batuques da savana ano viii, nÚmero 14 leigos … · de de alunos na escola, as novas chega-das e...

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O Batuques da Savana está de volta, durante este tempo mui- tas coisas aconteceram. A equipa co- ordenadora dos LMC em Moçambique ganhou novo membro, o Padre Paulo Emanuel Loureiro, que chegou no final do ano passado à Província de Mo- çambique. Queremos desde já desejar- lhe um bom trabalho na pastoral e no nosso grupo. Carlos regressou a Portugal após 4 anos dedi- cados à missão de Carapira. Agradecemos-lhe por todo o seu empenho e doação ao serviço do povo com quem parti- lhou a sua vida, principalmente na pastoral juvenil e na Es- cola Industrial de Carapira. E chegaram mais dois elemen- tos, a Márcia de Portugal e a Beatriz do México. Realizamos o nosso VII Encontro anual onde foi feita a revi- são do directório de 2009 e se decidiu dar por terminado o projecto de Benfica. Estivemos presentes na Assembleia dos MCCJ da Província de Moçambique que aconteceu em Ma- rera, Chimoio em Novembro de 2012, onde tivemos oportu- EDITORIAL Pontos de interesse especiais: Testemunhos de quem está na Missão Partilha de formando LMC moçambicano Relatos de quem chega e de quem parte Encontro anual LMC da Província de Moçambique Provérbio Macua - Aprendendo com a sabedoria do povo LEIGOS MISSIONÁRIOS COMBONIANOS DA PROVÍNCIA DE MOÇAMBIQUE BATUQUES DA SAVANA SETEMBRO DE 2013 ANO VIII, NÚMERO 14 Nesta edição: Contrastes 3 Ser Leigo Missionário Comboniano 5 “A paz é fruto da jus- tiça” 7 Carapira, povo esco- lhido por Deus 9 Até já! 11 Encontro anual 13 13 Nova Seção: Provérbio Macua

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O Batuques da Savana está de

volta, durante este tempo mui-

tas coisas aconteceram. A equipa co-

ordenadora dos LMC em Moçambique

ganhou novo membro, o Padre Paulo

Emanuel Loureiro, que chegou no final

do ano passado à Província de Mo-

çambique. Queremos desde já desejar-

lhe um bom trabalho na pastoral e no

nosso grupo. Carlos regressou a Portugal após 4 anos dedi-

cados à missão de Carapira. Agradecemos-lhe por todo o

seu empenho e doação ao serviço do povo com quem parti-

lhou a sua vida, principalmente na pastoral juvenil e na Es-

cola Industrial de Carapira. E chegaram mais dois elemen-

tos, a Márcia de Portugal e a Beatriz do México.

Realizamos o nosso VII Encontro anual onde foi feita a revi-

são do directório de 2009 e se decidiu dar por terminado o

projecto de Benfica. Estivemos presentes na Assembleia dos

MCCJ da Província de Moçambique que aconteceu em Ma-

rera, Chimoio em Novembro de 2012, onde tivemos oportu-

EDITORIAL

Pontos de interesse especiais:

Testemunhos de quem está na Missão

Partilha de formando LMC moçambicano

Relatos de quem chega e de quem parte

Encontro anual LMC da Província de Moçambique

Provérbio Macua - Aprendendo com a sabedoria do povo

LEIGOS MISSIONÁRIOS COMBONIANOS

DA PROVÍNCIA DE MOÇAMBIQUE

BATUQUES DA SAVANA

S E T E M B R O

D E 2 013

ANO VIII,

NÚMERO 14

Nesta edição:

Contrastes 3

Ser Leigo Missionário

Comboniano 5

“A paz é fruto da jus-

tiça” 7

Carapira, povo esco-

lhido por Deus 9

Até já! 11

Encontro anual 13

13 Nova Seção:

Provérbio Macua

EDITORIAL (CONTINUAÇÃO)

Página 2

BATUQUES DA SAVANA

nidade de apresentar o relatório das nos-

sas actividades nos últimos 3 anos. Esti-

vemos também na Assembleia Geral dos

Leigos Missionários Combonianos na

Maia, Portugal onde se procurou traçar

bases para um caminho formativo comum

dos LMC para os diferentes países e es-

tabelecer as bases organizacionais que

nos permitam consolidar como movimento

de Leigos Missionários Combonianos a

nível internacional. Todos momentos de

grande crescimento e de reflexão da nos-

sa vocação.

O final do ano foi cheio de actividades,

tivemos retiro dos leigos a trabalhar na

diocese de Nacala, visita nas prisões, a

passagem do ano com os jovens da paró-

quia de Carapira, o encerramento do ano

formativo dos LMC, a festa de graduação

dos alunos da escola... O primeiro semes-

tre deste ano também teve muitas novida-

des: o aumento considerável da quantida-

de de alunos na Escola, as novas chega-

das e saídas das 3 comunidades da equi-

pa missionária, as diversas actividades

pastorais, encontros e conselhos, projec-

tos e parcerias com a escola, partilhas e

crescimento mútuo, realização do encon-

tro na ocasião da Jornada Mundial da Ju-

ventude com os jovens da Diocese de Na-

cala aqui na Escola Industrial de Carapira.

Agradecemos a Deus por todas as graças

que nos concede, as oportunidades cons-

tantes de O podermos servir sempre, de

O podermos encontrar sempre no rosto

dos que sofrem, no rosto dos que riem, no

rosto daquele de quem nos aproximamos

e daquele que se aproxima de nós.

Por último deixamos um apontamento so-

bre o trabalho que se tem vindo a realizar

na Diocese de Nacala no que toca à área

da Justiça e Paz e o apoio da CAFOD

(Cáritas inglesa) nestas actividades. É

bom vermos algumas pessoas a mobiliza-

rem-se na luta pelos seus direitos à terra

perante as multinacionais que as invadem

e um governo apático ao sofrimento do

povo.

Assembleia dos MCCJ da Província de Moçambi-

que, em Marera, Chimoio, Novembro 2012

Página 3

A N O V I I I , N Ú M E R O 1 4

Eu estou onde está o meu coração e meu coração es-

tá nesta terra maravilhosa cheia de árvores imponen-

tes e grandiosas, que infelizmente têm sido levadas

(roubadas) para outros países. Nesta terra onde o sol

nasce no mar e se poe sobre as montanhas, onde a

lua não é mentirosa e nos sorri quando a contempla-

mos. Nesta terra onde se respira ar puro, que infeliz-

mente também já é fonte de rendimento para muitos.

Nesta terra de praias maravilhosas de areia branca e

água transparente que com muita triste-

za deixam de ser desertas para dar lu-

gar a mega empreendimentos turísticos.

Nesta terra de cor vermelha, terra ver-

melha cor do sangue, do sangue derra-

mado por muitos na luta pela indepen-

dência, do sangue de muitos derramado

na luta pela paz e do sangue daqueles

que hoje lutam por uma vida mais digna

e pelos seus

direitos. Aqui a

terra é também

meio de sobre-

vivência, é dela que o povo tira os ali-

mentos necessários para se manter du-

rante o ano, mas que está a ser usurpa-

da por multinacionais que surgem do na-

da e exigem seus direitos sobre a terra

Liliana Ferreira, LMC [email protected]

CONTRASTES

“Moçambique é belo e atractivo, cheio de belezas e recursos

naturais(...)”

Grande quantidade de toros de madeira são diariamente levados para fora do país

Página 4

BATUQUES DA SAVANA

sem pensar nas consequências na vida

de quem lá viveu toda a vida.

Moçambique é belo e atractivo, cheio de

belezas e recur-

sos naturais,

com pessoas

simpáticas e

acolhedoras, para o exterior saia a ideia

de que é também um cen-

tro de emprego, mas isto

só mesmo para quem vem

de fora. O desemprego

aqui é elevado, os jovens

que se esforçam por ter-

minar a 12ª classe depa-

ram com as portas fechadas para o

mundo do trabalho e outras vezes é lhes

oferecida a oportunidade de trabalho em

troca de um valor…

Esta realidade delineou as discussões

das aulas de Educação Cívica e Moral

do primeiro semestre onde discutimos a

situação actual de Moçambique tocando

em pontos como: desigualdade na distri-

buição sociais, pobreza, educação e sa-

úde, corrupção, globalização, acção das

multinacionais, contrastes… temas im-

portantes para desinstalar

os jovens dando a conhe-

cer a realidade e procu-

rando fortalecer as suas

mentes críticas de modo a

poderem exigir justiça e

um futuro mais promissor.

“(...) a terra (...) está a ser usurpada por multinacionais que

surgem do nada (...)”

Vista de cima de uma Montanha, na cidade de Nampula: belezas de Moçambique

“O desemprego aqui é elevado, os jovens (...)

deparam com as portas fechadas para o mundo do trabalho e outras vezes é

lhes oferecida a oportunidade de trabalho

em troca de um valor”

Página 5

A N O V I I I , N Ú M E R O 1 4

Chamo-me Zeferino Jacinto Cebola da paróquia de Ca-

rapira. Sou formando dos Leigos Missionários Comboni-

anos desde o ano 2012. Como exigência da minha voca-

ção, o candidato para os Leigos Missionários Combonia-

nos faz uma formação num período de 2 anos, assim es-

tando no 2º ano de formação. Sinto-me bem acompanha-

do e bem acolhido neste grupo. Tenho vontade de estar

neste grupo missionário porque as minhas formações me

orientam para missão de São Daniel Comboni, enriquece

a minha mente e ajuda-me a crescer como missionário.

Com esta formação dos Leigos Missionários Combonia-

nos compreendo a vida de Daniel a serviço da missão a

Zeferino Jacinto Cebola formando LMC moçambicano

Tel: 820757396 e 861641015

SER LEIGO MISS IONÁRIO COMBONIANO

partir das suas obras para salvar o povo.

Eu quero assim ser missionário combo-

niano para servir o povo e promover a

evangelização a todos, guiado no conhe-

cimento de Jesus Cristo. Ser missionário

não é só partir como São Daniel Combo-

ni que saiu da Itália para África, mas sim

é prestar o serviço da missão de Deus

para o povo, ser discípulo de Cristo e fi-

xar o olhar no mesmo Cristo, ser teste-

munho, modelo no anúncio da boa nova,

na evangelização, aquela que parte do

encontro do Senhor Jesus

Cristo. Esta vocação que es-

tou seguindo me prepara nu-

ma vida de conhecimento,

me faz modelo de discípulos

“Ser missionário não é só partir (…), mas sim é prestar o serviço da

missão de Deus para o povo, ser discípulo de

Cristo e fixar o olhar no mesmo Cristo(…)”

Página 6

BATUQUES DA SAVANA

de Cristo no anúncio e me faz

compreender o carisma do

Comboni. Esta vocação contri-

bui concretamente no serviço que a igreja

deve prestar à humanidade para a confir-

mar na fé. De facto, a missão primordial

da igreja consiste em anunciar Deus, em

ser sua testemu-

nha diante do

mundo, dando a

conhecer o verda-

deiro rosto de

Deus assim como

seu desígnio de

amor e de salva-

ção em favor da

humanidade, co-

mo foi revelado por Je-

sus. Ser leigo missioná-

rio comboniano é estar

ao serviço de Deus, on-

de servir Deus não é

apresentar-se como

mestre da sabedoria,

que transmite informa-

ções sobre Deus aos ou-

tros. Ser leigo missioná-

rio comboniano é ter fi-

delidade à palavra de

Deus que escuta, para

depois a transmitir aos

que estão desanimados.

Finalmente, sou animador

regional dos jovens na Re-

gião de Mutoro.

“Esta vocação contribui concretamente no serviço que a igreja deve prestar

à humanidade(…)”

Encontro de formação LMC

Encontro na Comunidade Santo Rosário, Região Mutoro

Página 7

A N O V I I I , N Ú M E R O 1 4

A paz não é somente a ausência de guerra. A paz

também é algo que se constrói com ações concretas no

dia a dia. Não é possível haver paz onde acontecem

injustiças, onde o direito das pessoas é desrespeitado,

negado, colocado de lado em benefício de alguns

poucos.

Diante disso, uma das coisas primordiais para evitar as

injustiças é o conhecimento dos direitos e deveres de

cada cidadão, para que a pessoa tenha consciência de

como deve ser tratada, do que é seu e o que é do outro,

Flávio Schmidt, LMC [email protected]

"A PAZ É FRUTO DA JUSTIÇA"

e sobretudo saber os meios que

pode e deve buscar quando o

que deveria ser feito não o é,

quando seu direito lhe é negado.

Consciencializar (conscientizar),

eis uma das chaves para a

construção da justiça e da paz.

É exatamente com este

propósito que temos trabalhado

como comissão de Justiça e Paz

na Paróquia de Carapira. Desde

o início deste ano temos

realizado encontros zonais,

reunindo as pessoas das diversas

comunidades, entre animadores de

Justiça e Paz e também de

outros ministérios, e

promovendo partilhas e

discussões a respeito dos

assuntos de leis e direitos em

Moçambique. Ouvindo situações

concretas enfrentadas em

cada realidade e

apontando, a partir do que

diz as leis e a doutrina

“Consciencializar (conscientizar), eis uma das chaves para a construção da

justiça e da paz.”

Encontro Diocesano de Justiça e Paz, Diocese de Nacala, onde par-

ticipam os animadores regionais da paróquia

Página 8

BATUQUES DA SAVANA

social da Igreja, o que pode e deve ser

feito. Também esclarecendo o papel

do animador de Justiça e Paz, para

que cada um saiba as possibilidades e

responsabilidades que tem com esta

função, mas sobretudo animando a

comunidade na participação e

colaboração com os animadores deste

ministério, de modo a juntos

perceberem os problemas e buscarem

as soluções, num sentido de

corresponsabilidade e cooperação,

como comunidade. Também refletindo

que a

busca de

justiça e

respeito

aos direitos da pessoa não limita-se

aos cristãos, mas que, como

promotores

desta justiça

e paz,

estamos

abertos à

pessoa

humana,

independente de sua raça, tribo, cor,

crença, partido político ou o que quer

que seja.

Além disso, como nos aproximamos

do processo eleitoral aqui em

Moçambique, outra proposta que tem

sido trabalhada é a consciencialização

(conscientização) com relação à

importância da participação nas

eleições e demonstração de

insatisfação frente à situação atual do

país também com o voto.

As partilhas têm

sido muito ricas.

É a continuação

do cultivo das

sementes que

foram lançadas

há tempos por

outras pessoas, e

pouco a pouco

vamos

encontrando já

um ou outro fruto,

“(...) juntos perceberem os

problemas e buscarem as soluções, num

sentido de corresponsabilidade e

cooperação, como comunidade.”

Encontro Zonal de Justiça e Paz na comunidade de Munhunha, Zona de Nicupa, Re-

gião Puepue, Paróquia de Carapira

“(...) a busca de justiça e respeito aos direitos

da pessoa não limita-se aos cristãos (...)”

Página 9

BATUQUES DA SAVANA

detém, continuando sempre em frente,

sem olhar atrás. Onde a sabedoria de

Deus se faz presente em cada uma

destas pessoas, desde os mais

pequenos, onde seu olhar está atento a

tudo o que acontece, os adolescentes,

onde sua pessoa sofre as mudanças do

corpo e os sentimentos se confundem,

dando à rebeldia sinais de vida e os

jovens querendo alcançar seu sonho,

lutando nas adversidades que a realidade

lhes apresenta, os adultos pacientes com

o correr do tempo e os anciãos um

tesouro nas comunidades, cheios de

Sabedoria.

A relação que têm com Deus é especial, a

harmonia em suas celebrações é

inexplicável, mas posso dizer que me

sinto no mesmo céu, onde o tempo pára e

não há nada melhor que estar aí, um só

Povo, um só Deus, uma só Fé. Não sei se

muitos ou pouco, mas os que estamos aí

é de coração, ainda quando não entendo

Beatriz Maldonado, LMC [email protected]

CARAPIRA, POVO ESCOLHIDO POR DEUS

No dia 22 de junho de 2013 tive o privilégio de pisar esta

terra santa, em África; cheguei à comunidade de Carapira,

um lugar maravilhoso, cheio da Graça de Deus, onde as

pessoas encontram a felicidade no dia-a-dia, no pouco a

pouco, no passar do tempo sem pressa de nada, pois a vida

mesmo é assim, tudo graças a Deus.

Nos rostos onde se pode descobrir as alegrias e as dores

que se encontram no caminhar da vida, mas isso não os

Página 10

BATUQUES DA SAVANA

a maior parte do que dizem,

posso experimentar a presença

de Deus em minha vida com a

comunidade, com a esperança

de um dia estar assim na

eternidade.

E é assim como venho vivendo

e tratando de descobrir qual é a

missão que Deus me confia

neste momento, para colocar-

me a seu serviço nesta

comunidade onde também

pode haver injustiças sociais, políticas ou

religiosas.

O AMOR está presente e

onde há amor, aí está Deus.

Somente com Ele poderemos

trabalhar para a construção

de Seu Reino, assim unindo forças com a

equipa missionária que tem cultivado e

cuidado deste amor, ao longo do tempo,

com paciência e entrega, seguindo estes

exemplos vivos, continuar esta luta onde

o Bem Comum se alcançará

na medida que sejamos

Solidários, Disponíveis e

Comprometidos em nossa

Missão, acreditando e

atuando conforme nossas qualidades,

habilidades, dons, conhecimentos, unidos

a nossos irmãos, colaborando em equipa

e assim, seguir os sinais, símbolos dos

tempos para

promover uma boa

mudança na

realidade que se nos

apresenta.

Isto é o que posso

dizer até hoje, um

mês e meio, ou seis

semanas, de minha

“A relação que têm com Deus é especial, a harmonia em suas

celebrações é inexplicável (...)”

Página 11

BATUQUES DA SAVANA

A palavra “saudade” descreve a mistura dos

sentimentos de perda, falta, distância e amor.

E neste momento é esta mistura de senti-

mentos que sinto em relação a Carapira. Sin-

to a falta do cheiro da terra quando chove,

dos sons dos batuques que ecoam noite den-

tro, da xima com galinha e matapa, do colori-

do das capulanas das mamãs, do espectácu-

lo das acácias em flor, do sabor das frutas,

das cores do céu quando o sol já vai dando

lugar à

lua, das

crianças

sempre a

sorrirem,

dos mer-

cados on-

de se

misturam

os chei-

ros das

frutas, legumes, peixe e especiarias, das noi-

tes com uma brisa suave e morna tocando na

pele, dos domingos passados com os jo-

vens… Sinto

falta de ti!

Aos domingos,

apetece-me ir

à celebração

da palavra numa comunidade qualquer… só

que agora, a distância não permite… Cada

reencontro com Deus, é uma grande festa

Carlos Barros, LMC [email protected]

ATÉ JÁ!

Ao longo de quatro anos, escrevi neste espaço, sobretu-

do sobre temas relacionados com os problemas que as-

solam o povo makua, particularmente os jovens.

No entanto, como já regressei à minha província de ori-

gem, irei escrever umas breves palavras sobre uma pa-

lavra tipicamente portuguesa. É uma palavra, que dificil-

mente encontra tradução directa para outro qualquer idi-

oma: “SAUDADE”!

“A palavra “saudade” descreve a mistura dos sentimentos de perda,

falta, distância e amor.”

Página 12

A N O V I I I , N Ú M E R O 1 4

para este povo. São pobres e ne-

cessitados nos caminhos da vida,

mas alegres e felizes na relação

com Deus. As danças, os cânticos,

os símbolos, os silêncios

(especialmente os silêncios)... foi

algo de tão eterno, que muitas ve-

zes, compreendi que ainda sou

muito pobre...

Percebi o amor fraterno que depositam nas

relações comunitárias. Aqui em Carapira, a

pastoral comunitária é uma realidade viva.

Todos os ministérios são dinâmicos, conduzi-

dos por papás, mamãs e jovens que se entre-

gam. Para estes trabalhadores do Reino,

apesar dos

enormes obs-

táculos, todas

as tarefas são

feitas com de-

dicação e amor. Não há longe nem distância!

Na minha última semana em Carapira, tentei

contemplar as belezas da natureza, e reflec-

tir. E sempre me vinha ao pensamento que

tudo o que fazia era “a última vez“! É uma

sensação estranha pensar assim. Mas como

não gosto de despedidas, sempre contrario

com um outro pensamento: “até já”!

Trouxe comigo uma mala com pouca roupa e

algumas bugigangas, mas a abarrotar de

lembranças memoráveis: umas boas, outras

muito boas.

Moçambique é assim, é preciso amar!

E para termi-

nar, um

“obrigado”!

Obrigado a to-

dos com os

quais me cru-

zei nesta cami-

nhada.

Até já!

“(...) foi algo de tão eterno, que muitas

vezes, compreendi que ainda sou muito

pobre...”

Festa da Padroeira, Imaculado Coração de Maria, organizada pelos jovens

Página 13

BATUQUES DA SAVANA

Márcia Costa, LMC cccosta [email protected]

HABITAR NA CASA DO SENHOR

Na verdade, a tua bondade e o teu amor

Hão-de acompanhar-me todos os dias da

minha vida,

E habitarei na casa do Senhor

Para todo o sempre.” Sl 23,6

Sinto que Deus nos convida a

habitar na sua casa a partir do

hoje, a cada instante, a cada

amanhecer, para a eternidade… Sinto que

sou uma peregrina que caminha na esperan-

ça do encontro com Deus,

aquele encontro verdadeiro que

nos leva a doar-nos a cada dia,

a cada instante com alegria e,

assim, no dia 20 de Maio che-

guei a Moçambique . Mais uma vez me en-

contrei na casa do Senhor, no Seu templo

santo.

Aqui há o sol que me

aquece o corpo e

uma brisa doce que

o beija. Uma brisa

que me inunda e pa-

rece quase chegar

ao fundo do meu ser.

Há o céu azul e as

nuvens que neles

deslizam, silenciosas

“Sinto que sou uma peregrina que caminha

na esperança do encontro com Deus (…)”

Página 14

A N O V I I I , N Ú M E R O 1 4

tranquilas… há as montanhas lá ao fundo, há

os embondeiros que recortam o pôr-do-sol

pintado em tons de laranja, há o barulho dos

corvos que irrompem em danças e de repen-

te flutuam como se fossem a mais bela das

criaturas de Deus… há o Povo de Deus. O

Povo Macua. Simples e acolhedor. Há a Es-

cola Industrial de Carapira,

com os seus “meus” meninos,

que me convidam a um en-

contro apaixonado com Deus

a cada dia. Com eles e com este povo é im-

possível não me sentir na presença de Deus.

Desde que aqui cheguei tive a oportunidade

de experimentar na simplicidade a contem-

plação. Uma contemplação que gera vida e

me convida a fazer da minha vida um cons-

tante cântico de louvor a Deus.

Contemplo Deus, nos alunos apaixonados

pela vida, cheios de sonhos a construir e es-

peranças a viver. Contemplo Deus na esteira

estendida debaixo de uma mangueira, onde

nós, povo de Deus nos reunimos, para junto

com uma mamã, em oração de acção de gra-

ças, agradecer a Deus por a ter ajudado no

seu momento de doença, por todos os ami-

gos e familiares que tinham

ajudado naquele momento de

dificuldade. Todos juntos, a

falar a mesma língua. A lin-

guagem do Amor de quem fala a Deus para

lhe agradecer pela Sua presença, pelos dons

concedidos. Contemplo a Deus nos jovens,

nas comunidades, que anunciam a vida como

um dom que vem do Pai.

Aqui, em Moçambique, em tudo Deus, e até

me dá vontade de chorar inebriada por tanta

beleza.

“(…) em tudo Deus (…)

Página 15

BATUQUES DA SAVANA

Anualmente realiza-se um encontro com

todos os leigos missionários combonianos

presentes na província de Moçambique.

Atualmente a única comunidade LMC

presente na província é a localizada na

missão de Carapira. Assim, nos próximos

dias 13 a 15 de Setembro acontecerá este

encontro anual, com a presença do

padre responsável pelos LMC, P.

Paulo Emanuel, e do provincial dos

combonianos em Moçambique, P.

José Luís. Nestes dias serão

abordados assuntos relacionados

à formação dos LMC

moçambicanos, situação

econômica atual, presença LMC

na Escola de Carapira, chegadas e

partidas para o ano e também será

realizada a eleição do coordenador/a do

grupo para o próximo período. Contamos

com as orações de todos para que o

encontro possa correr bem e pedindo que o

Espírito Santo ilumine as decisões e

encaminhamentos. Unidos em oração e na

missão, inspirados pelo exemplo de São

ENCONTRO ANUAL LMC 2013

Nesta edição do Batuques iniciamos a seção “Provérbios Macua”. Através dos provérbios,

dos contos e das fábulas fazem-se apelos a respeito dos usos e costumes do povo.

Portanto, tais narrativas e máximas reúnem em si uma filosofia própria. Em muitas

circunstâncias da sua vida, o povo recorre ao uso dos provérbios, contos e fábulas para

reforçar suas atitudes e posições, ou para inculcar nas pessoas, sobretudo nos jovens,

valores morais e cívicos.Por isso, queremos partilhar consigo um pouco desta riqueza

cultural do povo macua.

Yòpajerya! (primeiro):

“Ekhuwo yowola, enaphwanela kihi yawawe”

Sentes o desejo de ser missionári@? Conheça mais sobre os LMC!

Fala conosco!

NIRI HOTHE ** ESTAMOS JUNTOS

[email protected]

“Morro mas a minha obra não morrerá”

Os Leigos Missionários Combonianos (LMC) participam na actividade missionária da

Igreja segundo o carisma de São Daniel Comboni, sendo um sinal de cooperação com as

igrejas locais.

Os LMC devem viver a Missão não simplesmente como voluntários ou cooperantes, mas

acentuando a motivação de fé como característica específica da sua actividade missioná-

ria. Devem ser anunciadores do Evangelho através do testemunho do seu estilo de vida

que manifesta a fé, na qual se fundamenta o seu serviço.

LEIGOS MISSIONÁRIOS

COMBONIANOS

CP 52 CARAPIRA

3102 MONAPO

NAMPULA

MOÇAMBIQUE

COMUNIDADE DE CARAPIRA