artrÓpodes cavernÍcolas com Ênfase em...

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INSTITUTO NACIONAL DE PESQUISAS DA AMAZÔNIA INPA UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS UFAM PROGRAMA INTEGRADO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM BIOLOGIA TROPICAL E RECURSOS NATURAIS ARTRÓPODES CAVERNÍCOLAS COM ÊNFASE EM FLEBOTOMÍNEOS (DIPTERA: PSYCHODIDAE) DO MUNICÍPIO DE PRESIDENTE FIGUEIREDO, AMAZONAS, BRASIL. VERACILDA RIBEIRO ALVES MANAUS, AM ABRIL 2007

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  • INSTITUTO NACIONAL DE PESQUISAS DA AMAZNIA INPA

    UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS UFAM

    PROGRAMA INTEGRADO DE PS-GRADUAO EM BIOLOGIA TROPICAL E

    RECURSOS NATURAIS

    ARTRPODES CAVERNCOLAS COM NFASE EM FLEBOTOMNEOS

    (DIPTERA: PSYCHODIDAE) DO MUNICPIO DE PRESIDENTE FIGUEIREDO,

    AMAZONAS, BRASIL.

    VERACILDA RIBEIRO ALVES

    MANAUS, AM

    ABRIL

    2007

  • ii

    VERACILDA RIBEIRO ALVES

    ARTRPODES CAVERNCOLAS COM NFASE EM FLEBOTOMNEOS

    (DIPTERA: PSYCHODIDAE) DO MUNICPIO DE PRESIDENTE FIGUEIREDO,

    AMAZONAS, BRASIL.

    ORIENTADOR: TOBY VINCENT BARRETT

    Dissertao apresentada ao Programa de Ps-Graduao em Biologia Tropical e Recursos Naturais do Convnio INPA/UFAM, como parte dos requisitos para obteno do ttulo de Mestre em Cincias Biolgicas

    rea de Concentrao em Entomologia.

    MANAUS, AM

    ABRIL - 2007

  • iii

    FICHA CATALOGRFICA

    A474 Alves, Veracilda Ribeiro

    Artrpodes caverncolas com nfase em flebotomneos (Diptera:

    Psychodidae) do municpio de Presidente Figueiredo, Amazonas,

    Brasil / Veracilda Ribeiro Alves .--- Manaus : INPA/UFAM, 2007.

    xviii + 82 p.

    Dissertao (mestrado)-- INPA/UFAM, Manaus, 2007

    Orientador : Barrett, Toby Vincent

    rea de concentrao : Entomologia

    1.Entomofauna. 2. Caverna. 3. Phlebotominae. 4. Artrpodes

    caverncolas. I. Ttulo.

    CDD 19. ed. 595.7709811

    SINOPSE

    Estudaram-se os artrpodes caverncolas de Presidente Figueiredo,

    AM, com nfase em flebotomneos (Diptera, Psychodidae). Aspectos como

    composio e distribuio das famlias, caracterizao da diversidade de

    flebotomneos e comparao entre perodo diurno e noturno foram avaliados.

    Palavras-chave: Entomologia, cavernas, diversidade, Lutzomyia.

  • iv

    DEDICATRIA

    Aos meus familiares, em especial ao

    meu marido Ricardo e aos meus filhos

    Guilherme, Mariana e Helosa, pelo apoio

    e compreenso em todos os momentos

    dessa caminhada.

  • v

    AGRADECIMENTOS

    Ao Instituto Nacional de Pesquisas da Amaznia e Universidade Federal do

    Amazonas, pela oportunidade de realizao do mestrado.

    A Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior (CAPES), pela

    concesso da bolsa.

    Ao Dr. Toby Vincent Barrett, pela orientao, incentivo, crtica e sugestes no

    desenvolvimento do presente estudo.

    Ao MSc. Ronildo Baiatone Alencar, Walter, pela amizade, auxlio, sugestes,

    discusses e apoio na realizao do presente trabalho.

    Ao Pesquisador Rui Alves de Freitas, pela identificao e fornecimento de

    informaes de flebotomneos. Aos Tcnicos Francisco Felipe Xavier Filho e Francisco

    Lima Santos, pelo auxlio nas coletas e fornecimento de informaes.

    Secretaria Municipal do Meio Ambiente de Presidente Figueiredo, pelas

    informaes fornecidas e liberao do local de coletas.

    Companhia de Pesquisas de Recursos Minerais (CPRM), pelo fornecimento de

    material informativo sobre o Municpio de Presidente Figueiredo.

    Aos membros da Banca Examinadora, (Dr. Augusto Loureiro Henriques, Dr. Mrcio

    Lus de Oliveira e Dra Suzana Ketelhut), pelas crticas e sugestes.

    Ao Sr. Pedro Paulo da Silva Mendes, proprietrio do Stio Santa Lcia, pela

    liberao da Gruta dos Lages, para coleta de material e D. Milma, pela hospitalidade

    fornecida durante os perodos de coletas.

  • vi

    Aos Coordenadores da DCEN e CPEN, Dra. Beatriz Ronchi-Teles e Dr. Jos

    Wellington de Moraes, pelo apoio durante o desenvolvimento do mestrado. Aos

    secretrios Rgis e Lenir, pelo apoio durante o desenvolvimento do mestrado.

    Ao Dr. Gustavo Graciolli (Streblidae), Msc. Marco Silva Gottschalk (Drosophilidae),

    Dr. Freddy Bravo (Psychodinae), Dr. Edison Zefa (Gryllidae), Dra. Anglica Penteado-

    Dias (Brachonidae e Scelionidae), Dr. Renner Baptista (Amblypygi e Aranae), Dra.

    Evanira M. Ribeiro dos Santos (caros). Dr. Carlos Jos Einicker Lamas (Milichiidae);

    Marcelo Cutrim (Psocoptera), s colegas Malu e Claudiane, pelo apoio na identificao

    dos parasitides. Ao MSc. Fabrcio Baggiato

    Baccaro (Formicidae), MSc. Mrcio L.

    Barbosa (Coleoptera), Dra. Ana Pes (Trichopera), MSc.Ana Tourinho (Opiliones) pela

    identificao dos espcimes. Ao Dr. Jos Albertino Rafael, ao Tcnico Joo Vidal,

    Rafael Freitas , Daiane Carrasco e Isis Menezes, pelo auxlio na identificao dos

    Diptera (Hybotidae, Ceratopogonidae e Culicidae).

    amiga Gilclia Lourido, Dra. Dlvia, pelo auxlio na triagem do material e pelas

    sugestes. Adriana, pelas sugestes, discusses e apoio durante o mestrado. Aos

    amigos Jos Nilton e Fbio, pelo acolhimento, conversas e apoio nos momentos de

    dificuldade e solido, que passamos longe da famlia. A MSc. Catarina Motta, pelas

    conversas, pelos momentos de descontrao e boas risadas. Carlos Eduardo Sanhudo

    pelo apoio e crticas apresentadas.

    Aos meus colegas de curso: Marcelo, Renato, Leonardo, Ulisses, Daiane, Byatryz,

    Mariana, Lady, Bruno, Patrcia, Kelly, Juliana, Paulo, Lo pelo apoio durante o curso do

    mestrado. Ao colega de laboratrio Gerson, pelo apoio e auxlio na triagem do material

    coletado. Adriana Dantas e todos do Projeto Team (formigas), pela fora que me

    deram quando cheguei a Manaus. Ao colega Nelson Flausino, pela companhia e pelos

    momentos de recordaes de Cuiab/MT. Aos novos colegas, Mirian, Rafael, Hector,

    Valria, Viviane, Roberta, Elias, Charles, Carlos, Valria, Ricardo, rica, pelos

    momentos de convvio.

    A todos queles que contriburam direta ou indiretamente no desenvolvimento

    deste trabalho e no decorrer do curso de mestrado.

  • vii

    RESUMO

    Informaes disponveis sobre estudos da fauna em cavernas no Estado do Amazonas

    so poucas, sendo a maioria apresentada apenas em resumos de congressos. Neste

    estudo foram amostradas trs cavidades com formao arentica paleozica, Caverna

    Refgio do Maruaga, Gruta dos Animais e Grutas dos Lages, localizadas na regio do

    Municpio de Presidente Figueiredo, Amazonas, com o objetivo de realizar um

    levantamento faunstico de artrpodes, com a utilizao de vrios tipos de tcnicas:

    armadilhas CDC, coleta manual e coleta de guano com processamento atravs da

    tcnica de flotao. Em coletas de armadilhas CDC, foram identificadas 12 famlias da

    Ordem Diptera, cinco de Hymenoptera, duas de Trichoptera, duas de Coleoptera, uma

    de Lepidoptera e uma de Homoptera. Dentre as ordens de artrpodes coletados em

    coleta direta foram identificados: Amblypygi (Phrynidae), Acari (Gamasida), Opiliones

    (Sclerosomatidae e Cosmetidae), Heteroptera (Reduviidae, Cydnidae e Veliidae),

    Aranae (Theridiosomaidae), Ensifera (Gryllidae), Decapoda (Pseudothelphusidae e

    Paleomonidae), Hymenoptera (Formicidae), Chilopoda (Geophilomorpha), Lepidoptera

    (Tineidae) e Coleoptera (Dytiscidae e Histeridae). Estes registros de artrpodes so na

    maioria comuns para fauna caverncola brasileira. Entretanto, a espcie Eidmannia

    guyanensis (Heteroptera) e o gnero Amphiacusta (Gryllidae) podem ser o primeiro

    registro no Brasil para cavernas. Dentre os flebotomneos, foram identificados 15

    espcies, sendo 14 comuns fauna regional. Nas grutas, Lutzomyia pacae foi espcie

    dominante e na Caverna Refgio do Maruaga, Lutzomyia sp. dominante nos perodos

    noturno e diurno. A distribuio desta ltima mais freqente ao final da caverna, onde

    possui uma concentrao maior de indivduos e coincidindo com a localizao do

    criadouro. uma espcie que desenvolve todo seu ciclo de vida no interior da caverna,

    os imaturos vivem no meio do guano. O adulto desta espcie no se alimenta e

    nenhum macho foi encontrado. Est espcie partenogentica, sendo este o segundo

    registro de partenognese e autogenia para a subfamlia Phlebotominae. Adultos e

    imaturos so diferentes em relao s espcies de Phlebotominae do Novo Mundo,

    mas possui caractersticas comuns com espcies africanas, sugerindo que esta pode

    ser uma populao singular, reforando a importncia cientfica e conservao dos

    stios de estudos.

  • viii

    ABSTRACT

    The cave fauna of the Brazilian State of Amazonas is poorly documented,

    publications being mainly restricted to summaries in congress reports. In this study

    three cavities in paleozoic sandstones formations in the municipality of Presidente

    Figueiredo, approximately 110 km north of the lower Rio Negro at Manaus, were

    sampled for arthropods. The techniques used include diurnal and nocturnal sampling

    with CDC miniature light traps, direct manual capture, pitfall traps, and extraction from

    bat guano by floatation. The light traps yielded representatives of 12 families of Diptera,

    five of Hymenoptera, two of Coleoptera and one each of Lepidoptera and Homoptera.

    Manual samples included Amblypygi (Phrynidae), Acari (Gamasida), Opiliones

    (Sclerosomatidae and Cosmetidae), Heteroptera (Reduviidae, Cydnidae and Veliidae),

    Aranae (Theridiosomatidae), Ensifera (Gryllidae), decapod crustaceans

    (Pseudothelphusidae and Paleomonidae), Hymenoptera (Formicidae), Chilopoda

    (Geophilomorpha), Lepidoptera (Tineidae) and Coleopera (Dytiscidae and Histeridae).

    Most of these groups have previously been reported from other cave systems in Brazil;

    however, the peiratine reduviid Eidmannia guyanensis and crickets of the genus

    Amphiacusta do not appear to have been previously reported from Brazilian caves.

    Among the Diptera, 14 out of 15 species of Lutzomyia sand flies registered in this study

    were previously know from the surrounding forest, but L. pacae, normally rare in

    collections from this area, was the dominant species in one of the cavities. Another

    species of Lutzomyia, as yet not formally described, was concentrated in the deepest

    recesses of the main cave, where larvae were extracted and reared to adult from

    guano. This species proved to be autogenous and parthenogenetic, and apparently all-

    female. Adults and larvae are very distinct from most New World Phlebotominae, but

    share characteristics with same African species, suggesting that this may be a relict

    population, and reinforcing the scientific and conservation importance of the sites

    studied.

  • ix

    SUMRIO

    Captulo I: Artrpodes caverncolas da Caverna Refgio do Maruaga, Grutas dos

    Animais e Dos Lages, Municpio de Presidente Figueiredo-Amazonas, Brasil.

    1. INTRODUO............................................................................................ 01

    2. JUSTIFICATIVA..........................................................................................

    04

    3. OBJETIVOS................................................................................................

    05

    3.1. Geral.....................................................................................................

    05

    3.2. Especfico.............................................................................................

    05

    4. MATERIAL E MTODOS.......................................................................... 05

    4.1. rea de Estudo ......................................................... ..........................

    05

    4.1.1. Caverna Refgio do Maruaga.........................................................

    07

    4.1.2. Gruta dos Animais...........................................................................

    09

    4.1.3. Gruta dos Lages..............................................................................

    10

    4.2. Metodologia..........................................................................................

    11

    4.2.1. Medidas de temperatura e umidade................................................

    11

    4.2.2. Coletas com armadilhas CDC.........................................................

    12

    4.2.3. Outras tcnicas de coleta ...............................................................

    12

    4.2.3.1. Coleta com armadilhas Pitfall, Emergncia e busca direta .........

    12

    4.2.3.2.Coleta de insetos aquticos..........................................................

    13

    4.2.3.3. Coleta de areia ............................................................................

    13

    4.2.3.4. Coleta consistindo principalmente de guano ...............................

    14

    4.3. Processamento das amostras..............................................................

    14

    4.3.1. Flotao com soluo de acar.....................................................

    15

    4.4. Anlise de dados..................................................................................

    15

    4.5. Triagem e identificao das amostras .................................................

    16

    5. RESULTADOS............................................................................................

    17

    5.1. Medidas de temperatura e umidade.....................................................

    17

    5.2. Composio faunstica de insetos coletados em armadilhas CDC......

    17

    5.3. Coleta de artrpodes com tcnicas diretas..........................................

    24

  • x

    6. DISCUSSO............................................................................................... 37

    7. CONCLUSO............................................................................................. 46

    8. REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS...........................................................

    48

    Captulo II: Composio da fauna caverncolas de Phlebotominae (Diptera,

    Psychodidae) da Caverna Refgio do Maruaga, Gruta dos Lages e Gruta dos

    Animais, Municpio de Presidente Figueiredo-AM, Brasil.

    1. INTRODUO............................................................................................ 56

    2. JUSTIFICATIVA......................................................................................... 57

    3. OBJETIVOS............................................................................................... 58

    3.1. Geral.................................................................................................... 58

    3.2. Especficos.......................................................................................... 58

    4. MATERIAL E MTODOS........................................................................... 58

    4.1. rea de Estudo.................................................................................... 58

    4.2. Metodologia......................................................................................... 59

    4.2.1. Coleta com armadilhas CDC............. .............................................

    59

    4.2.2. Coleta de guano .............................................................................

    60

    4.2.3. Medidas de temperatura e umidade................................................

    61

    4.2.4. Processamento das amostras.........................................................

    61

    4.2.5. Anlise dos dados...........................................................................

    62

    5. RESULTADOS............................................................................................

    63

    5.1. Diversidade de flebtomos da Gruta dos Lages e Gruta dos Animais.

    63

    5.2. Diversidade de flebotomneos coletados na Caverna Refgio do

    Maruaga ............................................................................................. 64

    5.21. Composio de flebtomos coletados nos perodos noturno e

    diurno..................................................................................................

    65

    5.3. Recuperao de imaturos das amostras de guano processadas........ 66

    5.4. Medidas de temperatura e umidade.....................................................

    67

    6. DISCUSSO............................................................................................... 69

    6.1. Flebtomos coletados em armadilha CDC na Caverna Refgio do

    Maruaga, na Gruta dos Lages e Gruta dos Animais........................... 69

    6.1.1. Gruta dos Lages e Gruta dos Animais............................................

    69

  • xi

    6.1. 2. Caverna Refgio do Maruaga........................................................

    70

    6.2. Criadouros............................................................................................

    71

    6.3. Caractersticas gerais de um flebotomneo singular da Caverna

    Refgio do Maruaga............................................................................ 71

    7. CONCLUSO............................................................................................. 76

    8. REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS...........................................................

    77

  • xii

    LISTA DE FIGURAS

    Figura 1 - Mapa de localizao das reas de estudo, Municpio de Presidente

    Figueiredo, AM...................................................................................

    06

    Figura 2 - A: Entrada da Caverna Refgio do Maruaga, AM-240, km 06,

    Municpio de Presidente Figueiredo, AM e B: Placa com aviso de

    interdio da Caverna Refgio do Maruaga...................................... 07

    Figura 3 - Vista geral da Caverna Refgio do Maruaga, Municpio de

    Presidente Figueiredo, AM: Entrada: A

    vista externa; B - vista

    interna................................................................................................ 08

    Figura 4 - Vista geral do interior da Caverna Refgio do Maruaga, Municpio

    de Presidente Figueiredo, AM: A galeria central; B ramificaes

    laterais................................................................................................

    09

    Figura 5 - Vista geral da Gruta dos Animais: A: salo externo (lapao); B:

    entrada; C: galeria principal com rebaixamento do teto; D: parte

    final da Gruta com formao de trs galerias.................................... 10

    Figura 6 - Vista geral Gruta dos Lages: A e B: vista externa da gruta; C: vista

    interna................................................................................................ 11

    Figura 7 - Armadilhas utilizadas na coleta direta passiva na Caverna Refgio

    do Maruaga. A: Pitfall; B: Emergncia............................................... 13

    Figura 8 - A: Coletor utilizado na coleta de insetos aquticos (p adaptada);

    na Caverna Refgio do Maruaga e amostra de guano coletada

    para pesquisa de artrpodes (B)........................................................

    14

    Figura 9 - Processo de flotao com soluo supersaturada de acar

    utilizado para pesquisa de artrpodes vivos...................................... 15

  • xiii

    Figura 10 - Distribuio total dos indivduos de Chironomidae (Diptera)

    coletados ao longo da galeria principal da Caverna Refgio do

    Maruaga, no perodo de fevereiro a maio de 2006............................ 20

    Figura 11 - Distribuio total dos indivduos de Streblidae (Diptera) coletados

    ao longo da galeria principal da Caverna Refgio do Maruaga, no

    perodo de fevereiro a maio de 2006................................................. 20

    Figura 12 - Distribuio total dos indivduos da Subfamlia Psychodinae

    (Diptera, Psychodidae) coletados ao longo da galeria principal, no

    perodo de fevereiro a maio de 2006................................................. 21

    Figura 13 - Distribuio total dos indivduos de Phoridae (Diptera) coletados ao

    longo da galeria principal da Caverna Refgio do Maruaga, no

    perodo de fevereiro a maio de 2006................................................. 21

    Figura 14 - Distribuio total dos indivduos de Milichiidae (Diptera) coletados

    ao longo da galeria principal da Caverna Refgio do Maruaga, no

    perodo de fevereiro a maio de 2006................................................. 22

    Figura 15 - Distribuio total dos indivduos de Drosophilidae (Diptera)

    coletados ao longo da galeria principal da Caverna Refgio do

    Maruaga, no perodo de fevereiro a maio de 2006............................ 22

    Figura 16 - Distribuio total dos indivduos de Ptiliidae (Coleoptera) coletados

    ao longo da galeria principal da Caverna Refgio do Maruaga, no

    perodo de fevereiro a maio de 2006................................................. 23

    Figura 17 - Distribuio total dos indivduos de Scelionidae (Hymenoptera)

    coletados ao longo da galeria principal da Caverna Refgio do

    Maruaga, no perodo de fevereiro a maio de 2006............................ 23

  • xiv

    Figura 18 - Ovos de grilos parasitados coletados na areia pela tcnica de

    coleta direta. A: ovos de grilos em desenvolvimento; B: grilo recm

    emergidos; C: ovo parasitado por Scelionidae; D: parasitide

    removido de ovo para visualizao................................................... 24

    Figura 19 - Eidmannia guyanensis (Heteroptera, Reduviidae), coletado no

    salo final da Caverna Refgio do Maruaga, sobre o guano e areia,

    Municpio de Presidente Figueiredo, AM.......................................... 29

    Figura 20 - Amphiacusta sp. (Ensifera, Gryllidae), coletado na Caverna

    Refgio do Maruaga e observado nas Grutas dos Animais e dos

    Lages, Municpio de Presidente Figueiredo, AM............................... 29

    Figura 21 - Pachycondyla crassinoda (Hymenoptera, Formicidae), coletadas

    sobre uma poro de argila circundada por gua, no salo final da

    Caverna Refgio do Maruaga, Municpio de Presidente Figueiredo,

    AM..................................................................................................... 30

    Figura 22 - Coleoptera (Dytiscidae) capturado em coleta manual na Caverna

    Refgio do Maruaga, no igarap prximo ao guano, . Municpio de

    Presidente Figueiredo, AM.................................................................. 30

    Figura 23 - Lepidoptera (Tineidae), coletada na Caverna Refgio do Maruaga

    sobre o guano, Municpio de Presidente Figueiredo, AM. A: casulo,

    B: adulto............................................................................................... 31

    Figura 24 - Blatarria (Blattellidae) coletada na parede prxima entrada da

    Gruta dos Animais, Municpio de Presidente Figueiredo, AM............. 32

    Figura 25 - Fredius denticulatus (Pseudothelphusidae), coletado no salo final

    da Caverna Refgio do Maruaga, Municpio de Presidente

    Figueiredo, AM..................................................................................... 32

    Figura 26 - Hetrophrynus longicornis (Phrynidae, Amblypygi), coletado na

    Caverna Refgio do Maruaga e observado nas Grutas dos Animais

    e dos Lages, Municpio de Presidente Figueiredo, AM........................ 33

  • xv

    Figura 27 - Quirpteros. Colnias de morcegos observados na Caverna Refgio

    do Maruaga, Municpio de Presidente Figueiredo, AM........................ 33

    Figura 28 - Peixes siluriformes observados no igarap da Caverna Refgio do

    Maruaga, Municpio de Presidente Figueiredo, AM............................. 34

    Figura 29 - Anuros observados no igarap da Caverna Refgio do Maruaga (A)

    e na Gruta dos Animais (B), Municpio de Presidente Figueiredo,

    AM........................................................................................................ 35

    Figura 30 -

    Crocodilianos. Jacar coroa observado no igarap da Caverna

    Refgio do Maruaga, prximo entrada, Municpio de Presidente

    Figueiredo, AM..................................................................................... 36

    Figura 31 -

    Quelnio observado prximo entrada, margem do igarap da

    Caverna Refgio do Maruaga, Municpio de Presidente Figueiredo,

    AM........................................................................................................ 36

    Figura 32 -

    Predao por Eidmannia guyanensis observado na Caverna Refgio

    do Maruaga. A: predando ninfa da mesma espcie; B: predando

    grilo...................................................................................................... 42

    Figura 33 -

    Canibalismo por grilo observado no salo final da Caverna Refgio

    do Maruaga.......................................................................................... 43

    Figura 34 -

    Fases do ciclo de vida dos flebotomneos............................................

    57

    Figura 35 -

    Desenho da Caverna Refgio do Maruaga demonstrando os pontos

    de coleta, depsito de guano e salo final, adaptado a partir de

    desenho topogrfico da Caverna......................................................... 60

    Figura 36 -

    Processo de flotao do guano para pesquisa de imaturos.................

    61

  • xvi

    Figura 37 -

    A: Potes de criao de imaturos (extrados de amostras do guano) e

    potes com fmeas acondicionadas para postura, B: caixa de potes

    de criao envolta por saco plstico para manuteno de umidade....

    62

    Figura 38 -

    A: Distribuio de indivduos de Lutzomyia sp. nos perodo diurno e

    noturno na galeria principal da Caverna Refgio do Maruaga no

    perodo de fevereiro a maio de 2006; B: Distribuio das armadilhas

    no interior da Caverna.......................................................................... 66

  • xvii

    LISTA DE TABELAS

    Tabela 1 - Medidas instantneas de temperatura e umidade relativa (UR) do ar

    da Caverna Refgio do Maruaga, tomadas com termohigrmetro

    digital, em 05 de maio de 2006........................................................... 17

    Tabela 2 - Insetos coletados em armadilha CDC na Gruta dos Animais,

    Municpio de Presidente Figueiredo, AM, no perodo de fevereiro a

    abril de 2006........................................................................................ 18

    Tabela 3 - Insetos coletados em armadilha CDC na Gruta dos Lages, Municpio

    de Presidente Figueiredo, AM, no ms de maio de 2006.................... 18

    Tabela 4 - Composio e freqncia das famlias coletadas e identificadas na

    Caverna Refgio do Maruaga, no perodo de fevereiro a maio de

    2006,coletadas em armadilhas CDC....................................................

    19

    Tabela 5 - Insetos coletados em armadilha de emergncia sobre o guano, na

    Caverna Refgio do Maruaga, Municpio de Presidente Figueiredo,

    AM no perodo de fevereiro a maio de 2006........................................ 25

    Tabela 6 - Composio de espcies do gnero Lutzomyia coletadas com

    armadilha CDC na Gruta dos Lages, Presidente Figueiredo, AM, no

    ms maio de 2006................................................................................ 63

    Tabela 7 - Composio de espcies do gnero Lutzomyia coletadas com

    armadilha CDC na Gruta dos Animais, Presidente Figueiredo, AM,

    no perodo de fevereiro a abril de 2006................................................

    63

    Tabela 8 - Composio e freqncia de flebotomneos coletadas na Caverna

    Refgio do Maruaga , Municpio de Presidente Figueiredo, AM, no

    perodo de fevereiro a maio de 2006....................................................

    64

  • xviii

    Tabela 9 - Composio e abundncia de flebotomneos coletados na

    Caverna Refgio do Maruaga no horrio noturno, perodo de

    fevereiro a maio de 2006............................................................... 65

    Tabela 10 - Composio e abundncia de flebotomneos coletados na

    Caverna Refgio do Maruaga, no horrio diurno, perodo de

    fevereiro a maio de 2006...... ......................................... .............. 65

    Tabela 11 - Medidas instantneas de temperatura e umidade relativa (UR) do

    ar da Caverna Refgio do Maruaga, tomadas com

    termohigrmetro digital, em 05 de maio de 2006........................... 68

    Quadro 1 - Artrpodes coletados, identificados e localidades de ocorrncia,

    na Caverna Refgio do Maruaga (CRM), Gruta dos Animais (GA)

    e Gruta dos Lages (GL), Municpio de Presidente Figueiredo,

    AM, no perodo de fevereiro a maio de 2006................................. 25

  • 1

    CAPTULO I

    ARTRPODES CAVERNCOLAS DA CAVERNA REFGIO DO MARUAGA,

    GRUTAS DOS ANIMAIS E DOS LAGES, MUNICPIO DE PRESIDENTE

    FIGUEIREDO-AMAZONAS, BRASIL.

    1. INTRODUO

    As cavernas so leitos naturais subterrneos, podendo se estender vertical ou

    horizontalmente e apresentar um ou mais nveis. So formadas basicamente a partir

    da ao e circulao da gua sobre as rochas e/ou desmoronamento (Gilbert et al.,

    1994). Grande parte das cavernas formada em rochas calcrias, que so mais

    favorveis aos processos que resultam na formao de cavidades naturais do

    subsolo, podendo ocorrer tambm em outras formaes geolgicas, tais como

    quartzitos, arenitos, granitos (Gines & Gines, 1992). No Brasil, 82% das quase 3.000

    cavernas cadastradas no Centro de Estudo, Proteo e Manejo de Cavernas -

    CECAV-DIREC, do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (IBAMA), e pela Sociedade

    Brasileira de Espeleologia - SBE, so formadas em rochas calcrias

    (www.ibama.gov.br).

    So consideradas ambientes estveis e peculiares, sendo importantes para

    o equilbrio dos ecossistemas onde estas ocorrem e possuem um micro-clima

    praticamente estvel no seu interior (www.ibama.gov.br).. Constituem ambientes

    extremamente peculiares, principalmente pela ausncia de luz nas reas mais

    afastadas da entrada (Poulson & White, 1969), e a escurido completa impossibilita

    a existncia de plantas e conseqentemente no existe produo primria de

    nutrientes por fotossntese (Poulson & Culver, 1969). A maior parte da energia

    disponvel para os organismos caverncolas importada do meio externo e entra por

    meio de fluxos de gua (restos de vegetao e animais), animais que defecam,

    deixam restos de alimentos ou morrem na caverna (Gilbert et al., 1994; Souza-Silva

    et al., 2003). O guano (acmulo de fezes de morcegos e outros animais), pode

    http://www.ibama.gov.brhttp://www.ibama.gov.br

  • 2

    formar grandes acmulos de matria orgnica em decomposio, constituindo fonte

    essencial de alimento para vrios animais (Gnaspini-Netto, 1989). Vrios fatores

    podem influenciar a distribuio dos organismos no meio hipgeo, dentre eles a

    disponibilidade de recursos alimentares (Poulson & Culver, 1969).

    No ambiente caverncola encontra-se uma fauna muito caracterstica,

    adaptada a essas condies ambientais. Conforme a distribuio e utilizao de

    recursos, os organismos caverncolas podem ser classificados em trs categorias,

    baseados no Sistema de Classificao de Schinner-Racovitza (Holsinger & Culver,

    1988): (i) trogloxenos: so os visitantes habituais, comuns s cavernas; utilizam a

    caverna para abrigo ou reproduo e necessitam sair ao meio externo a fim de

    completar seu ciclo de vida; (ii) troglfilos: so organismos que podem completar seu

    ciclo de vida tanto dentro das cavernas quanto fora delas e (iii) troglbios: so

    organismos restritos ao interior de cavernas que apresentam especializaes

    morfolgicas, fisiolgicas e comportamentais, despigmentao da pele, maior

    desenvolvimento de estruturas sensoriais, olhos no funcionais dentre outros.

    Desta maneira as cavernas formam ambientes nicos, com uma fauna

    peculiar, formando ilhas e/ou refgios dentro do local onde esto inseridas, sendo

    considerados stios de especial interesse cientfico. Podem apresentar uma fauna

    frgil e vulnervel aos impactos causados no ambiente fsico por interferncias de

    aes humanas ou fenmenos naturais.

    Na Amrica do Sul a fauna caverncola brasileira e venezuelana so as mais

    conhecidas. Em outros pases do continente, estes estudos ainda esto se iniciando

    (Pinto-da-Rocha,1995). No Brasil, a fauna caverncola comeou a ser relativamente

    bem estudada no incio da dcada de 80 concentrando-se nos Estados de So

    Paulo, Gois, Mato Grosso do Sul, Bahia, Paran, Mato Grosso, Mato Grosso do

    Sul, Par, Amazonas e Minas Gerais (Dessen et al., 1980; Trajano & Gnaspini, 1986;

    Chanowicz, F. 1986; Trajano, 1987; Trajano & Gnaspini-Netto, 1991; Trajano &

    Moreira, 1991; Gnaspini & Trajano, 1994; Pinto-da-Rocha, 1994; Bahia & Ferreira,

    2005).

    Os principais estudos esto concentrados em cavernas e grutas calcrias da

    Regio Sudeste, principalmente no Vale do Ribeira no Estado de So Paulo (Trajano

    & Gnaspini, 1986; Trajano, 1987; Pinto-da-Rocha, 1995), pois cavernas com

    formao calcria so mais numerosas e possuem grandes cavidades (Pinto-da-

    Rocha, 1995).

  • 3

    A caracterizao da fauna em cavernas calcrias tem sido feita por

    pesquisas realizadas pelos autores citados anteriormente entre outros (Gomes et al.,

    2000; Silva et al., 2005; Ferreira & Horta, 2001; Oliveira, 2005). Nesses estudos,

    foram registrados uma diversa fauna de invertebrados, como caros, aranhas,

    opilies, escorpies, amblipgios, pseudoescorpies, centopias, lacraias,

    colepteros, baratas, mosquitos, moscas, formigas, heterpteros, etc.

    Em relao a cavernas arenticas, as mais estudadas esto localizadas em

    Altamira-Itaituba, Estado do Par (Trajano & Moreira, 1991) e Serra Geral, Estado

    So Paulo e Estado do Paran (Trajano, 1987; Gnaspini & Trajano,1994) onde se

    encontra a provncia espeleolgica que incluem as cavernas de Altinpolis.

    Estudos em cavernas no-calcrias brasileiras so raros, restringindo-se a

    levantamentos espordicos, como o realizado nas grutas arenticas da regio de

    Altinpolis, So Paulo (Trajano, 1987; Zeppelini Filho et al., 2003). Este ltimo

    registrou 26 novas ocorrncias de espcies de artrpodes e vertebrados exclusivos

    de cavernas brasileiras de arenito. A fauna caracterizada demonstrou similaridade

    aos estudos realizados em cavernas calcrias brasileiras.

    Na regio Amaznica, encontram-se as maiores cavernas arenticas

    conhecidas no Brasil, as quais esto inseridas na Provncia Espeleolgica Arentica

    Altamira-Itaituba localizada no Estado do Par entre Altamira e Itaituba (Trajano &

    Moreira, 1991), com estudos concentrados nessa localidade e em outras cavernas

    menores, cavernas bauxticas da Serra do Piri (Pinheiro et al., 2001) e Provncia

    Espeleolgica Arentica de Monte Alegre (Maurity et al., 1997), todas localizadas no

    Estado do Par.

    No Estado do Amazonas, os estudos sobre fauna de cavernas so

    escassos, se concentrando apenas no complexo de cavernas e grutas localizado no

    Municpio de Presidente Figueiredo (Silva et al. 2002; Pinheiro et al, 2002; Serrano

    et al, 2003, Trajano & Gnaspini-Netto, 1991), os quais, a maioria (exceto Trajano &

    Ganspini, 1994) est divulgada apenas sob forma de resumos em congressos.

    Um levantamento a respeito da diversidade local foi realizado e consta no

    Plano de Manejo da Caverna Refgio do Maruaga realizado na APA Caverna do

    Maruaga , solicitado pela Prefeitura de Presidente Figueiredo em 2003, o qual

    forneceu uma listagem de espcies habitantes nessas cavernas e a forma que as

    utilizam. A fauna terrestre localizada na zona de entrada da Caverna Refgio do

    Maruaga, composta por aranhas (Scytodes, Thaumasia e Mesabolivar); amblipgeo

  • 4

    (Heterophrynus); opilies (Paecilaema e Trinella); e principalmente de insetos. Na

    parte terrestre da zona aftica da caverna, podem ser encontrados aranhas (Plato),

    tatuzinhos (Armadillidae), percevejos (Emesinae e Cydnidae), grilos (Endecous) e

    dpteros (Drosophila eleonorae), alm de caros e colmbolos. Dentre os

    vertebrados, morcegos (Mormoopidae e Phyllostomidae), anuros (Amphibia), peixes

    (Siluriformes e Characiformes) e outros. Entretanto, at o momento esses resultados

    esto disponibilizados apenas como parte da documentao para a realizao do

    Plano de Manejo (Prefeitura Municipal de Presidente Figueiredo, 2003).

    2. JUSTIFICATIVA

    Considerando a fragilidade, a peculiaridade dos habitats caverncolas,

    vulnerabilidade da fauna aos impactos neles causados, associado escassez de

    estudos nas localidades de coletas, com informaes disponveis, este trabalho visa

    contribuir para a caracterizao da fauna de artrpodes da Caverna Refgio do

    Maruaga, e das Grutas dos Animais e dos Lages, Municpio de Presidente

    Figueiredo, AM.

  • 5

    3. OBJETIVOS

    3.1. Objetivo Geral

    Identificar a artropodofauna da Caverna Refgio do Maruaga, Grutas dos

    Animais e dos Lages.

    3.2. Objetivos Especficos

    Identificar os artrpodes coletados em armadilha tipo CDC e coleta direta;

    Observar a abundncia das famlias mais representativas dos insetos

    coletados em armadilhas CDC ao longo da galeria principal da Caverna

    Refgio do Maruaga.

    4. MATERIAL E MTODOS

    4.1. rea de Estudo

    A sede do Municpio de Presidente Figueiredo est situada ao norte de

    Manaus, no km 107 da Rodovia BR 174, que liga Manaus a Boa Vista, no Estado

    de Roraima. Apresenta uma srie de caractersticas, tais como o lago da Usina

    Hidroeltrica de Balbina, a Minerao Taboca na regio do Rio Pitinga, Reserva

    Indgena Waimiri Atroari e um complexo turstico formado por cachoeiras e

    corredeiras, cavernas e outros atrativos naturais (CPRM , CD-Room).

    Dentro do complexo turstico do municpio, esto inseridas a Caverna

    Refgio do Maruaga, Grutas dos Animais e dos Lages (Figura 1), locais de

    realizao do estudo.

    Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais.

  • 6

    Figura 1: Mapa de localizao das reas de estudo, Municpio de Presidente Figueiredo, AM. Fonte:

    Amazonas: Miranda & Coutinho (2004)..

    Presidente Figueredo

    dos Lages Gruta dos Animais Caverna Refgio do Maruaga

  • 7

    Na regio de Presidente Figueiredo, a Formao Nhamund (Quaternrio)

    pertencente ao Grupo Trombetas (Paleozico), a unidade geolgica de maior

    expresso, das quais exposies encontram-se ao longo das cachoeiras e zonas de

    escarpa, onde so comuns os paredes arenticos, reas onde ocorrem as

    cavernas. So localidades com deposio de areias, argila, arenitos e ferrificados,

    ocorridos no perodo Holoceno e Pleistoceno e as deposies de coberturas

    Laterticas (Lateritas) ocorridas no Tercirio Superior (Prefeitura Municipal de

    Presidente Figueiredo, 2003).

    4.1.1. Caverna Refgio do Maruaga

    A Caverna Refgio do Maruaga ( 020302,49 S e 595748,85 W)

    cadastrada na Sociedade Brasileira de Espeleologia com registros AM-0002, est

    localizada na rodovia AM-240 no km 06 (estrada de Balbina) a 600 m da margem da

    estrada, inserida na rea de Proteo Ambiental Caverna do Maruaga .

    No perodo de coleta, esta caverna encontrava-se interditada para visitao

    pblica, sendo autorizada a entrada apenas para pesquisadores, de acordo com a

    Secretaria Municipal de Meio Ambiente. Essa interdio deveu-se ao fato de que foi

    detectada a presena de fungos patognicos no interior da caverna, durante os

    estudos realizados para a elaborao do Plano de Manejo da Caverna do Maruaga

    (Figura 2).

    Figura 2: A: Entrada da Caverna Refgio do Maruaga, AM-240, km 06, Municpio de Presidente Figueiredo, AM e B: Placa com aviso de interdio da Caverna Refgio do Maruaga. Fotos: A: Xavier Filho, F.F.; B: Barrett. T.V.

  • 8

    Na descrio realizada por Karmann (1986), a Caverna Refgio do Maruaga

    constitua-se de trs compartimentos morfolgicos principais: galeria principal,

    ramificao sudoeste e salo final. A galeria principal inicia-se na entrada da

    caverna, com altura central de 7m e 12m de largura. No interior, essas medidas

    variam de 3 a 5m de largura e de 7 a 15m de altura. Toda a galeria central, a qual

    apresenta pequenas ramificaes ao longo do seu trecho, percorrida por um

    crrego de pequeno volume de gua, com largura de 2 a 5m e at 20cm de

    profundidade mxima. O piso coberto por areia fina. A extenso deste eixo

    principal da caverna, incluindo os sales finais, de 302m.

    O salo final formado pelo setor mais amplo da caverna. Este dividido em

    dois sub-compartimentos: o primeiro, com largura de at 40 m e 10 m de altura,

    possui no lado esquerdo um espesso depsito clstico de origem interna e externa.

    A contribuio externa desse depsito, deve ter sido infiltrada atravs de fendas na

    margem esquerda do salo. A formao interna composta principalmente por areia

    e blocos abatidos do teto do salo. Este salo tipicamente formado por abatimento

    de um conjunto de galerias. O segundo salo final menos amplo e com piso

    coberto por blocos de arenito. No fundo deste salo, surge entre os blocos a gua

    que forma o crrego principal da caverna (Karmann, 1986) (Figuras 3, 4).

    Figura 3: Vista geral da Caverna Refgio do Maruaga, Municpio de Presidente Figueiredo, AM: Entrada: A vista externa; B - vista interna. Fotos: T. Barrett.

    A

    B

  • 9

    Figura 4: Vista geral do interior da Caverna Refgio do Maruaga, Municpio de Presidente Figueiredo, AM: A galeria central; B ramificaes laterais. Fotos: T. Barrett.

    4.1.2. Gruta dos Animais

    Localizada prxima Caverna Refgio do Maruaga, a Gruta dos Animais

    ( 020302,64S/595751,47W ), ambas as cavidades esto separadas por um

    pequeno vale raso. Esta gruta drenada por um pequeno curso d gua afluente da

    margem direita do Igarap Maruaga. A gruta composta por um grande lapo de

    entrada. A abertura de entrada possui aproximadamente 2m de altura por 1,20m de

    largura, porm, em determinados locais, ocorre um rebaixamento do teto. A galeria

    principal percorrida pelo igarap, acompanhando a sua drenagem interna, por

    cerca de 130m. Nos ltimos 10m deste conduto, abre-se um salo de maiores

    dimenses, que formado pela incaso de blocos recobertos por material argiloso.

    No final da cavidade existem dois sales, com lagos em toda a sua rea, que

    tambm alimentam a sua drenagem interna. Observa-se tambm banco de argila

    que percorre toda extenso da gruta margeando o pequeno curso d gua (Prefeitura

    Municipal de Presidente Figueiredo, 2003) (Figura 5).

  • 10

    Figura 5: Vista geral da Gruta dos Animais: A: salo externo (lapao); B: entrada; C: galeria principal com rebaixamento do teto; D: parte final da Gruta com formao de trs galerias. Fotos: A e C, B e D: Xavier Filho, F.F.,; D: Alencar, R.B.

    4.1.3. Gruta dos Lages

    Localizada margem esquerda da BR - 174 km 113, faz parte do Stio Santa

    Lcia, de propriedade do Sr. Pedro da Silva Mendes. Possui aproximadamente 4m

    de altura, uma extenso aproximada de 30m, com vrias entradas e reentrncias, a

    proximidade do teto da gruta com a superfcie favorece a infiltrao de gua atravs

    das razes das rvores, ocasionando o acmulo de gua no local. Possui uma

    formao arentica igual s localidades anteriores com alguns depsitos de areia

    decorrentes do desgaste do teto e paredes, a presena de colnia de morcegos

    ocasiona a formao de um pequeno depsito de guano (Figura 6).

    A

  • 11

    Figura 6: Vista geral Gruta dos Lages: A e B: vista externa da gruta; C: vista interna. Foto: Alencar, R.B.

    4.2. Metodologia

    As coletas foram realizadas durante trs dias mensais, sendo na Caverna

    Refgio do Maruaga no perodo de fevereiro a maio, Gruta dos Animais de fevereiro

    a abril e na Gruta dos Lages no ms de maio de 2006. Para essa ltima, foram

    realizadas 3 coletas noturnas, pois havia muita luminosidade diurna no interior da

    gruta, inviabilizando coletas nesse perodo. Todas realizadas com licena de coleta e

    transporte de material biolgico nmero 42/2006

    NUFAS/IBAMA/AM,

    desenvolvimento e apoio financeiro de PPI: 1- 0705 Biodiversidade de

    invertebrados amaznicos e gerenciamento da coleo de Invertebrados do INPA .

    Devido insalubridade da Caverna Refgio do Maruaga, causada pela

    deteco de fungos patognicos, todos os membros da equipe, durante as coletas

    na caverna, utilizaram mscaras com filtros, botas e luvas de borracha.

    4.2.1. Medidas de temperatura e umidade

    As medidas de temperatura e umidade relativa foram realizadas, utilizando-

    se um termo-higrmetro digital no interior da caverna e grutas. Na caverna foram

    cinco pontos verificados e nas grutas dois pontos.

    B

    C

  • 12

    4.2.2. Coletas com armadilhas CDC

    Para coleta de insetos alados de pequeno porte foram utilizadas armadilhas

    de luz tipo CDC miniaturas, acoplada a um frasco plstico adaptado armadilha

    contendo lcool a 70%.

    Para efeito de comparao da entomofauna entre os pontos de coleta, ao

    longo da galeria central da Caverna Refgio do Maruaga, as armadilhas

    permaneceram ativas ininterruptamente durante 48 horas. A cada 12 horas esses

    recipientes foram trocados, porm, foi feita uma somatria final das quatro amostras

    para utilizao na anlise.

    Devido diferena de profundidade entre caverna e grutas, o nmero de

    armadilhas CDC instaladas no interior de cada uma foi diferenciado. Na Caverna

    Refgio do Maruaga, quatorze armadilhas foram distribudas permanecendo a 10m

    afastadas uma da outra e a primeira afastada 10m da entrada (para que no

    sofresse influncia da claridade do perodo diurno), perfazendo uma extenso de

    140m no interior desta a partir da entrada.

    Na gruta dos Animais, foram distribudas cinco armadilhas afastadas uma da

    outra, conforme a possibilidade dessa disposio (altura do teto), sendo a primeira

    afastada 10m da entrada, a segunda e a terceira, com distncia aproximada de 10 m

    uma da outra, a quarta e a quinta ficaram mais ao final da gruta, a uma distncia de

    80m e 120m da entrada.

    Na Gruta dos Lages, foram oito armadilhas distribudas conforme a

    possibilidade do local.

    4.2.3. Outras tcnicas de coletas

    4.2.3.1. Coleta com armadilhas Pitfall, Emergncia e busca direta

    As coletas de outros artrpodes localizados nas paredes da caverna e

    grutas, sobre o guano, areia e pedras, foram realizadas por meio de busca ativa,

    manualmente ou utilizando-se pina e na ltima coleta, foram utilizadas armadilhas

    tipo Pitfall contendo gesso, depois acondicionados em lcool a 70% (Figura 7A).

  • 13

    Trs armadilhas de emergncia modificadas tambm foram utilizadas para

    captura de adultos recm-emergidos, dispostas em trs pontos aleatrios sobre o

    guano. Esta consiste de uma bacia plstica na base, na parte superior encontra-se

    um funil plstico e, sobre ele um recipiente coletor com soluo conservadora

    ( Soluo de Vidal ) (Figura 7B), composta por gua, lcool a 96%, cido actico a

    10% e caulim (Alencar, 2003). As armadilhas foram mantidas sobre o guano por trs

    meses, porm a soluo era trocada mensalmente, e os espcimes preservados em

    lcool a 70% para posterior identificao.

    Figura 7: Armadilhas utilizadas na coleta direta passiva na Caverna Refgio do Maruaga. A: Pitfall; B: Emergncia. Fotos: A: W.S. Santos; B: Xavier Filho, F.F..

    4.2.3.2. Coleta de insetos aquticos

    As coletas de artrpodes que estavam no igarap que percorre a Caverna

    Refgio do Maruaga foram feitas com auxlio de uma peneira (p adaptada, devido

    a pouca profundidade do igarap) (Figura 8A), sendo realizadas ao final da troca dos

    recipientes da armadilha CDC, em todo percurso do igarap, durante o perodo de

    coleta. As amostras foram acondicionadas em lcool a 70% e identificadas no

    laboratrio.

    4.2.3.3. Coleta de areia

    Essa amostragem foi realizada para pesquisa de ovos de grilos parasitados

    por Scelionidae, coletando-se aproximadamente 200g de areia, em pontos aleatrios

    A

    B

  • 14

    do banco de areia (local onde foi observada uma abundncia de grilos). Visto que,

    uma grande quantidade desses himenpteros foram coletados nas armadilhas CDC.

    4.2.3.4. Coleta consistindo principalmente de guano

    Foram coletados aproximadamente 200 g de amostras de solo/guano na

    caverna (amostra nica), que foi acondicionada em um recipiente plstico para

    pesquisa de artrpodes (Figura 8B).

    Figura 8: A: Coletor utilizado na coleta de insetos aquticos (p adaptada); na Caverna Refgio do Maruaga e amostra de guano coletada para pesquisa de artrpodes (B). Fotos: R.B. Alencar.

    4.3. Processamento das amostras

    O processamento das amostras foi realizado no Laboratrio de Triatominae,

    Phlebotominae e Fauna Nidcola, Coordenao de Pesquisas em Entomologia -

    CPEn/INPA, Manaus, Amazonas.

    O material coletado em armadilha tipo CDC, amostras de insetos aquticos e

    amostras provenientes da coleta direta, foi triado com auxlio de microscpio

    estereoscpio e as amostras separadas em nvel de famlia. Alguns grupos de

    insetos foram montados e outra parte foi preservada em lcool a 70%.

    Triagem da amostra de areia: parte da amostra foi colocada sobre uma placa

    de Petri e cuidadosamente observada sob microscpio estereoscpio. Os ovos

    encontrados foram acondicionados em recipientes plsticos contendo areia

    esterilizada em autoclave e coberto com fil (para evitar a fuga dos insetos), esse

    recipiente foi acondicionado em caixa de isopor com papel umedecido para manter a

    umidade e temperatura.

    Para extrao de artrpodes de amostras de guano, foram utilizadas duas

    tcnicas:

  • 15

    (1) flotao com soluo saturada de acar e (2) Berlese-Tullgren (essa tcnica foi

    feita por especialista do Laboratrio de Acarologia e Invertebrados de solo/CPEn ,

    para amostragem e identificao dos caros).

    4.3.1. Flotao com soluo de acar

    Esta tcnica utilizada para separar pequenos artrpodes terrestres com uma

    menor quantidade de matria orgnica possvel. baseada no modelo de Hanson

    (1961) o qual, partculas de solo densas decantam quando misturadas com uma

    soluo supersaturada de acar, permitindo que insetos vivos e outros membros da

    fauna flutuem sob a soluo, facilitando a anlise da biota contida na amostra.

    Em laboratrio, cada amostra foi colocada em recipiente plstico

    transparente, ao qual foi adicionada uma soluo saturada de acar, cobrindo-a por

    at cinco centmetros. Todo material foi agitado para homogeneizao da amostra e

    a soluo colocada em repouso por 10 minutos. Aps o repouso retirou-se o material

    flutuante com uma pequena concha, que foi colocado em placa de Petri e analisado

    sob um microscpio estereoscpio com auxlio de pinas e estilete (Figura 9). Todo

    material coletado foi separado e acondicionado em lcool a 70%.

    Figura 9: Processo de flotao com soluo supersaturada de acar utilizado para pesquisa de artrpodes vivos. Foto: R.B. Alencar.

    4.4. Anlise de Dados

    As anlises dos dados foram realizadas utilizando-se o Programa de Planilha

    Eletrnica Excel (Windows XP) para estatstica descritiva.

  • 16

    4.5. Triagem e identificao das amostras

    Aps triado, o material foi identificado em nvel de famlia e/ou categoria

    inferior conforme a possibilidade, com as chaves dicotmicas de Borror & DeLong

    (1989); Coscarn (1986); Froeschner, 1960, Schuh & Slater (1995); Costa-Lima

    (1940), Dindal, 1990 (caros), Wygodzinsky, 1966; e/ou encaminhado para

    especialistas.

    O material testemunho ser depositado na Coleo de Invertebrados do

    Instituto Nacional de Pesquisas da Amaznia INPA.

  • 17

    5. RESULTADOS

    5.1. Medidas de umidade e temperatura.

    A temperatura no interior da caverna oscilou entre 25 e 27C. A temperatura

    mais elevada (27C) foi registrada na entrada e no final da caverna e a mais baixa

    (25C) a cerca de 90m a partir da entrada. A umidade registrada na entrada da

    caverna foi de 86.4%, mais esta se elevou medida que se adentrava a caverna,

    chegando atingir 98% na parte final desta. Tanto a temperatura quanto a umidade

    apresentaram pequena variao no interior da caverna, mantendo o clima

    aparentemente estvel neste ambiente (Tabela 1).

    TABELA 1: Medidas instantneas de temperatura e umidade relativa (UR) do ar, da

    Caverna Refgio do Maruaga, tomadas com termohigrmetro digital, em 05 de maio

    de 2006.

    Na Gruta dos Lages, o registro da temperatura e umidade, para dois pontos

    de medidas (entrada e interior), foi de 28 e 26,7C e 86 e 88,4%, respectivamente.

    Na Gruta dos Animais no foi possvel registrar essas medidas, pois devido

    saturao da umidade local, o termohigrmetro no se manteve ligado.

    5.2. Composio faunstica de insetos coletados com armadilhas CDC.

    O resultados das coletas realizadas com armadilhas CDC na Gruta dos

    Animais resultaram em 9.318 indivduos coletados, sendo a Ordem Diptera a mais

    representativa com 11 famlias identificadas (Tabela 2).

    Local Temperatura ( C) Umidade (%)

    Entrada 27,0 86,4

    40m 25,8 94,190m 25,0 96,9140m 26,0 97,8Final 27,0 98,0

  • 18

    Tabela 2: Insetos coletados em armadilha CDC, na Gruta dos Animais, Municpio de

    Presidente Figueiredo, AM, no perodo de fevereiro a abril de 2006.

    Na Gruta dos Lages foi coletado um total de 1.295 indivduos. A Ordem

    Diptera foi a mais representativa com 11 famlias.

    Tabela 3: Insetos coletados em armadilha CDC, na Gruta dos Lages, Municpio de

    Presidente Figueiredo, AM, no ms de maio de 2006.

    Ordem FamliaColeoptera Ptiliidae 3.732 40,05Coleoptera Scolitydae 2 0,02Diptera Psychodidae 1.800 19,32Diptera Chironomidae 1.621 17,40Diptera Phoridae 1.053 11,30Diptera Streblidae 484 5,19Diptera Drosophilidae 231 2,48Diptera Tipulidae 84 0,90Diptera Milichiidae 66 0,71Diptera Cecidomyidae 53 0,57Diptera Ceratopogonidae 20 0,21Diptera Sciaridae 16 0,17Diptera Culicidae 2 0,02Hymenoptera Diapriidae 1 0,01Hymenoptera Figitidae 1 0,01Hymenoptera Scelionidae 152 1,63

    Total 9.318 100

    N individuos Frequncia %

    Ordem Famlia

    Diptera Cecidomyidae 383 29,58Diptera Ceratopogonidae 325 25,10Diptera Psychodidae 315 24,32Diptera Chironomidae 87 6,72Diptera Tipulidae 61 4,71Diptera Sciaridae 40 3,09Diptera Drosophilidae 15 1,16Diptera Phoridae 15 1,16Diptera Streblidae 10 0,77Diptera Culicidae 8 0,62Diptera Milichiidae 2 0,15Homoptera Delphacidae 4 0,31Hymenoptera Scelionidae 26 2,01Hymenoptera Diapriidae 1 0,08Hymenoptera Platygastridae 3 0,23

    Total 1.295 100

    N individuos Frequncia (%)

  • 19

    Na Caverna Refgio do Maruaga , dos espcimes coletados em armadilhas

    CDC, a Ordem Diptera que apresentou maior nmero de famlias (12). A Ordem

    Hymenoptera apresentou trs famlias e a Ordem Coleoptera apenas uma nica

    famlia, Ptiliidae (Tabela 4).

    Para relacionar o nmero de indivduos coletados, e sua distribuio dentro

    da Caverna Refgio do Maruaga, foi feito uma somatria de todos os indivduos

    capturados em armadilhas CDC no perodo de fevereiro a maio de 2006. O resultado

    das famlias mais representativas foram plotados em grficos e observado uma

    possvel relao com o guano depositado na caverna.

    Todas as famlias mais expressivas das ordens Diptera, Hymenoptera e

    Coleoptera, durante o perodo de coleta se mostraram distribudas ao longo da

    caverna com uma pequena variao na concentrao a 140m, localizao do salo

    final (Figuras 10 17).

    Tabela 4: Composio e freqncia das famlias coletadas e identificadas na

    Caverna Refgio do Maruaga no perodo de fevereiro a maio de 2006, coletadas em

    armadilhas CDC.

    Ordem FamliaColeoptera Ptiliidae 6.238 6,885Diptera Chironomidae 51.109 56,410Diptera Milichiidae 12.644 13,956Diptera Drosophilidae 6.654 7,344Diptera Psychodidae 3.957 4,367Diptera Phoridae 2.440 2,693Diptera Streblidae 1.213 1,339Diptera Ceratopogonidae 195 0,215Diptera Tipulidae 73 0,081Diptera Cecidomyidae 24 0,026Diptera Culicidae 5 0,006Diptera Sciaridae 2 0,002Diptera Hybotidae 4 0,004Hymenoptera Scelionidae 6.029 6,654Hymenoptera Diapriidae 1 0,001Heteroptera Cydnidae 6 0,007Lepdoptera Tineidae 2 0,002Trychoptera Hydropsichidae 5 0,006Trychoptera Lepitoceridae 1 0,001

    TOTAL 90.602 100

    Frequncia (%)Abundncia

  • 20

    0

    1000

    2000

    3000

    4000

    5000

    6000

    7000

    8000

    9000

    10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 110 120 130 140

    Distncia (m)

    N

    mer

    o d

    e in

    div

    uo

    s

    0

    50

    100

    150

    200

    250

    300

    350

    10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 110 120 130 140

    Distncia (m)

    N

    mer

    o d

    e in

    div

    du

    os

    Figura 10: Distribuio total dos indivduos de Chironomidae (Diptera) coletados ao longo da galeria principal da Caverna Refgio do Maruaga, no perodo de fevereiro a maio de 2006.

    Figura 11: Distribuio total dos indivduos de Streblidae (Diptera) coletados ao longo da galeria principal da Caverna Refgio do Maruaga, no perodo de fevereiro a maio de 2006.

  • 21

    0

    200

    400

    600

    800

    1000

    1200

    10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 110 120 130 140

    Distncia (m)

    N

    mer

    o d

    e in

    div

    du

    os

    0

    100

    200

    300

    400

    500

    600

    700

    800

    900

    10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 110 120 130 140

    Distncia (m)

    N

    mer

    o d

    e in

    div

    du

    os

    Figura 12: Distribuio total dos indivduos da Subfamlia Psychodinae (Diptera, Psychodidae) coletados ao longo da galeria principal, no perodo de fevereiro a maio de 2006.

    Figura 13: Distribuio total dos indivduos de Phoridae (Diptera) coletados ao longo da galeria principal da Caverna Refgio do Maruaga, no perodo de fevereiro a maio de 2006.

  • 22

    0

    500

    1000

    1500

    2000

    2500

    10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 110 120 130 140

    Distncia (m)

    N

    mer

    o d

    e in

    div

    du

    os

    0

    500

    1000

    1500

    2000

    2500

    3000

    3500

    4000

    10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 110 120 130 140

    Distncia (m)

    N

    mer

    o d

    e in

    div

    du

    os

    Figura 14: Distribuio total dos indivduos de Milichiidae (Diptera) coletados ao longo da galeria principal da Caverna Refgio do Maruaga, no perodo de fevereiro a maio de 2006.

    Figura 15: Distribuio total dos indivduos de Drosophilidae (Diptera) coletados ao longo da galeria

    principal da Caverna Refgio do Maruaga, no perodo de fevereiro a maio de 2006.

  • 23

    0

    200

    400

    600

    800

    1000

    1200

    1400

    1600

    10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 110 120 130 140

    Distncia (m)

    N

    mer

    o d

    e in

    div

    du

    os

    Figura 16: Distribuio total dos indivduos de Ptiliidae (Coleoptera) coletados ao longo da galeria principal da Caverna Refgio do Maruaga, no perodo de fevereiro a maio de 2006.

    Figura 17: Distribuio total dos indivduos de Scelionidae (Hymenoptera) coletados ao longo da galeria principal da Caverna Refgio do Maruaga, no perodo de fevereiro a maio de 2006.

    0

    200

    400

    600

    800

    1000

    1200

    1400

    1600

    10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 110 120 130 140

    Distncia (m)

    N

    mer

    o d

    e in

    div

    du

    os

  • 24

    5.3. Coleta de artrpodes com tcnicas diretas.

    Durante o processo de coleta direta, foi coletada uma amostra de areia para

    verificao de parasitides em ovos de grilo. Desta, foram encontrados

    aproximadamente 10 ovos, alguns parasitados. Os ovos eram transparentes,

    podendo o embrio ser observado internamente. Dos ovos parasitados emergiram

    indivduos de Scelionidae sp1 e o restante de imaturos de grilos (Figura 18).

    Figura 18: Ovos de grilos parasitados coletados na areia pela tcnica de coleta direta. A: ovos de grilos em desenvolvimento; B:grilo recm emergido; C:ovo parasitado por Scelionidae; D: parasitide removido de ovo para visualizao. Fotos: A- C: Feitosa, M.C.; D: V.R. Alves.

    Em armadilhas de emergncia colocadas sobre o guano foram coletados 22

    indivduos (Tabela 5).

    Tabela 5: Insetos coletados em armadilha de emergncia sobre o guano, na

    Caverna Refgio do Maruaga, Municpio de Presidente Figueiredo, AM, no perodo

    de fevereiro a maio de 2006.

    FamliaPtilliidae 6Drosophilidae 9Streblidae 4Psychodidae 2Milichiidae 1

    N de indivduos

  • 25

    No Quadro 1 esto relacionados todos os artrpodes coletados durante o

    perodo de coleta. Alguns foram coletados em armadilha CDC, outros em coleta

    direta. A identificao foi feita conforme a possibilidade de cada grupo e o tempo

    disponvel. Alguns vertebrados foram fotografados nos locais durante a realizao

    das coletas (Figuras 27 - 30).

    Quadro 1: Artrpodes coletados, identificados e localidades de ocorrncia, na

    Caverna Refgio do Maruaga (CRM), Gruta dos Animais (GA) e Gruta dos Lages

    (GL), Municpio de Presidente Figueiredo, AM, no perodo de fevereiro a maio de

    2006.

    TAXON LOCAL TIPO DE COLETAClasse Insecta Ordem Hemiptera Sub-ordem HeteropteraReduviidaeEmesinae GA Coleta manualPhasmatocoris sp. Entrada (parede)

    Reduviinae GL Coleta manualZelurus genumaculatus Entrada (parede)

    Peiratinae CRM Coleta manualEidmannia guyanensis Salo final (sobre Pitfall(Figura 19) guano e areia

    Cydnidae CRM, GL Coleta manualCydninae guano Pangeus moestus

    Veliidae (Gerromorpha) CRM Coleta manualStridulivelia transversa ao longo do igarapStridulivelia stridulataRhagovelia evites

    Ordem TrichopteraHydropsychidae CRM CDCMacronematinae Leptonema maculatum

    Odontoceridae CRM CDCOdontocerinae Marlia sp.

  • 26

    Continuao

    Ordem DipteraCulicidaeUranotaenia sp. GL CDC

    Aedes sp.Psorophora sp. GA, GL

    Culex sp. GA, GL e CRM

    Hybotidae CRM CDCTachidromeinaeDrapetis sp.

    PsychodidaePsychodinaeTonnoira cavernicola CRM, GA CDCTonnoira sp.Psychoda sp.1

    Psychoda savaiiensis Psychoda sp.2 GLPsychoda sp.3

    Phlebotominae GA, GL e CRM CDCLutzomyia spp.

    Ceratopogonidae GL CDCCulicoides sp.1Culicides sp.2Forcipomyia sp.Mallachohelea sp.Forcipomyia (Lasiohelea) sp.

    Drosophilidae CRM CDCDrosophila eleonorae

    Streblidae CDCTrichobius sp. (grupo caecus) GL, GA e CRM

    Streblia guajiro GA e CRM

    Trichobius anducei GA e CRM

    Nycterophilia parnelli CRM

    Speiseria ambigua CRM

  • 27

    Continuao

    MilichiidaeLeptometopa sp. GA e CRM CDC

    Ordem EnsiferaGryllidae CRM, GL e GA Coleta manualLuzarinae Toda extenso dasAmphiacusta sp. paredes e solo(Figura 20)

    Ordem HymenopteraFormicidae CRM Coleta manualPachycondyla crassinoda Salo final sobre (Figura 21) pequena poro de terra

    cercada de gua

    Ordem ColeopteraDyitiscidae CRM Coleta manualmorfoespcie1 Salo final igarap(Figura 22) prximo ao banco

    de guano

    Ordem LepidopteraTineidae CRM Coleta manualmorfoespcie1 Salo final sobre o(Figura 23) guano

    Histeridaemorfoespcie1

    Ordem BlattariaBlattellidae GA Coleta manualmorfoespcie1 Entrada (teto)(Figura 24)

    Classe Malacostraca Ordem DecapodaPseudothelphusidae CRM Coleta manualFredius denticulatus Banco de areia (Figura 25) margem do igarap

    Palaeomonidae Igarap Coleta passivaMacrobrachium sp.

  • 28

    Continuao

    Classe Arachnida Ordem AmblypygiPhrynidae CRM e GA Coleta manualHetrophrynus longicornis Entrada (parede)(Figura 26)

    Ordem OpilionesEupnoi: SclerosomatidaeGagrelinae GL Coleta manualGeaya sp. Entrada (parede)

    Laniatores: Cosmetidae GA Coleta manualFlirtea sp Entrada (parede)

    Ordem AranaeTheridiosomatidae CRM Coleta manualPlato sp. Parede (prximo ao cho)

    Ordem ChilopodaGeophilomorpha CRM FlotaoMorfoespcie1 Salo Final (guano)

    Ordem AcariMesostigmata (Gamasida) CRM Berlese-TullgrenMorfoespcie1 Salo Final (guano)

  • 29

    Figura 19: Eidmannia guyanensis (Heteroptera, Reduviidae), coletado no salo final da Caverna Refgio do Maruaga, sobre o guano e areia, Municpio de Presidente Figueiredo, AM. . Foto: , R. B.Alencar.

    Figura 20: Amphiacusta sp. (Ensifera, Gryllidae), coletado na Caverna Refgio do Maruaga e observado nas Grutas dos Animais e dos Lages, Municpio de Presidente Figueiredo, AM. Foto: F.F.Xavier Filho.

  • 30

    Figura 21: Pachycondyla crassinoda (Hymenoptera, Formicidae), coletadas sobre uma poro de argila circundada por gua, no salo final da Caverna Refgio do Maruaga, Municpio de Presidente Figueiredo, AM. Foto: W.S.Santos.

    Figura 22: Coleoptera (Dytiscidae) capturado em coleta manual na Caverna Refgio do Maruaga, no igarap prximo ao guano, . Municpio de Presidente Figueiredo, AM. Foto: F.F. Xavier Filho.

  • 31

    Figura 23: Lepidoptera (Tineidae), coletada na Caverna Refgio do Maruaga sobre o guano, Municpio de Presidente Figueiredo, AM. A: casulo, B: adulto. Fotos: F.F. Xavier Filho, (A); R.B.Alencar (B).

    A

    B

  • 32

    Figura 24: Blattaria (Blattellidae) coletada na parede prxima entrada da Gruta dos Animais, Municpio de Presidente Figueiredo, AM. Foto: R.B. Alencar.

    Figura 25: Fredius denticulatus (Pseudothelphusidae), coletado no salo final da Caverna Refgio do Maruaga, Municpio de Presidente Figueiredo, AM. Foto: R.B. Alencar.

  • 33

    Figura 26: Hetrophrynus longicornis (Phrynidae, Amblypygi), coletado na Caverna Refgio do Maruaga e observado nas Grutas dos Animais e dos Lages, Municpio de Presidente Figueiredo, AM. Foto: R.B.Alencar .

    Figura 27 : Quirpteros. Colnias de morcegos observados na Caverna Refgio do Maruaga, Municpio de Presidente Figueiredo, AM. Fotos: A F.F. Xavier Filho; B T.Barrett.

  • 34

    Figura 28 : Peixes siluriformes observados no igarap da Caverna Refgio do Maruaga, Municpio de Presidente Figueiredo, AM. Fotos: F.F. Xavier Filho

    B

  • 35

    Figura 29 : Anuros observados no igarap da Caverna Refgio do Maruaga (A) e na Gruta dos Animais (B), Municpio de Presidente Figueiredo, AM. Fotos: A F.F. Xavier Filho, B R.B. Alencar

    A

    B

  • 36

    Figura 30 : Crocodilianos. Jacar coroa observado no igarap da Caverna Refgio do Maruaga, prximo entrada, Municpio de Presidente Figueiredo, AM. Fotos: A T. Barrett.

    Figura 31: Quelnio observado prximo entrada, margem do igarap da Caverna Refgio do Maruaga, Municpio de Presidente Figueiredo, AM. Foto: F.F.Xavier Filho

  • 37

    5. DISCUSSO

    Na Caverna Refgio do Maruaga, a variao de temperatura e da umidade no

    primeiro ponto, pode ter sido influenciada pelo contato do ambiente interno/externo

    atravs da abertura de entrada, ocasionando perda de umidade e aumento na

    temperatura. O igarap percorre toda extenso da caverna, nos locais onde o

    corredor mais estreito (aproximadamente 30m da entrada at 120m) ele cobre toda

    superfcie, sendo a temperatura menor nesses locais. O tamanho do salo final e a

    distncia deste da entrada, a altura do teto, a falta de abertura e a quantidade de

    gua, possibilitam a manuteno da alta umidade (Tabela 1).

    As amostras coletadas em armadilhas CDC (Tabelas 2,3,4) so semelhantes

    quanto s ordens e famlias coletadas nos trs locais. As trs cavidades tm em

    comum a presena de morcegos e gua corrente, sendo que a Caverna Refgio do

    Maruaga a maior em tamanho, fluxo de gua e quantidade de morcegos e de

    guano. As condies oferecidas nesses locais, parecem favorecer alguns grupos

    (exemplos: dpteros com larvas aquticas, colepteros detritvoros, e himenpteros

    parasitides) ocasionando a predominncias de alguns.

    Os dpteros constituem uma das maiores ordens de insetos em abundncia e

    riqueza de espcies, possuem uma diversidade de habitats e tipos de alimentao,

    tanto no estgio larval como no adulto (Borror & DeLong, 1989). A predominncia do

    nmero de dpteros coletados parece corroborar com as caractersticas e a biologia

    de alguns grupos da ordem.

    Dentre as famlias mais representativas da Ordem Diptera na Caverna

    Maruaga, Chironomidae apresentou maior nmero de espcimes coletados,

    corroborando com dados de Trajano & Gnaspini-Netto (1991), que citam os

    chironomideos como o grupo mais abundante em cavernas brasileiras. A capacidade

    de ocupao de diversos tipos de ambientes parece favorecer essa famlia. Muitas

    espcies chironomideos em condies favorveis, so capazes de ter um rpido

    desenvolvimento na fase larval e apesar de algumas serem especficas para certos

    tipos de substratos, outras podem utilizar uma variedade destes, podendo ser:

    predadora, filtradora, detritvora, etc. (Pinder,1986).

    Outra famlia expressiva foi os Milichiidae, a qual provavelmente os imaturos

    estejam se desenvolvendo no guano de morcegos porque a presena dos adultos

    desses insetos foi maior no salo final da caverna. So insetos que possuem larvas

  • 38

    geralmente saprfagas, contudo, vrias espcies podem ser coprfagas ou

    necrfagas. Os adultos se alimentam de nctar de flores ou substncias aucaradas

    de afdios e outros hompteros, podendo ser ainda observado comportamento de

    cleptoparasitismo ou comensalismo. As espcies cleptoparastas se alimentam de

    presas de aranhas ou insetos predadores como reduvdeos, asildeos, mantispdeos

    ou odonatas, quando estes ainda esto se alimentando. Na maioria dos casos,

    apenas as fmeas so cleptoparastas (http://www.sel.barc.usda.gov). Na Caverna

    Maruaga, esses insetos foram observados em grande nmero no salo final, local

    onde as larvas podem estar se desenvolvendo ou os adultos esto se alimentando

    de outros insetos, considerando o comportamento cleptoparasta. A presena dessa

    famlia corrobora com citaes em vrios trabalhos (Gnaspini & Trajano, 1994;

    Trajano & Gnaspini-Netto, 1991; Trajano & Moreira, 1991).

    Dpteros Drosophilidae, a nica espcie encontrada foi Drosophila eleonorae,

    com um nmero expressivo de indivduos. Essa uma espcie coletada apenas em

    cavernas e citada em trabalhos realizados em vrias cavernas brasileiras (PA, GO,

    MS, MG, SP) (Trajano, 1987). A espcie foi descrita aps ser coletada emergindo do

    guano na Caverna Pedra da Cachoeira, em Altamira, Par (Tosi et. al.,1990). Na

    Caverna Refgio do Maruaga, alm dos exemplares coletados em armadilhas CDC,

    nove indivduos foram coletados em armadilhas de emergncia sobre o guano,

    corroborando com os artigos acima citados e Trajano & Gnaspini-Netto (1991)

    (Tabela 5).

    Outra famlia de Diptera encontrada foi Psychodidae, representada

    principalmente pela Subfamlia Psychodinae. Espcimes desta subfamlia foram

    encontrados amplamente distribudos ao longo da caverna, porm, observou-se uma

    maior concentrao em armadilhas localizadas no salo final. Resultado que difere

    de outros trabalhos, onde os Psychodidae, geralmente so encontrados prximos

    entrada (Trajano & Gnaspini-Netto, 1991). Esta alta concentrao deve-se,

    provavelmente, presena de larvas que podem estar utilizando o guano como uma

    fonte de alimento. um grupo comum para fauna caverncola, porm, sua biologia

    pouco conhecida, os trabalhos referentes a esta subfamlia so apenas de carter

    taxonmico (Bravo, 2003, Bravo et al., 2006).

    A Famlia Phoridae, na caverna, com maior aglomerao localizada no fim da

    galeria central. Possui uma ampla distribuio mundial tendo a maior diversidade

    nos trpicos (Disney, 1994). Apresentam habitats variados, entre os quais matria

    http://www.sel.barc.usda.gov

  • 39

    em decomposio e em fungos. Algumas espcies so parasitas ou comensais em

    ninhos de formigas, abelhas, vespas e cupins (Disney, 1994; Bragana & Medeiros,

    2006).

    A Famlia Streblidae formada por dpteros hematfagos ectoparasitos de

    morcegos. A maioria dos Streblidae, 62,5% das 251 espcies, ocorre

    exclusivamente no Novo Mundo. Apesar de extremamente adaptados ao hbito de

    vida parasitria, estes insetos so bastante mveis e aproximadamente 78% do total

    das espcies possuem asas funcionais (Rui & Graciolli, 2005). A presena desses

    insetos, na caverna foi registrada tanto na galeria principal, onde foram observadas

    inmeras colnias de morcegos, quanto em uma galeria menor tambm com a

    presena destes mamferos.

    Os representantes desta famlia so vivparos (Rui & Graciolli, 2005). No

    presente estudo tais insetos podem estar utilizando o guano como substrato para a

    postura das larvas e desenvolvimento das pupas, uma vez que adultos foram

    coletados em armadilhas de emergncia colocadas neste local.

    Durante a coleta, foi observado o ataque destes insetos em pessoas, o que

    tornava incmoda a entrada neste local.

    Entre os himenpteros coletados em armadilhas CDC, ocorreu a

    predominncia de Scelionidae, grupo considerado parasitides. Os insetos

    parasitides representam o grupo mais rico de espcies dentro da Ordem

    Hymenoptera. que so endoparasitos de ovos de insetos e aranhas. A larva

    parasitide mata o embrio hospedeiro completando seu desenvolvimento dentro do

    ovo (Masner, 1993; Marchiori et al., 2000). Na Caverna Refgio do Maruaga, dentre

    os dois morftipos encontrados, o sp.1 foi encontrado parasitando ovos de grilos

    sendo um indivduo parasitide por ovo (Figura 18). Pelo nmero de indivduos

    coletados, a caverna propicia condies ao desenvolvimento desses insetos, pois h

    um grande nmero de grilos presentes. O grande nmero de parasitides parece

    responder densidade das populaes de seus hospedeiros, o que essencial para

    manter o equilbrio ecolgico.

    Os Ptiliidae so colepteros de tamanho diminuto, vivem em madeira podre,

    esterco e fungos e esto amplamente distribudos. A presena dessa famlia em

    cavernas j foi anteriormente observada por Gnaspini & Trajano (1994). Na Caverna

    Refgio do Maruaga eles foram observados por todo interior e principalmente no

  • 40

    meio do guano, quando foi feito o processo de flotao, e coletados tambm na

    armadilha de emergncia.

    Todos os indivduos coletados em armadilhas CDC so insetos comuns em

    ambientes caverncolas, sendo coletados na maioria dos levantamentos realizados

    em cavernas e na regio amaznica (Trajano & Moreira, 1991).

    Com relao distribuio de famlias mais representativas no interior da

    Caverna Refgio do Maruaga, todas se mostraram distribudas por toda caverna,

    com uma pequena tendncia de algumas famlias a concentrar-se nas reas mais

    distantes da entrada. Os Chironomidae apresentam uma variao na distribuio ao

    longo da galeria central, desde a entrada at a ltima armadilha de coleta, localizada

    no salo final (Figura 10). O maior nmero de indivduos nas armadilhas prximas da

    entrada pode ser uma possvel contaminao

    do meio externo, com insetos

    atrados pela luz das armadilhas, apresentando uma leve diminuio nas armadilhas

    seguintes e voltando a aumentar nas armadilhas finais. Possivelmente esse

    resultado foi motivado pelo fluxo maior de gua dentro da caverna, nesse perodo de

    coletas, o igarap ocupava toda extenso da galeria nesses pontos, propiciando

    condies favorveis para o aumento de indivduos da populao.

    Os Streblidae no apresentam uma constncia na sua distribuio,

    possivelmente eles acompanharam a distribuio dos agrupamentos de morcegos,

    com um nmero maior de indivduos na armadilha 14, local onde a aglomerao

    desses mamferos maior (Figura 11).

    De um modo geral, todos os grupos mais abundantes apresentados nos

    grficos, no expressaram um forte padro de distribuio. Todas as famlias

    apresentaram uma distribuio por todo interior da caverna, desde a entrada at o

    salo final principal depsito de guano, algumas com um leve aumento no nmero

    de indivduos. Outros depsitos menores podem ser encontrados logo aps a

    entrada da caverna e em algumas galerias laterais menores. Segundo Trajano &

    Moreira (1991), as cavernas destacam-se pela grande biomassa caverncola, na

    forma de populaes numerosas, que se relaciona ao grande aporte de alimento sob

    a forma de guano de morcegos. Ferreira & Pompeu (1997) sugerem que a

    distribuio dos organismos no meio caverncola pode ser determinada por muitos

    fatores, dentre os quais disponibilidade de alimentos, corroborando com os dados

    apresentados. Nos locais onde o nmero de indivduos diminuiu, pode ser devido o

  • 41

    igarap cobrir toda superfcie da galeria nesse perodo de coleta, impossibilitando o

    depsito e permanncia do guano nesse percurso.

    Outras famlias alm das citadas acima, que foram coletadas em nmero

    menor de indivduos tambm so comuns, encontradas na fauna regional e tambm

    na fauna caverncola brasileira: dpteros das famlias Cecidomyidae, Hybotidae,

    Ceratopogonidae, Culicidae, Sciaridae, Tipulidae; Trichoptera, famlias

    Hydropsychidae e Leptoceridae; Hymenoptera, famlias Diapriidae e Formicidae

    (Pinto-da-Rocha, 1995).

    Para os insetos capturados em coleta manual, a maioria considerada

    predadores. A famlia Reduviidae (Heteroptera) composta por insetos predadores

    tpicos da regio de entrada, porm, algumas vezes podem colonizar zonas mais

    profundas das cavernas (Trajano, 1987, Trajano & Gnaspini-Netto, 1991). Os

    indivduos coletados pertencentes espcie Eidmannia guyanensis e subfamlia

    Peiratinae, encontravam-se na zona aftica e profunda no cho da caverna, sobre

    e/ou prximo de depsitos de guano de morcegos. Para melhorar o esforo de

    coleta, fora colocado gesso no fundo das armadilhas, o que demonstrou ser eficiente

    para captura desses espcimes (mtodo proposto por Sanhudo, 2006), pois essa

    espcie apresenta uma fossa esponjosa de quase 2/3 do comprimento da tbia, com

    isso facilita o rpido deslocamento em qualquer tipo de superfcie. Foram

    observados adultos predando grilos e praticando canibalismo em uma ninfa (Figura

    32). Nos estudos realizados em cavernas brasileiras, no havia sido observada a

    presena dessa espcie em ambiente caverncola. O nico registro desse gnero

    em cavidades foram exemplares da espcie E. attaphila associadas a formigas da

    espcie Atta sexdens (Tauber, 1934 in Coscarn, 1986).

    Figura 32: Predao por Eidmannia guyanensis observado na Caverna Refgio do Maruaga. A: predando ninfa da mesma espcie; B: predando grilo. Fotos: F.F. Xavier Filho, (A); W.S. Santos (B).

    A

    B

  • 42

    A espcie Pangeus moestus pertencente subfamlia Cydninae (famlia

    Cydnidae), apresentou uma distribuio abundante no interior da caverna sempre

    associado ao guano, foram observados adultos e ninfas de vrios nstares. So

    habitantes comuns em guanos de caverna, porm nada consta em relao aos

    hbitos alimentares dessa espcie nesse ambiente, apenas o registro de sua

    presena (Trajano, 1987, Gnaspini & Trajano, 1994). Em geral, as espcies de

    Cydnidae vivem enterradas no solo e se alimentam de razes de plantas, sendo

    consideradas em alguns casos, pragas de plantas cultivadas. Outras espcies se

    alimentam de sementes ou mesmo de frutos em desenvolvimento, at mesmo de

    flores, mas a maioria se nutre pela extrao da seiva das plantas diretamente do

    floema (Grazia et al., 2004).

    A caverna, devido falta de luminosidade, impossibilita o crescimento de

    vegetais, fonte de alimentao desses insetos. Esses espcimes foram encontrados

    na caverna, abaixo das colnias de morcegos, mesmo no banco de areia, parecendo

    existir uma relao direta com esses mamferos. No ltimo perodo de coleta foi

    observado um Cydnidae enterrando uma semente, possivelmente eles esto se

    alimentando com sementes e/ou pedaos de frutos que caem durante a alimentao

    dos morcegos. A morfologia dos espcimes coletados compatvel com as

    descries de Pangaeus moestus, proposta por Froeschner (1960). Dentre de

    Cydnidae outra subfamlia, Amnestinae, possui vrios registros de indivduos da

    espcie Amnestus subferrugineus (Westwood) abundante no guano de morcego em

    cavernas no Panam sugerindo que podem se alimentar de sementes (Caudell,

    1924, apud Schuh & Slater, 1995).

    Os grilos (Ensifera) foram encontrados no interior de todos os locais de

    coletas. Na Caverna Refgio do Maruaga eles foram abundantes principalmente

    sobre o depsito de areia e guano (salo final) e em diferentes estgios do ciclo de

    vida, desde jovens at adultos (machos e fmeas). Caverna Refgio do Maruaga

    apresenta condies favorveis (abrigo, alimentao, temperatura e umidade

    constante) para o desenvolvimento desses insetos que so considerados detritvoros

    e predadores (alguns indivduos foram observados praticando canibalismo) (Figura

    33). Alguns ovos foram encontrados com parasitides da famlia Scelionidae.

    Para a identificao, os indivduos foram encaminhados para especialista, o

    qual foi verificado o complexo flico para excluso do gnero Endecous, e aps

    consultar os trabalhos de Chopard (1956) e Desutter-Grandcolas & Otte (1997), que

  • 43

    trata de uma reviso de Amphiacusta, comparou as genitlias, chegando

    concluso que se trata realmente desse gnero, embora tenha verificado que as

    tgminas sejam um tanto diferente. Segundo Desutter-Grandcolas & Otte (1997), a

    sistemtica das espcies brasileiras de Amphiacusta bastante problemtica.

    As diferenas encontradas ao comparar os grilos com a caracterizao do

    gnero proposta por Desutter-Grandcolas & Otte (1997) foram:

    a) Os exemplares apresentam dois espores apicais na tbia II enquanto a chave de

    identificao Desutter-Grandcolas diz que h trs espinhos;

    b) As tgminas no muito reduzidas; embora possuam fileira de dentes

    estridulatrios e no se percebe a presena de nervuras as quais compem a

    harpa e o espelho.

    Diante do exposto, concluiu-se de que se trata de um Gryllidae, subfamlia

    Luzarinae, gnero Amphiacusta Saussure, 1874.

    O que difere nesses grilos que, na maioria dos trabalhos realizados em

    cavernas, o gnero mais comum o Endecous Saussure (Trajano, 1987), o que foi

    coletado nas localidades amostradas pertence ao gnero Amphiacusta Saussure,

    1874.

    Figura 33: Canibalismo por grilo observado no salo final da Caverna Refgio do Maruaga. Foto: R. B. Alencar

  • 44

    Na entrada da Caverna Refgio do Maruaga todos indivduos coletados de

    Amblypygi pertencem espcie Heterophrynus longicornis (Phrynidae). As espcies

    deste gnero habitam buraco de rvores, cavidades de rochas e cavernas. So

    predadores de hbito noturno e durante o dia se escondem em cavidades de

    grandes rvores e/ou casca de rvores. Suas presas consistem em insetos,

    pequenos lagartos e pequenos anuros (Weygoldt, 2002). Os amblipgeos foram

    observados no final da tarde, nas paredes da entrada da caverna at uma distncia

    de 10 m no seu interior, possivelmente estavam espera de presas.

    Os opilies foram encontrados na Gruta dos Animais e Gruta dos Lages,

    dentro de cavidades na parede, prximos s entradas.

    As aranhas coletadas do gnero Plato, foram encontradas nas paredes da

    caverna prximas ao cho. A maioria delas estava perto de suas ootecas, que se

    encontravam suspensas por fios de seda fixos na parede.

    Os geofilomorfos, espcimes plidos e de tamanho reduzido ( 1,5 cm), foram

    coletados do guano, durante o processo de flotao.

    Os caros abundantes no guano e extrados pela tcnica de Berlese,

    pertencem subordem Mesostigmata (Gamasida). Os indivduos dessa subordem

    so habitantes de solo, liteiras, hmus, onde se alimentam de nematides,

    microartrpodos, fungos e bactrias (Dindal, 1990). Indivduos dessa subordem

    foram citados anteriormente por Pinto-da-Rocha (1995) de estudos realizados no

    Paran e So Paulo.

    A presena da espcie Pachycondyla crassinoda (Formicidae) na caverna,

    possivelmente foi acidental, pois esses indivduos se encontravam isolados por gua

    em uma pequena poro de terra. Provavelmente elas caram junto com a terra da

    parte superior dessa galeria no salo final, vindo da parte externa da caverna.

    Apesar de no ser uma espcie muito comum em caverna, sua presena j foi citada

    em trabalhos realizados por Gnaspini &Trajano (1994) e Trajano & Moreira (1991).

    Para a fauna aqutica, a Famlia Veliidae foi observada por toda extenso do

    igarap, desde a entrada at o salo final da caverna. A presena e distribuio no

    interior da caverna do gnero Rhagovelia corrobora com dados apresentados por

    Trajano & Moreira (1991). Dytiscidae e Histeridae (Coleoptera) foram coletados na

    margem do igarap prximo ao guano. Os indivduos da Famlia

    Pseudothelphusidae e Palaeomonidae (Decapoda), foram encontrados no final da

  • 45

    caverna, sendo que os indivduos de Pseudothelphusidae estavam dentro de abrigos

    construdos na margem do igarap prximo ao guano e ao banco de areia.

    Na Gruta dos Animais, sete espcimes de Emesinae (Reduviidae) foram

    coletados nas paredes do seu interior. So macrpteros delicados, e o diagnstico

    confere com o gnero Phasmatocoris, porm difere das espcies revisadas por

    Wygodzinski, 1966.

    Na Gruta dos Lag