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  • 7/23/2019 Artigo Scanline Bacia Do Araripe

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    101Estudos Geolgicos v. 18 (2), 2008

    Virginio Henrique Neumann et al.

    PADRO DE FRATURAMENTO NOS CALCRIOS

    LAMINADOS APTIANOS DA REGIO DE NOVAOLINDA-SANTANA DO CARIRI, BACIA DO ARARIPE:UMA APLICAO DA TCNICA DE ESCALAS

    Virginio Henrique NeumannJulia Gale

    Robert M. ReedJos Antnio Barbosa

    Departamento de Geologia do Centro de Tecnologia e Geocincias da Universidade Federal dePernambuco, [email protected] Scientist, Bureau of Economic Geology, The University of Texas at Austin, UniversityStation, Box X, Austin, Texas, 78713-8924, USA. E-mail: [email protected] figurasResearch Scientist, Bureau of Economic Geology, The University of Texas at Austin, UniversityStation, Box X, Austin, Texas, 78713-8924, USA. E-mail: [email protected] Pesquisador Visitante do PRH-26 da Universidade Federal de Pernambuco-UFPE/Agncia Naci-onal de Petrleo-ANP, Av. Acadmico Hlio Ramos, s/n, Recife, Pernambuco, Brasil, CEP 50.740-530. E-mail: [email protected], 1 foto, 2 pranchas e 1 tabela

    RESUMO

    As fraturas influenciam as respostas dos perfis de resistividade, densidade e deraios-gama, e o fluxo de fluidos. Para o estudo de fraturas nos calcrios aptianos doAraripe foi escolhida uma rea piloto (Pedreira do Idemar, regio de Nova Olinda-Santa-na do Cariri, Cear) para a execuo de um scanline. O scanlinerealizado na bancada foide 10m de extenso, e, no mesmo, foram medidas 14 fraturas. A direo (315 Az) doscanlinefoi perpendicular da maioria das fraturas na bancada (230 Az). As espessurasdas fraturas variaram de 0,09 a 10 mm. Foi construdo um grfico de distribuio deabertura das fraturas, da freqncia acumulada (F) versus abertura (b), o qual apresentouum ndice de correlao R2= 0,9885, com F = 0,361b-0,6118. Da anlise do grfico, foramfeitas as seguintes observaes: a) a abertura mxima, das fraturas, observada no interva-lo de 0,01 a 100 mm, foi de 60 mm, b) a densidade das fraturas abertas no mesmo inter-

    valo anterior foi de 0,226 fratura/m, c) o espaamento mdio das fraturas abertas foi de4,42 m, d) a densidade da fratura mais espessa foi de 0,02948 fraturas/m, e) o espaa-mento mdio das fraturas mais espessas foi de 33,91 m. A partir de uma descrio deta-lhada sobre o padro de fraturamento a macro e a microescala e a utililizao da Tcnicade Escalas, as informaes podero ser aplicadas no auxlio da modelagem de fluxo defluidos em reservatrios carbonticos anlogos.

    Palavras chave:Bacia do Araripe, Fraturas abertas, Reservatrios carbonticos fratura-dos, Tcnicas de Escalas

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    Padro de Fraturamento nos Calcrios Laminados Aptianos da Regio de Nova Olinda-santana do Cariri,

    Bacia do Araripe: Uma Aplicao da Tcnica de Escalas

    ABSTRACTFractures strongly influence the logging tool responses, including the fracture iden-

    tification log, the porosity logs, the resistivity logs, and the spectral gamma logs, andfluid flow. For the study of fractures in the Aptian laminated limestones of Araripe basin,the Idemar quarry was chosen as pilot-area to the realization of a scanline. The scanlinein one bench in Idemar quarry was over 10 m of extension, and, in the same, 14 fractureswere measured. The scanline direction (315 Az) was perpendicular to most of the fractu-re direction (230 Az). The thickness of the fractures varied from 0,09 to 10 mm. It wasbuilt a graphic of aperture size distribution, with the cumulative frequency (F) versusAperture (b), presenting it a well correlation index R2= 0,9885, with F = 0,361b-0,6118. Byanalyses of the graphic, the following conclusions can be made: a) the maximum obser-ved aperture of fractures, in the interval from 0,01 to 100 mm, was of 60 mm, b) theintensity of open fractures line, at the same previous interval was of 0,226 fractures/m, c)

    the average spacing of open fractures was of 4,42 m, d) the intensity of widest fracturesline was of 0,02948 fractures/m and, e) the average spacing of widest fractures was of33,91 m. From the detailed description of macro- and micro-scale pattern fracturing dataand the scaling technique application, the information could be applied to aid of themodeling of fluid flow in analogous of carbonate reservoir.

    Keywords: Araripe Basin, Opening fractures, Carbonate fracturing reservoir, ScalingTechniques

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    INTRODUOO padro de fraturamento em rochas

    sedimentares vem sendo estudadas commaior nfase desde a dcada de oitenta,tanto em afloramentos como em lminasdelgadas, com o objetivo principal de mi-nimizar fracassos, perdas e prejuzos, mor-mente em atividades extrativas, e com ob-jetivos especficos: anlise de processosdeformacionais e sistemas de fluidos crus-tais (Ramsay, 1980; Ramsay & Huber,1983), evoluo microestrutural (Bons,2000; Hilgers et al., 2001), crescimento

    de cristais e movimentos de fluidos (Wilts-chko & Morse, 2001; Hilgers & Urai,2002), diagnese estrutural (Milliken &Laubach, 2000; Lander et al. 2002; Lau-bach, 2003; Reed & Milliken, 2003) e, aproblemas de escalas (Marrett, 1996, Or-tega & Marrett, 2000; Ortega, 2002).

    Novas descobertas de hidrocarbo-netos em reservatrios carbonticos noBrasil tm sido apresentadas pelaPETROBRS nos ltimos anos. Todosesses reservatrios so fraturados, como o caso do Calcrio Trairi, no campode Xaru da Bacia do Cear, que umanlogo em litologia, idade e fraturas aoscalcrios do Araripe.

    As fraturas influenciam fortemen-te: a) as respostas dos perfis de resisti-vidade, densidade e de raios-gama (e.g.,Laranjeira, 1997), e b) o fluxo de flui-dos dentro deles. importante, portan-to, entender os processos que governama formao das fraturas, a relao entre

    a precipitao natural de cimentos e ofraturamento e como interage o padrode fraturamento e a diagnese para con-trolar a qualidade do reservatrio (Galeet al., 2005).

    A tcnica de escalas inclui a mediode fraturas em afloramentos e em lminasdelgadas e oferecem uma oportunidadeimpar de resolver problemas da amostra-gem em subsuperfcie desde escalas sub-

    milimtricas at aquelas importantes emaplicao econmica (reservatrios).

    Embora a extrapolao das distri-buies de comprimento e abertura defraturas ao longo de espaos de obser-vao seja passvel de erros potenciaisou sistemticos, a aferio de suasaberturas ou espessuras cinemticas aolongo de linhas de observao (scanli-nes), usando novos mtodos de trabalhoproduzem consistentes resultados nainterpretao de suas distribuies, des-de escalas micromtricas em subsuper-

    fcie (anlises de testemunhos) s deafloramentos.A descrio de um sistema de fratu-

    ras requer dados especficos, como orien-tao, espessura, quantidade, conexes,distribuio espacial e preenchimento.Este conjunto de aspectos a serem detec-tados num sistema de fraturas o que sechama de scanline (linha de captao ouobservao). Em resumo, o scanline,como conceituado acima, um mtodo ouuma tcnica em que todos os valores dadireo, aberturas e demais elementosexistentes em um ou mais sistemas de fra-turas devem ser obtidos para uma anlisebem apurada do afloramento. Assim, de-fine-se que direo ou direes preferen-ciais tm as famlias de fraturas para ori-entar os trabalhos que so realizados emfuno delas.

    A regio de Nova Olinda e Santanado Cariri foi selecionada para o estudodas fraturas a partir das informaes do

    mapa estrutural da bacia do Araripe su-gerido por Ponte e Ponte Filho (1996),que apresenta, para esta rea, duas falhasprincipais com direes NE e SE. Essaregio foi subdivida em trs sub-regies:a) Norte, contemplando as pedreiras doAndr e de Idemar, b) Oeste (Tatajuba),com as pedreiras de Srgio e Felipe, e c)Sul, com as pedreiras de Cantagalo eBaixio. Em todas as pedreiras foram

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    Bacia do Araripe: Uma Aplicao da Tcnica de Escalas

    feitas medidas de direes, mergulhos eespaamentos das fraturas. As direesprincipais NE e SE foram dominantes emtodas s pedreiras estudadas. A Pedreirado Idemar foi escolhida como rea-pilo-to para a aplicao da tcnica de escalasnos calcrios aptianos do Araripe porapresentar boas exposies das fraturase uma bancada plana e contnua para re-alizao do scanline. Adicionalmente,foram coletadas amostras representativas,nas quais as fraturas estivessem melho-res preservadas, para serem efetuadas as

    microanlises e elaboradas sees delga-das para o estudo das microfraturas emmicroscopia normal e eletrnica (SEM),com uma catodoluminescncia acoplada.

    CARACTERIZAO DA REA

    LOCALIZAOA Bacia do Araripe (Figura 1) locali-

    za-se no interior da regio Nordeste do Bra-sil, entre os estados de Pernambuco, Cear ePiau, e recobre uma rea de cerca de 7.200km2, sendo que rea em que se localizam osafloramentos estudados se entende desde omunicpio de Nova Olinda at o de Santanado Cariri, no estado do Cear. A cidade deCrato, sede do projeto nas etapas de coletade dados de campo, dista 625 km de Recife-

    PE, e 565 km de Fortaleza-CE. A Bacia doAraripe dividida em duas sub-bacias: Oes-te (ou Feitoria) e Leste (ou Cariri), sendo quea rea-piloto estudada fica nesta ltima.

    Figura 1 Localizao da Bacia do Araripe

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    LITOESTRATIGRAFIALitoestratigraficamente, a Bacia do

    Araripe composta pelas seguintes forma-es (Fig. 2): Mauriti, Brejo Santo, Mis-so Velha, Abaiara, Rio da Batateira, Cra-

    to, Ipubi, Romualdo, Arajara e Exu. Comoo objeto de estudo deste projeto so os car-bonatos que compem a Formao Crato(Neumann e Cabrera, 1999), ser dada n-fase a esta formao.

    Figura 2 Coluna Litoestratigrfica da Bacia do Araripe, (baseada em Neumann, 1999).

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    EVOLUO TECTNICAPonte & Appi (1990) e Ponte & Ponte

    Filho (1996) definiram para a Bacia do Ara-ripe cinco tectono-seqncias:Beta(Siluro-Devoniano?), ocorrendo em todas as baciasinteriores do Nordeste; Pr-Rifte (Oxfordi-ano-Titoniano), equivalente ao Sin-Rifte I deChang et al.(1990); Sin-Rifte(Berriasiano-Valanginiano), idntico ao Sin-Rifte II deChang et al. (1990.); Ps-Rifte (Aptiano-Albiano), correspondente ao Sin-Rifte III deChang et al.(1990); eZeta(Cenozico).

    Segundo Matos (1992), as bacias in-

    tercontinentais neocomianas do Nordeste

    representam um sistema de riftes aborta-dos, associados separao, de sul paranorte, das placas tectnicas sul america-na e africana. A geometria dessas baciasteria sido controlada por uma complexarede de zonas de cisalhamento protero-zicas, de direo SW-NE, produzidaspela orogenia do Ciclo Brasiliano / PanAfricano com durao de 0,7 Ga a 0,55Ga (Fig. 3). Este rifteamento se reflete nabase da poro superior do grupo Ps-rifte(Ponte e Ponte-Filho, 1996), que so asformaes do Grupo Santana e Exu (Neu-

    mann & Cabrera, 1999).

    Figura 3 Evoluo tectnica das bacias interiores do tipo Rifte do Nordeste: A) modelo de exten-

    so NW-SE ao longo do lineamento sigmoidal preexistente; B) situao tectnica Pr-Rifte; e C)

    situao tectnica e distribuio de riftes nessas bacias (Matos, 1992).

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    Asmus & Porto (1972) afirmaram quea Zona de Cisalhamento ou Lineamento Pa-

    tos teria sua extremidade oeste terminada em

    uma srie de falhas curvadas, formando uma

    geometria sigmoidal, e que, durante o Neoco-

    miano, uma distenso geral de direo NW-

    SE inverteu as falhas originalmente transpres-

    sionais para falhas normais, o que reativou

    pequenos segmentos da Zona de Cisalhamen-

    to, dando lugar s bacias (Fig. 3).

    As sub-bacias Cariri e Feitoria so se-paradas por uma estrutura denominadaHorstde Dom Leme, que separa depres-ses bem proeminentes em um mapa estru-tural do embasamento (Fig. 4). O conjuntode horsts e grabens seccionado por falhasnormais, planares, conforme interpretaesgeofsicas, com sua maioria seguindo a ori-entao principal das tramas do embasamen-to (Ponte & Ponte Filho, 1996).

    MATERIAIS E MTODOSO scanline uma tcnica utilizada

    para a medio das fraturas de um dadoafloramento, atravs de uma linha reta,com uma direo definida. O comprimen-to do scanlinevai depender do tamanhoda rea a ser estudada. As medidas dasaberturas so comparadas s existentesno Comparador de Aberturas com umlupa de aumento de 20x.

    Com os dados das aberturas das fra-

    turas obtidas foi construdo um grficocom a distribuio das fraturas.A partir das medidas das fraturas do

    scanline, utiliza-se a Tcnica de Esca-las para comparar fraturas de afloramen-tos com fraturas encontradas nas lminasdelgadas.

    A Tcnica de Escalas oferece umaoportunidade para resolver problemas defraturas nas amostras subsuperficiais, ex-

    Figura 4 Mapa estrutural onde so observadas as depresses dos dois lados do Horstde DomLeme da Bacia do Araripe: Sub-bacias leste Cariri e oeste - Feitoria (Ponte & Ponte Filho, 1996).

    trapolando propriedades de fraturas deescalas submilimtricas para escalasmaiores, importantes nas aplicaeseconmicas.

    Foi feito um reconhecimento do pa-dro de fraturamento dos calcrios lami-nados aflorantes entre as reas de NovaOlinda e Santana do Cariri, Cear, comdescries detalhadas das fraturas e mi-crofraturas ocorrentes nos calcrios.Tambm foram coletadas amostras doscalcrios para serem realizadas as micro-

    anlises e confeccionadas lminas delga-das. Os estudos das amostras atravs delminas delgadas em microscpio pticoe SEM-CL (catodoluminescncia acopla-da) foram executados no Bureau de Ge-ologia Econmica da Universidade doTexas em Austin, atravs do intercmbioentre a UFPE, Departamento de Geolo-gia, Laboratrio de Geologia Sedimen-tar (LAGESE), o CNPq e a Universida-

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    de do Texas.RESULTADOS

    APRESENTAO DOS DADOS

    Aplicao na Pedreira do Idemar, Mu-nicpio de Nova Olinda, Cear

    A aplicao da Tcnica de Escalas Pedreira do Idemar (Foto 1) teve por obje-tivo estudar o comportamento e o preen-chimento das fraturas e projet-las para ointerior da bancada e coletar amostras das

    fraturas para posterior estudos das micro-fraturas nas lminas delgadas. As fraturasestudadas nas lminas delgadas apresenta-ram uma composio de calcita com baixoteor de magnsio. Como a maioria das fra-turas na bancada tem direo de aproxima-damente 230 Az, a direo escolhida doscanline foi de 315 Az, uma vez que eledeve ser mais ou menos perpendicular dasfraturas. O scanlineteve 10m de extenso(Foto 1) e foram medidas 14 fraturas (nu-meradas de 1 a 14) ao longo do mesmo(Tabela 1).

    Tabela 1 Medidas das fraturas encontradas no Scanline da Pedreira do Idemar.

    Dist (cm) a distncia do ponto zero do Scanline at fratura. Ab. (mm) a abertura da fratura e

    Dir. (Az) a direo da fratura.

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    Foi observado que o padro de fraturamento se prolonga abaixo da bancada (por maisou menos 2 a 5,5 m), com as fraturas mais espessas alcanando as maiores profundidades.

    DISCUSSO E INTERPRETAESAs fraturas influenciam fortemente

    tanto as respostas dos perfis de resistivida-de, densidade e de raios-gama, quanto o flu-

    xo de fluidos dentro deles. importante,portanto, entender os processos que gover-nam a formao das fraturas.

    A partir dos dados da Tabela 1, foi

    Foto 1 Vista de cima da bancada, mostrando o scanline e as fraturas (F1 a F14).

    contrudo um grfico de Distribuio deAbertura das Fraturas (Figura 5), da fre-quncia acumulada (F = fraturas por me-tro) versus abertura (b, em milmetros).A freqncia acumulada F = 0,361b-0,6118

    , conjuntamente com o ndice de corre-lao R2= 0,9885 calculados demons-tra uma boa correlao para se trabalharcom uma boa confiabilidade nos dadosobtidos.

    Figura 5 Grfico construdo a partir dos dados das medidas do scanlinena Pedreira do Idemar.

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    Bacia do Araripe: Uma Aplicao da Tcnica de Escalas

    Da anlise do grfico, foram feitas asseguintes observaes: a) a abertura mxi-ma, das fraturas, observada no intervalo de0,01 a 100 mm foi de 60 mm, b) densidadedas fraturas abertas no mesmo intervaloanterior foi de 0,226 fraturas/m, c) o espa-amento mdio das fraturas abertas queapresentaram menores aberturas (escalamilimtrica) foi de 4,42 m, d) a densidadeda fratura mais aberta foi de 0,02948 fra-turas por m e, e) o espaamento mdio dasfraturas que apresentaram as maiores aber-

    turas (1cm) foi de 33,91 m.Depois de obtidas as informaessobre as fraturas, foram confeccionadaslminas delgadas para que as mesmas pu-dessem ser estudadas no microscpio p-tico-CL e no SEM-CL. Os resultados pre-liminares dos estudos da amostra PA-B2A,utilizando imagem na Catodoluminescn-cia (cold-cathode CL imaging), e sua in-terpertao so apresentados a seguir. To-das as imagens tm a mesma orientao(usualmente utilizadas quando se comparapadres de fraturamento) e foram executa-das com a objetiva de 5x de aumento. Paraa nomenclatura das lminas delgadas, asseguintes abreviaes so utilizadas: ppl =luz plano polarizada, cpl = luz polarizadae analisada, cvcl = catodoluminescncia.

    Foram observadas duas macrofraturas(uma maior e outra menor) e vrias micro-fraturas. Na menor das duas macrofraturas(Prancha 1, Fotos PA-B2A-01-ppl e cvcl),so evidenciados indcios de zonao e cra-

    ck-seal. O carbonato presente na fratura (cal-cita) apresenta uma intensa luminescnciaalaranjada (Prancha 1, Foto PA-B2A-01cvcl). Apesar de esta macrofratura menorter a mesma orientao da macrofraturamaior (Prancha 1 Foto PA-B2A-02cpl), estasegunda apresenta luminescncia alaranja-da apenas ao longo das suas margens (Pran-cha 1 Foto PA-B2A-02cvcl).

    Dentro da macrofratura maior, so

    observadas: duas fraturas cortando o preen-chimento e zonas caracterizadas por inclu-ses fluidas (Prancha 1 Foto PA-B2A-03ppl). Ao estudar as imagens obtidas coma catodoluminescncia, observa-se que essafratura, em particular, no luminescente(Prancha 1 Foto PA-B2A-03cvcl2). Devidoao fato dessa rea no apresentar lumines-cncia, foi feito um contraste. A maioria dosdetalhes parece variar no comprimento deonda verde. Isto no tpico das calcitasnormalmente imageadas. Geralmente, quan-do a calcita apresenta-se em variaes do

    comprimento de onda verde, pode estar as-sociada a Elementos Terras Rara.As fotos PA-B2A- 04ppl e cvcl da

    Prancha 1 so similares s Fotos PA-B2A-02cpl e cvcl2, e com incluses fluidas se-melhantes s Fotos PA-B2A-03 ppl e cvcl2,porm, mais frequentes do que elas.

    Na matriz, prxima macrofraturamaior, utilizando a luz transmitida, uma ou-tra pequena macrofratura observada (Pran-cha 2 Foto PA-B2A-06ppl), mas fica quaseinvisvel quando aplicada a catodolumines-cncia (Prancha 2 Foto PA-B2A-06cvcl).Contudo, a fratura ocorre ao longo de umlimite entre reas com diferentes lumines-cncias na matriz. Pode ser indicatico de umdesmembramento da macrofratura que sequebrou ao longo do acamadamento. Outrapossibilidade que a fratura menor tenhaformado uma barreira aos fluidos diagen-ticos, conduzindo a diferentes diagnese,em ambos os lados da mesma. Ainda namatriz, prxima macrofratura maior

    (Prancha 2 Foto PA-B2A-07ppl), a imagemda catodoluminescncia mostrou uma mi-crofratura no luminescente perpendicular macrofratura (Prancha 2 Foto PA-B2A-07cvcl).

    Algumas zonas lineares descontnu-as (possveis fraturas) na matriz no ha-viam sido observadas na luz transmitidaat terem sido vistas na catodolumines-cncia (Prancha 2 Fotos PA-B2A-09ppl

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    Virginio Henrique Neumann et al.

    Prancha 1, Fotos: PA-B2A-01ppl e cvcl (acima), mostrando a pequena macrofratura com a luz planopolarizada (ppl) e com a catodoluminescncia (cvcl); PA-B2A-02cpl e cvcl2 (centro alto), macrofratu-ra maior na luz polarizada e analisada e a no luminescncia no seu interior, apenas nas bordas; PA-B2A-03ppl e cvcl2 (centro baixo), mostrando o interior da macrofratura maior com fraturas, zonaese incluses fluidas; PA-B2A-04ppl e cvcl2 (abaixo), contato matriz/macrofratura maior, mostrando ocrescimento de cristais dentro da zonao circular maior. A escala nas fotos mede 0,5mm.

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    Bacia do Araripe: Uma Aplicao da Tcnica de Escalas

    e cvcl). Algumas feies similares comesta orientao esto presentes nas reasadjacentes. Duas microfraturas bem lu-minescentes so claramente observadascortando a matriz (Prancha 2 Fotos PA-B2A-10ppl e cvcl). A rea observada prxima da imagem das Fotos PA-B2A-09. Possivelmente h uma microfraturaperpendicular fratura bem luminescen-te, no topo da imagem.

    H poucas reas com um brilho la-ranja luminescente no preenchimento damafratura. Contudo, isto s uma parte e

    parece restar relacionado s reas que po-dem estar prximas superfcie alterada(provavelmente influncia meterica).

    As imagens analisadas parecem su-gerir que h mais de uma gerao de fratu-ras presentes. Este resultado requer um es-tudo mais detalhado no microscpio ele-trnico de varredura (SEM) com a catodo-luminescncia (CL) acoplada, uma vez queo SEM-CL apresenta a vantagem de pos-suir um contrate melhor, com uma altamagnificao.

    CONCLUSESAs rochas carbonticas aptianas da

    regio de Nova Olinda-Santana do Cariri(Bacia do Araripe) apresentam um padrode fraturamento que so regidos pelas gran-des falhas do embasamento. Em especial,no afloramento da pedreira do Idemar o fra-turamento apresenta direes preferenciais230 e 225 Az, secundariamente 315 Az, con-cordantes com as direes das falhas cons-

    tantes no mapa estrutural. No afloramento-piloto (Pedreira do Idemar) das 14 fraturasmedidas no scanline de 10 m, 11 apresenta-ram direo variando de 250 Az a 225 Az e3 fraturas entre 164 Az e 185 Az. A partirdos dados obtidos do grfico de distribui-o das aberturas foi observado que as fra-turas abertas de ordem milimtricas ocor-rem a cada 4,42 m, enquanto que as fraturasque apresentam as maiores aberturas (1cm

    em mdia) devero ocorrer a cada 33,91 m.A partir dos estudos das lminas del-

    gadas sob o microscpio ptico, foi obser-vado que a as fraturas so preenchidas porcalcita recristalizada. Com o auxlio da ca-todoluminescncia acoplada puderam seridentificadas zonaes nas calcitas recris-talizadas e fraturas que no haviam sidoobservadas no microscpio ptico (luz po-larizada e luz polarizada e analisada).

    Conclui-se que a partir de uma des-crio detalhada sobre o padro de fratura-mento a macro e a microescala e a utilili-

    zao da Tcnica de Escalas, as informa-es podero ser aplicadas no auxlio damodelagem de fluxo de fluidos em reser-vatrios carbonticos anlogos.

    AGRADECIMENTOSAo CNPq pela bolsa de Ps-Douto-

    rado-PDE (Proc No 200586/2005-0). AoFRACGroup do Bureau de Geologia Eco-nomica da Universidade do Texas, em Aus-tin, pelo apoio nas preparaes das amos-tras e na utilizao dos equipamentos. FINEP, atravs da REDE 07- Campos Ma-duros, em especial ao Projeto Rede 07-02-Anlogo Araripe e PETROBRAS, pelosuporte financeiro aos trabalhos de cam-po. Ao LAGESE-DGEO-UFPE, pelo em-prstimo dos equipamentos utilizados nostrabalhos de campo.

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    Prancha 2, Fotos: PA-B2A-05ppl e cvcl, apresenta uma pequena macrofratura observada na luzplano polarizada (ppl), mas no observada na catodoluminescncia (cvcl); PA-B2A-07ppl e cvcl,contato matriz/macrofratura maior, onde se observa na lmina cvcl uma microfratura perpendicular macrofratura; PA-B2A-09ppl e cvcl, duas microfraturas paralelas observadas na cvcl e quaseinvisvel na ppl; PA-B2A-10ppl e cvcl, mostrando microfraturas nas laterais da mancha escura nocentro da foto. A escala nas fotos mede 0,5 mm.

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