cidade volume i - definitivo
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© Antologia Literária Cidade by respectivos autores 2009
Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução total ou parcial desta obra sem autorização por escrito dos respectivos autores dos textos. Projeto gráfico, editoração eletrônica: Abilio Pacheco Capa: Concepção: Abilio Pacheco; Desenho: Cleber. Montagem: Eduardo Jardim. Foto da contra-capa: Estação Ferroviária – Coroatá-MA. Seleção e revisão: Abilio Pacheco, Deurilene Sousa (organizadores) e os próprios autores. Impressão e acabamento: Gráfica da UFPA
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) A634 Antologia Literária Cidade: poemas, contos & crônicas /
organizadores Abílio Pacheco, Deurilene Sousa. – Belém: L&A Editores, 2009.
112 p. ISBN 978-85-89377-11-9
1 Literatura Brasileira. 2. Poemas. 3. Contos. 4. Crônicas.
I Pacheco, Abílio. II Sousa, Deurilene.
CDD: 869.80981
Clarice P. B. da Silva Neta – CRB/2 - 1085
Organizadores: Abilio Pacheco e Deurilene Sousa Endereço para contato: Caixa Postal 5098
CEP 66645- 972 Belém-PA
antologiacidade.wordpress.com // [email protected]
organização: Abilio Pacheco & Deurilene Sousa
2009
PrefácioPrefácioPrefácioPrefácio
A Antologia Literária Cidade – volume I chega a lume, a partir de um
projeto idealizado pelo prof. Abilio Pacheco, com o intuito de concelebrar em
um mesmo espaço a arte de poetas e escritores com publicação no circuito
literário nacional, e mais que isto, propiciar oportunidade a poetas e escritores
cujos trabalhos ainda não tivessem sido publicados e que lhes permitisse
publicação acessível.
O projeto nasceu do desejo de um livro com essa estrutura, organizado na
região Norte, definido pelo professor Abilio como “fora do eixo”, a ser lançado
na Feira PanAmazônica do Livro, ou seja, um livro dessa natureza gerado em
espaço amazônico, fora das regiões que tradicionalmente lançam este tipo de
coletânea.
Nossa chamada foi recebida com muito entusiasmo pelos autores de
diversas cidades brasileiras e autores de língua portuguesa em outros países.
Assim, integram este primeiro volume, quarenta escritores, dentre estes, dez
autores que ainda não haviam publicado em livro, um participante da Áustria e
outro da Austrália.
A perspectiva de dar continuidade a publicações vindouras, com textos
suficientes para um segundo volume, para nós é um sinal mais que positivo para
este trabalho, a princípio acanhado, que fora ganhando corpo e forma de
literatura brasileira, universal, uma verdadeira Cidade do mundo cercada de
zelo e apreço.
Neste volume, defrontamo-nos com as diferentes poéticas apresentadas,
ora narradas ora declamadas, suscitando a diversidade literária tão peculiar de
cada obra/autor e que nos permite exibir um panorama daquilo que é hoje
produzido, e experimentar as sendas pelas quais seus autores têm “alimentado”
suas inspirações.
Aqui, congratulamo-nos com textos de autores experientes na arte de
fazer prosa e versejar, bem como textos selecionados de alunos secundaristas
apoiados por sua professora, num exemplo de estímulo ao labor com as
palavras. Afinal, a cidade acolhe a diversidade, traço característico dos
conglomerados urbanos. Neste sentido, a Antologia Literária Cidade – Volume
I é constituída de passos novos, passos calejados, caminhos que se constroem na
árdua labuta com a pena.
Deurilene Sousa
Mestre em Letras - Estudos Literários (UFPA)
Abilio Pacheco
Antologia Literária Cidade Volume I 7
Quase um anagrama
I
Pegou o ônibus. Pela pressa, torceria o tornozelo, toparia na quina da
calçada ou do meio-fio, esbarraria nas pessoas. O motorista – horário a
cumprir – arranca; pé no veículo, outro na calçada. Pegou o ônibus e pela
pressa quase caíra de bunda nos degraus ou no assoalho.
Sinto que perdi meu tempo. Ele poderia... depois desses... quase um
ano. Já não pude estudar bem como antes. Em pensar que ontem estava tão
bem. E ele diz não haver outra. Ninguém? Ninguém! Eu queria tanto xingá-lo...
- Não, não tenho. Você acha que se eu tivesse dinheiro trocado eu
estaria pagando a passagem com uma nota de cinquenta?
Uma caixa de bombons de banana. Sei que ela adora. Amanhã a gente
faz três meses de namoro e ela é louca por poesia. Copiei este poema de seu
autor preferido. Palavras minhas num bilhete, escrever... minha dificuldade.
- Sujando a cidade, matuta? – versos o mais miudamente possível
picados chovem irregulares pelo espelho retrovisor.
- Essa moça... já te avisei, só vai te trazer confusão. Transaram? Tá
vendo!? Faz o que eu te digo enquanto é tempo. Larga dela. Ouve tua mãe!
II
Pegou o ônibus. Pela pressa... Pegou o primeiro que viu. Tivesse pego
um táxi, um moto-táxi, um táxi-lotação... - Será que é o ônibus dela? Tenho
para mim que ela não vai perguntar qual o letreiro.
Eu bem que deveria ter uma amiga com quem conversar nessas horas,
mas fazer o que se me julgo tão difícil de fazer amizade e se te gosto de
escrever, meu blog. Dá para crer que fui até o ponto final distraída? Acho que
ele poderia ter se afastado aos poucos. Sei lá... inventado uns compromissos
ter ficado dias sem me ver...
- Pois saiba que fez a coisa certa, meu filho.
Este menino tem um olhar culposo, culpador ou culpante. Quatro anos.
São três fotos como cartas de baralho na mão. Morto, descarte ou mesa?
Certeza – quiçá! - que o olho que olha é que é culpado.
A porta batida treme o apartamento todo. - Eu vou pular. - Não faz isso,
tá louco? - Eu já disse que pulo – Abre a porta! – vocês não estão acreditando.
Abilio Pacheco
Antologia Literária Cidade Volume I 8
- É menino!
Palíndromo ou anagrama com o nome dele? Nos planos que fazia –
pelos tímpanos ainda hoje: Vento no litoral, Acrilic on Canvas, Depois – era o
nome dele que você teria. Aquela história da mãe... ele tinha outra.
- Você tem que descer, moça. Chorando? Minhas desculpas. Essa cidade
louca, esse stress. Pegue aqui este lenço. Não tive intenção, juro. A gente
termina ficando meio louco também. Não tem problema depois você me
devolve. As pedras se encontram... Ande com ele na bolsa. Qualquer dia
desses...
- A senhora não tem – Tenho! – o direito – Tenho! – de se meter – Claro
– na minha – que tenho! – vida, – Eu sou sua mãe e – viu! – você vai ter que
me ouvir.
- Te garanto, minina, que é verdade. Ele é o filhinho da mamãe. Homem
assim é o fim. Pensa... tu não sabias? Ele ameaçou pular do quinto andar no
dia que o Eleomar nasceu. O povo do prédio – imagina o espetáculo – diz que o
pai ainda ficou com ele pendurado pela perna.
III
Pegou o ônibus feito uma louca. Tivesse caído, quebrado uma perna, um
braço, jorrado sangue. A dor: motivo de choro. Ou o melhor; preferia ter
batido a cabeça, ficado inconsciente umas tantas horas. Como não... quiçá o
tivesse jogado de vez pela janela de sua lembrança com os versos picados.
Talvez ele saiba que estamos brigados. Coisa de casal. Nos dois outros
aniversários sequer um telefonema. Essa atenção repentina agora, pelo
menino. Tem mais: esses bombons de banana.
- Pense um pouco melhor. Sente bem ali. Já te conto uma. Enquanto isso
vê só aqueles meus álbuns de fotografias.
- Estive com ele na bolsa todos esses dias. Bonito seu nome. Eleomar.
Um pouco diferente. Seu irmão. De quê? Que tristeza! Tudo bem. A gente se
vê lá.
- Mas quando, mana. Enfrentar a mãe... É o fim – já te disse – cara desse
tipo. Ele faz tudo que ela quer. Esquece! Enfrentar a mãe. Sabe o que é tudo?
Ele é um frouxo. É o fim.
Palíndromo: Olecram. Com as sílabas ao contrário: Locemar (se menina,
taí!). Anagramas: Calomer, Carlome, Arclome, Cralome... Ramocle, Raclemo...
Abilio Pacheco
Antologia Literária Cidade Volume I 9
Lecarmo, Carmole, Cramole... Leomarc, Arclemo, Marcleo, Cleomar. Pronto:
CLEOMAR. Estou satisfeita.
- O senhor tem uma bela família. Filhos... São seus netos esses aqui, não
são? Sua esposa. Ainda é viva? Que pergunta! Devem ser seus irmãos, certo?
Antes de ser farmacêutico dava aulas! Mas que barato! Seu pai? Essa deve ser
sua mãe. Não conheci minha verdadeira, sou adotada. Deve ser bom conhecer
a mãe da gente. O senhor deve de gostar muito dela...
- Embora ela tenha tentado várias vezes quando estava grávida me
abortar...
- Depois que o meu irmão Eleomar se foi, a pior parte foi decidir o que
fazer com as coisas dele. Fiquei sempre com esse lenço. Nunca pensei que
fosse ficar tanto tempo sem ele no bolso. Daí... tinha feito você chorar. E pior:
por besteira. O troco, depois o papel pela janela e a bronca do motorista.
- Ela está bem. Consciente. A pancada não deve ter sido muito forte. Não
vai deixar sequela. Vamos bater um raio-X por via das dúvidas. É... delirou um
pouco. Falou. Você deve ter aprontado uma daquelas. Dizia: “Eu nunca pensei.
Ele me traindo.” Trate de se reparar, meu rapaz. É uma moça bonita. Você foi
pego no flagra, não foi? Ela não merece.
Antes de ontem recebi um par de brincos, acho que de tucum. Estamos
já mais de meio ano juntos. Não é mesmo, blog? Creio que nos conhecemos
bem. Daí decidi: vamos transar. Ele vai ficar surpreso. Já havia desistido de
insistir. Vai ser bom, será? Tenho medo.
Nunca se deram bem, ele e o menino. Queria outro filho. Um dele. Bebia
e se emporreava. Descobriu – ficou puto – que era goro. Implicava com o
computador. Nunca soube que eu escrevia um blog. Implicava com os
brinquedos pela casa. Tinha um mal humor intermitente. Violento? Só com as
coisas.
VI
Pegou o ônibus. Por opção. Zangada, pega o primeiro que vê. A
toalhinha bordada caíra quando topou na calçada. Não quebrou a unha. A
toalha ficou contrastando com o cimento. A unha intacta.
- Morreu-lhe a mãe, coitado. Incrível como daquela época, quando vocês
terminaram... de lá para cá ele está sozinho. A mãe? Coitado nada. Tá livre
agora. O diabo da mulher queria – era? – o filho para si. É o fim! Mas também
ele... frouxo. Encarasse a mãe.
Abilio Pacheco
Antologia Literária Cidade Volume I 10
O cobrador me emprestou um lenço. Vê só o nome dele: Eleomar. Será
que alguém que lê este blog – se é que alguém além de mim mesma lê – tem o
nome de Eleomar? Estou até mais calma agora. Escrevi uma página A4 inteira
em fonte 15 e... Enquete! Dá até para pensar bobagem. Não, não vou fazer
enquete. Esperarei (em tom solene) que os meus leitores (como se ‘sessem’
muitos) espontaneamente comentem. Vou repetir em alta voz sem os
parênteses. ESPERAREI QUE OS MEUS LEITORES ESPONTANEAMENTE
COMENTEM.
Há quase oito anos – tive raiva de mim – você correu. Fiquei estático na
calçada. Não havia outra. Era a minha mãe. Sofri quando ela morreu. Está
doendo a cabeça? O médico acredita que a pancada não foi forte. Cinco horas
– acho – que você está inconsciente. Ligaram. Ele virá? Me sinto mais maduro
agora. Dizem que o menino tem a minha cara. Está com 7 anos? Vocês se
desentenderam, né? Mas passa!
Eu sei. Não precisa se justificar tanto. Ela me disse que não te quer.
Peraí... queria me dizer umas coisas. Ouvi. Agora me deixa falar, só um
pouquinho. Também não te quero. Levei as coisas. O menino não vai sentir
falta mesmo; ainda bem. Perdoar? Vou tentar esquecer. Longe! Bem longe!
Como diz a Débora: É o fim. Quero que você seja feliz, honestamente.
Enfermeira, acompanhe o moço.
- Convite, casamento? Aquela moça, a matuta que jogou lixo pela janela,
foi até o ponto final e chorava feito bezerro sem mãe? Você não acha que
foram rápido demais? Ela não está grávida, está? Você já embuchou a menina?
Por que vocês não se preveniram? Tanto jeito que há, hoje em dia?
Não é bem uma amiga. É só uma conhecida em comum. Essa menina do
“é-o-fim”. Queria me livrar dessa aproximação. É ela que me traz notícias do
Marcelo. É ela que me faz desesquecer dele. Hoje me contou que sua mãe
morreu. Sarcástica. Ele chorou. Queria estar lá para lhe oferecer meu ombro.
“É o fim” diria Débora.
Arrependeu-se de ter mandado as fotos, três. Eleomar tem quatro anos
e meio. Os doces de banana, entretanto... Tenho raiva desse ditado de rima
-uta em -ulpa . Tem a cara do Marcelo. Parece sempre alguém a martelá-lo ao
tímpano. E a Débora – é o fim – tangendo o esquecimento que tanto almeja.
Abilio Pacheco
Antologia Literária Cidade Volume I 11
V
Pegou o ônibus. Fazia muito sol. Lágrimas no rosto. Não teria papéis
para picar e jogar pela janela. Imagens distorcidas – impressionistas. Ele nunca
lhe mandou um poema; mesmo copiado. Tropeça ao entrar no ônibus.
Motorista – horário a cumprir. Reconhece um rapaz – ele está mais velho um
pouco – que filma sua queda.
Devo confessar. Não é uma situação nada boa. Não sei porque aceitei.
Acho que sei mas não digo. Mais tarde – será? – vamos ter problemas. Mas ele
já sabia que eu estava ‘pregnant’ quando nos conhecemos. Deixei ele escolher
o nome. Escolheu o nome do irmão. Aquele que estava no lenço e pensei que
fosse o nome dele. Aceitei. Clique aqui e comentem.
- Vocês vão casar. É o fim. Isso não vai dar certo. Vai assumir o filho de
outro? Coisa de louco. Paixão!? É o fim. Deixa de ser caretinha. Produção
independente, minha filha. Fica lá em casa; eu te ajudo. É... mora comigo.
Ah!... isso não. É o fim. Você se importa demais com o que os outros vão dizer.
Sapatão?
Nunca deletei meu blog da INTERNET. Existe ainda? O provedor deve tê-
lo apagado. Se existe, terá muitos acessos? Senti vontade de escrever nele
hoje. Mas esqueci a senha. Minha cólera? Perdi meu tempo. Com o outro,
menos que um ano. Com este, quase oito. Fui idiota. Não perdoarei. Depois
levo o restante. “Vamos Eleomar! Morar na casa da tia Lúcia até a gente
arrumar um lugar nosso mesmo.”
- Continuo com a opinião que você deveria perdoá-lo. Pode ficar o
tempo que você quiser, você e o seu menino. Só não gosto desse seu aí...
Marcelo, que vem te ver. Parece fazer a corte. Quer a morte, esse
desconjurado. Cortejar mulher dos outros. Ein! Estou pasma! Me conta essa
história todinha. O Marcelo é o pai do Eleomar? Como? Despeje!
- Vamos esquecer tudo aquilo. Aquela história da minha mãe; morreu
com ela. Você não vai confessar!? O menino é meu? Olha só quando eu tinha a
idade dele. É a fotografia dele que você está vendo, não é? Moraremos num
apto que tenho perto do centro. Tá alugado, mas eu resolvo. Podemos mudar
de cidade. Você ainda me ama, eu sei.
Abilio Pacheco
Antologia Literária Cidade Volume I 12
VI
Pegou o ônibus. Correndo metia a mão no compartimento de moedas.
Juntou umas tantas. Brilharam ao sol. Topou, mas moeda alguma caiu. A
toalhinha sim. Quisera deixá-lo também lá desprezado. Já sentiu isso antes. O
Marcelo. Um pé dentro do ônibus, abrupto. A mão se abre. As moedas vão-se
metalizantes pelo assoalho.
- Ando com as fotos dele no bolso o tempo todo. Esta scaneei e imprimi
ao lado da minha na mesma idade. Vê! Não precisa DNA. Basta dizer sim.
Mudamos amanhã. Quer tempo? Por mais sete serviria não fosse tão grande
amor tão curta a vida. É mais ou menos isso. Não lembro o autor.
Ganhei dele uma toalhinha bordada. Linda! Decidimos morar juntos. Em
pensar como isso começou... Queria compartilhar com vocês, os poucos que
lêem este blog, a belezinha que é a minha toalha. Mas estou sem scanner. Ela
está bem aqui comigo. Sem inveja, tá? Minha toalhinha. Sempre comigo.
- Nosso rolo termina aqui. Quero compromisso não. Se ela descobrir é o
fim. É o fim mesmo. Sou livre. Safada? Problema meu. Ficou comigo por que
quis. E ainda queria exclusividade. É o fim. Que chifre nada? Tu não és casado?
Eu namoro. E transo. Só sua!? Esse romantismo besta... é o fim.
- Tia, você já conhece a nossa história. Mudamos amanhã. Disse para ele
que vamos morar numa espécie de república. Dividindo as despesas. Um kit-
net... ele entendeu. Dormiremos em quarto separados, eu e o Marcelo. Com o
tempo...
VII
Ela pegou o ônibus. Vira um táxi, até. Mas optara pelo coletivo.
Qualquer um. O primeiro. Tinha dessa vez o dinheiro trocado. Tropeçou na
quina da calçada. Não caiu, mas deixou cair a toalhinha bordada. As lágrimas
embaçavam o rosto. Horário a cumprir; um pé ainda no chão. Não aceitaria o
lenço de ninguém. Moedinhas na mão. O interior do ônibus: quadro
impressionista. Um rosto lhe gruda na retina. O motorista arranca. Ela julgava
ter deixado esse um na calçada ao longe. Cai no assoalho. As moedas tilintam.
Bate a cabeça. Desmaia.
- Mãe! Esta moça aqui do site quer saber se algum leitor se chama
Eleomar. Vou mandar uma mensagem para ela.
Abilio Pacheco
Antologia Literária Cidade Volume I 13
A uma Passante
Avanço zumbizando pela – apressado – multidão (a multidão que é um
imenso nada), desvio-me de ombros e braços – retorço-me, contorciono-me –
e sacolas infladas de compras.
Evito – em vão – molhar o dorso do calçado – minúsculos lagamares –, a
bainha da calça – em vãos de pisadas – , meias e pés.
Ergo – minha passante – meu olhar exato ao teu e sigo. Quarta – dois de
maio. Gravei teu rosto!? Teu cabelo preso!? Três passos após, a felicidade
curta – a mesma – outra vez (multidão de imenso nada), em síncrono viramo-
nos.
Eu deveria, para reter – como Zambraia – , fechar os olhos, a tua face.
Usava batom? Tinha – é certo! – delineada a sobrancelha. Como num duelo –
(multidão de indiferentes padrinhos) minha terceira (última?) felicidade curta
– miramo-nos outra vez.
Que impulso... que lógica nesses vinte segundos?
Não fecho – é impossível – os olhos e sigo (ah! multimensnada!) meio
desperto.
Adeilton Oliveira de Queiroz (Gama-DF)
Antologia Literária Cidade Volume I 14
A medida da água
A ciência ainda não sabe
Mas a água tem cor e sabor.
A água tem espaços que os arquitetos não conseguem medir.
A água tem linguagem independente das estações.
A maravilhosa arte de perdoar os peixes
Eu sei pouco sobre o perdão e sobre os peixes
Mas sobre a arte de perdoar os peixes
Eu sei tudo.
Eu sei pouco sobre a beleza e sobre as árvores
Mas sobre a beleza das raízes das árvores
Eu sei tudo.
E sei também que os peixes, as árvores e as flores
realizam maravilhosos saraus.
Adeilton Oliveira de Queiroz (Gama-DF)
Antologia Literária Cidade Volume I 15
Da paciência
Da paciência da inteligência
Vem a sabedoria
Da paciência do tempo
Vem o deserto
Da paciência do espaço
Vem a eternidade
Da paciência da estalactite
Vem a estalagmite.
Spider
Violeta é aranha
Violetaranha
Violetazul
Violeta da pétala da cor escurazul
Violeta da cor do lilás da noite
Cor que prende e transforma
Mas a ovelha despetalada e distraída não percebe
A ovelha pousa na vil e lenta violeta violácea violenta
Que viola agora a liberdade da ovelha
A ovelha fica presa na pétala telha.
Adeilton Oliveira de Queiroz (Gama-DF)
Antologia Literária Cidade Volume I 16
Não mais
Não mais
Não mais
Vou perguntar pra onde você vai
Agora tanto faz
Tanto faz
Tanto faz como tanto fez
Se você vai pra praça, pro aeroporto, rodoviária ou pro cais
Te falo agora
Não mais, não mais
Não volte mais
Não mais volte
Nunca mais
Não mais me interessa
Não mais
Não mais
Vá pra onde quiser
Pra praça, pro aeroporto, rodoviária ou pro cais
Eu quero agora a boa sorte e a possível paz que a sua ausência faz.
Segredo
Se a nuvem falar pra terra o segredo do vento
Eu tenho certeza que a água dominará o tempo.
Adeilton Oliveira de Queiroz (Gama-DF)
Antologia Literária Cidade Volume I 17
Melhor texto
Um tempo que sem gasto de tempo se apresenta
Um tempo de círculos de anzóis verdes
Tempo de água desvinculada de créditos solares
Tempo de texto conversível porque ninguém precisa de capota
Tempo de veneziana limpa e sem moldura
De limpidez esférica e sem advérbio
Tempo assim é poesia clara
Que economiza adjetivos e malabares verbais
Tempo de retenção total das gengivas
Só o dente necessário é apresentado num sorriso coesamente conciso.
Haiku
Cavalo iluminado
Cavalo mínimo e cheio da metáfora amarelazul
Cavalo é haiku.
Adeilton Oliveira de Queiroz (Gama-DF)
Antologia Literária Cidade Volume I 18
Amores floras lilases amoras flores brancas
De tanto abraçar a transparência dos amores floras lilases e das amoras
[flores brancas
Sua história produziu um love cordel ou
Um feliz final pra Florbela Espanca.
Tijolos que não fazem boas paredes
Meu verbo preferido é não participar
Gosto de não dar minha mão e nem meu coração
Gosto de não receber mão alheia
Não peço abrigo e nem cobertura
Sou tijolo sozinho
Sei que preciso dos outros tijolos
Mas eles são escorregadios
Só acidentalmente é que nos juntamos
Somos paredes de vidros comprometidos
Nossos dentes são feitos de ouro absurdo e cariado
Só a construção de paredes falhas são possíveis pra nós
Tijolos desamparados.
Alberoni (São Paulo-SP)
Antologia Literária Cidade Volume I 19
O louco decaído
Arcano 22
Era uma face escura
mas o Sol a tornou esplêndida
e como arco íris sorria em cores
por todos os lados.
Corria leve no campo
e seus cabelos eram crinas ao vento
espalhadas pelo rosto
e pelo seu tronco. Cavalguei a miragem
como ilusão de todos os atos que faço.
Isso noutros tempos.
Agora sou lúcido.
Encaro a minha própria face escura
como face escura que é,
e o sorriso trágico
é um mero riso de um clown decaído.
Afasto a imagem
como quem afasta um copo de água vazio.
Já bebi da água,
já me dessedentei.
Também já me alimentei e
meu olhar busca agora novas planuras.
Nunca mais estarei sozinho
Alberoni (São Paulo-SP)
Antologia Literária Cidade Volume I 20
Confiança
Olhar e ver
é um atributo de quem sabe,
pois quem olha e não vê
apenas se perde no mar das energias.
Ainda não vejo quando olho
mas sinto o reflexo nas sombras
e na luz que repousa nas pedras.
(Também não sinto o aroma,
nem percebo os sentimentos
de maneira total.)
Caminho como cego
apoiado na bengala.
Vou devagar,
andando com sutileza...
Chegarei lá.
Alberoni (São Paulo-SP)
Antologia Literária Cidade Volume I 21
Só para românticos
Eu te dou bom dia
pois nada mais é preciso
que um bom dia
para me invadir algo terno
chegando como lembrança.
Não deixarei meus pensamentos soltos
não tocarei em você,
não tocarei em seu corpo,
sequer em pensamento.
Verei este amanhecer cinzento
como se fosse uma primavera
Ouvirei as maritacas na lembrança
pois elas dormem pela chuva -
e não voltarei o rosto ao sentir um toque de dedos nas costas,
e um hálito morno na sombra do pescoço...
Sei que é você.
E
isto
basta
para
mim.
Ana Félix Garjan (Belo Horizonte-MG)
Antologia Literária Cidade Volume I 22
Profecia do Silêncio I
Vejo nas estrelas a procura que atravessa séculos
Vêem-se sábios, santos, filósofos, poetas e profetas
À procura de paz no ocidente e no oriente.
Escuto a palavra dos sábios, a canção dos poetas
A voz dos filósofos, a luz e o som do silêncio...
Antes da primeira grande palavra de Deus.
Ouço passos em direção ao novo caminho
Que atravessa os continentes e que me levam
À procura do alimento vital para a arte da alma
E dos novos códigos - segredos essenciais da vida.
Escuto a palavra dos sábios, a canção dos poetas
A voz dos filósofos, o choro das mães, das crianças
E o som do martelo da nova sentença que está vindo...
Escuto o som do silêncio antes da palavra de Deus.
Escuto a palavra dos poetas, a voz dos filósofos
O choro das mães, a ira forte e justa dos inocentes
O gemido de recém-nascidos, o riso das crianças
O som do martelo da sentença da nova lei da vida.
Façam-se novas terras, novos mundos, novas vidas
Façam-se novos jardins e caminhos nos corações!
E façam-se novas luzes de paz
E faça-se uma nova humanidade!
Ana Félix Garjan (Belo Horizonte-MG)
Antologia Literária Cidade Volume I 23
Meu poema pela paz
Já é tempo de soltarmos a voz
pela PAZ da Humanidade.
Já se faz necessário mais
muito mais gestos, atitudes
e ações, coração e mãos
pela Paz da Humanidade.
O mundo precisa acordar
Ser justo e verdadeiro...
Pela Paz da Humanidade.
As pessoas precisam Ser
As pessoas precisam Sentir
E juntos precisamos Agir
Pela Paz da Humanidade.
A Paz que é minha eu te dou
Poderá ajudar você e o irmão
A descobrir sua paz interior
Mas eu preciso de Tua voz
Pela Paz da Humanidade.
O mundo está cheio de palavras
Quero gestos de paz nas praças
Quero tua presença e força agora
Pela minha Paz e da Humanidade.
A minha Paz é essencial para mim
A tua Paz é fundamental para ti
E juntos seremos mais que dois
Pela Paz Maior da Humanidade.
Andreev Veiga (Belém-PA)
Antologia Literária Cidade Volume I 24
persiana
a luz listrada acende o mofo que ilustra a vida no estreito da cama
minha mãe atravessa a morte sem fazer barulho
me assusto com o copo d'água
pousa uma gaivota em meus lábios se afogando
a morte surge sempre suave para os mortos
deus não haverá de conceber a saudade ao mar
só aos que ficarão
pois estes não têm barcos nem são deuses
mas
suficientemente estúpidos como o céu de pessoa
a persiana retém os desfiladeiros neste cômodo
o que escrevo desaparece com a noite
fica na memória o eco
fragmentando o pouco do café
os vendavais precisam das chuvas
para que as horas revelem às montanhas
o suicídio que as habita
já não atento migrar para o imenso da areia
(tudo é indefinido até as horas das ondas)
Andreev Veiga (Belém-PA)
Antologia Literária Cidade Volume I 25
morada
para a gena
na morada desse silêncio
num presente que chega com o verão
e estende seu instrumento na areia...
a voz que é muda
me é sempre a outra
que à beira da voz e abismo
no fundo silêncio-amalgamado
distrai tuas nadadeiras
com o áspero sal do meu amor
Araci Barreto (Itaboraí_RJ)
Antologia Literária Cidade Volume I 26
Para o Alto
O luar das noites quentes
e as estrelas a brilhar
sempre dão a sensação
que a vida vai melhorar.
A lua, sempre calada,
nos acompanha o andar
parece que sente e sofre
quando vê alguém chorar.
O vento fraco da noite
nas folhas a balançar,
inspiram felicidade,
dão vontade de dançar!
As estrelas em fileira,
uma da uma a cintilar
nos ensinam, com cadência
conjugar o verbo Amar.
Benedito Pereira (Brasília-DF)
Antologia Literária Cidade Volume I 27
Carnaval (*)
Lindíssima festa,
Que a todos empresta
Alegria e graça.
Desfiles e tanto
Redobram-me o encanto:
Minha escola passa.
Um momento eufórico,
O carro alegórico
É mais que lendário.
Monarca nenhum,
Com força incomum,
Muda este cenário.
Deixá-lo não posso.;
Patrimônio nosso,
Há só de ano em ano.
Fantasia em alta.
O dinheiro falta.
Mas eu?... Sou humano!
(*) Brasília, DF, 04/02/2005 (sexta-feira, véspera de carnaval).
Benedito Pereira (Brasília-DF)
Antologia Literária Cidade Volume I 28
Ralé (*)
"Só o preço do álcool vai cair.
E apenas... três centavos." Momento triste
Vive a população, que desiste...
Prostra-se e cumpre a sina de faquir.
Inerte e humilde, vê tudo subir:
O pão, o leite e o ônibus! Subsiste...
Como um pássaro, espera que haja alpiste
E crê que encontrará algum vizir.
O salário é detalhe. Um apelido
Somente. Nem dá pra comprar comida.
Encurtam-se-lhe os dias. Tem sofrido.
Sabe que está lutando contra a vida.
O aumento não a encanta: ele é perdido
E frustra-lhe a esperança mais querida!
(*) Por ocasião da matéria "Prepare a lupa: só o preço do álcool vai cair. E apenas...R$ 0,03" (CB, 12/01/2006, Capa e p. 15).
Bernadete de Lourdes Michelato (Curitiba-PR)
Antologia Literária Cidade Volume I 29
(I) Andança
O andante
fétido
suja as estradas.
O andante
anda
às margens.
O andante
tem os pés
cor de sangue.
O andante
ainda anda
sobre si mesmo.
O andante
tem cabelos,
olhos, boca.
O andante
não tem sonhos,
nem lágrimas, nem risos.
O andante
é gente
que não é mais.
Bernadete de Lourdes Michelato (Curitiba-PR)
Antologia Literária Cidade Volume I 30
(II) Canto dos pássaros
São pássaros que cantam
que brincam
que sonham.
São estes, sem eira
nem beira.
Onde a flor?
as casas?
as crianças?
Apenas pássaros sem eira
nem beira.
Perdidos
à toa
na vida.
Custódio Formoso (Santa Rita do Passa Quatro-SP)
Antologia Literária Cidade Volume I 31
Saga de um Campeão
(A Ayrton Senna da Silva – In memorian)
Você, Ayrton, representou o Brasil,
Em Interlagos, Mônaco e Estoril.
Hoje, choramos e enlutados estamos.
Você, que ganhou tantos troféus,
Mostrou a saga de um Campeão,
Dignificou o Brasil com lauréis.
Não é todo dia que nasce um ídolo,
Que atinge a perfeição e a glória.
Você Ayrton, será lembrado sempre,
Em cada curva, em cada vitória.
PAZ
Cessaram os canhões.
Libertaram-se as nações.
Ouviram um clarim.
Uniram-se ao sim.
Da luta ao descanso.
Da gruta ao remanso.
Simboliza uma bandeira.
Realiza a aliança verdadeira.
Custódio Formoso (Santa Rita do Passa Quatro-SP)
Antologia Literária Cidade Volume I 32
Solidariedade
Depois da terrível devastação
Causada por um forte furacão
O país pediu auxílio humanitário.
Providenciou abrigos seguros,
E o que lhes reservará o Futuro?
O Mundo provou ser Solidário.
Oh! Bendita seja a Solidariedade!
Numa prova de amor, de caridade,
Enviaram remédios, roupas sapatos,
Agasalhos e alimentos aos irmãos
Que perderam casas na inundação.
Um difícil recomeço, triste retrato!
Na montanha o vulcão estrondava,
Assustava os moradores e atirava
Lavas incandescentes na explosão.
Há anos ele não se fazia barulhento.
O resgate às vítimas era muito lento
E elas entraram em uma embarcação.
Jean Henri Dunant, membro fundador
Da Cruz Vermelha, mostrou amor,
Reuniu inúmeros voluntários na Itália.
Ele deu o exemplo do Bom Samaritano
E, num gesto tão solidário e humano,
Ousou salvar vidas em plena batalha!
Deborah Dornelles (Brasília-DF)
Antologia Literária Cidade Volume I 33
Urdidura
na pintura adivinho relevos
e palmilho reentrâncias.
penetro mundos
de inconstância:
matéria mesma da urdidura,
nas cores juntas da substância.
luz, sombra, sombreado,
esfuma-se no papel algum
passado
presente
futuro,
como uma pintura de muro
aqui e ali e renovada.
flores, peixes, insetos,
mandalas,
quase-pássaros em revoada,
matizando a tarde seca
e quente
e o escuro lento da boca
da noite.
Deborah Dornelles (Brasília-DF)
Antologia Literária Cidade Volume I 34
Esboço
de armas depostas e recomeços
entende a poeta,
de olhos úmidos na madrugada.
seu sono tarda,
a boca seca;
saliva antiga;
suor encharca
o corpo ímpar.
saudosa daquilo que ainda não.
ondas de promessa nova,
outros passos no coração.
para o poeta atrás da tela
de cristal líquido,
oferto um esboço de hoje
no lugar do gosto de ontem.
e panos limpos
para as lágrimas de sempre.
Deborah Dornelles (Brasília-DF)
Antologia Literária Cidade Volume I 35
Amor de meridianos
faz de conta que
você me pegou
noutra época
da vida
afastada
estou agora.
ainda por cima,
chove muito lá fora
quisera teu beijo
de língua macia
sugando as angústias
do meu peito repleto.
corpo vivo:
este é o meu,
e treme
e transpira
e espera
e deseja
e demanda.
não sei se sei
amar daqui
de outras eras,
noutros anos,
amor de outros
meridianos.
Deborah Dornelles (Brasília-DF)
Antologia Literária Cidade Volume I 36
escrevo
(ainda respiro)
e repouso no teu braço
alguma poesia
de espaço, de suspiro,
em matéria fugidia.
Nua
o encanto quebrou-se.
E de repente eu era
uma mulher nua,
seios à mostra,
no meio da grande praça,
para escárnio de todos.
uma mulher antiga
de belas formas
e coração puro,
a quem tudo fere
de morte,
como uma flecha
ao fruto
maduro.
Deborah Dornelles (Brasília-DF)
Antologia Literária Cidade Volume I 37
Desejo
não quero homem
para esfumar-me
em sua sombra,
sombra de homem que em mim
se esfume.
quero calores e fagulhas
de outro lume.
não quero homem
para ter costume,
costume de homem,
ciúme.
quero homem, sim
é o que quero.
e que faísquem corpos
em que se fundam perfumes.
Deborah Dornelles (Brasília-DF)
Antologia Literária Cidade Volume I 38
Loa
alta noite.
recolho despojos.
chego da festa cult
com calor excessivo,
exausta de estridências
e esperas.
ponho-me em reverência,
deveras,
a ler mais versos teus, poeta.
teus festejos e paramentos
de esteta.
vem, capitão da guarda,
beija-me a bandeira
e o mote entoa;
meu canto responsório
segue a tua loa.
Testemunha
se eu puder carregar-te ainda,
dançarei contigo um bolero,
poderei rodopiar
e te beijar como quero.
mas, se antes ficar velha,
precisando de cuidado,
gozarei todas as noites
só olhando teu retrato.
Denise Santos de Oliveira (São Sebastião-DF)
Antologia Literária Cidade Volume I 39
Olhares Curiosos
Minha sombra na luz do dia
Aos poucos se fantasia,
Percorre o deserto de asfalto,
O asfalto, deserto, morto, escuro
Resume-se a um olhar imaturo
E meus olhos castanho-risonhos procuram no asfalto
A rosa, a flor azul dos nossos sonhos
Ou a grama verde-formosa.
Procuram pairando no infinito dos ares,
A cor da música apaixonada,
A inspiração dos números pares
Na calculadora pulsante do seio da amada
Procuram a taça com vinho e sabor de carinho,
Procuram o riso das peças de xadrez
E a semente que nunca tem vez.
E os meus olhos castanho-risonhos procuram no asfalto
Um ato,
Um mato, um fato.
Procuram o som das nuvens caindo incolor
Procuram a origem do amor,
Procuram o cheiro da noite e do clarão,
Procuram o dono da inspiração,
O tom da canção, as asas no chão.
E meus olhos castanho-risonhos,
Sorriem a procurar os sonhos
Nos cantos, nos estáveis ares
Do meu azul infinito.
Djanira Pio (São Paulo-SP)
Antologia Literária Cidade Volume I 40
A Bíblia
Eles estudam a Bíblia, o livro sagrado. Atentos procuram as páginas, os
capítulos, os versículos. Com olhos pesquisadores interpretam as parábolas.
Várias idades se interessam pela compreensão das sagradas escrituras,
querem saber de seus mundos. Querem encontrar razões, justificativas.
Estão ali, sempre. Firmes, contritos, respeitosos e interessados.
Aprendem entre outras coisas, a interpretar a figura de Cristo-Deus-
homem. A lealdade como meio e fim.
Mulheres de meia idade, sozinhas vem de longe. Simples em suas
aparências opinam de maneira correta e coerente. Uma nova visão da religião
se faz verdade, portanto, possível.
Fortaleço-me. Ganho nova força para compreender a vida em sua
complexidade.
O mestre se faz presente com seu dom e seu talento. E seus estudos.
Parece-me, enfim, que viver é interessante, possível e bom.
Djanira Pio (São Paulo-SP)
Antologia Literária Cidade Volume I 41
Poema
Posicionei-me
como Deus.
Esperei tratamento
diferenciado.
Adorei-me.
Mas vi
que tudo era vaidade.
Os deuses
não habitam a terra.
Restei-me só.
Crendo transformei-me
no que sou:
humana e mortal.
Ducarmo Souza (Belém-PA)
Antologia Literária Cidade Volume I 42
A Floresta Amazônica
A floresta Amazônica
Está desaparecendo
E a ganância crescendo
A cada dia, a cada hora
Coração sensível chora
Quando vê as nossas árvores
Transformadas
Em grandes toras
Nas matas verdejantes
Onde vivem os passarinhos
Na sua lida constante
Para fazerem os seus ninhos
Eles andam assustados
Pois estão sendo obrigados
A seguir outros caminhos
Os animais da floresta
Já começam a sentir fome
Estão se aproximando
O desespero os consome
Não tendo pra onde irem
Chegam mais perto do homem
Se não forem protegidos
No futuro, eles nos come
Ducarmo Souza (Belém-PA)
Antologia Literária Cidade Volume I 43
O homem perdeu a cabeça
E vai perder muito mais
Fazendo desmatamento
Secam os mananciais
Acaba com os passarinhos,
Insetos e animais
E a nossa flora belíssima
Que benefício nos traz
No final lhe faltará
Água, saúde e paz
ONTEM E HOJE
Lembro-me muito bem quando era pequenina: as casas eram alumiadas
com o uso da lamparina. O fogão era de lenha, às vezes nem isso tinha. Era
apenas uma trempe, lá no canto da cozinha.
O café era torrado em casa e pisado no pilão. Era coado no saco, e tinha
um gostinho bom.
As coisas foram mudando. Chegou a eletricidade. Primeiro quem
usufruiu, os que vivem na cidade. Veio a televisão, depois a TV em cores,
telefones celulares, também os computadores.
A medicina moderna faz transplantes e tudo mais. A ciência evoluiu e
hoje tudo é capaz. Faz-se clonagem de tudo, plantas, gente e animais.
O homem já foi à lua e continua a insistir, quer visitar planetas, logo irá
conseguir. Ele fala do espaço, como se estivesse aqui.
Hoje com a modernidade quase tudo é digital. Arruma-se até casamento
num programa virtual. Só não se cria um espírito, que é coisa celestial.
Eleazar Venancio Carrias (Tucuruí-PA)
Antologia Literária Cidade Volume I 44
O abridor, a luz
Agora que estás (tu o sentes)
só,
se te revelam novas regras de não-destino.
Jamais terás uma adega,
mas comprarás um abridor.
Tu o usarás até que
o amarelo cristalino no copo
seja a única luz nos teus olhos.
A televisão será apenas
um elemento da decoração auto-imposta.
Revistas e roupas espalhadas
negarão que há um vaso à porta,
reclamando visitas.
E o prédio não entenderá
o que Van Morrison tem a ver
com Daft Punk.
Não serás nunca poeta,
mas amarás tuas filhas.
Agora que estás só,
pouco importa falte água:
só precisas de luz.
Eliane Machado (Marabá-PA)
Antologia Literária Cidade Volume I 45
Infâmia
“Amei e morri uma vez; agora me tornei
minha própria tumba e epitáfio.”
John Donne
Foi por não saber amar que amei assim:
procurando luz no lado escuro da lua
dardejando lanças em alvos invisíveis
navegando em mares dantes naufragados
travando lutas com versos decassílabos
(Não me avisaram das noites insones
dos olhos exangues que coagulam em agosto
da amargura que cinge a fartura dos dilúvios
da imensidão dos livros que ironizam à meia-noite)
Foi por não saber esquecer que fiquei assim:
extorquindo à palavra seus segredos infames
traindo o poema por trinta dinheiros
empobrecendo a rima por pura vingança
seduzindo a inspiração com vil metal
tirando poesia de pedra.
Eliane Machado (Marabá-PA)
Antologia Literária Cidade Volume I 46
Melpômene
“escavação no outro em direção do outro
em que o mesmo procura seu veio
e o ouro verdadeiro do seu fenômeno.”
(J. Derrida)
Te conheço.
Porque sei o que tu não és.
Se te busco, é porque te enxergo
se foges, é porque te sinto:
pela tua existência em avesso
pelo lado reverso de tua medalha
pelo teu silêncio no excesso de sons e sentidos.
Extraio do teu não-ser
a certeza do que sou:
a minha significância
a luta contra a arbitrariedade de minha existência
face a minha necessidade de existir.
No teu reflexo invertido
exorcizo-me.
Enfim, reconheço-me
e construo minha simulação
e o meu simulacro.
Eliane Machado (Marabá-PA)
Antologia Literária Cidade Volume I 47
Hieróglifo
Quisera ler tua escrita
negros caracteres
Oriente longínquo
de meu desejo ocidental.
Enreda-me nas entrelinhas
de tua página em branco
Braile sob meus dedos cegos
de dureza e angústia.
Busco-me no teu tecido
bordado de paralelas
Relevo antigo feito
por mãos de tristes Parcas.
(Antes houvesse outras vidas
e o tigre amasse o falcão
e os anjos se rebelassem
e os tempos fossem antigos...)
Há texto demais numa vida
para Escribas bêbados e loucos
Há vida demais nos bêbados
loucos de texto e ânsia.
Uma vez só é pouco.
Eliane Machado (Marabá-PA)
Antologia Literária Cidade Volume I 48
Marabá Est
Mesopotâmia
quase-ilha
dos risos, dos minérios, dos rios
Babilônia
das dores, dos sonhos, dos furores
de tudo te nutriste a céu aberto
o sol por testemunha.
Das noites em que ocultaste
homens em delírio
mulheres em desafio
gentios.
Fim último dos conquistadores
do amanhã
misto de claro-escuro
fronteiras sem muro.
Canaã
maná e deserto
fogo e dilúvio
perda e conquista
filha da Cruz e de Tupã.
Obra surrealista:
Flor escarlate que desabrocha no asfalto
Criança mestiça sobre nuvens amarelas
Rosa mística a exalar sons e cores
Índia de arasóia transformada em Barbarela.
Quem é ela?
Não a conheço, mas sei quem é a cada dia
Utopia
Eliane Machado (Marabá-PA)
Antologia Literária Cidade Volume I 49
Palácio sobre rocha e mangue
Cabana em diamante e concreto
Amazona, solitária, irmã de sangue.
Minhas palavras não mudarão seu destino:
- Tu não pertences a ninguém
mas somos todos teus filhos
teus amantes, teu harém,
tua espécie, tua tribo,
teus consentidos reféns!
Eliane Machado (Marabá-PA)
Antologia Literária Cidade Volume I 50
Aço
Eu,
Bibelô de vidro
e aço
Me perco
me despedaço
Mil fragmentos
estilhaços
Voando
Brilhando
Perfurando
O teu espaço
Eu,
Teia fina feita
de aço
Prendo teu desejo
O meu laço
Seda chinesa
Envolvendo
Enfeitando
Estrangulando
Como um abraço
Eu,
Renda negra
Tramada em aço
Visto teu corpo-santo
Devasso
Degradando
Eternamente
Os teus passos
Evaldo Balbino (Belo Horizonte-MG)
Antologia Literária Cidade Volume I 51
O mar
Na carícia do vento,
no toque da areia fina,
a fita azulada das águas
se banha;
e, no seu modo líquido de existir,
vêem-se vírgulas sonoras,
que são jangadas perdidas
na ânsia das ondas.
Pelo mar nos vêm as notícias
de um mundo ultramarino,
de um mundo fora de nós;
mas o que haverá no fundo
destas águas irrequietas,
nesta bacia feroz?
Onde se escondem os peixes,
cidades e almas penadas,
silêncios, gigantes, sereias,
que ficaram na infância,
que se perderam em nós?
Como, nas águas profundas,
achar pérolas fabulosas
e o grito de alguma voz?
Evaldo Balbino (Belo Horizonte-MG)
Antologia Literária Cidade Volume I 52
E o mar não nos responde,
calado, ensimesmado,
a esmo, batendo nas rochas,
querendo vê-las por dentro.
E estas não dizem nada,
ficam à espera, paradas,
desse amor tão rude e sedento
do ímpeto das águas do mar.
E as ondas, nesse vai e vem,
rejeitam os nossos corpos,
amam pedras e mais ninguém;
mas parecem, na dança veloz,
desejar a praia inteira,
a areia e o que nela está.
Evandro Brandão (Manaus-AM)
Antologia Literária Cidade Volume I 53
Namorado de Areia
Construir castelos é bom
Mesmo sendo à beira-mar
É viver um diferente tom
Um constante recomeçar;
Ondas vêm derrubando muros
Pilastras caem com as ondas
Quem constrói não sabe parar.
É diferente quando se tem
Um amor recém-nascido
Um sentimento correspondido
Diante de um tempo bandido;
Que está sempre a te dizer
Como deve amar uma sereia
Seu lindo namorado de areia.
Viver bem cada momento
Com intensidade verdadeira
Só importa o sentimento,
Amar é também brincadeira.
É possível ser feliz
Por um tempo pré-determinado
Mesmo sendo, de areia o namorado.
Fernando Paganatto (São Paulo-SP)
Antologia Literária Cidade Volume I 54
Urubu que canta
Nestas águas que correm
calmas (como asfalto verde-morte inacabado)
quantas almas, espectros afogados;
quantas horas e horas não morrem?
Quantas paixões e dores,
em cada papel amassado,
não ficaram, passado,
nas suas águas, pudores?
E quantos amores,
em sofás de dois ou três lugares,
em velhos discos de vinil,
em velhos de memórias de vinil
não rolaram em suas águas?
Cemitério de cidade,
é todo morte,
e todo lápides e saudades.
E você não é sua beleza
aos olhos de quem passa:
é somente estorvo.
Mas você, cemitério,
cheio de flores,
flores negras de ressecado sangue
denso dos pomares urbanos...
Você que corre,
feito um menino de pés sujos
e farrapos
e sorriso cariado:
Fernando Paganatto (São Paulo-SP)
Antologia Literária Cidade Volume I 55
Você é a vida escondida,
verdade que esvazia o desvario cínico,
o sadismo psiquiátrico,
daquele que passa,
daquele que não vê,
que você é a beleza
que tem guardada,
como a guarda
um urubu que canta.
É um urubu
que canta e assim segue.
Urubu que canta
a um sinal mórbido.
Canto surdo e estável,
de sons dos leitos de hospital.
Isabel Cristina da Silva Ferreira (São Sebastião-DF)
Antologia Literária Cidade Volume I 56
Do Outro Lado do Rio
Haverá momentos em que estaremos
pendurados no despenhadeiro
nas raízes, segurando
com tanta força, que
Nossas mãos estarão sangrando.
Olharemos para baixo e veremos
o rio,
a sua correnteza forte,
o desespero congelar o coração, ainda
que ela nos leve
à margem segura
do outro lado do rio.
Pediremos socorro e esperaremos
que esse socorro
venha de alguém
que por acaso
passe pela estrada
lá em cima
e nos ouça aqui embaixo.
O socorro chegou, então
ele nos diz que
não há como subir novamente
O despenhadeiro, ainda que
ele pudesse segurar minha mão.
Pois que, naquela situação
o melhor seria soltar-se
e caindo, deixar-se levar
nas águas da correnteza.
Isabel Cristina da Silva Ferreira (São Sebastião-DF)
Antologia Literária Cidade Volume I 57
Não lutemos contra a correnteza,
pois ela nos levará
à margem segura
do outro lado do rio.
Essas águas irão levar
todas as dores, irão sarar
todas as feridas.
Perto dali haverá
um novo caminho,
uma nova estrada.
Caminhe por ela
ainda que seja
contra todos os ventos.
Ivan Grycuk (Graz-Áustria)
Antologia Literária Cidade Volume I 58
O bar
Pedi um café e um brownie. E em menos de cinco minutos a waitress -
uma morena linda de olhos muito pretos, escurecidos ainda mais pela
maquiagem, de pele branca como a luz do fim do túnel e lindas mãos grandes
e delicadas - voltou a minha mesa e, esbanjando sorrisos honestos de bom-
humor e sensualidade, serviu-me o pedaço de bolo de chocolate a la
americana e a caneca preta com café forte melado de açúcar, do jeito que eu
gosto. Dei-lhe alguns dinheiros para a conta e a gorjeta e ela se foi, me
amando por um instante ela se foi.
O bar era muito bem escondido, muito bem decorado de escuro, com
algumas poucas luzes fracas no balcão. Não tem muitas mesas, nem muita
gente, nem as obscenidades exageradas dos outros bares. Não tem fotos nas
paredes nem preços nos vendidos. Não tem nome nem existe. Não é famoso, e
quem o conhece não divulga. Eu o chamo de refúgio, mas só o chamo em
pensamento, porque o bar sou eu.
Ivan Grycuk (Graz-Áustria)
Antologia Literária Cidade Volume I 59
O mesmo bar
Ela vestia um sobretudo lie de vin e mascava chiclete. Não olhou para os
lados e não cumprimentou ninguém quando entrou. Sentou-se e abriu um
caderno. Não chamou a waitress, mas a moça levou-lhe um cappuccino.
Arrancou a goma da boca e lançou-a ao lixo. Golou o cappuccino e sorriu por
dentro um sorriso de alívio, de cansaço. Tomou uma caneta como
companheira e pôs-se a degustar do prazer de escrever. As formas das linhas e
os desenhos dos signos.
Ela tinha cabelos longos, escuros. Olhos verdes, acesos. Sobrancelhas
grossas muito bem cuidadas e não grossas demais. Lindos lábios nus. Coração
fraco.
Gostava de ouvir Maria Rita. Era delicada, feminina. Sentimental,
chorona, evasiva. Sempre quis ser bailarina. Estava feliz por estar triste. Sentia-
se completa com sua bebida quente e sua vida de papel. Mas ela chorou,
chorou por abrigo, chorou e chorou. Chorou no escuro do bar. No escuro que
não existe. Olhou em volta, recompôs-se. Tomou outro gole do cappuccino,
ainda bem quente. Chorou novamente e, em prantos, pediu-me um beijo que
não pude dar. Porque ela também sou eu.
Jair Barbosa (Belo Horizonte-MG)
Antologia Literária Cidade Volume I 60
rio sem dono
rio sem dono rio barrento rio brando rio bravo rio da dor rio do amor
rio das lavadeiras com suas rodilhas de pano as bacias cheias de
[roupas o rio doce
o rio cercando o rio lambendo as pedras o rio levando a vida
[as lavadeiras cantando
ensaboando cheirinho de lavanda águas do rio correndo espumam
roupas quarando: de vez em quando a correnteza levando uma camisa.
eu feito um cascudo a bater desajeitado os braços e os pés
não fui um menino-peixe
(até hoje não sei nadar)
nem cacei passarinhos...
admirava-me o balanço das águas o vai e vem sem cessar
e o mistério escondido naquela ilha distante:
quem seriam os seus habitantes?
por horas eu ficava a cismar chegava o crepúsculo a ave maria
e a vastidão do céu dentro do meu olhar.
Jhonny Vieira Brito (São Sebastião-DF)
Antologia Literária Cidade Volume I 61
Sei
Sei,
Que mesmo sem você
As estrelas vão brilhar,
A lua vai aparecer
O sol vai nascer,
Vou novamente me apaixonar,
O mundo não vai parar de girar,
Os sonhos não vão deixar de existir.
Sei que mesmo sem você
Vou ter que viver,
Ter que sonhar,
Vou ter que crescer.
O tempo não volta,
Não para,
O tempo só passa.
A fisionomia se muda
O olhar a acompanha.
Sei que,
Podem anos se passar
E mesmo assim,
Vou conseguir
Deixar de amar.
José Araújo (São Paulo-SP)
Antologia Literária Cidade Volume I 62
A tal da “Globalização”
Em meio à floresta amazônica havia um burburinho enorme entre os
animais. Eles haviam ouvido que um novo mundo iria exigir muito de cada um
deles. Muito mais do que cada um era capaz de fazer, mesmo sendo muitos
bons naquilo para o qual foram criados por Deus.
A todo momento, falava-se de uma tal de “Globalização” e eles estavam
muito preocupados, pois ouviram os homens dizerem que se cada um não se
adaptasse para atender às novas exigências de capacitação individual, seriam
excluídos, simplesmente deixados de lado, sem chances de progredir na vida e
serem felizes.
A preocupação entre todos era tanta, que de boca em boca, logo, logo, o
mundo dos animais estava em pânico e resolveram se unir e criar uma nova
escola, para que todos pudessem frequentar, estudar bastante e se formarem
obtendo um diploma que certificasse a capacitação de cada um evitando assim
os sofrimentos que iriam ocorrer com o novo mundo que estava para chegar.
Para ficar fácil a administração do currículo, todos os animais deveriam
estudar todas as matérias, indiscriminadamente, não deixando ninguém fora
das aulas práticas e teóricas.
Claro, a sala de aula dos animais era toda a floresta, assim não havia
dificuldade em se ministrar qualquer uma das matérias adotadas no currículo.
Logo nas primeiras aulas, claro, o pato se destacou em natação, aliás, ele
era muito melhor nisso que seu próprio professor, porém manteve ao longo
das aulas uma media razoável em voo e era muito fraco em corrida.
Uma vez que ele era muito lento em corrida, sempre ficava após as aulas
para praticar e teve que deixar a natação de lado, para tentar aprender a
correr bem. O professor lhe disse que enquanto ele não ficasse realmente bom
em corrida, não voltaria a praticar a natação que era a coisa que ele mais
gostava na vida.
Assim foi feito. O pobre pato tentou, tentou e tentou, até que seus pés
ficaram tão machucados, que nem que ele se esforçasse ao máximo, não
José Araújo (São Paulo-SP)
Antologia Literária Cidade Volume I 63
conseguiria sequer correr para dar impulso e voar, assim, o coitado não mais
nadava, não mais corria, nem voava, estava acabado de tanto treinar a fazer
aquilo para o qual não foi feito.
O coelho, é lógico, era o primeiro da classe em corrida, mas logo teve
um colapso nervoso de tanto tentar aprender a nadar bem o suficiente para
ser aprovado nos exames finais, pois nem mesmo conseguia média em notas
para passar de ano naquela matéria e isto acabou com o pobre bichinho
psicologicamente e ele ficou tão deprimido, que nem mais se levantava do
lugar, nem andava, nem corria, nem tentava nadar.
O macaco era um espanto em escalada, tirava dez em todas as aulas, até
que o pobre animal desenvolveu uma frustração profunda, pois só tirava zero
em vôo, desde que seu professor o obrigava a começar do chão ao invés do
topo das arvores.
A situação ficou tão séria para o macaco, que foi preciso levá-lo ao
consultório da Dra. Jibóia, a maior psicóloga da floresta, pessoa com uma
grande capacidade hipnótica, notando que o pobre não tinha nem mais forças
para se defender, deu-lhe um abraço fatal, quebrou todos os seus ossos e o
engoliu, foi o fim do macaco.
No final de sua vida, ele não mais ia às aulas, não subia nas arvores, não
mais voava de galho em galho, no que ele era craque, não mais queria andar.
Afinal, foi proibido de subir nas árvores, coisa que tanto amava fazer e, pelo
que se sabe, não é que ele não tinha mais forças para se defender quando a
cobra o comeu, o que ele queria mesmo era morrer, pois a vida não tinha mais
sentido, ele se considerava um incapacitado para enfrentar as exigências da tal
“Globalização”, do mundo novo e exigente que estava para surgir em sua vida
e que iria tentar mudá-lo de qualquer forma, sem mesmo perguntar se ele era
capaz de fazer coisas para o qual ele não foi criado.
O gavião então, este era um aluno-problema, foi castigado várias vezes
severamente, pois nas aulas de escalada ele superava a todos os outros alunos
chegando ao topo das árvores em segundos, mas claro, usando seus próprios
meios de chegara até lá, ou seja voando como um relâmpago. Desse modo
ninguém se atrevia a tentar impedi-lo e logo foi expulso da escola.
José Araújo (São Paulo-SP)
Antologia Literária Cidade Volume I 64
Assim as matérias foram sendo aplicadas dia a dia, todos os alunos
sofreram o peso e a responsabilidade de tentar aprender a fazer coisas para o
qual não foram criados e um a um foram sendo reprovados e os que
sobreviveram, ficaram psicologicamente traumatizados, sofrendo as
consequências disto.
No final do ano letivo, um lagarto estranho e anormal, que podia nadar,
correr e escalar muito bem, além de voar um pouco, foi o único aprovado e
recebeu o diploma, sendo considerado apto a enfrentar as mudanças que
estavam por vir.
Além dele, não havia sobrado mais ninguém que pudesse ser
considerado ao menos normal, nos padrões de suas respectivas raças, haviam
sido praticamente destruídos por um sistema louco e insano, criado pela
sociedade dos homens e isto sem mesmo que a tal “Globalização” tivesse
chegado efetivamente ao mundo dos animais.
Graças a Deus, os Tatus se recusaram a entrar na escola porque a
administração havia se recusado a incluir no currículo a matéria cavar e eles
acharam isto uma discriminação muito grande, se recusando a passar por
tamanha humilhação, não queriam que seus filhos presenciassem tanta
maldade.
Assim, eles continuaram suas vidas agindo normalmente, realizando
tudo aquilo para o qual Deus os criou com perfeição e, geração após geração,
eles ensinaram aos seus filhos tudo que sabiam sobre a matéria cavar na qual
eles sempre foram mestres e conforme eles iam crescendo via-se claramente
que eram alegres e felizes, cada vez mais experts na matéria cavar.
Tempos depois, os Tatus resolveram se juntar às tartarugas, que eram
mestras na arte de se esconder em seus próprios cascos, o que eles também
sabiam fazer muito bem. Então fundaram uma nova escola que se tornou um
sucesso, pois nela, ninguém era obrigado a aprender a fazer nada para o qual
Deus não os tivesse criado.
Aos poucos, a vida voltou ao normal na floresta Amazônica, pois a
notícia correu entre os animais sobreviventes e em cada canto surgia uma
nova escola, não destinada ensinar matérias diferentes aos animais, mas para
José Araújo (São Paulo-SP)
Antologia Literária Cidade Volume I 65
aperfeiçoar e desenvolver o que cada raça específica sabia fazer. Nunca mais
ouviu se falar na tal “Globalização”, coisa de bicho homem, mas que quase
extinguiu a vida animal da floresta e o teria feito, se não fossem uns poucos
que tiveram coragem de se recusar a se submeter às regras absurdas do tal
mundo novo, que queria impor mudanças a eles, sem ao menos querer saber
se eles haviam sido criados para isto.
Somos o que somos, não aquilo que querem que sejamos e em nosso
próprio benefício, não podemos admitir que por questões de convenções
sociais, por regras criadas pela dita sociedade, tenhamos que fazer aquilo para
o qual Deus não nos criou, pois se ele nos fez como somos, certamente tinha
muito bons motivos para isto.
Não somos ninguém para questionar, discriminar, recriminar, discutir ou
tentar fazer dos outros aquilo que a dita “sociedade” dos homens diz que eles
tem que ser.
Cada um de nós é um universo diferente, uns se parecem, outros não,
mas o fato é que no dicionário de Deus, não existem as palavras, orgulho,
preconceito ou discriminação, pois em seu coração, mesmo que sejamos todos
diferentes uns dos outros, somos iguais e seus filhos, apenas isto e nada mais.
José Maria (Castanhal-PA)
Antologia Literária Cidade Volume I 66
Parede-Alma Corroída
Estas paredes corroídas não são paredes, são partes da minha alma
corroída pela dor de ver o atual estado que a educação se encontra neste País!
A fria e chuvosa noite de 20 de março do ano em curso não me convidou
para sair de casa, mas sai e fui. Adentrei no prédio do Colégio Lameira
Bittecourt para participar da cerimônia de posse da nova Diretoria, Professora
ANA CRISTINA DE OLIVEIRA, Professor ADALBERTO DE MORAES FILHO e
Professora MIRIÃ OHAGE, quando também foram tomadas as primeiras
providências para a fundação da Associação dos Ex-Alunos do Colégio Lameira
Bittecourt.
Passaram vários filmes na minha cabeça, lembranças das lembranças
daquele mês de agosto de 1968 – ano do século XX de maior simbologia do
idealismo juvenil - quando adentrei pela primeira vez neste prédio para
concluir o curso ginasial, impor minhas idéias de jovem idealista, gritar pela
liberdade que a minha carne necessitava, exorcizar ideários que considerava
limitadores das minhas exigências. . .e até escandalizar.
Lembranças excelentes, uma viagem de poucos segundos e
repentinamente percebi que estava entre as paredes sujas e corroídas do
Velho Lameira Bittecourt e a minha alma ficou triste.
Triste por ver este prédio que já produziu tanto conhecimento, em
estado de abandono, retratando o atual quadro de descaso que vive a
educação pública no Brasil.
Paredes sujas, remendadas; piso desgastado por quase meio século de
uso e tantos outros descalabros que deixaram minha alma triste, muito triste.
O estado físico que se encontra o prédio do Colégio Lameira Bittecourt
simboliza o atual quadro que se encontra a educação pública neste País
chamado Brasil.
O meu orgulho de ter feito toda a minha trajetória estudantil em escola
pública estava ferido.
Quitutes iniciais servidos, a cerimônia de pose ocorreu normalmente
com os devidos discursos, quando fui tomando conhecimento de alguns fatos
José Maria (Castanhal-PA)
Antologia Literária Cidade Volume I 67
recentes ocorridos na vida atual do Velho Lameira: dezenas de alunos
concluintes do 2º grau aprovados no vestibular da Universidade Federal do
Pará – UFPA e no da Universidade do Estado do Pará – UEPA, com relevância
para os fatos de a concluinte lameirense STELLA FERNANDA BERNADES ter sido
a 1º lugar na classificação geral no curso de geologia; dezenas de concluintes
aprovados em concursos público e que dos onze estudantes ganhadores, a
nível estadual, da gincana de matemática, seis são do LAMEIRA BITTECOURT.
E os fatos foram sendo revelados e o meu orgulho foi se restabelecendo
– é verdade o prédio está velho - descobrir que os diretores empossados são
jovens e não esperam acontecer. São jovens idealistas, renovadores,
construtores e sabem fazer acontecer na hora, como a minha geração de
1968!
Há esperanças...
José Maria (Castanhal-PA)
Antologia Literária Cidade Volume I 68
Outros Caminhos
Terra, terra, terra...
Meu Deus! Quero outros limites
Daí-me outros limites
Terra, terra, terra. . .
Caminhos, veredas, estradas
Quero outros limites
Outras fronteiras
Oh Deus!
Porque me limitaste?
Porque me condenaste?
Porque me atrofiaste?
Qual meu grande pecado,
Para tão grande castigo?
Terra, terra, terra. . .
Quero ir pelos ares,
Quero ir pelos mares!
Josiel Vieira de Araújo (São Paulo-SP)
Antologia Literária Cidade Volume I 69
Lima Barreto no ano 2022
E estava tão bêbado naquele início de noite de setembro, mas tão
bêbado, que a cachaça "Parati" acabou por lhe abrir a porta, e por ela ele
escapou. Algo havia se rasgado, talvez um tecido, e não se sabe se o cerebral
ou se a trama invisível onde se entrelaçam os acontecimentos que se rompera;
em seu estado não atinava muito com a explicação que lhe abriu
momentaneamente um caminho para seguir; simplesmente foi cambaleando
através dele, tropeçando e caindo nas sarjetas, mas sempre avançando por
aquele caminho noturno. Caminhou um certo tempo na escuridão que parecia
separar as coisas do tempo. Chapéu para trás da cabeça, dum jeito boêmio,
seu olhar entorpecido tentava reconhecer as ruas por onde passava. Logo
reconheceu o contorno escuro dos morros cariocas.
As favelas. A gente humilde. Os necessitados.
Escorou-se num poste, com as mãos nos bolsos das calças amarrotadas.
- Para o diabo com o centenário da independência! - grunhiu com a voz
pastosa de cachaça e loucura.
Cem anos haviam passado desde que no Ipiranga houve o grito de
Independência ou Morte. O que mudou para os pobres, os explorados, para a
gente humilde? Todos continuam escravos! Seja em 1822, seja naquele ano da
Semana de Arte Moderna na mesma São Paulo do grito do Ipiranga... todos
gritam, mas somente quem tem muitos contos de réis é que impõe o seu grito
para o resto. Foi assim no Ipiranga. É assim nas fábricas onde os patrões gritam
para os empregados. E lhe bate um medo sobre o quanto tudo isso é
hereditário, como propõe a ciência positivista que classificou todas as coisas
segundo Darwin e segundo as implacáveis leis naturais...
São muitos os tipos de grito. O seu grito é contra a loucura que herdou
do pai, da loucura que pretende esquecer através das muitas garrafas de
Parati, que lhe fazem ver coisas fantásticas, como por exemplo, que talvez não
esteja mais no centenário da independência, mas num ano muito, muito
posterior... que talvez esteja cem anos à frente do seu tempo, num delírio sem
sentido e sem razão, igual à época que esteja passeando como um fantasma
bêbado. Cem anos à frente de 1922. A loucura lhe põe visionário como um
Júlio Verne mestiço.
Josiel Vieira de Araújo (São Paulo-SP)
Antologia Literária Cidade Volume I 70
E, graças a isso, ele vê pessoas no morro, usando estranhas armas, muito
mais avançadas do que qualquer coisa que foi usada nas trincheiras da recente
Primeira Guerra Mundial - conforme ele ficou sabendo pelos jornais. Elas
atiram contra máquinas voadoras de um tipo que ele não sabe com que
comparar, mas que fazem um barulho horrível e que conseguem ficar paradas
no ar, de maneira incompreensível. As máquinas voadoras possuem portas por
onde seus ocupantes revidam aos disparos com outras armas estranhas. Ele vê
muitos mortos, culpados ou inocentes - isso é indiferente, pois todos morrem
nessa guerra impressionante, sendo chorados por mães de aparência humilde.
Vê também as pessoas ricas andando em veículos enormes, de aparência
indescritível e cara, vê então moleques magríssimos, sem camisa, fazendo
malabarismos como animais de circo na frente desses veículos, e então um
vidro abaixa e uma mão lhes atira algumas moedas, decerto de tostões. Vê
gente catando lixo, gente comendo lixo, gente dormindo no lixo. Vê a miséria e
a indiferença à miséria.
Não! o futuro não pode ser assim! Não pode! Ele sempre gostou dos
livros de Júlio Verne, que lhe trouxeram uma centelha de esperança nas eras
futuras. Era-lhe inadmissível que até isso lhe fosse negado! Maldita loucura! É
impossível que o futuro seja tão triste e tão sujo quanto a visão que ele está
tendo! Não é possível que os ricos continuem a explorar os pobres para
sempre! Saber que haverá favelas cem anos no futuro era cruel demais,
impensável demais; certamente sua doidice havia definitivamente se aliado ao
seu alcoolismo para criar aquela dantesca visão. Aquele era o autêntico
"cemitério dos vivos".
Morreria naquele mesmo ano de 1922, tão desiludido quanto seu
personagem Policarpo Quaresma.
Nota: Cem anos no futuro, seus livros eram usados nos vestibulares que fabricariam os diplomas da burguesia que perpetuaria aquele estado de coisas - ainda que essa burguesia passasse em si o verniz do politicamente correto. Pois a gente humilde, que sempre fora tema dos seus escritos, que sempre encontrou em sua literatura uma voz de denúncia, rebeldia e arte, não ligaria a mínima para sua literatura. Ainda bem que isso ele não chegou a ver.
Josiel Vieira de Araújo (São Paulo-SP)
Antologia Literária Cidade Volume I 71
Areia Doce
A vida era amarga quando ele surgiu.
Ninguém nunca tinha visto a cor daqueles olhos.
Um selvagem com a doçura da floresta no olhar.
Insondável, entretanto.
Como era possível um olhar daqueles diante de um mundo como este?
E ele não revelava. Ele não se revelava.
Assim que apareceu, o povo civilizado o escravizou.
De dia, servia nas roças. De noite, servia na alcova dos homens e
mulheres seus senhores, que tentavam a todo custo lhe extrair o segredo dos
olhos e sorver um pouco o mistério que emanava da sua alma tão distante.
Algo que adoçasse suas existências.
E assim, com beijos e chicote tentavam dobrá-lo, espremê-lo, a fim de
que aquela desconhecida seiva lhe escorresse do coração em direção aos
cálices dos seus dominadores.
Que de tudo faziam com ele de perverso e degradante.
Foi quando notaram que a urina do forasteiro era da mesma cor dos
olhos dele. Pessoas amargas não têm limites, e por isso...
Sim, eles fizeram isso. E realmente a urina tinha em si a doçura daquele
olhar que há tanto eles queriam extrair!
E todos os civilizados queriam beber daquela essência. O pobre
selvagem, tolhido de tudo, ficando triste, triste, cada vez mais triste e
cansado...
Até que ele ficou tão triste que não fugiu e nem olhou para trás, mas
mesmo assim virou uma estátua de uma espécie de areia, que conforme o
vento foi soprando, a estátua foi se desmanchando, e aquela areia doce ia
sendo jogada pelas ruas, pelas praças, pelos caminhos do mundo afora,
açoitando as caras carrancudas das pessoas...
E foi assim que surgiu o açúcar.
Juarez Francisco da Costa (São José do Vale do Rio Preto-RJ)
Antologia Literária Cidade Volume I 72
Noite
Os meus pés no teu chão. E a tua cama
Que não vejo, mas deito, serve-me a alma.
E deixo-me ficar na tua calma.
Sirvo-me dela e acendo minha chama.
Chama se acende em mim. Queima na cama
Que não vejo, mas deito e em fundo d’alma,
Ermo, tudo se evade e se derrama
Por teu escuro céu, que inspira calma.
(Noite serena e só, meus olhos susta.
Mais quieta do que eu, mas acalenta.
Com estrelas e mistérios nada custa.)
Há, noite, a cidade que te ausenta;
Há, noite, a cidade que me assusta.
E uma mata que aos dois nos acalenta.
Lenir Moura (Arraial do Cabo-RJ)
Antologia Literária Cidade Volume I 73
Farrapo
Numa rua vazia de uma noite qualquer,
Sem ter companhia, andando a pé,
Sigo sem ver, mesmo olhando em frente,
Só tenho você gravada na mente.
Percebo a noite encobrindo a vida
E a vida escurecendo o dia que vai
Deixando na rua uma beleza escondida
E ficando em mim, esta tristeza que não sai.
Caminho, vagando, andando sem rumo,
Imune a todas as dores que há.
Meus olhos não vêm a vida, o mundo,
Embotados pelas lágrimas que teimam em brotar.
Sou um pedaço de nada agora.
Sou escombros de um castelo que há pouco ruiu,
Sou protagonista da minha triste história,
Sou um trapo, um farrapo,
Sou agora um pedaço
Do meu mundo que caiu.
Lourdes Neves Cúrcio (Barra Mansa-RJ)
Antologia Literária Cidade Volume I 74
Apenas um Soneto
Eu pensei em demonstrar o meu amor
Exprimi-lo nas estrofes de um poema
Transmiti-lo com eloquência e ardor
Permitir que a emoção fosse seu tema.
Eu pensei em expressar meu sentimento
Na cadência das sílabas em simetria
Flutuar por seus sonhos e pensamentos
Nas asas imaginárias da poesia.
Vi, porém, que o meu amor vai muito além
Dos quartetos e tercetos de um soneto
Tamanha a grandiosidade que ele tem!
Amor imenso como o meu não caberia
Na extensão de um só texto em verso ou prosa,
Pois descrevê-lo inteiro eu não conseguiria.
Maria Cilia (Curitiba-PR)
Antologia Literária Cidade Volume I 75
Reflexões de um mendigo
Acordo. Depois de uma noite de pesadelos aterrorizantes, saio para a
fumaça do ouro negro que enriquece alguns com bilhões e polui o planeta, e
mata as pessoas pelo ar, pela comida e pelas armas bélicas. O cabelo já eriçado
pela tormenta noturna, torna-se agora negro pela turbulenta cidade negra de
peste, lixo e humanos dormindo no chão, ao relento, cobertos pelas mantas
ásperas da mesquinharia humana. Enquanto caminho pela calçada cheia de
ondulações, penso no meu pé dolorido que torci num daqueles buracos...tento
caminhar pela rua, mas um rolante buzina quase passando por cima do meu
corpo já esquelético pela fome. Procuro desesperadamente um cesto de lixo,
com restos de comida para manter-me vivo por mais um dia. Enfim, encontro
um resto de refrigerante de cor verde fosforescente e um pedaço de pizza que
mais parece uma borracha colorida. Sento-me na calçada para ingerir esse
banquete enquanto observo os prédios ao meu redor...e me vem à mente a
indagação sobre como será a vida das pessoas que têm teto, comida...elas
devem ser mais felizes do que eu...ninguém lhes dirige o olhar de medo e
repugnância como fazem para mim e para os ratos que vagueiam pela sarjeta.
Como se os ratos e eu fóssemos uma coisa só. Será? Ratos e gente que comem
do lixo. Eu e os ratos comemos do lixo. Temos coisas em comum: o lixo, o
desprezo e o asco das pessoas. Será esse o meu destino? Será .o meu destino
dormir na rua e comer os restos dos cestos de lixo? Dividir com os ratos? Mas
a vida não é de todo ruim. Eu tenho sorte...esse lixo é quase limpo...até hoje só
vi ratos nele umas duas ou três vezes...talvez seja porque não resta nada dos
restos...e depois já ouvi dizer que num lugar aí, não sei bem onde, não deve
ser aqui no Brasil - então, ouvi dizer que tem gente que come as ratazanas que
eles pegam nos lixões...então, rato não deve ser de todo mal, nem tão sujo,
assim, como a gente que mora na rua e come do lixo. Ambos não tomamos
banho, comemos do lixo, dormimos em buracos. Tratam-me como se bicho
fosse. Por outro lado, já senti o cheiro de um cachorro de madame...eles têm
casa, comida boa, têm cheiro bom, tomam banho, passam perfume...e são
bichos...não são gente...então, eu, afinal, sou bicho ou sou gente? Só porque
Maria Cilia (Curitiba-PR)
Antologia Literária Cidade Volume I 76
não tomo banho e como comida do lixo? Algo não soa bem nessa balada.
Bicho que toma banho e come comida boa...gente que mora na rua e come
restos do lixo...ou, sei lá...vou parar de pensar e comer, afinal o que é mais
importante? Pensar ou comer? Comer, é claro!!! Pensar dá um nó na cabeça
da gente...já comer...é só enfiar a cabeça no cesto de lixo e pegar...
Maria Cilia (Curitiba-PR)
Antologia Literária Cidade Volume I 77
Tenho amor por ti
Tenho amor por ti,
Assim como o rio tem amor pelas árvores que o circundam,
Como as árvores têm pela chuva que lava as suas folhas
Empoeiradas pelo tempo e pelo homem.
Tenho amor por ti,
Assim como a praia sente amor pelo mar
Que a banha nas suas Idas e vindas ondulosas,
Como o mar sente amor pelas conchas que o abandonam
Nas areias brancas da vida
Tenho amor por ti,
Assim como o Sol ama
As raízes que brotam com seu calor
Como as raízes amam a Terra que as alimentam
Tenho amor por ti,
Por que tu faz parte de mim,
e eu sou parte de ti, da terra, do mar,
do sol, da água, do vento, da vida,
do mundo, de tudo....
Maria da Luz (Belém-PA)
Antologia Literária Cidade Volume I 78
A fio
Era madrugada e já estava de olhos abertos. Olhar de aranha escalando
parede, fixando-se no teto. Ia ver o sol nascer. O dia teria de ser vivido
plenamente.
Sob o chuveiro — fio — ensaia os passos de uma estranha dança.
Ainda é cedo.
Olha o seu retrato no espelho embaçado. Sorri, algumas linhas a mais, o
sorriso se desfaz. Empina o peito. Os sons que emite são roucos, desconexos.
O cachorro estranha.
Ao sair do banheiro, desenha um fio, rastro que segue até o quarto.
Nua no quarto, tem de enfrentar outro espelho. Suspira molemente.
Hoje alguma coisa há de acontecer. Realça os olhos, os lábios, as idéias. Repara
nas horas e sai correndo.
Um leve rosnado. Não há tempo para sequer um afago.
Sobe a ladeira bem disposta e lá em cima começa a distinguir as cores. É
um momento de galos cantando, de paz sem tédio. O dia prometedor! A
palidez transforma-se em vivacidade. Pensa na vida, na grande espera
que ela é. Até quando? Pensa na morte, porque não dá para separar uma coisa
da outra. Mas está feliz porque o dia está nascendo, enfim. Mil palavras não
ensinam mais sobre a vida do que esse sol surgindo, expulsando a noite e
fazendo dela o dia.
Quanto tempo teria ficado ali, não houvesse a vida, o trabalho...?
As pessoas na rua parece não desconfiarem de nada, nem estranham a
cara pintada de sol.
No escritório, os números, muito serviço a faz esquecer. Mas na hora do
almoço, pequena pausa, a esperança rói e agiganta-se. Inútil... Gente casmurra
e indiferente, tanto quanto foram ontem e o serão amanhã. Em sua mesa, a
tarde transcorre sem rosas: papéis, papéis e mais papéis.
Fim de expediente, prefere voltar para casa a pé. É longe, mas quer
caminhar, seguir a estrada até encontrar o caminho... ou o fio de Ariadne.
Maria da Luz (Belém-PA)
Antologia Literária Cidade Volume I 79
Quer estar um pouco mais consigo mesma, como se não estivesse a vida
inteira assim – só.
Um fio de esperança. Quem sabe em casa, deveriam estar esperando,
luz apagada, silêncio, como reza o figurino...? Mas, diante de casa, sente
medo. E se todos se esquecerem? Retoma a coragem. Quem sabe? Para tentar
ser natural, abre a porta de uma vez, seja o que Deus quiser...
Mas. A quietude e o marasmo de todos os dias e noites. E não adiantaria
gritar, que o silêncio ficaria ainda mais retumbante. Hoje a solidão teria de ser
mais aguda, longas horas na noite. Requenta o minguado jantar numa cena
idêntica à das noites anteriores. Come sem fome ante os gestos medidos e a
mesma conversa fútil na tevê.
Como não ouve mais nada, desliga.
Solfeja um trecho das Quatro Estações de Vivaldi. Seria A Chuva? Onde a
teria ouvido?
Sim, terá de ser A Chuva. Imagina os pingos molhando-a. Segue uma
mosca sonolenta que voeja até o quarto. Que terá acontecido com todo o
mundo?
Ao rasgar a página do calendário, um pouco de si irá junto para o lixo.
Mas, por sorte, soltando-se da frágil coleira, correndo em sua direção, o
corpo todo em volteios desengonçados, com aquele olhar que só a ela era
endereçado, veio lamber-lhe as mãos num genuíno desejo de felicidades – o
cão.
Marlene Cerviglieri (Ribeirão Preto-SP)
Antologia Literária Cidade Volume I 80
Imaginário Amor...
Eu queria um amor maduro
Que entendesse o meu cochilo
Minha falta de vontade às vezes,
Um amor de entender o olhar,
Que me leva a passear
De mãos dadas
Um amor que não percebe as rugas do tempo,
E me ache sempre linda
Eu queria um amor sonhador,
Cheio de esperanças e vida,
Que adore as crianças e os bichos também
Um amor que me leve a dançar,
As musicas de ontem,
De rosto colado, de beijo no rosto.
Com emoção
Eu queria um amor que acredite em Deus,
Cheio de fé com mansidão e paz
Um amor protetor que se deixe amar
Também sem constrangimento
Que aceite a felicidade de ter um alguém
Eu queria um amor que adorasse o mar,
O vento a natureza e se deixe embalar
Amorosamente com seus sons
Um amor eterno, duradouro,
Cheio de carinho e de abraços
Eu queria você, Imaginário Amor!
Marta Cosmo (Belém-PA)
Antologia Literária Cidade Volume I 81
Estrela Cadente
Ah estrela cadente, centelha de luz
De véu longo, translúcido, brilhante...
Que riscas de prata o negro céu
Com teu brilho flamejante...
A ti quero fazer um pedido somente
Antes que correndo entre as outras estrelas
Desmanche-te tocando a atmosfera...
Apagas da humanidade as três feras:
A fome, a guerra, a ambição.
Pois elas não destroem apenas uma nação.
Destroem, sobretudo, vidas, sonhos e almas...
E ainda, se um pedido a mais posso fazer
Eu te peço estrela amada, com toda devoção:
Não deixe que a esperança morra em meu coração.
Marta Cosmo (Belém-PA)
Antologia Literária Cidade Volume I 82
Metade de Mim
Teus olhos...
candura celeste...
Galáxia
do meu mundo
agreste...
Teus cabelos...
fios da noite
brincam
com o teu rosto...
e ruflam ao vento...
Meu tormento!
Teu sorriso...
raios cristalinos
de alegria
imaginações
Divagações...
Teu rosto...
Um discurso
Palavras
Leitura
Meu percurso.
Teu olhar...
Transcendência
de ti...
Teu ser
metade
de mim.
Miguel Russowsky (Joaçaba-SC)
Antologia Literária Cidade Volume I 83
Caderno ou jardim?
Verdade, eu conheci três Madalenas,
cada qual uma flor... (vi-as assim)
Desde então planto flores. Meu jardim
tem canteiros de rimas e açucenas.
Tem rosas cor de céu e outras morenas
com lábios pintadinhos de carmim;
nem vou falar do ciúme do jasmim
que abandonado foi pelas verbenas.
No meu caderno as sílabas e as flores
quando falam de amor... os desamores
germinam, cada qual com o seu jeito.
Pois inveja entre flores, sei que existe.
No meu buquê da vida, gasta e triste,
o mal-me-quer desfez o amor-perfeito.
Nazilda Corrêa (Belém-PA)
Antologia Literária Cidade Volume I 84
Terra
Bebo no teu olhar
verde água
cheiro
o teu cio
terra molhada
contemplo tua montanha
e vou
escalo teu muro
varo
do outro lado
amanhece
assim cada vez
dia ensolarado
Viajante
Todo dia
viajante
paisagens sobrepostas
pela janela
aceleram
e param
meu coração
só preciso olhar
pra dentro
é festa!
Nazilda Corrêa (Belém-PA)
Antologia Literária Cidade Volume I 85
O Beijo do Vento
O peso no meio
espanta
a leveza
a música não toca
se o toque sutil
da língua não
deixa rolar o disco
as mãos agitadas
fremem diante da
inusitada cena
o aceno não alcança...
nada ultrapassa a película
do vidro
abalroado o sonho
murcha todo frenesi
à posse impossível
imaginar o desperdício
de tempo
sustentar quimeras
com as noites
mal dormidas
porque ao canto
o sonho se explicita
braços levantam
e sonoros gritos
pedem bis
Nazilda Corrêa (Belém-PA)
Antologia Literária Cidade Volume I 86
a reprise é concedida
e a cena se expressa
em formas diversas
agora a musicalidade
escapa e penetra
expandindo-se
ultrapassa o vidro
abrindo uma janela
de acesso garantido
e vem jorrar...
uma gama infinita
de acordes!
criam-se novos sons
modulações de vozes
sobrepondo-se em frações
infinitesimamente
perfeitas
e sem ter ido
atraio do universo
este abraço suado
e suave é o beijo
que recebo do vento.
Nazilda Corrêa (Belém-PA)
Antologia Literária Cidade Volume I 87
Encontro
Todas as vezes em que me encontras te noto determinado em envolver-
me no toque. Tuas mãos buscam e nos teus braços me sinto tranquila; como
se esse fosse exatamente o lugar que me compete nesse script.
Sem cena, tela de cinema ou qualquer forma que garanta que os
acontecimentos seguirão um roteiro, ou um esquema pré-definido. Tudo vem
de não sei onde, como se apenas eu aportasse de repente, estrangeira e sem
ter um esquema antecipado, um comportamento pré-determinado. Tendo que
reagir ao deus dará do momento. O que em lugar de desestabilizar me deixa
confortável, passando a outro a determinação e, escrevendo a história no
instante mesmo em que te encontro.
Como se minhas mãos seguissem apenas o impulso e o sonho se
escrevesse nessa hora, como forma clara de um acerto de há muito tempo
estabelecido.
Então todo o movimento parece vir de uma energia nova,
completamente desconhecida. Como se o agora fosse parte de uma rotina,
que eu deveria conhecer, mas de algum modo tê-la esquecido. Como se
desgarrada, repentinamente descobrisse o meu bando, a minha turma e,
utilizasse exatamente a resposta esperada. E assim te vejo na simplicidade do
comando, deixando-me ficar suavemente conduzida nem sei bem para onde e
descobrir que isso não tem a menor importância.
Toda trama se desenvolve, sem que eu recorde, sequer, que rua ou
cidade é essa, em que, dessa vez estamos. Até o ponto em que afastando a
multidão com delicadeza te liberas para a atenção destinar as coisas de que
devemos cuidar; que nos esperam e, assim fazemos até o seguinte encontro.
O doído é esperar o intervalo que irá ocorrer até o próximo encontrar.
Então fico a cismar se vens de outro planeta ou galáxia, e não da vida
presente, se bem que tua chegada é sempre um presente. O rastro da luz que
te acompanha é tanto que consigo iluminar os próximos dias de espera.
Nazilda Corrêa (Belém-PA)
Antologia Literária Cidade Volume I 88
PEGADA
Pega leve é só um gemido e nem tem sentido apertar
Pega lento é só um sentido e nem tem gemido capaz de alertar
Pega leve porque a força das mãos pode machucar
Pega sem medo porque o que machuca pode até agradar
Pega sempre porque o toque expressa um sentido mesmo sem segurar
Pega manso como se tivesse pena de apertar
Pega sempre como se tudo fosse logo acabar
Pega agora senão passa a hora e ninguém mais vai poder segurar
Pega e larga como se fosse um brinquedo que tenha sempre que
[compartilhar
Pega cada vez como nunca se pudesse fartar
Pega e retira toda forma de sonho que seja capaz de sonhar
Pega como se o segredo fosse aquele que pode aflorar
Paula Cajaty (Rio de Janeiro-RJ)
Antologia Literária Cidade Volume I 89
Cidade do Rio
quase todos aqueles anos
vivi na mesma rua do rio
à sombra mansa das acácias
as cigarras e eu, igual medo da chuva
daquele Rio que subia, me alagando
a infância, a casa,
dilúvios na tarde quente
na parede as marcas da enchente
- dentro de mim a tempestade
já passava da altura dos joelhos.
Raimundo Nonato (Rio Branco-AC)
Antologia Literária Cidade Volume I 90
Amazônia
"Inferno verde!..."
"Pulmão do mundo!..."
"Celeiro do planeta!..."
(é o que dizem...)
Amazônia!
Celeiro de homens!...
(selvagens, primitivos, arredios...)
Que nem sabem, ainda, que outro homem
(e existe sim, um outro homem)
Já chegou à lua
E navega velozmente
Entre as mais longínquas estrelas
(A caminho de marte
e da morte)
Estrelas ante cuja dimensão e luz
O nosso pequenino e limitado sol
Empalidece.
Amazônia!
Celeiro de vidas!
Ah! Vidas...
Ávidas, inertes, adormecidas...
Que podem salvar
Milhões de vidas
E a vida do planeta
Que tropega
Que vejeta
Pela ação dos insensatos
Pretensos proprietários
Dos sonhos de toda a vida.
Raimundo Nonato (Rio Branco-AC)
Antologia Literária Cidade Volume I 91
Amazônia!
Quantos mistérios
Segredos, encantos
Recursos, quantos!
Para salvar o país
Da eterna etérea dívida
Já há muito, não devida
E da leviandade dos seus pretensos donos
E quantos danos
A ti, essa insanidade vorás
Traz?
Amazônia!
Quem te protegerá
E te defenderá
Da sagacidade dos que te reclamam
A vida
A propriedade
A posse
A paternidade?
Quem sabe um novo sonho
Gerado em tuas entranhas
E novas e intrépidas Amazonas
Cavalgando no teu seio
Regenere tuas fibras
Tua história
Teus valores
O teu amor por ti mesma
Por teus seres
Por teus filhos
Por todos teus ancestrais?
Raimundo Nonato (Rio Branco-AC)
Antologia Literária Cidade Volume I 92
Amazônia
Quando queima em meu peito
O ardor pelo desprezo
Dos que juram a ti querer
E o fazem, com alarde...
Não é possível esquecer
Que neste exato momento
Num macabro investimento
Cuja gana é o sentimento
O teu seio em fogo arde.
Amazônia!
Ama-te, antes que seja tarde
E tarde, foi ontem à tarde
Ontem, à tarde
Foi tarde demais.
A chama e a gana
Não conhecem limites
Amazônia, os teus limites
Estão, no limite!
Amazônia, acorda!!!
A corda arrebenta sempre, do lado mais frágil
Sempre, do lago mais árido
Sempre, do leito mais tênue.
Amazônia!
Arma-te
Enquanto tens
Se é que ainda tens.
Ama-te
Enquanto é tempo
Se é que ainda há tempo.
Raimundo Nonato (Rio Branco-AC)
Antologia Literária Cidade Volume I 93
Amazônia
O teu tempo está nublado
O teu tempo, é tenebroso
O te clima, esquentou muito
O teu tempo está contado
Amazônia!
Ainda terás
Tempo?...
Sandra Bentes (Sidney-Austrália)
Antologia Literária Cidade Volume I 94
Fantasias de infância
Minha mãe me segurava pela mão e me levava junto com ela para a loja
de ferragens. Seriam seis blocos para andarmos até chegar à loja em São Braz.
Íamos pelo lado da sombra, mesmo assim minha mãe carregava uma
sombrinha. O dia era claro, o sol estava a pino. Nós passamos pela frente do
estádio do Paissandu e do batalhão da polícia onde sempre tinha um guarda
em sentinela sobre um pedestal de madeira. Eu sentia medo e respeito pelo
guarda. Ele se vestia de verde e tinha um capacete redondo, porém o que me
dava medo é que ele tinha nas mãos uma arma comprida, parecia que ele
poderia usá-la contra mim a qualquer momento. E eu ficava olhando para ele
até o perder de vista. Queria estar certa de que ele não iria atirar em mim ou
na minha mãe. Ela reclamava:
– Olha pra frente, menina, olha para onde anda, se não podes cair!
Continuávamos andando, atravessando os quarteirões, passávamos na
frente de uma casa muito grande que tinha um jardim com uma estátua de um
menino nu fazendo xixi. Eu parava na frente da grade da casa e ficava olhando-
a por longo tempo. Achava que a estátua era uma criança que virou pedra
porque fez muita traquinagem. Meus sentimentos eram confusos, eu tinha
grande pena da estátua e queria entrar naquele jardim, acordar o menino e
fazê-lo voltar a viver outra vez. Minha mãe me puxava:
– Já chega de ficar olhando essa estátua. Ela é de pedra, não é de
verdade. Gente não vira pedra.
Ela me puxava pela mão e eu relutava. Não queria deixar o menino de
pedra ali, sozinho, fazendo xixi no laguinho daquele jardim enorme.
Atravessamos a esquina da rua onde morava a minha tia, e eu pedia à
mamãe para irmos visitá-la quando voltássemos. Eu gostava muito da tia e das
Sandra Bentes (Sidney-Austrália)
Antologia Literária Cidade Volume I 95
primas, e era uma oportunidade de olhar as bonecas de cabelos loiros de
minha prima. Minha mãe falou:
–Vou pensar nisso. Se der tempo, nós paramos lá.
Fiquei toda contente e nem percebi que tínhamos avançado mais um
quarteirão em que fica o estádio do Clube do Remo. Estávamos quase
chegando, porém, antes, teríamos de passar na frente da loja que vendia
produtos de umbanda. Isso me aterrorizava. Parei e não queria atravessar a
rua e passar na frente daquela loja que tinha na porta uma estátua de um
índio. Dentro, uma preta velha com cachimbo na boca e uma figura em
tamanho gigantesco de um ser todo vermelho, com chifres e bigodes, que eu
acreditava ser o diabo em forma de gente. A rua cheirava a incenso que era
aceso na frente da loja. E o cheiro de incenso me dava mais medo ainda. Sentia
náuseas e ficava toda arrepiada só de pensar em passar na frente daquela loja.
Parei, fechei os olhos bem apertados, não queria nem olhar na direção da loja.
E disse para mamãe:
– Não quero passar na frente da loja de macumba, tenho medo. O diabo
vai sair correndo atrás de mim.
– Para com isso, menina! Deixa de ser tola. É tudo estátua, não fazem
mal a ninguém. Isso não existe, é tudo de mentira.
Porém eu não acreditava no que ela dizia.
Minha mãe foi me puxando e eu tapei os olhos com as mãos, quando
estávamos bem na frente da loja. Afastei a mão um pouco de cima dos olhos e
olhei para dentro da loja. Vi a preta velha rir para mim com o cachimbo
pendurado na boca. Meus olhos se arregalaram, não acreditava neles! Olhei
para o diabo vermelho e ele virou os olhos em minha direção. Aquilo já era
demais. Ele vinha me pegar. Soltei as mãos de mamãe e saí correndo, gritando
de tanto medo:
– SOCOOORRROOOOO!
Sandra Bentes (Sidney-Austrália)
Antologia Literária Cidade Volume I 96
–PARA! PARA, MENINA!
Quanto mais minha mãe gritava, mais eu corria, até as fitas cor de rosa
que amarravam meu cabelo em mariachiquinha se soltaram e caíram na
calçada. Corri até chegar à loja de ferragens. Entrei ofegante. Não conseguia
respirar e me encostei na porta de entrada para tomar fôlego. Fiquei
esperando por minha mãe. Ela vinha andando bem depressa para me alcançar.
Eu olhava para cima e via todo mundo muito grande. A loja estava cheia de
homens e mulheres altos que olhavam para mim como se quisessem perguntar
“Menina, cadê tua mãe, por que estás sozinha na rua?”. Comecei a ficar com
medo daquelas pessoas. Olhei para o grande relógio que ficava no meio da
loja. O ponteiro pequenino mexia muito rápido. Eu não sabia que horas eram.
Minha mãe entrou na loja e eu estava encolhida ao lado da porta. Ela
começou a ralhar comigo assim que me viu. Falou que eu não soltasse a mão
dela. E que tinha homem mau que gostava de roubar criança que não segurava
a mão da mãe. Fiquei quieta, sentindo um pouco de vergonha por estar
recebendo uma bronca num lugar tão público. Implorei para não passar mais
na frente da loja de macumba. E contei que a preta velha estava rindo para
mim e que o diabo virou os olhos para mim. Eu estava apavorada.
Minha mãe não me deu atenção e se dirigiu ao balcão para comprar o
que estava procurando.
A loja era antiga, os móveis da loja, todos pesados, antigos, de cor
marrom escura. Trabalhavam muitos homens lá. Alguns pareciam estar lá por
toda a vida deles. No meio do balcão, que ia de um lado ao outro da loja, ficava
localizada a caixa registradora. Era uma máquina registradora muito antiga,
dourada, com uma alavanca que era rodada a mão, ficava no centro de uma
redoma de madeira preta, circundada por barras redondas de madeira
trabalhada. Dentro da redoma trabalhava a operadora da caixa registradora.
Olhei para cima e a vi. Ela tinha cabelos loiros presos num coque. Usava óculos
Sandra Bentes (Sidney-Austrália)
Antologia Literária Cidade Volume I 97
redondos e um batom vermelho e tinha um nariz bem comprido. Vestia saia
muito justa cinza, blusa branca de mangas compridas e sapatos altos
vermelhos. Parecia uma garça, de pescoço e nariz compridos. Ela nunca sorria,
falava o mínimo possível e mantinha uma posição de torso reto e queixo
empinado. Assemelhava-se com uma dessas extra-terrestres saídas do seriado
“Perdidos no Espaço”.
Fiquei atrás de minha mãe quando ela foi pagar. A mulher nem me
notou – ela não mexia a cabeça para nada. Mamãe não gostava dela, dizia que
ela era metida a besta. Para mim, era uma extra-terrestre, que mais se parecia
com um robô.
Sabendo que eu estava apavorada, de volta para casa mamãe resolveu
atravessar a rua e não mais passar na frente da loja de macumba. E tivemos de
atravessar novamente para ir à casa da titia. Chegando lá, instantaneamente
esqueci tudo que tinha visto durante a caminhada com minha mãe. Lá,
encontrei a minha prima, que era como se fosse um anjinho bom. Estando do
lado dela, nada de mal poderia me acontecer, porque ela sabia de tudo. Ela era
dois anos mais velha que eu. E nos demos as mãos e fomos buscar as bonecas
para brincarmos. Ali eu estava segura. Não existia nada para nos perturbar ou
dar medo. Agora éramos apenas as mães de nossas bonecas, na mais pura e
inocente das fantasias de uma criança.
Sarah Ibrahim Caçon (Santos-SP)
Antologia Literária Cidade Volume I 98
Paradoxo
Esses olhos... esses olhos grandes e dúbios...
Doem com uma dor confortadora
Essa tua beleza tão grande... tão desafiadora!
Esses teus cabelos negros...fulvos...
Esse medo... esse medo que tenho de ti
Medo que me acomete enquanto escrevo
O quanto de ti tenho asco! O quanto a ti devo...
O tanto que já de mim mesmo escondi.
Esse teu rosto... esse teu estranho semblante
Que evito... que procuro!
Odeio-te e amo-te a um só instante!
Ah! Esse sentimento,
Que me traz em tormento, em apuro... esses olhos...
Só poderiam vir de ti!
Tânia Sarmento-Pantoja (Belém-PA)
Antologia Literária Cidade Volume I 99
Acobreadamente
Para Augusto
Acobreadamente
(assim se me parece)
em lampejo corpo-goal
olhar oblíquo boca oblíqua
palavras líquidas
sem cor novelo e ócio
se enerva em outridade
enleva gorjeia
(a cor cobre conspira)
difícil equilíbrio
na ordem da suspeita
(Suspeita tem ordem? Vá lá que tenha...
contudo malevolente ubíqua)
se instaura.
E o olhar fere posto que o desejo é ubíquo
acobreadamente oblíquo
Tânia Sarmento-Pantoja (Belém-PA)
Antologia Literária Cidade Volume I 100
Acobreadamente II
Sorriso meio de lado escancarado brilho cobre na íris espalhafatosa
segredos nas dobras das calças nos bolsos macerados:
conversas na madrugada ao pé do ouvido na manhã preguiçosa buliçosa de
chuva na penumbra da tarde insidiosa após o jantar com os cheiros
francos e fortes perfilados ao pé direito da rudeza humana.
Que imponderáveis não revelas ocultos entre os lábios de febre o mesmo
lábio rutilante sedicioso do lúpen da alegria imponderável do grito
liberto meigo menino traquina macho infalível em cada gota suor
pingado sobre os líquens.
Bem ali onde a palavra não alcança que bem que te quis que bem se quis
eis a súplica da fera doida doida
A imponderável ausência justifica a imponderável falta do imponderável
excesso de ti clamor de abandono e dolência.
Tão longe, tão perto...
um fantasma pousa trazendo palavras de falta e morte
Valdeck de Jesus (Salvador-BA)
Antologia Literária Cidade Volume I 101
Eu, navegante
O mar me chama, como uma sereia ao pescador
Penso em ficar em terra, preso aos amores daqui
Mas, ao mesmo tempo, o canto das águas me seduz
Maresia, balanço, meu coração balança também
E pende para dentro da embarcação
Essa rotina, esse ir e vir já faz parte de mim
Já me habituei a não ter porto, a não ter pátria
Buscando, sempre, um ponto de apoio no inconstante
Apoio-me nas ondas, nas marolas, no horizonte
Esse mesmo horizonte que me chama e fascina
Foge de mim eternamente
Assim também são meus amores, minha saudade
Este aperto no peito se afrouxa quando o vento,
A brisa e o assombro da morte me vão
Aí, nessa hora, a calmaria me deixa nauseabundo,
Um homem sem mundo, sem lar, sem laço e sem amor
Então, o vazio profundo da alma me tira a calma
E sofro, de novo, pelo amor que não sei
Pelo abraço e afago da terra natal
Que não sei.
A saudade de não ter do que ter saudade me corrói
Ela, ele, paixão, sentimento, me chamam de volta
Para um lugar que desconheço
Para um lugar pra onde nunca retorno
E este retorno eterno me leva a um encontro
Um encontro entre a terra e o mar
Onde eu quero ouvir o canto da sereia
O que seria de mim sem esta saudade
Sem esta incerteza de não ter onde estar
O que seria de mim, navegante de mim mesmo
Sem o mar??
Valdeck de Jesus (Salvador-BA)
Antologia Literária Cidade Volume I 102
Droga de vida
Busquei no tráfico a solução
Para a fome, a dor, a sede de consumo
A droga saciou meus desejos
Mas me aprisionou na teia
No vício, na fome de querer mais
E tudo me confundiu muito
Como num redemoinho, afundei na escuridão
“Viajei”, fugi, afundei mais e morri
Matei meus sonhos e meus sentimentos
Agora sou um trapo de carne e osso
Vazio, sem destino e sem esperança
De humano só resta a lágrima e o desespero
Quero sair desta treva, fugir desse labirinto
Mas a dívida contraída pesa na consciência
Minha ficha tem mortes, traições, mentiras,
Angústias, lutas vãs e perdas irreparáveis
Só me resta ficar, pagar com a vida e com a morte
A morte do meu coração e da minha alma
Droga de vida, viagem sem volta...
Valdeck de Jesus (Salvador-BA)
Antologia Literária Cidade Volume I 103
Sertanejo
Nasce sem destino, sem futuro
No horizonte, a miséria, a seca:
O rio corre, evapora!
No sertão não tem governo,
Não tem gente que mereça.
Estrada, horpital,
Deixa pra lá
Medicina, só a popular:
O sertanejo é forte
Não precisa de suporte
Ele paga imposto, mas não exige
CONTRAPARTIDA
O tempo passa e nada muda
O sertanejo, no entanto, continua forte (?), e morre.
Valdeck de Jesus (Salvador-BA)
Antologia Literária Cidade Volume I 104
Amor com ela
Ela me quer
Ela me ama
Ela me beija
E não reclama.
Dá-me a vida
Faz-me feliz
Ajuda-me sempre
Sempre me quis.
Ela me adora
Não me deixa só
Por mim ela desata
Da vida o nó.
Não a ajudo
Não a recompenso
Faço pouco por ela
Só em mim penso.
Ela é a natureza.
Eu sou o homem.
Biografias dos participantes
Antologia Literária Cidade Volume I 105
Abilio Pacheco Abilio Pacheco de Souza, nasceu em Juazeiro (BA), viveu a primeira infância em Coroatá (MA), dos 07 aos 27 morou em Marabá, e hoje reside em Belém (PA). Estudou Eletricidade no SENAI-Marabá, fez Magistério na E.E. Dr. Gaspar Vianna, cursou Licenciatura Plena em Letras na UFPA-Marabá e Mestrado em Letras – Estudos Literários na UFPA-Belém. Trabalhou como eletricista, foi bibliotecário por cinco anos. Como professor trabalhou 05 anos no CEFET-PA (hoje IFPa). Atualmente leciona na UFPA, Campus de Bragança. Aos 17 anos obteve o primeiro destaque em certames literários com o poema “Elegia de Maria”. Publicou Poemia (poesia - formato semiartesanal) em 1998 e Mosaico Primevo (poesia) em 2008. É membro correspondente da Academia de Letras do Sul e Sudeste Paraense com sede em Marabá. É também contista e cronista, e está com um projeto de narrativa longa ‘em gestação’. É um dos organizadores da Antologia Literária Cidade. Contato: Caixa Postal 5098 – CEP 66645-972 – Belém-Pa. Email:[email protected].
Adeilton Oliveira de Queiroz Adeilton Oliveira de Queiroz nasceu em Brasília no dia 14 de setembro de 1974. É escritor, pedagogo e funcionário da Secretaria de Educação do DF. Participou da coletânea "Universo Paulistano" lançado esse ano pela Andross Editora - SP. Publicou em 2008 o livro A maravilhosa arte de perdoar os peixes pela Câmara Brasileira de Jovens Escritores – RJ. Tem poemas publicados nas páginas www.camarabrasileira.com/adeilton.htm, recantodasletras.uol.com.br/poesias/828423, www.gargantadaserpente.com/toca/poetas/adeiltonoliveira.php, Contato: [email protected], [email protected]
Alberoni Alberoni é dentista há 40 anos, sem formação literária acadêmica. Desenvolveu sua expressão poética, participando de uma lista de literatura na internet: Andarilhos das Letras. Mas, escreve poemas bem antes disso. Uma parte de seus textos podem ser encontrados em www.notivaga.com.br, ou www.clubedotaro.com.br. Alagoano, de uma família de 13 irmãos, natural de Maceió. Passou a infância na cidade de Itajubá, MG, e toda adolescência e maturidade na cidade de São Paulo.
Andreev Veiga Andreev Veiga, poeta. Nasceu em Belém do Pará. Tem trabalhos publicados em algumas antologias, dentre elas "IV Antologia Poética Valdeck Almeida de Jesus na Bahia" e "IX Antologia Poética da Universidade Federal de São João Del-Rei, MG". É autor do livro de poemas letrário (no prelo). Contato: [email protected].
Ana Felix Garjan Ana Felix Garjan é socióloga, pesquisadora em arte, poetisa, escritora e artista plástica e curadora. É autora de Na Clave de Sol - poesia (1998), “Além dos Jardins Siderais”, conto premiado 2º Lugar pela Fundação de Cultura de São Luis-MA em 1997 e do "Manifesto Verde pela Paz da Humanidade e do Planeta" – 2001. Tem textos, artigos e crônicas em jornais de São Luis–MA. Poesias, textos e pesquisa cultural na Internet. Participa do Fórum Internacional de Mulheres do Futuro pela Paz, do Fórum Cidade3 Artes do Mundo, da Academia de Artes e Poéticas Clarice Lispector, do Poetas e Artistas do Mundo e outros. Participou das Antologias: Latinidade - Coletânea da Sociedade Latina (1998), Universum -Uma poesia pela Vida" - 2000 (Trento-Itália) e Delicatta 2007 e 2008. Administra o site do Artforum Mundi Planet & Artforum Brasil XXI: www.cidadeartesdomundo.com.br. Contato: [email protected].
Araci Barreto Araci Barreto da Costa idealizou, fundou e dirige o Postal Clube – Amizade com Poesia – Um clube para quem gosta de ler, escrever e fazer amigos. Organiza, produz e edita Antologias. Criou, produz e publica O Jornalzinho e o Site do Postal Clube. www.imagina.com.br/postalclube. Contato: [email protected].
Biografias dos participantes
Antologia Literária Cidade Volume I 106
Benedito Pereira Benedito Pereira da Costa, pioneiro de Brasília, professor universitário, autor destes livros: Bem-querer, Estrada, Lilases, Magia, Pélago, Reminiscências, Saldunes e Saudade (crônicas). No prelo: Fibra (poesias) e Harmonia (crônicas). Participação em mais de 200 antologias.
Bernadete de Lourdes Michelato Bernadete de Lourdes Michelato nasceu em Cambará (PR), em 10 de agosto de 1947. Foi professora do Ensino Primário e de Língua Portuguesa durante dezessete anos e Auditora Fiscal da Receita Federal durante treze anos. Hoje está aposentada e reside em Curitiba (PR). Em 2007, recebeu o Prêmio Afrânio Coutinho da Academia Brasileira de Letras pela obra Diálogos com a coleção de Franklin de Oliveira. Suas obras ainda não publicadas são: Espectro de Thanatos em Água Viva (estudo dessa obra de Clarice Lispector); Sumo Artífice (estudo sobre Rui Barbosa); Diacronia Nórdica, crônicas de viagem; Causos hodiernos, contos.
Custódio Martins Formoso Custódio Martins Formoso nasceu aos 19 de janeiro de 1951, em Santa Rita do Passa Quatro-SP. Suas participações em jornais culturais, como o Literarte, já atingiram 27 países incluindo o Brasil. É poeta/compositor e pesquisa nomes excêntricos e pertence às Academias de Uruguaiana-RS. Contato: [email protected] / [email protected]
Deborah Dornellas Deborah Dornellas nasceu no Rio de Janeiro – RJ e foi criada em Brasília – DF, onde reside atualmente. Viveu alguns anos em Campinas – SP e São Paulo – SP. É jornalista, roteirista, poeta, formada em Letras e mestra em História Cultural. Nos últimos anos, trabalha como produtora de audiovisual. Está montando seu primeiro filme, o documentário, Mar Pequeno. Contatos: [email protected].
Denise Santos de Oliveira Denise Santos de Oliveira é uma estudante de 16 anos além de poetisa e artista plástica desde os 13. Nasceu em Brasília e passou toda a infância na cidade satélite de São Sebastião-DF. Atualmente cursa a 3ª série do Ensino Médio no Centro de Ensino Médio 01 de São Sebastião. Já participou do Projeto Memória com o Concurso Nacional de Redação Assis Chatteaubriand ficando entre os semifinalistas em 2008. Suas poesias procuram levar o leitor à essência de seus sonhos e aspirações, pois o bom é se permitir sonhar prósperos dias de muita felicidade.
Djanira Pio Djanira Pio, professora aposentada, escreve poemas, contos, minicontos, crônicas e romances. É participante da literatura alternativa de todo o Brasil.
Ducarmo Souza Maria do Carmo A. de Sousa nasceu no dia 10/09/1934 em Acaraú-CE. É autora de Belém – Cidade Faceira (2008), livro em que canta seu amor pela cidade onde mora a 50 anos. Os poemas desse livro falam sobre vários pontos turísticos dessa capital da Amazônia. Email para contato: [email protected].
Eleazar Venancio Carrias Paraense nascido num sítio à margem da Transamazônica, Eleazar Venancio Carrias viveu duas décadas em Breu Branco e atualmente mora em Tucuruí. Embora avesso a regionalismos, faz questão de confessar os lugares que até agora marcaram sua vida, por acreditar que o lugar é o fator mais determinante da nossa identidade. Em 2008, venceu o Prêmio Dalcídio Jurandir de Literatura (Poesia) com o livro Quatro Gavetas. Tem apenas dois projetos importantes: criar as filhas Eidra e Pietra, e chegar à velhice bebendo com os mesmos amigos com quem bebe hoje. Contato: [email protected].
Biografias dos participantes
Antologia Literária Cidade Volume I 107
Eliane Soares Eliane Pereira Machado Soares. Mineira de nascimento; migrou com a família para o Nordeste aos 9 anos. Mora em Marabá dede os 15 anos. Professora universitária do curso de Letras (UFPA). Trabalha com Linguística, mas tem uma irrestível e irreversível queda pela literatura. Ama a poesia.
Evaldo Balbino Evaldo Balbino nasceu em 1976 em Resende Costa, MG. Mudou-se para Belo Horizonte em 1995, onde, pela UFMG, formou-se em Letras (1998), tornou-se Mestre em Literatura Brasileira (2001) e Doutor em Literatura Comparada (2005). Residiu na Espanha entre novembro de 2004 e agosto de 2005, com bolsa de pesquisa concedida pelo governo brasileiro. Desde 1999 vem atuando, na capital mineira, como professor de Português e Literatura, nos níveis fundamental, médio e universitário. Possui artigos de crítica literária, crônicas, poemas e um conto já publicados em revistas, jornais e antologias. É autor de Moinho, livro de poesias premiado em 2005 pelo Suplemento Literário de Minas Gerais e editado em 2006 pela Editora Scriptum. Dentre os 14 prêmios recebidos por ele, destacam-se: Menção Honrosa no VII Concurso de Contos Paulo Leminski, Troféu Florbela Espanca de Poesia, 1º lugar no III Concurso de Poesias Fábio Montenegro, 1º lugar no III Concurso Alfenense de Poesia e Menção Honrosa no Prêmio Eugênio Coimbra de Poesia Cidade do Recife. Contato: [email protected].
Evandro Barbosa O aquariano Evandro Brandão Barbosa nasceu no bairro Santa Luzia, na cidade de Salvador-BA, em 1957; é casado e tem dois filhos (25 e 27 anos). Vive fora de Salvador desde o ano de 1979; fixou residência em Manaus-AM no ano 2000, onde é economista, administrador, mestre em Educação e professor de Ensino Superior. Escreve em Jornais e em 2008 ganhou o Concurso Prêmios Literários Cidade de Manaus, na categoria Samuel Benchimol - Melhor Ensaio Socioeconômico, com a obra “Uma Viagem pelo Analfabetismo do Alto Solimões”, livro publicado pela editora Muiraquitã, sob a responsabilidade do Conselho Municipal de Cultura da Cidade de Manaus – Concultura.
Fernando Paganatto Fernando Ferragut Paganatto, natural de São Paulo/SP, poeta com poemas publicados em sites e antologias. Vencedor do IV Prêmio Literário Valdeck Almeida de Jesus de Poesia (2008) e 2º colocado no I Concurso de Poesias do GASP (2009). Contato: [email protected].
Isabel Cristina da Silva Ferreira Isabel Cristina da Silva Ferreira nasceu em 1992 na cidade de Terezina-PI, reside há oito anos em São Sebastião-DF e cursa a 3ª série do Ensino Médio no CEM 01 de São Sebastião. Desenha, lê e escreve nos horários livres. Sociologia é sua matéria favorita. Adora falar sobre política, política-social e moda. Pretende cursar Ciência Política e tem como sonho ter um orfanato.
Ivan Grycuk Ivan Grycuk nasceu e morou em São Paulo (SP), viveu também em Itapecerica da Serra (SP), Londrina (PR), Westminster (Maryland, EUA), morou novamente em São Paulo, mudou-se para Palmeira das Missões (RS) e atualmente participa de intercâmbio em Graz, Áustria. É estudante de Administração pela UFSM e viciado em café e olhos verdes pela manhā. Trabalhos publicados: O Conde (2007) e Entrelinhas (2008). Blog: ocondei.blogspot.com. Contato (e-mail): [email protected].
Jair Barbosa Jair Barbosa (Vitória-ES) morou em Governador Valadares por 20 anos. Desde 1984 está radicado em Belo Horizonte. Poeta, Editor da Contemporânea: revista de literatura; Curador do Sarau de Poesia para o Corpo e a Alma, Betim, MG. Em preparação, o livro de poemas: Sobre Ventos e Sementes. Contato: [email protected].
Biografias dos participantes
Antologia Literária Cidade Volume I 108
Jhonny Vieira Brito Jhonny Vieira Brito tem 16 anos, atualmente mora na Cidade de São Sebastião-DF e cursa a 1ª série do Ensino Médio no CEM 01 de São Sebastião. Nasceu em Viçosa do Ceará-CE, uma pequena cidade situada no nordeste do país. Sempre com um jeito simples e honesto, tenta levar uma vida feliz; começou a interessar-se por poemas e poesias aos 12 anos. Desde então, vem encantando os leitores ao escrever de uma forma bem “tocante”. No momento, está escrevendo um livro “Palavras contra Palavras".
José Araújo O escritor José Araújo é natural de São Paulo, Capital, nascido a 26 de março de 1955, onde atua como administrador na área jurídica, tendo contos publicados em várias antologias no eixo São Paulo/Rio através dos livros Entrelinhas, com o qual participou da Bienal do Livro de 2008 de São Paulo, Universo Paulistano, Dimensões.br da Andross Editora de S.P. e também nos livros Enigmas do Amor e Delicatta IV da Scortecci Editora em São Paulo. No Rio de Janeiro participou também das antologias Foi Assim e Contos Escolhidos da Editora Farol das Letras, Poesia e Prosa Verão e Preces e Reflexões da Editora Taba Cultural e Coletânea 10 Anos da Usina de Letras. Blog: http://imagens-e-reflexoes.blogspot.com/ Contato: [email protected].
José Maria José Maria Azevedo Costa é Serventuário do Tribunal de Justiça do Estado do Pará, na função de Oficial de Justiça. É membro da Academia Itaitubense de Letras e da Academia Castanhalense de Letras (sendo seu atual presidente). Participou de várias antologias literárias, tem crônicas publicadas em jornais do Pará. É autor de Umas histórias de José e outras histórias de Maria. Contato: [email protected].
Josiel Vieira Josiel Vieira de Araújo é um cara de 33 anos que mora na Freguesia do Ó, em SP. Casado, nos momentos em que traça essas linhas sua esposa Maria Andréia da Silva espera pela neném Janaína. Gosta de gatos, de música gótica, de Lua, de intuições, do movimento simbolista, de Art Noveau, do Clube da Esquina, de garimpar livros em sebos, de amar e de cachoeiras. Nunca terminou nenhuma faculdade — tentou fazer artes plásticas e filosofia. Apesar disso, ou talvez por isso, ama arte e cultura.
Juarez Francisco da Costa Juarez Francisco da Costa nasceu em São José do Vale do Rio Preto, RJ, A Cidade das Águas de Março (inspirou a canção com esse nome ao compositor Tom Jobim). É também a cidade com o maior nome do Brasil. Formado em Direito pela Universidade Católica de Petrópolis, é servidor público federal. Tem trabalhos publicados em coletâneas: Letras no Brasil X, da editora Taba Cultural, RJ, 2008; Antologia de Poetas Brasileiros Contemporâneos Vol. 54, da editora Câmara Brasileira de Jovens Escritores, RJ, 2009, e selecionado (iminente lançamento) para publicação de antologia no 9º Concurso de Poesia da Universidade Federal de São João del-Rei, MG. Está com dois livros no prelo: Das Entranhas para a Luz (Ed. Câmara Brasileira de Jovens Escritores, RJ) e Barco à Deriva (Ed. Virtual Books, MG), dos quais o primeiro está disponível em PDF no site www.virtualbooks.com.br e o segundo estará também brevemente. Contato: [email protected]
Lenir Moura Lenir Moura nasceu no Rio de Janeiro, no bairro de Olaria e hoje reside na cidade litorânea do RJ – Arraial do Cabo. Escritora amadora escreve desde sua adolescência, mas somente há três anos resolveu mostrar seus trabalhos e hoje, já tem textos publicados em várias Antologias, recebendo por algumas delas, diplomas por Mérito e por Destaque em concursos. Pretende publicar ainda este semestre, seu primeiro livro solo de poesia. Mantém um Blog: estevaoleninha.blogspot.com. Endereço para contato: [email protected].
Biografias dos participantes
Antologia Literária Cidade Volume I 109
Lourdes Neves Cúrcio Lourdes Neves Cúrcio, escritora, bacharel em Direito, mineira, nasceu em São João Nepomuceno-MG, cidade da Zona da Mata mineira, onde exerceu suas atividades como funcionária do Cartório de Registro de Imóveis e da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais-EMATER-MG. Reside atualmente em Barra Mansa-RJ e trabalha como funcionária pública em Volta Redonda-RJ. Membro efetivo da Fundação Cultural Del’Secchi, é autora do livro Reflexões Poéticas e de poesias, crônicas e contos publicados em dezenas de Antologias Literárias; obteve classificação em diversos Concursos Literários de âmbito nacional e internacional. Contato: [email protected].
Maria Auxiliadora Maria Cilia é Maria Auxiliadora Furtado. Filha de pais cearenses, é paranaense, no passado do interior, de Curitiba no presente. Graduada em Direito pela UFPR, exerce atividade jurídica como assessora no Ministério Público Federal. Apaixonada por Literatura, escreve desde criança. Ganhou um concurso de Redação na 8ª Série 1º grau e um de literatura no 3º ano do 2º grau com uma peça de teatro. Ligada às artes em geral, sempre quis ser escritora. Tem poesias no www.recantodasletras.com.br/autores/ mariacilia e no site Releituras. E agora, em papel, na Antologia Literária Cidade. Fez teatro na adolescência, tendo participado, na época, do Festival Nacional de Teatro de Londrina, hoje Festival Internacional de Teatro de Londrina (FILO). Atualmente dedica-se às aulas de Tango. Contato: [email protected].
Maria da Luz Maria da Luz Lima Sales. Nasci em Belém (Pará) e aos 15 anos mudei-me com a família para Curitiba (Paraná). Formei-me em Letras e especializei-me em Literatura Infantil e Juvenil na PUC do Paraná, em Curitiba, cidade onde comecei a lecionar. Atualmente ministro aulas no ensino Médio e no curso de Licenciatura em Letras no Instituto Federal do Pará. Nos raros momentos de folga, gosto de escrever. Como amante da literatura que sou, publiquei algumas historietas em jornais do IFPA. Contato: [email protected].
Marlene Cerviglieri Marlene Bernardo Cerviglieri. Pedagoga, Psicóloga, Escritora. De Contos, Poesias e Histórias Infantis. Nascida em Santo André SP atuou como Conselheira de Cultura e Presidente do Grupo de Escritores GESA. Suas Obras: E a alma chorou-Poesias Rua da Fonte, 33- Conto. ELF - Conto Infantil Poemas da Maturidade-Poesia. Trabalhos divulgados em diversos sites: Recanto das Letras Usina das Palavras, Contos e Poesias-Site da Web, Magriça - Revista Literária. Atualmente reside em Ribeirão Preto. Contato: [email protected].
Marta Cosmo Marta Cosmo nasceu em Itapajé (CE) onde viveu até a adolescência. Hoje reside em Belém. É Professora, Escritora e Acadêmica. Alguns de seus textos, crônicas e outros, foram publi-cados em jornais de circulação estadual e via on-line. Contato: [email protected].
Miguel Russowsky Miguel Kopstein Russowsky é médico, tem 85 anos, é autor de 10 livros de poesia e teatro. Membro da Academia Sul Riograndense de Letras.
Nazilda Corrêa Nazilda Corrêa é escritora e poeta. Livros publicados: Passeios da Alma em Festa (2002), Orelhando (2003) – Ed. CEJUP (PA) e Moeda de Troca (2009) RG Ed. (SP). Os dois primeiros lançados por ocasião da Feira Pan-Amazônica do Livro - em Belém. Entre 2006 e 2009 participou das publicações da RG Ed. O Conto Brasileiro Hoje (vol. III, VI, VIII, IX, X e XI) e de coletâneas de poesia - Agenda Literária - Jornal Guarazão Editorial. Em 2008 produziu o CD de poesias As Águas, em parceria com a cantora Lucina (MPB) que fez a locução, trilha sonora e musicou alguns dos poemas. Contato: [email protected].
Biografias dos participantes
Antologia Literária Cidade Volume I 110
Paula Cajaty Paula Roméro Cajaty Lopes, poeta carioca nascida em 1975, iniciou a carreira no Direito, mas se encontra na literatura. Em 2008, lançou o primeiro livro "Afrodite in verso", que tem como principais componentes a sensualidade, o romantismo e a poesia. O livro ganhou orelha do poeta Fabrício Carpinejar, e elogios de diversos escritores já consagrados por crítica e público. Atualmente edita o site próprio www.paulacajaty.com e é consultora editorial e cronista exclusiva da Aliás - revista eletrônica de cultura. Contatos pelo email: [email protected].
Raimundo Nonato Raimundo Nonato é acreano, de Rio Branco, 1954, é poeta, músico e compositor e escreve desde a adolescência. Classificou algumas de suas canções em festivais locais. Tem poemas registrados em publicações locais e nacionais. Em 2006 publicou seu livro "As Curvas dos Rios da Vida..", com ilustrações da escritora e poetisa gaúcha Amarina Prado. Em 2008 foi o primeiro classificado no VIII Concurso nacional de poemas Santanense-RS, com o poema "Conflito I" e em 2009 foi mensão honrosa no VI Concurso literário Virarte, de Santa Maria-RS, com o poema "Conflito II". Profisionalmente já exerceu o magistério, o jornalismo e outras tantas atividades (como se diz popularmente, fêz de tudo prá viver) em sua cidade natal e hoje é servidor público do Tribunal de Justiça do Acre. Continua escrevendo (poemando) ativamente e declamando seus poemas nos saraus da vida.
Sandra Bentes Sandra Helena Lucena Bentes nasceu em Belém do Pará e morou até os 20 anos no Marco. Depois que se casou, foi morar no Acre e em Manaus; retornou ao Pará e morou em Capanema e em Santarém. Depois retornou a Belém onde completou o curso de Pedagogia – Orientação Educacional – pela Universidade Federal do Pará. Em 1991, mudou-se para a Austrália e reside em Sydney até os dias de hoje. Sua paixão pela Amazônia e as recordações da infância na década de 60 são as maiores inspirações para suas estórias. Endereço para contato: [email protected].
Sarah Ibrahim Cançon Sarah Ibrahim Cançon é nascida em Santos-SP, em 08/03/1986. É formada em Letras e pós-graduanda em psicopedagogia. É autora do romance “Como é feito um adulto”, publicado em 2008 pela editora Corifeu. Participou de vários concursos literários em sua cidade natal.
Tânia Sarmento-Pantoja Tânia Maria Pereira Sarmento-Pantoja, escritora e poeta, doutora em Letras – Estudos Literários, é professora Adjunto I da Universidade Federal do Pará (Campus de Abaetetuba). Tendo participado de concursos literários diversos e em 1999, sido classificada em 1º lugar no Concurso Literário - categoria Poesia, promovido pela Universidade Federal do Pará.
Valdeck de Jesus Valdeck Almeida de Jesus nasceu em Jequié, Bahia, em 1966. Acadêmico de Jornalismo, trabalha, atualmente, como funcionário público, editor de livros e palestrante. Publicou os livros Memorial do Inferno: a saga da família Almeida no Jardim do Éden, Feitiço contra o feiticeiro, Valdeck é Prosa e Vanise é Poesia, 30 Anos de Poesia, Heartache Poems, dentre outros. Participa de mais de 30 antologias. É organizador e patrocinador do Prêmio Literário Valdeck Almeida de Jesus de Poesia, desde 2005. Expõe seus textos no site www.galinhapulando.com. Contato com o autor: [email protected].
Antologia Literária Cidade Volume I 111
Índice Abilio Pacheco
Quase um anagrama .......................................................................................07 A uma passante .................................................................................................13
Adeilton Oliveira de Queiroz A medida da água / A maravilhosa arte de perdoar os peixes ........14 Da paciência / Spider......................................................................................15 Não mais / Segredo..........................................................................................16 Melhor texto / Haiku.......................................................................................17 Amores floras lilases amoras flores brancas / Tijolos que não fazem boas paredes......................................................................................................18
Alberoni O louco decaído (Arcano 22)........................................................................19 Confiança.............................................................................................................20 Só para os românticos ....................................................................................21
Ana Felix Garjan Profecia do Silêncio I.......................................................................................22 Meu poema pela paz........................................................................................23
Andreev Veiga Persiana...............................................................................................................24 Morada .................................................................................................................25
Araci Barreto Para o alto...........................................................................................................26
Benedito Pereira Carnaval...............................................................................................................27 Ralé........................................................................................................................28
Bernadete de Lourdes Michelato Andança ...............................................................................................................29 Canto dos pássaros ..........................................................................................30
Custódio Formoso Saga de um Campeão / Paz ..........................................................................31 Solidariedade.....................................................................................................32
Deborah Dornellas Urdidura..............................................................................................................33 Esboço ..................................................................................................................34 Amor de meridianos .......................................................................................35 Nua ........................................................................................................................36 Desejo ..................................................................................................................37 Loa / Testemunha ............................................................................................38
Denise Santos de Oliveira Olhares Curiosos ..............................................................................................39
Djanira Pio A Bíblia.................................................................................................................40 Poema...................................................................................................................41
Ducarmo Souza A Floresta Amazônica .....................................................................................42 Ontem e Hoje......................................................................................................43
Eleazar Carrias O abridor, a luz..................................................................................................44
Eliane Soares Infâmia.................................................................................................................45 Melpômene.........................................................................................................46 Hieróglifo ............................................................................................................47 Marabá Est ..........................................................................................................48 Aço .........................................................................................................................50
Evaldo Balbino O mar ...................................................................................................................51
Evandro Barbosa Namorado de areia ..........................................................................................53
Antologia Literária Cidade Volume I 112
Fernando Paganatto Urubu que canta............................................................................................... 54
Isabel Cristina da Silva Ferreira Do Outro Lado do Rio ..................................................................................... 56
Ivan Grycuk O bar..................................................................................................................... 58 O mesmo bar ..................................................................................................... 59
Jair Barbosa Rio sem dono..................................................................................................... 60
Jhonny Vieira Brito Sei ......................................................................................................................... 61
José Araújo A tal da “Globalização”................................................................................... 62
José Maria Parede-Alma Corroída................................................................................... 66 Outros Caminhos ............................................................................................. 68
Josiel Vieira Lima Barreto no ano 2022............................................................................ 69 Areia Doce .......................................................................................................... 71
Juarez Francisco da Costa Noite .................................................................................................................... 72
Lenir Moura Farrapo................................................................................................................ 73
Lourdes Neves Cúrcio Apenas um Soneto........................................................................................... 74
Maria Auxiliadora Reflexões de um mendigo............................................................................. 75 Tenho amor por ti ........................................................................................... 77
Maria da Luz A fio....................................................................................................................... 78
Marlene Cerviglieri Imaginário Amor... .......................................................................................... 80
Marta Cosmo Estrela Cadente................................................................................................. 81 Metade de Mim ................................................................................................. 82
Miguel Russowsky Caderno ou jardim? ........................................................................................ 83
Nazilda Corrêa Terra / Viajante ............................................................................................... 84 O Beijo do Vento............................................................................................... 85 Encontro ............................................................................................................. 87 Pegada ................................................................................................................ 88
Paula Cajaty Cidade do Rio ................................................................................................... 89
Raimundo Nonato Amazônia............................................................................................................ 90
Sandra Bentes Fantasias de infância...................................................................................... 94
Sarah Ibrahim Cançon Paradoxo............................................................................................................. 98
Tânia Sarmento-Pantoja Acobreadamente.............................................................................................. 99 Acobreadamente II .......................................................................................100
Valdeck de Jesus Eu, navegante ..................................................................................................101 Droga de Vida..................................................................................................102 Sertanejo...........................................................................................................103 Amor com ela ..................................................................................................104
Biografias dos participantes................................................................................................................105