caderno de apoio aos cortejos de pormenores · neste caderno faz-se um enquadramento histórico do...

50
1 CADERNO DE APOIO AOS CORTEJOS DE PORMENORES que se realizam no âmbito do evento A CHEGADA DO REI MENOR Feira Medieval - 04 a 08 de Maio Convidamos as escolas e os amigos e famílias a formar dois Cortejo de Pormenores Medievos, um apenas com escolas e centros de dia e outro com a participação de toda a comunidade, inspirado nas figuras dos Painéis de São Vicente de Fora, retrato incontornável da sociedade portuguesa do séc. XV. Para entrar no cortejo é necessário inscrever-se e estar vestido à época! Um desfile de pormenores – chapéus, espadas, escudos, adereços simples construídos na sala de aula ou em casa, reutilizando materiais como sacos de plástico, restos de tecido, embalagens, tampas de garrafas, jornais…Desafiamo-lo a fazer uma mitra, a empunhar uma espada, entrançar o cabelo, a ser um rei ou um mendigo e a desfilar as suas criações. Percurso: Parque de estacionamento do Teatro Virgínia - Rua Alexandre Herculano - Largo da Botica - Praça 5 de Outubro - Rua Gil Paes até ao castelo. Datas: 06 Maio às 16h00 (desfile de escolas) | 07 de Maio às 16h00 (desfile de toda a população) INSCRIÇÕES E INFORMAÇÕES Teatro Virgínia: [email protected] | 249839305. Neste caderno faz-se um enquadramento histórico do evento e reúnem-se algumas curiosidades sobre a vida quotidiana nos tempos medievais. Faremos depois uma introdução geral ao traje português à época, seguida de observações e sugestões de construção de figurinos a partir da obra Painéis de São Vicente de Fora. Pintura misteriosa e incontornável da pintura portuguesa do séc. XV e retrato em tamanho real representativo dos estratos sociais da época, esta peça divide-se em 6 painéis: PAINEL DO INFANTE; PAINEL DA RELÍQUIA; PAINEL DO ARCEBISPO; PAINEL DOS CAVALEIROS; PAINEL DOS FRADES; PAINEL DOS PESCADORES. Tentaremos fazer propostas a partir de cada um destes paineis, sendo que algumas propostas são transversais a vários. AS TURMAS/GRUPOS PODEM ORGANIZAR-SE COMO QUISEREM, ESCOLHENDO SER UMA TURMA/GRUPO SÓ DE REIS OU SÓ DE MENDIGOS, OU REPRESENTAR VÁRIOS ESTRATOS SOCIAIS DA ÉPOCA.

Upload: dangdat

Post on 09-Nov-2018

213 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

1

CADERNO DE APOIO AOS CORTEJOS DE PORMENORES que se realizam no âmbito do evento A CHEGADA DO REI MENOR Feira Medieval - 04 a 08 de Maio Convidamos as escolas e os amigos e famílias a formar dois Cortejo de Pormenores Medievos, um apenas com escolas e centros de dia e outro com a participação de toda a comunidade, inspirado nas figuras dos Painéis de São Vicente de Fora, retrato incontornável da sociedade portuguesa do séc. XV. Para entrar no cortejo é necessário inscrever-se e estar vestido à época! Um desfile de pormenores – chapéus, espadas, escudos, adereços simples construídos na sala de aula ou em casa, reutilizando materiais como sacos de plástico, restos de tecido, embalagens, tampas de garrafas, jornais…Desafiamo-lo a fazer uma mitra, a empunhar uma espada, entrançar o cabelo, a ser um rei ou um mendigo e a desfilar as suas criações. Percurso: Parque de estacionamento do Teatro Virgínia - Rua Alexandre Herculano - Largo da Botica - Praça 5 de Outubro - Rua Gil Paes até ao castelo. Datas: 06 Maio às 16h00 (desfile de escolas) | 07 de Maio às 16h00 (desfile de toda a população) INSCRIÇÕES E INFORMAÇÕES Teatro Virgínia: [email protected] | 249839305. Neste caderno faz-se um enquadramento histórico do evento e reúnem-se algumas curiosidades sobre a vida quotidiana nos tempos medievais. Faremos depois uma introdução geral ao traje português à época, seguida de observações e sugestões de construção de figurinos a partir da obra Painéis de São Vicente de Fora. Pintura misteriosa e incontornável da pintura portuguesa do séc. XV e retrato em tamanho real representativo dos estratos sociais da época, esta peça divide-se em 6 painéis: PAINEL DO INFANTE; PAINEL DA RELÍQUIA; PAINEL DO ARCEBISPO; PAINEL DOS CAVALEIROS; PAINEL DOS FRADES; PAINEL DOS PESCADORES. Tentaremos fazer propostas a partir de cada um destes paineis, sendo que algumas propostas são transversais a vários. AS TURMAS/GRUPOS PODEM ORGANIZAR-SE COMO QUISEREM, ESCOLHENDO SER UMA TURMA/GRUPO SÓ DE REIS OU SÓ DE MENDIGOS, OU REPRESENTAR VÁRIOS ESTRATOS SOCIAIS DA ÉPOCA.

2

1438 - Contexto Histórico Em 1438 Portugal vivia as vésperas daquela que viria a ser a sua Idade de Ouro - os Descobrimentos. Ultrapassada a instabilidade da Revolução de 1383/85, assinada a paz com Castela, em 1411, e consolidada a nova dinastia instaurada em Portugal, a Dinastia de Avis, o rei D. João I aceitou o repto dos seus filhos, a chamada “Ínclita Geração”, para que se fizesse uma expedição militar ao Norte de África, como forma de fortalecer o prestígio e a legitimidade da dinastia. O objectivo era a conquista da Praça de Ceuta e o Infante D. Henrique era, já então, um dos principais entusiastas da expansão por mar, que foi encorajando sempre. Ceuta seria rapidamente conquistada, em 1415, facto que marca o início da expansão marítima. É neste reinado que são descobertas as ilhas de Porto Santo, em 1418, a Madeira, em 1419, e os Açores, em 1427. Com a morte de D. João I, é o seu filho D. Duarte que lhe sucede. Culto e vocacionado para o saber, foi com relutância que este rei aceitou que se fizesse nova expedição a África, desta vez em Tânger e Arzila, comandada por seu irmão Infante D. Henrique. A campanha, decorrida em 1437, terminaria da pior maneira, não só com uma completa derrota do exército português, mas com o aprisionamento do Infante D. Fernando, irmão mais novo do rei. Em troca da vida do Infante, os muçulmanos exigiam a devolução da Praça de Ceuta. D. Duarte acabaria por falecer no ano seguinte, sem conseguir um consenso na Corte sobre a troca de Ceuta pelo resgate de D. Fernando. O grande sofrimento que esta situação lhe causava não lhe permitiu as forças necessárias para resistir a um surto de Peste que atingiu a própria Corte e que grassava pelo reino. Ordenou em testamento que se procedesse à referida troca. Deixaria também indicações sobre a regência do reino. Nenhuma destas indicações seriam respeitadas pelos seus irmãos. Por outro lado, durante este período de 53 anos, que medeia a Batalha de Aljubarrota, com a instauração da Dinastia de Avis, e a morte de D. Duarte, há uma nobreza cada vez mais forte que se afirma e cujos interesses quer fazer prevalecer. Refreada a tendência para a centralização régia do poder, produzida por D. João I no início do seu reinado, as campanhas em África viriam a gerar novos interesses e maior dispersão do poder. A nobreza era cada vez mais influente e poderosa e foi isso mesmo que se manifestou, desde logo, no caso do Infante cativo em África e na recusa da cedência de Ceuta. À cabeça dessa nobreza encontravam-se os filhos de D. João I: para além do próprio rei, D. Duarte, o Infante D. Henrique, Duque de Viseu e administrador da Ordem de Cristo; o Infante D. Pedro, Duque de Coimbra; D. João, Mestre da Ordem de Santiago; D. Afonso (meio irmão dos anteriores), Conde de Barcelos, futuro 1º Duque de Bragança; e os filhos deste último, D. Afonso, Conde de Ourém, e D. Fernando, Conde de Arraiolos.

À data da sua morte, em Setembro de 1438, D. Duarte deixava o príncipe herdeiro, D. Afonso, com apenas 6 anos de idade. Foi, por isso, último desejo do monarca moribundo que até à maioridade do jovem rei fosse a rainha, D. Leonor de Aragão, a regente de Portugal, para além de tutora dos infantes. Estas disposições apanharam de surpresa uma boa parte do reino que reconhecia no Infante D. Pedro, Duque de Coimbra e irmão do rei falecido, uma das relações mais próximas que este tinha (ao ponto de desejar que se fizesse casamento entre o príncipe D. Afonso, seu filho, com a Infanta Dª Isabel, filha de D. Pedro e sua sobrinha). Este seria o regente natural esperado pela generalidade da população, que lhe reconhecia o saber e a capacidade para assumir o cargo. Ao invés, o regente seria assim uma mulher, encarada ainda como estrangeira, e ainda por cima próxima dos interesses do reino de Aragão. No entanto, a nomeação do regente era uma competência das Cortes, pelo que logo se constituiu um grupo que declarou inválido o

A criação de duas facções

3

testamento de D. Duarte, exigindo a realização de Cortes para a nomeação do Duque de Coimbra. Por seu lado, a generalidade da nobreza exigia o cumprimento integral do testamento, que lhe seria mais favorável. A atribuição da regência ao Infante D. Pedro, figura poderosa e querida pelo povo e possuidor de um espírito centralizador, condicionaria a influência da nobreza nos desígnios do reino. Constituía-se, assim, o grupo defensor da rainha, cujo principal mobilizador seria o poderoso D. Afonso, Conde de Barcelos, o meio-irmão dos infantes. Foi, contudo, nesse momento, que a rainha revalidou o desejo demonstrado pelo marido em casar o príncipe com a filha do Infante D. Pedro, como forma de procurar uma aproximação entre as duas forças. A proposta foi feita ao Infante, que, tendo-a acolhido com muito agrado, remeteu para mais tarde esse trato, face à pouca idade do pequeno rei e ao período de luto que se vivia então. A prioridade era, para o Infante, a realização de Cortes, com vista ao juramento ao novo rei e a uma tomada de decisão sobre a questão da regência.

Após a realização das exéquias por D. Duarte, na Batalha, em fins de Outubro de 1438, o séquito partiu para Torres Novas, onde se encontrava já a 1 de Novembro. A vila encheu-se então de gente. Estas Cortes eram particularmente decisivas, e tendo em conta o forte conflito que se anunciava e os interesses em disputa, ninguém quis deixar de estar presente. Chegavam em grande número, os nobres, os prelados, alcaides-mores, mais os procuradores do povo. A população avolumava-se pelas ruas da vila, num burburinho convicto, de revolta e partidarismo. O momento aproximava-se. Na vila encontravam-se já também os nobres partidários da rainha D.ª Leonor. Para planear a estratégia a seguir no dia seguinte contra o Infante D. Pedro e as suas aspirações, juntaram-se num dos templos da vila: D. Afonso, Conde de Barcelos; D. Vasco Fernandes Coutinho, Marechal do Reino e futuro Conde de Marialva; D. Pedro de Noronha, Arcebispo de Lisboa e seu irmão, D. Sancho de Noronha; e o D. Nuno Góis, Prior do Crato. No dia 10 de Novembro abrem as Cortes. Elas servirão para que os procuradores dos estados reconheçam o novo rei e lhe jurem obediência solene, para além de aclarar a questão política da regência durante a menoridade do jovem rei. Terão decorrido numa praça que existiria junto da Igreja de Santiago, onde se encontrava montado o espaço: Aí “se armou um teatro bem armado e concertado, onde se sentou El-rei em lugar alto e decente, e logo mais abaixo os três infantes, D. Pedro, D. Henrique, e D. Afonso (Conde de Barcelos) e os filhos deste, os Condes de Ourém e de Arraiolos, e de aí para baixo todos os mais senhores, fidalgos e prelados, e os procuradores das cidades e vilas do reino em seus lugares conforme a precedência de cada um”. O Infante D. Pedro, crónica de Gaspar Dias de Landim, I-34 Descrição dos acontecimentos

1. Procuradores do povo logo quiseram abordar a questão da regência, com vista à nomeação de D. Pedro. A oposição da maioria da nobreza e clero logo se opôs ao afastamento da rainha.

2. Procuradores de Lisboa, Vicente Egas e Pero de Serpa tomaram a dianteira entre os seus na defesa de uma nomeação imediata de D. Pedro.

3. Os fidalgos reagiram com hostilidade à veemência dos procuradores, obrigando ao encerramento da reunião nesse dia.

4. A rainha foi informada do que se passara nesse primeiro dia, mostrando-se reticente quanto à sua posição. Disposta a reconsiderar pediu ao Infante D. Henrique que chamasse D. Pedro até si para que pudessem conferenciar.

As Cortes em Torres Novas

4

5. Em reunião a 3, com a presença do Infante D. Henrique, D.ª Leonor propõe a D. Pedro uma

regência conjunta, entendendo-se os dois sem intervenção de outros. D. Pedro aceita, propondo que à rainha coubesse a tutoria e criação dos filhos, bem como a administração dos negócios da fazenda, enquanto ele ficaria com o governo da Justiça e da Defesa, ficando com o título de “Defensor do Reino”. O Infante D. Henrique terá concordado com esta proposta, aceite pela rainha.

6. Sendo publicado e divulgado na sessão seguinte o acordo estabelecido, os procuradores do povo e povo presente, maioritariamente de Lisboa e Santarém, exaltaram-se e manifestaram-se contra um poder repartido, exigindo para D. Pedro a exclusividade da regência.

7. Nobreza e clero opuseram-se à reacção dos procuradores, provocando discussão de tal forma acalorada que quase se iniciou um motim.

8. Por 15 dias se prolongou este estado de coisas, chegando ao estado de motim, dificilmente contido pelo próprio Infante D. Pedro e os seus.

9. É, então, o Infante D. Henrique que propõe novo trato, o que haveria de ser assinado: Tratar-se-ia de uma regência quadripartida, sendo que à rainha caberia o papel de tutora e curadora dos filhos, mantendo a administração das rendas e ofícios; o D. Pedro caberia a defesa nacional, com o título de “Defensor”; o D. Fernando, Conde de Arraiolos, caberia a responsabilidade da Justiça; a estes deveria associar-se um colégio rotativo de seis consultores, o Conselho de Regência.

10. A rainha não quis logo aceitar esta proposta, enquanto D. Pedro deu o benefício da dúvida. Acabaram por assinar todo o documento (com a excepção do Arcebispo de Lisboa, que se negou). Mas fizeram-no "com taes cautellas e pallavras, que bem parecia querer deixar a sua desposiçam fazer sempre despois, o que quysesse, sem parecer que o quebrantava". Correia, 1996, pp. 91-97

11. Ficava também decidido que no que dissesse respeito a relações entre o reino e outras potências e embaixadas estrangeiras teria de haver consenso e assinatura entre a rainha e D. Pedro, critério que também se aplicaria à concessão de tensas, privilégios e doações de património da Coroa. O regimento da Praça de Ceuta deveria também estar sujeito ao acordo entre ambos. Já a organização militar do país e chefia dos exércitos em caso de guerra caberia apenas a D. Pedro.

12. Estas decisões foram então comunicadas aos procuradores do povo que, embora contrariados no seu direito de eleger o regente, assinaram o acordo para evitar mais problemas.

13. A solenidade dos juramentos e homenagens ao novo rei processaram-se no final destas Cortes. A rainha jura lealdade ao rei sobre uma cruz e os Santos Evangelhos corporalmente tocados, “em presença do ifante Dom Pedro vosso tio e deffensor de vossos Reinos em vosso nome e dos outros estados delles”. Os infantes, tios de D. Afonso V, como o Conde de Barcelos e seus filhos, proferem o respectivo compromisso de fidelidade diante do rei e “presente a muito alta e muito excelente e muito escrarecida Princesa Rainha nossa senhora vossa madre em vosso nome como titor e curador lidema dada em o testamento do mui alto e muito excelente e muito poderozo Princepe el Rei Dom Duarte vosso Padre”. Diante destes fariam a homenagem geral os grandes e demais estados presentes nas Cortes. Chaves, 1983, pp. 89-96

14. Entretanto, a proposta de casamento entre D. Afonso V e D.ª Isabel, filha do Infante D. Pedro, foi rasgada, como consequência da pressão do Conde de Barcelos sobre a rainha.

5

15. Um mês e meio depois destes acontecimentos encerravam-se as Cortes de Torres Novas.

16. Face ao longo período que duraram estas Cortes, e tendo em conta o grande número de

participantes vindos do exterior da vila de Torres Novas, os produtos alimentares, que já não eram abundantes em face das más colheitas desse ano, aumentaram muito de preço, o que deu origem a reclamações por parte dos torrejanos. A realização de cortes e sua implicação na vida quotidiana dos concelhos As cortes eram reuniões nas quais se decidida dos destinos e assuntos do reino e nas quais participavam o rei, os representantes da nobreza, os representantes do clero e os representantes do povo, ou, para ser mais correcto, dos concelhos. Esta instituição teve ao longo das épocas várias denominações, “acordo”, “ajuntamentos”, “chamado”, “chamamento”, “concílio”, “conselhos”, “cortes”, “cortes e conselhos”, “cortes gerais”, “cortes gerais e solenes”, “cúrias”, “juntamento”, “juntamentos” e “visitação”. Segundo José Mattoso, desde muito cedo, porém, o designativo oficial fixou-se em “cortes”. Fontes: - CORREIA, Gaspar, Crónicas dos Reis de Portugal e Sumários das Suas Vidas (D. Pedro, D. Fernando, D. João I, D. Duarte, D. Afonso V, D. João II), Lisboa, Academia de Ciências de Lisboa, 1996 - CHAVES, Álvaro Lopes de, Livro de Apontamentos (1438-1489). Cod. 443 da Colecção Pombalina da B.N.L., Lisboa, Imprensa Nacional - Casa da Moeda, 1983 - Infante (O) D. Pedro, Crónica inédita de Gaspar Dias de Landim, 1893 e 1894, Biblioteca de Clássicos Portugueses - GONÇALVES, Artur, Torres Novas, Subsídios para a sua História, Torres Novas, CMTN, 1935 - GOMES, Saul António, D. Afonso V, Rio de Mouro, Circulo de Leitores, col. Reis de Portugal, 2006

6

Genealogia dos principais intervenientes

Dª. Filipa de Lencastre D. João I

Infante D. Pedro

Infante D. Fernando

D. Duarte

Infante D. Henrique

D. Afonso

Dª. Leonor de Aragão

D. Afonso V

7

Caracterização do ordenamento urbano da vila de Torres Novas no tempo da Cortes de 1438:

Na Idade Média, tal como hoje, os nomes das ruas poderiam ter nomes de pessoas ilustres da localidade ou do concelho. Por vezes às ruas também se davam os nomes de profissões. Isso verificava-se se, por exemplo, na rua houvesse muita quantidade de homens ou mulheres a exercer determinada profissão. Em Torres Novas, por exemplo, existe, no centro histórico, a Rua dos Ferreiros e a Travessa dos Albardeiros. O ordenamento territorial da vila procurou ajustar-se aos acidentes do terreno, tanto na zona da Cerca (onde não há grandes espaços abertos) como no Arrabalde, condicionando o traçado das ruas, base da urbanidade medieva. A vila estruturava-se em dois núcleos urbanos: A Cerca: Com o eixo viário Igreja de Santa Maria e igreja do Salvador (com respectivas portas ou Arcos), com posterior ligação ao arco da Praça, donde se acedia às principais vias do Arrabalde. O Arrabalde (zona fora da Cerca): Com o duplo eixo viário, constituído pela Rua Direita (eixo norte/sul) e pelo conjunto rua da Lavada /rua da Portela (eixo este (oeste), que se cruzam na pequena Praça Velha (centro económico e social da vila). A leste e a sul da Praça, até ao rio, zona de dinâmica comercial: ruas direita, do Relego, dos Engrimanços1 e da Levada. A oeste e sul daquela, estendia-se a Judiaria e o espaço urbano da paróquia de Santiago, desde a Portela até Valverde. As ruas centrais têm nome mas as periféricas não: rua pública … A partir da Portela, para norte e oeste, na paróquia de S. Pedro a área ruraliza-se, na triangulação das estradas Alcanena/Ribeira e das Lapas, representadas dentro da vila pela ruas de S. Pedro e Direita da Ponte do Raal, unidas entre si pela rua de Tudo Leva. As indústrias transformadoras situavam-se nas margens do Almonda (especialmente desde a ponte Pedrinha até à Ponte do Cu Lamego; zonas de comércio nas Praças velha e Praça nova) [Enquanto a zona da Cerca declinava, no arrabalde viviam …os mayores e de mayor condiçom…; existindo rivalidade entre os habitantes dos dois núcleos.] Vias de Comunicação: Estradas Principais: Estrada de Santarém que unia Torres Novas a Santarém (vinda do Norte do país) e ligava à Rua Direita; Estrada dos Sardinheiros (peixe) ligava Torres Novas a Porto de Mós e daí à Pederneia; Estrada Torres Novas para a Golegã. Estradas Locais: Para norte, até Rendufas e Assentiz, com ligação à via Tomar/Ourém; ligava à Rua da Levada Para oeste, até Alcanena e Monsanto, ligava à Rua da Portela; Para noroeste, a das Lapas e da Ribeira, ligava à Rua da Portela. Via fluvial: O rio Almonda era navegável até ao Porto da Várzea: Barcas de pequena dimensão (embarcação a remos e velas para transporte de cargas pesadas) e batéis (embarcação a remos para transporte de pessoas e cargas leves)

1 Sinónimo de artimanha, engano, poderá estar relacionada com práticas menos ortodoxas de comerciantes desta rua do arrabalde torrejano

8

Ruas, pontes, portos, templos, e outros equipamentos, da vila: Rua de Maria Martins (actual rua General José de Vasconcelos Correia); Rua de Santo Espírito (parte da actual rua Almirante Reis); Rua de Santo André (parte da actual rua Almirante Reis); Rua de Santa Maria (actual rua General António César Vasconcelos Correia); Rua da Levada (actual rua Alexandre Herculano); Rua Direita (actual rua Almirante Reis); Rua da Portela (actual rua Carlos Reis); Rua do Relego (actual Travessa do Correio); Rua dos Engrimanços (actual Travessa da Bácora e Largo da Hortelosa); Rua dos Sabugueiros (actual rua Nuno Álvares); Rua de S. Pedro (junto à Igreja de S. Pedro); Rua Direita da Ponte do Raal; (actual rua 1º de Dezembro); Rua de Tudo Leva (actual rua da Corrente); Calçada do Salvador (actual rua do Salvador); Praça Velha (actual Largo Coronel António M. Baptista); Praça Nova (actual Praça 5 de Outubro); Judiaria (entre a Praça Nova e Valverde, atrás da Igreja de Santiago, perto dos espaços de maior densidade comercial) Porto do Cu Lamego (Valverde); Porto dos Gafos; Porto da Várzea; Ponte Pedrinha (actual Ponte da Levada; seria a mais antiga, ligava Torres Novas a Santarém, Tomar, Coimbra); Ponte do Duque (dos moinhos do Duque de Coimbra D. Jorge de Lencastre); Ponte do Raal; Ponte do Alvorão; Ressio2 da Vila ou Várzea Grande e Várzea Pequena; Ressio de Santiago; Ressio além da Ponte Pedrinha. Fonte (ou Chafariz) de Valverde; Fonte do Salvador; Fonte Nova Albergaria da Confraria de Jesus, na rua Direita; Albergaria da Confraria de S. Pedro no Raal; Albergaria da Gafaria, a Santo André. Hospital de S. João (acima do Arraial); Hospital de Maneos? (acima do Arraial); Hospital da Confraria de Jesus; Gafaria, (na rua Espírito Santo). Igreja do Salvador (erguida perto de onde está o actual templo); Capela de S. Jorge (onde hoje existe a Igreja do Salvador); Igreja Santa Maria de Alcárcova (ou Santa Maria do Castelo); Igreja de Santiago; Igreja de S. Pedro; Ermida de Santa Maria do Vale; Capela de Santo André (junto à gafaria); Convento do Espírito Santo; Paços do Concelho e casas da câmara [paaço da Rollaçom] (na Praça Nova, a ocidente, junto à muralha da Cerca); Açougues (na Praça Nova, a oriente); Celeiro da Rainha (Rua Direita); Celeiros familiares ou senhoriais; Covas de pão (tipo pequeno celeiro no chão); Casas de azeite; Adegas familiares; Moinhos de Rodízio; Lagares de Azeite; Lagares de vinho; Olaria / fornos de louça ou telha; Curtumes (pelames ou alcaçarias); Ferrarias; Tanoeiros; Vendas de Peixe; Caieiros; Tintureiros. Hortas; Pomares; Olivais; Vinhas;

2 O mesmo que Rossio.

9

Toponímia do núcleo central onde a feira irá decorrer SANTA MARIA DO CASTELO Terreiro do Arco do Vento – Relembra o do Beco do Arco do Vento, que existia junto ao actual edifício da câmara. O nome do beco vinha do arco ou postigo do castelo, a norte, onde havia sempre muito vento. Largo dos Heróis de Diu – Largo das Duas Igrejas, por se situar entre a Igreja da Misericórdia e a demolida igreja de Santa Maria; Largo de Santa Maria Escadinhas da Misericórdia – Por ser junto à Misericórdia de Torres Novas Rua General António César Vasconcelos Correia – Rua da Cerca / Rua Direita da Cerca / Rua do Cerco / Rua de Santa Maria ou Rua Detrás de Santa Maria. No seu início existia o Arco de Santa Maria (Porta da Cerca). Rua de Santa Maria – Junto da Igreja de Santa Maria, cujo adro vedado tinha entrada pelo Largo dos Heróis de Diu Travessa da Cerca – Travessa das Parteiras Rua Gil Pais – Travessa de Santa Maria; antes da construção da muralha de suporte à rua Praça 5 de Outubro – Praça Nova, por antonímia com a Praça Velha (Largo da Botica). Aí existia o Arco da Praça (ou Arco dos Martírio – por ter uma pedra com os Martírios do Senhor - ou de Santo António) que comunicava com o desaparecido Largo do Serra. O Pelourinho estava aí colocado. Largo dos Combatentes – [=aos da praça 5 de Outubro] Rua Carlos Reis – Rua da Portela, por confinar com o Largo da Portela; e também Rua do Correio, Rua do Barreto e Rua de Mousinho de Albuquerque. Aqui se localizava o antigo Celeiro das Freiras. Travessa Correio Velho – Topónimo por aí ter existido a estação de correios Rua Nuno Álvares – Rua de Entre Praças, por se situar entre a Praça Velha e Praça Nova, Rua de Serpa Pinto, Rua dos Sabugueiros. Largo General Baracho – Antigo Largo da Portela, entrada na então vila de Torres Novas. Largo do Conde de Torres Novas (desaparecido) – Pequeno largo, junto aos Paços do Concelho, em frente do beco do Arco do Vento e das escadas da Rua de Santa Maria. Foi absorvido pela rua General António César Vasconcelos Correia. Largo das duas Igrejas (desaparecido) – Situado entre a igreja de Santa Maria e Igreja da Misericórdia; também Largo de Santa Maria Rua da Misericórdia (desaparecida) – Entre a Praça 5 de Outubro e o Largo do General Baracho SALVADOR E LEVADA Rua de Trás os Muros – Acompanha o lado exterior da muralha da Cerca e depois a base do Castelo Rua do Salvador – Calçada do Salvador / Ladeira do Salvador / Calçada dos Mógos / Rua Direita do Salvador Travessa do Salvador – Travessa da Igreja Travessa da Cerca – Travessa das Parteiras Largo do Salvador – Travessa da Igreja Calçada António Lopes – Anterior topónimo Ladeira do Salvador, por no seu topo se situar a Igreja do Salvador e o Arco do Salvador ou o Arco da Luz (por ter uma imagem de Nª Sª da Luz) da muralha da Cerca, demolido em 1884. Rua Tenente Valadim – Rua da Esperança / Rua ou Travessa dos Gaiteiros e houve um pequeno Largo a meio chamado Largo dos Gaiteiros Rua de Entre Muros – Por ficar entre muros dum lado e a Cerca do outro

10

Rua Alexandre Herculano (calcetada das lojas) – Rua da Levada, porque havia uma levada com início na represa imediatamente a nascente da Ponte da Lavada, que corria ao lado do Rio para accionar o moinho e o lagar da Bácora. O nome de Levada estendeu-se à própria ponte que inicialmente tinha o nome de Ponte Pedrinha. Travessa da Esperança – Calçada dos Gaiteiros SANTIAGO E VALVERDE Rua Artur Gonçalves – Rua do Paço, por concluir no Largo do Paço, Rua da Estalagem, por aqui ter havido uma estalagem, Rua da Nazaré ou da Nossa Senhora da Nazaré, por terminar no largo de Nossa Senhora da Nazaré, hoje Largo do Paço, onde existia a capela de Nossa Senhora da Nazaré. Largo Coronel António M. Baptista – Praça Velha; Largo da Botica (aí houve uma antiga farmácia). Largo do Paço – Largo do Paço / Praça Nova / Largo de Nossa Senhora da Nazaré. Aí se situava o Paço da família dos Almeida, Condes de Torres Novas e depois dos Duques de Aveiro. Adro de Santiago – Largo de Santiago. Neste local, então maior decorreram as Cortes de Torres Novas em 1438. Travessa de Santiago – o mesmo que adro de Santiago Rua de Santiago – Rua de Santiago Debaixo / Rua dos Degraus de Santiago Travessa do Forno – travessa do Paço Escadinhas de Santiago – Escadas de Santiago / Beco da Rua Nova Rua Actriz Virgínia – Rua do Paço, por ter início no lugar onde foi o paço ou palácio da família dos Almeidas, condes de Abrantes e depois duques de Aveiro, donatários de Torres Novas. Também se chamou Judiaria por se situar no bairro onde em tempos medievais vivia a comunidade judaica; Vila Nova / Rua Nova.

ANJOS Rua Miguel de Arnide – Rua de Santiago / Ladeira de Santiago / Calçada de Santiago

11

ÁREA DO EVENTO – MAPA ACTUAL

12

Vida quotidiana medieva À MESA Na Idade Média existiam grandes diferenças no que respeita aos hábitos alimentares e às boas maneiras. Os horários das refeições eram distintos daqueles que hoje praticamos. Normalmente eram duas as refeições diárias, o jantar e a ceia. Jantava-se entre as 10 e as 11 horas da manhã e ceava-se pelas 18 ou 19 horas. O jantar era refeição mais forte do dia, o número de pratos servidos eram 3 sem contar com as sopas, acompanhamentos ou sobremesas. Isto para o Rei, nobreza e alto clero. Para os menos privilegiados o número de pratos ao jantar seria de um ou dois. A base da alimentação na Idade Média era a carne, sendo que em Portugal o peixe, fresco, seco, salgado ou defumado, também ocupa um lugar importante, especialmente entre as classes menos abastadas. A base da alimentação medieval para o povo miúdo residia nos cereais e no vinho. O pão era normalmente de trigo. Coziam-se grandes pães de forma circular que serviam de alimento e de prato. Grande parte da população fabricava ela própria o pão para consumo. O número de bebidas era limitado, ainda não se conheciam o chá, café ou o chocolate. Matava-se a sede com o vinho e a água. Durante muito tempo não se utilizaram pratos na Idade Média. Comiam-se a carne e o peixe sobre grandes metades de pão. Nas casas ricas esses pedaços de pão que ficavam embebidos em molho distribuíam-se pelos mendigos ou deitavam-se aos cães que rodeavam a mesa. Mais tarde esta rodela de pão foi substituída pelo prato de madeira. Nesta altura não havia garfos e usava-se muito pouco as colheres. Usavam-se as mãos para levar a comida à boca, que eram depois limpas à toalha de mesa, visto que não existiam guardanapos. Nas casas abastadas, no princípio da refeição, lavavam-se as mãos. Este serviço era feito pelos escudeiros. O “toque da água” era a maneira de anunciar a refeição e, como não existiam detergentes ou sabonetes, faziam-se infusões perfumadas com pétalas de flores ou ervas aromáticas para lavar as mãos antes de ir para a mesa. Desta época conhecem-se algumas regras de boa conduta à mesa. Num poema alemão do século XIII, Tannhäuser, destacamos as seguintes: 1. Parece-me ser homem bem-educado aquele que conhece todas as boas maneiras e nunca adquiriu maneiras grosseiras.

2. As boas maneiras são muitas e servem para muitas coisas boas; sabei que aquele que as seguir mui raramente comete uma falta.

25. Quando comerdes, exorto-vos a que não esqueceis os pobres; Deus vos recompensará bem, se os tratardes bem a eles.

33. Nenhum homem nobre deve, quando com os outros, sorver com a colher, isso farão pessoas da corte com um comportamento mui pouco NOBRE.

37. Sorver das tigelas não fica bem a ninguém, ainda que haja muitos que aprovam essa grosseria e pegam nelas avidamente e as despejam para dentro de si, como se fossem loucos.

41. Quem debruça sobre a tigela, ao comer, como porco, e bufa indecentemente e faz barulho com a boca a mastigar…

45. Alguns dão uma dentada no pão e voltam a mergulhá-lo na tigela, à maneira dos camponeses; os nobres devem evitar tal grosseria.

49. Há vários que, depois de roer o osso, voltam a pô-lo na tigela; sabei que isso não se faz.

13

53. Aqueles que gostam de mostarda e sal devem ter o cuidado de evitar fazer porcaria e não meterem os dedos lá dentro.

57. Pigarrear quando se está a comer e assoar-se à toalha são coisas que não ficam bem, tanto quanto sei.

65. Aquele que quer falar e comer ao mesmo tempo e fala muito a dormir raramente pode descansar bem.

69. À mesa devem evitar-se as gargalhadas ruidosas, quando se está a comer. Lembrai-vos amigos, que não há costumes tão maus como esse.

81. Parece-me cometer grande falta aquele que tem comida na boca e bebe ao mesmo tempo, como um animal.

85. Não deveis assoprar a comida, como alguns gostam de fazer; é uma prática ignorante, deve evitar-se tal falta de maneiras.

94. Antes de beberdes, limpai a boca, para não sujardes a bebida; esta cortesia fica sempre bem, é um cuidado cortês.

(…)

157. Não fica bem mexer nos ouvidos e nos olhos, como alguns fazem, nem tirar porcaria do nariz enquanto se come – essas três coisas não estão bem.”

HIGIENE Não se pode comparar os hábitos de higiene da época medieval com os de hoje. Nessa época não existiam os apetrechos de higiene que hoje nos são imediatamente acessíveis. Não havia água canalizada, saneamento básico, papel higiénico, escova e pasta de dentes, desodorizantes, sabonetes ou gel de banho. A pessoa cumpriria bem os seus hábitos de higiene se, por exemplo, tivesse o costume de lavar as mãos com frequência ou, na melhor das hipóteses, se tomasse banho integral meia dúzia de vezes por ano. O próprio rei, os cortesãos e os membros do clero tomavam banho muito raramente; faziam-no, sobretudo, em dias festivos. Por essa razão, os odores corporais eram bastante intensos. As pessoas mais abastadas tinham criados que as abanavam com grandes leques, de modo a afastar os maus cheiros exalados. Numa casa de família, os banhos eram tomados numa banheira comum. Sem se mudar a água, o primeiro a tomar banho era o elemento mais velho da família e o último, o mais novo. Existiam também os banhos públicos, em algumas zonas mais urbanas, locais onde as pessoas se poderiam deslocar a fim de praticar a sua higiene corporal. Com certeza os hábitos de higiene eram praticados de forma mais habitual por determinados sujeitos ou famílias e com uma menor regularidade por outros. Contudo, tal procedimento, por razões infra-estruturais, de salubridade e de saúde pública, não tem comparação com os hábitos que hoje todos temos. FOGUEIRA A fogueira era essencial não só ao aquecimento da casa, como também para se cozinhar os alimentos. Contudo, não existiam fósforos para acender o lume. Por essa razão, acender a lareira não era tarefa fácil, nem rápida. A Professora Iria Gonçalves descreve-nos assim a forma de obtenção de lume, nessa época: “por fricção de um fuzil confeccionado com um metal rico em carbono sobre uma pedra de sílex, do que se esperava resultassem faúlhas que se lançavam sobre uma matéria inflamável preparada para o efeito. Criar o fogo era, assim, acto complexo, pelo que uma pinha, um pau enresinado ou outro qualquer combustível eficaz, ateado em lume alheio, era solução bem mais simples e com frequência utilizada”.

14

ESPERANÇA MÉDIA DE VIDA Sabe-se há muito que a esperança média de vida na Idade Média era extremamente reduzida quando comparada com os dias de hoje. Morria-se, de velhice, aos 40 ou 50 anos. Na guerra, morria-se, com frequência, ainda na adolescência ou por volta dos 20 anos. De igual forma, a mortalidade infantil ou durante o parto (para mães e filhos) era elevadíssima. Era comum, numa família que tivesse 4 filhos (as famílias eram muito mais numerosas do que hoje), morrerem 3 deles antes de chegarem à idade adulta. Os casamentos eram consumados, na grande maioria das vezes, antes de as mulheres atingirem a idade adulta. Desta forma, algumas gestações surgiam antes do processo de maturação sexual estar atingido. Consequentemente, havia muitas mortes intra-uterinas, o que levava, por sua vez, à morte da mãe, por infecção. Nesse tempo medieval e nos séculos subsequentes, não existiam medicamentos como os conhecemos hoje. Nem antibióticos, nem vacinas, nem cuidados básicos de higiene e saúde, saneamento básico, canalizações ou esgotos. Aliás, tal situação só se começou a verificar de modo generalizado, na Europa Ocidental, já no século XX. Os detritos humanos eram deitados para a rua. As ruas, de cada vez que chovia, ficavam cheias de lama, o que em conjunto com os detritos desencadeava maus cheiros e um ambiente propício à propagação de doenças. Os animais e os homens partilhavam muitas vezes e sobretudo no Inverno, o mesmo espaço de habitação. A deficiente alimentação, as carestias e as fomes, as pragas que dizimavam culturas, as guerras, as intempéries, a falta de condições de higiene e a precariedade nos cuidados de higiene e saúde, eram os fortes contribuidores para a curta esperança de vida. O TEMPO Não sendo muito conhecidos os relógios, a divisão do tempo variava de estação para estação, pois era mais natural do que repartir as vinte e quatro horas. A medição do tempo estava intimamente ligada às rotinas de trabalho e ao quotidiano religioso. Por essa razão, as ordens religiosas tinham horários especiais. Na Idade Média, a vida dos homens estava quase na sua totalidade dependente das condições naturais, nomeadamente do clima e da vida agrícola, das condições de salubridade dos locais, do tipo de alimentação disponível ou da condição social de nascença. A duração dos dias, o número de horas de luz solar era preponderante para a marcação dos dias de trabalho no campo. De igual forma, nas zonas urbanas tal condição era preponderante a uma maior produtividade no trabalho, uma vez que a luz artificial, à época, significaria maior dispêndio de dinheiro e um risco acrescido de incêndio. Por tal razão, eram raros os ofícios nos quais se trabalhava durante a noite. Para fazer face ao frio e às intempéries de inverno, os mais abastados recorriam à lenha, quer para a aquecer os espaços, quer para aquecer as águas. Para o clero o dia começava à meia-noite, para as pessoas do campo ao nascer do Sol. O Sol marcava o ritmo do dia; porém, as suas divisões mais importantes eram dadas pelos sinos das igrejas. À meia-noite soavam as Matinas; às 3 horas as Laudas; às 6 horas, as Primas, hora a que começavam as missas, às 9, a Terça, hora da missa solene; ao meio-dia, a hora Sexta; às 15 horas, a Nona; às 18 horas a Véspera; às 21, as Completas. A noite dividia-se em três velas. Havia outro tipo de medições, como por exemplo a duração de certas orações: um pai-nosso, um credo, etc. Em alguns circuitos onde tal se tornava necessário, havia apetrechos (alguns ancestrais) para medir o tempo: os quadrantes solares, as clepsidras ou as ampulhetas de areia.

15

AS DISTÂNCIAS Imaginemos a vida sem aviões, sem autocarros, sem camionetas, sem motorizadas, sem automóveis, sem comboios, sem bicicletas ou até, por vezes, sem qualquer espécie de calçado. Nestas circunstâncias, as distâncias tornam-se infinitamente maiores e mais difíceis de ultrapassar e qualquer obstáculo que haja para transpor, seja este de ordem física, geográfica ou climatérica leva mais tempo a ser transposto. As deslocações não eram sequer comparáveis com as dos dias de hoje e estas circunstâncias (piores ou melhores) concorriam directamente para que a vida de um homem ou da sua comunidade fosse mais ou menos difícil. Para esta gente, o Mundo conhecido não ia muito além do mercado ou do local de peregrinação mais próximo Calcula-se que nesta época um homem, sem qualquer problema físico associado, poderia percorrer a pé 4 a 7 km por hora. Um cavalo não ultrapassaria, provavelmente, os 10 km. Porém, caso levasse carga excessiva ou se os caminhos se encontrassem em mau estado, era obrigado a afrouxar o andamento. Uma caravana rápida percorreria 40 a 60 quilómetros por dia. A expressão “Estar próximo” significava, para esses homens, estar a uma distância que poderia ser percorrida, ida e volta, desde o nascer ao pôr-do-sol. A mediação de distâncias dependia do comprimento do passo do homem ou do fôlego da sua montada. Bibliografia: ARIÈS, Philippe, dir. lit. Georges Duby, História da vida privada: da Europa feudal ao renascimento (vol. II), trad. Armando Luís de Carvalho Homem, Porto: Afrontamento, 1990 ARIÈS, Philippe, 1914-1984, Sobre a história da morte no ocidente desde a idade média, Lisboa: Teorema, 1988 DUBY, Georges, A Europa na Idade Média, Lisboa: Teorema, 1989 ELIAS, Norbert, O processo civilizacional: investigaçoes sociogenéticas e psicogenéticas, Lisboa: Dom Quixote, 1989 HAUCOURT, Geneviève d', A vida na Idade Média, Lisboa : Livros do Brasil, [D.L. 1982] HEERS, Jacques, O trabalho na Idade Média, Mem Martins: Europa-América, 1980 MATTOSO, José (dir.), Vasconcelos e Sousa, Bernardo (coord.), História da vida privada em Portugal: a Idade Média, Círculo de Leitores: Temas e Debates, 2010 web.letras.up.pt/.../A%20Concepção%20do%20Tempo%20na%20Idade%20Média.doc

16

INTRODUÇÃO AO TRAJE PORTUGUÊS NO SÉC. XV O conceito actual de moda nasce no séc. XIII, relacionado com as transformações económicas que o mundo ocidental conheceu nesta época. O nascimento de uma nova classe – a burguesia – endinheirada e urbana, a concentração da população nas cidades, as novas técnicas de produção (com novos tecidos e padrões a surgirem) assim como o início de um comércio à distancia (com consequente acesso a novos produtos e tradições) são os factores essenciais à definição da moda, que era ainda um fenómeno associado às classes mais abastadas. O vestuário dos séculos XII a XV acompanhou a evolução dos estilos artísticos. Variou como variou a concepção ornamental e decorativa do gótico. Assim se reflectiu o predomínio da linha vertical sobre a linha horizontal. A verticalidade das vestes atinge o seu limite máximo no século XV: tornava ridículos os indivíduos baixos e gordos, elegantes os que eram altos e magros. A decadência da sociedade e o gosto pelo luxo reflectem-se na moda. O século XV oscila entre a religiosidade fervorosa e o prazer desregrado. Carpem diem parece ser o lema, pois a morte espreita (é uma época de pestes, epidemias, guerras, fomes…) Socialmente, assistimos à transformação de uma sociedade feudal e senhorial para uma sociedade pré-capitalista (afirmação da burguesia), nascem as raízes do individualismo renascentista e da Reforma (heresias). A moda reflecte tudo isto: no gosto pelos adornos, na variedade e contraste de cores, na riqueza dos tecidos.3 Também as transformações sofridas nas casas (maior comodidade e protecção) libertaram os corpos de carregarem amplos mantos e túnicas. A moda em Portugal era uma imitação. Embora algo arcaica, a moda portuguesa de então era influenciada pelos figurinos da Borgonha (além-pirinéus), pelas maneiras leonesa, castelhana e aragonesa de vestir4, conjugados com as reminiscentes influências muçulmanas. HOMENS

A chamada linha X era a regra nas vestes masculinas, de gente de melhor condição.

3 Há notícia de pragmáticas contra o luxo e leis de proibição. 4 Muitas das rainhas de Portugal eram daí oriundas.

A Linha X é bem visível neste retrato de D. Afonso V

17

A linha X: Todas as vestes que cobrem o tronco procuram alargar ao máximo a linha das espátulas (ombros altos e costas largas); Uso de amplos mantões; Redução da cintura ao mínimo com alfreses e cinturões; Abaixo das cinturas, as vestes são curtas alargando a largura da anca ao máximo; Coxas e pernas modeladas por calças justas. Sapatos de grandes pontas; Chapéus muito altos e/ou largos;

Glossário VESTUÁRIO MASCULINO56 Camisa ou alcandora de linho ou seda (sobre a pele), às vezes bordada e adornada, até ao

joelho, aberta aos lados e com mangas compridas. Calças em lã ajustadas à perna (tipo meias altas), presas por cordões à cintura e ao gibão por

agulhetas, por vezes bordadas e adornadas7: com pés e solas subjacentes (calças soladas) ; sem pés, até ao tornozelo

Gibão, jubão ou porponto (tipo a actual camisa), podia ser forrado e enchumaçado8, apertava na cintura e caia sobre a anca. Era de seda ou veludo, de cores vivas, bordado, em tecido liso ou de fantasia. Podia ter gola. 9De altura e mangas variáveis (compridas e justas)

Saia ou saio (tipo o actual casaco ou colete), de seda espessa ou veludo10, forradas e entreteladas, usava-se pelo cimo da coxa. As mangas são variáveis.Também as havia de tecido muito fino (saios franceses).

Pelotes, usados por todos, era bastante justo ao corpo com ou sem mangas, curto (até meio da anca) que progressivamente foi descendo até ao tornozelo. Podiam ser golpeados (deixando ver as roupas de baixo).

Opa11 (tipo actual sobretudo), casaco muito amplo e comprido, até ao chão, com longas e largas mangas; aberta à frente, e por vezes dos lados, com gola alta, feito em fazenda, seda brocado, etc., em tecido liso ou de fantasia, ornamentada, com predilecção pelas peles, era uma veste mais de interior.

Roupa (tipo Opa para o exterior): aberta à frente ou apenas no pescoço, cobria todas as peças de vestuário, em veludo, fazenda ou seda., ornamentadas e de diversas mangas. Por o seu comprimento se ter progressivamente encurtado é difícil distingui-las dos saios ou pelotes.

Tabardo: manto até meio da perna com ou sem mangas, com ou sem capuz, aberto dos lados, de cima a baixo, que se enfiava pela cabeça.

Manto: veste longa que se vestia sobre todas as outras, fechada, fendida de lado ou aberta à frente Se no início serve, principalmente, para resguardar do frio e da chuva agora usa-se em cerimónias ou traje de cavaleiro.

Capas, curtas e ligeiras Sapatos: pontas em bico, feitos em cordovão12 , tingidos, predominando a cor vermelha e

preta, decorados, por vezes a ouro e prata. Peúgas: usavam-se sobre as calças, especialmente se estas eram sem pés. Toucas e Coifas: cobertura habitual de camponeses e artífices; Barrete: touca que os nobres por vezes usavam debaixo do chapéu.

5 Tal como hoje a moda tem variações adequadas ao gosto de cada um, por isso esta descrição deve ser vista como uma normalização. 6 Por norma usam os cabelos curtos e a cara sem barba. 7 Também se usavam calças com uma perna de cada cor 8 Tornava o peito saliente. 9 Em festas e cerimónias usam-se sem mais nada por cima, feitos em tecidos ricos e adornados. 10 Tecido mais grosso que o do gibão. 11 Desaparece ou torna-se rara a partir de meados do séc. XV. 12 Pele de cabra macerada e não curtida

18

Capeirão ou capeirote13: capuz de ponta comprida, que só deixa ver a face, com pequena capa que chega às espáduas, feito em fazenda lisa, podendo ser de seda e adornado para festas e cerimónias. A forma como foi usado evoluiu para 4 maneiras diferentes: ponta muito prolongada; adaptação da abertura destinada à cara à cabeça; de lado; rodando-o 90º. Como a ponta era comprida, passou-se a enrolá-la em torno da cabeça ou do pescoço. A pouco e pouco a forma do capuz foi-se diluindo, restando uma cobertura de cabeça tipo turbante, roda ou prato.14

Sombreiro: [Semelhante aos palhinhas de início de século XX] era feito de feltro, de pele, de pano, palha ou junco, adornado com plumas, bordados ou jóias.

Chapéus altos, de forma cónica ou arredondada, muito enterrados na cabeça. Craminholas: chapéu muito alto, de forma cónica, sem abas. Capuzes ou enxarrafas. Cintos15: usados com adorno ou suporte de arma, eram decorados. Luvas: eram de pelica fina a moldar a mão Bolsas: prendiam-se ao cinto ou ao gibão, de múltiplas formas e decorações

MULHERES16 O vestuário feminino não é tão diverso como o masculino, evoluindo pouco ao longo dos tempos medievos, condicionado pela religião, pudor e recato. As formas do corpo são dissimuladas por grandes saias, mantos, véus e toucados. Usavam perfumes e cosméticos – polvilhos de Chipre; benjoim, água de rosas.

O vestuário e a pose da mulher medieval traduzem-se na linha S: Pose: cabeça inclinada, peito encolhido, barriga espetada, pernas recuadas. Vestes: amplos pregueados à frente, cintura subida apertando o busto, duplas saias, zona ventral realçada17.

13 Também se podia chamar caperutada, capirotada ou caperotada. 14 O famoso capeirão de D. Henrique é deste tipo, com a ponta a cair até aos pés. 15 Quase todas as vestimentas masculinas são cintadas 16 Por norma usam os cabelos compridos, penteados em tranças, que se armam; as donzelas usam os cabelos soltos. 17 Chegavam a colocar enchumaços de algodão sob as cotas para arredondar a barriga.

19

Glossário VESTUÁRIO FEMININO Camisa ou alcândora: decote grande, mangas pouco justas, de linho ou lenço de Holanda

(cambraia) [por cima da camisa paninhos bem justos para aparar os seios]18; Calças: de pano ou malha, presas por ligas abaixo do joelho; Cota (actual vestido): em fazenda, veludo, seda, damasco ou brocado, tinha mangas estreitas

e compridas, aberta nas costas até abaixo da cintura. Opa19 [tipo pelote]: aberta, sem mangas, deixa ver a parte superior da saia ou da cota; depois

passou a ser fechada com mangas estreitas ou largas, cobrindo quase por completo a veste de dentro. Podia ser abotoada dos lados, nas cavas. Inicialmente, era fechada até ao pescoço, com gola alta e mangas compridas, tornando-se depois mais decotada (à frente e atrás), com decote em ponta ou triangular. Habitualmente, adornavam-se com peles nas orlas e aberturas

Capas e Mantos: em veludo, brocado, pano de Irlanda, pano de Lille… Teadas ou gargantilhas: véus quase transparentes (ou de lã) que cobriam o pescoço,

dissimulando o decote e as aberturas da cota e opa. Sapato: bicudos, a modelarem o pé, atados por laços ou fechados por botões. Podiam ter

saltos variáveis Coifas e Toucas: com ou sem fitas, justas à cabeça; Crespina ou chapéu [toucados vários]: de pano, fazenda, veludo, seda; usada por cima da

coifa, exagerava-lhe as formas, apresentavam sempre duas saliências laterais (elevações com chumaços de algodão) porque os cabelos usavam-se em traças colocadas de cada lado da cabeça. Tem múltiplas formas, feitios e adornos.

Coiffures à cornes; Hennin ou forcarete: chapéu muito alto, donde pendia um véu; Crespina simples: tipo coroa fechada. Capeirão; Véus: lisos, lavrados ou bordados; Capuz com górgea, coberto por véu: era associado às idosas, viúvas e religiosas; Enxarafa ou enxaravia: capuz em seda ou linho. Cinto: de couro, fazenda, veludo, seda ou metal, com fechos profusamente decorados. Luvas. As mulheres do povo vestiam de modo mais simples, usando tecidos lisos de lã, fustão ou bragal. As gentes de baixa condição vestem de forma simples, sem grandes alterações dos séculos anteriores, usado tecidos baratos e básicos, sem grandes adornos: Camponês ou burguês itinerante: Coifa, touca ou sombreiro na cabeça Saia até aos joelhos; Calças; Sapatos ou botas; Manto com Capuz. Camponesa:

Camisa: de linho grosseiro; Cota: mangas compridas; Opa: sem mangas e mais curta; Avental; Coifa, capuz ou sombreiro. [por vezes cinto e bolsa].

18 Por vezes colocam saquinhos por baixo da camisa para arredondar os seios. 19 A elegância media-se pela harmonia ou contraste ente a opa e a cota. Embora as formas e cores alterem segundo as modas, uma das combinação favorita foi o verde e o vermelho

20

Peões:

Pelote; Saia; Manto ou tabardo com capeirote; Calças. Criadagem:

Saia; Pelote; Capa. ADORNOS (AMBOS OS SEXOS) Estes adornos podem ser feitos com tampas de plástico de cores diferentes, botões, clips e outras peças de metais, papel alumínio, cordéis, papel rendilhados (como os dos bolos), fotografias antigas e recortes. Utilizava-se para adornar cintos, cinturões, colares, chapéus, vestes, anéis, broches e firmais, fios, braceletes, mantilhas, paternosters (terços para oração), coroas, diademas, brincos (arrecadas)20:

Ouro; Prata; Pedrarias (esmeralda, rubi, safira, aljôfar, diamante, balais (tipo rubis); pérolas, coral,

âmbar, calcedónia, serpentina, cristal, camafeus…;

TÊXTEIS Podem desenhar e pintar padrões nos vossos figurinos a partir dos motivos aqui descritos. Os têxteis eram lisos ou de fantasia, apresentando estes decorações/padrões de influência gótica: motivos florais, geométricos e animais (veados, pavões, águias, cães). Havia tecidos viados ou raiados (riscas de cor diferente do fundo. As cores usadas eram os verdes, azuis, castanhos, depois preferiu-se os vermelhos, pretos, verdes e brancos, surgindo, por fim, a combinação dos pretos, cinzentos e violetas Fazenda de lã; Veludo; Linho; Bragal (de qualidade inferior); Seda (damasco, veludo, setins, brocado, cendal ou tafetá); Burel (não tingido, esbranquiçado); Estamenha [fabrico nacional]; Escarlata (fazenda da Flandres e Inglaterra de tons vermelhos: vermelho, violeta, rosa, carmezim, morado, sanguíneo); Sarjas; Dami, ciclatons e ascarsi (sedas do Islão e Bizâncio); Sedas de Lucca (Itália); Mudgabe (importados do Islão);

20 E também pentes, espelhinhos, faquinhas, alfinete, relicários

21

PAINÉIS DE S. VICENTE DE FORA

AUTOR: Nuno Gonçalves ESTILO: Escola Portuguesa DATAÇÃO: 1450 d. C.– 1490 d. C. MATÉRIA / SUPORTE /TÉCNICA: Óleo e Têmpera (?) / Madeira de Carvalho ELEMENTOS DE CONJUNTO: A peça é formada por 6 painéis: Painel do Infante/ Painel da Relíquia/ Painel do Arcebispo/ Painel dos Cavaleiros Painel dos Frades/ Painel dos Pescadores HISTORIAL: Obra absolutamente excepcional no Portugal quatrocentista, parece não ter tido precedente no panorama pictórico do gótico europeu. Tudo indica que o seu autor seja Nuno Gonçalves. Descobertos em 1882 no Mosteiro de S. Vicente de Fora, os Painéis estão actualmente no Museu Nacional de Arte Antiga, em Lisboa, dispostos em forma de políptico horizontal que integra sessenta figuras em tamanho quase natural, ocupando toda a superfície de seis tábuas (da esquerda para a direita: painéis ditos dos Frades, dos Pescadores, do Infante, do Arcebispo, dos Cavaleiros e da Relíquia). A identidade dos representados continua a suscitar uma grande polémica, sendo certo que esta galeria colectiva de retratos procurou representar os grandes vultos da corte de D. Afonso V, envolvido no processo das Descobertas marítimas e na expansão no Magrebe.

22

PAINEL DOS FRADES

DESCRIÇÃO: No primeiro plano está ajoelhado, em oração, um frade de hábito branco. Atrás deste, em idêntica atitude, dois frades com indumentária semelhante, usando um deles grande barba e abundante cabeleira e segurando, contra o ombro, uma tábua. Figurinos Para fazer estes frades podem usar tecidos brancos, fronhas velhas ou lençóis que já não sejam usados e cobrirem-se com eles, fazendo um buraco no centro dos mesmos. Por baixo, usar uma camisola com capuz. Os barretes pretos ajudam a completar o figurino, que é muito simples.

[dimensões: altura: 207,2 largura: 64,2 espessura: 2,6]

23

PAINEL DOS PESCADORES

DESCRIÇÃO: O primeiro plano é ocupado por um penitente com os cotovelos no chão. Seguem-se, em planos sucessivos e de pé, três personagens envoltas numa rede de pesca, em cuja corda se vêem flutuadores de cortiça (a designação convencional do painel advém desta representação). Outros três indivíduos formam o grupo mais recuado da composição.

Figurinos

Para fazer os figurinos dos Pescadores podem embrulhar-se em redes de pesca! Prendem nestas peixes de cartão ou cortiça, bóias velhas encontradas à beira mar, fios a fazer de algas, conchas e destroços de mar. Podem pintar barbas na cara ou fazer umas barbas falsas, com ráfia colada sobre um papel macio, preso à cara por um cordel. Ou umas barbas de mar, uma máscara pintadas com ondas onde navegam delas barcos muito pequeninos.

Gorros e chinelos completam a personagem.

[dimensões: altura: 207,2 largura: 64,2 espessura: 2,6]

24

PAINEL DO INFANTE

[dimensões: altura: 206,4 largura: 128 espessura: 2,1] DESCRIÇÃO: No Painel do Infante assiste-se a uma cena de corte, num acto que pode ser entendido como um juramento ou veneração à família real. É o único do conjunto que integra personagens femininas (a rainha e a rainha-mãe – D. Isabel e D. Leonor) e um adolescente identificado como o Infante D. Afonso, morto aos 16 anos. À direita do santo encontra-se um homem de chapeirão borgonhês, por muitos identificado como o Infante D. Henrique, figura que dá o nome ao painel. Mas outros historiadores dizem tratar-se de D. Duarte. O Santo, a cabeça coberta com um barrete, tem nas mãos um dos Evangelhos (Evangelhos segundo S. João), que nesta obra se encontra legível ao observador. Dirige-se a um dos protagonistas, muito provavelmente ao rei D. Afonso V.

25

Figurinos SANTO 1. Dalmática

Veste própria do diácono, é utilizada na celebração da missa. Aberta dos lados, tem as mangas largas e curtas. O seu nome deriva de uma peça luxuosa de vestuário dos dois sexos usada na Dalmácia (região ao sul da Europa), por volta do século II.

Para fazer a dalmática podem usar-se lençóis velhos, tecidos ou saco de plástico dos grandes.

1. Cortar um rectângulo em que o comprimento é igual ao dobro da medida dos pés aos ombros do/a aluno/a.

2. Pintar (no caso do saco plástico

será melhor colar) uma cor contrastante com a base, como na figura.

3. Desenhar, com marcador

permanente, um padrão vegetalista inventado ou tirado dos painéis.

2. Barrete: 1. Um gorro vermelho, colocado no cimo da cabeça como vemos no painel, pode servir como o barrete do Santo. 2. Podem também fazer um de forma muito simples, em papel: Material Necessário:

Saco de papel Tesouras Agrafador Cola

1. Desenhar o formato de um gorro (meio ovo) no saco. Recortar. 2. Agrafar como na figura. Pode-se ajustar o tamanho à cabeça com o agrafador. 3. Para fazer a aureola estrelada podem usar um prato de papel dos grandes (tipo para bolo)

e pintar ou recortar neste uma estrela de muitas pontas, como a da figura. Este prato pode ser colado na parte de trás do barrete de papel ou cosido, se usarem um gorro de tecido.

Altura dos ombros aos pés

Dobrar ao meio

Cabeça

26

3. Missal: Pode usar-se um missal verdadeiro, ou optar por forrar um livro grosso e levá-lo aberto ao meio, com essas páginas escritas com caligrafia gótica.

RAINHA D. ISABEL Vestida com uma cota e opa, a Rainha D. Isabel, de joelhos ao lado direito do Santo, usa um Hennin na cabeça, além de outros adornos como colares e ainda um terço na mão. Relativamente ao vestido (cota e opa) e se quiserem fazer um figurino mais completo, podem usar um vestido velho da mãe, ajustado aos seus corpos com fita cola. É importante situar a cintura na altura devida. Os colares podem ser feitos missangas velhas, tampas de garrafas, pedaços de papeis rendilhados (como os usados para os bolos), arames, restos de fios eléctricos. O hennin, que a rainha usa na cabeça, é um toucado de origem estrangeira, semelhante a uma crespina em cone, de cujo vértice caía um finíssimo véu. Os hennins tinham formatos diferentes.

Vários tipos de Hennin

27

1. Para fazer um Hennin como o da Rainha D. Isabel Material:

Folhas de Jornal Arame Cordel Cola Branca Cartolina Tesoura

1. Este Hennin é feito de folhas de jornal enroladas em torno de arame grosso. 2. Para fixar o jornal ao arame colar com cola branca um lado da folha ao arame e

enrolar a partir daí, colando depois no fim. Estes tubos podem ficar mais ou menos grossos, consoante quiserem. Uma ponta destes “tubos” deve estar solta para fazer o efeito do topo do hennin, tal como na fig. 1.

3. Corte uma tira de cartolina ou cartão de embalagens, com cerca de mais 4 cm que medida do diâmetro da cabeça. Forre com jornal.

4. Cole os tubos na tira de cartão e cole-as cruzadas como na figura 2. As estrelas aqui representam as pontas soltas do jornal.

5. Prender os cruzamentos com um cordel de cor (a vermelho no desenho). Se necessário cruzar um outro arame no topo do hennin, para dar maior estrutura ao chapéu.

6. Fechar em círculo e colar as pontas da tira base. 7. Decorar.

Fig 1

Fig. 2

28

2. Hennin cónico para damas:

1. Materiais: Cartolina; tesoura; agrafador; cola; fitas de embrulho; outros materiais para decorar; elásticos ou fitas para prender. 2. Recortar um quadrado na cartolina Desenhar no quadrado um quarto de círculo (grande o suficiente para a cabeça) 3. Recortar. 4. Junte os dois lados do círculo, formando o cone. Pode ser necessário cortar um bocadinho da ponta. 5. Quando achar que o cone já está bem ajustado e antes de colar as extremidades, podes colar na ponta as fitas brilhantes ou o pedaço de véu. 6. Cole as extremidades 7. Agrafe as fitas/elásticos que prendem o chapéu em cada lado. FIM!

29

RAINHA D. LEONOR

A Rainha D. Leonor, Rainha-mãe, veste um toucado característico das mulheres mais idosas e um manto. A base (capuz) pode ser feita com um rectângulo de tecido, que é colocado em cima da cabeça e fechado com linha ou com velcro. Deve ser comprido o suficiente para cobrir os ombros. Para apertar mais este tecido junto ao pescoço, pode fechar-se com um cordel da mesma cor do tecido. No topo desta base (da cabeça) prender um quadrado de tecido que pode ser cosido ou colado com uma cola forte, que cai sobre a cabeça. Por cima dos ombros, colocar uma enorme capa (v. instruções na pág. 29)

INFANTE D. HENRIQUE OU D. DUARTE Para fazer o figurino desta figura polémica, que uns autores identificam como o Infante D. Henrique e outros como D. Duarte, propomos a construção do chapeirão borgonhês, o enorme chapéu singular, que esta personagem usa. Pode acrescentar-se ao figurino uma capa preta.

1. Chapeirão Borgonhês Material: Prato de papel grande x-acto tecido preto Cola Caixas de cartão de cereais Tinta preta

30

Para a base do chapéu pode usar-se um prato de papel dos grandes (para bolos). No centro do prato cortar um circulo com aproximadamente o diâmetro da cabeça. Cortar 10 fitas de papel (das embalagens de cartão vazias) com cerca de 28 cm x 2 cm. Dobrar as pontas destas tiras cerca de 2 cm. Colar as pontas dobradas das tiras no círculo interior da aba, de forma a fazer uma semi-esfera para a cabeça. Pintar de preto. Colar uma tira de cerca de 30 cm x 70 cm pedaço de tecido preto, no lado direito do chapeirão, que cai sobre os ombros. 2. Capa: Material:

Tecido ou saco plástico Tesoura Cordel ou velcro Material para decorar

1. Recorte um quadrado do tecido ou plástico. Este quadrado deve ter o dobro do comprimento com que a capa vai ficar – medir a criança que a vai usar dos ombros aos pés e multiplicar por dois. Dobrar o quadrado em quarto.

2. Cortar um cordel com o tamanho de um dos lados, atar-lhe uma caneta ou giz a uma ponta e segurar a outra no centro (bola azul). Com o cordel desenhar um quarto de círculo. (tracejado vermelho no desenho). Cortar ao longo dessa linha (se abrisse o quadrado teria um enorme círculo)

3. Cortar uma das dobras até ao centro. Isto criará uma abertura. Cuidado para não cortar duas dobras.

4. Fazer outro quarto de círculo com cerca de 5 cm e recortar. Isto será o pescoço.

31

5. Abrir e colocar na criança. Colar ou coser um cordel ou velcro de cada lado da abertura para atar a capa ao pescoço do pequeno Infante.

6. Podem decorar a capa como desejarem, com tampas de plástico, missangas, desenhos, respeitando a austeridade desta personagem.

INFANTE D. AFONSO (o adolescente)

Chapéu:

1. Material Necessário: Saco de papel Tesouras Agrafador Cola branca Papel alumínio

1. Colar papel alumínio em todo o saco. 2. Desenhar o formato de um gorro (meio

ovo) no saco. Recortar. 3. Agrafar como na figura. Pode-se ajustar o

tamanho à cabeça com o agrafador. 4. Decorar com outros papéis / ataches /

botões 2. Uma outra maneira de fazer este chapéu: Material Necessário: Embalagens Tetra-pack Tesouras Cordel furador Cola

1. Cortar uma tira de tetra pack com o diâmetro da cabeça. 2. Recortar um meio-ovo com a altura que se desejar e a largura de meia cabeça. 3. Colar o meio-ovo na tira. 4. Decorar com ataches ou botões, numa linha central vertical, como na figura do

painel. 5. Fazer dois furos nas pontas da tira que envolve a cabeça 6. Prender com cordel

32

Espada e cinto: Para fazer a espada pode usar-se cartão grosso castanho (as caixas de cartão servem bem como base). Basta recortar dois rectângulos, um pequeno (punho) e um grande e comprido (lâmina). Recortar a lâmina de forma a ficar pontiaguda. Colar o rectângulo pequeno sobre o grande, em cruz. Decorar o punho. O cinto pode ser feito com uma tira de tecido ou de tetra-pack, presa com um cordel e decorado com tampas, botões… Se quiserem fazer um figurino mais completo podem usar uma base muito simples, feita com um rectângulo de tecido de cor com um buraco para a cabeça no centro.

O lado mais curto do rectângulo deve ter a largura dos ombros e o maior pode variar consoante queiram a base mais comprida ou mais curta, mas sempre acima do joelho, como se usava na altura. Sobre esta base podem colocar um cinto, feito de tecido ou outro material, consoante a figura que querem encarnar. Debaixo da base pode usar-se uma camisola lisa e colants ou leggings pretos ou com cor.

Esta base serve para muitos dos figurinos e voltaremos à mesma sempre que necessário. Vamos chamá-la de Base Geral.

D. AFONSO V

Para fazer o figurino de D. Afonso V, pode usar os mesmos elementos do infante D. Afonso (base geral, chapéu e espada), atendendo à particularidade de alguns pormenores, como os fios que caem do chapéu e da espada deste e o padrão vegetalista das roupas. Pode acrescentar a este figurino umas botas castanhas, de cano alto.

33

PAINEL DO ARCEBISPO

[dimensões: altura: 206 largura: 128,3 espessura: 2,3] DESCRIÇÃO: O Santo sobraça um livro e segura na mão esquerda uma vara dourada. Aos pés tem um molho de cordas. À sua roda uma brilhante companhia de cinco cavaleiros, vestindo dois deles armaduras de aparato e os três restantes gibões recobertos de jaques estofados ou de cotas de malha. Empunham lanças ou espadas embainhadas. No plano mais afastado, rodeado de sacerdotes e outros dignitários, vê-se um bispo ou arcebispo (daí a designação convencional do painel).

34

Figurinos SANTO (v. pág.25) Trazer um livro fechado e um pau dourado na mão. Pode também trazer umas cordas. BISPO

MITRA (chapéu do bispo): As medidas são gerais, sendo que depois tem que haver ajuste consoante o tamanho da cabeça do aluno. O sítio onde se fazem as dobragens laterais dá mais ou menos a medida correcta.

1. Dobrar uma folha de Craft/ ou de jornal com cerca de 50 cm x 70cm

2. Dobrar as duas pontas de cima até se encontrarem no meio.

3.Dobrar a parte de baixo 2 vezes. Esta dobra faz uma banda central.

4a.Virar ao contrário e dobrar os lados até ao meio (é com esta medida que se vê se o chapéu está à medida da cabeça. Se for necessário pode dobrar-se deixando espaço no meio.) O resultado nesta fase depende muito do tamanho do papel e da cabeça, não tem ficar exactamente igual ao desenho. 4b. Dobrar a ponta de cima como indicado no desenho. 4c. O resultado deve ser mais ou menos como a figura 4c.

35

5. Dobrar as pontas de baixo.

6. Dobrar Duas vezes a ponta de baixo resultante de forma a encaixá-la na banda central.

7a. Até agora o papel deve estar mais ou menos como na figura a. 7b. Agarrar no meio da parte baixo, nos dois pontos vermelhos no

desenho e abrir completamente até os pontos laranjas se tocarem, como na figura 7c.

7c. O Bispo acaba aqui – é só levantar a dobra pontiaguda de cima e abrir a parte de baixo, onde encaixa a cabeça

36

Para continuar para chapéu do Povo:

8. 8a Dobrar os lados uma e outra vez, encaixando a ponta na banda central

8b. Abrir pelos pontos laranja no desenho e temos um chapéu do povo. Com uma ponta atrás que pode ser aumentada usando um cone de craft mais ou menos comprido consoante queiram. Este extra pode ser agrafado ao original

Outra MITRA:

1. Dobre um quadrado ao meio

2. Dobre os dois cantos de cima, de maneira a encontrarem-se no centro.

3. Dobre a tira mais perto de si ao meio, e volte a dobrá-la para cima dos triângulos.

4. Vire o papel. Dobre os lados para o meio.

37

5. Dobre os cantos de baixo, até à tira.

6. Dobre o ponto central debaixo ao meio e de novo para cima de forma a encaixar na tira.

7. Abra e ponha o chapéu na cabeça! FIM!

____________________________________________________________________________________ OUTROS ADEREÇOS CLERO: O clero caracteriza-se pelas vestes longas e largas, grandes mantos e ainda o uso de crucifixos e báculos (bastões episcopais, curvos na ponta) Com tecidos, sacos de plástico ou mesmo papeis fazem-se os mantos ou partes deles, como a peça que cai sobre os ombros destas figuras, muito decoradas. Os crucifixos podem ser recortados em cartão para pendurar ao pescoço ou à cintura ou então podem recortar-se em papel veludo e colados nos mantos. Para os Báculos, podem usar a técnica do papel maché à volta de um pau comprido ou de um arame. PARA FIGURINO CAVALEIROS VER O PAINEL SEGUINTE

38

PAINEL DOS CAVALEIROS DESCRIÇÃO: Ocupam os dois primeiros planos da pintura três cavaleiros, vestindo ricos trajes de corte. Dois têm a cabeça coberta com gorros. Estão todos armados com espadas. Segue-se-lhes uma figura com barba e de farta cabeleira negra, coberta por uma capelina de aço. Os quatro eclesiásticos que se vêem no fundo da composição vestem sobrepelizes e têm a cabeça coberta com barretes roxos. Dado tratar-se de uma cerimónia real, os cavaleiros usam os seus melhores trajes, muito luzidios. Trazem ao pescoço jóias e vestem luvas brancas. Estes pormenores são importantes para a caracterização destas figuras.

[dimensões: altura: 206,6 largura: 60,4 espessura: 2,2]

39

Figurinos

ARMADURA: Base:

1. Cortar ambos os lados mais compridos de um saco plástico do lixo ou de uma fronha de almofada velha, de maneira a ficarem abertos.

2. No fundo, cortar o buraco para a cabeça. 3. Esta pode ser a base para colar as escamas. Ou então pintar nela símbolos

heráldicos ou padrões. 4. Em cima colocar um cinto.

“Escamas” de metal a) Colar papel de alumínio em folhas de jornal. Usar cola branca de madeira e deixar secar bem. Desenhar numa cartolina ou cartão uma meia oval. Recortar e usar como molde contornando no jornal, repetindo a forma, uma ao lado da outra, quantas vezes for necessário. Recortar. Colar na base até cobri-la como gostar. b) Uma forma mais simples de fazer as escamas é usar embalagens de leite e sumo de Tetrapack, cujo interior já é metalizado. A desvantagem é que tem que se fazer as “escamas” uma a uma.

ESPADAS, LANÇAS E ESCUDOS: Os escudos podem ser feitas com cartão canelado, colando atrás uma corda ou uma tira de cartão, para fazer uma pega. Podem pintar os escudos com os mesmos desenhos da base/colete. Para as espadas v. Pág. 33. Podem também usar tubos de cartão, fazer um punho numa rodela de cartão e pendurar enfeites metálicos feitos de cordel e caricas, talheres, clips, moedas velhas.

ELMOS

1. ELMO de embalagem plástico:

Material Necessário: Embalagem de plástico de base

quadrada ou redonda (a base deve ser suficientemente grande para encaixar na cabeça

Tesouras Tintas ou papel alumínio Lixa

Como fazer:

1. Segurar a embalagem virada ao contrário, para corta-la.

2. Olhe para a fotografia para perceber como cortar. Se tiver uma asa, corte essa zona e a parte de cima da embalagem.

3. Lixe quaisquer pontas que possam magoar.

4. Pinte.

40

2. CAPACETE de saco de papel: Material Necessário:

Saco de papel Tesouras Agrafador Cola

Desenhar o formato de um gorro (meio ovo) no saco. Recortar.

Agrafar como na figura. Pode-se ajustar o tamanho à cabeça com o agrafador. Para dar um efeito metálico pode colar-se papel alumínio antes de recortar. É importante o papel estar todo bem colado, senão rasga. Este chapéu, muito simples, também pode ser uma coroa. Para isso podem enriquecê-lo com missangas, papéis brilhantes, jóias!

1. ELMO Material: 1 Folha de Jornal

41

PROTECÇÕES/PULSEIRAS/JÓIAS Cortar embalagens de café, em cima e baixo, de forma formar um tubo. Podem virar algumas do avesso de forma a que o lado prateado fique visível. Vestidos por cima de uma camisola, estes tubos podem ser pulseiras e cotoveleiras, que protegem e enfeitam os corpos dos cavaleiros. Para as Jóias e como já foi sugerido, podem usar materiais diversos como tampas, clips, talheres, aros de metal, papeis rendilhados, entre outros. BARBAS E CABELOS: Podem fazer barbas e cabeleiras falsas, usando ráfia ou lãs macias. Para a cabeleira é mais fácil se colarem os fios numa toca de banho. Para as Barbas, basta fazer uma máscara em papel e colar aí os falsos pêlos. Depois basta colocar um cordel para atar à cabeça.

42

PAINEL DA RELÍQUIA DESCRIÇÃO: Neste painel ocupa o primeiro plano uma personagem que mostra, sobre um rectângulo de veludo verde, uma relíquia. Uma relíquia é um objecto preservado para efeitos de veneração no âmbito de uma religião, sendo normalmente uma peça associada a uma história religiosa. Podem ser objectos pessoais ou partes do corpo de um santo ou personagem sagrada. Atrás está de pé outro indivíduo que veste uma samarra escura e traz no peito uma estrela. Tem nas mãos, aberto, um livro escrito em caracteres indecifráveis. Ao lado dele está um mendigo, e, no plano mais afastado, à direita, dois eclesiásticos de sobrepeliz.

[dimensões: altura: 206,5 largura: 63,1 espessura: 2,2]

43

Figurinos

MENDIGO

Para fazer o mendigo podem usar roupas velhas e largas (dos pais e avós), sapatos e meias rotas e sujarem a cara e as mãos de graxa. Podem também usar tecidos pobres como a serapilheira para fazer um manto que os cobre. O mendigo anda com um cajado, que podem tentar arranjar em casa ou procurar um pau com o tamanho adequado. Corcundas, verrugas, uma bolsa para pedir, uma panela para encher de sopa são outros pormenores que enriquecem a personagem.

RELÍQUIA

Pode ser um objecto pessoal do aluno, que este escolhe como a sua relíquia. Podem também inventar outras, juntando objectos encontrados na rua, transformando-os em tesouros – pedras, paus, cordéis, folhas.

LIVRO

Usar um livro velho e escrever na página que vai aberta em letras ilegíveis.

VESTES

Os frades vestem vestes muito largas e compridas. Se quiserem fazer um figurino mais completo podem usar lençóis velhos e embrulharem-se neles, prendendo com cintos, alfinetes ou mesmo fita-cola. Os barretes são também uma peça importante e que um gorro comum pode imitar.

44

POVO

Embora o povo não apareça muito representado nos painéis, excepto nas figuras dos pescadores e outras secundárias, damos aqui algumas sugestões para a construção de figurinos, para que este também apareça representado.

Dois Chapéus Diferentes para o Povo (rapazes e raparigas) 1. Material: Folha de Jornal, craft ou papel de lustre de cor

45

2. Materiais:

Folha de Cartolina A3 Cola Elástico ou fita

Como fazer:

1. Dobrar cerca de 4 cm de um dos lados do papel. 2. Dobrar a cartolina ao meio. 3. Vire a dobra para si. 4. Dobre a ponta do boné cerca de 3 cm e cole para segurar. 5. Cole as fitas nas pontas da frente.

BOBO

1. Corte uma tira de papel craft ou de cartolina com cerca de 2 cm e suficientemente comprida para dar a volta à cabeça. Cole as extremidades

2. Faça triângulos de papel

de cores diferentes, dobrando quadrados de papel na diagonal.

3. Sobreponha os triângulos inserindo uns dentro dos outros, como na imagem. Ajuste-os de forma a, no seu conjunto, ocuparem toda a tira da cabeça. Cole-os uns aos outros

46

4. Cole o conjunto na tira, por dentro. Abra ligeiramente de forma aos triangulos que ficam para dentro chegarem ao centro. Cole-os uns aos outros no lugar. (isto pode ter que ser forçado).

5. Corte os triângulos de fora ao meio, começando na ponta. Fica com dois triângulos em cada um. Dobre as pontas de forma irregular. Na ponta cole uma missanga, um guizo ou um pompom.

47

PENTEADOS – TRANÇAS

Com três mechas de cabelo:

Com 4 ou mais mechas de cabelo:

1º Método·

2º método (mais simples)

Entrançar missangas no

cabelo: Cores de Missangas: Pérola | Ouro | Prateado | Preto Começar por fazer fios enfiando as pérolas em fitas. Depois podem tratar estes fios como um pedaço de cabelo, entrançando normalmente.

Por cima da cabeça:

48

Dividir o cabelo ao meio. Prender a fita no topo da cabeça com um gancho, deixando cair metade para cada lado. Começar a entrançar o cabelo com a fita. No fim podem usar a fita que sobrar para prender a trança, enrolando-a à volta do cabelo que sobra. Para maior segurança é melhor usar um elástico e só depois enrolar a fita.

Outra forma, mais simples: Pegar num pedaço de fita com o dobro do tamanho do cabelo. Amarrar o cabelo com a mesma. Separar o cabelo em duas mechas. Entrançar.

Trança paralela:

Dividir o cabelo em duas colunas. Entrançar a fita como na figura .

49

OUTRAS IMAGENS:

50

FONTES Consultadas: BICHO, Joaquim Rodrigues – Toponímia da Cidade de Torres Novas: Câmara Municipal de Torres Novas, 2000. CÂMARA MUNICIPAL DE TORRES NOVAS – Torres Novas – Memórias da História – Roteiro. Torres Novas: Câmara Municipal de Torres Novas, 2000. GONÇALVES, Artur – Anais de Torres Novas. Torres Novas: ed. O Almonda, 1986 (2ª ed). [1ª ed., C.M.T.N., 1939]. GONÇALVES, Artur – Memórias de Torres. Torres Novas: ed. O Almonda, 1990 (2ª ed). [1ª ed., C.M.T.N., 1937]. GONÇALVES, Artur – Mosaico Torrejano. Miscelânea de retalhos do passado e do presente de Torres Novas para memoração no futuro. Torres Novas: ed. O Almonda, 1999 (3ª ed). [1ª ed., C.M.T.N., 1936]. GONÇALVES, Artur – Torres Novas. Subsídios para a sua história. Torres Novas: ed. O Almonda, 1999 (3ª ed). [1ª ed., C.M.T.N., 1935]. MARQUES, António Henrique Oliveira – A Sociedade Medieval Portuguesa. Lisboa: Livraria Sá da Costa Editora, 1987 (5ª ed.) [1ª ed.1959] MOLEIRO, Margarida; DIAS, Hélder - Torres Novas no tempo de D. Manuel I. Torres Novas: Município de Torres Novas, 2010. MUSEU MUNICIPAL CARLOS REIS – Turres. Catálogo do núcleo permanente de história do concelho. Torres Novas: MMCR, 2006. Link com contextualização e descrição das Cortes de 1438 [e sua conjuntura] http://books.google.pt/books?id=Ad6SHXBOlbAC&printsec=frontcover&dq=a+batalha+de+Alfarrobeira&source=bl&ots=ACFB2mcZmH&sig=-Os6i5RHX-MjXinF-MG2wULj9Tg&hl=pt-PT&ei=SXpSTcKwPISAhAeDhJS8CQ&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=5&ved=0CEMQ6AEwBA#v=onepage&q&f=false Para consultar/ver objectos museológicos do século XV e XVI, em território nacional, consultar as seguintes bases de dados21: MATRIZ NET [Base de Dados do Instituto dos Museus e da Conservação] http://www.matriznet.imc-ip.pt/ipm/MWBINT/MWBINT02.asp MATRIZ PIX [Base de Dados de Imagem do Instituto dos Museus e da Conservação] http://www.matrizpix.imc-ip.pt/matrizpix/ Link com informação sobre os Painéis de S. Vicente de Fora: Matriz Net: http://www.matriznet.imc-ip.pt/ipm/MWBINT/MWBINT00.asp Matriz Pix: http://www.matrizpix.imc-ip.pt/MatrizPix/Fotografias/FotografiasListar.aspx?TIPOPESQ=2&NUMPAG=3&REGPAG=50&CRITERIO=pain%C3%A9is+de+S.+Vicente+de+fora

21 Estas são as mais completas.