os custos relacionados com cada uma

das atividades;

2. Análise das cadeias de valor aos clientes - como é o nosso produto se encaixa em sua

cadeia de valor;

3. Identificação das potenciais vantagens de custo em comparação com os concorrentes;

e

4. Identificação do potencial valor acrescentado para o cliente. Como o produto pode

agregar valor à cadeia de clientes de valor (por exemplo, custos mais baixos ou

desempenhos mais elevados) – de modo que o cliente veja tal potencial.

Womack e Withers (2009b) descrevem que o mapeamento da cadeia de valor associa a

dinâmica dos fluxos de material e informação focando em um ambiente competitivo e

limitado pela capacidade interna. Em uma abordagem top-down, a segmentação introduz a

orientação de lucro para o planejamento.

No mapa da cadeia de valor é mostrado como cada processo é informado sobre o que

fazer para o seu processo cliente e quando fazê-lo, no fluxo de produção, o movimento do

material na fábrica é o fluxo que está mais em evidência. Porém existe o fluxo de informação,

que informa a cada processo o que fabricar (WOMACK; WITHERS, 2009a).

Para Alves, Alves e Bertelli (2009) a ferramenta para a definição da Cadeia de Valor é

o mapeamento de todos os processos que a formam. No mapeamento da cadeia de valor as

variáveis produtivas devem ser analisadas simultaneamente como, por exemplo: relação de

máquinas / processos organizados pelo fluxo produtivo, estoques em processo WIP3, se a

operação adiciona ou não valor ao produto, quantidade de funcionários, distância percorrida

entre cada processo e se a produção da linha está nivelada a demanda do cliente.

O fundamento de se realizar o gerenciamento da cadeia de valor é produzir somente o

que é solicitado pelo processo posterior, quando requerido: Nada a mais! Nada a menos! Nem

antes! Conceito principal do Just-In-Time (ALVES; ALVES; BERTELLI, 2009).

Segundo Alves, Alves e Bertelli (2009), para simplificar a análise é recomendável

agrupar os produtos em famílias, definindo modelos que compartilham processos,

maquinários e mão de obra similar.

3 MAPEAMENTO DE PROCESSO

Segundo Oliveira, Montevechi e Marins (2007), o mapeamento é realizado para

representar as diversas tarefas necessárias e a sequencia que elas ocorrem para a realização e

entrega de um produto ou serviço.

O Mapeamento de Processos deve ser apresentado sob a forma gráfica, de modo a

permitir: expor os detalhes do processo de modo gradual e controlado; descrever o processo

com precisão; focar a atenção nas interfaces do mapa do processo; e fornecer uma análise de

processos consistente com o vocabulário do projeto (TSENG; QINHAI; SU, 1999). De forma geral, Leal (2003) afirma que para iniciar a fase de mapeamento do

processo torna-se importante o desenvolvimento de uma lista de atividades através

da realização de entrevistas semi-estruturadas, que permitam aos participantes dos

processos falarem aberta e claramente a respeito do seu trabalho diário. A pergunta

inicial consiste em perguntar de forma direta ao participante: “o que você faz em seu

trabalho?”.

Page 4: ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE OS MAPEAMENTOS DE …

4

Por meio de uma pesquisa nas literaturas cientificas pode-se observar a existência de

várias técnicas para o mapeamento e reorganização de processos, nas quais os objetivos são

comuns, ou seja, identificar, mapear e detalhar os processos com vistas ao efetivo

entendimento e resolução (KINTSCHNER, 2003).

Segundo Oliveira, Montevechi e Marins (2007), torna-se imprescindível “filtrar” a

técnica adequada para cada situação onde se necessita empregar o mapeamento de processos.

Leal et al. (2003) descreve que as principais técnicas de mapeamento de processos são:

Fluxograma, Mapofluxograma, Integrated Computer Aided Manufacturing Definition (IDEF),

Unified Modeling Language (UML), Service Blueprint e Mapa do serviço. Sendo dado

especial destaque para as técnicas de Fluxograma e IDEF.

As técnicas de mapeamento de processos têm sido utilizadas para suportar às fases do

processo de simulação computacional (RYAN; HEAVEY, 2006).

O fluxograma é uma representação gráfica formal em que os símbolos são usados para

representar uma sequencia lógica de um programa, trabalho ou processo de fabricação,

organograma, ou estrutura formal similar, tais como as operações, dados, direção do fluxo, e

equipamentos, para a definição, análise ou solução de um problema. Ele usa um fluxo

sequencial de ações e não dá suporte a uma repartição das atividades. O modelo de

fluxograma é possivelmente o primeiro processo de notação. Tem sido frequentemente

utilizado ao longo de muitos anos, embora não haja uma data exata para a sua origem, a

Ilustração 1 exemplifica o uso do fluxograma (AGUILAR-SAVÉN, 2004; MAYER; WITTE,

2009; CHEN; FENG, 2006).

Ilustração 1: Exemplo de fluxograma Fonte: Aguilar-Savén (2004)

O Integrated Definition for Function Modelling (IDEF) é uma família de métodos que

suporta um paradigma capaz de lidar com a modelagem das necessidades de uma empresa e

suas áreas de negócio (IDEF, 2009).

Segundo Aguilar-Savén (2004), a família IDEF é usada de acordo com diferentes

necessidades. As modelos mais importantes são: IDEF0, IDEF1, IDEF1X, IDEF2, IDEF3,

IDEF4 e IDEF5. No entanto, para modelar processos de negócios, as versões mais úteis são

IDEF0 e IDEF3, sendo explicadas a seguir.

Aguilar-Savén (2004) descreve que o IDEF0 é uma técnica de modelagem utilizada

para desenvolvimento estrutural, representações gráficas de processos ou sistemas complexos

como as empresas. Ele é usado para especificar modelos de função, que é o “que devo fazer?”

modelos. Estas mostram o alto nível das atividades de um processo, indicando principais

Page 5: ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE OS MAPEAMENTOS DE …

5

atividades e a entrada, controle de saída, e mecanismos associados a cada atividade

importante, sendo o mais popular processo de modelagem do mercado, a Ilustração 2 mostra a

diagramação de um processo no IDEF 0.

O IDEF3 é o método de captura utilizado para descrever os aspectos comportamentais

de um processo. Ele permite diferentes visões de como os processos funcionam dentro uma

organização. Ao contrário do IDEF0, o IDEF3 foi explicitamente desenvolvido para descrever

os processos. O anterior mostra o que é feito dentro da organização enquanto o segundo

mostra como os processos funcionam com ele (AGUILAR-SAVÉN, 2004).

Aguilar-Savén (2004) descreve que o IDEF3 é de domínio dos especialistas, as

descrições são capturadas e descritas conforme as relações de precedência e causalidade entre

as atividades e eventos do processo. IDEF3 consiste em dois modos de modelação: a

prescrição fluxo de processo (PFD), que descreve como os processos realmente devem

trabalhar na organização, a descrição do objeto de transição de estado (OSTD), que resume as

transições permitidas de um objeto em um processo específico. Ele é adequado tanto para

modelar processos simples e/ou complexos devido a sua habilidade de decomposição.

Ilustração 2: IDEF0 diagrama de componentes gráficos Fonte: Aguilar-Savén (2004)

A Ilustração 3 exemplifica parte da execução de um processo de projeto BPR. Observe

o ponto de decisão incorporado onde a equipe do projeto poderá decidir desenvolver um

processo completamente novo ou simplesmente fazer ajustes no processo existente (MAYER;

WITTE, 2009).

Page 6: ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE OS MAPEAMENTOS DE …

6

Ilustração 3: Modelo de processo de reengenharia de processos no padrão IDEF3 Fonte: Mayer e Witte (2009)

4 ESTUDO DE CASO

A empresa estudada emprega cerca de mil profissionais na cidade de Bauru-SP,

distribuídos entre a unidade fabril, que possui uma área construída de 40 mil m², onde estão

instaladas as duas unidades produtivas, denominadas unidade I e II, e o centro de distribuição

que possui aproximadamente 11 mil m², para onde é transportada toda a produção.

Na unidade I são produzidas basicamente agendas, produtos para escritório e casa e,

secundariamente, cadernos; isto ocorre pelo fato de ter instalado na unidade um equipamento

que automatiza a produção de cadernos. Na unidade II são produzidos cadernos.

Em 2004, a empresa foi adquirida por um grupo norte-americano, que é produtor de

embalagens, materiais de escritório e produtos químicos especiais.

A empresa no Brasil adota um sistema de produção com características do modelo clássico,

podendo ser facilmente identificado por aspectos do tipo: utilização de layout linear, produção

em grandes lotes, baixo índice de flexibilidade produtiva quanto à variação de mercado, uma

diversidade de produtos acabados relativamente alta e operadores especializados.

As entrevistas semi-estruturadas, realizadas com o diretor industrial, gerentes das

unidades industriais e com o gerente de PCP, permitiu observar os relatórios de ordem de

produção, estoques e o lead time de produção. As visitas in-loco foram realizadas com a

supervisão de alguns funcionários.

Atualmente a empresa trabalha com quatro categorias de produtos, sendo que cada

uma delas possui particularidades quanto à gestão de estoques e estão assim classificadas:

a) agendas: são produtos que possuem um prazo de validade, ou seja, são datados, possui

sazonalidade e, como seu pico produtivo é de abril a dezembro, a produção vai crescendo

gradativamente;

b) escolar: por serem vendidos para volta às aulas, possuem uma sazonalidade e seu pico

produtivo é de julho até dezembro;

c) escritório: para o público de pequenas empresas, profissionais liberais ou escritórios.

Não possuem uma sazonalidade, sendo produzidos quase o ano todo; e

Page 7: ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE OS MAPEAMENTOS DE …

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d) casa: produtos que têm uma característica bem diferenciada, para uso doméstico. Não

possuem uma sazonalidade, sendo produzidos quase o ano todo. É um nicho de mercado

muito explorado nos Estados Unidos e que vem sendo desenvolvido no Brasil, onde a

empresa está desenvolvendo alguns produtos e fazendo benchmark para detectar o seu

nível de aceitação no mercado brasileiro.

A empresa tem capacidade de fabricar, por mês, aproximadamente 700 mil cadernos.

Para atender a temporada de volta às aulas do início do ano letivo no Brasil, que vai de janeiro

a março, a fabricação inicia-se em setembro. Ao término do período de voltas às aulas, toda a

produção é focada em atender a demanda dos países do Hemisfério Norte.

A delimitação do estudo na empresa será na linha de produtos escolar. Por ser uma

linha na qual há sazonalidade e o sistema produtivo adotado é o Make-To-Stock, estará sendo

analisado o processo de fabricação do modelo de produto caderno espiralado e como esta

definido o mapeamento do fluxo da cadeia de valor.

A estratégia de produção empregada é a de fazer para estoque (Make-to-Stock), visto

que o produto caderno espiralado sofre com a sazonalidade do período de volta às aulas do

início do ano letivo e a capacidade produtiva não poder atender de imediato todos os pedidos

que serão gerados neste período.

Baseando-se na sazonalidade, na capacidade produtiva e no sistema de informação, a

diretoria, juntamente com o apoio dos gerentes das áreas de marketing, comercial, produção,

finanças e suprimentos formulam as previsões de demanda.

São adotadas duas maneiras de planejar a produção: a primeira é por meio do

planejamento de materiais em processo, estoques, roteiros de produção, tempos de produção.

A segunda é por meio da relativa dedicação das linhas à determinada categoria de produto.

A área de produção possui uma equipe de Tempos e Métodos Produtivos (TMP) que

participa do desenvolvimento dos produtos. O objetivo desta equipe é de avaliar tecnicamente

o produto e, junto com o pessoal de marketing, desenvolvê-lo, elaborando um estudo de

viabilidade, ou seja, se é possível produzir este produto dentro do roteiro, qual será o seu

custo, quais serão as perdas e que materiais serão utilizados.

A equipe de TMP tem elaborado novos procedimentos com o intuito de reduzir as

perdas, evitando com isso que um produto saia da área de marketing com um nível de perda

muito alto, que podem ser de tempo, setup, roteiro e matérias-prima.

Todas as possíveis composições de produto são documentadas com a finalidade de

poder avaliar os custos, para formular um padrão de medição. Esta documentação é composta

pelo design do produto, lista de materiais, eficiência de máquina, tempo de setup e tempo para

produção de um determinado lote mínimo de produto, mas pode-se detectar que o

mapeamento do processo é feito superficialmente e por meio do fluxograma.

O produto caderno espiralado, por ter um giro de matéria-prima alto, costuma ter

relativamente poucas semanas de matéria-prima em estoque e em processo, utilizando o

conceito PEPS para a matéria-prima papel, papelão ondulado, verniz e tinta e UEPS para as

outras matérias-primas (arame, plástico, acessórios), tanto na gestão de estoques quanto na

contábil. Por ser um volume de material muito grande e por não haver uma área proporcional

para armazenagem, a cobertura de estoque varia entre três e seis semanas.

Já em relação ao produto acabado, se trabalha com a produção para estoque, os quais

são armazenados no centro de distribuição, devendo ser adotado conceito PEPS, os produtos

acabados são acondicionados em caixas, palets para depois serem postos nas estantes, que

deverão estar etiquetados como forma de identificação.

A equipe de PCP tem como função principal analisar a quantidade de matéria-prima

existente em estoque, qual a capacidade produtiva, o que deve ser produzido e em qual tempo,

Page 8: ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE OS MAPEAMENTOS DE …

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disparando as compras de matéria-prima. Há uma equipe dedicada à previsão de vendas, que

observa o mercado e faz previsão de vendas para o próximo mês e, a partir desta informação,

determina quanto deverá ser produzido.

A partir do plano geral de venda, o PCP faz o plano de produção, análise de

capacidade, análise de recursos críticos, análise de materiais críticos e análise do melhor

roteiro, montando um planejamento com prazos menores, ou seja, um planejamento mensal,

como forma de se mensurar o volume produzido que irá balizar o volume de matéria-prima

adquirida, o tempo de máquina parada por falta de produto, setup, manutenção, ou seja, se o

tempo despendido para a produção de caderno espiralado não foi alto. Esta verificação é feita

semanalmente.

O planejamento mensal é desmembrado em quatro semanas, para que seja passado

para a fábrica o planejamento semanal, quando já foi estudado o material a ser utilizado,

definidos os roteiros de fabricação e as possíveis folgas.

O mapeamento do fluxo da cadeia de valor pode ser observado de forma macro na

Ilustração 5, na qual pode-se observar de forma genérica todos os processos que ocorrem e

quais são suas interligações, com os respectivos tempos de execução.

Mostrando como o processo de produção ocorre, com um pouco mais de detalhes,

neste processo procura-se mostrar os tempos de produção o volume de estoque em processo

que irá influenciar diretamente o volume de produto acabado diário, pois as metas de

produção devem ser atingidas diariamente.

Por meio do mapeamento do fluxo da cadeia de valor pode-se observar com um pouco

mais de detalhes as operações que agregam valor e as que não agregam valor, mas são

necessárias e as que realmente não agregam valor. Como o produto caderno tem uma alta

influência da sazonalidade do período de volta às aulas no início do ano, faz-se necessário se

ter um certo volume de estoque entre os processos e um grande volume de estoque no centro

de distribuição da empresa.

Fornecedor

Centro de

distribuição

Cliente

Almoxarifado

Controle da

produção

1 s

3 dias

Controle de

qualidade

Corte das bobinas

TR = 600 s

TC = 1 s

JL = 64800 s

TT = 13

e = 95%

t = 3

Impressão Off-Set

TR = 900 s

TC = 8 s

JL = 64800 s

TT = 13

e = 98%

t = 3

Impressão

Flexográfica

TR = 600 s

TC = 5 s

JL = 64800 s

TT = 13

e = 95%

T = 3

560 Kg

100.000 Kg

Montagem

Caderno

TR = 1800 s

TC = 90 s

JL = 64800 s

TT = 13

e = 90%

t = 3

2.000 Capas

400.000 Folhas

Pautadas

1.000 Cadernos

13 s

1 dia

90 s

1 dia

7.200 s

1 dia

Bobinas

de papel

1.000 Kg

Lead Time =

6 dias

Tempo de

processo =

7.304 s Ilustração 4: Mapa do fluxo da cadeia de valor

Page 9: ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE OS MAPEAMENTOS DE …

9

O processo de fabricação de cadernos é executado na unidade II, visto que são

equipamentos com capacidade produtiva e flexibilidade distinta. Todo o processo de

abastecimento é feito manualmente, sendo o processo de espiralização automático, ocorrendo

logo depois o controle de qualidade e o acondicionamento dos cadernos em pacotes plásticos

e depois em caixas. Cada pacote plástico pode conter até cinco cadernos e cada caixa até seis

pacotes.

Na Ilustração 6 é descrito o modelo de fluxograma utilizando a simbologia adotada

pela administração, a qual era adotada no início da pesquisa pela empresa e que apresentava

alguns pontos fracos, como por exemplo: de difícil entendimento por parte de um engenheiro,

falta de padronização, difícil entendimento dos processos chaves, etc. Fabricação de

Cadernos

universitários

Unidade II

Corte de

papel que

esta em

bobinas

Impressão

pautas na

impressora

flexográfica

Impressão

das capas na

impressora

off-set

Corte e

separação

das folhas

pautadas

Corte das

folhas

impressas

Montagem do

caderno

Empacota

mento

Adição Capa

Adição folhas

pautadas

Adição acessórios

Espiralização

Fim processo

montagem

caderno

Estoque em

processo

Estoque em

processo

Estoque em

processo

Estoque em

processo

Estoque em

processo

Fim 1ª fase do

processo

Fabricação de

Cadernos

universitários

2ª fase

Estoque

produto

acabado

Estoque Operação

Manual

Processo

Pré-definidoEntrada Manual

Processo

Legendas:

Estoque em

processo

Montagem

das capas

Ilustração 5: Fluxograma do processo de fabricação de cadernos

Na Ilustração 7 é apresentado o modelo de fluxograma utilizando a simbologia

adotada pela engenharia, o qual é adotado atualmente pela empresa e que apresentou alguns

pontos fracos, como por exemplo: difícil entendimento falta de padronização com outros

modelos desenvolvidos pela equipe, falta de definição dos processos chaves, etc.

Page 10: ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE OS MAPEAMENTOS DE …

10

Armazenagem

Corte do papel

que esta em

bobinas

Operação

Armazenagem

Corte e

separação das

folhas

pautadas

Setup

de

máquina

Impressão das

pautas na

impressora

flexográfica

Armazenagem

Setup

de

máquina

Impressão das

capas na

impressora

off-set

Corte e

separação das

capas

Armazenagem

Inspeção da

qualidade

Montagem das

Capas

Armazenagem

Montagem do

caderno na

unidade II

Adição contra-

capa e capa

Espiralização

Empacotamento

Inspeção Espera Transporte

Legenda:

Estoque de

matéria-

prima

Estoque de

produto

acabado

Setup

de

máquina

Adição das

folhas

pautadas

Adição dos

acessórios

Inspeção da

qualidade

Ilustração 6: Fluxograma do processo de fabricação de cadernos

Na Ilustração 8 é descrito por meio do IDEF0 a forma de como todo o processo de

fabricação ocorre, quais são os controles que podem influenciar e quais são os elementos

envolvidos em cada um dos processos.

Em cada um dos processos existe uma ordem de serviço em que se consegue

identificar e acompanhar a matéria-prima em processo. Estas ordens contêm sua origem e seu

destino, dados do turno e dados da máquina na qual sofreu transformação e/ou será

transformado. Estas informações acompanham a matéria-prima durante todo o processo de

transformação o que pode ser considerado como um controle Kanban informal.

A empresa não possuía formalmente o mapa do fluxo da cadeia de valor e

consequentemente dos processos modelados a partir do IDEF0, pois os funcionários

envolvidos neste processo não dominam a ferramenta, consequentemente não conseguem

passar total confiança para a gerência e diretoria quanto a sua aplicação.

Page 11: ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE OS MAPEAMENTOS DE …

11

Ilustração 7: Modelagem do processo de fabricação de cadernos na Unidade II conforme o

IDEF0

5 CONCLUSÃO

A partir do momento que a empresa decidiu analisar a viabilidade e os ganhos que

poderia ter com a adoção de um modelo formal de mapeamento do fluxo da cadeia de valor,

puderam-se fazer reflexões sobre os volumes de estoques de matéria-prima e em processo,

bem como o tamanho dos lotes de produção e qual a sua frequência de produção diária. Esta

reflexão foi feita para um determinado modelo de produto como forma de avaliar sua

viabilidade e observar os resultados.

O mapeamento do fluxo da cadeia de valor poderá permitir a reavaliação de todas as

variáveis de gestão de estoques e produção adotadas pela empresa e observar quais destas

variáveis estão sendo superdimensionadas e gerando custos que podem ser ocultos.

Com uma versão preliminar do mapeamento do fluxo da cadeia de valor já elaborado,

pode-se expandir a modelagem do processo produtivo, no qual se deu ênfase as seguintes

variáveis: Takt time, jornada liquida, tempo de ciclo, lead time, capacidade bruta, etc.

Page 12: ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE OS MAPEAMENTOS DE …

12

O mapeamento do fluxo da cadeia de valor servirá para se estudar as variáveis de lote

econômico de compra e produção, os pontos de pedido, tempo de reposição e as entregas

programadas. Quanto a variável lote econômico de produção o que poderá ser estudado é a

redução do tamanho dos lotes e do tempo de ciclo e consequentemente o aumento do número

de lotes.

Após o mapeamento do fluxo da cadeia de valor foi realizado a modelagem do

processo produtivo, mas dando ênfase ao modelo IDEF0, para realizar uma análise entre a

modelagem utilizando o método de fluxograma conforme a simbologia adotada pelas áreas de

engenharia e administração e o IDEF0.

Com a análise entre os fluxogramas e o IDEF0 foi observado que o modelo IDEF0 irá

facilitar o entendimento dos processos, permite se ter um nível de detalhamento quanto aos

controles e mecanismos e saber se são compartilhados ou não entre outros processos, saber

quais processos se inter-relacionam e qual o seu grau de criticidade.

O IDEF0 se mostrou interessante também porque permite a padronização das

operações, ou seja, a partir de um mapeamento de processo já elaborado e em uso poderá

servir de modelo para o mapeamento dos processos futuros, além de facilitar a remodelagem

dos mapeamentos de processos existentes.

A empresa poderá chegar a um nível de detalhamento do processo produtivo do

modelo de produto em estudo, no qual poderá observar os controles, mecanismos, as entradas,

e saídas dentro da função operação que agregam valor, as que não agregam valor, mas são

necessárias e as que realmente não agregam valor.

REFERENCIAS

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