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astronomia indigena

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    ALDEIA EKERU: ASTRONOMIA INDGENA NO BRASIL

    Marisa Serrano Ortiz- NASE Brasil

    O ser humano observa o cu h milnios. O homem se voltou para o cu a fim de descobrir um processo como uma medida para conhecer o tempo e, com mtodos prprios, planejar o cotidiano. Atualmente, alguns astrnomos se dedicam a pesquisar o que restou daquilo que os povos que viveram h muito tempo construram e escreveram a respeito dessas observaes.

    Luiz Galdino, pesquisador da arte rupestre pr-histrica no Brasil, autor de A Astronomia Indgena(2011), afirma que o fundamento da astronomia reside na evidncia de que o homem percebeu, ainda na pr-histria, que as variaes climticas ventos, chuvas, frio, calor bem como a produo de frutos e o processo de reproduo dos animais identificavam diferentes estaes. Descobriu que os ciclos observados na natureza sua volta correspondiam a ciclos demarcados nos cus, principalmente por estrelas e constelaes. Essa constatao levou-os a registrar os astros cujos ciclos haviam se mostrado de importncia para a criao dos calendrios. O autor comenta que a arqueoastronomia permite conhecer a astronomia antiga, a partir da pesquisa arqueolgica. Essas evidncias podem ser construes, conjuntos de construes, alinhamentos de pedras, pinturas rupestres, etc.

    O estudo sobre o que os povos, ao longo da histria e da pr-histria, apreenderam dos fenmenos celestes, como utilizaram esses fenmenos e o papel que tiveram em suas culturas se chama Astronomia Cultural que tem duas vertentes: a Arqueoastronomia e a Etnoastronomia.

    Arqueoastronomia so evidncias e vestgios da astronomia desenvolvida pelas diversas culturas na maior parte das vezes com as quais ns no temos mais contato. Nesse olhar sob o passado, como por exemplo, em algumas das antigas cidades em que esses povos moraram, podemos encontrar construes e monumentos que resistem ao tempo e indicam o conhecimento do cu, com registros de certas posies dos astros como o das estrelas mais brilhante, dos planetas, da Lua e principalmente o nascimento e ocaso do Sol no horizonte. Muitos dos monumentos descobertos apontam, por exemplo, a posio onde o Sol se pe em datas especiais que marcam o incio das estaes do ano. Esta era uma forma de se organizar um calendrio para as pocas de plantio dos alimentos ou para as festas religiosas.

    Um dos mais expressivos indcios, sobre a astronomia pr-histrica no Brasil, entre tantos outros espalhados pelo pas est insculpido nas figuras da Pedra do Ing, localizado no municpio de Ing, no estado da Paraba. O imenso e pesado bloco rochoso, com superfcie recoberta de relevos, serve comunicao de fatos significativos do cotidiano, entre os sinais representando os elementos da natureza, aparecem figuras e estrelas interligadas, simulando o cu noturno com as constelaes. Esse monumento arqueolgico foi o primeiro a ser tombado, como patrimnio nacional, em 1944, pelo IPHAN (Instituto do Patrimnio Histrico Artstico Nacional). Os arquelogos

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    classificam a Pedra do Ing como "Itacoatiara"- que em Tupi significa "pedra pintada".

    Apresentando dados sobre o cotidiano e de acontecimentos marcantes do homem pr-histrico que ali viviam, a pedra tambm conhecida de Germano Bruno Afonso, astrnomo e investigador do saber astronmico dos ndios brasileiros. respeito desse monumento Afonso relata que, s margens do rio Ing, na Paraba, existe um monlito de rocha gnaisse, durssima, cuja superfcie est recoberta por cerca de 500 inscries de baixo-relevo, que muitos pesquisadores afirmam serem nicas no mundo. Trata-se da famosa Itacoatiara de Ing, com cerca de 23 m de largura e 3 m de altura. H varias hipteses sobre a origem dos grafismos. A nossa de que Itacoatiara do Ing serviu de local para rituais religiosos relacionados a elementos astronmicos. Identificamos ali alguns espritos da mitologia tupi-guarani, e supomos que o painel indica parte da Via Lctea. Diversos pajs reconhecem alguns dos espritos nas gravuras, puderam nome-los e localiz-los no cu.

    Figura 1- Pedra do Ing. Supe-se que teria sido gravada em 4134 a.C. (sic) Fonte: Secretaria do Patrimnio da Unio.

    Em recentes publicaes sobre a etnoastronomia do Brasil, o resgate sobre o conhecimento indgena do cu tem sido motivo de muita preocupao, pois os ndios mais velhos, detentores desse conhecimento, esto morrendo e por falta de registro esse saber est morrendo junto.

    Afonso, pesquisador in loco da astronomia indgena nas aldeias, escreve que uma boa parte dos ndios brasileiros, atravs da astronomia prpria, ainda definem o tempo de plantio e de colheita, a contagem de dias, meses e anos, a durao das mars, a chegada das chuvas. Desenham no cu seus mitos e seus cdigos morais, fazendo do firmamento esteio de seu cotidiano. Ainda so encontrados muito desses saberes entre agricultores, caadores e pescadores, que os utilizam em seu cotidiano. Atualmente, h um grande interesse internacional na proteo e conservao do conhecimento tradicional e de

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    prticas ancestrais de indgenas e das comunidades locais, para a conservao da biodiversidade.

    Uma das constelaes indgenas mais conhecidas, entre os ndios de norte a sul do Brasil, a constelao da Ema (abaixo). Quando surge totalmente no cu ao anoitecer, no lado sudeste (hemisfrio sul), anuncia a chegada do solstcio de inverno, no dia 21 de junho, uma estao de muito frio.

    Figura 2- Constelao indgena brasileira da Ema. .

    A constelao da Ema localiza-se numa regio do cu limitada pelas constelaes ocidentais do Cruzeiro do Sul e Escorpio. Sua cabea formada pela nebulosa do Saco de Carvo. Alfa e beta Centauro esto dentro do pescoo, representando dois grandes ovos que acabou de engolir. As manchas claras e escuras da Via Lctea formam a sua plumagem. Segundo os ndios de etnia tupi, a constelao do Cruzeiro do Sul segura a cabea da Ema, pois se solt-la, beber toda a gua do planeta.

    Com a inteno de participar do resgate da cultura astronmica indgena brasileira, foi desenvolvido na Aldeia Ekeru, Terra Indgena do Ararib/SP, com os pesquisadores da Unesp de Bauru/SP, artista plstica1 e os ndios de etnia terena, um Marcador de Tempo do Sol que, como os relgios encontrados em stios arqueolgicos no Brasil, tm a funo de registrar solstcios, equincios e estaes do ano atravs da passagem do Sol. Abaixo, esquerda, o desenho foi feito por uma criana terena de 13 anos de idade, e, direita, o Marcador de Tempo do Sol Ytore (Ytore, nome do cacique da aldeia) construdo na aldeia com a participao de toda a comunidade indgena.

    1 Maria Ceclia Rais Barbosa, artsta plstica e professora de arte e design.

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    Figura 3- Marcador de Tempo do Sol desenho feito em sala de aula e marcador solar construdo na aldeia no desenvolvimento do projeto.

    O professor da escola indgena de Ekeru, Davi Pereira, comenta que o Marcador de Tempo do Sol Ytore alm de resgatar os conhecimentos de seus antepassados agregou valores da cultura, como o trabalho com a argila, a pintura do gnmon (elemento antropomorfo), tranado e vestimenta.

    BIBLIOGRAFA

    AFONSO, G.A., SILVA, P.S. O Cu dos ndios de Dourados: Mato Grosso do Sul. Editora UEMS. Mato Grosso do Sul, 2012.

    GALDINO, L. A Astronomia Indgena. Editora Nova Alexandria. So Paulo, 2011.

    Marisa Serrano Ortiz, Pesquisadora da Faculdade de Cincias Unesp/Bauru, Especialista em Ambientes No-Formais de Aprendizagem e Professora de Fsica e Matemtica dos Ensinos Fundamental e Mdio.