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CENTRO UNIVERSITÁRIO SENAC Pós Graduação em Gestão de Marketing Eduardo Sanchez de Abreu Fernanda Souza Juliana Alves Fonseca Louise Vieira Ermida Suzana Cristina do Nascimento Diversidade Sexual: o marketing utilizando o monitoramento de mídias sociais como ferramenta para gerenciamento de crise nas campanhas publicitárias no Brasil. SÃO PAULO 2016

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CENTRO UNIVERSITÁRIO SENAC Pós Graduação em Gestão de Marketing

Eduardo Sanchez de Abreu

Fernanda Souza

Juliana Alves Fonseca

Louise Vieira Ermida

Suzana Cristina do Nascimento

Diversidade Sexual: o marketing utilizando o monitoramento de mídias sociais como ferramenta para gerenciamento de crise nas campanhas publicitárias no

Brasil.

SÃO PAULO

2016

1

Eduardo Sanchez de Abreu

Fernanda Souza

Juliana Alves Fonseca

Louise Vieira Ermida

Suzana Cristina do Nascimento

Diversidade Sexual: o marketing utilizando o monitoramento de mídias sociais como ferramenta para gerenciamento de crise nas campanhas publicitárias no

Brasil.

Trabalho de conclusão de curso

apresentado ao Centro Universitário

SENAC – Campus Francisco Matarazzo,

curso de pós-graduação em Gestão de

Marketing, professores Ernesto Nunes e

Aico Nogueira.

SÃO PAULO

2016

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Diversidade Sexual: o marketing utilizando o monitoramento de

mídias sociais como ferramenta para gerenciamento de crise nas

campanhas publicitárias no Brasil / Eduardo Sanchez de Abreu;

Fernanda Souza; Louise Vieira Ermida; Juliana Alves Fonseca;

Suzana Cristina do Nascimento – São Paulo, 2016.

Professores Ernesto Nunes; Aico Nogueira

Trabalho de conclusão de curso (Pós-graduação em Gestão de

Marketing) – Centro Universitário Senac – Campus Francisco

Matarazzo, São Paulo, 2016

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Resumo

Este artigo tem como objetivo analisar as campanhas recentes no Brasil de

duas grandes marcas: O Boticário e C&A. Ambas se posicionaram a favor da

diversidade sexual e de gênero, provocando grande repercussão nas mídias

também por ser um tema que está em discussão constante na sociedade

contemporânea. Avaliamos o quanto isso afeta a imagem da empresa perante seu

público e como as empresas se posicionaram. Abordamos também o papel do

monitoramento das mídias sociais e a maneira como se desenvolvem as crises nos

tempos de mídias sociais e como gerenciá-las, e buscamos identificar as mídias

sociais como ferramentas eficazes para o marketing e comprovar que o

monitoramento de mídias sociais contribui para o gerenciamento de crise.

Palavras – chave

1. Gerenciamento de marca 2. gerenciamento de crise 3. Monitoramento de

redes sociais 4. diversidade sexual 5. redes sociais.

Abstract

This article aims analyze the recent campaigns in Brazil of two big brands: O

Boticário and C&A. Both have positioned themselves in favor of sexual and gender

diversity, causing great impact in the media also to be a topic that is in constant

discussion in contemporary society. We evaluate how much it affects the company's

image in your audience and how companies positon themselves.We also analyze the

role of monitoring of social media and how to develop the crisis in social media times

and how to manage them, and seek to identify the social media as effective tools for

marketing and prove that social media monitoring helps crisis management it.

Key words

1. Brand management 2. crisis management 3. social media monitoring 4.

sexual diversity 5. social media.

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Introdução

O objetivo desse trabalho é apresentar a importância do uso de

monitoramento das mídias sociais na gestão de marca e de crise, causados por

campanhas publicitárias que abordam temas polêmicos.

Analisaremos neste artigo dois “cases” de empresas que se posicionaram a

favor da diversidade sexual, e a repercussão que essas campanhas geraram para

as respectivas marcas e seus públicos, observando este impacto dentro do ambiente

digital e como o monitoramento pode apoiar as empresas na construção e

prevenção de crises.

Após o surgimento das mídias sociais, a facilidade com que os usuários

podem expor suas opiniões, independente de qualquer embasamento, inclusive

gerando confrontos, é um fato inegável pelas empresas que se preocupam com a

imagem da sua marca no mercado.

O cliente não está sozinho em um ambiente virtual: Agora tem voz, acesso e

pode influenciar tanto outros usuários em decisões como contribuir para novas

estratégias e até mesmo para o desenvolvimento de novos produtos. O poder que

cada indivíduo adquiriu nos últimos tempos, com a força das mídias sociais, pode

potencializar ou inferiorizar empresas, pequenas ou grandes, e suas campanhas.

Com essa mudança e a exposição das marcas sem controle, crises que antes

ficavam no off-line e talvez não tivessem essa exposição, agora encontraram um

novo e mais veloz ambiente de propagação.

As empresas precisam se adaptar e encontrar novas formas para lidar,

trabalhar ou evitar uma crise, ou se esta já foi estabelecida, diminuir seus impactos.

Com a falta de controle sobre o que é publicado a respeito das marcas e produtos,

buscaremos identificar as mídias sociais como ferramentas eficazes para o

marketing e comprovar que o monitoramento de mídias sociais contribui para o

gerenciamento de crise.

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Para isso, vamos avaliar dois casos que aconteceram em momentos

diferentes, mas que trazem as mesmas reflexões, pois as duas empresas aqui

citadas atuaram no tema dia dos namorados, posicionando-se a favor da diversidade

sexual: as campanhas publicitárias de O Boticário, em 2015, e da C&A, em 2016.

Acompanhamos a repercussão dos dois casos por meio da mídia e por

estudos de caso que abordaram a reação dos usuários nas mídias sociais. No caso

do O Boticário, não foi possível acompanhar on-line, mas por meio de estudos

realizados podemos interpretar as ações e reações. Para a C&A, mais recente, a

análise pode contar com as publicações nas mídias sociais. Percebe-se que nos

dois casos, embora a campanha não tenha sido feita para meio digital, os

internautas recorrem a este meio onde podem falar abertamente sobre o que

pensam, expressar suas percepções sobre a escolha, discutir o posicionamento das

marcas e falar diretamente com as empresas.

Neste ponto, percebem-se todos os tipos de comoção a favor e contra,

boicotes e a conquista de novos públicos, reações conflitantes que podem ser

consideradas e tratadas como crises pelas marcas, e que podem gerar

repercussões indesejadas se não tratadas de forma adequada.

A seguir neste artigo vamos abordar os temas como: desenvolvimento e

gestão das marcas, gerenciamento de crises e como foi o desenvolvimento desse

mercado no mundo e no Brasil, diversidade de gênero e o monitoramento de mídias

sociais e sua importância. Citaremos alguns casos de crise envolvendo marcas

famosas e a diversidade de gênero e sexual e como essas marcas se posicionaram

perante as crises e como as mídias sociais influenciaram e como as empresas se

posicionaram perante esses cenários.

Marca

A marca, segundo Kotler e Gertner (2004), pode ser considerada uma das

principais ferramentas do profissional de marketing para criar a diferenciação entre

produtos oferecidos no mercado, uma vez que as características destes costumam

ser facilmente copiadas ou difíceis de serem comparadas pelo consumidor.

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As marcas buscam o valor, e o valor que buscam está na sua habilidade em

ter um significado diferente, destacado positivamente na mente dos seus clientes.

Para essa marca continuar sempre valiosa e com um bom posicionamento no

mercado, é necessário fazer com frequência uma manutenção de sua imagem,

chamada de gestão de marca.

A gestão de marca hoje em dia é de extrema importância para as empresas,

pois gerenciando a sua marca é possível, além de construir, manter a confiança que

ela representa no mercado e para o seu cliente.

O valor que a marca conquista no mercado é um dos fatores mais

importantes de uma organização, pois depende dela o sucesso que a empresa tem

ou terá, valendo para todos os tipos de instituições, pois ela representa as

promessas e os atributos que a empresa oferece. “[...] a identidade da marca

expressa também a visão da empresa a respeito da mesma, dos seus aspectos

físicos à sua personalidade [...]” (Gade, 1998)

O posicionamento da marca também é muito importante para conhecer

melhor o seu mercado e seu público alvo, sendo que, para Kotler (2003), significa a

criação de superioridade de marca na mente dos consumidores. Envolve convencer

o consumidor das suas vantagens contra a concorrência e aliviar as preocupações

em relação a possíveis desvantagens.

Para ter um bom posicionamento no mercado, a marca necessita,

primeiramente, conhecer seu mercado e “target”, identificar quais são os objetivos

de comunicação da organização e definir claramente o que a marca quer ser.

Segundo Aaker (1996), as vantagens de um bom posicionamento são:

- Orienta a estratégia

- Proporciona expansão da marca

- Melhora a memorização

- Dão significado a empresa

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- Gera vantagem competitiva

- Ocupa posição sólida diante da concorrência

- Proporciona eficiência para os custos de execução

O posicionamento acaba auxiliando a diferenciação, por ser uma ferramenta

que oferece vários “insights” desde o reconhecimento até a diferenciação, de

maneira que, para Kotler (1996), significa o ato de desenhar um conjunto de

diferenças significativas para distinguir a oferta da empresa da oferta dos

concorrentes. Gerenciamento de Crise

“Crise é um evento imprevisível que, potencialmente, provoca prejuízo

significativo a uma organização ou empresa e, logicamente, a seus

empregados, produtos, condições financeiras, serviços e sua

reputação” (FEARN-BANKS, 2001).

Existem vários tipos de crise: econômica, desastres naturais, acidentes,

tecnológicas, legais, criminosas. O nosso foco será na crise de comunicação.

“Nenhuma empresa, por mais sólida, admirada e moderna que seja,

está imune à crise. Esse princípio básico da administração de crise,

mesmo repetido e mais do que evidente, ainda continua esquecido

por muitas organizações”. (FORNI, 2002, p. 363).

Mesmo conscientes de que alguma eventualidade possa ocorrer, muitas

empresas não se preparam para tal. E, seja de grande ou pequeno porte, o

importante é saber como administrar corretamente uma crise para que ela seja

contida, pois poderá afetar o trabalho e o nome, que demorou anos para ser

consolidado.

Estar sempre atento ao que pode se tornar uma crise, e prever um controle

dessa possível causa, é um ato imprescindível para as empresas. No geral, as

crises acontecem quando menos se espera, o que pode provocar grandes

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problemas. As atitudes tomadas quando a crise está em curso podem ser

precipitadas e agravar a situação, por isso é importante uma gestão de crise

eficiente, que irá proporcionar ações que possam eliminar ou conter o problema em

questão.

Mesmo que, em sua maioria, as crises surjam de forma inesperada, em

alguns cenários elas podem ser previstas, sendo que “[...] a principal característica

da crise é o fator surpresa, muito embora vários autores acreditem que ela emite

sinais claros antes de eclodir [...]” (SOUSA, Djanira 2006, p. 40).

Quando uma empresa decide se posicionar a respeito de algum assunto de

grande repercussão, espera-se que as pessoas reajam a isso, e este é

precisamente o cenário estudado nesse artigo: a diversidade sexual, um assunto de

alta repercussão no momento atual e onde se espera que as empresas assumam

seu posicionamento de forma transparente, verdadeira e de acordo com os seus

valores.

Atualmente, com o poder da comunicação, uma crise pode eclodir de maneira

mais rápida e com maior proporção do que há alguns anos. Isso se deve, além de

outros fatores, ao uso das redes sociais. Elas são um canal que proporciona mais

rapidez, expressividade e fácil acesso aos consumidores. São amplamente

utilizadas para apoiar ou não uma marca. Nelas é possível expor a própria opinião,

positiva ou negativa, e interagir com outros usuários. Em “A Era do Escândalo”:

“Em um mundo interligado em tempo real via Internet ou televisão, as

crises acontecem sempre no lugar concreto onde o fato ocorreu (o

lugar do acidente, a região do vazamento tóxico, o plenário de uma

CPI ou a sala de um depoimento judicial), mas também onde quer que

as imagens do fato chegarem.” (ROSA, Mario 2004, p.71)

As pessoas se tornaram formadores de opiniões, influenciando a decisão de

outras. Mesmo que a empresa não atue nas redes sociais, é inserida nesse meio

pelos usuários e, portanto, é importante estar preparada para lidar com a situação

no cenário atual, dando a devida atenção para as crises em mídias sociais.

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Sendo assim, para que o gerenciamento de crise funcione, todos os

responsáveis e envolvidos precisam estar alinhados. Deve haver a construção de

um raciocínio lógico, uma comunicação estratégica e planejada para que ela seja

eficiente. Segundo Mario Rosa, “o gerenciamento de crises não é uma fórmula de

agir, mas uma forma de pensar”.

Desenvolver uma padronização de ações emergenciais e estar preparado

para administrar a situação de maneira positiva é fundamental.

Diversidade

Em seu trabalho, Suplicy (1986) descreve as diferenças entre papel,

identidade e orientação sexual. As leis sociais indicam como cada sexo deve agir,

determinando assim os papéis de homem e mulher. Ela também menciona que

identidade sexual é a forma como cada mulher e homem se percebem como

integrante da sociedade. Com isso, o indivíduo desenvolve um esquema de

identidade de si mesmo e do sexo oposto, e a expressão sexual significa sua

orientação sexual, podendo ser com um membro do mesmo sexo, de outro sexo ou

por ambos.

O sexo é uma questão biológica, determinado durante a gestação, já alguns

estudos afirmam que a orientação sexual é consequência de fatores sociais,

biológicos ou ambos.

Diante de tamanha diversidade, no Brasil, o processo de aceitação é mais

lento no que diz respeito à representatividade da diversidade sexual no setor da

comunicação e publicidade. A maior parte das iniciativas se concentra em veículos

específicos direcionados ao público homossexual (Baggio, 2009). Em países menos

conservadores as empresas já se posicionam de forma mais ousada, conquistando

assim novos públicos (Oliveira, 2015). Em um mercado competitivo, a busca por

novos nichos leva as marcas a procurar cada vez mais diferenciação em suas

campanhas publicitárias, campanhas essas que se tornam formas importantes de

comunicação da sociedade (Hoff e Gabrielli, 2004) ultrapassando sua função

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primária de divulgação, e passando por um processo de envolvimento,

convencimento, sensibilidade e sedução do consumidor. Para Reino e Carvalho

(2015) a campanha é uma mensagem feita para diferentes grupos, do qual se deve

estudar o comportamento, tendência e necessidades de consumo, construindo uma

mensagem que vá de encontro à visão de mundo desses grupos alvos.

Os anúncios publicitários precisam produzir um texto capaz de gerar

mudanças no modo de ver as ideias e produtos. Mais ainda, precisa provocar

mudanças de sentimentos e opinião, sendo capaz de levar o consumidor a novos

comportamentos em relação ao produto ou serviço (Sant’ Anna, 1999).

Diante disso, a publicidade precisa considerar novos critérios de estratégias e

pensamento para se adequar a este consumo e diversidade, fugindo de ações de

mídia que reforce estereótipo e julgamento. Baggio (2003) diz: “a representação do

homossexual na mídia é feita com base no papel sexual”.

Monitoramento de Mídias Sociais

Os materiais e referencias bibliográficas sobre o tema monitoramento de

mídias sociais sempre trazem como tema central o público final, e a importância que

a ação de monitorar pode trazer sobre o “feedback” para as marcas: O “outro lado” de um trabalho nas redes sociais é sempre o público

final. É ele que dará o feedback para a marca ou a agência que

gerencia sua presença em espaços de relacionamento saber se

caminha para o rumo certo. (Para Entender o Monitoramento de

mídias sociais, Ana Brambilla)

A presença das marcas em mídias sociais abre as portas para que o público,

ou possíveis públicos daquela marca, possam conversar tirar dúvidas e demonstrar

suas opiniões. Com o monitoramento de canais, e até mesmo fora deles, é possível

que as marcas tenham “on-line” a percepção das pessoas referente às ações da

empresa e campanhas. “ [...] a grande diferença que vejo nesse momento em que

monitoria está na boca do povo é que a amostragem nunca foi tão farta [...]” (Para

Entender o Monitoramento de mídias sociais, Ana Brambilla)

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Conforme citado neste trecho, hoje temos inúmeras possibilidades para

empresas entenderem e coletarem dados dos seus consumidores, concorrentes e

mercado. O monitoramento se tornou uma ferramenta chave para se desenvolver

campanhas e mensurar resultados e apoio ao marketing.

Os usuários utilizam as mídias sociais para expor suas opiniões de forma

espontânea, e, quando mensuradas e analisadas da forma correta, geram

informações valiosas e “insights” para marcas e produtos, assim como, conhecer

seu público, gostos e tendências. Essas informações servem inclusive para apoiar a

tomada de decisões estratégicas e mudanças de rumo de empresas, campanha e

público, por que possuem velocidade, assertividade e espontaneidade dos usuários,

e contribuem para rápidas tomadas de decisão e alinhamento de expectativas.

Não basta garimpar muitos dados. É preciso que saiba o que buscar de

informação, onde deverá buscá-las, qual a qualidade e a validade destes dados e

como você poderá utilizá-los para auxiliar no seu processo decisório. (Para Entender

o Monitoramento de mídias sociais, Nino Carvalho)

Esta observação é fundamental por abordar análise dos dados. Existe uma

infinidade de informações, mas, sem análises adequadas e estudos, podemos não

aproveitar de forma correta todo o potencial que elas oferecem.

“[...] o monitoramento nada mais é do que aplicar metodologias

diversas para acompanhar e compreender o que falam de

determinada marca, seja no ambiente “off-line”, seja no mundo virtual

[...]” (Para Entender o Monitoramento de mídias sociais, Nino

Carvalho)

Enquanto o boca a boca tradicional pode ser lento, o oposto é

verdadeiro para atualizações do Facebook. Estas atualizações são

passadas diretamente para todos os amigos na rede. Ou, em maior

escala, uma plataforma como o Twitter lhe dá acesso a 85 milhões de

usuários que podem ler os seus “tuítes”. Esse processo se desenvolve

muito melhor do que um indivíduo contando para alguns amigos por

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semana sobre um novo produto ou serviço que lhe agrada.

(Socialnomics, Eirk Qualman)

Este é outro ponto bem importante sobre mídias sociais que precisamos

considerar: A capacidade de compartilhar as informações e opiniões. Isso para as

marca é bem importante.

Uma campanha que não agrade, ou algum conteúdo que possa gerar

desconfiança sobre a marca ou seus produtos, pode levar a uma crise de marca e

confiança. A velocidade que os conteúdos e opiniões são compartilhados, a

formação de uma imagem é muita rápida. Não havendo uma monitoria em tempo

hábil, a crise está instalada. O monitoramento ajuda as empresas a tomar a decisão

de se posicionar e pensar no plano para gerenciamento de crise.

As conversas de cafezinho estão migrando para o ambiente “on-line”

em tempo real. Não existe mais a necessidade de esperar pela manhã

de segunda-feira para colocar a conversa em dia porque as mídias

sociais já nos mantêm bem informados. Olhando algumas

atualizações de várias ferramentas nas mídias sociais, seus amigos

provavelmente já têm uma boa ideia de onde você esteve, como

estava o clima por lá, se você teve complicações na viagem, se você

comprou um novo filhote de cachorro, se você foi a um grande evento,

se você gostou desse evento, se você se divertiu no final de semana,

e assim por diante (Socialnomics, Eirk Qualman)

As mídias sociais como citado neste trecho ocupam um espaço grande no dia

a dia das pessoas. Compartilhar um sentimento referente ao seu dia ou sobre

determinado assunto é cada vez mais comum, e a comunicação por esse meio é

essencial, por isso as marcas precisam estar sempre atentas aos comentários e

oportunidades que possam surgir.

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Gestão de Crise

A Comunicação Empresarial tem início na década de 20, quando surgiram as

primeiras assessorias de imprensa e relações públicas nos Estados Unidos, que

utilizavam os redatores publicitários para o desenvolvimento de campanhas.

Começou a ser utilizada quando houve a necessidade de gerenciar

problemas de imagem, o que os levou ao gerenciamento de crise também.

De acordo com Chaparro (2011), um dos momentos mais importantes para o

desenvolvimento das técnicas de assessoria foi durante a Primeira Guerra Mundial.

Nesse período, os presidentes Theodore Roosevelt (1901-1909) e Woodrow Wilson

(1913-1921) tentavam encontrar soluções para melhorar suas imagens perante a

sociedade, sobretudo, através de coletivas de imprensa, elaboração e distribuição

de releases para os meios de comunicação da época. Uma atuação que teve ênfase

foi o Committee on Public Information (CPI), criado por Wilson com a finalidade de

divulgar notícias à população, para que assim viessem apoiar os objetivos da

Primeira Guerra Mundial. (CHAPARRO, Manuel Carlos. Cem Anos de Assessoria de

Imprensa). Ainda de acordo com Chaparro (2011), a prática de assessoria continuou

ganhando cada vez mais espaço nos Estados Unidos, e mais tarde se estendeu

para países como Inglaterra, Noruega, Canadá, dentre outros.

No Brasil, a Light criou o primeiro departamento de Relações Públicas em

1914, e a primeira empresa a criar e estruturar o setor de Assessoria de Imprensa foi

a Volkswagen, em 1961, que contratou o jornalista Alaor Gomes. Segundo Duarte

(2011), o setor surgiu como “Seção de Imprensa”, e foi incluído na Divisão de

Relações Públicas, com as seções de Relações Públicas e de Propaganda. [...]

todos estão mais vulneráveis aos olhos do público. Tanto no que se refere à

divulgação de informações sobre determinada empresa ou produto, quanto no

alcance geográfico destas informações [...] (GRITZAPIS, Eleni Oliveira. A

importância das Relações Públicas na prevenção e gerenciamento de crises

organizacionais).

Na década de 50, o crescimento da área continuou com a vinda de agências

de publicidade dos Estados Unidos, mas, só na segunda metade da década de 1960

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a atividade de relações públicas ganhou mais espaço no país. Quando a profissão

de Relações Públicas foi regulamentada em 1968, os jornalistas que desenvolviam a

função se multiplicaram.

[...] muitos jornalistas experimentavam trocar a correria das redações

para aproveitar a agilidade aprendida em prol das organizações. Os

salários também eram motivo para os jornalistas trocarem de

emprego, uma vez que as assessorias ofereciam mais atrativos

financeiros [...] (PESSOA, Sônia. Comunicação Empresarial, uma

ferramenta estratégica)

O gerenciamento de crises é uma ferramenta dentro dessas novas atribuições

da comunicação, que chega para amparar e indicar novos caminhos no

relacionamento das empresas com seus públicos e a mídia. Gerenciar crises deve

ser uma estratégia de comunicação, pois “[...] todos estão mais vulneráveis aos

olhos do público. Tanto no que se refere à divulgação de informações sobre

determinada empresa ou produto, quanto no alcance geográfico destas informações

[...]” (OLIVEIRA, 1999, p.3).

A gestão de crise e a diversidade

A marca Fiat teve seu modelo 500 eleito pela 2ª vez (2008 e 2010) o carro

gay da Holanda. A empresa poderia ter descartado esse título, porém, por fatores

sociais e mercadológicos ela investiu em ações. Criou a #WeLovePink e desfilou o

modelo na parada LGBT holandesa, gerando assim grande comoção nas redes

sociais, tendo mais de 43.000 curtidas no Facebook e 23.000 visualizações no

YouTube. Assim esta “hashtag” foi compartilhada não só naquele país e, mas

também se espalhou pelo mundo.

Outras marcas como Google My Business, Magnum (sorvete), Wal Mart,

Coca Cola e Oreo (biscoito), entre outras, incluíram a temática da diversidade

sexual/gênero em suas campanhas, porém abordaremos detalhadamente uma

marca brasileira que também abordou esse tema; a empresa “O Boticário”, que

lançou uma campanha para o dia dos namorados (2015) com dois casais

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heterossexuais e dois casais homossexuais. O vídeo publicitário intitulado “Casais”

já foi visto mais de 3,9 milhões de vezes e recebeu mais 380 mil curtidas.

Apesar de sutil o filme gerou forte polêmica nas redes sociais, principalmente

com grupos mais conservadores que convocaram as pessoas a boicotar a marca. A

princípio, o boicote pareceu crescer nas redes sociais, o canal da marca no

YouTube teve, nos primeiros dias, um número de avaliação negativa duas vezes

maior do que positiva (Oliveira, 2015). A empresa veio a público, por meio de nota,

dizer que “aborda com respeito a ressonância atual sobre as mais diferentes formas

de amor”, destacando “que valoriza a tolerância e respeita a diversidade de escolhas

e pontos de vistas” (O Boticário, 2015). A repercussão aumentou o número de

visualizações, fazendo com que o número de avaliações positivas passasse de 386

mil contra as 192,8 mil negativas.

É interessante observar que a marca teve uma estratégia ousada, que resultou em

um aumento de 3% nas vendas em comparação ao mesmo período em 2014,

apesar da recessão econômica no país (Oliveira, 2015), teve também um

crescimento diário de 297% em novos fãs na Fan page no Facebook, no Twitter o

numero foi ainda maior representando 462% de novos seguidores, antes o numero

era de 23 a 231 novos seguidores por dia, passando a fica entre 92 a 1.239. Sem

contar o numero de retuítes, compartilhamentos e mentions (Paula, 2015) o buzz da

marca cresceu 105% após o vídeo ser veiculado na tv aberta.

No Brasil, outra marca que também aproveitou o dia dos namorados de 2016

para lançar um vídeo polêmico: a C&A levou ao ar o filme Dia dos Misturados, no

qual divulga uma coleção sem divisão de gênero, onde cada casal troca de roupa da

forma que sente vontade, e usa a peça que quiser, sem levar em consideração

aquilo que se espera que um homem ou uma mulher use. A empresa reforça seu

posicionamento de roupas sem gênero acompanhando uma transformação do

mundo e da moda. O vídeo faz parte da campanha “Misture Ouse Experimente”, e

quando questionada a C&A comunicou que o: [...] tema principal é a celebração do amor e dá continuidade à nova

visão da C&A [...] livre de todo e qualquer tipo de preconceito e

estereótipo [...] um novo convite à mistura de atitudes, cores e

16

estampas como forma de expressão. A C&A reforça que o respeito à

diversidade, inclusive de opiniões, sempre foi um dos princípios da

marca [...] (Sacchitiello, 2016)

O vídeo que assina ao final com a #DiadosMisturados tem mais de 3.014.745

visualizações no YouTube, e já foi utilizado mais de 600 vezes no Instagram. Como

aconteceu com O Boticário, a C&A também enfrentou uma tentativa de boicote nas

redes sociais, além de quatro reclamações no CONAR. O conselho seguia

analisando as denúncias e demonstrações de apoio ou elogio à peça para o futuro

julgamento, até o momento deste trabalho. Para Barrifouse e Costas (2015), essas

empresas que apoiam a diversidade tem obtido grande repercussão em função da

polêmica social em torno do assunto, sugerindo que isso traga ganhos de imagem,

de mercado, rejuvenescimento da marca/público e possível perda, porque se não

houver o engajamento com a causa, o mercado pode acabar vendo-a como

oportunista.

Hoje a publicidade brasileira inclui em suas peças casais e famílias gays -

com isso, as empresas ganham espaço com um público potencial. Segundo uma

pesquisa de 2013 feita pelo Instituto Data Popular, estima-se que só este público

potencial gaste em torno R$6,9 bilhões anualmente.

As marcas que já fizeram campanhas apoiando e falando sobre a diversidade

podem receber diversas críticas, mas não deixam de agregar maior valor à marca

para o seu público, que independente de sua orientação sexual, apoia a causa.

Segundo especialistas, essa inclusão de casais gays nas campanhas pode se

enxergar como um novo fenômeno. Silvio Sato, especialista em gestão de marcas,

diz: [...] uma coisa é fazer propaganda tendo como alvo o público LGBT, você pode

fazer uma veiculação segmentada [...] mas o que estamos vendo hoje, é a inclusão

de casais gays em propagandas para o público em geral [...].

Acredita-se que o apoio a esta causa acarrete um rejuvenescimento da

marca, atraindo assim um novo público mais jovem e, consequentemente, incluindo

um novo “target” à marca.

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O importante são as marcas terem a consciência de que este apoio pode lhes

trazer alguns riscos, entre eles o de demonstrar que entraram nessa causa apenas

para exposição, marketing e lucro. Elas necessitam ter uma consistência de seus

valores e suas práticas, para deixar claro o seu verdadeiro apoio, presente e futuro,

independente de seus resultados.

Caso a publicidade em si não consiga passar essa imagem ao seu público,

poderá ser necessário verificar meios alternativos de divulgar este apoio à

diversidade, pois grande parte das pessoas defendem as campanhas e identificam-

se com as marcas por conta de sua responsabilidade social.

Conclusão

Este artigo teve como objetivo mostrar o quanto o monitoramento das redes

sociais pode colaborar com o marketing das empresas a fazer um gerenciamento de

crise adequado e eficaz, em casos onde o posicionamento da instituição seja

afetado por conta de campanhas publicitárias que se referem à diversidade de

gênero e sexual.

Primeiramente, a partir de uma revisão teórica baseada em diversos autores

de livros e artigos relacionados aos temas: gestão e posicionamento de marca,

gerenciamento de crise, diversidade de gênero e sexual e monitoramento de mídias

sociais, foi situado o que se entende por cada um desses assuntos, quando

pautados na questão de comunicação e campanhas publicitárias.

Posteriormente, em um trabalho empírico, foram analisados dois casos

específicos que englobam os temas mencionados acima: as campanhas de dia dos

namorados do O Boticário e da C&A. Nessa análise, foi avaliado como as marcas

aqui estudadas se posicionaram diante da diversidade sexual e gênero e mote das

campanhas, sendo esse um assunto de repercussão polêmica e que acarretou a

necessidade de um gerenciamento de crise.

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É importante observar que as duas marcas tiveram objetivos e comunicações

diferentes. O Boticário realmente teve uma expressão mais pautada às relações

afetivas, independente de gênero ou orientação sexual. No entanto, a C&A teve uma

expressão mais artística e cultural, incentivando a mistura de atitudes, cores e

estampas, a fuga de estereótipos. Mesmo com essa diferença de abordagem, o

público observou nas duas campanhas um posicionamento a favor das relações

homoafetivas. Para bem ou para mal, as duas empresas receberam críticas via

redes sociais.

As campanhas foram televisionadas em filmes de 30 segundos, mas a

repercussão sobre elas ocorreu nas mídias sociais, pois nos tempos atuais são os

meios mais utilizados pelos consumidores para expor suas opiniões. A facilidade e a

rapidez que esses canais oferecem, aliadas a possibilidade de troca de experiências

e opiniões entre as pessoas, favorecem muito a sua utilização e ao seu crescimento

expressivo.

Além das vantagens apontadas acima, as redes sociais podem ser acessadas

por aplicativos mobiles, o que dá a liberdade de movimento e ainda mais agilidade

aos usuários. A ascensão dos smartphones e da internet móvel faz com que as

relações sejam imediatas e em tempo real. Uma pesquisa realizada pela Nielsen

IBOPE identificou que, no segundo trimestre de 2015, chegou a 72,4 milhões o

número de pessoas que utilizavam o smartphone para ter acesso à internet no

Brasil. E as redes sociais predominam entre os aplicativos mais utilizados. A

pesquisa também identificou que 103,4 milhões de pessoas têm acesso ao

computador com internet em casa ou no local de trabalho.

Com esse cenário, o uso das mídias sociais é algo muito importante para o

marketing das empresas no mundo contemporâneo. O diálogo que é possível

estabelecer com a comunidade através dessas mídias fortalece a reputação da

empresa e gera aproximação e empatia com as pessoas. Além disso, uma das

grandes vantagens das mídias sociais é a possibilidade de fazer o seu

monitoramento, e frente a uma crise poder acompanhar sua evolução na/ pela rede,

monitorando os usuários que estão replicando o conteúdo e aqueles que estão

sendo potencialmente impactados por ele, e auxiliando na tomada de decisão sobre

a necessidade e forma de atuação na contenção dessa crise.

19

Tanto o O Boticário quanto a C&A, tiveram uma postura bastante adequada

com os usuários das redes sociais, agradeceram aqueles que elogiaram os

comerciais e justificaram a sua postura para aqueles que foram contra as

campanhas. Essa conduta, com o esclarecimento dos fatos, é essencial para uma

boa imagem da marca no curto e longo prazo. Transparência, relações mais

humanas e menos corporativas são essenciais para construir reputação e

confiabilidade nas mídias sociais. Este deve ser um trabalho constante para a

construção de marcas fortes e eficazes gerenciamento de crises.

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