as diferentes abordagens do conceito de poder

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  • 7/26/2019 As diferentes abordagens do conceito de poder

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    VI Congresso de Estudantes de Ps-graduao em ComunicaoUERJ | UFF | UFRJ | PUC-RIO | FiocruzUniversidade do Estado do Rio de Janeiro,

    Rio de Janeiro. 23 a 25 de outubro de 2013.

    www.conecorio.org 1

    As diferentes abordagens do conceito de poder:1

    um estudo comparativo entre Weber, Hannah Arendt, Habermas, Foucault eBourdieu.

    Resumo

    Este artigo discute as diferentes abordagens de poder em Hannah Arendt, Weber,Habermas, Foucault e Bourdieu. Propoe a desconstruir a tradicao classica,concebendo novas perspectivas para a teoria politica, que permitem novas abordagens

    do conceito de poder, e consequentemente novas abordagens dos fenomenos politicoscomo um todo.

    Palavras-chave:poder; comunicao; violncia; liberdade; ideologia.

    Introduo

    Cotidianamente, nas colunas polticas de jornais, nos deparamos com as

    seguintes frases: MP pede cassao de prefeito por abuso de poder, ou ainda, nos

    deparamos com frases folclricas como do ex-governador de Minas Gerais, Benedito

    Valadares, Poder nomear e demitir; prender e soltar. Segundo Norberto Bobbio

    (1986, s.p.), a Cincia Poltica tem como objeto de estudo os fenmenos polticos,

    particularmente as questes relativas ao poder, procurando examinar criteriosamente

    os fatos, atendo-se no s descrio como tambm explicao destes fenmenos.

    Todavia, nos ltimos anos, verifica-se poucas iniciativas de se travar novos

    questionamentos, novas perspectivas tericas que permitam ir alm de uma concepo

    de poder j legitimada no campo da Cincia Poltica. Verifica-se, atualmente, no

    campo da Cincia Poltica, crescentes estudos relacionados as formas de participao

    poltica, do processo decisrio do voto, e do crescente uso de tecnologias da

    informao na difuso e formao do pensamento poltico. Mas, faltam estudos que

    apresentem novas abordagens, ou ainda, novas perspectivas de se entender o que , e

    como se manifesta o poder, ou, as relaes de poder, e que permitiriam perceber os

    fenmenos polticos atravs de novas lentes.

    1 Trabalho apresentado no GT Discurso e Poder do VI Congresso de Estudantes de Ps-Graduaoem Comunicao, na categoria ps-graduao. UERJ, Rio de Janeiro, outubro de 2013.

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    Este artigo, caracteriza-se, portanto, como uma tentativa de se mapear

    diferentes abordagens do conceito de poder, que podem servir como base terica para

    novas explicaes de diversos fenmenos que permeiam aprxispoltica.

    A tradio

    Segundo Karlfriedrich Herb (2013, P.268), no mundo dos conceitos o poder

    tem sempre uma concorrente: a violncia. No contexto Alemo, a palavra poder tem

    sua origem nas formas verbais Knnen e Vermgen (poder e ser capaz). Violncia

    (Gewalt) derivada do verbo walten(reinar) e significa algo como ter fora, dispor

    sobre alguma coisa ou reger. Desde ento, de acordo com Herb (2013, p. 268), poder

    e violncia encontram-se numa luta acerca da supremacia conceitual com algumas

    vantagens do lado do poder. Entretanto, algumas vezes eles so usados

    indistintamente, e ocupam o mesmo campo semntico. Encontra-se nesse dilema

    conceitual uma indeciso, e como sempre, atrs de tal indeciso h um grave

    problema filosfico (Herb, 2013).Quando deliberamos sobre poder, falamos sem inibio de violncia (Herb,

    2013). Numa tacada, definimos concentrao de poder e monoplio legtimo da

    violncia. A monopolizao da fora a condio necessria para que exista o Estado

    no sentido moderno da palavra, mesmo que no seja condio suficiente. O Estado ,

    portanto, o detentor exclusivo do poder coativo.

    A tradio clssica do pensamento poltico retoma idealmente explicao

    que Hobbes d ao Estado como produto da renncia que os homens, no estado denaturezaguerra de todos contra todos estabelecem partir de um pacto social,

    buscando a garantia da autopreservao individual e da paz social. O contrato se

    apresenta como a nica sada possvel: ele monopoliza o poder na mo do soberano.

    O poder serve aqui a um propsito positivo: ele domina o medo de uns diante dos

    outros e pacfica suas relaes.

    Alm da herana deixada por Hobbes, Max Weber elaborou uma definio de

    poder que se tornou claramente hegemnica. Sociologicamente, segundo Max Webero Estado no se deixa definir por seus fins, e sim pelos seus meios. Todo Estado se

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    funda na fora, assim como todo agrupamento poltico. A violncia fsica tida como

    um instrumento normal do poder.

    Concebe, portanto, o Estado contemporneo como uma comunidade humana

    que, dentro dos limites de determinado territrio reivindica o monoplio do uso

    legtimo da violncia fsica. E consequentemente, entende por poltica o conjunto de

    esforos feitos com vistas a participar do poder ou a influenciar a diviso do poder,

    seja entre Estados, seja no interior de um nico Estado. O Estado consiste, ento, em

    uma relao de dominao do homem sobre o homem, fundada na violncia legtima.

    Ele s pode existir, entretanto, sob condio de que os homens dominados se

    submetam autoridade continuamente reivindicada pelos dominadores.

    Para explicar a relao de dominao, Max Weber estabelece trs razes que

    justificam a dominao, existindo, portanto, trs fundamentos da legitimidade, de

    poder:

    1.

    Poder tradicional que o patriarca ou senhor de terras, outrora, exercia. aautoridade do passadoeterno, isto , dos costumes santificados, pela validez

    imemoral, e pelo hbito, enraizado nos homens de respeit-lo.

    2. Poder carismtico a autoridade que se funda em dons pessoais e

    extraordinrios de um indivduo (carisma). Devoo e confiana estritamente

    pessoais depositadas em algum que se singulariza por qualidades prodigiosas,

    por herosmo ou por outras qualidades exemplares que fazem dele fazem o

    chefe.3. Poder legal a autoridade que se impe em razo da legalidade, em razo

    da crena ou da validez de um estatuto legal e de uma competncia positiva,

    fundada em regras racionalmente estabelecidas ou, em outros termos, a

    autoridade fundada na obedincia, que reconhece obrigaes conforme o

    estatuto estabelecido.

    Max Weber define o poder como a possibilidade de impor a prpria vontade

    ao comportamento alheio. Parte de um modelo teleolgico da ao: um sujeitoindividual (ou um grupo, que pode ser considerado como um indivduo) se prope um

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    objetivo e escolhe os meios apropriados para realiz-lo. O sucesso da ao consiste

    em provocar no mundo um estado de coisas que corresponda ao objetivo proposto.

    Assim, o sucesso depende do comportamento do outro sujeito, e, portanto, deve o

    sujeito deter meios que induzam no outro o comportamento desejado. essa

    capacidade de disposio sobre os meios que permitem influenciar a vontade de

    outrem que Max Weber denomina como poder (Habermas, ).

    Percebemos, portanto, o poder poltico de preferncia nas mos do Estado,

    perante o qual no sentimos tanto medo. Afinal, a autoridade do Estado, como todas

    as constituies modernas asseguram, provm de ns, o povo. Apesar disso, sempre

    temos alguma desconfiana do poder (Herb, 2013).

    A contra-tradio

    Contrapondo totalmente com a noo weberiana de poder, Hanna Arendt entra

    em cena com uma nova velha forma de se pensar a relao de poder. Na tentativa

    de romper com a imprecisa relao entre poder e violncia, Hannah Arendt coloca emjogo uma nova varivel, a ao comunicativa, que se ope diretamente a ao

    estratgicamodelo teleolgico da ao - idealizada por Weber.

    A noo de poder defendida por Hannah Arendt est ancorada, inicialmente,

    na distino entre o mundo poltico e o mundo social, entre a esfera pblica e a esfera

    privada. Arendt retoma uma outra tradio do pensamento poltico, qual seja, a greco-

    romana. Segundo o pensamento grego, a capacidade humana de organizao poltica

    no apenas difere, mas diretamente oposta a essa associao natural cujo centro constitudo pela casa (oikia) e pela famlia. O surgimento da cidade-estado significava

    que o homem recebera alm de sua vida privada, uma espcie de segunda vida, o

    seu bios politikos. Agora cada cidado pertence a duas ordens de existncia; e h uma

    grande diferena entre o que lhe prprio (idion) e o que lhe comum (koinon)

    (Arendt, 2007).

    Assim, a noo de esfera pblica pode ser vista apenas como o lugar em que

    se reflete o que h de comum entre todos os homens e no os seus lugares especficosno mundo (Arendt, 2007), o espao em que permeia a igualdade e no a desigualdade,

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    o espao da divergncia, mas no do conflito, do dilogo, mas no do domnio.

    Arendt (2001, s.p.) qualifica o mundo social de pr-poltico e o mundo poltico como

    um espao habitado apenas por indivduos socialmente indeterminados.

    Para Hannah Arendt, o poder resulta da capacidade humana, no somente de

    agir ou de fazer algo, como unir-se a outros e atuar em concordncia com eles. O

    fenmeno fundamental do poder no consiste na instrumentalizao da vontade alheia

    para os prprios fins, mas na formao de uma vontade comum, numa comunicao

    orientada para o entendimento recproco (Habermas, 1993). Portanto, o poder origina-

    se do fato de que os participantes orientam-se para o entendimento recproco e no

    para o seu prprio sucesso.

    Ainda, preciso ter em mente que o poder uma ao em concerto que funda

    uma dada comunidade. Arendt (2002, s.p) busca a manifestao mais originria do

    fenmeno poltico. E neste ato fundacional, do qual todos participam em condies

    de igualdade, que reside a legitimidade do poder. O poder, sendo uma ao poltica,

    um fim em si mesmo, cujo sentido ltimo sempre a interao entre os homens, opoder no pode ser avaliado pelo seu trabalho final, apenas valorizado por si (Arendt,

    2002)

    Arendt, portanto, critica a teoria poltica tradicional devido assimilao dos

    termos poder e violncia. Para ela, poder e violncia so opostos, onde um domina o

    outro est ausente. Todavia, essa distino seria insuficiente, pois no daria conta de

    outras dimenses da realidade. Segundo a autora, a ausncia dessas categorias, que

    permite analisar a realidade, um triste reflexo do atual estado dacincia poltica(Arendt, 1989).

    Tentando resolver o que Herb (2003, s.p.) chamou de grande impasse

    filosfico, Hannah Arendt, distingue violncia e poder de fora, vigor e autoridade. O

    conceito de vigor descreve uma realidade essencialmente individual - no poltica -

    inerente a uma coisa ou a uma pessoa. O vigor pode ser sempre uma ameaa ao poder.

    J fora, refere-se aos impactos coletivos que os movimentos sociais podem gera

    sobre a sociedade e sobre o fenmeno do poder. E, violncia, mais prxima do

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    conceito de vigor, no caracteriza nenhum ato coativo, mas apenas aqueles que

    operam sobre o corpo fsico do oponente, matando-o, violando-o.

    Por fim, o conceito de autoridade, segundo Hannah Arendt, descreve o

    conceito mais enganoso dos fenmenos polticos, pois descreve uma realidade

    aparentemente paradoxal. De um lado, descreve uma relao hierrquica, de mando e

    obedincia. Entretanto, no descreve uma relao de violncia. Por outro lado, no

    opera por meio da persuaso, pois no uma relao igualitria, mas sim

    hierarquizada, quem obedece, o faz por respeito. Nesse sentindo, portanto, o poder

    funda, ou legitima a autoridade.

    Contudo, apesar trazer para o campo da teoria poltica uma nova alternativa de

    se pensar a realidade poltica, as relaes de poder, Hannah Arendt, no foi capaz de

    solucionar esse grande impasse. Sua teoria tambm passvel de criticas.

    O pensamento de Hannah Arendt trafega entre dois pontos, poder e violncia.

    Eis, portanto, um pensamento dicotmico, que exclui de sua anlise uns sem-nmeros

    de relaes sociais que permeiam o mundo poltico, que no so caracterizadas peloconsentimento ou pela violncia, e sim pela luta em torno de interesses conflitantes. E

    nesse sentido valida a crtica de Habermas de que:

    (...) mesmo que a liderana nas modernas democracias tenhaque periodicamente procurar legitimidade, a histria est repletade evidncias que mostram que a direo poltica deve terfuncionado, e funciona, de forma diferente da sugerida porArendt. Certamente, um ponto a favor de sua tese o fato deque a direo poltica s pode durar na condio de ser

    reconhecida como legtima. um ponto contra sua tese o fatode que as instituies e estruturas bsicas que so estabilizadaspor meio da direo poltica poderiam apenas em casos rarosser a expresso de uma opinio sobre a qual muitos estavam

    publicamente de acordo ao menos se se tem, como HannahArendt, um conceito forte de espao pblico. (1986, p.88).

    necessrio, portanto, pensar em novos conceitos que expliquem essa

    realidade, indo alm da teoria cunhada pela tradio do pensamento poltico e por

    Hannah Arendt. necessrio conceituar as relaes de poder de maneira maisrealista, isto , mais aplicvel sociedade.

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    Um possvel consenso

    O que at ento era tido como vises opostas, a tradicional teoria poltica e a

    teoria de Arendt, apresentado por Habermas como a relao de poder e suas

    espcies. Ele afirma a relao complementar entre o poder gerado no mundo da vida e

    aquele referente ao mundo sistmico, relao mediada atravs do direito. Segundo

    Habermas, o poder poltico no pode ser considerado apenas em seus aspectos

    comunicativos, assim como tambm no pode ser pensado apenas como resultante de

    uma ao estratgica.

    De acordo com Habermas, no caso do poltico, sua posse condicionada por

    um processo de competio, portanto, sua aquisio orientada atravs da ao

    estratgica. A ao estratgica se manifesta, nesse sentido, nas lutas pelo poder, na

    concorrncia por posies vinculadas ao poder legtimo (Habermas, 1993).

    Todavia, ainda de acordo com Habermas (1993, s.p), ao priorizar o modelo

    teleolgico da ao na conceituao do poder, ignora-se a sua natureza. Apesar de opoder ser um bem disputado por grupos polticos, este poder preexiste, e no

    produzido por tais grupos e lideranas (Habermas, 1993). O poder concebido

    atravs dos aspectos comunicativos de sua natureza. Assim, para ele, os modelos de

    ao no se anulam, pois sem a gerao do poder, no h como coloca-lo em prtica.

    A ao estratgica se encontra em situao parasitria em relao ao

    comunicativa, pois retira desta sua justificao. Ao mesmo tempo em que o poder

    gerado por uma fora proveniente da unio entre indivduos que buscam oentendimento, a sua manuteno e exerccio dependem de uma noo teleolgica

    capaz de colocar objetivos que solucionem os problemas levantados no momento da

    comunicao (Habermas, 1993).

    Todavia, antes de conceituar a relao de poder, Habermas props uma

    mudana de paradigma, a partir do abandono de uma viso egocntrica do mundo,

    fundamentando-se no conceito de descentralizao de Piaget. Segundo Habermas, e

    diferentemente de Hannah Arendt, os atores comunicativos movem-se por meio deuma linguagem natural, valendo-se de interpretaes culturalmente transmitidas e

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    referem-se a algo simultaneamente em um mundo objetivo, em um mundo social

    comum e em seu prprio mundo subjetivo (Habermas, 1993).

    Habermas acredita que, na estrutura da linguagem cotidiana, est embutida

    uma exigncia da racionalidade, pois com a primeira frase proferida, o homem j

    manifestava uma pretenso de ser compreendido (Arago, 1992). Sua teoria est

    embutida de uma herana iluminista ora acredita no potencial libertador da razo.

    Compreende o fenmeno da comunicao como inerente condio humana. O

    aspecto central da teoria de Habermas est nessa confiana na capacidade das pessoas,

    argumentando construrem consensos verdadeiros em condies de liberdade. Sugere,

    mesmo que no explicitamente uma forma de atuao poltica expandindo a ao

    comunicativa, de forma a restringir a importncia das aes estratgicas que se

    desenvolvem no mbito do sistema (Estado e Economia).

    A teoria de Habermas prope um novo paradigma para se compreender a

    relao dicotmica entre comunicao e ao estratgica, e consequentemente um

    novo paradigma para se compreender as relaes de poder. Entretanto, uma obraque ainda se depara com limitaes, tanto por uma recusa de um carter histrico e

    social da razo, e consequentemente da verdade; quanto por, consequentemente,

    conceber as relaes de poder apenas no mbito das instituies estatais.

    Novas perspectivas para o campo da Teoria Poltica

    Rompendo com a verdadeira tradio do pensamento poltico, a tradio de se

    perceber o poder pelas vias das instituies estatais, Michel Foucault e PierreBourdieu, contribuem com a percepo das relaes de poder para alm das relaes

    vinculadas economia e ao Estado. Tanto Bourdieu quanto Michel Foucault foram

    professores do Collge de France, e se encontravam regularmente visto que eram

    amigos. Ambos partilhavam interesses tanto em relao ao campo em que

    trabalhavam quanto sobre questes de intervenes polticas. Contudo, ambos eram

    completamente diferentes em termos de backgrounds, da posio que ocupavam no

    campo, do estilo de vida intelectual, do posicionamento epistemolgico, etc .

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    Diferentemente de Bourdieu, Foucault nunca teve a pretenso de elaborar uma

    teoria acerca do poder. O poder nunca foi seu objeto de estudo. No entanto, a temtica

    poder se estende por toda sua obra, sob as mais variadas formas, surgindo como um

    problema metodolgico. Foucault est interessado no modo pelo qual o poder se

    exerce.

    Foucault parte de uma abordagem histrica, cunhando tanto o termo Poder

    disciplinar quanto o termo Biopoder. Ambos, de fato possuem focos, meios e pontos

    de aplicao diferentes. Entretanto, partilham o mesmo ncleo, ao afastar a noo de

    poder do eixo tradicional, o conceito de poder se afasta da ideia de represso e de lei

    tornando-se emancipatrio, relacionando-se a condio de liberdade. Foucault

    percebe o poder enquanto produtividade, enquanto produto do conhecimento. Afasta-

    se, portanto das compreenses ideolgicas do poder, aproximando-se da concepo de

    saber. O que esta na base do poder so os instrumentos de formao e acmulo de

    saber (1983, s.p.).

    Diferencia-se de Habermas ao dizer que o poder institucionaliza a verdade.Segundo Foucault (1983, s.p), somos submetidos pelo poder a produo da verdade e

    s podemos exercer o poder mediante a produo da verdade. E nesse sentido so os

    discursos verdadeiros que julgam, condenam, classificam, obrigam e coagem. Nesse

    sentido, a prtica discursiva introduz qualquer coisa no jogo do verdadeiro e do falso

    constituindo-se como objeto para o pensamento. E nesse sentido que, para Foucault,

    a verdade e a subjetividade foram indexadas para a produo da obedencia e da

    verdade.Entretanto, para Bourdieu as relacoes de poder vo para alm de performaces e

    discursos. Segundo Bourdieu (1997, s.p.) o discurso nao so no provoca a ao como

    no a explica, como nem sequer explica a si prprio. Busca, portanto, no campo das

    divergncias de interesses ou hbitos mentais entre indivduos o princpio explicativo

    daquilo que acontece no "campo das possibilidades" estratgicas.

    Bourdieu defini um novo conceito de poder, o poder simbolico, um poder

    invisivel o qual so pode ser exercido como a cumplicidade daqueles que nao queremsaber que lhes estao sujeitos ou mesmo que o exercem (2010, s.p.). Bourdieu defende

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    uma abordagem que transcede a dicotomia entre o interno e o externo, entre o saber e

    o poder. Abarca o agente tanto quanto a estrutura, o discurso e a acao, respeitando nao

    so suas logicas diferentes como tambem antagonistas.

    Bourdieu (2004, s.p.) tem como base de seu conceito de poder a construcao do

    conceito de campo e habitus que se constituem respectivamente de uma estrutura

    social e de esquemas de percepcao, pensamento e acao. O poder opera no campo,

    portanto, atraves da violencia simbolica, culminando num processo de reproducao

    social entre dominantes e dominados.

    ARAGO, L.M. de C. Razo Comunicativa e teoria social crtica em Jurgen

    Habermas. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1992.

    ARENDT, Hannah. Origens do Totalitarismo. So Paulo: Companhia das Letras,

    1989.

    ________________ A condio humana. Rio de Janeiro: Forense Universitria, 2007.

    ________________ O que poltica. Rio de Janeiro: Bertharnd Brasil, 2002.BOURDIEU, Pierre. O poder simblico. Rio de Janeiro: Bertharnd Brasil, 2010.

    ________________ Razes Prticas: sobre a teoria da ao. Rio de Janeiro: Celta

    editora, 1997.

    ________________Coisas Ditas. Rio de Janeiro: editora Brasiliense, 2004.

    FOUCAULT, Michel. Vigiar e Punir. Petrpolis: Vozes, 2011.

    ________________O sujeito e o poder in RABINOW, Paul e DREYFUS, Hubert.

    Michel Foucault. Uma trajetria filosfica. Para alm do estruturalismo e dahermenutica. Rio de Janeiro: Forense Universitria, 1995.

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    _______________ A histria da sexualidade, volume 1: A vontade de saber. Rio de

    Janeiro: Graal, 2001.

    HABERMAS, Jurgen. The theory of communicative action. Vol 2. Lifeworld and

    sistem: A crithique offunctionalist reason. Boston: Beacon Press, 1987.

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