bergson e o cuidado
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA
CENTRO DE CINCIAS DA SADE
PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM ENFERMAGEMDOUTORADO EM ENFERMAGEM
REA DE CONCENTRAO: FILOSOFIA, SADE ESOCIEDADE.
MARIA EMILIA DE OLIVEIRA
A POESIA DE CUIDAR DO RECM-NASCIDO PR-TERMO:UMA CONEXO ENTRE O SENSVEL, O INTUITIVO E O
CIENTFICO.
FLORIANPOLIS2007
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MARIA EMILIA DE OLIVEIRA
A POESIA DE CUIDAR DO RECM-NASCIDO PR-TERMO:UMA CONEXO ENTRE O SENSVEL, O INTUITIVO E OCIENTFICO.
Tese apresentada ao Programa de Ps-Graduao em Enfermagem daUniversidade Federal de Santa
Catarina, como requisito para obtenodo Ttulo de Doutora em Enfermagemna rea de Filosofia, Sade e Sociedade.
ORIENTADORA: Dra. Cleusa RiosMartins.
FLORIANPOLIS SC
2007
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Tese apoiada pelo Programa Colgio
Doutoral Franco-Brasileiro - CAPES
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Olhe para os lados. Sinta e observe. Depois questione.
Existem explicaes para os fenmenos que voc pode
sempre observar. Se ainda no encontrou as
explicaes quem sabe voc mesmo possa cri-las
com sensibilidade intuio e razo.
Oliveira Maria Emilia
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AGRADECIMENTOS
No sei se a caminhada est iniciando ou terminando,
apenas sei que meu universo se modificou.
Por esta razo quero festejar... Quero me emocionar... Quero agradecer:
Primeiramente ao Universo realidade suprema, origem e base de tudo que existe. Obrigada por sempre
conspirar a meu favor;
Agradeo a Vida, fonte inesgotvel de energia, amiga e companheira que tem me permitido simplesmente
ser;
amiga e orientadora Dr. Cleusa Rios Martins, um ser especial, um ser gigantesco que sabe que o sol o
rei do universo, mas enxerga que quem ilumina a noite a pequena Lua. Devido a sua grandeza, respeita
idias, limitaes, enxerga alm do visvel, sabe quando e como falar, caminha ao lado, d segurana e ao
mesmo tempo nos deixa livres. Com sua alma de poeta conquistou minha amizade, meu respeito e meu
carinho. Obrigada pela pacincia, pelas palavras sempre doces, pela valiosa contribuio, pela
cientificidade, intuio e sensibilidade. Obrigada por ser voc;
Camila Oliveira Athayde, minha linda princesa, que tudo diz sem nada dizer. Obrigada pela fora,
pelo incentivo, pelo apoio incondicional que torna possvel qualquer coisa que eu possa alcanar.
Obrigada por florir a minha vida, obrigada por ser meu pranto de alegria;
minha querida irm Darci exemplo de mulher, corajosa, batalhadora, parceira nas alegrias e nas
tristezas. Obrigada por estar sempre presente na construo do meu caminho;
Aos amigos Dr.ngela Ghiorzi Dr. Antonio de Miranda Wosny Dr. Marisa Monticelli e Dr.Grace
Dal Sasso. Obrigada pelas valiosas contribuies na banca de qualificao, possibilitando a construo
final da tese. Vocs legitimaram com sua experincia o conhecimento construdo;
amiga Dr. Marisa Monticelli, companheira de longos anos, que tem dividido comigo momentos de
alegria, de tristezas, de conquistas, de fracassos, momentos de deslumbramentos e de decepes. Obrigada
pela sua sensibilidade, pelo seu incentivo e discusses estimulantes que continuamente contribuem para a
expanso do meu horizonte intelectual. Obrigada pela sua participao na banca, pela dedicao a este
conhecimento e pelo rigor cientfico que contribuiu enormemente para o aperfeioamento deste estudo;
amiga Dr.Odalea Maria Bruggemann cuja sabedoria e gentileza tm proporcionado brilhantes
discusses e reflexes acerca do cuidado prestado aos recm-nascidos e suas famlias. Obrigada por
compartilhar entusiasticamente de vrias idias, que resultaram em trabalhos conjuntos. Obrigada pela
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disponibilidade e pelas sugestes cuidadosas na banca que contriburam enormemente para o
enriquecimento deste trabalho;
Dr.lraci dos Santos por ter respondido prontamente ao meu convite para participar da banca,
manifestando entusiasmo pelo trabalho desenvolvido. Obrigada pela sensibilidade, pela disponibilidade e
pelo carinho na leitura deste trabalho. Obrigada pelas crticas e sugestes relevantes e fundamentais;
Dr.Regina Costenaro pelo carinho demonstrado na resposta ao convite para participar da banca.
Obrigada pelas sugestes, comentrios e opinies inestimveis que contribuem para que este conhecimento
seja re-visitado e reformulado;
amiga Dr. Ilca Luci Keller Alonso que se disponibilizou a sair do seu descanso para com seu
incansvel entusiasmo, gentileza e cientificidade, contribuir para o aprimoramento deste estudo.
Obrigada por ter me acompanhado em mais esta caminhada;
amiga Dr. Jussara Gue Martini obrigada pelo seu jeito atencioso e prestativo em oferecer
contribuies de qualidade para o estudo em questo. Obrigada pelo carinho e pela amizade
demonstrados;
CAPESpor ter me proporcionado a oportunidade de permanecer por 06 meses na Universidade Ren
Descartes Paris V cursando doutorado sanduche sob a orientao do professor Michel Maffesoli;
Ao professor Michel Maffesoli e aos pesquisadores do Centro de Estudos da Atualidade e do Quotidiano
CEAQ Universit Ren Descartes Paris V. Obrigada por me acolherem e me possibilitarem
vivenciar novas amizades, novos conhecimentos e novas possibilidades;
chefia do Departamento de Enfermagem Dr. Denise Maria Guerreiro da Silva e Dr. Silvia Maria de
Azevedo.Obrigada pelo carinho, pelas palavras de estmulo, pela confiana e pelo empenho em facilitar
as minhas atividades profissionais, sempre que possvel;
Coordenao do Programa de Ps Graduao em Enfermagem PEN/UFSC, Dr. Maria Itayra
Coelho de Souza Padilha e Dr. Marta Pradoque sempre acreditaram em meu potencial e no mediram
esforos para que eu conseguisse a bolsa para o doutorado sanduche na Frana; equipe de Enfermagem da Unidade de Internao Neonatalpela disponibilidade em participar desta
pesquisa, pelo carinho, pelo comprometimento e pelo engajamento. Obrigada por terem sido meus grandes
parceiros nestacaminhada;
enfermeira Roberta Costa chefe de Enfermagem da Unidade de Internao Neonatal. Obrigada pelo
acolhimento caloroso, pela amizade, pela confiana e por se comprometer a continuar junto com a equipe
de Enfermagem, compondo a poesia de cuidar do recm-nascido pr-termo e sua famlia;
Aos recm-nascidos pr-termo e suas famlias que a cada dia me mostram novas possibilidades no cuidadode Enfermagem. Obrigada por contriburem para que eu seja uma pessoa mais sensvel e mais intuitiva;
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Ao amigo Athos T. A. Athayde Junior que no seu jeito especial de ser, vibra com as minhas conquistas e
torce pelo meu sucesso;
amiga Ivany Franklin da Silva que com suas palavras carinhosas renova minhas energias e perfuma
minha existncia;
minha amiga Vitria Regina Petters Gregrio que assumiu a minha carga de trabalho na 5 fase,
possibilitando a minha viagem para cursar o doutorado sanduche na Frana. Obrigada por se
disponibilizar, por acreditar, por me empurrar quando eu queria parar. Obrigada pela companhia nos
interminveis chopps que quase sempre resultavam em novas idias para a tese. Obrigada por ser
exatamente como voc : amiga;
Aos amigos Miriam S. Borenstein e Raul Borenstein que discutiram comigo as minhas idias mais
desencontradas, que me mostraram solues, que me impulsionaram a seguir em frente, que me chamaram
a razo quando eu era s emoo. Vocs so presentes maravilhosos que fazem parte da minha vida.
Obrigada por existirem. Neste mundo de tantas incertezas, uma certeza sempre nos resta, a de que
podemos contar com os verdadeiros amigos;
s amigas Odala Maria Bruggemann Marisa Monticelli Vitria Regina Petters Gregrio Maria de
Ftima Mota Zampieri e Evanguelia Kotzias Atherino dos Santos, parceiras na busca de um cuidado de
qualidade para as mes, os recm-nascidos e suas famlias, parceiras no compartilhamento de idias e
decises. Obrigada por serem presena e sentimento, estmulo na tristeza, companheiras na alegria, afetona distncia;
s amigas Rosangela Maria Fenili Neide Maria Pereira Ana Rosete Margareth Linhares Martins e
Vera Blank, Obrigada pelo modo carinhoso, afetivo e gostoso de acrescentar, somar, multiplicar e dividir
comigo a sua amizade;
s amigas da sala 242, Marisa Monticelli e Vera Radunz. Obrigada por escutarem minhas queixas, por
respeitarem o meu espao quando muitas vezes eu invadia o seu, por compartilharem minhas ansiedades,
minhas alegrias, minhas angustias e minhas conquistas. Obrigada pelas palavras de estmulo e decarinho. Obrigada pela presena amiga;
Aos amigos Ilca Keller Alonso e Mrcio Alonsopessoas maravilhosas que me animaram com seu apoio e
inabalvel entusiasmo. Obrigada pela amizade e pelo carinho;
s parceiras de lutas da Associao Brasileira de Obstetrizes e Enfermeiras Obstetras Seo SC
Vnia Sorgato Collao Elizabeth Flor de Lemos Joyce Green Koetker Maria de Ftima Mota
Zampieiri Roberta Costa Melissa Orlandi Honrio Gisele Perin Guimares Michele Gayeski Vitria
Regina Petters Gregrio Odala Maria Bruggemann Daniela Linhares e Joeli Fernanda Basso.
Obrigada por se colocarem sempre disponveis, por me ouvirem, e por confiarem no meu trabalho;
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s parceiras e parceiro da nova 5 fase, Ana Izabel Jatob de Souza Edilza Maria Ribeiro Elisabeta
Roseli Eckert Vitria Regina Petters Gregrio Ana Maria Farias Daniela Eda da Silva Michele
Gayeski Ana Mrcia Cnara Pierezan Arruda Neli Canassa Katiuscia e Carbajal Farias. Obrigada
por entenderam minhas necessidades e minhas limitaes na coordenao da fase; obrigada por me
oferecerem sabedoria e coragem;
Aos funcionrios da PEN, Cladia e seu Jorge, obrigada pelo carinho e pela disponibilidade sempre
presentes;
Maria Aparecida S de Souza Odete e Alcioney, obrigada pelos sorrisos trocados, pela amizade, pelo
bom dia, pelo caf, pelo carinho;
s novas amizades encontradas em Paris Frana: Cristiane Baggio Kenia Moreira Cabral Michelle
Gonalves Isabel e Aro. Obrigada pelos bons papos, pelos bons vinhos e queijos, pelas inmeras
cervejas, pelas reunies festivas e de trabalho, pela troca de conhecimentos e pela certeza de poder
continuar contando com vocs;
colega de doutorado Snia Meincke, por alimentar meu esprito com suas belas mensagens eletrnicas.
Obrigada por invadir meu trabalho solitrio, as vezes para me fazer rir, outras para fazer chorar, mas
sempre me levando a refletir sobre o grande valor da sensibilidade em nossa vida;
Aos colegas de doutorado, obrigada pelos momentos de estudo, de festas, de conquistas, de brigas, pela
presena, pela ausncia. Obrigada pelos momentos que passamos juntos; Aos colegas professores do Departamento de Enfermagem obrigada pelos momentos de trabalho
compartilhados. Cada um de vocs contribui para que eu sempre lembre da verdadeira importncia de
cada coisa na vida;
E, finalmente, a todos os seres que de uma forma ou de outra fazem ou fizeram parte da minha vida.
Obrigada por terem acrescentado algo mais no meu jeito de ser e no meu jeito de viver.
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OLIVEIRA, Maria Emilia. A poesia de cuidar do recm-nascido pr-termo: umaconexo entre o sensvel, o intuitivo e o cientfico, 2007. Tese (Doutorado em
Enfermagem) Curso de Ps-Graduao em Enfermagem, Universidade Federalde Santa Catarina, Florianpolis. 191 p.
Orientadora: Dr. Cleusa Rios Martins
RESUMO
Esta tese tem como objetivo evidenciar a sensibilidade e a intuio na prtica diriados profissionais de uma equipe de Enfermagem de uma Unidade de Internao
Neonatal, bem como, compreender como se d a insero do sensvel e intuitivo comotecnologia na prtica de cuidar do recm-nascido pr-termo. O referencial tericoutilizado foi o mtodo filosfico-intuitivo-sensvel de Henri Bergson aliado a idias deoutros autores sobre a temtica intuio e sensibilidade. Utilizei-me tambm deautores que discutem o cuidado de Enfermagem e o desenvolvimento comportamentale social do recm-nascido. O mtodo utilizado foi a Sociopotica por tratar-se de ummtodo dialgico que aceita uma pluralidade de vozes, permitindo desta forma, umaconstruo coletiva, a partir da escuta sensvel. A coleta de dados constou de entrevista
individual e observao do cuidado prestado, sendo que na anlise utilizei-me dodiscurso do sujeito coletivo (DSC). O DSC um mtodo que permite a descrio doimaginrio de um grupo sobre um determinado tema, mostrando-se como um caminhoque possibilitou a elucidao dos termos intuio e sensibilidade no cuidado deEnfermagem ao recm-nascido pr-termo. Ao trabalhar com o imaginrio individual,ou seja, o discurso de cada um dos profissionais de Enfermagem, pude produzir asoma dos discursos, o significado que a equipe de Enfermagem d aos termos intuioe sensibilidade no cuidado. Pode-se perceber nos discursos dos profissionais da equipede Enfermagem e na observao do cuidado prestado, que a intuio e a sensibilidadeso utilizadas diariamente, e que o uso destes elementos propicia um cuidado mais
individualizado, sendo que a rotina mecaniza o cuidado. A equipe de Enfermagemconsidera ainda que o uso da intuio e da sensibilidade devem ser caractersticasinerentes a todos os profissionais da sade. No entanto estes elementos so poucovalorizados, e por isto mesmo, na grande maioria das vezes, ignorados no cuidado.Sobre o registro do uso destes elementos, a equipe de Enfermagem no seu discurso,deixa claro que mesmo considerando importante, no tem o hbito de anotar devido aofato da intuio e da sensibilidade serem pouco valorizadas e no serem reconhecidascomo cientficas pela equipe de sade. Por outro lado, considera que se passasse afazer este tipo de registro haveria uma valorizao da profisso de Enfermagem epossibilitaria o estabelecimento de novas rotinas. Refere ainda, que seria necessrio
um treinamento especfico para poder colocar em prtica este tipo de conduta. Cabesalientar que a equipe de Enfermagem considera que s poder evidenciar oselementos sensibilidade e intuio no cuidado, se forem cuidados da mesma forma
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pela instituio. Na busca do seu imaginrio, a equipe de Enfermagem rompeu com osconceitos rgidos e indo alm dos limites de sua razo, entrelaou realidade eimaginao, compondo em discursos sensveis e poticos as suas consideraes sobrea sensibilidade e a intuio. Entendo que a equipe de Enfermagem a partir do refletido,
mergulhando no seu mundo real e imaginal, mostra-se estimulada e se prope acaminhar na composio da poesia de cuidar do recm-nascido pr-termo e suafamlia, reconhecendo a intuio e a sensibilidade como tecnologia do cuidado.
Descritores: cuidados de Enfermagem, intuio, recm-nascido prematuro.
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strict concepts and going beyond the limits of their reasons, intertwined reality andimagination, composing in sensible and poetic talks their considerations aboutsensibility and intuition. I understand that the team of Nursing, from what was thought,diving in their real and imaginary world, shows itself stimulated and proposes to walk
in the composition of the poetry of take care of the newborn pre-term, recognizing theintuition and the sensibility as a technology of the care.
Descriptors: nursing care, intuition, newborn premature.
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OLIVEIRA, Maria Emilia. La poesa de cuidar del recin nacido prematuro: unaconexin entre lo sensible, lo intuitivo y lo cientfico, 2007. Tesis (Doctorado en
Enfermera) Curso de Post Graduacin en Enfermera, Universidad Federal de
Santa Catarina, Florianpolis. 191 p.
Orientadora: Dr. Cleusa Rios Martins
RESUMEN
Esta tesis tiene como objetivo evidenciar la sensibilidad y la intuicin en la prcticadiaria de los profesionales de un equipo de enfermera de una Unidad de Internacin
Neonatal, as como, comprender como se da la insercin de lo sensible e intuitivo
como tecnologa en la prctica de cuidar del recin nacido prematuro. Le referencialteorico utilizado era el mtodo filosfico sensible intuitivo de Henri Bergson aliado aideas de otros autores en la temtica intuicin y sensibilidad. Hice el uso tambin deautores que hablan del cuidado de Enfermera y el desarrollo comportamental y socialdel beb recin nacido. El mtodo utilizado fue la Sociopotica por tratarse de unmtodo dialgico que acepta una pluralidad de voces, permitiendo de esta manera, unaconstruccin colectiva, a partir del escuchar sensible. La recoleccin de datos constde entrevista individual y observacin del cuidado prestado, siendo que en el anlisisutilic el discurso del sujeto colectivo (DSC) El DSC es un mtodo que permite ladescripcin del imaginario de un grupo sobre un determinado tema, mostrndose como
un camino que posibilit la elucidacin de los trminos intuicin y sensibilidad en elcuidado de Enfermera al recin nacido prematuro. Al trabajar con el imaginarioindividual, o sea, el discurso de cada uno de los profesionales de Enfermera, pude
producir la suma de los discursos, el significado que el equipo de Enfermera da a lostrminos intuicin y sensibilidad en el cuidado. Se pudo percibir en las expresiones delos profesionales del equipo de Enfermera y en la observacin del cuidado prestado,que la intuicin y la sensibilidad son utilizadas diariamente, y que el uso de estoselementos propicia un cuidado ms individualizado, siendo que la rutina mecaniza elcuidado. El equipo considera an que el uso de la intuicin y de la sensibilidad debenser caractersticas inherentes a todos los profesionales de la salud. Sin embargo, estoselementos son poco valorados, y por eso mismo, en la gran mayora de las veces,ignorados en el cuidado. Sobre el registro del uso de estos elementos, el equipo en sudiscurso, deja claro que an considerando importante, no tienen el hbito de anotardebido al hecho de que la intuicin y de la sensibilidad sean poco valoradas y no seanreconocidas como cientficas por el equipo de salud. Por otro lado, consideran que sihiciesen este tipo de registro habra una valoracin de la profesin de enfermera y
posibilitara el establecimiento de nuevas rutinas. Refiere an, que seria necesario unentrenamiento especfico para poder poner en prctica este tipo de conducta. Cabeanotar que el equipo de enfermera considera que solo podr evidenciar los elementossensibilidad e intuicin en el cuidado, si fuesen cuidados de la misma forma por lainstitucin. En la busca de su imaginario, el equipo de enfermera rompi con losconceptos rgidos y yendo ms all de los lmites de su razn, uni realidad e
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imaginacin, componiendo en discursos sensibles y poticos sus consideraciones sobrela sensibilidad y la intuicin. Entiendo que el equipo de enfermera a partir de lareflexin, zambullndose en el mundo real e imaginario, se muestra estimulada y se
propone caminar en la composicin de la poesa de cuidar del recin nacido prematuro,
reconociendo la intuicin y la sensibilidad como tecnologa del cuidado.
Descritores: cuidado de Enfermera, intuicin, recin nacido prematuro.
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SUMRIO
APRESENTAO ......................................................................................... 17
1 PENSANDO A POESIA DE CUIDAR.......................................................18
2 A SABEDORIA DAS POETISAS E DOS POETAS.................................28
2.1 O mtodo filosfico-intuitivo-sensvel de Henri Brgson e outrosolhares sobre a temtica Intuio e Sensibilidade .................................... 282.2 O cuidado de Enfermagem.. .............................................................. 402.3 O desenvolvimento comportamental e social do recm-nascido........................................................................................................... 48
3 A SONORIDADE RTMICA ..................................................................... 583.1 Tipo de pesquisa...................................................................................... 593.2 As poetisas e os poetas ........................................................................... 593.3 O Local da criao potica..................................................................... 593.4 A tica na poesia do cuidado ................................................................. 60
3.5 O caminho e o cotidiano da composio potica.................................3.5.1 Insero no campo de estudo ................................................... 61743.5.2 Produo e anlise dos dados...................................................3.5.3 Contra-anlise ou validao dos dados...................................3.5.4 Socializao da produo .........................................................
757980
4 A COMPOSIO DA POESIA DE CUIDAR DO RECM-NASCIDO PR-TERMO .............................................................................. 81
4.1 Anlise dos resultados ........................................................................... 814.2 Discusso dos resultados ...................................................................... 92
5 CONSIDERAES SOBRE O CAMINHO PERCORRIDO ................ 00
A MEMRIA DAS POETISAS E DOS POETAS. ..................................... 05
ANEXOAnexo 1........................................................................................................... 20
APNDICESApndice A .....................................................................................................Apndice B......................................................................................................
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APRESENTAO
Este trabalho consiste na tese de doutorado apresentada ao Programa de Ps-
Graduao em Enfermagem da Universidade Federal de Santa Catarina.
Tem como objetivo evidenciar a sensibilidade e a intuio na prtica diria dos
profissionais de uma equipe de Enfermagem de uma Unidade de Internao Neonatal,
a partir de uma aproximao com o mtodo da Sociopotica.
Denominei-o A Poesia de cuidar do recm-nascido pr-termo: uma conexo
entre o sensvel, o intuitivo e o cientfico. Por que poesia? Em primeiro lugar porque
utilizo como referencial terico a Sociopotica, e em segundo lugar, porque entendo
que cada gesto do cuidar tem seu papel no apenas por seu significado, mas por seu
ritmo, sua sonoridade, pela forma como se expressa no cotidiano da Enfermagem.
O trabalho est dividido em seis captulos, sendo que no primeiro, denominado
Pensando a Poesia de Cuidar, apresento uma contextualizao da minha caminhada
na Enfermagem, a relevncia da temtica, bem como os objetivos. No segundocaptulo, A sabedoria das Poetisas e dos Poetas, apresento alguns referenciais
tericos que se fizeram necessrios para desencadear o processo de pensar e a
inspirao, no exerccio de poetizar sobre o cuidado ao recm-nascido pr-termo. O
terceiro captulo, ao qual denominei A Sonoridade Rtmica apresento o tipo de
pesquisa realizado, as poetisas e os poetas responsveis pela composio da poesia de
cuidar do recm-nascido pr-termo, o local da criao potica, a tica; bem como, o
caminho e o cotidiano da composio potica. No quarto captulo denominado AComposio da Poesia de Cuidar do Recm-nascido Pr-termo trago a anlise e a
discusso dos resultados. No quinto captulo apresento minhas Consideraes sobre o
Caminho Percorrido, e no sexto e ltimo captulo, cito as referncias bibliogrficas
utilizadas, sendo que foi denominado A memria das Poetisas e dos Poetas.
Este trabalho buscou responder as minhas inquietaes e devaneios, bem como,
compreender como se d a insero do sensvel e intuitivo como tecnologia na prtica
de cuidar do recm-nascido pr-termo, por uma equipe de Enfermagem de uma
Unidade de Internao Neonatal.
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1 PENSANDO A POESIA DE CUIDAR
O poeta alemo Rainer Maria Rilke (2004) diz que:
Para escrever um simples verso, preciso conhecer cidades, homens,animais. preciso ter a alma aberta para o vo dos pssaros e ser capaz de perceberos gestos das flores que se abrem para o amanhecer.Para escrever um simples verso, preciso viajar por regies desconhecidas,estar preparado para encontros e desencontros inesperados. preciso saber voltar a momentos da nossa infncia que at hoje no
conseguimos compreender. preciso lembrar o que sentimos quando ferimos algum que sempre nosdesejou o melhor possvel.Para escrever um simples verso, preciso passar por muitas manhs diantedo pr-do-sol, muitas noites diante de quem amamos.Tudo isso para escrever um simples verso
Esta poesia me levou a refletir sobre o quanto tenho caminhado e o quanto
ainda preciso caminhar na busca de respostas para as minhas inquietaes, quando se
trata do cuidado de Enfermagem ao recm-nascido pr-termo.
H mais de 20 anos, encontro-me, como professora da disciplina Enfermagem
Obsttrica e Neonatal do Curso de Graduao em Enfermagem da UFSC, envolvida no
cuidado aos recm-nascidos, seja em Alojamento Conjunto, seja em Unidades de
Internao Neonatal. Nesta caminhada busco cuidar do recm-nascido e de sua
famlia, compartilhando significados, crenas e valores, auxiliando na reorganizao e
adaptao do recm-nascido pr-termo e de sua famlia na Unidade de Internao
Neonatal, mostrando-me presente, promovendo a interao pais/recm-nascido,cuidando de forma dialgica, participativa e interativa, com competncia tcnico-
cientfica e sensvel-intuitiva. Minha dissertao de mestrado teve como objetivo
principal, o estabelecimento de um cuidado amoroso s mes e recm-nascidos pr-
termo, internados na Unidade de Internao Neonatal de um hospital escola. A partir
da relao dialgica, ancorada na teoria humanstica de Josephine Paterson e Loretta
Zderad, que envolveu o encontro, o relacionamento, a presena e os chamados e
respostas, pude perceber e vivenciar com as mes os sentimentos que experenciavamquando do nascimento prematuro (OLIVEIRA, 1998). Foi uma experincia
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necessrio cuidar da vida para que esta possa continuar. O cuidado se faz presente
pela necessidade de manter, desenvolver a vida e lutar contra a morte.
No meu entendimento, o cuidado de Enfermagem tem dimenses contextuais,
relacionais, existenciais, sendo construdo entre os seres que cuidam e os que so
cuidados. Caracteriza-se como um encontro, em que cada ser visto e entendido como
nico e singular, diferenciado e semelhante na sua condio de humano. Cuidar
pressupe um contrato profissional entre a Enfermagem e os clientes, no qual se
estabelece um vnculo compartilhado, afetivo, intuitivo e sensvel, que permite que o
encontro entre os seres humanos seja pleno.
Concordo com Jatob et al (1995) quando referem que cuidar prev mil atos, eestes, demonstram proximidade, interesse, afetividade, intuio, sensibilidade,
ultrapassando as fronteiras do tecnicismo frio e impessoal com o qual muitas vezes na
prtica cotidiana, nos confrontamos e do qual nos defendemos.
No pretendo de forma alguma rejeitar a tcnica e o conhecimento cientfico,
mas sim, abrir um espao para que a sensibilidade e a intuio no cuidado ao recm-
nascido pr-termo possam ser reconhecidas no seio da sua prpria racionalidade, como
uma tecnologia, desmistificando a idia de que o que contm emoo, intuio e
sensibilidade no so conhecimento. Afinal, como refere Mattos (2006), o
conhecimento fundamental aquele que permite reconhecer as necessidades e tem
habilidade para aplicar as tecnologias de forma pertinente.
Tecnologia neste contexto pode ser entendida, de acordo com Merhy (2002)
como todo conhecimento organizado e aplicado. No se aplica exclusivamente a
instrumentos ou equipamentos tecnolgicos, mas tambm saberes e condutas como o
vnculo e o acolhimento, e no estudo em questo, o uso da sensibilidade e intuio no
cuidado de enfermagem ao recm-nascido pr-termo.
Concordo com Marinelli (2004) quando refere que na enfermagem a tecnologia
compreende o conhecimento humano (cientfico e emprico) sistematizado. Esta
tecnologia se evidencia na presena humana, visando a qualidade de vida e se
concretizando no ato de cuidar, sendo que a questo tica e o processo reflexivo so
considerados.
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compreende as reflexes da equipe de sade sobre o mtodo me canguru em uma
unidade de neonatologia; o de Guimares (2006), que trata da formao do apego
pais/recm-nascido pr-termo e/ou de baixo peso no mtodo me-canguru; o de
Fonseca (2002), que demonstra a necessidade de instrumentalizar a famlia frente aos
cuidados especficos ao recm-nascido pr-termo; o de Oliveira (1998), que trata do
cuidado amoroso aos recm-nascidos pr-termo e suas famlias; o de Gaiva (2002),
que trata da organizao tecnolgica do trabalho na assistncia ao prematuro e sua
famlia e o de Santana ( 2003), que busca compreender o significado do cuidado para
uma equipe de Enfermagem de uma unidade neonatal, entre outros.
O que observo na minha vivncia nas Unidades Neonatais, bem como, noscursos e palestras ministrados, que se utiliza a intuio e sensibilidade no cuidado de
Enfermagem ao recm-nascido pr-termo, no entanto, estes elementos no so
valorizados pela equipe de Enfermagem e nem sempre so assimilados como
componentes indissociveis da prtica cotidiana. Este um discurso, que no meu
entendimento, ainda est muito centrado na academia.
Kletemberg, Mantovani e Lacerda (s/d) tambm observam um hiato entre a
academia e a prtica de Enfermagem, visto que segundo as autoras, as discusses
sobre intuio aliada ao conhecimento cientfico, embasando terica e holisticamente o
cuidador e o ser cuidado, ocorrem somente nos meios acadmicos.
[...] acreditamos que os aspectos subjetivos somente introjetaro nosprofissionais de enfermagem com o decorrer do tempo, quando estesperceberem que os pressupostos acadmicos apenas respondem aosanseios da sociedade contempornea, na qual a cincia no esclarece
mais todas as questes, quer seja na rea da sade ou outras da vidacotidiana da populao (KLETEMBERG; MANTOVANI; LACERDA,s/d, p.96).
Passos (1996) cita que a intuio, a sensibilidade e o amor so elementos pouco
valorizados na Enfermagem. Refere que isto se deva possivelmente pelo legado que
nos deixaram as enfermeiras americanas, responsveis pela estruturao da
Enfermagem no Brasil. Estas enfermeiras com sua segurana, controle de emoes,
dinamismo e respeito, acredita Passos (1996), conseguiram incorporar na Enfermagem
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Importante tambm salientar o papel que a intuio e a sensibilidade
desempenham no cuidado aos familiares. O ambiente da Unidade de Internao
Neonatal mostra-se a princpio assustador e gera ansiedade em todos que ali adentram
pela primeira vez. A maioria das famlias, quando vivencia o processo do nascimento,
no cogita a possibilidade de ter que freqentar este ambiente e muitas vezes no
sabem sequer de sua existncia, muito menos de suas especificidades. A vivncia do
nascimento prematuro mostra-se como um evento de propores catastrficas para
toda a famlia, sendo que os pais passam por diversas fases que vo da negao
aceitao (MOREIRA; BRAGA; MORSCH, 2005).
Neste contexto, a utilizao da intuio e da sensibilidade permitir cuidardestas famlias, compreendendo suas atitudes e comportamentos, possibilitando a sua
aceitao e insero de forma integral na Unidade de Internao Neonatal.
A natureza humana no desconhecida de nenhum de ns, atravs de nossa
experincia interior e observao dos outros, desenvolvemos a percepo de seu
alcance e amplitude, daquilo que ns mesmos e os outros somos e podemos ser. Os
profissionais de Enfermagem trabalham diariamente com as dimenses da pessoa,
como sentimentos, crenas, foras, valores, aspiraes e objetivos. Entretanto, segundo
Remen (1993), a compreenso que temos dos outros e de ns mesmos , de modo
geral, inconsciente. Raramente essa informao sistematizada e intencionalmente
utilizada. Para que essa compreenso se torne um elemento mais til em nossa prtica
diria e em nossa vida, devemos perceber a informao que existe em nosso
inconsciente, na qual nossa intuio se baseia. Devemos refletir sobre a nossa prtica,
buscando evidenciar os elementos que a constituem.
Entendo que a compreenso e incorporao da intuio e sensibilidade como
tecnologia no cuidado de Enfermagem, s poder se concretizar a partir da construo
coletiva, levando em considerao os valores e pressupostos de cada um dos membros
da equipe de Enfermagem, num movimento de ao-reflexo-ao. Neste sentido, o
mtodo da Sociopotica, proposto por Gauthier e Santos, mostra-se bastante
pertinente, pois propicia um movimento de criao/desestabilizao, levando
produo do conhecimento. Este mtodo caracteriza-se como uma prtica e umafilosofia, da pesquisa, do ensino, da aprendizagem, do cuidar. A Sociopotica abrange
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cinco princpios: 1) a instituio, negociada entre os parceiros, sendo que o
conhecimento deve ser produzido coletiva e cooperativamente; 2) o favorecimento de
culturas de resistncia e das culturas dominadas, na leitura dos dados da pesquisa; 3) a
utilizao do corpo inteiro de forma emocional, intuitiva, sensvel, gestual,
imaginativa, sensual e racional como fonte de conhecimentos e dotado de marcas e
valores histricos; 4) a emergncia de pulses e saberes inconscientes, inesperados,
desconhecidos, utilizando-se para isto, tcnicas artsticas de produo de dados; e 5) a
interrogao pelos participantes da pesquisa do sentido poltico, tico e humano do
processo de pesquisa que est sendo desenvolvido, bem como, as formas de
socializao da produo a serem escolhidas. Estes princpios devem ser vistos edesenvolvidos simultaneamente em todos os momentos da pesquisa, no entanto,
observa-se que algumas pesquisas Sociopoticas muitas vezes acentuam mais certos
princpios, o que considerado aceitvel, visto que muitos pesquisadores sentem-se
mais familiarizados com os mesmos (SANTOS et al, 2005)
Na pesquisa em questo o princpio mais acentuado foi o da utilizao do corpo
como fonte de saber, sendo que os participantes foram convidados, a partir de uma
entrevista semi-estruturada, a liberar o seu imaginrio, fazendo com que o seu saber
implcito se expressasse, tanto na dimenso tica, quanto na esttica, subjetiva,
ecolgica, social e ambiental.
Tenho como perguntas de pesquisa: como e quando a intuio e sensibilidade
se expressam e se manifestam no cuidado de enfermagem ao recm-nascido pr-
termo? Qual a dimenso imaginativa sobre intuio e sensibilidade no cuidado ao
recm-nascido pr-termo utilizando os princpios da Sociopotica, de um grupo
de profissionais de enfermagem de uma Unidade de Internao Neonatal? Qual a
possibilidade de interligar a intuio e sensibilidade com a razo, incorporando-
as como tecnologia no cuidado ao recm-nascido pr-termo?
A habilidade para se reconhecer e mobilizar todos os recursos para
compreender e interpretar os chamados do recm-nascido pr-termo, de forma
sensvel, dando respostas compatveis, pode exigir um esforo tanto cognitiva quanto
intuitivamente, necessitando, portanto, de uma reflexo de toda a equipe de
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Enfermagem, no sentido de repensar o modo de desenvolver a poesia de cuidar em
Enfermagem.
Defendo a tese que:
A aplicao da intuio e da sensibilidade pelos profissionais de
Enfermagem na poesia de cuidar do recm-nascido pr-termo se caracteriza na
tecnologia da cincia sensvel da Enfermagem.
Este estudo tem como Objetivo Geral:
Evidenciar a sensibilidade e a intuio na prtica diria dos profissionais
de uma equipe de Enfermagem de uma Unidade de Internao Neonatal.
Os objetivos especficos so: Identificar em quais momentos do cuidado a intuio e a sensibilidade so
expressas;
Analisar os modos de aplicao da intuio e sensibilidade a partir do
imaginrio da equipe de enfermagem da Unidade de Internao Neonatal;
Construir uma semiologia e uma semiotcnica para a utilizao da intuio
e da sensibilidade no cuidado de enfermagem prestado ao recm-nascido
pr-termo.
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2 A SABEDORIA DAS POETISAS E DOS POETAS
O conhecimento deve ser buscado, criado e reformulado constantemente,numa interrelao entre o saber, fazer e sentir(Waldow, 2005)
O referencial terico utilizado foi o mtodo filosfico-intuitivo-sensvel de
Henri Brgson1 aliado a idias de outros autores sobre a intuio e a sensibilidade.
Utilizei-me tambm de alguns autores que discutem sobre o cuidado de Enfermagem e
o desenvolvimento comportamental e social do recm-nascido. Acredito que estes
referenciais alm de mostrarem-se bastante pertinentes ao tema investigado
contriburam para o delineamento das expresses intuio e sensibilidade na poesia de
cuidar do recm-nascido pr-termo. Estas expresses quando refletidas em conjunto,
levaram a um desvelar do ser humano na sua integralidade, implicando num
compartilhar de sensaes e signos entre a equipe de Enfermagem, levando a
compreenso do simblico e do emocional do cliente.
2.1 O mtodo filosfico-intuitivo-sensvel de Henri Bergson e outros olharessobre a temtica Intuio e Sensibilidade.
Henri Bergson elaborou o seu mtodo filosfico-intuitivo-sensvel a partir de
seus estudos com a intuio. O autor prope uma apreenso da realidade, visando
reprimir as iluses da inteligncia, que s se viabiliza por meio da intuio. Para
Bergson, pensar intuitivamente significa pensar na durao, pois o objeto da intuio
o prprio tempo, a durao, visto que a essncia da realidade est na passagem do
tempo. Para que a intuio aflore necessrio se colocar presente no aqui e agora,
sendo espectador daquilo que visto e sentido ao mesmo tempo. apenas na
apreenso da qualidade, que essncia pura, que poderemos apreender a harmonia
invisvel que articula os diferentes nveis da realidade (BERGSON, 1974).
1Filsofo francs e prmio Nobel, Henri Brgson elaborou um mtodo baseado na dimenso espiritual da vidahumana. Nasceu em Paris em dezoito de outubro de 1958 e estudou na Escola Normal Superior e naUniversidade de Paris. Morreu em 04 de janeiro de 1941 em Paris. Suas obras tem grande influncia sobre osfilsofos, artistas e escritores do Sculo XX ( ENCICLOPDIA DIGITAL MASTER, 2005).
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Desta forma, Bergson substituiu o mtodo propriamente cientfico vigente na
poca, por um mtodo novo, fundado na intuio. Ele parte da idia de que se
queremos representar a verdadeira natureza da vida, devemos aplicar a este objeto,
outra forma de conhecimento, no analtico, mas sim direto, imediato, o qual tem seu
princpio no instinto, razo pela qual, muitos autores vem o bergsonismo como uma
apoteose da intuio e dos valores msticos e uma depreciao da inteligncia
(BERGSON, 1974).
Foi na sua obra A evoluo criadora que Brgson estudou todo o problema da
existncia, concebendo o universo como algo que no nem puramente matria nem
puramente esprito, mas sim como um processo eterno, como um devenir quepreserva o passado e cria o futuro (BERGSON, 1994).
O mundo para Brgson (1974) no fixo, ele se move eternamente, evoluindo,
adotando a forma de um equilbrio eterno no qual nada se cria, nada se aniquila.
Considera o tempo real como o tempo eternamente presente.
Este conceito nos mostra que o universo se move sempre para frente, evolui
constantemente em uma atividade livre e criativa, sendo que a intuio e asensibilidade se mostram como elementos implcitos desta atividade. Neste sentido, o
mtodo proposto por Brgson mostra-se bastante pertinente para discutirmos e
compreendermos o valor que as outras cincias apresentam na atualidade.
Para Brgson (1974) o instinto est mais prximo do lan original do que a
inteligncia.
A ao sensvel refere Brgson, mas o corpo instrumento do espritoenquanto rgo infinito. O valor criao que no transcende a ao, mas lhe confere
a forma pela qual ultrapassa a finitude (SILVA, 1994, p.286).
Brgson (1979) considera a intuio como uma viso mais direta da realidade.
Ele nos traz a idia da intuio como uma relao imediata ou direta com a realidade
absoluta, com a durao da conscincia, ou com o impulso criativo da vida. Brgson
afirma que a intuio a viso do esprito, pois parte do esprito, significando
conscincia imediata. Intuir pode ser considerado como refletir, ou, como
conhecimento interno. Desta forma, considera que se pudssemos entrar em
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comunicao direta com os nossos sentidos e a nossa conscincia, deixando a
realidade tocar diretamente o nosso ser, seramos todos artistas, pois nossas almas
vibrariam em conjunto com a natureza (BERGSON, 1979).
Para Brgson (1994) a intuio cria quando o esprito no se volta para a
instrumentalidade. Vale dizer ento, que a conscincia criadora conscincia de
liberdade, ou seja, conscincia imanente durao.
Tal imanncia dilui a relao subjetiva que a conscincia tem com o mundonatural e integra a subjetividade na temporalidade pr-objetiva, depois que aintuio provocou a morte da objetividade. Assim, o advento da intuio a
descoberta de imediatidade criadora do lan original (BRTONNEAU,1975, p.10)
Esta unidade do lan original com a qual a intuio comunica uma qualidade
interna, ou seja, a essncia ntima do ser.
da ndole do absoluto que ela s possa ser apreendida intimamente, e para
tanto, o sujeito deve transitar pelo ncleo intuitivo de sua prpriainterioridade, cuja continuidade, aqum da subjetividade objetivante, ndice da intimidade do real enquanto temporalidade absoluta (SILVA, 1994,p. 301)
Intuio segundo Bergson (1990), um ato de reflexo profunda, que descendo
em direo ao e realidade atual, sem buscar apoio na razo e para alm da
linguagem, apreende diretamente a realidade por um esforo de tenso de esprito. O
autor refere que a intuio acontece quando o pensamento racional permite que a
ateno se volte para o esprito ou para a sensibilidade. Neste caso afirma Brgson
(1974), o domnio da intuio, o esprito. Para que a intuio no se apresente como
um conhecimento difuso e impreciso Bergson prope que os conceitos nasam da
experincia efetiva, para ento ser repassado a inteligncia. Desta forma, a inteligncia
se converte na intuio, ou seja, os conceitos tornam-se fluidos, capazes de seguir a
realidade em todas as suas sinuosidades e de adotar o prprio movimento da vida
interior das coisas (BERGSON, 1974, p. 32).
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hbitos mentais, utilizando-se da sensibilidade, elevando as nossas mentes, buscando
uma conscincia cada vez mais rica em qualidade para alcanarmos a adequada
sintonia com as manifestaes da totalidade. Desta forma, superamos o papel de
espectador distante, passando a viver o espetculo, que a compreenso do ser
humano como um todo, de forma plena.
Sayegh (1998), refere que vivenciar a intuio, no consiste em uma
contemplao objetiva da realidade, mas sim um engajamento do prprio ser.
Neste sentido, concordo com a autora, quando refere que a intuio implica
ento em uma emoo criadora, e acrescento que, a intuio aliada sensibilidade em
consonncia com o conhecimento cientfico, nos permite ver e ouvir com mais clareza,
no apenas os sons e as imagens na Unidade de Internao Neonatal, mas o todo,
compreendendo o recm-nascido pr-termo como ser integral e nico, cujo cuidado
ultrapassa as barreiras dos sentidos.
Muitos outros autores vem discutindo a intuio e a sensibilidade ao longo dos
anos, no entanto de acordo com Goleman (1997, traduo nossa), os dogmas legados
pela razo pura tem feito com que muitos estudiosos ignorem o lugar que os mesmosocupam em nossas vidas, sendo que o espao dos sentimentos mostra-se em grande
parte, inexplorado pela psicologia cientfica. Na atualidade, percebe-se que a cincia
finalmente comea a reconhecer o valor e a importncia das emoes em justaposio
com a razo. O autor refora a necessidade de compreender porque e como nossa
inteligncia pode caminhar em consonncia com as nossas emoes. Cada emoo,
nos prepara para agir de certa maneira, cada uma nos mostra um caminho a ser seguido
(GOLEMAN, 1997, traduo nossa).
O mesmo autor refere que infelizmente a maioria das pessoas ainda exagera no
valor que tem a razo pura na vida humana. Segundo Goleman (1997, traduo nossa)
a inteligncia intil se no utilizarmos nossa sensibilidade e nossa intuio. As
emoes incitam a ao, pois derivam do latim motore que significa mover e do
prefixo eque indica um movimento em direo ao exterior, sendo que esta etimologia
sugere uma tendncia aagir.
Para Goleman (1997) importante reconhecer que temos dois sistemas de
conhecimento, o racional, que nos torna ponderados e reflexivos e o emocional que
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nos torna impulsivos e muitas vezes ilgicos. Esta dicotomia segundo o autor
corresponde, grosso modo, a distino entre cabea e corao. Quando sentimos no
fundo do corao que algo verdadeiro, ele se revela num grau de convico diferente
do que o que nos mostra o esprito racional. Na maior parte do tempo o esprito
racional e o emocional funcionam em perfeita harmonia, associando modos de
conhecimentos diferentes para nos guiar na nossa prtica cotidiana junto ao recm-
nascido pr-termo.
De acordo com Inglis (1987) h mais de um sculo o filsofo e psiclogo
Frederic Meyers apresentou sua hiptese de mente subliminar, ou seja, o que
conhecemos atualmente como a mente inconsciente ou subconsciente. Meyersacreditava que a mente subliminar, fora do mbito dos sentidos, era responsvel pela
sensibilidade e pela intuio. Freud (apud INGLIS, 1987) afirmava que o inconsciente
era um reservatrio primordial de energia, completamente desorganizado, sobre o qual
o ego precisava exercer controle da melhor forma possvel.
Koestler tambm escreveu sobre a intuio e a sensibilidade, referindo que
existem trs ordens de realidade: a primeira faz aluso ao mundo estreito da percepo
sensorial, a segunda, a alguns fenmenos correlatos que os sentidos no percebem,
assim como os campos magnticos, e a terceira, que de acordo com o autor a mais
importante de todas, no somente envolve e interpenetra a segunda, dando-lhe um
sentido prprio, mas tambm envolve fenmenos esotricos que no tem explicao
lgica nem no plano sensorial e nem no conceptual, entre eles, a intuio
(KOESTLER, 1969).
O mundo social de acordo com Maffesoli (2004, traduo nossa) se faz a partir
das emoes, das intuies e dos afetos, traduzindo-se numa ordem de movimento na
qual implica todos os estratos do indivduo e da comunidade.
A razo afirmava Espinosa (1991) no puramente lgica, formal, dissociada
da vida, ela inclui os sentidos, a percepo, o contato sensvel com o objeto e a
interao. O homem no a sua razo, no se identifica com ela, assim como no
separado do mundo, do outro, das coisas. Isto garante haver uma empatia entre o
homem e tudo que o cerca, sendo que o conhecimento real baseia-se nesta empatiajuntamente com a razo.
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No meu entendimento, isto se torna visvel quando deixamos que nossa intuio
e nossa sensibilidade, guiadas pela razo, ou seja, pelo conhecimento cientfico, nos
direcione no cuidado de Enfermagem prestado ao recm-nascido pr-termo.
A intuio e sensibilidade so elementos que no podem ser discutidos em
separado, visto que um leva ao outro numa justa complementaridade.
Kant em suas observaes sobre o sentimento do belo e do sublime, refere que
as faculdades da alma, assim como a intuio e a sensibilidade, so to estreitamente
interligadas, que podemos julgar mais frequentemente os talentos do esprito pela
maneira como os sentimentos se manifestam (KEMPF, 1997).
A sensibilidade nasce nas coisas simples, em momentos inesperados, emtempos incertos, espontnea, brilhante, suave, uma linda surpresa. Sotoques, palavras, gestos, simples contatos, letras pequenas, so vagaslembranas, ilegveis. So as cores em seu conjunto, o universo nos detalhes,o mundo dos olhares invisveis (EDUARDO, 2002, p1).
O processo mental intuitivo parece funcionar de trs para frente. Asconcluses antecedem as premissas. Isso no ocorre porque os passos queligam concluses e premissas tenham sido omitidos, mas porque esses
passos so dados pelo inconsciente (NACHMANOVITCH, 1993, p. 43).
Se procurarmos o conceito de sensibilidade nos dicionrios, encontraremos que
o termo est associado a emoo, sentimento, faculdade de receber informaes sobre
as mudanas do meio e de a elas reagir atravs de sensaes; disposio favorvel que
se experimenta em relao a uma coisa ou uma idia;
[...] faculdade responsvel pela recepo das impresses sensoriais,
determinando os fundamentos empricos do processo cognitivo, assim comoo vnculo inicial e intuitivo que o ser humano estabelece como os objetos doconhecimento (HOUAISS, 2001, p. 2546).
A palavra sensibilidade vem do latim sensibilitas, que significa a faculdade de
sentir revelando, desta forma, a abrangncia e a riqueza semntica do termo.
Enquanto faculdade de sentir, a sensibilidade pode ser considerada como a
capacidade de receber e perceber impresses do prprio corpo e do mundo que lhe
exterior. Ela est associada, quer capacidade de ter sensaes, percepcionar e
conhecer, quer capacidade de se ter vida afetiva (desejar, amar, sofrer, fruir,
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comover-se, emocionar-se). Deste modo, o termo sensibilidade tanto pode nos fazer
pensar nos conceitos de aparelho sensitivo e perceptivo, intuio sensvel ou de
excitabilidade, quanto nos conceitos de sentimento, delicadeza de sentir, gosto,
ou mesmo, capacidade de fruio do Belo e fantasia criativa que nos permitem
ascender experincia esttica e criao artstica (CARCHIA; DANGELO, 2003;
LOGOS, 1997).
A capacidade de sentir empatia, de se deixar tocar pelos outros seres humanos,
de ouvir sua voz interior, de acordo com Assman e Mo Sung (2000), caracteriza-se
pela sensibilidade.
No Dicionrio de Filosofia, encontramos sensibilidade
Como uma das duas fontes de conhecimento humano, se os objetos sopensados pelo entendimento, so dados pela sensibilidade, por um lado,graas s intuies empricas ou sensveis, que fornecem o material dosfenmenos e, por outro, graas s intuies puras, ou formas a priori, dasensibilidade (espao e tempo) que predeterminam o contexto no qual essematerial ordenado(DUROZOI; ROUSSEL, 1998, p.430).
Abbagnano (1999) refere que a sensibilidade um elemento que se encontra na
esfera das operaes sensveis do homem. Considera-se em seu conjunto, tanto oconhecimento sensvel quanto o conhecimento que inclui os instintos e as emoes.
Caracteriza-se como a capacidade de receber sensaes e de reagir aos estmulos, num
compartilhar contnuo. O ser humano sensvel aquele que tem capacidade de
compartilhar emoes, e que, utilizando os sentidos, compreende o outro no seu todo.
A sensibilidade pode ser visualizada como faculdade de experimentar
sentimentos de humanidade, exteriorizando-se atravs da compaixo e da alegria. Sua
promoo feita atravs dos relacionamentos interpessoais e depende dos estmulos e
do afeto que recebe. uma caracterstica predominante do homem moral, possuindo
variados graus de intensidade (KEMPF, 1997).
Aristteles em seu tratado A alma, refere que a sensibilidade afeta cada um
dos nossos sentidos e exterioriza o poder inerente, prprio a cada ser sensvel. A
sensibilidade, diz ele, mostra-se como a alma tocada em seu princpio central, que se
encontra na regio do corao (THILLET, 2005).
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formao da personalidade do homem, sendo que a intuio considerada como uma
ocorrncia nascida e processada a partir do plano inconsciente.
A sensao e a intuio de acordo com Jung (1991), so classificadas como as
formas de apreender informaes, ao contrrio das formas de tomar decises. A
sensao refere-se ao enfoque na experincia direta, na percepo de detalhes, de fatos
concretos, o que se pode ver, tocar, cheirar, j a intuio uma forma de processar
informaes em termos de experincias passadas, objetivos futuros e processos
inconscientes (JUNG, 1991).
Nachmanovitch (1993, p. 46), considera a intuio como
[...] a soma sinptica, em que todo o sistema nervoso equilibra e combinamultivariadas complexidades num nico flash. [...]. O pensamento intuitivose baseia em tudo o que sabemos e em tudo o que somos. Num nicomomento ocorre a convergncia de uma rica pluralidade de fontes edirees.
A intuio entendida ao longo da histria da filosofia como uma relao
direta com um objeto qualquer, sem utilizao de intermedirios, por esta razo
implica na presena efetiva do objeto. De acordo com Abbagnano (1999), Plotino
emprega este termo para designar o conhecimento imediato e total que o Divino tem
de si e de seus prprios objetos. Refere que uma forma de conhecimento superior e
privilegiada, pois assim como para a viso sensvel na qual se molda, compreende que
o objeto est imediatamente presente. Afirma Abbagnano (1999), que a intuio
determina uma identificao mstica, uma contemplao, no de um objeto presente,
mas de algo inefvel, puramente espiritual.
Abbagnano (1999) tambm destaca outros filsofos que abordam a intuio, aexemplo de Leibniz que se referia a intuio como verdade primitiva, tanto da razo
quanto do fato, ou seja, as verdades que o intelecto apreende ou possui sem a
mediao de outras verdades, ou Hegel que compreendia o puro intuir como puro
pensar.
Para Kant, intuio a representao tal qual se apresenta, pela decorrncia da
imediata presena do objeto. Este filsofo se refere intuio de duas maneiras, a
sensvel e a intelectual, sendo que a sensvel aquela de todo ser presente finito, ela ,
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portanto, passividade e afeio; a intelectual originria e criativa, nela, o objeto
posto ou criado, portanto s se encontra no Criador (KEMPF, 1997).
Fregtman (1989) refere que para Plato, a intuio apreende a prpria realidade
em sua forma (eidos), implicando em ato de ver e em acontecimento que se olha, tanto
no exterior como no interior da mente. Descartes e Locke (apud FREGTMAN, 1989)
consideram a intuio como nico caminho para chegar ao conhecimento. Para
Descartes, ela um ato unificado do pensamento, oferecendo uma evidncia, uma
certeza; e para Locke ela uma luz natural que possibilita a apreenso das relaes,
os significados, as formas abstratas e o entrelaamento no sensvel das coisas. Flechte
(apud FREGTMAN, 1989) nos remete intuio como o saber dos saberes e daliberdade, a viso da verdade e a conscincia de si mesmo como ato puro. Scheling
refere que a intuio um conhecimento direto e imediato do Ser absoluto, do real e
ideal, do subjetivo e objetivo.
De acordo com Poincar (apud ABBAGNANO, 1999, p. 582),
[...] demonstra-se com a lgica, mas s se inventa com a intuio. A
faculdade que nos ensina a ver a intuio, assim a razo e a intuio temcada uma sua misso. Ambas so indispensveis. A razo nos d as certezas, o instrumento de demonstrao, enquanto a intuio o instrumento dainveno.
A no racionalidade atribuda intuio, de acordo com Silva (1994), retrata o
seu carter essencial, mas no engloba propriamente todo o processo intuitivo. A
intuio seria o insight ou estalo, ou seja, a percepo de algo no notado nas outras
vezes em que se observou determinado objeto ou fenmeno. Uma forma de ampliar a
intuio seria atravs do mergulho interior. importante, neste mergulho, saberdiscernir informaes objetivas e subjetivas e ter capacidade de fazer associaes,
conexes e analogias. Ao desenvolver a percepo de si mesmo e o autoconhecimento,
o indivduo comea a perceber e a conhecer o outro.
Desta forma, compreendo que o fazer, o sentir e o intuir formam uma trade que
vibra em harmonia, em mtuo relacionamento e mtua interao, contribuindo para a
composio da poesia de cuidar do recm-nascido pr-termo.
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Ainda de acordo com Collire (2001, traduo nossa), na histria do cuidado, a
cultura tem merecido grande destaque, sendo que os saberes em relao ao cuidado se
desenvolvem entre o fazer, as representaes do mundo, o avano das tecnologias e as
concepes responsveis pela introduo das ideologias que proclamam dogmas e
credos e decidem as regras de conduta e os modos de comportamento. Vislumbram-se
ento segundo Collire (2001, traduo nossa), quatro perodos na antropologia de
cuidados. O primeiro se caracteriza pela antropologia do corpo, o esprito inserido no
universo. Nesta antropologia, a transmisso de saberes se d de forma oral, ou seja, de
pai para filho. Na antiguidade, este era o mtodo pelo qual as prticas de cuidado eram
aprendidas, sendo utilizado por muitos povos e muitas culturas ainda nos dias atuais.No entanto, na maioria das sociedades, principalmente nas ocidentais, ela no
reconhecida como cientfica e tem sido desapropriada ao longo dos anos, voltando a
ser repensada e retomada no final do Sculo XX. A segunda denominada a
antropologia da sade ou da morte, sendo que a mesma surgiu no sculo XIII com os
filsofos espiritualistas e a religio judaico-crist. Seus objetivos, afirma Collire
(2001, traduo nossa), era preparar-se para o outro mundo, pagar seus pecados e
sofrer em vida para evitar o sofrimento eterno. Os cuidados espirituais passaram a ser
ento, a razo de ser dos cuidados nas instituies. A antropologia da sade inspirou os
valores ideolgicos, sendo que nesta poca apareceram inmeras obras com conselhos
e educao do povo, e durante a Grande Guerra ela reencontrou seu pice,
influenciando sobremaneira o papel moral da enfermeira. A antropologia da morte,
por sua vez, na qual a morte era percebida como uma ameaa influenciou a concepo
dos cuidados nas instituies beneficentes. A terceira antropologia, a antropologia da
doena, refere Collire (2001, traduo nossa), segue a doena como um objeto de
conhecimento cientfico, tentando evitar a morte e utilizando o corpo como objeto de
estudo. A dualidade estabelecida entre o corpo e o esprito dissocia mecanismos fsicos
e mentais. A superioridade da razo cientfica busca vencer o corpo doente, dominar a
doena, relegando a um segundo plano as emoes, sentimentos e desejos. Assim,
nesta antropologia, a medicina dita cientfica confia o mal s tecnologias de
investigao e de tratamento, que se tornaro o objeto das prticas conhecidas comocuidados. Esta a antropologia dominante nas instituies de sade. A quarta
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antropologia, que de acordo com Collire (2001, traduo nossa), foi anunciada por
Michel Foucault em seu livro A vontade de saber, a da biomedicina, do biopoder
ou da biopoltica que vem revolucionar a biotica, dans um monde ou les cadavres
sont devenus chauds e les embryons congeles3 (COLLIRE, 2001 p.72). A
biomedicina muito importante, no entanto deve ser utilizada de forma cuidadosa.
Pessini (2000) tambm reflete sobre a necessidade de estarmos alertas em
relao a biotecnologia, visto que, ao mesmo tempo que traz avanos e esperanas
significativas na sade, nos coloca frente a inmeros desafios ticos.
Desta forma Waldow (2006), frente aos avanos cientficos e suas
conseqncias refora a importncia da cultura e da tica no cuidado, e refere que abiotica surge com o objetivo de promover os direitos dos clientes e despertar para os
seus deveres e para os deveres dos profissionais envolvidos no cuidado. Neste sentido,
salienta a importncia de valorizarmos tanto a dimenso tica quanto a esttica no
cuidado de Enfermagem.
Para Collire (2001, traduo nossa), toda situao de cuidado traz em si uma
situao antropolgica. Ela um encontro entre as pessoas, parte delas, tal como elas
so e como elas se experimentam. Ela obriga a se distanciar daquilo que se sabe a
priori, ou seja, ela procura dentro da desordem aquilo que a ordem do outro. Ela vai
ao incio do desconhecido da situao para descobrir e compreender em torno de que
ela se estrutura, ela necessita ver, ouvir atentivamente para compreender, para
apreender, para cuidar.
Carper (1979) refere que os enfermeiros utilizam na sua prtica de cuidado,
quatro padres de conhecimento, o tico, o esttico, o pessoal e o emprico. O tico
compreende o conhecimento moral da Enfermagem, neste sentido, importante
considerar a pessoa como um ser nico, total que deve ser tratado com sensibilidade e
de forma integral. O esttico se constitui na compreenso do significado de forma
subjetiva, nica e particular, e denominada a arte da Enfermagem. Compreende os
valores e as atitudes dos cuidadores e dos seres cuidados frente ao processo de inter-
relao.
3em um mundo no qual os cadveres tornaram-se quentes e os embries congelados (traduo nossa)
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Segundo Chinn e Kramer (1995) o padro esttico do cuidado envolve a
criatividade, a sensibilidade, valores, a imaginao e a intuio.
Waldow (2006) afirma que o que permite falar-se em dimenso esttica no
cuidado a relao existente entre criatividade, sensibilidade, intuio, valores e
imaginao.
A dimenso esttica, acompanhando um movimento circular, refere Mafesolli
(2004, traduo nossa), torna-se tica, emoo e vice-versa. A tica, fundamento da
razo social depende estruturalmente da esttica, esta capacidade de experimentar
sentimentos e trocar emoes.
O terceiro padro de conhecimento, o pessoal, de acordo com Carper (1979),compreende a experincia interior de tornar-se um todo, um self consciente. Ele
privilegia totalidade e integralidade, promovendo envolvimento.
Paterson e Zderad (1988) referem tambm a importncia do auto-conhecimento
no cuidado de Enfermagem para reconhecer o outro em sua singularidade.
A equipe de Enfermagem ao buscar a sua experincia interior vai em direo ao
outro, promovendo com sensibilidade e intuio, o encontro na poesia de cuidar do
recm-nascido pr-termo.
O quarto padro de conhecimento compreende o conhecimento emprico, e
entendido, de acordo com Carper (1979), como a cincia da Enfermagem. Este
conhecimento sistematicamente organizado em leis gerais e teorias, e tem o
propsito de descrever, explicar e predizer os fenmenos de interesse especial, e
denominado como o corpo de conhecimento da Enfermagem.
De acordo com ngelo (1994) o profissional de Enfermagem possuidor de um
conhecimento terico e experimental responsvel pelo poder de deciso que lhe
requisitado. O exerccio da autonomia e autodeterminao do profissional de
Enfermagem, s ser possvel quando este dominar o conhecimento de seu campo e da
sua prtica, utilizando-o, de maneira adequada na prestao do cuidado de
Enfermagem.
Rosell (1998) compreende o cuidado como arte, visto que na sua composio
se manifestam a tcnica, a intuio e a sensibilidade.
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Para Nascimento (1999) o profissional de Enfermagem utiliza suas capacidades
individuais como sensibilidade, intuio, compreenso e amor quando estabelece uma
conduta mais humanista e mais integradora na sua prtica profissional, ou seja, quando
presta um cuidado intermediado pela arte da Enfermagem.
O cuidado para Mattos (2006), considerado como uma dimenso da vida
humana que se d frequentemente no plano da subjetividade. Para a autora, h vrias
formas de cuidar e vrios conhecimentos sobre o cuidado.
De acordo com Souza, Santos, Padilha, Prado (2005, p.269)
[...] o cuidado agrega uma srie de aes profissionais de natureza prpria daEnfermagem, que se concretiza em prtica multidisciplinar e comsustentao terica apoiada, inclusive, em outras cincias. Isto se d noprocesso de interaes teraputicas entre seres humanos, fundamentados emconhecimento emprico, pessoal, tico, esttico e poltico com a inteno depromover a sade e a dignidade no processo de vida humana.
Heidegger (1969) nos fala da dimenso ontolgica do cuidado, sendo que
considera o cuidado como a essncia do ser humano, assim como cuida de si, o ser
humano tambm cuida dos outros.
Foucault (1985) define o cuidado como uma forma de se relacionar com o
mundo.
Para Boff (2000), o cuidado no apenas um ato pontual, ele faz parte da
essncia humana. Cuidar requer uma atitude de preocupao, de envolvimento e de
responsabilidade para com o outro, pois compreende a escuta, o acolhimento e o
respeito. Quando cuidamos, estabelecemos uma relao de convivncia cuja
centralidade no ocupada pela razo, mas sim pela sensibilidade. Boff (2000), utiliza
a palavra cuidado, derivada de cura que significa relao de amor e de amizade.
Cuidado tambm pode ser utilizado derivado de cogitare-cogitatus que
segundo Mattos (2006), tem o sentido de cogitar, pensar, colocar ateno em,
preocupao, desvelo.
Como podemos observar, a histria do cuidado, e do cuidado na Enfermagem,
vem sendo contada e re-contada atravs dos tempos por vrios autores que, ao se
depararem com as mudanas na sociedade, tentam uma reverso do modelo cartesiano,refletindo constantemente sobre o seu fazer e o seu saber profissional.
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Neste sentido, buscam a compreenso do significado da vida em todas as suas
dimenses, aliando aos conhecimentos cientficos e atribuies tcnicas, a percepo e
compreenso do ser humano em seu mundo, como desenvolve sua identidade e
constri sua prpria histria de vida (BETTINELLI; WASKIEVICZ; ERDMANN,
2004, p. 88).
As pioneiras na utilizao do termo cuidado humano na Enfermagem como
explicita Waldow (2006), foram as doutoras Jean Watson e Madeleine Leininger,
teoristas renomadas na rea do cuidado.
Leininger (1991) enfoca o cuidado cultural, ou seja, diferentes grupos
apresentam comportamentos de cuidado diferentes entre si, j Watson (1998), situa aenfermagem como cincia, destacando o cuidado como uma ao moral, que engloba
atitudes e valores que se evidenciam em aes concretas.
Autores como Fry (1999), Roach (1991), Paterson e Zderad (1988), Watson
(1998, 2005), entre outros, tem estudado o cuidado e suas implicaes filosficas. O
cuidado na perspectiva transcultural vem sendo estudado ao longo dos anos por
Leininger (1978, 1991), Boykin (1994), Gaut (1993), e mais recentemente por
Monticelli (2003), Bohes (2001), entre outros. As prticas de cuidar e seus conceitos
tambm tem merecido ateno especial por parte de autores como Waldow (1998,
2004, 2006), Collire (1989, 2001), Riemen (1986), Patrcio (1995), Silva (1998),
Arruda e Gonalves (1999). Na rea de educao em enfermagem encontramos
trabalhos escritos por Bevis e Watson (1989), entre outros. Na administrao, tambm
encontramos alguns trabalhos relacionados com o cuidado, como os de Almeida e
Rocha (1986), Oliveira (1972), Erdmann (1995), entre outros.
Observa-se tambm, nas dissertaes de mestrado e teses de doutorado na
Enfermagem brasileira, que o estudo do cuidado numa viso mais sensvel,
privilegiando a expresso psicossocial e a busca de uma prtica fundamentada nas
relaes humanas tem sido uma constante.Entre eles gostaramos de citar o de Silva
(1997), que prope o cuidado transdimensional, com uma perspectiva de
transformao e integrao, no qual h uma convergncia da arte, cincia e
espiritualidade; o de Martins (1999), que busca pensar sobre a arte de Enfermagem,reconhecendo a expresso da imaginao e dos sentidos no cuidado de Enfermagem; o
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de Tavares (2000), que traz como proposta a perspectiva da imaginao criadora sobre
o cuidar de psiquiatria; o de Ghiorzi (2002), que busca resgatar o significado do no-
dito e da comunicao no-verbal no cuidado de Enfermagem, o de Patrcio (1995),
que prope numa interao razo-sensibilidade o referencial do cuidado holstico-
ecolgico, o de Wosny (2002), que tem como objetivo contribuir para possveis novas
reflexes acerca do significado das sensaes olfativas e sua pertinncia como
fenmeno constante na prtica da Enfermagem, o de Valverde (1997), que prope a
construo de um modelo de assistncia de Enfermagem amorosa s adolescentes
grvidas, entre outros.
Valverde (1997, p.59) refere que importante na assistncia que osprofissionais acolham o amor como valor em seu processo de vida e, mais do que isso
aprendam a amar-se e sentir-se amados na atividade de Enfermagem.
Em relao ao cuidado Collire (2001, traduo nossa) nos incita sobre a
necessidade de repens-lo, re-introduzindo sua dimenso simblica, conciliando o
saber emprico com o conhecimento cientfico, aliando sensibilidade e intuio na
prtica cotidiana.
Collire (2001, traduo nossa) reflete sobre a necessidade de re-descobrir, re-
apropriar-se e restabelecer os saberes a respeito dos cuidados. Segundo a autora, para
que isto acontea torna-se necessrio distinguir o que significa cuidado e o que
significa tratamento. O tratamento no substitui o cuidado, pode-se viver sem
tratamento, mas no sem cuidado. Tratar deriva da palavra tractare que significa
negociar, sendo que no exatamente este o significado que lhe damos na sade. Na
sade, tratar significa modificar a ao da doena, ou seja, o tratamento centrado na
doena. A palavra, cuidado, no entanto, significa se ocupar de. Como bem assinala
Collire (2001, traduo nossa), este um dos raros verbos que se conjuga na forma
passiva, pronominal e ativa: ser cuidado, se cuidar, cuidar.Estas formas revelam as
etapas da vida pelas quais passamos progressivamente, inicialmente com a ajuda dos
outros, depois cuidando de ns mesmos e finalmente acompanhando os outros em seus
cuidados. Desde o nascimento at a morte, ser cuidado, se cuidar e cuidar so
elementos indissociveis de nossa vida, no em justaposio, mas se alternandoconforme as vrias etapas vivenciadas. O exerccio profissional do cuidado pode ser
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desenvolvido em qualquer uma destas etapas, acompanhando as passagens difceis da
vida, estimulando, desenvolvendo capacidades, mantendo, ouvindo, buscando
compensar o que no vai bem, ou seja, unindo reflexo e ao, expressando
sentimentos, construindo e avaliando em conjunto projetos de cuidado, de acordo com
a cultura de cada ser cuidado e sua famlia (COLLIRE, 2001, traduo nossa).
O cuidado segundo Carvalho (1996) diferencia-se de aplicar uma teraputica,
pois envolve pensamentos e sentimentos que nos levam a agir e a evidenciar
determinados comportamentos frente ao ser cuidado.
Ayres (2001) tambm assinala a importncia de nos afastarmos da referncia da
interveno e de nos aproximarmos da noo de cuidado. O autor refere que a histriada sade marcada por intervenes capitaneadas por certo exerccio do poder-saber
tcnico normatizado. No entanto, coloca Ayres (2001), o cuidado implica estar em
relao, requer a aceitao de um outro sujeito, a aceitao da dimenso do encontro
desejante.
Cuidar muito mais que tratar. Essa uma entre as tantas necessidades da
sade. Cuidar respeitar, ouvir, falar, comunicar-se, entender, compartilhar,ajudar, fazer, orientar, supervisionar encaminhar. Cuidar pensar, refletir,criticar, agir, criar. conhecimento (AMBROZANO, 2002, p.81).
Waldow (1998) nos lembra que a Enfermagem utiliza no cuidado, um
conhecimento que no se enquadra totalmente dentro do dito conhecimento
cientfico, no entanto no quer dizer que seu conhecimento no seja cientfico.
Lemkov (1992) refere que a relao entre a razo mais elevada, como a
expressada pelo pensamento filosfico e a percepo intuitiva significativa. A razo
formula a inspirao e o insight sob a forma de linguagem, de modo a serem
utilizados, j a inspirao em si, vem de nveis mais elevados que a razo vem da
percepo espiritual atravs da intuio.
No podemos negar o valor da cincia, que tem contribudo sensivelmente no
cuidado aos seres humanos, mas tambm no podemos, como afirma DAmbrosio
(1993), negar que precisamos repensar a razo e a subjetividade cientfica.
A utilizao de tcnicas e tecnologias duras no cuidado, deve ser integrada aoprocesso relacional. O cuidado deve permear as prticas de sade, incorporando ao
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acolhimento, a sensibilidade, a intuio, a escuta atenta e ao relacionamento, as
competncias e tarefas tcnicas (AYRES, 2001).
Como j referimos anteriormente, no nos colocamos contra esta tecnologia,
mas ela deve ser questionada em relao sua utilizao e ao sentido do seu uso,
resguardando-se sempre os princpios ticos e humanos indispensveis ao ato de
cuidar.
preciso, de acordo com Patrcio (1995, p.21)
[...] ter conscincia que a cincia tem provocado muitos males. Talvez,porque falte queles ingnuos cientistas e aos manipuladores do
conhecimento, refletir sobre o uso dos conhecimentos e a satisfao humana,independentemente do progresso. E isto no uma questo de cincia, masdo que fazemos dela.
Para Santin (1994, p.23) a sensibilidade precisa ser pensada nas duas
dimenses, enquanto conhecimento vlido e enquanto vida afetiva. Devem-se conciliar
razo e sensibilidade, subjetividade e objetividade.
chegada a hora de uma nova racionalidade que, de acordo com Demo (1989),
parte da viso da necessidade de ultrapassar limites, soltando a criatividade, sendo que
algumas categorias surgem como libertadoras, a arte, a dimenso esttica, a expresso,
a intuio e a sensibilidade.
Neste sentido, parece-me inevitvel visualizar a intuio e a sensibilidade como
tecnologia do cuidado, compartilhando saberes, crenas e valores, ousando expor
nossas idias, discordncias, aspiraes e conhecimentos na busca de uma proposta
que possa ser utilizada por todos os envolvidos na poesia de cuidar do recm-nascido
pr-termo, levando a uma prtica na qual a diversidade seja a marca, mas que estadiversidade seja calcada na intuio, sensibilidade e cientificidade.
2.3 O desenvolvimento comportamental e social do recm-nascido
A histria da neonatologia data da era greco-romana segundo Volpe (2001),
sendo que Sorano de faso foi um dos primeiros estudiosos a falar sobre a ateno
gestante e prticas voltadas ao recm-nascido. Em 1630, sob o reinado de Luis XIII,
foi inaugurado na Frana, o hospital de crianas rfs, destinado a receber bebs
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abandonados, sendo que o mesmo existe at hoje em Paris, sob o nome de Hospital
So Vicente de Paulo. Em 1769, foi criado em Londres, o primeiro servio com
caractersticas de uma maternidade, que tambm era um local para receber crianas
pobres. No entanto, o primeiro hospital destinado ao atendimento de gestantes e
recm-nascidos, foi criado em Paris em 1815, conhecido nos dias de hoje com o nome
de Port Royal. Foi neste hospital, nos meados dos anos 60 e 70 que os pioneiros da
neonatologia moderna iniciaram suas atividades com recm-nascidos e especialmente
com os recm-nascidos prematuros. A partir desta poca, vrios estudos vm sendo
realizados internacionalmente, demonstrando as intercorrncias associadas
prematuridade, seus mecanismos de constituio, os tratamentos adequados, alm dosprognsticos esperados (VOLPE, 2001).
Autores como Brazelton e Nugent (2001) e Klaus e Klaus (2001) dentre outros,
so unnimes em reforar a necessidade de conciliar o seguimento neurolgico do
recm-nascido com os aspectos afetivos e emocionais, buscando a partir da
compreenso da formao do sistema nervoso do recm-nascido, entender as suas
reaes e comportamentos.
De acordo com Dumm (2006) a funo neural comea a desenvolver-se a partir
da sexta semana de vida intra-uterina, sendo que na oitava semana surgem os
movimentos de flexo e extenso da coluna vertebral do feto. A movimentao ativa
dos membros se d por volta da nona semana, sendo que o ato de suco j pode ser
observado a partir da dcima terceira semana de vida. Entre o terceiro e o sexto ms,
observa-se a mielinizao das reas visual e auditiva, sendo que a partir da 24 semana
de gestao, o feto capaz de responder a estmulos como luz, odor e sons. A partir da
sexta semana, inicia-se, primeiramente na regio perioral, a sensibilidade ao tato,
sendo esta estendida face, palmas das mos e regio superior do trax em torno da
sexta e oitava semanas. Desta forma, em torno da 12 semana, como refere Dumm
(2006) toda a superfcie do corpo, com exceo do dorso e do alto da cabea, j se
mostra sensvel ao tato. Entre o quarto e o quinto ms de gestao, observam-se
movimentos respiratrios, no entanto, os mesmos, s sero mantidos de forma
independente, a partir do stimo ms. No ltimo trimestre, as alteraes docomportamento fetal so mais lentas e menos evidenciadas, ou seja, ela se desenvolve
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de forma progressiva e rpida at a 32 semana, diminuindo at o dia do parto
(DUMM, 2006).
Segundo Verny (1993) a criana, antes de nascer, um ser capaz de reaes,
consciente e com uma vida afetiva ativa. O feto pode ver, degustar, tocar, entender, e
aprender dentro do tero, mesmo que a um nvel ainda bastante primrio.
Ao nascer e nas semanas que se seguem refere Verny (1993), o recm-nascido
no apenas consciente, ele assimila pequenas doses de estimulao visual. Observa-
se que os contrastes exercem uma forte atrao sobre os recm-nascidos, sendo que a
atrao que demonstra faz muitas vezes com que a equipe de Enfermagem tenha
dificuldade, em captar o seu olhar. A audio tambm se apresenta bastantedesenvolvida logo aps o nascimento, sendo que todos os sons preenchem o seu
universo, mas o que se encontra mais particularmente adaptado s suas capacidades
auditivas o som da voz humana. Observa-se que o fato de aumentar o som da voz e
falar respeitando espaos de cinco e quinze segundos so importantes para acordar o
recm-nascido e reter a sua ateno. Quanto s capacidades olfativas, embora ainda
no existam muitos estudos, Verny (1993), salienta que o recm-nascido sensvel a
quatro odores: o alcauz, o alho, o vinagre e o odor da me. A sensibilidade cutnea
a primeira a se desenvolver no concepto humano, sendo que j pode ser observada a
partir da sexta ou stima semana de vida. Os receptores cutneos de frio e de calor se
formam a partir da dcima semana. A sensibilidade luz observada nos fetos a partir
da dcima sexta semana de gestao (VERNY, 1993).
As reaes do recm-nascido, de acordo com Verny (1993), so pouco
qualificadas e unidimensionadas logo aps o nascimento, levando a significaes
diferentes e contraditrias. Um observador atento pode ter dificuldade de dizer o que o
beb sente, uma vez que seus pontaps, por exemplo, podem manifestar alegria,
tristeza, medo ou ansiedade.
Desta forma, a observao atenta e sensvel, utilizando-se da intuio e do
conhecimento cientfico, mostra-se como elementos primordiais no cuidado a estes
pequenos seres.
O recm-nascido tem uma vida emocional densa e complexa como bem refereKlein (1952, traduo nossa). Junto a ele, salienta a autora, podemos ressentir a fora
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de emoes como alegria, deslumbramento, clera e tristeza. O acesso complexidade
de sua vida psquica requer muita escuta, observao, sensibilidade, intuio e ateno.
Com a vida emocional dos bebs Klein (1952, traduo nossa) mostrou que os
recm-nascidos tem uma vida psquica, um mundo interno povoado de emoes
intensas e contrastantes.
Bolwby (1978, traduo nossa) um pioneiro nos estudos sobre as emoes do
beb. Ele refere que as ligaes afetivas so extremamente significativas para a
sobrevida dos recm-nascidos. Este autor descreveu um certo nmero de
comportamentos instintivos que tem como objetivo a aproximao do recm-nascido
com sua me: a suco, a ao de seguir com os olhos, o choro, o sorriso, entre outros.A dinmica emocional responsvel pelo fenmeno da aproximao mostra-se, segundo
Bolwby (1978, traduo nossa), como o determinante da identidade intrapsquica do
beb.
As bases do desenvolvimento emocional dos recm-nascidos, demonstrando
suas agonias primitivas, foram colocadas em prtica por Winnicott (WINNICOTT,
1974, traduo nossa).
Bick demonstrou a importncia de trabalhar nossas prprias emoes quando
em contato com o recm-nascido, ajudando-nos assim, a melhor compreender sua vida
psquica. O autor demonstrou a existncia de defesas primitivas das quais o beb se
serve para demonstrar seus estados de estresse ou de descontentamento, como por
exemplo, o se encolher, se esticar, fixar um ponto luminoso, entre outros (BICK, 1968,
traduo nossa).
Em relao as defesas do recm-nascido o Ministrio da Sade Brasileiro
(BRASIL, 2002), refere que podemos observar o fechamento sobre si mesmo,
conhecido por hibernao mental, sendo que neste estado o beb pode no responder
mesmo a estmulos agradveis, como por exemplo, a voz da sua me. O grande risco,
neste tipo de comportamento de acordo com o Ministrio da Sade Brasileiro
(BRASIL, 2002), pode ser a dificuldade de interao entre o beb e os pais,
prejudicando o desenvolvimento psquico. Outros mecanismos de defesa utilizados
pelos recm-nascidos referem-se ao sono como recusa de contato e a fixao adesiva
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desses estados acompanha-se de comportamentos especficos, que podem ser
decodificados, quando compreendidos.
No estado alerta tranqilo, segundo Klaus e Klaus (2001), os bebs raramente
se movem, porm seus olhos esto bem abertos, atentos e brilhantes. Acompanham o
cuidador com os olhos, viram a cabea quando ouvem a voz humana e podem tambm,
imitar a expresso facial do observador. Neste estado, a atividade motora suprimida e
toda a energia do recm-nascido parece estar canalizada para a viso e para a audio.
Desta forma, referem Klaus e Klaus (2001) eles assimilam grande parte de seu
ambiente, respondendo e adaptando-se a ele. Este estado observado com mais
freqncia, na primeira semana de vida. No estado alerta ativo, o recm-nascido semostra de forma diferente. Apresenta movimentos freqentes, olha ao redor, as vezes
em torno da sala, e pode emitir alguns sons. Este estado normalmente aparece quando
o recm-nascido est inquieto. Embora no se mexa continuamente, os movimentos
ocorrem em ritmo especial e podem ter um propsito adaptativo. Alguns cientistas, de
acordo com Klaus e Klaus (2001), referem que estes sinais se caracterizam como
pistas que mostram aos cuidadores que o recm-nascido est precisando de algo, ele
quer comunicar algo.
Importante salientar que quando o beb nasce antes do tempo previsto, as
repercusses de assimilao dos estmulos externos para o desenvolvimento cerebral
ainda no so bem conhecidas (KLAUS; KLAUS, 2001).
Portanto, torna-se primordial um acompanhamento destes recm-nascidos com
intuio e sensibilidade, buscando entender seus comportamentos e suas reaes. No
processo de conhecer os recm-nascidos importante que os profissionais de
Enfermagem reconheam as diferentes atividades e maneiras de ser em cada um dos
estados vivenciados.
No estado de choro, referem Klaus e Klaus (2001), o recm-nascido busca
comunicar-se verbalmente, isto pode ocorrer quando ele est com fome,
desconfortvel ou solitrio. Os olhos podem estar abertos ou fechados, o rosto fica
contorcido e vermelho, e os braos e pernas movem-se vigorosamente. Os diferentes
sinais e as diferentes qualidades de choro indicam necessidades diferenciadas etambm devem ser entendidos para que possam ser adequadamente atendidos. O
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estado de sonolncia geralmente ocorre quando o recm-nascido est acordando ou
adormecendo, ele pode continuar mexendo-se, franzir as sobrancelhas, sorrir ou
apertar os lbios. As plpebras ficam cadas, e os olhos podem ficar com uma
aparncia aptica e sem foco. No sono tranqilo, ainda de acordo com Klaus e Klaus
(2001), o recm-nascido apresenta-se com o rosto relaxado e as plpebras fechadas ou
imveis. No apresenta movimentos corporais, com exceo de alguns sobressaltos e
leves movimentos dos lbios. Neste estado, eles esto descansando totalmente. No
sono ativo, apresenta atividade motora ocasional, que pode manifestar-se por
movimentos dos braos e das pernas ou estiramento de todo o corpo. Os olhos
normalmente esto fechados, mas podem tremular algumas vezes, abrindo-se efechando-se. Quando em sono ativo, os recm-nascidos ocasionalmente se
movimentam de um lado para o outro do bero, na maioria das vezes eles procuram as
beiradas, alojando-se principalmente perto de objetos macios (KLAUS; KLAUS,
2001).
Cada recm-nascido tem o seu prprio ritmo de de