caderno pedagogico educacao infantil 2005

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    CADERNO DE ORIENTAES DIDTICO-PEDAGGICAS

    EDUCAO INFANTIL

    Janeiro/2005

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    ndice

    OBJETIVOS GERAIS DA EDUCAO INFANTIL .............................................................................. 4

    CURRCULO DA EDUCAO INFANTIL ................................................................................................ 5

    CONTEDOS .................................................................................................................................................. 8

    Crianas de zero a trs anos ............................................................................................................ 8

    Convivendo com a criana de zero a trs anos........................................................................... 8

    Construo da Oralidade .................................................................................................................... 9

    FORMAO PESSOAL E SOCIAL ........................................................................................................ 11

    Identidade e Autonomia ..................................................................................................................... 11

    INTERAO ............................................................................................................................................. 12DIVERSIDADE E INDIVIDUALIDADE ............................................................................................. 13

    APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA E CONHECIMENTOS PRVIOS ..................................... 13

    RESOLUO DE PROBLEMAS ............................................................................................................. 14

    PROXIMIDADE COMA AS PRTICAS SOCIAIS REAIS ............................................................ 14

    VALORES E ATITUDES ......................................................................................................................... 15

    A CRIANA E O MOVIMENTO ........................................................................................................... 16

    O primeiro ano de vida..................................................................................................................... 16Crianas de um a trs anos ............................................................................................................. 17

    PRESENA DA MSICA NA EDUCAO INFANTIL: .................................................................. 18

    Idias e prticas correntes............................................................................................................ 18

    A criana e a msica......................................................................................................................... 19

    ORIENTAES GERAIS PARA O PROFESSOR .............................................................................. 21

    Organizao do tempo ....................................................................................................................... 22

    OFICINA .................................................................................................................................................... 23

    Organizao do espao ...................................................................................................................... 24

    As fontes sonoras ............................................................................................................................... 25

    O registro musical .............................................................................................................................. 26

    PRESENA DAS ARTES VISUAIS NA EDUCAO INFANTIL: IDIAS E PRTICASCORRENTES .............................................................................................................................................. 27

    A criana e as Artes Visuais .......................................................................................................... 29

    CRIANA E A LINGUAGEM ................................................................................................................. 31

    Desenvolvimento da linguagem oral................................................................................................ 31Desenvolvimento da Linguagem Escrita ........................................................................................ 33

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    ORIENTAES GERAIS PARA O PROFESSOR .............................................................................. 34

    Ambiente alfabetizador .................................................................................................................... 34

    ORGANIZAO DO TEMPO ................................................................................................................ 35

    Atividades Permanentes .................................................................................................................... 35PROJETOS ................................................................................................................................................ 36

    SEQNCIA DE ATIVIDADES ........................................................................................................... 37

    Os recursos didticos e sua utilizao ........................................................................................ 37

    A CRIANA, A NATUREZA E A SOCIEDADE ................................................................................. 38

    PRESENA DA MATEMTICA NA EDUCAO INFANTIL: IDIAS E PRTICASCORRENTES .............................................................................................................................................. 41

    Repetio, Memorizao e Associao......................................................................................... 41

    Do Concreto ao Abstrato ................................................................................................................. 42Atividades Pr-Numricas ............................................................................................................... 42

    Jogos e Aprendizagem de Noes Matemticas....................................................................... 42

    A criana e a matemtica ................................................................................................................ 44

    CONTEDO ................................................................................................................................................... 45

    Crianas de quatro a seis anos ...................................................................................................... 45

    Convivendo com a criana de 4 a 6 anos .................................................................................... 46

    Formao pessoal e social ................................................................................................................ 46Identidade e autonomia .................................................................................................................... 47

    Conhecimento de mundo .................................................................................................................... 48

    Movimento .............................................................................................................................................. 49

    Artes visuais ......................................................................................................................................... 49

    Msica ..................................................................................................................................................... 50

    Linguagem oral e escrita.................................................................................................................. 51

    Natureza e Sociedade ....................................................................................................................... 53

    Conhecimento lgico-matemtico ................................................................................................... 54

    Pedagogia de projetos ....................................................................................................................... 56

    Brincadeira coisa sria .................................................................................................................. 58

    Construindo o letramento ................................................................................................................. 59

    Valores e atitudes .............................................................................................................................. 60

    Avaliao ................................................................................................................................................ 62

    EDUCAR CRIANAS COM NECESSIDADES ESPECIAIS ............................................................ 63

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    OBJETIVOS GERAIS DA EDUCAO INFANTIL

    A prtica da educao infantil deve se organizar de modo que as crianasdesenvolvam as seguintes capacidades:

    Desenvolver uma imagem positiva de si, atuando de forma cada vez mais independente,com confiana em suas capacidades e percepo de suas limitaes;

    Descobrir e conhecer progressivamente seu prprio corpo, suas potencialidades e seuslimites, desenvolvendo e valorizando hbitos de cuidado com a prpria sade e bem-estar;

    Estabelecer vnculos afetivos e de troca com adultos e crianas, fortalecendo suaauto-estima e ampliando gradativamente suas possibilidades de comunicao einterao social;

    Estabelecer e ampliar cada vez mais as relaes sociais, aprendendo aos poucos aarticular seus interesses e pontos de vista com os demais, respeitando a diversidade edesenvolvendo atitudes de ajuda e colaborao;

    Observar e explorar o ambiente com atitude de curiosidade, percebendo-se cada vezmais como integrante, dependente e agente transformador do maio ambiente evalorizando atitudes que contribuem para sua conservao;

    Brincar, expressando emoes, sentimentos, pensamentos, desejos e necessidades;

    Utilizar as diferentes linguagens (corporal, musical, plstica, oral e escrita) ajustadoss diferentes intenes e situaes de comunicao, de forma a compreender e sercompreendido, expressar suas idias, sentimentos, necessidades e desejos e avanarno seu processo de construo de significados, enriquecendo cada vez mais suacapacidade expressiva;

    Conhecer algumas manifestaes culturais, demonstrando atitudes de interesse,

    respeito e participao frente a elas e valorizando a diversidade.

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    CURRCULO DA EDUCAO INFANTIL

    A Educao Infantil tem como objetivo desenvolver a criana em seus aspectos fsico,

    psicolgico, intelectual e social, complementando a ao da famlia e da comunidade. E devecumprir duas funes indispensveis e indissociveis: cuidar e educar. Um currculo quecontemple a criana em sua totalidade deve propor a adoo de polticas contextualizadas, deforma a superar a idia fragmentada e compartimentalizada das aes educativas,favorecendo a construo de prticas que respondam s demandas da criana e de seusfamiliares.

    A implementao do trabalho educativo deve considerar as constantes mudanas naconjuntura mundial, como a globalizao e a informatizao dos meios de comunicao, quetm trazido uma srie de reflexes sobre o papel da Escola dentro desse novo modelo de

    sociedade.Uma proposta educativa precisa considerar que, durante o seu desenvolvimento, a

    criana passa por diferentes etapas, diferentes formas de pensar e de agir, que caracterizamsuas relaes com o mundo fsico e social. A ordem em que as etapas se sucedem a mesma,porm a idade em que ocorrem varia segundo cada indivduo. Diferentes ritmos constituemuma maneira sadia de crescer.

    Por meio das relaes com o outro, a personalidade vai sendo construdagradativamente; portanto, a Educao Infantil exerce grande e definitiva influncia naformao pessoal e social da criana, numa perspectiva de educao para a cidadania que se

    reflete na qualidade de formao do ser humano que interage ativamente no meio em que vive.Essa criana possui uma identidade prpria e exige uma educao que a respeite como

    ser em desenvolvimento e no um vir a ser, em preparao para saberes futuros. Numaperspectiva de educao para a cidadania, o Currculo deve possibilitar o alcance de trsobjetivos bsicos na Educao Infantil:

    Construo da identidade e da autonomia.

    Interao e socializao da criana no meio social, familiar e escolar.

    Ampliao progressiva dos conhecimentos de mundo.

    A ao pedaggica dever estabelecer, na relao cotidiana, pressupostos bsicos emedidas didticas que facilitem os princpios norteadores para a aprendizagem coletiva e quefavoream relaes significativas da criana com seus pares e consigo mesma.

    Considerando que todo ser humano traz consigo sua histria de vida, certo que acriana, quando chega Escola, possui saberes culturais ricos de significados. A educaoformal favorece a utilizao de tais saberes na aquisio de novos conhecimentos, isto , apartir de estruturas j construdas, a criana assimila e interage com o novo.

    Sabendo como o indivduo constri a sua autonomia, isto , como a pessoa aprende a seautogovernar, a Educao Infantil considerar o que as crianas so capazes de fazer de

    acordo com o seu estgio de desenvolvimento.Constance Kamii e Rheta Devris, estudiosas da obra de Piaget, descrevem os trs

    princpios do domnio scio-afetivo:

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    1. Encorajar a criana a tornar-se progressivamente autnoma, frente aos adultos.

    2. Encorajar as crianas a interagir e a resolver seus conflitos.

    3. Encorajar a criana a ser independente e curiosa, a tomar iniciativa na prossecuo dosseus interesses, a ter confiana na sua capacidade de fazer uma idia prpria dascoisas, a exprimir suas idias com convico e a acabar com seus medos e as suasangstias de maneira construtiva e a no se desencorajar facilmente.

    Em relao ao domnio cognitivo, Kamii e Devris relacionam os seguintes princpios:

    1. Ensinar dentro do contexto do jogo da criana.

    2. Encorajar e aceitar as respostas erradas da criana.

    3. Pensar em que que a criana pensa (...).

    4.

    Ensinar tanto os contedos como os processos.

    No decorrer da Educao Infantil, h uma srie de saberes culturais que devem serconhecidos e de aspectos que ajudam a desenvolv-los. Isso refere-se intimamente aoscontedos educativos, ressaltando-se que estes contedos tm um tratamento especial,contextualizado, no-fragmentado e significativo.

    Os contedos organizados em torno de reas de conhecimento, so mbitos deexperincias muito prximas da criana, tais como:

    A descoberta de si mesma.

    A descoberta do meio social e natural.

    A intercomunicao e as linguagens.

    Atualmente, identificam-se como contedos de aprendizagem todos os aspectos que acriana precisa conhecer, saber fazer, ou melhor, saber se comportar: conceituais,procedimentais e atitudinais.

    Esses trs tipos de contedos coexistem em um eixo de diferentes aprendizagens, quedevem ser realizados na Escola:

    Fatos, conceitos e princpios:

    o Fatos: primeiras informaes, primeiras noes, dados.

    o Conceitos: conjuntos de objetos, fatos ou smbolos que possuem princpios,caractersticas comuns na Educao Infantil: aproximaes globais aosconceitos, primeiras conceitualizaes de como funciona o mundo,relacionamento de coisas, articulao de hipteses, etc.

    Procedimentos:

    o Os procedimentos podem ser mais diretos, como aes ordenadas para facilitar

    a resoluo de diversos problemas ou mais fechados, como as tcnicas ouatividades sistematizadas e relacionadas com a aprendizagem concreta. Umprocedimento um conjunto de aes ordenadas e finalizadas, ou seja,

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    orientadas consecuo de uma meta. Para que um conjunto de aes constituaum procedimento, preciso que se oriente para uma meta e que as aes ou ospassos se sucedam com uma certa ordem (Coll).

    Atitudes, valores e normas:

    o A interiorizao de atitudes, valores e normas vai depender de atitudes econtedos desenvolvidos e elaborados em consonncia com esse eixo temtico.

    o As atitudes traduzem-se em um nvel de comportamento; comportar-se de umadeterminada maneira diante de pessoas, fatos, situaes e objetos. Os valoresso princpios normativos que presidem e regulam o funcionamento das pessoasem qualquer momento.

    o As normas constituem uma concretizao dos valores, sendo regras de conduta

    que devero ser respeitadas em determinadas situaes.o O professor deve estar atento quando executa seu planejamento para saber o

    que pretende que as crianas aprendam. Ao se adotar um currculo aberto eflexvel, fica a cargo do professor e/ou da equipe pedaggica da escola decidir ocomo e quando ensinar determinados contedos e como estabelecer objetivospara a etapa.

    o Ao se estruturar o Currculo em mbito de experincia e eixos de trabalho,estamos considerando e respeitando a criana com um ser social, integral e emfranco desenvolvimento. Significa que no se pode limitar suas oportunidades de

    descobertas, que necessrio conhec-la verdadeiramente para proporcionar-lhe experincias de vida ricas e desafiadoras; procurar no fazer por ela, masauxilia-la a encontrar meios de fazer as coisas a seu modo. Enfim, deixa-la sercriana.

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    CONTEDOS

    Crianas de zero a trs anos

    - Comunicao e expresso de seus desejos, desagrados, necessidades, preferncias evontades em brincadeiras e nas atividades cotidianas;

    - Reconhecimento progressivo do prprio corpo e das diferentes sensaes e ritmos queproduz;

    - Identificao progressiva de algumas singularidades prprias das pessoas com as quaisconvive no seu cotidiano em situaes de interao;

    - Iniciativa para pedir ajuda nas situaes em que isso se fizer necessrio;

    - Realizao de pequenas aes cotidianas ao seu alcance para que adquiria maiorindependncia;

    - Interesse pelas brincadeiras e pela explorao de diferentes brinquedos;

    - Participao em brincadeiras de esconder e achar e em brincadeiras de imitao;

    - Escolha de brinquedos, objetos e espaos para brincar;

    - Participao e interesse em situaes que envolvam a relao com o outro;

    - Respeito s regras simples e convvio social;- Higiene das mos com ajuda;

    - Expresso e manifestao de desconforto relativo presena de urina e fezes nasfraldas;

    - Interesse em desprender-se das fraldas e utilizar o penico e vaso sanitrio;

    - Interesse em experimentar novos alimentos e comer sem ajuda;

    - Identificao de situaes de risco no seu ambiente mais prximo.

    Convivendo com a criana de zero a trs anos

    A criana, nos trs primeiros anos de vida, passa por um processo acelerado dedesenvolvimento e interao psicossocial. nesse perodo que se estabelece o processo que aleva a constituir-se como ser independente, capaz de estabelecer relaes diversas compessoas diferentes e de interagir de maneira autnoma. Esse processo envolve, ao mesmotempo, aspectos cognitivos, emocionais e afetivos (relacionais), que se entrelaam na

    construo da identidade especfica de cada pequeno ser humano.

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    Ao nascer, o beb se comunica com seu mundo por meio dos sentidos. Utilizando-se dopaladar, do tato, da audio, da viso e do olfato, ele vai interagindo e estabelecendo relaescom o mundo que o cerca.

    Do nascimento aos oito meses, mais ou menos, o corpo dessas crianas algo muito

    frgil, limitado a uns poucos movimentos. Por isso mesmo o beb necessita que o adulto oestimule corporalmente, de modo que, enquanto ele no anda, no senta e no engatinha, vdescobrindo o seu corpo por meio de toques afetuosos e estimulantes.

    Alm das massagens pelo seu corpo, isto , dos ps cabea, passando pelo rosto,orelhas, dedos dos ps e das mos, joelhos, braos, sola dos ps, costas, barriga e outros, importante tambm abraar, beijar, embalar, cuidar com afeto nas horas do banho, da troca,do sono, da alimentao, das brincadeiras, momentos em que o corpo do adulto estodiretamente em contato com o do beb. Com isto, este beb vai gradativamente conhecendo oseu corpo e as suas possibilidades, e construindo as sinapses em seu crebro.

    importante saber que esta criana est em franca aquisio de conhecimento do seuuniverso e, por isso, o estmulo se faz muito importante. Ao invs de deix-la confinada aobero, no colchonete, no cho, olhando para o teto ou para a parede, sem estmulos visuais ousonoros, seria mais valioso se o adulto conversasse e cantasse com ela, apresentandobrinquedos articulados e objetos coloridos, de preferncia com cores bem marcantes(amarelo, vermelho, roxo, azul, verde, laranja, preto), visto que os tons pastis dificultam adiscriminao visual, e objetos que produzam sons (como chocalhos, mbiles suspensos eoutros).

    A maturidade biolgica dessa criana se expande a cada dia. Assim, ela comea a

    adquirir alguma autonomia para realizar determinadas aes como engatinhar, andar, seguraros objetos, encaixar, empilhar e controlar suas necessidades fisiolgicas. Cabe ao adulto quecom ela se relaciona criar condies para que haja organizao e realizao das conquistas quesua maturidade biolgica lhe permite.

    A criana, nesta fase, entra gradativamente no mundo das artes. Ela comea a pegar ospincis, giz de cera e outros instrumentos afins, porm seus desenhos ainda so formasprimitivas que no estabelecem compromisso com o real. Mas essas garatujas em breve setransformaro em formas eficazes de comunicao com o mundo.

    Construo da Oralidade

    A criana est imersa em um universo sonoro desde o seu nascimento. Por meio dosouvidos, ela recebe desde vozes humanas at rudos do ambiente onde vive (cozinha, banheiro,sala, rdio, televiso, animais domsticos, telefones e outros.). Assim, ela vai se organizando ecompreendendo esse universo e com ele interagindo.

    Percebendo, ouvindo e gradativamente entendendo as diversas utilizaes da fala pelosadultos que interagem com esta criana que ela vai construindo o sentido, percebendo a

    necessidade da fala, e produzindo o desejo de tornar-se falante. At ento ela usava alinguagem dos gestos, apontando objetos, falando com as mos. Mas, a partir do momento em

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    que ela comea a organizar intencionalmente a fala, a gestualidade passa a funcionar como umacessrio da fala e no mais como a linguagem principal.

    A gestualidade tem a ver com o corpo, enquanto a fala tem a ver com a boca. A bocatem um papel fundamental na vida das crianas at aproximadamente os dois anos de idade,

    perodo no qual elas levam tudo que pegam at a boca, pois ela um importante canal deexplorao do mundo. A criana sente a chegada dos dentes lhe rasgando as gengivas, e acomeam, tambm, as famosas e to recorrentes mordidas.

    Os primeiros sons percebidos e produzidos pelos bebs so as vogais (principalmente Ae E). Da as longas seqncias de aaaaaaa que os bebs promovem. Em seguida, ocorre apercepo das consoantes e os bebs passam a produzir seqncias mais complexas; quandosurgem os bababa, papapa, dadada, mamama, e assim por diante. Pouco a pouco, ascrianas vo ampliando o seu vocabulrio e vo fazendo construes mais complexas, comonen, pap, d colo, nen qu etc.

    As crianas comeam com estas frases simples e gradativamente ampliam seuvocabulrio, at dominar a linguagem oral. Aos trs anos, aproximadamente, uma criana fala ecompreende com perfeio a sua lngua.

    So muito importantes nessa fase os momentos de brincadeiras, de faz-de-conta, ashistrias contadas, ouvidas e representadas; tudo isso traz excelentes ganhos na oralidadedas crianas e, mais que isso, so fundamentais e devem ser garantidos diariamente em suasrotinas pois lhes asseguram melhor desenvolvimento emocional, social e cognitivo.

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    FORMAO PESSOAL E SOCIAL

    Identidade e Autonomia

    O ingresso da criana pequena na instituio de ensino (escola/creche) amplia e alargao seu universo inicial, uma vez que o contato com outras crianas e com adultos de origens ehbitos culturais diversos proporciona chances de aprender novas brincadeiras e de adquirirconhecimentos sobre diferentes realidades.

    A maneira como cada um se v depende tambm do modo como visto pelos outros. Ostraos particulares de cada criana, o jeito de cada uma e como isso recebido peloprofessor e pelo grupo em que se insere, tem grande impacto na formao de suapersonalidade e de sua auto-estima, j que sua identidade est em construo.

    As crianas vo, gradativamente, acionando seus prprios recursos, percebendo-se ecompreendendo os outros como diferentes, o que representa uma condio essencial para odesenvolvimento de sua autonomia.

    A construo da identidade e da autonomia para a criana o grande salto para aindependncia, sendo a autonomia definida como a capacidade de se conduzir e tomar decisespor si prpria, levando em conta regras, valores, a sua perspectiva pessoal, bem como a dooutro. Conceber uma educao em direo autonomia significa considerar as crianas comoseres com vontade prpria, capazes e competentes para construir conhecimentos e, dentro desuas possibilidades, interferir no meio em que vivem. Exercitando o autogoverno em questes

    situadas no plano das aes concretas, podero gradualmente faz-lo no plano das idias e dosvalores.

    Processos como fuso e diferenciao, construo de vnculos, expresso dasexualidade, so considerados como experincias essenciais ao processo de construo daidentidade e da autonomia.

    O processo de fuso e diferenciao caracteriza-se pelo fato de que as crianas, aonascerem, no diferenciam o seu prprio corpo e os limites de seus desejos. Podem ficarfrustradas quando a me ou o adulto que delas cuidam no agem conforme seus desejos.

    As experincias de frustraes so bons momentos para favorecer a diferenciaoentre o eu e o outro e, quando inseridas num clima de afeto e ateno, contribuem muito parao desenvolvimento pessoal da criana.

    por meio dos primeiros cuidados que a criana percebe seu prprio corpo comoseparado do corpo do outro, organiza suas emoes e amplia seus conhecimentos sobre omundo; da, a importncia do conhecimento do desenvolvimento infantil por profissionais queatendem a crianas dessa faixa etria.

    Para se desenvolver a criana precisa aprender com os outros por meio dos vnculos queestabelece. Se as aprendizagens acontecem na interao com as outras pessoas, sejamadultos ou crianas, essas aprendizagens tambm dependem dos recursos de cada criana.Dentre esses recursos destacam-se a imitao, o faz-de-conta, a oposio, a linguagem e aapropriao da imagem corporal.

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    O processo que permite a construo de aprendizagens significativas pelas crianasrequer uma intensa atividade interna por parte delas. Nessa atividade, as crianas podemestabelecer relaes entre novos contedos e os conhecimentos prvios (conhecimentos que

    j possuem), usando para isso os recursos de que dispem. Esse processo possibilitar a elas

    modificarem seus conhecimentos prvios, matiz-los, ampli-los ou diferenci-los em funode novas informaes, capacitando-as a realizar novas aprendizagens, tornando-assignificativas.

    , portanto, funo do professor considerar, como ponto de partida para sua aoeducativa, os conhecimentos que as crianas possuem, advindos das mais variadas experinciassociais, afetivas e cognitivas a que esto expostas. Detectar os conhecimentos prvios dascrianas no uma tarefa fcil. Implica que o professor estabelea estratgias didticas parafaz-lo. Quanto menores so as crianas, mais difcil a explicao de tais conhecimentos,uma vez que elas no se comunicam verbalmente. A observao acurada das crianas uminstrumento essencial nesse processo. Os gestos, movimentos corporais, sons produzidos,expresses faciais, as brincadeiras e toda forma de expresso, representao e comunicaodevem ser consideradas como fonte de conhecimento para o professor sobre o que a criana

    j sabe. Com relao s crianas maiores, podem-se tambm criar situaes intencionais nasquais sejam capazes de explicar seus conhecimentos por meio das diversas linguagens a quetm acesso.

    RESOLUO DE PROBLEMAS

    Nas situaes de aprendizagem o problema adquire um sentido importante quando ascrianas buscam solues e discutem-nas coma as outras crianas. No se trata de situaesque permitam aplicar o que j se sabe, mas sim daquelas que possibilitam produzir novosconhecimentos a partir dos que j se tem e em interao com novos desafios. Neste processo,o professor deve reconhecer as diferentes solues, socializando os resultados encontrados.

    PROXIMIDADE COMA AS PRTICAS SOCIAIS REAIS

    A prtica educativa deve buscar situaes de aprendizagens que reproduzem contextoscotidianos nos quais, por exemplo, escrever, contar, ler, desenhar, procurar uma informaoetc, tenha uma funo real. Isto , escreve-se para guardar uma informao, para enviar umamensagem, contam-se tampinhas para fazer uma coleo etc.

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    VALORES E ATITUDES

    A criana, ser social, est em constante relao com o mundo e nele, ela nasce, cresce,

    descobre, aprende, ensina, recria, convive e multiplica.Nesses primeiros anos de vida, os sentimentos e a personalidade assentam suas bases e

    se solidificam.

    A escola tem, ento, o importante papel de inserir a criana em um contexto de mundoque diversificado em valores, culturas, religies e idias. O desafio oferecer condiespara que a criana aprenda a conviver com sua prpria cultura, valorizando e respeitando asdemais, bem como desenvolvendo sua conscincia crtica acerca da formao da cidadania,dignidade, moralidade, formao de hbitos, valores e atitudes.

    De forma transversal e interdisciplinar, partindo sempre da realidade concreta da

    criana, questes como valores, atitudes, tica, religio, devem ser abordadas comnaturalidade.

    Por meio do dilogo, do jogo, da brincadeira, do canto vo se estabelecendo as relaesde amizade, respeito ao prximo, limites, solidariedade, democracia, cidadania, participao.

    nessa fase da Educao Infantil, das primeiras relaes escolares, que ocorrem asocializao, o encantamento, a admirao e o desabrochar da espiritualidade. Por meio dareflexo, da investigao e da experimentao, a criana descobre o caminho para conviver naliberdade, com autonomia e responsabilidade.

    Assim, a proposta de se trabalhar em uma perspectiva de transcendncia eespiritualidade visa a possibilidade da abertura e do acolhimento VIDA em suas incontveismanifestaes, a percepo da relao humano-divino, respeitando as diferenas e vivncias, aconstruo de uma cultura de justia, esperana, ternura e solidariedade.

    Na Educao Infantil, para que se desenvolvam esses princpios, existem vriosmomentos que podem ser explorados e trabalhados tais como:

    - higiene pessoal: conhecimento e valorizao de seu corpo, auto-estima;

    - brincadeiras e jogos coletivos ou individuais: respeito ao outro, conhecimento de

    limites e regras, socializao, diversidade cultural;- hora do lanche: fraternidade, agradecimento pelos alimentos, pela vida, repartir e

    ser solidrio;

    - observao dos fenmenos naturais: a beleza de um dia de sol, o aconchego, a vidaque traz a chuva e outros;

    - passeios para observar a natureza e a paisagem: proteo e preservao danatureza e da vida;

    - eventos festivos e comemoraes: integrao das famlias, valorizao da

    comunidade e sua cultura.

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    Saliente-se que, at mesmo com pouca idade, as crianas podem aprender questesmorais, tais como respeito pela propriedade, orientaes para no machucar os outros e paraajudar vtimas de agresso. O objetivo que as crianas se tornem envolvidas com questesmorais de suas classes. Deseja-se que elas reconheam a injustia quando a vem, que

    prefiram o justo ao injusto e se sintam compelidas a falar contra a injustia.O xito nesse trabalho ser medido por aquilo que trar de contribuio s pessoas em

    suas convices e posturas frente vida, no entender-se como ser humano, no aceitar osoutros como semelhantes e parceiros de vida, na construo da justia, da solidariedade e dacidadania.

    A CRIANA E O MOVIMENTO

    O primeiro ano de vida

    Nessa fase, predomina a dimenso subjetiva do movimento, pois so as emoes o canalprivilegiado de interao do beb com o adulto e mesmo com outras crianas. O dilogoafetivo que se estabelece com o adulto, caracterizado pelo toque corporal, pelas modulaesda voz, por expresses cada vez mais cheias de sentido, constitui-se em espao privilegiadode aprendizagem. A criana imita o parceiro e cria suas prprias reaes: balana o corpo,bate palmas, vira ou levanta a cabea e outros.

    Ao lado dessas capacidades expressivas, o beb realiza importantes conquistas no

    plano da sustentao do prprio corpo, representadas em aes como virar, rolar, sentar eoutras. Essas conquistas antecedem e preparam o aprendizado da locomoo, o que ampliamuito a possibilidade de ao independente. bom lembrar que, antes de aprender a andar, ascrianas podem desenvolver formas alternativas de locomoo, como se arrastar ouengatinhar.

    Ao observar um beb, pode-se constatar que grande o tempo que ele dedica sexploraes do prprio corpo fica olhando as mos paradas ou mexendo-as diante dos olhos,pega os ps e diverte-se em mant-los sob o controle das mos como que descobrindo aquiloque faz parte do seu corpo e o que vem do mundo exterior. Pode-se tambm notar o interesse

    com que investiga os efeitos dos prprios gestos sobre os objetos do mundo exterior, porexemplo, puxando vrias vezes a corda de um brinquedo que emite um som, ou tentandoalcanar com as mos o mbile pendurado sobre o bero, ou seja, repetindo seus atosbuscando testar o resultado que produzem.

    Essas aes exploratrias permitem que o beb descubra os limites e a unidade doprprio corpo, conquistas importantes no plano da conscincia corporal. As aes em queprocura descobrir o efeito de seus gestos sobre os objetos propiciam a coordenao sensrio-motora, a partir de quando seus atos se tornam instrumentos para atingir fins situados nomundo exterior. Do ponto de vista das relaes com o objeto, a grande conquista do primeiroano de vida o gesto de preenso, o qual se constitui em recurso com mltiplas possibilidadesde aplicao.

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    Aquisies como apreenso e a locomoo representam importantes conquistas no planoda motricidade objetiva. Consolidando-se como instrumentos de ao sobre o mundo,aprimoram-se conforme as oportunidades que se oferecem criana de explorar o espao,manipular objetos, realizar atividades diversificadas e desafiadoras.

    curioso lembrar que a aceitao da importncia da corporeidade para o beb relativamente recente, pois at bem pouco tempo prescrevia-se que ele fosse conservadonuma espcie de estado de crislida durante vrios meses, envolvido em cueiros e faixas queo confinavam a uma nica posio, tolhendo completamente seus movimentos espontneos.Certamente esse hbito traduzia um cuidado, uma preocupao com a possibilidade de o bebse machucar ao fazer movimentos para os quais sua ossatura e musculatura no estivessem,ainda, preparadas. Por outro lado, ao proteger o beb dessa forma, se estava impedindo suamovimentao. No tendo como interagir com o mundo fsico e tendo menos possibilidades deinteragir com o mundo social, era mais difcil expressar-se e desenvolver as habilidadesnecessrias para uma relao mais independente com o ambiente.

    Crianas de um a trs anos

    Logo que aprende a andar, a criana parece to encantada com sua nova capacidade quese diverte em locomover-se de um lado para outro, sem uma finalidade especfica. O exercciodessa capacidade, somado ao progressivo amadurecimento do sistema nervoso, propicia oaperfeioamento do andar, que se torna cada vez mais seguro e estvel, desdobrando-se nos

    atos de correr, pular e suas variantes.A grande independncia que andar propicia na explorao do espao acompanhada

    tambm por uma maior disponibilidade das mos: a criana dessa idade aquela que no para,mexe em tudo, explora e pesquisa.

    Ao mesmo tempo, que explora, aprende gradualmente a adequar seus gestos emovimentos s suas intenes e s demandas da realidade. Gestos como o de segurar umacolher para comer ou uma xcara para beber e o de pegar um lpis para marcar um papel,embora ainda no muito seguros, so exemplos dos progressos no plano da gestualidadeinstrumental. O fato de manipular objetos que tenham um uso cultural bem definido no

    significa que a manipulao se restrinja a esse uso, j que o carter expressivo do movimentoainda predomina. Assim, se a criana dessa idade pode pegar uma xcara para beber gua,pode tambm peg-la simplesmente para brincar, explorando as vrias possibilidades de seugesto.

    Outro aspecto da dimenso expressiva do ato motor o desenvolvimento dos gestossimblicos, tanto aqueles ligados ao faz-de-conta quanto os que possuem uma funoindicativa, como apontar, dar tchau e outros. No faz-de-conta pode-se observar situaes emque as crianas revivem uma cena recorrendo somente aos seus gestos, por exemplo, quando,colocando os braos na posio de ninar, os balanam, fazendo de conta que esto embalandouma boneca. Nesse tipo de situao, a imitao desempenha um importante papel.

    No plano da conscincia corporal, nessa idade a criana comea a reconhecer a imagem de seucorpo, o que ocorre principalmente por meio das interaes sociais que estabelece e das

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    brincadeiras que faz diante do espelho. Nessas situaes, ela aprende a reconhecer ascaractersticas fsicas que integram a sua pessoa, o que fundamental para a construo desua identidade.

    PRESENA DA MSICA NA EDUCAO INFANTIL:

    Idias e prticas correntes

    A msica no contexto da educao infantil vem, ao longo de sua histria, atendendo a vriosobjetivos, alguns dos quais alheios s questes prprias dessa linguagem. Tem sido, em muitoscasos, suporte para atender a vrios propsitos, como a formao de hbitos, atitudes ecomportamentos: lavar as mos antes do lanche, escovar os dentes, respeitar o farol etc.; a

    realizao de comemoraes relativas ao calendrio de eventos do ano letivo simbolizados nodia da rvore, dia do soldado, dia das mes e outros; a memorizao de contedos relativos anmeros, letras do alfabeto, cores etc., traduzidos em canes. Essas canes costumam seracompanhadas por gestos corporais, imitados pelas crianas de forma mecnica eestereotipada.

    Outra prtica corrente tem sido o uso das bandinhas rtmicas para o desenvolvimentomotor, da audio, e do domnio rtmico. Essas bandinhas utilizam instrumentos pandeirinhos, tamborzinhos, pauzinhos e outros - muitas vezes confeccionados com materialinadequado e conseqentemente com qualidade sonora deficiente. Isso refora o aspecto

    mecnico e a imitao, deixando pouco ou nenhum espao s atividades de criao ou squestes ligadas a percepo e conhecimento das possibilidades e qualidades expressivas dossons.

    Ainda que esses procedimentos venham sendo repensados, muitas instituiesencontram dificuldades para integrar a linguagem musical ao contexto educacional. Constata-se uma defasagem entre o trabalho realizado na rea de Msica e nas demais reas doconhecimento, evidenciada pela realizao de atividades de reproduo e imitao emdetrimento de atividades voltadas criao e elaborao musical. Nesses contextos, amsica tratada como se fosse um produto pronto, que se aprende a reproduzir, e no umalinguagem cujo conhecimento se constri.

    A msica est presente em diversas situaes da vida humana. Existe msica paraadormecer, msica para danar, para chorar os mortos, para conclamar o povo a lutar, o queremonta sua funo ritualstica. Presente na vida diria de alguns povos, ainda hoje tocadae danada por todos, seguindo costumes que respeitam as festividades e os momentosprprios a cada manifestao musical. Nesses contextos, as crianas entram em contato com acultura musical desde muito cedo e assim comeam a aprender suas tradies musicais.

    Mesmo que as formas de organizao social e o papel da msica nas sociedadesmodernas tenham se transformado, algo de seu carter ritual preservado, assim como eensinar por imitao e por ouvido, em que se misturam intuio, conhecimento prtico etransmisso oral. Essas questes devem ser consideradas ao se pensar na aprendizagem, poiso contato intuitivo e espontneo com a expresso musical desde os primeiros anos de vida

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    importante ponto de partida para o processo de musicalizao. Ouvir msica, aprender umacano, brincar de roda, realizar brinquedos rtmicos, jogos de mos etc., so atividades quedespertam, estimulam e desenvolvem o gosto pela atividade musical, alm de atenderem anecessidades de expresso que passam pela esfera afetiva, esttica e cognitiva. Aprender

    msica significa integrar experincias que envolvem a vivncia, a percepo e a reflexo,encaminhando-as para nveis cada vez mais elaborados.

    Pesquisadores e estudiosos vm traando paralelos entre o desenvolvimento infantil e oexerccio da expresso musical, resultando em propostas que respeitam o modo de perceber,sentir e pensar, em cada fase, e contribuindo para que a construo do conhecimento dessalinguagem ocorra de modo significativo. O trabalho com Msica proposto por este documentofundamenta-se nesses estudos, de modo a garantir criana a possibilidade de vivenciar erefletir sobre questes musicais, num exerccio sensvel e expressivo que tambm oferececondies para o desenvolvimento de habilidades, de formulao de hipteses e de elaboraode conceitos.

    Compreende-se a msica como linguagem e forma de conhecimento. Presente no cotidianode modo intenso, no rdio, na TV, em gravaes, jingles etc., por meio de brincadeiras emanifestaes espontneas ou pela interveno do professor ou familiares, alm de outrassituaes de convvio social, a linguagem musical tem estrutura e caractersticas prprias,devendo ser considerada como:

    produo centrada na experimentao e na imitao, tendo como produtos musicais ainterpretao, a improvisao e a composio;

    apreciao percepo tanto dos sons e silncios quanto das estruturas e

    organizaes musicais, buscando desenvolver, por meio do prazer da escuta, acapacidade de observao, anlise e reconhecimento;

    reflexo sobre questes referentes organizao, criao, produtos e produtoresmusicais.

    Deve ser considerado o aspecto da integrao do trabalho musical s outras reas, j que,por um lado, a msica mantm contato estreito e direto com as demais linguagens expressivas(movimento, expresso cnica, artes visuais etc.), e, por outro, torna possvel a realizao deprojetos integrados. preciso cuidar, no entanto, para que no se deixe de lado o exercciodas questes especificamente musicais.

    O trabalho com msica deve considerar, portanto, que ela um meio de expresso e formade conhecimento acessvel aos bebs e crianas, inclusive aquelas que apresentemnecessidades especiais. A linguagem musical excelente meio para o desenvolvimento daexpresso, do equilbrio, da auto-estima e autoconhecimento, alm de poderoso meio deintegrao social.

    A criana e a msica

    O ambiente sonoro, assim como a presena da msica em diferentes e variadassituaes do cotidiano fazem com que os bebs e crianas iniciem seu processo de

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    musicalizao de forma intuitiva. Adultos cantam melodias curtas, cantigas de ninar, fazembrincadeiras cantadas, com rimas, parlendas etc., reconhecendo o fascnio que tais jogosexercem. Encantados com o que ouvem, os bebs tentam imitar e responder, criandomomentos significativos no desenvolvimento afetivo e cognitivo, responsveis pela criao de

    vnculos tanto com os adultos quanto com a msica. Nas interaes que se estabelecem, elesconstroem um repertrio que lhes permite iniciar uma forma de comunicao por meio dossons.

    O balbucio e o ato de cantarolar dos bebs tm sido objetos de pesquisas queapresentam dados importantes sobre a complexidade das linhas meldicas cantaroladas at osdois anos de idade. Eles procuram imitar o que ouvem e tambm inventam linhas meldicas ourudos, explorando possibilidades vocais, da mesma forma como interagem com os objetos ebrinquedos sonoros disponveis, estabelecendo, desde ento, um jogo caracterizado peloexerccio sensorial e motor com esses materiais.

    A escuta de diferentes sons (produzidos por brinquedos sonoros ou oriundos do prprioambiente domstico) tambm fonte de observao e descobertas, provocando respostas. Aaudio de obras musicais enseja as mais diversas reaes: os bebs podem manter-seatentos, tranqilos ou agitados.

    Do primeiro ao terceiro ano de vida, os bebs ampliam os modos de expresso musicalpelas conquistas vocais e corporais. Podem articular e entoar um maior nmero de sons,inclusive os da lngua materna, reproduzindo letras simples, refres, onomatopias e outros,explorando gestos sonoros, como bater palmas, pernas, ps, especialmente depois deconquistada a marcha, a capacidade de correr, pular e movimentar-se acompanhando umamsica.

    No que diz respeito relao com os materiais sonoros importante notar que, nessafase, as crianas conferem importncia e equivalncia a toda e qualquer fonte sonora e assimexplorar as teclas de um piano tal e qual percutir uma caixa ou um cestinho, por exemplo.Interessam-se pelos modos de ao e produo dos sons, sendo que sacudir e bater so seusprimeiros modos de ao. Esto sempre atentas s caractersticas dos sons ouvidos ouproduzidos, se gerados por um instrumento musical, pela voz ou qualquer objeto, descobrindopossibilidades sonoras com todo material acessvel.

    Assim, o que caracteriza a produo musical das crianas nesse estgio a exploraodo som e suas qualidades que so altura, durao, intensidade e timbre e no a criao detemas ou melodias definidos precisamente, ou seja, diante de um teclado, por exemplo,importa explorar livremente os registros grave ou agudo (altura), tocando forte ou fraco(intensidade), produzindo sons curtos ou longos (durao), imitando gestos motores queobservou e que reconhece como responsveis pela produo do som, sem a preocupao delocalizar as notas musicais (d, r, mi, f, sol, l, si) ou reproduzir exatamente qualquermelodia conhecida. E ainda que possam, em alguns casos, manter um pulso (medida referencialde durao constante), a vivncia do ritmo tambm no se subordina pulsao e ao compasso(a organizao do pulso em tempos fortes e fracos) e assim vivenciam o ritmo livre.Diferenas individuais e grupais acontecem, fazendo com que, aos trs anos, por exemplo,

    integrantes de comunidades musicais ou crianas cujos pais toquem instrumentos possamapresentar um desenvolvimento e controle rtmico diferente das outras crianas,

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    Os acalantos e os chamados brincos so as formas de musicais de brincar,caractersticos da primeira fase da vida da criana. Os acalantos so entoados pelos adultospara tranqilizar e adormecer bebs e crianas pequenas; os brincos so as brincadeirasrtmico-musicais com que os adultos entretm e animam as crianas, como Serra, serra,

    serrador, serra o papo do vov, e suas muitas variantes encontradas pelo pas afora, que cantarolado enquanto se imita o movimento do serrador. Palminhas de guin, pra quando papaivier..., Dedo mindinho, seu vizinho, maior de todos..., Upa, upa, cavalinho... so exemplos debrincos que, espontaneamente, os adultos realizam junto aos bebs e crianas.

    As parlendas, propriamente ditas, e as mnemnicas so rimas sem msica.

    As parlendas servem como frmula de escolha numa brincadeira, como trava-lnguasetc., como os seguintes exemplos: Rei, capito, soldado, ladro, moo bonito do meucorao...; L em cima do piano tem um copo de veneno, quem bebeu morreu, o azar foiseu.... Os trava-lnguas so parlendas caracterizadas por sua pronunciao difcil: Num ninho

    de mafagafos/ Seis mafagafinhos h/ Quem os desmafagafizar/ Bom desmafagafizadorser..., ou ainda, Nem a aranha arranha o jarro, nem o jarro arranha a aranha....

    As mnemnicas referem-se a contedos especficos, destinados a fixar ou ensinar algocomo nmero ou nomes: Um, dois, feijo com arroz/ Trs, quatro, feijo no prato/ Cinco,seis, feijo ingls/ Sete, oito, comer biscoito/ Nove, dez, comer pastis..., ou Una, duna,tena, catena/ Bico de pena, sol, solad/ Gurupi, gurup/ Conte bem que so dez....

    As rondas ou brincadeiras de roda integram poesia, msica e dana. No Brasil,receberam influncias de vrias culturas, especialmente a lusitana, africana, amerndia,espanhola e francesa: A moda da carranquinha, Voc gosta de mim, Fui no Itoror, A

    linda rosa juvenil, A canoa virou, ou Terezinha de Jesus.Os jogos sonoro-musicais possibilitam a vivncia de questes relacionadas ao som (e

    suas caractersticas), ao silncio e msica.

    Brincar de esttuas um exemplo de jogo em que, por meio do contraste entre som esilncio, se desenvolve a expresso corporal, a concentrao, a disciplina e a ateno. Atradicional brincadeira das cadeiras um outro exemplo de jogo que pode ser realizado comas crianas.

    Jogos de escuta dos sons do ambiente, de brinquedos, de objetos ou instrumentosmusicais; jogos de imitao de sons vocais, gestos e sons corporais; jogos de adivinhao nos

    quais necessrio reconhecer um trecho de cano, de msica conhecida, de timbres deinstrumentos etc.; jogos de direo sonora para percepo da direo de uma fonte sonora; ejogos de memria, de improvisao etc. so algumas sugestes que garantem s crianas osbenefcios e alegrias que a atividade ldica proporciona e que, ao mesmo tempo, desenvolvemhabilidades, atitudes e conceitos referentes linguagem musical.

    Organizao do espao

    O espao no qual ocorrero as atividades de msica deve ser dotado de mobilirio quepossa ser disposto e reorganizado em funo das atividades a serem desenvolvidas. Em geral,

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    as atividades de msica requerem um espao amplo, uma vez que esto intrinsecamente ligadasao movimento. Para a atividade de construo de instrumentos, no entanto, ser interessantecontar com um espao com mesas e cadeiras onde as crianas possam sentar-se e trabalharcom calma.

    O espao tambm deve ser preparado de modo a estimular o interesse e a participaodas crianas, contando com alguns estmulos sonoros.

    As fontes sonoras

    O trabalho com a msica deve reunir toda e qualquer fonte sonora: brinquedos, objetosdo cotidiano e instrumentos musicais de boa qualidade. preciso lembrar que a voz oprimeiro instrumento e o corpo humano fonte de produo sonora.

    importante que o professor possa estar atento a maior ou menor adequao dos diversosinstrumentos faixa etria de zero a seis anos. Pode-se confeccionar diversos materiaissonoros com as crianas, bem como introduzir brinquedos sonoros populares, instrumentostnicos e outros. O trabalho musical a ser desenvolvido nas instituies de educao infantilpode ampliar meios e recursos pela incluso de materiais simples aproveitados do dia-a-dia oupresentes na cultura da criana.

    Os brinquedos sonoros e os instrumentos de efeito sonoro so materiais bastanteadequados ao trabalho com bebs e crianas pequenas. Com relao aos brinquedos, deve-sevalorizar os populares, como a matraca, o ri-ri ou berra-boi do Nordeste; os piessonoros, as sirenes e apitos etc., alm dos tradicionais chocalhos de bebs, alguns dos quaisportadores de timbres bastante especiais.

    Pios de pssaros, sinos de diferentes tamanhos, folhas de acetato, brinquedos queimitam sons de animais, entre outros, so materiais interessantes que podem ser aproveitadosna realizao das atividades musicais. Os pios de pssaros, por exemplo, alm de servirem sonorizao de histrias, podem estimular a discriminao auditiva, o mesmo acontecendo comos diferentes sinos. Um tipo de sino, chamado de chocalho, no Nordeste, e de cencerro, noSul do pas, e que costuma ser pendurado no pescoo de animais com a funo de sinalizar adireo, pode, por exemplo, ser utilizado no processo de musicalizao das crianas em

    improvisaes ou pequenos arranjos e tambm em exerccios de discriminao, classificao eseriao de sons. Com os mesmos objetivos podem ser usados conjuntos de tampas plsticas,potes, caixinhas e outros.

    Os pequenos idiofones, por suas caractersticas, so os instrumentos mais adequadospara o incio das atividades musicais com crianas. Sendo o prprio corpo do instrumento oresponsvel pela produo do som, so materiais que respondem imediatamente ao gesto.Assim, sacudir um chocalho, ganz ou guizo, raspar um reco-reco, percutir um par de clavas,um tringulo ou coco, badalar um sino, so gestos motores possveis de serem realizadosdesde pequenos. Nessa fase importante misturar instrumentos de madeira, metal ou outros

    materiais a fim de explorar as diferenas tmbricas entre eles, assim como pesquisardiferentes modos de ao num mesmo instrumento, tais como instrumentos indgenas etc.

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    Podem ser construdos idiofones a partir do aproveitamento de materiais simples, como coposplsticos, garrafas de PVC, pedaos de madeira ou metal e outros.

    Os idiofones citados so instrumentos de percusso com altura indeterminada, o quesignifica que no so afinados segundo uma escala ou modo. No produzem tons (som com

    afinao definida), mas rudos. Os xilofones e metalofones so idiofones afinadosprecisamente. Placas de madeira (xilofone) ou de metal (metalofone) dispostos sobre umacaixa de ressonncia o ambiente responsvel pela amplificao do som so instrumentosmusicais didticos, inspirados nos xilofones africanos e adaptados para uso no processo deeducao musical.

    Os xilos e metalofones podem ser utilizados por meio de gestos motores responsveispela produo de diferentes sons: um som de cada vez, sons simultneos, em movimentos dograve para o agudo e vice-versa e outros. Quando maiores no geral, as crianas se interessamem poder reproduzir pequenas linhas meldicas e os xilos e metalofones passam a ser

    trabalhados e percebidos de outra maneira.Os tambores, que integram a categoria de membranofones aqueles instrumentos em

    que o som produzido por uma pele, ou membrana, esticada e amplificada por uma caixa ,podem ser utilizados no trabalho musical. So instrumentos muito primitivos, dotados defuno sagrada e ritual para muitos povos e continuam exercendo grande fascnio e atraopara as crianas. Os vrios tipos, como bongs, surdos, caixas, pandeiros, tamborins etc.,esto muito presentes na msica brasileira. possvel, construir com as crianas tambores devrios tamanhos que utilizam, alm da pele animal, acetato, nilon, bexigas, papis, tecidos eoutros.

    Os aerofones so instrumentos nos quais o som produzido por via area, ou seja, soos instrumentos de sopro, utilizados com menor intensidade durante o trabalho com essafaixa etria por apresentarem maiores exigncias tcnicas. Os pios de pssaros, flautas dembolo, alm de alguns instrumentos simples confeccionados pelas crianas, no entanto, podemser utilizados, constituindo-se em um modo de introduo a esse grupo de instrumentosmusicais.

    Os cordofones, ou instrumentos de cordas, em seus diversos grupos, so apresentadose trabalhados por meio de construes simples, como, por exemplo, esticando elsticos sobrecaixas ou latas. De forma elementar, eles preparam as crianas para um contato posterior comos instrumentos de corda. Ao experimentar tocar instrumentos como violo, cavaquinho,violino e outros, as crianas podero explorar o aspecto motor, experimentando diferentesgestos e observando os sons resultantes.

    aconselhvel que se possa contar com um aparelho de som para ouvir msica e,tambm, para gravar e reproduzir a produo musical das crianas.

    O registro musical

    O registro musical, que transpe para uma outra dimenso um evento ou grupo deeventos sonoros, pode comear a ser trabalhado nas instituies de educao infantilutilizando-se de outras formas de notao que no sejam a escrita musical convencional.

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    Ao ouvir um impulso sonoro curto, a criana que realiza um movimento corporal esttranspondo o som percebido para outra linguagem. Diferentes tipos de sons (curtos, longos,em movimento, repetidos, muito fortes, muito suaves, graves, agudos etc.) podem sertraduzidos corporalmente.

    Esses gestos sonoros podero ser transformados, tambm, em desenho. Representar osom por meio do desenho trazer para o gesto grfico aquilo que a percepo auditivaidentificou, constituindo-se em primeiro modo de registro. Pode-se propor, para crianas apartir de quatro anos, que relacionem sons e registros grficos, criando cdigos que podemser lidos e decodificados pelo grupo: sons curtos ou longos, graves ou agudos, fortes ou suavese outros.

    Nessa faixa etria, a criana no deve ser treinada para a leitura e escrita musical nainstituio de educao infantil. O mais importante que ela possa ouvir, cantar e tocar muito,criando formas de notao musicais com a orientao dos professores.

    PRESENA DAS ARTES VISUAIS NA EDUCAO INFANTIL: IDIAS EPRTICAS CORRENTES

    A presena das Artes Visuais na educao infantil, ao longo da histria, temdemonstrado um descompasso entre os caminhos apontados pela produo terica e a prticapedaggica existente. Em muitas propostas as prticas de Artes Visuais so entendidasapenas como meros passatempos em que atividades de desenhar, colar, pintar e modelar, com

    argila ou massinha, so destitudas de significados.Outra prtica corrente considera que o trabalho deve ter uma conotao decorativa,

    servindo para ilustrar temas de datas comemorativas, enfeitar as paredes com motivosconsiderados infantis, elaborar convites, cartazes e pequenos presentes para os pais e outros.Nessa situao, comum que os adultos faam grande parte do trabalho, uma vez que noconsideram que a criana tem competncia para elaborar um produto adequado.

    As Artes Visuais tm sido, tambm, bastante utilizadas como reforo para aaprendizagem dos mais variados contedos. So comuns as prticas de colorir imagens feitaspelos adultos em folhas mimeografadas, como exerccios de coordenao motora para fixao

    e memorizao de letras e nmeros.As pesquisas desenvolvidas a partir do incio do sculo em vrios campos das cincias

    humanas trouxeram dados importantes sobre o desenvolvimento da criana, sobre o seuprocesso criador e sobre as artes das vrias culturas. Na confluncia da antropologia, dafilosofia, da psicologia, da psicanlise, da crtica de arte, da psicopedagogia e das tendnciasestticas da modernidade, surgiram autores que formularam os princpios inovadores para oensino das artes, da msica, do teatro e da dana. Tais princpios reconheciam a arte dacriana como manifestao espontnea e auto-expressiva: valorizavam a livre expresso e asensibilizao para o experimento artstico como orientaes que visavam ao desenvolvimento

    do potencial criador, ou seja, as propostas eram centradas nas questes do desenvolvimentoda criana.

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    O desenvolvimento da imaginao criadora, da expresso, da sensibilidade e dascapacidades estticas das crianas podero ocorrer no fazer artstico, assim como no contatocom a produo de arte presente nos museus, igrejas, livros, reprodues, revistas, gibis,vdeos, CD-ROM, atelis de artistas e artesos regionais, feiras de objetos, espaos urbanos

    e outros. O desenvolvimento da capacidade artstica e criativa deve estar apoiado, tambm, naprtica reflexiva das crianas ao aprender, que articula a ao, a percepo, a sensibilidade, acognio e a imaginao.

    A criana e as Artes Visuais

    O trabalho com as Artes Visuais na educao infantil requer profunda ateno no quese refere ao respeito das peculiaridades e esquemas de conhecimento prprios a cada faixa

    etria e nvel de desenvolvimento. Isso significa que o pensamento, a sensibilidade, aimaginao, a percepo, a intuio e a cognio da criana devem ser trabalhadas de formaintegrada, visando a favorecer o desenvolvimento das capacidades criativas das crianas.

    No processo de aprendizagem em Artes Visuais a criana traa um percurso de criaoe construo individual que envolve escolhas, experincias pessoais, aprendizagens, relaocom a natureza, motivao interna e/ou externa.

    O percurso individual da criana pode ser significativamente enriquecido pela aoeducativa intencional; porm, a criao artstica um ato exclusivo da criana. no fazerartstico e no contato com os objetos de arte que parte significativa do conhecimento em

    Artes Visuais acontece. No decorrer desse processo, o prazer e o domnio do gesto e davisualidade evoluem para o prazer e o domnio do prprio fazer artstico, da simbolizao e daleitura de imagens.

    O ponto de partida para o desenvolvimento esttico e artstico o ato simblico quepermite reconhecer que os objetos persistem, independentes de sua presena fsica eimediata. Operar no mundo dos smbolos perceber e interpretar elementos que se referem aalguma coisa que est fora dos prprios objetos. Os smbolos reapresentam o mundo a partirdas relaes que a criana estabelece consigo mesma, com as outras pessoas, com aimaginao e com a cultura.

    Ao final do seu primeiro ano de vida, a criana j capaz de, ocasionalmente, manterritmos regulares e produzir seus primeiros traos grficos, considerados muito mais comomovimentos do que como representaes. a conhecida fase dos rabiscos, das garatujas. Arepetida explorao e experimentao do movimento ampliam o conhecimento de si prprio, domundo e das aes grficas. Muito antes de saber representar graficamente o mundo visual, acriana j o reconhece e identifica nele qualidades e funes. Mais tarde, quando controla ogesto e passa a coorden-lo com o olhar, comea a registrar formas grficas e plsticas maiselaboradas.

    Embora todas as modalidades artsticas devam ser contempladas pelo professor, a fim

    de diversificar a ao das crianas na experimentao de materiais, do espao e do prpriocorpo, destaca-se o desenvolvimento do desenho por sua importncia no fazer artstico delase na construo das demais linguagens visuais (pintura, modelagem, construo tridimensional,

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    colagens). O desenvolvimento progressivo do desenho implica mudanas significativas que, noincio, dizem respeito passagem dos rabiscos iniciais da garatuja para construes cada vezmais ordenadas, fazendo surgir os primeiros smbolos. Imagens de sol, figuras humanas,animais, vegetao e carros, entre outros, so freqentes nos desenhos das crianas,

    reportando mais a assimilaes dentro da linguagem do desenho do que a objetos naturais.Essa passagem possvel graas s interaes da criana com o ato de desenhar e comdesenhos de outras pessoas.

    Na garatuja, a criana tem como hiptese que o desenho simplesmente uma aosobre uma superfcie, e ela sente prazer ao constatar os efeitos visuais que essa aoproduziu. A percepo de que os gestos, gradativamente, produzem marcas e representaesmais organizadas permite criana o reconhecimento dos seus registros.

    No decorrer do tempo, as garatujas, que refletiam, sobretudo, o prolongamento demovimentos rtmicos de ir e vir, transforma-se em formas definidas que apresentam maior

    ordenao, e podem estar se referindo a objetos naturais, objetos imaginrios ou mesmo aoutros desenhos.

    Na medida em que crescem, as crianas experimentam agrupamentos, repeties ecombinaes de elementos grficos, inicialmente soltos e com uma grande gama depossibilidades e significaes, e, mais tarde, circunscritos a organizaes mais precisas.Apresentam cada vez mais a possibilidade de exprimir impresses e julgamentos sobre seusprprios trabalhos.

    Enquanto desenham ou criam objetos tambm brincam de faz-de-conta e verbalizamnarrativas que exprimem suas capacidades imaginativas, ampliando sua forma de sentir e

    pensar sobre o mundo no qual esto inseridas.Na evoluo da garatuja para o desenho de formas mais estruturadas, a criana

    desenvolve a inteno de elaborar imagens no fazer artstico. Comeando com smbolos muitosimples, ela passa a articul-los no espao bidimensional do papel, na areia, na parede ou emqualquer outra superfcie. Passa tambm a constatar a regularidade nos desenhos presentesno meio ambiente e nos trabalhos aos quais ela tem acesso, incorporando esse conhecimentoem suas prprias produes.

    No incio, a criana trabalha sobre a hiptese de que o desenho serve para imprimirtudo o que ela sabe sobre o mundo e esse saber estar relacionado a algumas fontes, como a

    anlise da experincia junto a objetos naturais (ao fsica e interiorizada); o trabalhorealizado sobre seus prprios desenhos e os desenhos de outras crianas e adultos; aobservao de diferentes objetos simblicos do universo circundante; as imagens que cria. Nodecorrer da simbolizao, a criana incorpora progressivamente regularidades ou cdigos derepresentao das imagens do entorno, passando a considerar a hiptese de que o desenhoserve para imprimir o que se v.

    assim que, por meio do desenho, a criana cria e recria individualmente formasexpressivas, integrando percepo, imaginao, reflexo e sensibilidade, que podem ento serapropriadas pelas leituras simblicas de outras crianas e adultos.

    A imitao, largamente utilizada no desenho pelas crianas e por muitos combatida,desenvolve uma funo importante no processo de aprendizagem. Imitar decorre antes de uma

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    experincia pessoal, cuja inteno a apropriao de contedos, de formas e de figuras pormeio da representao.

    As atividades em artes plsticas que envolvem os mais diferentes tipos de materiaisindicam s crianas as possibilidades de transformao, de re-utilizao e de construo de

    novos elementos, formas, texturas e outros. A relao que a criana pequena estabelece comos diferentes materiais se d, no incio, por meio da explorao sensorial e da sua utilizaoem diversas brincadeiras. Representaes bidimensionais e construo de objetostridimensionais nascem do contato com novos materiais, no fluir da imaginao e no contatocom as obras de arte.

    Para construir, a criana utiliza as caractersticas associativas dos objetos, seus usossimblicos, e das possibilidades reais dos materiais, a fim de, gradativamente, relacion-los etransform-los em funo de diferentes argumentos.

    CRIANA E A LINGUAGEM

    Desenvolvimento da linguagem oral

    Muito cedo, os bebs emitem sons articulados que lhes do prazer e que revelam seuesforo para comunicar-se com os outros. Os adultos ou crianas mais velhas interpretamessa linguagem peculiar, dando sentido comunicao dos bebs. A construo da linguagemoral implica, portanto, na verbalizao e na negociao de sentidos estabelecidos entre

    pessoas que buscam comunicar-se. Ao falar com os bebs, os adultos, principalmente, tendema utilizar uma linguagem simples, breve e repetitiva, que facilita o desenvolvimento dalinguagem e da comunicao. Outras vezes, quando falam com os bebs ou perto deles, adultose crianas os expem linguagem oral em toda sua complexidade, como quando, por exemplo,na situao de troca de fraldas, o adulto fala: Voc est molhado? Eu vou te limpar, trocar afralda e voc vai ficar sequinho e gostoso!.

    Nesses processos, as crianas se apropriam, gradativamente, das caractersticas dalinguagem oral, utilizando-as em suas vocalizaes e tentativas de comunicao.

    As brincadeiras e interaes que se estabelecem entre os bebs e os adultos

    incorporam as vocalizaes rtmicas, revelando o papel comunicativo, expressivo e social que afala desempenha desde cedo. Um beb de quatro meses que emite certa variedade de sonsquando est sozinho, por exemplo, poder, repeti-los nas interaes com os adultos ou comoutras crianas, como forma de estabelecer uma comunicao.

    Alm da linguagem falada, a comunicao acontece por meio de gestos, de sinais e dalinguagem corporal, que do significado e apiam a linguagem oral dos bebs. A crianaaprende a verbalizar por meio da apropriao da fala do outro. Esse processo refere-se repetio, pela criana, de fragmentos da fala do adulto ou de outras crianas, utilizados pararesolver problemas em funo de diferentes necessidades e contextos nos quais se encontre.

    Por exemplo, um beb de sete meses pode engatinhar em direo a uma tomada e, ao chegarperto dela, ainda que demonstre vontade de toc-la, pode apontar para ela e menear a cabeaexpressando assim, sua maneira, a fala do adulto. Progressivamente, passa a incorporar a

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    palavra no associada a essa ao, que pode significar um conjunto de idias como: no sepode mexer na tomada; mame ou a professora no me deixam fazer isso; mexer a perigosoe outros.

    Aprender a falar, portanto, no consiste apenas em memorizar sons e palavras. A

    aprendizagem da fala pelas crianas no se d de forma desarticulada com a reflexo, opensamento, a explicitao de seus atos, sentimentos, sensaes e desejos.

    A partir de um ano de idade, aproximadamente, as crianas podem selecionar os sonsque lhe so dirigidos, tentam descobrir sobre os sentidos das enunciaes e procuram utiliz-los. Muitos dos fenmenos relacionados com o discurso e a fala, como os sons expressivos,alteraes de volume e ritmo, ou o funcionamento dialgico das conversas nas situaes decomunicao, so utilizados pelas crianas mesmo antes que saibam falar. Isso significa quemuito antes de se expressarem pela linguagem oral as crianas podem se fazer compreender ecompreender os outros, pois a competncia lingstica abrange tanto a capacidade das

    crianas para compreenderem a linguagem quanto sua capacidade para se fazerem entender.As crianas vo testando essa compreenso, modificando-a e estabelecendo novas associaesna busca de seu significado. Passam a fazer experincias no s com os sons e as palavras, mastambm com os discursos referentes a diferentes situaes comunicativas. Por exemplo, nasbrincadeiras de faz-de-conta de falar ao telefone tentam imitar as expresses e entonaesque elas escutam dos adultos. Podem, gradativamente, separar e reunir, em suas brincadeiras,fragmentos estruturais das frases, apoiando-se em msicas, rimas, parlendas e jogos verbaisexistentes ou inventados. Brincam, tambm, com os significados das palavras, inventandonomes para si prprias ou para os outros, em situaes de faz-de-conta. Nos dilogos comadultos e com outras crianas, nas situaes cotidianas e no faz-de-conta, as crianas imitam

    expresses que ouvem, experimentando possibilidades de manuteno dos dilogos, negociandosentidos para serem ouvidas, compreendidas e obterem respostas.

    A construo da linguagem oral no linear e ocorre em um processo de aproximaessucessivas com a fala do outro, seja ela do pai, da me, do professor, dos amigos ou aquelasouvidas na televiso, no rdio e outros.

    Nas inmeras interaes com a linguagem oral, as crianas vo tentando descobrir asregularidades que a constitui, usando todos os recursos de que dispem: histrias queconhecem, vocabulrio familiar etc. Assim, acabam criando formas verbais, expresses epalavras, na tentativa de apropriar-se das convenes da linguagem. o caso, por exemplo, da

    criao de tempos verbais de uma menina de cinco anos que, escondida atrs da porta, diz professora: Adivinha se eu t sentada, agachada ou empzada?, ou ento no exemplo de umacriana que, ao emitir determinados sons na brincadeira, perguntada por outra: Voc estchorando?, ao que a criana responde: No, estougraando!.

    As crianas tm ritmos prprios e a conquista de suas capacidades lingsticas se dem tempos diferenciados, sendo que a condio de falar com fluncia, de produzir frasescompletas e inteiras provm da participao em atos de linguagem.

    Quando a criana fala com mais preciso o que deseja, o que gosta e o que no gosta, oque quer e o que no quer fazer e a fala passa a ocupar um lugar privilegiado como instrumento

    de comunicao, pode haver um predomnio desta sobre os outros recursos comunicativos.Alm de produzirem construes mais complexas, as crianas so mais capazes deexplicitaes verbais e de explicar-se pela fala. O desenvolvimento da fala e da capacidade

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    simblica amplia significativamente os recursos intelectuais, porm as falas infantis so,ainda, produto de uma perspectiva muito particular, de um modo prprio de ver o mundo.

    A ampliao de suas capacidades de comunicao oral ocorre gradativamente, por meiode um processo de idas e vindas que envolvem tanto a participao das crianas nas conversas

    cotidianas, em situaes de escuta e canto de msicas, em brincadeiras etc., como aparticipao em situaes mais formais de uso da linguagem, como aquelas que envolvem aleitura de textos diversos.

    Desenvolvimento da Linguagem Escrita

    Nas sociedades letradas, as crianas, desde os primeiros meses, esto em permanentecontato com a linguagem escrita. por meio desse contato diversificado em seu ambientesocial que as crianas descobrem o aspecto funcional da comunicao escrita, desenvolvendointeresse e curiosidade por essa linguagem. Diante do ambiente de letramento em que vivem,as crianas podem fazer, a partir de dois ou trs anos de idade, uma srie de perguntas, comoO que est escrito aqui?, ou O que isto quer dizer?, indicando sua reflexo sobre a funoe o significado da escrita, ao perceberem que ela representa algo.

    Sabe-se que para aprender a escrever a criana ter de lidar com dois processos deaprendizagem paralelos: o da natureza do sistema de escrita da lngua o que a escritarepresenta e como e o das caractersticas da linguagem que se usa para escrever. Aaprendizagem da linguagem escrita est intrinsecamente associada ao contato com textos

    diversos, para que as crianas possam construir sua capacidade de ler, e s prticas deescrita, para que possam desenvolver a capacidade de escrever autonomamente.

    A observao e a anlise das produes escritas das crianas revelam que elas tomamconscincia, gradativamente, das caractersticas formais dessa linguagem. Constata-se, que,desde muito pequenas, as crianas podem usar o lpis e o papel para imprimir marcas, imitandoa escrita dos mais velhos, assim como, utilizam-se de livros, revistas, jornais, gibis, rtulos eoutros, para ler o que est escrito. No raro observar crianas muito pequenas, que tmcontato com material escrito, folhear um livro e emitir sons e fazer gestos como seestivessem lendo.

    As crianas elaboram uma srie de idias e hipteses provisrias antes decompreender o sistema escrito em toda a sua complexidade.

    Sabe-se, tambm, que as hipteses elaboradas pelas crianas em seu processo deconstruo de conhecimento no so idnticas em uma mesma faixa etria, porque dependemdo grau de letramento de seu ambiente social, ou seja, da importncia que tem a escrita nomeio em que vivem e das prticas sociais de leitura e escrita que podem presenciar eparticipar.

    No processo de construo dessa aprendizagem as crianas cometem erros. Os erros,nessa perspectiva, no so vistos como faltas ou equvocos, eles so esperados, pois se

    referem a um momento evolutivo no processo de aprendizagem das crianas. Eles tm umimportante papel no processo de ensino, porque informam o adulto sobre o modo prprio de ascrianas pensarem naquele momento. E escrever, mesmo com esses erros, permite s

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    crianas avanarem, uma vez que s escrevendo possvel enfrentar certas contradies. Porexemplo, se algumas crianas pensam que no possvel escrever com menos de trs letras, epensam, ao mesmo tempo, que para escrever gato so necessrias duas letras, estabelecendouma equivalncia com as duas slabas da palavra gato, precisam resolver essa contradio

    criando uma forma de grafar que acomode a contradio enquanto ainda no possvelultrapass-la.

    Desse modo, as crianas aprendem a produzir textos antes mesmo de saber graf-losde maneira convencional, como quando uma criana utiliza o professor como escriba ditando-lhe sua histria. A situao inversa tambm possvel, quando as crianas aprendem a grafarum texto sem t-lo produzido, como quando escrevem um texto ditado por outro ou um quesabem de cor. Isso significa que, ainda que as crianas no possuam a habilidade para escrevere ler de maneira autnoma, elas podem fazer uso da ajuda de parceiros mais experientes crianas ou adultos para aprenderem a ler e a escrever em situaes significativas.

    ORIENTAES GERAIS PARA O PROFESSOR

    Ambiente alfabetizador

    Diz-se que um ambiente alfabetizador quando promove um conjunto de situaes deusos reais de leitura e escrita nas quais as crianas tm a oportunidade de participar. Se osadultos com quem as crianas convivem utilizam a escrita no seu cotidiano e oferecem a elas a

    oportunidade de presenciar e participar de diversos atos de leitura e de escrita, elas podem,desde cedo, pensar sobre a lngua e seus usos, construindo idias sobre como se l e como seescreve.

    Na instituio de educao infantil, so variadas as situaes de comunicao quenecessitam da mediao pela escrita. Isso acontece, por exemplo, quando se recorre a umainstruo escrita de uma regra de jogo, quando se l uma notcia de jornal de interesse dascrianas, quando se informa sobre o dia e o horrio de uma festa em um convite deaniversrio, quando se anota uma idia para no esquec-la ou quando o professor envia umbilhete para os pais e tem a preocupao de l-lo para as crianas, permitindo que elas seinformem sobre o seu contedo e inteno.

    Todas as tarefas que tradicionalmente o professor realizava fora da sala e na ausnciadas crianas, como preparar convites para as reunies de pais, escrever uma carta para umacriana que est se ausentando, ler um bilhete deixado pelo professor do outro perodo etc.,podem ser partilhadas com as crianas ou integrarem atividades de explorao dos diversosusos da escrita e da leitura.

    A participao ativa das crianas nesses eventos de letramento configura um ambientealfabetizador na instituio. Isso especialmente importante quando as crianas provm decomunidades pouco letradas, em que tm pouca oportunidade de presenciar atos de leitura eescrita junto com parceiros mais experientes. Nesse caso, o professor torna-se umareferncia bastante importante. Se a educao infantil trouxer os diversos textos utilizados

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    nas prticas sociais para dentro da instituio, estar ampliando o acesso ao mundo letrado,cumprindo um papel importante na busca da igualdade de oportunidades.

    Algumas vezes, o termo ambiente alfabetizador tem sido confundido com a imagemde uma sala com paredes cobertas de textos expostos e, s vezes, at com etiquetas

    nomeando mveis e objetos, como se esta fosse uma forma eficiente de expor as crianas escrita. necessrio considerar que expor as crianas s prticas de leitura e escrita estrelacionado com a oferta de oportunidades de participao em situaes nas quais a escrita ea leitura se faam necessrias, isto , nas quais tenham uma funo real de expresso ecomunicao.

    A experincia com textos variados e de diferentes gneros fundamental para aconstituio do ambiente de letramento. A seleo do material escrito, portanto, deve estarguiada pela necessidade de iniciar as crianas no contato com os diversos textos e de facilitara observao de prticas sociais de leitura e escrita nas quais suas diferentes funes e

    caractersticas sejam consideradas. Nesse sentido, os textos de literatura geral e infantil,jornais, revistas, textos publicitrios e outros so os modelos que se pode oferecer scrianas para que aprendam sobre a linguagem que se usa para escrever.

    O professor, de acordo com seus projetos e objetivos, pode escolher com que gnerosvai trabalhar de forma mais contnua e sistemtica, para que as crianas os conheam bem.Por exemplo, conhecer o que uma receita culinria, seu aspecto grfico, formato em lista,combinao de palavras e nmeros que indicam a quantidade dos ingredientes etc., assim comoas caractersticas de uma poesia, histrias em quadrinhos, notcias de jornal e outros.

    Alguns textos so adequados para o trabalho com a linguagem escrita nessa faixa

    etria, como, por exemplo, receitas culinrias; regras de jogos; textos impressos emembalagens, rtulos, anncios, slogans, cartazes, folhetos; cartas, bilhetes, postais, cartes(de aniversrio, de Natal etc.); convites; dirios (pessoais, das crianas da sala etc.); histriasem quadrinhos, textos de jornais, revistas e suplementos infantis; parlendas, canes, poemas,quadrinhas, adivinhas e trava-lnguas; contos (de fadas, de assombrao e outros.); mitos,lendas, causos populares e fbulas; relatos histricos; textos de enciclopdia e outros.

    ORGANIZAO DO TEMPO

    Atividades Permanentes

    Contar histrias costuma ser uma prtica diria nas instituies de educao infantil.Nesses momentos, alm de contar, necessrio ler as histrias e possibilitar seu recontopelas crianas. possvel tambm a leitura compartilhada de livros em captulos, o quepossibilita s crianas o acesso, pela leitura do professor, a textos mais longos.

    Outra atividade permanente interessante a roda de leitores em que periodicamenteas crianas tomam emprestado um livro da instituio para ler em casa. No dia previamente

    combinado, as crianas podem relatar suas impresses, comentar o que gostaram ou no, o quepensaram, comparar com outros ttulos do mesmo autor, contar uma pequena parte da histriapara recomendar o livro que a entusiasmou s outras crianas.

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    A leitura e a escrita tambm podem fazer parte das atividades diversificadas, pormeio de ambientes organizados para:

    leitura so organizados de forma atraente, num ambiente aconchegante,livros de diversos gneros, de diferentes autores, revistas, histrias emquadrinhos, jornais, suplementos, trabalhos de outras crianas e outros.;

    jogos de escrita no ambiente criado para os jogos de mesa, podem-seoferecer jogos grficos, como caa-palavras, forca, cruzadinhas etc. Nessescasos, convm deixar disposio das crianas cartelas com letras, letrasmveis e outros.

    faz-de-conta a criao de ambientes para brincar no interior ou fora da salapossibilita a ampliao contextualizada do universo discursivo, trazendo para ocotidiano da instituio novas formas de interao com a linguagem. Esse espaopode conter diferentes caixas previamente organizadas pelo professor paraincrementar o jogo simblico das crianas, nas quais tenham diversos materiaisgrficos, prprios s diversas situaes cotidianas que os ambientes do faz-de-conta reproduzem, como embalagens diversas, livros de receitas, blocos paraescrever, tales com impressos diversos e outros.

    PROJETOS

    Os projetos permitem uma interseo entre contedos de diferentes eixos detrabalho. H projetos que visam o trabalho especfico com a linguagem, seja oral ou escrita,levando em conta as caractersticas e funo prprias do gnero. Nos projetos relacionadosaos outros eixos de trabalho, comum que se faa uso do registro escrito como recurso dedocumentao. Elaborar um livro de regras de jogos, um catlogo de colees ou um fascculoinformativo sobre a vida dos animais, por exemplo, podem ser produtos finais de projetos. Damesma forma, preparar uma entrevista ou uma comunicao oral, como um convite para queoutro grupo venha assistir a uma apresentao, so atividades que podem integrar projetos dediversas reas. Os projetos de linguagem oral podem propor, por exemplo, a gravao em fita

    cassete de histrias contadas pelas famlias para fazer uma coleo para a sala, ou deparlendas, ou, ainda, de brincadeiras cantadas para o acervo de brincadeiras da instituio oupara outro lugar a ser definido pelo professor e pelas crianas. A pesquisa e o reconto decasos ou histrias da tradio oral envolvendo as famlias e a comunidade, que contaro sobreas histrias que povoam suas memrias, outro projeto que oferece ricas possibilidades detrabalho com a linguagem oral.

    Pode-se tambm organizar saraus literrios nos quais as crianas escolhem textos(histrias, poesias, parlendas) para contar ou recitar no dia do encontro. Elaborar umdocumentrio em vdeo ou exposio oral sobre o que as crianas sabem de assuntos tratados

    num projeto de outro eixo, como, por exemplo, instrues sobre como se faz uma pipa.

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    No que se refere linguagem escrita, os projetos favorecem o planejamento do textopor meio da elaborao de rascunhos, reviso (com ajuda) e edio (capa, dedicatria, ndice,ilustraes etc.), na busca de uma bem cuidada apresentao do produto final.

    Os diversos textos que podem ser produzidos em cada projeto devem utilizar modelos

    de referncia correspondentes aos gneros com os quais se est trabalhando. aconselhvelque sejam apresentados textos impressos de diferentes autores. Se o texto for um cartaz,deve-se apresentar s crianas alguns cartazes sobre diversos assuntos, para que elas possamperceber como so organizados, como o texto escrito, como so as imagens e outros. Se forum jornal, necessrio que as crianas possam identificar, entre outras coisas, as diversassees que o compem, como se caracteriza uma manchete, uma propaganda, uma seo declassificados e outros. Para se montar uma histria em quadrinhos, necessrio oconhecimento de vrios tipos de histrias em quadrinhos para que as crianas conheammelhor suas caractersticas. Pode-se identificar os principais temas que envolvem cadapersonagem, os recursos de imagens usadas etc. Assim, se amplia o repertrio em uso pelascrianas e elas avanam no conhecimento desse tipo de texto. Ao final, as crianas podemproduzir as prprias histrias em quadrinhos.

    Os projetos que envolvem a escrita podem resultar em diferentes produtos: umacoletnea de textos de um mesmo gnero (poemas, contos de fadas, lendas etc.); um livrosobre um tema pesquisado (a vida dos tubares, das formigas etc.); um cartaz sobre cuidadoscom a sade ou com as plantas, para afixar no mural da instituio; um jornal; um livro dasreceitas aprendidas com os pais que estiverem dispostos a ir preparar um prato junto com ascrianas; produo de cartas para correspondncia com outras instituies etc.

    Pode-se planejar projetos especficos de leitura, articulados ou no com a escrita:produzir uma fita cassete de contos ou poesias recitadas por um grupo, para ouvir em casa oupara enviar a uma turma de outra instituio; elaborar um lbum de figuras (de animais ou deplantas, de fotos, de cones diversos, de logotipos da publicidade ou marcas de produtos etc.)colecionadas pelas crianas; elaborar uma antologia de letras das msicas prediletas do grupo,para record-las e poder cant-las; elaborar uma coletnea de adivinhas para pegar os pais eirmos etc.

    SEQNCIA DE ATIVIDADES

    Nas atividades seqenciadas de leitura, pode-se eleger temporariamente, textos quepropiciem conhecer a diversidade possvel existente dentro de um mesmo gnero, como porexemplo, ler o conjunto da obra de um determinado autor ou ler diferentes contos sobre saci-perer, drages ou piratas, ou vrias verses de uma mesma lenda etc.

    Os recursos didticos e sua utilizao

    Dentre os principais recursos que precisam esta