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ROTEIRO DE RECUPERAÇÃO DE LÍNGUA PORTUGUESA - 1º SEMESTRE
Nome: _____________________________________ Nº_____ 9º ano ___
Data: ____ / ____ / 2018 Professores: Laís Sartori e Nicolas Winck
Nota: ______ (Valor: 10,0) 1º semestre
Introdução:
Neste semestre, sua média foi inferior a 6,0, indicação de que você não assimilou os conteúdos mínimos
necessários. Agora, você terá a oportunidade de recuperar esses conteúdos por meio de um roteiro de estudo.
Faça atentamente este roteiro, pois ele resgata os conteúdos essenciais de todos os momentos de recuperação
contínua do 1º semestre de 2018. Neste documento, você encontrará, além dos roteiros passados, aquele
relativo à prova bimestral do 2o bimestre.
I - Conteúdos essenciais:
● Sintaxe: período composto por coordenação;
● produção de texto e leitura: gênero crônica;
● leitura: Antologia Poética - Manuel Bandeira ;
● sintaxe: período composto por subordinação: orações subordinadas substantivas;
● produção de texto e leitura: gênero artigo de opinião;
● leitura: A metamorfose - Franz Kafka ;
● sintaxe: período composto por subordinação: orações subordinadas adjetivas;
● pronomes demonstrativos e relativos;
● leitura: Fernando Pessoa na sala de aula - Douglas Tufano .
II - Objetivos de aprendizagem:
Além dos conteúdos essenciais, no decorrer do ano passado, tínhamos como objetivos de aprendizagem
para o aluno:
1. reconhecer e construir adequadamente períodos compostos;
2. reconhecer a importância discursiva de alguns elementos importantes do período simples;
3. apropriar-se do gênero crônica como ferramenta discursiva da realidade e do cotidiano brasileiros;
4. ser capaz de analisar e interpretar poemas de Manuel Bandeira, tendo conhecimento da sua história de
vida e dos principais temas abordados por sua poética;
5. estabelecer contato com textos de diversos gêneros que exponham questões relativas à cisão entre o
indivíduo e tudo que o cerca: a família, o trabalho, o sistema econômico e social;
6. observar passagens de livro do bimestre (A metamorfose ), sob um viés crítico e questionador;
7. reconhecer as características do gênero argumentativo artigo de opinião e a importância da utilização da
primeira pessoa do discurso, bem como o conceito de persuasão e os mecanismos voltados ao
1
convencimento do interlocutor;
8. rever, reconhecer e compreender a organização sintática da oração, de modo a produzir discursos
estruturalmente coesos e compreender os efeitos da pessoalização ou impessoalização do discurso por meio
das vozes verbais e da indeterminação do sujeito;
9. diferenciar a estrutura sintática das orações desenvolvidas e das orações reduzidas e o valor semântico das
conjunções integrantes que e se ;
10. reconhecer e compreender a função coesiva do pronome relativo e sua dupla função na oração: introduzir
uma oração subordinada e retomar o sentido de uma palavra da oração principal;
11. compreender que os enunciados ocorrem por meio do encadeamento de ideias, de modo a sequenciar
tanto as informações explícitas quanto as subentendidas dos textos;
12. reconhecer relações lógico-discursivas presentes no texto, marcadas por elementos coesivos;
13. ser capaz de analisar e interpretar poemas de Fernando Pessoa e de seus heterônimos, tendo em vista os
principais temas abordados por sua poética.
III - Orientações de estudo:
Neste momento, é necessário que você siga com muita responsabilidade as orientações a seguir, para
que seu desempenho melhore e, assim, ao longo do processo, você seja capaz de retomar os pontos
principais e, ao fim, recuperar a sua nota. Para isso:
● verifique suas anotações de aula no caderno e nas fichas do ano passado;
● faça uma síntese do conteúdo;
● destaque aqueles exercícios que geraram dúvidas;
● consulte a monitoria;
● compartilhe as suas anotações com colegas e faça ajustes, se necessário;
● registre dúvidas no caderno.
Leia com bastante atenção as questões apresentadas a seguir, pois elas propõem uma retomada da
trajetória de seus estudos desde o 8º ano e possibilitarão que você recupere sua aprendizagem. É importante
ressaltar que você precisará de muito empenho e dedicação na elaboração destas atividades, mas não estará
sozinho nessa jornada, porque terá o constante apoio de seu professor e também do monitor da área.
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1º Momento
Textos para as questões 1 e 2.
Texto 1
Soneto da perdida esperança
É domingo. Eu e a minha irmã trazemos os pratos da cozinha. No quarto, o marido dela nina a bebê. Meus
filhos brincam com a avó, no tapete. Minha mulher e meu padrasto bebem vinho à mesa, não sei o que
conversam, mas o fim de frase que me chega parece correto para o almoço dominical: "...e no verão dava mais
manga". Deixamos os pratos no aparador e voltamos à cozinha para buscar o rosbife. Antes que a porta
basculante se feche às minhas costas, a risada das crianças me incute a suspeita: talvez isso seja a felicidade.
Estranho. Não estou me sentindo feliz. Estou me sentindo normal. Na verdade, até um pouco aflito, em
breve o ano acaba e neste rabicho de dezembro ainda tenho muito trabalho a concluir. Amanhã abrirei os olhos e
darei com o muque da segunda-feira, pronta para o braço de ferro semanal: "Você não pode comigo!", "posso!",
"não pode!", "posso!", "não pode!". A risada dos meus filhos, porém, afasta a segunda por um momento, afasta o
próprio domingo, é como se eu contemplasse de um futuro distante a cena familiar, uma foto que já me chega
melada de nostalgia.
Era domingo. Como de costume, eu e a minha irmã púnhamos a mesa. O marido dela, no quarto, ninava a
bebê. Meus dois filhos pequenos – o mais novo nem tinha abandonado as fraldas – brincavam com a minha
mãe, no tapete azul. Minha mãe ainda era viva. Meu padrasto ainda era vivo. Todo mundo era vivo, àquela
época, o cheiro do rosbife chegava da cozinha e, se não me falha a memória, naquele dia teve manga de
sobremesa.
Tiro o rosbife do forno e a estranheza vira incômodo. Agora não é mais uma visão do passado, é uma
experiência extracorpórea, assisto à cena como se fosse outra pessoa.
É domingo. Como todo fim de semana, quando almoçam na casa da mãe, ele e a irmã põem a mesa. A
filha dela, cujo parto ele acompanhou, semanas antes, é ninada no quarto, pelo pai. Os filhos dele brincam com a
avó no tapete da sala. (Os filhos ainda dependem dele pra tudo, a mãe não depende dele pra nada e ele nem
suspeita o quão abençoada é essa equação). A mulher, a quem ama e por quem é amado, conversa com o
padrasto dele. O padrasto abre um vinho. Do forno chega o cheiro do rosbife, comprado por ele, com o salário
dele. (Amor, vinho, rosbife, salário, tudo isso para ele é default).
Ele traz o rosbife pra mesa, encara a família reunida, sua filha gargalha e desta vez ele sente raiva. O que
mais ele quer? Ganhar na loteria? Jogar na seleção? Eleger-se presidente? Dos Estados Unidos? Ele leu "A
Morte de Ivan Ilich". Ele assistiu ao diálogo de Hamlet com a caveira de Yorik. Viu A Origem do Mundo , do
Courbet e ouviu "Canto do Povo de um Lugar", do Caetano Veloso. Ele sabe que a vida não é mais do que isso,
mesmo quando ela é mais do que isso, não é mais do que isso, sabe que isso é frágil, um segundo num
cruzamento, meio milímetro numa artéria e.
Ele tem quarenta anos. Na melhor das hipóteses, se nem um segundo nem meio milímetro se
intrometerem antes, ele está na metade do caminho, está no auge, dali em diante é um longo percurso ladeira
abaixo, até o dia em que, quatro décadas mais tarde, com sorte, irá se lembrar nostálgico daquele domingo: o
cunhado chega do quarto, anuncia que a bebê dormiu, todos batem palmas e comem o rosbife.
Antonio Prata. Disponível em:
http://www1.folha.uol.com.br/colunas/antonioprata/2017/12/1940121-soneto-da-perdida-esperanca.shtml. Acesso em 26.jun.2018.
3
Texto 2
Porquinho-da-Índia
Quando eu tinha seis anos
Ganhei um porquinho-da-índia.
Que dor de coração eu tinha
Porque o bichinho só queria estar debaixo do fogão!
Levava ele pra sala
Pra os lugares mais bonitos, mais limpinhos,
Ele não se importava:
Queria era estar debaixo do fogão.
Não fazia caso nenhum das minhas ternurinhas…
– O meu porquinho-da-índia foi a minha primeira namorada.
Manuel Bandeira, Antologia Poética .
1. Sabemos que o gênero “crônica” é definido especialmente pelo seu forte contato com o cotidiano. Tal relação
cria uma riqueza de vozes, linguagens e assuntos muito característicos de seus autores.
a) O Texto 1 utiliza uma linguagem bastante adequada ao que se espera de uma crônica. Transcreva ao menos
dois exemplos de expressões ou frases que caracterizem bem o gênero e justifique a escolha, explicando a
importância deles para o texto de Antonio Prata.
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b) Releia esta passagem do Texto 1.
Ele sabe que a vida não é mais do que isso, mesmo quando ela é mais do que isso, não é mais do que isso,
sabe que isso é frágil, um segundo num cruzamento, meio milímetro numa artéria e .
Classifique a conjunção coordenativa destacada acima e, de acordo com a sua leitura e interpretação do texto
“Soneto da perdida esperança”, explique o efeito de sentido criado com a escolha de colocá-la no fim do período,
antes do ponto final.
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2. O poema “Porquinho-da-Índia” (Texto 2) é um texto que carrega algumas das mais importantes características
de Manuel Bandeira, poeta cuja obra poética foi dividida pela crítica em três temas principais: humildade, paixão
e morte.
a) Segundo a sua leitura e os seus conhecimentos acerca da história de vida e do estilo de Bandeira, relacione o
Texto 2 a um dos temas citados acima. Justifique sua escolha.
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b) Observe este momento do Texto 2.
Levava ele pra sala
Pra os lugares mais bonitos, mais limpinhos,
Ele não se importava:
Entre o segundo e o terceiro versos acima, existe uma relação de sentido que não foi expressa por uma
conjunção coordenativa. Reescreva os versos em questão, colocando essa conjunção e, em seguida, explique a
importância dessa relação para o sentido geral do poema.
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2º Momento
Textos para as questões 3 e 4
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Texto 1
Kafka e o horror neutro
Franz Kafka. Na colônia penal . Adaptação para quadrinhos por Sylvain Ricard, Maë e Albertine Ralentil.
Texto 2
“É um aparelho singular.” Desse modo um oficial descreve ao visitante a máquina de execuções em
Na Colônia Penal , de Franz Kafka. Essa frase inicial está na primeira cena da versão da graphic novel de
Sylvain Ricard (roteiro), Maël (desenho) e Albertine Ralenti (cores) [...]. Trata-se de um trabalho gráfico
bastante sofisticado. Preserva o sumo da história de Kafka e a ilustra com desenhos muito expressivos, que
ressaltam o absurdo da trama. O comandante, com seus olhos delirantes, é o personagem principal, que
tenta explicar ao visitante o funcionamento da máquina e a beleza da administração da justiça que dela
advém.
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A primeira frase é um emblema. A máquina de tortura é apenas “singular”. Uma proeza técnica, na
qual o engenho humano para infligir sofrimento ao seu semelhante é elevado à categoria de arte. Em sua
descrição, o aparelho não é terrível, nem desumano, ou qualquer outro termo que expresse juízo de valor. É
apenas singular, fruto da genialidade de outro comandante, antecessor deste que narra e se apresenta como
guardião de uma tradição. [...]
A descrição da máquina “singular” é minuciosa. Trata-se de um aparelho com agulhas que imprimem
a sentença no corpo do prisioneiro, perfurando-o cada vez mais fundo. O processo inteiro dura 12 horas e,
nos “bons tempos”, segundo o oficial, era presenciado por toda a população da cidade. Mesmo pelas
crianças, que tinham acesso privilegiado às proximidades do cadafalso. Afinal, era um espetáculo e uma
lição. A finalidade: fazer com que o condenado, por meio da dor, compreendesse, em seu corpo, a verdade
da sentença e a sabedoria da justiça.
No traço de Maël, a máquina é apresentada em seus detalhes, sem que a vejamos em seu todo, o
que a torna ainda mais terrível. Ressaltam as agulhas compridas, as engrenagens, a mordaça que é colocada
na boca para que os gritos da vítima não perturbem o público. Soturno, Maël faz jus a uma das características
marcantes de Kafka, a de transformar objetos em personagens e personagens em objetos. A relação de
intercâmbio entre homens e coisas que faz a genialidade de sua obra, talvez a mais poderosa sobre a
desumanização da espécie.
Em seu texto, Kafka usa sua melhor arma ao tratar com fria objetividade uma situação absurda [...]. O
que há de terrível em sua escrita é o contraste entre aquilo que descreve e a maneira como é descrito. Kafka
naturaliza o horror e, assim o fazendo, o coloca diante de nós como um terrível espelho.
Sua paródia sinistra da justiça, apresentada em Na Colônia Penal , é esmiuçada passo a passo.
Aquele que vai morrer sabe qual a sentença? Não. Sabe que foi condenado? Não. Sabe como foi conduzida a
sua defesa? Não, ele não teve oportunidade de se defender. O oficial prossegue: se tivesse sido interrogado,
contaria um monte de mentiras, advogados dariam sua interpretação e perderíamos tempo precioso nesse
emaranhado de versões. Tudo pode ser mais simples: “O princípio segundo o qual eu sentencio é de que a
culpabilidade nunca deixa dúvidas”. O réu é culpado de antemão, como em O Processo [...].
Luiz Zanin Onochio. Kafka e o horror neutro.
http://cultura.estadao.com.br/blogs/luiz-zanin/kafka-e-o-horror-neutro/. Acesso em: 20.mar.2018.
Vocabulário:
sumo: neste contexto, aquilo que é essencial.
advém: é resultante de, é resultado de.
emblema: neste contexto, algo simbólico, algo que possui um importante conteúdo implícito.
proeza: ato de valor.
minuciosa: descrito de forma detalhada e pormenorizada.
cadafalso: palanque em local público, onde se executam os sentenciados.
mordaça: peça com que se tapa a boca de alguém para impedi-lo de falar ou gritar.
soturno: sombrio.
fazer jus: jus é um termo latino que significa “merecimento”. Neste contexto, fazer jus é representar algo à altura da obra de Kafka.
esmiuçar: narrar de modo detalhado a fim de analisar algo.
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Texto 3
— Morto? Disse a senhora Samsa e ergueu os olhos interrogativamente para a faxineira, embora
pudesse verificar por si mesma e até reconhecer tudo sem verificação.
— É o que estou tentando dizer — disse a faxineira e para provar empurrou o cadáver de Gregor com
a vassoura mais um longo trecho para o lado.
A senhora Samsa esboçou um movimento, como se quisesse deter a vassoura, mas não o fez.
— Bem — disse o senhor Samsa —, agora podemos agradecer a Deus.
Franz Kafka. A metamorfose . São Paulo: Companhia das Letras, 2003. p. 79-80.
Texto 4
Alemães foram primeiros a usar gás como arma de guerra
Cem anos atrás, o emprego de gases tóxicos já contava como crime de guerra. Ainda assim, numa
batalha na Bélgica em abril de 1915, os soldados alemães foram os primeiros a recorrer a essa arma de
destruição em massa.
Na noite de 22 de abril de 1915, alemães e franceses enfrentavam-se nas cercanias de Ypres, no
noroeste belga, como adversários na Primeira Guerra Mundial. Há muito a cidade vinha sendo disputada, sem
perspectivas de uma vitória alemã.
Mas naquela noite os alemães pretendiam empregar uma nova arma no combate: o gás tóxico que os
soldados haviam enterrado por perto, em milhares de recipientes de metal. Quando o vento virou na direção
do inimigo, eles abriram as válvulas dos cilindros, dispersando no ar 180 toneladas de cloro líquido. Vinda das
trincheiras alemãs, uma nuvem amarelada flutuou em direção à linha de combate adversária.
E aí começou o horror. De rostos vermelhos, cegos e tossindo, os soldados envolvidos pela massa
de gás cambaleavam sem saber para onde ir: 3 mil morreram sufocados e outros 7 mil sobreviveram com
corrosões graves.
"Naquele momento, a ciência perdia sua inocência", resume o historiador Ernst Peter Fischer. Se até
então o objeto das pesquisas científicas fora melhorar as condições de vida da população, "agora, a ciência
criava condições para extinguir vidas humanas".
Mais de 90 mil soldados foram mortos com gases tóxicos nos fronts da Primeira Guerra Mundial. No
total, cerca de 1 milhão de soldados foram intoxicados: muitos morreriam das sequelas anos depois do
término da guerra.
Depois da Primeira Guerra, a Liga das Nações, à qual a Alemanha também pertencia, impôs a
rejeição ao uso de gás tóxico em batalha, no documento que ficou conhecido como Protocolo de Genebra. As
pesquisas, contudo, continuaram, geralmente sob o disfarce de estudos para o combate de pragas [...].
Sarah Judith Hofmann. Alemães foram primeiros a
usar gás como arma de guerra.
DW Brasil. http://p.dw.com/p/1BMaY. Acesso em:
20.mar.2018
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Vocabulário:
cambalear: andar de modo desequilibrado e sem estabilidade, oscilar.
sequelas: Neste contexto, problemas de saúde que surgiram como consequência da guerra.
pragas: Neste contexto, sinônimo de “peste”. Surto de doenças (fungos e bactérias) ou espécies (em geral, insetos ou roedores)
nocivas à agricultura ou que provocam doenças em humanos e animais.
3. Como vimos, a arte é produto de um determinado tempo histórico. A obra Na colônia penal , de Franz
Kafka, foi escrita em 1914 e publicada em 1919, datas que coincidem com o início e o fim da Primeira Guerra
Mundial e, desse modo, fornecem uma chave para compreender o processo de desumanização que perpassa
parte da obra do autor tcheco.
a) Explique qual é a estratégia argumentativa empregada no trecho e qual pode ser a intenção do autor ao
empregar o discurso direto.
“Naquele momento, a ciência perdia sua inocência”, resume o historiador Ernst Peter Fischer.
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b) Utilizando seus conhecimentos a respeito de orações subordinadas substantivas, transforme o trecho em
uma citação indireta. Em seguida, classifique a oração subordinada resultante.
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4. Por serem obras de um mesmo autor, há características que aproximam Na colônia penal de A
metamorfose.
a) A respeito de Kafka, o autor do Texto 1 diz que “é a relação de intercâmbio entre homens e coisas que faz
a genialidade de sua obra, talvez a mais poderosa sobre a desumanização da espécie”. Explique como essa
relação se dá tanto em Na colônia penal , quanto na novela A metamorfose . Em sua análise, utilize elementos
do Texto 3.
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b) Releia os seguintes trechos:
I. Aquele que vai morrer sabe qual é a sentença? [...] Sabe como foi conduzida a sua
defesa? Não, ele não teve oportunidade de se defender.
II. — Bem — disse o senhor Samsa —, agora podemos agradecer a Deus.
c) Classifique a oração subordinada destacada e explique sua importância, levando em consideração o
processo de desumanização dos indivíduos presente na obra de Kafka. Em seguida, a partir do que está
destacado no trecho II, compare a impossibilidade de obter um julgamento justo em Na colônia penal com a
trajetória de Gregor Samsa e de sua família em A metamorfose .
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3º Momento
Textos para as questões 5 e 6.
Texto 1
Quando certa manhã Gregor Samsa acordou de sonhos intranquilos, encontrou-se em sua cama
metamorfoseado num inseto monstruoso. Estava deitado sobre suas costas duras como couraça e, ao levantar
um pouco a cabeça, viu seu ventre abaulado, marrom, dividido por nervuras arqueadas, no topo do qual a
coberta, prestes a deslizar de vez, ainda mal se sustinha. Suas numerosas pernas, lastimavelmente finas em
comparação com o volume do resto do corpo, tremulavam desamparadas diante dos seus olhos.
— O que aconteceu comigo? — pensou.
Não era um sonho. Seu quarto, um autêntico quarto humano, só que um pouco pequeno demais,
permanecia calmo entre as quatro paredes bem conhecidas. Sobre a mesa, na qual se espalhava,
desempacotado, um mostruário de tecidos — Samsa era caixeiro viajante, — pendia a imagem que ele havia
recortado fazia pouco tempo de uma revista ilustrada e colocado numa bela moldura dourada. Representava
uma dama de chapéu de pele e boa pele que, sentada em posição ereta, erguia ao encontro do espectador um
pesado regalo também de pele, no qual desaparecia todo o seu antebraço.
O olhar de Gregor dirigiu-se então para a janela e o tempo turvo — ouviam-se gotas de chuva batendo no
zinco do parapeito — deixou-o inteiramente melancólico.
— Que tal se eu continuasse dormindo mais um pouco e esquecesse todas essas tolices? — pensou, mas
isso era completamente irrealizável, pois estava habituado a dormir do lado direito e no seu estado atual não
conseguia se colocar nessa posição. Qualquer que fosse a força com que se jogava para o lado direito
balançava sempre de volta à postura de costas. Tentou isso umas cem vezes, fechando os olhos para não ter de
enxergar as pernas desordenadamente agitadas, e só desistiu quando começou a sentir do lado uma dor ainda
nunca experimentada, leve e surda.
— Ah, meu Deus! — pensou. — Que profissão cansativa eu escolhi. Entra dia, sai dia — viajando. A
excitação comercial é muito maior que na própria sede da firma e, além disso, me é imposta essa canseira de
viajar, a preocupação com a troca de trens, as refeições irregulares e ruins, um convívio humano que muda
sempre, jamais perdura, nunca se torna caloroso. O diabo carregue tudo isso!
Franz Kafka, A metamorfose.
Texto 2
[...] E é isso, acredito, que torna a espirituosidade de Kafka inacessível a jovens que nossa cultura treinou
para ver piadas como entretenimento e entretenimento como conforto. Não é que os alunos sejam incapazes de
“sacar” o humor de Kafka, mas é que nós os ensinamos a entender o humor como algo que a gente saca [...].
Não admira que eles sejam incapazes de compreender a verdadeira piada fundamental em Kafka: [...] de que a
jornada interminável e impossível rumo ao nosso lar é, na verdade, o nosso lar.
É difícil colocar isso em palavras quando você está parado diante do quadro-negro, acreditem. Você pode
dizer a eles que talvez seja bom que eles não “saquem” Kafka. Pode pedir para imaginarem que todos os seus
contos tratam de uma espécie de porta. Para se visualizarem chegando perto dessa porta e batendo nela com
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cada vez mais força, batendo e batendo, não apenas querendo entrar, mas precisando disso; não sabemos o
que é, mas conseguimos sentir esse desespero total por entrar, batendo, esmurrando e chutando. Que enfim a
porta se abre… e ela abre para fora — estávamos o tempo todo dentro daquilo que queríamos.
David Foster Wallace. “Alguns comentários sobre a graça de Kafka dos quais provavelmente não se omitiu o
bastante”. In: Ficando longe do fato de já estar meio que longe de tudo. Tradução: Daniel Galera e Daniel Pellizzari. São
Paulo: Companhia das Letras, 2012.
5. Franz Kafka é um escritor que, como vimos ao longo do 1º bimestre, notabilizou-se não apenas pelos temas
que escolheu tratar, mas por como tratou esses temas. A forma do texto kafkiano é um desafio para muitos
estudiosos, críticos e leitores ainda nos dias de hoje.
a) O Texto 2 é um excerto crítico-argumentativo do escritor David Foster Wallace, a respeito do humor presente
na obra de Kafka. Com base na leitura, diga qual é a tese principal de Wallace e explique que recursos
linguísticos são utilizados para dar mais credibilidade à sua argumentação.
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b) Releia esta passagem do Texto 1.
— O que aconteceu comigo? — pensou.
Temos, respectivamente, a fala do personagem Gregor Samsa e do narrador. Utilizando seus conhecimentos de
orações subordinadas substantivas, reelabore o trecho de modo a transformar discurso direto em discurso
indireto. Em seguida, classifique a oração subordinada que se criou nesse processo.
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6. Depois da leitura da obra A metamorfose , ficaram claras algumas características da escrita de Franz Kafka. O
Texto 1 é talvez uma das mais célebres passagens da literatura do século XX: a primeira página da mais
conhecida novela do escritor tcheco.
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a) Com base em sua leitura de A metamorfose , analise o Texto 1 e identifique, na tradução de Modesto Carone,
ao menos duas características do estilo kafkiano, relacionando-as ao sentido geral da parte I da obra. Justifique
com exemplos.
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b) No Texto 2, David Foster Wallace faz esta afirmação:
Não admira que eles sejam incapazes de compreender a verdadeira piada fundamental em Kafka: [...] de que
a jornada interminável e impossível rumo ao nosso lar é, na verdade, o nosso lar.
Relacione o momento vivido por Gregor Samsa, ao longo da primeira cena do livro (Texto 1), à “piada”
kafkiana mencionada acima por Wallace.
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4º Momento
Textos para as questões 7 e 8.
Texto 1
Não sei quantas almas tenho
Não sei quantas almas tenho.
Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem achei.
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem alma não tem calma.
Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é,
Atento ao que sou e vejo,
Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem,
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.
Por isso, alheio, vou lendo
Como páginas, meu ser
O que segue não prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo: “Fui eu?”
Deus sabe, porque o escreveu.
Fernando Pessoa
Vocabulário:
móbil: aquilo que se move, móvel.
alheio: indiferente; algo que diz respeito aos outros e não a nós.
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Texto 2
Fernando Pessoa, o desconhecido de si mesmo
Os poetas não têm biografia. Sua obra é sua biografia. Pessoa, que duvidou sempre da realidade
deste mundo, aprovaria sem vacilar que fôssemos diretamente a seus poemas, esquecendo os incidentes
e os acidentes de sua existência terrestre. Nada em sua vida é surpreendente - nada, exceto seus
poemas.
[...]
Reis e Campos disseram o que talvez ele nunca diria. Ao contradizê-lo, expressaram-no; ao
expressá-lo, obrigaram-no a inventar-se. Escrevemos para ser o que somos ou para ser aquilo que não
somos. Em um ou em outro caso, nos buscamos a nós mesmos.
[...] A relação entre Pessoa e seus heterônimos não é idêntica à do dramaturgo ou do romancista
com as suas personagens. Não é um inventor de personagens-poetas mas um criador de
obras-de-poetas. A diferença é capital.
Octavio Paz. Fernando Pessoa, o desconhecido de si mesmo. In: Signos em Rotação. São Paulo:
Perspectiva, 1990, p. 201-220.
Vocabulário:
biografia: obra que conta a vida de uma pessoa.
contradizer: opor, dizer o contrário.
capital: essencial, fundamental.
7. O Texto 2 traz uma constatação importante sobre a diferenciação entre a pessoa empírica (“de carne e
osso”) e a pessoa poética (eu lírico), além de fazer importantes constatações a respeito da questão da
heteronímia.
a) Explique qual é a diferença entre ser um “inventor de personagens-poetas” e um “criador de
obras-de-poetas”. A seguir, explique o motivo pelo qual Octavio Paz considera que Fernando Pessoa se
encaixa na segunda definição.
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b) Releia o seguinte trecho:
“ Pessoa, que duvidou sempre da realidade deste mundo, aprovaria sem vacilar, que fôssemos diretamente a
seus poemas”.
No contexto em que está inserido, seria possível reescrever o período transformando a oração subordinada
adjetiva explicativa em restritiva? Justifique sua resposta utilizando seus conhecimentos de sintaxe.
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8. Você aprendeu que um heterônimo é aquele que não apenas assina uma obra, mas sim que apresenta
ideias próprias não necessariamente iguais às de seu criador e que, além disso, não partilha das mesmas
técnicas literárias do autor, possuindo, isso sim, um estilo próprio.
a) Levando em conta as informações dos Textos 1 e 2, explique o conceito de heteronímia com base na
seguinte frase de Octavio Paz: ao contradizê-lo, expressaram-no; ao expressá-lo, obrigaram-no a inventar-se.
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b) Una os dois períodos abaixo utilizando um pronome relativo para eliminar o termo que se repete. Em
seguida, classifique a oração subordinada do período resultante.
I. Fernando Pessoa criou dezenas de heterônimos, mas os mais famosos são Alberto Caeiro, Álvaro de
Campos, Bernardo Soares e Ricardo Reis .
II. A obra de Fernando Pessoa tem grande importância na história da literatura em língua portuguesa.
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5º Momento
Imagem e texto para as questões 9 e 10.
Texto 1
Anita Malfatti. A onda (1915). Óleo sobre tela, 26,5 x 36,5 cm. Coleção particular.
Texto 2
Isto
Dizem que finjo ou minto
Tudo que escrevo. Não.
Eu simplesmente sinto
Com a imaginação.
Não uso o coração.
Tudo o que sonho ou passo,
O que me falha ou finda, É como que um terraço
Sobre outra coisa ainda.
Essa coisa é que é linda.
Por isso escrevo em meio
Do que não está ao pé,
Livre do meu enleio, Sério do que não é.
Sentir? Sinta quem lê!
Fernando Pessoa.
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Vocabulário:
finda: termina, acaba.
terraço: cobertura plana de um edifício que constitui uma plataforma acessível.
enleio: perturbação, complexidade.
A obra A onda (Texto 1), de Anita Malfatti, foi uma das peças que compuseram a famosa exposição da
pintora em 1917. “Isto” (Texto 2), por outro lado, é um dos mais conhecidos poemas ortônimos de Fernando
Pessoa. Apoiando-se em sua leitura e na análise geral das obras, responda às seguintes questões.
9. Releia a seguinte estrofe do poema “Isto”.
Tudo o que sonho ou passo,
O que me falha ou finda,
É como que um terraço
Sobre outra coisa ainda.
Essa coisa é que é linda.
a) Classifique a conjunção adverbial destacada no terceiro verso e explique a sua importância para a poética
de Fernando Pessoa.
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b) Tendo como base o pronome demonstrativo destacado no quinto verso do trecho acima e o título do
poema, explique qual é a diferença entre os seus usos, nos respectivos contextos.
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10. Releia, agora, estes versos do poema de Pessoa.
Dizem que finjo ou minto
Tudo que escrevo. Não.
Eu simplesmente sinto
Com a imaginação.
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a) Compare o que o eu lírico está afirmando sobre o processo de composição artístico com o estilo
empregado por Anita Malfatti em A onda (Texto 1). Em sua resposta, leve em consideração a proposta
artística do Modernismo brasileiro.
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b) Quais são as diferenças entre as principais características da poética ortônima de Fernando Pessoa e as
da poética de Alberto Caeiro? Utilize elementos do poema para justificar sua resposta.
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