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luz, Cmera... educao!

GOVERNO DO ESTADO DE SO PAULO SECRETARIA DA EDUCAO FUNDAO PARA O DESENVOLVIMENTO DA EDUCAO

Caderno de Cinema do ProfessorQuatro

So Paulo, 2010

Catalogao na Fonte: Centro de Referncia em Educao Mario CovasSo Paulo (Estado) Secretaria da Educao. Caderno de cinema do professor: quatro / Secretaria da Educao, Fundao para o Desenvolvimento da Educao; organizao, Devanil Tozzi, Eva Margareth Dantas. - So Paulo : FDE, 2010. 160 p. : il. Publicao que integra o Projeto O cinema vai escola - a linguagem cinematogrfica na Educao, do Programa Cultura Currculo. 1. Cinema e Educao 2. Recursos audiovisuais 3. Ensino mdio. I. Fundao para o Desenvolvimento da Educao. II. Tozzi, Devanil. III. Dantas, Eva Margareth. IV. Ttulo. CDU: 37:791.43

S239c

Por um currculo repleto de belas imagens e sonoridades com grata satisfao que apresentamos a publicao de apoio segunda caixa de filmes que fazem parte do projeto O Cinema Vai Escola, destinado rede estadual de Ensino Mdio de So Paulo. As atividades aqui contidas trazem sugestes para o trabalho com ttulos que representam diferentes pocas, culturas e pases, propondo uma variedade esttica que buscou contemplar a pluralidade de realidades, vivncias e pontos de vista que compem nossa rede de ensino. Esse projeto, iniciado em 2008, vem contribuindo para expandir o universo cultural de nossos estudantes por meio das experincias visuais e sonoras que o cinema pode ofertar. Essas experincias constituem uma valiosa ferramenta para a abordagem de uma infinidade de temas, mesmo os mais densos e profundos, mas todos essenciais nossa compreenso como cidados e seres humanos. A relao entre Arte e Educao h tempos vem sendo muito profcua. O cinema, que rene vrias formas de arte, vem para celebrar essa unio, desafiando nossa capacidade de reflexo acerca do mundo em que vivemos. Mais do que isso, a stima arte nos instiga a ir alm, a viajar por muitos outros universos. E, assim, quando retornamos, sempre trazemos na bagagem um olhar ampliado e enriquecido sobre todas as coisas e, acima de tudo, sobre ns mesmos. Agradecemos a todos os envolvidos no projeto e desejamos um aprendizado repleto de belas imagens e sonoridades. Paulo Renato Souza Secretrio da Educao do Estado de So Paulo

O Cinema Vai Escola mais uma vez!O projeto O Cinema Vai Escola parte integrante do programa Cultura Currculo e tem sido realizado pela Secretaria da Educao do Estado de So Paulo, por intermdio da Diretoria de Projetos Especiais da FDE, desde 2008, com o objetivo fundamental de ampliar o acesso dos estudantes aos bens e produes culturais. A primeira caixa de filmes foi enviada a 3.896 unidades escolares, o que configurou a totalidade de escolas estaduais que atendem o Ensino Mdio em So Paulo, envolvendo todas as regies do Estado. Os resultados j se fazem presentes em inmeros trabalhos realizados pelas escolas, que multiplicaram e recriaram as proposies de atividades apresentadas no Caderno de Cinema do Professor Um. Educadores de diversas disciplinas tm includo o projeto em seu cotidiano escolar, demonstrando, dessa maneira, a capacidade que a linguagem flmica possui para transpor fronteiras entre as vrias reas do conhecimento, alm de atuar como importante coadjuvante do trabalho coletivo na escola. Nesse percurso, foi possvel observar que esse projeto est contribuindo, a cada filme analisado e debatido, tanto do ponto de vista individual quanto coletivo, para que os estudantes sejam leitores no sentido amplo da palavra cada vez mais habilidosos. Esse exerccio certamente ser parte inerente da formao desses alunos, estimulando-os a buscar, de forma autnoma e por iniciativa prpria, o entendimento de novas obras e a leituras de outras mdias. Muitos desses jovens, incentivados pela mediao de seus

professores, j esto aplicando os conceitos cinematogrficos discutidos e passaram a produzir, dentro de suas possibilidades, curtasmetragens dos mais variados gneros e temas, com roteiros prprios ou adaptados, ultrapassando todas as nossas perspectivas iniciais. Com a segunda caixa de filmes e os roteiros de discusso que compem este Caderno de Cinema do Professor Quatro, O Cinema Vai Escola mais uma vez e, seguramente, est indo para ficar. Dada a sua riqueza e profundidade, esses filmes podero ser utilizados em diferentes situaes de aprendizagem propostas pelos projetos das escolas, sobretudo os que contemplam os Temas Transversais dos Parmetros Curriculares Nacionais. Estamos convictos do sucesso da continuidade desse projeto, graas ao apoio de educadores sempre dispostos a diversificar suas estratgias de trabalho, em favor de uma escola pblica promotora da cidadania e da incluso social.

Fbio Bonini Simes de Lima Presidente da FDE Claudia Rosenberg Aratangy Diretora de Projetos Especiais da FDE

Novas trilhas e grandes emoesTodos os filmes foram emocionantes, mas Billy Eliot e A Cor do Paraso me tocaram, pois a beleza, a tristeza e a emoo transbordam nos olhos e nas expresses dos personagens. (...) muito importante o projeto O Cinema Vai Escola, pois eu jamais compraria ou alugaria esses filmes. Eu olharia, mas no levaria para casa. Esse projeto foi uma oportunidade que eu tive para ver com outros olhos aquilo que poderia no ser bonito para mim. Maza Souza estudante da 2 srie do EM, em 2009, na EE Prof. Luiz Darly Gomes Arajo DE Registro

com muita satisfao que chegamos segunda etapa do projeto O Cinema Vai Escola. Mais uma vez a stima arte indo ao encontro das atividades escolares. Este Caderno de Cinema do Professor Quatro tem como objetivo apresentar aos professores do Ensino Mdio a segunda caixa de filmes 2010 e discutir algumas possibilidades de uso didtico da linguagem cinematogrfica na sala de aula. O processo de anlise e seleo desses 21 filmes no foi uma tarefa simples. O universo da produo cinematogrfica bastante amplo, exige muitas idas e vindas nessa trajetria, algumas vezes fantstica, outras vezes desoladora, mas sempre fonte de conhecimento, de reflexo. Foram necessrias vrias reunies da equipe da FDE com representantes da CENP, CEI e COGSP e de consultores especializados em Cinema e Educao para analisar cada filme e, principalmente, verificar a compatibilidade do tema enfocado com

o currculo do Ensino Mdio, proposto pela Secretaria da Educao paulista. Trabalhando com um limite de 21 ttulos, a equipe responsvel pelo projeto O Cinema Vai Escola procurou organizar um acervo o mais plural possvel, incluindo produes de diferentes pases e culturas, que abordam uma sucesso de questes relacionadas com as vrias disciplinas do Ensino Mdio, sob diferentes perspectivas. Iniciamos a caminhada em muitas frentes de pesquisa e seleo. Fomos buscar, desde os primrdios do cinema, obras-primas como A General, e outras referncias, como Ladres de Bicicleta e Fahrenheit 451, marcos indiscutveis da histria cinematogrfica. Buscamos considerar no s a dureza do mundo real de conflitos blicos, em ttulos como Sob a Nvoa da Guerra, mas tambm a delicadeza da importncia das relaes de amizade, amor, solidariedade e alteridade, refletidos em O Trem da Vida, Balzac e a Costureirinha Chinesa e Gran Torino. Questes de urgncia ecolgica, to preciosas ao mundo contemporneo, podero ser discutidas com o filme Nas Montanhas dos Gorilas, bem como a velocidade das mudanas que assolam a sociedade tecnolgica de consumo e de pouca memria, em Rebobine, Por Favor. Releituras de clssicos da literatura marcam presena em Donkey Xote e Em Busca da Terra do Nunca, entre outros que compem a caixa, com a inteno, ainda, de estimular a leitura dos textos originais que inspiraram os roteiros dos filmes. Tambm no poderiam faltar questes existenciais, ticas e relacionadas aos valores da sociedade contempornea de diferentes pases, que penetram profundamente no universo humano, por ve-

zes sombrio e incgnito: Um Beijo Roubado, Apenas uma Vez, O Sonho de Cassandra, A Partida e O Banheiro do Papa. Sobre a cinematografia nacional, procuramos contemplar diferentes Brasis, percorrendo a histria e a geografia de um pas repleto de contrastes de todos os tipos, mas que desvelam particularidades e sentimentos to semelhantes entre si quanto pertinentes aos dias atuais: Inocncia, Mutum, Palavra (En)Cantada, O Povo Brasileiro e Bem-vindo a So Paulo. Os ttulos perpassam, ainda, pelos vrios gneros do cinema: drama, comdia, aventura, suspense, animao e documentrio. Em relao aos documentrios, cabe assinalar uma reflexo em particular. muito comum utiliz-los de forma ilustrativa, como se fossem registro fiel da realidade e, portanto, contraponto da fico. importante ressaltar que tanto documentrios quanto obras ficcionais representam opinies e uma viso de mundo, veiculando ideias e proposies de vida. Trabalhar os elementos representativos da linguagem cinematogrfica utilizada pelos diretores dos filmes , portanto, um aspecto muito importante. Como toda obra de arte, necessrio que o filme seja sempre problematizado, podendo-se, para isso, propor aos alunos que observem como ele foi montado, a colagem das imagens, as referncias a outras obras, a trilha sonora, etc. Analisar a trilha sonora a partir de roteiros que ajudem os alunos na percepo da estrutura musical tais como, ritmo, harmonia, melodia, instrumentos utilizados, a interpretao, a letra representa mais uma possibilidade, tanto para a compreenso da obra flmica quanto para a ampliao do universo cultural e da capacidade analtica dos estudantes.

A pluralidade de vises e estilos se estendeu, ainda, s sugestes de atividades que compem esta publicao: para cada filme, propostas elaboradas a vrias mos, por diferentes autores, oriundos de diversas reas do conhecimento, procurando destacar, dentro de um universo quase infinito, algumas das possibilidades de trabalho em sala de aula. Nunca demais reforar a importncia de os professores assistirem previamente aos filmes, para que possam verificar a relevncia, a oportunidade e a adequao do tema abordado em relao sua turma de alunos, alm de selecionar, adaptar e recriar as sugestes que considerar pertinentes ao seu momento, possibilitando-se, assim, um bom planejamento de trabalho. O acesso dos alunos a toda essa diversidade fundamental para o desenvolvimento da competncia leitora, to necessria compreenso e apreciao de obras de arte contribuio segura formao do cidado propositivo e atuante. No decorrer do projeto O Cinema Vai Escola encontramos muitos relatos das escolas e Diretorias de Ensino, refletindo a necessidade no apenas de um grupo, mas de uma coletividade, em debater de maneira mais ampla essa manifestao artstica to rica e instigante. E exatamente a, nessa capacidade criativa para vivenciar leituras sobre os filmes que foram encaminhados em 2009, que se encontra a grandeza desse projeto que vem extrapolando objetivos e superando expectativas. Os frutos produzidos pelos alunos j esto sendo colhidos: so textos de diversas naturezas, expressando anlises reflexivas e surpreendentes dos filmes, e at mesmo produes prprias de curtas-metragens com direito a efeitos especiais e making of ! , revelando a alegria do envolvimento no

processo criativo e o compromisso de jovens do Ensino Mdio com seu aprendizado. Registramos nossos sinceros agradecimentos a todos os educadores que participaram desse projeto em sua primeira fase, tornando-o possvel, e esperamos rev-los neste segundo momento, desejando sua adeso crescente para a tarefa de revisitar obras do cinema mundial, ampliando seu alcance, seu papel e seu sentido. Assim, a cada dia, mais jovens podero exercitar novos e outros olhares para a arte e para a vida. Equipe do Programa Cultura Currculo Projeto O Cinema Vai Escola

Sumrio

Os filmes A General Ladres de Bicicleta Fahrenheit 451 Inocncia Nas Montanhas dos Gorilas Trem da Vida O Povo Brasileiro Balzac e a Costureirinha Chinesa Sob a Nvoa da Guerra Em Busca da Terra do Nunca O Banheiro do Papa Apenas Uma Vez Bem-Vindo a So Paulo Donkey Xote Mutum O Sonho de Cassandra Um Beijo Roubado A Partida Gran Torino Rebobine, Por Favor Palavra (En)Cantada E a conversa continua...

14 15 21 26 31 37 42 47 55 59 64 70 76 81 87 92 97 103 109 116 121 128 136

no caminhar que se chega ao destino... 148

Os filmes

A General(The General)

Gnero: Comdia / Guerra / Romance Durao: 75 minutos Lanamento: 1927 Produo: EUA Classificao etria: livre Ficha tcnica Direo: Buster Keaton, Clyde Bruckman Roteiro: Al Boasberg, Clyde Bruckman, Buster Keaton, Charles Smith Produo: Joseph M. Schenck, Buster Keaton

Fotografia: Bert Haines, Devereaux Jennings Msica: Robert Israel, William P. Perry Estdio: United Artists Elenco Buster Keaton - Johnnie Gray Charles Henry Smith - Sr. Lee Marion Mack - Annabelle Lee Glen Cavender - Anderson Jim Farley - General Thatcher

O filmeJohnnie apaixonado por sua locomotiva, a General, e tambm pela bela Annabelle Lee. Quando a Guerra Civil Americana tem incio, ele no aceito como combatente por ser mais til como engenheiro da ferrovia. Annabelle, porm, passa a consider-lo um covarde por no lutar, quando, juntamente com a General, raptada por espies da Unio. Johnnie, ento, passa a correr atrs de ambas, numa aventura movimentada, excitante e divertida atravs da ferrovia.

Curiosidades O filme se passa durante a Guerra de Secesso americana A General pertence ao hall dos clssicos do cinema mudo e considerada uma obra-prima do cinema mundial.

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O filme tem outra verso, datada de 1956, com o nome Tmpera de Bravos - O Ataque ao Trem (The Great Locomotive Chase). Buster Keaton, ao lado de outro comediante histrico, Fatty Aruckle, o Chico Boia, fez 16 comdias de uma bobina em apenas trs anos e, passando depois a trabalhar em suas prprias produes, se tornaria um dos nomes mais populares do cinema na dcada de 1920, com filmes como Nossa Hospitalidade, Marinheiro por Descuido, Os Sete Amores.

Algumas possibilidades de trabalho com o filme A General reas curriculares: Cincias Humanas e Linguagens e Cdigos Sugesto de disciplinas: Filosofia, Histria, Arte e Lngua Portuguesa Temas: tica e Cidadania (memria; conhecimento/tcnica; civismo/ patriotismo)

Orientaes preliminaresFilme produzido nos Estados Unidos em 1927, que desenvolve uma trama a partir da Guerra de Secesso (1861-1865) e de um caso real de sequestro de um trem nortista durante a guerra em 1862. A temtica do filme possibilita percorrer elementos fundamentais do sculo XIX como referncia a novas tecnologias: a fotografia, registro que lida com aspectos da comunicao e da memria perpetuada; a mquina a vapor, inveno que encurta os horizontes e tempos pela primeira vez o homem pode dispensar a fora animal no transporte; e o telgrafo (do grego, escrever a distncia), que propicia a comunicao dispensando elementos da natureza. Nesse sentido, parece fundamental chamar a ateno dos alunos para esses eventos frutos da modernidade da poca que modificaram a relao do homem com o mundo. Para alm das inovaes tecnolgicas, podemos observar no filme as relaes e posturas dos personagens a partir de certos valores como a coragem e a vergonha, relacionados com a ao individual do protagonista.

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Vale lembrar a importncia de discutir com os alunos a questo do cinema silencioso e de Buster Keaton para a histria do cinema, pois, na maioria das vezes, ele no to conhecido como Charles Chaplin. Buster Keaton se diferenciava dos demais atores da poca em que a expresso exagerada era comum e por isso era chamado tambm de cara de pedra ou palhao que nunca ri. Para subsidiar essa discusso, o DVD de A General apresenta mais dois curtas metragens de Buster Keaton. Se possvel, em outro momento, exiba-os para os alunos e a seguir promova uma discusso a respeito. Cabe, por fim, reforar que, para a realizao das atividades propostas a seguir, a interdisciplinaridade possvel e recomendvel.

AtividadesO filme A General tem como contexto a Guerra Civil Americana, conhecida como Guerra de Secesso. Esse conflito ocorreu entre os anos de 1861 e 1865 nos Estados Unidos e consistiu na luta entre Estados do Sul e do Norte que tinham interesses polticos e econmicos divergentes. Propomos, nesta atividade, que o professor discuta com os estudantes os seguintes aspectos: Colonizao e independncia dos Estados Unidos. As origens do conflito. Principais caractersticas da guerra civil. Consequncias do conflito.

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Para desencadear a discusso, o professor poder questionar os estudantes sobre qual guerra retratada no filme, em que poca se passou e quem estaria nela envolvido. O filme traz elementos que possibilitam refletir sobre essas perguntas como datas, nomes de localidades, trajes, linguagens e meios de transportes e de comunicao. Atente tambm para as aes e valores individuais que so determinantes na trajetria do heri e na sua afirmao perante o mundo que o rodeia. Oriente os alunos para que faam, em pequenos grupos, uma pesquisa sobre a Guerra Civil Americana. Sugesto de fontes a serem utilizadas: livros didticos, enciclopdias, sites e outros materiais disponveis na biblioteca da escola, promovendo, ao final, um debate sobre o assunto pesquisado. importante que os grupos diversifiquem as fontes, coletem e selecionem os dados e as informaes da pesquisa com orientao do professor.

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Lembramos que uma das causas da Guerra de Secesso foi a escravido negra nos Estados Unidos. Mantida e defendida nos Estados do Sul e abolida nos Estados do Norte, teve importante papel na deflagrao do conflito. Aps a vitria dos Estados do Norte, a escravido foi abolida em todo o pas. Partindo dessa informao, o professor poder problematizar a situao dos negros nos Estados Unidos aps a abolio da escravatura. Uma dica para o estudo dessa temtica so filmes que tratam dessa questo, como, por exemplo, Mississipi em Chamas e Uma Histria Americana. Sugerimos que o professor retome momentos do filme em que a fotografia, a mquina a vapor e o telgrafo aparecem. Cabe enfatizar como esses objetos se inserem na dinmica do filme e desvendar o simbolismo de cada cena em que eles aparecem. A partir dessa reconstruo, os alunos podero escolher alguns objetos do cotidiano e o que significam em suas vidas (quando funcionam e quando falham, por exemplo). Sugerimos, ainda, retomar com os alunos os aspectos tcnicos do filme, a poca em que foi produzido e como o cinema silencioso comunica. Explore com eles as vrias possibilidades de comunicao no verbal, dos movimentos corpreos e na mmica dos atores. A industrializao pode ser facilmente identificada no filme: as transformaes nos meios de transporte e de comunicao (como locomotiva, estradas de ferro, telgrafo) evidenciam as mudanas que se processavam nos meios de produo e no modo de vida. O perodo da Guerra de Secesso coincide com o desenvolvimento da chamada Segunda Revoluo Industrial, com inmeras contribuies de muitos inventores. Como os Estados do Norte tinham uma vocao mais industrial, o professor poder estabelecer relaes entre a vitria do Norte, com o intenso desenvolvimento tecnolgico que se processou, e a contribuio dos Estados Unidos para esse desenvolvimento, levando-os posio, ainda na primeira metade do sculo XX, de maior potncia mundial. Oriente os alunos para pesquisarem em diversas fontes sobre as contribuies dos inventores nos Estados Unidos, em especial de Thomas Alva Edison (1847-1931), conhecido por ter inventado a lmpada incandescente (1879), mas

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que fez outras importantes invenes que contriburam para o desenvolvimento da indstria cinematogrfica e para o mundo da msica, como o fongrafo (1877), por exemplo. A partir das informaes coletadas, junto com os alunos, elabore um texto coletivo. Podero ser estabelecidas, ainda, relaes entre o desenvolvimento tecnolgico e o surgimento do cinema, refletindo sobre o filme A General, o cinema silencioso e o advento do cinema sonoro. O filme permite reflexes sobre vises de mundo, valores e relaes de fala e de conduta. Assim, sugerimos que o professor faa consideraes sobre a ao individual e as iniciativas do protagonista e como, de certa forma, elas correspondem ideologia do homem simples que se faz sozinho. Os alunos podero efetuar o registro de alguma cena marcante (nesse ou em outro filme) que demonstre a perspectiva ideolgica do individualismo.

Outras possibilidades de trabalho com o filmeEm grupo, inspirados em eventos histricos utilizando linguagem no verbal, os alunos podem escrever e encenar uma pea de teatro, e tambm explorar outras histrias em que o homem comum se faz heri por acidente, reescrevendo-as de forma que os personagens consigam resolver os problemas coletivamente.

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Ladres de Bicicleta(Ladri di Biciclette)

Gnero: Drama Durao: 90 minutos Lanamento: 1948 Produo: Itlia Classificao etria: 12 anos Ficha tcnica Direo: Vittorio De Sica Roteiro: Cesare Zavattini, baseado em histria de Oreste Biancoli, Suso Cecchi dAmico, Vittorio De Sica, Adolfo Franci, Gerardo Guerrieri e Cesare Zavattini e em romance de Luigi Bartolini Produo: Giuseppe Amato e Vittorio De Sica Fotografia: Carlo Montuori Montagem: Eraldo da Roma Direo de arte: Antonio Traverso

Msica: Alessandro Cicognini Estdio: Produzioni De Sica Distribuio: Ente Nazionale Industrie Cinematografiche Elenco Lamberto Maggiorani - Antonio Ricci Enzo Staiola - Bruno Lianella Carell - Maria Gino Saltamerenda - Baiocco Vittorio Antonucci - Ladro Michele Sakara - Secretria de organizao de caridade Fausto Guerzoni - Ator amador Sergio Leone - Seminarista Giulio Chiari Elena Altieri Carlo Jachino

O filmeLadres de bicicleta apresenta a situao de muitos italianos que, depois da Segunda Guerra Mundial, estavam desempregados. Antonio Ricci um deles, at o dia em que consegue um emprego como colocador de cartazes. Entretanto, para conseguir o trabalho, precisava de uma bicicleta, o que o faz penhorar objetos de casa para conseguir adquirir uma. A trama se desenrola a partir do dia em que sua bicicleta roubada e, junto com seu filho Bruno, ele a procura por toda Roma. O drama capaz de transportar o espectador

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para a situao vivida por Ricci de maneira to forte que os sofrimentos so refletidos em quem assiste.

Curiosidades Ofilmeumdosmaioresclssicosdoneorrealismoitaliano,umaimportante corrente cinematogrfica surgida aps a Segunda Grande Guerra. Todososatoresdofilmesoamadores.Estafoiumadecisododiretor Vittorio De Sica, que preferiu no usar profissionais no elenco. Vittorio De Sica declarou que escolheu os atores que interpretam os personagens Antonio e Bruno devido ao modo de andar de ambos. Foi um dos primeiros longas-metragens a vencer o Oscar de melhor filme estrangeiro, em 1949, que na poca ainda no era uma categoria prpria.

Algumas possibilidades de trabalho com o filme Ladres de bicicleta reas curriculares: Cincias Humanas e Linguagens e Cdigos Sugesto de disciplinas: Histria, Sociologia, Filosofia, Lngua Portuguesa e Arte Temas: Pluralidade Cultural, Trabalho e Consumo: Guerra Fria, Capitalismo, Guerra, Crise Econmica, Desemprego.

Orientaes preliminaresAntes da projeo do filme, pode-se destacar a figura de Vittorio de Sica, considerado pela crtica como um dos mais importantes diretores do cinema neorrealista italiano. Em relao experincia neorrealista, cabe alertar os alunos que o filme a que iro assistir um clssico, representativo da leva de cineastas italianos que assumiram uma posio mais crtica em relao ao mundo, reagindo aos esquemas tradicionais hollywoodianos, sua temtica e esttica. Os problemas sociais e humanos passaram a ser valorizados como temas, de-

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monstrando como a crise social pode afetar as relaes pessoais e familiares, e, em relao forma, optou-se por atores com fotogenia mais natural e cenas em locao, ou seja, fora dos estdios1.

AtividadesLadres de bicicleta um filme do mundo do trabalho especificamente na Itlia, aps sua derrota na Segunda Guerra Mundial. Solicite aos alunos uma pesquisa sobre os principais acontecimentos na Histria do mundo entre 1939/45. Este filme e sua esttica so inseparveis daquele contexto. fundamental que os alunos observem como a cidade de Roma filmada, pois ela mais que um mero cenrio. Por trs da histria dos protagonistas principais h um retrato humano e ambiental da cidade e dos efeitos materiais, polticos e morais que a guerra trouxe. O cinema neorrealista articula o drama humano e o espao social onde ele se desenrola. O cenrio do filme nos faz deduzir que a famlia do protagonista vivia em condies de extrema pobreza devido ao desemprego do pai. Pergunte aos alunos: possvel identificar cenas do filme que mostram essa condio? O que o emprego de Antonio representava para a famlia? O que simbolizava a bicicleta para Antonio Ricci? Aps essa discusso, pea aos alunos para se organizarem em pequenos grupos (mximo de seis componentes) para realizarem um trabalho em que possam levantar argumentos e justificar suas dedues sobre o filme. Os relatrios devero ser apresentados ao restante da turma. O filme foi produzido em 1948, o roteiro ficcional, mas est muito prximo de situaes reais.1 No texto Uma histria do cinema: movimentos, gneros e diretores, de Eduardo Morettin, publicado no Caderno de Cinema do Professor Dois, p. 62, encontram-se informaes mais completas sobre o neorrealismo italiano no ps-Segunda Guerra Mundial.

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Na opinio dos alunos, o drama do desemprego vivido pelo protagonista do filme e sua famlia diferente das condies dos trabalhadores desempregados no Brasil de hoje? Como os trabalhadores brasileiros procuram seus empregos nos dias atuais? Sugerimos que os alunos, como atividade de campo, procurem algum da famlia ou do bairro que tenha ficado desempregado por algum tempo e pesquisem quais foram suas reaes, medos, angstias, etc. Hoje, na Europa, os imigrantes passam por uma situao semelhante quela apresentada no filme apesar do avano dos sistemas de seguridade social, como o seguro desemprego, etc. Faa um painel na lousa sobre os temas emprego/desemprego e sua relao com o passado/presente. Antonio Ricci foi vtima de um ladro que, provavelmente, era mais pobre do que ele o que pode ser constatado na cena em que Ricci entra num cortio procura de um suspeito e, apesar da sua prpria pobreza, fica chocado com o que v. Pergunte aos alunos: Por que razo ele teria cometido o delito? Que impacto teve esse fato na vida do protagonista? A partir das respostas dos alunos, promova um debate na turma. Em uma cena do filme, o personagem principal mostrado perseguindo o ladro de sua bicicleta, gritando Peguem-no!

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o ladro!, mas ningum o ajuda; apela para os outros e no obtm apoio. Esta cena mostra a indiferena do mundo para com o drama do homem comum. Pergunte aos alunos: Atualmente, as pessoas se envolvem com os dramas alheios? O que os alunos pensam a respeito desse comportamento de indiferena perante o outro? Na cena do restaurante, onde pai e filho entram para comer e tomar vinho, percebe-se a distino entre as classes sociais poca em que filme foi produzido. Hoje, talvez, a distncia entre as classes sociais seja maior ainda (embora a pobreza absoluta, ao menos nos centros capitalistas mais desenvolvidos, tenha sido amenizada). Nesta cena fica bem exemplificado o princpio neorrealista de explorar os chamados tempos mortos da narrativa, momento em que aparentemente no acontece nada, mas onde a vida cotidiana se revela e os dramas coletivos e individuais se ancoram. Organizados em pequenos grupos, pea aos alunos que reproduzam a cena do restaurante por meio de desenho, pintura, recorte, colagem e apresentem a produo aos colegas. O representante do grupo ser responsvel pela explicao das ideias contidas na releitura da cena. vlido ressaltar que a sequncia final do filme dramtica e no apela para o final feliz tpico dos filmes comerciais de Hollywood. Nele fica exemplificado como o desespero para sustentar a famlia leva um homem honesto a perder sua dignidade. O silncio entre pai (humilhado) e filho (igualmente humilhado), caminhando lado a lado, uma das cenas mais impactantes do cinema. Como proposta de atividade, solicite aos alunos que elaborem outra cena para a finalizao do filme. Para este trabalho, pequenos grupos podero ser formados. Ao final, os grupos devero fazer a leitura ou apresentao da nova cena para os demais colegas da classe.

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Fahrenheit 451

Gnero: Fico Cientfica Durao: 112 min Lanamento: 1966 Produo: Reino Unido Classificao Etria: 12 anos Ficha tcnica Direo: Franois Truffaut Roteiro: Jean-Louis Richard Produo: Lewis M. Allen Fotografia: Nicholas Roeg Montagem: Thom Noble Direo de arte: Syd Cain Msica: Bernard Herrmann

Figurino: Tony Walton Efeitos especiais: Bowie Films Estdio: Anglo Enterprises / Vineyard Distribuidora: Universal Pictures Elenco Oskar Werner - Guy Montag Julie Christie - Clarisse / Linda Montag Cyril Cusack - Capito Anton Diffring - Fabian / Headmistress Jeremy Spenser - Homem com a ma Bee Duffell Alex Scott Noel Davis

O filmeEm um Estado totalitrio em um futuro prximo, os bombeiros tm como funo principal queimar qualquer tipo de material impresso, pois foi convencionado que a literatura um propagador da infelicidade. Mas Montag, um bombeiro, comea a questionar tal linha de raciocnio quando v uma mulher preferir ser queimada com sua vasta biblioteca ao invs de permanecer viva.

Curiosidades Ofilmeumaadaptaocinematogrficadoromance homnimo de Ray Bradbury. Fahrenheit 451 o nico filme em ingls dirigido por Franois Truffaut. Mas o diretor declarou preferir a verso dublada em francs.

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Oscrditosiniciaisdofilmenosoescritos,masnarrados,paraantecipar o clima de leitura proibida. OatorOskarWernersedesentendeucomodiretor,emudouocabelo na ltima cena s para gerar um erro proposital de continuidade. Entreasobrasqueimadasduranteumaaodosbombeiros,podemse ver Fahrenheit 451 o livro que deu origem ao filme e a revista Cahiers du Cinma, revista na qual o diretor escrevia. Fahrenheit 451 uma referncia temperatura de queima do papel.

Algumas possibilidades de trabalho com o filme Fahrenheit 451 reas curriculares: Linguagens e Cdigos, Cincias da Natureza, Cincias Humanas Sugesto de disciplinas: Lngua Portuguesa, Qumica, Histria, Filosofia, Sociologia Temas: tica, Trabalho e Consumo e Pluralidade Cultural (memria/patrimnio material)

Orientaes preliminaresFranois Truffaut (1932-1984), diretor do filme, uma figura fundamental na histria do cinema. Destacou-se inicialmente como crtico da revista Cahiers du Cinma, e em seguida como expoente da Nouvelle Vague francesa, movimento cinematogrfico que tem como marco o seu Os Incompreendidos (1959), filme autobiogrfico com o qual recebeu o prmio de melhor direo no festival de Cannes de 1959. Fahrenheit 451 apresenta um Estado e uma sociedade totalitrios, onde a leitura expressamente proibida e combatida. Por este motivo, o diretor optou por abolir do filme qualquer palavra escrita com exceo das impressas nos livros a serem queimados. A respeito desta escolha, aconselhamos que este filme, em especfico, seja exibido com dublagem em portugus sem legendas (opcional do menu do DVD). A presena da legenda, de certa forma,

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devolveria um elemento que o diretor criteriosamente eliminou da feitura da obra: a palavra escrita.

AtividadesO filme rico em temas e deve ser explorado de forma multidisciplinar. Entre as inmeras possibilidades, interessante desenvolver trabalho conjunto entre as disciplinas. Algumas sugestes: Lngua Portuguesa: Pea para que os alunos prestem ateno aos crditos iniciais do filme, em que elenco e produo no so apresentados no habitual formato escrito e sim, anunciados por um locutor. Pergunte a eles: Por que o diretor fez esta escolha? Ela tem alguma relao com o tema geral do filme, a proibio da leitura (palavra escrita)? Crie com os alunos uma espcie de esquete teatral em que os alunos representem papis similares aos dos homens livros do filme. A classe pode se dividir em grupos e realizar a seguinte atividade: a) Escolher obras clssicas da literatura brasileira. b) Falar em voz alta alguns trechos do livro selecionado tal qual os personagens do filme, como se, ao memoriz-los, tambm estivessem

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salvando-os do esquecimento. c) A partir desta atividade, discuta o conceito de herana cultural, no caso, a cultura letrada e sua importncia. Qumica: Pergunte aos alunos: Por que o filme se chama Fahrenheit 451?1. Se necessrio, retome com os alunos o trecho em que Montag, o protagonista do filme, explicita seu significado. Histria, Filosofia: Tendo em perspectiva a existncia de regimes totalitrios e as mais diversas formas de censura, questione: Como seria viver em uma sociedade que, em vez de livros, as pessoas fossem proibidas de ter acesso a produes audiovisuais em geral - cinema, TV, internet, celulares etc.? Em uma situao desta, como os alunos se comportariam? Neste momento, seria interessante apresentar aos alunos fotos de um dos episdios mais famosos de queima de livros, o dia 10 de maio de 1933 na Alemanha Nazista, em que milhares de livros foram queimados em praa pblica. Verifique quais autores foram queimados e problematize com os alunos o porqu. Histria, Lngua Portuguesa, Filosofia: Proponha aos alunos uma reflexo a respeito do lugar da leitura (palavra escrita) hoje, na nossa sociedade. Pergunte se reconhecem alguma semelhana entre a sociedade apresentada no filme e a nossa. Perceba as reaes deles e tea alguns comentrios sobre a crescente quantidade de produes audiovisuais que esto sendo incorporadas ao nosso cotidiano. Pergunte a eles: Por quanto tempo conseguimos ficar em um mesmo canal de TV ou site da internet? Ser que a quantidade diria de informaes acessadas por meio de tais mdias tem alterado nosso grau de ateno? No caso da internet, somos ns que escolhemos o contedo que iremos ver ou so os apontadores e links que, previamente, nos guiam?1 Fahrenheit 451: 233 graus Celsius a temperatura em que o papel pega fogo. (DVD 00h10min28s 00h10min46s)

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Refletimos sobre nossas escolhas? Como podemos nos relacionar de forma mais autnoma e crtica em relao s novas tecnologias? Por que temos o desejo de adquirir o ltimo modelo de celular, de carro, de TV? Podemos viver bem sem o ltimo modelo tecnolgico? O que mais importante, a utilidade ou o status social que estes bens agregam? Filosofia, Histria: Inicie uma discusso com a turma sobre alienao2 e conscientizao. Para isso, retome alguns trechos do filme: O momento em que o capito dos bombeiros certifica-se da obedincia de Montag s leis e normas e comenta sobre a sua promoo. (DVD - 00h06min58s 00h07min46s) A sequncia em que Clarisse questiona Montag sobre a sua relao com os livros, at o instante em que o bombeiro desmistifica os critrios para a participao da esposa em uma pea interativa com a famlia pela TV (DVD 00h13min00s 00h20min00s). Lngua Portuguesa, Filosofia, Histria: Para finalizar, pea aos alunos para escolherem um dos temas discutidos a partir do filme e elaborarem um texto dissertativo. Sugira que troquem suas produes com os colegas para, entre outras, perceberem que um mesmo assunto pode ser abordado por diferentes perspectivas.

Para saber maisIndique aos alunos a leitura dos livros Fahrenheit 451, de Ray Bradbury, Admirvel Mundo Novo, de Aldous Huxley e 1984, de George Orwell, os trs apresentam formas diferentes de opresso e alienao em sociedades futuristas.

2 Para subsidiar a discusso consulte CODO, Wanderley. O que alienao. So Paulo: Brasiliense, 1986.

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Inocncia

Gnero: Drama Durao: 115 minutos Lanamento: 1983 Produo: Brasil Classificao etria: 14 anos Ficha tcnica Direo: Walter Lima Jr. Roteiro: Walter Lima Jr., baseado em romance do Visconde de Taunay Produo: Lucy Barreto e Luiz Carlos Barreto Fotografia: Pedro Farkas Montagem: Raimundo Higino Msica: Wagner Tiso

Figurino: Diana Eichbauer Estdio: Embrafilme Distribuio: Embrafilme Elenco dson Celulari - Cirino Fernanda Torres - Inocncia Sebastio Vasconcelos - Martinho Pereira Fernando Torres - Cesrio Rainer Rudolph - Meyer Ricardo Zambelli - Maneco Chico Diaz Chica Xavier

O filmeNo Brasil imperial, um mdico itinerante, Cirino, em suas andanas conhece uma moa acometida de malria por quem se apaixona, sendo correspondido. Entretanto, o pai da jovem a prometeu para um rico fazendeiro da regio e no admite ter sua vontade contestada.

Curiosidades Adaptao literria feita a partir do livro homnimo do Visconde de Taunay, lanado em 1872. Inocncia foi o primeiro filme da atriz Fernanda Torres, ento com 17 anos de idade.

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Entre os trabalhos do diretor esto os filmes Os Desafinados, Um Crime Nobre, A Ostra e o Vento, Em Cima da Terra, Embaixo do Cu e Brasil Ano 2000, que lhe rendeu o Urso de Prata no Festival de Berlim de 1969.

Algumas possibilidades de trabalho com o filme Inocncia reas curriculares: Linguagens e Cdigos, Cincias Humanas e Cincias da Natureza Sugesto de disciplinas: Lngua Portuguesa, Histria e Biologia Temas: Pluralidade Cultural, Meio Ambiente e Sade: romantismo brasileiro, Brasil imprio, tradio x contemporaneidade, explorao da fauna e sade pblica.

Orientaes preliminaresAntes de iniciar a exibio de Inocncia, vale a pena trazer informaes que possam ampliar o universo cultural dos alunos, especialmente porque este filme uma adaptao do romance homnimo, publicado em 1872 e escrito por Visconde de Taunay, um dos escritores brasileiros de estilo regionalista, que, entre outras coisas, retratou, nessa obra, o homem simples do serto e as peculiaridades deste local, como, por exemplo, os costumes, as crenas, a linguagem do sertanejo. Ressaltar mudanas histricas e culturais dessa poca, reforando algumas particularidades do estilo romntico-regionalista, tais como a religiosidade, o meio natural e o temor s suas foras e a no realizao do amor puro e bom, podero aguar o olhar do espectador e sua curiosidade para saber mais sobre a obra.

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A indicao desta adaptao literria no conjunto dos filmes em nenhum momento teve a inteno de substituir a leitura da obra original. Trata-se de mais um recurso de que o professor poder dispor para enriquecer suas aulas. Recomenda-se, portanto, que os alunos possam ter contato com a obra original Inocncia ou com outras do mesmo perodo, tais como A Escrava Isaura e O Seminarista, estas de Bernardo Guimares.

AtividadesNas aulas das disciplinas que compem as reas de Linguagens e Cdigos e/ou de Cincias Humanas, convide os alunos para recontarem resumida e oralmente o filme. Amplie as informaes sobre ele, baseando-se na obra original e nas indicaes das orientaes preliminares. Solicite-lhes consultarem a palavra inocncia no dicionrio e escolherem qual verbete, na opinio deles, se aproxima mais das caractersticas de Inocncia e por qu. Escreva na lousa o verbete selecionado pela turma e oriente os alunos quanto importncia da indicao da fonte utilizada. Aos primeiros minutos de exibio, o diretor do filme, Walter Lima Jr.1, faz uma tomada geral da fauna brasileira, destacando a cena do nascimento da borboleta at o momento em que ela rompe o casulo. Pergunte aos alunos: O que, na opinio deles, Walter Lima Jr. quis enfatizar com essa sequncia de imagens? possvel estabelecer alguma relao entre essas cenas e a trajetria da vida de Inocncia? Se sim, qual(is)? Se no, por qu? Apoiados nas cenas e/ou nos dilogos do filme, pea aos alunos para responderem individualmente s questes abaixo: Que tipo de educao familiar recebeu Inocncia?

1 No Caderno de Cinema do Professor Trs, h entrevista de Walter Lima Jr. que traz informaes importantes sobre a experincia como cineasta, inclusive sobre a produo do filme Inocncia.

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Qual era a opinio do Sr. Pereira quanto filha aprender a ler? O que a fauna brasileira representava para o Dr. Meyer, que, por sua vez, era o tpico naturalista europeu do sculo XIX? Quais eram as principais caractersticas psicolgicas de Martinho Pereira de Santana? Como era o costume do Sr. Pereira em recepcionar os estranhos que chegavam sua casa? Por que agia assim? Na opinio dos alunos, essa atitude pode ser considerada uma atitude maliciosa, inocente ou hospitaleira do Sr. Pereira? Ao trmino, com a sua mediao, organize a socializao das respostas dos alunos. Em duplas ou trios, solicite aos alunos para discutirem as questes a seguir, pesquisarem, se for o caso, e registrarem suas respostas. Sobre a relao pai-filha apresentada no filme, solicite aos alunos que a comparem com a realidade atual, avaliando permanncias e mudanas. Como poderia ser, na opinio dos alunos, uma relao ideal entre pais e filhos adolescentes nos dias de hoje? Hoje em dia, possvel encontrar outros Martinhos Pereiras e outras Inocncias? Onde? Na obra original escrita por Visconde de Taunay, o Dr. Meyer, durante seu trabalho de campo, descobre uma espcie rara de borboleta e lhe d o nome de Papilio Innocentia. Esta espcie existe realmente ou fictcia? Pesquise em fontes cientficas seguras e atualizadas.

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importante que o professor d oportunidade a todos os grupos de apresentarem e discutirem as ideias registradas. Como sempre, a mediao do professor fundamental. Nas aulas de Biologia, a discusso poderia ser sobre os principais problemas de sade da populao daquela poca, comparados aos da atualidade. Aconselha-se iniciar pelo contexto do filme, perguntando: Em geral, como as doenas mostradas no filme eram tratadas? Por que o Dr. Cirino no dispunha de remdios industrializados? Malria e hansenase, ainda que em menor escala, esto presentes na sociedade brasileira. Como estas doenas so tratadas atualmente? Aps comentar as respostas, o professor pode fazer um quadro com as doenas, tanto as apresentadas no filme quanto outras consideradas graves para a poca e para a atualidade, como vm sendo tratadas atualmente pelo governo brasileiro e os avanos da medicina. Ao final, organizados em pequenos grupos, os alunos poderiam responder s perguntas a seguir, baseando-se nas informaes cientficas e/ou nos conhecimentos tradicionalmente passados de uma gerao para a outra: As ervas medicinais ainda fazem parte dos tratamentos de doenas? Se sim, quem as utiliza e em que circunstncias? No sculo XXI, que crendices ainda so utilizadas para o tratamento das enfermidades? Se preferir, organize um seminrio ou uma exposio sobre a produo dos alunos.

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Nas aulas de Educao Ambiental, o professor poderia discutir com os alunos sobre as cenas que mostram como era, no sculo XIX, a explorao da fauna brasileira pelo cientista alemo. importante ressaltar que, para aquela poca, o personagem Dr. Meyer tinha dignidade cientfica e acreditava na cincia e no conhecimento como um valor positivo em si mesmo. No entanto, para o pensamento do sculo XXI, como vista a cincia e como vista a relao entre cincia e natureza? Explore essa mudana de pensamento, baseando-se no avano do conhecimento cientfico e tecnolgico e na legislao vigente. Levando-se em considerao os problemas ambientais que assolam o mundo atualmente, promova uma campanha pela preservao da flora e da fauna brasileiras. Essa campanha poder comear pela pesquisa em fontes diversas (confiveis e atualizadas). A partir dos dados coletados, os alunos poderiam elaborar frases de impacto e afix-las na escola e no bairro; confeccionar cartazes ou folhetos explicativos com seo do tipo: Voc sabia que...; fazer apresentaes musicais ou teatrais. Conversando com as turmas, possvel que os alunos escolham como fazer os seus registros. Para tanto, a mediao do professor indispensvel.

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Nas Montanhas dos Gorilas(Gorillas in the Mist)

Gnero: Drama Durao: 129 minutos Lanamento: 1988 Produo: EUA Classificao etria: livre Ficha tcnica Direo: Michael Apted Roteiro: Anna Hamilton Phelan, baseado em artigo de Harold T. P. Hayes e no trabalho de Dian Fossey Produo: Terence A. Clegg e Arne Glimcher Fotografia: John Seale Montagem: Stuart Baird Direo de arte: Ken Court Msica: Maurice Jarre Figurino: Catherine Leterrier

Estdios: Universal Pictures / Warner Bros. / Guber / Peters Distribuio: Universal Pictures / Warner Bros. Elenco Sigourney Weaver - Dian Fossey Bryan Brown - Bob Campbell Julie Harris - Roz Carr John Omirah Miluwi - Sembagare Iain Cuthbertson - Dr. Louis Leakey Constantin Alexandrov - Van Veeten Waigwa Wachira - Mukara Iain Glen - Brendan David Lansbury - Larry Maggie ONeill - Kim Konga Mbandu - Rushemba Michael J. Reynolds - Howard Dowd

O filmeO filme narra a histria verdica da luta da antroploga americana Dian Fossey, que, em 1967, viajou para Ruanda, na frica, e durante vrios anos dedicou-se preservao dos gorilas da montanha, ameaados de extino em razo da caa indiscriminada. Dian utilizou todos os meios possveis para proteg-los e sua luta se tornou uma paixo obsessiva, e nem mesmo Bob Campbell, um fotgrafo com quem se envolveu, conseguiu demov-la do seu

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objetivo. Assim, para salvar sua famlia, Dian faz tudo que encontra ao seu alcance para impedir que atrocidades contra os gorilas sejam cometidas.

Algumas possibilidades de trabalho com o filme Nas Montanhas dos Gorilas reas curriculares: Cincias Humanas, Cincias da Natureza, Linguagens e Cdigos Sugesto de disciplinas: Geografia, Histria, Biologia, Arte e Lngua Portuguesa. Temas: Meio Ambiente, Sade e tica: localizao geogrfica, histria e formao geolgica do continente africano, antropologia dos povos africanos, ciclos de vida dos seres vivos, comportamento animal, cadeias alimentares, correntes migratrias.

Orientaes preliminaresEste filme uma fico baseada em fatos reais e aborda vrias temticas, razo pela qual se recomenda a participao de diferentes disciplinas. Levando-se em considerao os objetivos das atividades propostas nas diferentes disciplinas e o conhecimento dos alunos a respeito dos temas, se necessrio antecipe uma pesquisa sobre o assunto ou faa uma leitura de arti-

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gos, reportagens, documentos sobre a antroploga Dian Fossey1 e a questo dos gorilas, no caso, na frica, em plena guerra civil. Lembre-se de deixar essas informaes disponveis para os alunos.

AtividadesAconselha-se que cada turma/srie do Ensino Mdio possa desenvolver apenas uma das atividades a seguir, promovendo, ao final, uma troca de experincias e de informaes entre os alunos das diferentes turmas/sries. Uma das turmas pode ficar responsvel por um estudo grfico e artstico com os alunos, explorando o tema dos animais em extino no Brasil, mais especificamente os da Mata Atlntica: fazer um levantamento em mapas, localizando os espaos onde os ltimos espcimes de um determinado animal continuam a viver, confrontando o que era no passado e o que hoje; buscar as quantificaes e os dados mais recentes coletados pelos ambientalistas; verificar quais medidas esto sendo tomadas nos diversos casos pelas autoridades governamentais, ONGs e outras instituies. A turma pode, ainda, buscar pesquisadores e ambientalistas brasileiros que se envolveram na proteo da natureza e dos animais. Os alunos devero socializar esse trabalho com os colegas

1 H um documentrio sobre Dian Fossey, lanado pela National Geographic, intitulado Mountain Girls (2003) (http://www.dvdpt.com/o/o_filme_perdido_de_dian_fossey.php). Existe ainda outro documentrio intitulado Montanha dos Gorilas (Adrian Warren - diretor, EUA, 1991 39 minutos).

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de outras turmas e com a comunidade escolar, utilizando a criatividade ou seguindo roteiro de orientaes do professor. Alternativa interessante para o trabalho com o filme levar bilogos, ambientalistas ou especialistas em animais para conversar com os estudantes e apresentar as espcies. Ao organizar essa atividade, os alunos devem estar orientados para os temas a serem discutidos, a fim de participar de forma ativa no encontro. O filme Nas Montanhas dos Gorilas se passa em Ruanda, pas da frica. O professor poder fazer um seminrio sobre essa localidade com os alunos, procurando enfocar diversos aspectos, desde os naturais at os sociais, econmicos e polticos. Uma sugesto seria assistir ao filme Hotel Ruanda (dirigido por Terry George produo: EUA, Itlia e frica do Sul, 2004), que mostra um conflito poltico nesse pas, em 1994, e que levou morte de quase um milho de pessoas em apenas cem dias. Sem apoio dos demais pases, os ruandeses tiveram que buscar sadas em seu prprio cotidiano para sobreviver. Outra possibilidade para ampliao desse foco seria promover uma discusso ou seminrio sobre a frica, aproveitando a lei 10.639/03, a respeito da insero de estudos sobre esse continente nos currculos do Ensino Fundamental e do Ensino Mdio. Aborde questes histricas sobre o imperialismo e a partilha do continente, no sculo XIX, bem como o posterior processo de descolonizao e independncia dos pases africanos. Outro aspecto importante refere-se aos clichs acerca do imaginrio criado no Ocidente, representando a frica apenas como um local de natureza selvagem, misria e atraso. Problematizar esses clichs poder contribuir para a ampliao do olhar dos nossos alunos, provocando reflexes que ultrapassem o senso comum. Proponha que os alunos elaborem coreografia, cena teatral, apresentao musical, exposio de fotografias/imagens de animais e ambientes que os alunos tenham conhecimento e que meream ateno, partindo da temtica do filme. O professor de Arte poder contribuir com algumas ideias estruturantes relacionadas s linguagens

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dessas manifestaes culturais. fundamental que a comunidade escolar tenha oportunidade de ver essas apresentaes, pois a temtica da preservao ambiental e dos seres vivos deve ser o foco principal. Aps essa apresentao, pode-se promover um debate entre todos os participantes. A pesquisa um dos principais subsdios que nos dado pelo filme de Michael Apted. Percebemos as referncias a esse assunto quando vemos os caminhos percorridos por Dian Fossey: da participao em palestras (como no incio do filme), passando pela utilizao e apoio dos livros, caminhando pelas tcnicas de observao e pelas anotaes, tendo como base a pesquisa de campo e determinando o surgimento de artigos e de materiais escritos. Que tal levar os estudantes de uma das turmas/sries do Ensino Mdio a percorrer alguns caminhos de Fossey e realizar pesquisas de campo referenciadas por bibliografias sugeridas? Se as sadas a campo forem complicadas, proponha a realizao de curtas metragens que mostrem essas questes2. Caso tenha alunos que desejem produzir gneros textuais diversificados (artigos, crnicas, poesias, etc.), baseados nos caminhos percorridos por essa pesquisa, poderiam ser publicados no jornal da escola, do bairro ou da cidade. O importante a veiculao dessa rica produo feita pelos alunos.

Sugesto de outros filmes com a temtica Meio Ambiente Os Lobos No Choram (Never Cry Wolf), EUA, 1983, Drama Dersu Uzala (Dersu Uzala), Japo, 1975, Aventura/Drama

2 Tome como base o DVD Luz, Cmera... Educao!, da caixa de filmes 2008, que revela alguns artifcios utilizados pelos diretores de cinema para produzir uma cena. Outras fontes: Site de Oficinas virtuais produo de curtas e outras informaes sobre a stima arte: http://www.telabr. com.br/oficinas-virtuais; SARAIVA, Leandro e CANNITO, Newton. Manual de Roteiro ou Manuel, o Primo Pobre dos Manuais de Cinema e TV Autores. So Paulo: Conrad do Brasil, 2009.

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Trem da Vida(Train de Vie)

Gnero: Comdia Durao: 103 minutos Lanamento: 1998 Produo: Frana / Blgica / Holanda Classificao etria: 12 anos Ficha tcnica Direo: Radu Mihaileanu Roteiro: Radu Mihaileanu Produo: Marc Baschet, Ludi Boeken, Frdrique Dumas-Zajdela, Eric Dussart, Cdomir Kolar Fotografia: Yorgos Arvanitis e Laurent Dailland

Montagem: Monique Rysselinck Msica: Goran Bregovic Figurino: Viorica Petrovici Distribuio: Paramount Pictures Elenco Lionel Abelanski - Shlomo Rufus - Mordechai Clment Harari - Rabino Marie-Jos Nat - Sura Agathe De La Fontaine - Esther Bruno Abraham-Kremer - Yankele Michel Muller - Yossi Bebe Bercovici - Joshua Mihai Calin Sami

O filmeEuropa Oriental, 1941. Em uma remota aldeia, com uma populao basicamente de judeus Shlomo, o louco do lugarejo anuncia que os nazistas esto chegando e que a aldeia deles ser a prxima a ser atacada por eles. O conselho de sbios da aldeia delibera o que deve ser feito, mas Shlomo quem tem uma ideia inspirada ao elaborar um plano de fuga, no qual eles simularo uma falsa deportao, com parte dos judeus se fazendo passar por nazistas, em que os falsos alemes levaro os prisioneiros at a Palestina. Embora muitas pessoas estejam convencidas de que Shlomo est fora de seu juzo perfeito, o plano segue adiante. Primeiro so selecionados certos membros da aldeia para se fazerem passar por nazistas, e vages so comprados e reformados. Logo o trem est pronto e a aldeia deixada para trs, mas, quando comea

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a viagem, algo inesperado acontece: as encenaes se tornam mais realistas, pois os nazistas se tornam mais autoritrios. Os deportados tramam uma rebelio contra seus falsos algozes e outros se declaram comunistas, e, alm disso, surgem alemes verdadeiros no caminho.

Curiosidades OfilmerecebeuoprmiodopbliconoFestivaldeCinemadeSundance em 1999. NoBrasil,venceuosprmiosdeMelhorFilmepelacrticaepelopblico na 22 Mostra Internacional de Cinema de So Paulo. NoFestivaldeVenezade1998ganhouoPrmiodaAudinciaeMelhor Produo Mundial. EsteosegundolonganacarreiradeRaduMihaileanu.Seuprimeiro longa-metragem, Trahir, foi realizado em 1993. Odiretoriniciousuacarreiranoteatro,trabalhandocomoator,diretor e dramaturgo.

Algumas possibilidades de trabalho com o filme Trem da Vida reas curriculares: Cincias Humanas e Linguagens e Cdigos Sugesto de disciplinas: Sociologia, Histria, Filosofia e Lngua Portuguesa Temas: tica e Pluralidade Cultural (grupo social, a cultura e seus aspectos, igualdades e desigualdades do homem, regimes totalitrios nazismo, Segunda Guerra Mundial1, respeito mtuo, racismo)

1 Levando em conta a estrutura do currculo de Sociologia, consideramos que a atividade ora sugerida aconselhada para a 1 srie do Ensino Mdio, j que, nos dois ltimos bimestres, h a proposio do trabalho com os contedos aqui apontados, temas que permitem o desenvolvimento de habilidades como selecionar, relacionar e interpretar dados e informaes de diferentes formas.

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Orientaes preliminaresO filme , apesar do tema, comovente e leve, devido ao tratamento dado um tom cmico. Para enriquecer o trabalho, o professor de Filosofia poderia tratar do pensamento de Marx e Engels (citados no filme e fundamentais para o entendimento do comunismo), enquanto o professor de Histria poderia tratar dos temas mais explcitos no filme: a Segunda Guerra Mundial e o holocausto. interessante notar que h algumas cenas de nudez, mas de forma contextualizada e bastante sutil.

AtividadesComo sensibilizao, ouam a msica Carta aos Missionrios, do grupo Uns e Outros. Acompanhe a letra e escreva na lousa a palavra que mais chamou a ateno dos alunos. Destaque as palavras que compem a frase A morte, a discrdia, a ganncia e a guerra... e a guerra e d ateno palavra discrdia. Mostre que uma das questes que comumente leva discrdia (e, consequentemente, guerra e morte) a dificuldade de enfrentar as diferenas culturais, uma das justificativas dadas pelo nazismo ao holocausto2. No entanto, no se esquea de apontar que h outros motivos de grande peso e imensa fora: os econmicos e polticos.

2 Vale lembrar que na primeira edio do projeto O Cinema Vai Escola e no Caderno de Cinema do Professor Um esto presentes o filme e o roteiro de discusso da produo Arquitetura da Destruio, que pode ser integrado a este trabalho.

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Durante a exibio, preciso que os alunos anotem as situaes onde se cristalizam as diferenas culturais entre os judeus, os alemes e os ciganos. Pause o filme aps a cena em que o rabino e Schlomo explicam o que est por vir (4m17s): pergunte aos alunos se eles sabem do que esto falando e pea que exponham suas hipteses. Prepare um roteiro para que os alunos faam uma pesquisa (dirigida) na internet utilizando a sala de informtica ou a sala do Programa Acessa Escola. Lembre-se que voc, professor, pode e deve auxiliar o aluno a identificar, nos textos pesquisados, elementos que o auxiliem a ativar as estratgias de leitura antecipao, inferncia, seleo e checagem, indicando que busquem no texto elementos externos a ele que os ajudem a entend-lo melhor (ttulos, subttulos, fotos, mapas, grficos, legendas, etc.), solicitando que relacionem o que estiverem lendo com o que j viram nos trechos do filme e em outras leituras. Explique aos alunos alguns aspectos referentes ao entendimento do que cultura, tais como: traos, complexos e reas culturais, que so os elementos mais visveis da cultura de determinado grupo social, seus agrupamentos e sua regio de ocorrncia. Vale tambm trabalhar questes como padro cultural, subcultura e cultura de massa3. Solicite que os alunos identifiquem no filme elementos como: traocultural:oscachosdecabeloseasbarbasdoshomensjudeus; complexo cultural: a comemorao e os atos religiosos judeus, por exemplo.

3 Importante notar que a organizao apresentada neste pargrafo indicada por alguns autores, a fim de facilitar o estudo e o entendimento do processo que chamamos cultura (tudo o que o homem vivencia e cultiva, de forma dinmica, dialtica, levando-o a crescer e a se humanizar).

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Chame a ateno dos alunos para o momento em que a aldeia dos judeus vista abandonada (35m50s) e no sentimento de desamparo e de dor que se faz presente (assim como no momento em que esto se retirando de sua aldeia: 30m15s), pois eles esto abandonando no apenas casas, mas parte de suas prprias vidas. Mostre como a guerra destri vidas, mesmo mantendo a vida. Pea aos alunos que notem que a cultura um dos principais aspectos que nos iguala e, simultaneamente, nos diferencia de outros seres humanos (todos seres sociais) e de outros grupos sociais, discutindo com os alunos a dificuldade de situaes vividas devido intolerncia cultural e de outros cunhos, entre eles a Segunda Guerra Mundial, as Cruzadas, a Reforma e a Contrarreforma, a colonizao brasileira, etc.4 Para encerrar a atividade, solicite aos alunos que, em duplas, produzam um artigo de opinio sobre o respeito diversidade cultural. A fim de fazer avanar o desenvolvimento da competncia escritora, funo de todas as disciplinas, selecione um texto ou trecho de texto de aluno de outra turma que apresente problemas5. Transcreva-o no quadro ou em um papel kraft e, juntamente com a classe, comece a enriquec-lo, iniciando pela estrutura do pensamento presente, passando depois para a estrutura do texto, depois para questes de concordncia e de ortografia. Garanta o anonimato tanto do autor quanto da turma/classe.

4 Embora tenham origens diferentes e que certamente mereceriam maiores discusses , os exemplos aqui apontados servem para ressaltar os desfechos cruis que a inabilidade do homem em lidar com as diferenas podem gerar. 5 Utilizar um texto ou um trecho do texto de um aluno de outra turma significa, neste caso, evitar constrangimento do autor do texto perante seus colegas de classe.

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O Povo Brasileiro

Gnero: Documentrio Durao: 280 minutos Lanamento: 2000 Produo: Brasil Classificao etria: livre Ficha tcnica Direo: Isa Grinspum Ferraz Roteiro: Antnio Risrio, Isa Grispum Ferraz, Marcos Pompeia Produo: Carolina Vendramini Produo executiva: Zita Carvalhosa Coproduo: TV Cultura / GNT / Fundar Fotografia: Adrian Cooper, Carlos Ebert e Jos Guerra Direo de arte: Rico Lins Direo de produo: Fernanda Senatori Direo de filmagem: Flvio Frederico, Mauro Farias e Rafic Farah

Msica: Marco Antnio Guimares Edio de som e mixagem: Eduardo Santos Mendes e Joo Godoy Montagem: Id Lacreta, Vnia Debs Coordenao da pesquisa de arquivo: Stella Grisotti Produo: Cinematogrfica Superfilmes Elenco Matheus Nachtergaele - Narrao Chico Buarque Gilberto Gil Luiz Melodia Darcy Ribeiro Antonio Candido Tom Z Aziz AbSaber Paulo Vanzolini Hermano Vianna

O filmeO Povo Brasileiro uma recriao da narrativa de Darcy Ribeiro. Discute a formao dos brasileiros, sua origem mestia e a singularidade do sincretismo cultural que dela resultou.

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Curiosidades OantroplogoDarcyRibeiro(1922-1997)foiumdosmaioresintelectuais brasileiros do sculo XX. Apesardeestarapoiadonapesquisaenateoriadeumlivro,ofilme no pode ser considerado uma adaptao literria, termo usado para adaptaes de fices. Em1995,lendoosprimeiroscaptulosdosoriginaisdeO Povo Brasileiro, Isa Grinspum Ferraz sugeriu a Darcy Ribeiro, com quem colaborou por 13 anos, que contasse aquela histria para mais gente, em programas de televiso. Apesar de j muito doente, Darcy aceitou a provocao e, por quatro dias, tornou-se ator de um grande depoimento sobre a formao cultural de O Povo Brasileiro.

Algumas possibilidades de trabalho com o filme O Povo Brasileiro reas curriculares: Linguagens e Cdigos e Cincias Humanas Sugesto de disciplinas: Lngua Portuguesa, Arte, Histria, Geografia, Filosofia e Sociologia Temas: tica e Pluralidade Cultural: cidadania e identidade nacional

Orientaes preliminaresO Povo Brasileiro, exibido pela TV Cultura, uma verso do ensaio homnimo escrito pelo antroplogo, ensasta, romancista e poltico Darcy Ribeiro. O documentrio de Isa Grinspum Ferraz, a partir de um riqussimo material, constri uma colcha de retalhos, organicamente interligados, com o intuito de mostrar as contradies no processo de formao da identidade nacional brasileira.

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Por ser um filme diferenciado dos demais, em razo da durao e das vrias temticas enfocadas, recomenda-se que seja exibido ao longo do ano letivo, em consonncia com o desenvolvimento dos temas propostos pelas diferentes disciplinas do Ensino Mdio. Em razo disso, a abordagem interdisciplinar, pensada no coletivo, tornar o trabalho com o filme em sala de aula mais significativo. Os captulos que compem o DVD podero ser utilizados separadamente, conforme a pertinncia do tema e a necessidade de cada rea de conhecimento. Recomenda-se que os professores discutam com os alunos quem foi Darcy Ribeiro e quais motivaes o levaram a escrever o livro O Povo Brasileiro. Para tanto, pode-se utilizar a entrevista do autor nos extras do DVD 2, em que o antroplogo fala de suas principais inquietaes como intelectual e intrprete do Brasil.

AtividadesO grande tema abordado no documentrio a construo e constituio da identidade nacional como fruto de mltiplos fatores. Seria interessante, portanto, iniciar os trabalhos com o filme debatendo como essa temtica aparece na constituio do povo da sua cidade. Assim, discutir as origens dos familiares dos alunos e as caractersticas que considerarem tpicas do local pode ser uma pista interessante para saber um pouco mais sobre a gnese dessa populao. Depois, voc pode

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pedir para que eles selecionem as informaes que consideraram importantes e concluam escrevendo um poema-mosaico que mostre essa identidade. Seria estimulante ouvir e analisar a cano Paratodos, de Chico Buarque de Hollanda, e mostrar a capa do CD, pois nesses materiais possvel perceber elementos que remetem constituio da identidade.

Compreendendo a formao e o sentido da sociedade brasileiraConsiderando as infinitas possibilidades que o documentrio O Povo Brasileiro suscita, destacamos em cada segmento, a ttulo de sugesto, alguns pontos para reflexo. Esses pontos podero ser utilizados como partida para a realizao de pesquisas, debates, seminrios, painis, produo de textos, quadros comparativos e outras atividades em que os alunos possam manifestar e comparar opinies pessoais e de outros autores acerca dos assuntos tratados.

Matriz Tupi Discutacomaclasseafunosocialdaguerraeopapeldaantropofagia e a apropriao desses conceitos pelas vanguardas modernistas do incio do sculo XX. PeaaosalunosquecomentemafrasedojornalistaWashingtonNovaes: muito difcil para nossa cultura suportar tanta beleza [dos ndios]. Analiseasimplicaesdautilizaodetermosgenricos,taiscomondio ou ndio brasileiro, para caracterizar os povos que habitavam o Brasil, considerando, ainda, que sua ocupao territorial no segue a lgica do Estado brasileiro atual.

Matriz Lusa Discutaopreconceitocontraosportuguesesemrelaosquestesculturais, pois muito comum a crena de que, se fssemos colonizados por ingleses ou holandeses, o Brasil seria um pas de primeiro mundo.

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AnalisecomseusalunosopoemaOs Lusadas, de Cames. AnaliseacanoPrece, um poema de Fernando Pessoa musicado por Andr Luiz Oliveira e cantado por Gilberto Gil. Peaparaosalunosescreveremumartigodeopinioparacomentar a frase do antroplogo Roberto Pinho: Quando Portugal embarca, o que embarca um povo mestio.

Matriz Afro Pesquisandoemumatlas,peaaosalunosparalocalizaremospovos que foram trazidos para o Brasil e elaborarem quadros comparativos com suas caractersticas polticas, econmicas, sociais e culturais. Apsaelaboraodoquadro,discutacomosalunosaadequaodo uso do termo frica no singular. ProponhaumestudosobreasrevoltasdosescravosnoBrasil,taiscomo a de Palmares e a dos Mals.

Encontros e Desencontros Explorandoametforadaimagemdacolchaderetalhos,discutacom seus alunos o conceito de mestiagem. LeiafragmentosdacartadePeroVazdeCaminha.Explorealeiturado compositor Tom Z e pergunte aos alunos qual o significado de bater o lpis durante a leitura. Debataasprincipaiscaractersticasdoprojeto de colonizao, abordando as contradies entre o projeto laico e o projeto religioso.

Brasil Crioulo Discutaossignificadosdotermocriouloemdiferentespocas. ExploreosignificadodaexpressocivilizaodoacareafraseO Brasil comea atravs do engenho, do escritor Gilberto Vasconcelos. Analiseosaspectospolticos,econmicos,sociaiseculturaisdasrelaes entre senhor e escravo.

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Abordeosprocessosdereinveno(criaoepermanncia)dosafricanos na Amrica portuguesa, utilizando como referncias as falas de Me Estela, do babala Agenor Miranda da Rocha e do cantor Luiz Melodia. AnaliseacanoManguetown, do grupo Chico Science e Nao Zumbi. Proponhaumdebatesobreosprocessosdeexclusosocialdosafrodescendentes no Brasil atual, analisando sua relao com o projeto portugus de colonizao.

Brasil Sertanejo Exploreasrelaesentreapecuriaeascriaesculturaisdossertanejos. Analiseasrazesdeosertoserumdoslugaresquemaisexpulsamsua populao para centros industriais do Brasil. Proponhaumapesquisasobreocangaoesuasorigenssociais.

Brasil Caipira IdentifiqueoslugaresquecompemaPaulistniaeasrazesdeserem agrupados conjuntamente. Discutaosignificadodasexpressescaipira,bairroedesmanche enunciadas pelo ensasta e professor Antonio Candido. Explore as principais caractersticas dos bandeirantes e sua relao com a cultura caipira. ExpliqueosimpactosdoprocessodeindustrializaonoBrasile,em particular, na cultura caipira.

Brasil Sulino Analiseopapeldasmissesjesuticasnaaculturaodosindgenas. Discutaosignificadodaexpressogachoesuascaractersticassocioculturais. Descrevaospovosqueformaramaculturasulinaeassuascontribuies socioculturais.

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Brasil Caboclo Descreva as representaes da Amaznia feita pelos europeus. Peaparaosalunosexplicarem,apartirda fala do gegrafo Azis AbSaber, a ecologia da Amaznia. Debataosignificadodaexpressocaboclo e as razes pelas quais Darcy Ribeiro considera esse povo o mais culto da Terra. Analiseopapelhegemonizadordalngua portuguesa na regio. Discuta o impacto do ciclo da borracha na cultura local. Pea para escreverem um comentrio, analisando a sequncia de imagens que comea aproximadamente aos 42 minutos e termina por volta dos 43:55, em que possvel observar os contrastes e as interrelaes entre os diferentes Brasis.

Inveno do Brasil DebataoqueDarcyRibeiroquisexpressar com a noo de humanidade tropical. Analiseoprocessodeconstruodanacionalidade, que foi eivado de conflitos como em um estado de guerra latente: proponha pesquisar os movimentos citados, especialmente o de Canudos. Discuta o conceito de povo brasileiro para Darcy Ribeiro.

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ReflitacomosalunosoqueprecisoparaoBrasildarcerto,naperspectiva de Darcy Ribeiro.

Outras sugestes de atividadesOrganizar visitas a instituies culturais (museus, bibliotecas, pinacotecas), espaos fundamentais para a constituio das identidades local e nacional. Na cidade de So Paulo poderiam ser visitados, por exemplo: MuseuPaulista MuseudeArqueologiaeEtnologiadaUSP MuseudaLnguaPortuguesa MuseuAfroBrasileiro MemorialdoImigrante

Outros filmesIntrpretes do Brasil. Direo: Isa Grinspum Ferraz, 2002, 342 minutos Razes do Brasil - Uma Cinebiografia de Srgio Buarque de Hollanda. Direo: Nelson Pereira dos Santos, 2003, 148 minutos.

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Balzac e a Costureirinha Chinesa(Balzac et la Petite Tailleuse Chinoise)

Gnero: Drama Durao: 116 minutos Lanamento: 2002 Produo: China / Frana Site oficial: www.bacfilms.com/balzac Classificao etria: 12 anos Ficha tcnica Direo: Dai Sijie Roteiro: Dai Sijie e Nadine Perront, baseado em livro escrito por Dai Sijie Produo: Lise Fayolle Fotografia: Jean Marie Dreujou Montagem: Julia Gregory e Luc Barnier Msica: Wang Pujian

Figurino: Tong Huamiao Efeitos especiais: AutreChose Estdios: Les Films de la Suane / TF1 Film Productions Distribuio: Bac Films / ArtFilms Elenco Zhou Xun - Costureirinha Chen Kun - Luo Liu Ye - Ma Wang Shuangbao - Chefe da vila Chung Zhijun - Velho alfaiate Wang Hongwei - Quatro Olhos Xiao Xiong - Me do Quatro Olhos Chen Wei - Mulher do chefe da vila

O filmeLuo e Ma so dois jovens de 17 anos que, em plenos anos 1970, vivem na China comandada por Mao Ts-tung. Os dois so encarados como inimigos do povo por seus pais serem mdicos e dentistas, considerados burgueses reacionrios. Luo e Ma so ento presos e encaminhados a um campo de reeducao, em uma vila isolada no Tibet. Todos os livros de Luo so queimados, mas Ma consegue manter seu violino ao alegar que Mozart compunha para o presidente Mao. No campo eles apenas encontram alvio nas msicas tocadas por Ma e nas histrias narradas por Luo, at que conhecem uma costureirinha por quem ambos se apaixonam. Ela ento lhes revela um precioso tesouro: livros considerados subversivos e de autoria de Flaubert, Tolsti, Victor Hugo

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e Balzac, que esto de posse de Quatro Olhos, outro jovem que est sendo reeducado e est prestes a retornar cidade. O trio ento decide roub-los.

Algumas possibilidades de trabalho com o filme Balzac e a Costureirinha Chinesa reas curriculares: Cincias Humanas, Cincias da Natureza e Cdigos e Linguagens Sugesto de disciplinas: Histria, Geografia, Filosofia, Sociologia, Biologia e Lngua Portuguesa Temas: Pluralidade Cultural, tica, Trabalho e Consumo Revoluo Cultural Chinesa, literatura, mundo do trabalho

Orientaes preliminaresAntes da projeo, se possvel, informe os alunos ou pea para eles fazerem uma pesquisa em diferentes fontes sobre o diretor Dai Sijie, sua produo artstica, bem como sobre o romance que inspirou o filme, ambientado durante a Revoluo Cultural Chinesa (1966-1976). Seria importante, tambm, conhecer resumidamente a organizao poltica do governo da China, em especial o governo de Mao Ts-tung, seus ideais polticos, suas principais influncias, etc. Como se trata de um filme com vrias possibilidades de trabalho, para cada temtica apresentada aconselha-se a formao de grupos de alunos para discutirem o tema escolhido e, ao final, trocarem informaes ou produes com os demais grupos da turma.

AtividadesAps a exibio do filme, o professor poder: Promover uma discusso, a partir do recontar a situao de vida em que se encontram os jovens protagonistas. Neste particular, pea para os alunos justificarem seu posicionamento, utilizando, se possvel, cenas e/ou dilogos apresentados.

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Trabalharatemticadaalienaonombitodocotidianoemrelao poltica desenvolvida por Mao Ts-tung. Por que os personagens tinham que reverenciar Mao Ts-tung? Qual era a origem das ideias do chefe da aldeia e como essas ideias influenciavam a conduta do dia a dia? Os personagens refletiam sobre os posicionamentos perante uma dada situao ou adotavam um comportamento coletivo? Alm, disso, outros assuntos podero ser discutidos, como, por exemplo: OcultosideiasdeMaoeseuspressupostostericoscontidosnoLivro Vermelho foi um dos pontos fortes no regime implantado. O grande timoneiro possua como objetivo combater a denominada velha cultura. Para a eficcia desse combate, foi necessrio implantar uma forte represso aos intelectuais, universitrios, bibliotecas e a todos aqueles que se deixavam influenciar por valores ocidentais. Utilizando cenas do filme, explique o papel essencial da vida camponesa para a construo da nova sociedade chinesa que surgia. NaRevoluoCulturalChinesa,umadasmedidas drsticas do governo foi expurgar das bibliotecas obras consideradas smbolos da decadncia ocidental capitalista. Na dcada de 1960, os jovens estudantes esquerdistas, tanto chineses quanto europeus,

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acreditavam ser esse o modelo de revoluo, pois era diferente do burocratismo implantado no regime sovitico. A partir da anlise do filme, e respeitando o contexto histrico, os alunos devem redigir um texto dissertativo, analisando o processo revolucionrio chins. AolongodaHistria,semprenotamosapreocupaocomaleiturae, principalmente, com o seu controle. Os poderes, sejam civis ou eclesisticos, senhoriais ou coloniais, monrquicos ou republicanos, revolucionrios ou contrarrevolucionrios, sempre tiveram a conscincia de que a relao do leitor com o texto possua qualquer coisa de incontrolvel e sempre defenderam a ideia de que existiam boas e ms leituras. Todas as atitudes de censura dos poderes manifestavam a vontade de impedir ou enquadrar a leitura. O filme faz abordagens de autores ditos consagrados, porm amaldioados pela Revoluo Cultural Chinesa, como, por exemplo, Balzac, Dumas, Flaubert, Baudelaire, Rousseau, Dostoievski e Dickens. Aps pesquisarem vrias fontes e discutirem esse tema, o professor poderia instigar os alunos a conhecer melhor estes autores. Soliciteaosalunosparaformargruposdepesquisaporautore,aps a realizao da pesquisa, elaborar um sarau literrio, com a leitura dos poemas e/ou excertos das obras. As discusses sobre a China podem avanar na sala de aula, sobretudo no que diz respeito China contempornea e situao educacional dos jovens chineses. Neste caso, sugerimos que seja realizado um seminrio que aborde os aspectos social, poltico, econmico e educacional desse pas. Cabe ressaltar a importncia da cultura chinesa e sua arte nesse seminrio. Em relao temtica aborto, presente no filme, pode ser uma extenso do estudo sobre a cultura do pas, em especial a China do sculo XXI. Vale lembrar que a disciplina de Biologia poder trabalhar com esse tema nas oficinas de sexo seguro, utilizando os kits do projeto Preveno Tambm se Ensina (SEE/FDE) e/ou o programa Sade e Preveno nas Escolas (SEE/SES/MEC).

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Sob a Nvoa da Guerra(The Fog of War: Eleven Lessons from the Life of Robert S. McNamara)

Gnero: Documentrio Durao: 95 minutos Lanamento: 2003 Produo: EUA Site oficial: www.sonyclassics.com/ fogofwar Classificao etria: 12 anos Ficha tcnica Direo: Errol Morris Roteiro: Errol Morris Produo: Julie Bilson Ahlberg, Errol Morris e Michael Williams

Fotografia: Robert Chappell e Peter Donahue Montagem: Doug Abel, Chyld King e Karen Schmeer Msica: Philip Glass Estdios: SenArt Films / Globe Department Store / @radical.media.Inc Distribuio: Sony Pictures Classics / Columbia TriStar Films Elenco Robert McNamara

O filmeNarra a histria militar recente dos Estados Unidos, do ponto de vista de Robert S. McNamara, ex-secretrio de Defesa dos governos Kennedy e Johnson. Um dos mais controvertidos polticos americanos, McNamara, que tambm j presidiu o Banco Mundial, tenta explicar o motivo de o sculo XX ter sido to violento. Desde o bombardeio de centenas de milhares de civis em Tquio, em 1945, passando pela crise dos msseis em Cuba, at os efeitos da guerra do Vietn, o filme examina a combinao de fatores polticos, sociais e psicolgicos que envolvem os conflitos armados. Com uma rica seleo de imagens de arquivo e gravaes confidenciais da Casa Branca, tambm examina as justificativas do governo americano para o uso da fora militar.

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Curiosidades VencedordoOscardemelhordocumentrioem2004. ExibidonoFestivaldoRio2003comottuloAs Brumas da Guerra. Recorrendoaoseuconhecimentodosbastidoresdo governo, e com uma memria prodigiosa aos 85 anos, McNamara abre como nunca seu corao neste filme chegando a revelar fatos desconhecidos sobre sua participao no bombardeio de Tquio, durante a Segunda Guerra Mundial. OfilmearrecadoucercadeUS$2milhesnasbilheterias dos Estados Unidos, fato raro para um documentrio.

Algumas possibilidades de trabalho com o filme Sob a Nvoa da Guerra reas curriculares: Linguagens e Cdigos, Cincias Humanas Sugesto de disciplinas: Lngua Portuguesa, Histria, Geografia, Filosofia, Sociologia Temas: tica e Pluralidade Cultural (Identidade, conflitos internacionais)

Orientaes preliminaresSob a Nvoa da Guerra um documentrio1 que mostra aspectos do modus operandi da poltica externa norte-ameri1 importante salientar que as fronteiras entre documentrio e fico so problemticas, pois sempre h uma expectativa de que o documentrio fala a verdade e a fico, no. No entanto, nos documentrios so feitas escolhas estticas e narrativas e o compromisso com o que realmente ocorreu passvel de omisses e nfases determinadas.

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cana, por meio de entrevistas com o ex-secretrio de Defesa dos Estados Unidos, Robert Strange McNamara, durante os anos de 1961 e 1968. Levando-se em conta a complexidade desse personagem histrico, da abrangncia temporal e temtica abarcada, recomenda-se a participao de diferentes disciplinas nas discusses em sala de aula.

Atividade de preparaoComo o filme faz referncia a fatos ocorridos no sculo XX, proponha aos alunos que realizem uma pesquisa, no livro didtico ou na internet, e registrem em fichas as informaes factuais de alguns acontecimentos o que, onde, quando e principais caractersticas , tais como a Primeira Guerra Mundial, o confronto entre os Estados Unidos e o Japo durante a Segunda Guerra Mundial, a Guerra Fria, a guerra do Vietn e a crise dos msseis em Cuba.

AtividadeRobert McNamara foi uma figura controversa e contraditria para a opinio pblica estadunidense e internacional. Ele foi um dos mais brilhantes professores da Universidade de Harvard e um grande executivo da Ford. O complexo industrial-militar norte-americano manteve importantes relaes com a poltica de Estado e com as universidades. O diretor do filme, Errol Morris, optou por mostrar a complexidade desse personagem, passando a impresso de que evitou tomar partido explicitamente tarefa que ele teria deixado para o prprio espectador. Em razo disso, segundo Pedro Butcher2, Errol Morris foi criticado por setores da esquerda de seu pas por ter dado voz a um monstro da direita, a um mentiroso compulsivo e dissimulador.

2 BUTCHER, Pedro. Longa investiga vontade de guerra dos EUA. Folha de So Paulo, 26/03/2004.

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Portanto, oriente seus alunos para que, em grupos, realizem um debate3, com o intuito de investigar o polmico Robert McNamara e discutir as questes: 1. Foi realmente um monstro, mentiroso e dissimulador, responsvel pela morte de milhares de pessoas? 2. Foi uma grande liderana, preocupado com o bem-estar dos seus compatriotas, ou apenas um tcnico da guerra? O filme tenta enfatizar este lado tecnocrata, dando espao para uma espcie de mea-culpa, ainda que sutil, em torno das estratgias escolhidas para a guerra do Vietn. Nesta atividade os alunos tero de: utilizar informaes do filme assistido (os recursos que Morris usou para apresentar sua personagem: as falas, as questes e interpelaes a McNamara, os gestos, as imagens de arquivo, a msica, etc.)4; utilizaremseusargumentosfontesdiversas,sejamelasfragmentosde textos, tabelas e imagens consultados no livro didtico; definirerespeitarosdiferentespapisdosparticipantes; registraradequadamenteosresultados; utilizarosargumentosdosoutrosparticipantesparaconstruirosseus prprios.

3 No debate, os componentes de cada grupo podero exercer uma das funes abaixo: - Moderador: apresenta aos debatedores os objetivos do debate, organiza o espao, controla o tempo e finaliza o debate, controla as inscries de quem vai falar e resume o que foi dito quando sente que alguma ideia est ficando confusa. Os moderadores devem trazer para o debate um pequeno texto defendendo uma das posies possveis em relao questo que est sendo discutida. - Debatedor: apresenta informaes, fragmentos do filme e outras fontes, no qual apaream argumentos que comprovem sua tese. - Auditrio: questiona os debatedores e registra tudo o que dizem. Produz um relatrio sobre as discusses com o intuito de avaliar quem se saiu melhor no debate. 4 Seria interessante assistir ao documentrio Coraes e Mentes (Hearts and Minds). A comparao com este filme enriquecer o debate, pois ele d voz a outras personagens, ex-combatentes dos EUA e vietnamitas.

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Outras atividades1. Discuta o significado da metfora nvoa da guerra aps o trmino do filme. 2. Pea aos alunos para que construam uma pequena biografia de Robert McNamara a partir dos dados observados no filme.

Outros filmes Treze Dias que Abalaram o Mundo (Thirteen Days). Direo: Roger Donaldson, 2000, 145 minutos Coraes e Mentes (Hearts and Minds). Direo: Peter Davis, 1974. 112 minutos Apocalypse Now. Direo: Francis Ford Coppola, 153 minutos

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Em Busca da Terra do Nunca(Finding Neverland)

Gnero: Drama Durao: 106 minutos Lanamento: 2004 Produo: EUA Site oficial: www.miramax.com/ jmbarries_neverland Classificao etria: livre Ficha tcnica Direo: Marc Forster Roteiro: David Magee, baseado em pea teatral de Allan Knee Produo: Nellie Bellflower e Richard N. Gladstein Fotografia: Jan A. P. Kaczmarek Montagem: Matt Chesse Direo de arte: Peter Russell Msica: Jan A. P. Kaczmarek Figurino: Alexandra Byrne e Mary Kelly Estdio: Film Colony Distribuio: Miramax Films / Buena Vista International / Lumire Elenco Johnny Depp - Sir James Matthew Barrie

Kate Winslet - Sylvia Llewelyn Davies Julie Christie - Emma du Maurier Radha Mitchell - Mary Ansell Barrie Dustin Hoffman - Charles Frohman Freddie Highmore - Peter Llewelyn Davies Joe Prospero - Jack Llewelyn Davies Nick Roud - George Llewelyn Davies Luke Spill - Michael Llewelyn Davies Ian Hart - Sir Arthur Conan Doyle Kelly Macdonald - Peter Pan Mackenzie Cook - Sra. Jaspers / Usher Eileen Essel - Sra. Snow Jimmy Gardner - Sr. Snow Oliver Fox - Gilbert Cannan Angus Barnett - Nana / Sr. Reilly Toby Jones - Smee Kate Maberly - Wendy Matt Green - John Catrin Rhys - Michael Darling Tim Potter - Capito Gancho / Lorde Carlton Jane Booker - Sra. Darling Catharine Cusack - Sarah

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O filmeJ. M. Barrie um bem-sucedido autor de peas teatrais que, apesar da fama que possui, est enfrentando problemas com seu trabalho mais recente, que no foi bem recebido pelo pblico. Em busca de inspirao para uma nova pea, Barrie a encontra ao fazer sua caminhada diria pelos jardins Kensington, em Londres. l que ele conhece a famlia Davies, formada por Sylvia (Kate Winslet), que enviuvou recentemente, e seus quatro filhos. Barrie logo se torna amigo da famlia, ensinando s crianas alguns truques e criando histrias fantsticas para eles, envolvendo castelos, reis, piratas, vaqueiros e naufrgios. Inspirado por essa convivncia, Barrie cria seu trabalho de maior sucesso: Peter Pan.

Curiosidades AverdadeiraSylviaLlewelynDaviestevecincofilhos,mascomooltimo nasceu durante o perodo em que J. M. Barrie estava escrevendo Peter Pan, ele acabou ficando de fora da histria. JohnnyDepptevequetrabalharavozcomuminstrutor,deformaque tivesse um sotaque escocs convincente. Assimcomomostradonofilme,existiaumatradiodeopersonagem Peter Pan ser interpretado por uma mulher em suas encenaes nos palcos ingleses.

Algumas possibilidades de trabalho com o filme Em Busca da Terra do Nunca reas curriculares: Linguagens e Cdigos, Cincias Humanas Sugestes de disciplinas: Arte, Lngua Estrangeira Moderna (Ingls), Lngua Portuguesa, Filosofia e Histria Temas: Pluralidade cultural e Trabalho e Consumo: diferentes linguagens

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Orientaes preliminaresEm Busca da Terra do Nunca est ambientado na Inglaterra de 1903, um perodo de acelerado progresso econmico-tecnolgico, de expanso colonialista e das primeiras lutas e conquistas dos trabalhadores. Durante a maior parte do sculo anterior, o trono britnico foi ocupado pela rainha Vitria (1837-1901), ficando o perodo conhecido como era vitoriana, uma poca caracterizada pela moralidade burguesa puritana e conservadora. Foi nesse perodo, tambm, que surgiu a literatura infantil, com a adaptao, inicialmente, de antigas lendas e contos orais camponeses, direcionando-os para crianas. O filme pode, assim, oferecer elementos para a reflexo acerca da importncia do sonho e da fantasia numa sociedade repressiva e rgida como era a Inglaterra vitoriana.

AtividadesInicialmente, promova uma troca de informaes sobre os momentos do filme que, na opinio deles, foram o mais emocionante, o mais fantasioso, o mais triste, o mais divertido. Exiba ou relembre algumas cenas que apresentam elementos em que fantasia, realidade e imaginao se fundem na histria. Exemplos: Porthos/Circo(00:10:08) ndiosecowboys (00:16:53) piratas(00:37:53) Pergunte aos alunos: Qualacontribuiodafantasiaedaimaginaoparaaelaboraodestas cenas? E para a elaborao da histria?

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possvelviversemimaginao,semfantasia?Existemlimitesentrea realizao da fantasia e a perda de contato com a realidade? Pergunte aos alunos se conhecem exemplos na vida real sobre essa situao. Os alunos devem ser organizados em pequenos grupos sendo que um deles atuar como mediador, para possibilitar que todos se expressem, e outro far o registro escrito das opinies dos grupos para serem apresentadas posteriormente num painel. Aps pesquisarem as caractersticas gerais do contexto da era vitoriana e considerando a cultura da poca apresentada no contexto do filme, pergunte aos alunos quais foram as contribuies do cenrio, do figurino, da trilha sonora e de outros elementos da linguagem cinematogrfica para demarcarem a poca em questo. Pea aos alunos que observem em quais situaes do filme podemos notar as caractersticas da poca vitoriana acerca da moralidade e da rigidez de costumes. Na opinio deles, haveria cenas do filme que no se coadunam com o perodo em questo? Por qu? Considerando, ainda, as caractersticas do perodo pesquisado, reflita com os alunos: Qualaimportnciadeelementoscomoaliteratura,poesia,fantasiae imaginao para as pessoas daquela poca? Ehoje,essasituaosemantm?Quaiselementospresentesemnosso cotidiano ocupam o papel de alimentar a imaginao e a fantasia? Na sociedade contempornea, h relao entre a fantasia e a realizao pessoal no consumo?

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Solicite aos alunos que pesquisem o significado das palavras: imaginao, fantasia, criatividade, realidade, perda, morte. A partir dessa pesquisa, proponha a eles que produzam um texto sobre como esses elementos esto presentes nas nossas vidas. O texto poder ser elaborado em pequenos grupos, em duplas, individual ou coletivamente. Se combinado com os alunos, os textos podero ser lidos em voz alta para os colegas ou silenciosamente por meio de troca entre eles. As atividades de Lngua Estrangeira Moderna podem ser introduzidas, a partir da exibio do filme, com a utilizao dos recursos de udio e de legenda originais. Para as turmas com pouca experincia na lngua inglesa, recomenda-se selecionar, aps a exibio do filme por completo, trechos ou sequncias de cenas integralm