as representaÇÕes da moda pela telenovelaww2.faculdadescearenses.edu.br/biblioteca/tcc/jor/as...
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CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ
FACULDADE CEARENSE
COMUNICAÇÃO SOCIAL – HABILITAÇÃO EM JORNALISMO
AMANDA PESSOA BARBOSA
AS REPRESENTAÇÕES DA MODA PELA TELENOVELA:
ANÁLISE COMPARATIVA DAS VERSÕES DE TITITI
FORTALEZA-CE
2012
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AMANDA PESSOA BARBOSA
AS REPRESENTAÇÕES DA MODA PELA TELENOVELA:
ANÁLISE COMPARATIVA DAS VERSÕES DE TITITI
Monografia submetida à aprovação da Coordenação do Centro de Ensino Superior do Ceará, mantenedora da Faculdade Cearense (FAC), como requisito para obtenção do grau de Bacharel em Comunicação Social, com habilitação em Jornalismo.
Orientação: Profª Klycia Fontenele Oliveira
FORTALEZA-CE
2012
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AMANDA PESSOA BARBOSA
AS REPRESENTAÇÕES DA MODA PELA TELENOVELA:
ANÁLISE COMPARATIVA DAS VERSÕES DE TITITI
Monografia como pré-requisito para obtenção do grau de Bacharel em Comunicação Social, com habilitação em Jornalismo, outorgado pela Faculdade Cearense – FaC, tendo sido aprovada pela banca examinadora composta pelos professores. Data de aprovação: 18/12/12.
BANCA EXAMINADORA
Professora: Klycia Fontenele Oliveira
Professor: Jaymes Alencar
Professora: Luana Amorin
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Dedico à minha filha, Ana Lívia Barbosa, para quem deixo meu legado.
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AGRADECIMENTOS
Primeiramente, agradeço a Deus por ter-me concedido sabedoria,
paciência e persistência para não desistir quando tudo parecia não dar certo.
Agradeço à minha mãe, Neuda Pessoa, pelo cuidado durante todos os dias da
minha vida. Eu sei que a conclusão deste trabalho é de igual orgulho para mim e
para ela.
Às minhas amigas e companheiras de faculdade, Patricy Damasceno,
Sabrina Soares e Emillian Ferreira. Com as quais dividi todas as dificuldades e
anseios durante o trabalho, espelhando uma na outra para prosseguir e chegar até a
conclusão.
Para a minha orientadora, Klycia Fontenele, o meu muito obrigada pela
colaboração, acompanhamento e por sempre se mostrar solícita para tirar minhas
dúvidas.
Aos amigos, em especial Mickaelly Linhares, Carolina Almeida e Dona
Aparecida, pelo incentivo e preocupação de sempre.
Agradeço, por fim, a Udy Ferreira por sempre me ouvir nos momentos de
fraqueza, pelos conselhos, pela ajuda técnica, por ser incentivador e colaborador
para a não desistência deste trabalho.
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RESUMO
Este trabalho tem por faz uma comparação entre as duas versões da telenovela Tititi: a original, de 1985, e o remake, de 2010, analisando a representação da moda na telenovela como influenciadora de tendências e na composição do contexto social. No decorrer dos anos, a moda foi se modernizando e tornando-se um dos principais aspectos da sociedade, vivendo de mudanças constantes em suas cores, formas e tecidos, utilizados para criar as tendências (DWYER, 2004). A moda encontrou na mídia a ferramenta necessária para sua promoção, inserida como uma instituição na vida dos brasileiros (LOPES, 2002). Realizando uma pesquisa histórica para compreender como a telenovela é mídia difusora da moda. O gênero da telenovela, por meio de seus personagens, lança tendências, tendo a intenção de melhor representar a sociedade na qual a história é contada. Os figurinos, capazes de lançar moda, são peças fundamentais para dar características aos personagens, constatados por analise documental. É por meio deles que as tendências são inseridas no público. O estudo, aqui realizado, faz uma análise comparativa dos figurinos das versões para entender como a telenovela representa a moda de cada época.
Palavras-chave: Moda. Telenovela. Figurino. Ti ti ti
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ABSTRACT
This study is a comparison between the two versions of the telenovela Tititi: the
original, 1985, and the remake from 2010, analyzing the representation of fashion in
the soap opera as influential trends and composition of social context. Over the
years, fashion was modernizing and becoming one of the major aspects of society,
living in constant changes in their colors, shapes and fabrics used to create trends
(DWYER, 2004). The fashion found in the media necessary tool for its promotion,
entered as an institution in the lives of Brazilians (LOPES, 2002). Conducting
historical research to understand how the telenovela is diffusive media fashion. The
genre of the telenovela, through his characters, sets trends, with the intent to better
represent the society in which the story is told. The costumes, able to launch fashion,
are fundamental characteristics to give the characters, discovered by documentary
analysis. It is through them that the trends are inserted in public. The study, carried
out here, makes a comparative analysis of the patterns of versions to understand
how the telenovela is the fashion of every season.
Keywords: Fashion. Opera. Costumes. Ti ti ti
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO.................................................................................... 8
1 MODA E CULTURA............................................................................ 10
1.1 Moda para satisfazer desejos.............................................................. 10
1.2 A moda como cultura........................................................................... 13
1.3 A moda brasileira: da cópia ao estilo próprio ..................................... 16
1.4 A moda na mídia: o palco do espetáculo da moda ............................ 19
2 TELEVISÃO E TELENOVELA .......................................................... 24
2.1 Televisão: o Brasil se vê aqui ............................................................. 25
2.2 Telenovela: paixão nacional ............................................................... 29
2.3 Telenovela e moda: figurinos que criam tendências .......................... 34
3 A ANÁLISE........................................................................................ 38
3.1 Metodologia ........................................................................................ 38
3.2 Sinopse da telenovela Ti Ti ti: versão original e remake .................... 40
3.3 Figurinos dos personagens ................................................................ 47
3.3.1 Jacques Leclair .................................................................................. 52
3.3.2 Victor Valentin .................................................................................... 54
CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................. 57
REFERÊNCIAS.................................................................................. 59
ANEXOS ........................................................................................... 63
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INTRODUÇÃO
O tema abordado neste trabalho é a relação da moda na telenovela como
influenciadora de tendências e na composição do contexto social. Partindo do
entendimento de que moda é um fenômeno sociocultural que analisa as mudanças
ocorridas no passado e no presente (POZATTO, 2008), compreendemos a
importância da moda como fonte de conhecimento histórico.
Trabalhamos com as épocas 1980 e 2000, bastante significativas para a
formação cultural da moda. Em 1980, onde muitos estilos foram criados, o Brasil
passava por um momento de ascensão dos estilistas. Esta época ficou conhecida
como a década dos estilistas, ressaltando o marketing, proporcionando o sucesso e,
decorrente disso, uma disputa entre eles (IGNÁCIO, 2009). Os anos 2000, época
impulsionada por uma grande diversidade cultural, permitindo que a moda fosse
praticamente reinventada anualmente, recebendo influências do mundo todo em
uma velocidade e dinamismo nunca vistos até o momento1.
A telenovela Tititi, escrita originalmente por Cassiano Gabus Mendes
(1978) e adaptada por Maria Adelaide Amaral (2010), possui o enredo voltado para o
mundo da moda, motivo pelo qual foi escolhida como objeto de estudo deste
trabalho.
A análise, feita a partir da telenovela é para entender como o gênero faz
uso da moda e da vida social para compor seu enredo, chegando até a influenciá-la.
Entendemos que o assunto é relevante socialmente, pois trata de temas como
moda, cultura, mídia e telenovela, que acabam por entusiasmar as pessoas, como
apresentaremos no decorrer dos capítulos.
Verificando a relevância social que as telenovelas possuem, trazemos
para esse trabalho a problematização dos discursos sobre a moda e a cultura
transmitidos pela telenovela (popularmente, chamada novela). Segundo Ferreira
(2010), a novela é um dos principais produtos da televisão brasileira, possuindo a
capacidade de atingir um maior número de pessoas e as mais variadas classes
sociais, tornando-se o meio prático para a difusão de conteúdos em todo o país. No
artigo de Fernandes (2010), ele aponta que há anos assistir a telenovelas se tornou
um hábito popular na sociedade brasileira. Antes, como radionovelas e, desde 1964,
1 Informações disponíveis em: . Acesso em: 06/12/2012.
http://fernandaedarcycerc2010.blogspot.com.br/2010/04/moda-anos-2000.htmlhttp://fernandaedarcycerc2010.blogspot.com.br/2010/04/moda-anos-2000.html
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em formato televisivo, quando foi exibida “Direito de Nascer”, do cubano Felix
Caignet.
Ao longo do tempo, a telenovela sofreu adaptações, precisando adequar-
se conforme as mudanças. De acordo com Ferreira (2010), novela é um produto
criado para atender um mercado, a sociedade, e precisa representar suas
necessidades. “Não podemos esquecer que a novela, por maiores que sejam
nossas ambições artísticas, é um produto.” (NOGUEIRA, 2008, p.119).
Partindo da curiosidade em analisar a moda em diferentes épocas,
observando que atualmente muitas influências da década de 1980 tem caracterizado
a moda, buscamos no passado subsídios para compreender as referências que
compõem o estilo dos anos 2000. Para tanto, pesquisamos como foi construído o
enredo da trama e a representação da mensagem transmitida pelos autores,
analisando a participação da mídia para a difusão da moda. Segundo Ferreira
(2010), essa mídia é composta pelos meios de comunicação de massa,
responsáveis pelo acúmulo e aceleramento da cultura.
De acordo com o pesquisador Peret (2005), a telenovela não somente é
um gênero na programação da televisão, mas um produto complexo e dinâmico da
cultura proveniente desses meios de comunicação e ao longo da história foi se
modificando, utilizando técnicas, conceitos e uma linguagem própria para tratar de
assuntos atuais.
A viabilidade desta pesquisa se justifica por abordar um assunto que
permanece sempre atual e em constante renovação. Dessa maneira, pesquisando
sobre as mudanças da moda que refletem na cultura e no comportamento da
sociedade, analisamos os capítulos das duas versões da novela para verificar a
moda, comportamento, tecnologia e o que mudou de uma para a outra verificando
como a moda alterou e a telenovela colaborou.
Assim, a televisão nos leva a pensar sobre a sociedade, apostando que
existe uma relação entre o conteúdo que é produzido e a sociedade que o produz.
Levando a compreender algumas atitudes da sociedade brasileira.
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1 MODA E CULTURA
Seguindo os passos da humanidade, a moda passou por momentos de
glória e de crise e muitas vezes foram questionadas. Logo em seguida, se
reinventava e ressurgia mais forte (BARROS, 2009,apud PEZZOLO, 2009).
A moda é um fenômeno sociocultural capaz de traduzir, por meio de suas
mudanças, a expressão dos povos ligada a costumes, arte e economia.
Particularizando cada momento histórico, analisa as transformações do passado e
do presente (PEZZOLO, 2009).
Neste capítulo, abordam-se questões sobre a interação da moda com a
cultura e como ela comunica; a moda feita no Brasil, suas inspirações. Ao final, uma
abordagem sobre a estreita relação da moda com a mídia.
Essas abordagens se fazem necessárias para melhor compreensão do
desenvolvimento do trabalho que analisa a utilização da moda, através dos
vestuários e sua relação com o enredo da telenovela Ti ti ti - em sua versão original
de 1985 e seu remake de 2010 – para retratar as sociedades de cada época.
Para fazer esta análise, dialogamos com os autores Dwyer, Trinca,
Thompson, Neira e Braga. Os autores Costa, Procati, Pezzolo, publicações de
revista de Carmen Guerreiro e informações do site Memória Globo também
colaboram com suas reflexões.
1.1 Moda para satisfazer os desejos
O termo moda possui uma variedade de determinações que estão ligadas
a mercadorias e produtos, como alimentação, comida, móveis, citando alguns.
Entretanto, o domínio mais utilizado para o termo é para definir vestuário, que
incluem sapatos, roupas, acessórios, dentre outros. Trabalhando nesse sentindo,
conceituamos o termo como “alteração de formas, uso de novos tecidos, novas
matérias-primas etc., sugeridos para a indumentária humana por costureiros e
figurinistas de renome.” (TRINCA, 2004, p. 48).
Mas, nem sempre o termo foi reconhecido dessa maneira. Segundo
Trinca (2004), no início da Idade Média, a roupa utilizada era vista somente como
vestimenta. No período do Renascimento, a roupa passa a delimitar classes sociais.
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Somente na segunda metade do século XX é que a moda e seus acessórios se
consolidam como item do consumo de massa.
O fenômeno moda, tal como conhecemos, com sua lógica serial, seus mecanismos de obsolescência e sua constante renovação de cores, modelos e tecidos efetivou-se enquanto consumo de massa somente na metade do século XX. No início de seu surgimento, que ocorreu no Ocidente no período do Renascimento, a moda limitava-se à Corte, e era utilizada como ornamento diferenciador e distanciador entre nobreza e as camadas burguesas (TRINCA, 2004, p. 48).
Para constituir seu mercado, a moda se alia aos desejos dos indivíduos.
Desse modo, quando o indivíduo se identifica com o produto passa a querê-lo não
por necessidade.
[...] quando a necessidade não era apenas o motivo para querer um produto, mas agora também o desejo de ter para se satisfazer. Foi então quando a moda começou a mostrar suas características “com suas metamorfoses incessantes, seus movimentos bruscos, suas extravagâncias” (LIPOVETSKY, 2008, p. 23, apud COSTA, 2012, p. 11).
Existem outras forças aliadas ao “fenômeno moda”, além do processo
capitalista, que força a necessidade nos indivíduos para que ele possa expandir
social e economicamente (TRINCA, 2004). Outra força seria a comunicação, que
possui um importante papel para o aumento do consumo, utilizando ferramentas
para atrair o consumidor (PROCATI, 2011).
Devido a isso, são formados dois modelos de consumidores de moda, os
que buscam “pela individualidade e a necessidade de integração social, sendo que
uma complementa a outra e é difícil visualizá-las isoladamente” e a outra “cujo lugar
central se daria através dos diversos meios de comunicação e interação,
estimulando-os a consumir não só para satisfazer necessidades básicas e marcar
posições sociais, mas para se construírem, via consumo, como sujeito” (PROCATI,
2011, p. 10).
Dentre esses diversos meios de comunicação, o de grande destaque é a
televisão, especialmente através das telenovelas, que lançam moda com os
figurinos e acessórios usados por seus personagens. Como exemplo temos a venda
do batom Boka-Loka, usado na novela Ti ti ti, de 1985, que foi sucesso de vendas.
Assim como no remake de 2010, a novela relançou a moda dos macacões, usados
pelas personagens, a peça era tendência e muito usada entre as mulheres na vida
real.
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A indústria da moda é articulada desde o início do século XIX, quando,
segundo Trinca (2004), a Revolução Industrial2 deu aparatos para o fortalecimento
do sistema de moda. A moda é construída por meio dos “desejos de ‘paixonites
superficiais’ das nações modernas, onde os objetos assumem papel de sedução
para consumo” (LIPOVETSKY, 2008, apud COSTA, 2012, p. 13).
O mercado de produção da moda foi regido pela Alta Costura3m até a
década de 1960. Na segunda metade do século XX, ela passa a ganhar novos
setores de produção (TRINCA, 2004). Na reportagem Mensagens de um sutiã4,a
professora Jo Souza05 observa que essa liderança por certo período serviu para a
moda “ostentar poder, valores e crenças”. Somente nas décadas de 1970 e 80, a
moda e os modos de produção evoluem. Passam a transmitir a mensagem do
indivíduo em meio a grupos sociais.
Com o surgimento dos novos setores de produção vestuária,
desenvolvimento de novas técnicas de distribuição e o advento da publicidade, a
moda passa a acompanhar o desenvolvimento da sociedade de consumo,
estimulando a “necessidade natural” (TRINCA,2004, p. 52). Para Dwyer;Feghali
(2004), a moda deixa de ser privilégio das classes altas e se torna um mercado de
novas oportunidades e em franco crescimento.
No decorrer dos anos, a moda contou com grandes nomes que deram um
novo rumo ao curso da sua história. Nomes como da estilista Vivienne Westwood,
que foi revolucionaria marcando sua época realizou a junção da moda ao sexo e a
cultura jovem anárquica, virou um ícone da moda. John Galliano e Alexander
McQueen, que renovaram a alta costura. Além desses, outros estilistas são citados
por Callan (1992) para descrever inovações capazes de quebrar tabus e modificar a
cultura.
2 Revolução industrial foi um conjunto de mudanças que aconteceram na Europa nos séculos XVIII e
XIX. A principal particularidade dessa revolução foi a substituição do trabalho artesanal pelo assalariado e com o uso das máquinas; marca o início do desenvolvimento do capitalismo; da produção e consumo em massa; desenvolvimento das cidades etc. Fonte:http://www.sohistoria.com.br/resumos/revolucaoindustrial.php. Acesso em: 12/12/2012. 3 Alta-Costura (ou Haute-Couture, no original) é uma marca registrada, que somente pode ser
utilizada por estilistas que integram o Chambre Syndicale de la Haute Couture, criado em 1968, presidido por Didier Grumbach. O termo “Alta-Costura” é protegido legalmente. Quem o utiliza de forma incorreta pode sofrer um processo. Fonte: . Acesso em: 10/12/2012. 4 Mensagens de um sutiã, escrita por Carmen Guerreiro, foi publicada na revista Língua Portuguesa,
ano 8, número 83, setembro de 2012. 5Jo Souza é professora na Universidade Anhembi Morumbi, coordenadora da pós-graduação em
comunicação e cultura de moda do Centro Universitário de Belas Artes (SP) e professora de cursos de moda na Escola Panamericana de Arte e na Escola São Paulo.
http://www.sohistoria.com.br/resumos/revolucaoindustrial.phphttp://mondomoda.wordpress.com/2011/05/15/alta-costura/http://mondomoda.wordpress.com/2011/05/15/alta-costura/
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[...] quando Saint-Laurent levou a moda de rua à passarela, e muitos tabus foram quebrados na onda da cultura pop.[...] Ralph Lauren, que captou a essência da América e a burguesada ao romantizar o passado pioneiro; Calvin Klein, cujas formas simplificadas transmitem um visual sem adornos e minimalista. [...] No final da década, surgiram os japoneses: Miyake, Kawakubo e Kansai Yamamoto eles construíram uma ponte não só do Oriente para o Ocidente, mas também da década (CALLAN, 1992, p. 8).
Para Callan (1992), os estilistas e suas roupas são responsáveis por
compor a linguagem da moda. A forma de encarar a moda modifica-se e se adapta
de acordo com o tempo e cultura na qual ela é produzida. Presente no cotidiano,
através de suas cores e formas, dá vida ao nosso ambiente e às nossas
necessidades físicas e emocionais. Segundo o autor, a moda transmite quem somos
e em que época vivemos, revelando nosso conservadorismo ou liberalismo.
1.2 A Moda como cultura
Inconstante, a moda vive de mudanças, de renovação e reinvenção.
Cores, formas e tecidos são utilizados para criar tendências. No decorrer dos
séculos, as evoluções na moda foram muitas e rápidas. Surgiram variedade de
linhas, os tecidos ficaram mais elaborados, cumprimentos subiram e desceram.
Principalmente ao longo desses cem últimos anos, diversas alterações foram
registradas (DWYER, 2004).
Essas tendências são as novidades que regem e abrangem todo o
mercado de moda. São resultados do ciclo da moda, produtos do ritmo contínuo do
mercado, refletindo o interesse social. Os tecidos, cores, texturas empregados para
compor as tendências são usados para aguçar os sentidos e trazer identificação6.
A moda foi se modernizando e se tornando um dos principais aspectos
em meio à sociedade. De acordo com Dwyer (2004), a moda sempre foi um
diferenciador social, podendo retratar uma pessoa, uma classe ou comunidade, ou
seja, o modo de se vestir expressa personalidade.
Uma nova maneira de ver, usar e interpretar a roupa [...] harmonia na caída do tecido e adaptação do modelo às formas do corpo [...] a alma da roupa é conferida por quem a veste. A escolha de uma roupa não indica apenas preferência, e sim algo a mais que, consciente ou inconscientemente, desejamos aparentar (PEZZOLO, 2009, p. 32).
6
Fontes: Portais da Moda Disponível em: http://www.portaisdamoda.com.br/noticiaInt~id~13661~n~afinal+o+que+e+uma+tendencia+de+moda.htm> e Estudando Moda. Disponível em: . Acessos em: 16/11/2012.
http://www.portaisdamoda.com.br/noticiaInt~id~13661~n~afinal+o+que+e+uma+tendencia+de+moda.htmhttp://www.portaisdamoda.com.br/noticiaInt~id~13661~n~afinal+o+que+e+uma+tendencia+de+moda.htmhttp://blig.ig.com.br/estudandomoda/2009/07/12/o-que-e-tendencia-afinal/comment-page-1/http://blig.ig.com.br/estudandomoda/2009/07/12/o-que-e-tendencia-afinal/comment-page-1/
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Carmen Guerreiro na matéria Mensagens de um sutiã, fala igualmente
sobre a comunicação, através do vestuário. Segundo ela, roupas comunicam,
contam histórias e nos levam a fazer questionamentos sobre as pessoas e sobre o
que é dito, a partir de uma peça de roupa. Por meio de símbolos, a moda transmite
uma série de características culturais. O indivíduo recebe e troca um conjunto de
informações, o que faz a moda se transformar em fenômeno social, ou seja, “a moda
é uma forma de imitação que leva à disputa geral por símbolos superficiais e
estáveis de status.” (SIMMEL, 1961 apud TRINCA, 2004, p. 50).
Entende-se que quando fazemos e/ou utilizamos moda respondemos a
situações que nos rodeiam. Automaticamente, nós nos comunicamos e
estabelecemos uma conexão com a sociedade. Carmen Guerreiro(2012) enfoca que
as peças de um vestuário têm um significado e trazem mensagens culturais sobre
outras épocas, já que compõem nossa identidade e refletem o momento em que
vivemos.
Como aconteceu nas versões da telenovela Ti ti ti. Cada versão retratou a
moda, representando os costumes de determinado ano. A novela de 1985
apresentava as representações do que era tendência nos anos 80. Já o remake de
2010 trazia a moda para representar as mudanças feitas para adaptar o enredo aos
anos 2000.
Thompson (2007) faz uma análise sobre cultura e os fenômenos culturais,
verificando que os indivíduos se utilizam de artefatos para repassar sua
interpretação da sociedade.
[...] a vida social não é, simplesmente, uma questão de objetos e fatos que ocorrem como fenômenos de um mundo natural: ela é, também, uma questão de ações e expressões significativas de manifestações verbais, símbolos, textos e artefatos de vários tipos, e de sujeitos que se expressam através desses artefatos e que procuram entender a si mesmos e aos outros pela interpretação das expressões que produzem e recebem (THOMPSON, 2007, p. 165).
Moda expressa de modo significativo o mundo sócio-histórico dos
indivíduos, por isso, está ligada à nossa cultura. Ela está diretamente ligada ao
desenvolvimento social, à mudança e evolução dos costumes. Como afirma Dwyer
(2010), exemplificando com o quitão: longa túnica pregueada, usada pelos gregos
por baixo de uma capa no período primitivo (6000 a.C) que passou por várias
adaptações, dando origem a diversos estilos. O modelo preso sobre dois braços e
com efeito, drapeado marcou uma época, sendo usado no cinema para representar
as roupas da Grécia antiga.
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Braga (2011) ressalta que é possível compreender o pensamento de uma
cultura por meio da moda. As peças que temos no guarda-roupa traduzem uma
mentalidade e uma forma de expressão, sendo referência das nossas preferências.
Capazes de decifrar códigos, as roupas passam mensagens não verbalizadas
adiante.
A moda se difundiu entre os povos, estando entrelaçada à cultura e aos
costumes (COSTA, 2012). Para Tylor (1903 apud Thompson, 2007), o estudo da
cultura era composto de estágios de desenvolvimento que constituem a “historia do
futuro”. Assim, podemos dizer que cada evolução da moda colaborou para o
enriquecimento da cultura e ajudou a contar a história da sociedade.
Exemplo clássico disso [...] propagação dos transportes coletivos no início do século 20 é considerada responsável, por exemplo, por parte da redução do tamanho das saias, do pé para o joelho. As salas de cinema americanas contribuíram para os chapéus masculinos saírem de moda, pois atrapalhavam a visão da tela [...] (LÍNGUA PORTUGUESA, 2012, p. 30).
Podemos também verificar essa afirmativa no contexto da moda dos anos
1980. Nessa época as mulheres passaram a competir com os homens por cargos de
chefia, impondo-se com roupas de cintura e cós altos, ombreiras exageradas, ao
lado de pregas e drapeado. Esses detalhes proporcionavam uma aparência
poderosa e alinhada. A busca pela igualdade no mercado de trabalho refletiu direta
ou indiretamente em roupas mais masculinas7.
Para representar a força e a capacidade da mulher dos anos 1980, na
telenovela Tititi de 1985, Cassiano Gabus Mendes, como relatado no Memória
Globo 8 , colocou no enredo personagens que retratavam essa personalidade.
Mulheres que se dedicavam ao trabalho sendo como braço direito do chefe ou como
um importante cargo na empresa. Roupas que reforçavam essa imponência da
mulher foram usadas como arma.
Thompson (2007) analisa que as personagens usadas pela mídia nos
apresentam um fluxo de informações no dia a dia, apresentando ideais espelhadas
nas imagens veiculadas, que acabam por se tornarem referencial para uma
diversidade de indivíduos.
7
Informação retirada do site Projeto Autobahn. Disponível em: .Acesso em: 11/09/2012. 8 Site da Rede Globo de Comunicação, categoria de dramaturgia, novelas, TiTiTi 1ª versão; contendo
depoimentos do elenco envolvido na novela e pesquisas de livros. Disponível em: . Acesso em: 111/09/2012.
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Os personagens que se apresentam nos filmes e nos programas de televisão se tornam pontos de referência comuns para milhões de indivíduos que podem nunca interagir um com o outro, mas que partilham, em virtude de sua participação numa cultura mediada, de uma experiência comum e de uma memória coletiva (THOMPSON, 2001, p. 219).
Muitos figurinos usados no cinema são copiados e usados fora das telas.
Grande exemplo foi o figurino usado por Audrey Hupburn no filme A Bonequinha de
Luxo, de 1960: vestido preto, colar de perolas, que ainda hoje é referência de
elegância (PEZZOLO, 2009). Outro exemplo são bandas como os New Romantics,
que tiveram seu estilo adaptado pelos brasileiros. Eles usavam lenços que cobriam o
pescoço inteiro e calças sociais, que foram substituídos por golas altas e calças
semi-baggy. Já que no Brasil as calças de altíssimo padrão feitas de linho, estavam
fora do padrão econômico e da realidade da maioria da sociedade (IGNÁCIO, 2009).
Essas cópias e adequações ao clima brasileiro deram o passo inicial para a
construção de uma moda brasileira. Dessa forma, considera-se que a moda é
referência para compor enredos retratando a vida social.
1.3 A Moda Brasileira: da cópia ao estilo próprio
Falar de moda brasileira é complexo, pois, de acordo com Tufi Duek no
documentário História da moda no Brasil9, moda não tem pátria. Partindo dessa
afirmação, o que temos é uma moda influenciada e criada por estilistas brasileiros,
inspirada em cultura brasileira como um todo. Isso criou uma identidade para a
moda brasileira, formando o desenho de quem nós somos. (BRAGA, 2011).
Seguindo essa linha de pensamento, o estilista Ronaldo Fraga, no mesmo
documentário, fala que a moda pensada pelos estilistas faz parte de um conjunto de
ideias provenientes das suas experiências e observações sobre os indivíduos,
analisadas por um estudo para compor tendências a cada nova coleção lançadas
pelos estilistas.
A identidade do mundo moderno parte do indivíduo para você tentar entender o grupo. Então, se você pensar assim: o carioca se veste como a Isabela Capeto o faz ou o paulista como o Alexandre Herchcovitch faz, ou o cearense como o Lino Vila Ventura faz, eu acho que não é isso. Acho que são olhos individuais sobre uma cultura que é muito maior (FRAGA, apud BRAGA e PRADO, 2010, parte 1).
9 Informação retirada do documentário História da moda no Brasil: série de 4 programas de 26
minutos que fazem uma leitura antropológico/histórica da moda no Brasil, tendo como costura a discussão da moda brasileira, produzido em 2010. Veiculados na TV Cultura em 2011. Realizado pelo historiador de moda João Braga, professor de história da moda da Faap (Fundação Armando Álvares Penteado), em São Paulo e o jornalista Luís André do Prado.
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De acordo com o depoimento do estilista Alexandre Herchcovitch (apud
BRAGA e PRADO, 2010), sua moda é brasileira pelo simples fato dele ter nascido
no Brasil e ter todas as vivências no país. São elas que influenciam na composição
da sua moda, evidenciando que as experiências individuais é que compõem suas
ideias. Ao tempo, as vivências são construídas em contextos sociais, ou seja, pode
até partir do particular, mas este particular já foi influenciado.
Esses apontamentos surgem devido ao atraso na criação da identidade
da moda brasileira em relação à moda de outros países (BRAGA, 2011). Somente
no século XX, mais precisamente nos anos 20, é que a indústria têxtil brasileira
voltava para si, tornando-se tecnicamente capacitada para fabricar tecidos capazes
de concorrer com os norte-americanos e europeus, sendo capaz de produzir peças
similares, com preço concorrente (NEIRA, 2011).
Nessa época, o conceito de moda brasileira era meramente uma cópia
dos modelos de fora. Dwyer (2004) relata que as costureiras e as confecções se
aliavam às revistas de moldes, que recebiam inspiração das passarelas europeias,
para confeccionar suas peças. Para Luz García Neira (2011), o período de
desenvolvimento do vestuário brasileiro teve um direcionamento técnico com visão
comercial. Segundo a autora, buscar inspiração em outras modas seria algo natural.
Neira reforça citando o exemplo da Casa Canáda10, que trazia roupas femininas de
Paris e reproduziam os modelos adaptados para o clima do Brasil.
[...] mulher brasileira que inspirar-se na França ou na Itália não quer dizer que não se tenha espírito criador. Sábios, cientistas, artistas e literatos não buscam sabedoria nos quatro cantos do mundo?(SEIXAS 2001 p. 251, apud NEIRA, 2011, p.2).
Os modelos europeus serviram de base para as criações brasileiras, eram
adaptados ao clima e à cultura. Assim, na década de 1940, o modo de fazer moda
do brasileiro dava seus primeiros passos. No final da década de 1960, o foco na
diversidade do país se tornou tema para as criações, como o tropicalismo, que era
associado aos artistas e às indústrias têxteis (NEIRA, 2011).
Na década de 1980, com o surgimento das escolas de moda no Brasil, a
técnica se aliou à criatividade. Revistas como Claudia e Nova, com editoriais de
moda produzidos no Brasil, apareceram para orientar os leitores na maneira de
10
Funcionou muito eficientemente nos anos 1930, perdurando até 1977. Foi o endereço do mais alto luxo em peles e roupas femininas no Brasil, tendo importado peças de estilistas famosos e, mais tarde, confeccionando cópias idênticas. Esse tipo de ação, no decorrer dos anos 1940, era vista como incentivo à indústria nacional (NEIRA, 2011, p. 2).
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18
compor seu estilo (DWYER, 2004). No decorrer de sua história, a moda brasileira
aprendeu a usar elementos, tendências estrangeiras a seu favor. Adaptando-os ao
nosso clima, ponto que nos diferencia dos europeus; e às diversidades culturais
encontradas no país.
Segundo depoimento de Walter Rodrigues ao documentário História da
Moda no Brasil, para compor a indumentária do Brasil não se faz necessário usar
elementos folclóricos. “Ela é brasileira por que é feita por brasileiros e a sua
essência está contida no DNA, constituída pela relação com todo o entorno no qual
o brasileiro fica suscetível.” (RODRIGUES, apud BRAGA E PRADO, 2011, parte 2).
Tufi Duek (apud BRAGA e PRADO, 2010), pioneiro em estudar e aplicar
elementos tipicamente brasileiros em sua moda, como a sensualidade, o samba e a
praia, fala que são esses elementos que compõem o vestuário na brasileiridade. É
nessa composição que a história da moda brasileira é composta. Neira (2011)
concorda ao dizer que cada peça do vestuário agrega um valor expressando um
sentido e uma individualidade, estabelecidos como mediações sociais e reunindo
características da produção cultural.
É possível afirmar que cada unidade de peças do vestuário reúne e suporta os códigos que determinam o que é e o que não é “moda brasileira”. Assim, contrariando qualquer obviedade de que os significados são determinados na mediação dos signos e, ainda, de que haveria possibilidade de flexibilizar sua significação, o conceito de “moda brasileira” é resultante de características materiais bem específicas, tanto em sua forma modelada (a construção de cada peça) quanto em sua materialidade (tecidos e adornos). O seu significado é dado a priori e sua seleção e o seu uso social pelos indivíduos pode pretender apenas confirmá-lo ou refutá-lo, mas dificilmente reconstruí-lo (NEIRA, 2011, p. 6).
A moda se relaciona com a cultura. Mas também com estágio de
desenvolvimento econômico social do lugar. Devido a isso, mesmo com todo o
cenário cultural de influência, o mundo brasileiro da moda sofre até hoje uma
inclinação para a moda estrangeira. A globalização, como colocado por Dwyer
(2004), permite que a mesma roupa seja usada em diferentes países na mesma
época, causando um compartilhamento de tendências.
Nessa linha de pensamento, esse compartilhamento faz com que ocorra
um estrangeirismo de palavras usadas no mundo da moda, até palavras já
consagradas em português. Como é observado por João Braga (apud GUERREIRO,
2012), essas expressões estrangeiras indicam a principal influência sofrida por um
país, tanto economicamente, quanto culturalmente. Uma imponência vinda dos
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19
Estados Unidos que fez as pessoas adotarem termos como: look (no lugar de
visual), t-shirt (para dizer camiseta) e make-up (em vez de maquiagem).
Assim, Jo Souza (apud GUERREIRO, 2012) afirma que a referência
brasileira é internacional, mas tem suas particularidades.
Nossa identidade é antropográfica, misturamos tudo e reinventamos a moda no nosso cotidiano. [...] engolimos e regurgitamos conteúdos das revistas internacionais. Mas ainda absorvemos o estrangeirismo das passarelas, das revistas, porque nossa autoestima é baixa (SOUZA, apud GUERREIRO, 2012, p. 33).
Por isso, para muitos estilistas, não basta usar apenas artefatos da
cultura do Brasil. Colocar nas peças rendas tipicamente brasileiras ou fuxicos, não é
moda brasileira. Ela é formada por todos os aparatos desde sua criação, tecidos,
comercialização e tudo que a envolve, executada por brasileiros. Já que um estilista
de fora pode pegar elementos culturais e assim montar uma coleção. Portanto,
moda brasileira é toda rede de interligações até a conclusão do produto final, mesmo
que este sofra inspirações de outras modas (BORGES, apud BRAGA e PRADO,
2010).
Inspirações essas que também foram difundidas pela televisão a partir do
poder das imagens que colaborou para difundir as tendências e encontrou na
telenovela uma aliada (COSTA, 2012). Os editoriais de moda das revistas atraem
atenção e se tornam responsáveis pela seleção dos estilos e dos talentos lançados
(CALLAN, 2009).
1.4 A moda na mídia: o palco do espetáculo da moda
Dada como a grande engrenagem para a difusão de mensagens, a mídia
espalha os conteúdos de diversas formas. Seja pelas revistas, na televisão, na
internet, a comunicação é essencial para que possamos ter conhecimento sobre o
mundo da moda. Por meio desses diversos meios, as notícias de moda alcançam
quase que instantaneamente os consumidores (COBRA, 2007).
A mídia transformou a vida social, modificando o modo de compreender o
que é público e o que é privado. O público passou a ter tudo que pode ser alcançado
pela mídia e tudo é visível (THOMPSON, 2000, p. 11, apud PORCELLO, 2008).
Dessa forma, a mídia oferece fomento para modelar o pensamento, comportamento
e as identidades (KELLNER, 2001).
Os processos da sociedade sofrem influência da mídia. Um desses
processos, segundo Kellner (2001) é a moda, que é englobada pela mídia fazendo
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com que os indivíduos se identifiquem e criem uma identidade. O autor completa
falando que essa identificação acontece, pois moda e mídia se alimentam de figuras,
imagens ou posturas.
Cobra (2007), em acordo, ressalta que a comunicação é responsável pelo
consumo de boa parte dos artigos de moda. Por meio de revistas, televisão, rádio e
a participação ativa da internet, o consumidor é bombardeado com produtos.
[...] observamos que a comunicação vai dar suporte à moda que se cria e que se coloca no corpo, a qual ganha as passarelas, vitrines, páginas de revistas e jornais, programas de televisão e sites da internet para então ser admitida e aclamada nas ruas (GARCIA e MIRANDA, 2007, p. 81 apud CUNHA, 2009, p. 19).
Em complemento, as autoras Garcia e Miranda (2007), Kellner (2001)
falam que esses meios foram multiplicados pela indústria cultural. Espaços e sites,
multimídias que tomaram conta do ciberespaço gerando vários sites de informação e
entretenimento. Esses espaços que aproximam as pessoas e fazem com que, em
questão de segundos, a moda se espalhe pelo mundo. Mas, as primeiras formas de
mídia são o próprio corpo, usado com suas formas, os adornos que escolhemos
usar (CUNHA, 2009).
As informações sobre moda estão presentes na vida social do indivíduo,
de forma influente. Trabalhando com seus estilos e interagindo com as pessoas é
que surgem os blogs de moda, ferramenta utilizada na internet que ajuda a difundir a
moda. Por meio dessa ferramenta pessoas aprendem, compartilham moda e seus
gostos. Como exemplo temos o blog Garotas Estúpidas, por Camila Coutinho, que
trata de tendências, o que se usa dentro e fora do Brasil, compondo o estilo
brasileiro de vestir.
Com a internet, a comunicação está muito mais rápida, por isso as
tendências são mais ou menos as mesmas em todos os lugares. No ritmo acelerado
em que vivemos, se você fala de maneira a que todos entendam é melhor
(COUTINHO apud GUERREIRO, 2012, p. 31). Essa maneira de divulgar a moda é
mais versátil, quem lê fica à vontade para usar o que lhe agrada, pois tem um gama
de opções que podem ser usadas a seu favor. Essa mídia virtual possibilita uma
interação constante e quase que imediata, além da facilidade de obter as
informações. Assim, com o advento da internet os sites e blogs se tornaram uma das
principais fontes de material sobre moda (MOREIRA e NICHELLE, 2010). Muitos,
inclusive, compuseram esta pesquisa.
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Outra mídia bastante influente para a moda é a impressa. Por meio de
revistas especializadas e jornais que promovem o setor. Como exemplo, para
divulgar os eventos de moda, a fim de gerar em torno deles uma grande atenção,
afirmando-os como espetáculo poderoso. Esses veículos são responsáveis por
reapresentar as tendências lançadas nos desfiles, celebridades que estiveram
presentes, as ideias dos estilistas e pessoas ligadas ao universo da moda
(MOREIRA e NICHELLE, 2010).
Normalmente, as publicações atrelam um poder onipresente ao sistema dos grandes eventos do setor e, consequentemente, levam o leitor a, talvez, apreciar e acreditar neste processo de imaculação do sistema da moda espetacular constituída pela perfeição, beleza e contemporaneidade (MOREIRA e NICHELLE, 2010, p. 7).
Esses eventos são veiculados até que a informação sobre ele se esgote e
surjam outros eventos. Ao explorar com especialistas da área, são atribuídas às
mídias impressas uma seriedade maior que as mídias virtuais. Mais duráveis, são
diferentes da televisão e do rádio que têm tempo determinado, elas podem ser
consultadas a qualquer momento (FIGUEIREDO, 2005, apud MOREIRA e
NICHELLE, 2010).
A televisão também colabora para a promoção da moda. Mídia de grande
importância por contemplar um grande número de telespectadores no Brasil e no
mundo. Para Cunha (2009), enquanto as revistas estão concentradas em um público
específico, a TV alcança um número maior de público, tendo a televisão brasileira a
telenovela como principal meio midiático cultural.
Em complemento Scoralick (2010) aponta que ocorre um processo de
identificação com os personagens, ou seja, eles transmitem as representações a
serem seguidas, seja de roupas, joias, corte de cabelos etc., direciona as atenções
para a moda.
A autora destaca que isso é devido à identificação do público com o
gênero. As roupas usadas pelas personagens viram “moda” entre as pessoas, até
mesmo seus acessórios. Como foi o caso do figurino da personagem Júlia Matos em
Dancin’Days (1978). Criado pela figurinista Marília Carneiro era composto por meias
lurex coloridas e salto alto, acompanhado de uma calça de jogging de cetim com
listras laterais, esse visual consagrou a novela e as mulheres na rua andavam
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vestidas de Júlia Matos (CARNEIRO, 2003). Além da novela estar em sintonia com a
febre do disco music dos anos 197011.
A telenovela ocupa esse espaço, pois é detentora de uma grande
visibilidade.
[...] a TV é um referencial, principalmente entre os que não podem se atualizar por meio das revistas especializadas nem frequentar o circuito da moda. [...] ainda encontramos veículos falando com públicos específicos, atingindo grupos, enquanto a telenovela é por excelência o grande espaço propagador de tendências (MEMÓRIA GLOBO, 2007, p. 329, apud CUNHA, 2009, p. 25).
Todas as diferentes mídias fazem com que a moda seja, segundo Kellner
(2001), um dos focos principais da indústria cultural. Tudo que existe ao seu redor,
desde produtores, modelos e estilistas. Em torno da moda, existe um espetáculo do
consumo, gerando a cada novo desfile uma grande divulgação. Esse espetáculo
segundo o autor estabelece o que é válido dentro do mundo de tendências.
Thompson (2007) reforça esse pensamento. Para ele, a indústria cultural
está envolvida não somente com a transmissão e apoio às formas culturais, mas
também com a transformação das formas, destacando que seu papel é fundamental.
As indústrias da mídia nem sempre desempenharam um papel tão fundamental. O surgimento e desenvolvimento dessas indústrias foi um processo histórico específico que acompanhou o surgimento e desenvolvimento das sociedades modernas (THOMPSON, 2007, p. 219).
Assim, verificamos que a indústria midiática foi grande responsável pelo
advento da sociedade moderna, originando a comunicação de massa. Sendo capaz
de difundir a cultura, como a moda, construída no Brasil para o resto do mundo. O
ponto mais forte para o fortalecimento da moda é sua divulgação, é exatamente
onde se encaixa a publicidade. Thompson (2007) aponta que o fenômeno social é
alavancado por essa divulgação inserindo símbolos na vida do indivíduo.
As formas simbólicas são fenômenos sociais: uma forma simbólica que é recebida apenas pelo próprio individuo [...] A troca de formas simbólicas entre produtores e receptores implica, em geral, uma serie de características que podemos analisar sob o titulo de transmissão cultural (THOMPSON, 2007, p. 221).
Assim, os símbolos e as informações inseridas pelas mídias despertam o
desejo do consumo nos indivíduos. A forte influência que a mídia exerce sobre a
aceitação da moda é colocada por Cobra (2007), que ressalta a importante função
11
Disponível em: < http://memoriaglobo.globo.com/programas/entretenimento/novelas/dancin-days/cenas-marcantes.htm>, acesso: 1/11/2012.
http://memoriaglobo.globo.com/programas/entretenimento/novelas/dancin-days/cenas-marcantes.htmhttp://memoriaglobo.globo.com/programas/entretenimento/novelas/dancin-days/cenas-marcantes.htm
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da comunicação de massa no modo como a moda é digerida, pois a forte influência
da mídia acaba por tornar dependente quem consome moda.
No próximo capítulo fazemos um breve histórico sobre a mídia de maior
alcance no Brasil, a televisão. Seu desenvolvimento no país e sua contribuição para
indústria cultural. Abordando em seguida o gênero responsável por boa parte da
difusão da moda, as telenovelas.
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24
2 TELEVISÃO E TELENOVELA
A moda ganhou, durante sua história, um forte espaço dentro dos meios
de comunicação. A televisão, mídia poderosa e abrangente, consolida a moda
através de sua inserção no contexto das telenovelas, já que elas despertam desejos,
difundem, criam e reinventam moda (POZATTO, 2008).
Segundo pesquisas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE, 2009), mais de cinco mil municípios do Brasil dispõem de rede de cobertura
para canais televisivos. De acordo com o censo de 2009, a televisão está presente
em 95,7% dos domicílios brasileiros. Assim é possível verificar a amplitude da
televisão e o porquê de ela ser uma das maiores fontes de lazer, cultura e
informação do país.
O telespectador através da televisão recebe informações que trazem
cultura, divertimento e conhecimento. A informação é transmitida para os diversos
públicos, onde uma considerável maioria tem, através do veículo de comunicação
audiovisual, uma ponte para interagir com a sociedade.
No artigo Os Maias – A literatura na televisão (2004)1112, os autores
informam que a televisão se tornou um fenômeno desde seu surgimento,
concentrando a atenção da sociedade. Apontam ainda que esse produto cultural
atinge mais de 150 milhões de brasileiros, onde muitos deles o têm como único meio
de interligação com o mundo, atuando como formador de opinião desses indivíduos.
A televisão, de acordo com Bolano (2004), por ser um meio de grande
alcance, centraliza para si boa parte do “bolo publicitário”, tornando-a alvo da
concentração das competições da indústria cultural. A afirmativa também é feita por
Lopes (2003, p. 18); segundo a autora, a “televisão dissemina a propaganda e
orienta o consumo que inspira a formação de identidades”. Nesse sentido é que
telenovela e televisão se encontram. Pois, podem ser capazes de fazer o público
confiar e seguir seu conteúdo.
Neste capítulo, trabalhamos com a televisão e a telenovela como partes
importantes da construção da história brasileira. Trabalhando com autores que
conversam entre si para analisar a identificação da sociedade com esses produtos;
12
BRASIL JUNIOR, Antônio da Silveira; GOMES, Elisa da Silva; OLIVEIRA, Maíra Zenun de. Os Maias, a literatura na televisão. Revista Habitus: revista eletrônica dos alunos de graduação em Ciências Sociais – IFCS/UFRJ, Rio de Janeiro, v. 2, n. 1, p.5-20, 30 mar. 2004. Anual. Disponível em: .
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destacando a força que a telenovela ganhou e como ela é capaz de ditar
comportamentos. As discussões levantadas em torno da televisão e da telenovela
terão bastante relevância para as análises das representações em Ti ti ti, assunto
este que será tratado no terceiro capítulo.
2.1 Televisão: o Brasil se vê aqui
Segundo Braune e Rixa (2002), a primeira vez que os brasileiros tiveram
contato com um aparelho de televisão foi no ano de 1939, em uma apresentação
realizada durante a Feira de Amostras do Rio de Janeiro. Pela primeira vez na
América Latina, o público teve contato com aquela parafernália que parecia um
verdadeiro assombro (BRAUNE e RIXA, 2002). De acordo com Scoralick (2010), a
partir de 1940, a TV se espalhou pelo mundo e em 1948 foram realizadas as
primeiras transmissões amadoras no Brasil.
No Brasil, as primeiras transmissões e recepções de televisão se realizaram em Juiz de Fora, em 1948. Com a aparelhagem técnica construída por Olavo Bastos Freire, a Rádio Industrial passou a transmitir diferentes programas de televisão, festas do centenário da cidade e também jogo de futebol, como o de maio de 1950, entre Bangu, do Rio de Janeiro, e Tupi, de Juiz de Fora (SCORALICK, 2010, p. 2).
Inaugurado oficialmente em 1950, o sistema brasileiro de televisão –
implementado de modo pioneiro pelo jornalista Assis Chateaubriand – para
conseguir se estabilizar, por muito tempo, apoiou-se no modelo do rádio
“principalmente da radionovela, estilo campeão de audiência” (SCORALICK, 2010,
p. 2).
A programação produzida pela emissora pioneira, TV Tupi, passava por
uma fase de teste, por isso seu apoio nos gêneros já consolidados pelo rádio. Em
1950, eram transmitidos ao vivo os teleteatros que tinham até três horas de duração
e eram baseados em peças famosas ou filmes consagrados 13 . De acordo com
Ifanger (2011), outros programas, como o Repórter Esso, ganharam versão
televisionada. Com o aumento da quantidade de aparelho de TV no Brasil e o
crescimento do seu sucesso, outras emissoras foram surgindo.
No ano de 1953, foi inaugurada a TV Record, que conferiu à história da
televisão grande feitos, como transmissão do jogo Santos e Palmeiras na Vila
13
Informações retiradas do site: . Dividido em seis partes, os posts do blog Viagem a Cores contam a história da televisão brasileira destacando seus principais programas. Acesso em: 3/11/2012.
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Belmiro. Foi a primeira transmissão externa realizada por uma emissora de TV da
época. Aos poucos a televisão brasileira foi criando sua própria identidade. No ano
de 1960, a TV se consolida no Brasil, já possuindo linguagem específica e
programação baseada na informação transmitida, através da associação de imagem
(SCORALICK, 2010).
Quando a publicidade e o videotape14 chegaram, a televisão brasileira
passou por uma verdadeira revolução. Scoralick (2010) explica que, em 1960, a
disputa por audiência se intensificou; o videotape permitia que os comerciais fossem
gravados e também colaborava para a transmissão de tomadas gravadas em outras
cidades.
A televisão brasileira seguia o modelo do sistema americano. Segundo
Ortiz (2004), isto proporcionou uma relação íntima com a publicidade, instalando um
sistema comercial 15 . Dessa forma, fazia com que as produções televisivas
caminhassem sempre lado a lado com os anunciantes, estimulando o consumo do
que era veiculado.
A partir do ano de 1965, a TV brasileira consolida um mercado de
indústria cultural. Segundo Bolano (2004, p. 33), rompe-se aquele “vinculo solidário”
e instaura a indústria, que passa a tratar informação e cultura como mercadorias.
Quando a primeira rede nacional de televisão é inaugurada, em 1969, confirma o
cenário mercadológico da televisão brasileira.
A partir daí, já não se pode negar o caráter industrial da Indústria Cultural Brasileira. Informação e cultura são mercadorias cuja produção passa a ser um ramo que atrai grandes capitais e se estrutura na forma moderna de oligopólio. Fundamental para esse avanço será a implantação do Sistema Nacional de Telecomunicações (ROCHA FILHO, 1981 apud BOLANO, 2004, p. 33).
O caráter adotado passa a tomar conta das produções de entretenimento
feitas para aumentar a audiência e buscar melhores números em anúncios
publicitários. Ortiz (2004) em acordo explica que as agências de publicidade
chegaram a produzir alguns programas – como é o caso das produções dos
primeiros modelos de novelas brasileiras, trazidos pela multinacional Colgate-
Palmolive – mostrando a estreita relação com a ficção televisiva.
14
Videotape: gravações dos programas em fitas. Com a chegada desses equipamentos se permitia fazer gravações e levá-las de uma cidade para outra para ser transmitidas para as outras cidades.
15 Sistema comercial foi o modelo de vendas de anúncios para a televisão. O modelo foi inspirado no
sistema já usado pela televisão dos Estados Unidos.
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Com o aprimoramento das técnicas do sistema comercial – inovação
trazida pela Rede Globo de Televisão – passou-se a vender espaços durante a
programação. “Audiências qualificadas”, segundo Ortiz (2004), espaços de tempo
vendidos em determinado horário de acordo com o público. Ou seja, não se
patrocinava mais os programas inteiros, eram comprados esses tempos de
publicidade entre os programas.
Os anos 1970 marcam a consolidação da indústria televisa no Brasil.
Após vinte anos da sua implantação, a televisão concentra a atenção da sociedade
brasileira marcando presença em seu cotidiano. Programas como o Jornal
Nacional16, passaram a fazer parte das noites dos brasileiros.
As cores chegaram em 1972 e com ela a primeira telenovela em cores, O
Bem Amado, de Dias Gomes, que foi exibida em 1973, pela TV Globo. De acordo
com Scoralick (2010), dentre tantas novelas da época essa foi uma das de maior
sucesso, pela abordagem com temas sociais. Ela foi responsável por reforçar o
abrasileiramento das telenovelas. Personagens como Odorico Paraguassu,
estrelado por Paulo Gracindo, retratava o contexto histórico político da época
fazendo uma caricatura dos políticos brasileiros do coronelismo interiorano (RAMOS,
1986).
O sucesso das telenovelas lançou o uso do merchandising17 que, como
explica Ramos (1986), surgiu de forma acidental na TV Globo:
Na novela Cavalo de Aço, 1973, uma garrafa de conhaque Dreher foi, casualmente, posta num cenário por um regra três. Funcionou como propaganda poderosa do produto: a situação dramática ficou em segundo plano na memória do telespectador, destacando-se a marca do conhaque. Ninguém na tevê sabia que estava fazendo propaganda (na época a Rede Globo ainda não faturava esse tipo de anúncio, o que é comum agora), mas esta funcionou com toda força (SODRÉ, 1981apud RAMOS, 1986, p. 43).
No início da década de 1980, a questão do marketing na TV é colocada
mais claramente para publicitários e anunciantes. Caso consagrado de publicidade
na televisão foram os bordões do Chacrinha, apresentador de programas de
auditório. Ele fazia a propaganda de uma água sanitária usando “Clariiiinha!” quando
16
Segundo o site, Viagem a Cores, texto de Adolfo Ifanger, o Jornal Nacional era apresentado entre duas novelas, um das 19h e a outra das 20h. Com 35 min de duração o jornal revolucionou o jornalismo da TV brasileira, por ser o primeiro a ser exibido em rede nacional, ter correspondentes no exterior e uma apresentação requintada. Disponível em: . Acesso em: 26/11/2012. 17
Merchandising é a operação de planejamento necessário para colocar um produto no mercado, publicidade inserida dentro dos programas, fora do intervalo, como durante as cenas de uma novela um personagem fala ou usa algum produto (RAMOS, 1986).
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o contrato acabou ele passou a usar “Terezinha!”, que ficou eternizado na televisão
(BRAUNE e RIXA, 2002).
O sustento das emissoras pela publicidade era evidente; nessa época,
duas novas emissoras entram na briga por audiência, o SBT e a TV Manchete. Cada
vez mais, passam a usar de artifícios para disputar a concorrência pelo
telespectador. Quanto maior a audiência maior o lucro da empresa de televisão
(BOLANO, 2004).
Na década de 1990, o aparelho de televisão lidera a lista dos itens
domésticos mais vendidos. Hamburger (1998) afirma que o Brasil é o quarto
colocado numa lista de oito países e o único que não é do hemisfério norte. No ano
de 1991, a televisão brasileira também ganha destaque por conter apenas 19% de
programação importada. Essa porcentagem se deve ao fato de o Brasil ter invertido
o jogo e passado a exportar as suas novelas para o mundo (HAMBURGER, 1998).
No decorrer dos seus mais de 50 anos de história, a televisão
principalmente por meio das telenovelas, mostra as vivências e mudanças da vida
dos brasileiros. Como coloca Lopes (2003): “[...], pois ela pode ser vista através de
expressivo movimento pendular, tanto como uma vitrina de consumo (roupas,
utensílios, casas, carros, estilos de vida, enfim) quanto um painel de temas sociais.”
(p. 21).
Trazendo elementos sociais no conteúdo de sua programação e pontos
para se trabalhar as relações na sociedade, a televisão interfere diretamente no
comportamento dos brasileiros. Pois desta forma internalizam valores transmitidos
de forma cordial por seus produtores que estão envolvidos em uma rede que
caracteriza as relações no país.
Leal (1986) reforça sobre o hábito de assistir a novelas e de possuir um
aparelho de TV em casa. Para a autora, esses costumes são partes integrantes da
vivência popular, permitindo o acesso ao que ela denomina de “saberes legítimos”.
“O aparelho de TV é ostentado como bonito porque ele é modernidade, e ostenta-se
com ele o poder aquisitivo da posse a prestações” (LEAL, 1986, p. 38-39), é desta
forma que o aparelho de televisão passa a ser reconhecido dentro do universo
doméstico.
A televisão possui uma atividade intensa na sociedade brasileira, pois
reproduz as representações das desigualdades e descriminações. De acordo com
Lopes (2003), são nesses pontos que os personagens são criados. Baseada nesses
apontamentos, a autora afirma essa identificação do público com o veículo.
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29
[...] é verdade que ela possui uma penetração intensa na sociedade brasileira, devido a uma capacidade peculiar de alimentar um repertório comum por meio do qual pessoas de classes sociais, gerações, sexo, raça e regiões diferentes se posicionam e se reconhecem umas às outras (LOPES, 2003 p. 18).
O que a televisão procura fazer é a distribuição de conteúdo
independente das particularidades do indivíduo. O intuito é oferecer conteúdos
diversos e difundi-los. O conteúdo antes restrito a um determinado grupo da
sociedade fosse por religião, classe social, passa ser de conhecimento de vários.
Complementando as afirmativas, Pozzatto (2008) ressalta que a televisão
é conveniente para o telespectador, é o meio que os mantém em contato interligado
com o mundo. Afirmando que esse veículo de comunicação é uma ferramenta
crucial para a socialização, parte-se do pressuposto de que as pessoas passam
horas em frente à televisão e que a associação de imagens e áudio é mais
facilmente absorvida.
É devido a isso que a telenovela, grande produto da televisão brasileira,
possui tanta expressão. Segundo Lopes (2003), a novela foi construída em um
veículo que propicia a representação de dramas da sociedade, seja da vida privada
como da vida pública. Constantemente atualizada para tratar de forma coerente
assuntos ligados à sociedade brasileira, a telenovela desde o seu surgimento se
consolida como gênero importante da televisão do Brasil.
2.2 Telenovela: paixão nacional
A história da telenovela tem suas raízes fincadas no século XIX, sua
fórmula vem do romance-folhetim de origem francesa, que é um texto literário
impresso em capítulos (SOUZA, 2004). As novelas, baseadas nos folhetins,
aparecem no século XX. Devido a sua grande popularidade, influenciou a literatura e
mais tarde os meios de comunicação (RAMOS, 1986).
No ano de 1935, a primeira novela foi transmitida no rádio em Cuba;
surgiam assim as radionovelas. No Brasil as radionovelas chegaram na década de
1940. Na década de 1950, a televisão passou a utilizar a fórmula, já consagrada,
das radionovelas nas suas produções de telenovelas. Sucesso no rádio, Sua vida
me pertence, de Walter Foster, foi a primeira a surgir em 1951 na TV Tupi, com sua
transmissão realizada ao vivo (SCORALICK, 2010).
Segundo o autor Moreira (2010), a consolidação do formato televisivo da
novela no Brasil ocorreu a partir do ano de 1964, com a trama O Direito de Nascer,
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30
escrito pelo cubano Felix Caignet. A trama ficou um ano e nove meses no ar, a
aprovação do público foi tamanha que o capítulo final da novela contou com um
show, com todos os personagens, no estádio Maracanãzinho (RAMOS, 1986).
Para Moreira (2010), telenovela é uma “ficção diária aberta”, portanto,
suscetível a mudanças de acordo com a vontade da emissora ou do próprio público.
Ortiz (1993 apud Souza p. 54) fala que a forma narrativa que a novela herdou dos
folhetins melodramáticos foi fundamental para sua fase inicial, devido às reações
que provoca no público.
Completando, Eduardo (2005) explica que telenovela não é somente um
gênero na programação da televisão, mas um “produto complexo e dinâmico da
cultura”, proveniente da era dos meios de comunicação de massa 18 . Para os
autores, os aspectos em torno da telenovela foram ao longo da história se
modificando, utilizando técnicas, conceitos e uma linguagem própria para tratar de
assuntos atuais.
Ela se tornou um sucesso e criou nos telespectadores o hábito de
acompanhar a trama cotidiana. Para Fadul (2002), o sucesso das telenovelas está
relacionado à televisão.
É importante ressaltar que esse sucesso está relacionado com o fato de que a televisão brasileira chega a quase todos os lares, sendo poucas as regiões do País sem acesso a ela. Portanto, se a televisão tem essa difusão, percebe-se que é impossível compreender a sociedade brasileira sem compreender este veículo. (FACUL, 2002, p. 58).
A contribuição da televisão para esse hábito é proveniente da
determinação de horários na programação das emissoras. Todos os dias no mesmo
horário condiciona o telespectador a acompanhar a telenovela, criando quase uma
obrigação de ter que voltar a acompanhar a novela no dia seguinte. Isso foi
estimulado pelas emissoras, que inseriram a telenovela, através de uma
programação horizontal19 (SOUZA, 2004).
Esse formato diário da telenovela é inserido no ano de 1963. A primeira
novela a ser exibida diariamente foi 2-5499 Ocupado, produzida pela TV Excelsior,
importada da Argentina. A trama trazia como casal principal Tarcísio Meira e Glória
18
“Comunicação de massa é uma característica fundamental da sociedade de massa à qual está ligada de forma indissolúvel. Proporcionada pelo surgimento no século XIX das indústrias culturais [...] O grande fato cultural que cerca a televisão é que, a partir dos anos 50, ela passou a centralizar os debates sobre a cultura de massa [...]” (FADUL, 2002, p. 57-58). 19
“A programação horizontal significa, em resumo, a estratégia utilizada pelas emissoras para estipular um horário fixo para determinado gênero todos os dias da semana, com o objetivo de criar no telespectador o hábito de assistir o mesmo programa nesse horário.” (SOUZA, 2004, p. 55).
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Menezes – casal que virou referência e protagonizou novelas nos 20 anos
seguintes. Hamburger (1998) fala que a importação de novelas virou um mercado de
se fazer novelas. Os primeiros autores brasileiros de novelas escreviam seus textos
baseados em autorias de colegas de outros países.
Na década de 1970, como dito no capítulo anterior, a telenovela se
consagra como o gênero mais lucrativo e popular da televisão brasileira. As novelas
vendem moda, música e outros produtos (HAMBURGER, 1998). Desde seu início a
imprensa exaltava os galãs e ajuda a divulgar as especulações sobre os capítulos
das novelas (BRAUNE e RIXA, 2002).
Os folhetins apareceram numa época em que a imprensa necessitava de leitores, e a oferta de um produto, como o folhetim, veio suprir essa necessidade, pois a uma maior tiragem correspondia uma queda no preço do exemplar vendido. No Brasil, a novela aparece de uma maneira mais sistemática na segunda fase da televisão no país, quando esse meio de comunicação está em busca de audiência (CAPARELLI, 198 apud RAMOS, 1986, p. 52).
As emissoras competem por audiência se utilizando das telenovelas.
Passam a utilizar o merchandising para inserir de forma indireta os anúncios
publicitários e induzir o consumo. Nos anos de 1975 a 1976, novelas, como
Gabriela, Saramandaia, Pecado Capital, venderam produtos como cerveja
Antarctica, calças Lewi’s, Leite Paulista e batons Max Factor (RAMOS, 1986).
Para Scoralick (2010), por algum tempo a temática das telenovelas ficou
concentrada em melodramas e tragédias, tempos depois, o comportamento dos
brasileiros invadiu as telas. A partir desse ponto, o “estilo fantasioso” de se fazer
novelas se rompeu, dando espaço para uma visão mais realista utilizando-se de
referências do cotidiano dos brasileiros. Com a mudança, o “produto novela” só
cresceu.
Segundo Souza (2004), a novela se tornou o gênero mais popular e
favorito dos brasileiros misturando comédia, realismo, literatura e drama, ela se
tornou uma paixão nacional. A produção de telenovelas carrega elementos dispostos
para motivar as respostas do telespectador. Fadul (1993, apud SOUZA, 2004), como
exemplo, cita: figurino, maquiagem, diálogos, músicas, atores, tipos humanos e
mais.
O estilo realista adotado encontrou na dupla Janete Clair e Daniel Filho a
base para as produções com fortes expressões brasileiras. Um dos grandes
sucessos da dupla foi Irmãos Coragem, exibida de 1970 a 1971, que falava sobre o
coronelismo do interior e expunha o futebol (RAMOS, 1986). As telenovelas passam
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a se tornar multidimensionais. Para criar diálogos contemporâneos capazes de criar
debates, as novelas passam a estampar “a vida como ela é” (HAMBURGER, 2002).
Com as novas alterações, a novela se confirma ainda mais como o
produto mais rentável da televisão brasileira, é o que afirma Souza (2004), que
explica também sobre o abrasileiramento sofrido pelo gênero:
As histórias atravessam um período de nacionalização do texto, das temáticas e mesmo da linguagem televisiva. As redes brasileiras desenvolveram um tipo de texto na novela que estimula a interação familiar cotidiana ate quando come, lê e conversa [...] Os assuntos tratados são conflitos de interesses, luta de classes sociais, frequentemente no cenário urbano (SOUZA 2004, p. 121).
A telenovela passa a representar momentos da história brasileira, mexe
com o comportamento das pessoas, presta serviços sociais e se torna inspiração
para outras artes. A realidade passa a moldar o enredo das histórias (RAMOS,
1986). A telenovela também se tornar responsável por ditar moda – um dos pontos a
ser abordados nesta pesquisa – como ressaltado por Pozzatto (2008), ao afirmar
que a novela, juntamente com a televisão, é ditadora no processo da moda. Pois,
juntas, especulam desejos nos telespectadores. Braune e Rixa (2002) citam alguns
personagens que marcaram a telenovela com seus figurinos.
Interpretando mulheres que sempre laçaram tendências, em 1990 Regina Duarte popularizou um item inusitado: o laçarote da sucateira Maria do Carmo. Ao contrario do esperado, a peça – que teria que demonstrar o mau gosto da protagonista nova-rica de Rainha da Sucata – foi parar até nas cabeças coroadas do jet set brasileiro. Cavalo de Aço - Em se tratando de moda televisiva, não há como não dá um mau passo. Principalmente se você usa um sapato igualzinho ao do galã! Por isso, em 1973, todos os olhares se voltaram para os pés de Rodrigo (Tarcisio Meira), que usava um calçado com sola de borracha, prontamente apelidado com o título do folhetim (BRAUNE e RIXA, 2002, p. 161).
A telenovela, por meio dos seus personagens lança tendências, a fim de
melhor representar a sociedade na qual a história se passa. De modo indireto acaba
por fazer a sociedade se espelhar no figurino usado pelos personagens, que
acabam se popularizando. Um corte de cabelo, um lenço, as roupas e até mesmo
um batom podem virar moda. Como foi o caso do Batom BokaLoka, usado pelos
personagens da novela Ti ti ti de 1985, responsável por deixar as personagens
irresistíveis. O batom fez tanto sucesso que foi lançando na vida real pela Davene20
20
Marca de higiene pessoal muita famosa nas décadas de 1980 e 1990.
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(BRAUNE e RIXA, 2002) e das meias lurex em Dancin’Days, que faziam os pés das
mulheres nas festas e ruas (CARNEIRO, 2003).
Almeida (1988, apud SOUZA, 2004) destaca que o sucesso das novelas é
o tamanho, que o formato da programação é o mesmo há a mais de 40 anos.
Exibidas de segunda a sábado, sempre nos horários de 18h às 21h, são
intercaladas por jornais e após um programa humorístico ou artístico ou especial.
Por essa constante presença é um gênero consolidado, de grande audiência,
programa da família brasileira.
Lopes (2002) compreende que a televisão e a telenovela estão inseridas
como uma instituição na vida da sociedade brasileira. Com significativo poder de
influenciar a rotina das pessoas, costuma determinar os horários de comer, de
dormir e compromissos. Para explicar o motivo da identificação do público com a
novela, Scoralick (2010) relata que a telenovela possui características marcantes,
usando temas versáteis que prendem a atenção e fascinam atraindo os mais
diversos públicos. Por possuir uma grande variedade de temas – desde os
tradicionais “água com açúcar” até “comedia pastelão” – acabam por falar sobre
problemas que estão diretamente ligados aos telespectadores.
Exemplo da variação de temas foram as chamadas da novela
Cambalacho, 1986. A novela de Silvio de Abreu que trazia chamadas que deixavam
os telespectadores curiosos ao perguntar “Você sabe o que é CAMBALACHO?”.
Antes da novela as pessoas consultavam o dicionário após, a palavra nunca mais
saiu da boca do povo (BRAUNE e RIXA, 2002, p. 157).
Assim, Andrade (2003) chega à conclusão de que o modo como
compreendemos nossa sociedade, em grande parte, é mediado pelas telenovelas.
Já que nelas encontramos diferentes tipos de cenários comuns às pessoas,
permitindo que se debatam temas que são pouco discutidos pela sociedade.
De acordo com Lopes (2003) essa identificação é dada devido a uma
“matriz capaz de sintetizar a formação social brasileira em seu movimento
modernizante”. A novela pioneira em abordar assuntos sociais foi exibida em 1968
pela TV Tupi e se chamava Beto Rockfeller, de Bráulio Pedroso, com direção de
Lima Duarte e produção de Cassiano Gabus Mendes. Baseada no estilo de vida das
grandes cidades contemporâneas, usando uma linguagem coloquial e humorística
(HAMBURGER, 1998).
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A estrutura utilizada pela novela constrói, segundo Lopes (2003), uma
narrativa personalizada, capaz de abordar assuntos públicos construindo uma forma
diferente de debates.
[...] pouco definidas em termos ideológicos ou políticos para tratar de assuntos relativos ao espaço público, as novelas levantaram e talvez tenham mesmo a dar o tom dos debates públicos. Tornaram-se dois exemplos históricos a associação da novela Vale Tudo (1988) à eleição de Fernando Color de Melo, que calcou a sua imagem eleitoral como “caçador de marajás” [...] Anos Rebeldes (1992) no processo de impeachment desse mesmo presidente, três anos depois (LOPES, 2003, p. 20).
2.3 Telenovela e moda: figurinos que criam tendências
Para que possamos compreender melhor a influência da moda nas
telenovelas, primeiramente temos que entender o significado de figurinos. No âmbito
geral, é o figurino que faz da direção de arte responsável por criar o visual da
narrativa por meio das roupas e acessórios usados por seus personagens.
Desenvolvidas pelos figurinistas, a intenção é atender as necessidades do roteiro
(CUNHA, 2009).
O figurino utilizado pelos atores é importante para a composição da
personagem. Steffen (2005) explica que os figurinos dão características à
personagem como modo de pensar, status e informa a época citada na novela,
funcionando como elemento comunicador entre a telenovela e o público.
O figurino não pode ser visto destacado de um contexto maior. Funciona como uma importante fonte auxiliar para se entender a narrativa, e muitas vezes desempenha papel de destaque devido a sua importância para a visão que se tem do que se pretende realizar com o programa de ficção televisivo (CUNHA, 2009, p. 33).
De acordo com Marília Carneiro (2003), figurinista da Rede Globo, o
desenvolvimento do figurino na televisão ocorreu na telenovela Os ossos do Barão,
de 1973, a segunda novela em cores da TV brasileira. Foi usada a indumentária das
personagens como estratégia para atrair a atenção do público. Incluindo bijuterias,
joias e acessórios, todo o figurino foi montado com bastante cuidado pelos
costureiros e figurinistas da época.
Para montar o figurino de uma telenovela é necessário todo um estudo
sobre as vivências da personagem e a época trabalhada, para adequar de forma
cabível dentro da trama. É necessário entender especificações para a linguagem do
meio, proporções adequadas e ter cuidado com cores etc. (CUNHA, 2009).
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Para Marília Carneiro (2003), quando uma novela nova entra no ar os
figurinos são sempre baseados em mostruários da próxima estação, para não correr
o risco de apresentar ao público uma moda já velha. A figurinista foi pioneira em
implementar a produção de rua, retratando a moda do cotidiano nas telenovelas,
usando aspectos da moda de rua.
Essa confecção de figurinos é criada apenas três meses antes da estreia
que, de acordo com Steffen (2005), é o período em que são criados os estereótipos
dos personagens.
Após ler a sinopse de uma novela, o figurinista imagina os detalhes de cada personagem utilizando para isso tantos os meios convencionais, como: o cinema, revistas de fofocas, fotos, publicações jovens. Também são feitas visitas as confecções de pronta-entrega, fábricas, lojas de departamentos, viagens, vitrines, a observação da moda de rua, leitura de revistas, entrevista com estilistas, produtores de moda, donos de lojas (STEFFEN, 2005, p. 8-9).
Toda essa movimentação lida com todo o comércio que, segundo Marilia
Carneiro (2003), atrai olhares de estilistas e confecções que querem ver seu
trabalho na televisão. Em meio a todas as opções, o figurinista tem o papel de
identificar qual roupa casará melhor com cada estereótipo do personagem e com o
físico do ator.
O figurinista fica com a função de criador de tendências, pois já cria seus
figurinos pensando nelas. Para isso, é necessário que ele entenda o contexto
histórico e cultural e esteja a par das tendências futuras, as criações de figurinos
tornam-se um grande meio para o desenvolvimento da moda brasileira, sendo
portando uma das principais mídias de sua promoção (CUNHA, 2009).
As tendências de moda lançadas pela telenovela são semelhantes às
internacionais, filtradas pelos olhos dos figurinistas. Desta forma, a telenovela passa
a legitimar as correntes de moda brasileiras (ALMEIDA, 2003 apud CUNHA, 2009).
Segundo Hamburger (2005), essa apropriação do que é representado na
telenovela pelo público ocorre devido à interação com os elementos da narrativa.
Um desses elementos é moda que tanto pode ser os figurinos usados pelos atores,
como seus acessórios, carros, bordões etc.
A novela efetua assim o papel de uma vitrine, que familiariza o espectador com diversos estilos e modas. Através dos personagens e de toda sua história na narrativa, os estilos de vida – que incluem roupas, entre outros produtos e serviços que cada personagem utiliza – são aos poucos compreendidos pelo público (ALMEIDA, 2003, p. 168-169 apud CUNHA, 2009, p. 31).
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A telenovela surge com tendências ainda não exibidas pelo mercado e
algumas vezes modas lançadas de outras épocas que são revividas. Mesmo assim,
acabam por gerar desejos no telespectador. É o que afirma Cunha (2009), que
completa com pensamento de Almeida (2003, apud CUNHA, 2009), que diz que o
público precisa se identificar para que a moda ou estilos usados pelo personagem
repercutem.
O gênero da telenovela é a revista de moda eletrônica que vai ao ar
diariamente, de fácil acesso e gratuita. Devido a estes fatores ela consegue ter um
alcance maior do que se compararmos com os desfiles de moda, que são restritos a
determinados públicos. Ela atende às camadas populares, por isso a moda nela
divulgada acaba se tornando referência (POZATTO, 2008).
Marilia Carneiro (2003) conta que, para compor os figurinos, ela desenha
o estereótipo do personagem desde o cabelo até os sapatos. Todos os detalhes
fazem parte da composição do personagem e, às vezes sem querer, esses detalhes
passam a fazer moda nas ruas.
Em 1974 a novela O rebu, de Bráulio Pedroso, fiz o cabelo de Bete Mendes curtíssimo e grudado na cabeça com gomalina, numa época em que as mulheres ainda usavam longas cabeleiras. O corte pegou. Quem registra é Ruy Castro, na pagina 241 de Ela é carioca: “O rebu fez com que os cabeleireiros subitamente tivessem que mandar afiar as tesouras. E faltou gomalina na praça” (CARNEIRO, 2003, p. 37).
O exemplo citado acima é apenas um dentre tantas modas lançadas nas
telenovelas que fizeram sucesso. Outro exemplo foi proveniente da telenovela, já
citada neste capítulo, Dancin'Days20 21 (1978); nela, o visual de Júlia Matos é
lembrado até hoje e marcou uma geração. Sonia Braga, atriz principal da trama,
relata no livro de Marilia Carneiro (2003, p. 37) que: “Na época da novela fui a uma
festa e simplesmente todas as mulheres estavam vestidas de Júlia Matos”.
Para a figurinista Marilia Carneiro (2003), quem realmente lança moda
são as personalidades, sejam de TV, cinema ou da música. De acordo com ela,
essas celebridades conseguem alcançar mais o público do que as modelos de
passarela. Pois atrizes e atores nem sempre são esbeltos, possuem diferenças e é
necessário adaptar os figurinos a eles.
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Em Dancin’Days o visual de Júlia Matos lançou as meias lurex com sandálias de salto alto fino e com uma calça de jogging de cetim com listras laterais, para completar o visual que consagrou a novela. Fonte: http://memoriaglobo.globo.com/programas/entretenimento/novelas/dancin-days/figurino-e-caracterizacao, acesso em 2/11/2012.
http://memoriaglobo.globo.com/programas/entretenimento/novelas/dancin-days/figurino-e-caracterizacao
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Então surge o desafio de adaptar a tendência da moda a silhuetas nem sempre esbeltas e longilíneas como as que se vêem nos desfiles e nas revistas. Ou seja, eu preciso vestir os imprevistos das pessoas de carne e osso. Preciso vestir idades, pesos, alturas, cores de cabelos, cores de pele, ambições, frustações, sexualidades. Ou vocês pensaram que era fácil? (CARNEIRO, 2003, p. 41).
A telenovela reproduz a moda, às vezes de forma melhorada, divulga e a
populariza (POZATTO, 2008). Marilia Carneiro (2003) comenta que a novela é capaz
de ditar moda e não se conhece bem o “porquê”. Complementando, Cunha (2009)
diz que a telenovela é expoente da relação da mídia e da moda, já consolidada.
Assim, com base na leitura e nas pesquisas dos autores é possível ver
que a telenovela cria tendências, seja de roupa, estilos de vida, comportamento ou
acessórios. Seus figurinos comunicam o público sobre a vida de cada personagem.
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3 A ANÁLISE
Neste capítulo, apresentamos a análise feita sobre as cenas da telenovela
Tititi, de 1980 e 2010. Durante a análise, são apresentados os pontos diferencias
entre o remake e a versão original, para compreensão de como a moda
representada, através dos figurinos, transmite a cultura e cenário social de cada
época.
Além de fazer uso das próprias cenas e capítulos das telenovelas, foram
usadas entrevistas da figurinista da segunda versão, Marília Carneiro, bem como,
depoimentos em vídeo e em sites, fazendo, portanto, uso da tecnologia própria do
século XXI, a internet.
A internet foi uma ferramenta de grande importância para a divulgação e
repercussão da Tititi de 2010. Contando com site e blogs próprios da telenovela,
redes sociais e sites especializados no assunto, tudo isso, colaborando para difusão
das tendências da contidas na telenovela.
Antes de iniciar a análise, apresentamos a metodologia aplicada em toda
a pesquisa no primeiro tópico, para em seguida, descrever e analisar as telenovelas
em questão.
3.1 Metodologia
Esta pesquisa quer compreender o uso da telenovela como mídia difusora
da moda em diferentes épocas e espaços. Para a compreensão dos focos de
estudo, realizamos uma pesquisa bibliográfica, que de acordo com Stumpf (2009):
[...] num sentido amplo, é o planejamento global inicial de qualquer trabalho de pesquisa que vai desde a identificação, localização e obtenção da bibliografia pertinente sobre o assunto, até a apresentação de um texto sistematizado, onde