brazilian guitar magazine 3

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    Brazilian Guitar Magazine n 3 31 de Maro de 2008 - 1 -

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    MMAAGGAAZZIINNEE

    Edio N 3 Publicada em 31 de Maro de 2008

    A Revista do Violo Brasileirowww.BrazilianGuitar.net

    NDICEEditorial ..................................................................................................................................... 2

    Entrevista Roberto Gomes ..................................................................................................... 3

    Artigo Violo Popular Brasileiro no Exterior ........................................................................ 7

    Artigo Violo Erudito Brasileiro no Exterior ...................................................................... 12

    Entrevista Brasil Guitar Duo ................................................................................................ 16

    Evento Fenavipi Ana Vidovic ........................................................................................... 24

    Evento Fenavipi Fbio Zanon ........................................................................................... 28

    Evento Fenavipi Joo Carlos Victor ................................................................................. 32

    Artigo udio Publicitrio ..................................................................................................... 36

    Partitura Choro Trava-Dedos, de Angelo Zaniol ................................................................. 39

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    Editorial

    No editorial anterior, falamos do esprito de doao necessrio para comear uma revistaeletrnica de cdigo aberto. Para este novo nmero, as palavras de ordem talvez sejamcompromisso e dedicao. A recepo das duas primeiras edies foi altamente positiva e as

    pessoas esperam ver mais, portanto agora preciso que haja dedicao para que o projetocontinue e que haja compromissocom a qualidade e o padro estabelecidos.

    Com essas idias em mente, preferimos deixar em aberto o prazo para o fechamento destaedio, que no aconteceu no period de 30 dias, e no abrimos mo de fazer a maior cobertura

    possvel de eventos, entrevistas e curiosidades relacionadas ao universo violonstico comqualidade. O resultado que esta terceira edio a maior de todas e tem um nmero de pginas

    e uma qualidade de contedo que, na nossa modesta e tendenciosa opinio, no deve nada ao dasmelhores revistas especializadas do mundo inteiro.

    Mais uma vez, esperamos que apreciem a terceira edio desta nossa revista eletrnica. Assimcomo na msica, os grande juizes do nosso trabalho sero o tempo e o pblico apreciador eesperamos que ambos sejam lenientes conosco.

    Mais uma vez, nosso imenso muito obrigado a todos os colaboradores.

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    Entrevista

    LLUUTTHHIIEERRRROOBBEERRTTOOGGOOMMEESSRoberto Gomes desenvolveu uma das maisricas carreiras na histria da luteria no Brasil.Dono de um esprito inquieto e criativo, aliadoa um fortssimo compromisso com o aproveita-mento racional dos recursos naturais, Robertotransita com igual competncia entre rplicasde violes histricos do sculo XIX e propo-sies mais radicais como o Spiritus e o violode Pinus, uma madeira obtida inteiramente de

    rvores reflorestadas.

    Roberto, por favor nos conte um pouco sobre como surgiu seu interesse pela luteria.Eu fui me interessar pelo violo l pelos 15, 16 anos e, claro, eu gostava de rock dos Beatles, Stones,Cream, Jimmi Hendrix, The Who etc, mas tinha uma admirao enorme pelo clssico, s no agentavaaquelas cantorias chatas de pera. A um amigo me emprestou um violo de nylon, acho que era umDiGiorgio, a ao estava meio alta e resolvi abaixar o rastilho e ficou uma m.... Levei l na Del Vecchiona Rua Aurora para eles arrumarem e fiquei encantado com o lugar. O Chico Del Vecchio me levou parafazer um tour pela fbrica, gostei muito de ver o pessoal trabalhando, e o cheiro das madeiras e vernizesfoi o que chamou mais minha ateno. Poucos anosdepois tive uma guitarra Snake com acabamento emsunburst, mas queria que ela ficasse igual a Epiphone doJohn Lennon e lixei todo o verniz, putz, acho quedemorou uns 10 dias para fazer isso e ficou mais oumenos. Ento acho que estas foram as primeiras expe-rincias com luteria.Em 1978 conheci o Marcus Llerena que estava estudandoem Madrid com Don ureo Herrero, um ex-aluno doSegvia na dcada de 30, e Don ureo me aceitou comoaluno. Em Agosto daquele ano fui para Madrid. Acabeificando l um ano e foi a que o bicho da luteria mepegou. Para aumentar o oramento mensal tinha que dar aulas particulares, tocar na noite e at no metr,o que era muito divertido, e dava para ganhar um troco. Cheguei at comprar um violo folk com cordasde ao, todo em madeira compensada, e o bicho tinha uns graves bons, mas os agudos eram muito fracose resolvi tirar o fundo e deixar as laterais mais rasas. Ficou mais ou menos , mas melhorou os agudos.Tambm conheci as feras da luteria madrilenha de ento: Ramirez, Contreras, Arcangel Fernandez e oVicente Camacho, ficando amigo deste. Adorava ir ao seu atelier e v-lo trabalhar. Cheguei a ter doisvioles do Camacho. De volta ao Brasil, comecei a fazer alguns reparos e em 1982 montei um kit inglsde um alade renascentista de 7 ordens e logo depois fiz meu primeiro violo e, desde ento, me dedicototalmente luteria.

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    Voc conhecido como um luthier inovador, criador do Spiritus, e ao mesmo tempo capaz defazer rplicas impecveis de violes histricos como o Torres. Voc v algum conflito entre asabordagens tradicionais e modernas de construir instrumentos?Nenhuma se voc devidamente aborda cada qual sua maneira, Em 1991 queria fazer uma homenagemao Maestro Torres, j que em 1992 faria 100 anos de sua morte e este modelo foi um dos que mais venditanto no Brasil como nos EUA e Japo. J o Spiritus foi resultado de uma busca que comeou em 1990com os violes de fundo duplo, pois achava que o violo clssico tradicional no tinha mais o que dar,somente um passado glorioso. Veja bem, eu o adoro, mas sempre quis algo mais, algo que tirasse oviolo de sua posio medocre dentro da msica sria, um violo que desse para tocar com orquestrasem amplificao j que o fraco do instrumento seu pouco volume.

    Voc vem pesquisando madeiras alternativas h um bom tempo eatualmente desenvolve um projeto com o Pinus Ellioti (codinomeViolo de Pinho). Poderia falar um pouco sobre o que o levou adesenvolver esse projeto e porque escolheu essa madeira, em vezde outras?

    Bem, desde criana tive a sorte de ter muito contato com a Natureza eao longo dos anos fui vendo o genocdio da nossa flora (para no falartambm da fauna) tudo em prol do progresso, do lucro. O brasileiro,em geral, trata-a como mato, o que realmente era em termos dequantidade desde a descoberta deste pas, que tem nome de madeira,

    mas no pararam at hoje e, claro, tem uma hora que acaba. O que no se via era que estvamos cavandoa prpria cova, isto , gerando o que hoje uma realidade, um desequilbrio progressivo alarmante dedegradao ambiental neste planeta em que vivemos. Hoje o aquecimento global, as mudanasclimticas so realidades e, se no se puser imediatamente o p no freio, a gerao do meu filho, que tem18 anos, e dos meus netos, iro sofrer muito daqui a 20 ou 30 anos.Por isso fui buscar uma madeira de reflorestamento aqui no Brasil que tivesse propriedades acsticas, de

    extrao relativamente rpida (20 anos) e s havia duas espcies, o eucalipto e o pinus (Pinus elliottii) e,o eucalipto, no acho que sirva para nada na construo do violo.

    Como tem sido a reao e a recepo dos violonistas ao projeto do Pinus Elioti?De surpresa, pois soa como violo. Ainda estou refinando o projeto. Agora a recepo no tem sidomuito boa, pois a mentalidade estabelecida h sculos que tem que ser com jacarand, abeto, bano ecedro. Obviamente estas madeiras so fantsticas, s que vivemos em outros tempos e temos que nosadaptar realidade atual achando alternativas para um violo ecologicamente mais correto.

    Qual a expectativa de custo de um violo com o Pinus?Uns trinta por cento mais barato do que meus modelos com madeiras tradicionais j que o trabalho o

    mesmo, alis, d um pouco mais de trabalho e s economizo com o custo das madeiras.

    O violo de pinho estar disponvel em diversas plantas ou apenas no molde do Spiritus? Pensaem combinar o Pinus com outras madeiras?Estou fazendo um agora que no estilo Torres/Hauser para demonstrar que resultados o pinus oferecenum violo bem tradicional. Olha, 90% destes violes so em pinus, mas a escala, o cavalete, os filetes ea chapa da mo so em jacarand-da-baa ou de Minas/So Paulo de origem comprovadamente recicladade demolies, mveis, etc, tanto que acompanha um atestado de procedncia destas madeiras.

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    Vrios msicos profissionais adoram seus violes e lamentam que voc no use mais madeirastradicionais.Curioso isto. Vrios profissionais tm violes meus e, os que no tem, tiveram mais de duas dcadaspara encomendar e, no o fizeram. Ento parece que estes ltimos querem que eu continue usandomadeiras tradicionais apenas para que eu faa parte do rol dos bons luthiers, como se eu fosse umtrofu numa prateleira.

    Porque abandonou essas madeiras?Curiosamente tem muita gente achando que estou sendo ultra-radical nesta atitude de no mais usarmadeiras tradicionais. Talvez seja porque a maioria nunca foi no meio da Mata Atlntica no Sul daBahia e viram um p de jacarand centenrio ser derrubado levando de roldo tudo a sua volta, apassarinhada desesperadamente piando vendo seus ninhos caindo, uma paca correndo para proteger suaninhada e o buraco que ficou no meio da mata com vrias pequenas rvores quebradas em volta. E foisomente uma rvore! Imagine dezenas, centenas delas e, assim, acontece todo santo dia na Amaznia.Legal, n?!

    Como a vida de um luthier de violes clssicos?

    Dura, muito dura. Acordo s 5 da manh e s 6, 6 emeia j estou trabalhando, s paro para o almooseguido de uma sesta (influncia madrilenha) e lpelas 2 da tarde volto ao atelier e vou at 6 ou 7 danoite. Como moro em rea rural h muitos anos, gostodesta rotina diria, pois bastante produtiva eagradvel. Quem profissional da rea sabe que no mole e no salubre, principalmente por causa dapoeira e vernizes, ento tento manter o atelier semprelimpo e organizado, uso mscaras e luvas, masmesmo assim j h vrios anos tenho tido problemas

    de intoxicao por causa dos vernizes e mais recen-temente estou com uma epicondilite (cotovelo detenista, LER) no brao direito de tanto bonecar coma goma-laca, aplainar madeiras a mo, raspilhar e pora afora. Minha mdica tambm me recomendaveementemente que eu no faa as contas de quantoganho por hora, ela acha que posso ter um infartofulminante!

    Como voc v a operao da Polcia Federal que levou apreenso de jacarand-da-baa emvrias partes do pas?

    tima! Como que pode uma coisa destas? Esse picareta que se intitulava luthier ganhando rios dedinheiro vendendo toneladas de jacarand ilegal no exterior? O cara sujou o nome de ns profissionaissrios e responsveis que h anos trabalhamos duro, com honradez e determinao. Tambm um alertapara que se busquem madeiras alternativas, de preferncia de reflorestamento e ou recicladas.

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    Voc um luthier que morou nos EUA e construiu instrumentos por l, inclusive usufruiu umaexposio at ento indita para os luthiers brasileiros, dando palestras e escrevendo artigos. Hoje,de volta ao Brasil, traaria algum paralelo entre os dois mercados?O mercado norte-americano nico porque os EUA so a maior economia do planeta e l se consome detudo de uma maneira insana. Atualmente o Brasil a sexta economia mundial, mas tem desnveis scio-econmicos e educacionais gritantes. Ns somos os primos pobres, mas mais interessantes do que eles.Quando comecei a fazer violes h quase 30 anos havia meia dzia de luthiers e parece que hoje temosmais de 80. Este expressivo aumento de artesos resultado de melhor acesso informao (Internet),estabilidade econmica, maior facilidade de aquisio de materiais para o ofcio e uma conscientizaomaior por parte dos violonistas. Acho que nenhum outro pas do mundo teve um crescimento to rpidonesta rea quanto o nosso e o futuro prximo parece extremamente promissor.

    De onde surgiu a idia de dar nomes aos instrumentos que voc constri?Foi influncia do meu amigo Jos Romanillos.

    Dentre os luthiers brasileiros, voc costuma despertar reaes

    bastantes polmicas. Muitas pessoas so entusiastas do seutrabalho, enquanto outras fazem crticas mordazes. A queatribui essa polarizao?Bem, ainda sou um ser humano com todos os prs e contras. Quandose lida com arte (msica, luteria, comerciantes de violes) e artistas(luthiers, violonistas) uma relao extremamente atpica ao comumda grande maioria das pessoas. Desde que comecei com a luteria meentreguei de corpo, alma e esprito a ela, sempre tentando extrair omeu melhor para conseguir bons resultados, para me superar paraassim poder oferecer um produto de alta qualidade, conseqen-temente, espero que a contraparte tambm assim se comporte e

    quando um cliente no cumpre o combinado em termos de pagamentos, muitas vezes de uma formaleviana, fico extremamente desgostoso, pois vivo disso e tenho minhas responsabilidades mensais.Tambm este meio, infelizmente, tem muita mascarao, pose, enrolao e intenes maliciosas e, notenho nenhuma pacincia para isto. Ao longo destes anos, vrias vezes, disse verdades que muita genteno gostou. Talvez, hoje, eu pediria desculpas a algumas delas. J para outras, repetiria novamente o quefoi dito.

    Algum projeto ainda no realizado que gostaria de colocar em andamento?Harpas aelicas e o ovo de Walter Smetak.

    Roberto agradecemos imensamente pela entrevista. Mandaria algum recado para os leitores da

    BGM?Sou eu que agradeo, obrigado! Que os violonistas estudem muita tcnica, mas principalmente toquemcom o corao, ou melhor, deixem a Msica tocar seus coraes, pois eles que so instrumentos dela.

    Site oficial do luthier Roberto Gomes:http://www.gomes.guitars.nom.br

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    OOVViioollooPPooppuullaarrBBrraassiilleeiirroonnooEExxtteerriioorrrtigo

    Matria escrita por Eugnio Reis* e originalmente publicada no Caf Music:http://www.cafemusic.com.br

    irnico para no dizer triste que o brasileiro amante da boa msica muitas vezes tenha que irbuscar o melhor do nosso violo nas prateleiras de lojas no exterior. Seria maravilhoso se o nicomotivo para esses violonistas estarem atuando no exterior fosse a qualidade da sua msica, mas, comhonrosas excees, acaba sendo muitas vezes tambm por questes de sobrevivncia. Muitos dos nossosmais brilhantes instrumentistas simplesmente no dispem do incentivo e apoio necessrios para lanarsuas obras no prprio pas e, como diria Tom Jobim, acabam usando o aeroporto como a melhor sadapara esse tipo de situao e recebem no exterior a aclamao e o reconhecimento que merecem.

    Como resultado, os discos terminam custando muito caro para os padres brasileiros, pelo simples fatode terem que ser importados. Outro efeito negativo que os shows desses artistas dentro do pas acabam

    sendo escassos, freqentemente sendo bancados pelas poucas verbas pblicas destinadas cultura oupelo raro patrocnio de empresas privadas. Isso sem falar que as apresentaes costumam abranger umaparte pequena do pas, limitando-se, na maioria dos casos, a So Paulo e Rio de Janeiro.

    Foi pensando nesses sucessos lanados apenas no exterior que esse artigo comeou a se esboar. A idia expor e tentar resumir o que acredito ser o melhor da safra de violo solo lanada no exterior nosltimos tempos. No se trata de listar apenas os lanamentos mais recentes, j que muitos dos ttulosaqui tm mais de 10 anos de lanados, mas sim de desenhar um panorama da presena do violobrasileiro no exterior. Como todo trabalho deste tipo, a lista estar sempre incompleta e injustias serofeitas, alguns nomes sero deixados de fora pela simples falta de espao. Seguem abaixo os artistas ettulos que penso serem os mais significativos e, claro, no final do artigo, estaro as referncias de

    onde encontrar cada um dos ttulos.

    Paulo Bellinati , provavelmente, depois de Carlos Barbosa-Lima, o solistabrasileiro de violo em atividade com o maior leque de ttulos no exterior (duos equartetos no entrariam na comparao), j tendo lanado partituras, CDs, vdeosem formato VHS e, mais recentemente, um DVD. E, apesar de oficialmente viverno Brasil, h muitos anos tem lanado seus trabalhos apenas no exterior, maisfreqentemente nos EUA. Por questes de espao, vou citar apenas um DVD equatro dos seus CDs. So eles:

    Paulo Bellinati plays Antonio Carlos Jobim Foi lanado pela Melbay, nos EUA. um DVD

    excepcional, onde Paulo mostra sua extraordinria capacidade como arranjador. Ao todo so 12canes arranjadas com extremo bom gosto e requinte para violo solo (exceto um duo comCristina Azuma) e todos os arranjos contribuem para realar a genialidade de Tom Jobimcomocompositor. Especial destaque para Surfboard, Felicidade, Luza e Gabriela, impressionantecomo ele consegue manter a parte rtmica, meldica e harmnica funcionando de maneira toleve, fluente e ao mesmo tempo virtuosa. Pena que no haja um caderno de partituras dosarranjos tocados no DVD. O nico contra do DVD que ele poderia ter uma qualidade de som e

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    imagem melhores, de alta definio, mas isso no chega a comprometer o aproveitamento daobra.

    Guitar Works of Garoto Este CD faz parte de um projeto desenvolvido com o intuito deresgatar o trabalho para violo solo de Anbal Augusto Sardinha, mais conhecido comoGaroto. Foram escolhidas 24 obras, todas elas revisadas com extremo critrio e gravadasimpecavelmente. Alm do CD, foram lanados dois livros com as partituras, cada um com 12msicas, reproduzindo fielmente a forma como foram tocadas no disco. Todo o projeto foieditado e lanado pela GSP (Guitar Solo Publications), em So Francisco, EUA. um trabalhode importncia histrica para o violo brasileiro.

    Serenata Tambm editado pela GSP, este lbum contm um misto de msicas tradicionais dorepertrio violonstico brasileiro, como Se Ela Perguntar (Dilermando Reis), bem como obrasde autores como Baden Powell e Radams Gnattali. Tambm h peas do prprio PauloBellinati, que tambm um excepcional compositor (basta ouvir a belssima Valsa Brilhantee ovirtuoso Choro Sapeca). um daqueles discos que a gente ouve do incio ao fim, sem pularnenhuma faixa.

    Les Guitares du Brsil Este um ttulo que foi lanado na Europa pela gravadora belga GHA,especializada em violo. Como o prprio ttulo sugere, so mostradas as diversas variedades deviolo do Brasil. O resultado excepcional, foram utilizados todos os principais instrumentos decordas tradicionalmente brasileiros, como o cavaquinho, o violo tenor, a viola caipira, o violode seresta com cordas de ao, o violo de 7 cordas e, claro, o violo de 6 com cordas de nylon.Paulo faz cabelo, barba e bigode, ele toca todos os instrumentos e a nica participao especial de Cristina Azumaem uma das faixas.

    New Choros of Brazil Este disco foi gravado em parceria com o clarinetista de Jazz HarveyWainapel. Como o prprio ttulo sugere, todo o repertrio tem o Choro como base e umprojeto que focaliza mais especificamente o Choro contemporneo, de forma que a maioria daspeas recente e veio de compositores como Guinga, Srgio Santos, os prprios Bellinati eHarvey, bem como Srgio Assad, que tambm participa no encarte do disco com um excelentetexto sobre o desenvolvimento do Choro no Brasil. Curiosamente, toda a gravao foi feita noBrasil, mas o disco foi lanado na Alemanha pelo selo Acoustic Music Records. Alis, vale apena dar uma paginada geral no site da gravadora, existe muita msica brasileira por l.

    Marco Pereira um nome consolidado no universo do violo brasileiro e mundial hmuitos anos. Dono de um estilo vigoroso mas ao mesmo tempo preciso, lmpido efluente, tem muitos de seus ttulos disponveis no exterior, mesmo quando lanadosoriginalmente no Brasil. Gostaria de destacar que Marco Pereira hoje em dia grava deforma independente, em grande parte devido aos problemas ocorridos com a extintagravadora Som da Genteque, mesmo tendo falido, nunca liberou os fonogramas de

    dois de seus antigos LPs para reedio em CD. Essa uma situao que pode ser chamada de altamenteperversa, pois a gravadora no perde nem ganha, mas tanto o artista quanto o seu pblico saem lesados.

    Em linhas gerais, gravar de forma independente significa produzir por conta prpria e usar umagravadora apenas como meio de distribuio e divulgao. O artista, neste caso, tem a liberdade deeventualmente mudar de gravadora e levar o fonograma consigo, o disco no fica retido com agravadora.

    A lista a seguir enumera os trs CDs que foram lanados originalmente no exterior e que dificilmentesero encontrados em lojas de discos no Brasil.

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    Elegia ttulo lanado pelo selo holands Channel Classics em 1995, mostra um repertriocentrado em ritmos tradicionais do Brasil como o Choro, o Samba e o Baio. As faixas sealternam entre composies consagradas como Carinhoso e Mulher Rendeira e algumas maiscontemporneas, como Samba Urbano, do prprio Marco. O disco inteiramente de violo solo.Minha nica crtica diz respeito sonoridade camerstica escolhida para o disco, com bastanteeco, eu creio que aquele repertrio pedia um trabalho de estdio diferenciado.

    Dana dos Quatro Ventos Trata-se de um disco dentro dos moldes de outros ttulos do prprioMarco, onde o violo solo cede lugar noo de conjunto, com participao de msicos comoMarco Suzanona percusso e Leandro Bragano piano. O repertrio consiste de composiesdo prprio Marco mescladas com arranjos para msicas de autores como Baden Powell eEgberto Gismonti. Foi lanado pela GHAna Blgica.

    Original lanado pela GSPde So Francisco, EUA, em 2003, o primeiro disco inteiramenteautoral de Marco Pereira. O disco inteiramente de violo solo, sem nenhum tipo deacompanhamento. Ele escolheu as suas melhores composies (14 faixas no total) e o resultado brilhante. A variedade de ritmos e coloridos do disco muito grande. Comea com um sambavigoroso e arrojado (Tio Boros), passa por uma valsa brilhante (Flor das guas), passeia pelofrevo (Seu Tonico na Ladeira), contempla um clima mais tranqilo e interiorano (Estrela daManh) e fecha com um Baio Cansado.

    Paulinho Nogueira, um dos nossos mais inspirados violonistas, tem apenas umttulo originalmente editado no exterior, mas trata-se de um disco extraordinrio.O nome do disco Reflections e foi editado pela Malandro Records, umagravadora americana especializada em msica brasileira, que no exterior recebe aepgrafe comercial de Brazilian Jazz, talvez para facilitar a compreenso e/ouaceitao por parte dos gringos. um disco inteiramente de violo solo ondePaulinho, com seu estilo suave e delicado do toque sem unhas, desfila algumas

    das suas melhores composies e arranjos. Dentre os arranjos, destaque especial para Samba emPreldio(Baden Powell/ Vincius de Moraes), com as duas melodias tocadas ao mesmo tempo, semtruques de estdio, Desafinado (Tom Jobim) com sua rtmica impecvel e seus esplndidoscontrapontos, e tambm para a ria na 4a Corda (J. S. Bach), tocada como se fosse um Choro, maspreservando toda a harmonia e contrapontos da obra original. Nas composies, inevitvel falar daBachianinha No 1, mas tambm vale destacar Frevinho Doce pelo ritmo e virtuosismo e Tons eSemitonspelo arrojo da concepo violonstica da obra. um disco para se ouvir do incio ao fim, vriasvezes seguidas.

    Egberto Gismontidispensa maiores apresentaes. um daqueles msicos queparecem virtualmente ilimitados, tamanha sua capacidade de criao em gnerosmusicais dos mais variados e seu virtuosismo em diversos instrumentos. umraro exemplo de artista dono da prpria obra e hoje possui sua prpria gravadora,a Carmo Produes Artsticas. Nas ltimas duas dcadas, seus discos tm sido

    lanados e distribudos pela ECM Records, com sede na Alemanha. No site da gravadora podem serencontrados todos os seus ttulos mais recentes e tambm algumas relquias. So cerca de 20 no total,sendo que um deles integralmente dedicado ao violo e o nome Dana dos Escravos. Nele, Gismontiexplora diversas configuraes do instrumento, com 6, 10, 12 ou 14 cordas (de ao e de nylon), violorequinto, busca sonoridades e possibilidades diferentes, onde cada faixa tem um subttulo que prope

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    uma cor diferente. O resultado um disco que para muitos pode ser difcil de digerir na primeiraaudio, mas que eu particularmente penso tratar-se de uma obra-prima.

    O catlogo da ECM tambm conta com o disco Violo, de Nando Carneiro, uma interessante viagemsonora onde o violo eventualmente acompanhado da voz de Beth Goulart e dos sintetizadores deEgberto Gismonti (o prprio Nando tambm pianista e tecladista e faz uso desses instrumentos nodisco). Fazendo duo com Nando Carneiro ao violo est ningum menos que Andr Geraissati, um dosmais inquietos violonistas brasileiros, que est sempre buscando possibilidades diferentes de afinao etcnicas inovadoras para o violo.

    Por ltimo, a ECM tambm distribui o nico lanamento internacional do brilhante quarteto de violesQuaternaglia, chamado Forrobod. O quarteto formado por Breno Chaves (eventualmentesubstitudo por Paulo Porto Alegre em algumas faixas), Sidney Molina, Eduardo Fleury e FbioRamazzina e o grupo tambm gravou pela Carmo, a convite de Egberto, que esteve envolvido noprojeto o tempo todo, escreveu composies e arranjos inditos para quatro violes, participou tocandosintetizador em uma das faixas e ainda escreveu o texto de apresentao do CD. O disco tambm contacom composies de Srgio Assade Paulo Bellinati, tendo este ltimo escrito duas peas (A FuriosaeLun-Duos) especialmente para o quarteto.

    Bach in Brazil o nome do CD lanado pela Camerata Brasilna Inglaterra pelagravadora EMI Classics em 2000. A Camerata Brasil formada por alguns dosmsicos que hoje esto entre os principais mentores do Choro no Brasil,responsveis tanto pela manuteno da sua forma tradicional quanto pela suarenovao e busca de novos caminhos. Encabeando o projeto e o grupo estHenrique Cazes, cavaquinhista e arranjador excepcional, acompanhado deMarclio Lopese Paulo Snos bandolins, Marcus Ferrerna viola caipira, Jos

    Paulo Beckerno violo de 6, Marcello Gonalvesno violo de 7, Omar Cavalheirono contrabaixo eBeto Cazesna percusso e pandeiro. O disco tambm conta com as participaes especiais de LeandroBraga no piano (e que tambm assinou alguns dos arranjos), Paulo Srgio Santos no sax soprano e

    clarinete e Ricardo Amadono violino.

    Como era de se esperar, o disco parte da idia de tocar a msica de Bach com o tempero da msicabrasileira, em especial o Choro, enfatizando pontos em comum entre o compositor alemo e esse nobreestilo brasileiro, como a intensa explorao dos contrapontos. Mas, diferentemente do que se possapensar, o disco no tem apenas msicas de Bach. L tambm esto compositores bachianos comoVilla-Lobos, Radams Gnattalie Pixinguinha. O resultado muito interessante, um disco belssimo,cuja nica ressalva eu faria para um certo temor de macular a obra do grande mestre, o que faz com oChoro acabe sendo tocado de forma um pouco quadrada em alguns momentos, mas de forma algumaisso tira o brilho da obra.

    Os ttulos citados (e vrios outros de msica brasileira) podem ser encontrados em diversos websites(veja os idiomas ao lado dos endereos) que despacham os produtos para o Brasil (certifique-se antes,especialmente nos sites que tambm vendem CDs usados, como eBay e Amazon, pois a venda , naverdade, feita por uma terceira parte que no necessariamente envia para o Brasil):

    http://half.ebay.com(ingls)http://www.amazon.com(ingls)http://www.amazon.co.uk(ingls)

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    http://www.amazon.fr(francs)http://www.amazon.de(alemo)http://www.towerrecords.com(ingls)http://www.gspguitar.com(ingls)http://www.gha.be(francs e ingls)http://www.acoustic-music.de(alemo e ingls)http://www.melbay.com(ingls)http://www.ecmrecords.com(ingls e alemo)http://www.channelclassics.com(ingls)http://www.brazilianjazz.com(ingls)http://www.cdbaby.com(ingls)

    Sites oficiais de alguns dos artistas aqui mencionados:

    http://www.marcopereira.com.br(portugus e ingls)http://www.bellinati.com(portugus e ingls)http://www.multconnect.com.br/Paulinho_Nogueira/pag2.htm(portugus)http://www.ines.org/limbo/fanzine/gismonti/(ingls)

    http://www.quaternaglia.com.br(portugus e ingls)

    Este artigo se encerra por aqui. Gostaria tambm de poder listar os trabalhos de Badi Assad, UlissesRocha, Romero Lubamboe Hlio Delmiro, apenas para dar exemplo de algumas omisses, mas issodever ficar para uma outra oportunidade, provavelmente num artigo dedicado a violonistas brasileirosque tm um trabalho mais orientado ao Jazz.

    * Eugnio Reis brasileiro radicado nos EUA, onde um dos diretores de umasociedade de violo em NY, e vem se dedicado a divulgar o violo brasileiro de 6 e7 cordas em vrias frentes, escrevendo artigos em ingls e portugus, participandode convenes e festivais, dando recitais, transcrevendo msica, produzindoconcertos de violonistas, organizando fruns de debates e tambm representandodois dos mais importantes luthiers brasileiros.

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    OOVViioollooEErruuddiittooBBrraassiilleeiirroonnooEExxtteerriioorrrtigo

    Matria escrita por Eugnio Reis* e originalmente publicada no Caf Music:http://www.cafemusic.com.br

    O artigo que escrevi sobre violo popular brasileiro no exterior terminou com uma referncia aBach inBrazil, um disco que mescla msica popular com a clssica. Agora, neste segundo artigo, cujo focoprincipal se mantm no violo, mas com nfase no repertrio erudito, pego carona na idia da fronteiraentre os dois gneros e comeo falando do Duo Assad, cuja musicalidade trafega com uma impres-sionante desenvoltura pelas mais diversas searas.

    O sobrenome Assad, no universo musical mundo afora, indissocivel de violo emsica do mais alto nvel. Os irmos Srgio e Odair so hoje aclamados como omais destacado duo de violes em atividade. A discografia do Duo Assadno exterior bastante extensa, rica e variada. Seus discos so editados por basicamente duas

    gravadoras: a Nonesuch, nos EUA e a GHA na Blgica. Por motivos de espao,apenas trs dos seus ttulos sero listados, mas a partir das referncias dadas de como

    encontr-los, ser fcil chegar a todos os outros (ver no final do artigo).

    Srgio and Odair Assad Play Piazzolla Lanado nos EUA em 2001, a realizao de umprojeto de longas datas. O duo sempre gravou obras de Astor Piazzolla, mas ainda no haviadedicado um projeto inteiramente a ele. A amizade do duo com o compositor argentino semprefoi muito grande, a ponto de Piazzolla dedicar-lhes a esplndida Sute Tango, aqui registrada demaneira soberba. O disco conta tambm com a participao ocasional dos violinos de NadjaSalerno-Sonnenberg e Fernando Suarez Paz, bem como Marcelo Nisinman no bandonen.H tambm a Sute Troileana, que o duo costuma tocar em suas apresentaes h muito tempo.

    O estilo vigoroso, certeiro e veloz dos dois violes no deixa espao para dvidas, adramaticidade da msica de Piazzolla capturada em todas as suas nuances. Este um disco quepode ser chamado de indispensvel.

    Live in Brussels Este o lanamento mais recente, do ano de 2004, editado pela GHA naBlgica. Como se pode deduzir do ttulo, um disco gravado ao vivo em Bruxelas, que abre comum arranjo de Srgio Assadpara o clssicoNoites Cariocasde Jacob do Bandolim. precisodestacar que Srgio Assad conhecido como um dos mais notveis arranjadores para violo daatualidade (tanto para msica popular quanto para erudita) e o que vemos nesta faixa apenasuma pequena amostra que confirma o fato. A melodia explorada nas regies mais agudas, demaneira a emular um bandolim, enquanto que o contraponto nos baixos do violo to certeiroque, mesmo sem uma corda extra, no deixa nada a dever a nenhum 7 cordas; no se deve

    pensar, entretanto, que temos aqui um tpico duo de solista e acompanhante, os violes secruzam, se mesclam e alternam papis com uma freqncia quase frentica. O disco contmtambm adaptaes de msicas de Egberto Gismonti, Chaplin, Piazzollae Pixinguinha, almde contar com a participao do violino de Fernando Suarez Pazem algumas faixas.

    Sergio & Odair Assad Play Rameau, Scarlatti, Couperin, Bach O prprio ttulo j enumera oscompositores escolhidos para o repertrio do disco, dispensando maiores comentrios.Diferentemente dos dois ttulos anteriores, trata-se de um disco exclusivamente dedicado msica erudita, mais especificamente do perodo Barroco, onde o Maestro Srgio Assad

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    novamente nos presenteia com suas impressionantes adaptaes para o violo de obras escritasoriginalmente para outros instrumentos. A transcrio do Preldio e Fuga No 3, em DSustenido Maior, doLivro No 1 do Cravo Bem Temperado, de J. S. Bach, por exemplo, por si sj valeria a aquisio.

    Carlos Barbosa-Lima um nome que muitas pessoas sequer conhecem noBrasil, talvez pelo fato de estar radicado nos EUA h cerca de 3 dcadas, mas certamente o solista brasileiro de violo em atividade com o maior nmero dettulos lanados, com dezenas de CDs, partituras e vdeos e um nomerespeitadssimo no cenrio musical internacional. Ele foi, por exemplo, um dosgrandes pioneiros no que hoje rotulado de crossover, nome dado aos msicosque facilmente cruzam as fronteiras entre o erudito e popular. Seus arranjos demsica popular tm o refinamento da msica erudita, ele dedica uma especial

    ateno em criar linhas de baixo, harmnicas e meldicas muito claras e distintas entre si, com um pulsortmico muito bem marcado. Seus crticos dizem que eventualmente ele soa um pouco duro em algunsde seus arranjos para msica popular, mas seu toque sempre caloroso e cheio de charme. Foi pelaMelbay que ele editou uma grande parte de sua produo, especialmente a de carter didtico, comlivros e CDs explorando tcnicas de harpejos, escalas, estudos de harmonia e assuntos correlatos. Neste

    artigo, entretanto, no vamos nos deter no seu trabalho como didata, mas sim como msico solista, decmara e arranjador:

    Favorite Solos Este um DVD lanado pela Melbay, onde ele mescla diversos estilos demsica, desde solos de msica de autores estritamente eruditos, como Francisco Trrega eAgustn Barrios, passando por jazzistas como George Gershwin, pela Aquarela do BrasildeAry Barroso, o Choro de Pixinguinha e Ernesto Nazareth e o cubano Ernesto Lecuona. Asalada pode parecer indigesta para muitas pessoas e correria o srio risco de resultar em desastre,mas Barbosa-Lima passeia por todos os diferentes estilos com igual facilidade e o resultado inebriante.

    O Boto um CD lanado em 1998 pela Concord Records, onde Barbosa-Lima explora umrepertrio ecltico com uma concepo diferente do disco tradicional de solista de violo. comum que o solista de violo grave o disco inteiro sozinho ou ento acompanhado de umaorquestra ou convidados especiais. Barbosa-Lima faz ambos, toca sozinho e acompanhado daOrquestra Solistas de Sofia, da Bulgria (onde o disco foi gravado), regida pelo maestro PlamenDjurov. O repertrio bastante ecltico, indo dos eruditos Haendel e Mario Castelnuovo-Tedesco (um dos grandes colaboradores do lendrio violonista espanhol Andrs Segovia) aAntnio Carlos Jobim (com a pea que d ttulo ao disco). Barbosa-Lima e a orquestra estomuito bem integrados e o resultado uma sonoridade viva, brilhante e cheia de colorido.

    Heitor Villa-Lobos o mais universalmente conhecido dentre todos oscompositores brasileiros em todos os tempos. Suas obras so tocadas e

    reverenciadas nos quatro cantos do mundo. Seus 12 Estudos para violo, porexemplo, so um marco na histria do instrumento, uma obra que projetou oBrasil de maneira indelvel no fechado crculo da msica erudita para violo. H,porm, poucos registros disponveis do compositor tocando ou regendo suaprpria obra, o que torna o comentrio sobre um ttulo em particular bastanteimportante, motivo pelo qual abro aqui uma exceo para mencionar um

    lanamento onde o violo nem sequer aparece. Trata-se do disco Villa-Lobos Bachianas Brasileiras Nos1, 2, 5 & 9, lanado pela EMI Classicsnos EUA e Europa, no qual o prprio maestro rege a Orquestra

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    Nacional de Radiodifuso da Frana (ouLOrchestre National de la Radiodiffusion Franaise). Trata-sede uma compilao de gravaes realizadas nos anos de 1956 e 1958. Os fonogramas originais foramremasterizados nos estdiosAbbey Road, na Inglaterra, e o resultado se traduz numa qualidade de somexcelente, no h do que reclamar. O disco traz as Bachianas mais conhecidas e abre com aquela quetalvez seja a sua mais famosa obra, a ria (Cantilena) da Bachiana Brasileira No 5, cantada pelasoprano Victoria de los Angeles. muito difcil no se emocionar com essa msica, uma obra divina.O disco tambm traz O Trenzinho do Caipira, com sua irresistvel e instigante onomatopia dosbarulhos de um trem, aqui convertidos em msica da mais alta qualidade. As Bachianas so as maiscelebradas composies sinfnicas de Villa-Lobos e o disco no tem apenas um valor histricogigantesco, mas daqueles em que difcil ouvir e segurar as lgrimas, tamanha a emoo diante detanta beleza.

    O Quarteto Brasileiro de Violesou Brazilian Guitar Quartet(no exterior) o nome do grupo formado pelos violonistas Paul Galbraith, Edelton Gloeden,Everton Gloeden e Tadeu do Amarau. Eles desenvolvem um trabalhoexcepcional, que consiste no apenas em gravar o repertrio camerstico maistradicional, como o de Bach, por exemplo, mas tambm de apresentar obrasmuitas vezes inditas ou pouco conhecidas de compositores eruditos brasileiros

    mais contemporneos e arrojados como Camargo Guarnieri, Claudio Santoroe Francisco Mignone. Para atingir esse resultado, eles no apenas trabalham

    incansavelmente no acabamento das transcries, mas tambm contam com a eventual contribuioentusiasmada de msicos ilustres como Srgio Abreu, por exemplo. A sonoridade do grupo muitoredonda e o uso do violo de 8 cordas amplia o espectro sonoro de maneira significativa. Alis, cabeaqui fazer um comentrio mais detalhado, j que o quarteto conta, na verdade, com dois violes de 8cordas, mas um deles (o de Paul Galbraith, escocs radicado no Brasil) parte de uma concepodiferente: em vez de adicionar duas cordas mais graves, ele adiciona uma mais grave e uma mais aguda.Esse novo modelo recebeu o nome de Brahms, por inspirao do compositor que levou Galbraith apensar no novo instrumento, impecavelmente construdo pelo renomado luthier ingls David Rubio. Oquarteto tem trs CDs lanados nos EUA pela gravadora Delos, que so: Essncia do Brasil (1998),

    Four Suites for Orchestra(2000) e Encantamento(2001). Como se pode ver pelos anos de lanamento,todos os ttulos esto em catlogo h bastante tempo no exterior, mas ser quase um milagre encontr-los nas prateleiras das lojas de discos no Brasil.

    O nmero de mulheres no mundo do violo, seja ele popular ou erudito, semprefoi muito reduzido. Isso uma pena, porque a interpretao e a composiofemininas, sem dvida alguma, tm um colorido peculiar e isso, por si s, jacrescentaria muito ao universo do instrumento. Cristina Azuma, logo desada, seria exceo regra no meio violonstico apenas por ser mulher, mas oseu mrito sem dvida alguma reside na sua habilidade com o instrumento, no

    seu profundo conhecimento musical e na sua imensa sensibilidade artstica. Elafoi a primeira mulher a integrar o elenco da GSP(Guitar Solo Publications, um

    empreendimento que hoje envolve gravadora, editora e distribuidora e que se tornou uma espcie deMeca para os adoradores do violo solo), sediada em So Francisco, nos EUA e seu disco de estrianessa gravadora, Contatos, faz jus ao seu talento. O ttulo do CD vem a reboque do nome da obra comque Cristina abre o disco, que a Sute Contatos, escrita por Paulo Bellinati, com quem ela j vemtrabalhando h muitos anos muito comum ouvi-los em duo nos discos de Bellinati. O repertrio extremamente ecltico e desfila composies de msicos variados como Antonio Madureira, Leo

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    Brouwer, Bla Bartk e tambm da prpria Cristina, numa inesperada pea onde ela toca alade.Cristina passeia por toda essa diversidade sem titubear, esbanjando sensibilidade e beleza, valorizandocada passagem com seu toque firme e ao mesmo tempo delicado.

    Os ttulos citados (e vrios outros de msica brasileira) podem ser encontrados em diversos websites(veja os idiomas ao lado dos endereos) que despacham os produtos para o Brasil (certifique-se antes,especialmente nos sites que tambm vendem CDs usados, como eBay e Amazon, pois a venda , naverdade, feita por uma terceira parte que no necessariamente envia para o Brasil):

    http://half.ebay.com(ingls)http://www.amazon.com(ingls)http://www.amazon.co.uk(ingls)http://www.amazon.fr(francs)http://www.amazon.de(alemo)http://www.towerrecords.com(ingls)http://www.gspguitar.com(ingls)http://www.gha.be(francs e ingls)

    Sites oficiais de alguns dos artistas aqui mencionados:

    http://www.bellinati.com(portugus e ingls)http://www.brazilianguitarquartet.com(portugus e ingls)http://www.paul-galbraith.com(portugus e ingls)http://net.indra.com/~jkenyon/assad.html(ingls, site no oficial)

    A lista no acaba por aqui. Fica a promessa de um novo artigo comentando os trabalhos publicados noexterior de outros importantes violonistas eruditos brasileiros como Fbio Zanon, Marcelo KayatheAliksey Vianna, s para dar alguns exemplos. Mais ainda, outros artigos tambm devero comentar aobra dos violonistas que lanam apenas no Brasil.

    * Eugnio Reis brasileiro radicado nos EUA, onde um dos diretores de umasociedade de violo em NY, e vem se dedicado a divulgar o violo brasileiro de 6 e7 cordas em vrias frentes, escrevendo artigos em ingls e portugus, participandode convenes e festivais, dando recitais, transcrevendo msica, produzindoconcertos de violonistas, organizando fruns de debates e tambm representandodois dos mais importantes luthiers brasileiros.

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    Entrevista

    Entrevista concedida a Eugnio Reis*

    BBRRAASSIILLGGUUIITTAARRDDUUOO

    O Brasil Guitar Duo vem construindo uma trajetriaimpecvel e slida ao redor do mundo. Com um repertriodiversificado e desafiador, Joo Luiz e Douglas Lora vmconquistando o aplauso entusiasmado de platias muitodistintas e de crticos exigentes.

    Tive a grande honra e prazer de desfrutar da companhia do Brasil Guitar Duo em maro de 2008. Eposso dizer que o que vi no foram duas pessoas fazendo msica, mas sim dois jovens msicosescrevendo histria. Digo jovens, mas de maneira nenhuma se deve associar a sua juventude a qualquertipo de imaturidade. Muito pelo contrrio, ambos demonstram uma maturidade musical e profissional

    impressionantes.

    Joo Luiz e Douglas Lora so pessoas muito brincalhonas e agradabilssimas, mas de uma seriedade toda prova quando se trata de estudar msica. Esto constantemente preocupados em melhorar e tm umcompromisso total com a msica, seja no aspecto tcnico ou seja na expresso artstica. Durante o tempoque gastamos na estrada at chegar ao local de concerto, eles me concederam esta entrevista bastantedescontrada.

    Joo e Douglas, por favor nos contem como surgiu o Duo.Joo Luiz- O Duo surgiu na faculdade de msica em SP, onde a gente estudava com o Henrique Pinto,no curso de Bacharelado de violo. O Douglas j estava um ano na minha frente e a gente tinha uma

    matria na faculdade que era msica de cmara. O Douglas j tinha tido experincia com msica decmara e que ele no achou muito boa. A minha experincia, logo no ano que eu entrei, foi pssima, masisso serviu logo como uma grande lio e at acabou sendo o porqu a gente acabou se encontrando. Eupensei em procurar algum pra tocar, eu comecei tocando com algum que no era de violo, a gentetinha a possibilidade de tocar com vrias formaes.Douglas Lora Eu mesmo fiz com violo, canto, flautaJoo Luiz Eu estava chegando de pra-quedas na faculdade e comecei com um violonista, na verdadeera um amigo guitarrista que conhecia um pouco de violo, a gente tentou ler uma pea e fomosapresentar na aula de msica de cmara e foi pssimo! A professora deu uma bronca na prova pblica ou seja, um esculacho mesmo! a eu fiquei pensando que precisava procurar fazer uma coisa maissria. A gente tinha aula na casa do Henrique Pinto, nosso professor. Eu chegava pra ter aula e era

    sempre o Douglas quem estava tocando, ele j tocava muito bem e era um dos nicos de destaque naescola. Ento eu ficava ouvindo, chegava antes, ele j estava um ano adiantado, eu achava legal e pensei,poxa, vou chamar o Douglas pra fazer alguma coisa de msica de cmara comigo. Foi assim quecomeou, eu falei com ele na escola e ele topou.Douglas Lora Depois disso foi muito natural, a gente comeou a tocar em todas as provas de msicade cmara at o fim da faculdade e logo em seguida o Henrique comeou a colocar a gente no circuitode violo, primeiramente os pequenos, depois os maiores, da a gente comeou a ganhar concurso, agente ganhou o Souza Lima, o de Campos do Jordo, gravamos um CD, ganhamos um concurso na

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    Alemanha. Quer dizer, a coisa foi indo desse jeito natural e quando a gente se deu conta j tinha umacarreira iniciando. Hoje j faz 12 anos que a gente toca junto, j viajamos bastante, mas fui tudo assim, agente comeou na faculdade em 1997, sem pretenso nenhuma, era s pra fazer uma matria e a coisaacabou tomando propores muito maiores do que a gente esperava.Joo Luiz Interessante complementar que mesmo sem pretenso nenhuma, trabalhando pra fazer umamatria de msica de cmara, ns dois j encarvamos a coisa diferentemente do que as outras pessoasfaziam. A gente fazia ensaios bem regulares e a partir do momento em que o Henrique viu a gente elefalou vocs tm qumica, vocs podem funcionar como duo, vocs tm que investir. Automaticamentea gente teve uma atitude muito sria, mas sem pensar em ganhar concurso, a gente no tinha essapretenso, a gente estava aprendendo. Mas a seriedade sempre foi muito grande, a gente ensaiava eestudava muito. Alis, uma coisa positiva que a gente pode dizer que ns somos um duo que estudamuito desde o incio.Douglas Lora Justamente, a gente no s tocava muito junto, a gente estudava muito junto, a gentecomeou estudando violo clssico juntos. Isso despertou a ateno de praticamente todos os professoresna faculdade e eles comearam a dizer que ali tinha alguma coisa de especial.Joo Luiz A gente tambm comeou a ser chamado pra outros eventos dentro da faculdade, inclusivede outras reas, a gente tocava em formatura de direito, congresso de moda, coisas desse tipo

    Como a rotina de ensaios e preparao de repertrio?Douglas Lora Comeou com essa coisa de ensaiar com seriedadee hoje em dia a gente j tem algo bem solidifcado, a gente gastahoras todo dia preparando o repertrio. A gente usa o metrnomosempre, mesmo nas peas que a gente toca h mais de 10 anos agente estuda devagar com o metrnomo. Para preparar um reper-trio novo a mesma coisa, a gente comea do zero e vai subindodevagarinho. Claro que tem uma hora em que cada um tem quelimpar a sua parte em casa pra pelo menos a msica funcionar comum mnimo de qualidade. Depois a gente decide tudo junto, arti-culao, digitao a gente pensa em conjunto pra obter um som mais

    homogneo. Essa rotina de preparao de repertrio algo que agente j vem desenvolvendo desde que a gente comeou. Claro quehoje em dia a gente j pega algumas coisas mais rapidamente, massempre com muita disciplina, muito metrnomo e pacincia.Joo Luiz A gente tem muito rigor sobre como tratar a msica,porque o fato do Douglas ser compositor e de eu escrever algunsarranjos nos d, modestamente, um certo domnio da linguagem

    musical que faz com que a gente possa entender bem a partitura. Ento a gente no s de pegar apartitura e decorar, a gente faz um trabalho muito intenso de leitura, a gente tira o mximo do estudonessa parte, prestando ateno na digitao, cada um conhece a parte do outro, acho que isso importante, o Douglas sabe tocar as minhas partes de todas as msicas e vice-versa. Ento a gente est

    sempre trabalhando com esse ouvido.Douglas Lora que nem uma conversa, um dilogo mesmo, os dois tm que escutar um ao outro.

    Vocs tocam o repertrio clssico tradicional e tambm inserem bastante msica brasileira nosprogramas. Como tem sido a receptividade do pblico em relao a essa mescla de influncias?Como vocs escolhem o repertrio?Douglas Lora As peas brasileiras entraram no nosso programa a partir de 2004 com os arranjos doJoo que a gente queria usar pra tocar no Prmio Visa. Alis, o grande prmio que a gente tirou foi a

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    aquisio desse repertrio novo e o tanto de horas que a gente tocou pra preparar. Isso acabou virandonossa marca. No Brasil a gente nem precisa falar que o pessoal adora, mas aqui nos EUA as pessoasficam realmente boquiabertas com as obras brasileiras que a gente faz, porque eles no esto muitoacostumados, no conhecem muito, e a riqueza dos arranjosJoo Luiz E das suas composies tambmDouglas Lora que as minhas composies no so to brasileiras assim...Joo Luiz Uma coisa legal que eu acho que tambm faz com que seja uma marca do duo no que agente esteja inovando que no aquele lado fcil da msica brasileira, do songbook, a gente explorao lado que vem do contraponto, que tem sofisticao.Douglas Lora Mesmo no arranjo do Tico-Tico no Fub, por exemplo, ali est tudo, as prolas dochoro, do samba, mesmo as adaptaes de msicas bem populares como do Djavan, a gente encara deum jeito que d pra tocar num clube de jazz ou numa sala de concerto e as pessoas sempre adoram, aaceitao altssima.Joo Luiz A gente j tem esse trao do Douglas compor e de eu fazer arranjos desde que a gentecomeou a tocar juntos. Quando a gente comeou a trabalhar em duo e tentou chegar num repertrio, oDouglas j apareceu com algumas composies, eu j tinha alguns arranjos e a gente j comeou comalgumas coisas brasileiras, mas de uma certa forma ainda tmida. A gente tinha conscincia de que comoa gente queria trabalhar pra ser um duo, a gente tinha que passar primeiro por todo um repertrio

    tradicional, e no comear j tocando choro, samba. A gente passou pelo menos uns 10 anos tocandoSor, Scarlatti, Bach, Castelnuovo-Tedesco, o repertrio tradicional.Douglas Lora Pra comer a sobremesa depoisJoo Luiz Exatamente.

    Vocs acham que a tendncia do duo focarnum trabalho mais autoral, centrados nosarranjos e composies que vocs escrevem?Douglas Lora Eu acho que a nossa tendncia sempre tocar uma parte clssica e uma partebrasileira. A fuga do lugar comum do violo algo

    que a gente busca bastante. A gente busca um reper-trio original e bvio que a gente ainda tem muitacoisa pra tocar, muitas peas escritas pra doisvioles que a gente quer tocar.Joo Luiz Fazendo uma ponte com o que oDouglas falou, como a gente vem trazendo umrepertrio brasileiro at certo ponto diferenciado e que as pessoas tm gostado bastante, os grandescompositores, nossos dolos, como o Paulo Bellinati, o Marco Pereira, o Egberto Gismonti, tambmescreveram peas para dois violes que a gente est esperando o momento de estrear. Ento, o nossorepertrio est sendo renovado com material original escrito para dois violes.Douglas Lora Justamente, uma coisa leva outra e alguns deles comearam a escrever msicas pra

    gente tocar.

    Vocs tocam repertrio original para dois violes e tambm compem e escrevem arranjos.Pretendem publicar as partituras?Douglas Lora Com certeza, aos pouquinhos a gente vai trabalhando isso. Por enquanto no fizemosnada relativo a publicao. Uma hora esse material vai ser publicado.Joo Luiz O material indito como as composies do Douglas e os arranjos que eu escrevo no tmcomo ser encontrados, ento a gente quer fazer uma edio pra disponibilizar porque as pessoas esto

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    ligando esse repertrio a ns, ento eu acho que vai ter uma hora em que a edio dessas partituras vaiser necessria.

    Alm do trabalho de cmara do duo, vocs tambm desenvolvem um trabalho de cmara comorquestra. Poderiam falar um pouco mais desse projeto?Joo Luiz A gente j fez algumas apresentaes em SP com o repertrio que a gente tinha na poca,que eram o concerto de Haydn para duas liras e orquestras, numa verso para dois violes e o concertode Vivaldi em Sol Maior. Depois do prmio Visa, o maestro Roberto Sion, que tambm tem sido umgrande parceiro e colaborador nosso, convidou a gente pra tocar com a Orquestra Jazz Sinfnica Jovem(Orquestra Tom Jobim) em SP e da o repertrio foi mudando porque o Douglas fez adaptaes dasprprias peas dele para dois violes com orquestra e o maestro Sion tambm colocou orquestra emcima de alguns dos meus arranjos. Ento o nosso repertrio brasileiro de concerto acabou ganhandoverses com orquestra. Em maro do ano passado [2007] a gente apresentou esse repertrio em NY, naColumbia University e aconteceu uma coisa muito especial, o Egberto Gismonti cedeu pra gente umaverso de Sete Anis [composio dele] com a parte de orquestra porque ele gostou muito do meuarranjo para dois violes. Foi uma estria, foi a primeira audio.Douglas Lora A gente continua aumentando, a gente tambm tocou o concerto do Castenuovo-Tedesco com a sinfnica de Houston, em setembro do ano passado [2007] e vamos tocar agora este ano

    com mais umas 3 orquestras nos EUA, vamos tocar o Vivaldi de novo, e a gente est para estrear umaverso de um concerto de Bach para dois violinos (BWV 1043), ento a gente tem um repertrio grandepra dois violes e orquestra, algo que a gente adora fazer. Sempre tem alguma resistncia dosmaestros, porque o violo no tem muito volume e precisa amplificar, ou ento pensam no Aranjuez,ento a gente est batalhando e abrindo um campo novo de concertos com orquestra e essa empreitadatem sido muito bem sucedida.

    Douglas, voc d aulas, compositor e terminou um mestrado.Joo, voc membro do Quaternaglia e tem um trabalhoimpressionante como arranjador. Como vocs conseguemgerenciar tantas atividades sem jamais deixar o nvel musical

    sofrer?Douglas Lora Como a gente tem viajado muito e feito turns quaseque mensais, eu no tenho tido muito tempo de dar aula. As compo-sies e os arranjos a gente vai fazendo na estrada mesmo.Claro quequando a gente comea a tocar muito a gente tem que abrir mo dealgumas coisas, no d pra fazer tudo ao mesmo tempo, ento hoje eutenho dois alunos a quem eu continuo dando aula esporadicamenteporque eu gosto muito deles e tenho um compromisso, mas aulas regu-lares no tm sido mais possveis. A gente d muita masterclass nasviagens e tanto eu quanto o Joo continuamos com aqueles alunosespeciais em quem a gente acredita muito e pra quem a gente vai tentar

    passar tudo que recebeu do Henrique. Porque assim que funciona,n? Algum te d e voc tem que passar aquilo adiante. Durante o meu

    mestrado a gente no estava viajando tanto, ento foi possvel conciliar, mas eu me lembro que eu ia proBrasil direto, tinha concerto, o Prmio Visa, o Joo tambm vinha bastante pra c, a gente tocou vriasvezes, o Henrique tambm j veio e a gente j tocou em trio. Ento me parece que est tudo acontecendono tempo certo, hoje em dia no seria possvel fazer o mestrado, ento cada coisa vem no seu tempo.

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    Joo Luiz Eu acho que os meus arranjos so bons, mas eu acho que posso cada vez mais ousar neles,eles podem se tornar melhores na medida em que eu posso contar com o Douglas. Se eu no pudesseconfiar na capacidade dele de tocar o que eu escrevo, no sei se existiriam esses arranjosDouglas Lora Que isso, moleque!!! (risos)Joo Luiz verdade, no sei se os arranjos so impressionantes, eu no acho tanto, mas eu sei que somuitos bons na medida em que eu sei que o Douglas vai ser capaz de tocar. Para outras formaes emque eu participo, eu escrevo de outro jeito, tem que ser um pouco mais simples. Minha imaginao podeir bastante alm, s vezes o Douglas reclama um pouco, mas s pelo costume de reclamar, porque elepega, entende, toca, ento eles so bons na medida em que podems ser tocados por ele. Uma vez eu linuma revista o Srgio Assad falando do Odair, ele disse que pode escrever o que quiser que o Odair tocatudo, ento ele pode mandar ver nos arranjos. O que eu posso dar a minha imaginao, o que tem naminha cabea, mas na hora de executar, de fazer acontecer, voc tem que saber pra quem voc estescrevendo.Quanto a muitas atividades, eu sempre gostei de fazer msica de cmara e aprendi a tocar violo quaseao mesmo tempo em que formei o duo com o Douglas. A gente viaja direto h pelo menos 2 anos, entoa gente est sempre com o violo na mo o dia inteiro. A leitura musical algo que o Henrique sempreenfatizou muito a leitura, ento a gente consegue preparar repertrio rpido, ento d pra conciliar. Oque est pegando no momento que a gente tem muito programa diferente pra tocar, muito disco novo

    pra preparar, colaboraes com vrias pessoas, este ano a gente vai tocar com orquestra 4 concertosdiferentes, tem o repertrio do discoBom Partidoque a gente tem que divulgar.Douglas Lora Complementando que a gente acabou de sair da gravao da integral do Castelnuovo-Tedesco para dois violes, que so 53 peas e que a gente teve que aprender em trs meses e gravamostudo em 5 dias. Em duas semanas a gente teve que aprender o concerto do Tedesco.Joo Luiz Da minha parte, eu encaro a msica de cmara com muita seriedade. Eu s tenho tempopara fazer isso e s isso que eu fao. muita coisa? Com certeza , mas eu tenho que fazer isso damelhor forma.

    Muitos violonistas reclamam da solido e dasviagens cansativas em suas turns. Tocar em duo

    melhora a situao ou apenas duplica o sofrimento?Douglas Lora A vida na estrada realmente muitomenos romntica do que as pessoas pensam, a gentepassa por muito stress, sempre tem um probleminhaaqui e ali, mas graas a Deus tudo sempre d certo nofinal. Realmente difcil ficar longe da famlia, longede casa durante muito tempo, mas eu acho que seriamuito pior se a gente fosse solista, ainda bem que agente tem um ao outro. A gente at s vezes cansa(risos) de tanto que a gente tem um ao outro.Joo Luiz Uma coisa que ajuda que a gente muito

    diferente um do outro. s vezes a gente cansa porque normal depois de muito tempo junto, mas se a gente fosse muito parecido e gostasse das mesmas coisasno ia dar certo.Douglas Lora como irmo, n? As raras briguinhas que a gente tem so resolvidas rapidamente, agente tem um grande tesouro junto.Joo Luiz O Duo a coisa principal, ento no tem nada acima disso. O resto a gente vai ajeitando.

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    Douglas Lora Mas realmente tem uma hora em que a gente est cansado e quer voltar pra casa, masainda tem 15 concertos pela frente, mas a gente faz sempre da melhor maneira, seja numa igrejinha nointerior ou numa grande sala de concerto em NY.Joo Luiz O violo um instrumento que cobra muito do corpo tambm, ento existe um cansaofsico da prtica com o instrumento.Douglas Lora Tambm tem o cansao de aeroporto, de atraso, locomoo, a gente est nessa halgum tempo. Este ano a gente comeou a viajar no dia 2 de janeiro, um dia depois do ano-novo, a genteest aqui nessa turn [dia 8 de maro, data da entrevista] e ainda temos mais uns 10 concertos pra fazerem uma semana e meia, mas a gente vai na raa!Joo Luiz Uma coisa que eu acho que tem a ver da gente estar nessa loucura toda que a gente temcomo grandes exemplos e acho que ns como brasileiros temos que nos orgulhar muito disso doisduos que so o que tem de melhor na msica de cmara para dois violes, que so os Abreus e osAssads. Ento a referncia muito alta, a gente vem dessa tradio de duos e o trabalho que tem que serfeito pesado, a gente tem enfrentar o cansao, a saudade, o stress porque a gente tem uma misso.Douglas Lora O violo tambm est sempre com a gente, sempre junto e isso cura qualquer dor.Joo Luiz Exatamente, alis, bonito pensamento

    Qual foi a influencia do Henrique Pinto (foto) na carreira de vocs?

    Douglas Lora Foi fundamental. Na verdade, o Henrique um terceiroelemento do Duo. Sem falar do Trio, que um trabalho parte, mas foique ele que colocou a gente junto, que deu fora, que descobriu, a gentesempre toca pra ele, at hoje a gente vai l passar o repertrio. Nosensaios do Trio sempre uma aula, fora a convivncia pessoal que muito boa, ns somos grandes amigos, a gente ri muito junto, a genteconta muita piada, ento eu realmente considero o Henrique como umterceiro elemento.Joo Luiz verdade, ele uma pessoa que no s vem cabeaquando a gente pensa na parte musical, a gente gosta de estar perto dele,a gente sempre absorve coisas do Henrique, a gente gosta de estar junto

    com ele, a gente sente falta dele nas turns e a gente est sempre sefalando, ele acompanha tudo que a gente faz. Assim como as pessoas danossa famlia, ele torce pela gente de uma maneira que muito bonita dese ver.

    Douglas Lora um privilgio ter uma pessoa que te d essa fora toda. o que a gente estava falandoem relao a alguns alunos nossos, a gente tenta fazer a mesma coisa que o Henrique passou pra gente,isso muito importante. Tem muitos professores por a que colocam o cara pra baixo. O Henrique justamente o contrrio, ele sempre empurra a gente pra frente.Joo Luiz S falando de uma coisa mais tcnica que pode ser interessante sobre o trabalho doHenrique com a gente, ele sempre fez aulas em duo, alm das individuais. Ento essa questo de tocarcom o polegar assim, o som tem que sair de um jeito tal, o seu som complementa com o dele dessa

    maneira, ento o Henrique sempre fez esse papel. Hoje a gente pode dizer que tem uma certa autonomiapara preparar peas e saber como trabalhar uma obra e passar isso nas masterclasses por causa doHenrique. O trabalho de sonoridade e leitura, postura correta, etc. Na maioria das vezes, o concertista preparado pra tocar e no pra dar aula, mas eu acho que a gente pegou isso com o Henrique por ele serum grande mestre e a gente pde absorver bastante de como ele pensa e como ele ensina. Com ele agente no apenas aprendeu a tocar, mas a gente tambm aprendeu como foi o processo de aprendizadoem si.

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    Como foi a repercusso aps vocs terem vencido o concurso doCAG (Concert Artists Guild) em 2006?Douglas Lora O concurso do Concert Artists Guild foi o que abriu asportas pra gente aqui nos EUA, foi um dos mais importantes que a genteganhou. Eles todos do escritrio em NY so pessoas maravilhosas, soamigos, so muito competentes e tm tornado possveis grandes sonhosnossos, tudo que est acontecendo de certa forma vem atravs deles, asgravaes do Tedesco, os concertos com grandes orquestras, as viagenspor todo o territrio americano fazendo a nossa msica. E a gente temtotal autonomia sobre o nosso trabalho artstico, eles lanaram o nossoCD [Bom Partido, foto] por um selo que eles criaram justamente pra

    isso. Eu acredito que foi a nossa cartada final e que graas a Deus teve muito sucesso. O concurso vemdesde 1950 e antes de ns, houve 4 grandes violonistas que tambm venceram, que foram o ManuelBarrueco, o William Kanengiser [do LAGQ], e os irmos Katona, que so outro duo muito bom. Ento agente fica honrado de ser o primeiro duo brasileiro a ganhar um concurso to importante.

    Alguma dica ou recomendao para quem gostaria de tocar em duo?

    Douglas Lora A primeira coisa ter uma compatibilidade pessoal muito grande, pois voc vai passarmuito tempo trabalhando com aquela pessoa. Tocar junto com metrnomo sempre.Joo Luiz Isso porque cada um tem um pulso, at vocs descobrirem qual o pulso do Duo. Umacoisa legal que desde o incio eu e o Douglas conseguimos achar esse pulso, a gente s foi aprimo-rando. Mas isso algo pra se trabalhar, preciso escolher um repertrio adequado. O repertrio contem-porneo muito atraente, essas composies com tcnicas novas, os efeitos violonsticos, mas eu achoque a gente nunca pode perder de vista, ainda mais nessa fase inicial, o contato com o repertrio tradi-cional. O que um repertrio de duo? tocar as peas de Carulli, de Sor, da Renascena, pra aprendercomo que soa um duo, quer dizer, primeiro tem que fazer a lio de casa. Eu acho que a gente meiocontra quem quer comear um duo j tocando os arranjos de fulano ou sicrano, alis escrever arranjo excelente, mas tem um repertrio que pra ser desenvolvido nessa fase que muito importante e no

    pode ser pulado.Douglas Lora Tem que comear fazendo bem o feijo com arroz antes de comear a fazer os pratosmais ousados, seno vai ficar uma lacuna de formao.Joo Luiz Outra coisa importante que duo msica de cmara. Tem muita gente que junta doissolistas e bota os dois pra tocar juntos, mas o pensamento de msica de cmara diferente do pensa-mento do solista, ento preciso meio que anular essa coisa do solista, porque o duo outra coisa, umoutro trabalho. Tem muita coisa pra ser feita e acho que o bsico mesmo estudar muito. E meio quefazendo uma propaganda, eu acho que o duo a formao violonstica mais bem sucedida em termosmusicais, a que casa mais um violo com o outro.Douglas Lora mais interessante para os intrpretes tambm. Porque as peas exigem muito, no como tocar uma linha dentro de uma formao maior. Eu acho o ponto ideal pra quem gosta de msica

    de cmara.Joo Luiz E tambm o fato de voc poder tocar todo um repertrio que o solista no consegue tocar.No desmerecendo o solo, no isso, mas que duo abre uma gama muito maior de possibilidades.

    Quais so os projetos em andamento e para o futuro?Joo Luiz A gente vai lanar este ano o CD da Naxos com a obra completa do Castelnuovo-Tedesco.A gente tambm vai gravar e lanar um CD no Brasil, mas a gente vai deixar os detalhes no suspense,portanto aguardem (risos) A gente tambm est preparando um repertrio novo de msica brasileira

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    com composies do Douglas, outros arranjos meus e tambm composies que esto sendo mandadaspra gente, o Marco Pereira escreveu uma sute, o Paulo Bellinati escreveu peas novas, o EgbertoGismonti tambm tem material novo. Isso tudo deve se tornar um disco. As colaboraes tambmcontinuam, a gente vai ter um concerto com o Parker String Quartet, que tambm do CAG, quepossvelmente vai render outras coisas, pra esse programa tem uma pea do Douglas, tem um arranjotambm para um tango e no segundo semestre a gente tambm deve iniciar uma colaborao com asoprano Sarah Wolfson. A gente tambm deve fazer muitos concertos com orquestra esse ano, a gentevai tocar o concerto do Castelnuovo-Tedesco, esse ano se comemoram 40 anos de sua morte,Douglas Lora Fora as turns, que este ano a gente vai tocar em todo o territrio americano de novo,vamos tocar em Bermuda, no Equador, a gente acabou de vir de Londres, provavelmente vamos ter maisconcertos na Europa tambm e a gente j est trabalhando na agenda de 2009.

    Joo e Douglas, agradecemos imensamente pela entrevista. Gostariam de mandar algum recadopara os leitores da BGM?Douglas Lora Um grande abrao pra galera do do frum, muito estudo a todos e boa sorte na carreira!Joo Luiz Um grande abrao e a gente agradece pela entrevista!

    Site oficial do Brasil Guitar Duo:http://www.concertartists.org/brasil_bio.htm

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    IIVVFFeessttiivvaallNNaacciioonnaallddeeVViioollooddooPPiiaauuEvento

    RReecciittaallddeeAAnnaaVViiddoovviiccSamuel Huh*

    Vou comear a minha srie de resenhas falando da abertura do Fenavipi, com o recital da Ana Vidovic.

    Rodei 800 km de Dom Eliseu a Teresina, e cheguei no prprio dia do recital, no final da tarde.Chegando l, me direcionei ao Theatro 4 de Setembro, com espao para 700 pessoas. Um local bemcentral e de fcil acesso. Confesso que fiquei receoso de que a casa no fosse ficar lotada, mas o pessoalda organizao fez um processo excelente de divulgao, e os lugares foram todos ocupados, alm demuita gente que ficou de p nos corredores laterais.

    O festival iniciou com as cortinas fechadas e um som de violo tocando. Aos se abrirem as cortinas, oErisvaldo Borges estava tocando a Habanera da pera Carmen, acompanhado de uma cantora. Depois,emendaram no Maria, Maria do Milton Nascimento. A j deu pra ver que o festival tinha um objetivode atingir um pblico diferente e traz-lo pra sala de concerto. Ao olhar para a audincia, e conversandocom as pessoas na entrada, percebi o enorme nmero daqueles que nunca tinham visto um recital deviolo na vida. Nem mesmo um concerto de msica clssica ou instrumental.

    Depois, a introduo do Cinas levantou a galera, levando gente s gargalhadas, e da entrou a Ana.

    O murmrio na platia foi evidente, pois deu pra constatar que a Ana no nada fotognica: as fotos nofazem juz sua beleza ao vivo. Os rapazes comearam a gritar "linda", e a eu pensei: pronto, vai ficar

    ofendida. Mas que nada, ela com toda desenvoltura respondeu em portugus: Obrigada!, fez umamesura e sentou com um sorriso. Muito carismtica e nada ingnua. Deu pra perceber a sua experinciade palco, e como ela se sente bem naquele lugar. Falou um texto com vrias frases em portugus, edominou o teatro.

    O programa que foi distribudo me surpreendeu agradavelmente. S os hits do repertrio para violo.Para aquela situao, e aquele pblico, nada poderia ser melhor. Uma escolha perfeita, adequadssima, eque contribuiu muito para o sucesso do recital. Eis o roteiro:

    1 - Tema e variaes da Flauta Mgica, Fernando Sor2 - Suite Castellana, Federico Moreno Torroba3 - Sonatina, Federico Moreno Torroba4 - Recuerdos de la Alhambra, Francisco Tarrega5 - Asturias, Isaac Albeniz

    Intervalo

    6 - Grande Sonata, Niccolo Paganini7 - The Troubadour's Three, Stjepan Sulek8 - La Catedral, Agustin Barrios

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    Como se pode ver, um programa que a introduo perfeita ao violo para quem nunca escutou oinstrumento. Tirando a pea do croata Sulek, s se ouviu repertrio consagrado. Alm disso, umrepertrio que destacaria as suas enormes qualidades tcnicas. Enfim, muito bem selecionado. Erampeas do tipo que todos gostam j ao ouvir pela primeira vez.

    Ela comeou a tocar Sor, e a execuo d um baque na gente. Um som muito limpo, ntido e com corpo.E ao contrrio do que pensava, uma busca por variaes de dinmica, timbre e andamento surpreen-dente. Quem escutou as gravaes ou viu os vdeos, pode esquecer. outra violonista. Essa que seapresentou em Teresina um Vidovic com idias musicais amadurecidas, com escolhas muito acertadas,e que move a mo direita

    Pena que o violo, apesar de ter uma enormegama de dinmica, tenha um som um pouconasal demais, principalmente nos graves. Eno evidencie tanto o trabalho de modireita realizado. Era um Jim Redgate, quetem caractersticas excelentes, mas no faz o

    meu gosto.

    Nas peas de Torroba, uma grande quebrade conceito. Eu achava que ela se destacarianos movimentos rpidos, mas ela brilhoudemais nos movimentos lentos. Conseguiuter uma expressividade no Arada, porexemplo, que me emocionou. O que marcouna interpretao desses movimentos lentosfoi realmente a expressividade no som, o

    trabalho com ralentandos e acelerandos, e as variaes dinmicas. Os contrastes de pianos e fortes foram

    muito bem apresentados, e as escolhas interpretativas apresentadas com clareza. Alm, claro, de umatremenda capacidade tcnica. Limpeza, nitidez, ausncia de erros. Muito melhor do que em todas asgravaes que temos ouvido dela por a.

    Pena que a platia bateu palma quebrando o clima na transio do Arada para a Danza (como alis, fezem todos os movimentos mas d-se um desconto, pois ningum explicou pra eles).

    Recuerdos, como era bvio de se esperar, foi maravilhoso. Um pequeno compasso pulado no final,imperceptvel a quem no conhece, mas fora isso, um tremolo fantstico, muito bom. E, deixandorespirar as frases, sem ser mecnico, mas tambm sem perder o pulso rtmico.

    Asturias idem, de cair o queixo, e um desempenho muito bom na seo central lenta.

    Essa primeira parte foi uma avalanche. Deixou todo mundo de queixo cado. Se esbarrou uma notinhaum pouco mascada foi muito. No intervalo, o comentrio era de incredulidade. Todos notaram ocrescimento dela como intrprete, a beleza dos movimentos lentos, a sonoridade cheia, e a mo direita eesquerda exemplares. Ela toca bastante com apoio e sem, indistintamente. A mo direita sempre naposio certa, a esquerda sempre parecendo fcil. Os planos dinmicos bem definidos, as escolhas

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    interpretativas muito acertadas. Gostei de todos os andamentos que ela escolheu. No achei nada rpidoou lento demais.

    No retorno, ela voltou com Paganini. Talvez a, no Allegro, a nica vez que esbarrou umas poucasnotinhas. Mas um desempenho virtuoso e vigoroso.

    A pea do Sulek foi pra mim uma surpresa. Depois, durante uma refeio, ela me disse que tinha sidouma pea dedicada ao seu primeiro professor na Crocia. cheia de efeitos, contrastes, e soou muitobem no teatro. O primeiro movimento (Melancholy) j me pareceu muito legal, mas o segundo (Sonnet)achei bem bolado demais. Tem uma parte lenta e uma outra com uma progresso harmnica que exigeaberturas dificlimas, com variaes de carter bastante acentuadas. O terceiro (Celebration) me soouum pouco exagerado, mas no todo, um conjunto impressionante e que funcionou muito bem. A Anabuscou razoavelmente variao de timbres aqui especificamente.

    Ao final, La Catedral, tambm executada em nivel excelente.

    Como bis, a Ana escolheu os estudos 1 e 7 do Villa Lobos. De novo, achava que ela iria ser mecnica,que agora sim, no Estudo 1, ia ser uma velocidade alucinante e sempre no metrnomo, etc... Mas ela

    comeou num andamento menor do que se esperaria, usou de muita variao dinmica, fez at umrubatinho! Foi uma afirmao, como se dissesse: agora eu estou fazendo msica. E realmente est.

    O recital terminou com o Cinas chamando-ade Tchutchuca, o que virou a piada do festival,e ela tocando duas peas com a garotada deTeresina. Muito simptica.

    Saram todos maravilhados. Se fosse pracolocar algum porm, diria que faltou umpouco de glamour nos movimentos rpidos

    das peas de Torroba, e um tiquinho mais deenergia na Catedral (mas tambm, pedir issona ltima pea de um recital desse de matar).Porm, lembrando que foi um nivel j elevado.

    Conversando no final com algumas pessoas,percebi como o recital foi marcante. Tantaspessoas que no conheciam violo tiveram

    uma introduo maravilhosa ao instrumento, que acho que o recital cumpriu uma funoimportantssima: encantar o pblico para o instrumento e seu repertrio, e deixar todo mundo comvontade de tocar. As mulheres se sentiram respaldadas, as crianas encorajadas, e todo mundo inspirado

    a pegar um violo. Que prazer foi ver o grau de estupefao com peas como Recuerdos de LaAlhambra e Asturias, me lembrando o meu sentimento quando as ouvi pela primeira vez tambm.

    Alguns podem ter achado que ela no tem tanta variao de colorido, e realmente no o seu focoprincipal, mas que ela est buscando timbres, ela est. E tomando boas decises. Alm disso, aposto quenum violo menos plano no timbre, o resultado seria melhor. A Ana verdadeiramente pertence ao palco,tem uma desenvoltura invejvel e cresceu muito como intrprete. Ela mesma disse isso numamasterclass: antigamente, ela focava bastante na tcnica e esquecia um pouco da interpretao, mas nos

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    ltimos anos, est se concentrando e aprendendo a analisar musicalmente uma pea, a cuidar dainterpretao, da sonoridade e da beleza que se deve passar ao pblico. Uma auto-crtica que mostra oamadurecimento dessa violonista, e que essa beleza que se passa vai muito alm da beleza fsica quetem. Fechei os olhos durante grande parte do recital, para comprovar, e continuei achando maravilhoso.

    Eu assistiria, sim, a Ana Vidovic de novo, e sempre que puder o farei.

    Samuel Huh formado em Comunicao Social pela ESPM e tambm cursouEngenharia de Produo na USP. Estudou violo com Antonio Carlos Sarno, emanteve breve carreira como camerista, sendo hoje violonista amador e amante deviolo. Chegou a manter um duo como recitalista, tocou com a orquestra debandolins de SP, deu aulas de violo e histria de MPB em convnio com o centroacadmico da ESPM. Samuel tambm moderador do frum violao.org, a maisimportante referncia de violo erudito no Brasil.

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    IIVVFFeessttiivvaallNNaacciioonnaallddeeVViioollooddooPPiiaauuEvento

    RReecciittaallddeeFFbbiiooZZaannoonnSamuel Huh*

    Quando eu fui ao Fenavipi, estava ansioso demais pelo recital do Zanon. O Fbio daqueles msicosque geram em mim um grande interesse, aquela sensao de que se no assistir a aquele recital possoestar perdendo uma performance nica, que a mgica diferente a cada apresentao.

    O recital ocorreu no auditrio da Oficina da Palavra, um espao para umas 150 pessoas, ondeaconteceram grande parte dos eventos do festival. Como a procura era grande, fiz questo de chegarcedo e garantir meu lugar. Nesse periodo pr recital, fui conversando com o pessoal. Todos tambmapresentavam expectativas altssimas, e alm disso, a pergunta do dia era se o Zanon falava to bem

    quanto escreve. Pensei com meus botes: o Zanon vai ter que se superar pra no frustrar essa audincia,vai ser difcil.

    Quando foi divulgado o programa fiquei agradavelmente surpreso: um repertrio renascentista ebrasileiro. Sempre ouvimos o Zanon falando de sua propenso natural ao Renascimento ingls, eparticularmente, eu estava curioso pra saber como ele iria se virar no repertrio brasileiro:

    1) Sir John Langton's Pavan, John Dowland2) The Earl of Essex his Galliard, John Dowland3) Chromatic Pavan and Galliard, Peter Philips4) Estudos 9, 4, 7, 6, Francisco Mignone

    5) Pequena suite, Radams Gnattali6) Preludio Pitoresco no.4 "Na ilha abandonada...", Isaias Savio7) Impresses de Rua, Isaias Savio8) Batucada, Isaias Savio9) Preludio Incidental, Erisvaldo Borges10) Flor das guas, Marco Pereira11) Itanhang, Paulinho da Viola

    Bis: Toccata em ritmo de Samba, Radams Gnattali

    No programa original, havia peas de Laurencini, Cato e Bobrowicz, ou seja, mais Renascimento, masna hora foram substituidas pelos estudos do Mignone.

    O Zanon entrou com o violo Daryl Perry e um capo na casa 3. Um violo novo, com sonoridade umpouquinho escura e graves muito bons. As primas ainda verdes, mas j interessantes. A Pavana inicialme levou a outro mundo. Aqui, tenho que falar um pouco da minha formao musical: quando estudavano conservatrio, o professor ficou um ano inteiro s me passando peas renascentistas! Um anointeirinho! E odiei tocar cada uma delas. Cresci ouvindo Chopin, Tchaikovsky, Debussy e Ravel. Eu noconseguia gostar e ver na msica renascentista algo pra me emocionar. Bem, retornando ao presente, mevejo ouvindo o Zanon tocando uma pavana, que no meu ponto de vista, o tipo de dana mais difcil de

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    se extrair algo. Principalmente repertrio ingls. O andamento lento, o tom solene, e a conduodificlima de vozes podem fazer uma pavana se tornar uma msica fria, sem nuances, mecnica.Considero as pavanas do repertrio renascentista ingls complicadssimas, mas o Zanon extraiu algo queeu no tinha visto antes: sentimento. Passou um ar de solenidade, organicidade e novidade. Conduo devozes muito bem feita, com planos timbricos separados, variaes sutis de clima sem ser caricato, esempre uma sonoridade bem ressoante. Fiquei at com vontade de pegar as partituras e tocar de novo!Professor, demorei 15 anos, mas enxerguei!

    Ele ento falou um pouquinho sobre a pea e sobre ocompositor. Bem, se algum tinha dvida, o Fabio falato bem e at melhor do que escreve. Tem umapercepo clara do que precisa ser dito pra no deixarpontos de dvida, pontas soltas na cabea do ouvinte.Alm disso, sabe levar um tom de discurso que capturao interesse, e solta aqui e ali pedaos de informaointeressantssima, em frases casuais, que mostram queexiste um poo de cultura por baixo daquela superfcie.E principalmente, conciso. Explicou um pouco sobre

    o periodo elizabetano, sobre Dowland, e sobre adiferena de carter entre pavanas e galhardas, umadobradinha recorrente no periodo. As galhardas umpouco mais movidas e alegres que as pavanas. Tambmintroduziu Peter Philips e as peas que iria tocar aseguir.

    A galharda de Dowland foi outra revelao. Criar um tom solene at fcil. Mas impedir que se tornemaante e srio demais, um desafio. A galharda foi tocada misturando a solenidade de uma corte, mastrasmitindo alegria, frescor. Nada muito escancarado, mas em nuances sutis, de novo, com umasonoridade diferente. Muito interessante notar como o Zanon muda a sonoridade de acordo com a pea.

    Essa galharda tinha um plano tmbrico mais aberto, uma sonoridade menos cheia que a pavana.

    As peas de Peter Philips seguiram o mesmo roteiro: planos sonoros, mudanas de sonoridade geral,variao de carter. Neste caso especfico, a pavana e a galharda tm notas muito parecidas, e considerodifcil promover a mudana de carter entre as duas. Mas isso aconteceu, tivemos emoes diferentespara cada dana, gostos diferentes na boca.

    Os estudos do Mignone so sensacionais. Eu tinha a impresso que esses estudos realmente tinham umtesouro escondido, mas que no estavam vindo tona. Neste recital, a coisa clareou. O Zanon tem umaviso desses estudos muito forte, me parece que a identificao que ele tem com as peas profunda. Osenso ritmico e de acentuao no estudo 9, a virtuosidade do 4, a poesia e drama do 7 e o lirismo do 6.

    Olha, o Fbio precisa gravar isso, sinceramente.

    Com relao aos estudos, uma observao: todo mundo, durante todo o festival, bateu palma demais, emtoda a pea, em toda apresentao. O ar condicionado do auditrio fazia enorme barulho, o clima era dedescontrao. Da, o Zanon comea a tocar o estudo 7, molto lento, e fazer mgica. O silncio que ficouesse auditrio no est no mapa. A carga emocional ia aumentando ao longo da pea, os efeitos sublimes(que que foi aquele toque com mindinho e mo espalmada pra cima!), parecendo um drama doAlmodovar, s que em formato de msica. Quando o Zanon terminou, num silncio total, e colocou a

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    mo no cavalete, eu sabia que era hora de aplaudir, mas simplesmente no consegui. Fiquei ali,segurando a emoo junto com ele. O auditrio inteiro idem, nenhum se atreveu a quebrar aquele clima.At o ar condicionado silenciou, se meus ouvidos no me enganam. Da, consegui o meu momentomgico, que no vai se reproduzir mais de forma igual em nenhum outro recital do Zanon que eu v.Valeu a viagem.

    A unha do Zanon deu uma quebrada nessemomento, e ele alternou peas com bastantehistrias, pra dar tempo de ir ajustando a unhacom a lixa a partir da. Uma excelente presenade palco.

    A suite do Gnattali veio em seguida, com 3movimentos: pastoril, toada e frevo. De novo, acapacidade do Zanon alterar o carter dosmovimentos sem tirar a coerncia entre eles semostrou.

    J as peas de Svio foram tocadas com climadiferente, mais leve, dando inicio a uma seomais descontrada. Destaco aqui a Batucada, que uma pea de excelente efeito, mas muito dificil de no soar brega. Aquelas batidas no violo que vodiminuindo de intensidade at se tornarem uma sequncia de graves, tm uma linha dinmica muitoperigosa, e podem parecer tambm sem sentido, desligadas do restante. Mas o Zanon dosou bem isso,fez uma transio legal e deu um balano na parte central legal.

    A pea do Erisvaldo, o Preldio Incidental, tinha sido tocada no recital do Erisvaldo pelo prprio. umapea que toma emprestado o tema inicial de Lgrima, de Tarrega, e foi dedicada ao Zanon. Fiqueicurioso para comparar como o Zanon a tocaria em comparao com o Erisvaldo, e devo dizer que ele se

    apropriou dessa pea. Criou uma viso dele, e saiu tambm maravilhosa. Muito interessante notar a amo do intrprete, como cada cabea decodifica e exprime diferentemente uma mesma partitura. OErisvaldo saiu felicssimo, adorou escutar!

    A, vem o Flor das guas, pea belssima do Marco Pereira. o tipo de pea que casa bem com oZanon. Lrica, expressiva. O Zanon traz um refinamento a essa interpretao que no costumamos ver.Esse olhar de nuance, de planos sonoros. Sem perder a singeleza.

    No final, uma surpresa muito agradvel. No sabia que o Paulinho tinha peas de violo escritas. Mastem, e muito legal. Aquele estilo inconfundvel do Paulinho da Viola em forma de msicainstrumental. Com certeza vou procurar mais!

    O bis veio com a Toccata, que todos j sabemos o quanto o Zanon brilha nela. De novo, mesmo com aunha quebrada, brilhou.

    Um desempenho impressionante, marcante. Na parte tcnica no foi aquela avalanche, mas tambm oZanon arrisca demais, vai nos limites. A unha quebrada parece ter prejudicado um pouco, mas nada quese percebesse to claramente. O ponto que o Fabio superou aquelas altssimas expectativas, e deu umrecital recompensador.

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    O que me impressionou ao final foi a capacidade do Zanon enxergar msica dentro da msica. Esseouvido interno que se exterioriza de forma emocionante a quem ouve. A expresso exterior dessamistura interior mgica. Foi um recital de carga emocional altssima, sa tocado, e com vontade detocar. Renascimento ingls at!

    Samuel Huh formado em Comunicao Social pela ESPM e tambm cursouEngenharia de Produo na USP. Estudou violo com Antonio Carlos Sarno, emanteve breve carreira como camerista, sendo hoje violonista amador e amante deviolo. Chegou a manter um duo como recitalista, tocou com a orquestra debandolins de SP, deu aulas de violo e histria de MPB em convnio com o centroacadmico da ESPM. Samuel tambm moderador do frum violao.org, a maisimportante referncia de violo erudito no Brasil.

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    IIVVFFeessttiivvaallNNaacciioonnaallddeeVViioollooddooPPiiaauuEvento

    RReecciittaallddeeJJooooCCaarrlloossVViiccttoorrSamuel Huh*

    O recital do Joo Carlos Victor estava agendado para as 8 da manh. Um horrio ingrato, tendo em vistaque o pessoal estava indo dormir um pouco tarde. Mas, como o Joo vinha muito bem recomendado, fizum esforo e acordei cedo. O recital acabou atrasando um pouco, e iniciou quase uma hora depois dohorrio, o que foi bom para os que, como eu, chegaram um pouco depois das oito no auditrio.

    A expectativa em cima do Joo era grande, pois todos que estavam no festival do ano anteriorcomentavam como ele tinha ido bem naquele concurso, que tinham tido uma experincia inesquecvel.

    Alis, uma reao que venho perceb