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INSTITUTO DE ECONOMIA AGRÍCOLA http://www.iea.sp.gov.br Análises e Indicadores do Agronegócio ISSN 1980-0711 v. 9, n. 6, junho 2014 Análise de Mercado de Proteínas Animais: suinocultura no Estado de São Paulo em 2014 A suinocultura paulista, diferentemente da praticada no Sul do país, não tem co- mo característica em seu ciclo de existência a concentração em conglomerados de pro- cessamento, nos quais a produção de animais para o abate é obtida pelo sistema de in- tegração aos abatedouros. De forma semelhante ao setor avícola paulista, a suinocultura praticada no estado é constituída principalmente por uma variada gama de produtores, normalmente independentes, que podem ou não estar vinculados aos abatedouros. Es- tes, por sua vez, se especializaram na produção de carne resfriada para o mercado local e/ou na de embutidos. As empresas de abate de suínos de São Paulo têm como objetivo principal o mercado estadual de carne resfriada, com exceção de alguns fabricantes de embutidos tradicionais e de qualidade direfenciada, cujo produto tem projeção nacio- nal. Quando se fala da suinocultura paulista, refere-se a pequenos, médios e alguns grandes produtores que enfrentam dificuldades em permanecer na atividade produtiva e temem pelo futuro do setor. O número de suínos enviados para o abate por São Paulo em 2013 foi de aproxi- madamente 1,77 milhão de cabeças, cerca de 4,9% do total nacional, que é de 36,0 mi- lhões de cabeças, conforme o Levantamento Trimestral da Produção Pecuária do IBGE, feito em março de 2014 1 . A participação paulista na produção nacional vem decrescendo gradativamente. O rebanho nacional de suínos tem como destaque, com 49,5%, os esta- dos do Sul. São Paulo aparece em quinto lugar, com 4,6% 2 . A produção brasileira está inserida em uma grande cadeia de produção mundial e cabe situar o segmento dentro deste panorama global. Segundo dados de previsão do USDA 3 , espera-se uma produção global de 107,4 milhões de toneladas em equivalente car- caça. Os principais países produtores são: China, com 53,8 milhões (50,1%); União Euro- peia, com 22,5 milhões (21,0%), Estados Unidos, com 10,6 milhões (9,9%), e demais países, com 18,9 milhões (19%). O Brasil com sua produção prevista para 2014 de 3,3 milhões (3,1%), participa deste ranking na quarta posição 4 . Nas exportações, a carne suína é me- nos representativa do que as carnes bovina e de frango.

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Page 1: Análise de Mercado de Proteínas Animais: suinocultura no Estado de … · 2014. 6. 26. · Quando esta relação é analisada trocando-se a carne de frango por filé-mignon, a média

INSTITUTO DE ECONOMIA AGRÍCOLA http://www.iea.sp.gov.br

Análises e Indicadores do Agronegócio

ISSN 1980-0711

v. 9, n. 6, junho 2014

Análise de Mercado de Proteínas Animais: suinocultura no Estado de São Paulo em 2014

A suinocultura paulista, diferentemente da praticada no Sul do país, não tem co-

mo característica em seu ciclo de existência a concentração em conglomerados de pro-

cessamento, nos quais a produção de animais para o abate é obtida pelo sistema de in-

tegração aos abatedouros. De forma semelhante ao setor avícola paulista, a suinocultura

praticada no estado é constituída principalmente por uma variada gama de produtores,

normalmente independentes, que podem ou não estar vinculados aos abatedouros. Es-

tes, por sua vez, se especializaram na produção de carne resfriada para o mercado local

e/ou na de embutidos. As empresas de abate de suínos de São Paulo têm como objetivo

principal o mercado estadual de carne resfriada, com exceção de alguns fabricantes de

embutidos tradicionais e de qualidade direfenciada, cujo produto tem projeção nacio-

nal. Quando se fala da suinocultura paulista, refere-se a pequenos, médios e alguns

grandes produtores que enfrentam dificuldades em permanecer na atividade produtiva e

temem pelo futuro do setor.

O número de suínos enviados para o abate por São Paulo em 2013 foi de aproxi-

madamente 1,77 milhão de cabeças, cerca de 4,9% do total nacional, que é de 36,0 mi-

lhões de cabeças, conforme o Levantamento Trimestral da Produção Pecuária do IBGE,

feito em março de 20141. A participação paulista na produção nacional vem decrescendo

gradativamente. O rebanho nacional de suínos tem como destaque, com 49,5%, os esta-

dos do Sul. São Paulo aparece em quinto lugar, com 4,6%2.

A produção brasileira está inserida em uma grande cadeia de produção mundial e

cabe situar o segmento dentro deste panorama global. Segundo dados de previsão do

USDA3, espera-se uma produção global de 107,4 milhões de toneladas em equivalente car-

caça. Os principais países produtores são: China, com 53,8 milhões (50,1%); União Euro-

peia, com 22,5 milhões (21,0%), Estados Unidos, com 10,6 milhões (9,9%), e demais países,

com 18,9 milhões (19%). O Brasil com sua produção prevista para 2014 de 3,3 milhões

(3,1%), participa deste ranking na quarta posição4. Nas exportações, a carne suína é me-

nos representativa do que as carnes bovina e de frango.

Page 2: Análise de Mercado de Proteínas Animais: suinocultura no Estado de … · 2014. 6. 26. · Quando esta relação é analisada trocando-se a carne de frango por filé-mignon, a média

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nais de 2013 apresentou um crescimento de 20,7% em relação a 2012, ou seja, a média

do valor da arroba suína em 2012 foi de R$53,00, enquanto em 2013 foi de R$64,00.

Esse incremento na cotação da arroba suína recebida pelo produtor também não

significa que, para o setor produtivo, o período é dos melhores. A relação de troca entre

suíno e ração em março de 2014 foi de 3,05 kg de ração para suíno adquirida com o valor

de 1 kg da arroba do suíno recebida pelo produtor. Em estudo da EMBRAPA8, a relação de

troca indicada como referência entre quilograma de carne suína e quilograma de ração

para suínos, para a remuneração razoável da atividade, é de 4,4 kg de ração. Esta rela-

ção traduz o número de quilogramas de ração adquiridos com o valor recebido pelo sui-

nocultor por 1 kg do suíno pronto para o abate, lembrando que o custo da alimentação

deve estar em torno de 70% do custo total de produção e a conversão alimentar deve ser

de 3,1 kg de ração para a produção de 1 kg de carne. Considere-se que, nos últimos 5

anos, esse indicador apresenta uma tendência decrescente em São Paulo (Figura 2). O

significado desse comportamento pode dizer que o segmento enfrenta dificuldades para

produzir e que, graças à conversão alimentar dos suínos, fruto do melhoramento genéti-

co, ainda é possível continuar na atividade.

Figura 2 - Relação de Troca entre Suíno (kg) x Ração (kg), Estado de São Paulo, Janeiro de 2009 a Março de 2014.

Fonte: Elaborada pelo autor a partir dos dados do IEA/CATI.

Quando se acresecenta a relação de troca entre as carnes, suína/frango e suí-

na/bovina, para observar o que se passa no varejo, constata-se que a carne suína dispu-

ta a preferência do consumidor, porém, em desvantagem, pois seu concorrente mais

forte, a carne de frango, é mais barata, enquanto a carne bovina, apesar de mais cara, é

preferida pelo consumidor de melhor poder aquisitivo.

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A relação entre o preço pago pelo quilograma de pernil e o quilograma de frango

pago no varejo pelo consumidor, no período de janeiro de 2009 a março de 2014, é de

1,9, ou seja, com o equivalente em reais pago pelo kg de pernil, o consumidor compra

1,9 kg de frango no varejo (Figura 3). Quando esta relação é analisada trocando-se a

carne de frango por filé-mignon, a média inverte-se para 0,3 kg, ou seja, consegue-se

adquirir apenas um terço do produto com o valor da carne suína.

Figura 3 - Relação de Troca entre Carne Suína, Carne de Frango e Carne Bovina no Varejo, Estado de São Paulo, Janeiro

de 2009 a Março de 2014.

Fonte: Elaborada pelo autor a partir dos dados do IEA/CATI.

O total de mais de 3,0 milhões de toneladas de carne suína brasileira produzida

em 2013 garantiu o consumo brasileiro estimado de 15,6 kg/per capita/ano9. Os números

da suinocultura paulista indicam que ano a ano ocorre queda na produção e, para 2014,

não parece ser diferente.

A suinocultura paulista enfrenta problemas de difícil resolução, como falta de es-

cala na produção, custos de produção elevados, concorrência com outras atividades agro-

pecuárias de maior rentabilidade e falta de aptidão cooperativista, mencionando somen-

te alguns. Soma-se a estes problemas a concorrência pelo consumidor que, quando tem

restrições orçamentárias na aquisição de alimentos, escolhe a carne de frango pelo pre-

ço e, quando não tem, escolhe carne bovina pela preferência. O que resulta destes fato-

res é o crescente desestímulo aos suinocultores em permanecer na atividade em que a

produção é insuficiente e praticamente toda consumida no próprio estado.

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1INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA - IBGE. Estatística da produção pecuária. Rio de Ja-neiro: IBGE, mar. 2014. 2Op. cit. nota 1. 3COMPANHIA NACIONAL DE ABASTECIMENTO - CONAB. Perspectivas para a agropecuária. Brasília: CONAB, 2013. v. 1. Disponível em: <http://www.conab.gov.br>. Acesso em: maio 2014. 4ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DA INDÚSTRIA PRODUTORA E EXPORTADORA DE CARNE SUÍNA - ABIPECS. Produção mundial de carne suína. São Paulo: ABIPECS. Disponível em: <http://www.abipecs.org.br/pt/estatisticas /mundial/producao-2.html>. Acesso em: 16 abr. 2014. 5MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO - MAPA. Relatório de gestão da SFA/SP, exer-cício de 2010. Brasília: MAPA, 2010. p. 1-145. 6Op. cit. nota 1. 7TSUNECHIRO, A. et al. Valor da produção agropecuária por região, Estado de São Paulo, 2013. Análises e Indicadores do Agronegócio, São Paulo, v. 9, n. 4, abr. 2014. Disponível em: <http://www.iea.sp.gov.br>. Acesso em: maio 2014. 8GIROTTO, A. F.; MONTICELLI, C. J. Produção de suínos: nutrição. Embrapa, São Paulo, jan. 2003. Disponível em: <http://sistemasdeproducao.cnptia.embrapa.br/FontesHTML/Suinos/SPSuinos/nutricao.html>. Acesso em: 15 maio 2014.

9Op. cit. nota 1.

Palavras-chave: suínos, mercado, produção, preços.

Carlos Roberto Ferreira Bueno Pesquisador do IEA

[email protected]

Liberado para publicação em: 25/06/2014