caracterização piroelétrica do polímero fluoreto de polivinilideno

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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO Universidade Federal de Alfenas. UNIFAL-MG Rua Gabriel Monteiro da Silva, 714. Alfenas/MG. CEP 37130-000 Fone: (35) 3299-1000. Fax: (35) 3299-1063 RONALDO GONÇALVES GONZAGA Caracterização Piroelétrica do Polímero Fluoreto de Polivinilideno (PVDF) Alfenas - MG 2014

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Page 1: Caracterização Piroelétrica do Polímero Fluoreto de Polivinilideno

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO Universidade Federal de Alfenas. UNIFAL-MG

Rua Gabriel Monteiro da Silva, 714. Alfenas/MG. CEP 37130-000 Fone: (35) 3299-1000. Fax: (35) 3299-1063

RONALDO GONÇALVES GONZAGA

Caracterização Piroelétrica do Polímero Fluoreto de Polivinilideno (PVDF)

Alfenas - MG 2014

Page 2: Caracterização Piroelétrica do Polímero Fluoreto de Polivinilideno

RONALDO GONÇALVES GONZAGA

Caracterização Piroelétrica do Polímero Fluoreto de Polivinilideno (PVDF).

Trabalho de Conclusão de Curso, apresentado como parte dos requisitos para obtenção do título de Licenciatura em Física, pela Universidade Federal de Alfenas. Área de concentração: Física aplicada Orientador: Prof. Dr. Célio Wisniewski

Alfenas - MG 2014

Page 3: Caracterização Piroelétrica do Polímero Fluoreto de Polivinilideno

RONALDO GONÇALVES GONZAGA

Caracterização Piroelétrica do Polímero Fluoreto de Polivinilideno (PVDF).

A banca examinadora abaixo – assinada, aprova o Trabalho de Conclusão e Curso apresentado como parte dos requisitos para obtenção do título de Licenciatura em Física pela Universidade Federal e Alfenas. Área de concentração: Física aplicada

Alfenas – MG 2014

Page 4: Caracterização Piroelétrica do Polímero Fluoreto de Polivinilideno

Aprovada em: Prof. Instituição: Assinatura: Prof. Instituição: Assinatura: Prof. Instituição: Assinatura:

Alfenas - MG 2014

Page 5: Caracterização Piroelétrica do Polímero Fluoreto de Polivinilideno

DEDICATÓRIA Aos meus pais pelo apoio e carinho nos momentos de luta para que esse trabalho

pudesse ter sido concluído, dedico.

Page 6: Caracterização Piroelétrica do Polímero Fluoreto de Polivinilideno

AGRADECIMENTO

À Universidade Federal de Alfenas, pela oportunidade de desenvolvimento do

presente trabalho em uma nova área de estudos.

Ao Prof. Dr. Célio Wisniewski, orientador, por todo seu empenho, dedicação e

sugestões durante a elaboração deste.

Ao Prof. Dr. Rinaldo Gregório Filho, co-orientador, pela disponibilidade do

Laboratório de Propriedades Elétricas (DEMA/UFSCAR) e toda a ajuda dada no

decorrer do desenvolvimento da pesquisa.

Page 7: Caracterização Piroelétrica do Polímero Fluoreto de Polivinilideno

RESUMO

Os polímeros são materiais que vem se destacando com aplicações voltadas a tecnologia

por apresentarem propriedades ferroelétricas, piro e piezoeléctricas. Em sua família

destacam-se o poli (fluoreto de vinilideno), os copolímeros derivados do fluoreto de

vinilideno, entre outros [1]. A utilização de polímeros em sensores é fundamental em

aplicação tecnológica, como por exemplo, a simulação do sentido do tato (sensor de

temperatura e de pressão) em robôs ou outras máquinas que necessitam deste sentido de

percepção de objetos e texturas. O fluoreto de polivinilideno (PVDF) apresenta

características piezo e piroelétricas necessárias sendo alternativa tecnológica importante

em sensores, além de sua estabilidade e resistência química e física, combinadas ao fácil

processamento deste material. O PVDF apresenta 4 fases cristalinas, sendo (α, β,γ e δ)

[1]. A fase beta é de interesse tecnológico por possuir características piezo e

piroelétrica. Recentemente foram obtido filmes de PVDF β, produzidos por solução, e

cujas características piezo e piroelétrica ainda são desconhecidas. Pretende-se neste

trabalho o desenvolvimento e implantação da técnica para medida do coeficiente

piroelétrico e aplicá-la na caracterização do PVDF obtidos por solução. As amostras

foram polarizadas eletricamente pela técnica de rampas de tensão e o coeficiente

piroelétrico foi determinado.

Palavras-Chave: piroeletricidade, PVDF, polarização.

Page 8: Caracterização Piroelétrica do Polímero Fluoreto de Polivinilideno

ABSTRACT

Polymers are materials that has been used to technologic applications due to its physical

and chemical properties. The poly (vinylidene fluoride) - PVDF and its copolymers are

excellent candidates to ferroelectric, piezoelectric and pyroelectric polymeric sensors.

The use of polymers in sensors is critical for technological application, such as the

simulation of the sense of touch sensor (pressure and temperature) on robots or other

machinery which need of these perceptions for objects and textures. The PVDF has

piezo and pyroelectric properties necessary to be important alternative technology in

sensors, in addition to its chemical and physical stability and strength, combined with

the easy processing of this material. PVDF has 4 crystalline phases: α , β , γ and δ. The

β phase is of technological interest because it has piezo and pyroelectric characteristics.

Was recently obtained beta PVDF films, produced by solution at low temperature of

crystallization (< 80 oC), whose piezo and pyroelectric characteristics are still unknown.

In this work was developed and implemented the technique for measuring the

pyroelectric coefficient and applied it to the characterization of PVDF obtained by

solution. The samples were electrically polarized by the voltage ramps technique and

the pyroelectric coefficient was carried out.

Keywords: pyro-eletricity, PVDF, polarization.

Page 9: Caracterização Piroelétrica do Polímero Fluoreto de Polivinilideno

Índice

1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................................ 1

1.1. POLÍMEROS ..................................................................................................................................... 1 1.2. POLI FLUORETO DE VINILIDENO (PVDF) ......................................................................................... 1 1.2.1. Estrutura molecular do PVDF ....................................................................................................... 2 1.2.2. Fase α ............................................................................................................................................. 3 1.2.3. Fase β ............................................................................................................................................. 4 1.3. CRISTALIZAÇÃO DO PVDF ............................................................................................................. 5 1.3.1. Cristalização por solução .............................................................................................................. 5 1.3.2. Ferroeletricidade dos materiais ..................................................................................................... 6 1.3.3. Polarização remanescente ou espontânea ..................................................................................... 7 1.3.4. Campo coercitivo ........................................................................................................................... 7 1.4. PIROELETRICIDADE ......................................................................................................................... 7 1.5. CARACTERIZAÇÃO DA ESTRUTURA DO PVDF ................................................................................. 9 1.5.1. Caracterização por espectroscopia (FTIR) ................................................................................... 9 1.5.2. Caracterização por calorimetria exploratória diferencial .......................................................... 10 1.5.3. Caracterização por difração de Raios X ...................................................................................... 11 1.6. OBTENÇÃO DO PVDF ................................................................................................................... 11

2. JUSTIFICATIVA ....................................................................................................................... 12

3. OBJETIVOS ............................................................................................................................... 12

4. MATERIAL E MÉTODOS ....................................................................................................... 13

4.1. MATERIAIS UTILIZADOS ................................................................................................................ 13 4.1.1. Equipamentos utilizados .............................................................................................................. 13 4.2. PREPARAÇÃO DAS AMOSTRAS DE PVDF ....................................................................................... 14 4.3. MÉTODO DE RAMPAS DE TENSÃO (RT) ........................................................................................ 16 4.4. POLARIZAÇÃO DAS AMOSTRAS ..................................................................................................... 17 4.5. SISTEMA DE MEDIDA DO COEFICIENTE PIROELÉTRICO ................................................................... 18

5. RESULTADOS E DISCUSSÃO ............................................................................................... 19

5.1. ANÁLISE POR ESPECTROSCOPIA DE INFRAVERMELHO (FTIR). ...................................................... 19 5.1.1. Fases cristalinas presentes nas amostras .................................................................................... 19 5.1.2. Análise por calorimetria exploratória (DSC) .............................................................................. 21 5.1.3. Análise por difração de raios-X ................................................................................................... 22 5.2. CARACTERIZAÇÃO FERROELÉTRICA .............................................................................................. 23 5.3. MEDIÇÕES DE PIROELETRICIDADE ................................................................................................. 23

6. CONCLUSÃO ............................................................................................................................ 25

6.1. CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................................... 25 6.2. TRABALHOS FUTUROS .................................................................................................................. 25

Page 10: Caracterização Piroelétrica do Polímero Fluoreto de Polivinilideno

1

1. INTRODUÇÃO

1.1. Polímeros

Os polímeros são materiais orgânicos ou inorgânicos cristalinos ou

semicristalinos, que contem alto peso molecular. Podem ser naturais ou sintéticos.

Dentre os vários polímeros naturais podemos citar celulose (plantas), caseína (proteína

do leite), látex natural e seda. Alguns exemplos de polímeros sintéticos: PVDF, PVC,

Nylon e acrílico. Os polímeros consistem em estruturas moleculares com repetições de

pequenas unidades, chamados meros, esse conjunto chamado de cadeia polimérica,

onde cada cadeia polimérica é uma macromolécula constituída pela união de moléculas

simples ligadas por covalência.

Os Polímeros têm diversas aplicações, desde a medicina até a engenharia. A

maior parte dos objetos hoje utilizados tem polímeros na sua composição. O polímero

cristaliza-se, formando esferulitas, que são estruturas esféricas constituídas de pilhas de

lamelas, possuindo um ciclo alternado entre o material amorfo e cristalino, que cresce

para fora a partir de um centro comum durante a cristalização.

1.2. Poli fluoreto de vinilideno (PVDF)

Devido aos vários estudos e aplicações a partir da piezeletricidade o poli

fluoreto de vinilideno, denominado como PVDF, descoberto por KAWAI em 1969,

mostra que esse polímero tornou-se altamente piezelétrico após ser mecanicamente

estirado e submetido à ação de um campo elétrico, no entanto o PVDF tem sido

estudado devido as suas propriedades piro e piezelétrica, bem como por sua excelente

estabilidade química e resistência mecânica. Este polímero cristaliza-se formando

esferulitas, que são estruturas esféricas constituídas de pilhas de lamelas, alternando-se

material cristalino, que cresce para fora a partir de um centro comum durante a

cristalização [2-5].

Estas lamelas apresentam 10-8 m de espessura e 10-7m de comprimento,

variando as condições de cristalização. O material tem a característica de um líquido

superresfriado, com uma temperatura de transição vítrea, de aproximadamente 50°C, e

se encontra provavelmente entre as lamelas adjacentes. A fração do volume do material

cristalino é de aproximadamente 50%, valor este que depende da história térmica.

Page 11: Caracterização Piroelétrica do Polímero Fluoreto de Polivinilideno

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Além de serem flexíveis, são relativamente fáceis e baratos de fabricar. Este

polímero pode cristalizar-se em pelo menos quatro distintas fases cristalinas, como alfa,

beta, gama e delta. É um material semicristalino, de fácil usinagem, múltiplas aplicações

e com grande resistência química [4-9].

1.2.1. Estrutura molecular do PVDF

O PVDF é um polímero semicristalino, formado por unidades repetidas

(-H2C-CF2-)n. Seu peso molecular (wM ) é da ordem de 105g/mol, correspondendo a

2000 unidades de repetição [7]. As transições entre as fases desse polímero podem

ocorrer conforme o método de produção, a saber, em grande escala para tratamentos

mecânicos, térmicos, elétricos ou de pressão.

A estrutura do PVDF é formada por cadeias de carbono associadas à ligações

de flúor e hidrogênio, fazendo assim a rede cristalina, conforme demonstrado na Figura

1.

Figura 1: Estrutura química PVDF. Fonte: adaptado, autor (2014)

A cristalização do PVDF forma esferulitos, (estruturas esféricas) [10]

constituídas de pilhas de lamelas, alternando-se entre material amorfo e cristalino, que

crescem para fora a partir de um centro comum durante a cristalização. Estas lamelas

têm tipicamente 10-8 m de espessura e 10-7m de comprimento, dependendo das

condições de cristalização. Em sua estrutura molecular, esse polímero apresenta dipolos

elétricos permanentes perpendiculares a suas cadeias, devido à existência de uma

diferença de eletronegatividade entre os átomos de flúor e carbono [11].

O material amorfo neste polímero possui características de um líquido super-

resfriado, com uma temperatura de transição vítrea, Tg, de aproximadamente -50°C a -

35°C, e está provavelmente localizado entre as lamelas adjacentes [10]. Segundo

Page 12: Caracterização Piroelétrica do Polímero Fluoreto de Polivinilideno

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BROADHUST, et al [12], a fração do volume do material cristalino é de

aproximadamente 50%, valor este que depende do processo térmico para a estrutura

lamelar esferulítica semelhante à mostrada na Figura 2, que mostra em detalhe à

estrutura lamelar com segmento normal da lamela.

Figura 2: Diagrama esquemático de um esferulito. Fonte: adaptado, autor (2014).

1.2.2. Fase α

A fase α é a fase cristalina mais comum obtida do PVDF. Ela é apolar e pode

ser obtida pelo resfriamento a partir do fundido ou a partir de solução com diferentes

solventes como, por exemplo, DMF (dimetilformamida), n-metilpirrolidona entre

outros, em temperaturas superiores a 120°C [13]. Os filmes nesta fase podem ser

orientados devido ao estiramento em temperaturas superiores a 120°C. A partir da fase

α obtêm-se outras três fases através de diferentes tratamentos sendo eles mecânicos,

térmicos ou até elétricos [2]. Além da mudança de fase, podem ocorrer também

mudanças na orientação dos dipolos devido ao campo elétrico externo, dando assim as

características do material. Abaixo, na Figura 3, esta demonstrado a estrutura do

polímero PVDF fase α.

Page 13: Caracterização Piroelétrica do Polímero Fluoreto de Polivinilideno

4

Figura 3: Estrutura polímero PVDF fase α agrupamento das cadeias [2]

1.2.3. Fase β

Dentre as fases polimórficas a fase β é a de maior interesse devido as suas

propriedades ferroelétricas, piro e piezelétricas. Esta fase normalmente é obtida através

de estiramento mecânico uni ou biaxial da fase α. Ela pode também ser obtida por

cristalização a partir de solução com DMF ou n-metilpirrolidona em temperaturas

abaixo de 70°C [14].

As amostras na fase β quando estiradas, apresentam fase orientada em qualquer

que seja a temperatura de estiramento, desde que esteja abaixo da temperatura de fusão.

A Figura 4, representa o grupamento das cadeias do polímero PVDF na fase β.

Page 14: Caracterização Piroelétrica do Polímero Fluoreto de Polivinilideno

5

Figura 4: Estrutura polímero PVDF fase β agrupamento das cadeias [2]

1.3. Cristalização do PVDF

Os diferentes filmes desse polímero podem ser obtidos por cristalização ou

solução a partir do fundido, onde se utiliza diferentes solventes para que as cadeias

possam se arranjar de uma melhor forma dando origem a diferentes fases cristalina.

1.3.1. Cristalização por solução

Esse processamento é importante na obtenção de filmes com espessuras entre

(10-6 m) ou filmes depositados em superfícies. Como já demonstrado, o PVDF

apresenta cristalização em todas as suas fases α, β, δ e γ ou em misturas de fases, em

que a fase predominante depende da temperatura e do tempo de cristalização[13, 15].

Recentemente o grupo de pesquisa do (Laboratório de propriedade elétrica em

polímeros – DEMA – UFSCar) [15], demonstrou que a fase predominante independe do

solvente utilizado, mostrou que o solvente está associado à velocidade de cristalização

(ou seja, sua taxa de evaporação) e mostrou também que em taxas de cristalização mais

lenta favorecem a formação de fase β e taxas de cristalização mais rápidas favorecem a

Page 15: Caracterização Piroelétrica do Polímero Fluoreto de Polivinilideno

6

formação de fase α. Já a fase γ só cristaliza em temperaturas acima de 155°C por

período acima de 6 horas.

1.3.2. Ferroeletricidade dos materiais

A ferroeletricidade foi apresentada por VALSEK's, em 1921 a partir de estudos

sobre as propriedades dielétricas do sal de Rochelle. O termo ferroeletricidade, foi

adotado a partir de 1940 devido ao fato de que esses materiais possuem um ciclo de

histerese similar ao ciclo de histerese ferromagnética [4, 9, 5].

Em uma amostra polarizada, devido a aplicação externa de uma tensão elétrica

entre os eletrodos metálicos, as cargas livres se acumulam na superfície das placas,

desta forma, ocorre a neutralização das cargas supeficiais de polarização. Fazendo

assim, com que o campo elétrico orientado seja removido. Os dipolos se alinham

novamente mantendo uma configuração energética favorável, fazendo assim com que as

cargas livres sejam inalteradas. A figura 5, representa o estado de polarização de um

material ferroelétrico estável, mostrando um campo despolarizante no interior da

amostra.

Figura 5: Representação esquematica da polarização de um material ferroelétrico. Fonte

adaptado, autor (2014).

A aplicação de uma corrente inversa realinha os dipolos fazendo assim uma

corrente (fluxo de cargas livres) no circuito em quantidade suficiente para tornar neutra

as cargas livres que se encontram no interior do circuito e neutalizar a nova carga de

polarização.

A relação entre a polarização elétrica e o campo elétrico, não é dada por uma

relação linear, ou seja, a susceptibilidade elétrica não é constante, ela é obtida medindo-

Page 16: Caracterização Piroelétrica do Polímero Fluoreto de Polivinilideno

7

se a densidade da corrente elétrica através da amostra. Quando esta é submetida a um

campo elétrico a corrente carrega todas as informações sobre a amostra (ferroelétricas e

não ferroelétricas)

Os materiais que possuem propriedades ferroelétricas são dielétricos de

estrutura cristalina e, portanto, não conduzem corrente elétrica. O que caracteriza os

materiais ferroelétricos é que esses materiais possuem polarização espontânea em

determinada faixa de temperatura. Esta polarização pode ser invertida por aplicação de

um campo elétrico adequado, este processo é conhecido por chaveamento ferroelétrico.

1.3.3. Polarização remanescente ou espontânea

A polarização remanecente permanece nos materiais ferroelétricos após a

aplicação de um campo elétrico externo, ela é representada pelo produto do número de

dipolos por unidade de volume (n=N/V) pelo momento de dipolo (p) logo, (Pr= np).

Com o aumento da temperatura, o material ferroelétrico passa por uma transição de

fase, mostrando assim o desaparecimento da polarização espontânea. A temperatura em

que ocorre a transição de fase é denominada temperatuda de curie, assim acima dessa

temperatura podemos dizer que o material está no estado paraelétrico (não polar).

Os valores típicos de polarização remanescente para amostras de PVDF-β

obtido apartir do extiramento na fase-α é 50 e 80 mC/m2.

1.3.4. Campo coercitivo

O campo coercitivo denomina-se em um campo necessário para anular uma

polarização previamente induzida e não possui uma quantidade bem definida, assim não

dependendo somente da temperatura mais também da intensidade, freqüência e forma

da onda da tensão aplicada [1]. Em amostras de PVDF-β o campo coercitivo Ec está

entre 50 e 120 MV/m [16]

1.4. Piroeletricidade

Piroeletricidade é a capacidade de alguns materiais de gerarem um potencial

elétrico quando aquecidos ou arrefecidos [6,17,4]. A mudança de temperatura modifica

ligeiramente as posições dos átomos na estrutura cristalina, de tal modo que a

polarização do material é alterada. Esta alteração da polarização dá origem a um

potencial elétrico temporário que depende da taxa de aquecimento/resfriamento,como

demonstrado na Figura 6. Portanto, a piroeletricidade não depende somente da

Page 17: Caracterização Piroelétrica do Polímero Fluoreto de Polivinilideno

8

polarização elétrica mais também de uma função da temperatura. Os polímeros

ferroelétricos são também piroelétricos, porque a direção de sua polarização pode ser

revertida quando um campo elétrico é aplicado e sua polarização desaparece à

temperatura crítica TC por analogia com o ferromagnetismo [4].

480 600 720 840 96038

40

42

44

46

48 φ

Tempo (s)

T (

0C

)

4

6

8

10

J (

µµ µµA

/m2)

Figura 6: Representação esquemática da aplicação da variação senoidal de temperatura

e resposta senoidal da variação de corrente [7].

A equação1 para obtenção do coeficiente piroelétrico em amostra de PVDF é

dada por:

T

Jsenp

∆=

ω

φ)(

Equação 1: Equação para o cálculo da piroeletricidade [7].

Onde:

Ø : ângulo de defasagem;

∆J: densidade de corrente devido à variação de temperatura;

ω: frequência angular;

∆T: amplitude de oscilação.

O método de variação senoidal de temperatura se basea no tempo [18, 19, 2] e

possibilita a separação das correntes piroelétrica e não piroelétricas. A temperatura da

amostra oscila segundo uma função senoidal com freqüência e amplitude constantes.

Mede-se diretamente a corrente elétrica (induzida nos eletrodos da amostra) e a

Page 18: Caracterização Piroelétrica do Polímero Fluoreto de Polivinilideno

9

temperatura. A corrente piroelétrica, por definição [1], é diretamente proporcional à

derivada da temperatura no tempo. Se a temperatura oscila senoidalmente, a corrente

piroelétrica é defasada com um ângulo de fase φ = 90°. Logo, se a corrente tem

componentes não piroelétricas, o ângulo de fase se encontra no intervalo 0 ⟨ φ ⟨ 900,

dependendo das amplitudes das correntes não piroelétricas

1.5. Caracterização da estrutura do PVDF

A caracterização das diferentes fases do PVDF foi através de diferentes

métodos como: espectroscopia (FTIR), difração de raios X e temperaturas de transição

(DSC) para um melhor entendimento das fases e cristalização do polímero.

1.5.1. Caracterização por espectroscopia (FTIR)

As bandas de absorção dos espectros do infravermelho corresponde a radiação

de espectros eletromagnéticos situadas nas regiões do visível e das micro-ondas

correspondente aos comprimentos de onda entre 0,78 e 400 µm (12500 a 25 cm-1).

Quando é aplicada uma radiação no infravermelho com frequência na faixa entre 10000

e 100 cm-1 e absorvida por um material, essa frequência é convertida em energia de

vibração das moléculas.

A energia de translação das moléculas é representada pela energia de cada

molécula polimérica, os movimentos dos elétrons na molécula como vibração atômica e

rotação total da molécula. Para materiais poliméricos podemos associar os graus de

liberdade a rotação da molécula e assim podemos ignorá-los, fazendo assim com que a

energia total de uma molécula seja determinada pelo movimento dos elétrons e vibração

dos átomos.

Na molécula existem dois tipos de vibração, as vibrações de grupo e as

vibrações atômicas. As fases de cristalização do PVDF possuem modos de vibração

característicos em suas moléculas, isso acontece devido às diferentes conformações

moleculares que as cadeias podem assumir em cada fase. Assim cada fase pode ser

distinguida por α, β e γ. As fases de cristalização podem ser distinguidas pelas bandas

de absorção características do infravermelho, que estão nos comprimentos de onda entre

400 a 1000 cm-1.

As bandas de vibrações características de cada fase estão representadas nas

tabelas 1 e 2 abaixo:

Page 19: Caracterização Piroelétrica do Polímero Fluoreto de Polivinilideno

10

Tabela 1: bandas de absorção no FTIR características de amostras de PVDF – α [19].

Bandas características Assinalamento

408 r(CF2) + r(CF2)

532 δ(CF2)

615 δ(CF2) - δ(CCC)

764 δ(CF2) + δ(CCC)

796 r(CF2)

855 r(CF2)

976 t(CF2)

Tabela 2: Bandas de absorção no FTIR características de amostras de PVDF – β [19].

Bandas características Assinalamento

444 r(CF2) + r(CH2)

472 ω(CF2)

510 δ(CF2)

840 r(CF2) + Va(CF2)

A banda de absorção em 472 cm-1 característica da fase β é encontrada somente

em amostras orientadas e sua intensidade é proporcional a razão de estiramento.

1.5.2. Caracterização por calorimetria exploratória diferencial

Análises térmicas por calorimetria exploratória diferencial são utilizadas para

estudar melhor as transições térmicas entre os polímeros, como o ponto de fusão, Tm, e

a temperatura de transição vítrea, Tg.

Utilizando análises de variação de entalpia de amostras em função da

temperatura ou tempo. A proporcionalidade entre a área sobre a curva de transição de

fusão e a quantidade de calor absorvido pela amostra durante o processo de fusão. Com

os valores desta área podem ser calculados a cristalinidade do material.

Page 20: Caracterização Piroelétrica do Polímero Fluoreto de Polivinilideno

11

1.5.3. Caracterização por difração de Raios X

As diferentes fases cristalinas do PVDF podem ser apresentadas devido as

distâncias interplanares características [20,21]. Os ângulos de difração 2θ que estão

representados relacionam a distância interplanar através da Lei de Bragg para as

diferentes fases cristalinas conforme representada na Tabela 3 abaixo:

Tabela 3: Ângulos de difração [1]

Fase Ângulo de difração (2θ) (graus) Planos cristalinos

Α 17,8°

18,5°

Pico intenso em 20,06°

26,8°

(020)

(021)

(100)

(110)

Β Pico intenso em 20,06°e

36,29°

(110)+(200)

(001)

Γ 18,3°

20,4°

26,3°

(020)

(110)+(021)

(022)

1.6. Obtenção do PVDF

O PVDF é um polímero semicristalino, apresentando aproximadamente a

mesma proporção de fase cristalina e amorfa. Pode apresentar várias formas cristalinas

e, dentre elas, a fase beta tem particular interesse devido ao alto teor ferroelétrico.

Existem várias formas de se obter o PVDF beta, tais como a aplicação de campos

intensos ou estiramento a partir do PVDF alfa (fase mais comum) e a cristalização a

partir de uma solução do polímero, entre outras. A cristalização a partir da solução

depende de vários fatores como o solvente, temperatura, velocidade de cristalização, etc

[6, 17]

Recentemente Silva, A. B. et. al. [9] obtiveram o PVDF beta a partir de uma

solução espalhada em uma superfície de vidro para evaporação do solvente, em

condições de temperatura e solventes controlados.

Page 21: Caracterização Piroelétrica do Polímero Fluoreto de Polivinilideno

12

2. Justificativa

A utilização de sensores é fundamental em aplicações tecnológicas, como por

exemplo, a simulação do sentido do tato (sensor de temperatura e de pressão) em robôs

ou outras máquinas que necessitam deste sentido de percepção de objetos e texturas.

Neste sentido, os sensores piezoeléctricos e piroelétricos desempenham um papel

importante na construção destes dispositivos.

O PVDF é amplamente investigado, polímero semicristalino, devido à sua

atração pyro e propriedades piezelétricas quando polarizados, além de sua flexibilidade,

excelente processabilidade, estabilidade térmica e resistência química. [4-9].

O PVDF possui uma fase cristalina, a fase β, que possui as melhores

propriedades piezo e piroelétricas e excelente para aplicações tecnológicas, como

sensores e atuadores.

Recentemente, no laboratório de medidas elétricas em polímeros, da UFSCar,

foram obtidas diversas amostras de PVDF na fase β produzidas por solução, fato inédito

pois por este método de produção, o PVDF cristalizava preferencialmente na fase alfa α.

Portanto as características ferroelétricas e piroelétricas ainda não foram determinadas.

Pretende-se, portanto investigar tais amostras e obter o coeficiente piroelétrico. Para

tanto está em andamento a montagem de sistema de medida na Unifal-MG para medida

do coeficiente piroelétrico.

Além disso, a área de pesquisa em física de polímeros ainda é incipiente na

instituição e com este projeto de iniciação pretende-se ampliar o conhecimento e

metodologias nesta área.

3. Objetivos

• Determinar o coeficiente piroelétrico de amostras de PVDF produzidas

por solução à 60º C, com diferentes solventes;

• Aprimorar a fabricação de amostras de PVDF para poder implantá-la na

Unifal-MG;

• Construção de um sistema para medida de piroeletricidade na Unifal-

MG;

• Desenvolvimento da área de medidas elétricas em polímeros na Unifal-

MG;

• Formação discente em ciência dos polímeros;

Page 22: Caracterização Piroelétrica do Polímero Fluoreto de Polivinilideno

13

4. Material e métodos

4.1. Materiais utilizados

• PVDF (Foraflon F4000 HD, Atochem) em forma de grãos;

• Solvente DMF (Merck 99,5%)

• Solvente N-metil pirrolidona, Pró analysi;

4.1.1. Equipamentos utilizados

• Placa de aquecimento com agitação magnética Marconi-(MA085);

• Capela com exaustão;

• Termômetro;

• Termopar tipo-J;

• Estufa de vácuo;

• Estufa de secagem: Fanem, modelo 515 com controle de temperatura;

• Prensa Hidráulica (30Ton) com controlador de temperatura Contemp;

• Espectrôfotometro de (IFTR): espectrofotômetro Shimadzu – Prestige 21

• Calorímetro diferencial de Varredura F2-DSC 7020 Exstar

• Difratômetro de raios–x – Shimadsu:

• Fonte de alta tensão (high voltage amplifier) modelo 10/10B (10KV) Trek

operando no modo amplifier;

• Placa processador de sinais e interface GPIB

• Conversor analógico digital (AD/DA) PCI 6014. National instruments;

• Eletrômetro; Keithley modelo 610C;

• Sistema de vácuo e conexões elétricas;

• Microcomputador;

• Multímetro: Keithley modelo 2400;

• Sistema de variação de temperatura artesanal;

• Placa de envio e aquisição de dados construída artesanalmente no laboratório

de Limnologia;

Page 23: Caracterização Piroelétrica do Polímero Fluoreto de Polivinilideno

14

4.2. Preparação das amostras de PVDF

As amostras de PVDF foram obtidas com auxílio de discentes e técnicos do LPE

(Laboratório Propriedades Elétricas – área de polímeros do Departamento de Materiais

– DEMA, da UFSCar).

O objetivo de produção das amostras foi atingido com sucesso tanto para

amostras na fase β e na fase α.

As amostras produzidas por solução a 60°C, apresentaram filmes com maior

porosidade obtendo uma coloração mais opaca, conforme a figura 6 abaixo, originada

da fase β.

Figura 6: Amostras de PVDF obtidas na fase β. Fonte: autor (2014).

Já as amostras obtidas a 150°C, apresentaram filmes transparentes bem lúcidos

mostrando uma ótima formação da fase α, como demonstra a figura 7 abaixo.

Figura 7: Amostras de PVDF obtidas na fase α. Fonte: autor (2014)

Para confirmação das fases nos diferentes filmes de PVDF foram utilizadas as

análises de: FTIR, difração de raios-X e calorimetria exploratória diferencial (DSC).

Page 24: Caracterização Piroelétrica do Polímero Fluoreto de Polivinilideno

15

Os PVDF filmes com espessura variando de 20-40 µm foram obtidos a partir

da dissolução da resina de PVDF em uma solução com 20%, em peso, de N, N-

dimetilformamida (DMF, Merck 99,5%) e N-metil pirrolidona (Pró analysi), conforme

demonstrado nas Tabelas 4 e 5. A solução foi mantida a 60 ° C em agitação mecânica

até a completa dissolução do PVDF. Em seguida foi espalhada sobre um substrato de

vidro previamente aquecido, onde permaneceu dentro de um forno por 2 horas a 60 ºC

para completa evaporação do solvente e cristalização do polímero. O filme foi então

removido do substrato e submetido a uma pressão uniaxial de 150 MPa a 110ºC por 5

min, utilizando uma prensa hidráulica.

Para amostras de PVDF-α com espessura variando de 20-40 µm foram obtidos

a partir da dissolução da resina de PVDF em uma solução com 20%, em peso, de N,

dimetilformamida (DMF, a Merck 99,5%) e N-metil pirrolidona. A solução foi mantida

a 150 ° C em agitação mecânica até a completa dissolução do PVDF. Em seguida foi

espalhada sobre um substrato de vidro previamente aquecido, onde permaneceu dentro

de uma estufa de secagem por 2 horas a 150 º C para completar a evaporação do

solvente e cristalização do polímero. O filme foi então removido do substrato e

submetido a uma pressão uniaxial de 150 MPa a 110ºC por 5 min, utilizando uma

prensa hidráulica.

Tabela 4: Amostras em diferentes fases com dimetilformamida (DMF). Fonte:

adaptado, autor (2014)

Amostra Técnica de preparação

α Cristalização a partir de solução com DMF a 150°C e posteriormente

prensagem

β Cristalização a partir de solução com DMF a 60°C e posteriormente

prensagem

Page 25: Caracterização Piroelétrica do Polímero Fluoreto de Polivinilideno

16

Tabela 5: Amostras em diferentes fases com N-metilpirrolidona. Fonte: adaptado, autor

(2014)

Amostra Técnica de preparação

α Cristalização a partir de solução com DMF a 150°C e posteriormente

prensagem

β Cristalização a partir de solução com DMF a 60°C e posteriormente

prensagem

4.3. Método de Rampas de Tensão (RT)

O sistema experimental para o método de rampa de tensão RT foi produzido no

instituto de física de São Carlos-IFSC da Universidade de São Paulo por Wisniewski [7]

e colaboradores e o sistema de polarização foi construído no laboratório de propriedades

elétricas de polímeros do DEMA UFSCar.

O sistema experimental do método de rampa de tensão foi implementado para

o controle do campo elétrico aplicado nas amostras em um circuito fechado com

ambiente em vácuo e controle de temperatura. A figura 8 apresenta o desenho do

sistema experimental.

O sistema foi construído com um microcomputador para aquisição de dados,

uma interface (National Instruments – Modelo USB 6900), amplificador de alta tensão

(modelo TREK 10/10B), um eletrômetro (keithelley 610B), e uma câmara de vácuo.

Figura 8: Esquema do sistema de polarização pelo método de rampa de tensão. Fonte:

adaptado, autor (2014).

Page 26: Caracterização Piroelétrica do Polímero Fluoreto de Polivinilideno

17

Wisniewski [7], ao apresentar que a condutividade de filmes de PVDF

fornecidos pela Kureha diminui com a ausência de umidade relativa através de um

ambiente em vácuo. A condutividade do PVDF é muito menor fazendo assim com que a

contribuição da condução possa ser desprezada.

Devido a essas informações as análises foram realizadas em ambiente a vácuo

(≈10-7 torr). O vácuo foi produzido por uma bomba mecânica e uma bomba difusora.

A amostra foi colocada entre dois eletrodos circulares de borracha, feita de um

material condutor, isto faz com que a amostra permaneça estável, não contendo

nenhuma bolha de ar em sua superfície de contato com a borracha. Sobre as borrachas

condutoras, foram colocados outros dois eletrodos metálicos de diâmetros iguais, para

que se possa aplicar altas tensões, como demonstrado na Figura 9.

Figura 9: Esquema do sistema de polarização, conexões e câmara de vácuo para

realização polarização Fonte: adaptado, autor (2014).

4.4. Polarização das amostras

A polarização é feita em um sistema baseado no método de rampas de tensão,

figura 10. As medidas de polarização foram realizadas com ciclos alternados de tempo

para que se possa separar a componente de polarização da corrente elétrica das correntes

de condução e capacitiva.

Page 27: Caracterização Piroelétrica do Polímero Fluoreto de Polivinilideno

18

0

50

100

150

200

250

300

350

Curva I Curva II

12 h 160 s 12 h 160 s

I (n

A)

Tempo

0

50

100

150

200

250

300

E (

MV

/m)

Figura 10. Diagrama esquemático do método de Rampas de Tensão (RT) e um perfil do

processo de polarização [2].

A curva de corrente I contém informações sobre todos os processos de

polarização e correntes de condução e capacitiva, e a curva II somente a corrente de

polarização ferroelétrica.

4.5. Sistema de medida do coeficiente piroelétrico

O sistema de medida do coeficiente piroelétrico foi construído no laboratório de

limnologia da UNIFAL-MG Universidade Federal de Alfenas. O sistema é constituído

por uma câmara par inserção da amostra entre eletrodos, cuja temperatura senoidal,

entre dois limites fixos, é controlada.

A amostra é colocada entre dois eletrodos metálicos planos. A temperatura dos

eletrodos é controlada através de um fluxo de água que circula no trocador de calor.

Um comutador de duas vias seleciona a água (quente ou fria, ou uma mistura de ambas)

que circula no trocador de calor, para que este oscile senoidalmente entre duas

temperaturas pré-definidas, obtendo assim um máximo e um mínimo de temperatura na

amostra. Todo o sistema é controlado por um microcomputador através de uma placa de

aquisição de dados construída no laboratório. O sistema é demonstrado abaixo na Figura

11.

A temperatura é avaliada por um termopar acoplado ao corpo da amostra

devido a sua alta sensibilidade e respostas rápidas às variações de temperatura. A

variação de temperatura será avaliada através de um multímetro Keithley modelo 2400.

Page 28: Caracterização Piroelétrica do Polímero Fluoreto de Polivinilideno

19

Figura 11: Sistema de Variação de Temperatura. Fonte: adaptado, autor (2014).

Todo o controle do sistema será feito por software baseado na linguagem visual

basic.

5. Resultados e Discussão

5.1. Análise por espectroscopia de infravermelho (FTIR).

As fases do PVDF podem ser verificadas através das bandas de absorção no

infravermelho.

5.1.1. Fases cristalinas presentes nas amostras

As Figuras 12 e 13 apresentam espectros de FTIR das amostras produzidas por

diferentes condições. As amostras estudadas nos comprimentos de onda entre 400 e

1000 cm-1.

Page 29: Caracterização Piroelétrica do Polímero Fluoreto de Polivinilideno

20

4 5 6 7 8 9 10

0

1

2

3

4

5

6

7

8

Tra

nsm

ita

ncia

(%

)

Comprimento de onda (cm-1)

alfa (α)

beta(β)

5,3

6,1

7,6

7,98,5 9,7

4,4

4,8 8,4

4,1

(α)

(β)

Figura 12: Espectros de FTIR das amostras de PVDF por solução a 60°C e 150°C, com

dimetilformamida (DMF). Fonte: autor (2014)

4 5 6 7 8 9 10

-1

0

1

2

3

4

5

Beta (β)

Alfa (α)

Numero de ondas(cm-1)

Tra

nsm

ita

ncia

(%

) (α)

(β)

4,8

5,1

8,4

9,7

7,6

4,4

5,3

4,0

Figura 13: Espectros de FTIR das amostras de PVDF por solução a 60°C e 150°C, com

N-metilpirrolidona. Fonte: autor (2014)

Page 30: Caracterização Piroelétrica do Polímero Fluoreto de Polivinilideno

21

De acordo com as figuras 12 e 13, pode-se observar bandas de absorção

características das fases cristalinas do PVDF (fases α e β), os picos se formaram devido

a taxa de evaporação do solvente e do tipo de solvente utilizado.

Para as amostras produzidas por solução a 60°C observou-se apenas bandas

características da fase β e para as amostras produzidas por solução a 150°C, bandas

características da fase α.

As amostras a 60°C na banda de 480 cm-1 apresentaram-se de forma muito

intensa, indicando uma elevada orientação das cadeias.

Os picos que determinam a fase α, são: 408, 532, 615, 764, 796, 855, 976 cm-1 e

os picos que determinam a fase β, são: 444, 472, 510, 840 cm-1.

As amostras produzidas por solução com DMF ou por N-metilpirrolidona

apresentaram bandas de absorção características da fase α e da fase β, não havendo

entretanto diferença entre os dois tipos de solventes para a cristalização do PVDF.

5.1.2. Análise por calorimetria exploratória (DSC)

Para todas as amostras estudadas neste trabalho a taxa de aquecimento foi de

10°C/min, obtendo informações a respeito das fases cristalinas bem como da

temperatura de transição das amostras. As análises térmicas DSC são apresentadas na

Figura 14.

120 140 160 180

0

500

1000

1500

2000

2500

3000

PVDF cristalizado em:

N-Metil α - 150 oC

N-Metil β - 60 oC

DMF α - 150 oC

DMF β - 60 oC

171

169

167

Flu

xo d

e c

alo

r (J

/g)

169

Temperatura (°C)

Figura 14: DSC de amostras com solventes DMF e N-metil pirrolidona produzidas a

diferentes temperaturas (60°C e 150°C). Fonte: autor (2014).

Page 31: Caracterização Piroelétrica do Polímero Fluoreto de Polivinilideno

22

As análises de DSC de amostras produzidas em diferentes temperaturas

apresentaram diferentes valores de endoterma de fusão.

Para amostras produzidas a 60°C, os valores de endoterma de fusão foram

169°C e 171°C, as amostras feitas por solução apresentaram um alargamento no pico

devido à formação de cristais e material amorfo não ser tão uniforme quanto à 150 oC.

Para amostras produzidas a 150°C, os valores de endoterma de fusão foram

169°C e 167°C. O gráfico acima mostra um estreitamento no pico devido a formação de

cristais mais uniforme. Entretanto, percebe que ambas as amostras apresentam fase

cristalina sendo as amostras com conformação α mais cristalinas que as produzidas à 60 oC (fase β).

5.1.3. Análise por difração de raios-X

Para a análise de difratograma de raio-X as amostras foram produzidas a partir

de solvente DMF e N-metil pirrolidona em solução a 60°C e 150°C. Nessa análise

obtiveram-se informações da estrutura da amostra como cristalinidade e fase cristalina.

A fase cristalina foi determinada através dos picos de difração cristalina obtidos

pelos espectros com os picos característicos das diferentes fases, conforme a

demostrado na figura 15 [20].

20,0 22,5 25,0 27,5 30,0 32,5 35,0 37,5 40,0

Inte

nsid

ade

(u

. a.)

2θ (graus)

N-metil α 150°C

N-metil β 60°C

DMF 150°C

DMF 60°C

Figura 15: Difrato grama de raios-X das amostras A, B, C, D, cristalizadas a

partir da solução a partir de 60°C e 150°C não estirada. Fonte: autor (2014).

Page 32: Caracterização Piroelétrica do Polímero Fluoreto de Polivinilideno

23

Da figura 15 pode–se observar a inexistência de picos por volta de 2θ = 26o para

as amostras cristalizadas 60 oC. Tais picos referem–se à fase α, confirmando a

predominância da fase β nas amostras produzidas a 60 oC e α à 150 oC.

5.2. Caracterização ferroelétrica

Para caracterização ferroelétrica utilizou-se o método de rampa de tensão (RT).

As amostras foram armazenadas na câmara de vácuo e mantidas a um vácuo de (10-6

torr) por um tempo mínimo de 5 horas antes do início da análise.

A polarização foi realizada através de ciclos bipolares de tensão aplicados na

amostras, fazendo com que os valos de tensão aplicado na amostras fosse aumentado

gradualmente até a amostras atingir seu valos máximo de tensão.

Foram aplicados campos elétricos de até 300 MV/m em amostras de

aproximadamente 20 µm. Entretanto, as amostras produzidas por solução são

excessivamente porosas, o que dificulta a aplicação de campos altos sem o rompimento

dielétrico da amostra. Em geral tais amostras permitem campos da ordem de 200

MV/m e, com sorte, algumas alcançam campos maiores.

A polarização remanescente é dependente do campo máximo aplicado e quanto

maior o campo, a polarização remanescente se torna mais intensa e estável e os campos

coercitivos tornam–se levemente menores (de ~100MV para ~80 MV/m) [1, 7]. Isto irá

influenciar no valor do coeficiente piroelétrico.

5.3. Medições de piroeletricidade

Segundo Wisniewski, amostras com excelentes condições de cristalização,

porosidade e polarização apresentam coeficiente de piroeletricidade de

aproximadamente 20 – 40 µCm-2K-1[23].

Os valores descritos na tabela 6, foram utilizados para o cálculo da

piroeletricidade de amostras de PVDF β produzidas por solução a 60°C utilizando

solvente DMF e os valores descritos na tabela 7, foram utilizados para o cálculo da

piroeletricidade de amostras de PVDF β onde o solvente utilizado foi o N-

metilpirrolidona. Para o cálculo da piroeletricidades utilizando ambos os solventes foi

utilizada a equação 1, mencionada anteriormente.

Page 33: Caracterização Piroelétrica do Polímero Fluoreto de Polivinilideno

24

Tabela (6): Variáveis para o cálculo da piroeletricidade (DMF). Fonte: autor, (2014)

ϕ (rad) 2,0

ω (s) 0,7

Área (10-3m2) 0,114

∆T(°C) 3,0

∆J(pA/m2) 0,004

p (µCm-2K-1) 26

Tabela (7): Variáveis para o cálculo da piroeletricidade (N-metil pirrolidona). Fonte:

autor, (2014)

A piroeletricidade obtida por amostra de PVDF por solução a 60°C com o

solvente DMF foi de p =26 µCm-2K-1. A piroeletricidade da amostra de PVDF por

solução a 60°C com o solvente N–metil pirrolidona foi de p = 8 µCm-2K-1, enquanto a

de Wisniewski [7], foi de p=19,1 µCm-2K-1 para filmes comerciais feito por injeção do

polímero fundido em extruzoras. Esta diferença pode estar relacionada ao fato da

amostra não ter sido polarizada totalmente devido às primeiras serem produzidas por

solução enquanto a última foi produzida a partir da amostra fundida. A polarização da

amostra pode sofrer influências devido a porosidades das amostras e a aplicação de

campo elétrico durante sua polarização. Porém com as condições aplicadas no

tratamento, a amostra apresentou um excelente resultado.

ϕ (rad) 0,95

ω (s) 0,3

Área (10-3m2) 0,0002

∆T(°C) 9,0

∆J(pA/m2) 2,5*10–5

p (µCm-2K-1) 8,0

Page 34: Caracterização Piroelétrica do Polímero Fluoreto de Polivinilideno

25

6. Conclusão

Na cristalização da solução de PVDF, a fase resultante depende da velocidade de

cristalização, a qual está relacionada com a taxa de evaporação do solvente.

Quando se tem baixas taxas de evaporação do solvente em temperatura de 60°C

resultam predominantemente na formação da fase β, porém quando a temperatura se

eleva (aproximadamente 120°C), já ocorrerá predominantemente a formação da fase α.

O processo de produção e determinação das diferentes fases cristalinas das

amostras de PVDF ocorreu com sucesso. As análises de FTIR, raios-X e DSC

apresentaram valores bem definidos de fases de PVDF α e β.

Para medida da ferroeletricidade as amostras na fase β apresentaram dificuldades

na polarização, devido à grande taxa de porosidade da amostra.

O sistema de medida do coeficiente piroelétrico foi modificado várias vezes,

devido à influência do campo elétrico externo da rede de alimentação e dos

equipamentos utilizados. Entretanto, na última configuração houve sucesso na obtenção

desta grandeza.

O sistema se mostrou eficiente para a determinação do coeficiente piroelétrico

em amostras de PVDF produzidas em condições distintas, de acordo com a taxa de

evaporação do solvente utilizado e a formação de fase β conforme os valores

apresentados acima.

6.1. Considerações Finais

Os resultados do presente trabalho mostraram que as propriedades piroelétricas

do PVDF podem ser obtidas melhorando a taxa de cristalização e a quantidade de

material amorfo/cristalino nas amostras da fase β.

Também ficou comprovado, que a porosidade da amostra reflete na polarização

da mesma, pois quanto mais porosidade maior o grau de dificuldade de polarização das

amostras.

6.2. Trabalhos Futuros

� Determinação da curva de histerese em amostras de PVDF α;

� Determinação da curva de histerese em amostras de Nylon;

� Análise da taxa de cristalização de diferentes amostras de PVDF em

função da temperatura de cristalização.

� Determinação do coeficiente piroelétrico nas amostras acima citadas.

Page 35: Caracterização Piroelétrica do Polímero Fluoreto de Polivinilideno

26

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